Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SOCIEDADE E
MOVIMENTOS
SOCIAIS
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
ISBN 978-85-459-1145-6
CDD - 22 ed. 362
CIP - NBR 12899 - AACR/2
CV: http://lattes.cnpq.br/1358973527170925
APRESENTAÇÃO
SEJA BEM-VINDO(A)!
Seja bem-vindo(a) ao estudo sobre Estado, sociedade e movimentos sociais!
Este material didático foi elaborado com o objetivo de promover o conhecimento, a in-
terpretação, a análise, a reflexão e a construção de um posicionamento crítico e passível
de ser convertido em ações e atuação de sua parte, acadêmico(a)!
Ao longo das cinco unidades deste material, trataremos dos três grandes eixos temáti-
cos que dão nome a esta disciplina e, mais do que conceituá-los ou pensarmos sobre
cada um em separado, verificamos como o Estado, a sociedade e os movimentos sociais
se relacionaram ao longo da história e dialogam na contemporaneidade.
Nesse sentido, nosso primeiro capítulo é dedicado à figura do Estado, de modo que
apresentamos diferentes concepções clássicas sobre a finalidade e a formação dos Es-
tados e demonstramos como, ao longo dos séculos, sua concepção foi moldada por
aspectos políticos, sociais e econômicos.
O segundo capítulo versa sobre um dos maiores eventos históricos da história da hu-
manidade, cujos reflexos são sentidos e influenciam o pensamento político, social e
econômico até os dias atuais: a Revolução Industrial. Contudo, nosso debate está além
daquele que trata do contexto e dos efeitos da revolução, pois enfocamos, também, a
posição crítica de Karl Marx acerca da divisão social do trabalho à época (século XVIII) e
como naquele período já havia organização dos trabalhadores por conta de sua insatis-
fação com as condições laborais.
Em nosso terceiro capítulo, abordamos os efeitos da Revolução Industrial sobre os pro-
cessos de urbanização e de conformação das sociedades europeias, com reflexos sobre
tradições, cultura e comportamentos dos cidadãos. Ademais, transpomos nosso olhar para
o Brasil ao discorrermos sobre como se deu a urbanização em nosso país, primeiramente
em função da vinda da família real (no início do século XIX) e, em seguida, na décadas pos-
teriores ao fim do regime de escravidão (fim do século XIX e início do Século XX).
O quarto capítulo trata das relações entre Estado, sociedade e movimentos sociais no
Brasil desde o início do século passado até o regime militar (meados da década de 1980).
Nesse capítulo, tratamos da organização da classe operária na primeira metade daquele
século, da conformação das leis trabalhistas atreladas à noção de cidadania, da relevân-
cia dos movimentos sociais à conquista de direitos e do impacto do período autoritário
sobre os movimentos sociais.
Por fim, o quinto capítulo diz respeito ao Brasil atual, em seu mais longo período demo-
crático e permeado por uma constituição cidadã que atende a anseios e pressões po-
pulares, pela relevância das entidades sociais e do papel das políticas públicas e, ainda,
pelas inovações da participação institucional com relação à garantia de direitos sociais
e à transparência e maior envolvimento popular nas deliberações sobre recursos e ser-
viços públicos.
APRESENTAÇÃO
UNIDADE I
O ESTADO
15 Introdução
16 Conceito de Estado
24 Os Estados Nacionais
28 O Estado Liberal
33 Considerações Finais
39 Referências
41 Gabarito
UNIDADE II
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
45 Introdução
59 Considerações Finais
65 Referências
66 Gabarito
10
SUMÁRIO
UNIDADE III
69 Introdução
74 Urbanização no Brasil
83 Considerações Finais
91 Referências
92 Gabarito
UNIDADE IV
95 Introdução
122 Referências
124 Gabarito
11
SUMÁRIO
UNIDADE V
127 Introdução
167 Referências
174 Gabarito
175 CONCLUSÃO
Professor Dr. Éder Rodrigo Gimenes
I
UNIDADE
O ESTADO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conceituar o Estado a partir da perspectiva política clássica em
Maquiavel;
■■ Apresentar a concepção de Estado a partir da cessão de liberdades
pelos indivíduos em favor de um ente que regule as relações sociais;
■■ Discutir a relação entre comércio e governo e a origem dos Estados
nacionais e descrever aspectos referentes à relevância da economia
para a conformação dos Estados nacionais;
■■ Expor as bases de desenvolvimento do Estado liberal.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Conceito de Estado
■■ O Estado como contrato social
■■ Os Estados nacionais
■■ O Estado liberal
15
INTRODUÇÃO
Introdução
16 UNIDADE I
POLÍTICA
GOVERNO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONCEITO DE ESTADO
O ESTADO
17
que fosse possível transformar a realidade. No caso do príncipe, essa busca seria
pautada pelo conhecimento do uso do poder e de como mantê-lo, para o que
precisaria aprender a utilizar os recursos disponíveis para a satisfação de seus
interesses e necessidades. Esta sabedoria era o que Maquiavel pretendia expor
ao Príncipe através de seus conselhos e regras.
Segundo o autor, o Príncipe precisaria de virtù e de fortuna. A virtù corres-
ponderia ao poder, à glória e à honra pelas quais o homem deveria lutar, sendo
que não se referia exatamente à força bruta e violência, mas também à sabedoria
para o uso da força e a tornar público aos súditos sua capacidade de manter seus
domínios e, se não pudesse ser amado, ser ao menos respeitado ou temido pelos
cidadãos. Por outro lado, a fortuna estaria relacionada à visão que o Príncipe
deveria transmitir aos seus súditos, de homem viril e corajoso. Nesses termos,
a aparência era mais importante do que o ser. Em resumo: o Príncipe deveria
governar com violência e astúcia.
Dentre os conselhos ao Príncipe, Maquiavel pontuou situações que ilustram
a importância da manutenção do poder, como o cuidado que o soberano deveria
ter em parecer bom, mesmo que não o fosse, e a preocupação em demonstrar
à sociedade que seu objetivo seria realizar a justiça e promover o bem comum,
ainda que sua atuação efetiva se desse com vistas à conservação de seu status quo.
Outro exemplo diz respeito à ação do soberano após a conquista de
um Estado: para o autor, a preocupação deveria consistir em combinar a
manutenção das leis e a vida em liberdade, o que decorreria de ações como
arruinar o Estado a ser ocupado, depois habitá-lo pessoalmente, por fim,
fazê-los viver sob suas leis.
Conceito de Estado
18 UNIDADE I
Embora pareça cruel e que leituras de sua obra tenha originado o termo “maquia-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vélico” com conotação negativa, é importante destacar que a concepção de
Estado como campo de conservação do poder decorre tanto de leituras filosófi-
cas quanto das experiências pessoais do autor, que, após denunciado e privado
do exercício profissional, discorreu sobre como o caráter humano é caracteri-
zado por ingratidão, falsidade, hipocrisia e ganância. Assim, para governar, o
Príncipe deveria ter em mente que os homens são perversos e dispostos a seguir
suas más intenções caso tenham oportunidade, de modo que a manutenção do
poder só ocorreria caso o soberano combinasse virtù e fortuna, violência e astú-
cia, respeito e temor por parte dos cidadãos.
Esta concepção de Estado diverge daquela de outras correntes de pensadores, mas
segue relevante à interpretação sobre como a permanência de um indivíduo ou grupo
no poder se coloca permanentemente como objetivo àqueles que ocupam tal posição.
Em seu discurso intitulado “A política como vocação”, Max Weber (2011) afir-
mou que o Estado era organização representativa de determinada forma de
manifestação da política, a qual seria concebida a partir de uma relação de
dominação que corresponderia à maneira como se dava a racionalidade na
sociedade moderna. Nesse sentido, o Estado seria o ente político possuidor
do monopólio do uso legítimo da ação coercitiva. Tal padrão de domina-
ção se estabeleceria por intermédio da legitimidade pertinente à relação de
mando e subserviência reconhecida pelo Estado e pelos cidadãos.
Fonte: o autor
O ESTADO
19
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
um contrato social que garantisse que todos os demais também o fizessem. O
que levaria os indivíduos racionais a entregarem sua liberdade ao soberano seria
o fato de que a vida no estado de natureza implicaria em preocupação constante
com a própria sobrevivência, pois em um contexto onde todos os atos são justi-
ficáveis, não havia direitos que protegessem os indivíduos.
Sem nenhuma autoridade comum para resolver as disputas ou proteger os
fracos, caberia a cada um decidir o que precisasse e o que deveria fazer para
sobreviver. No estado de natureza, os homens seriam, então naturalmente livres
e independentes, sem deveres para com os demais. Para Hobbes, sempre haveria
escassez de bens e os indivíduos seriam vulneráveis, uma vez que alguns entra-
riam em conflitos visando comida e abrigo, enquanto outros buscariam glória
e poder. Esse seria um contexto de constante temor e ataques, o que configura-
ria o fim da liberdade descontrolada dos homens. A superação desse estado de
natureza se daria pela existência de um poder e autoridade consentido: o Leviatã.
O Leviatã, em referência a um monstro bíblico do livro de Jó, deveria ser o
Estado, uma espécie de homem artificial, de maior estatura e força que os homens
naturais, projetado para protegê-los e defendê-los, inclusive de seus semelhantes.
A soberania também lhe seria artificial, pois não emanaria de si, mas do contrato
social firmado pelos indivíduos em seu favor. Esse contrato social, que conce-
deria autoridade indivisível ao soberano, seria um mal necessário para evitar o
destino cruel dos homens diante da não contenção de seus impulsos destrutivos.
Contudo, cabe destacar que o contrato social seria estabelecido entre os indiví-
duos, sendo o soberano um ente externo, à parte do contrato.
O ESTADO
21
indivíduos conviveriam em relativa harmonia por boa parte do tempo, agindo com
razão e tolerância e de modo que os conflitos não seriam necessariamente comuns.
Contudo, com o aumento da densidade populacional, a escassez de recursos e o
surgimento do dinheiro, teriam surgido desigualdades econômicas, que levaram
a mais conflitos, o que gerou a dependência, pelas sociedades, de leis e juízes.
Outra diferença entre os autores é que Locke argumentava que seriam as leis
que protegeriam os indivíduos, não o poder soberano. Nesse sentido, o governo
teria garantido o monopólio da violência e das condenações, em um Estado
de direito onde a legitimidade do governo seria pautada pela separação entre
os poderes Executivo e Legislativo: o primeiro manteria o funcionamento do
governo, enquanto o segundo, superior e com maior poder, estabeleceria as leis
para o funcionamento desse governo. As leis, aliás, seriam centrais ao governo
por garantirem as liberdades, de modo que não seriam regras restritivas, mas
que preservariam e aumentariam essa liberdade, sendo que viver sem leis seria
o mesmo que viver sob um estado anárquico, de incertezas, onde as liberdades
pudessem não se efetivar.
Ademais, o autor era favorável a um governo com papel limitado, ao qual
o povo não fosse plenamente subordinado e que não fosse centralizado em um
único indivíduo. O governo deveria proteger a propriedade privada, manter a paz,
garantir mercadorias comuns para todos e proteger os cidadãos contra invasões
estrangeiras. Em outras palavras, o governo deveria ajustar ou complementar o
que faltava no estado de natureza para conferir liberdade e prosperidade às pes-
soas. As leis deveriam ser formuladas e impostas com o objetivo do bem público.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ingleses (da guerra civil e da Revolução Gloriosa, para Locke), Rousseau postu-
lou sobre o contrato social a partir de bases filosóficas e de experiências pessoais
e históricas distintas. Para esse autor, mais relevante do que a produção e discus-
são científicas era a reflexão sobre que tipo de conhecimento era produzido na
época, o que fez dele um crítico dos pensadores de sua época.
Rousseau entendia que o homem não era mais virtuoso, mas que ainda seria
possível encontrar aqueles menos corrompidos, inclusive pelas ciências e pelas
artes, que poderiam assumir papel importante de impedir o avanço da corrup-
ção dos indivíduos. De modo geral, sua teoria era de que a política deveria ser
exercida pelo povo, de forma soberana.
Sua argumentação sobre a formação do Estado encontra-se em duas obras.
Em “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”
(1755), o autor desenvolveu uma história hipotética da humanidade, na qual
afirmou que a trajetória dos homens ao longo dos séculos sofreu uma alteração
em sua condição de liberdade quando do surgimento da propriedade privada.
Segundo Rousseau, a história da humanidade seria a história da desigualdade,
que se iniciou quando os demais membros de uma sociedade legitimaram a afir-
mação daquele que chamou um pedaço de terras de seu. Em outras palavras, a
desigualdade seria fruto tanto da apropriação de uma propriedade por alguém
quanto da aceitação dos demais. Haveria, aí, um pacto ou um contrato.
O ESTADO
23
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
OS ESTADOS NACIONAIS
O ESTADO
25
como aos suseranos cabiam também outras funções, como o exercício da jus-
tiça em seus domínios (BLOCH, 1987).
Um aspecto importante a ser destacado sobre o feudalismo é a ausência de
mobilidade social, ou seja, a impossibilidade aos vassalos de ascenderem à con-
dição de senhores de terras. Tal problema se justificava em virtude de que as
terras eram distribuídas por heranças, o que conduziu, ao longo do tempo, à
fragmentação dos feudos, que se tornaram menores e ofereceram aos vassalos,
por consequência, cada vez menos proteção, o que gerou alguma insatisfação
entre esses. Além disso, a hereditariedade como fator preponderante à distribui-
ção de terras também gerava sentimentos negativos por parte daqueles que não
pertenciam à nobreza, situação que se agravou quando da consideração do pri-
mogênito como herdeiro legítimo das terras.
Em contrapartida, nesse mesmo período, houve expansão territorial e comercial
dos países europeus motivados por questões religiosas, quando Estados ociden-
tais se organizaram para combater aqueles orientais em função de libertar a Terra
Santa de infiéis, empreendimentos bélicos que receberam a alcunha de “Cruzadas”.
Segundo Cortázar e Muñoz (2014), considerando a circulação dos cavaleiros por
grandes faixas de terras ao longo da costa do Mar Mediterrâneo, com o tempo pas-
saram a existir estruturas que posteriormente constituíram as cidades, mas que,
naquele momento, representavam espaços para aglomerações humanas.
Nos caminhos onde os cavaleiros passavam constituíram-se rotas e espaços
onde se organizaram as primeiras grandes feiras, nas quais havia circulação de
pessoas e realização de transações comerciais. Essas aglomerações constituíram-
-se em proto-cidades que se tornariam burgos.
Os Estados Nacionais
26 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
antes voltada à subsistência e, em menor medida, às trocas. Essa elevação baseou-
-se na intensificação do trabalho dos vassalos, que foram pressionados para
gerar mais excedentes aos suseranos e tiveram, desde então, mais um motivo
para se sentirem insatisfeitos (CORTÁZAR; MUÑOZ, 2014).
Dentre os insatisfeitos, muitos vassalos migraram para os burgos surgentes à
época, uma vez que, por um lado, estavam descontentes com a elevação da carga
de trabalho e a impossibilidade de ascensão social nos feudos e, por outro lado,
almejavam oportunidades de crescimento econômico por meio do comércio.
Foi nesse contexto que se consolidou a mudança de paradigma anunciada
anteriormente neste texto: o sistema de produção feudal, baseado na troca e para
fins de subsistência, passou a ser substituído pelo sistema de produção pautado
pelo máximo excedente possível, com vistas à comercialização nos burgos; ao
mesmo tempo, o homem rural deixou de ser referência diante da emergência do
homem moderno (SMITH, 1983). Contudo, esse processo, discutido por autores
como Dobb (1975), não foi simples e harmônico, mas caracterizado por muitos
conflitos, como também destacara Adam Smith (1983).
Segundo o autor clássico do pensamento econômico, o feudalismo não con-
templava os objetivos das relações estabelecidas pelo comércio e os senhores
feudais perderam seu poder político diante do surgimento de um novo grupo
econômico ascendente: a burguesia (SMITH, 1983).
Considerado o contexto de fragmentação do poder político na Europa,
os Estados nacionais teriam sido estruturados com o intuito de promover a
O ESTADO
27
afirmar que não se tratou de um processo positivo, já que os Estados teriam sido
constituídos para atender aos interesses de grupos dirigentes, os quais concentra-
riam, por conseguinte, tanto o poder econômico quanto o poder político. Segundo
esse último autor, a formação dos Estados nacionais perpetuariam, então, a manu-
tenção da concentração do poder, já que esses Estados atuariam em favor dos
detentores dos meios de produção. Percebe-se aqui a relação entre a perspectiva
de Marx e o argumento apresentado por Maquiavel em “O Príncipe”, qual seja:
o Estado se caracterizaria pela concentração e manutenção do poder instituído.
Com a consolidação dos Estados nacionais, aspectos políticos como a cons-
tituição de burocracia (corpo técnico e procedimentos) e o respeito às leis e
instituições foram estabelecidos. Ademais, a relação entre paz (como ausên-
cia de uso da violência pelos cidadãos “comuns”) e liberdade definida pelo
contrato social se materializou. Nesse período, ocorreram alterações impor-
tantes relacionadas aos grupos sociais, uma vez que em paralelo à ascensão
da burguesia por conta do desenvolvimento do comércio e dos burgos e à sua
aproximação com o poder real ocorreu a migração da nobreza feudal para a
área urbana, o que culminou na transmissão de valores e comportamentos à
sociedade em formação.
Entretanto, a relevância do processo de urbanização à relação entre Estado
e sociedade será abordada em unidade posterior deste material. Por ora, nos
deteremos à concepção de Estado liberal desenvolvida a partir do binômio
política-economia.
Os Estados Nacionais
28 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O ESTADO LIBERAL
O surgimento de Estados nacionais pautados pela forte relação dos governos com
a burguesia inaugurou um período histórico e econômico no qual a manutenção
do Estado atrelou-se ao desempenho das relações comerciais. Nesse sentido, os
Estados nacionais deveriam se preocupar não apenas com a garantia de conser-
vação dos direitos de propriedade daqueles que ocupavam posições de poder,
mas, também, com o desenvolvimento relacionado a aspectos como condições
de produção manufatureira, tributos, moeda e geração de riquezas.
Essa nova forma de organização do Estado, que convencionou-se denominar
como mercantilismo, correspondeu ao primeiro momento em que as economias
nacionais extrapolaram seus limites territoriais, o que conduziu à circulação de
pessoas, de mercadorias, de moedas, de costumes, de valores e de tradições, um
fenômeno que pode ser considerado como esboço do processo de globalização
que ocorreria no século XX, primeiramente a partir da perspectiva econômica
e, em um segundo momento, com relação ao multiculturalismo, geopolítica e
demais formas de relacionamento entre Estados e povos.
Assim, o mercantilismo representou um período e uma maneira de orga-
nização política e econômica que marcou a transição entre o feudalismo e a
estruturação do capitalismo, cuja principal característica era a intervenção do
Estado na economia (LIMA; PEDRO, 2005). Retomando os aspectos anteriores
O ESTADO
29
O Estado Liberal
30 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
do velho continente e a abundância de terras a ser desbravadas e ocupadas tam-
bém representavam pontos favoráveis à permanência nos territórios descobertos.
Por fim, a descoberta da existência de ouro, a possibilidade de escravização dos
nativos indígenas e, posteriormente, também de africanos contribuíram para a
expansão econômica dos Estados nacionais europeus à época.
Cabe destacar que ainda que o mercantilismo tenha sido essencial ao desen-
volvimento do nacionalismo, especialmente na Inglaterra e na França (DEYON,
1982), foi também aspecto propulsor da Revolução Industrial no primeiro país
mencionado, conforme discutiremos na próxima unidade de estudo.
Nesse momento, é importante pontuar que as práticas mercantilistas surtiram
efeito para a expansão econômica dos Estados nacionais, mas também refleti-
ram em limitações, uma vez que os produtos de que as populações necessitavam
nem sempre podiam ser adquiridos no interior das nações, o que levou à aber-
tura comercial em virtude da necessidade de atender a determinadas demandas.
O ESTADO
31
O Estado Liberal
32 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mercado, que goza de liberdade econômica, conduzido pelos cidadãos mais inte-
lectualizados e economicamente ascendentes que iniciaram a discussão. Cada
indivíduo seria livre para agir conforme seu entendimento, pois a liberdade indi-
vidual é um valor político essencial, ou seja, é o homem quem decide para quem
trabalhar, onde viver, o que comprar etc.
Ademais, uma relevante característica desse modelo de Estado é a interpre-
tação da justiça: o julgamento moral dos indivíduos para conceder o que lhes é
devido. Em outras palavras: justiça seria diferente de igualdade. Na concepção
liberal, os homens não nascem iguais em termos de condições sociais, sexo, etnia
etc., mas possuem as mesmas condições para se desenvolver, sendo que o que
diferencia seu desenvolvimento seriam suas qualidades (como talento, habilidade,
inteligência e esforço, por exemplo), de modo que cada um ocuparia na socie-
dade a posição social da qual fosse merecedor. Eis o princípio da meritocracia.
O ESTADO
33
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
34
3. Com relação aos Estados nacionais, analise as afirmações abaixo e assinale Ver-
dadeiro (V) ou Falso (F):
(( ) Os Estados nacionais decorrem, em alguma medida, da estrutura do feu-
dalismo.
(( ) Os Estados nacionais foram constituídos a partir do modelo democrático.
(( ) Os Estados nacionais surgiram com vistas à centralização do poder entre
elites.
Assinale a alternativa correta:
a) V; V; F.
b) F; F; V.
c) V; F; V.
d) F; F; F.
e) V; V; V.
4. Analise as características abaixo e assinale aquela que não diz respeito ao mer-
cantilismo:
a) Surgiu após o feudalismo.
b) Intervenção expressiva na economia.
c) Tem forte relação com o capitalismo.
d) Preocupação com o bem-estar social.
e) É a base do Estado liberal.
5. O liberalismo se instituiu em consequência do mercantilismo. Segundo o eco-
nomista Adam Smith, qual é a principal limitação do mercantilismo, a ser supe-
rada pela implementação do Estado liberal?
a) A preocupação central em organizar a vida social nos burgos.
b) A relação estabelecida entre a nobreza, a burguesia e o Estado.
c) A regulação das relações econômicas e comerciais pelo Estado.
d) A falta de responsabilidade do Estado sobre a segurança dos cidadãos.
e) A expansão do comércio para além do protecionismo e do metalismo.
36
História, Sociologia, Ciência Política, Antropologia, Filosofia e Serviço Social são campos
do conhecimento com estreitas relações entre si, o que é possível apreendermos ao pen-
sarmos sob a perspectiva da proximidade entre aspectos históricos e interpretações so-
bre a conformação, a organização e o funcionamento dos Estados e sociedades, de modo
geral, e de grupos e movimentos sociais ou mesmo de indivíduos, de modo específico.
Segundo Peter Burke, a História pode ser entendida como área preocupada com os
estudos de sociedades humanas no plural, das diferenças entre elas e das mudanças
ocorridas em cada uma ao longo do tempo, enquanto a Sociologia, aqui tomada como
sintetizadora de argumentos que se aplicam também à Ciência Política, “[...] pode ser
definida como o estudo da sociedade humana com ênfase em generalizações sobre sua
estrutura e desenvolvimento” (p. 14).
Por sua vez, em sua aula inaugural da cadeira de História Romana, Paul Veyne iniciou
sua fala afirmando estar convencido de que a História ou ao menos a História Socioló-
gica existe. O autor define a segunda como “[...] aquela que não se limita a narrar, nem
mesmo a compreender, mas que estrutura sua matéria recorrendo à conceituação das
Ciências Humanas, também chamadas Ciências Morais e Políticas” (1983 [1976], p. 5).
Conforme o autor, existem acontecimentos históricos, mas não explicações históricas,
de modo que as explicações decorreriam de interpretações dos fatos históricos e isto se
daria por meio das Ciências Sociais.
Na mesma aula, o autor reforçou a ideia de individualidade dos fatos, mas não neces-
sariamente dos indivíduos humanos ou das sociedades, o que significa que a ideia de
individualidade seria relativa. Desta maneira, os conceitos que permeiam as interpre-
tações, os diferentes níveis de generalização dos fatos históricos e a forma como cada
objeto é analisado interferem diretamente na análise. Transportando essa discussão
para os trabalhos desenvolvidos na área social, devemos refletir que o contexto e as
informações de que dispomos influenciam a percepção que desenvolvemos, inde-
pendente de nossa posição, seja como gestor público, gestor de uma entidade do
Terceiro Setor ou como agente atrelado ao desenvolvimento de políticas públicas
(assistente social), por exemplo.
Em se tratando de exemplos desta relação entre História e Ciências Sociais à pro-
dução de análises, destaco os livros de Cynthia Stokes Brown, “A grande história”,
e de Candice Goucher e Linda Walton, “História mundial: jornadas do passado ao
presente”, os quais apresentam discussões sobre fatos históricos permeados por co-
mentários e explicações sociológicas.
37
Cruzada
Ano: 2005
Sinopse: Ainda em luto pela repentina morte de sua esposa, o ferreiro
Balian junta-se ao seu distante pai, Baron Godfrey, nas cruzadas a
caminho de Jerusalém. Após uma jornada muito difícil até à cidade
santa, o jovem valente entra no séquito do rei leproso Balduíno IV, que
deseja lutar contra os muçulmanos para seu próprio ganho político e
pessoal.
Comentário: Ainda que se trate de uma ficção, o filme retrata aspectos
relacionados ao período das Cruzadas, como a centralidade do poder
do Rei e a relação entre religião, o Estado e violência.
1. Opção correta é a B.
2. Opção correta é a D.
3. Opção correta é a C.
4. Opção correta é a D.
5. Opção correta é a E.
Professor Dr. Éder Rodrigo Gimenes
II
UNIDADE
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar aspectos referentes ao contexto em que ocorreu a
Revolução Industrial;
■■ Discorrer sobre a relação entre mão-de-obra e produção industrial
sob a perspectiva marxista;
■■ Expor os movimentos operários decorrentes da Revolução Industrial
como movimentos sociais organizados.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Contexto histórico da Revolução Industrial
■■ A divisão social do trabalho
■■ Resistência e organização operária
45
INTRODUÇÃO
Introdução
46 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONTEXTO HISTÓRICO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
47
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Industrial, uma vez que aqueles onde a industrialização sofreu evoluções ao longo
do século XIX ocupam até os dias atuais posições de poder econômico e político,
ao passo que países em condições subalternas à época daquela revolução, espe-
cialmente as colônias, passaram por processos de industrialização tardia e, não
raramente, persistem como fornecedores de matérias-primas e produtos agrí-
colas às grandes potências econômicas mundiais.
No que diz respeito ao mundo do trabalho, a Revolução Industrial implicou na
divisão e na especialização das atividades laborais, na redução das manufaturas por
conta de sua substituição pela maquinofatura, na constituição de uma elite indus-
trial por conta do crescimento e fortalecimento do poder econômico e políticos dos
burgueses, na dinamização dos processos produtivos (com redução dos custos de
produção e aumento do rendimento dos trabalhadores) e na oposição do proletariado
à burguesia através de sua organização em sindicatos e por meio de lutas operárias.
Por um lado, a Revolução Industrial estimulou o desenvolvimento do comér-
cio e da concorrência, promoveu o aumento da produtividade e do mercado
consumidor e avanços científicos e tecnológicos relacionados aos sistemas de
comunicação e de transportes. Contudo, os impactos ambientais de tal evolução
foram também expressivos, de modo que já entre os séculos XVIII e XIX cons-
tatava-se a exploração dos recursos naturais de maneira enfática.
No que tange às cidades, estas se tornaram centros industriais, mas seu cres-
cimento ocorreu com desordem e segregação, o que culminou na elevação das
desigualdades sociais. A relação entre industrialização e processo de urbaniza-
ção, porém, será tratada na próxima unidade deste material de estudos.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
49
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Conforme Marx (1983), ao longo de um dia de trabalho, um trabalhador
produziria o valor referente ao pagamento que recebe por sua força de trabalho
e, no restante das horas de laboro, operaria além do limite de trabalho necessário,
uma vez que o valor recebido pelos operários como salário diria respeito apenas
ao montante de recursos financeiros que lhes garantisse condições mínimas de
subsistência, como um teto para dormir e alimentação para repor as energias,
ou seja, o salário corresponderia ao suficiente para que o trabalhador mantivesse
sua força para desempenhar sua função.
A segunda parte da jornada de trabalho, em que o operário trabalha excessiva-
mente com relação ao que receberá como remuneração, não representa valor algum
a ele, sendo chamado por Marx de tempo de trabalho excedente. A mais valia corres-
ponderia à produção ou ao trabalho realizado pelo operário em seu tempo excedente
de atividade, ou seja, a mais valia corresponderia à diferença entre o quanto o tra-
balhador produz em termos de mercadorias e o quanto recebe por seu trabalho.
Assim, aos burgueses seria interessante elevar a jornada de trabalho ao máximo
possível, tanto para expropriar a capacidade produtiva de seus empregados quanto
para utilizar integralmente, se possível, o maquinário existente. Contudo, havia
um ponto relevante a ser considerado: a existência de um limite de carga horá-
ria diária que o trabalhador poderia cumprir, tanto por conta de aspectos físicos
(como necessidade de descansar e repor as energias antes de um novo dia de tra-
balho) quanto morais (tempo para satisfazer necessidades espirituais e/ou sociais,
por exemplo). Por outro lado, como qualquer comprador de uma mercadoria,
o capitalista procuraria extrair ao máximo o resultado do bem que adquiriu, ou
seja, buscaria explorar a força de trabalho dos operários até onde fosse possível.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
51
A busca por cursos superiores relacionados a carreiras cada vez mais seg-
mentadas reflete, em alguma medida, o processo de especialização e desen-
volvimento de habilidades e aptidões.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
terruptamente –, fez-se necessária a expansão do conjunto de indivíduos aptos
ao trabalho, o que significou a inclusão de mulheres e crianças no ambiente
fabril (BRESCIANI, 1986).
Tal alteração beneficiou os proprietários dos meios de produção de duas
maneiras: pela máxima utilização da capacidade produtiva do maquinário, que
tendia à obsolescência com o decorrer dos anos, e pela possibilidade combinada de
aumento do volume de força de trabalho empregada em combinação com a redu-
ção do valor pago pela atividade laboral dos operários, uma vez que o salário pago
correspondia ao mínimo necessário para manutenção de sua condição de sobrevi-
vência e, com a inserção dos demais membros da família no mercado de trabalho,
houve a possibilidade de diminuição do valor pago aos homens anteriormente.
Por fim, há que se considerar que a evolução do comércio e a especialização
das atividades, em combinação com a mais valia, retiraram dos trabalhadores a
possibilidade de consumo das mercadorias e produtos dos quais participavam
do processo produtivo.
Esse conjunto de fatores confluiu à geração de descontentamento entre os
operários, que passaram a se organizar em busca de melhorias em suas condi-
ções laborais, como discutiremos na próxima seção deste estudo.
Antes de avançarmos ao último tópico desta unidade, cabe uma considera-
ção acerca da maneira como Marx (1983) analisava a burguesia: por um lado,
o autor reconhecia a importância da classe à superação dos valores aristocrá-
ticos, mas, por outro lado, entendia que a burguesia era responsável, também,
pela ampliação das desigualdades sociais, já que sua ascensão conduziu à maior
exploração do proletariado.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
53
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
escreveu em coautoria a obra “Manifesto do Partido Comunista”, nos ateremos
neste estudo a considerações sobre o livro de Engels anteriormente mencionado.
Na parte final desta unidade trataremos do referido manifesto.
Em “A situação das classes trabalhadoras na Inglaterra”, o autor analisou a
situação dos trabalhadores das indústrias e comparou sua condição àquela de
animais. Apesar de uma parcela dos operários acreditarem que seria possível
a eles a ascensão social à burguesia (embebidos pela ideologia de que con-
forme aumentasse seu volume de trabalho poderiam ganhar mais), a maioria
dos proletários não demorou a perceber que sua condição de exploração e a
manutenção da pobreza não tenderiam a ser alteradas, de modo que dentre
os efeitos dessa percepção advieram a insatisfação, a desilusão, o alcoolismo, a
demência e o suicídio, por exemplo.
Dentre as manifestações decorrentes dessa percepção destacaram-se as
revoltas armadas, as rebeliões, as greves e o surgimento dos sindicatos - trade
unions -, com a finalidade de proteção e segurança dos operários por meio da
melhoria de suas condições laborais e da conscientização e fortalecimento da
luta pela causa operária.
Nesse sentido, tanto Engels (1986) quanto Marx (1983) afirmam que a orga-
nização dos trabalhadores em favor da melhoria de suas condições de trabalho,
pela redução da exploração a que são submetidos nas indústrias e pela altera-
ção da lógica de acumulação capitalista pautada pela mais valia se caracterizou
pela conscientização do proletariado acerca de seu papel no arranjo social dos
Estados nacionais enquanto agentes responsáveis pelo funcionamento do sistema
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
55
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
o Luddismo, também conhecido como o movimento dos quebradores
de máquinas. Inexperiente, a jovem classe operária viu nas máquinas
o seu principal inimigo. Afinal, aparentemente a máquina é que era
responsável pelo desemprego dos trabalhadores especializados, pela
inserção da mulher e do menor nas fábricas em condições degradantes
etc. O termo Luddismo deriva do nome do operário têxtil Ned Ludd,
que trabalhava numa pequena oficina em Nottingham, cidade próxima
de Londres. Segundo pesquisas, esse operário destruiu totalmente os
teares mecânicos da fábrica num sinal de revolta contra os efeitos da
Revolução Industrial (BORGES, 2006, p. 3-4).
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
57
Muitas pautas sobre a exploração da mão de obra e mais valia são reivindi-
cações de movimentos sindicais até os dias atuais, ainda que não seja utili-
zada a terminologia empregada por Karl Marx.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
na qual nos concentraremos nos processos de urbanização que acompanharam
e foram, ao mesmo tempo, causa e consequência da Revolução Industrial na
Europa, com desdobramentos na formação da sociedade brasileira desde o iní-
cio do século XIX.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
59
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
60
A Revolução Francesa
1789
JANEIRO:
Defendendo o sufrágio universal com eleições diretas, além de instrução gratuita e obri-
gatória Robespierre é eleito, pelo Terceiro Estado, deputado para os Estados Gerais em
Paris.
JUNHO:
17- O Terceiro Estado, considerando a representação de 98% da população, se auto pro-
clama Assembléia Nacional.
JULHO:
12- Rebeliões em Paris.
14-Tomada da Bastilha, formação de uma municipalidade e de uma
guarda burguesa em Paris. Sublevação de camponeses, ataque a castelos e queima de
documentos feudais. Considerada o início da revolução.
1790
MARÇO:
15- Abolição dos direitos senhoriais. Autorização da venda das propriedades nacionais
em leilões públicos. As terras seriam divididas em pequenas partes que poderiam ser
pagas em até 12 anos.
1791
DEZEMBRO:
12-18- Intervenções de Robespierre contra a guerra.
1793
JANEIRO
21- Luís XVI é guilhotinado.
1794
JULHO:
28- Execução de Robespierre, Saint-Just, Couthon e outros 19 do grupo. Chega ao fim o
terror. A convenção retoma os poderes e é promulgada uma nova Constituição (do ano
III) que suprime o sufrágio universal, entre outras medidas.
Fonte: Santos e Marques (2017, online).
MATERIAL COMPLEMENTAR
Manifesto comunista
Karl Marx e Friedrich Engels
Editora: Boitempo Editorial
Sinopse: Manifesto comunista, publicado em 1848, é um dos textos mais
influentes do mundo. Expõe o programa da Liga dos Comunistas, que
encomendou o texto, e, contando com uma análise da luta de classes,
tanto a partir de uma perspectiva histórica, quanto contemporânea, trata
do período em que se estabelecia o capitalismo e, consequentemente, a
burguesia como classe dominante, na Europa do século XIX.
Comentário: Há inúmeras edições desta obra ao longo do tempo, com alterações de termos e
palavras por conta das traduções, além de apêndices com textos de debatedores, como é o caso da
obra aqui destacada.
Tempos modernos
Ano: 1936
Sinopse: Esta obra-prima cômica encontra o icónico Vagabundo
empregado em uma fábrica, onde as máquinas inevitável e
completamente o dominam e vários percalços o levam para a prisão.
Entre suas passagens pela prisão, ele conhece e faz amizade com
uma garota órfã. Ambos, juntos e separados, tentam lidar com as
dificuldades da vida moderna, o Vagabundo trabalhando como garçom
e, eventualmente, um artista.
Xadrez Verbal
O canal de vídeos “Xadrez Verbal” conta com diversas playlists sobre os mais diversos temas, como
futebol, cinema, política internacional e brasileira e sobre história. Em “História Mundial” há cerca
de 30 vídeos sobre fenômenos relevantes.
<https://www.youtube.com/user/xadrezverbal>
65
REFERÊNCIAS
1. Opção correta é a E.
2. Opção correta é a A.
3. Com a divisão do trabalho, o trabalhador fica alienado do restante das atividades
do processo de produção, de modo que sua especialização lhe permite partici-
par apenas de uma tarefa/atividade, se tornando um trabalhador parcelar. Além
disso, o valor da força de trabalho (massa salarial) é reduzido, especialmente se
considerada a elevação da quantidade de mercadorias que seu trabalho ajuda
a produzir.
4. Opção correta é a A.
5. Quando mulheres e crianças foram inseridas no mercado de trabalho foi possível
reduzir o valor pago ao trabalhador, já que o mesmo valor passou a ser pago a
toda a família que se inseriu no mercado de trabalho.A lógica da mulher receber
menos, ainda que desempenhasse a mesma função que um homem, decorria da
tradição de que o homem seria o provedor do lar, de modo que em seu salário
estaria “embutido” o valor que deveria suprir também as necessidades básicas
de sua esposa. O salário da mulher não comportaria tal dimensão, o que signi-
fica que a inserção das mulheres contribuiu para a redução do salário pago aos
homens.
Professor Dr. Éder Rodrigo Gimenes
III
PROCESSOS DE
UNIDADE
URBANIZAÇÃO E SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Discutir sobre desdobramentos da Revolução Industrial sobre a
urbanização e a organização das sociedades;
■■ Expor a influência do processo de urbanização sobre a cultura e o
comportamento dos indivíduos e apresentar aspectos históricos
sobre o processo de urbanização no Brasil e seus desdobramentos
sobre a sociedade nacional.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Efeitos da Revolução Industrial sobre as conformações sociais
■■ Urbanização no Brasil
69
INTRODUÇÃO
Industrial tenha seu prisma alterado do contexto histórico que gerou suas causas
às suas consequências, ou seja, de modo a tratar o referido fato histórico como
ignição de um novo processo político, social e econômico. Diante de tal contexto,
e em conformidade com aspectos mencionados pontualmente nas unidades ante-
riores, nosso destaque recai sobre a urbanização das sociedades. Inicialmente,
abordamos a mudança no perfil habitacional das populações sob a perspectiva
da modernidade, com ênfase nas alterações que a urbanização provocou tanto na
vida dos cidadãos quanto na organização das cidades, ou seja, mudanças indivi-
duais e coletivas. Ainda nesta unidade, discorremos sobre a reestruturação dos
comportamentos, da cultura e das tradições nessas sociedades em processo de
urbanização, por meio da reflexão sobre aspectos que culminaram em novos
papéis e práticas sociais.
Por fim, a segunda seção desta unidade de estudos é dedicada à análise sobre
a construção histórica do processo de urbanização no Brasil. Para tanto, des-
tacamos elementos desde a chegada da família real no início do século XIX e
da constituição da República e avançamos até o século passado, com ênfase na
relação entre o fim da escravidão e a reconfiguração da sociedade e da econo-
mia nacionais diante da alteração no padrão de relações de trabalho instituída.
Boa reflexão!
Introdução
70 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
EFEITOS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL SOBRE AS
CONFORMAÇÕES SOCIAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
foram elaboradas por aqueles que prevaleceriam delas em seu cotidiano. Em
outras palavras, retomando a discussão presente nos tópicos iniciais deste
material de estudo, as elites políticas e econômicas, preocupadas com a con-
centração de seu poder e status, estabeleceram um contrato social no qual seus
direitos estariam garantidos.
Mas os arranjos urbanos cresceram sem que a preocupação com sua orga-
nização se estendesse da área central às periferias, onde se concentraram os
trabalhadores. Devido à ausência de infraestrutura básica, como esgoto, e por
se localizarem próximas às fábricas - o que facilitava o deslocamento dos ope-
rários ao trabalho -, as periferias eram sinônimo de ausência de condições de
habitação e focos de proliferação de doenças de diversos tipos, desde aquelas
decorrentes da falta de higiene básica até as decorrentes de problemas respirató-
rio ou auditivo, por conta de fuligens e de ruídos das fábricas ou linhas de trens
que permeavam as periferias.
Com relação aos meios de transporte e de comunicação, estes sofreram
forte impacto da industrialização: a construção de estradas, o surgimento e o
desenvolvimento de ferrovias e a ampliação das rotas marítimas possibilitaram
o escoamento de maior volume de mercadorias e para destinos (mercados) com
os quais os Estados e industriais não tinham possibilidade de negociação.
Ainda com relação à burguesia, Hobsbawn (2000) afirma que essa classe
social defendia a modernização no campo econômico ao mesmo tempo em que
perpetuou a tradição em termos de valores e costumes nos séculos XVIII e XIX.
Enquanto, por um lado, a burguesia foi responsável por inovações nos modos de
produção e de organização das relações comerciais, por outro lado mantiveram-
-se aspectos como a relevância atribuída à família e a realização de casamentos
como alianças para fortalecimento de negócios e a divisão social dos papéis de
homens e mulheres: enquanto a eles cabia o provimento do lar e a vida e expo-
sição no âmbito público, às mulheres eram delegadas as funções de organização
da vida familiar, como a educação dos filhos e as atividades domésticas, ambas
no âmbito privado.
A divisão social no trabalho nos âmbitos público e privado tem efeitos sobre
a configuração das sociedades contemporâneas e regula as relações de gê-
nero e acesso à política no Brasil e no mundo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
URBANIZAÇÃO NO BRASIL
Urbanização no Brasil
76 UNIDADE III
Para o autor, então, os brancos seriam superiores aos negros, cuja organização
psíquica fora tomada por empréstimo da “raça superior” quando da campanha
abolicionista, uma vez que os negros não eram civilizados e até poderiam evoluir,
mas de maneira lenta, de modo que não atingiriam o estado evolutivo dos brancos.
Em contraposição a tal argumentação, ao longo do século XX outras inter-
pretações surgiram, dentre as quais se destacam duas completamente antagônicas:
por um lado, a visão positiva e o mito da “democracia racial” defendidos por
Gilberto Freyre e, em contrapartida, a discussão sobre a relação entre raça e segre-
gação urbana após a abolição da escravidão, abordada por Florestan Fernandes.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Com formação sob influência do antropólogo norte-americano Franz Boas
e do movimento modernista da década de 1920 no Brasil, Gilberto Freyre escre-
veu “Casa grande & senzala”, originalmente publicado em 1933, tendo em vista o
esforço de romper com as ideias racistas sobre a população nacional, cujos códi-
gos de representação (signos, símbolos e ideias culturais) vigentes se pautavam
pela superioridade dos portugueses frente aos negros e aos índios e, além disso,
eram fortemente críticos à miscigenação. Nesse sentido, o autor se destacou
entre os intelectuais brasileiros da época ao sinalizar positivamente com relação
à miscigenação e temos nessa obra uma das mais importantes e mais conhecidas
interpretações sobre a formação da sociedade brasileira até hoje.
Urbanização no Brasil
78 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
social (FREYRE, 2006, p. 74-75).
O mestiço, então, não seria visto como um ser degenerado, mas representaria a
síntese do povo brasileiro, por conta de sua relação com povos de origens diver-
sas. Diante dessa argumentação, Freyre argumentava que a sociedade brasileira
não sofria do racismo que se notava em outros países, como nos Estados Unidos
naquele momento, e que existia certa proximidade entre senhores e escravos,
o que estaria relacionado à herança mourisca dos colonizadores portugueses.
Por sua vez, Florestan Fernandes, um dos mais respeitados e importantes
sociólogos brasileiros de todos os tempos, se destacou especialmente por suas
posturas analíticas. Na década de 1960, em cuja metade instaurou-se a dita-
dura militar que perdurou até 1985, o autor publicou “A integração do negro na
sociedade de classes”, no mesmo ano de rompimento com a democracia vigente
(1964). Nesta obra, discutiu a discriminação no Brasil e afirmou que se tratava
de uma questão de classe social, mais do que de raça, o que significou enfocar
o surgimento da sociedade de classes como causa, especificamente a partir da
passagem da escravidão ao trabalho livre e a formação do capitalismo no país.
Segundo o autor, na nova sociedade, em processo de conformação, havia
indivíduos das distintas raças em todos os diferentes estratos sociais, ainda
que em proporções discrepantes, o que significaria que não era a raça que
separava ou segregava os brasileiros. A divisão do trabalho, então, conside-
rava as classes sociais, não as raças. No entanto, “coincidentemente” ou não
(se considerarmos as condições históricas de permanência e não socialização
dos negros no Brasil até aquele momento), os negros compunham a maioria
da população do estrato mais baixo.
A justificativa para tal escolha decorria do fato de que os negros haviam sido
libertos e enxergavam no trabalho o objetivo e a finalidade de sua liberdade,
já que entendiam poder escolher quando, em que, quanto trabalhar e quanto
receber, não mais sendo obrigados a cumprir infindáveis jornadas de trabalho
sem remuneração. Em contrapartida, os imigrantes europeus que chegaram
ao Brasil neste período traziam consigo o desejo de se firmarem e de prospe-
rarem e já tinham em sua bagagem o contato anterior com o capitalismo, de
modo que seu pensamento era de trabalhar o máximo possível para reunir
economias e se tornar dono de sua própria terra ou de seu próprio comércio.
Desta maneira, os seguintes trechos da obra de Fernandes (1978) são ilustra-
tivos da maneira totalmente distinta como os negros e os imigrantes entendiam
e se colocavam diante do trabalho:
Enquanto o estrangeiro via no trabalho assalariado um simples
meio para iniciar “vida nova na prática nova”, calculando libertar-
-se dessa condição o mais depressa possível, o negro e o mulato
convertiam-no em um fim em si e para si mesmo, como se nele
e por ele provassem a dignidade e a liberdade da pessoa humana
(FERNANDES, 1978, p. 29).
O negro e o mulato pretendiam as mesmas condições de vida e trata-
mento concedidos aos imigrantes, porém, obstinavam-se em repudiar
certas tarefas ou, o que era mais grave, o modo de dispor de seu tempo
e energias. Assim, a escravidão atingia o seu antigo agente de trabalho
no próprio âmago de sua capacidade de ajustar-se à ordem social asso-
ciada ao trabalho livre. Tornava-se difícil ou impossível, para o negro
Urbanização no Brasil
80 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
capitalista nascente no Brasil.
Foram três, segundo o autor, as influências adversas à assimilação dos
negros em São Paulo, foco de seu estudo: [I] a expansão urbana tardia difi-
cultou a inserção dos negros na ordem social competitiva; [II] diferentemente
de cidades onde os libertos se dirigiram ao artesanato urbano, em São Paulo
houve competição com os imigrantes europeus, que absorveram as melhores
oportunidades de trabalho e ascenderam econômica e socialmente poste-
riormente, deixando os negros à margem do processo; e [III] São Paulo se
constituía no primeiro centro urbano burguês à época e a valorização do tra-
balho livre, da iniciativa individual e do liberalismo econômico para superar
o atraso do país não combinavam com os libertos, pouco afeitos a ocupações
degradantes e sem ânsia por sucesso e acumulação de riqueza.
Diante desse cenário, Fernandes escreveu que a sociedade brasileira só seria
democrática quando fosse superada essa sociopatia. Segundo ele, havia um dilema
social a ser resolvido: a abolição da escravatura foi precipitada, já que se deu sem
garantir aos negros direitos que os integrassem à sociedade, uma vez que o que
tornaria um indivíduo um cidadão seria seu pertencimento ao mundo do tra-
balho, o que permeia fortemente a condição de sujeito.
Os negros, libertos e sem oportunidade de ocupar os postos de trabalho des-
tinados aos imigrantes europeus, acumularam-se nas periferias ou retornaram
às zonas rurais, o que significa que, ainda que não houvesse mais desigualdades
formais ou legais entre negros e brancos, o que se viu na prática foi a segrega-
ção social desse povo, não exatamente por sua raça, mas pela posição subalterna
que ocupava na sociedade brasileira à época.
Ainda que reconhecesse que uma sociedade democrática era melhor que
uma sociedade escravocrata, o autor defendia que seria preciso integrar os
negros, de fato, no sistema educacional e no mercado de trabalho e afirmava que
era papel da Sociologia e dos sociólogos discutir e promover uma educação das
camadas populares com vistas ao enfrentamento e à melhoria dessa condição.
Analisados em conjunto, os argumentos dos dois autores se apresentam
bem diferentes, por conta de suas interpretações sobre a formação da nossa
sociedade, as quais divergem bastante com relação à maneira como o negro
passou a ser tratado como sujeito de direitos, como cidadão.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Basicamente, é importante destacar que a escolha dessas duas obras não foi
ao acaso. “Casa grande e senzala”, como mencionado anteriormente, foi muito
importante na produção acadêmica brasileira da época por romper com auto-
res e argumentos preconceituosos e críticos à ideia de miscigenação do povo
brasileiro, o que, na prática, já se consolidava naquela sociedade ainda em
formação. Nesse sentido, ainda que tenha problemas (alguns corrigidos por
Florestan Fernandes), a obra do Gilberto Freyre avançou no sentido de consi-
derar a miscigenação não mais como o problema da sociedade em formação e
destoou de autores que pregavam o branqueamento da população como solução.
Contudo, essa abordagem da democracia social/racial e de relações harmô-
nicas entre as raças, sabe-se, não necessariamente ocorreu da maneira como
Freyre expôs em sua obra. Nesse sentido, Fernandes avançou muito para a inter-
pretação das relações sociais e raciais no Brasil, especialmente por deslocar seu
olhar e seu argumento para um ponto pouco debatido até aquele momento:
a questão social. Para esse autor, não eram aspectos raciais, mas a maneira
como as classes sociais se estabeleceram no Brasil que definiam a organização
da nossa sociedade de maneira pouco democrática ou com desigualdades no
acesso a direitos e na inserção no mercado de trabalho.
Urbanização no Brasil
82 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tempo, lançando nosso olhar tanto em Estados consolidados europeus quanto
nos debruçando sobre as interpretações acerca da relação entre o desenvolvi-
mento das cidades e a conformação da população brasileira.
Tendo como foco o contexto nacional, nossas próximas unidades tratam
especificamente do desenvolvimento da relação entre Estado, sociedade e movi-
mentos sociais. Na sequência, trataremos das alterações nas relações de trabalho
no Brasil após o fim da escravidão e da relevância da organização operária e dos
movimentos sociais nas décadas iniciais da república, no primeiro democrático
e ao longo do regime militar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Encerramos aqui nossa terceira unidade de estudos! Até este ponto, discutimos
um conjunto de autores e correntes de pensamento que conformaram as noções de
Estado, de desenvolvimento econômico combinado com poder político e apren-
demos sobre como a organização dos operários com vistas à superação de sua
condição de exploração foi um fenômeno relacionado a um contexto maior, de
urbanização e aumento da diferenciação entre burguesia e proletariado, carac-
terizada, dentre outros aspectos, pela segregação espacial na área urbana.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Até este ponto, dialogamos com autores clássicos dos campos da História, da
Filosofia, da Ciência Política e da Sociologia, de modo a estabelecer as bases que
nos proporcionaram o entendimento sobre o contexto em que se desenvolveram
as relações entre Estado, sociedade e movimentos sociais nos últimos séculos.
Também, neste capítulo, tratamos exclusivamente da análise sobre o pro-
cesso de formação do Estado brasileiro, por meio de uma breve explanação sobre
fatos históricos relevantes à construção das relações entre raças e classes sociais
no país. Com destaque, tivemos contato com duas visões completamente dis-
tintas dos efeitos da inserção dos negros na sociedade nacional após a abolição
da escravatura: por um lado, temos Gilberto Freyre e sua interpretação positiva
e integradora do processo; por outro lado, Florestan Fernandes discorreu sobre
como o fim da escravidão pouco contribuiu para a superação da condição subal-
terna dos negros no Brasil.
O debate entre esses autores nos conduziu até o início do século XX, de modo
que, em nossas próximas unidades de estudo, avançaremos para entender como
o Estado, a sociedade e os movimentos sociais se articularam, dialogaram e esta-
beleceram conflitos ao longo do século XX e no início deste século XXI, no qual
o Terceiro Setor e as modalidades de participação institucional foram inseridos
no cenário das políticas públicas.
Considerações Finais
84
O cortiço
Aluísio Azevedo
Editora: Melhoramentos
Sinopse: Rio de Janeiro, século XIX. Se esse cenário lhe traz à mente
reis, princesas e bondes, prepare-se para mergulhar em um retrato
diferente da sociedade brasileira naquela época, composto de inúmeros
personagens que, juntos, representam não apenas as mazelas sociais, mas
mostram até onde a vileza humana é capaz de chegar.
Comentário: A obra, que teve várias edições ao longo dos anos e foi
publicada por diferentes editoras, oferece um retrato sobre a vida nas
regiões periféricas e segregadas dos centros urbanos em formação no país.
Raízes do Brasil
Sérgio Buarque de Holanda
Editora: Companhia das Letras
Sinopse: Nunca será demasiado reafirmar que Raízes do Brasil inscreve-se
como uma das verdadeiras obras fundadoras da moderna historiografia
e ciências sociais brasileiras. Tanto no método de análise quanto no estilo
de escrita, tanto na sensibilidade para a escolha dos temas quanto na
erudição exposta de forma concisa, revela-se o historiador da cultura e
ensaísta crítico com talentos evidentes de grande escritor. A incapacidade
secular de separarmos vida pública e vida privada, entre outros temas
desta obra, ajuda a entender muito de seu atual interesse. E as novas gerações de historiadores
continuam encontrando, nela, uma fonte inspiradora de inesgotável vitalidade. Todas essas qualidades
reunidas fizeram deste livro, com razão, no dizer de Antonio Candido, “um clássico de nascença”.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010.
FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. 3. ed. São
Paulo: Ática, 1978.
FREYRE, Gilberto. Casa grande & senzala: Formação da família brasileira sob o regi-
me da economia patriarcal. 51. ed. São Paulo: Global, 2006.
HOBSBAWN, Eric. A era das Revoluções: 1789-1848. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
______. A Era do Capital: 1848-1875.São Paulo: Paz e Terra, 2000.
MONTAÑO, Carlos; DURIGUETTO, Maria Lúcia. Estado, classe e movimento social.
3. ed. 1a reimp. São Paulo: Cortez, 2011.
NASCIMENTO, Silmara Aparecida do. Os negros no mercado de trabalho em Ma-
ringá: do preconceito à discriminação.157 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de
Pós-Graduação em Ciências Sociais, Universidade Estadual de Maringá, Maringá,
2012.
NINA RODRIGUES, Raimundo. Os africanos no Brasil. Rio de Janeiro: Scielo Books;
Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2010. Disponível em https://static.scielo.org/
scielobooks/mmtct/pdf/rodrigues-9788579820106.pdf. Acesso em 12 set. 2017.
GABARITO
IV
MOVIMENTOS SOCIAIS
UNIDADE
E LUTAS POR DIREITOS
NO BRASIL
Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar aspectos históricos sobre a organização da classe operária
no Brasil;
■■ Discutir sobre o conceito de cidadania regulada e a importância da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT);
■■ Expor a relevância da organização dos movimentos sociais e o
atendimento de demandas entre 1945 e 1964;
■■ Discorrer sobre os refluxos no avanço dos movimentos sociais no
período militar.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Organização da classe operária
■■ Cidadania regulada e leis trabalhistas
■■ Conquistas sociais no primeiro período democrático
■■ Estado, sociedade e movimentos sociais no período militar
95
INTRODUÇÃO
Nesta unidade de estudo, assim como na próxima, nosso foco de análise, dis-
cussão e reflexão recai sobre o Brasil. Se até aqui aprendemos sobre as bases
políticas e econômicas de constituição e consolidação do Estado e a relevân-
cia da Revolução Industrial aos processos de trabalho e organização operária,
veremos, nesta unidade, que a classe trabalhadora foi protagonista da luta por
direitos no início do século XX.
Para tanto, as seções de estudos tratam da maneira como os trabalhadores
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
96 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ORGANIZAÇÃO DA CLASSE OPERÁRIA
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
determinados pela elite no poder. Assim, desde o fim do século XIX a noção
de higienização da população brasileira foi conformada dessa necessidade de
separação entre “trabalhadores” e “vagabundos”, no afastamento daqueles que
gozavam de condições de entendimento de que a melhoria de suas condições
de vida seria determinada pelo seu trabalho (especialmente os imigrantes,
familiarizados, ainda que minimamente, à filosofia capitalista implantada na
Europa) daqueles que reivindicavam direitos e melhores condições de vida
(majoritariamente os negros, ainda pouco afeitos ao regime de trabalho capi-
talista e às imposições dos patrões, que lhes pareciam semelhantes àquelas que
vivenciaram na escravidão).
“No século XIX, com a transferência da família real para o Brasil, emergiu a
discussão sobre a prevalência do clima frio-temperado e da civilização eu-
ropéia sobre o clima tropical, responsável pelo relaxamento do organismo
e pela preguiça do brasileiro, [estereótipo reforçado quando da integração
de negros e imigrantes ao processo de industrialização e urbanização na-
cionais na virada do século XIX ao XX]. O brasileiro preguiçoso levou ao apa-
recimento da figura do malandro, que alcançaria determinadas conquistas
por meio de sua ginga e simpatia, como destaca Damatta (1983) ao tratar do
jeitinho brasileiro e do ‘você sabe com quem está falando?’ [...]”
Fonte: Gimenes (2011, p. 99).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Ainda segundo Camargo (1982), as divisões ocorridas no interior das oligar-
quias estaduais, as mudanças geracionais dos líderes oligárquicos, as negociações
por alianças com províncias que queriam seu espaço político e a incorporação
da jovem oficialidade tenentista na política contribuíram à estratégia de cen-
tralização do sistema político e à ascensão de Vargas ao poder.
Sobre tal momento histórico, pesquisadores como Fausto (1970) e Weffort
(1978) argumentaram que a tomada de poder foi possível por conta do enfra-
quecimento dos velhos grupos dominantes (paulistas e mineiros) diante dos
problemas decorrentes da instauração da Primeira República, de modo que
tal contexto tornou possível a emergência de um líder popular e que era, ao
mesmo tempo, ligado a distintos grupos sem pertencer a eles, capaz de man-
ter o Estado como guardião da sociedade e de angariar apoio da classe média,
da elite burocrática, dos jovens militares e das massas trabalhadoras, a fim de
garantir sua legitimidade e o poder.
Contudo, haveria uma ressalva à denominação histórica do movimento que
recebeu a alcunha de “Revolução de 1930”: a vocação por um sistema político
centralizador já podia ser observada em 1910, quando eram visíveis a necessidade
de uma reforma constitucional e de uma legislação trabalhista e o interven-
cionismo e a modernização do Exército ocorriam de forma lenta, o que teria
culminado não em uma revolução, no sentido clássico do termo, mas em modi-
ficações significativas que partiram do interior das elites e transcenderam às
demais camadas sociais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: Souza (1976).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
fechado, governadores destituídos, partidos tidos como irrelevantes e rearticula-
ção das estruturas do desenho institucional do Estado, com grupos emergentes
(classe média tecnocrata, burguesia industrial urbana e interventores subordina-
dos ao presidente) integrando os postos de poder e necessidade de manutenção
do apoio dos trabalhadores. Com relação ao último grupo, os sindicatos e asso-
ciações laborais representavam a oposição e coube ao governo conter tais forças.
A maneira encontrada para lidar com os sindicatos foi a instituição de um
processo político que Santos (1979, p. 75) definiu como de “cidadania regulada”:
[...] são cidadãos todos aqueles membros da comunidade que se en-
contram localizados em qualquer uma das ocupações reconhecidas e
definidas em leis. A extensão da cidadania se faz, pois, via regulamen-
tação de novas profissões e/ou ocupações, em primeiro lugar, e me-
diante ampliação do escopo dos direitos associados a estas profissões,
antes que por expansão dos valores inerentes ao conceito de membro
da comunidade. A cidadania está embutida na profissão e os direitos
do cidadão restringem-se aos direitos do lugar que ocupa no processo
produtivo, tal como reconhecido por lei.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
consumissem as notícias oferecidas pelo poder público, o qual destacava a
importância de conferir dignidade aos trabalhadores em uma sociedade que,
a até poucas décadas, ainda era regida pelo regime escravocrata.
De modo geral, a cidadania regulada e o trabalhismo regularam as rela-
ções trabalhistas até a década de oitenta, mais precisamente até a instituição
da nova Constituição Federal, em 1988. Contudo, as relações entre Estado,
sociedade e movimentos sociais ao longo do século XX foram perpassadas,
também, por outros aspectos, para além do trabalho, especialmente ao longo
do primeiro período democrático, conforme discutimos na próxima seção
desta unidade de estudos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A retomada do poder por meio de um golpe militar permitiu o início do
primeiro período de experiência democrática no país a partir de 1945, no qual
uma das providências iniciais foi a elaboração de nova Constituição, que subs-
tituísse aquela em vigor durante e Estado Novo.
A Constituição de 1946 marcou, de fato, o início da vida democrática
no Brasil, mas manteve várias disposições legais oriundas do Estado Novo,
o que denotou a formação de uma democracia limitada, até certo ponto, por
conta de restrições, por exemplo, à organização de partidos políticos ideo-
lógicos, como o Partido Comunista do Brasil, que permaneceu clandestino.
Sendo os partidos as instituições centrais ao funcionamento da democracia
(SCHATTSCHNEIDER, 1966), tal restrição apresentou-se negativa, porém
houve crescimento e fortalecimento do sistema partidário por conta da aber-
tura político-institucional aos demais partidos.
Em se tratando da sociedade, ao longo do primeiro período democrático da
história política brasileira assistiu-se à organização de setores antes pouco articu-
lados. Se, por um lado, os sindicatos já gozavam de reconhecimento como forma
de mobilização coletiva desde as primeiras décadas do século como representan-
tes dos trabalhadores, com a superação do Estado Novo ocorreu a expansão e a
capilarização de diferentes modalidades de associativismo, como comunitário
e estudantil ou com fins voltados a políticas públicas de cultura e esportes, por
exemplo. Nesse sentido, desenvolveu-se entre a população o hábito pela prática
de atividades urbanas e a busca pelo entretenimento, o que alterou os costumes
e as maneiras como os indivíduos se relacionavam com os espaços públicos, ou
seja, houve mudança nos valores e na cultura dos brasileiros.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ESTADO, SOCIEDADE E MOVIMENTOS SOCIAIS NO
PERÍODO MILITAR
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
precisamente por meio de uma ala progressista que promovia a educação política em
paralelo à atuação religiosa nos espaços de pastorais, de comunidades eclesiais de base
(CEBs) e de centros de educação popular. No bojo da intervenção política na sociedade
pela Igreja Católica surgiu em meados de 1970 o movimento denominado Teologia
da Libertação, cujo princípio era o rompimento das condições que perpetravam a
dominação à qual a população paupérrima e os grupos excluídos estavam sujeitos.
Por volta da metade dessa década, o apoio das lideranças religiosas vinculadas
à Teologia da Libertação foi importante à organização do “novo sindicalismo”, que
almejava não apenas a melhoria da relação patrão-empregado, mas também a demo-
cratização do regime (SCHERER-WARREN, 2012). Por meio dessas ações, houve
tanto o espraiamento do ideário da conscientização cívica entre a população quanto
a proliferação de organizações que inicialmente se concentravam na assistência social
e no mundo do trabalho a outros campos de atuação estatal, como educação e saúde.
Em 1979, os ecos da pressão exercida por distintos atores políticos indivi-
duais e coletivos foi fortemente sentido pelo regime militar: os exilados políticos
puderam retornar ao Brasil em decorrência da vitória popular que culminou na
assinatura da Lei de Anistia, ao mesmo tempo em que os partidos até então exis-
tentes foram extintos – diante da percepção pelo governo militar de que o partido
de oposição (MDB) estava se fortificando junto ao eleitorado – e foi promulgada
uma lei orgânica que estabeleceu novos critérios para a constituição de parti-
dos políticos, após a qual reinstaurou-se o pluripartidarismo com a criação de
cinco legendas: Partido Democrático Social (PDS, sucessor da Arena); Partido do
Movimento Democrático Brasileiro (PMDB, sucessor do MDB); Partido Popular
(PP); Partido Democrático Trabalhista (PDT); e Partido dos Trabalhadores (PT).
Tabela 1 - Mudanças nas atitudes e opiniões dos brasileiros quanto a instituições e participação política
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
militar perdeu apoio da população, enquanto os partidos políticos ganharam
legitimidade e a intervenção em organizações ou atividades operárias foi vista
cada vez como mais negativa. Além disso, valores democráticos – realização de
eleições e direito amplo de voto – ganharam adesão dos brasileiros.
Nesse contexto, desde o início da década de 1980 movimentos sociais, associa-
ções, organizações sindicais, partidos políticos e expressiva parcela da população
brasileira pressionaram o governo militar pela retomada das eleições diretas à
presidência da República. Após diversos comícios e passeatas, com ampla parti-
cipação dos referidos atores e também de artistas, intelectuais e ampla cobertura
da mídia, o então presidente, general João Baptista Figueiredo, determinou a
abertura do regime de maneira lenta e gradual, a qual foi iniciada pela realiza-
ção de eleições diretas para governadores.
Entre 1983 e 1984 o movimento ganhou força e as manifestações clamavam
por “Diretas já!”. Contudo, mesmo com a articulação política desse contexto ocor-
reu uma eleição indireta em 1985, quando os governadores indicaram Tancredo
Neves para ocupar a presidência da República. A aprovação legal de realização
de eleições diretas para a presidência vigorou a partir de 1989.
Tancredo Neves faleceu antes de sua posse, assumindo José Sarney como
último presidente eleito indiretamente no Brasil. A partir de então, o processo
de redemocratização foi implementado, com destaque à Assembleia Constituinte
e à nova Constituição Federal, temas a serem explorados na próxima unidade
de estudo deste material.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
recer os detentores de capital, que, como discutimos no início deste material, não
raras vezes ocupam posições privilegiadas em termos políticos e econômicos.
Por outro lado, e é este nosso foco central nesta unidade, as seções expõem
como a classe trabalhadora ampliou suas demandas, ao longo do processo de
urbanização, para além das condições laborais, o que significou levantes em
busca de melhorias relacionadas à sobrevivência, bem como permitiu sua arti-
culação em torno de associações comunitárias.
Nesse sentido, na primeira metade do século XX se destacou princi-
palmente a classe operária, cujas vitórias – parcial por meio da cidadania
regulada e ampliada quando da implementação da CLT – foram impulsiona-
doras de desenvolvimento da sociedade e de sua organização em entidades,
associações, grupos e movimentos.
Assim, os direitos conquistados a malha social conformada até a instauração
do regime autoritário foram relevantes às ações, legais e clandestinas, formais e
informais, que a sociedade civil, os movimentos sociais, os sindicatos, os gru-
pos político-partidários e outro setores articularam para o enfrentamento da
ditadura, as quais culminaram em sua superação na década de 1980.
Diante desse contexto, nos cabe tratar do Brasil pós-autoritarismo, a fim
de entender como as relações entre Estado, sociedade e movimentos sociais
se desenvolvem no período contemporâneo. É este nosso próximo e último
tema de estudo.
Considerações Finais
116
Material Complementar
122
REFERÊNCIAS
LONARDONI, Eliana; GIMENES, Junia Garcia; SANTOS, Maria Lucia dos; NOZABIELLI,
Sônia Regina. O processo de afirmação da assistência social como política social.
Serviço Social em Revista, Londrina, v. 8, n. 2, jan./jun. 2006. p. 1-20.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. v. 1. São Paulo: Abril Cultural,
1983.
MOISÉS, José Álvaro. Os brasileiros e a democracia: bases sócio-políticas da legiti-
midade democrática. São Paulo: Ática, 1995.
SADER, Eder. Quando novos personagens entram em cena: experiências e lutas
dos trabalhadores da Grande São Paulo, 1970-1980. São Paulo: Paz e Terra, 1988.
SANTOS, Wanderley Guilherme dos. Cidadania justiça: a política social na ordem
brasileira. Rio de Janeiro: Campus, 1979.
SCHERER-WARREN, Ilse. Redes emancipatórias: nas lutas contra a exclusão e por
direitos humanos. Curitiba: Appris, 2012.
SOUZA, Maria do Carmo Campello de. Estado e partidos políticos no Brasil (1930
a 1964). São Paulo: Alfa-Ômega, 1976.
WEFFORT, Francisco. O populismo na política brasileira. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1978.
GABARITO
1. Opção correta é a D.
2. As organizações de trabalhadores buscavam melhorias tanto nas condições de
trabalho, por conta da exploração sofrida (mais-valia), quanto em sua realidade
social, diante da falta de recursos mínimos à sobrevivência digna, como sanea-
mento básico e água tratada. Ademais, havia ainda a preocupação com a regula-
mentação do trabalho de mulheres e de crianças.
3. Opção correta é a B.
4. Opção correta é a B.
5. Os partidos políticos tiveram suas atividades encerradas quando da instauração
da ditadura, assim como os sindicatos passaram a sofrer forte controle e os Le-
gislativos federal e estaduais foram fechados. Ademais, houve forte repressão
aos movimentos sociais, especialmente operários, nos primeiros anos de vigên-
cia do regime, situação que passou a se alterar após o fortalecimento do movi-
mento estudantil em 1968.
Professor Dr. Éder Rodrigo Gimenes
V
CIDADANIA, MOVIMENTOS
UNIDADE
SOCIAIS E PARTICIPAÇÃO
SOCIAL NO BRASIL
Objetivos de Aprendizagem
■■ Discorrer sobre a relevância da mobilização social no processo de
retomada da democracia no Brasil;
■■ Apresentar o processo de conformação da Carta Magna de 1988
e suas inovações com relação ao reconhecimento de direitos e da
participação dos cidadãos;
■■ Expor argumentos acerca do papel dos movimentos sociais e
das organizações do Terceiro Setor para a estruturação do Estado
democrático de direito no Brasil;
■■ Tratar do avanço de diferentes modalidades de participação
individual no Brasil;
■■ Promover a reflexão em torno da importância de conselhos gestores,
conferências e outras modalidades de participação institucional à
gestão democrática de políticas públicas.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Redemocratização e a Constituição cidadã
■■ Ações coletivas: organizações do Terceiro Setor, associativismo e
movimentos sociais
■■ Participação individual e repertórios de ação política
■■ Participação institucional
127
INTRODUÇÃO
Nossa última unidade de estudo trata das relações contemporâneas entre o Estado,
a sociedade e os movimentos sociais no Brasil. Aqui, abordaremos aspectos que
permeiam o dia a dia de cidadãos engajados politicamente e de profissionais
de diversas áreas, especialmente de gestores públicos e de entidades sociais, de
assistentes sociais e daqueles que trabalham com atividades relacionadas ao fun-
cionamento da máquina estatal.
O caminho percorrido desde as bases conceituais de formação do Estado,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
128 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
REDEMOCRATIZAÇÃO E A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ
II - a cidadania;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
também, determinação do sufrágio universal (com facultatividade para analfa-
betos, jovens entre 16 e 17 anos e idosos com 70 anos ou mais), determinação
de voto secreto e direto e estabelecimento de mecanismos de participação,
como plebiscito, referendo e iniciativa popular.
Ademais, a Constituição extinguiu distinções quanto às diferentes ocupações,
com relação a postos/funções ou condição urbana/rural ao definir um conjunto
de cerca de trinta direitos dos trabalhadores em artigo cujo caput indica que “São
direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melho-
ria de sua condição social: [...]” (BRASIL, 1988, art. 7º).
Dentre os demais artigos da Constituição cidadã, destacamos, neste estudo,
mais dois temas. O primeiro trata de sindicatos e manifestações. Diferentemente
do tratamento conferido às organizações operárias no período militar, a Carta
Magna de 1988 define aspectos que permitem a livre associação profissional e
sindical (artigo 8º), o direito à realização de greves (artigo 9º) e de representa-
ção dos trabalhadores junto aos colegiados (no caso de órgão público – artigo
10) ou aos empregadores (artigo 11).
O segundo aspecto diz respeito à cidadania e serviços e remete a conquistas
e oferta de políticas públicas, não restrita apenas a garantia dos direitos sociais
acima mencionados, mas extensiva, também, por exemplo, a que pessoas por-
tadoras de deficiência e os idosos recebam salário mínimo para subsistência,
possibilidade de participação da população na formulação de políticas públicas
e controle de ações estatais e estruturação das áreas de saúde e assistência social,
de modo a tornar a primeira pública, gratuita e universal e a segunda pública,
gratuita e direcionada aos que dela necessitem.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
AÇÕES COLETIVAS: ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO
SETOR, ASSOCIATIVISMO E MOVIMENTOS SOCIAIS
Tendo em vista que o processo de globalização afetou não apenas o mercado eco-
nômico, mas, também, as demais áreas da organização das sociedades, as formas
de mobilização da sociedade sofreram efeitos expressivos nas últimas décadas, o
que refletiu, inclusive, em como campos de estudos como Sociologia e Ciência
Política interpretam as maneiras como as ações são articuladas e conduzidas.
Sobre tal alteração, que ocorreu também no Brasil, Scherer-Warren (2012) destaca
dois pontos relevantes. O primeiro diz respeito à identificação de distintas possibi-
lidades de organização dos indivíduos, as quais a autora denomina ações coletivas:
A expressão ações coletivas tem sido geralmente utilizada, mesmo na
academia, como definição de um conceito empírico para se referir a
toda e qualquer forma de ação reivindicativa ou de protesto realizada
através de grupos sociais, tais como associações civis, agrupamentos
para a defesa de interesses civis comuns, organizações de interesse pú-
blico (SCHERER-WARREN, 2012, p. 19).
nização: [1] redes sociais, quando se trata de laços estabelecidos por conta de
continuidade entre as ações ou de interação em sua execução, sem necessidade
de organização formal e maior possibilidade de ação conduzida por indivíduos;
[2] coletivos em rede, que se referem a articulações entre ONGs ou outras orga-
nizações em torno de categorias temáticas específicas, como o Fórum Brasileiro
de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que
reúne distintos atores coletivos que se mobilizam por causas ambientais; e [3]
movimentos sociais em rede, em alusão às uniões de movimentos sociais em
torno de causas gerais ou específicas, sendo que em diferentes momentos é pos-
sível haver articulações em redes também distintas, por conta dos objetivos,
interlocutores e demandas em pauta.
Movimentos sociais, enfim, são redes sociais complexas, que transcen-
dem organizações empiricamente delimitadas e que conectam, de for-
ma simbólica, solidarística e estratégica, sujeitos individuais e atores
coletivos, que se organizam em torno de identidades ou identificações
comuns, da definição de um campo de conflito e de seus principais
adversários políticos ou sistêmicos e de um projeto ou utopia de trans-
formação social (SCHERER-WARREN, 2012, p. 21).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de organizações fundadas por década. Inicialmente, verifica-se que a cada década
tem se elevado o número de entidades no território nacional, sendo que cerca de
41% das FASFIL em operação no ano de 2010 foram fundadas naquela década.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
associações também exercem um papel mais ativo na promoção de espaços e
atividades de interação com o Estado, como a implementação ou execução de
políticas públicas, por exemplo” (LÜCHMANN, 2016, p. 49).
Dados de opinião pública coletados desde a redemocratização e disponíveis
na página do Centro de Estudos de Opinião Pública da Universidade Estadual de
Campinas (CESOP/UNICAMP) apontam relativa estabilidade nos percentuais
de brasileiros que participam de sindicatos, associações educacionais, culturais,
esportivas, de proteção ao meio ambiente, profissionais e partidos políticos. Entre
as modalidades associativas, destacam-se as religiosas, especialmente por conta
da manutenção do número de brasileiros que se envolve em atividades relaciona-
das à temática e da elevação daqueles que se declaram evangélicos e protestantes,
e as associações comunitárias ou de bairros, categoria na qual o envolvimento
dos brasileiros sofreu expressiva elevação entre 1991 e 2014, superior a 100%,
ainda que não seja este o vínculo associativo com maior participação dos cida-
dãos, conforme demonstram dados de opinião pública sistematizados abaixo.
Tabela 2 - Frequência de participação associativa entre os brasileiros
MODALIDADE %
Participou de reuniões de associação ou grupo religioso* [2014] 71,7
Participou de reuniões de associação de pais e mestres* [2014] 35,8
Participou de reuniões de associação de bairro* [2014] 16,2
Participou de reuniões de associação esportiva* [2012] 8,4
Participou de reuniões de associação profissional* [2014] 8,1
*Alguma frequência.
Fonte: adaptado de Gimenes (2017a).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Luta pela Moradia, pela Reforma Urbana e de Participação Popular. Ademais, assis-
tiu-se, na década de 1990, a criação da Central dos movimentos Populares, que “[...]
estruturou vários movimentos populares em nível nacional, tais como a luta pela
moradia, assim como buscou fazer uma articulação e criou colaborações entre dife-
rentes tipos de movimentos sociais, populares e não-populares” (GOHN, 2011, p. 20).
Ainda segundo a autora, também na década de 1990 ocorreram movimentos
de destaque, como o de “Ética na Política”, que contribuiu para o ressurgimento
do movimento estudantil dos “cara-pintadas” e se destacou no processo de impe-
achment de Fernando Collor de Mello, a “Ação da Cidadania contra a Fome”, que
segue em atividade até os dias atuais, e ainda destacaram-se movimentos sociais
com pautas de minorias (mulheres, negros e indígenas) e relacionadas ao meio
ambiente e às políticas públicas de educação e saúde.
Para Gohn (2010; 2011), além destes movimentos mencionados no fim do
parágrafo anterior, neste início do milênio houve expansão das formas de ação
coletiva e de pautas, com destaque aos movimentos populares que buscam a
redução de carências socioeconômicas, como aqueles:
■■ De lutas por moradia e outras questões urbanas (a exemplo dos Movimentos
dos Trabalhadores Sem-Teto e das preocupações com a população em
situação de rua, com a violência e com a prestação de serviços públicos
– como educação e saúde);
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
institucionalizado (SCHERER-WARREN, 2012, p. 58).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mundo, também as modalidades de engajamento se ampliaram, ao que Norris
(2007) entendeu como a reconfiguração do campo de práticas e de repertórios
de ação dos indivíduos, também por meio de ações contestatórias ou não con-
vencionais, tais como escrever a um jornal, aderir a um boicote, auto-reduzir
impostos ou rendas, ocupar edifícios, bloquear o trânsito, assinar uma petição,
fazer um sit-in, participar numa greve, tomar parte em manifestações, danificar
bens materiais e utilizar violência contra pessoas.
Um aspecto importante a considerar é que as maneiras de atuação política
acima relacionadas não ocorrem, obrigatoriamente, de maneira dissociada. Nesse
sentido, encontram-se replicados abaixo quatro parágrafos do livro “Cultura
política e comportamento” (GIMENES, 2017a), no qual é tratado o contexto e
o conceito de repertórios de ação política.
Della Porta (2003) afirma que, na verdade, a participação convencional se
encontraria relacionada à não convencional, um indicativo de que enquanto exis-
tem atores que optariam por uma ou por outra forma de participação, haveria,
também, aqueles que combinariam com ambas as modalidades em suas ações.
Ribeiro e Borba (2015) reiteram tal afirmação e ressaltam que a adoção de
uma postura crítica em relação ao funcionamento das instituições democráticas
e o questionamento dos mecanismos tradicionais de representação implicaram
na redução significativa das taxas de mobilização política convencional nas últi-
mas décadas, situação que poderia se configurar em sinal de apatia por parte dos
indivíduos caso não estivesse ocorrendo em paralelo um movimento inverso: o
aumento dos índices de participação em atividades de contestação às institui-
ções e elites estabelecidas.
MODALIDADE %
Tentou convencer alguém a votar em um candidato ou partido nas elei- 39,6
ções de 2010* [2012]
Trabalhou na campanha de candidato ou partido nas eleições de 2010 11,8
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
[2012]
Participou de reuniões de movimento ou partido político* [2014] 10,1
*Alguma frequência.
Fonte: adaptado de Gimenes (2017a).
MODALIDADE %
Pediu ajuda a alguma autoridade local, como prefeito ou governador 18,4
[2014]
Pediu ajuda a vereador [2012] 11,2
Pediu ajuda a algum ministério/secretaria ou instituição pública (federal) 5,3
[2012]
Pediu ajuda a algum deputado ou senador [2012] 4,7
MODALIDADE %
Assinou petição ou abaixo-assinado nos últimos 12 meses [2012] 15,4
Participou de manifestação nos últimos 12 meses [2014] 7,7
Participou de greve ou paralisação dos últimos 12 meses [2014] 4,6
Participou de boicote nos últimos 12 meses [2012] 1,6
Fonte: adaptado de Gimenes (2017a).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
12 meses, mas há que se destacar ainda a utilização do espaço online para visitas
a sites de candidatos, políticos e partidos, bem como para discussões políticas.
MODALIDADE %
Compartilhou informações políticas na internet nos últimos 12 meses 10,8
[2012]
Visitou site de candidato, político ou partido nos últimos 12 meses [2012] 8,7
Participou de lista de e-mails ou de discussão política na internet nos 6,8
últimos 12 meses [2012]
Fonte: adaptado de Gimenes (2017a).
por exemplo, constatou que não existe distinção entre aqueles que se engajam
em atividades online (no cyberespaço, conforme atividades elencadas anterior-
mente) e os que desenvolvem ações no mundo “off-line” ou “real”.
Contudo, o estudo que testou a noção de repertório de ação política para o
maior conjunto de modalidades no Brasil foi elaborado por Borba, Gimenes e
Ribeiro (2015). Os autores consideraram quinze formas de envolvimento político
e buscaram, por meio de testes estatísticos sofisticados, verificar como operavam os
brasileiros com relação à participação. Sobre tal estudo, cabe destacar quatro aspectos.
Primeiramente, ressalte-se que os autores incluíram em sua análise apenas
atividades não obrigatórias, o que descartou o voto, ainda que seja a modalidade
clássica relacionada à participação democrática, pelo fato de que essa diferencia-
ção (obrigatoriedade x facultatividade) poderia influenciar os resultados.
Tendo como escopo quinze modalidades não compulsórias de envolvimento,
os autores realizaram análises bivariadas para verificar se seria plausível pensar em
relacionamentos entre tais indicadores e, diante de resultados afirmativos, testaram,
por meio de análise fatorial, a possibilidade de agrupamento dessas modalidades
em conjuntos menores e com maior relação. Nesse segundo momento, foi verificada
a pertinência de agrupamentos de ações, o que significa que algumas atividades
apresentam maior probabilidade de serem realizadas pelos mesmos indivíduos.
Cada um desses grupos de atividades recebe o nome de fator e o resultado
apontou a existência de quatro fatores de participação entre os brasileiros, quais
sejam: cyberativismo (participação em lista de e-mails de discussões sobre polí-
tica, leitura e compartilhamento de informações políticas nas redes sociais e
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O terceiro aspecto a ser destacado diz respeito à apresentação de modelos esta-
tísticos multivariados que comprovaram a influência mútua de todos os quatro
fatores de participação entre si, o que significa que brasileiros que desenvolvem
atividades de uma determinada natureza têm, também, chances de atuar politica-
mente por meio de outro conjunto de atividades. Em outras palavras, o resultado
de Borba, Gimenes e Ribeiro (2015) confirma a tese de que cidadãos se enga-
jam politicamente por meio de repertórios de ação política, o que tem sido cada
mais evidenciado no caso brasileiro, como exemplificado na sequência do texto.
O último aspecto a ser destacado diz respeito de duas ações com efeitos dis-
tintos: a primeira se refere a assistir audiências públicas na Câmara de Vereadores,
cujo efeito se revelou expressivo e unitário, o que implica que indivíduos que
praticam tal ato têm um perfil específico; a segunda observação trata da partici-
pação em reuniões de organizações religiosas (sem distinção entre missas, cultos,
grupos de estudos, leitura ou oração etc.), a qual não apresentou efeito signifi-
cativo relacionado a nenhum fator ou atividade, o que decorreria da expressiva
taxa de brasileiros que declaram participar de organizações religiosas, distribu-
ídos entre os perfis que praticam as demais atividades pesquisadas.
Em se tratando de exemplos da utilização de repertórios de ação política
pelos brasileiros, na próxima seção serão abordadas as relações que envolvem a
participação institucional. Nesse momento, é importante destacar que as mani-
festações de rua ocorridas no país em 2013, quando milhões de cidadãos foram
às ruas de municípios com diferentes magnitudes e realidades sociais, a fim de
protestar primeiramente contra a elevação da tarifa para utilização do transporte
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PARTICIPAÇÃO INSTITUCIONAL
Participação Institucional
152 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Secretaria Geral da Presidência da República apontou, até o ano de 2014,
a existência de 62.562 conselhos municipais em funcionamento no país
(GIMENES, 2017a). No entanto, conforme pesquisa nacional no âmbito do
Projeto Democracia Participativa (PRODEP, 2011), apenas cerca de 2% dos
brasileiros participa de conselhos municipais de políticas públicas.
Em se tratando de características, os conselhos existem nas esferas municipal,
estadual e federal, sendo obrigatórios para algumas áreas de políticas públicas
– como assistência social, saúde e direitos da criança e do adolescente – e faculta-
tivos para as demais áreas. O primeiro grupo está presente em praticamente todo
o território nacional, ainda que com constituição meramente formal, uma vez
que o recebimento de recursos do Estado para o desenvolvimento de determina-
das ações depende da existência desse mecanismo de participação institucional.
Já os conselhos das demais áreas podem se constituir com diferentes composi-
ções, desde específicos para cada política – como de combate às drogas, de defesa
do meio ambiente, de transportes, de turismo, de desenvolvimento urbano, de
direitos da mulher, da comunidade negra, de arborização urbana etc. – até mesmo
àqueles que reúnem grupos com algum aspecto em comum, como conselhos
de direitos de minorias – incluídas demandas e temáticas referentes a mulhe-
res, minorias étnicas, população LGBT, idosos e deficientes físicos, por exemplo.
Outra característica relevante dos conselhos é seu desenho institucional, para
o qual não há padrão determinado. Conforme Lüchmann, Almeida e Gimenes
(2016) em estudo acerca de 140 conselhos das áreas de assistência social, saúde
e meio ambiente nas três esferas de governo e entre todas as regiões do país, de
acordo com a esfera de governo e a área de política pública há diferenças na com-
posição (se paritária ou com maior presença de representantes da sociedade civil
ou do governo), no método de escolha dos representantes da sociedade civil (se
por eleição, indicação do setor, por entidade ou mesmo indicação do governo),
na competência (se deliberativo ou apenas consultivo) e no perfil dos membros
(quanto à quantidade e gênero, para ambos os segmentos). Além desses aspec-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Participação Institucional
154 UNIDADE V
Os autores clássicos da teoria das elites, Mosca (1896), Michels (1911) e Pa-
reto (1984), discorreram em suas obras sobre uma quase inegável demons-
tração histórica da existência de uma vanguarda que conduziria as decisões
políticas: as elites. Segundo tais autores, mesmo nos momentos em que
seria possível pensar em um maior ativismo político por parte das massas,
não se poderia desconsiderar a existência de elites que conduziriam as prin-
cipais diretrizes do processo histórico.
Fonte: Gimenes (2017a).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em contrapartida, são negativos, também, dois pontos: primeiramente, como
anteriormente mencionado, em muitos municípios os conselhos existem apenas
formalmente, especialmente para recebimento de recursos e financiamentos
de esferas superiores, mas, também, pela ausência de membros da sociedade
civil interessados e/ou sofisticados politicamente a ponto de discutir sobre
políticas públicas, o que contribui para que tal mecanismo seja utilizado para
legitimação das ações do poder público; em segundo lugar, há que se consi-
derar o risco do conselheiro da sociedade civil se autonomizar de seu grupo
(aquele que representa ou deveria representar) e/ou se aproximar da máquina
estatal, visando cargo político e/ou se candidatar posteriormente, aos moldes
do conceito clássico de elitismo de Robert Michels (1982 [1911]).
federativa para pensar políticas públicas, já que, desde a esfera municipal, tem-se
o objetivo da conferência nacional. Ademais, a maioria das conferências busca a
proposição de políticas públicas e estabelece diálogos transversais, especialmente
no âmbito federal, por conta dos distintos grupos engajados.
Já entre os pontos negativos, é salutar apontar que, ainda que busquem propor
políticas, como não há obrigatoriedade de realização e determinação de recor-
rência formal (temporalidade), como os conselhos, a avaliação das propostas e
o acompanhamento da implementação de políticas públicas é frágil. Por conse-
quência, podem ocorrer dificuldades de verificação de resultados por se tratar
de discussões nacionais atreladas a demandas específicas e locais, bem como de
implementação das deliberações no nível local, dada a fragmentação dos atores
políticos envolvidos no processo.
AUDIÊNCIAS PÚBLICAS
Participação Institucional
156 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
maneira de estabelecer o questionamento (a pergunta continha a determinação
do local “Câmara de Vereadores”, o que pode reduzir o número de respostas
positivas de participantes por conta dessa limitação), é a única informação dis-
ponível nesse sentido.
Por um lado, as audiências públicas têm como pontos positivos a possibili-
dade de participação efetiva da população, com direito a voz e espaço para diálogo
sobre temas de interesse e atuais, além de se tratar de convite do poder público à
participação, ao que se espera, se não forem possíveis respostas, ao menos enca-
minhamentos por parte do Estado para pensar o avanço em políticas públicas.
Por outro lado, é negativa a ausência de compromisso com a efetivação de
ações em decorrência das audiências, uma vez que eventuais discussões, enca-
minhamentos ou deliberações não necessariamente se convertem em resultados.
ORÇAMENTOS PARTICIPATIVOS
Participação Institucional
158 UNIDADE V
Ainda sobre o OP, uma inovação tem ampliado esse mecanismo de parti-
cipação institucional para a esfera virtual. Segundo Sampaio (2014), a versão
digital denominada e-OP contribui para a democratização por meio do desen-
volvimento digital, com redução de dispêndio de tempo e de recursos financeiros
envolvidos nessa forma de participação.
Tomadas em conjunto, as modalidades de participação institucional descritas
neste estudo representam avanço à democracia por proporcionarem aumentos
dos espaços e das possibilidades de apresentação e defesa de demandas, bem
como pela diversidade de modalidades existentes – em termos de burocratiza-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ção, desenho institucional, formas de acesso, direito de voz etc. - o que permite
aos indivíduos estabelecer contato com o Estado por mecanismos diferentes.
Além disso, é benéfica ao regime democrático, também, a disseminação da
participação institucional nas três esferas de governo, em ampla gama de áreas
de políticas públicas e pluralidade de contextos sócio-econômicos e políticos.
Em contrapartida, assim como para as modalidades de participação indivi-
dual expostas na seção de estudos anterior, o envolvimento institucional também
requer disponibilidade de recursos como tempo livre, dinheiro, cognição e redes
de contatos. Como os dados do PRODEP (2011) apontam que aqueles que par-
ticiparam de conselhos, conferências e/ou OPs atuam politicamente, também,
por meio de outras atividades; é possível inferir que o modelo de repertório de
ação política inclui a modalidade discutida nesta seção, o que representaria, em
alguma medida, limitação do alcance das práticas participativas institucionais,
já que há características recorrentes entre aqueles que mais se engajam politi-
camente no Brasil – homens, brancos e pessoas mais jovens têm maior chance
de participar, além de que quanto maiores o nível de escolarização, a renda e o
tempo livre, maior também a probabilidade de envolvimento (GIMENES; BORBA,
2014; BORBA; GIMENES; RIBEIRO, 2015; RIBEIRO; BORBA; HANSEN, 2016;
CARREIRÃO et al, 2017) – minorias com relação a gênero e etnia, com meno-
res recursos financeiros e nível educacional menor têm menor propensão ao
envolvimento. Ademais, carece de atenção o risco da utilização dos mecanismos
participativos institucionais como modo de captação de votos e/ou de desenvol-
vimento de práticas clientelistas ou personalistas.
Participação Institucional
160 UNIDADE V
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Constituição cidadã de 1988 foi fruto, dentre outros fatores, de intensa mobi-
lização social e popular por alterações na legislação vigente, incluída a forma de
escolha do representante máximo da nação, o presidente. Nesse sentido, nossa
Carta Magna é resultado da ação e da relação entre a sociedade e os mecanis-
mos de ação coletiva sobre e com o Estado.
Contudo, a Constituição é, também, ponto de partida para o grande avanço
em termos de pluralização das possibilidades de envolvimento político e de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
reconhecimento das demandas da população brasileira, desde a inclusão do ple-
biscito, do referendo e dos projetos iniciativa popular no texto constitucional até
o desenvolvimento da participação institucional e do reconhecimento da atua-
ção de atores coletivos e individuais.
Há que se destacar, ainda, que a participação entre os brasileiros é, assim
como postulam os teóricos internacionais, multidimensional, de modo que os
indivíduos se utilizam de repertórios de ação política, conforme as necessidades
de contato, articulação e canalização de demandas. Estudos recentes demonstram
que aqueles que se engajam o fazem tanto por meio de ações eleitorais quanto
associativas, de contatos com autoridades, contestatórias e de atuação online, bem
como buscam o envolvimento em ações coletivas, como movimentos sociais e
populares, o associativismo e as organizações do Terceiro Setor.
O cenário é amplo e os desafios aos profissionais que atuam em atividades
relacionadas às políticas públicas também é grande. Daí a necessidade de conhecer
atores, discursos, demandas, mecanismos de intervenção e engajamento político
desses grupos, objetivo para o qual esta última unidade de estudos contribuiu
ao estabelecer o cenário atual do relacionamento da sociedade e de atores cole-
tivos com o Estado brasileiro.
O Programa Bolsa Família (PBF) é uma política pública que se configura transversal, uma vez
que reúne elementos e produz resultados diretamente relacionados a três diferentes esferas,
quais sejam: assistência social, educação e saúde. Ademais, seus efeitos podem refletir sobre
outros direitos sociais determinados pelo texto da Constituição de 1988, como alimentação,
proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados.
Em 2013, o PBF completou a primeira década de existência e foi organizada uma im-
portante obra com diagnósticos e análises acerca de sua implementação, resultados e
prospecções, cujo título é indicativo do que pode ser seu efeito mais efetivo: “Programa
Bolsa Família: uma década de inclusão e cidadania” (CAMPELLO; NERI, 2013).
Cabe destacar inicialmente que programas de transferência condicionada de renda existem
na América Latina desde 1990, de modo que no início da década de 2010 havia políticas
públicas desta natureza em 20 países na região, os quais consomem, em conjunto, cerca de
0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) latino-americano. Tal percentual demonstra que o im-
pacto econômico de programas dessa natureza são pequenos, ainda mais quando compa-
rados com seus reflexos nas condições de subsistência dos beneficiários (CECHINNI, 2013).
No caso brasileiro, a criação do PBF no início do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula
da Silva, pelo Partido dos Trabalhadores (PT), não se constituiu em total inovação, uma
vez que essa política foi resultado da reunião e da expansão de programas sociais ante-
riormente implementados por seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, do Partido
da Social Democracia Brasileira (PSDB). Contudo, destaque-se que o PBF possibilitou o
crescimento do número de beneficiários e promoveu a já mencionada transversalidade
entre políticas públicas, em que consistem suas maiores inovações.
Em se tratando do perfil dos beneficiários do PBF, 50,2% residiam na região Nordeste e
outros 25,4% no Sudeste, sendo que, aproximadamente, um quarto dos beneficiários
encontrava-se distribuído entre Centro-Oeste, Norte e Sul do país. Dados oficiais infor-
mam que seriam cerca de 14 milhões de famílias, que corresponderiam a, aproximada-
mente, 26% da população nacional, conforme dados do Censo 2010, sendo que entre
essas famílias 72,4% viveriam em situação de extrema pobreza, com renda per capita de
R$ 70,00, e receberiam, em média, R$ 149,71 de benefício. A análise de Camargo, Cur-
ralero e Licio (2013) aponta, ainda, que tal público é majoritariamente composto por in-
divíduos pardos, jovens e com baixa escolaridade ou analfabetos, sendo que condições
mínimas de estrutura – como saneamento básico, energia elétrica e abastecimento de
água – estão presentes em 48,9% dos domicílios urbanos e em apenas 5,2% dos domi-
cílios rurais dessas famílias.
Com relação às condicionalidades para recebimento do benefício, estas se relacionam
ao acompanhamento de educação e saúde de crianças e adolescentes. Nesse sentido, a
despeito do senso comum e/ou de afirmações sem fundamentação, é importante des-
tacar que a criação do PBF não influenciou no aumento do número de filhos por famílias
164
com baixa renda, mas, ao contrário, o estudo de Alves e Cavenaghi (2013) demonstra
que a taxa de fecundidade é decrescente no país de modo geral e também consideran-
do categorias como unidades da federação, faixas etárias das mães e critérios de renda,
o que significa que a redução do tamanho das famílias atinge beneficiários do PBF assim
como o restante da população.
Em se tratando da educação, Craveiro e Ximenes (2013) destacam que a frequência às
aulas é critério para percepção financeira do benefício, sendo que crianças e adolescentes
entre 6 e 15 anos devem manter taxa de presença de ao menos 85% e adolescentes entre
16 e 17 anos precisam comprovar ao menos 75% de frequência às aulas. Os principais
resultados decorrentes de tal condicionalidade são a redução do número de crianças e de
adolescentes fora da escola e/ou com baixa escolarização e o indicador que aponta menor
taxa de abandono escolar entre beneficiários, quando comparados com não beneficiários.
Já no que tange à saúde, o foco principal do PBF são gestantes, lactantes e crianças com
até 7 anos de idade. O acompanhamento desse público trouxe uma série de resulta-
dos positivos, conforme destacam Magalhães Junior, Jaime e Lima (2013): aumento do
acompanhamento pré-natal, redução da mortalidade e da desnutrição infantil, elevação
do percentual de crianças amamentadas exclusivamente com leite materno nos primei-
ros seis meses de vida (quando comparados filhos de beneficiárias e de não beneficiá-
rias) e crescimento do percentual de crianças vacinadas.
Esse conjunto de resultados, bem como a maior parte dos demais apresentados na obra
organizada por Campello e Neri (2013) tratam de dados estatísticos e/ou realizam aná-
lises quantitativas acerca dos efeitos do PBF sobre a vida dos beneficiários. Em sentido
distinto, Rêgo e Pinzani realizaram uma pesquisa qualitativa, que resultou em um capí-
tulo na mencionada coletânea (2013a) e, também, no premiado livro “Vozes do Bolsa
Família: autonomia, dinheiro e cidadania” (2013b).
Em decorrência de 150 entrevistas realizadas ao longo de cinco anos em regiões que con-
figuram bolsões de pobreza em diferentes regiões do Brasil, os autores identificaram uma
série de percepções de beneficiários acerca de efeitos do PBF que encontram-se além da
questão financeira e daquilo que dados estatísticos captaram, dentre os quais destacam-se
a ausência de percepção de que o recebimento do benefício está atrelado a um direito
social constitucionalmente determinado, sendo que foi recorrente a afirmação de que o
benefício seria um favor do governo e/ou que decorreria da trajetória do presidente que o
criou, por ter sido uma vida humilde e infância pobre.
Além disso, os resultados apontaram, também, aquilo que as análises quantitativas desta-
caram – a perspectiva de melhoria efetiva das condições de sobrevivência da população
beneficiaria - mas, e principalmente, a possibilidade de garantia mínima de autonomia
para as mulheres, especialmente em localidades onde o patriarcado é mais forte, e a visão
de pertencimento ao Estado, ainda que com visão distorcida acerca de seu papel cidadão
seja a vivência da cidadania (RÊGO; PINZANI, 2013a; 2013b).
Fonte: o autor.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
PROCAD-CAPES
Pesquisas sobre distintas modalidades de engajamento político em perspectiva longitudinal
compõem o projeto de cooperação acadêmica (PROCAD-CAPES) “Mudanças e permanências
nos padrões de participação política no Brasil: análise longitudinal do envolvimento político dos
brasileiros (1988-2013)”, coordenado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em
parceria com a Universidade Estadual de Maringá (UEM) e a Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho (UNESP - Araraquara).
Web: <http://participacaopolitica.cfh.ufsc.br/>.
167
REFERÊNCIAS
BATISTA, Karla da Silva Costa. Audiência pública. In: CASTRO, Carmen Lúcia Freitas
de; GONTIJO, Cynthia Rúbia Braga; AMABILE, Antônio Eduardo de Noronha (Orgs.).
Dicionário de políticas públicas. Barbacena: Universidade do Estado de Minas ge-
rais, 2012. p. 31-32.
BATTISTI, Patrícia Stafusa Sala; DENUZI, Vanessa Stafusa Sala. O associativismo como
estratégia de crescimento empresarial: o caso do Núcleo Setorial de Gastronomia de
Toledo-PR. Informe GEPEC, Toledo, v. 13, n. 2, jul.-dez. 2009. p. 170-180.
BORBA, Julian; GIMENES, Éder Rodrigo; RIBEIRO, Ednaldo Aparecido. Participação
e repertórios políticos: uma análise dos engajamentos múltiplos dos brasileiros na
política. In: SCHERER-WARREN, Ilse; LÜCHMANN, Lígia Helena Hahn. Movimentos
sociais e engajamento político: trajetórias e tendências analíticas. Florianópolis:
Universidade Federal de Santa Catarina, 2015. p. 101-132.
BORBA, Julian; LÜCHMANN, Lígia Helena Hahn. (Orgs.). Orçamento participativo:
análise das experiências desenvolvidas em Santa Catarina. Florianópolis: Insular,
2007.
CAMARGO, Camila Fracaro; CURRALERO, Claudia Regina Baddini; LICIO, Elaine Cris-
tina; MOSTAFA, Joana. Perfil socioeconômico dos beneficiários do Programa Bolsa
Família: o que o Cadastro Único revela? In: CAMPELLO, Tereza; NERI, Marcelo Côrtes.
Programa Bolsa Família: uma década de inclusão e cidadania. Brasília: Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada, 2013. p. 157-177.
CAMPELLO, Tereza; NERI, Marcelo Côrtes. Programa Bolsa Família: uma década de
inclusão e cidadania. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2013.
CARREIRÃO, Yan de Souza; TRINDADE, Tayná Teixeira Chaves; RIBEIRO, Ednaldo Apa-
recido; GIMENES, Éder Rodrigo Gimenes; BORBA, Julian Borba. Simpatia partidária e
repertórios de participação política no Brasil. In: MARTELLI, Carla G. Giani; JARDIM,
Maria Chaves; GIMENES, Éder Rodrigo. Participação política e democracia no Bra-
sil contemporâneo. Araraquara: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho, 2017 (no prelo).
CASTIGLIONE, Dario; WARREN, Mark. Rethinking democratic representation: ei-
ght theoretical issues (conferência). In: Rethinking Democratic Representation
Workshop, Columbia, 2006. Anais... Columbia: University of British Columbia, 2006.
Disponível em <www.politics.ubc.ca/fileadmin/user_upload/poli_sci/Faculty/war-
ren/Rethinking_Democratic_Representation_May_2006.pdf>. Acesso em 23 out.
2017.
CASTRO, Carmen Lúcia Freitas de. Conselho. In: CASTRO, Carmen Lúcia Freitas de;
GONTIJO, Cynthia Rúbia Braga; AMABILE, Antônio Eduardo de Noronha (Orgs.). Di-
cionário de políticas públicas. Barbacena: Universidade do Estado de Minas gerais,
2012. p. 82-84.
CECHINNI, Simone. Transferências condicionadas na América Latina e Caribe: da ino-
169
REFERÊNCIAS
vação à consolidação. In: CAMPELLO, Tereza; NERI, Marcelo Côrtes. Programa Bolsa
Família: uma década de inclusão e cidadania. Brasília: Instituto de Pesquisa Econô-
mica Aplicada, 2013. p. 369-396.
COHEN, Joshua. Deliberation and democratic legitimacy. In: BOHMAN, James; REGH,
William. Deliberative democracy: essays on reason and politics. Massachusetts:
Massachusetts Institute of Technology, 1999. p. 67-91.
COHEN; Joshua; ROGERS, Joel. Associations and democracy. London: Verso, 1995.
CRAVEIRO, Clélia Brandão Alvarenga; XIMENES, Daniel de Aquino. Dez anos do Pro-
grama Bolsa Família: desafios e perspectivas para a universalização da educação bá-
sica no Brasil. In: CAMPELLO, Tereza; NERI, Marcelo Côrtes. Programa Bolsa Família:
uma década de inclusão e cidadania. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Apli-
cada, 2013. p. 109-123.
DELESPOSTE, Aline Guizardi; GIMENES, Éder Rodrigo. Trinta anos de pesquisa: ba-
lanço da produção acadêmica do Núcleo de Pesquisa em Movimentos Sociais. In:
SCHERER-WARREN, Ilse; LÜCHMANN, Lígia Helena Hahn. Movimentos sociais e en-
gajamento político: trajetórias e tendências analíticas. Florianópolis: Universidade
Estadual de Santa Catarina, 2015. p. 77-100.
DELLA PORTA, Donatella. Introdução a Ciência Política. Lisboa: Estampa, 2003.
GANANÇA, Alexandre Ciconello. Associativismo no Brasil: características e limites
para a construção de uma nova institucionalidade democrática participativa. 2006.
144 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Política). Brasília: Instituto de Ciência Políti-
ca, Universidade de Brasília, 2006.
GIMENES, Éder Rodrigo. Cultura política e comportamento. Maringá: Centro Uni-
versitário de Maringá, 2017a.
GIMENES, Éder Rodrigo. Partidarismo, mobilização cognitiva e participação política
no Brasil. In: MARTELLI, Carla G. Giani; JARDIM, Maria Chaves; GIMENES, Éder Ro-
drigo. Participação política e democracia no Brasil contemporâneo. Araraquara:
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2017b (no prelo).
GIMENES, Éder Rodrigo. A relação dos eleitores com partidos políticos em no-
vas democracias: partidarismo na América Latina. 2015. 240 f. Tese (Doutorado) –
Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política, Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2015.
GIMENES, Éder Rodrigo; BORBA, Julian. Democratismo entre atores políticos não
estatais: preditores da preferência por instrumentos democráticos. In: RODRIGUES,
Léo Peixoto; ALMEIDA, Jalcione; SPOLLE, Marcus (Orgs.). Crise e emergência de no-
vas dinâmicas sociais. v. 2. Curitiba: CRV, 2014. p. 93-109.
GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais na atualidade: manifestações e cate-
gorias analíticas. In: ______ (Org.). Movimentos sociais no início do século XXI:
REFERÊNCIAS
antigos e novos atores sociais. 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. p. 13-32.
GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais e redes de mobilizações civis no Bra-
sil contemporâneo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. V. 2. SIEBE-
NEICHLER, Flávio Beno (Trad.). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.
HANSEN, Jaqueline Resmini. No computador, na rua ou no smartphone: condi-
cionantes e covariantes do engajamento online. 2016. 100 f. Dissertação (Mestrado)
– Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Universidade Estadual de Marin-
gá, Maringá, 2016.
HERNANDES, Natália Santarém. Protesto no Brasil: como, quem e por quê? Um es-
tudo das bases individuais da participação política não convencional no Brasil, nos
anos de 1991 e 2006. 2012. 192 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Gradu-
ação em Sociologia Política, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2012.
INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística; INSTITUTO de Pesquisa Econômica
Aplicada. As fundações privadas e associações em fins lucrativos no Brasil: 2010.
Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, 2012. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Fundacoes_Priva-
das_e_Associacoes/2010/fasfil.pdf>. Acesso em 20 out. 2017.
LEONELLO, João Carlos; COSAC, Cláudia Maria Daher. O associativismo como alterna-
tiva de desenvolvimento local e sustentabilidade social. In: Seminário do Trabalho:
Trabalho, Economia e Educação no século XXI, 6º. Anais... Marília, 2008. Disponível
em: <http://www.estudosdotrabalho.org/anais6seminariodotrabalho/joaocarlosle-
onelloeclaudiamariadahercosac.pdf>. Acesso em 13 out. 2017.
LONARDONI, Eliana; GIMENES, Junia Garcia; SANTOS, Maria Lucia dos; NOZABIELLI,
Sônia Regina. O processo de afirmação da assistência social como política social.
Serviço Social em Revista, Londrina, v. 8, n. 2, jan./jun. 2006. p. 1-20.
LÜCHMANN, Lígia Helena Hahn. Associativismo e democracia: um estudo em Flo-
rianópolis. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2016.
LÜCHMANN, Lígia Helena Hahn. Associações, participação e representação: combi-
nações e tensões. Revista Lua Nova, São Paulo, n. 84, 2011. p. 141-174.
LÜCHMANN, Lígia Helena Hahn; ALMEIDA, Carla; GIMENES, Éder Rodrigo. Gênero
e representação política nos conselhos gestores no Brasil. Revista Dados, Rio de
Janeiro, v. 59, n. 3, set. 2016. p. 789-822.
MAGALHÃES JÚNIOR, Helvécio Miranda; JAIME, Patrícia Constante; LIMA, Ana Maria
Cavalcante de. O papel do setor saúde no Programa Bolsa Família: histórico, resulta-
dos e desafios para o Sistema Único de Saúde. In: CAMPELLO, Tereza; NERI, Marcelo
Côrtes. Programa Bolsa Família: uma década de inclusão e cidadania. Brasília: Ins-
171
REFERÊNCIAS
Ao longo deste estudo discutimos sobre a formação do Estado, permeado por inte-
resses relacionados ao poder político e econômico e à necessidade de estabeleci-
mento de um pacto entre os indivíduos para seu funcionamento.
Partindo dessas premissas, que nos remetem a textos e autores clássicos, construí-
mos um caminho através de fatos históricos marcantes, com destaque à Revolução
Industrial e ao processo de urbanização europeu, até chegarmos ao caso brasileiro,
protagonista de nossa discussão desde a abordagem das mudanças culturais, eco-
nômicas e políticas decorrentes da chegada da Família Real portuguesa no século
XIX até o processo de redemocratização no fim do século XX.
Nesse trajeto, destacou-se a relevância da participação política da sociedade para a
conformação do Estado nacional brasileiro, desde as manifestações operárias, quan-
do do início da atividade industrial e da emergência do capitalismo na República,
até a resistência ao governo militar e a luta pela abertura do regime à democracia,
com posterior ampliação das possibilidades de engajamento político e pluralização
dos grupos com voz e acesso a direitos.
Foram vários os atores coletivos envolvidos nesse processo, cada qual com sua par-
cela de expressividade e, nesse material, abordamos aspectos gerais para fornecer
informações sobre o cenário de desenvolvimento democrático atual. O movimento
sanitarista e o papel do Serviço Social, por exemplo, foram relevantes, mas estão
além do escopo deste livro.
Toda a explanação aqui apresentada foi no sentido de construir um panorama do
cenário onde assistentes sociais, gestores públicos, gestores de organizações do Ter-
ceiro Setor e demais atores envolvidos com atividades sociais desenvolvem essas
ações e oferecer subsídios à interpretação do contexto histórico e das perspectivas
de diálogo, vocalização e reivindicação pertinentes ao espaço que ocupam.
Diferentemente de outros tempos, como aquele de constituição dos Estados nacio-
nais e pactuação do contrato social ou do período militar e seus refluxos em termos
de direitos e cidadania no Brasil, o cenário na segunda década do século XXI é, ao
menos ainda – por conta da instabilidade política que paira desde as eleições de
2014, os protestos e manifestações de 2014 até 2016, o processo de impeachment e
as ações de refluxo em termos de políticas públicas e direitos sociais do governo de
Michel Temer -, positivo com relação à proximidade entre o Estado, a sociedade e os
atores coletivos, como organizações do Terceiro Setor e movimentos sociais.
Aos profissionais destacados – assistentes sociais, gestores públicos, gestores de or-
ganizações do Terceiro Setor e aqueles que atuam em ações sociais – está colocado
o cenário: lutar pela manutenção de espaços participativos e direitos sociais e ga-
rantir a efetivação e ampliação de políticas públicas! Os desafios estão postos. Que
este material tenha ajudado a despertar reflexões e suscitar ideias e ideais. À luta,
bom trabalho!
ANOTAÇÕES
177
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
179
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
181
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
183
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES