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EDUCAÇÃO
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
SEJA BEM-VINDO(A)!
Prezado(a) acadêmico(a), nossa disciplina, Psicologia da Educação, é um dos fundamen-
tos da prática pedagógica. Seu estudo nos possibilita uma visão do educando por meio
de seus processos de desenvolvimento e também descreve as maneiras como a apren-
dizagem ocorre e quais são os seus condicionantes.
Sabendo da importância desta disciplina e também do seu apelo motivacional para to-
dos os acadêmicos(as), pois também favorece a compreensão dos nossos próprios pro-
cessos de desenvolvimento, esperamos que você encontre no seu estudo o prazer da
busca de uma qualiicação que possa fazer da proissão docente o seu futuro e também
a compreensão do seu próprio eu, pelo entendimento dos processos de sua construção.
O material foi escrito em duas mãos, por uma proissional da Educação e uma da Psi-
cologia, ambas atuantes no campo da docência, mais especiicamente, no ensino da
Psicologia Escolar. Compreendemos a importância de uma abordagem pluridisciplinar
dos fenômenos que ocorrem na escola, dentre os quais se incluem os processos de de-
senvolvimento e aprendizagem de crianças e jovens. Assim, a Psicologia é um dentre
outros fundamentos da ação educativa e base de compreensão dos fenômenos indivi-
duais e sociais que condicionam e ao mesmo tempo resultam dos processos educativos
que ocorrem no contexto escolar.
Assim, esperamos que você faça uma relexão crítica sobre as teorias apresentadas e
busque, a partir destes referenciais, reletir sobre a prática pedagógica possível e neces-
sária para que a escola possa contar com o vigor e a esperança da sua ação fundamen-
tada cientiicamente para promover uma transformação social na busca de realidades
mais justas, igualitárias e solidárias.
Somos a professora Rachel Brotherhood e a professora Waléria Henrique dos Santos Le-
onel e elaboramos este material sobre Psicologia da Educação. Queremos ajudá-lo(a)
a ler o material para que ele atinja seu objetivo. A inalidade desta apresentação é fa-
vorecer a sua compreensão do livro, que trata dos processos psicológicos e sociais que
ocorrem na escola.
A Psicologia da Educação reúne estudos de diversas áreas, buscando compreender o
homem e explicar os processos sociais, cognitivos e afetivos no qual ele se insere. Para
explicá-lo(a), a Psicologia lança mão da sociologia, da epistemologia, da antropologia,
dentre outras ciências, cujo objeto de estudo também é o ser humano.
Na unidade I deinimos aprendizagem e mostramos que o sentido deste termo está li-
gado a diferentes visões epistemológicas. Assim, no início do nosso livro, conceituamos
aprendizagem, seus objetivos e outros conceitos básicos, como os conceitos de me-
tacognição, raciocínio e estratégias de aprendizagem, além de apresentarmos alguns
fatores interferentes no processo, e indicarmos as possibilidades de trabalhar com tais
conceitos, isto é, as diferentes teorias pedagógicas às quais eles correspondem. Aborda-
mos também os objetivos do processo formal de educação.
APRESENTAÇÃO
A violência escolar, sobre a qual vamos direcionar nossa atenção ao bullying, é uma
temática que exige nossa relexão, pois na atualidade é uma questão que tem se tor-
nado desaiadora e resulta em consequências extremamente negativas para as pes-
soas envolvidas e para o ambiente escolar. A unidade V ainda abrange o conceito e a
importância da família na formação do indivíduo, a educação moral e a socialização,
e diferentes maneiras de enfrentar os dilemas da escola. Na leitura desta unidade,
procure questionar o texto, dialogar com ele, complementá-lo e enriquecê-lo com
sua própria experiência.
Esperamos, com esse enfoque da Psicologia da Educação, favorecer sua formação
proissional, dando ao ensino um caráter de prática social viva e multidisciplinar,
cientiicamente fundamentada e individualmente compreendida e construída. Bom
estudo!
11
SUMÁRIO
UNIDADE I
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO HUMANO: CONCEITOS
BÁSICOS
17 Introdução
25 Desenvolvimento
42 Considerações Finais
UNIDADE II
51 Introdução
69 Considerações Finais
SUMÁRIO
UNIDADE III
DESENVOLVIMENTO SÓCIOCOGNITIVO NA INFÂNCIA E NA
ADOLESCÊNCIA
77 Introdução
88 O Desenvolvimento Moral
91 Considerações Finais
UNIDADE IV
O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
101 Introdução
UNIDADE V
TEMAS EMERGENTES NA ESCOLA CONTEMPORÂNEA
123 Introdução
171 Conclusão
173 Referências
181 Gabarito
Professora Dra. Rachel de Maya Brotherhood
Professora Me. Waléria Henrique dos Santos Leonel
APRENDIZAGEM E
I
UNIDADE
DESENVOLVIMENTO HUMANO:
CONCEITOS BÁSICOS
Objetivos de Aprendizagem
■ Estudar a Psicologia da Educação como área do conhecimento:
objeto de estudo.
■ Compreender as principais dimensões da Psicologia da Educação.
■ Conhecer o processo de desenvolvimento e aprendizagem em
diferentes abordagens teóricas.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Aprendizagem e desenvolvimento humano: conceitos básicos
■ Fatores que inluenciam a aprendizagem
■ Desenvolvimento
■ A psicologia evolutiva no século XX
■ Compreendendo as inluências do processo de maturação e do
ambiente no desenvolvimento
■ Compreendendo o desenvolvimento na ênfase sócio-histórica
cultural
■ Fatores determinantes do desenvolvimento
17
INTRODUÇÃO
Introdução
18 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO HUMANO:
CONCEITOS BÁSICOS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Pedagogia Tecnicista (LUCKESI, 2011).
Os objetivos comportamentais da prática pedagógica deveriam colocar ênfase
no conteúdo e deinir critérios de execução e parâmetros de avaliação eicientes,
capazes de direcionar a prática escolar. Funcionavam quase como uma “camisa
de força” da ação do professor, não permitindo nenhuma lexibilidade e/ou adap-
tação às características dos alunos.
Com o advento das denominadas Pedagogias Críticas, a formulação de
objetivos foi amplamente atacada e inalmente perdeu seu signiicado no pla-
nejamento escolar.
Atualmente, observa-se um movimento de retomada desse processo com
uma conotação diferente (LUCKESI, 2011). O autor defende que há, na formu-
lação de objetivos comportamentais, uma qualidade a ser retomada neste início
de século XXI e argumenta que os objetivos trazem:
O entendimento e a coniguração clara do que se deseja ao exercitar as
práticas pedagógicas no ensino escolar, formulado em termos precisos
e organizados, tendo por base processos fundamentais da psicologia
humana relacionados com o ensino e a aprendizagem (LUCKESI, 2011,
p. 39).
1 Leia na íntegra o artigo: LUCKESI, Cipriano. Taxonomia: de objetivos educacionais – sessenta anos depois. Educatrix: a
Assim, a inalidade do trabalho educativo seria, segundo Rios (2006, p. 61), uma
educação que buscaria “[...]a realização do bem comum, como inalidade da ação
coletiva dos seres humanos vivendo em sociedade”. Para cumprir tal inalidade,
a autora defende o equilíbrio na articulação de todas as capacidades dos seres
humanos, tanto para intervir na realidade como para se relacionar com os seus
semelhantes, entretanto, também enfatiza a importância dos conteúdos nessa ação
e destaca que o valor destes estaria em não se restringir a conceitos, mas englo-
bar também comportamentos e atitudes como explicitado na seguinte citação:
Se a educação é um processo contínuo de busca de um saber ampliado
e aprofundado, de um viver inteiro, é preciso que os indivíduos estejam
inteiros nesta busca. Ao lado da razão, a imaginação, os sentimentos, os
sentidos são instrumentos de atuação na realidade e criação de saberes
e valores. O bom ensino será, então, estimulador do desenvolvimento
desses instrumentos/capacidades (RIOS, 2006, p. 61).
Revista que pensa a Educação, Natal: Editora Moderna, ano 1, n. 1, p. 39-47, set. 2011. Disponível em: <http://issuu.com/
ed_moderna/docs/educatrix_edicao_01>. Acesso em: 22 abr. 2015.
2 Os pressupostos apresentados e explicitados por Paulo Freire em sua obra “Pedagogia da Autonomia” (1996) são:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
conhecimentos, formação cultural, desenvolvimento de hábitos, atitudes
e valores? Para que ensinar? Que materiais, equipamentos, mídias preci-
sam ser mobilizados no processo de ensino?
ENSINAR EXIGE: 1) rigorosidade metódica; 2) pesquisa; 3) respeito aos saberes dos educandos; 4) criticidade; 5)
estética e ética; 6) corporeiicação das palavras pelo exemplo; 7) risco, aceitação do novo, rejeição a qualquer forma de
discriminação; 8) relexão crítica sobre a prática; 9) reconhecimento e assunção da identidade cultural.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
analisar e avaliar como se conhece” (RIBEIRO, 2003, p. 109).
Alunos com desempenho escolar insatisfatório apresentam claros atrasos no
desenvolvimento metacognitivo, ou seja, um dos pontos principais de diferença
entre alunos com alto e baixo desempenho escolar é o grau de autorregulação
da aprendizagem deles.
DESENVOLVIMENTO
Desenvolvimento
26 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Para chegar a essa compreensão, iniciamos este item apresentando as prin-
cipais orientações teóricas da Psicologia Evolutiva no último século. A seguir,
explanamos o conceito de desenvolvimento adotado por alguns autores repre-
sentativos da Psicologia Evolutiva e o papel atribuído à herança e ao ambiente
por esses autores. Para concluir, aprofundamos um pouco as visões de Piaget e
Vygotsky neste campo.
3 As ideias expostas neste item são defendidas principalmente por Pallacios (1988 apud COLL; MARCHESI; PALACIOS,
2004).
Vale ressaltar que é também neste período (século XVII, XVIII) que movi-
mentos culturais e religiosos, como o IIuminismo e o Protestantismo, deram
origem a uma visão de infância diferente daquela da Idade Média. Pois até então
considerava-se a criança como adultos menores, mais frágeis e menos inteligen-
tes. Na Idade Média, as crianças se tornavam aprendizes no sistema de trabalho
a partir dos 7 anos, sob a tutela de um adulto, passando a ter responsabilidades
que se tornavam progressivamente mais próximas daquelas do adulto.
Os avanços das descobertas cientíicas oportunizaram que se diminuísse o índice
de mortalidade infantil até então, muito comum nesse período da história, ainda
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no século XVII, de forma gradativa, passou-se a considerar a criança como dife-
rente do adulto, o que até então não ocorria, a ela era permitido participar de todas
as atividades dos adultos, incluindo trabalho e festas (FONTANA; CRUZ, 1997).
Segundo Fontana e Cruz (1997), no século XVIII, Rousseau traz suas ideias
sobre a criança apontando a diferenciação do funcionamento da mente da criança
e do adulto, possibilitando com isso o estudo da criança e do seu comportamento
numa visão cientíica. As ideias dos ilósofos da época inluenciaram o pensa-
mento de grandes nomes na história da Psicologia. Esses estudos cientíicos
somente se efetivaram no século XX e se estendem até a atualidade por meio de
pesquisas na busca de compreender o desenvolvimento infantil, sendo de inte-
resse da Psicologia Evolutiva.
A Psicologia Evolutiva tem raízes na concepção Inatista de desenvolvimento,
a qual enfatiza os fatores inatos do desenvolvimento na determinação de aptidões
individuais. Com essa linha de pensamento foram se desenvolvendo os primei-
ros estudos com foco na avaliação da inteligência humana. Podemos citar, como
um grande nome, Alfred Binet (1857-1911), que focou seus estudos na avalia-
ção da inteligência por meio de testes (FONTANA; CRUZ, 1997).
Os estudiosos começaram a trabalhar a partir de um modelo de teoria evo-
lucionista, entendendo o homem como determinado biologicamente restando
ao ambiente pouca inluência (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014).
Com o interesse cientíico pela criança no inal dos séculos XIX e início do
XX, surgem várias abordagens na busca pela compreensão dos processos de
desenvolvimento e aprendizagem, com uso de diferentes métodos de acordo
com cada ênfase teórica (FONTANA; CRUZ, 1997).
Pode-se concluir, portanto, que embora ainda exista algum debate sobre
a questão da importância relativa da natureza e da experiência no desenvolvi-
mento, muitos teóricos acreditam que esses dois fatores operam juntos e estão
buscando formas de determinar como essa operação se dá.
COMPREENDENDO AS INFLUÊNCIAS DO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PROCESSO DE MATURAÇÃO E DO AMBIENTE NO
DESENVOLVIMENTO
mal (da leitura) deveria esperar até que a criança chegasse aos oito anos de idade.
Argumentava que “[...]a mente da criança pré-escolar é amplamente indiferen-
ciada e egocêntrica” (OLSON; TORRANCE, 2000, p. 133).
No século XX, a noção de prontidão surge na teoria de aprendizagem de
Torndike (1874-1949). O autor falava de ‘unidades de condução neuronal’ que
são ativadas quando determinado potencial de estímulo é satisfeito, mas defendia
que haveria uma progressão constante por meio de vários platôs de capacidades
gerais, portanto maturacionais.
Continuando a apresentar o processo histórico de construção do conceito de
prontidão e sua inluência no processo de aprendizagem formal, Olson e Torrance
(2000) deinem prontidão como a maturidade biológica da criança que prepara
e possibilita a aprendizagem. Assim, qualquer forma de apressar ou interferir no
desenvolvimento seria considerado prejudicial.
Pensando o ensino formal condicionado, a premissa supramencionada, a
solução seria esperar até que a criança tenha amadurecimento suiciente para
aprender, isto é, que esteja pronta. Vimos a aplicação desse princípio à educa-
ção até bem recentemente, quando o processo de alfabetização era condicionado
pela prontidão, o que resultava em submeter o ingresso da criança na educação
formal ao atingimento da maturação biológica, aos seis ou sete anos de idade.
Atualmente, existem métodos de pesquisa capazes de determinar com mais
precisão, em uma determinada população, o papel da hereditariedade e do meio
no desenvolvimento de alguns traços especíicos, no entanto, ainda existe muita
discussão e polêmica sobre o tema da inluência desses fatores no desenvolvimento.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em relação às inluências ambientais, considerando que os serem humanos
são seres sociais e que o desenvolvimento não ocorre de forma descontextua-
lizada, Papalia, Olds e Feldman (2009, p. 15-19) apresentam um conjunto de
fatores que interferem no desenvolvimento. As autoras citam a família, os condi-
cionantes socioeconômicos e a vizinhança, cultura e etnia, raça e etnia e contexto
histórico. O contexto familiar, que é afetado pelos demais e tem atualmente uma
nova coniguração, será abordado mais adiante na unidade V.
A seguir, apresentamos os conceitos condensados dos fatores que abordamos.
■ Ambiente – totalidade das inluências não hereditárias ou experienciais
sobre o desenvolvimento.
■ Família nuclear – unidade econômica e doméstica que compreende laços
de parentesco envolvendo duas gerações e que consiste em um ou dois
genitores e seus ilhos biológicos, adotados ou enteados.
■ Família extensa – rede de parentesco envolvendo muitas gerações formadas
pelos pais, ilhos e outros parentes às vezes vivendo juntos no mesmo lar.
■ Condições socioeconômicas – combinação de fatores econômicos e sociais
que descrevem um indivíduo ou uma família, que incluem renda, edu-
cação e ocupação.
■ Cultura – modo de vida global de uma sociedade ou de um grupo, que
inclui costumes, tradições, crenças, valores, linguagem e produtos mate-
riais – todo comportamento adquirido que é transmitido dos pais para
os ilhos.
Papalia, Olds e Feldman (2009) trazem em sua obra uma interpretação do desen-
volvimento afetado por todos os fatores já indicados e ressaltam que cada um
deles pode inluir diferentemente, em função do momento em que estão pre-
sentes na vida dos indivíduos.
Para maior entendimento, em relação ao momento do desenvolvimento
em que os fatores atingem o indivíduo, determinando o seu efeito no com-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
histórico e é construído, cria e é recriado mediado pelas relações sociais estabe-
lecidas historicamente” (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014, p. 35). Por isso,
entendemos que o homem vai construindo seu mundo, transformando a socie-
dade e sendo transformado por ela.
Na construção desse pensamento, por volta de 1920, originou-se na Rússia
a Teoria Histórico-Cultural, concebida por L. S. Vygotski (1896-1934), a partir
dos ideais do Materialismo Histórico-Dialético proposto por Karl Marx (1818-
1883). Marx contou com os seguidores Alexander Romanovich Luria (1902-1977)
e Alexei Nicolaevich Leontiev (1903-1979) que o ajudaram a construir a teoria
que vem sendo muito utilizada na atualidade, na busca de compreender esse
homem social, visto que suas transformações ocorrem em um processo dialé-
tico a partir de suas relações (TULESKI, 2008).
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físico e o desenvol- vida.
crianças.
vimento das habili- A compreensão e o
dades motoras são uso da linguagem
rápidos. se desenvolvem
rapidamente.
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do ciclo de vida. instrução formal na fundamental.
escola.
Algumas crianças
demonstram ne-
cessidades educa-
cionais e talentos
especiais.
O crescimento Desenvolve-se A busca pela iden-
físico e outras mu- a capacidade de tidade, incluindo a
danças são rápidas pensar em termos identidade sexual,
e profundas. abstratos e de usar torna-se central.
Ocorre a maturida- o raciocínio cien- O relacionamento
de reprodutiva. tífico. com os pais geral-
ADOLESCÊNCIA
Os principais riscos O pensamento mente amadurece.
(11 A APROX. para a saúde emer- imaturo persiste em Os amigos podem
gem de questões algumas atitudes e exercer influência
20 ANOS)
comportamentais, comportamentos. positiva ou nega-
tais como transtor- A educação se tiva.
nos alimentares e concentra na
abuso de drogas. preparação para a
faculdade ou para a
profissão.
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(65 ANOS EM O relacionamento
DIANTE) com a família e
com amigos ínti-
mos pode propor-
cionar um impor-
tante apoio.
A busca de sig-
nificado para a
vida assume uma
importância funda-
mental.
Tabela 1: Principais desenvolvimentos típicos em oito períodos do desenvolvimento humano
Fonte: Papalia, Olds e Feldman (2009, p. 12-13).
Há, verdadeiramente, duas coisas diferentes: saber e crer que se sabe. A ci-
ência consiste em saber; em crer que se sabe está a ignorância.
Fonte: Hipócrates.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade procuramos deinir alguns parâmetros para a aplicação dos estu-
dos da Psicologia à Educação e à Aprendizagem. Conceituamos aprendizagem
e mostramos a relação dela com diferentes visões epistemológicas. Buscamos
demonstrar algumas vertentes de estudo na área de aprendizagem que hoje ocu-
pam lugar de destaque nas pesquisas sobre a aplicação dos princípios da Psicologia
à Educação. Dentre as vertentes, destacamos os estudos sobre metacognição,
raciocínio e estratégias de aprendizagem, além de apresentarmos alguns fato-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
res interferentes no processo de indicarmos as possibilidades de trabalhar com
esses conceitos, isto é, as diferentes teorias pedagógicas às quais eles correspon-
dem e os objetivos do processo formal de educação.
A seguir, analisamos os conceitos relativos ao Desenvolvimento do ser
humano, identiicando os fatores determinantes do processo e as maneiras de
abordar o seu estudo. Expomos a discussão sobre a inluência da hereditariedade
e do ambiente sobre o desenvolvimento, trazendo diferentes pontos de vista sobre
o tema, destacando diferentes visões teóricas sobre o estudo do ciclo da vida.
Também mencionamos o desenvolvimento na ênfase da perspectiva his-
tórico-social e cultural, apontando a visão de homem apresentada por esse
pensamento teórico que vem norteando a compreensão e a prática dos prois-
sionais da Psicologia e da Educação.
Esperamos que o domínio dos conceitos sobreditos possa lastrear a deinição
de uma prática pedagógica coerente com os princípios da ciência, no que tange à
compreensão do educando em seu processo de aprendizagem e desenvolvimento.
Sugerimos que você, caro(a) aluno(a), busque, a partir de seus interesses pesso-
ais, aprofundar os conceitos estudados, por meio de pesquisa e estudo. Sabemos
que debruçar-se sobre o desenvolvimento humano exige muito, no entanto, é a
partir de uma base sólida fundamentada em teorias cientíicas que irá alcançar
respostas para as indagações corriqueiras que surgem ao nos depararmos com
um objeto de estudo tão complexo quanto o homem.
4 Conheça na íntegra a entrevista em: SOUZA, Marilene P. R. de. Entrevista com o professor Lino de Macedo. Psicol. Esc. Educ.,
Campinas, v. 8, n. 2, dez. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pee/v8n2/v8n2a13.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015.
45
Paul B. Baltes e seus colegas (1987; BALTES, LINDENBERGER; STAUDINGER, 1998; STAU-
DINGER & BLUCK, 2001) identificaram seis princípios básicos em sua abordagem do
desenvolvimento do ciclo de vida que retoma muitos dos conceitos discutidos neste
capítulo. Juntos, esses princípios servem como uma estrutura conceitual amplamente
aceita para o estudo do desenvolvimento do ciclo de vida:
1. O desenvolvimento é vitalício. O desenvolvimento é um processo vitalício de
mudança na capacidade de se adaptar às situações escolhidas ou nas quais a
pessoa se encontra. Cada período do ciclo de vida é afetado pelo que aconteceu
antes e afetará o que está por vir. Cada período tem suas próprias características
e valores; nenhum é mais ou menos importante que qualquer outro. Mesmo
pessoas muito velhas podem crescer emocionalmente e intelectualmente. A
experiência da morte pode ser última tentativa de chegar a um acordo com a
própria vida – em resumo, de se desenvolver.
2. O desenvolvimento envolve ganho e perda. O desenvolvimento é multidimen-
sional e multidirecional. Ocorre ao longo de múltiplas dimensões que interagem
– biológica, psicológica e social –, cada uma delas podendo se desenvolver em
ritmos diferentes. O desenvolvimento também prossegue em mais de uma di-
reção. Enquanto as pessoas ganham em uma área, podem perder em outra, às
vezes ao mesmo tempo. As crianças crescem principalmente em uma direção
– para cima – tanto em tamanho quanto em habilidades. Depois o equilíbrio
aos poucos se desloca. Os adolescentes ganham em termos de habilidade física,
mas perdem a facilidade em aprender uma língua. Algumas habilidades, como
o vocabulário, continuam crescendo ao longo da idade adulta; outras, como a
capacidade de resolver problemas não familiares, poderão diminuir; e alguns
novos atributos, como o conhecimento especializado, poderão se desenvolver
na meia-idade. As pessoas procuram maximizar os ganhos concentrando-se em
fazer coisas que sabem fazer bem e minimizar perdas aprendendo a administrá-
-las ou compensá-las – por exemplo, escrevendo listas de coisas a serem lembra-
das quando a memória se debilita.
3. Influências relativas de mudanças biológicas e culturais sobre o ciclo de vida. O
processo de desenvolvimento é influenciado tanto pela biologia quanto pela
cultura, mas o equilíbrio entre essas influências se altera. Influências biológicas,
como acuidade sensorial, força e coordenação muscular, tornam-se mais fracas
com a idade, mas apoios culturais, tais como educação, relacionamentos e am-
bientes tecnologicamente amigáveis à idade podem ajudar a compensar.
47
Artigos sobre as ideias de Vygotsky e Paulo Freire podem ser encontrados no site:
<http://www.centrorefeducacional.com.br/vygotsky.html>.
Caso você queira aprender mais a respeito das sínteses interessantes sobre as
ideias de Piaget, com referências a sua vida e obras, que podem ajudá-lo(a) a ixar
e reelaborar a teoria do autor discutida aqui, acesse o link:
<http://penta.ufrgs.br/~marcia/piaget.htm>.
Professora Dra. Rachel de Maya Brotherhood
Professora Me. Waléria Henrique dos Santos Leonel
II
TEORIAS DE
UNIDADE
DESENVOLVIMENTO E
APRENDIZAGEM
Objetivos de Aprendizagem
■ Identiicar os pressupostos epistemológicos das principais
abordagens da aprendizagem.
■ Analisar as abordagens do processo de aprendizagem.
■ Descrever as teorias de Piaget e Vygotsky.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Comportamentalismo
■ Construtivismo: a epistemologia genética de Jean Piaget
■ Teoria histórico-cultural: Vygotsky
■ Humanismo
51
INTRODUÇÃO
Introdução
52 UNIDADE II
COMPORTAMENTALISMO
O comportamentalismo sur-
giu nos Estados Unidos, no
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
início do século XX, tendo
B. F. Skinner como princi-
pal representante.
A teoria Behaviorista
de Skinner tem seus fun-
damentos nos trabalhos de
Ivan Pavlov, John Watson
e Edward L. Thorndike,
que desenvolveram o
Conexionismo, teoria que supõe que todas as respostas (comportamentos) são
eliciadas por estímulos, ou seja, a ideia de conexão entre estímulo e resposta
(S-R). É uma abordagem periférica, que não leva em consideração o que ocorre
na mente do indivíduo durante o processo de aprender.
Segundo Glassman (2008), tiveram grande importância na construção da
teoria comportamentalista nomes como Edwin Lynn hordike (1874-1949) e
John B. Watson (1878-1958), conhecido como o fundador do Behaviorismo
radical, assim chamado por apresentar escassez de fatos, no entanto, com os
experimentos (particularmente em animais) de hordike e os escritos e ideias
de Watson, abriram caminho para o behaviorismo, oportunizando dados expe-
rimentais mensuráveis sobre o comportamento humano.
Dentro do pensamento comportamentalista, a ênfase é dada nas rela-
ções entre o ambiente e o comportamento. No que diz respeito à perspectiva
Behaviorista, o foco está no papel dos estímulos ambientais em nossa forma de
agir. Dessa maneira, a aprendizagem, de acordo com essa visão, “é uma mudança
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cionamento clássico ocorre quando há uma cessação de respostas, diante da
apresentação do estímulo condicionado repetidas vezes, sem a oferta da recom-
pensa, isto irá progressivamente extinguir o comportamento condicionado.
Skinner teve papel relevante na construção da teoria Behaviorista, visto que
foi o pioneiro do Condicionamento Operante.
Quando se estabelece uma conexão entre uma resposta do indivíduo (com-
portamento eliciado por algum estímulo e que é reforçado) e outro estímulo
(estímulo inicialmente neutro, porque não eliciava aquela resposta), e pela conti-
guidade e repetição, o estímulo neutro passa a eliciar a resposta que anteriormente
não era ligada a ele, então dizemos que houve condicionamento.
Segundo Gleitman (2009, p. 242), Skinner chama as respostas (condiciona-
mentos) de operante, isto é, “[...]operam sobre o ambiente para causar alguma
mudança que leva a alguma
consequência”. No comporta-
mento operante, o indivíduo
age para obter o reforço (o
reforço aumenta a probabi-
lidade de manifestação do
comportamento). Já o com-
portamento denominado
respondente ocorre quando
o indivíduo age para fugir de
uma situação desagradável
ou para evitá-la.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
objetivos os comportamentos esperados dos
alunos que podiam ser observados, o que eles
deveriam fazer, sob que condições e em quanto tempo; a avaliação consistia em
veriicar se as condutas deinidas nos objetivos eram apresentadas pelos alunos
ao inal da instrução.
Revelamos em nosso estudo que o Behaviorismo baseia-se no estudo de even-
tos que podem ser observáveis, isto é, na compreensão do comportamento devem
ser observadas as interações entre o organismo e o ambiente, não sendo de inte-
resse estudar a consciência e os estados subjetivos internos (GLASSMAN, 2008).
A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A Teoria da Equilibração é a espinha dorsal de todo o pensamento de Piaget,
uma vez que equilibração é a ideia central de sua teoria, é a matriz de funcio-
namento que permite a compreensão do sistema cognitivo.
De acordo com Fontana e Cruz (1997), Piaget airma que o processo de
desenvolvimento depende de fatores internos ligados à maturação, da experi-
ência adquirida pelo indivíduo em contato com o meio e particularmente do
processo de autorregulação, nomeado de equilibração.
Por meio da equilibração, um estado de equilíbrio, ou de adaptação em
relação ao meio, é mantido. Podemos dizer que sempre que vivenciamos con-
litos, contradições, entra em cena a nossa capacidade de autorregulação, isto
é, equilibração.
Importante dar ênfase na compreensão acerca da equilibração, visto que
esta tem a sua importância para o entendimento da construção do pensamento
e para o desenvolvimento cognitivo, na perspectiva de Piaget.
A primeira ideia a destacar é que o equilíbrio aqui considerado é um equi-
líbrio dinâmico, que não busca a invariância nem a volta a estados anteriores
de não perturbação, mas níveis ou estados mais avançados de equilíbrio, não
seria, portanto, um produto almejado, mas um processo contínuo. O equilí-
brio se daria por um processo de assimilação do objeto pelo sujeito, que levaria
à adaptação. Para isso, é essencial compreender alguns conceitos importantes
descritos por Piaget.
O autor apresenta o conceito de esquema como “[...]estruturas mentais ou
cognitivas pelas quais os indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam
o meio” (WADSWORTH, 1997, p. 16). A assimilação, para ele, refere-se ao “[...]
processo cognitivo pelo qual uma pessoa integra um novo dado perceptual,
motor ou conceitual nos esquemas ou padrões de comportamento já existen-
tes” (WADSWORTH, 1997, p. 19). Logo, podemos dizer que assimilar consiste
em transformar o outro – pessoa, objeto, ideia – em patrimônio próprio, incor-
porar às próprias estruturas. Às vezes a assimilação se dá pela incorporação do
outro a estruturas de conhecimento já existentes no indivíduo. Outras vezes, o
novo estímulo exige mudanças estruturais no indivíduo para ser então incorpo-
rado – acontece, então, o mecanismo de acomodação, que consiste na criação
de novos esquemas ou a modiicação de velhos esquemas. Podemos dizer que
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
forma, é possível airmar que a abordagem histórico-cultural enfatiza o papel
dominante da experiência social no desenvolvimento das formas de compor-
tamento tipicamente humano, os chamados processos psicológicos superiores,
também chamados de funções psicológicas superiores.
Vygotsky não enfatiza o papel biológico no desenvolvimento, para ele, matu-
ração, por si só, é um fator secundário no desenvolvimento que se caracteriza
por transformações complexas, qualitativas, de uma forma de comportamento
em outro, determinadas pelas condições sociais dentro e através das quais a ati-
vidade humana ocorre. Essas condições não se resumem à situação concreta que
circunda o indivíduo, mas são produto da interação entre as características par-
ticulares do organismo e as oportunidades e experiências oferecidas pelo meio
(VYGOTSKY, 1987).
Vygotsky tem uma visão dialética da interação, em que o indivíduo não é um
elemento passivo à ação do ambiente, mas interage, atua sobre ele, transforman-
do-o e dando origem a condições únicas, de caráter essencialmente histórico e
cultural (BROTHERHOOD, 1994).
Outra formulação teórica de Vygotsky que também ressalta a importância
do social para o desenvolvimento cognitivo é a ideia de que toda função psico-
lógica aparece em dois níveis ao longo do desenvolvimento da criança: primeiro
entre pessoas, como categoria interpsicológica, depois, dentro da criança, como
categoria intrapsicológica.
Segundo Fontana e Cruz (1997), a criança, a partir do momento em que
nasce, vive constantemente em interação com o mundo adulto, compartilhando
o modo de fazer as coisas, de pensar, de se expressar, dando signiicados que
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se constituir em formas superiores de com-
portamento e depois em funções psíquicas
complexas.
Segundo Carvalho (2007, p. 52), as
relações humanas estabelecidas a partir das
atividades e das mediações promovem a construção do homem além do aspecto
biológico, ou seja, a construção em um ser cultural, contudo, como aponta a
autora:
Conceber o psiquismo humano como tendo uma gênese social não sig-
niica negar seu substrato biológico, nem atribuir poder incondicional
ao social, mas entender que é no processo de interação com o mundo
que esse substrato se desenvolve, e os processos psíquicos elementares,
de origem natural, se transformam em superiores, de origem cultural.
Dessa forma, entendemos que o homem se desenvolve pela cultura, pela atividade
e relações, ampliando seu conhecimento para que possa interferir no mundo, a
partir disso. Luria (1986) complementa expondo que, para entender o psiquismo
humano, precisamos sair do plano biológico e buscar a complexidade da vida
consciente do homem nas relações externas, na vida social, nas formas históri-
co-sociais de sua existência.
Nesse sentido, Rossato (2010, p. 64) salienta que “[...]o fundamento principal
da atividade humana é seu caráter mediatizado pelo instrumento que permeia o
sujeito e o objeto da atividade”. O homem transforma seu psiquismo por meio
das mudanças ocorridas externamente que vão agir em seu interior, isto é, são
as mudanças históricas sociais que vão transformar a consciência humana.
são reorganizados. Por exemplo, dentro de atividades como brincar (jogos), estão
contidos processos de instrução, regras de grupo, classiicação, generalização,
abstração etc. Nas atividades domésticas e ainda no brinquedo estão também
contidos processos importantes como aquisição de papéis.
O enfoque histórico-cultural ressalta a relação desenvolvimento-aprendiza-
gem (formal e informal) e mostra a importância das relações interindividuais.
Por serem esses dois processos inter-relacionados, o desenvolvimento prepara
e possibilita determinado processo de aprendizagem, enquanto a aprendizagem
estimula o desenvolvimento, faz que ele avance até certo grau.
Vygotsky (1987) ressalta, também,
que é necessário distinguir dois níveis de
desenvolvimento. O primeiro é o nível de
desenvolvimento real, aquele já plenamente
atingido pela criança, que se identiica pelo
desempenho em tarefas que ela pode realizar
sem a ajuda de outras pessoas, independente
da imitação. É o limite de sua capacidade
atual, o desenvolvimento psicointelectual já
realizado.
O segundo, nível de desenvolvimento potencial, traduz o que a criança é
capaz de fazer com o auxílio de um adulto ou de outra criança mais desenvol-
vida, que a oriente por meio de exemplos e demonstrações. Se a orientação estiver
de acordo com o nível de desenvolvimento da criança, que vai além de seu nível
de atuação, ela será capaz de um desempenho superior àquele do nível efetivo.
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damente, possibilita a manifestação da zona de desenvolvimento proximal e a
efetivação de novos comportamentos mais complexos.
De acordo com seus pressupostos teóricos, Vygotsky (1987) propõe uma
Teoria da Mediação como teoria de ensino-aprendizagem, uma vez que o desen-
volvimento das funções mentais superiores exige a internalização de instrumentos
e signos em um ambiente de interação.
Nesse sentido, Vygotsky (1997) aponta que a escola deve buscar superar as
diiculdades do aluno de todas as formas possíveis, para que ele consiga ir além
dos conhecimentos do cotidiano. Ademais, é a escola que, por meio do seu
trabalho e mediação, propicia ao aluno desenvolver o seu pensamento e uma
concepção cientíica de mundo.
Concluindo essa breve apresentação da abordagem de Vygotsky (1987), vale
destacar que o ensino formal desempenha um importante papel no desenvolvi-
mento cognitivo: promover o atingimento da zona de desenvolvimento proximal.
Tal função seria o meio mais efetivo de desenvolvimento das funções mentais
superiores. Na unidade V, retomaremos os fundamentos da teoria histórico-cul-
tural, na perspectiva da prática.
HUMANISMO
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HUMANISMO
66 UNIDADE II
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pela sua dinamicidade e rapidez de mudança, exige que o indivíduo seja capaz
de adaptar-se. O conhecimento evolui tão rapidamente que aquilo que a escola
pode ensinar logo se torna obsoleto, e o aluno bem formado é aquele capaz de
adaptar-se rapidamente às mudanças, e que sabe que só o processo de busca do
conhecimento dá uma base segura para o seu progresso. Portanto, a escola deve
deixar de lado a rigidez e tradição dos currículos e conteúdos e preocupar-se
com o desenvolvimento da capacidade do aprendiz de ‘aprender a aprender’.
O ensino deixa de lado as capacidades do líder (professor), sua erudi-
ção, o planejamento curricular e outras dimensões tradicionais, e dá
enfoque à facilitação do desenvolvimento de capacidades atitudinais,
possibilitada nas relações interpessoais signiicativas entre facilitador
(professor) e aprendiz (aluno) (ROGERS, 1969 apud MOREIRA, 1999,
p. 146).
ria para a escola, e a ameaça que poderia representar para professores e também
para os alunos em algumas situações, sua viabilidade não se conirmou, embora
tenham sido feitas algumas tentativas, nos Estados Unidos, entre os anos 1970
e 1980. No entanto, como sugere Moreira (1999), fundamentado em ideias do
próprio Rogers para adequar sua proposta à realidade, trata-se de considerar a
extensão em que os princípios Rogerianos podem ser usados em sala de aula
sem causar ameaças e desconforto a professores e alunos, a im de facilitar uma
aprendizagem signiicante.
O único homem que se educa é aquele que aprendeu como aprender:
que aprendeu como se adaptar e mudar; que se capacitou de que ne-
nhum conhecimento é seguro, que nenhum processo de buscar conhe-
cimento oferece uma base de segurança (CARL ROGERS).
HUMANISMO
68 UNIDADE II
ENFOQUES TEÓRICOS À
APRENDIZAGEM E AO
ENSINO
ênfase em comportamentos ênfase na pessoa
observáveis ênfase na cognição
Crescimento
Comportamental
Ensino centrado
para aprender
Aprender a
Subsunçor
Construto
aprender
Estímulo
Esquema
Liberdade
Modelo
pessoal
pessoal
Reforço
Mental
Signo
no aluno
Resposta
Objetivo
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VYGOTSKY AUSUBEL
JOHNSON-
PIAGET LAIRD KELLY
BRUNER Ideia-chave:
Ideia-chave: o pensamentos,
comportamento é sentimentos e ações
controlado por suas estão integrados
consequências alguns autores
cognitivistas
o mais conhecido autor
alguns autores humanista
comportamentalistas Ideia-chave:
construtivismo, o ROGERS
PAVLOV THORNDIKE HULL conhecimento é NOWAK
WATSON SKINNER HEBB construído GOWIN
GUTHRIE TOLMAN
GESTALT
GAGNÉ
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
1. O processo de aprendizagem pode ser explicado por diferentes linhas de pensa-
mentos dentro da Psicologia Escolar. Reletindo sobre o comportamentalismo,
assinale a alternativa correta:
I - O BEHAVIORISMO coloca ênfase nos comportamentos observáveis e mensu-
ráveis.
II - A base dessa abordagem diz respeito ao que ocorre na mente do indivíduo
em seu processo de aprender.
III - Na concepção de B. F. Skinner, no comportamento operante, o indivíduo age
para obter o reforço. É o reforço que aumenta a probabilidade de manifestação
do comportamento.
IV - Os comportamentos condicionados podem ser extintos ou esquecidos pela
eliminação do reforço.
a. Somente I e II estão corretas.
b. Somente II e III estão corretas.
c. Somente I, II e IV estão corretas.
d. Somente I, III e IV estão corretas.
e. Todas estão corretas.
3. A teoria Piagetiana se ocupa dos processos mentais que ocorrem entre a estimula-
ção do meio e a resposta do indivíduo (ação). Tal perspectiva apresenta como princi-
pal pressuposto ilosóico que a aprendizagem se dá por construção. Sobre a teoria
descrita, leia as airmações e assinale a alternativa correta:
I - Na teoria Piagetiana, a equilibração é a ideia central, é a matriz de funcionamento
que permite a compreensão do sistema cognitivo.
II - Nenhum comportamento é só assimilação ou acomodação, ambos os processos
são reletidos no comportamento.
III - O equilíbrio se daria por um processo de assimilação do objeto pelo sujeito, que
levaria à adaptação.
IV - O conceito de esquema é entendido como estruturas mentais ou cognitivas pe-
las quais os indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam o meio.
a. Somente I e II estão corretas.
b. Somente II e III estão corretas.
c. Somente I, II e IV estão corretas.
d. Somente I, III e IV estão corretas.
e. Todas estão corretas.
Propomos a leitura complementar da obra Piagetiana que discute um dos períodos de
desenvolvimento descritos pelo autor trazendo características importantes dele. A obra
do autor é de grande relevância ainda na atualidade, sendo essencial um maior apro-
fundamento teórico.
Ora, estes dois aspectos da atividade que se inicia por volta dos sete anos são, na ver-
dade, complementares e se devem às mesmas causas. São inclusive tão solidários que a
primeira vista é difícil dizer se é que a criança adquiriu certa capacidade de relexão que
consegue coordenar suas ações com as de outros, ou se é que existe um progresso de
socialização que faz com que o pensamento seja reforçado por interiorização.
Do ponto de vista das relações interindividuais, a criança, depois dos sete anos, torna-se
capaz de cooperar, porque não confunde mais seu próprio ponto de vista com o dos
outros, dissociando-os mesmo para coordená-los. Isto é visível na linguagem das crian-
ças. As discussões se fazem possíveis, porque comportam compreensão a respeito dos
pontos de vista do adversário e procura de justiicações ou provas para a airmação pró-
pria. As explicações mútuas entre crianças se desenvolvem no plano do pensamento, e
não só no da ação material. A linguagem ‘egocêntrica’ desaparece quase por inteiro e os
discursos espontâneos da criança testemunham por sua mesma estrutura gramatical a
necessidade de conexão entre as idéias e de justiicação lógica.
Fonte: PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Tradução Maria Alice Magalhães
D’Amorin e Paulo Sérgio Lima Silva. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.
MATERIAL COMPLEMENTAR
No texto denominado “O rei vai nu, dizem eles”, Ana Cristina Leonardo apresenta uma
crítica contundente às ideias de Freud, citando vários autores que se posicionam sobre
as polêmicas em torno da ênfase na sexualidade na teoria do autor, dentre outros
pontos discutidos que questionam a importância de Freud para a compreensão do
psiquismo humano. Para a leitura do texto, acesse o link:
<http://criticanarede.com/freud.html>.
Aqui, Alexandre Pedrassoli apresenta uma biograia de Carl Rogers, traçando uma linha
do tempo de sua trajetória e indicando suas principais obras, contribuindo assim para
uma melhor compreensão da obra desse autor.
<http://www.centrorefeducacional.com.br/carl.html>.
III
DESENVOLVIMENTO
UNIDADE
SOCIOCOGNITIVO NA INFÂNCIA
E NA ADOLESCÊNCIA
Objetivos de Aprendizagem
■ Dominar os principais conceitos da teoria de desenvolvimento de
Piaget.
■ Analisar o desenvolvimento moral na infância.
■ Pensar a prática pedagógica considerando as implicações das teorias
estudadas para a aprendizagem e o desenvolvimento.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ O Desenvolvimento segundo Jean Piaget
■ Desenvolvimento Moral
■ Prática pedagógica relacionada à aprendizagem e desenvolvimento
77
INTRODUÇÃO
Introdução
78 UNIDADE III
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vimento cognitivo como algo dinâmico, “[...]posto que a inteligência existe na
ação, modiicando-se numa sucessão de estágios que compreendem: uma gênese,
uma estrutura e a mudança das mesmas” (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO,
2014, p. 43).
De acordo com os autores supracitados, a gênese parte de uma estrutura e
chega à outra, a qual é preparada por estruturas mais elementares, mas que se sinte-
tizarão em uma estrutura inal. As primeiras estruturas surgem com o nascimento,
estágio sensório motor, no qual predomina o biológico no desenvolvimento.
Para Piaget, em relação às estruturas e pensando nos aspectos intelectuais, no
que se refere ao desenvolvimento mental, há três fatores que formam esses pro-
cessos: o maturacional; a experiência ativa dos sujeitos sobre os objetos; e o fator
interacional ou transmissões sociais (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014).
Na perspectiva de Piaget, deve-se considerar estrutura como uma unidade
abstrata, suscetível de crescimento autônomo,
dotada de reações especíicas às solicitações
do meio. O indivíduo nasce com algumas
estruturas (relexos) que progressivamente,
em decorrência da ação do meio e da ação
da criança sobre o meio, se desenvolvem, tor-
nando-se cada vez mais complexas e dando
origem a novas estruturas, que, por sua vez,
irão se desenvolver pelo mesmo processo ori-
ginando outras.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
terminados conhecimentos à medida que houver maturação biológica
para tal.
Período que vai do nascimento até os dois anos, aproximadamente. A criança passa
do nível neonatal, o qual é marcado pelos relexos inatos, para o nível no qual
é capaz de realizar uma organização perceptiva e motora do meio (FONTANA;
CRUZ, 1997).
A criança nesse período relete o mundo e não consegue se diferenciar dele,
ela age sobre ele, assim ela vai conhecendo o mundo, a partir dos relexos ina-
tos, vai assimilando novos elementos do meio. Com isso, vai sendo transformada
por esses elementos, isto é, vai acomodando os novos estímulos (FONTANA;
CRUZ, 1997).
Logo, podemos pensar que a criança, inicialmente, assimila os dados do
meio exterior aos esquemas relexos hereditários (sucção, preensão, choro e ati-
vidade corporal indiscriminada). Nesta fase, a criança é totalmente egocêntrica,
seu próprio corpo é a única referência comum e constante. Progressivamente,
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à linguagem e esta se limita a transformá-lo, ajudando a alcançar formas de abs-
tração mais móveis do pensamento.
Neste período, a criança ainda não é capaz de se colocar no lugar do outro,
nem de avaliar seu próprio pensamento. De
acordo com Fontana e Cruz (1997), os pro-
cessos de raciocínio lógico e os conceitos
demoram também um longo tempo para se
desenvolver.
Outro progresso decorrente da função
simbólica neste período é a interiorização dos
esquemas de ação, o que quer dizer represen-
tação desses esquemas. Essa interiorização
é a condição para que as crianças de dois a
sete anos possam emitir certos comporta-
mentos, como o jogo simbólico, a imitação,
as previsões etc.
Porém, o pensamento da criança no
período pré-operacional é pré-lógico, domi-
nado pelo mecanismo da intuição, segundo o
qual, diante de um problema prático, em um
brinquedo ou em um jogo, suas respostas se
baseiam em conigurações perceptivas ou em
atuações de ensaio e erro (baseadas nas apa-
rências do fenômeno ou do problema).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sos temporais inerentes à manipulação (concreto) sendo, portanto, ainda uma
lógica elementar.
Neste período, a criança passa a compreender o ponto de vista de outras
pessoas, então são estabelecidas as bases para o pensamento lógico, que é pró-
prio do período inal do desenvolvimento cognitivo (FONTANA; CRUZ, 1997).
Segundo Fontana e Cruz (1997, p. 52), por meio das “[...]operações −
inicialmente só aplicáveis a objetos concretos e presentes no ambiente − os
conhecimentos construídos anteriormente pela criança vão se transformando
em conceitos”.
d. Período das Operações Formais ou Proposicionais
aos objetos.
De acordo com Piletti, Rossato, Rossato (2014, p. 181), Piaget, em relação à
adolescência, esclarece que,
O desenvolvimento na adolescência é um marco que se estende até a
idade adulta, haja vista que, atingido o grau de maturidade mental re-
presentado pela oportunidade de realizar operações mentais formais,
essa será a forma predominante de raciocínio utilizada pelo adulto. Isso
não signiica que o indivíduo para de desenvolver-se, mas que ocorrerá
uma ampliação de conhecimentos tanto em extensão como em profun-
didade e que não haverá, por outro lado, a aquisição de novos modos
de funcionamento metal.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
transformações nele próprio.
Para Piaget (1978), só há aprendizagem quando há acomodação, ou seja,
uma reestruturação da estrutura cognitiva (esquema de assimilação existente)
do indivíduo, que resulta em novos esquemas de assimilação. A mente, sendo
uma estrutura (cognitiva), tende a funcionar em equilíbrio, aumentando perma-
nentemente seu grau de organização interna e de adaptação ao meio. Quando
o equilíbrio da mente é rompido por experiências não assimiláveis (que não se
enquadram nas estruturas existentes), a mente se reestrutura (acomodação) a
im de construir novos esquemas de assimilação e atingir novo equilíbrio. Piaget
(1978) deine esse processo de reequilibração como equilibração majorante e
destaca que ele é um fator preponderante no desenvolvimento mental e na apren-
dizagem do indivíduo. Logo, a equilibração é a grande força impulsionadora do
desenvolvimento intelectual.
Essa airmação tem grandes implicações para a educação de modo geral e para
o ensino formal; no enfoque
Piagetiano, ensinar signiica
provocar desequilíbrios no
organismo (mente) do aluno
para que ele, procurando o
reequilíbrio (equilibração
majorante), se reestruture
cognitivamente e aprenda. A
capacidade de se reestruturar
mentalmente é o mecanismo
atingiram esse nível e ainda estão em uma fase de raciocínio operacional con-
creto (MOREIRA, 1997).
Piaget (1971) argumenta
que as supostas aptidões dos
‘bons alunos’ em matemá-
tica ou física, por exemplo,
na verdade decorrem de sua
capacidade de adaptação ao
tipo de ensino que lhe é for-
necido, e que os insucessos
dos “maus alunos” decorrem
de sua não compreensão das
lições que lhe são oferecidas.
Adequar o ensino ao nível de
desenvolvimento do aluno
é a forma de a escola evitar
o insucesso e promover seu
avanço por meio de níveis progressivos de equilibração (equilibração majorante).
Concluindo este tópico, gostaríamos de chamar a atenção para o fato de que
Piaget não construiu uma teoria da aprendizagem, mas uma teoria do desen-
volvimento mental. A teoria, tanto em termos conceituais como em relação aos
estágios do desenvolvimento, é muito mais rica do que demonstramos neste
espaço. Sugerimos, portanto, uma leitura da bibliograia indicada para a com-
plementação e aprofundamento do tema.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ria de Piaget. São Paulo: Pioneira, 1997, p. 153.
O DESENVOLVIMENTO MORAL
1 Exempliicando esse processo, apresentamos ao inal da unidade o texto de Piaget (2006, p. 39-40).
O Desenvolvimento Moral
90 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
do egocentrismo resultando em uma moral de cooperação e de autonomia – a
moral do bem, da autoconsciência.
Como se pode perceber, o atingimento desse novo patamar pressupõe
interação.
Estando o desenvolvimento, na perspectiva de Piaget, atrelado às relações
sociais, como promovê-lo? As relações entre família, escola e comunidade são
essenciais nessa busca, assim, abordaremos na unidade V as possibilidades de
desenvolvimento da educação moral na escola.
Apresentamos ao inal da unidade um pequeno artigo de Rosely Sayão que
retrata a forma como, na sociedade atual, algumas ‘aprendizagens’ iniciais podem
deturpar os padrões da moral heterônoma.
Em relação à importância das trocas sociais na perspectiva Piagetiana, gos-
taríamos de ressaltar, caro(a) aluno(a), que suas obras sofreram muitas críticas,
as quais apontam a pouca ênfase colocada pelo autor sobre essa temática. A air-
mação de que ele desconsiderou ou negou a importância das trocas sociais para o
desenvolvimento cognitivo é um ponto de vista é no mínimo equivocado. Costa
(2003), em seu trabalho “A teoria piagetiana das trocas sociais e sua aplicação
aos ambientes de ensino-aprendizagem”, demonstra, identiicando vários pon-
tos da obra do autor onde o tema é abordado, sua preocupação com a interação
social. Dessas falas de Piaget (1973 apud COSTA, 2003), citamos:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
92 UNIDADE III
teórico, pois este certamente irá reletir em nossa prática pedagógica e, con-
sequentemente, no desenvolvimento do aluno, quer no aluno que vivencia o
período sensório-motor (está fazendo parte do contexto escolar cada vez mais
cedo), quer do aluno que vivencia as operações formais.
É preciso apontar que conhecer as características descritas por Piaget, em
relação ao desenvolvimento humano, favorecerá uma maior compreensão desse
indivíduo em todas as suas etapas da vida, contribuindo para uma maior efeti-
vação da prática pedagógica.
Com certeza, o nosso material não esgota todo o conhecimento e as muitas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pesquisas e estudos desenvolvidos por Piaget, porém, acreditamos que, a partir
das leituras aqui apresentadas, despertaremos em você um interesse maior na
busca de novas leituras nesta área.
1. Jean Piaget, a partir de suas pesquisas e estudos, criou uma Teoria do Desenvol-
vimento da Inteligência, propôs um modelo de estruturas mentais e dividiu o
desenvolvimento em estágios. A partir da leitura do material de estudo, relita
sobre a teoria proposta, leia as assertivas e assinale a alternativa correta.
I - Toda necessidade busca incorporar as coisas e pessoas à atividade própria do
sujeito, ou seja, assimilar o mundo exterior às estruturas já construídas.
II - Toda atividade tende a reajustar as estruturas em função das transformações
ocorridas, ou seja, acomodá-las aos objetos externos.
III - O equilíbrio dos processos de assimilação e acomodação denomina-se adaptação.
IV - O indivíduo transforma o ambiente à medida que sua ação promove trans-
formações nele próprio.
a. Somente I e II estão corretas.
b. Somente II e III estão corretas.
c. Somente I, II e IV estão corretas.
d. Somente I, III e IV estão corretas.
e. Todas estão corretas.
Material Complementar
Professora Dra. Rachel de Maya Brotherhood
Professora Me. Waléria Henrique dos Santos Leonel
O DESENVOLVIMENTO DA
IV
UNIDADE
PERSONALIDADE
Objetivos de Aprendizagem
■ Estudar a constituição e desenvolvimento da personalidade.
■ Abordar a Teoria Psicanalítica desenvolvida por Sigmund Freud.
■ Tratar das características básicas das Fases do Desenvolvimento.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Desenvolvimento da personalidade
■ A Teoria Psicanalítica de Sigmund Freud
■ Fases de Desenvolvimento psicossexual
101
INTRODUÇÃO
Introdução
102 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
103
Desenvolvimento da Personalidade
104 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mas e conseguir ajustamentos satisfatórios à vida. Uma das principais linhas de
estudo da personalidade, a das Teorias Psicodinâmicas, tem origem nos estudos
de Sigmund Freud (1856-1939). Dentre os principais proponentes das Teorias
Psicodinâmicas podemos citar Carl Jung, Alfred Adler, Karen Horney, Harry
Stack Sullivan e Erik Erikson. No contexto de nosso curso, pela impossibilidade
de abordar outras teorias, optamos por enfocar os princípios básicos da Teoria
Psicanalítica de Freud, por acreditarmos que eles são fundantes na compreen-
são dos demais enfoques.
O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
105
SIGMUND FREUD
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
iceberg submerso na água: a mente inconsciente (CLONINGER, 1999,
p. 40).
O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
107
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ças emotivas, instintivas. O instinto é a fonte
de energia vital. Essas forças, quando con-
troladas e utilizadas adequadamente, podem
fortalecer e enriquecer capacidades, como
pensar, amar, compreender, pois promovem
o desenvolvimento das potencialidades sen-
soriais, emocionais e mentais.
Freud, visando formular a compreen-
são da tensão entre o inconsciente e a consciência que tenta controlar as forças
inconscientes, criou um modelo de estrutura de personalidade. Com base na
teoria freudiana, em termos de estrutura, a personalidade é composta por três
grandes sistemas: o Id, o Ego e o Superego.
O id é primitivo, fonte dos impulsos biológicos. Ele é inconsciente. O
ego é parte racional da personalidade que lida com o mundo real. É a
estrutura mais consciente da personalidade (embora não totalmente
consciente). O superego consiste nas regras e ideias da sociedade que
foram interiorizados pelo indivíduo. Parte do superego é consciente,
mas uma grande parcela dele permanece inconsciente (CLONINGER,
1999, p. 46).
O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
109
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
com as necessidades pulsionais, fundamenta a compreensão da personalidade e
da formação dos traços de caráter.
A teoria de Freud discute o desenvolvimento da personalidade, chamado pelo
autor de fases de desenvolvimento psicossexual. Para Freud, em cada estágio de
desenvolvimento, existe uma forma própria de lidar com as necessidades desse
estágio. Ele divide o desenvolvimento a partir de um esquema de zonas erógenas.
As crianças passam por uma sequência de zonas erógenas, quando a libido
(energia sexual) se concentra em diferentes regiões do corpo, à medida que pros-
segue o desenvolvimento psicológico, caracterizando as fases psicossexuais. Freud
descreve cinco fases psicossexuais de desenvolvimento, quais sejam: Fase Oral;
Fase Anal; Fase Fálica; Fase de Latência e Fase Genital, como veremos a seguir.
■ Fase Oral: ocorre no primeiro ano de vida, quando os bebês sentem prazer
principalmente em suas bocas, visto que as atividades prazerosas concen-
tram-se em torno da alimentação, comendo, sugando. Há um segundo
momento, marcado pelo morder frequente, o qual é chamado de sadismo
oral. A libido centra-se em prazeres orais. O desmame é o principal con-
lito da fase oral, por causa do excesso de gratiicação ou privação extrema.
Se parte da libido permanece instalada neste nível de desenvolvimento,
os adultos podem exibir traços orais, como: dependência, passividade
O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
111
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dido como um declínio da sexualidade. Nessa fase, as pulsões icam
escondidas, é um momento em que os instintos sexuais estão adormeci-
dos antes da entrada na próxima fase de importância ao desenvolvimento,
este é um período no qual a criança efetua sua adaptação real ao mundo
exterior (CASTRO; DUARTE, 1989). O período de latência compreende a
faixa etária dos cinco aos doze anos, é a etapa do desenvolvimento psicos-
sexual marcado pela dessexualização
das pulsões. Freud acreditava que ao
inal da fase fálica, aos cinco anos, a
personalidade está formada e nos sete
anos seguintes, aproximadamente, as
necessidades sexuais permanecem
adormecidas, não ocorrem mudan-
ças importantes ou conlitos neste
período.
■ Fase Genital: inicia-se com a puber-
dade, os interesses sexuais são
novamente despertados, compreende
a fase da adolescência e idade adulta,
até a senilidade. As pessoas, até então
voltadas para si próprias e seus corpos,
se orientam para as outras e necessi-
tam formar relacionamentos sexuais
satisfatórios. Freud acreditava que um laço heterossexual maduro é a
marca registrada da maturidade. Esse desaio não poderá ser enfrentado
adequadamente, se a energia da libido estiver demasiadamente ixada em
alguma fase anterior.
O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
113
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
114 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ênfase colocada pelo autor nas experiências iniciais da criança na formação de
sua personalidade, logo, podemos dizer que tanto a família quanto a escola têm
grande compromisso e responsabilidade para com as crianças.
Dessa maneira, diante do exposto na unidade, devemos reletir acerca da
abordagem apresentada e da compreensão da personalidade da criança e do ado-
lescente, entendendo que não é proposto fazer uma educação proilática para se
evitar formação de personalidades neuróticas, mas sim primar pela compreen-
são do indivíduo em sua totalidade e instigar aos educadores a lidarem com seus
alunos de forma mais empática, por entenderem as angústias vividas por eles.
O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
115
Atualmente, uma grande polêmica tem dividido opiniões no Brasil. Trata-se da criação,
pelo Congresso Nacional, de uma lei que proíbe a palmada. Como Freud destaca a im-
portância das experiências iniciais na formação da personalidade, as formas de con-
trole na infância são fundamentais para que se compreenda este processo. O que você
pensa sobre a palmada? Leia mais sobre o assunto:
A POLÊMICA DA PALMADA
A polêmica da palmada educativa
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já defendeu a teoria de que vale “até dar uns ta-
pinhas no bumbum dos meninos” para impor limites aos ilhos. Sete anos depois da
declaração, o presidente disse, ontem, que “conversar é melhor do que bater”, ao assinar
o documento que encaminha ao Congresso Nacional um projeto de lei para proibir a
prática de castigos físicos em crianças e adolescentes.
A proposta é de que a nova lei seja incorporada ao Estatuto da Criança e do Adoles-
cente (ECA) e que pais, professores e babás que izerem uso de beliscões, empurrões
ou puxões de cabelo em crianças sejam penalizados. O maior rigor da lei para a famosa
palmadinha é motivo de discordância entre especialistas em educação. Mesmo contrá-
ria à palmada, a ilósofa, mestre em educação e autora de 19 livros – entre eles, Limites
sem Traumas – Tania Zagury, classiicou como ingerência excessiva do Estado, a medida.
Ela acredita que a origem do projeto é boa, no sentido de evitar o espancamento, mas
que a proposta é controversa: “Fico temerosa. Acho que essa lei não terá condições de
ser cumprida. Não temos Poder Judiciário para resolver casos seríssimos, como os de as-
sassinatos, como poderemos ter para casos como esses? Além disso, não precisamos de
uma lei como essa, já temos uma legislação que trata do agressor físico, seja pai ou não”.
A gaúcha Carmen Oliveira está em Brasília, à frente da Secretaria de Promoção dos Di-
reitos da Criança e do Adolescente, e é coautora do projeto. Ela garante que as novas
medidas terão função mais de educar do que de proibir beliscões.
“Somente em um caso reiterado de palmadas é que caberia a autoridade judiciária apli-
car o afastamento do agressor do convívio do menor de idade”, airma Carmem.
Foi enxergando as mudanças por este viés é que a psiquiatra, psicanalista e professora
da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), Nina Furtado,
recebeu como positiva a notícia de possíveis alterações no ECA. Para Nina, a medida
pode fazer com que pais mais radicais, que costumam abusar com mais severidade dos
ilhos, possam ser alertados.
“Para aqueles pais agressivos por fatores como alcoolismo, drogas ou que tenham sido
maltratados não vai ter muita mudança comportamental”.
A maior preocupação, para Tania, diz respeito à relação entre pais e ilhos. Ela acredita
que a medida possa gerar uma sensação de impunidade nas crianças e nos adolescen-
tes e que muitas denúncias infundadas sejam levantadas, cometendo algumas injusti-
ças e má interpretação da lei.
“O que o Estado pode fazer por essa criança, caso ela perca o direito de ter os pais por
perto?”
ENTENDA A PROPOSTA
Atualmente, a lei que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) condena
maus-tratos contra a criança e o adolescente, mas não deine se os maus-tratos seriam
físicos ou morais.
Com o projeto, “castigo corporal” passa a ser deinido como “ação de natureza disciplinar
ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou adoles-
cente”.
Para os infratores, as penas são advertência, encaminhamento a programas de proteção
à família e orientação psicológica.
ALTERNATIVAS ÀS PALMADAS
Exemplo dos pais
Uma das melhores formas de educar, segundo especialistas, é dando bons exemplos aos
ilhos. Por exemplo, pais devem ter atitudes adequadas no trato com outras pessoas, nas
relações familiares, no trânsito, no supermercado, ao telefone. O comportamento dos
ilhos relete em parte o que os pais fazem.
Perdas
Quando a criança se comporta mal, deve ser proibida de fazer algo que gosta, perder al-
gum privilégio. Por exemplo, se machucou o irmão menor, pode ser obrigada pelos pais
a icar sem ver TV durante uma tarde. Se for um adolescente, pode ter a mesada cortada
ou adiada em alguns dias.
Diálogo
Explicar por que determinada atitude foi inadequada faz a criança entender o que é
certo ou errado. Dependendo da idade, a criança que recebe uma palmada pode não re-
lacionar o castigo físico com o que fez de errado. Mostrar à criança por que determinada
atitude não foi boa, colocando-se no lugar da pessoa prejudicada, é o indicado.
119
Pacto
Sem se tornar um hábito frequente, pais podem fazer acertos com os ilhos. Por exem-
plo, se a criança passar o im de semana estudando para uma prova difícil, pode viajar
na semana seguinte com a avó. Esse tipo de compensação não deve ser frequente, sob
o risco de levar a criança a só fazer tarefas mediante o recebimento de algo em troca.
Pensar
Em casos que devem ser analisados pelos pais, crianças que se comportam mal podem
ser levadas para um local da casa onde devem icar sentadas por determinado tempo.
É como se usassem esse tempo para pensar no que izeram de errado (isso deve ser ex-
plicado). Uma dica é que o tempo seja calculado de acordo com a idade da criança. Por
exemplo, se tem três anos, ica três minutos. A criança, porém, não deve ser isolada do
convívio das demais pessoas nem icar imóvel em uma cadeirinha.
Acesse o link a seguir e conheça mais sobre conceitos importantes da teoria freudiana:
<http://www.redepsi.com.br/2007/10/11/a-agressividade-puls-o-de-morte-e-suas-correla-es-
com-ato-de-viver/>.
Professora Dra. Rachel de Maya Brotherhood
Professora Me. Waléria Henrique dos Santos Leonel
TEMAS EMERGENTES NA
V
UNIDADE
ESCOLA CONTEMPORÂNEA
Objetivos de Aprendizagem
■ Analisar a função social da escola no mundo contemporâneo.
■ Relacionar violência na escola, educação moral e socialização.
■ Apresentar uma proposta de constituição de uma escola
emancipadora.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Socialização: emancipação ou normatização?
■ Violência e Indisciplina
■ Violência na Escola – o Bullying
■ Educação Moral
■ Atuando na formação intelectual e social: ensino para a compreensão
■ Atuando na área da interação social: uma proposta teórica
■ Atuando na formação moral do indivíduo
123
INTRODUÇÃO
Introdução
124 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
SOCIALIZAÇÃO: EMANCIPAÇÃO OU NORMATIZAÇÃO?
Como colocado na introdução, a socialização das crianças é hoje uma das res-
ponsabilidades atribuídas à escola, responsabilidade esta que reveste a sua ação
de grande importância, pois, para além do desenvolvimento escolar, a leva a
assumir essa função de destaque no desenvolvimento da própria sociedade, res-
saltando a característica de ‘organismo social’ da escola e exigindo uma postura
mais política desta.
Atualmente, as diversas formas de violência que assolam a sociedade atingem
os espaços privados e os públicos. Dentre os contextos institucionais, nos quais
a violência se manifesta, tem destaque a escola, onde crianças e jovens cometem
delitos que vão da agressão e porte de armas ao descumprimento das normas
escolares, caracterizando a indisciplina, o que relete no processo de aprendiza-
gem e formação dos alunos.
Em um mundo onde as relações interpessoais e intrafamiliares estão em um
processo tão rápido de transformação (ou de deterioração), no qual os modelos
vigentes colocam pais e ilhos, adultos e crianças em um mesmo patamar hie-
rárquico, em que não existe respeito aos mais velhos ou às tradições e valores
das gerações passadas, em função de novos parâmetros construídos e divulga-
dos, sobretudo, pela mídia e que são incorporados de forma não relexiva pela
maioria, desconsiderando os resultados psicológicos sobre o desenvolvimento,
a adequação, o contexto e as consequências em longo prazo, o que se pode con-
siderar violência? O que se pode deinir como indisciplina?
Para abordar a questão proposta para este item, inicialmente vamos concei-
tuar indisciplina escolar e relacioná-la à violência e, em seguida, determinar as
possíveis formas de atuação da escola, com suas determinações políticas, para
enfrentar e superar o problema proposto.
OS CONCEITOS ENVOLVIDOS
VIOLÊNCIA E INDISCIPLINA
Tal percepção, que parte da visão de escola enquanto aparato reprodutor das
relações sociais mais amplas e atribui a ela a disseminação da ideologia domi-
nante por meio de suas práticas, se estenderia, segundo Aquino (1996, p. 13),
“desde a submissão tácita às regras da hierarquização escolar até a introjeção
de conteúdos falseadores da realidade e assumidos como naturais e acríticos”, o
que caracteriza a violência simbólica. Para esse autor, portanto, a indisciplina e
a violência nas duas acepções, antes apresentadas separadamente, estariam reu-
nidas nessa visão mais crítica dos processos educacionais. O autor discute, na
obra citada, as relações sociais especíicas que constituem o funcionamento da
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instituição escola e os conlitos que as caracterizam, mostrando as possibilidades
de tais relações concretas e de uma ação institucional mais positiva, no sentido
de superação da violência na escola e na própria sociedade.
Nessa perspectiva, a indisciplina pode ser vista como a violação das leis ou
regras postas pela própria instituição, no caso, a instituição escolar, e pode-se
considerar esse desrespeito como sinônimo de violência. Castro (2010, p. 1) res-
salta que “a indisciplina pode implicar violência, mas não é necessário que esta
ocorra”. A autora então faz uma distinção entre perturbação, conlitos e vanda-
lismo, mostrando que as perturbações podem afetar o andamento das aulas e
da escola, os conlitos podem afetar as relações formais e informais entre alu-
nos e entre professores e alunos, podendo envolver agressividade e violência e
se caracterizar como extorsão, roubo, violência física ou verbal, e o vandalismo
que ocorre contra a instituição escolar e tudo o que ela representa.
Negrão e Guimarães (2004, p. 404) trazem também uma classiicação em
níveis da violência escolar elaborada por Charlot, que parece assimilar as duas
formas citadas, assim distribuídas:
Violência propriamente dita – golpes, ferimentos, violência sexual,
roubos, crimes, vandalismo etc.
Por um lado, há teorias que colocam como principal causa da violência a pró-
pria natureza do indivíduo. As teorias psicanalíticas, por exemplo, têm diferentes
vertentes explicativas da violência; a vertente mais naturalista (Freud, Melanie
Klein) vê a violência como resultante da agressividade inata do ser humano, que
se manifesta em comportamentos destrutivos ou autodestrutivos, e as perspec-
tivas de Winnicot e Lacan, que a veem como decorrente de fatores sociais que
afetam esse indivíduo, como as frustrações ou a destruição da imagem que ele
faz de si, e da necessidade de restaurar essa imagem destruída pela sociedade
(NEGRÃO; GUIMARÃES, 2004). As causas da violência, portanto, estariam em
estruturas de personalidade que predispõem o sujeito a agir de forma agressiva, a
im de contrariar as normas. Os alunos seriam, pois, indisciplinados por natureza.
Outra corrente, fundada na ideia originária da ilosoia Soista de que a
natureza humana é uma espécie de recipiente vazio, que será preenchido pelos
estímulos do ambiente, defende que a violência é causada pela sociedade e que
o indivíduo “[...]pode ser moldado, preenchido” (CASTRO, 2010).
Entre as duas correntes existe uma multiplicidade de explicações e atualmente
vê-se uma predominância da explicação que coloca no estado, na educação e na
cultura as suas causas.
Portanto, a ênfase explicativa oscila entre o inato e o adquirido, o social e
o biológico. Paralelamente a essa oscilação, parece haver na literatura um con-
senso de que a violência é um problema real nos ambientes escolares que deve
ser circunstanciado e sua solução planejada de forma concreta e teoricamente
fundamentada.
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países que utilizam outros termos de sua língua, sem que se perca o signiicado.
Zawadski e Middelton-Moz (2007, p. 21) assim conceituam bullying:
O bullying envolve atos, palavras e comportamentos prejudiciais e in-
tencionais repetidos e não se limita ao ambiente escolar. Os comporta-
mentos incluídos no bullying são variados: palavras ofensivas, humilha-
ções, difusão de boatos, fofocas, exposição ao ridículo, transformação
em bode expiatório e acusações, isolamento [...] socos, agressões, chu-
tes, ameaças, insultos, ostracismo, sexualidade, ofensas raciais, étnicas,
ou de gêneros.
veis sobre seus ilhos, a falta de carinho, que também pode ser um delagrador
para essa prática, ou as brigas, discussões e maus tratos no cotidiano familiar,
que podem gerar matrizes de comportamentos violentos.
De acordo com Racy (2010, p. 115),
Quando os grupos são ‘saudáveis’, as desigualdades são administradas e
se leva em conta as demais características dos indivíduos, o que permi-
te ao grupo conviver paciicamente. Se, entretanto, os grupos são cons-
tituídos por elementos que exercem autoridade e por outros que, para
serem aceitos, sujeitam-se aos líderes e não têm valores positivos nem
próprios, formam-se grupos que, geralmente, apresentam comporta-
mentos inadequados tanto na escola quanto em casa e na sociedade de
maneira geral.
Dessa forma, muitos problemas, como o bullying, são vivenciados nessa fase
da busca de airmação e segurança em determinados grupos, como os casos de
bullying. Sentimentos de insegurança, nessas situações, impedem os jovens de
solicitar ajuda, pois são pessoas que não têm esperança quanto às possibilida-
des de se adequarem ao grupo, fortalecendo cada vez mais os comportamentos
violentos no contexto escolar.
Podemos considerar que a indiferença dos adultos em relação a essas agressões
contribui para a baixa da autoestima dos agredidos, alguns chegam a acreditar
que são merecedores do que lhes é imposto, passam a ter poucos amigos e a se
manterem isolados. Muitos passam a ter um baixo desempenho escolar, ou ao
contrário, são alunos com alto desempenho escolar, chegando a simular doen-
ças, trocam de colégio ou abandonam os estudos e evitam falar sobre o problema.
Alguns jovens acabam cometendo suicídio ou matando outras pessoas que podem
ou não estar relacionadas com os seus problemas1.
Apesar de suicientemente discutido, falta, por parte dos proissionais da
educação, aprofundamento nesse assunto, pois o bullying existe desde que a
escola existe. “Porém somente há pouco mais de três décadas é que se tornou um
assunto estudado, com parâmetros cientíicos” (FANTE; PEDRA, 2008, p. 52).
Nagel (2008) ressalta que a expansão da oferta de conhecimentos sobre o
tema bullying não vem sendo assumida na área da educação escolar e denomina
essa indisponibilidade ou falta de interesse do sistema escolar como uma fuga
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da sua responsabilidade com o desenvolvimento nos homens de sentimentos
de coletividade, solidariedade ou civilidade. Segundo a autora, faz-se necessário
que a escola assuma como condição de trabalho a responsabilidade com o cres-
cimento da violência no seu interior, realizando a tarefa de observar, registrar,
descrever e questionar o aumento da violência, divulgando o fato e sugerindo
medidas para reduzi-la.
Os professores precisam desenvolver estratégias, juntamente com o corpo
pedagógico, para que juntos possam intervir de maneira adequada em tais cir-
cunstâncias, contudo, muitos não procuram informações sobre o tema, e cabe
lembrar que a maioria das escolas não está preparada para discutir a questão.
É fundamental a instituição reconhecer que a violência é um problema social
e nesse sentido seu papel se torna indispensável para a redução das agressões
trazidas pelo bullying.
Por meio de programas preventivos, a escola deve estabelecer uma parce-
ria com as famílias, os alunos e todos os outros envolvidos para garantir sua
eicácia. Assim sendo, cada escola pode organizar uma equipe para articular
políticas de prevenção e capacitação de seus proissionais para atuar de forma
correta e procurar propiciar um ambiente mais seguro, “[...]pois, quando há um
clima de segurança, o medo gerado pelo bullying é minimizado” (ZAWADSKI;
MIDDELTON–MOZ, 2007, p. 90).
A escola é vista como um local de ensino e aprendizagem, entretanto, essa
1 Apresentamos neste item alguns relatos de casos de bullying, trazidos por Silva (2010), para ilustrar como ocorre e qual a
reação frequente dos alunos.
obterem informações a respeito do assunto, para que saibam trabalhar com alu-
nos que venham a apresentar comportamentos de bullying e possam orientá-los.
Por outro lado, a violência escolar também se relete no comportamento
docente agravando a atual situação do proissional da educação. Segundo Zagury
(1999 apud NAGEL, 2008), este está à mercê de represálias oriundas dos alunos,
dos pais, ou de membros da comunidade que vêm acelerando, inclusive, medi-
das jurídicas contra docentes. A autora, defendendo uma parceria entre pais e
professores, sinaliza para as consequências negativas da debilidade das relações
entre família e escola.
Dentre essas consequências têm-se identiicado índices elevados de uma
enfermidade denominada síndrome de burnout, enfermidade típica dos prois-
sionais que mantêm um contato direito com outras pessoas (professores, médicos,
taxistas). Essa enfermidade é conhecida como resultante do estresse proissional
que se expõe como exaustão física e tensão emocional crônica, apresentando-se
nos indivíduos como avaliação negativa de si mesmo, apatia, desinteresse por
suas atividades e insensibilidade pelas relações que o cercam.
Nagel (2008) informa que, em consequência desse estresse, podem ocorrer
resultados comprometedores no sistema educacional, em função do prejuízo que
podem acarretar à saúde mental dos proissionais. Para a autora, no entanto, essas
constatações ainda não conseguiram levar os responsáveis pela escola a exami-
narem mais atentamente as condições de trabalho dos professores que muitas
vezes resultam em desgastes emocionais e psicológicos.
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o convívio escolar é priorizado. Os conteúdos foram divididos por blocos, men-
cionados a seguir, sob a forma de tópicos.
■ Respeito Mútuo.
■ Justiça.
■ Diálogo.
■ Solidariedade.
O discurso docente tem de ser coerente com a sua prática pedagógica, pois de
nada adianta passar um ensinamento ético para seus alunos e agir de forma con-
trária a esses ensinamentos.
Mesmo havendo diferenças, sejam elas físicas, psicológicas, ou sociais, todos
podem ter um bom convívio. O medo, a insensibilidade, a diiculdade de com-
preender e se colocar no lugar do outro e a intolerância às diferenças individuais
prejudicam o ensino, a aprendizagem e as relações sociais.
É necessário ensinar sobre a importante participação social de cada um,
criando um método que seja adequado a todos os alunos. “Dessa forma os alunos
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EDUCAÇÃO MORAL
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que são necessárias. O autor aponta o ato de mentir; nesse período já reconhece
as intenções da mentira e no que constitui uma mentira, e ainda compreende
a importância do não mentir. Sobre os conceitos de justiça, o autor revela que
a compreensão de punição justa só ocorre a partir do momento que emerge a
compreensão de regras (WADSWORTH, 1997).
A educação moral deve ser ofertada à criança em todo o seu processo de
desenvolvimento, portanto, tem como objetivo auxiliar esse processo de com-
preender e se relacionar com os outros de forma ética, com respeito e sabedoria.
A educação moral pode ser deinida como:
[...] aquela que almeja a formação de pessoas que pensam, atuam e se
relacionam de acordo com os valores da justiça, da bondade, da solida-
riedade, do respeito, e tantos outros que nos tornam mais humanos, se
não virtuosos e capazes de uma convivência harmônica com os demais
(ARISTÓTELES, 2000 apud D’AUREA-TARDELI; DE PAULA, 2001,
p. 60).
A educação moral é também denominada educação em valores e visa, segundo
D’Aurea-Tardeli e de Paula (2001), a construção, transmissão ou adesão de valo-
res considerados importantes em determinadas culturas e em determinados
momentos históricos que orientam o indivíduo em como agir consigo mesmo e
com os outros. As autoras ressaltam que se trata de valores morais e não técni-
cos ou utilitários ou estéticos, e que esses valores nos indicam como podemos ser
justos e corretos, dentro de referenciais sociais aceitos pelo grupo, pela cultura.
Diante desta conclusão, apresentamos a seguir duas possibilidades de atu-
ação da escola nessa área, a normatização e a emancipação. A primeira talvez
ainda retrate a realidade da maior parte das nossas instituições escolares, a outra
Educação Moral
136 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pelos educandos na escola e transferidos depois para a vida. Assim, a nossa escola
visa à norma, busca a adequação, a adaptação, a integração, tende às estruturas
generalizantes e repetitivas dos comportamentos conformistas.
Essa dinâmica da educação psicológica por meio da normatização e da vivên-
cia social na escola desconsidera a realidade interna do educando, seu mundo
subjetivo, bem como as experiências e vivências em outras instâncias sociais,
sobretudo na família, na qual os padrões e as normas nem sempre coincidem
com os da classe dominante. Desconsidera, portanto, a experiência cultural indi-
vidual do aluno, que contém o princípio da diferença, da variabilidade, e leva à
singularização do indivíduo.
A não consideração desses aspectos pela escola faz com que a criança viva
um confronto penoso e permanente entre as suas diversas realidades – a inte-
rior, a familiar, a escolar – a teórica e prática de sua vida.
Ao desconsiderar a realidade subjetiva e a experiência cultural do aluno ao
priorizar a normatização, impondo a cultura dominante, a escola impossibilita
a emergência de um sujeito psíquico, mais do que orgânico ou social, capaz de
realizar experiências no domínio cultural, transformador, criativo.
A educação assim feita é uma educação que pensa em desenvolvimento como
sinônimo de adaptação, de submissão. Quando, face aos confrontos entre a rea-
lidade priorizada pela escola (da classe dominante) e a realidade do educando e
o seu mundo subjetivo não considerado, surgem conlitos e incapacidades adap-
tativas, advém o fracasso, a evasão, a repetência, a não aprendizagem. A criança
se desvia da norma, do ‘padrão ideal’.
Educação Moral
138 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
valores veiculados pela escola, a realidade familiar e as experiências subjetivas
do educando.
Ao se desenvolver psicologicamente, o indivíduo vivencia sua emergência
enquanto sujeito, constituído pela sua realidade interna, que deve se integrar à
realidade externa, objeto da cultura compartilhável. Existe uma zona psicológica
em que essas duas dimensões se atualizam, se compatibilizam e são expressas e
simbolizadas por meio da linguagem. Compartilhar as experiências culturais é
fundamental para que esse processo se realize e seja percebido objetivamente.
O espaço escolar, ao não possibilitar experiências (jogos, por exemplo) no
campo da cultura e ao não dar voz ao educando para que ele simbolize essas
experiências, pode constituir uma ameaça de aniquilamento da participação e
da criação cultural desses educandos.
A criança necessita de um ambiente coniável, em que ela possa realizar expe-
riências entre o que é subjetivamente concebido e o que é percebido objetivamente.
Esse ambiente pode se materializar no ambiente escolar. Lá, pode-se possibi-
litar à criança desenvolver sua crença na realidade do mundo e em si mesma,
por meio de experiências de coniabilidade e de continuidade espaço-temporal.
Para que a escola ofereça esse espaço, faz-se necessário que a escola e os pro-
issionais que a constituem entendam o movimento entre o objeto da cultura,
o sonho e a fantasia, isto é, o confronto entre o que é meramente percebido e o
que é concebido efetivamente, para então possibilitar sua realização no espaço
da escola.
O professor teria, portanto, a função de reletir a respeito do que se passa
no campo experiencial da criança para que ela pudesse buscar no momento de
Educação Moral
140 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ência individual – interiorização da exterioridade.
Esse exercício de crítica seria possibilitado ao educando pela aquisição das
habilidades básicas de leitura e escrita (do mundo, no mundo) e ao saber já pro-
duzido e veiculado pela escola, não como simples absorção de informações. A
escola levaria o educando à (re)construção do saber, o saber deixaria de ser o
saber do outro. O resultado seria uma educação, como defendida por Paulo Freire
(1996), que não se reduz a um puro ensinar, em que o aprendiz pacientemente
aprende do ensinante, mas a um ato de conhecimento de que tanto é sujeito o
que ensina como o que aprende.
dade de pensar e agir de modo lexível com aquilo que se sabe” (WISKE et al.,
2006, p. 14). Os autores defendem que o ensino para compreensão deve emergir
de uma relação entre as formulações teóricas e as práticas dos professores. Tal
airmação exige, portanto, não somente o domínio das teorias sobre o ensino
e aprendizagem, o desenvolvimento, a formação da personalidade dos alunos
e as características da escola atual, como apresentado neste material, mas um
esforço e envolvimento de cada docente na busca dessa integração teoria-prá-
tica que podemos deinir como práxis, o que exigiria também a articulação da
ação pedagógica com as bases materiais da sociedade capitalista (RIOS, 2006).
Pode-se assim airmar que “[...] se o ensino é uma prática social viva, é impor-
tante compreender a atividade docente em seus vínculos com a prática social na
sua historicidade” (PIMENTA, 1999 apud RIOS, 2006, p. 22).
Concluindo esse raciocínio da relação teoria-prática, podemos airmar que
é preciso saber fazer bem o que é necessário e desejável no espaço da proissão
e isso exige a articulação das dimensões técnica e política, mediadas pela ética
e considerando a perspectiva estética (sensibilidade).
Essa dimensão estética envolve:
■ A importância da emoção e do afeto como elementos intervenientes na
relação pedagógica.
■ A superação da racionalidade instrumental e esforço para ampliar o con-
ceito de inteligência.
■ A valorização da experiência do professor e do esforço criativo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Por outro lado, Rios (2006) defende que o mundo é do tamanho do conheci-
mento que temos dele, o que nos leva a não esquecer a dimensão do domínio
dos conhecimentos cientíicos construídos pela humanidade no correr dos sécu-
los, o que é ainda responsabilidade da escola. Tais airmações nos levam a reletir,
com a autora, que o ensino envolve relações com o ser e o sentir, relações com
o saber e relações com o fazer, e que os limites entre essas relações nem sempre
são explícitos, exigem análise e relexão por parte do professor para sua identii-
cação e execução. Sabe-se, entretanto, que muitas vezes há ausência de condições
concretas efetivas na escola para a realização de tais propósitos.
Podemos até pensar, diante da frustração tantas vezes presente em nossa
ação docente, em face da falta de condições necessárias para esse ensino preco-
nizado, que a busca por um ensino crítico e relexivo é apenas uma idealização,
uma teorização não realizável. Cabe a nós, proissionais da educação, buscar
e construir tais condições participando da deinição ou, muitas vezes, apenas
conhecendo e exigindo a execução dos propósitos dos documentos oiciais
(Parâmetros Curriculares, Projetos Políticos-Pedagógicos etc.) da escola e da
própria sociedade organizada acerca dos objetivos da ação educativa escolar,
que sempre retratam a realidade desejável.
Formar cidadãos com possibilidade concreta de participação eiciente e
criativa na construção da cultura e da história resulta de uma ação conjunta da
família, da sociedade e, mais especiicamente, da escola, e pressupõe o ensino
como instância de comunicação entre os diversos segmentos que constituem
seu campo de atuação.
AMBIENTE FAMILIAR
Ambiente Familiar
144 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
veis estavam perdendo terreno em relação à realidade e precisavam, pois, ser revistos ou
reformados. Todavia, parece que a crise atual é diversa daquelas do passado. Os desaios
do nosso tempo inligem um duro golpe à verdadeira essência da ideia de Pedagogia,
formada nos albores da longa história da civilização: problematizam-se as ‘invariantes’
da ideia, as características constitutivas da própria Pedagogia (que incólumes, resistiram
às mudanças do passado); convicções nunca antes criticadas são agora consideradas cul-
padas de ter seguido o seu curso e, portanto, precisam ser substituídas.
No mundo líquido moderno, de fato, a solidez das coisas, tanto quanto a solidez das
relações humanas, vem sendo interpretada como uma ameaça: qualquer juramento de
idelidade, compromisso a longo prazo, prenunciam um futuro sobrecarregado de vín-
culos que limitam a liberdade de movimento e reduzem a capacidade de agarrar no voo
as novas e ainda desconhecidas oportunidades. A perspectiva de assumir uma coisa pelo
resto da vida é absolutamente repugnante e assustadora. É dado que inclusive as coisas
mais desejadas envelhecem rapidamente, não é de espantar que elas logo perdem o bri-
lho e se transformam, em pouco tempo, de distintivo de honra em marca de vergonha.
Os editores de revistas de amenidades [a mídia] percebem o impulso do tempo:
informam regularmente aos leitores sobre coisas ‘para fazer’ e ‘ter’ a todo custo, dão-lhes
conselhos sobre aquilo que é out e, portanto, descartável. O nosso mundo lembra cada vez
mais a ‘cidade invisível’ de Leônia, descrita por Ítalo Calvino (1990), onde “[...] mais do
que as coisas que a cada dia são fabricadas, vendidas, compradas, a opulência de Leônia
se mede pelas coisas que a cada dia são jogadas fora para dar lugar às novas”. A alegria
de livrar-se das coisas, de descartar e eliminar é a verdadeira paixão do nosso mundo.
Apresentamos esse excerto da entrevista de Zigmunt Bauman com o intuito
de demonstrar que as novas conigurações familiares características da sociedade
3 Leia na íntegra a resposta de Bauman à questão proposta, em que o autor apresenta a relação entre essa necessidade de
descartar as coisas e a educação escolar, em uma interpretação criativa e real da situação que vivenciamos na sociedade
atual. Fonte: PORCHEDDU, Alba. Zygmunt Bauman: entrevista sobre a educação. Desaios pedagógicos e modernidade
líquida. Cadernos de Pesquisa, v. 39, n. 137, maio/ago. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/v39n137/
v39n137a16>. Acesso em: 19 fev. 2015.
Ambiente Familiar
146 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
familiares, como estrutura familiar formada por mães e ilhos, casais separados
que se organizam em outros núcleos familiares, famílias formadas por casais
homossexuais, irmãos fruto de casamentos posteriores, entre muitas outras
formas de família. As transformações atuais no sistema família têm provocado
mudanças no comportamento, particularmente, no comportamento mascu-
lino, no qual o homem passa a assumir várias atribuições até então destinadas
à mulher (RACY, 2010).
Racy (2010) reforça dizendo que, mesmo com tantas mudanças em nossa
sociedade atual, o modelo de família nuclear composta por pais e ilhos ainda
impera.
Bauman (1989 apud PORCHEDDU, 2009) aponta que os meios de comunica-
ção e outros fatores relacionados ao mundo globalizado inluenciam fortemente as
transformações vivenciadas na atualidade nos contextos familiares. As mudanças
decorrentes desses fatores vêm gerando crises de identidade da própria família,
bem como de seus membros, e trazendo problemas de adaptação a esses novos
padrões. Furtado et al. (2009, p. 21-23) trazem uma série de situações e propos-
tas de encaminhamento para situações-problema como forma de demonstrar as
situações atuais vivenciadas pela família contemporânea.
Ambiente Familiar
148 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
competência.
5. Os pais necessitam de tempo e de energia
para argumentar o “não” aos ilhos, esclarecer
dúvidas, acolher angústias, decodiicar o signi-
icado de sentimentos estressantes e devolver
respostas apropriadas e compreensíveis às con-
5. As mudanças e o ritmo da dições dos ilhos. A família se constitui como
vida contemporânea diicul- continente quando há combinação e aceitação
tam o exercício de continência de regras de convivência, deinição de horários
da família. das tarefas, cumprimento de direitos e deveres
e estabelecimento de limites. Quando a família
funciona como continente, seus membros con-
quistam um sentimento de pertencimento, de
que são aceitos, apoiados e reconhecidos pelo
grupo familiar.
Oliveira et al. (2008, p. 26), sob outra ótica, abordam o lado positivo das novas
conigurações familiares e airmam que a família atual que, superando os laços
de consanguinidade, se caracteriza por uma redeinição de papéis, hierarquia e
sociabilidade centrados na “[...] valorização da solidariedade, da fraternidade,
da ajuda mútua, dos laços de afeto e de amor”, tem se ampliado e procura incluir
e compreender as relações entre os seus membros.
Como vemos e como destacam Oliveira et al. (2008), apresentando estudos
de vários autores, ainda não são conclusivas as pesquisas sobre a inluência das
novas conigurações familiares no desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Alguns autores apontam prejuízo e sofrimento, sobretudo em decorrência das
separações e divórcios, que podem desencadear problemas de ajuste psicoló-
gico e social. Outros destacam as possibilidades das reorganizações familiares
nos aspectos emocionais e afetivos, que podem favorecer o amadurecimento
precoce dos ilhos. A diferença entre tais resultados estaria relacionada, dentre
Ambiente Familiar
150 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
levar a comportamentos indesejáveis em seus ilhos (LOOS; CASSEMIRO, 2012).
Os autores ressaltam que, por outro lado, expectativas e práticas positivas dos
pais em relação a seus ilhos podem estar associadas a um desenvolvimento
sócioemocional adequado.
É na família que a criança aprende desde o nascimento o que é o amor,
a empatia, o carinho, o respeito, e também a cumprir as leis, a torcer
por um time de futebol, a adotar uma religião. O primeiro contato com
o mundo se dá no ambiente familiar. Através dos pais, o bebê interna-
liza o mundo. Tudo o que se aprende na família relete o que vivencia-
mos na sociedade (RACY, 2010, p. 106).
Ambiente Familiar
152 UNIDADE V
A vida na sociedade moderna leva as crianças cada vez mais cedo para o
ambiente escolar. Esse contato, fora do contexto familiar, amplia o universo
social da criança, expandindo seu conhecimento, seus valores, costumes e
as mais diversas áreas do seu desenvolvimento. Portanto, a escola é de fun-
damental importância para a socialização e desenvolvimento da criança.
Fonte: PILETTI, N.; ROSSATO, G.; ROSSATO, S. M. Psicologia do
desenvolvimento. São Paulo: Contexto, 2014.
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ATUANDO NA ÁREA DA INTERAÇÃO SOCIAL: UMA
PROPOSTA TEÓRICA
Como pudemos observar nas unidades anteriores, nos estudos sobre o processo
de desenvolvimento do ser humano, os paradigmas se sucedem e novas expli-
cações substituem as antigas, sempre na busca de uma abordagem que favoreça
não apenas a compreensão, mas também a intervenção nesse processo. Os teó-
ricos da prática escolar se apropriam desses paradigmas e tentam desenvolver
estratégias de ação neles fundadas que possibilitem à escola instância formal deci-
siva para o desenvolvimento de crianças e jovens, intervenções efetivas como
forma de melhorar a aprendizagem dos alunos e, consequentemente, favorecer
seu desenvolvimento. Muitas vezes, tais estratégias não levam para o professor
o fundamento teórico que as orientam, o que faz com que a prática pedagógica
não se dê acompanhada de um desenvolvimento do domínio completo, pelos
docentes, sobre os processos buscados pelas estratégias propostas e em uma visão
mais ampla do desenvolvimento humano, inalidade da sua ação pedagógica.
Levar aos professores essa base cientíica exige, inicialmente, a valorização
da práxis para que, a partir do seu processo de formação inicial e continuada,
busquem pôr em prática uma ação pedagógica consciente e cientiicamente fun-
damentada. Essa valorização pressupõe estudo e diálogo acadêmico.
Diante desse desaio, o presente item pretende retomar uma análise dos con-
ceitos fundamentais da teoria histórico-cultural do desenvolvimento das funções
mentais do ser humano, objetivando realizar, junto com você, futuro(a) profes-
sor(a), uma relexão sobre os mecanismos possibilitadores da interação social,
De acordo com Leonel (2014), a inteligência humana se constitui por meio dos
instrumentos e signos, como a linguagem, os quais são elaborados historica-
mente e transmitidos entre as gerações, promovendo a diferença do homem
e dos animais num processo ontogenético. É possível dizer que o desenvolvi-
mento do homem e também o seu comportamento não são regidos apenas pelo
biológico, mas sim por um processo histórico-social. Portanto, a escola tem o
compromisso de buscar desenvolver esses sistemas e a forma de utilizá-los com
competência em diferentes contextos.
Vygotsky (1988) observa que o uso dos signos serve de base a todos os pro-
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cessos mentais superiores. Quando se tenta apreender de que forma o signo
participa da atividade cognitiva, percebe-se que nas crianças pequenas a aborda-
gem é natural, há uma relação direta entre signo e objeto, o signo é um elemento
externo e utilizado externamente, e progressivamente a criança passa a interna-
lizar o uso do signo.
Vygotsky (1988, p. 63) deine internalizar como “[...] reconstruir interna-
mente uma operação externa”, até que se torne um processo puramente interno.
A inteligência prática e o uso de signos, embora possam operar independen-
temente em crianças pequenas, evolui para uma unidade dialética no adulto
humano quando a atividade simbólica atinge sua função organizadora, dando
origem a formas superiores de comportamento.
De acordo com Facci (2004), o psiquismo humano se desenvolve a partir da
atividade social, da mediação, dos instrumentos e dos sistemas de signos, pelos
quais o homem tem condições de transmitir suas atividades ao longo da histó-
ria. Assim, a partir da interação do homem com o mundo e das relações entre os
homens, o psiquismo humano avança em suas funções elementares constituindo
formas superiores de comportamento e depois em funções psíquicas superiores.
Dentre as atividades simbólicas, a fala é das mais signiicativas, pois possi-
bilita que a criança domine a si mesma e as suas ações. A fala tem uma função
interpessoal, pois permite que a criança se comunique com o seu ambiente social,
e uma função intrapessoal. Por meio dela, a criança nomeia, planeja suas ações,
se desloca no tempo, relete o mundo exterior, expressa os seus desejos.
Luria e Vygotsky (1996, p. 52) ressaltam a importância do desenvolvimento
histórico e a evolução dialética desse processo de desenvolvimento da criança,
criança pequena que, ao brincar, verbaliza as suas ações, diz o que está fazendo,
e progressivamente substitui a verbalização pelo pensamento e não mais fala
sobre o que está fazendo. Isso equivale a dizer, segundo Vygotsky (1988, p. 30),
que “a história do processo de internalização da fala social é também a história
da socialização do intelecto prático das crianças”.
Os sistemas de signos, histórica e culturalmente criados, ao serem interna-
lizados pelo homem modiicam o seu comportamento e estabelecem elos entre
as formas iniciais e tardias de desenvolvimento individual, mas também sofrem
a ação do homem, sendo por ele modiicados.
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Nesse sentido, e considerando o desaio de formar jovens para o mundo contem-
porâneo de múltiplas linguagens, citamos Passarelli, que se refere às transformações
do mundo atual e sugere a necessidade de se “[...] aprimorar a competência lin-
guística” do aluno, o que signiica formá-lo para que saiba optar pelo registro
mais adequado em cada contexto que atua (EDUCATRIX, 2011, p. 34).
Ainal, quais seriam esses registros? A linguagem formal, acadêmica, a lingua-
gem da mídia, a linguagem da internet, dos jovens e tantas outras. Apresentamos
ao inal desta unidade, como “Material Complementar - na Web”, um link no
qual você terá oportunidade de conhecer mais sobre as diferentes linguagens
das disciplinas escolares, como a linguagem do campo da Arte, das Ciências, da
Matemática, dentre outras.
Retomando nossa discussão, outro aspecto importante da interação social
para o desenvolvimento cognitivo é a função da atividade da criança. A teoria
da atividade foi desenvolvida inicialmente por Leontiev e Luria, com base nos
estudos de Vygotsky, que partem da ideia marxista do trabalho (atividade labo-
ral, prática) como expressão maior da atividade do homem e se ampliam para
a atividade psíquica como forma peculiar de atividade (LEONTIEV, 1998 apud
LIBÂNEO, 2004).
Depois de receber contribuições de vários autores, não apenas na Rússia, mas
em vários outros países do norte da Europa, Estados Unidos e América Latina, a
Teoria da atividade da criança é mais recentemente ampliada por Davidov (2002
apud LIBÂNEO, 2004). Para esse autor, “[...] a atividade humana tem uma estru-
tura complexa que inclui componentes como: necessidades percebidas, capacidades,
objetivos, tarefas, ações e operações que estão em permanente estado de interligação
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dade, isto é, o motivo”. Pode-se, portanto, dizer que dentre as atividades infantis
(escola, jogos, trabalho) algumas assumem importância, porque nelas os pro-
cessos psicológicos particulares tomam forma e são reorganizados, o que leva os
autores susoditos a deinirem a atividade principal ou dominante.
Facci (2004) explica que todas as atividades dominantes aparecem como
elementos da cultura humana, sendo a sociedade na qual está inserida e tam-
bém sua cultura o que determinam o conteúdo e a motivação na vida da criança.
Por exemplo, dentro de atividades como brincar (jogos), estão contidos pro-
cessos de instrução, regras de grupo, classiicação, generalização, abstração etc.
Nas atividades domésticas e também nos brinquedos, estão contidos processos
importantes como aquisição de papéis. Portanto, por meio da atividade princi-
pal, o homem estabelece relações com o mundo, com outras pessoas e elabora
necessidades especíicas.
Nas formulações teóricas apresentadas, as raízes do desenvolvimento da
criança se encontram nas ligações entre história individual e social. Esse enfoque
sociocultural ressalta a relação entre desenvolvimento e aprendizagem (formal e
informal). Vygotsky (1988, p. 102) mostra a natureza e a singularidade dessa rela-
ção ao airmar que “[...] existem relações dinâmicas altamente complexas entre
processos de desenvolvimento e aprendizado, as quais não podem ser engloba-
das por uma formulação hipotética imutável”.
Nessa linha de pensamento, desenvolvimento e aprendizagem são dois pro-
cessos inter-relacionados – o desenvolvimento prepara e possibilita determinado
processo de aprendizagem, enquanto a aprendizagem estimula o desenvolvi-
mento, faz avançar até certo grau. Assim, o papel da aprendizagem é ampliado;
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culares do organismo e quaisquer oportunidades de experiência oferecidas pela
situação objetiva na qual o organismo se encontra” (VYGOTSKY, 1988, p. 141).
Vygotsky (1988) tem uma visão dialética da interação, na qual o indivíduo
não é um elemento passivo à ação do ambiente, mas interage, atua sobre ele,
transformando-o e dando origem a condições únicas de caráter essencialmente
histórico e cultural.
Vygotsky (1988) e seus colaboradores e seguidores também ressaltam a
importância da educação formal para o processo de desenvolvimento. Eles não
descartam o pressuposto de que a aprendizagem da criança começa muito antes
da aprendizagem escolar, e que a aprendizagem informal no período pré-escolar
é fundamental para a aprendizagem formal. Salientam, contudo, que não existe
continuidade entre os dois tipos de aprendizagem.
O autor faz a distinção qualitativa entre educação escolar e educação no
sentido amplo, mostrando que, na escola, a criança − partindo de seus próprios
signiicados adquiridos na fase pré-escolar, tais como: noções de linguagem, hábi-
tos, informações, rudimentos de aritmética e até de linguagem escrita − entra,
orientada pelo professor, no caminho da análise intelectual e do pensamento
cientíico, estabelecendo novas relações cognitivas com o mundo.
Conclui-se que a aprendizagem escolar não é diferente da informal ape-
nas por ser sistemática, mas por ter uma natureza diferente, de orientação mais
acadêmica.
natureza psicológica que foca a relação entre moral e ética. Acerca da ética, a
autora explicita:
Relexão sobre a moral, tal como os povos a desenvolvem.
Sendo a pergunta que orienta como viver, o plano ético, segundo a autora, é
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aquele que busca o que traz sentido à vida. Nesse contexto, gostaríamos de citar
Cortella e LaTaille (1989 apud D’AUREA-TARDELI, 2008, p. 290):
A perspectiva ética é a perspectiva de uma vida boa, para e com ou-
trem, em instituições justas. Veja que ‘programa’ completo: a perspec-
tiva de uma vida boa em que o outro comparece de duas formas – com
o outro – seria a ideia de grupo, da cooperação – mas também para o
outro – que é a ideia da benevolência, da generosidade. E essa deinição
não esquece a dimensão política: em instituições justas.
Acreditamos ser essa uma deinição adequada para nortear a ação da escola
acerca da educação moral.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para concluir esta unidade, gostaríamos de destacar que o grande foco das
escolas brasileiras, no momento atual, é formar alunos aptos a ler, interpretar
e argumentar com luência, com a inalidade que eles atuem no mundo como
cidadãos críticos e transformadores. Esse é o discurso de especialistas e pesqui-
sadores e sobretudo dos documentos oiciais, porém isso ainda não acontece na
prática. Faz-se necessária uma mudança nos rumos da educação para que pos-
samos buscar tal objetivo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Uma visão diferente das relações entre a sociedade, a família e a escola, uma
formação proissional inicial e continuada dentro dos parâmetros preconizados
pela academia, maior valorização dos proissionais da educação e a superação da
violência escolar são algumas atitudes necessárias na luta da escola para ocupar
com competência o lugar que lhe cabe. Com isso, estaremos formando gerações
que possam levar à superação do atual paradigma social, retrato de desagregação
e também de desesperança, e que parece ver a escola como um local de conlitos,
omissões e despreparo. Para tanto, é necessário o domínio das teorias pedagó-
gicas e psicológicas que fundamentam a práxis do professor e um envolvimento
afetivo e consciente dos proissionais da educação com essa ação.
Concluindo esta relexão, propomos que você busque o conhecimento que
fundamenta uma prática ajustada aos objetivos do desenvolvimento integral do
educando, para uma atuação autônoma na sociedade.
Sabemos que o cotidiano escolar apresenta inúmeras diiculdades, entre-
tanto, é essencial que a escola e seus proissionais assumam uma postura decisiva
para efetuar um ensino que promova de fato o aprendizado e desenvolvimento
do aluno. Assim sendo, certamente poderemos apontar que o investimento em
formação, pesquisa e estudo trará contribuições importantes para a prática do
proissional, reletindo na aprendizagem do aluno.
Considerações Finais
1. As famílias vivenciaram transformações no decorrer da história. Na atualidade,
apresentam novas conigurações, constituindo a família no mundo contemporâ-
neo. Em relação à família, leia as airmações e assinale a alternativa correta:
I - Entre as funções básicas das famílias, encontram-se a construção da saúde
emocional, a proteção e o bem-estar de seus membros.
II - As famílias desenvolveram no decorrer dos tempos funções diversiicadas de
transmissão de valores éticos, estéticos, religiosos e culturais.
III - As relações familiares estabelecidas são essenciais para o desenvolvimento
da criança.
IV - As transformações atuais têm provocado mudanças no comportamento, par-
ticularmente, no comportamento masculino.
a. Somente I e II estão corretas.
b. Somente II e III estão corretas.
c. Somente I, II e IV estão corretas.
d. Somente I, III e IV estão corretas.
e. Todas estão corretas.
Futsal – nos inais de semana eventu- Mais Educação (MEC) – que deverá ampliar
almente a escola cede o espaço para a em três horas a carga horária dos alunos do
comunidade; 6º ao 9º ano de escolaridade, oferecendo
alimentação e atividades de: teatro, dança,
Festival de Cinema – em parceria com a esportes, produção de texto e elaboração
prefeitura local, um grupo de alunos parti- de vídeos (laboratório de informática);
cipou de uma formação que durou 6 meses
(em 2009) e que culminou na produção Festival de Cinema – nova formação
de um ilme para o I Festival Estudantil de visando participação no II Festival Estu-
Cinema local; dantil de Cinema local.
Artes – em 2010, em parceria com uma Poderão ocorrer, ainda, outras atividades
universidade local, um grupo de alunos complementares; como a realização, duas
participa durante todo o ano letivo de uma vezes por ano, de Ações Sociais de Saúde,
formação especíica em artes plásticas. Educação e Cultura em benefício da comu-
nidade (parceria com o Clube Rotary local,
Para o 2º semestre de 2010, Emília nos relata posto de saúde da família, igrejas, comuni-
que estão previstas as seguintes atividades: dade e universidades locais).
Projeto SUDERJ 2010 – proposto pela É importante destacarmos, como faz Emília,
Câmara dos deputados e no qual profes- que essas atividades envolvem tanto alunos
sores de educação física atenderão alunos da escola, como seus familiares e outras
e comunidade quatro vezes por semana, pessoas da comunidade.
com atividades esportivas para crianças,
jovens e 3ª idade;
Fonte: MENIN, Maria Suzana S.; TREVISOL, Maria Teresa Ceron. Educação Moral: o que tem acon-
tecido nas escolas públicas brasileiras? In: D’AUREA-TARDELI, Denise; DE PAULA, Fraulein Vidigal
(Org.). O cotidiano da escola: as novas demandas educacionais. São Paulo: Cengage Learning,
2001. p. 59-92.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Para saber mais a respeito de alguns dos temas tratados nesta unidade, acesse os
links a seguir.
Violência na escola: os sinais de bullying e o olhar necessário aos Sentimentos
<http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Educacao/Doutrina/Bullying%20e%20o%20
olhar%20necess%C3%A1rio%20aos%20sentimentos.pdf>.
Material Complementar
171
CONCLUSÃO
Concluímos o nosso livro sugerindo que você busque introduzir em sua prática, a
partir dos conhecimentos teóricos e por meio deles, o debate ético-político, com o
objetivo de fomentar, por meio de procedimentos argumentativos e dialógicos ade-
quados à faixa etária de seus alunos, a sensibilidade e a participação na construção
de uma sociedade mais humana.
Vimos nesta disciplina conceitos básicos sobre aprendizagem e ensino, consideran-
do fatores e questões ligadas à atividade escolar, e alguns aspectos do desenvolvi-
mento de crianças e adolescentes com ênfase na dimensão cognitiva e na constitui-
ção da personalidade.
A escolha dessas dimensões deveu-se à necessidade de uma compreensão do pro-
cesso de desenvolvimento e de aprendizagem do aluno, uma vez que a disciplina
Psicologia Escolar compõe o currículo, sendo esta essencial para a formação do alu-
no e futuro proissional, logo, o que se pretende com os conhecimentos psicológi-
cos é fundamentar cientiicamente a prática pedagógica.
Sabemos da complexidade dos temas e da amplitude das teorias abordadas, das
quais apresentamos apenas recortes, correndo o risco de simpliicação e supericia-
lidade, face à natureza do material. Enfatizamos, portanto, a necessidade de consul-
ta às fontes indicadas, de leituras complementares e de pesquisa como formas de
complementar os conhecimentos transmitidos.
Esperamos ter plantado a semente da compreensão da necessidade de um olhar
atento para as questões psicológicas envolvidas na prática pedagógica e da respon-
sabilidade da escola com a criança e o adolescente, como seres em desenvolvimen-
to e como seres multidimensionais.
Destacamos a importância de conciliar estratégias pedagógicas com capacidades,
necessidades e interesses dos alunos em buscar a cientiicidade no desenvolvimen-
to dos processos educacionais e de fazer da observação atenta do aluno e da aplica-
ção do saber cientíico o ponto de partida de toda a prática, promovendo a práxis e
favorecendo o desenvolvimento integral do ser humano.
Esperamos que você, aluno(a) envolvido(a) neste curso, prossiga seus estudos bus-
cando sempre preencher as lacunas no seu conhecimento e ampliando suas habili-
dades e competências de forma autônoma e responsável.
173
REFERÊNCIAS
UNIDADE I
QUESTÃO 1 - Nesta questão, você deverá apontar quais os fatores situacionais e in-
terpessoais que interferem no desenvolvimento e na aprendizagem:
FATORES INTRAPESSOAIS – são fatores internos e individuais, que resultam de capa-
cidades genéticas, história de vida, situações informais e formais de aprendizagem,
entre outros; aqui podemos citar: idade mental, nível de inteligência, maturidade
emocional, prontidão, comportamentos sociais, padrões familiares, motivação.
Também podemos falar de temperamento, personalidade, nível de inteligência e
autoeicácia.
FATORES SITUACIONAIS – interpessoais são fatores do contexto social. O contexto
escolar possibilita interação com os pares, interação professor-aluno, socialização.
Esses aspectos contextuais possibilitam o atendimento da necessidade do indiví-
duo de pertencer e estabelecer vínculos essenciais na construção da identidade,
e que têm relexos importantes na aprendizagem e no desenvolvimento humano.
Destacamos que comportamentos desadaptados, disfuncionais ou patologias mais
severas na adolescência e na vida adulta podem ser resultantes ou agravadas por
vivências escolares.
QUESTÃO 2 - Você deverá apresentar os oito períodos de desenvolvimento, de acor-
do com a faixa etária (período pré-natal; primeira infância; segunda infância, terceira
infância, adolescência, início da vida adulta, vida adulta intermediária, vida adulta
tardia). Em seguida, irá apresentar as características do desenvolvimento psicosso-
cial na vida adulta tardia.
QUESTÃO 3 - O homem é compreendido como um ser construído sócio-historica-
mente, dessa forma, é preciso compreender o homem e a sociedade na qual está
inserido, pois este é construído mediado pelas relações sociais estabelecidas histo-
ricamente. Logo, entendemos que o homem vai construindo seu mundo transfor-
mando a sociedade e sendo transformado por ela.
GABARITO
UNIDADE II
QUESTÃO 1 - Alternativa correta: letra D.
QUESTÃO 2 - Alternativa correta: letra E.
QUESTÃO 3 - Alternativa correta: letra E.
UNIDADE II
QUESTÃO 1 - Alternativa correta: letra E.
QUESTÃO 2 - Alternativa correta: letra D.
QUESTÃO 3 - Os estágios de desenvolvimento propostos, ou também chamados de
Períodos descritos por Piaget, são: O período sensório-motor; Período Pré-Opera-
cional; Período das Operações Concretas; Período das Operações Formais ou Pro-
posicionais.
UNIDADE IV
QUESTÃO 1 - Alternativa correta: letra A.
QUESTÃO 2 - Alternativa correta: letra E.
QUESTÃO 3 - Alternativa correta: letra E.
UNIDADE V
QUESTÃO 1 - Alternativa correta: letra E.
QUESTÃO 2 - Alternativa correta: letra B.
QUESTÃO 3 - Alternativa correta: letra C.