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PÚBLICAS E
SOCIAIS
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
SEJA BEM-VINDO(A)!
Prezado(a) aluno(a), é com grande satisfação que apresentaremos para você este mate-
rial que o(a) preparará para a disciplina Políticas Públicas e Sociais.
Este material foi pensado considerando a proposta do curso, formar proissionais que
tenham uma visão sistêmica do papel do Estado nas diversas áreas de sua atuação que
impactam na vida do cidadão, especialmente daquele que enfrenta maiores diiculda-
des em um sistema capitalista acumulativo, como é o caso brasileiro.
Vivemos as benesses da democracia participativa – da qual não abrimos mão – porém,
não podemos fechar os olhos para a função precípua do Estado, que é proporcionar o
desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social. Não há que se falar em desen-
volvimento social quando uma parcela signiicativa da população se vê privada dos seus
direitos básicos de educação, saúde, alimentação e renda.
Portanto, ao longo das cinco Unidades deste material, você verá pontos em que procu-
ramos levá-lo(a) à relexão, ao desenvolvimento de uma visão crítica, não necessaria-
mente concordante, mas, e acima de tudo, questionadora quanto à nossa realidade. É
importante que essa relexão seja procedida de forma desapaixonada, mais voltada aos
resultados do que às cores políticas. Precisamos de continuidade nas políticas sociais.
Por isso, vamos realizar um breve vislumbre do que consideraremos ao longo deste livro.
Na Unidade I, deiniremos algumas funções do setor público, a evolução deste setor
e sua estrutura. Esta consideração nos fará ter uma visão sistêmica do papel do setor
público na sociedade brasileira e nos proporcionará conhecimentos sobre sua área de
atuação.
Na Unidade II, compreendidas as funções do setor público, evoluiremos em nossas con-
siderações, deinindo as políticas públicas e a evolução e importância destas políticas,
bem como conceituando seus principais tipos.
Na Unidade III abordaremos uma das áreas onde as políticas públicas devem ser cui-
dadosamente geridas: a educação. Analisaremos o papel das políticas públicas sobre
a educação no Brasil, demonstraremos a evolução dos investimentos em educação em
uma década, e discutiremos sobre a distribuição de responsabilidades quanto à educa-
ção no caso brasileiro.
Na Unidade IV, trataremos de políticas sociais e as parcerias do poder público com inicia-
tivas sociais privadas, que trazem resultados positivos signiicativos à sociedade. Tam-
bém abordaremos algumas políticas de distribuição de renda praticadas pelo governo
federal e os resultados obtidos.
Finalmente, na Unidade V, o assunto versará sobre indicadores de desempenho, como
são elaborados, sua importância para a qualidade das políticas públicas, principalmente
quanto às auditorias e controle social.
APRESENTAÇÃO
Não é nossa pretensão esgotar o assunto, que já gerou inúmeras obras que tratam
do tema sob os mais diversos olhares, alguns mais liberais, outros mais críticos. Po-
rém, entendemos que o conhecimento das bases que compõem a estrutura e os
conceitos das políticas públicas e sociais é essencial para sua formação, por isso,
acreditamos que você terá um excelente aproveitamento deste conteúdo.
Seja bem-vindo(a) a essa disciplina! Desejamos bons estudos!
8-9
SUMÁRIO
UNIDADE I
O SETOR PÚBLICO
15 Introdução
27 Considerações Finais
UNIDADE II
33 Introdução
36 O Papel do Estado
47 Considerações Finais
SUMÁRIO
UNIDADE III
POLÍTICAS PÚBLICAS E SUA INTERFERÊNCIA DIRETA E INDIRETA NA
EDUCAÇÃO
53 Introdução
68 Considerações Finais
UNIDADE IV
73 Introdução
SUMÁRIO
UNIDADE V
ESTRATÉGIAS PARA A EFETIVAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE
QUALIDADE
109 Introdução
137 CONCLUSÃO
139 REFERÊNCIAS
Professora Dra. Andréia Moreira da Fonseca Boechat
Professora Me. Yony Brugnolo Alves
I
UNIDADE
O SETOR PÚBLICO
Objetivos de Aprendizagem
■ Apresentar alguns conceitos preliminares do setor público.
■ Deinir setor público.
■ Discutir o papel do setor público.
■ Mostrar a evolução do setor público brasileiro.
■ Apresentar a estrutura do setor público brasileiro.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Conceitos preliminares do setor público
■ Conceito de setor público
■ O papel do setor público
■ Evolução do setor público brasileiro
■ A estrutura do setor público brasileiro
15
INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a),
Iniciaremos nossa primeira unidade dessa disciplina. Foi com grande satisfação
que a escrevemos para você! Nesta unidade, você verá alguns conceitos relacio-
nados ao setor público, imagino que, para alguns, sejam conceitos novos, e para
outros, servirá como uma revisão de algo que já conhecem. Falar sobre o setor
público, aqui no nosso país, é um desaio. É claro que temos os fundamentos e as
deinições clássicas, mas, infelizmente, ao falarmos sobre o setor público muitos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
16 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a eiciência alocativa. Então, a economia do bem-estar público se preocupa com
o bem-estar da sociedade como um todo, e este bem-estar é de responsabilidade,
direta ou indiretamente, do setor público.
Em 1971, o conceito de ação coletiva foi criado por Mancur Olson, onde
a economia passou a se preocupar com a oferta de bens públicos por meio da
colaboração de, no mínimo, duas pessoas, e o impacto que este consumo gera
aos demais, as chamadas externalidades. Ou seja, a partir da data citada, a eco-
nomia passou a estudar o impacto, tanto negativo quanto positivo, do consumo
de um bem na vida dos demais.
Por exemplo, imagine uma fábrica têxtil e um rio passando ao lado, no qual
uma comunidade de pescado-
res vive diretamente da pesca.
A fábrica joga os dejetos no rio,
poluindo e matando os peixes,
afetando assim a vida dos pes-
cadores, que não terão mais
como sobreviverem da pesca
nesta localidade. Neste caso, o
governo, por meio de suas polí-
ticas públicas, precisa interferir.
Claro que temos o caso ao con-
trário, onde várias pessoas se
beneiciam com uma determi-
nada ação individual.
http://en.wikipedia.org/wiki/File:John_Maynard_Keynes.jpg
O SETOR PÚBLICO
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BEM PÚBLICO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
duas casas diferentes. Neste caso, o seu consumo é rival. Em segundo lugar, o
consumo da energia é excludente, pois se a pessoa não pagar a conta, a empresa
fornecedora interrompe o fornecimento da luz. Já a segurança, não é possível
uma pessoa ter e a outra não ter, e também o consumo individual não exclui o
consumo do outro. Essa situação pode ser vista no quadro 2 abaixo.
O SETOR PÚBLICO
19
evitar que o néctar vá para as abelhas do seu vizinho e nem tem como cobrar
por isso. Podemos ver essa situação por meio do quadro 3.
Conforme pode ser visto no quadro três, se um bem é rival, mas não é exclu-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Resumindo tudo que foi discutido, se um determinado bem for rival e excludente,
ele é um bem privado e será ofertado por empresas privadas, como TV a cabo.
Caso o bem seja rival, mas não excludente, será uma propriedade comum, ou seja,
é um bem que todos têm acesso, mas se um indivíduo tiver, diminui a quantidade
disponível para a outra pessoa, como a pescaria no mar.
Porém, se o bem é não rival e excludente, é um monopólio natural que sig-
niica que é de responsabilidade do governo, mas muitas vezes quem oferta são
empresas privadas em razão dos custos, como o saneamento básico. Já se um
bem é não rival e não excludente, é um bem público e é ofertado pelo governo,
como no caso da segurança pública. Todos os indivíduos terão acesso.
Como estamos estudando o setor público com foco nas políticas públicas, o
nosso objeto de estudo serão os bens e serviços que são de responsabilidade do
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
governo, de forma que esta oferta gere bem-estar social.
O SETOR PÚBLICO
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Após deinir setor público, surge uma pergunta: qual é o papel do setor público
na economia brasileira e na vida dos cidadãos? Você, caro(a) aluno(a), saberia
responder esta pergunta?
A discussão sobre o papel do setor público é muito complexa e longa, pois
são diversas funções e algumas delas se misturam ao papel do governo na econo-
mia, mas todas estão ligadas ao desenvolvimento do país e à geração de bem-estar
social.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Até o século XIX, o capitalismo competitivo existente no Estado dominava,
ou seja, o Estado passou a ser liberal. Nesta época, era defendida uma intervenção
mínima do setor público na economia. Agora, estamos em uma fase de Estado
regulador, na qual o Estado interfere na economia, mas na forma de regulação,
e não diretamente nas decisões dos agentes econômicos.
Agora já sabemos que as funções do setor público se alteram ao longo do tempo.
De um modo geral, o papel atual e ideal do setor público é, segundo Tanzi (2000):
a) Criar regras e instituições para assegurar o cumprimento dos contratos e
proteger o direito de propriedade, contribuindo para a expansão do papel
do mercado, além de criar regras e instituições para gerir a arrecadação
e o uso da receita iscal.
b) Estabelecer um quadro jurídico e regulatório que reduza os custos de
transação, e deve promover a eiciência do mercado, intervindo nas falhas
do mercado.
c) Ofertar bens públicos que o setor privado não tem interesse e que não
são essenciais, como segurança pública e vias urbanas, e resolver o pro-
blema de externalidade, quando não for possível negociação entre os
agentes envolvidos.
d) Estabilizar a economia.
e) Distribuir renda e proteger a camada da população que corre o risco de
icar abaixo da linha da pobreza oicial.
Como você já percebeu o Estado não pode ser estático e seu papel, além de variar
de país para país, deve evoluir com o passar dos anos, já que a própria sociedade
se altera e a tecnologia avança.
O SETOR PÚBLICO
23
uma grande questão, que é o tamanho do Estado. É interessante que esse Estado
seja grande ou pequeno? Ou seja, o Estado deve ter uma grande participação na
economia ou deve ter sua participação reduzida? Para se discutir o tamanho do
Estado, é imprescindível que se aborde os recursos inanceiros, como eles são
adquiridos e aplicados.
De acordo com Vieira (2009), Musgrave é o grande teórico que abordou
sobre o papel do estado, isso no ano de 1959.
Segundo Garrett e Rhine (2006 apud VIEIRA, 2009), a análise do tamanho
do Estado pode se dar através de duas vias, a primeira que considera o cidadão
acima do estado, nesse caso, os indivíduos demandam serviços e bens públicos
e o governo os atende; e a segunda considera o Estado acima do cidadão, e nesse
caso, o Estado cresce por falta de eiciência, o que já faz parte do setor público e
os que fazem política pública contribuem para isso.
Assim, a vertente que considera o cidadão acima do Estado é aquela que,
trazendo para a nossa realidade brasileira, incentiva, por exemplo, políticas mais
assistencialistas, como o Bolsa Família e outros programas sociais adotados em
nosso país. Ainda de acordo com Vieira (2009), o crescimento do Estado se dá,
pois o cidadão está acima deste e se justiica quando o cidadão demanda uma
distribuição de renda de maneira mais justa, tal tarefa é desempenhada pelo
governo. Há também a questão da preferência dos indivíduos, segundo Rodrik
(1998 apud VIEIRA, 2009), os Estados maiores acontecem em economias mais
abertas, nesses países os cidadãos preferem um Estado maior, mais paternalista
a im de os protegerem contra possíveis problemas causados pela maior concor-
rência (já que a economia é mais aberta).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Assim, podemos airmar que se os gastos do setor público forem feitos na cons-
trução de estradas, portos, aeroportos e assim por diante, irão contribuir para o
crescimento econômico, porém, se forem demasiadamente feitos para a manutenção
da máquina (gastos correntes), não terão esse efeito positivo sobre o crescimento.
A Constituição de 1988, segundo Peppe et al. (1997), trouxe avanços em relação ao
grau de autonomia de cada esfera governamental, no entanto, manteve uma carac-
terística histórica do Brasil: uma gama muito grande de competências para a esfera
federal, ou seja, a União ainda icou com muitas competências em detrimento às
esferas estadual e municipal. Podemos dizer que o Brasil tem como característica
ser um país centralizador. Na nossa visão, podemos dizer que isso não é bom para
a economia de modo geral, pois o Brasil é um país muito grande e o governo fede-
ral não tem condições de conhecer com profundidade as especiicidades de cada
região ou município, desse modo, uma maior autonomia para estados e municí-
pios contribuiria para uma melhor gestão, inclusive, dos recursos públicos.
De acordo com Peppe et al. (1997), o texto da Constituição de 1988 favo-
rece, em poder de recursos e competências, a União seguida dos Municípios e,
por último, icam os Estados.
1
Simpliicando, um Estado muito grande seria um governo com altos gastos e alta arrecadação de impostos.
O SETOR PÚBLICO
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O SETOR PÚBLICO
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
1. Explique a diferença entre bens públicos, monopólio natural e bens de proprie-
dade privada, citando um exemplo de cada.
2. Conceitue setor público.
3. Explique o papel do setor público na economia brasileira e na vida da população.
4. Discuta, de forma sucinta, o tamanho ideal do Estado.
5. Como é formada a estrutura do setor público?
28 - 29
MATERIAL COMPLEMENTAR
Material Complementar
Professora Dra. Andréia Moreira da Fonseca Boechat
II
POLÍTICAS PÚBLICAS:
UNIDADE
COMO SURGIRAM E PARA
QUE SERVEM?
Objetivos de Aprendizagem
■ Diferenciar Estado e Governo.
■ Discutir o papel do Governo.
■ Deinir políticas públicas.
■ Mostrar a evolução e a importância das políticas públicas.
■ Apresentar os principais tipos de políticas públicas.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Diferença entre Estado e Governo
■ Papel do Governo
■ Deinição de políticas públicas
■ Evolução histórica da política pública para a sociedade
■ Principais tipos de políticas públicas
33
INTRODUÇÃO
Introdução
34 UNIDADE II
DIFERENÇA ENTRE
ESTADO E GOVERNO
©shutterstock
Estado e em governo, estamos nos referindo ao mesmo
conceito. Porém, isto é um equívoco, pois são duas insti-
tuições totalmente diferentes e, consequentemente, com funções diversas. Claro
que não podemos nos referir a governo “fora” do conceito de Estado.
E você, sabe a diferença entre governo e Estado?
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Para começarmos a discutir a diferença, vamos apresentar um exemplo bem
atual: o Estado é o Estado brasileiro, já o governo, atualmente, é o governo da
presidenta Dilma Roussef. Percebemos que governo tem um tempo de dura-
ção, ou seja, é alterado a cada período, no caso do Brasil, a cada quatro anos. Já
o Estado não tem essa marcação temporal.
A palavra Estado vem do grego pólis, e signiica política, ou seja, a ciência de
governar a cidade. Então, podemos deinir Estado como uma instituição polí-
tica, social e juridicamente organizada, que ocupa um território e é regido pela
Constituição, em outras palavras, é uma divisão política, administrativa e terri-
torial de certos países, como o Brasil.
O Estado é composto por três elementos principais:
a) População - são as pessoas que têm vínculos políticos e jurídicos com o
Estado, ou seja, são os indivíduos que habitam um determinado território.
b) Território - é um espaço físico regido por uma ordem jurídica autorizada.
No Brasil, o território é subdivido em 27 unidades federativas ou estados
mais o Distrito Federal. Isto mesmo, quando falamos em Estado no sentido
de Brasil, a primeira letra é maiúscula. Já quando estamos nos referindo a
estados, como o Paraná ou Rio de Janeiro, inicia-se com letra minúscula.
c) Governo - é o poder supremo do Estado.
Então, como podemos perceber, o governo faz parte do Estado. Mas ainal, o
que é governo?
A partir daí surge outra pergunta: governo e política são similares? A res-
posta é não. A política disponibiliza os recursos na sociedade e o governo trata
dos resultados dessa alocação de recursos. Por este motivo, temos, no caso do
Brasil, três esferas governamentais com funções especíicas, a municipal, esta-
dual e federal. A esfera municipal é composta pelos municípios, a estadual pelos
estados e a federal pelo país como um todo.
Analogamente, Karl Deutsch (1979, p. 29), compara o processo de governar
com a navegação, onde existe o timoneiro2 do navio, que deve saber sua função
no barco para manter o controle. Em segundo lugar, deve saber onde se encon-
tra a nave que está sob seu controle, em qual direção se move e qual o tipo de
embarcação é. Em terceiro lugar, precisa conhecer onde estão localizados os ban-
cos de areia, escolhos, baixios e correntes de navegação. E, por último, e talvez
o mais importante, precisa ter consciência do seu destino e de seus tripulantes,
além de escolher a rota certa.
Percebemos que o governante, aquele que governa o país, estado ou
município, precisa conhecer seu território, sua população, e consequentemente
seus problemas, para poder deinir o que é necessário fazer para aumentar o
bem-estar social.
Agora já sabemos a diferença entre Estado e governo, e percebemos que seria
praticamente impossível viver em um Estado sem governo.
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Segundo o dicionário Aurélio (2012), timoneiro é aquele que governa o timão das embarcações.
O PAPEL DO ESTADO
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Como já discutimos, a existência do governo é necessária para guiar, corrigir
e complementar o mercado, que sozinho não é capaz de desempenhar todas
as funções econômicas, funções estas relacionadas ao nível macroeconômico,
distribuição de renda, estabilidade de preços e nível de emprego. Já em nível
microeconômico, podem ser citados a proteção dos contratos, produção e dis-
tribuição de alguns bens e serviços que não são vantajosos economicamente
para uma empresa privada produzir, entre outros. Para solucionar os problemas
econômicos, o Estado tradicional possui três funções básicas: alocativa, distri-
butiva e estabilizadora.
a) Função alocativa - está associada à provisão de determinados bens e ser-
viços não ofertados de forma adequada pela iniciativa privada. Segundo
Costa e Souza (2008), por meio desta função o governo faz a provisão de
determinados bens e serviços que o mercado não oferece adequadamente
devido ao sistema de preços, os chamados bens públicos. Esta função
visa corrigir as falhas de mercado e os efeitos negativos da externalidade.
O Papel do Estado
38 UNIDADE II
A estabilização pode ser feita por meio das políticas econômicas. As duas prin-
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cipais são a monetária e a iscal. A primeira se refere às ações do governo para
controlar as variáveis monetárias da economia, como moeda e taxa de juros. Já
a política iscal se refere às atividades de arrecadação e gastos do governo, ou
seja, a forma como o governo tributa a população e como esses impostos serão
redistribuídos para a sociedade.
A partir das funções discutidas acima, podemos resumir que o Estado é
responsável pelo bem-estar e pela segurança da sociedade, e para isso utiliza
as políticas econômicas e públicas. Como o nosso objetivo neste momento não
é discutir políticas econômicas e sim políticas públicas, vamos deixar de lado
as políticas monetária e iscal e vamos deinir políticas públicas.
Deinir políticas públicas não é uma tarefa fácil e não existe uma única dei-
nição. Mead (1995) as deine como um campo de estudo da política que analisa
o governo dentro das questões públicas. Já tanto para Lynn (1980) quanto para
Peters (1986), políticas públicas são um conjunto de ações do governo que produ-
zirão efeitos desejados sobre a vida dos cidadãos. Dye (1984) resume que políticas
públicas é a deinição do que o governo escolhe fazer ou não fazer.
Outros autores deinem políticas públicas como um conjunto de ações e deci-
sões do governo, voltadas para a solução de problemas sociais, ou seja, são as metas,
planos e ações que o governo, nas três esferas, federal, estadual e municipal, tem
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Figura 1 - Sequência de atividades que resultam as políticas públicas
Fonte: Belikow (2008)
Como pode ser visto na Figura 1, a primeira coluna à esquerda são os eventos que
a formulação da política passa, e na segunda coluna são os resultados da política.
O primeiro passo é deinir a agenda e deinir a agenda governamental que
cria oportunidade para a formulação da política de acordo com o objetivo do
governo, ou seja, das necessidades da população, seguido pela formulação das
políticas alternativas. Após a deinição das políticas alternativas, o governo esco-
lhe qual política será implementada e a coloca em prática por meio de leis. Após
a implementação, é necessário avaliar os impactos gerados e, se for o caso, modi-
icar a política de forma a aumentar o bem-estar social.
Percebemos que formular uma política pública não é tarefa fácil e rápida.
Após termos abordado a sequência de atividades que são feitas para se chegar
às políticas públicas, será apresentado um modelo simples do processo de cria-
ção das políticas públicas.
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
As políticas públicas de fato ganharam importância no início da década 1930,
após o término do modelo agrário-exportador, pois entre 1500 e 1930, a econo-
mia era voltada para a produção e exportação das monoculturas, como o café,
e a mão de obra foi escrava até 1888.
Após a abolição da escravatura, as políticas tinham como característica a
intervenção do Estado com o objetivo de assegurar as condições de trabalho dos
imigrantes, mas sempre voltadas ao regime de produção exportador, surgindo
assim a primeira política pública, que tinha como objetivo garantir a naciona-
lidade aos imigrantes.
Com a crise de 1929, o Brasil sentiu a necessidade de se industrializar, com
isto, as políticas públicas se alteraram e assumiram uma postura nacionalista
populista. Esse processo de industrialização exigiu a consolidação de grupos para
sustentar a demanda por bens manufaturados, o que foi conseguido por meio do
sistema de proteção social e trabalhista da década de 1940.
A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) de 1940 colocou os trabalha-
dores sob tutela do Estado e instituiu o direito à estabilidade no emprego, férias,
salário, indenização por demissões, salários mínimos, deinição da jornada de
trabalho semanal, direito à saúde e à previdência. Podemos perceber a magni-
tude dessa política pública não apenas para a época, mas para os dias atuais, já
que ainda seguimos diversos pontos da primeira CLT.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
utilizado entre as décadas de 1960 e 1990.
Até aqui, deinimos políticas públicas de um modo geral, mas não podemos
esquecer que política pública é a ação do governo para solucionar problemas da
sociedade, de modo que gere, ou pelo menos aumente, o bem-estar social. Porém,
temos dois grandes tipos principais de políticas públicas: a econômica e a social.
As políticas econômicas são voltadas para a sociedade como um todo, não
fazendo propriamente divisões de classes. Como exemplos de políticas econômi-
cas, temos: a iscal, que está relacionada a receitas e gastos do governo, ou seja,
quanto o governo arrecada por meio dos tributos e onde esses tributos serão gastos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
1. Diferencie Estado de governo.
2. Discuta o papel do governo na economia.
3. O que são políticas públicas? Apresente sua importância para a sociedade.
4. Qual é a relação entre governo e políticas públicas?
5. Explique o processo de formação das políticas públicas.
48 - 49
MATERIAL COMPLEMENTAR
Finanças Públicas
GIAMBIAGI, F.; ALEM, A
Editora: Elsevier
Material Complementar
Professora Me. Yony Brugnolo Alves
III
POLÍTICAS PÚBLICAS E SUA
UNIDADE
INTERFERÊNCIA DIRETA E
INDIRETA NA EDUCAÇÃO
Objetivos de Aprendizagem
■ Entender o papel das políticas públicas na educação no Brasil.
■ Analisar a evolução dos investimentos em educação no período entre
os anos de 2000 e 2010.
■ Compreender a distribuição das responsabilidades nas diferentes
esferas governamentais sobre a educação.
■ Estudar aspectos atuais da educação no Brasil.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Educação: esferas governamentais e suas responsabilidades
■ Evolução histórica da educação pública no Brasil
■ Políticas públicas atuais voltadas para a educação
■ Investimento público na educação
■ EAD como forma de democratizar a educação
53
INTRODUÇÃO
Não poderíamos deixar de citar a EaD – Educação a Distância como uma nova
maneira de acesso à educação no Brasil. Com toda essa discussão e levantamento de
dados e informações que izemos, esperamos despertar em você alguma curiosidade
e, também, orgulho por estar nessa fase de sua vida acadêmica que, infelizmente,
nem todos os brasileiros conseguem. Bons estudos!
3
Alta generalizada do nível de preços.
Introdução
54 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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ou seja, para alcançar uma estabilidade econômica, precisaram fazer ajuste is-
cal de suas contas, logo, o recurso destinado às políticas públicas, inclusive para
a educação, icou mais escasso. Mais adiante discutiremos um pouco mais sobre
como têm sido os investimentos em educação aqui no nosso país.
No Brasil, percebemos que União, Estados e Municípios têm essa responsabi-
lidade dividida, assim, cada esfera governamental é responsável por determinados
estágios educacionais.
O Ministério da Educação – MEC é o órgão público máximo no que tange a
educação, não só a pública, mas inclusive ela. Dentro do Ministério há diversas
divisões, sendo as principais: Secretaria de Educação Superior – SESU, Secretaria
de Educação Proissional e Tecnológica – SETEC, Secretaria de Educação Básica
– SEB e Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização Diversidade e Inclusão
- SECADI.
A SESU é a responsável por manter, supervisionar e desenvolver as institui-
ções públicas federais de ensino superior, além de supervisionar as instituições
de ensino superior privadas.
Já à SETEC cabe supervisionar o andamento da educação tecnológica no país,
procurando intervir para que a legislação referente a esse tema seja cumprida.
À SEB ica a responsabilidade por coordenar a educação infantil, ensino fun-
damental e médio no Brasil.
A SECADI trabalha por meio de articulações buscando promover uma edu-
cação mais inclusiva, sob a coordenação dessa pasta estão as ações voltadas para
a educação especial, quilombolas e indígenas, por exemplo.
Você deve estar se perguntando: e qual é o papel do meu estado e do meu muni-
cípio nisso tudo? Vamos a essa discussão:
Sabemos que a principal lei, atualmente, que rege a educação é a LDB de
1996 (a evolução da legislação até chegar à atual LDB será discutida no próximo
tópico), e ela determina algumas responsabilidades de cada esfera governamen-
tal. O governo federal deverá estabelecer algumas regras e critérios que deverão
ser seguidos por estados e municípios, por exemplo, o número mínimo de dias
letivos e o número de horas-aula. Aos municípios caberá:
[...] oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prio-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
De acordo com Ferrari (2013), o grande responsável e pioneiro pela proposta para
oferta de escolas públicas no Brasil foi Anísio Teixeira, cuja intenção era a de oferecer
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
adequado a cada realidade. Ferrari (2013) relata, também, que Anísio Teixeira
propôs a criação de fundos com recursos públicos para inanciar a educação.
Foi com a Constituição Federal de 1934 que a educação passou a ser vista
como um direito de todos e o poder público incumbiu-se da responsabilidade
em relação à educação, também nessa época, mais precisamente em 1930, é que
foi criado o Ministério da Educação, então denominado Ministério da Educação
e da Saúde Pública. Perceba que neste período havia somente um Ministério
para duas áreas de extrema importância, como educação e saúde. Essa realidade
foi modiicada em 1953, quando surgiu o Ministério da Educação e Cultura –
MEC (Portal do Ministério da Educação, 2013).
Ainda de acordo com Portal do Ministério da Educação, somente a partir de
1960 é que estados e municípios começam a ter mais autonomia para administrar
áreas da educação, até 1960, as decisões sobre educação eram totalmente centralizadas
no Governo Federal e a partir de então iniciou-se um processo de descentralização.
Essa descentralização nasceu juntamente com a primeira Lei de Diretrizes e Bases
da Educação – LDB, após longas discussões que duraram treze anos.
Apenas em 1971 é que o ensino passou a ser obrigatório para pessoas entre
os sete e quatorze anos de idade, essa obrigatoriedade foi instituída com uma
nova LDB. Veja só, caro(a) aluno(a), a obrigatoriedade do ensino para crianças é
muito recente em nosso país, ou seja, antes de 1971, as crianças não eram obriga-
das a estudar, estudavam se quisessem ou, em alguns casos, se pudessem, já que
como os alunos não eram obrigados a frequentar os bancos escolares, o poder
público também não era obrigado a oferecer vagas para estes.
Somente em 1995 o MEC passou a ser responsável apenas pelo setor da
educação.
Em 1996, foi discutida uma nova LDB, que criou novas metas, incluindo a
educação infantil no rol de responsabilidades do Ministério. Nesse mesmo ano,
foi criado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Vamos olhar para a atualidade brasileira, ou seja, quais projetos e quais políticas
públicas estão sendo adotadas atualmente. Antes de discutir sobre tal tema, Frey
(2000) aborda que estudar políticas públicas no Brasil (não só para a educação,
mas de um modo geral) é algo muito recente, estamos discutindo algo que ainda
é novo em termos de academia no Brasil, e mais ainda, o autor defende clara-
mente que a análise de políticas públicas em países em desenvolvimento (como
é o nosso caso) não deve ser feita apenas se transferindo um método de análise
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de países desenvolvidos para cá, o método de análise precisa ser adaptado à rea-
lidade local, o que, muitas vezes, não ocorre. Necessitamos de amadurecimento
na discussão de políticas públicas de modo geral, inclusive para a educação.
Atualmente, uma importante política pública adotada na educação foi a modi-
icação da idade a partir da qual as crianças são obrigadas a estarem matriculadas
na escola. Até o início do ano de 2013, essa obrigatoriedade se dava a partir dos
seis anos de idade, no entanto, mediante a lei 12.796/13, essa idade foi reduzida
para os 4 anos de idade. A lei determina que estados e municípios tenham até
2016 para se readequar a essa nova regra, já que para as crianças de quatro anos
serem matriculadas, é necessário que sejam providenciadas vagas para esse im.
<http://www.youtube.com/watch?v=eTYWvbW8XPw>.
O vídeo conta, sucintamente, como se instaurou a educação no Brasil a par-
tir de 1500. Podemos veriicar que, já de início, a educação foi segmentada
para públicos diferentes (índios e ilhos de portugueses) e também não in-
centivava ou permitia a discussão.
©shutterstock
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
boração do governo federal para que tenham acesso ao ensino superior na rede
privada.
Além dos programas de incentivo, o governo federal procura, também, ava-
liar o ensino superior no Brasil e, para isso, instituiu a partir de 2004 o Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes – Enade. Esse exame procura avaliar
alunos ingressantes e concluintes dos cursos de graduação quanto ao conteúdo
do curso de graduação estudado.
O Programa Brasil Alfabetizado também é uma política pública adotada atu-
almente cujo objetivo é alfabetizar jovens, adultos e idosos, sua aplicação se dá,
preferencialmente, em cidades com mais de 25% de analfabetismo.
O governo brasileiro tem outro programa que se chama Escola que Protege,
cuja inalidade é a promoção dos direitos humanos tentando evitar a dissemina-
ção da violência no ambiente escolar.
A Escola Aberta é um programa que tenta integrar comunidade escolar e
a comunidade do entorno da escola, isso é feito com a abertura dos portões da
escola aos inais de semana para atividades esportivas, educacionais, culturais
entre outras. O Programa Nacional do Livro Didático – PNLD distribui livros
didáticos gratuitamente, sendo estes escolhidos pelas escolas.
Um programa bastante interessante, mas que, infelizmente, não é algo ampla-
mente discutido, é o Mais Educação, que almeja implantar a educação integral
(veja que interessante, aquilo que Anísio Teixeira já pensou na década de 1920,
conforme vimos anteriormente). Esse programa inancia projetos para que esco-
las ofereçam atividades em período integral.
<http://www.youtube.com/watch?v=c-0cJpgc31o>.
No vídeo, podemos observar uma forte crítica em relação a como os investi-
mentos em educação são feitos no Brasil. Assista ao vídeo e tire você mesmo
suas próprias conclusões.
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os Ní- Básica Infantil De 1ª a 4ª séries De 5ª a 8ª Médio Superior
veis de ou anos iniciais séries ou anos
Ensino inais
2000 84.626 21.835 5.260 6.032 6.156 4.387 67.791
2001 84.420 22.410 4.750 5.962 6.706 4.992 66.999
2002 80.193 21.414 4.473 6.962 6.465 3.513 63.518
2003 73.633 22.331 5.147 6.744 6.407 4.033 55.652
2004 75.667 23.799 5.485 7.240 7.320 3.754 56.340
2005 77.517 24.803 5.192 8.101 7.714 3.797 57.294
2006 82.781 29.889 3.746 11.152 9.796 5.195 57.783
2007 90.925 35.046 4.572 13.300 11.085 6.088 61.252
2008 99.531 40.176 4.875 15.250 13.018 7.033 65.236
2009 103.274 43.365 4.822 16.965 14.157 7.423 66.011
2010 121.569 49.681 5.885 19.294 15.621 8.881 71.888
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í
Figura 3 - Gastos públicos diretos em instituições educacionais públicas, como proporção do PIB, por nível
(2006)
Fonte: OECD (2009 apud VONBUN, MENDONÇA, 2012)
justiicativas:
A crescente demanda por educação, devido não somente à expansão
populacional como, sobretudo às lutas das classes trabalhadoras por
acesso à educação, ao saber socialmente produzido, concomitantemen-
te com a evolução dos conhecimentos cientíicos e tecnológicos está
exigindo mudanças em nível da função e da estrutura da escola e da
universidade (PRETI, 1996 apud ALVES, 2011).
4
Para saber sobre o histórico da Educação a Distância no Brasil, sugerimos o artigo Educação a distância:
conceitos e história no Brasil e no mundo de autoria da pesquisadora Lucineia Alves. Você pode acessá-lo
no link: <http://www.abed.org.br/revistacientiica/Revista_PDF_Doc/2011/Artigo_07.pdf>.
Na tabela 6, podemos veriicar que no período entre 2005 e 2012 houve um cres-
cimento gigantesco na quantidade de Instituições de Ensino Superior que fazem
parte do sistema UAB – Universidade Aberta do Brasil. Esse sistema é formado
por universidades públicas brasileiras, o intuito é oferecer acesso ao ensino supe-
rior a distância para aqueles que têm diiculdades no acesso ao ensino presencial.
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Além do ensino a distância, no setor público, podemos destacar também o forte
crescimento do ensino a distância na iniciativa privada, você, caro(a) aluno(a)
que estuda esse material agora, é um exemplo disso.
A seguir, veremos os dados levantados pela ABED – Associação Brasileira
de Educação a Distância que culminou no Relatório Analítico da Aprendizagem
a Distância no Brasil5.
Na tabela 7, apesar dos dados não abrangerem 100% das instituições que ofe-
recem EaD, podemos observar um aumento no número de matrículas nessa
modalidade de ensino. Esse aumento foi de 58%, enquanto houve decréscimo
de 8,5% no número de instituições.
O INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira, que é um órgão oficial do governo e o responsável por diversas
estatísticas de educação, não tem um censo específico para o Ensino a
Distância, mas no Censo da Educação Superior captou alguns dados da EaD.
5
Apesar de ser chamado censo, os dados da ABED não abrangem 100% das instituições que oferecem o
ensino na modalidade a distância, a ABED solicita as instituições a que respondam o questionário do
censo, porém estas respondem se quiserem, não são obrigadas.
POLÍTICAS PÚBLICAS E SUA INTERFERÊNCIA DIRETA E INDIRETA NA EDUCAÇÃO
67
dade EaD tem contribuído não só para o ensino superior e para a pós-graduação,
tem havido uma grande demanda por cursos livres e capacitações de modo geral,
inclusive por meio do sistema S.
Um exemplo de instituição que faz parte do sistema S, é o SEBRAE – Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Para conhecer mais sobre o sis-
tema S acesse: <http://www.brasil.gov.br/empreendedor/capacitacao/sistema-s>.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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nosso país. Vimos como estão distribuídas as responsabilidades de cada esfera
governamental sobre a educação e como têm ocorrido os investimentos públi-
cos e, por im, pudemos ver que essa modalidade de ensino por meio da qual
você está estudando agora é algo que teve seu início lá atrás, mas que tem sido
utilizada como um meio de democratização da educação, que é um bem muito
precioso e, infelizmente, nem todos podem acessar.
IV
AS ORGANIZAÇÕES E REDES
UNIDADE
SOCIAIS COMO INSTRUMENTOS
DAS POLÍTICAS SOCIAIS
Objetivos de Aprendizagem
■ Apresentar a crise do setor público em atender as demandas sociais
da população.
■ Demonstrar a inserção da sociedade civil organizada nas políticas
públicas.
■ Discutir as políticas públicas de distribuição de renda no Brasil.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ A crise da administração pública e as políticas sociais
■ A inserção das organizações privadas nas políticas públicas
■ Políticas públicas distributivas: o caso brasileiro
■ A articulação na execução das políticas públicas
73
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Certamente você tem acompanhado com interesse as últimas crises econômicas
veiculadas na imprensa nacional e internacional. Estamos vivendo momentos ins-
táveis política e economicamente falando. Países considerados estáveis e invejados
quanto à sua prosperidade, agora literalmente vivem seu momento de países de
terceiro mundo, buscando ajuda internacional para fechar suas contas públicas.
Veja o caso de vários países da Europa. Países com centenas e até milhares
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
74 UNIDADE IV
Nossa análise das políticas sociais do Estado inicia-se com a orientação da pró-
pria administração pública. A administração, de forma geral, sofreu alterações
profundas com teóricos como Taylor, Fayol e Elton Mayo.
Se você já estudou alguns fundamentos da administração geral, com toda a
certeza já ouviu esses nomes. No entanto, caso não seja essa sua realidade, vou
destacar algumas de suas contribuições, para que possamos formar o arcabouço
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de conhecimentos necessários ao estudo das políticas sociais de um governo.
É importante para nosso entendimento de como uma administração pública
funciona, em todos os seus focos de atuação, reconhecer que o Estado é uma
forma de organização. Faço-lhe agora uma pergunta muito simples: O que é
uma organização?
É importante termos consciência de que, apesar da grandiosidade de algu-
mas instalações de organizações diversas – um caso impressionante é o edifício
da Chrysler em Nova York, que, aliás, já foi destruído de diversas formas (apenas
no cinema, é claro) – as organizações NÃO SÃO prédios, instalações, máquinas.
Organizações SÃO arranjos sociais.
Exatamente isso. Para ser considerada uma organização, não é necessário
que se tenha qualquer tipo de item físico, mas é obrigatório que tenhamos pes-
soas organizadas com um propósito, uma meta, um objetivo.
Uma deinição bastante pertinente é oferecida por Dat (2008, p. 10): “orga-
nizações são: (1) entidades sociais, (2) orientadas por metas, (3) projetadas como
sistemas de atividade deliberadamente estruturados e coordenados e (4) ligadas
ao ambiente externo”.
Etzioni (1967, p. 7 apud BERNARDES, MARCONDES, 2006, p. 14) cita a
deinição de Parson, para quem “organização é uma unidade social artiicial-
mente criada e estruturada, continuadamente alterada para se manter no tempo,
e com a função de atingir resultados especíicos que satisfaçam as necessidades
de clientes existentes na sociedade e, também, as de seus participantes”. Esta dei-
nição é interessante, pois insere a igura do cliente no contexto. Mesmo que você
não concorde de imediato, todas as organizações têm clientes, seja um hospital,
uma coletoria de impostos, uma igreja.
AS ORGANIZAÇÕES E REDES SOCIAIS COMO INSTRUMENTOS DAS POLÍTICAS SOCIAIS
75
sem ins lucrativos, algumas conhecidas como ONGs – organizações não gover-
namentais, outras na forma de cooperativas, fundações de auxílio e amparo a
pessoas em necessidade, enim, um contingente enorme de tipos e variedades.
Evidentemente que as estruturas internas dessas organizações tão diferen-
tes são também próprias de sua natureza. Estamos habituados a veriicar nas
organizações empresariais uma modelagem hierárquica em departamentos com
funções bem deinidas, vários níveis de cheia e uma linha de comando do tipo
top down (de cima para baixo).
No entanto, as dinâmicas técnicas administrativas, como a gestão por pro-
jetos, empowerment, entre outras, enfatizam uma maior horizontalização da
coordenação de atividades, envolvendo pessoas de vários departamentos na con-
dução de um objetivo ou de uma meta.
Considerando a realidade atual, Dat (2008) elenca alguns tópicos que demons-
tram a importância das organizações pelo que elas realizam a favor das pessoas.
Podemos, de acordo com este autor, airmar que as organizações existem para:
1. Reunir recursos para atingir as metas e os resultados desejados.
2. Produzir bens e serviços com eiciência.
3. Facilitar a inovação.
4. Utilizar modernas tecnologias de produção e informação.
5. Adaptar-se ao ambiente em transformação e inluenciá-lo.
6. Criar valor para proprietários, clientes e funcionários.
7. Acomodar desaios contínuos de diversidade, ética e a motivação e coor-
denação dos funcionários (DAFT, 2008, p. 13).
A Crise da Administração Pública e as Políticas Sociais
76 UNIDADE IV
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imbuído de uma missão: apresentar resultados. Foi assim com os encarregados
das construções das pirâmides no antigo Egito, da muralha da China e tantos
outros empreendimentos da antiguidade.
Lembro-me, por exemplo, do relato da Bíblia em que o Faraó do Egito sonhava
com sete vacas gordas e sete vacas magras. Nenhum dos seus sábios conseguiu
interpretar seu sonho. Então, o prisioneiro José (um hebreu acusado falsamente
de assédio sexual) interpretou-lhe o sonho, dizendo que haveria um período de
sete anos de prosperidade seguido de sete anos de intensa escassez de alimentos.
Então, o Faraó do Egito designou José para administrar a situação e este hebreu
demonstrou ser um grande planejador e executor, armazenando o excedente
nos tempos de prosperidade para utilizá-lo no período de fome. Veja que, tanto
no caso da construção das muralhas da China como no caso de José do Egito,
estava envolvida uma função do Estado a favor de sua população. Voltando a
atenção para tempos mais recentes, foi com o advento da Revolução Industrial
e o surgimento de gigantescas fábricas que a igura do administrador tornou-
-se absolutamente indispensável, principalmente a partir da segunda metade do
século 19. Bernardes e Marcondes (2006) relatam que neste período
[...] surgiram os administradores como hoje são conhecidos, na forma
de proissionais hábeis destinados a suprir as deiciências dos proprietá-
rios no planejamento, operação e controle da produção e, também, para
intermediar capital e trabalho. Até então, os administradores eram des-
necessários, porque só existiam pequenas oicinas com o mestre rodea-
do por artesãos e seus ajudantes. Todavia, o crescimento das empresas
particulares na segunda metade do século 20 estendeu-se para as forças
armadas, universidades, repartições governamentais, igrejas e hospitais,
de sorte que todas essas organizações passaram a necessitar de adminis-
tradores proissionais (BERNARDES, MARCONDES, 2006, p. 15).
frisar que todos eles, a seu próprio modo, defendiam que o administrador deve
PLANEJAR suas ações de forma cuidadosa, ORGANIZAR as atividades que serão
executadas, COORDENADAR as ações de seus subordinados, DIRIGIR pessoas
rumo aos objetivos e CONTROLAR o desempenho esperado. É notável que até
hoje os cursos de Administração focam o chamado PODC (Planejar – Organizar
– Dirigir e Controlar) como funções fundamentais de um administrador.
Esses pioneiros da escola clássica têm como seus principais representantes
Taylor, Fayol, Gulick, Urwick, Gantt e Gilbreth.
A principal contribuição da Escola Clássica para a organização do traba-
lho é, conforme concorda a maioria dos autores, a de Frederick Winslow Taylor.
Existem várias obras detalhando toda a contribuição de Taylor para a admi-
nistração, sem dúvida, o principal estudo de Taylor foi a publicação do livro
Princípios de Administração Cientíica em 1911. Ele, que era um técnico e tra-
balhou como mestre em uma fábrica e mecânico-chefe na Midvale Steel, pôde
trazer suas experiências de aumento da produtividade, que lhe conferiu um des-
taque tal que o fez tornar-se presidente da Associação Americana de Engenheiros.
Nesta obra de Taylor, ele destaca que o ser humano busca sempre maximizar
suas decisões e como ser econômico – a teoria do homo economicus – tenta sempre
obter os maiores ganhos inanceiros possíveis. Se estes ganhos puderem ser obti-
dos com o mínimo de esforço, tanto melhor. Assim pensando, Taylor teorizou – e
praticou – que seria necessário escolher para cada atividade o operário que mais
tivesse aptidão ou preparo para sua execução. Feito isso, é também necessário que o
administrador consiga extrair do operário o máximo de esforço de que seja capaz.
Para que esse máximo esforço aconteça, faz-se necessário que a tarefa esteja
padronizada – sua maneira de execução, seus tempos e movimentos descritos de
forma detalhada. Taylor celebrizou uma frase marcante: “só existe uma maneira
certa” de se fazer uma tarefa.
O trabalho, para ser executado com perfeição, à maneira de pensar de Taylor,
era uma conjunção do “homem de primeira classe” (o operário ideal para o tra-
balho determinado) somado à “maneira certa” de execução (a padronização do
trabalho determinado) e, por último, a supervisão eicaz, que garantiria a reali-
zação do trabalho da forma como foi determinado (MOTTA, 2003).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
É interessante notar que Taylor era um desafeto dos sindicalistas. Para ele, os
sindicatos não contribuíam para o aumento da produção e nem para uma maior
remuneração dos trabalhadores, já que, do seu ponto de vista, os trabalhadores
poderiam ganhar mais se aumentassem sua produtividade.
É quase natural, neste momento, considerarmos a contribuição de outro
expoente da Escola Clássica, o francês Jules Henri Fayol (1841-1925). Seu tra-
balho é complementar ao de Taylor em diversos aspectos. Pode-se airmar que a
visão de Taylor é a visão do trabalho, da sistematização e padronização da forma
de se executar uma tarefa. Sem dúvida, esta é uma preocupação fundamental
para o administrador.
No entanto, o trabalho de Fayol é essencial, pois sua visão é a de topo, do
administrador na sua essência do ato de administrar. Motta (2003) lembra que
é de Fayol a clássica deinição das funções do administrador: planejar, organi-
zar, coordenar, comandar e controlar. O princípio básico do fayolismo é: “Em
toda classe de empresa, a capacidade essencial dos grandes chefes é uma capa-
cidade administrativa” (OLIVEIRA, 2002, p. 112).
Fayol elaborou os conhecidos princípios administrativos, entre eles des-
tacando-se o princípio da unidade de comando, da divisão do trabalho, da
especialização e da amplitude do controle (MOTTA, 2003). Fayol acreditava
que esses princípios poderiam ser universalmente aplicados por qualquer tipo
de organização, do exército à indústria. Uma de suas frases mais célebres é: “Não
existe nada rígido ou absoluto quando se trata de problemas de Administração. A
empresa deve ser tratada como um todo, isto é, globalmente” (FARIA, 2002, p. 36).
dos trabalhadores.
Essa experiência recebeu esse nome, pois foi conduzida na poderosa Western
Electric Company, situada no bairro Hawthorne, em Chicago. A Western Electric
era tão poderosa que empregava 30 mil empregados de 60 nacionalidades dife-
rentes, exportando para vários países, dentre eles o Brasil. Um de seus clientes
era a igualmente poderosa Bell do ramo de telefonia. A experiência na verdade
começou em 1924, em que dois grupos de pessoas foram selecionados para con-
duzir o experimento. Ao variar a iluminação para mais intensa a um dos grupos,
percebeu-se que a produtividade aumentava. Ao reduzi-la, isso também aconte-
cia. Por outro lado, no outro grupo, em que a iluminação não sofreu alteração,
a produtividade também seguia o mesmo movimento. Como não se chegou
a conclusões deinitivas nesta primeira tentativa, em 1927 os trabalhos foram
retomados sob a condução de George Elton Mayo, um psicólogo industrial aus-
traliano, professor de Harvard.
Mayo concluiu o trabalho em 1929 (próximo ao tempo de quebra da bolsa ameri-
cana), tendo-o conduzido com um grupo menor de funcionários. Seguindo uma
metodologia pré-determinada, Mayo chegou a algumas conclusões interessantes:
1. Veriicou-se uma tendência crescente do aumento da produtivida-
de, independente das mudanças nos períodos de descanso;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Dessa forma, o trabalho de Mayo revelou a importância não só da aplicação da
Ciência e da habilidade técnica, da sistematização das operações, como também
de organizar uma cooperação permanente.
Motta (2003) esclarece que após o trabalho de Mayo na Western Electric,
parece ter icado um tipo de relação entre moral, satisfação e produtividade. Isso
é um avanço em relação ao pensamento de Taylor do homo economicus. Mayo
provou uma faceta da natureza humana que poderia designar as pessoas como
“homo social”. Conforme Motta (2003, p.9),
[...] o homem é entendido como um ser cujo comportamento não pode
ser reduzido a esquemas mecanicistas, como um ser a um só tempo
condicionado por demandas de ordem biológica e social. O homem é
visto como amplamente movido por necessidades de segurança, apro-
vação social, afeto, prestígio e auto-realização (MOTTA, 2003, p. 9).
Então, temos estabelecido que a administração, sob esse novo enfoque, volta-se
para a obtenção de resultados e com o objetivo de atender ao cidadão, usuário
último de seus serviços.
É também interessante destacarmos que no governo do presidente Humberto
Alencar Castelo Branco, que governou de 1964 a 1967, houve uma primeira tenta-
tiva de implantar a administração pública gerencial no Brasil, com a transferência
de atividades de produção de bens e serviços para órgãos fora da administração
central, como autarquias, empresas públicas e de economia mista e fundações
(NASCIMENTO, 2010).
Em resumo, a administração pública gerencial, de acordo com Nascimento
(2010, p. 9), pretende:
■ Ser orientada para o cidadão;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Conforme vimos na Introdução, o mundo todo vem enfrentando essa realidade,
porém, devido à interligação global das nações no fenômeno da globalização,
surtos de crises em países distantes afetam fortemente nosso desempenho eco-
nômico, com relexos imediatos sobre a vida dos brasileiros.
Por essa razão, um conceito que não é necessariamente novo, mas que foi
resgatado com intensidade, principalmente no inal do século XX e início do
século XXI, vem auxiliar nas respostas efetivas aos problemas sociais: as orga-
nizações do Terceiro Setor.
motivos já icam evidentes no que consideramos até agora: o Estado, como promo-
tor exclusivo das políticas sociais, falhou – e, conforme vimos, não é exclusividade
do Brasil – em promover o bem-estar social e o combate às mazelas da desigual-
dade econômica. O próprio Estado padece de recursos para manter sua própria
estrutura, que dirá os interesses de seus cidadãos.
Por outro lado, as empresas, como organizações com inalidades lucrati-
vas, não são obrigadas a manter qualquer estrutura de compartilhamento de
seus resultados com a sociedade. Você provavelmente já ouviu a expressão res-
ponsabilidade social empresarial. Esse tema é mais uma iniciativa voluntária do
empresariado do que uma obrigação. É verdade que a sociedade pressiona as
empresas a promoverem a prática da responsabilidade social empresarial e, por
uma questão mercadológica – para manter uma imagem favorável perante seus
clientes, muitas empresas o fazem. Porém, a grande verdade é que o compartilha-
mento de seus resultados com a sociedade está mais vinculado às ideias de Adam
Smith (considerado o pai da economia moderna) e de Milton Friedman (econo-
mista renomado, ganhador do Prêmio Nobel de Economia), para quem a função
social das empresas é dar lucro dentro dos princípios permitidos por lei. Assim,
quando uma empresa produz um bem ou serviço que seja útil a alguma parcela
da sociedade, está aí cumprida sua função social, segundo estes economistas.
Sabemos que isso é muito pouco pelos recursos naturais e sociais que as
empresas utilizam. Os recursos naturais, a princípio, são de toda a humanidade
e não uma exclusividade para uso empresarial. Além disso, os recursos sociais,
na forma de mão de obra especializada ou não, são remunerados a taxas bem
inferiores à riqueza produzida pelos trabalhadores.
Assim, restaria ao Estado, dentro de suas três funções clássicas (alocativa, dis-
tributiva e estabilizadora), ordenar, formular e implementar medidas para garantir
a eiciência econômica, dando oportunidades semelhantes a todos os seus cida-
dãos de prosperarem. Mais uma vez chegamos à mesma encruzilhada: o Estado
não tem as condições necessárias para cumprir efetivamente esse propósito.
Assim, quase naturalmente, as organizações do Terceiro Setor vêm ocupar
esse vácuo deixado pelo público e pelo privado, fornecendo assistência aos des-
protegidos nas suas carências.
Evidentemente que esta discussão não pode ser rasa, ou seja, desprovida
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de uma participação expressiva da própria sociedade. Cavalcanti (2005, p. 198)
menciona que é necessário que as “políticas sociais passem de um estatuto de
carência para um de direitos”. Ou seja, de acordo com esse autor:
[...] a conluência de várias forças sociais, pela mudança de interesses
de classe arraigados nas instituições políticas e pelo reconhecimento,
dos diversos atores organizacionais, dos direitos de os cidadãos terem
acesso aos bens e serviços sociais. É um processo que exige a atualização
das propostas mediante o envolvimento dos diversos segmentos sociais
no âmbito das organizações e da própria sociedade (CAVALCANTI,
2005, p. 198 - 199).
Entenda que nessas parcerias o Estado não abre mão de suas obrigações legais,
mas sim atribui, mediante um termo de parceria, às organizações especialmente
constituídas para esse im, a ação social de competência estatal. Esta qualiicação é
especíica para as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP).
Existem outras formas de organizações sem ins lucrativos. A forma mais
conhecida são as Organizações Não Governamentais (ONGs). Conforme
Kauchakje (2008), o uso desse termo pela primeira vez foi pela Organização
das Nações Unidas – ONU na década de 1940. Porém, apenas na década de 1980,
com a possibilidade de parcerias com a gestão pública, tiveram uma proemi-
nência maior. Ainda de acordo com Kauchakje (2008, p. 81), essas organizações
abrangem “fundações e associações sem ins lucrativos, de direito privado, que
realizam ações de interesse público”.
A Tabela 8 abaixo nos auxilia a compreender as diferentes classiicações des-
sas organizações:
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derados necessitados e carentes. As pessoas
ONGs ilantrópicas que as compõem podem ter motivação
humanitária ou comunga-lás com princípios
religiosos, em uma relação estreita com
igrejas.
São entidades sem ins lucrativos vinculadas
às ações de responsabilidade social de de-
terminadas empresas, as quais, em contra-
ONGs empresariais
partida, podem obter benefícios iscais. No
geral, atuam por projetos de cunho humani-
tário e de proteção socioambiental.
Promovem ações sociais, culturais e ambien-
tais de interesse público, podendo remune-
OSCIPs rar sua Diretoria, e têm certa agilidade em
estabelecer parcerias com a Administração
Pública.
Tabela 8: Classiicação de organizações não governamentais
Fonte: o autor, baseado na íntegra em Kauchkje (2008, pp. 81 -82)
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Trabalho;
Finanças públicas;
Políticas Econômicas Desenvolvimento econômico local;
Arranjos produtivos locais;
Setores (agricultura, comércio, indústria)
Assistência social;
Habitação;
Trabalho;
Políticas Sociais
Saúde;
Educação;
Segurança alimentar
Crianças, adolescentes e jovens;
Idosos;
Políticas de Defesa de Direi- Gênero;
tos Especíicos Etnias;
Pessoas com deiciência;
Consumidor
Energia;
Transporte;
Políticas de Infraestrutura Redes de abastecimento de água;
Redes de coleta de esgoto;
Telecomunicações (redes e acesso público)
Demarcação de áreas verdes;
Políticas de Uso e Ocupação
Proteção de nascentes de água;
do Solo
Proteção às matas ciliares
Tabela 9: Eixos temáticos das políticas públicas
Fonte: o autor, com base em de Kauchakje (2008, pp. 64-65)
Perceba, pela Tabela acima, que as áreas de interesse do poder público são diversas,
no entanto, a atuação das organizações do Terceiro Setor não abrange a totali-
dade dessas áreas. Assistimos mais sua presença nas políticas ambientais e nas
políticas sociais com mais intensidade, e com um menor grau de atuação, tam-
bém nas políticas culturais e de defesa de direitos especíicos.
Volto a frisar que não são áreas compartimentalizadas, ou seja, as políticas
públicas se inter-relacionam em diversos momentos para atender ao conjunto
da sociedade. Assim, a atuação das organizações do Terceiro Setor deve levar
isso em consideração.
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vez que estimula uma logística reversa, muitos outros, o que se observa é o
na qual passa a interessar à empresa que acirramento da disputa pela coleta do
realiza a coleta a redução dos resíduos material entre os catadores autônomos
coletados. O resultado constatado é o e os integrantes dos projetos municipais.
apoio da empresa às ONGs visando redu-
zir os seus custos. Outro aspecto inovador na coleta sele-
tiva de Londrina é o real empenho da
Outro fator que sustenta a alta taxa de prefeitura em estruturar um modelo
coleta seletiva é a organização territo- que caminhe para a autonomia das
rial por meio da setorização da cidade ONGs com relação à coleta seletiva de
e incorporação dos catadores de rua. resíduos do município. Apesar dos discur-
Disso decorre a inexistência de coletas sos das prefeituras no sentido de apoiar
concorrentes e paralelas, assim como a autonomia das cooperativas, obser-
a quantidade coletada pelas ONGs de va-se uma tendência geral de tutelar e
forma autônoma é computada no pro- capitalizar a atuação das cooperativas/
grama municipal. Pode-se considerar associações. No caso de Londrina, cerca
este modelo inovador, uma vez que nos de quatro ONGs possuem sede própria, e
programas municipais de coleta sele- as demais operam em galpões que a pre-
tiva em que isto não ocorre, tais como feitura aluga apenas por um ano, após o
os de Santo André, São Paulo, Porto Ale- qual a ONG assume todas as responsa-
gre, Curitiba, Florianópolis, Embu, entre bilidades.
Fonte: <http://www.eaesp.fgvsp.br/subportais/ceapg/Acervo%20Virtual/Cadernos/Ex-
peri%C3%AAncias/2004/014programa_de_coleta_seletiva_de_londrina-reciclando_vidas.
pdf>. Acesso em: 31 Maio. 2016.
94 UNIDADE IV
Você já ouviu falar do índice de Gini? Este indicador foi criado por um matemá-
tico italiano (Conrado Gini) com o objetivo de medir a concentração de renda
de um grupo determinado. Tornou-se bastante utilizado para medir a concen-
tração de riquezas nos países.
Basicamente, a medição apresenta dois extremos: o Zero e o Um. Quanto
mais próximo de Zero, signiica uma melhor distribuição de renda, sendo o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
número absoluto Zero indicador de que todos possuem rendas iguais. Quanto
mais próximo do outro extremo, Um, signiica uma concentração de renda
maior, sendo o número absoluto Um indicador de que toda a renda está nas
mãos de uma só pessoa. As situações extremas não existem em nenhum país do
mundo. No entanto, na medição utilizando-se o Índice de Gini, o Brasil ocupa
uma desonrosa posição: de acordo com o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), só existem sete nações no mundo com uma concen-
tração de renda maior que a do Brasil. Veja esta realidade na Tabela 10, abaixo:
1 Hungria 0,244
2 Dinamarca 0,247
3 Japão 0,249
34 Índia 0,325
67 Portugal 0,385
76 EUA 0,408
90 China 0,447
93 Rússia 0,456
109 Argentina 0,522
112 México 0,546
118 Chile 0,571
119 Colômbia 0,576
(fazer crescer o “bolo”) para depois reparti-lo com a população, mas, infelizmente,
até hoje um contingente importante da população brasileira jamais experimen-
tou o sabor do “bolo” do desenvolvimento e da riqueza. Para se ter uma noção,
Nascimento (2010) menciona que cerca de 1,3 milhão de famílias no Brasil
detém o equivalente a 75% da riqueza da renda nacional e que a renda média da
população mais rica supera a renda média da população mais pobre em apro-
ximadamente 15 vezes.
Portanto, as demandas da sociedade por uma justa distribuição de renda
mobilizaram setores da sociedade civil que, em conjunto com o poder público,
tomaram algumas ações efetivas para compensar parcialmente a exclusão eco-
nômica e social de uma importante parcela da população.
Dessa forma, acionou-se uma das funções do Estado, a distributiva, e já no
governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2002), vários programas sociais
foram implantados, com destaque para o Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e o
Auxílio-Gás.
O programa Bolsa Escola foi implantado pelo prefeito José Roberto Magalhães
Teixeira (PSDB) em Campinas e depois foi federalizado pelo Presidente Fernando
Henrique Cardoso, conservando o mesmo nome.
Na Tabela 11 a seguir, você verá algumas características desses programas:
PROGRAMA CARACTERÍSTICAS
Programa gerido pelo Ministério da Educação (MEC)
que tinha por público-alvo famílias com crianças e/ou
Bolsa Escola
adolescentes em idade escolar, entre 7 e 15 anos, e com
renda mensal per capita de até R$ 90,00.
Programa do Ministério das Minas e Energia (MME), re-
gulamentado em 2002, que tinha por objetivo transfe-
Auxílio-Gás
rir R$ 15,00 a cada dois meses para famílias com renda
mensal per capita de até ½ salário mínimo.
Criado em 2001 pelo Ministério da Saúde, tinha como
público-alvo famílias com renda mensal per capita de
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Bolsa Alimentação
até R$ 90,00, com presença de gestantes, nutrizes e
crianças entre 0 e 6 anos de idade.
O Programa Nacional de Acesso à Alimentação – Cartão
Alimentação foi instituído pela Lei nº 10.689, de 13 de
Cartão Alimentação junho de 2003, cujo público-alvo era famílias com ren-
da entre R$ 50,01 e R$ 100, 00, sem crianças ou adoles-
centes na faixa etária de 0 a 15 anos.
Tabela 11: Características dos Programas de Distribuição de Renda do Governo FHC
Fonte: o autor, com base em dados obtidos no portal do Ministério do Desenvolvimento Social – MDS
ocorrem. Já são bem relatados casos de pessoas sem nenhuma real necessidade
recebendo recursos do Bolsa Família. Infelizmente isso acontece, o que põe em
dúvida a segurança do controle social exercido pelas ICS. No entanto, distorções
ocorrem não só neste programa ou nesta esfera de atuação pública. Por isso, os
setores mais atuantes da sociedade devem fazer valer sua visão iscalizatória e
sua voz de protesto.
O Programa Bolsa Família (PBF) é um pro- Infância (BSP). Os valores dos benefícios
grama de transferência direta de renda que pagos pelo PBF variam de acordo com as
beneicia famílias em situação de pobreza e características de cada família - conside-
de extrema pobreza em todo o País. O Bolsa rando a renda mensal da família por pessoa,
Família integra o Plano Brasil Sem Miséria o número de crianças e adolescentes de até
(BSM), que tem como foco de atuação os 16 17 anos, de gestantes, nutrizes e de com-
milhões de brasileiros com renda familiar ponentes da família.
per capita inferior a R$ 70 mensais, e está
baseado na garantia de renda, inclusão pro- A gestão do Bolsa Família é descentralizada
dutiva e no acesso aos serviços públicos. e compartilhada entre a União, estados,
Distrito Federal e municípios. Os entes
O Bolsa Família possui três eixos princi- federados trabalham em conjunto para
pais focados na transferência de renda, aperfeiçoar, ampliar e iscalizar a execução
condicionalidades e ações e programas do Programa, instituído pela Lei 10.836/04
complementares. A transferência de renda e regulamentado pelo Decreto nº 5.209/04.
promove o alívio imediato da pobreza. As
condicionalidades reforçam o acesso a A seleção das famílias para o PBF é feita
direitos sociais básicos nas áreas de edu- com base nas informações registradas
cação, saúde e assistência social. Já as ações pelo município no Cadastro Único para
e programas complementares objetivam Programas Sociais do Governo Federal,
o desenvolvimento das famílias, de modo instrumento de coleta de dados que tem
que os beneiciários consigam superar a como objetivo identiicar todas as famílias
situação de vulnerabilidade. de baixa renda existentes no Brasil.
O forte apelo social de distribuição de renda do PBF pode ser avaliado pelos
números relativos às regiões mais atendidas pelo programa.
Veja no Gráico 1, abaixo, como se dá essa distribuição:
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Tabela 12: Evolução numérica e percentual de famílias assistidas pelo PBF
Fonte: Queiroz et al. (2010), com base em dados do MDS
Pois bem, essa articulação, essa junção entre o público e o privado nos inte-
ressa especialmente, pois independentemente de fazermos parte do poder público
ou da sociedade civil, estamos em uma das extremidades dessa junção.
Estudaremos a junção ou articulação sob o ponto de vista da sociedade civil,
que muitas vezes, e por várias razões, aliena-se do processo de participação nos
rumos das políticas públicas.
Basicamente, podemos classiicar a participação popular em algumas expres-
sões bem evidentes: conselhos, iniciativa popular, audiência pública, plebiscito,
referendo, orçamento participativo, conferência de políticas, organização não
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MECANISMO DETALHAMENTO
Incentivados no Brasil a partir dos anos 1980, podem ser con-
sultivos ou deliberativos. Representam os interesses de diver-
sos segmentos e movimentos sociais e sua importância pode
Conselho ser avaliada pelo fato de que repasses podem ou não ser feitos
dependendo da existência do conselho. Alguns exemplos
são: conselhos de assistência social, saúde e educação. Podem
atuar nas três esferas do Poder (federal estadual e municipal).
Dispositivo que permite à sociedade apresentar leis para apro-
vação no Congresso Nacional. A Constituição Federal prevê
Iniciativa Po-
sua existência por meio do art. 61 § 2, estabelecendo que o
pular
projeto deva conter a participação mínima de 1% do eleitora-
do brasileiro, dividido em pelo menos cinco Estados.
Momento em que o Poder Público, de qualquer uma das
esferas, leva ao debate público um tema de interesse coletivo,
Audiência
como aprovação de contas, projetos com impactos socio-
Pública
ambientais, esperando sua manifestação, contra ou a favor,
visando a legitimação da ação realizada ou pretendida.
MECANISMO DETALHAMENTO
Mecanismo antigo (remonta ao Império Romano) em que
assuntos de interesse coletivo (como leis ou outro ato do
Plebiscito governo) e com grande potencial de impacto sobre as pessoas
são levados à discussão para manifestação e deliberação da
população.
Mecanismo muito parecido com o plebiscito, no entanto, ape-
Referendo nas com possibilidade de aceitação (SIM) ou rejeição (NÃO) de
lei já aprovada.
Representantes da sociedade civil são conclamados a partici-
Orçamento par na deliberação sobre o destino de verbas orçamentárias,
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Participativo de acordo com prioridades a serem estabelecidas em conjun-
to com o poder público.
Podem ocorrer nas três esferas de governo e visam a avaliação
por parte de segmentos da sociedade organizada de políticas
Conferência de práticas em períodos anteriores e traçar metas ou políticas
políticas para próximos períodos. Geralmente são utilizadas para ações
governamentais de assistência a setores como a assistência à
criança e ao adolescente, mulheres, indígenas, entre outros.
São redes temáticas e aglutinações de grupos de interesse
comum, visando promover um debate ampliado (regional, na-
Fóruns cional ou internacional) sobre assuntos diversos de interesse
coletivo, como a economia, meio ambiente, reforma agrária,
educação, entre outros.
São a base de outras manifestações sociais e podem ser
formados por diferentes setores da sociedade, com base em
contestação ou protesto, organização de ações, ideologias
Movimentos diversas, objetivo e projetos de sociedade. São comuns e mais
Sociais conhecidos os movimentos sociais para defender e debater
questões ligadas à reforma agrária (exemplo, o MST), a preser-
vação ambiental, a questões de gênero (exemplo, movimen-
tos GLBT), culturais (exemplo, hippies e punks), entre outros.
Tabela 13: Mecanismos de participação social nas políticas públicas
Fonte: o autor, com base em Kauchakje (2011)
Observe que os interesses são diversos e o Estado está presente na pauta de dis-
cussões em todas essas manifestações, ora contribuindo para a promoção dos
interesses reivindicados, ora por opor-se aos movimentos e necessitar de um
embate de ideias ou explicitações mais intensas dos movimentos.
Muitos não aprovam essas manifestações, porém, temos que aceitar o fato
de que grandes conquistas aconteceram através de manifestações sociais. Veja
o caso do direito de voto das mulheres, o direito de greve, a eleição direta para
presidente, os impedimentos de políticos, entre tantos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Chegamos ao inal desta Unidade e espero que você tenha apreciado os temas
aqui discutidos.
Vimos que as políticas públicas precisam ser articuladas com a participação
popular, que se manifesta de diferentes formas. Uma das formas mais conhe-
cidas são as organizações sem ins lucrativos que no Brasil têm sua expressão
mais visível nas ONGs. Porém, existem outras formas de participação popular,
como os fóruns, orçamentos participativos e movimentos sociais dos mais dife-
rentes setores.
Espero que você avalie as informações aqui expressas de forma isenta em um
primeiro momento, mas que, em seguida, avance suas pesquisas para formar um
arcabouço de conhecimento que lhe possibilite posicionar-se em relação ao que
já foi feito, o que está sendo conduzido na atualidade e o que se pode fazer ainda
no futuro, tanto por parte do poder público como pela sociedade civil organizada.
Da discussão e deliberações nascem soluções criativas, na ideia de Estado
moderno, voltado para resultados que beneiciem a sociedade como um todo e
os menos favorecidos, em particular.
A mudança do status quo econômico, do modelo capitalista, acumulativo,
para um mais democrático e participativo é uma discussão que deve ser feita,
porém, não pretendi que isso acontecesse neste espaço, pois o foco da disciplina
volta-se para outro viés.
Portanto, o desaio está lançado. Busque mais informações e forme-se como
um(a) proissional diferenciado(a) e atualizado(a) nas questões que são perti-
nentes a todos nós.
Considerações Finais
1. Em 2000, a ONU propôs o que icou conhecido como ODM – Objetivos do Milê-
nio. Pesquise sobre o assunto em: <www.objetivosdomilenio.org.br> e respon-
da: como você acha que o poder público nas três esferas está conduzindo este
assunto tão importante?
2. Pesquise a respeito da reforma agrária no Brasil e responda: por que é possível
que ocorra a reforma agrária no Brasil quando a Constituição Federal garante o
direito à propriedade privada?
3. Pesquise sobre o Fórum Econômico Mundial e o Fórum Social Mundial. Como
você avalia o posicionamento de cada um deles em relação aos interesses da
sociedade mundial?
104 - 105
MATERIAL COMPLEMENTAR
Revolução em Dagenham
Gênero: Comédia
Classiicação etária: 16 anos
Tempo de Duração: 113 minutos
Ano de Lançamento: 2010
Estúdio/Distrib.: Sony Pictures
Direção: Nigel Cole
Sinopse: Recomendo que você assista a esse ilme fantástico:
Revolução em Dagenham. O ilme é baseado em uma situação
ocorrida no Reino Unido quando trabalhadoras de uma fábrica
da Ford pararam a produção de bancos, reivindicando a igualdade
salarial para as mulheres. Alguns consideram que essa greve foi decisiva para que o parlamento
britânico aprovasse o Projeto de Paridade Salarial em 1970.
Material Complementar
Professor Me. Julyerme Matheus Tonin
V
ESTRATÉGIAS PARA A
UNIDADE
EFETIVAÇÃO DE POLÍTICAS
PÚBLICAS DE QUALIDADE
Objetivos de Aprendizagem
■ Demonstrar que a concepção do Estado e as funções a seu cargo
inluenciam o processo de elaboração de indicadores.
■ Com base na concepção de orçamento público, avaliar como ocorre
o processo de elaboração de políticas públicas.
■ Apresentar como ocorre o processo de avaliação das políticas
públicas, discorrendo sobre o conceito de avaliação, as etapas a
serem seguidas e as diferentes formas de classiicação.
■ Analisar os conceitos relacionados a indicadores, como deinição,
caracterização e classiicação, e demonstrar a importância dos
indicadores para a auditoria e controle social.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ A focalização: política, estratégia
■ Funções do Setor Público
■ Concepção de Estado
■ Metodologia das Políticas Públicas
■ Processo de Elaboração de Políticas
■ Avaliação de resultados
■ O orçamento como instrumento de gestão
■ O conceito de avaliação de políticas públicas
■ Etapas do processo de avaliação de políticas públicas
■ Indicadores sociais e o controle social
■ Deinição de indicadores
■ Características dos Indicadores
109
INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a),
O conteúdo apresentado nesta seção constitui-se em um relevante subsídio para
que você possa formular, implementar e também avaliar políticas públicas.
Espera-se superar a visão simplista de que a elaboração de políticas públicas
é a simples operacionalização de um conjunto de normas, procedimentos dis-
postos em um manual, para então vislumbrar a multiplicidade de aspectos que
devem ser levados em conta para a adequada formulação de políticas públicas,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
110 UNIDADE V
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ao longo do tempo diversos fatores, os quais justiicavam a atuação do Estado.
Segundo Moretto (1994), o estudo de Adolph Wagner foi pioneiro ao demons-
trar a crescente importância da atividade governamental na economia. Rezende
(2006) elenca alguns pontos que necessitam da atuação do Estado: promoção
do bem-estar social com distribuição de renda mais equitativa, ampliação das
atividades previdenciárias e de assistência social, produção de bens públicos.
Giambiagi e Alem (2008) complementam, indicando uma série de fato-
res que contribuíram para a maior atuação do setor público ao longo dos anos,
como: existência de falhas de mercado, existência de monopólios naturais, assi-
metrias de informação, externalidades, mercados incompletos e ocorrência de
desemprego e inlação.
Mathias-Pereira (2012) salienta que os múltiplos aspectos inerentes ao
processo de globalização, em âmbito econômico, tecnológico, social, cultural,
trabalhista, entre outros, contribui para uma maior atuação do Estado na econo-
mia. Enim, ao longo do tempo, o surgimento de novas tecnologias, as mudanças
demográicas, maior longevidade da população e todos os demais aspectos já
elencados modiicaram sobremaneira a atuação do setor público na economia.
Ademais, tais airmações comprovam a relevância da participação do Estado
na provisão dos serviços públicos.
CONCEPÇÃO DE ESTADO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
o problema da forma como serão destinados os recursos. Sabendo que as políti-
cas universalistas são as que determinam que os recursos devam ser distribuídos
a toda a coletividade e as políticas focalizadas pregam que haja um redirecio-
namento dos recursos para as classes ou os estratos mais desprivilegiados da
sociedade, a pergunta é: qual o modelo mais adequado?
Querendo ou não, a focalização ou universalização são alternativas de se alo-
car recursos escassos e a avaliação de qual é a melhor alternativa segue o mesmo
itinerário da avaliação de políticas públicas em geral, ou seja, por meio de indica-
dores. Essa será a temática que trataremos com mais detalhes nas próximas seções.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
subconjuntos de despesas. Exemplo: infraestrutura econômica.
■ Programa - instrumento de organização da ação governamental para
atingir os objetivos previamente estabelecidos. Exemplo: transportes;
que podem ser desagregados ainda em subprogramas, como transporte
rodoviário.
■ Projeto - instrumento de programação, o conjunto de operações limitado
no tempo, das quais resulta um produto com a inalidade de alcançar o
objetivo pretendido no programa. Exemplo: aquisição de um ônibus para
transporte de estudantes.
■ Atividade - também é um instrumento de programação, porém, a dife-
rença para o projeto é que as operações se realizam de modo contínuo e
permanente para a consecução dos objetivos. Exemplo: pagamento dos
salários e demais encargos dos funcionários públicos que atuam no trans-
porte público.
AVALIAÇÃO DE RESULTADOS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
capacidade de atuação do Governo; comparar esforços com resultados obtidos;
propor reformulações ou identiicar responsável por eventuais falhas no pro-
cesso, entre outros aspectos. O processo de avaliação não é só um estágio do ciclo
de políticas públicas, mas um instrumento de modernização da gestão pública.
Cabe destacar que todas as receitas e despesas do setor público estão estrutu-
radas em um importante instrumento de gestão, conhecido como orçamento
público. Giacomoni (2009) destaca a multiplicidade de aspectos do orçamento
público, dado que o mesmo abarca aspectos políticos, econômicos, programáti-
cos, gerenciais, inanceiros e sociais. Nesse contexto, o orçamento não pode ser
visto apenas como uma lista de muitas despesas do setor público, sendo que em
um sentido mais amplo, o orçamento é visto como um instrumento das ações
da administração pública, isto é, ele identiica e mensura com precisão tudo o
que deve ser feito pelas instituições públicas, quanto custa, quanto tempo leva a
execução, para que serve e os resultados pretendidos.
Desse modo, o orçamento, que era meramente um “instrumento de previ-
são das receitas e autorização das despesas públicas” (SILVA, 1973), conhecido
como orçamento tradicional, sofreu uma série de transformações ao longo do
tempo. Nesse ínterim, as políticas públicas eram consideradas como outputs do
sistema político.
Avaliação de Resultados
118 UNIDADE V
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decisão. No caso do setor público, avalia-se uma determinada atuação por meio
de um programa, por exemplo, e atribui-se um “valor” ao resultado advindo dessa
iniciativa governamental. Para Garcia (2001), o processo de avaliação refere-se à
constatação de um valor desejado nos resultados de uma ação empreendida pelo
setor público, tendo como base uma série de critérios predeinidos.
Para Rico (1998), o processo de avaliação deve compreender a formulação,
implementação, execução, resultados e impactos. Para Araújo e Loureiro (2005),
o processo de avaliação pode ser entendido como uma forma de accountability,
ou seja, um instrumento de prestação de contas por parte do gestor público.
Enim, o processo de avaliação deve ser entendido como um mecanismo que
proporciona melhorias no processo de tomada de decisão.
A propriedade desejada em um sistema de avaliação é o fornecimento de
informações acerca de um objeto de estudo. Porém, não basta se empenhar na
geração de informações, deve-se utilizar essas informações de maneira adequada.
Trevisan e Bellen (2008) destacam que as informações geradas no processo de
avaliação ainda são pouco utilizadas.
Avaliação de Resultados
120 UNIDADE V
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Figura 7 - Esquema de Análise das Políticas Públicas
Fonte: adaptado de Subirats (1989)
Nesse contexto, Rico (1998) destaca que a avaliação de programas sociais tor-
nou-se um grande desaio em decorrência de suas especiicidades, sendo que os
resultados de uma dada ação podem ser decorrentes de múltiplas causas e fatores.
Faria (2005) salienta que a política de avaliação das políticas públicas, desde
a década de 1960, geralmente é classiicada em função do tempo, ou seja, antes,
durante e depois da implementação da política ou de determinado programa.
Mas também há outras classiicações, quanto à posição do avaliador em relação
ao objeto avaliado, podendo-se segregar em avaliação interna, externa e semi-
dependente ou mista, e quanto à natureza do objeto avaliado, inserindo-se as
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avaliações de contexto, insumos, processos e resultado.
Na classiicação quanto à posição do avaliador, Braga, Carvalho e Coelho
(2011) enfatizam que o processo de avaliação contempla a atuação de agentes
externos, ao fato estudado, enquanto que o monitoramento se constitui em uma
atividade interna, que compete ao gestor público.
Para Cunha (2006), como vantagem da avaliação interna, tem-se a menor
resistência de colaboração dos participantes, o que é comum na presença de um
avaliador externo e também a aprendizagem, o maior entendimento, a possibili-
dade de relexão dos indivíduos que já têm contato com a atividade selecionada
para avaliação.
No tocante à avaliação externa, Cunha (2006) salienta a isenção e objetividade
dos avaliadores como pontos positivos. A autora também destaca a existência
da avaliação mista, que é uma combinação das duas modalidades anteriores, e
a avaliação participativa, a qual possibilita a participação dos beneiciários das
ações em todas as fases, ou seja, no planejamento, na programação, execução e
na avaliação dos resultados.
Sobre a classiicação quanto à natureza do objeto avaliado, Costa (2008)
enfatiza que a avaliação de contexto tem como característica a preocupação de
identiicar oportunidades de responder às necessidades da população, ou seja,
nesse tipo de avaliação, realiza-se o julgamento quanto aos objetivos propostos,
se os mesmos são úteis para atender às necessidades analisadas.
Por sua vez, na avaliação de insumo, a autora destaca que nessa modalidade
de avaliação, busca-se analisar os procedimentos a serem implementados, ou
seja, a adequação da estratégia aos recursos disponíveis.
Avaliação de Resultados
124 UNIDADE V
de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
próximo passo é a execução das atividades, que por sua vez geram os produtos,
dos quais se quantiicam os efeitos e veriicam-se os impactos, enim, o processo
de avaliação é um processo dinâmico em que os resultados obtidos servem para
reorientar o desenho dos projetos e auxiliam na tomada de decisão.
Porém, sabendo-se a evolução teórica acerca do processo de avaliação de
políticas públicas, na prática é reconhecida a fragilidade de avaliação dos pro-
gramas e projetos a cargo do governo. Existe um longo caminho a ser trilhado
no tocante ao desenvolvimento de indicadores, sendo que o próximo tópico elu-
cida os principais aspectos conceituais sobre indicadores.
OS INDICADORES SOCIAIS
DEFINIÇÃO DE INDICADORES
Segundo Ferreira, Cassiolato e Gonzales (2009), citados por Brasil (2010), Tribunal
de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR, 2011), indicadores são:
O indicador é uma medida, de ordem quantitativa ou qualitativa,
dotada de signiicado particular e utilizada para organizar e captar
as informações relevantes dos elementos que compõem o objeto da
observação. É um recurso metodológico que informa empiricamente
sobre a evolução do aspecto observado (FERREIRA, CASSIOLATO,
GONZALES, 2009; BRASIL, 2010; TCE-PR, 2011).
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a Constituição Federal de 1988 e o seu arcabouço institucional que permitia a
criação de um sistema social de proteção bastante abrangente, os indicadores
sociais passaram a ser utilizados com mais frequência. A ideia era avaliar servi-
ços como saúde, educação, previdência e assistência social.
Enim, o indicador é um elemento fundamental para a execução do moni-
toramento e avaliação de políticas públicas. É por meio de indicadores que de
fato está se traduzindo, em números, uma determinada realidade. Com a apre-
sentação de indicadores, busca-se demonstrar de forma mais palatável, ou seja,
de forma simpliicada e de fácil compreensão, uma determinada atuação do ges-
tor público.
Sem o indicador, seria um tanto quanto complicado, para não dizer intan-
gível, a observação dessa mesma atuação em um emaranhado de números e
classiicações, que estão presentes no orçamento público. Ou seja, com o indi-
cador, estamos traduzindo um determinado registro em algo mais operacional,
prontamente disponível; estamos transformando informações acerca da atua-
ção pública em algo observável para a população em geral.
Mas não podemos esquecer que o indicador é uma “ferramenta” e não um
im em si. Por exemplo, no painel de um automóvel, você tem uma série de indi-
cadores, mas o foco do motorista está sempre no caminho a ser seguido. Quando
julgar necessário, o mesmo pode prontamente consultar seus indicadores, veri-
icar se é necessário abastecer, reduzir a velocidade, consultar a temperatura do
motor etc. Esse exemplo ilustra a função de apoio dos indicadores. Na sequên-
cia, iremos analisar algumas características dos indicadores.
PROPRIEDADE REQUISITOS
Representatividade
Simplicidade
Relevância para for- Sensível a mudanças
mulação de políticas Possibilita comparações em nível internacional
Possui escopo abrangente
Possui valores de referência
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PROPRIEDADE REQUISITOS
Fundamentado cientiicamente
Baseado em padrões internacionais e possui consenso
Adequação à análise sobre a sua validade
Utilizável em modelos econômicos, de previsão e em
sistemas de informação.
Viável em termos de tempo e recursos
Mensurabilidade Adequadamente documentado
Atualizado periodicamente
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Quadro 7 - Requisitos necessários para um indicador
Fonte: OCDE (2002 apud BRASIL, 2010)
A natureza do indicador relete de forma mais ampla o fenômeno que está sendo
estudado. Podemos ter indicadores que reletem o comportamento da econo-
mia de um determinado país (PIB, exportações, inlação etc.), ou que retratam
características sociais da população desse país (IDH, PIB per capita, renda etc.),
ou ainda, mudanças no ambiente de análise ao qual o indicador está inserido
(crescimento sustentável, progresso técnico, capacidade inovativa etc.). Por sua
vez, a área temática divide os indicadores em grandes áreas de atuação do gestor
público, como saúde, educação, segurança, saneamento básico, previdência etc.
Quando se avalia a complexidade de um indicador, conforme exposto por
Jannuzzi (2005), busca-se avaliar se o indicador consiste na simples apresenta-
ção de um dado (indicador analítico) ou na ponderação ou agregação de diversas
informações para retratar uma determinada realidade (indicador sintético).
Madeira (2012) acrescenta que nos indicadores analíticos, é necessário dividir o
indicador simples, que representa um valor numérico, do indicador composto,
que representa a relação entre duas ou mais variáveis, sendo que essa relação
pode ser: proporção, porcentagem, razão ou taxa.
Nesse sentido, o desenvolvimento de indicadores sintéticos amplia a com-
plexidade na elaboração dos indicadores, sendo necessária uma adequada
fundamentação cientíica. Porém, esse indicador condensa uma série de infor-
mações em um índice. A Figura 9 apresenta a relação entre agregabilidade e os
dados utilizados em um determinado indicador.
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Figura 9 - Pirâmide da Informação
Fonte: Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão (BRASIL, 2010)
CLASSIFICAÇÃO CARACTERÍSTICA
Indicadores que apresentam uma estreita relação com
os recursos a serem alocados, reletem a disponibilidade
INSUMO de recursos inanceiros, humanos, físicos etc. Exemplo:
número de leitos hospitalares por mil habitantes, número
de professor por quantidade de aluno.
CLASSIFICAÇÃO CARACTERÍSTICA
Indicadores que medem o esforço empreendido para ob-
tenção dos resultados informam o nível de utilização dos
PROCESSO
insumos. Exemplo: número de matrículas nos anos iniciais
da educação fundamental.
Indicadores que medem o alcance das metas físicas, ex-
PRODUTO pressam a entrega dos serviços públicos. Exemplo: número
de crianças vacinadas.
Indicadores que reletem os benefícios advindos de uma
RESULTADO determinada política pública. Exemplo: redução da taxa de
mortalidade, redução da taxa de analfabetismo.
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De acordo com TCE-PR (2011), também é necessário acrescentar mais uma clas-
siicação no tocante à avaliação de desempenho: os indicadores de conformidade.
Esses indicadores avaliam o cumprimento de limites e critérios constitucionais e
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Figura 10 - Correlação entre tipos de indicadores e o luxo de implementação de Programas
Fonte: Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão (BRASIL, 2010)
Cabe destacar que no passo 2, que deine como mensurar, é necessário também
deinir o tipo de indicador a ser utilizado. Brasil (2010) distingue três tipos de
indicadores nesse contexto:
■ Indicadores-chave - expressam o conceito ou dimensão mais relevante
do objetivo proposto.
■ Indicadores complementares - são medidas que expressam tanto a dimen-
são mais relevante quanto as demais dimensões inseridas no objetivo.
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social. O controle social nada mais é do que a ativa participação da sociedade,
exigindo a prestação de serviços de qualidade. O controle social extrapola a prá-
tica de controle interno e externo, sendo que com a participação da sociedade
civil organizada, é possível monitorar constantemente as ações da administra-
ção pública e sua aplicação de recursos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bons estudos!
Considerações Finais
1. Os observatórios sociais são importantes organizações sem ins lucrativos esta-
belecidos primeiramente em nível municipal, para acompanhar os atos do po-
der público, visando promover uma maior transparência perante a sociedade.
Pesquise em sua cidade, ou em região próxima, a existência de um observatório
social. Como está a atuação desta entidade em sua região? Você a considera efe-
tiva?
2. O TCU é um órgão público que faz o acompanhamento e iscalização da aplica-
ção dos recursos públicos em projetos das três esferas do poder. Pense: como o
trabalho do TCU poderia ser mais visível para a população em geral?
3. Os Objetivos do Milênio – ODM foram estabelecidos em 2000 pela ONU, visan-
do promover uma série de ações por parte do poder público e da sociedade
organizada, com a inalidade de melhoria na condição de vida da população.
Pesquise os indicadores do ODM. Na sua cidade, existem indicadores do ODM
disponíveis?
136 - 137
CONCLUSÃO
Prezado(a) aluno(a),
Chegamos ao inal de nosso material e esperamos, como professores, que seu apro-
veitamento tenha sido valioso para você.
Sabemos que os alunos de educação a distância são por demais engajados em seu
aprendizado e, particularmente, os alunos de seu curso possuem um peril crítico, o
que é extremamente valioso para a construção do conhecimento.
Sem dúvida, os conceitos abordados ao longo deste livro nos levaram a conhecer
melhor as bases das políticas públicas praticadas no Brasil e sua ligação com o papel
do Estado de forma geral, proporcionando condições de desenvolvimento econô-
mico e social à sua população.
Experimentamos no Brasil nas últimas décadas uma série de crises, que foram com-
batidas utilizando-se métodos ortodoxos e heterodoxos, com resultados discutíveis,
mas com consequências diretas sobre as pessoas: algumas prosperaram sensivel-
mente e conseguiram sua emancipação econômica e social. Outras mergulharam
ainda mais no abismo da pobreza e da exclusão, tornando-se objeto central das
práticas estatais de assistência.
Somos cidadãos brasileiros e sentimos em nossa pele os efeitos de momentos eco-
nômicos bons e ruins. O mundo está conectado e o Brasil não é, de forma alguma,
uma ilha. Qualquer movimento mais intenso da economia global bate às nossas
portas imediatamente. Não podemos ter absoluta certeza da estabilidade econômi-
ca, embora todos a apreciamos. Porém, temos que ter a consciência de que o poder
público deve ser cobrado quanto à formulação de estratégias efetivas de atenção
social, pois nem todos prosperaram da mesma forma. Além disso, a própria socieda-
de organizada precisa cumprir seu papel por devolver de alguma forma, em alguma
parcela, aquilo que usufruiu e que, na realidade, é de todos, ricos ou pobres, que são
os recursos naturais que formam a riqueza coletiva. Por isso, um repensar de posi-
cionamento, uma nova forma de entender a complexidade social, deve nos levar a
ações efetivas de compartilhamento de responsabilidades, sociedade civil e Estado,
com um propósito comum: eliminar ou pelo menos reduzir signiicativamente as
desigualdades.
Por isso as parcerias são importantes, os indicadores de acompanhamento social
são imperativos e também a participação efetiva do cidadão nas discussões que o
afetam e que podem afetar segmentos especíicos da sociedade.
Vimos ao longo deste livro os seguintes tópicos:
Na Unidade I, deinimos algumas funções do setor público, a evolução deste setor e
sua estrutura. Esta consideração nos proporcionou uma visão sistêmica do papel do
setor público na sociedade brasileira e sobre sua área de atuação.
Na Unidade II, deinimos as políticas públicas e a evolução e importância destas
políticas, bem como conceituamos seus principais tipos.
CONCLUSÃO
Na Unidade III, abordamos uma das áreas mais sensíveis das políticas públicas, que é
a educação. Um país, como bem diz o nosso Reitor, só pode ser considerado desen-
volvido se tem a educação como ponto central de suas políticas. Praticamente todo
o resto se desenvolve a partir de uma educação de qualidade. Por isso, analisamos o
papel das políticas públicas sobre a educação no Brasil, demonstramos a evolução
dos investimentos em educação em uma década, e discutimos sobre a distribuição
de responsabilidades quanto à educação no caso brasileiro.
Na Unidade IV, consideramos as políticas sociais e as parcerias do poder público
com iniciativas sociais privadas, que trazem resultados positivos signiicativos à so-
ciedade. Abordamos algumas políticas de distribuição de renda praticadas pelo go-
verno federal e os resultados obtidos.
Finalizando nossos estudos, na Unidade V versamos sobre indicadores de desem-
penho, e estudamos como esses indicadores são elaborados, sua importância para
a qualidade das políticas públicas, principalmente quanto às auditorias e controle
social.
Sem dúvida, como frisamos no início, o assunto é extenso e complexo, sujeito a
todo tipo de discussões acaloradas, pois alguns setores discordam na forma como
as políticas públicas e sociais são conduzidas, dependendo de sua partidarização.
Entendemos perfeitamente essa posição e isso é o que há de belo na democracia,
o direito de expormos nossas concordâncias e discordâncias e também o direto de
participarmos do processo de forma mais engajada e efetiva.
Ficamos satisfeitos por você ser o tipo de aluno(a) questionador e sempre famin-
to(a) por mais conhecimento. Esperamos que este material o(a) instigue a buscar
ainda mais conteúdos sobre o tema. Nunca desista em sua busca pela excelência
do aprendizado!
Conte sempre conosco.
Os professores da Unicesumar estão sempre à sua disposição!
Um grande abraço e sucesso na sua vida acadêmica, pessoal e proissional.
138 - 139
REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS
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