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GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
SAÚDE COLETIVA
SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)!
Este material foi cuidadosamente preparado para você! Tendo como objetivo introduzir
alguns temas da Saúde Coletiva em uma perspectiva atualizada, buscando ajudá-lo(a)
na compreensão acerca da temática e subsidiar sua prática como profissional da área
da saúde.
Este material está dividido em cinco unidades:
A Unidade I busca discutir o binômio saúde-doença em uma perspectiva atualizada,
discutindo as mudanças e a evolução do conceito de saúde ao longo dos tempos e os
modelos de saúde preventivista e de promoção à saúde, também discute os fatores
condicionantes e determinantes no processo saúde-doença e seu impacto na realidade
brasileira e, ainda, nesse sentido, apresenta os modelos de Atenção à saúde no Brasil.
A Unidade II trata da História da Saúde Pública no Brasil, tendo como marco o Sistema
Único de Saúde (SUS), descrevendo seu período antecedente, seus processos de cons-
trução, destacando interesses, conflitos e necessidades sociais que deram origem ao
SUS, seus princípios e diretrizes, bem como as diretrizes do pacto pela Saúde e as Redes
de Atenção à saúde.
A Unidade III discute Vigilância em saúde, os sistemas de informação em saúde, indica-
dores de saúde e os desafios atuais diante do trabalho no contexto da vigilância.
A Unidade IV sintetiza as principais políticas de saúde no Brasil, relacionadas à Saúde
da mulher, da criança, do adulto e idoso, bem como políticas voltadas às populações
vulneráveis e à saúde mental.
E, finalmente, a Unidade V destaca os objetivos e princípios da Política Nacional de Hu-
manização (PNH), bem como suas diretrizes e os dispositivos, relacionando-os aos direi-
tos e a segurança do paciente, à saúde do trabalhador e aos desafios de sua operaciona-
lização no contexto hospitalar.
Nossa intenção não é esgotar o assunto, mas abrir as portas para a ampliação do seu co-
nhecimento, estimulando novas buscas para que possa enriquecer sua área de atuação
e torná-lo(a) um profissional mais crítico e reflexivo, capaz de atuar de forma eficiente
em seu contexto de trabalho.
Um grande abraço e uma ótima leitura!
Professora Marcela Demitto Furtado
Professora Raquel Gusmão Oliveira
09
SUMÁRIO
UNIDADE I
15 Introdução
38 Considerações Finais
43 Referências
44 Gabarito
UNIDADE II
47 Introdução
48 Antecedentes do SUS
54 Entendendo o SUS
64 Considerações Finais
10
SUMÁRIO
69 Referências
72 Gabarito
UNIDADE III
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
75 Introdução
76 Vigilância em Saúde
79 Vigilância Epidemiológica
89 Indicadores de Saúde
99 Considerações Finais
105 Referências
106 Gabarito
UNIDADE IV
109 Introdução
140 Referências
143 Gabarito
UNIDADE V
147 Introdução
171 Referências
174 Gabarito
175 CONCLUSÃO
Professora Me. Raquel Gusmão Oliveira
I
UNIDADE
PERSPECTIVA ATUALIZADA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Discutir as mudanças e a evolução do conceito de saúde e doença.
■■ Conhecer os modelos de saúde preventivista e de promoção à saúde.
■■ Compreender o conceito da determinação social na saúde.
■■ Apresentar os principais determinantes sociais da saúde e seu
impacto na realidade brasileira.
■■ Conhecer os modelos de Atenção à saúde no Brasil.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O Conceito de saúde e doença
■■ O modelo preventivista e o modelo de promoção à saúde
■■ Fatores condicionantes e determinantes no processo saúde-doença
■■ Os principais determinantes sociais de saúde no Brasil
■■ Organização dos serviços de Saúde no Brasil
15
INTRODUÇÃO
car compreender tal realidade, tendo como pressuposto básico que ela é dinâmica,
sujeita a modificações, influenciadas pela cultura, política e momento histórico.
Vamos observar, nesta unidade, que ao longo da história humana, a saúde
das pessoas sempre foi alvo de preocupação, por isso convidamos você para dar
uma volta na história, tanto antiga quanto atual e reconhecer pensamentos e
ações acerca da saúde.
O conceito de saúde sofreu mudanças no decorrer dos tempos, várias expli-
cações foram dadas e, ainda hoje, vários entendimentos coexistem quando
buscamos entender o processo saúde-doença.
Mas queremos destacar no texto dois modelos explicativos acerca do pro-
cesso saúde-doença: um com características biologicistas e outro buscando
compreender o ser humano de forma integral, considerando sua história, cul-
tura, contexto e estilos de vida.
Buscamos, também, ampliar o entendimento do conceito de saúde e os seus
determinantes sociais (estilos de vida, rede sociais e comunitárias e as condi-
ções de vida e de trabalho), visando uma compreensão da evolução do cenário
da saúde da população brasileira e da estruturação e organização dos serviços
de saúde ao longo dos anos.
Vamos juntos, então, nos aproximar desse universo de conhecimento tão
fundamental para o trabalho de um profissional da área da saúde.
Bom estudo! Vamos lá ...
Introdução
16 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Pergunte para algumas pessoas próximas a você: o que é ter saúde?
Agora, compare as respostas. Você certamente vai perceber que a ideia de
saúde entre as pessoas é diferente. Cada pessoa possui um entendimento acerca
do que é ter saúde.
Ao longo da história, muitas explicações foram dadas acerca do que é ter
saúde ou estar doente: as explicações mágico-religiosas, a explicação natura-
lística, o olhar bacteriológico, a explicação multicausal e a produção social da
saúde e da doença.
Vejamos um pouco dessas explicações.
A UNICAUSALIDADE
A MULTICAUSALIDADE
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O livro de Moacyr Scliar, intitulado Do Mágico ao Social: trajetória da saúde
pública, apresenta, de uma forma mais detalhada, os caminhos percorridos
pela condição humana no contexto da saúde e da doença, em uma pers-
pectiva histórica, apontando olhares e características das matrizes do pen-
samento sobre o paradoxo saúde-doença.
Fonte: Scliar (2005).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O MODELO PREVENTIVISTA E O MODELO DE
PROMOÇÃO À SAÚDE
É possível verificar que o conceito de saúde foi influenciado, no decorrer dos tem-
pos, por questões sociais, culturais e econômicas. Vale destacar que as ações de
saúde e a forma de organização da assistência também acompanham as mudan-
ças do conceito de saúde.
Na tentativa de explicar essas mudanças, diversos autores propuseram mode-
los explicativos do processo saúde-doença. Vejamos dois deles - o modelo de
Atenção à Saúde Preventivista e o Modelo da Promoção à Saúde.
O MODELO PREVENTIVISTA
O modelo pressupõe que toda doença tem um percurso natural de pré patogê-
nese, patogênese e de recuperação, e que, para cada momento da história natural
da doença, preconiza ações sanitárias que correspondem aos três níveis de pre-
venção - primário, secundário e terciário (MENEGHEL, 2015).
No período pré patogênico, os agentes causadores de doenças e o indivíduo
vivem em equilíbrio com o ambiente. No período patogênico, inicialmente, não
há sinais e sintomas da doença, também chamado de período de incubação, só
então aparecem as manifestações clínicas da doença que pode evoluir para recu-
peração, incapacidade ou morte.
As intervenções nos diferentes estágios da doença são chamadas de preven-
ção primária, secundária e terciária e têm como objetivo prevenir doenças ou
seu agravamento. As ações de prevenção primária podem ser medidas gerais e
educativas de resistência e bem-estar geral dos indivíduos, as de prevenção secun-
dária buscam a redução de fatores de risco e as de prevenção terciária reduzem
e intervêm nas sequelas de doenças.
A crítica a esse modelo se dá pelo fato dele não considerar os efeitos positivos
e negativos das condições de vida e de trabalho e a inserção social dos indiví-
duos nos níveis de saúde da população, o que reduz o conceito de saúde como
estritamente biológico, ignorando a dimensão social que envolve o processo saú-
de-doença (MENEGHEL, 2015).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A teoria da transição epidemiológica, proposta por Omran (1971) foca nas
complexas mudanças dos padrões saúde-doença e nas interações entre
eles, determinantes demográficos, econômicos e sociais, e suas consequên-
cias. As ideias abaixo destacam em sua teoria:
(i) o processo de mudanças nos padrões de mortalidade e adoecimento são
longos, as pandemias por doenças infecciosas são gradativamente substitu-
ídas pelas doenças degenerativas e agravos;
(ii) as mais profundas mudanças nos padrões de saúde-doença ocorrem nas
crianças e nas mulheres jovens;
(iii) as mudanças são fortemente associadas às transições demográfica e so-
cioeconômica que constituem o complexo da modernização;
(iv) as variações peculiares no padrão, no ritmo, nos determinantes e nas
consequências das mudanças na população diferenciam três modelos bási-
cos de transição epidemiológica, o modelo clássico ou ocidental, o modelo
acelerado e o modelo contemporâneo ou prolongado.
Fonte: Duarte; Barreto (2012).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 1 - Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio - ODMBrasil
Fonte: ONU ([2017], on-line)1.
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Figura 02 - Modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e Whitehead
Fonte: Comissão Nacional (2008, on-line)2.
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setor econômico e na forma de viver das pessoas que, saindo do campo para viver
na cidade, buscavam trabalho e melhores condições de vida; no entanto, a oferta de
infraestrutura e serviços urbanos não acompanhou a grande demanda, a tal ponto
que, em 1980, havia 38,2 milhões de moradores em domicílios urbanos inadequados.
O PIB per capita passou de 2.060 dólares, em 1960, para 5.250 em 2000 e
5.720 em 2006. Entretanto, esse extraordinário aumento da riqueza produzida
e a modernização da economia não significaram melhoria na distribuição e
urbanização, o crescimento do transporte e das indústrias, assim como a expan-
são da fronteira agrícola, criaram as condições propícias para uma permanente
exposição de contingentes populacionais, progressivamente maiores, à poluição
atmosférica e dos corpos hídricos.
Alterações na fecundidade - a taxa média geométrica de crescimento anual
da população passou de 2,89%, no período 1960/70, para 1,64%, no período
1991/2000. A taxa de fecundidade, que se mantinha estável desde 1940, passou
a cair de maneira acelerada a partir de 1960.
Envelhecimento da população e aumento da expectativa de vida. A propor-
ção de jovens de 0 a 14 anos que era de 42,6%, em 1960, passou para 30%, em
2000, e deverá atingir 18% em 2050, enquanto que a de idosos maiores de 65
anos, que era de 2,7%, em 1960, passou para 5,4%, em 2000, e no ano de 2050
deverá superar a de jovens, alcançando 19%.
Quanto à esperança de vida ao nascer, houve um ganho de mais de 20 anos,
entre 1960 e 2006, para o Brasil como um todo. O valor de 72,4 anos em 2006 é
9 anos inferior ao do Japão, país com a maior expectativa de vida ao nascer em
todo o mundo.
Diversos estudos mostram que não são as sociedades mais ricas as que possuem
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melhores níveis de saúde, mas as que são mais igualitárias e com alta coesão
social. Nessas sociedades, as pessoas são mais envolvidas com a vida pública,
vivem mais, são menos violentas e avaliam melhor sua própria saúde.
Um importante indicador da riqueza do capital social é relação de confiança entre
as pessoas. Segundo dados da Pesquisa Social Brasileira (PSB), que realizou 2.363
entrevistas entre julho e outubro de 2002, as relações de confiança, no Brasil, são
extremamente débeis, praticamente limitando-se à confiança em familiares; enquanto
84% das pessoas confiam na família, apenas 15% confiam na maioria das pessoas.
3) Condições de vida e de saúde
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de um padrão alimentar, baseado no consumo de cereais, feijões, raízes e tubér-
culos, por uma alimentação mais rica em gorduras (especialmente hidrogenadas)
e açúcares, além da crescente ingestão de ingredientes químicos, aumentando o
risco de sobrepeso e obesidade, aparecimento de doenças crônicas e incapacidades.
Os fatores relacionados a comportamentos e estilos de vida, como tabagismo,
baixo consumo de frutas, de legumes e de verduras e o consumo de álcool são
os principais fatores de risco para morte por câncer em países de baixa e média
renda, o que é o caso brasileiro.
Estima-se que o tabagismo seja responsável por 18% das mortes por câncer; o
baixo consumo de frutas, legumes e verduras por 6%; o consumo de álcool por 5%.
A saúde do trabalhador também é uma preocupação, pois os problemas de
saúde dos trabalhadores estão intimamente relacionados com o grau de desen-
volvimento alcançado por um país ou uma região.
A esses problemas se associam o deterioramento das condições de trabalho
e crescentes danos ambientais. Os acidentes de trabalho são um dos subprodutos
dessas tendências, juntamente com uma grande carga de doenças profissionais e
doenças relacionadas ao trabalho, cujas consequências contribuem para o agra-
vamento dos problemas sociais que o país enfrenta.
No Brasil, verifica-se a presença de algumas doenças já controladas em paí-
ses desenvolvidos, como a silicose e outras pneumoconioses, envenenamento
por chumbo, asbestose, síndrome do túnel do carpo, doenças dermatológicas
causadas por compostos químicos, além dos sintomas e desordens mentais rela-
cionadas ao stress, como a síndrome do Burnout.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE NO
BRASIL
Tal tendência vigorou no país do início do século XX até 1945 e recebeu esse nome
porque tinha, nas campanhas sanitárias, sua principal estratégia de saneamento.
O Brasil tinha sua economia baseada na agricultura e na exportação do café;
o comércio e o espaço nos portos era prioridade, devendo ser livre de doenças e
saneados. Devido a isso, o sistema de saúde adotado foi o modelo das campanhas
sanitárias, com foco no combate das endemias urbanas e rurais. A assistência
A saúde, que estava ligada à assistência social, tem sua ampliação na década de
70, com a cobertura para os trabalhadores rurais, as empregadas domésticas e os
trabalhadores autônomos domésticos. Em 1974, cria-se o Ministério da Previdência
e Assistência Social, que atua no atendimento médico assistencial individualizado
e o Ministério da Saúde se volta ao atendimento coletivo e vigilância sanitária.
Com a crise econômica no final da década de 70, foi impulsionado o Movimento
da Reforma Sanitária que discutia reformas nas políticas de saúde, surgindo as
ideias de medicina comunitária e o conceito de Atenção Primária à Saúde (OMS).
O Movimento da Reforma Sanitária ajuda a fortalecer o processo de Transição
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democrática, ocorrido em 1984 com a 8° conferência Nacional de Saúde, em
1986, em que se discutiu a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e culmi-
nou com sua promulgação na Constituição em 1988.
4) Modelo plural
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da anatomia, da fisiologia, da psicologia, da sociologia e da patologia, além das
várias maneiras de assistir, de abordar e se relacionar profissionalmente com o
indivíduo, a família ou a comunidade.
Não podemos nos esquecer de que o ambiente é o local onde a pessoa se
encontra com as coisas ao seu redor e que exercem nela influências, afetando-a de
várias maneiras. É necessário compreender as condições impostas como passíveis
de interferência e atentar para não culpar os indivíduos quando tais condições
forem insalubres e interferirem em seu estilo de vida. Trabalhar com as condições
de vida impostas requer um trabalho interdisciplinar e intersetorial. A área da
saúde, sozinha, não consegue assegurar qualidade de vida e, consequentemente,
de saúde. É na esfera da ética que compreenderemos a necessidade do empenho
de parte significativa da sociedade para assegurar a dignidade da vida humana.
Cabe aos profissionais da área da saúde rever em sua prática, buscando
entender que não basta trabalhar com as doenças, é necessário compreender
o indivíduo no todo como alguém que vive a experiência da necessidade, do
adoecimento, carregada de valores e significados subjetivos, únicos, capazes de
interferir na qualidade do cuidado prestado. Assim, resta-nos, como profissio-
nais da saúde, enfrentar o desafio de construir estratégias para conceber a saúde
no âmbito da atenção básica de forma mais solidária e menos punitiva na con-
vivência com os estilos de vida individuais.
ram, para além das consagradas tecnologias médicas e sanitárias, a contribuição de ou-
tros conhecimentos e instrumentos fundamentais para uma ação mais ampla, capaz de
produzir impactos na esfera dos determinantes e condicionantes.
A mudança paradigmática envolve mais atores na operacionalização da promoção da
saúde. Mais do que médicos, enfermeiros, técnicos, agentes e demais trabalhadores da
saúde, serão incorporados ambientalistas, engenheiros, advogados, antropólogos, artis-
tas, jornalistas, garis e a própria população envolvida direta ou indiretamente na produ-
ção e/ou na solução do problema.
As práticas, por sua vez, passam a contar com uma dimensão comunicativa mais forte,
buscando estabelecer vínculos sociais com a comunidade e suas formas culturais – vi-
sando a troca de saberes populares e científicos, o fortalecimento técnico e o amadure-
cimento político a partir do reconhecimento da história, dos problemas e das próprias
potencialidades do território.
O planejamento participativo é ferramenta fundamental para a viabilidade do encontro
de saberes, interesses e visões sobre a realidade. Desde a identificação e definição de
prioridades até a construção de propostas de intervenção são necessárias várias etapas
e uma significativa capacidade de mobilização. A formação dessa capacidade normativa
(CANGUILHEM, 2006) põe em evidência outra importante dimensão de uma nova prá-
tica: a ação educativa.
A análise da viabilidade pode interpor a necessidade de estabelecer objetivos estraté-
gicos, soluções parciais e incremento de recursos. As operações podem ser atingidas
somente a médio e longo prazo, porém, terão seguramente um impacto mais amplo e
formativo na sociedade do que a persistência única e exclusiva nas reformas da atenção
setorial.
A implementação e a avaliação contínua dos processos e dos resultados serão sempre
consequência da capacidade mobilizadora dos atores sociais envolvidos, sejam profis-
sionais de saúde, de outros setores ou a própria comunidade.
Fonte: adaptado de Batistella (2007).
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Visite o portal da saúde do Ministério da Saúde. Você encontrará: Blog da saúde, Web rádio saúde
e Canal saúde, que contribuem com informações e notícias sobre a saúde, aberto a todos os
cidadãos, trabalhadores e gestores de saúde e Ministério da Saúde.
E muito mais! Acesso disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/>
43
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIA ON-LINE
1
Em: <https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/>. Acesso em: 10 mai. 2017.
2
Em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/causas_sociais_iniquidades.
pdf>. Acesso em: 16 mai. 2017.
GABARITO
QUESTÃO
1) C.
2) O aluno é livre na escolha, mas deve justificá-la relacionando os determinantes
sociais de saúde (biológico, social e cultural).
3)
HISTÓRIA DA SAÚDE
II
UNIDADE
PÚBLICA NO BRASIL
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer brevemente a história que antecedeu o SUS.
■■ Identificar os interesses, conflitos e necessidades sociais que deram
origem ao SUS.
■■ Conhecer os objetivos e princípios do SUS.
■■ Descrever as diretrizes contidas nos pactos intergestores: Pacto pela
vida, Pacto em defesa do SUS e Pacto de gestão.
■■ Compreender o conceito de rede de atenção e seus componentes.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Antecedentes do SUS
■■ O processo de construção do SUS
■■ Entendendo o SUS
■■ Pactos pela saúde
■■ Redes de atenção à saúde
47
INTRODUÇÃO
mos escolhas, e tudo isso contribuiu para a formação da pessoa que somos hoje.
Da mesma forma, o setor saúde também foi construído com base na história.
O contexto político-social, a economia, o desenvolvimento da ciência e pesquisa
e a situação geral do Brasil, bem como acontecimentos a nível mundial, ao longo
dos anos, refletiram diretamente na saúde e construção das políticas públicas.
Nesta unidade, estudaremos a história e a evolução da saúde pública no
Brasil, destacando a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) que é um dos
maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Abordaremos seus objetivos e
suas diretrizes filosóficas e organizativas, bem como as reformas institucionais
que deram origem aos Pactos pela Saúde, além de discutirmos sobre as mudan-
ças no modelo de atenção com a implantação das Redes de Atenção à Saúde.
O conhecimento adquirido aqui será fundamental para a compreensão das
demais Unidades, além de permitir uma visão mais ampliada e crítica sobre a
organização dos serviços de saúde no Brasil, contexto no qual o profissional da
área da saúde irá atuar.
Vamos, então, mergulhar nessa linha do tempo, buscando entender um pouco
mais desse universo tão vasto de informações no contexto da Saúde Pública.
Junte-se a nós e bons estudos!
Introdução
48 UNIDADE II
ANTECEDENTES DO SUS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Para conhecer a história da saúde no Brasil precisamos entender um pouco da
história do nosso país, já que os acontecimentos sociais, políticos e econômicos
refletiram diretamente na construção da saúde pública.
Como é de conhecimento de todos, em meados de 1500, a saúde retratava a
brutalidade imposta pela colonização portuguesa: abandono social do homem
livre, extermínio de bandeirantes e civilizações indígenas, escravidão dos negros
africanos, os quais viviam em senzalas, sob tortura e sem condições mínimas
de higiene.
As doenças, nesse período, eram vistas, muitas vezes, como castigos divinos
pelo pecado do homem. Para o tratamento, as pessoas procuravam por feiticei-
ros, curandeiros, boticários e, também, pelas Casas de Saúde filantrópicas ligadas
à Igreja Católica ou aos militares. Tudo isso custava dinheiro, logo, quem não
podia pagar ficava sem assistência. A estratégia de controle adotada nessa época
para as doenças pestilenciais, como lepra e varíola, era o confinamento, tratan-
do-se, portanto, de uma medicina de exclusão.
Você sabia que a lepra é uma das doenças mais antigas do mundo, mas que
hoje tem tratamento e cura?
A lepra, também conhecida como hanseníase, é uma doença infecciosa,
contagiosa, causada por uma bacilo chamado Mycobacterium leprae, o qual
afeta nervos e pele. A transmissão se dá pelas vias aéreas, como secreções
nasais, gotículas da fala, tosse e espirro de pacientes considerados bacilífe-
ros, ou seja, sem tratamento. Antigamente, as pessoas doentes ficavam nos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A partir do século XIX, com a vinda da família real ao Brasil, é que se começou
a pensar em políticas públicas de saúde; afinal, era preciso uma estrutura sani-
tária mínima que pudesse dar suporte ao poder que se instalava na cidade do
Rio de Janeiro (POLIGNANO, 2001).
Até meados de 1850, a saúde pública estava limitada às juntas municipais e
ao controle de navios e saúde dos portos (BERTOLOZZI; GRECO, 1996).
Com a Proclamação da República, em 1889, o país adotou uma forma de orga-
nização capitalista. O período compreendido entre 1889 e 1930, denominando
de Primeira República, foi marcado pelo surgimento das primeiras indústrias e
investimento estrangeiro (BERTOLOZZI; GRECO, 1996).
Com a falta de um modelo sanitário, a saúde tornou-se caótica, caracterizada
pelo predomínio de diversas doenças graves, como tuberculose, sífilis, varíola,
febre amarela, entre outras. Tal situação gerou sérias consequências, tanto para a
saúde coletiva quanto para o setor do comércio exterior, já que os navios estran-
geiros não queriam mais atracar no porto do Rio de Janeiro (POLIGNANO, 2001).
Nesse período, Rodrigues Alves, o atual presidente do Brasil, nomeou
Oswaldo Cruz como Diretor do Departamento Federal de Saúde Pública, com
a finalidade de erradicar a epidemia da febre amarela. Assim, várias condutas
arbitrárias e que não haviam sido esclarecidas à população foram tomadas para
Antecedentes do SUS
50 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Rio de Janeiro. Ainda nesse período, foi incorporado o registro demográfico que
permitiu conhecer a população e suas necessidades, o laboratório para auxiliar
no diagnósticos das doenças e a fabricação de produtos profiláticos (BERTOLLI
FILHO, 1996).
Com a 1° Guerra Mundial (1914-1918), envolvendo as grandes potências do
mundo, o Brasil sofreu consequências na sua economia, o que gerou desemprego,
redução de salários e elevação do custo de vida. Atrelado a isso, as péssimas con-
dições de trabalho e a falta de direitos trabalhistas deram origem às greves gerais
(BERTOLLI FILHO, 1996).
A partir de então, os trabalhadores passam a conquistar alguns direitos
sociais que, a princípio, se relacionam apenas ao trabalho e depois abrangem a
questão da saúde.
Discutiremos esse assunto no próximo tópico!
Uma série de eventos, cujas datas serão apresentadas abaixo, contribuíram para
a construção do SUS como a principal política pública de saúde do Brasil.
Em 1923, foi criada a lei Eloy Chaves - que estabelece as Caixas de
Aposentadoria e Pensões (CAPs) -, marco inicial da Previdência Social no Brasil.
Tal lei visava garantir pensão aos trabalhadores em caso de algum acidente ou
afastamento do trabalho por doença, e uma futura aposentadoria. Com as CAPs
inicia-se o debate sobre a importância de atender às necessidades dos trabalha-
dores (ANDRADE; SOARES; JUNIOR, 2001).
Na Era Vargas, foram criados o Ministério da Educação e da Saúde Pública
e o Ministério do Trabalho; esse último com o intuito de atender os direitos dos
trabalhadores, o que, até o momento, era inexistente (BERTOLLI FILHO, 1996).
Em 1932, buscando ampliar o papel das CAPs, foram criados os Institutos
de Aposentadoria e Pensões (IAPs), os quais eram organizados por categoria
profissional. Assim, foram criados o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos
Marítimos (IAPM), dos Bancários (IAPB), dos Comerciários (IAPC), dentre
outros; e o Estado passou a participar da sua administração, controle e finan-
ciamento (ANDRADE; PONTES; JUNIOR, 2000).
Nesse período, ainda se mantinha o formato do vínculo contributivo formal
do trabalhador para a garantia do benefício, ou seja, aquele que não contribuísse
estava excluído do sistema de proteção, o que se configurava como uma injus-
tiça social, já que não havia o mesmo direito para todos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dentes. Tal assistência à saúde estava atrelada basicamente à custa de compra de
serviços médico hospitalares e especializados do setor privado (BAPTISTA, 2003).
A década de 80 foi marcada por movimentos de contestação ao sistema de
saúde. Um evento que marcou a história foi a realização da VIII Conferência de
Saúde, que aconteceu em março de 1986, presidida pelo médico Sérgio Arouca
e, pela primeira vez, contou com a participação da comunidade (ANDRADE;
PONTES; JUNIOR, 2000).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ENTENDENDO O SUS
Entendendo o SUS
56 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
específicas de cada área geográfica e de cada cliente (OLIVEIRA, 2009).
Sabendo que o usuário do serviço de saúde pode percorrer por vários níveis
de atenção durante seu atendimento é que se faz necessário incorporar o sistema
de referência e contrarreferência, a fim de integrar as redes de saúde e, assim,
obter maior eficiência no cuidado ao usuário (SERRA & RODRIGUES, 2010).
A resolubilidade diz respeito à necessidade do serviço de saúde apresentar-se
resolutivo até o nível de sua competência para aquilo que é proposto (BRASIL,
1990c).
O princípio de descentralização pode ser entendido como uma forma de
redistribuir as responsabilidades sobre a saúde da população entre as três esferas
do governo, acreditando que quanto mais perto, a solução estiver do problema
maior serão as chances de acerto.
De acordo com Palha e Villa (2003) a descentralização dos serviços de saúde
tem sido o eixo norteador para a operacionalização dos princípios organizativos e
diretivos do SUS. Nesse sentido, a descentralização tem ênfase na municipalização,
ou seja, os municípios assumindo um papel cada vez mais importante na prestação
e gerenciamento dos serviços de saúde (BARATA, TANAKA, MENDES, 2004).
E, por fim, a participação da comunidade refere-se à valorização da popu-
lação nos processos decisórios do país, o que refletiu no chamado “movimento
sanitário”,o qual contou com a participação de intelectuais, usuários e trabalha-
dores de saúde na luta pela reforma do sistema de saúde.
Com o objetivo de colocar em prática a participação social na saúde é que
a lei 8.142 (Lei Complementar da Saúde), propôs a formação dos Conselhos
de Saúde, os quais devem acontecer nas três esferas do governo e contar com a
Entendendo o SUS
58 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
boa forma de fortalecer a luta pela sua construção”.
O Pacto em Defesa do SUS busca discutir o sistema a partir dos seus princípios
fundamentais, além de ampliar o diálogo com a sociedade, fazendo com que a
população se aproxime mais do SUS (CEAP, 2009). As diretrizes desse Pacto,
segundo o Ministério da Saúde foram:
1. Repolitização da saúde, como um movimento que retoma a Refor-
ma Sanitária Brasileira aproximando-a dos desafios atuais do SUS; 2.
Promoção da Cidadania como estratégia de mobilização social tendo
a questão da saúde como um direito; 3.Garantia de financiamento de
acordo com as necessidades do Sistema (BRASIL, 2006).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Na dimensão do Pacto de Gestão são abordadas as seguintes diretrizes:
Descentralização; Regionalização; Financiamento; Planejamento; Programação
Pactuada e Integrada – PPI; Regulação; Participação e Controle Social; Gestão
do Trabalho e Educação na Saúde (BRASIL, 2006).
Cabe destacar que no Pacto de Gestão do SUS é reafirmada a importância
da participação da comunidade na maneira de gerir o sistema. As decisões sobre
a saúde não devem mais estar centralizadas na “mão” dos gestores.
Para que a participação da comunidade tenha melhores condições de
atuação, o Pacto propõe um conjunto de ações e reconhece o dever dos
gestores de destinar orçamento, cooperando técnica e financeiramente
para sua qualificação (CEAP, 2009, p. 14).
Assim, acredita-se que o Pacto pela Saúde, considerando as suas três dimensões,
representa mais uma luta no sentido de reafirmar a saúde como um direito de
todos e dever do Estado; buscando garantir as conquistas do SUS até o momento.
Com base em tudo que já foi explanado até aqui, ainda observa-se na gestão de
saúde a presença de sistemas hierarquizados, fragmentados e medicalizados,
o que não atende adequadamente às demandas de saúde da população. Nesse
Canadá. No Brasil, o tema vem sendo abordado a partir do final dos anos 90 e,
mesmo recente, já é possível vislumbrar avanços decorrentes desse modelo de
atenção, como é o caso do Programa Mãe Paranaense, Rede Cegonha, Rede de
Atenção à Urgência e Emergência, entre outras (BRASIL, 2012).
Nesse momento, você pode estar se perguntando: afinal como se organiza uma
RAS?
De acordo com a World Health Organization, os serviços que dependem
de menor aporte tecnológico, a exemplo da atenção primária à saúde, devem
apresentar-se dispersos; ao contrário, os serviços mais complexos, como hospi-
tais e unidades diagnósticas, tendem a estar mais concentrados (WHO, 2000).
A organização das RASs, para ser feita de forma efetiva, eficiente e com
qualidade, tem de estruturar-se com base nos seguintes fundamentos:
economia de escala, disponibilidade de recursos, qualidade e acesso;
integração horizontal e vertical; processos de substituição; territórios
sanitários; e níveis de atenção (MENDES, 2011, p. 71).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mas não são mais complexos (MENDES, 2011).
Assim, a noção hierárquica e piramidal deve ser substituída pelas redes,
as quais permitem relações horizontais, possuindo como centro de comuni-
cação a atenção primária à saúde, como pode ser ilustrado pela figura a seguir
(MENDES, 2011).
São três os elementos que constituem as RAS: uma população, uma estrutura
operacional e um modelo de atenção à saúde. A presença de uma população é
a razão de ser da RAS. Esta precisa ser devidamente conhecida (condições de
saúde, fatores de riscos), registrada e cadastrada em sistemas de informação. O
segundo elemento é a estrutura operacional, a qual é constituída pela atenção
primária à saúde; os pontos de atenção à saúde secundários e terciários; os siste-
mas de apoio; os sistemas logísticos; e o sistema de governança (MENDES, 2011).
Em relação ao terceiro elemento, que é o modelo de atenção, este pode ser
definido como:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Compreendemos o cenário em que se deu a criação de um dos maiores siste-
mas públicos de saúde do mundo, o Sistema Único de Saúde (SUS), um momento
marcante em nosso país, de despertar democrático, de lutas e de muitas con-
quistas. Conhecemos seu processo de construção, seus principais objetivos e
princípios doutrinários e organizativos.
Observamos que, para a operacionalização do SUS, foram necessárias algu-
mas pactuações entre os gestores das esferas governamentais. Assim, estudamos
o Pacto pela Saúde e as três dimensões que ele englobou: Pacto pela Vida; em
Defesa do SUS; e de Gestão.
Discutimos sobre a necessidade de mudança de um modelo de assistência à
saúde hierarquizado e fragmentado para uma assistência em rede. Nesse sentido,
abordamos sobre as Redes de Atenção à Saúde (RAS), seus conceitos, elemen-
tos que a compõem e sua forma de organização, acreditando que as RAS, por
permitirem relações horizontais, tendo como centro a atenção primária, podem
contribuir para a integralidade no cuidado à saúde - um dos princípios do SUS.
Assim, terminamos a nossa viagem no tempo! Espero que você possa ter
compreendido, melhor e um pouco mais, sobre o nosso sistema público de saúde,
seus avanços e desafios.
Muitos desafios ainda temos pela frente, quando trabalhamos no contexto
do SUS, e você fará parte dele como profissional da área da saúde, ajudando a
construir um pouco mais na história do SUS.
Bons estudos! E continue...
Leia um trecho do artigo de Eugênio Vilaça Mendes, publicado em 2013, cujo título é “25
anos do Sistema Único de Saúde: resultados e desafios” e reflita sobre “a mudança nas
condições de saúde da população brasileira ao longo da história, bem como nos desa-
fios a serem encarados pelo Sistema Único de Saúde nos dias atuais”.
O SUS constituiu a maior política de inclusão social da história de nosso país. Antes do
SUS, vigia um Tratado das Tordesilhas da saúde, o qual separava quem portava a cartei-
rinha do Inamps e que tinha acesso a uma assistência curativa razoável - das grandes
maiorias que eram atendidas por uma medicina simplificada na atenção primária à saú-
de e como indigentes na atenção hospitalar. O SUS rompeu essa divisão iníqua e fez da
saúde um direito de todos e um dever do Estado. A instituição da cidadania sanitária
pelo SUS incorporou, imediatamente, mais de cinquenta milhões de brasileiros como
portadores de direitos à saúde e fez desaparecer, definitivamente, a figura odiosa do
indigente sanitário.
O SUS apresenta números impressionantes: quase seis mil hospitais e mais de sessenta
mil ambulatórios contratados, os quais somam, por ano, mais de dois bilhões de pro-
cedimentos ambulatoriais, mais de onze milhões de internações hospitalares, aproxi-
madamente dez milhões de procedimentos de quimioterapia e radioterapia, mais de
duzentas mil cirurgias cardíacas e mais de 150 mil vacinas. O SUS pratica programas
que são referência internacional, mesmo considerando os países desenvolvidos, como
o Sistema Nacional de Imunizações, o Programa de Controle de HIV/Aids e o Sistema
Nacional de Transplantes de Órgãos que tem a maior produção mundial de transplantes
realizados em sistemas públicos de saúde do mundo, 24 mil em 2012. O programa bra-
sileiro de atenção primária à saúde tem sido considerado, por sua extensão e cobertura,
um paradigma a ser seguido por outros países. Com esses processos, o SUS tem contri-
buído significativamente para a melhoria dos níveis sanitários dos brasileiros. Entre 2000
e 2010, a taxa de mortalidade infantil caiu 40%, tendo baixado de 26,6 para 16,2 óbitos
em menores de um ano por mil nascidos vivos.
Não obstante a exuberância dos números, o nosso sistema público de saúde permanece
com muitos problemas a solucionar. No meu entendimento, há três grandes desafios
para o SUS: a organização macroeconômica do sistema de saúde no Brasil, a organização
microeconômica expressa no modelo de atenção à saúde que prática e o financiamento.
REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <http://portal.fiocruz.br/pt-br/content/sergio-arouca>. Acesso em: 11 maio
2017.
Em:
2
<http://marta-omeucanto.blogs.sapo.pt/igualdade-e-equidade-628108>.
Acesso em: 11 maio 2017.
GABARITO
1. D.
2. D.
3. B.
4. O Pacto pela Vida refere-se a um dos pactos que compõe o Pacto pela Saúde,
sendo os outros dois: em Defesa do SUS e de Gestão do SUS. O Pacto pela Vida
foi constituído a partir da análise da situação de saúde do país e das necessi-
dades prioritárias que geram impacto na saúde da população brasileira. São
seis as prioridades pactuadas: Saúde do Idoso; Controle do câncer do colo do
útero e da mama; Redução da mortalidade infantil e materna; Fortalecimento
da capacidade de resposta às doenças emergentes e endemias, com ênfase na
dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza; Promoção da Saúde; e
Fortalecimento da Atenção Básica.
5. As RAS são sistemas organizativos de ações e serviços de saúde que se articu-
lam, atendendo diferentes níveis de complexidade e necessidades tecnológicas
que, de forma integrada, permitem atender, com qualidade, a saúde da popula-
ção brasileira. A noção hierárquica e piramidal deve ser substituída pelas redes,
as quais permitem relações horizontais e de interdependência entre os pontos
da rede, possuindo como centro de comunicação a atenção primária à saúde. A
organização das RASs estrutura-se com base nos seguintes fundamentos: eco-
nomia de escala, disponibilidade de recursos, qualidade e acesso; integração
horizontal e vertical; processos de substituição; territórios sanitários; e níveis
de atenção.
Professora Me. Raquel Gusmão Oliveira
III
UNIDADE
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender o conceito de vigilância em saúde e os principais
sistemas de vigilância em saúde.
■■ Conhecer o Sistema de Vigilância Epidemiológica.
■■ Conhecer os sistemas de informação de interesse na saúde.
■■ Apresentar os principais indicadores de saúde.
■■ Discutir os desafios atuais da Vigilância em Saúde.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Vigilância em Saúde
■■ Vigilância Epidemiológica
■■ Sistema de Informação em Saúde
■■ Indicadores de Saúde
■■ Alguns desafios da Vigilância em Saúde
75
INTRODUÇÃO
Temos visto que a saúde e o cuidado à saúde têm sido uma grande preocupação
de toda a humanidade ao longo da história e dos tempos, a busca da compreen-
são do fenômeno saúde e doença tem desafiado estudiosos no sentido de superar
os desafios de ter uma sociedade mais saudável.
No Brasil, a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) é considerada um
marco positivo no contexto da saúde em nosso país, buscando, por meio de prin-
cípios e diretrizes, a organização de ações e serviços que efetivamente atendam
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
76 UNIDADE III
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Essas doenças causam um grande impacto
na saúde e na vida da população, sem falar em
outros agravos que parecem atingir a socie-
dade e prejudicar a vida das pessoas, como é
o caso da violência.
O que fazer para evitar que essas doen-
ças se espalhem ou afetem negativamente a
vida das pessoas? Como reconhecê-las ou, até
mesmo, barrá-las? Que ações devem ser feitas?
Nesse contexto, surge o termo “vigilância em saúde” que tem por objetivo
a observação e análise permanente da situação de saúde da população, articu-
lando-se em um conjunto de ações destinadas a controlar determinantes, riscos
e danos à saúde de populações que vivem em determinados territórios, garan-
tindo a integralidade da atenção - o que inclui tanto a abordagem individual
como coletiva dos problemas de saúde (BRASIL, 2010).
Vamos entender um pouco mais desse conceito.
Quando falamos de Vigilância em saúde, três ações estão implícitas
(BOCCATTO, 2012):
-- a observação da situação de saúde;
-- a análise dessa situação;
-- e o conjunto de ações destinadas a controlar os determinantes das doen-
ças e dos agravos.
A vigilância em saúde deve estar cotidianamente inserida em todos os níveis de
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
77
Vigilância em Saúde
78 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo o territó-
rio nacional e estabelece fluxo, critérios, responsabilidades e atribuições aos
profissionais e serviços de saúde.
Fonte: adaptado de Brasil (2011).
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
79
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
Vigilância Epidemiológica
80 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
produtos biológicos, plantas medicinais, medicina tradicional e complementar
e equipamentos médicos).
- Vigilância ambiental: coleta, analisa e dissemina informações sobre expo-
sições ambientais potencialmente de risco e desfechos, estabelece associação
entre os desfechos e especificas exposições ambientais potencialmente de risco.
- Vigilância de traumas e lesões: monitora a incidência, causas e circuns-
tâncias em que ocorrem casos fatais e não fatais, intencionais e não intencionais
- classificação internacional de doenças por causas externas (um dos maiores e
relevantes problemas de saúde pública - 10ª causa de morte no mundo).
- Vigilância de doenças crônicas: o sistema de vigilância de fatores de risco
e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (VIGITEL) faz parte
das ações do Ministério da Saúde para estruturar a vigilância de doenças crôni-
cas não transmissíveis (DCNT) no país.
- Vigilância global para respostas rápidas às doenças emergentes: em
resposta à rápida urbanização, consumo de alimentos industrializados, novas
técnicas de criação intensiva de animais, uso inadequado de antibióticos, alte-
rações ambientais, correntes migratórias e intercâmbio mundial e transportes
de massa intercontinental, elaborou-se o Regulamento Sanitário Internacional
com respostas a possíveis epidemias com rápida disseminação.
Os diferentes sistemas de vigilância têm suas especificidades, no entanto,
têm em comum os seguintes objetivos (WALDMAN, 2012):
-- Identificar novas doenças ou eventos adversos à saúde;
-- Detectar epidemias e documentar a disseminação de doenças;
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
81
Vigilância Epidemiológica
82 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
- Dengue - óbitos definição no artigo 2º desta portaria)
- Raiva humana
- Difteria - Febre amarela
- Síndrome da Rubéola Congênita
- Doença aguda pelo vírus Zika em - Febre de Chikungunya em áreas sem
transmissão - Síndrome da paralisia flácida aguda
gestantes
- Óbito com suspeita de febre de - Síndrome respiratória aguda grave associada a
- Doença de chagas aguda coronavírus
Chikungunya
- Doença invasiva por: “haemophilus a. Sars- Cov
influenzae” - Febre no Nilo ocidental e outras
Arboviroses de importância em saúde b. Mers- Cov
- Doença meningocócica e outras pública
meningites - Tétano:
- Febre Maculose e outras Riquetisioses a. Acidental
- Doenças com suspeita de dissemina-
ção intencional: b. Neonatal
a. Antraz pneumônico - Varicela - caso grave internado ou óbito
b. Tularemia - Violência sexual e tentativa de suicídio
c. Varíola
NOTIFICAÇÃO SEMANAL
- Acidente de trabalho com exposição a - HIV/Aids - Infecção pelo vírus da imu- - Óbito
material biológico nodeficiência adquirida a. Infantil
- Dengue - Casos - Infecção pelo HIV em gestante, partu- b. Materno
- Doença aguda causadas pelo vírus Zika riente ou puérpera e criança exposta ao - Sífilis
- Doença de Creutzfeldt-jacob (DCJ) risco de transmissão vertical do HIV a. Adquirida
- Esquistossomose - Infecção pelo vírus da imunodeficiên- b. Congênita
- Febre de Chikungunya cia humana (HIV) c. Em gestantes
- Hanseníase - Intoxicação exógena (por substâncias - Toxoplasmose gestacional e congênita
- Hepatites Virais químicas, incluindo agrotóxicos, gases - Tuberculose
tóxicos e metais pesados - Violência: Doméstica e/ou outras violências
- Leishmaniose Tegumentar Americana
- Leishmaniose Visceral
- Malária na região Amazônica
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
83
O aperfeiçoamento do Sistema de
Vigilância em Saúde, na década de 90,
acompanhou o desenvolvimento das
tecnologias de informática em nosso
país, tornando possível o acesso ágil
a bases de dados com informações
variadas e desagregadas sobre diversos
registros, sendo esses dados utilizados
em pesquisas científicas, avaliação e
planejamento dos serviços de saúde
e no ensino.
A informação na saúde é impres-
cindível para que se tomem as decisões
corretas para melhorar o nível de saúde de uma determinada população. Nesse
sentido, surgem os sistemas de informação em saúde, definidos, por Medronho
(2008), como um conjunto de componentes que atuam integrada e articulada-
mente e que tem como propósito obter e selecionar dados e transformá-los em
informação, esta, entendida como necessária para o processo de decisão, próprio
das organizações e indivíduos que planejam, financiam, administram, provém,
medem e avaliam os serviços de saúde.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A operacionalização dos sistemas de saúde deve ser sistematizadas e organi-
zadas; os procedimentos de coleta devem estar normatizados; os manuais de
operação devem prever todas as situações; as pessoas responsáveis devem conhe-
cer a importância do que fazem e deve haver supervisão e assessoria adequada.
Nesse sentido, o processo dos sistemas de informação em saúde são orga-
nizados nas seguintes etapas:
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
85
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Quadro 3 - Características dos principais sistemas de informação em saúde
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
87
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
avalia a cobertura das diferentes vacinas em todos os municípios brasileiros.
Existe uma grande necessidade de ampliar a utilização de dados produzidos
pelos sistemas de informação, no sentido de subsidiar a tomada de decisão de
gestores e ações dos profissionais de saúde, acreditando que as informações, se
adequadamente utilizadas, podem contribuir para a redução de desigualdades
e melhoria das ações de saúde em nosso país.
É de responsabilidade de todo profissional zelar pela qualidade da informação
prestada em seus atendimentos, orientar a equipe na coleta, no processamento,
na tomada de decisão e no controle dos dados produzidos.
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
89
INDICADORES DE SAÚDE
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
quantificam e descrevem a ocorrência de determinados agravos à saúde, doença
e morte, para conhecer quantos adoecem e quantos morrem.
Quando queremos saber quantos adoecem (morbidade), ou seja, como se
dá a manifestação de doença nas populações, a epidemiologia utiliza duas medi-
das principais - a prevalência e a incidência.
A incidência considera os casos novos das doenças ou ocorridos recente-
mente em determinada região, já a prevalência refere-se ao total de casos de uma
região (novos e antigos), contados em um tempo limitado.
Ambas são calculadas em termos de coeficientes, que determina o risco do
evento ocorrer e auxilia na comparação entre regiões, seguindo a fórmula:
Coeficiente de Incidência Coeficiente de Prevalência
C.I = nº casos novos da doença X 1000 C.I = nº casos conhecidos de uma doença X 1000
________________________________________
________________________________
população sob risco população
Vale ressaltar que existem outros fatores que podem aumentar a prevalência dos
casos, tais como a melhora na detecção de novos casos (aprimoramento diagnós-
tico), a maior duração da doença e aumento da sobrevida (melhora no tratamento,
como o caso da AIDs), a imigração dos casos e emigração dos sadios; mas, por
outro lado, alguns fatores podem diminuir a prevalência, como o aumento da
letalidade, diminuição de incidência e o impacto das políticas públicas e emi-
gração de casos e imigração de sadios (MENEGUEL, 2015).
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
91
Indicadores de Saúde
92 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dos óbitos por grupos etários: menor de 1 ano; 1 a 4 anos; 5 a 19; 20 a 49 anos;
e 50 anos ou mais, em que é possível observar 4 tipos de curvas.
Figura 2 - Curva de Nelson de Moraes - mortalidade proporcional por idade em diferentes situações de
saúde
Fonte: Medronho (2008).
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
93
Valores abaixo de 20 por mil nascidos vivos são considerados baixos e acima de
60 por mil são considerados altos.
No Brasil, em 2014, o coeficiente de mortalidade infantil foi calculado 14
para cada mil nascidos vivos, sendo que a queda foi de 77%, uma das mais sig-
nificativas do mundo nesse período (MENEGUEL, 2015).
Indicadores de Saúde
94 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
• tardia: 7-27 dias - causas relacionadas a anomalias e afecções.
• A mortalidade pós neonatal ou infantil tardia acontece entre o 28-
364 dias e tem suas causas relacionadas ao meio ambiente, condições
de vida e acesso aos serviços de saúde, nutrição, agentes infecciosos,
gastroenterites, infecções respiratórias e desnutrição, em que a melho-
ria no indicador está relacionada ao aumento de saneamento, do nível
educacional materno e aumento da atenção à saúde da criança.
• A mortalidade perinatal ou óbito fetal (CID 10) acontece entre 22a
semana de gestação e a 1a semana de vida.
Fonte: adaptado de Medronho et al. (2008).
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
95
(CMM), que calcula o risco de óbito por causas ligadas à gestação, parto ou puer-
pério (período de 42 dias após o parto). O CMM é um importante indicador da
qualidade de assistência à gestação e ao parto.
Quanto à mortalidade materna, considera-se morte obstétrica direta aquela
que provém de complicações obstétricas, devido a intervenções, omissões e trata-
mento incorreto. Já a morte obstétrica indireta ocorre quando resulta de doenças
antes, desenvolvidas durante, ou agravadas pelo efeito da gravidez.
Vale ressaltar que a validade das medidas de mortalidade segundo a causa
depende da qualidade de informações registradas nas declarações de óbito e da
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Contudo, nem tudo se resolve com um decreto, ainda mais quando se trata
de seu campo de atuação, o qual é complexo, atuando em:
1. Ações diretas (coleta, consolidação, planejamento de programas de acordo
com a prioridade e ações de controle e disseminação);
2. Capacitação de recursos humanos e suporte de recursos tecnológicos;
3. Divulgação para a sociedade.
Vejamos três desafios que permeiam as vigilâncias e que precisam ser enfrenta-
dos, considerando que existem muitos outros, destacamos os que seguem:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
1. A tomada de decisão com base na informação
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
97
oportunidades, e que os momentos de crise podem e devem ser vistos como espa-
ços de crescimento e desenvolvimento dos serviços e das pessoas.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Faça um registro de suas reflexões!
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
99
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
100
Yesterday
filme sul africano, nos quais as questões de gênero, raça e
classe acompanham a jornada de uma mulher afetada pelo HIV,
em busca de um tratamento digno para sua enfermidade.
REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4364979/4155726/SVS_NotifCom-
pulsoria.pdf>. Acesso em: 12 mai. 2017.
2
Em: <http://www.ibge.gov.br/home/default.php>. Acesso em: 12 mai. 2017.
3
Em: <http://www.ipea.gov.br/portal/>. Acesso em: 12 mai. 2017.
GABARITO
1) A.
2) A.
3) C.
4) C.
5) C.
Professora Dra. Marcela Demitto Furtado
POLÍTICAS PÚBLICAS DE
IV
UNIDADE
SAÚDE NO BRASIL
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender as principais políticas públicas de saúde voltadas à
saúde da mulher.
■■ Entender as políticas públicas de atenção à saúde da criança.
■■ Estudar as políticas públicas com foco na saúde do adulto e da
pessoa idosa.
■■ Compreender a organização do sistema de saúde na atenção à
populações vulneráveis.
■■ Debater sobre as políticas públicas voltadas à saúde mental.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Atenção à saúde da mulher
■■ Políticas de atenção à saúde da criança
■■ Políticas públicas de saúde do adulto/idoso
■■ Políticas de saúde e populações vulneráveis
■■ Políticas públicas de saúde mental
109
INTRODUÇÃO
Olá, caro aluno(a), estudamos, até aqui, aspectos fundamentais para a compre-
ensão da saúde pública brasileira, abordando desde conceitos de saúde e doença,
marcos históricos que antecederam o Sistema Único de Saúde e que levaram a
sua criação, assistência à saúde no modelo de Redes de Atenção, até a operacio-
nalização da vigilância em saúde.
Entendemos que é a partir do levantamento das reais necessidades da popu-
lação que se criam as políticas públicas, as quais devem elaborar planos de ação
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
110 UNIDADE IV
Para iniciar esse tópico, precisamos recordar que, ao longo da história da huma-
nidade, a mulher exerceu, por muito tempo, o papel social de mãe e cuidadora
dos afazeres domésticos. A visão restrita sobre a mulher, considerando-a apenas
como reprodutora, acabava por gerar uma imagem frágil, delicada. A subordi-
nação da mulher ao homem, o qual era o provedor do lar e possuía a sua figura
associada à autoridade, também foi outra característica bastante presente na his-
tória e que deu origem às sociedades patriarcais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Com relação à saúde, apenas nas primeiras décadas do século XX é que a
saúde da mulher recebeu um olhar diferenciado dos gestores e, então, passou
a fazer parte das políticas nacionais de saúde. No entanto, até a década de 70,
os programas ainda possuíam como embasamento esse conhecimento limitado
e fragmentado da mulher e sua saúde. O enfoque central dos programas era a
saúde da criança e da gestante (materno-infantis), por considerá-las
grupos com maior vulnerabilidade (BRASIL, 2004a).
Com o movimento feminista brasileiro, em meados da
década de 60, o qual propunha, entre outras coisas, a
igualdade de gênero, foi possível ampliar o conceito
de saúde da mulher, entendendo a saúde sexual e
reprodutiva como um direito (GIFFIN, 2002).
Outros assuntos também relaciona-
dos à mulher, e não apenas àqueles ligados à vida
reprodutiva, começaram a ser discutidos, como
prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, méto-
dos contraceptivos, sexualidade, excesso de trabalho e
desigualdades (BRASIL, 2004a).
Foi nesse cenário que, em 1983, o Ministério da Saúde
lançou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher
(PAISM), buscando integralizar a assistência à essa clien-
tela com ações educativas, de promoção, prevenção,
diagnóstico e tratamento.
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A operacionalização da PNAISM se deu na prática por meio da elaboração de
diversas ações consideradas prioritárias no atendimento à saúde dessa clientela.
Nesse sentido, foram estabelecidos Pactos, Programas e Políticas. Algumas delas
serão apresentadas em seguida.
Primeiramente, podemos citar o Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade
Materna e Neonatal, realizado em 2004, cuja meta estabelecida foi a redução
anual de 5% da mortalidade materna e neonatal. Para tanto, foram estabeleci-
das uma série de ações estratégicas, como (BRASIL, 2004b):
■■ Efetivação de pactos municipais e estaduais;
■■ Qualificação e humanização da atenção à saúde da mulher e da criança;
■■ Acolhimento ao parto;
■■ Garantia do direito ao acompanhante e ao alojamento conjunto;
■■ Resolutividade à atenção ao parto e ao nascimento;
■■ Garantia de atenção humanizada ao aborto;
■■ Organização de acesso e adequação da oferta de serviços;
■■ Qualificação do atendimento às urgências/emergências;
■■ Melhoria da rede hospitalar e ampliação dos centros de parto normal;
■■ Expansão da atenção à saúde da mulher e da criança;
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POLÍTICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA
Para iniciarmos este tópico, faço a seguinte pergunta: quem já ouviu dizer ou
mesmo já disse que a criança é um adulto em miniatura?
Na área da saúde, por muito tempo, as crianças foram tratadas como adul-
tos ou, conforme colocado na pergunta acima, como “adultos em miniatura”,
ignorando aspectos específicos da infância, tais como seu crescimento e desen-
volvimento, além de características individuais presentes nessa fase.
Isso se deve ao fato de que, ao longo da história, a criança ocupou diferen-
tes posições na sociedade. No período colonial, muitas crianças eram vistas, pela
própria família, como mão de obra barata; submetidas a castigos/torturas ou,
ainda, abandonadas em casas de caridade ou hospitais (RIBEIRO, 2006).
As condições sanitárias da época eram péssimas, atreladas à má alimenta-
ção e a falta de assistência qualificada no parto faziam as taxas de mortalidade
infantil crescerem cada vez mais.
No século XVII, a criança passou a ter representatividade nas famílias, as
quais começaram a demonstrar afeto por elas. No entanto, no século XVIII,
muitas crianças continuam sendo abandonadas, uma situação ainda aceita pela
sociedade (ARIÈS, 2011).
A separação das crianças de seus pais ainda acontecia no século XIX, quando
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acompanhamento do crescimento e desenvolvimento; incentivo ao aleitamento
materno; controle das doenças diarreicas e das Infecções Respiratórias Agudas
(IRAs) e a imunização (BRASIL, 1984).
Em 1990, foi aprovada a lei 8.069, que dispõe sobre o Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA), o qual garante amplos direitos de proteção à vida e à
saúde dos mesmos.
No ano de 1991, foi instituído o Programa de Assistência à Saúde Perinatal
(PROASP), com vistas a uma assistência de maior qualidade voltada ao binômio
mãe-feto e recém-nascido. Nesse período, muito se discutiu sobre a importância
do alojamento conjunto e do aleitamento materno (COSTA et al., 2010).
Na busca por uma assistência humanizada à criança no âmbito hospitalar e
que valorizasse a amamentação é que, em 1995, o Ministério da Saúde implan-
tou a Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC).
Já em 1996, foi adotada a Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na
Infância (AIDPI), uma estratégia que buscou fortalecer e organizar a atenção
primária à saúde, capacitando os profissionais para o cuidado e tratamento das
doenças mais frequentes em crianças menores de cinco anos.
Considerando o número significativo de nascimentos prematuros e com
baixo peso, o Ministério da Saúde lançou, em 2000, o Método Mãe Canguru -
Atenção Humanizada ao recém-nascido de baixo peso.
O método propicia o contato pele a pele entre a mãe ou outro membro da
família e o recém-nascido, contribuindo para o estabelecimento e fortalecimento
do vínculo afetivo, além de outros inúmeros benefícios já comprovados na lite-
ratura (PINHEIRO et al., 2014).
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criança foram se transformando, se adequando tanto ao papel social exercido pela
criança como ao perfil epidemiológico e às demandas de saúde de cada época.
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alimentação não saudável e obesidade; sobre os quais busca-se ações integradas
visando a melhoria das DCNT em geral (BRASIL, 2011).
Melhorar as condições de vida do adulto é pensar em idosos mais saudáveis,
com maior qualidade de vida.
O envelhecimento pode ser considerado como um processo natural da vida
que, em condições normais, não acarreta nenhum tipo de problema (senescên-
cia). Já a senilidade refere-se à exposição do indivíduo a doenças, por exemplo,
o que exige assistência de saúde (BRASIL, 2007).
Todos nós estamos envelhecendo a cada dia, logo, hoje somos mais velhos
do que ontem. E pensar no envelhecimento suscita uma série de ações de pro-
moção da saúde - grande foco das políticas públicas.
O termo “envelhecimento ativo” passou a ser utilizado no final dos anos 90,
com o intuito de expandir os fatores que afetam o envelhecimento para além da
saúde. As políticas públicas passaram, então, a pensar em ações que abordassem a
alimentação saudável, prática de atividade física, combate às situações de violên-
cia familiar e urbana, redução do consumo do tabaco e álcool etc (BRASIL, 2007).
Em 1994, é criada a Política Nacional do Idoso, a qual propõe ações em diversas
áreas, como trabalho, lazer, habitação e saúde. Nesta última, a política busca garan-
tir ao idoso a assistência nos diferentes níveis de atenção à saúde (BRASIL, 1994).
No ano de 2003, por meio da lei n° 10.741, foi instituído o Estatuto do Idoso,
o qual dispõe sobre o papel da família, da comunidade, bem como dos gesto-
res públicos, em garantir os direitos da pessoa idosa. O Estatuto do Idoso vem
somar com a Política Nacional do Idoso e vai além no sentido de oferecer puni-
ções quando os direitos não são assegurados (BRASIL, 2003).
Como já foi abordado em outra unidade, a saúde do idoso foi uma das seis prio-
ridades pactuadas em 2006 entre as três esferas do governo - Pacto pela Vida.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Para começar esse tópico, pergunte-se: o que significa estar vulnerável? Vulnerável
em relação a que? Qual a relação entre vulnerabilidade e saúde? Quais são as
populações vulneráveis?
Mas o que é vulnerabilidade?
Para Bertolozzi et al., (2009, p. 1327) “o termo vulnerabilidade é comumente
empregado para designar suscetibilidades das pessoas a problemas e danos de
saúde”.
Na saúde, a utilização do termo “vulnerabilidade” se deu no contexto da epi-
demia da AIDS/HIV, quando percebeu-se que a utilização de “grupos de risco”
possuía um caráter restritivo e, por vezes, preconceituoso. Logo, o conceito de
vulnerabilidade parecia ser mais amplo e, no caso da AIDS, demonstrava que
todos os indivíduos sociais estavam vulneráveis à doença.
De forma geral, uma pessoa vulnerável é aquela que está exposta a riscos.
Nesse contexto, é possível destacar condições que favorecem maior ou menor
risco para o indivíduo, como, por exemplo: aspectos comportamentais do indi-
víduo e/ou do coletivo, além da possibilidade e formas para o seu enfrentamento.
Assim, conhecer as vulnerabilidades de uma determinada população per-
mite a realização de diagnósticos, com vistas à elaboração de ações específicas
voltadas às necessidades do grupo.
Atualmente, inserem-se nos grupos de populações vulneráveis: pessoas com
deficiência, pessoas em situação de rua, pessoas negras, pessoas idosas e grupo
LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais).
Iremos abordar, de forma pontual, alguns aspectos importantes das políticas
públicas de saúde para cada grupo, exceto para as pessoas idosas, visto que o
tema já foi discutido em outro tópico.
“O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
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Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem”.
O poema de Manuel Bandeira retrata a triste realidade das PSR, grupo esse
que ganhou visibilidade nos últimos anos, o que permitiu uma série de
avanços na área.
Fonte: Bandeira (1993).
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áreas, que atuam de forma itinerante buscando garantir o acesso dessa po-
pulação à saúde. Destaca-se que essa não é a única “porta de entrada” da
PSR no SUS. Sua entrada pode se dar, também, por meio das Unidade Básica
de Saúde e Unidades de Pronto Atendimento.
Fonte: Brasil (2014b).
PESSOAS NEGRAS
Essa política tem um caráter transversal das ações de saúde da população negra,
à medida que realiza articulações entre as secretarias do Ministério da Saúde,
cuja intencionalidade é a promoção de equidade - um dos princípios do SUS.
GRUPO LGBT
Em 2011, foi definida A Política Nacional de Saúde Integral dos LGBT, visando
a inclusão social desse grupo vulnerável.
De acordo com o Ministério da Saúde, a Política tem como principal objetivo:
[...] promover a saúde integral de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transexuais, eliminando a discriminação e o preconceito institucional,
bem como contribuindo para a redução das desigualdades e a consoli-
dação do SUS como sistema universal, integral e equitativo (BRASIL,
2013c, p. 18).
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Antes de iniciar esse tópico, é importante nos
perguntarmos: o que é saúde mental? Quem
são os doentes mentais? Por que a criação de
políticas públicas direcionadas à saúde mental?
Mais uma vez, precisamos retomar a histó-
ria para compreendermos todas essas questões.
Vamos lá!
Considerando que a loucura existe desde o
princípio da humanidade, vários eram os locais
destinados para se tratar os loucos: igrejas ou
templos, domicílio e asilos. As instituições psi-
quiátricas, propriamente ditas, surgiram em
meados do século VXIII (FOUCAULT, 1978).
A abordagem ao indivíduo com doença
mental era autoritária, agressiva, violenta e
totalmente excludente. O indivíduo era mantido em hospícios ou manicômios,
longe dos familiares. Muito se falava em choques como método de tratamento
e as famosas “camisas de força” para contenção nos momentos de crise, quando
não eram acorrentados e trancados em salas escuras.
O descontentamento da comunidade psiquiátrica, indivíduos com transtorno
mental, familiares e a sociedade de forma geral com o modelo de assistência na
área de saúde mental é que fomentou o processo de Reforma.
Quem já ouviu a expressão “ficou pinel”? Ela significa “ficou louco” e faz refe-
rência ao sobrenome de um médico que marcou a história da saúde mental.
No contexto da Revolução Francesa, Philippe Pinel, médico psiquiatra, foi
considerado o primeiro reformador da assistência psiquiátrica. Por muitos é
considerado o pai da psiquiatria. Em 1798, indignado com as péssimas con-
dições de tratamento, ele liberou asilados presos há mais de 30 anos. Seus
pensamentos e atitudes influenciaram a revolução psiquiátrica em diversos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
países.
Fonte: Foucault (1995).
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histórico na psiquiatria brasileira, posto que reflete a aspiração de toda
a comunidade científica da área, que entende que a política nacional de
saúde mental necessita estar integrada à política nacional de desenvol-
vimento social do Governo Federal (BRASIL, 1988, p. 9).
Com base na Lei 10.216 é se que se deu a criação da Política Nacional de Saúde
Mental.
De acordo com a Portaria do Ministério da Saúde nº399/GM, de 22 de feve-
reiro de 2006, destaca-se que a saúde mental foi incluída como prioridade no
Pacto pela Vida em 2007.
É claro que ainda há um longo caminho a ser percorrido na área de saúde
mental, de modo que as políticas públicas de saúde realmente consigam aten-
der esse público de forma integral em todas as demandas. No entanto, é notório
as conquistas alcançadas ao longo da história.
Com a desinstitucionalização, busca-se inserir a pessoa com transtorno
mental na sociedade, permitindo sua (re)inserção no mercado de trabalho, nos
estudos, nas práticas de lazer, além de permitir seu convívio com a família e a
sua desestigmatização.
Nesse novo modelo de assistência em saúde mental, a família é considerada
coparticipante no processo de reabilitação do indivíduo com transtorno mental,
precisando ser amparada e capacitada pelos profissionais de saúde.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
134
O texto selecionado faz parte do manual do Ministério da Saúde sobre a Política Nacio-
nal de Saúde Integral da População Negra. A leitura permite a compreensão dos movi-
mentos sociais e das políticas gerais que antecederam a criação dessa política pública
de saúde.
“O desenvolvimento da sociedade colonial e o processo de objetificação dos milhões de
negros escravizados, trazidos do continente africano nos porões dos navios negreiros,
marcaram um período longo da história brasileira. A despeito das péssimas condições
de vida e trabalho e das diversas formas de violência às quais foram submetidos, episó-
dios de resistência e luta foram as bases para a formação de quilombos.
Os quilombos, a princípio comunidades autônomas de escravos fugitivos, converteram-
-se em importante opção de organização social da população negra e espaço de resgate
de sua humanidade, cultura e fortalecimento da solidariedade e da democracia, onde
negros se constituíam e se constituem até hoje como sujeitos de sua própria história.
Após a abolição oficial da escravatura, foram muitos os anos de luta envolvendo denún-
cias sobre a fragilidade do modelo brasileiro de democracia racial, até a fundação da
Frente Negra Brasileira, em 1931. A partir de então, as questões e demandas de classe
e de raça ganharam projeção na arena política brasileira, fortalecidas, posteriormente,
pelo Movimento Social Negro, que atua organizadamente desde a década de 1970.
Entre as décadas de 1930 e 1980, eclodiram no mundo inúmeros movimentos sociais
que manifestaram aos chefes de Estado a insatisfação dos negros em relação à sua qua-
lidade de vida. Assumiram proeminência a luta dos negros dos Estados Unidos contra as
regras de segregação racial vigentes naquele país e a dos negros sul-africanos contra o
sistema do apartheid.
No Brasil, a 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, constituiu um marco
na luta por condições dignas de saúde para a população brasileira, uma vez que fechou
questão em torno da saúde como direito universal de cidadania e dever do Estado. Na
conferência, o Movimento Social Negro participou ativamente, ao lado de outros movi-
mentos, em especial o Movimento pela Reforma Sanitária, do processo de elaboração e
aprovação das propostas.
Como principal desdobramento da conferência e conquista fundamental dos movimen-
tos sociais, a Assembleia Nacional Constituinte introduziu o sistema de seguridade so-
cial na Constituição Federal de 1988, do qual a saúde passou a fazer parte como direito
universal, independentemente de cor, raça, religião, local de moradia e orientação sexu-
al, a ser provido pelo SUS (BRASIL, 1988).
Ainda nesse período, o movimento de mulheres negras conferiu maior visibilidade às
questões específicas de saúde da mulher negra, sobretudo aquelas relacionadas à saúde
sexual e reprodutiva. O racismo e o sexismo imprimem marcas segregadoras diferen-
ciadas, que implicam restrições específicas dos direitos desse segmento, vitimando-o,
portanto, com um duplo preconceito.
135
Ilha do Medo
trata-se de um suspense que acontece em uma prisão psiquiátrica
para detentos de alta periculosidade, a qual fica localizada em
uma ilha. Leonardo DiCaprio representa um agente federal que é
encaminhado a essa ilha para investigar a morte de uma interna.
O personagem faz críticas à instituição, dado a forma como os
pacientes psiquiátricos eram tratados.
Material Complementar
REFERÊNCIAS
1) C.
2) B.
3) A.
4) B.
5) C.
Professora Dra. Marcela Demitto Furtado
POLÍTICA NACIONAL DE
V
UNIDADE
HUMANIZAÇÃO (PNH)
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender a criação da PNH, seus objetivos e princípios.
■■ Conhecer as diretrizes e dispositivos da PNH.
■■ Estudar sobre a segurança e direito do paciente.
■■ Entender as políticas de saúde voltadas ao trabalhador.
■■ Discutir os principais desafios para a humanização nos serviços de
saúde.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Conhecendo a PNH
■■ Diretrizes e dispositivos da PNH
■■ Segurança e direito do paciente
■■ Atenção à saúde do trabalhador
■■ Desafios para a humanização nos serviços da saúde
147
INTRODUÇÃO
lizado na área da saúde atualmente, mas que ainda gera dúvidas quanto ao seu
significado e operacionalização. Talvez porque o assunto ultrapasse as questões
técnicas e instrumentais, alçando dimensões político-filosóficas.
A humanização é um aspecto fundamental nas políticas de saúde, por isso foi
criada a Política Nacional de Humanização (PNH), que surgiu para reconstruir
o modelo de assistência à saúde, bem como a gestão dos processos de trabalho.
Assim, uma das propostas de estudo para esse momento é conhecer a PNH,
seus objetivos, princípios, diretrizes e dispositivos. Iremos abordar, também, aspec-
tos relativos à segurança e direitos do paciente; saúde do trabalhador, bem como os
principais desafios para que a humanização aconteça de fato nas instituições de saúde.
A reflexão sobre a humanização na prática assistencial em saúde, desde a ela-
boração de políticas públicas, gestão e co-gestão, nos processos de trabalho, até a
realização do cuidado ao usuário, extrapolando as relações e afetando também as
estruturas, sejam elas físicas ou não. É um exercício muito importante para todos
os profissionais da área da saúde (Médicos, Dentistas, Tecnólogos em Estética
e Cosmética, Biomédicos, Enfermeiros, Podólogos, Fisioterapeutas, Terapeutas
Integrativos e Complementares, Psicólogos, Nutricionistas, Fonoaudiólogos,
Terapeutas Ocupacionais e outros).
Então, sugiro que você aproveite esse momento não só para se apropriar da
temática, mas também para repensar sobre o profissional que você deseja ser.
Precisamos ser a mudança que queremos ver nos serviços de saúde.
Dessa forma, desejo, a você força de vontade, dedicação e organização para
aproveitar ao máximo essa oportunidade.
Bons estudos!
Introdução
148 UNIDADE V
CONHECENDO A PNH
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Antes de conhecermos a Política Nacional de Humanização (PNH), é impor-
tante refletirmos sobre o significado da palavra humanização. Pare um instante
e tente responder às seguintes questões: o que é humanização? Como humani-
zar o humano? O que eu entendo sobre humanização na saúde?
A PNH propõe uma nova forma de gerir e cuidar a partir de três princípios básicos:
■■ Transversalidade. O caráter transversal da PNH refere-se ao fato de que ela
deve estar inserida em todas as políticas e programas do SUS, ampliando
a comunicação dentro dos grupos e entre os mesmos;
■■ Indissociabilidade entre atenção e gestão. A gestão e a forma de gerir saúde
está intimamente ligada à atenção prestada. Tanto os usuários como os
trabalhadores, além de conhecer a forma de gestão dos serviços de saúde,
precisam ser ativos no processo de tomada de decisão.
■■ Protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos.
No SUS humanizado, cada um (usuário, trabalhador e gestor) tem o seu
papel bem definido, seus direitos e suas responsabilidades na constru-
ção da saúde.
Conhecendo a PNH
150 UNIDADE V
A PNH pode ser implantada em qualquer serviço de saúde, desde uma Unidade
Básica de Saúde, Unidade de Pronto Atendimento, hospitais e secretarias de saúde,
ou seja, em toda a rede pública, desde que seja firmado um compromisso entre
gestores, trabalhadores e usuários para a reorganização das práticas de saúde,
aceitando as propostas da PNH.
Dentro desta reorganização das práticas de saúde, podemos observar a inser-
ção pelo Ministério da Saúde, de novas propostas de tratamentos, com a criação
da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no
SUS, com a aprovação da Portaria Nº 971, de 03 de maio de 2006, que visava
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
garantir a população condições de bem-estar físico, mental e social, ofertando
cinco procedimentos na área de tratamentos holísticos (Medicina Tradicional
Chinesa/Acupuntura, Homeopatia, Plantas Medicinais e Fitoterapia, Medicina
Antroposófica e Termalismo Social/Crenoterapia).
Em 2017, foram incluídos ao SUS mais 14 terapias, somando 19 práticas dis-
poníveis à população, sendo estas: ayurveda, arteterapia, biodança, dança circular,
meditação, musicoterapia, naturopatia, osteopatia, quiropraxia, reflexoterapia,
reiki, shantala, terapia comunitária integrativa e yoga.
Com o aumento da procura destas técnicas de tratamento, devido a evidências
científicas dos benefícios do tratamento integrado entre medicina convencional
e práticas integrativas e complementares, em 21 de março de 2018, foram acres-
centadas mais dez novas práticas na Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares – PNPIC, através da Portaria N° 702, alterando a Portaria de
Consolidação nº 2/GM/MS, de 28 de setembro de 2017.
Estas dez técnicas introduzidas (aromaterapia, apiterapia, bioenergética,
constelação familiar, cromoterapia, geoterapia, hipnoterapia, imposição de mãos,
ozonioterapia, terapia de florais), fez do Brasil o país líder na oferta dessa modali-
dade na atenção básica, pois passa a contar com 29 práticas integrativas pelo SUS.
Mas qual é o caminho/método a ser percorrido para a operacionalização
da PNH?
O Ministério da Saúde propõe que a PNH deva caminhar no sentido da
inclusão de diferentes agentes nos processos de produção da saúde, denomi-
nado “método de tríplice inclusão” (BRASIL, 2008).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
trabalho e do decisão; considerando sua capacidade de análise crítica,
trabalhador reflexiva e de geração de mudanças.
Defesa dos Direi- Os usuários possuem uma série de direitos e cabe aos pro-
tos do Usuário fissionais e serviços de saúde divulgar esse conhecimento,
bem como contribuir para que eles sejam cumpridos.
Fomento das Considera o grupo não apenas como um conjunto de indi-
grupalidades, víduos, é muito mais do que isso. O grupo é de um coletivo
coletivos e redes que está em constante transformação, compondo uma rede
na qual o processo de produção de saúde se realiza.
A reorganização da gestão e assistência à saúde só faz senti-
do se partir do coletivo, ou seja, dos atores do processo; é o
que o torna democrático.
A construção das redes foi uma das estratégias para ampliar
a comunicação entre os serviços, de modo a melhorar a
qualidade da assistência prestada.
Construção da A história do SUS revela inúmeros desafios, porém muitas
memória do SUS conquistas foram alcançadas e devem ser divulgadas. Bus-
que dá certo car a memória do SUS, os pontos-chaves e marcos impor-
tantes podem auxiliar a repensar o presente e planejar o
futuro.
Fonte: adaptado de Brasil (2008).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
samente pelos profissionais de saúde
e gestores nesta área.
Quando um erro acontece, infrin-
gindo a segurança do paciente, os
prejuízos podem ser diversos para o
mesmo, podendo se estender para sua
família; na maioria das vezes, prolonga-se o tempo de internação, o que também
pode gerar novos riscos, além de elevar os custos hospitalares; a morte, infe-
lizmente, pode ser também uma consequência. Diante de um erro praticado,
destacam-se, ainda, os efeitos psicológicos traumáticos na vida dos profissionais
de saúde que prestam o cuidado (DE CARVALHO; VIEIRA, 2002).
Foi nos Estados Unidos, a partir do relatório do Institute of Medicine, no final
do século XX, que se iniciou um movimento sobre a segurança do paciente. O
relatório mostrou dados sobre a assistência à saúde no país, identificando taxas
alarmantes de eventos adversos que culminaram em mortes após a internação
de pacientes (KOHN; CORRIGNAN; DONALDSON, 2001).
A partir do ano 2000, o mundo todo passa a reconhecer a segurança do
paciente como uma dimensão da qualidade da assistência em saúde. Nesse sen-
tido, surgem muitas pesquisas, bem como a criação de institutos e associações
voltadas à segurança do paciente (CASSIANI, 2005).
Frente à magnitude do problema, a Organização Mundial de Saúde estabeleceu,
em 2004, a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente (World Alliance for Patient
Safety). Trata-se de um compromisso firmado entre diversos países, com o intuito
de definir e identificar prioridades acerca da segurança do paciente (WHO, 2008).
teoria sobre o erro humano, também conhecida como “queijo suíço”. Ele compara
as fragilidades do sistema de saúde aos buracos do queijo. O alinhamento entre
vários furos do queijo suíço é que irá culminar em perdas ou danos (REASON;
CARTHEY; DE LEVAL, 2001).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Outros buracos devido às
condições latentes (falha
de equipamento, falta de
Perdas treinamento ou experiên-
cia da equipe)
Sucessivas camadas de defesas, barreiras e proteções
Donabedian (1980) tenta explicar a ocorrência dos eventos adversos por meio
da tríade – estrutura - processo - resultado. A estrutura relaciona-se a aspec-
tos mais estáveis, como os profissionais, os instrumentos de trabalho, os locais
e modelos de organização dos serviços. O processo envolve as ações realizadas
pelos profissionais em direção ao paciente, bem como as respostas destes àquilo
que foi realizado. O resultado pode ser representado pela efetividade e eficiên-
cia das atividades praticadas, bem como pelo grau de satisfação do paciente.
Existem muitos estudos de campo que buscam investigar as causas dos even-
tos adversos na área da saúde. Muitos deles relacionados a erros de medicação.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
É importante destacar que a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde é um dos
dispositivos da Política Nacional de Humanização, tema discutido nos tópicos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
são importantes para exigir dos gestores políticas públicas e uma administração
que busque por medidas de proteção aos direitos do paciente (CHAUÍ, 2006).
De acordo com Gomes et al. (2008, p. 774) “a educação mostra-se como uma
possibilidade de acesso à informação e consciência política em direção a uma
mudança nas práticas de saúde que ferem a dignidade humana”.
É relevante, também, que os profissionais de saúde se sintam responsabi-
lizados em fornecer informações aos pacientes sobre os seus direitos. A partir
da apropriação desse conhecimento, é possível maior controle social e partici-
pação coletiva nas ações e processos de gerir a saúde. Lembrando que aspectos
relativos à autonomia e corresponsabilidade fazem parte da PNH, proposta pelo
Ministério da Saúde.
Sabemos que, na nossa sociedade, o trabalho não diz respeito apenas a uma fonte
de renda que permite que as pessoas possuam coisas, mas relaciona-se, ainda,
com reconhecimento, honra e realizações.
Além disso, é preciso considerar que o trabalho também pode gerar proble-
mas que afetam a saúde, ocasionados pelo estresse ou pela exposição a condições
perigosas, entre muitas outras situações. Este esgotamento causado pelo estresse
em um grande número na população é que incentivou o aumento da oferta das
Práticas Integrativas e Complementares (PICS), pelo SUS.
Nesse tópico, iremos tratar sobre a saúde do trabalhador; mas, o que signi-
fica esse termo? E por quê discutir esse assunto na saúde pública?
De acordo com o Ministério da Saúde, o termo Saúde do Trabalhador refe-
re-se “a um campo do saber que visa compreender as relações entre o trabalho
e o processo saúde/doença” (BRASIL, 2001, p. 7).
“A gente não quer só comer
A gente quer prazer pra aliviar a dor
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer dinheiro e felicidade
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer inteiro e não pela metade”
(Arnaldo Antunes)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
começou a se modificar; ele passa a ser reconhecido como sujeito e não apenas
como consumidor dos serviços de saúde.
A própria Constituição Brasileira de 1988, na seção de Direitos à Saúde,
artigo 200, destaca como competência do SUS, entre outras atribuições, “exe-
cutar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde
do trabalhador”.
Em 1990, a Lei Orgânica de Saúde (Lei n° 8080), regulamentou o SUS e
suas competências no campo da Saúde do Trabalhador, reconhecendo o traba-
lho como um importante determinante de saúde.
Nesta mesma década, muitas iniciativas foram registradas no sentido de con-
solidar a área de saúde do trabalhador, como:
■■ 1994 - 2ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador.
■■ 1998 - Elaboração da Norma Operacional de Saúde do Trabalhador
(NOST).
■■ 1998 - Instrução Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador.
■■ 1999 - Listagem de Doenças Relacionadas ao Trabalho.
Dada a dispersão das ações voltadas à saúde do trabalhador é que, em 2002, foi
criada a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST),
cujo objetivo principal é realizar a articulação das ações em saúde do trabalha-
dor no contexto do SUS. Para tanto, existem os Centros de Referência em Saúde
do Trabalhador (CEREST).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em casos de acidentes ou doenças relacionadas ao trabalho, mesmo que
esses eventos não tenham gerado incapacidades, faz-se necessário o pre-
enchimento de uma ficha denominada “Comunicação de Acidente de Tra-
balho” (CAT), a qual é utilizada para fins estatísticos e epidemiológicos, bem
como para assegurar alguns direitos previstos em lei.
Fonte: adaptado de Silveira (2009).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de lacunas na compreensão da proposta de um projeto de humanização
para o serviço.
Para a equipe de saúde, a humanização está atrelada a prestar uma assistên-
cia de qualidade, no entanto sem refletir sobre como ela pode ser prestada,
nem tão pouco se indagar sobre quais as possibilidades de mudanças na
prática. O estudo destaca como estratégia para essa situação, a criação de
um projeto de Educação Continuada, de modo a preparar profissionais e
usuários a construir coletivamente o cenário de práticas.
Fonte: Alves; Deslandes; Mitre (2009).
A literatura destaca como desafio o exercício de não colocar a PNH como ver-
dade absoluta, imutável, mas que ela possa ser uma forma de pensar e fazer saúde,
que ela sirva para fazermos uma reflexão crítica e, a partir dela, tornar o pro-
cesso dinâmico e inovador (HECKERT; PASSOS; BARROS, 2009).
Estudo aponta como dificuldades para se colocar em prática a proposta da
humanização aspectos como: influência direta do modelo organizacional, dos
desenhos da missão institucional, do envolvimento e aderência dos gerentes à
proposta, da capacitação e sensibilidade dos profissionais (DIAS; DOMINGUES,
2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, foi possível abordar sobre a humanização e como esse termo
vem sendo empregado na área da saúde. Discutir sobre a Política Nacional de
Humanização (PNH), seus objetivos, diretrizes e dispositivos é fundamental
para a compreensão do tema.
A proposta da PNH é bastante ousada por propor uma nova forma de fazer
saúde, rompendo com o modelo de assistência fragmentado, centrado na doença
e hierarquizado. Busca fomentar a autonomia e protagonismo dos usuários, tra-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
balhadores e gestores, de modo que os mesmos construam, coletivamente, modos
de assistir e gerir em saúde.
Essa discussão permite a reflexão sobre onde estamos e aonde desejamos
chegar!
Assim como nas outras unidades; nesta, também foi necessário, em alguns
momentos, fazer um resgate histórico acerca das políticas públicas, a fim de nos
situarmos no tempo e entendermos que muitos obstáculos foram ultrapassados
para chegarmos até aqui.
Discutimos, ainda, sobre a segurança e direitos do paciente, aspectos esses de
grande relevância para a saúde pública. A segurança do paciente é um importante
indicador de saúde, que reflete a qualidade da assistência prestada. Quanto aos
direitos do paciente, estes devem ser assegurados em toda e qualquer situação.
A saúde do trabalhador também foi discutida nesta unidade e mostra-se uma
área em construção. O trabalho pode ser uma fonte de desgaste da saúde, acar-
retando inúmeros problemas que devem ser valorizados pelos serviços públicos.
A partir da discussão de todos esses assuntos, conseguimos visualizar um
aspecto muito importante da PNH, que é a transversalidade, caracterizada pela
inserção dessa política em todas as outras existentes no âmbito do SUS.
A implantação de um novo modelo de assistência, o qual exige uma nova
perspectiva de cuidado, sem dúvida é um grande desafio. Para tanto, é preciso
continuar caminhando, vislumbrando alternativas para que a humanização real-
mente aconteça na prática assistencial e nos processos de gestão.
Humanização na saúde
Fernanda Reis
Editora: DOC
Sinopse: o livro aborda a humanização, em todas as suas vertentes,
nas instituições voltadas aos cuidados da saúde, como questão
prioritária para o tratamento do doente.
Portaria nº 1.820, de 13 de agosto de 2009. Dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da
saúde.
Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt1820_13_08_2009.
html>. Acesso em: 16 maio 2017.
171
REFERÊNCIAS
1) A.
2) C.
3) B.
4) A.
5) A.
175
CONCLUSÃO
Prezado(a) aluno(a)! Esperamos que este livro tenha contribuído para uma boa com-
preensão do cenário da Saúde Coletiva no contexto brasileiro.
O destaque aos pontos principais dessa trajetória passa pela evolução do concei-
to de saúde ao longo dos tempos e a influência histórica cultural nos modelos de
atenção à saúde, culminando na determinação social e cultural da saúde e doença.
Enfatizamos a importância do profissional da área da saúde conhecer o Sistema Úni-
co de Saúde (SUS), a rede de saúde e os serviços oferecidos, no intuito de ajudar na
orientação e intervenção contextualizada, bem como dar subsídios e ferramentas
para atuar no contexto da Vigilância em Saúde.
Igualmente, destaca os principais aspectos das políticas de saúde voltadas ao ciclo
de vida e as orientações aos profissionais de saúde no sentido da necessidade de
humanização nos serviços de saúde.
Conforme enfatizamos, no decorrer do livro, a definição do processo saúde doença
e da organização de serviços e políticas públicas da população brasileira é influen-
ciado pela compreensão do momento histórico, político e social do tempo em que
ocorre.
Dessa forma, o indivíduo deve estar atento aos condicionantes e determinantes de
saúde que, no caso do Brasil, apesar de muitos avanços na qualidade de vida e da
saúde da população, o país ainda enfrenta grandes desafios na área de distribuição
de renda, recursos e estrutura.
São muitos os desafios do trabalho no contexto da Saúde Pública: a construção his-
tórica e coletiva, as mudanças sociais e tecnológicas, a administração de recursos e,
principalmente, a compreensão da importância de humanizar os serviços e acolher
as necessidades da população.
Muitas mudanças ocorreram e, ainda, estão por vir. Esperamos que o estudo pro-
posto neste livro tenha ajudado na compreensão e na melhoria da qualidade do seu
trabalho e que você possa abrir novos horizontes e fazer a diferença na sua trajetória
profissional. Sucesso!
ANOTAÇÕES