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ECONOMIA

INDUSTRIAL

Professora Me. Marieli Vieira

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Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
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Pró-Reitor Executivo de EAD
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Pró-Reitor de Ensino de EAD
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NEAD - Núcleo de Educação a Distância


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C397CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Designer Educacional
Distância; VIEIRA, Marieli. Agnaldo Ventura
Projeto Gráfico
Economia Industrial. Marieli Vieira. Jaime de Marchi Junior
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2019. Reimpresso em 2021.
160 p. José Jhonny Coelho
“Graduação - EaD”. Arte Capa
1. Economia. 2. Industrial . 3. EaD. I. Título.
Arthur Cantareli Silva
Ilustração Capa
Bruno Pardinho
ISBN 978-85-459-1658-1
CDD - 22 ed. 338.06 Editoração
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Robson Yuiti Saito
Qualidade Textual
Talita Dias Tomé
Ilustração
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Marta Sayuri Kakitani
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade,
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil:
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba,
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
profissional, nos transformamos e, consequentemente,
Pró-Reitor de
Ensino de EAD
transformamos também a sociedade na qual estamos
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
Diretoria de Graduação
e Pós-graduação este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe
de professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
CURRÍCULO

Professora Me. Marieli Vieira


Mestra em Economia com ênfase em Teoria Econômica pela Universidade
Estadual de Maringá (UEM - 2017) e bacharel em Ciências Econômicas pela
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste- 2014).

http://lattes.cnpq.br/7670391331199061
APRESENTAÇÃO

ECONOMIA INDUSTRIAL

SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)! É com muita alegria que apresentamos a você o
livro que fará parte da disciplina de Economia Industrial. Este livro tem como objetivo
introduzir você ao estudo dos principais conceitos utilizados na economia industrial.
Este material é dividido em cinco unidades. Na Unidade I, conheceremos o surgimento
da Economia Industrial e aprenderemos alguns conceitos que serão importantes para
o desenvolvimento da disciplina, como os conceitos de empresa, indústria, mercado,
cadeias e complexos industriais. Vamos aprender, ainda, sobre as relações entre as estru-
turas de custo e as economias de escala e escopo.
Na Unidade II, concentraremos o ensino sobre as estruturas de mercado, de modo a co-
nhecer as características e o comportamento dos mercados nas estruturas de mercado,
como a competição perfeita, o monopólio, a competição monopolística e o oligopólio.
Na Unidade III, iremos aprender sobre as medidas de concentração de mercado parciais,
também chamadas de razões de concentração, sobre as definições a respeito da inova-
ção industrial e dos elementos que compõem o processo. Iremos, também, compreen-
der o que envolve o modelo estrutura-conduta-desempenho.
Na Unidade IV, serão apresentados os conceitos de concorrência real e potencial, e co-
nheceremos os mecanismos utilizados nos mercados como forma de impor barreiras à
entrada de empresas e também os que se constituem em barreiras à saída. A teoria dos
jogos e como são tomadas as decisões estratégicas, assim como a escolha do melhor
resultado, também fazem parte dos estudos desta unidade.
Na última unidade, vamos focar nas formas de defesa da concorrência e como é feita a
regulação econômica, além de conhecermos instrumentos de política industrial e am-
biental e como as atividades econômicas são impactadas em cada uma dessas questões
APRESENTAÇÃO
09
SUMÁRIO

UNIDADE I

EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS

15 Introdução

16 Escopo e História da Economia Industrial

20 Natureza, Objetivos e Estrutura da Empresa

26 Conceitos de Indústria e Mercado e Cadeias Produtivas

28 Economias de Escala e Escopo

37 Considerações Finais

42 Referências

43 Gabarito

UNIDADE II

MODELOS DE CONCORRÊNCIA

47 Introdução

48 Modelo de Competição Perfeita

53 Modelo de Monopólio

56 Modelo de Competição Monopolística

62 Modelos de Oligopólio

66 Considerações Finais

72 Referências

73 Gabarito
10
SUMÁRIO

UNIDADE III

O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO

77 Introdução

78 Medidas de Concentração

82 Estrutura Industrial e Inovação

87 Estrutura, Conduta e Desempenho

91 Considerações Finais

96 Referências

97 Gabarito

UNIDADE IV

BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

101 Introdução

102 Concorrência Real e Potencial e o Modelo de Preço Limite

106 Barreiras à Entrada e Barreiras à Saída

110 Jogos e Decisões Estratégicas

114 Estratégias Dominantes

118 Ameaças, Compromisso e Credibilidade

121 Considerações Finais

126 Referências

127 Gabarito
11
SUMÁRIO

UNIDADE V

POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA

131 Introdução

132 Defesa da Concorrência

136 Regulação Econômica

140 Política Industrial

145 Política Ambiental

149 Considerações Finais

153 Referências

154 Gabarito

155 Conclusão
Professora Me. Marieli Vieira

EMPRESA, INDÚSTRIA E

I
UNIDADE
MERCADOS

Objetivos de Aprendizagem
■■ Expor informações sobre o surgimento da Economia Industrial.
■■ Analisar a evolução dos conceitos de empresa e as formas assumidas.
■■ Refletir sobre os conceitos de Indústria e Mercado e as cadeias e
complexos industriais.
■■ Entender a relação existente entre as estruturas de custo e as
economias de escala e escopo.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Escopo e história da Economia Industrial
■■ Natureza, objetivos e estrutura da empresa
■■ Conceitos de indústria e mercado e cadeias produtivas
■■ Economias de escala e escopo
15

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), nesta unidade, você irá conhecer um pouco mais acerca do sur-
gimento da Economia Industrial e alguns conceitos importantes que nos levam
ao seu aprofundamento.
É importante conhecermos os desdobramentos da Economia Industrial por
meio da visão tradicional e alternativa. A abordagem tradicional, trazida pelos
autores neoclássicos, defende que a empresa combina os fatores de produção,
resgatando dos autores clássicos a lei dos rendimentos, que relacionam o cresci-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

mento à produtividade. As escolhas individuais dessas empresas eram baseadas


na maximização de lucros.
A abordagem alternativa, uma corrente contemporânea, enfatiza a ideia de
que a empresa acumula capacidades organizacionais que são transmitidas. O
que não implica um comportamento imutável, pois estão sempre suscetíveis à
introdução de inovações na busca de melhorias.
A partir da ideia de inovação, surge o processo de concorrência na atividade
econômica. A concorrência ocorre na busca pela dominância de maior parcela
de mercado - definido pela existência de oferta e demanda.
O aumento da concorrência leva a incorporação de mercados acima e abaixo
das cadeias produtivas, que surgiram com a divisão dos trabalhos e são defini-
das como as diversas etapas de transformação dos insumos.
Por último, você vai ver porque o comportamento dos custos de curto e longo
prazo é considerado, pelos economistas, parte importante do processo decisó-
rio das empresas na busca de uma melhor lucratividade e mesmo na alocação de
recursos, as fontes de economias de escala reais e economias de escopo e como
elas se relacionam com a utilização das plantas das empresas, justificativa para
a utilização de economias multiplantas e também quais são os fatores causado-
res das deseconomias de escala.
Espero que esta unidade seja proveitosa. Bons estudos!

Introdução
16 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ESCOPO E HISTÓRIA DA ECONOMIA INDUSTRIAL

Também chamada de organização industrial, a disciplina de Economia Industrial


surgiu a partir de 1950, na busca de novos métodos para estudar a dinâmica de
diversos setores industriais e foi iniciada por autores que estavam insatisfeitos
com as justificativas da microeconomia neoclássica.
A disciplina foi incluída no currículo mínimo de economia em 1985, quando
passou a ser ministrada como disciplina obrigatória e eletiva para os cursos de
graduação e pós-graduação.
A economia industrial é composta pela abordagem tradicional (mainstream)
e pela abordagem alternativa (shumpteriana/institucionalista). Ambas partem de
questões comuns sobre o funcionamento das empresas e dos mercados, porém
divergem na análise (KUPFER; HASENCLEVER, 2002).
A abordagem tradicional foi iniciada pelo trabalho de Joe S. Bain e
atingiu a proposta de M. Scherer, conhecida como modelo Estrutura-Conduta-
Desempenho, recentemente chamada de Nova Economia Industrial (NEI). Essa
abordagem busca a alocação dos recursos escassos considerando o equilíbrio e
a maximização dos lucros.
A abordagem alternativa é ligada a Joseph Shumpeter e busca estudar a

EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS


17

dinâmica da criação de riqueza das empresas, que se acredita não resultar do pro-
cesso de minimização de custos, mas da capacidade de inovação. Para os autores
dessa linha, é obrigatório o entendimento da dinâmica dos setores industriais.
Oliver Williamson, que aperfeiçoou a tradição de Ronald Coase, é contri-
buinte desta corrente, pois enfatizou a natureza institucional das empresas e
buscou explicar as implicações sobre os mercados.

ABORDAGEM TRADICIONAL
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Esta linha é trazida pelos neoclássicos, que consideram as condutas empresariais


importantes para as estruturas de mercado. A empresa é a junção do compor-
tamento de diversos atores econômicos. É dessa corrente que vêm os principais
fundamentos da defesa da concorrência sustentada pelo governo.
O modelo de concorrência perfeita é alvo de questionamento devido à
realidade econômica, e com os debates, foram surgindo diversas revisões das
proposições neoclássicas originais.
Foi sob o paradigma do modelo ECD (Estrutura Conduta Desempenho)
que a economia industrial se estabeleceu como uma matéria específica da ciên-
cia econômica. É consensual a importância da obra de Joe S. Bain na constituição
dessa metodologia como ferramenta básica de análise.
Na visão tradicional de Bain, hipótese estruturalista básica, as condutas não
importavam. Era a estrutura que determinava o desempenho do mercado e este
era avaliado de acordo com a taxa de lucro efetiva em relação à taxa ideal em
eficiência alocativa - o ótimo de Pareto.
A partir das formulações de Bain, que foram se aprofundando, ocorreu a
ampliação das variáveis incluídas no esquema analítico original, especialmente
quanto aos elementos de conduta, assim como o aumento da realização de pes-
quisas empíricas a partir da década de 60.
Uma das falhas do modelo ECD inicial era a falta de importância das condutas
das empresas no processo de concorrência. A resposta foi a aceitação da existência
de causalidades menos rígidas, que se expressavam em uma relação interativa entre
as variáveis de estrutura, conduta e desempenho. Passou-se a avaliar empiricamente

Escopo e História da Economia Industrial


18 UNIDADE I

todos os possíveis feedbacks entre as três categorias e duas alternativas foram busca-
das: estudos de caso e soluções matemáticas. Ambas infrutíferas. Os estudos de caso
eram muito particulares e pouco generalizáveis, voltando a privilegiar a conduta das
empresas - e sua rivalidade - como a principal variável explicativa do funcionamento
dos mercados, desconsiderando as suas características técnico-administrativas.
Outra falha do paradigma era sua incapacidade de lidar com a existência de
diferenciais de lucratividade entre as empresas em uma mesma indústria, devido
às variações nos tamanhos das empresas. Não tem porque todas as empresas de
uma indústria concentrada partilharem os lucros excessivos de maneira igual.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Como muitas empresas grandes são diversificadas, foi mais pertinente analisar
as grandes empresas e não mais os mercados (indústrias), o que tornou questio-
nável o objeto de análise do modelo ECD.
O principal questionamento do paradigma foi a endogeneidade: considerando
que cada empresa escolhe seu nível de produção de acordo com os custos, as suas
demanda e expectativas, o preço de mercado e os produtos para uma indústria em
equilíbrio são conjuntamente determinados. Isso implica que o grau de concen-
tração e os lucros são variáveis endogenamente e não exista relação de causalidade
predefinida. Persistindo a endogeneidade, a ideia de concorrência deveria resolver
variáveis mais complexas, e entre estas, estaria a conduta das empresas.
A questão da endogeneidade foi o ponto de partida, no início da década de
70, de uma corrente alternativa fundamentada na teoria dos jogos. Nessa corrente,
a ideia inicial do ECD foi deixada de lado. Formulou-se um comportamento de
equilíbrio das empresas, no qual elas ajustam quantidades, preços e outras vari-
áveis, voltando aos modelos de Cournot, Bertrand, Nash ou outros, ligados, aos
primórdios, à origem das teorias de oligopólio.
Fazendo uma comparação com o modelo ECD, as condições básicas e as
condutas são exógenas na teoria dos jogos, enquanto a estrutura e o desempe-
nho são as variáveis endógenas. As condutas são baseadas em expectativas e
existe a possibilidade de incertezas em relação ao futuro. Apesar das críticas, o
modelo ECD fornece ideias e conceitos, resultados empíricos acerca da estrutura
e do desempenho no mercado, sendo um guia para a ação política por meio das
autoridades regulatórias. Os anos 80, porém, trouxeram questões impossíveis de
serem tratadas pelo modelo ECD, devido à sua fragmentação.

EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS


19

A Abordagem Alternativa

Esta estrutura teórica entende que os agentes agem racionalmente e seu compor-
tamento é considerado dado, maximizam suas funções de preferências, focando
no equilíbrio e excluindo as incertezas. Buscam-se visões evolucionistas do pro-
cesso de concorrência, porém as colocações ainda são muito dispersas.
A preocupação central é a lógica do processo de inovação e seus impac-
tos sobre a atividade econômica. As ideias principais, em torno de instituições,
hábitos, regras e sua evolução, buscam facilitar a análise, ao invés de construir
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

um único modelo geral.


Com maior ênfase em especificidades, essa abordagem parte das ideias gerais
em relação ao homem, às instituições e à natureza evolucionária dos processos
econômicos para ideias e teorias específicas, relacionadas com instituições eco-
nômicas singulares ou tipos de economia. Se existe teoria geral, ela indica como
desenvolver análises específicas de fenômenos também específicos.
A questão central é tratar a inovação e, a partir dela, a concorrência, como
um processo dependente do tempo, lógico e cronológico. Busca-se tratar vari-
áveis dependentes do passado, por isso, é necessário considerar o passado e o
futuro, devido às condições de incerteza.

Empresas, Mercados e Economia Institucional

As relações entre empresas, mercados, instituições e processos são o eixo da


Economia Industrial, e seu objetivo é o estudo do funcionamento dos mercados.
O desafio e a motivação da disciplina é verificar até que ponto se pode fazer uma
generalização da dinâmica de mercado sem que seja feito um resgate histórico.
A evolução das tecnologias atribuiu à economia industrial um lugar impor-
tante na análise econômica contemporânea. No Brasil, o interesse pelo assunto
cresceu nos anos 80 e 90, com a conclusão da matriz industrial e a abertura
comercial, respectivamente, e o aumento da concorrência entre as empresas.
A concorrência é o fenômeno mais característico das economias capitalis-
tas, ao mesmo tempo que é de uma grande complexidade, divergindo bastante
entre as formulações teóricas:

Escopo e História da Economia Industrial


20 UNIDADE I

■■ Tradicional - a concorrência surge como equilíbrio gerado por meio da


transformação de todos os agentes em tomadores de preços. Enquanto
que, na NEI, a concorrência é como um jogo, no qual as empresas dispu-
tam parcelas de um mercado e os lucros mediante alterações de preços,
esforço de venda, diferenciação de produtos e outras.
■■ Alternativa - a concorrência surge quando cada agente busca se diferenciar para
obter ganhos monopólicos, sendo que a inovação é o principal fator gerador.

O mercado é o espaço no qual se definem preços e quantidades das mercadorias


de acordo com a oferta e a demanda. Cada mercado tem um tipo de concorrên-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cia que depende das características estruturais e das condutas praticadas pelas
empresas, o que também é alvo de debate entre as correntes.

NATUREZA, OBJETIVOS E ESTRUTURA DA EMPRESA

A natureza e os objetivos da empresa compõem uma grande diversidade de fato-


res dentro da Economia Industrial, que são explicadas por Chandler e Penrose.
De acordo com as definição de Chandler (1992), a empresa é uma entidade
legal e administrativa, com estabelecimentos de contratos e divisão do traba-
lho que, em nome da busca dos lucros, tem sido a representação de economias
capitalistas, produzindo bens e serviços e servindo para alocação da produção
e distribuição futuras.
De maneira a complementar essa definição, Penrose (1959) diz que a empresa
não é algo observável fisicamente e é de difícil definição quanto ao que é feito
por ela. Dessa forma, cada análise deve considerar as características e definir a
empresa de acordo com o próprio interesse.
Primeiro, vamos nos concentrar na natureza e nos objetivos e deixar pra
depois os conceitos de empresa e quais são realmente os seus objetivos. Vamos
nos concentrar em como a economia os retratam.

EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS


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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ANTES DA ESCOLA NEOCLÁSSICA

A escola neoclássica não definia um órgão como empresa de forma específica,


o que era identificado eram as empresas familiares, que não faziam separação
entre patrimônio da família e das empresas. Portanto, a empresa, nesta época,
identificava-se como empresa capitalista, buscando acumular capital em um
ambiente que era competitivo e formado pelo sistema capitalista em expansão.
Fica por conta da escola clássica os elementos da teoria da produção, como
a lei dos rendimentos, que procurava relacionar a ampliação das atividades eco-
nômicas com a produtividade. Assim, Adam Smith propôs que, quanto mais
amplo o mercado, maior seria a divisão do trabalho, o que viria a ser mais tarde
a lei chamada de rendimentos decrescentes, apontada, também, por Ricardo
acerca da agricultura.

NA ESCOLA NEOCLÁSSICA

A escola neoclássica trouxe para a discussão, na economia, a questão da aloca-


ção de recursos escassos em necessidades limitadas, que já era presente na escola
clássica, porém agora acompanhada da discussão dos valores das mercadorias.

Natureza, Objetivos e Estrutura da Empresa


22 UNIDADE I

A versão de equilíbrio parcial, de Marshall, vê a empresa como um agente


tomador de decisões acerca da produção e do tamanho da planta, juntamente
com as entradas e saídas de mercados, o que faz com que as decisões de aplicações
de recursos sejam afetadas. As decisões individuais das empresas são tomadas
buscando a maximização dos lucros e a maior lucratividade.
Assim, a empresa é o local onde se faz a combinação de fatores para pro-
dução de produtos, sendo sujeita à lei dos rendimentos, que são a base para os
custos médio e marginal de curto e longo prazo.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Você lembra o que compõe a definição de curto prazo?

Na teoria de equilíbrio geral de Walras, a empresa é vista como os empresários deman-


dantes de fatores e como ofertantes no mercado de bens. O lucro extraordinário, que
os empresários esperam, é anulado pela concorrência, de forma que não resta ao
empresário remuneração excedente além daquela remuneração dos fatores de pro-
dução para aqueles que são proprietários. Seu papel de auxiliar na compra e venda de
fatores, bens e serviços, de maneira a igualar a oferta e demanda não é remunerado.
A compreensão das atividades econômicas e das empresas pode ser apro-
fundada por meio da consideração de instituições, inclusive a discussão acerca
da natureza da empresa, que é considerada uma organização hierárquica.

• Empresas como instituições

Para Coase (1937), a empresa é vista como um arranjo institucional o qual esta-
belece um vínculo duradouro entre fatores de produção, ou seja, fatores para
assumir a tarefa por tempo indeterminado. Portanto, as empresas podem alo-
car os recursos de duas formas: pelo mercado e hierárquica, sendo a primeira

EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS


23

mais flexível. Porém as duas maneiras podem coexistir, pois apresentam vanta-
gens, como a economia dos custos de transação.
A ineficiência é gerada quando chega ao ponto em que se perde a economia dos
custos de transações pela ineficiência gerencial. Dessa forma, a empresa, para Coase
(1937), é uma hierarquia que economiza custos de transação e deve ser entendida
como um desenvolvimento teórico da abordagem clássica, pois mantém o problema
da alocação de recursos e a análise marginal para obtenção do tamanho ótimo.

• Outras visões das empresas como instituições


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Marshall (1920), precursor da expressão capacitações organizacionais, é um dos


autores críticos das discussões neoclássicas das empresas.
Fundador da vertente neoclássica de análise do equilíbrio parcial, Marshall
utilizou a figura de uma empresa idealizada, desenvolvida o suficiente para capa-
citações que representem o desenvolvimento geral da indústria e do conjunto de
empresas produtoras da mercadoria.
Para Marshall (1920), as empresas sobrevivem e se desenvolvem caso tenham
um fundador que apresentem soluções aos problemas organizacionais, e técni-
cas de produção, comercialização e relacionamentos com os fornecedores. Uma
vez que a empresa se mantém e cresce, o fundador precisa resolver os problemas
de crescimento, que se faz sobre rendimentos crescentes.
Ele explica, ainda, que as maiores empresas se beneficiam dos instrumentos
acessíveis às empresas maiores que, juntadas às vantagens dinâmicas referentes à expe-
riência e aos conhecimentos acumulados e a uma estrutura organizacional que está
em amadurecimento, faz com que quanto maior a empresa, mais competitiva ela seja.
Uma empresa que se torna grande não necessariamente monopoliza o mer-
cado. Quando as vantagens de tamanho são retidas internamente, de maneira que
a gerência seja passada de geração a geração, sem seleção no mercado e sem con-
viver em um ambiente em constante mudança fazem com que as boas práticas
desenvolvidas anteriormente fiquem no passado e causem a decadência da empresa.

Natureza, Objetivos e Estrutura da Empresa


24 UNIDADE I

• Gerencialistas e Penrose

Os gerencialistas não aceitam o processo de maximização de lucros como deter-


minante do comportamento das empresas. Consideram um elemento-chave a
separação entre o controle e a propriedade, uma característica organizacional
que envolve incumbir a função de gerente a alguém que tenha objetivos próprios,
nem sempre paralelos aos da empresa. Um gerente profissional, por exemplo,
trocaria um lucro maior por um prestígio maior entre o gerentes existentes.
Penrose (1959), em sua teoria da empresa, busca reunir e combinar recursos,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
adquirindo conhecimento e experiência ao longo do tempo, que irão contribuir
para o trabalho em equipe e fazer com que a trajetória dessa empresa seja única
(o que vai contribuir para que ela tenha o caráter de trabalho em equipe). Em
um ambiente hierárquico e com elaboração de estratégias, destaca-se o capital
humano que adquire a experiência e busca, de forma ampla, o crescimento da
empresa como um todo, abrangendo diversos objetivos.

• A visão neoschumpteriana

Nesta teoria, a empresa é considerada como um agente que acumula capacidades


organizacionais. Para os autores representantes desta corrente, Nelson e Winter,
as empresas seguem rotinas que foram adquiridas por meio da experiência e,
assim, coordenam as suas atividades. Os conhecimentos são intransferíveis de
maneira formal e não bastam mais só os equipamentos e seus manuais, os conhe-
cimentos incluem a produção, transmissão e interpretação dos conhecimentos
que ocorrem dentro da empresa.
As rotinas serem utilizadas como comportamento das empresas não significa
que o comportamento delas seja imutável. Quando são introduzidas inovações, as
rotinas podem se desenvolver ou ser adotadas novas em lugar das anteriores.

EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS


25

ESTRUTURA DA EMPRESA

A empresa como instituição busca o crescimento e a acumulação de capital, sendo


que a diversificação é uma das principais formas de expansão. Uma empresa
diversificada pode apresentar diversas formas de organização interna, classifi-
cadas por Williamson (1975) e Chandler (1962) como formato unitário (forma
de U) e empresa multidivisional (forma de M).
As empresas em formato unitário se organizam para serem funcionais, com-
postas por divisões com características particulares que são priorizadas em relação
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

à linha de produtos gerados, e cada divisão se envolve com uma linha de pro-
dutos. A dificuldade dessa estrutura é que os recursos são distribuídos entre as
divisões por meio da barganha de interesses, o que pode fazer com que se deixe
de prestar atenção às oportunidades oferecidas pelos produtos no seu mercado.
As empresas em formato multidivisional possuem um sistema organizado
de acordo com o produto ou a região geográfica e comportam-se de maneira
individualizada. A empresa diversificada é composta por quase empresas, res-
ponsáveis pelo atendimento de um único mercado.
O formato multidivisional é associado à descentralização produtiva, ou seja,
cada quase empresa atua em um espaço próprio. Associado também à concen-
tração decisória, os recursos dessas quase empresas são alocados de maneira
centralizada. As empresas diversificadas podem se classificar nos seguintes mode-
los organizacionais:
■■ Empresa multiproduto: é aquela que produz vários bens que são vendidos
em mercados diferentes, mas relacionados em sua fabricação, marke-
ting e P&D.
■■ Empresa verticalmente integrada: quando a empresa atua em vários está-
gios da cadeia produtiva, geralmente aproveitando economias de escala
para diminuir os custos de produção.
■■ Conglomerado gerencial: empresa que está em vários mercados pro-
duzindo produtos pouco relacionados entre si. Caracterizada pela
capacitação empresarial em comum.

Natureza, Objetivos e Estrutura da Empresa


26 UNIDADE I

■■ Conglomerado financeiro: empresa que está em vários mercados pro-


duzindo produtos pouco relacionados entre si. A ligação se dá pelos
controles financeiros.
■■ Companhia de investimento: é baseada na distribuição dos recursos entre
atividades não relacionadas, porém com grande volatilidade. Se as ativida-
des não apresentarem o retorno esperado, a empresa poderá retirara-las
do seu portfólio de negócios.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONCEITOS DE INDÚSTRIA E MERCADO E CADEIAS
PRODUTIVAS

No âmbito da concorrência perfeita e do monopólio, o mercado é considerado


um espaço abstrato em que oferta e demanda se encontram, adotando uma noção
de produto bem definida e distinguida pelos consumidores. Reflete o conjunto
de empresas produtoras de uma mercadoria, de forma que a indústria corres-
ponde a um mercado. O conceito de indústria assumido pela escola tradicional
neoclássica expressa espaços bem delimitados de competição.
A crescente diferenciação do produto faz com que seja heterogêneo na visão
dos consumidores. Por isso, os esforços competitivos são direcionados ao mer-
cado, procurando atender à demanda por produtos substitutos próximos entre
si. A indústria é composta pelas empresas que produzem mercadorias que são
substitutas próximas, e as fornecem ao mesmo mercado.
Quando falamos de mercado, nos referimos às empresas que produzem de
forma semelhante diversos produtos que são relacionados entre si, constituindo
um grupo de empresas com modos produtivos semelhantes.
A delimitação dos mercados e das indústrias não é isolada, nem quanto aos
produtos, nem quanto aos objetivos de concorrência e de expansão. É difícil
definir um grupo de produtos e quais as empresas que fazem parte do mercado
e, dessa forma, da análise de concorrência. Para isso, utiliza-se a definição das
cadeias produtivas e complexos industriais, nos quais são privilegiados movi-
mentos concorrenciais.

EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS


27
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O aumento da interdependência entre os setores tem surgido pela introdução de


novos métodos e novas técnicas de gestão, assim como a generalização e as for-
mas de parcerias e cooperação, que representam a necessidade do aumento da
eficiência na operação entre os setores, buscando a utilização da produção em
escala e escopo, o que ocorreu na Revolução Industrial de fins do século XIX.
O aumento da área de concorrência faz com que esta deixe de ser apenas
nos mercados imediatos, para incorporar, também, mercados acima e abaixo da
cadeia produtiva em que determinada empresa atua. Criadas pelo processo de
especialização, as cadeias produtivas surgiram do aumento da divisão do traba-
lho e do aumento da dependência entre os agentes econômicos.
Cadeia produtiva são as sucessivas etapas pelas quais os insumos passam e
vão sendo transformados. É possível que se tenha uma cadeia produtiva empre-
sarial, por exemplo, em que cada etapa representa uma empresa. Isto facilita as
análises empresariais, de tecnologia e planejamento do desenvolvimento. De
maneira agregada, temos as cadeias produtivas setoriais, em que as etapas são
os setores econômicos e os intervalos entre eles.
As cadeias são concorrentes quando seus produtos finais são direcionados
a um mesmo mercado (produtos substitutos) e as cadeias são interdependentes
entre si. O nível de desagregação está entre o das cadeias empresariais e seto-
riais. São exemplos as cadeias nas quais os produtos têm a mesma função, porém

Conceitos de Indústria e Mercado e Cadeias Produtivas


28 UNIDADE I

insumos diferentes, como as manilhas de concreto, que estão em uma cadeia, e


as manilhas de cerâmica, que estão em outra.
De acordo com Castro et al. (1994), a cadeia produtiva é “o conjunto de com-
ponentes interativos, incluindo os sistemas produtivos, fornecedores de insumos
e serviços, indústrias de processamento e transformação, agentes de distribuição e
comercialização, além de consumidores finais ”. O autor afirma ainda que as cadeias
produtivas buscam suprir as necessidades do consumidor final de alguns produtos.
É comum o entrelaçamento entre as cadeias produtivas, se separam ou se
juntam, mas não há motivos para acharmos que a teia de cadeias produtivas

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vá se espalhar de maneira uniforme. Se isso acontecesse, as cadeias produtivas
seriam agregadas em blocos, de forma que o valor médio das compras e vendas
entre setores de um bloco seja maior que esse valor em outros blocos. Esses blo-
cos são chamados de complexos industriais.

O artigo de Castro (2001) apresenta mais informações sobre o tema abor-


dado neste tópico, as cadeias produtivas. A análise é feita com componen-
tes das cadeias produtivas do agronegócio. Para saber mais, acesse o link:
<http://www.scielo.br/pdf/tinf/v13n2/04.pdf>.
Fonte: a autora.

ECONOMIAS DE ESCALA E ESCOPO

Os custos considerados pelos economistas envolvem o processo decisório, por isso


são considerados, também, os custos que podem ocorrer no futuro e as manei-
ras de reduzir esses custos. Esses custos são os custos de oportunidade, que são
equivalentes aos ganhos que poderiam ser obtidos caso o investimento fosse feito
em outras oportunidades, e vão indicar se uma atividade deve continuar ou não.
Os custos podem ser variáveis, quando aumentam ou diminuem conforme
a quantidade produzida, ou podem ser fixos, que são aqueles custos que inde-
pendem da quantidade produzida.

EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS


29
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Você lembra quais custos de uma empresa se classificam dentro dos custos
fixos?

A diferenciação entre custos fixos e variáveis só faz sentido no curto prazo, visto
que, no longo prazo, todos os custos são ajustáveis. Os custos totais envolvem a
soma dos custos fixos e variáveis, portanto, quando a produção cresce, a variação
nos custos totais é correspondente ao aumento ocasionado nos custos variáveis.

Existem, ainda, os custos irrecuperáveis (sunk costs), que são os recursos


empregados na aquisição de ativos que não podem ser revertidos em grau
significante, ou seja, ocorre perda total ou parcial de seu valor.
Fonte: Kupfer e Hasenclever (2002).

Economias de Escala e Escopo


30 UNIDADE I

CUSTOS DE CURTO E LONGO PRAZO

Existem alguns conceitos importantes de custos no curto prazo, como o custo


marginal (CMg), custo médio (CMe), custo variável médio (CVMe) e custo fixo
médio (CFMe):
■■ O CMg é o custo de produzir uma unidade adicional de produto.
■■ O CMe é definido pelo custo total dividido pela quantidade produzida.
■■ O CVMe é resultado da divisão entre o custo variável e a quantidade

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
produzida.
■■ CFMe é a divisão do custo fixo pela quantidade produzida.

C(q) CMe
CMg

CVMe

CFMe

q1 q2
Quantidade
Figura 1 - Curvas de custo
Fonte: adaptado de Kupfer e Hasenclever (2002).

A CVMe é inicialmente decrescente, até o ponto em que a empresa opera com


capacidade ótima, e crescente a partir deste ponto, indicando a queda da pro-
dutividade. A curva de CMe é a soma das curvas de CFMe e CVMe, assumindo
o mesmo formato da CVMe, refletindo a lei dos rendimentos decrescentes. A
curva de CMg também explica a lei dos rendimentos marginais decrescentes,
assumindo formato de U.

EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS


31

Podemos observar que as curvas de CMg e CVMe saem do mesmo ponto,


portanto, o custo marginal de produzir uma unidade é igual ao custo variável
médio de produzir uma unidade.
Uma relação importante entre os custos de curto prazo e que deve ser des-
tacada é entre as curvas de até o ponto de custo médio mínimo, ou seja, ele se
iguala ao custo médio mínimo. Quanto ao CVMe, o custo marginal é menor
que este quando decrescente, e passa a ser superior quando o CVMe é crescente.
Quando se pensa no longo prazo, a empresa pode escolher a quantidade de
todos os seus fatores de produção, de forma que os custos refletem todas as pos-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sibilidades de produção e orientam os empreendedores à tomada de decisões.


Os custos globais variam conforme a escolha dos fatores de produção, o
que justifica o estudo da curva de custo médio de longo prazo (CMeLP). Se o
CMeLP é reduzido quando a produção é elevada, a empresa apresenta econo-
mias de escala. Se ele é constante enquanto a produção aumenta, significa que
a empresa apresenta retornos constantes de escala. E se o CMeLP é decrescente
conforme aumenta a produção da empresa, esta possui deseconomias de escala.

C(q)

CMeLP

q EME Quantidade
Figura 2 - Curva de custo médio de longo prazo
Fonte: adaptado de Kupfer e Hasenclever (2002).

A curva de CMeLP assume a forma de U, conforme a teoria tradicional, assumindo


que as economias de escala existem até o ponto em que o ponto de utilização ótima
da planta é atingido. Com a utilização superior à ótima, existirão deseconomias de
escala. Esta hipótese é formulada considerando que a planta não é passível de aumen-
tar de tamanho. Porém, esse formato não se verifica frequentemente na prática.

Economias de Escala e Escopo


32 UNIDADE I

Alguns autores defendem, ainda, que a curva CMeLP tem formato de L, pois
argumenta-se que as deseconomias de escala geradas pelas ineficiências podem ser
evitadas com a implantação de métodos modernos de gerência. Mesmo que essas
deseconomias aparecessem, elas não seriam significantes se comparadas às economias.

C(q)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CMeLP

q EME Quantidade

Figura 3 - Curva de custo médio de longo prazo em formato de L


Fonte: adaptado de Kupfer e Hasenclever (2002).

Outros autores argumentam, ainda, que, se essas deseconomias fossem signifi-


cantes, isso iria acontecer em um nível de produção muito elevado, o que estaria
fora da área relevante.
Se a curva de CMeLP tivesse mesmo o formato de L, deveria existir um nível
de escala mínima da planta para que a empresa seja eficiente, e não somente um
único tamanho. Essa escala mínima de eficiência da planta é a produção mínima,
ponto a partir do qual o custo médio de longo prazo passa a ser constante.
Outra opção alternativa para a curva de CMeLP é uma combinação dessas
duas, quando os formatos U e L se misturam. Além das economias e dese-
conomias, haveria um segmento plano na curva que representaria os custos
constantes por unidade produzida, correspondente à reserva de capacidade pla-
nejada pela empresas para que sua operação seja flexível.

EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS


33

C(q)

CMeLP
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

q1 q2 Quantidade
Figura 4 - Curva de custo médio de longo prazo com segmento horizontal
Fonte: adaptado de Kupfer e Hasenclever (2002).

FONTES DAS ECONOMIAS DE ESCALA

Apesar de não haver consenso, razões empíricas nos fazem acreditar que os cus-
tos médios de longo prazo são decrescentes e que chega um momento em que
as economias de escala se esgotam.
As economias de escala estão associadas a dois tipos de fontes, são elas: eco-
nomias de escala reais e economias de escala pecuniárias. As economias de escala
são reais se o fator explicativo é a redução de fatores produtivos quando a pro-
dução aumenta. São consideradas pecuniárias quando o fator explicativo é uma
redução no preço do insumo.
Analisaremos as fontes de economias de escala reais, que se dividem em
estáticas e dinâmicas.

Economias de Escala e Escopo


34 UNIDADE I

Economias de escala estáticas

As economias de escala se dividem em quatro e relacionam o custo médio de


longo prazo com a quantidade produzida, sem considerar o processo ao longo
do tempo. Vejamos cada uma delas a seguir:
■■ Ganhos de especialização: ao nível de produto - quanto maior a quantidade
de produto, maior poderá ser a divisão do trabalho e mais especializados
poderão ser os trabalhadores e as máquinas. Quanto mais especializados
forem, maiores serão as suas habilidades e maior será a produtividade.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ Indivisibilidade técnica: ao nível de planta produtiva - nem sempre é pos-
sível obter máquinas e equipamentos do tamanho exato para produzir a
quantidade necessária. Uma futura expansão pode ser realizada com a
utilização dos equipamentos abaixo da sua capacidade total e, assim, os
retornos de escala podem ser obtidos com o esgotamento da capacida-
des desses equipamentos.
■■ Economias geométricas: ao nível de planta produtiva - esta economia de
escala cresce decorrente da expansão do tamanho individual das unida-
des processadoras, pois o produto tende a ser proporcional ao volume da
unidade enquanto os custos são proporcionais à superfície.
■■ Economias relacionadas à lei dos grandes números: ao nível da planta
produtiva - em caso de aumentos da planta produtiva e aumento da quan-
tidade das máquinas, menores serão o pessoal necessário e o estoque de
peças para manter o nível de atividade produtiva. Isto é, a possibilidade
de problemas técnicos cresce menos que proporcionalmente em relação
ao crescimento do maquinário.

Economias de escala dinâmicas

As economias de escala dinâmica podem se dividir em duas, as quais relacio-


nam o custo médio de longo prazo, incorporando a variação com o passar do
tempo. São elas:

EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS


35

■■ Economias de reinício - set up: esta economia de escala é gerada com a uti-
lização de máquinas que atuam na produção de diversas etapas do produto
final. Essas máquinas, após o encerramento de uma das etapas, devem ser
reiniciadas para que possam produzir a próxima etapa. Quanto maior a
produção, em maior tempo a máquina poderá trabalhar na mesma regu-
lagem, o que irá reduzir os custos do tempo perdido com a reinicialização.
■■ Economias de aprendizado: quando um novo produto ou processo começa
a ser produzido começa, também, o processo de aprendizagem, que é mais
lento no início e se desenvolve conforme a prática e deixa os trabalhado-
res mais habilidosos. Portanto, o custo médio do aprendizado diminui
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

conforme aumenta a produção.

ECONOMIAS DE ESCOPO

As economias de escopo envolvem a produção de dois ou mais produtos com


utilização da mesma planta. Nesta forma de produção, os custos não dependem
somente da produção do próprio produto, mas também do tamanho da planta.
As economias de escopo são definidas pela informação de que produzir con-
juntamente os produtos custa menos que produzi-los separadamente, ou seja, a
empresa reduz os custos com a diversificação das atividades.
Existem três fontes de economias de escopo:
■■ Existência de fatores comuns: quando, para a produção de dois bens dife-
rentes, é necessária a compra do mesmo fator de produção, que é adquirido
uma vez somente.
■■ Existência de reserva de capacidade: se existe capacidade ociosa na planta,
a empresa tem incentivos para procurar produtos que permitam diversi-
ficar a produção utilizando a reserva dessa capacidade.
■■ Complementaridades tecnológicas e comerciais: esta fonte de economias
de escala existe quando os produtos apresentam similaridades na base
técnica ou de mercado.

Economias de Escala e Escopo


36 UNIDADE I

ECONOMIAS AO NÍVEL DA MULTIPLANTA

Até este momento, foram consideradas apenas empresas limitadas por uma
única planta. Porém, empresas líderes costumam possuir mais de uma planta, e
transnacionais são exemplos de empresas que operam nos sistemas multiplantas.
Faz sentido supor que essas empresas operem com várias plantas esperando
obter a vantagem da economia de escala que não seria possível obter somente
por meio de uma planta. As razões para atuação podem ser as seguintes:
■■ Economias de duplicação: derivada da possível adição de capacidade pro-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dutiva com o passar do tempo, pois a empresa deve se ajustar à demanda.
■■ Custo de transporte: a operação multiplanta seria uma maneira da empresa
diminuir os custos de transporte associados à sua operação no mercado.
■■ Alcance de especialização ao nível das multiplantas: alcançando a espe-
cialização nas multiplantas, a empresa é capaz de obter maior segurança
quanto à variação das suas receitas e reduzir os custos de reinício das
máquinas que operam em regulagens diferentes.
■■ Flexibilização da operação: a maior flexibilidade na operação pode redu-
zir os custos quando comparados à operação em uma única planta.

DESECONOMIAS DE ESCALA

Existem razões para acreditar que as economias de escala não se mantêm inde-
finidamente, chegando ao ponto em que a empresa vai enfrentar deseconomias,
que podem ser causadas, basicamente, por dois fatores:
■■ Custos de transporte: para evitar o aumento dos custos de transporte,
a empresa pode se limitar a uma única planta, pois se as vendas cresce-
rem muito, será muito maior a necessidade de alcançar os consumidores.
■■ Deseconomias gerenciais: uma decaída na eficiência da gerência pode-
ria fazer com que a empresa tenha deseconomias gerenciais, podendo ser
causada pelo fato de que depois que a empresa atinge o tamanho ótimo, a
gerência perde o controle sobre as decisões, ou mesmo pela insegurança
quanto ao comportamento da demanda e dos competidores.

EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS


37

De conhecimento acerca do surgimento da economia industrial e de alguns


conceitos importantes para o seu entendimento, partimos para a próxima uni-
dade. Bons estudos!

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Nesta unidade, aprendemos que a disciplina de Economia Industrial, introduzida nos


estudos de Economia somente em 1985, surgiu dos estudos de setores industriais e
sua abordagem é dividida em tradicional e alternativa. Estas duas linhas de estudo
partem de questões comuns acerca do funcionamento das empresas e dos mercados.
Vimos que cada uma das escolas vê as empresas de maneiras diferentes: saindo
da visão da escola clássica, passando para a escola neoclássica com as teorias de
Marshall e Walras, Coase e Penrose, e também a empresa na visão neoshumpteriana.
Para Marshal, a empresa é um tomador de decisões que busca a maximização de
lucros por meio da produção. Na teoria de Walras, a empresa é demandante de fatores
de produção e ofertante de bens. Para Coase, a empresa é vista como uma instituição que
combina os fatores de produção por um longo período. Penrose defende que a empresa
busca adquirir conhecimentos que irão contribuir para o crescimento da empresa, con-
trole esse que deve ser feito de maneira separada da propriedade da empresa. Enquanto
na visão neoshumpteriana, a empresa adquire conhecimentos com a prática e o seu com-
portamento não é necessariamente congelado, as inovações podem existir.
Aprendemos, também, o que são cadeias produtivas, que compreendem as etapas
em que são transformados os insumos até que estes passem a ser um produto final.
Finalizando a unidade, vimos que os custos que são considerados nos proces-
sos de decisão podem ser fixos ou variáveis. Os custos fixos ocorrem independentes
das quantidades produzidas, enquanto aqueles que são variáveis variam conforme
a quantidade produzida. A estrutura de custos determina, por vezes, a estrutura
de mercado, pois quanto maiores as economias de escala menor será a quantidade
de empresas em um indústria. Os custos podem significar o tamanho das barrei-
ras à entrada em determinadas indústrias.

Considerações Finais
38

1. As abordagens tradicional e alternativa apresentam diferentes visões acerca


das empresas e dos mercados na Economia Industrial. Sabendo das caracterís-
ticas de cada uma, são feitas as seguintes afirmações:
I. A abordagem tradicional teve como pioneiro Joe S. Bain e tem como objeti-
vo o estudo da criação de riqueza das empresas.
II. Uma das falhas do paradigma estrutura-conduta-desempenho era o fato de
não considerarem a conduta da empresa como importante no processo de
concorrência.
III. A abordagem teórica alternativa tem como questão central a inovação e,
partindo dela, a concorrência.
IV. A visão tradicional e a visão alternativa consideravam a conduta pouco im-
portante para o desempenho de mercado.
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas II, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.
2. Segundo as formas de organização interna classificadas por Williamson (1975)
e Chandler (1962), uma empresa pode se apresentar em formato unitário (for-
ma de U) e empresa multidivisional (forma de M). Caracterize estas duas formas
de organização interna.
3. Uma empresa multiproduto é um modelo organizacional de uma empresa di-
versificada e se caracteriza pela produção de diversos bens que são vendidos
em mercados diferentes, mas têm alguma relação. Apresente um exemplo real
de empresa multiproduto .
4. Quando uma empresa busca a máxima utilização dos fatores produtivos asso-
ciados ao baixo custo e ao aumento da produção, dizemos que ela está fazen-
do uso da economia de escala. Fale sobre as fontes das economias de escala.
5. A cadeia produtiva, basicamente, nos ajuda a entender a história de um produ-
to desde quando ele era apenas uma matéria-prima. Defina cadeia produtiva
e dê um exemplo.
39

As relações entre empresas e instituições fazem parte do eixo da economia industrial. A


preocupação inicial quando se falava de instituições era acerca da estrutura, costumes e
demais fatores, assim como com o desenvolvimento de inovações. Nesta leitura, vamos
estudar a relação entre as empresas e as instituições na teoria Shumpteriana.
O estudo do impacto das instituições sobre a atividade econômica é antigo e envolve a ca-
pacidade de geração de inovações no mercado. A teoria Schumpeteriana incorporou o tema
na sua agenda de pesquisa e discute com outras escolas, como a Economia Institucional e
a Nova Economia Institucional, e agora a Sociologia Econômica, o papel das instituições no
processo de inovação. O foco nas instituições revela uma preocupação com a explicação de
como o conhecimento é formado na sociedade e ultrapassa os limites teóricos.
Nos últimos anos, incorporou-se o uso do conceito de capital social para definir o ambien-
te social no qual o conhecimento é gerado. O capital social estabelece as redes de con-
tatos entre os indivíduos, disseminando conhecimento tecnológico. Estes dois conceitos
serão trabalhados a seguir, dentro das leituras da própria escola de pensamento econômi-
co. O Quadro 1 a seguir resume o impacto dos dois ambientes sobre a empresa inovadora.
Quadro 1 - Impacto das características setoriais e institucionais sobre o processo de inovação

CARACTERÍSTICAS IMPACTOS SOBRE A INOVAÇÃO


Instituições formais:
Estrutura legal: leis, direito de proprie- Garantem a propriedade do conhecimento e a apro-
dade, contratos etc. priação do lucro da inovação.
Garantem o funcionamento das regras, geração e
Atores: governo, sistema financeiro,
disponibilização de recursos para Pesquisa, Desenvol-
universidades etc.
vimento e Inovação.
Impactam o mercado de trabalho (capital humano),
Instituições informais: costumes,
a formação de contratos (capital social) e o hábito de
hábitos etc.
consumo (demanda).
Capital social formal:
Extensão: número de atores, número Efeito de escala e aumento do conhecimento acu-
de pesquisadores em determinada mulado geram mais inovações. As imitações também
área de conhecimento. podem aumentar.
Densidade: volume de conhecimen-
Aumento do capital social conduz ao aumento do
to acumulado transmitido entre os
volume e do impacto das inovações.
atores.
Aumento da circulação do conhecimento e aumento
do número de inovações. Porém o impacto econô-
Capital social informal:
mico pode ser reduzido porque ocorre também o
aumento das imitações.
Fonte: adaptado de Steingraber (2013).
40

Mesmo a palavra instituição tendo várias interpretações, segundo a visão Schumpe-


teriana, o progresso tecnológico depende da relação entre os atores econômicos e o
ambiente social. Buscando desenvolver o aprendizado, a interação dos agentes com o
ambiente pode ser resumida como um processo de captação de conhecimento para
que sejam geradas inovações.
Fonte: Steingraber (2013).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Freakonomics: O Filme (2010)


Sinopse: o documentário, baseado no livro de Steven Levitt e Stephen
Dubner, faz uma mistura de economia e cultura para mostrar a aplicação
de diversos temas da economia para a sociedade.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

CARLTON, D. W.; PERLOFF, J. M. Modern Industrial Organization. New York: Fores-


man Little Brown, 1994.
CHAMBERLIN, E. H. The Theory of Monopolist Competition. Cambridge: Harvard
University Press, 1933.
D’ASPREMOND, C.; GABSSEWICZ, J.; THISSE, J. On Hotelling’s Stability in Competi-
tion. Econometrica, n.17, p. 10445-1151, 1979.
HOTELLING, H. Stability in Competition. Economic Journal, n. 39, p. 41-57, 1929.
JUNIOR, G.; CASTRO, A.; SILVA PAGANINI, W. Aspectos conceituais da regulação dos
serviços de água e esgoto no Brasil. Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 14, n. 1,
p. 79-88, 2009.
KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia Industrial: fundamentos teóricos e práti-
cas no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002.
SALOP, S. Monopolistic Competition with Outside Goods. Bell Journal of Economi-
cs, n. 10, p. 141-156, 1979.
SRAFFA, P. The Laws of Returns under Competitive Conditions. Economic Journal,
v. 36, n. 2, p. 535-550, 1926.
VARIAN, H. R. Microeconomia: Princípios Básicos. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
WAQUIL. P. D.; ALVIM, A. M. Acordos Comerciais e o Setor Produtivo de Carne Bovina:
estimativas de ganhos para o Mercosul. Revista de Economia e Agronegócio, v. 4,
n. 2, 2015.
43
GABARITO

1. b.
2. Diz-se que as empresas em formato unitário organizam-se para serem funcio-
nais, compostas por divisões com características particulares que são prioriza-
das em relação à linha de produtos gerados e cada divisão se envolve com uma
linha de produtos. Já para as empresas em formato multidivisional, significa que
possuem um sistema organizado de acordo com o produto ou região geográfica
e comportam-se de maneira individual. Responsáveis pelo atendimento de um
único mercado, as empresas nesse formato são associadas à descentralização
produtiva, ou seja, cada uma atua em um espaço próprio.
3. Um exemplo real de empresa multiproduto é a multinacional Unilever. A Unile-
ver atua em setores como alimentação, higiene e beleza.
4. As economias de escala podem ser reais e pecuniárias. As economias de esca-
la são reais se o fator explicativo é a redução de fatores produtivos quando a
produção aumenta, e pecuniárias quando o fator explicativo é uma redução no
preço do insumo. As economias de escala reais se dividem em estáticas e dinâ-
micas. As primeiras relacionam o custo médio de longo prazo com a quantidade
produzida sem considerar o processo ao longo do tempo, enquanto as segundas
relacionam o custo médio de longo prazo incorporando a variação com o passar
do tempo.
5. Cadeias produtivas são as etapas seguidas que compreendem a transformação
do insumo até este se constituir em produto final. Com o aumento da divisão
do trabalho e da dependência entre os agentes econômicos, surgiu o processo
de especialização e foram criadas as cadeias produtivas. Um exemplo é a cadeia
produtiva da roupa, que envolve desde a produção do algodão para confecção
do tecido, passando pelas costureiras, confecção das etiquetas, produção das
embalagens nas quais serão entregues, transportadoras, lojas em que são ven-
didas, marketing utilizado para sua comercialização. Um único produto final en-
volve diversas etapas produtivas.
Professora Me. Marieli Vieira

MODELOS DE

II
UNIDADE
CONCORRÊNCIA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Analisar os pontos principais do modelo de competição perfeita.
■■ Abordar o comportamento de monopólio e o comportamento
monopolista.
■■ Definir os conceitos para descrição e análise da concorrência
industrial.
■■ Introduzir conceitos fundamentais acerca dos modelos de
concorrência em oligopólio.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Modelo de competição perfeita
■■ Modelo de monopólio
■■ Modelo de competição monopolística
■■ Modelos de oligopólio
47

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), nesta unidade, iremos aprender sobre os modelos básicos de


concorrência da teoria neoclássica, competição perfeita e monopólio, além do
modelo de competição monopolística e oligopólio.
No primeiro tópico, estudaremos o modelo de competição perfeita e as
hipóteses básicas que definem esse modelo. Representando o mínimo poder de
mercado, as empresas que fazem parte desta estrutura de mercado são toma-
doras de preços no mercado. Enquanto o modelo de monopólio representa o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

contrário, o máximo de poder de mercado de uma empresa. Nesta estrutura de


mercado, há somente um produtor e esta empresa é formadora de preços. No
segundo tópico deste capítulo, estudaremos o modelo de monopólio e as causas
de sua existência segundo os economistas neoclássicos, assim como as inefici-
ências causadas.
A contestação dos modelos de competição perfeita e do modelo de monopó-
lio veio pelo autor Piero Sraffa, que serviu de inspiração para a formulação das
hipóteses do modelo de competição monopolística. O modelo de competição
monopolística combina características do monopólio e da competição perfeita.
No terceiro tópico, conheceremos as características desta estrutura de mercado
e como essas características afetam os consumidores.
Finalmente, no quarto e último tópico desta unidade, estudaremos o modelo
de oligopólio. Esse modelo é mais voltado à realidade dos mercados, na qual
existem inúmeros vendedores. Os produtores tomam as decisões de produção
baseados na quantidade e nos preços, considerando as decisões de produção
dos concorrentes e as reações que estes terão às suas próprias decisões. Existem
várias interações estratégicas que podem acontecer por meio dessas variáveis, que
serão identificadas por meio do Modelo de Stackelberg, do Regime de Cournot
e do Regime de Bertrand, os quais conheceremos as características um a um.
Estude com empolgação esta unidade. Boa leitura!

INTRODUÇÃO
48 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
MODELO DE COMPETIÇÃO PERFEITA

O modelo de competição perfeita é uma estrutura de mercado que não prevê


alinhamento entre as empresas que fazem parte desse mercado.
Este modelo compreende um conjunto de hipóteses básicas que o definem
(KUPFER; HASENCLEVER, 2002):
■■ Grande número de empresas: esta estrutura é composta de um grande
número de empresas que podem ser grandes, porém não possuem poder
de mercado. Isso acontece porque, por serem em grande número, dominam
uma pequena parte do mercado, vendendo, assim, a pequena proporção
de mercadorias correspondente a esse mercado, o que faz com que seu
tamanho não tenha importância.
■■ Produto homogêneo: as empresas produzem um produto cujas caracte-
rísticas e serviços associados são os mesmos para todas.
■■ Livre entrada e saída de empresas: não existem barreiras ao movimento
das empresas. Se essas barreiras existirem, as empresas ganham o poder
de afetar o preço de mercado, pois o número de empresas pode diminuir.
■■ Maximização de lucros: este é objetivo principal das empresas, obter
remuneração do capital acima da taxa de mercado, pois é necessário obter
a remuneração pelo risco do investimento e pelo custo de oportunidade
de optar por esse investimento. A empresa pode obter lucro positivo ou
renda econômica, quando as receitas totais forem maiores que os custos
totais, e pode obter lucros normais ou nulos, quando as receitas totais
forem maiores que os custos totais.

MODELOS DE CONCORRÊNCIA
49

■■ Livre circulação da informação: os compradores e vendedores possuem


conhecimentos das condições atuais e futuras do mercado, não existindo
incerteza quanto ao futuro.
■■ Perfeita mobilidade dos fatores: os fatores de produção e o trabalho são
livres para se moverem de uma empresa para outra. Os fatores de produ-
ção, por não serem monopolizados, e o trabalho, por não gerar custo de
aprendizado e por não ser sindicalizado.

Nesse modelo, o equilíbrio é atingido quando as condições não se alteram, quando


as empresas que o compõem mantêm o equilíbrio. E as empresas estão em equilíbrio
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

quando produzem a quantidade que maximiza o seu lucro. Para saber o ponto da pro-
dução em que o lucro é maximizado, é preciso derivar a curva de oferta e demanda.
Nesse modelo de mercado, a curva de demanda é horizontal ao preço de
mercado - se a empresa fixar um preço maior que aquele do mercado, não irá
vender, e se fixar um preço menor que o de mercado, a limitação da quantidade
de produção fará com que não obtenha vantagens nesta conduta. Dessa forma,
a empresa é tomadora de preços.

CURTO PRAZO

O custo total (CT) e o custo médio (CMe) refletem a diferença nas condições
de curto e longo prazo. No curto prazo, a função de produção reflete a condi-
ção de operação pelas proporções variáveis, o que garante que exista um nível
de produção além do qual a função de produção opera sob o impacto de retor-
nos dos fatores variáveis.
A função de produção no curto prazo é a seguinte:
y  f  x1 , k 
Onde:
y = quantidade produzida.
x1= quantidade do fator de produção 1.
k = fator de produção fixo.

Modelo de Competição Perfeita


50 UNIDADE II

Receita Média (RMe) = RT / y


Receita Marginal (RMg) = ∂RT / ∂y
Custo Fixo = k  w2  K
Custo Fixo Médio = K/y
Custo Variável = w1 × x1

Custo Variável Médio = w1 × x1 / y

Custo Médio (CMe) = CT / y   w1  x1  K  / y

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Custo Marginal (CMg) = CT / y    w1  x1  K  / y

w1 = preço do fator de produção 1

wk = preço do fator de produção k

p= preço de mercado

No curto prazo, a condição de primeira ordem para maximização de lucros é


RMg = CMg, enquanto a condição de segunda ordem é:

 2 RT / y 2  y 2 CT / y 2   2 CT / y 2  0

O custo marginal corresponde à taxa de variação dos custos quando aumentamos


a produção em uma unidade, e o custo médio de cada unidade deve estar abaixo
deste quando a tendência for decrescente e acima quando a tendência for crescente.
Para que se situe na posição de equilíbrio, a empresa precisa produzir a quan-
tidade em que a receita marginal seja igual ao custo marginal, e o custo marginal
tem que ser crescente nesse ponto (VARIAN, 2003).
No curto prazo, as empresas vão estar em condições de lucros extraordiná-
rios ou prejuízos, mas não irão produzir se o preço do produto for menor que o
custo variável médio mínimo.

MODELOS DE CONCORRÊNCIA
51

LONGO PRAZO

No longo prazo, a empresa pode escolher produzir no ponto onde o custo médio
seja mínimo, que será igual ao preço. No longo prazo, as empresas vão ter lucros
normais, ou iguais a zero, se obtiverem lucros extraordinários, novas empresas
serão incentivadas a entrar no mercado, o que vai fazer com que a expectativa
dos lucros voltem a ser normais. Caso obtenham prejuízos no longo prazo, algu-
mas empresas sairão do mercado, de forma que esta se estabilize no lucro zero.
A função de oferta de longo prazo mede a produção ótima, e a diferença
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

entre a oferta de equilíbrio de curto e de longo prazo será o processo de ajusta-


mento. A função de produção no longo prazo é a seguinte:
y  f  x1 , x2 
Onde:
y = quantidade produzida.
x1 = quantidade do fator de produção 1.
x2 = quantidade do fator de produção 2.’

Receita Média (RMe) = RT / y


Receita Marginal (RMg) = ∂RT / ∂y

Custo Médio (CMe) = CT / y   w1  x1  w2  x2  y

Custo Marginal (CMg) = ∂CT / ∂y


w1 = preço do fator de produção 1
w2 = preço do fator de produção 2
p= preço de mercado

No curto prazo a condição de primeira ordem para maximização de lucros é RMg


= RMe = p = CMg = CMe mínimo, enquanto a condição de segunda ordem é
 2 RT / y 2   2 CT / y 2 .
No longo prazo, a empresa tem mais chances de fazer ajustes devido às varia-
ções de preços e do mercado, o que faz com que a função de oferta seja mais
sensível no longo prazo.

Modelo de Competição Perfeita


52 UNIDADE II

ALOCAÇÃO ÓTIMA DOS RECURSOS

O mercado de competição perfeita conduz para a alocação ótima dos recursos,


o que é atingido quando:
■■ A quantidade produzida está no custo médio mínimo.
■■ Os consumidores pagam o preço mínimo, ou o valor do custo de
oportunidade.
■■ As empresas estão operando em plena capacidade.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ O lucro das empresas é normal.

No longo prazo, todos os mercados alocam os recursos otimamente. De acordo com


as preferências dos consumidores, a competição perfeita levará à alocação ótima dos
recursos se essas preferências forem refletidas, se não existirem economias de escala em
qualquer indústria e se não existir progresso técnico na economia (recursos e tecnolo-
gias dados). Nestas condições, os consumidores irão atingir o máximo do bem-estar.

Você lembra o que são economias de escala?

O excedente do consumidor visa a medir o benefício deste em trocar certa quan-


tidade de um bem para consumir outros bens, esta informação é importante
quando o excedente do consumidor varia devido à variação do preço de um bem.
Suponha que o preço de um bem aumente e um consumidor passe a consu-
mir menos desse bem, passando a pagar mais por cada unidade que ele consome.
Isto não significa perda total do bem-estar do consumidor, apenas uma diminui-
ção. O excedente do produtor pode ser entendido de forma análoga.

MODELOS DE CONCORRÊNCIA
53

O trabalho de Waquil e Alvim (2015) identifica variações nos excedentes do


produtor e do consumidor como efeitos dos acordos de livre comércio so-
bre os mercados de carne bovina. Verifique os resultados encontrados aces-
sando o trabalho no link: <http://ageconsearch.umn.edu/record/55190/
files/3%20Artigo.pdf>.
Fonte: a autora.

MODELO DE MONOPÓLIO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O monopólio é uma estrutura de mercado na qual há somente um produtor. As


quatro hipóteses básicas deste modelo justificam, também, as causas de sua exis-
tência, e segundo os economistas neoclássicos, são as seguintes:
■■ Um único produtor: que detém propriedade das matérias-primas e das
técnicas de produção.
■■ Produto sem substitutos próximos: com patentes sobre os produtos ou
processos de produção.
■■ Barreiras à entrada: alguns monopolistas contam com licença governa-
mental para atuar ou imposição de barreiras comerciais.
■■ Maximização de lucros: o monopólio maximiza o lucro quando a receita
marginal é igual ao custo marginal.
Existe, ainda, o caso do monopólio natural, que ocorre quando o mercado não
tem condições de ter mais que uma empresa com operação eficiente.

Um monopólio natural consiste em uma situação em que os investimentos são


muito altos e os custos variáveis são muito pequenos, geralmente próximos de
zero. Neste mercado, os bens são exclusivos e contam com pouca ou nenhuma
rivalidade. Esta característica torna necessária a presença de regulação ou a ope-
ração por parte do governo de maneira a tornar o monopólio natural eficiente.
Fonte: adaptado de Varian (2003).

Modelo de Monopólio
54 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O EQUILÍBRIO DE MONOPÓLIO

Esse modelo supõe que apenas uma empresa domine o mercado, de forma que a
demanda de mercado é igual à demanda da empresa. O monopólio, por ser a única
opção do comprador, tem o poder de determinar o preço de mercado. Esse poder
permite que o monopolista obtenha lucros extraordinários, um markup (percentual
do preço do produto acima dos custos de produção e distribuição) sobre os custos.
A fórmula de fixação de preços de mercado do monopolista depende do
custo marginal (CMg) e da elasticidade-preço da demanda (εd):
p  CMg / 1  1 /  d 
Sabendo que a receita marginal (RMg) é igual a:
RMg  p  y  p / y 

Multiplicamos o segundo termo por (p/p) e colocamos p em evidência:

RMg  p 1  1 /  d   p 1  1 / l d l 

O equilíbrio é dado por:


RMg = CMg
p 1  1 / l d l   CMg

p  CMg / 1  1 / l d l 

MODELOS DE CONCORRÊNCIA
55

Segundo essa condição de maximização de lucros, o monopolista vai ope-


rar somente quando for possível estabelecer p > CMg.
Maximizando os lucros quando RMg = CMg, o monopolista pode escolher usar
a sua capacidade ou expandir. Porém, operar em condições de utilização ótima ou
subótima depende inteiramente da demanda e do mercado, pois, devido à entrada
de outras empresas bloqueadas, o monopolista não sofre pressões quanto a isso.
A operação em grau de utilização ótimo indica o ponto em que o custo
médio é mínimo. Operar em grau subótimo indica operar em excesso de capa-
cidade. Um mercado pequeno não permite a expansão da produção até o ponto
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de custo médio mínimo. Quando o mercado for grande, o monopolista vai con-
siderar aumentar a sua planta, de maneira que seja possível atender a uma parte
maior desse mercado, a depender do tamanho deste. Se operar com a mesma
planta, acima da capacidade, o monopolista irá incorrer em custos mais altos.
De forma resumida, não existe concorrência que obrigue o monopolista a
operar no ponto ótimo, e se ele o fizer, nada garante que ele abra mão do lucro
extraordinário. Por este motivo que o lucro do monopolista vai ser sempre maior
que o das empresas na concorrência perfeita.

A INEFICIÊNCIA DO MONOPÓLIO

Em comparação com a concorrência perfeita, o preço do monopólio vai ser


maior, e a quantidade produzida, menor, dessa forma, afetando o bem-estar do
consumidor, deixando-o em condições inferiores.
A condição de equilíbrio do monopólio supõe que os consumidores esta-
riam dispostos a pagar por uma unidade do bem mais do que custa produzi-lo.
Portanto, existe um potencial de melhoria entre o preço de monopólio e o preço
da concorrência perfeita. Esse potencial, essa diferença, corresponde à ineficiência
do monopólio, pois a produção é considerada ineficiente quando o consumidor
paga por uma unidade adicional exatamente o que custou produzi-la.
O monopólio vende unidades adicionais por preços menores, desde que
isso não diminua o preço de todas as unidades, e ele faz isso por meio da dis-
criminação de preços.

Modelo de Monopólio
56 UNIDADE II

Discriminação de preços

A discriminação de preços é praticada de maneira a extrair o máximo do exce-


dente do consumidor e a aumentar a receita total do monopolista.
A discriminação de preços - quando os preços praticados pelo monopolista
são diferentes para diferentes grupos de consumidores - pode ser praticada de
três maneiras, a depender da renda, preferência e localização dos consumidores:
1º grau: cada unidade é vendida a preços diferentes - é chamada discrimina-
ção perfeita de preços - pois cada unidade é vendida pelo preço máximo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que um consumidor está disposto a pagar.
2º grau: o monopolista vende a preços diferentes de acordo com as quantidades
compradas pelos consumidores, ou seja, o preço depende da quantidade.
3º grau: o monopolista vende o produto a preços diferentes de acordo com
o grupo de compradores, e todos os integrantes que se encaixam neste
grupo pagam o mesmo preço.
Esta última é a forma mais comum, que podemos ver sendo aplicadas a idosos
ou estudantes, por exemplo. O monopolista estabelece preços mais altos nos
mercados com menor elasticidade e preços mais baixos nos mercados menos
sensíveis a preços. Dessa forma, o lucro geral é maximizado.

MODELO DE COMPETIÇÃO MONOPOLÍSTICA

A insatisfação com os modelos de monopólio e da concorrência perfeita fez com


que fossem geradas algumas críticas que levaram a um novo modelo de mercado.
Esse modelo foi gerado principalmente pelas críticas ao modelo de competição
perfeita, e as ineficiências formuladas por Piero Sraffa, em 1926, indicam que:
■■ O modelo não explicava vários fatos da realidade.
■■ A hipótese do produto homogêneo não se encaixava, pois as empresas se
utilizavam de diversas outras formas de fidelizar os consumidores, como
marketing e técnicas de vendas.

MODELOS DE CONCORRÊNCIA
57
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■■ As empresas expandiam sua produção por meio dos retornos crescentes


de escala, ao contrário do que indicava o modelo de competição perfeita.

A nova estrutura de mercado deveria combinar características do monopólio e


da competição perfeita. Sendo assim, desenvolvida por Chamberlim (1933), a
competição monopolística consiste na existência de livre entrada de empresas,
e a demanda deste mercado possui uma curva negativamente inclinada, e não
mais horizontal como na competição perfeita.
É possível as empresas obterem lucros econômicos positivos no longo prazo,
o que faz com que novas empresas tenham anseio de entrar no mercado, e elas
o farão devido ao fato de não haver restrições a isto. Nesta situação, as empresas
estarão em equilíbrio de longo prazo. Se elas se deparam com curvas de demanda
negativamente inclinadas, elas têm poder de mercado.
A principal característica dessa estrutura é a diferenciação de produtos, que
se dá de duas maneiras: porque os consumidores pensam que os produtos são
diferenciados, ou porque os consumidores preferem produtos diferenciados e
estão dispostos a pagar um valor maior por estes. No primeiro, os consumidores
são influenciados pelas propagandas e técnicas de vendas, enquanto no segundo,
qualidade e aspectos técnicos são a diferença.
As empresas da competição monopolística maximizam seus lucros na quan-
tidade onde a RMg = CMg, e a sua receita marginal depende do total produzido

Modelo de Competição Monopolística


58 UNIDADE II

no mercado e também da quantidade produzida pelos seus competidores. Quanto


maior o impacto da diferenciação dos produtos, maior a inclinação da curva de
demanda, porque os produtos que podem ser considerados substitutos estão mais
distantes. Quanto maior a inclinação, maior a diferenciação e maior o poder da
empresa de elevar o seu preço acima do custo marginal.
Quanto maior a facilidade de entrada de empresas nesse mercado, mais vanta-
gens o consumidor tem, pois os preços baixam e a variedade de produtos aumenta.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DIFERENCIAÇÃO DE PRODUTOS

No mundo em que vivemos, os produtos dificilmente são idênticos e apresen-


tam preços iguais, o que deixa os consumidores vulneráveis a pagarem preços
maiores, buscando atender às suas preferências ou à sua localização geográfica.
Os produtos podem ser diferenciados de acordo com várias características:
especificações técnicas, adaptação, design e estética, desempenho e qualidade,
imagem e marca, custo de utilização, formas de comercialização, assistência téc-
nica e suporte e financiamento aos usuários.
Basta que os consumidores percebam os produtos como diferentes. Eles podem
até mesmo ter características idênticas, porém percebidos como distintos pela marca.
Esses produtos diferenciados são considerados substitutos imperfeitos, o que
faz com que as empresas sejam capazes de estabelecer também preços diferen-
ciados, pois se defrontam com um demanda residual inclinada, a qual dá espaço
para fixação de preços.
O modelo de competição monopolística foi um marco para a Economia
Industrial, na qual passaram a ser analisados os aspectos de diferenciação dos
produtos e, após este, diversas outras abordagens analisam o efeito da diferen-
ciação na dinâmica da estrutura da indústria.
Existem setores que têm maior capacidade de desenvolver produtos diferencia-
dos, como o setor tecnológico, por exemplo. É maior a capacidade de competição
por meio da diferenciação quando os produtos são avaliados em diversas dimensões.
Por exemplo, softwares podem ser analisados em diversas dimensões de diferen-
ciação e estão sujeitos a vários tipos de usuários que lhes atribuem ganhos de valor.

MODELOS DE CONCORRÊNCIA
59

Um produto pode ser diferenciado de dois tipos: horizontal e vertical.


Analisados verticalmente, quando um dos produtos apresenta atributos mais
desejáveis que o outro, ou seja, a preços iguais, os consumidores irão escolher
o melhor produto. Os mercados em que os produtos são diferenciados vertical-
mente têm diferenciais de preços elevados.
A diferenciação horizontal ocorre quando os produtos não podem ser con-
siderados melhores ou piores, pois não se pode ordenar as qualidades deles. O
que significa que, em condições de preços iguais, a escolha do consumidor vai
depender da sua preferência. A diferenciação de um produto é considerada hori-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

zontal quando a modificação de um atributo causa aumento da utilidade daquele


produto ou diminuição da utilidade de produtos semelhantes.
O modelo de Chamberlin foi o primeiro que incorporou a diferenciação
de produtos e foi bastante importante para a evolução da ciência econômica,
porém sofreu muitas críticas quanto ao seu desvio da realidade. O modelo con-
sidera que as empresas, apesar da diferenciação dos produtos, enfrentam custos
e demanda homogêneos, o que não se encaixa na realidade, pois se os produtos
são considerados diferentes, essas diferenças devem causar impactos sobre os
custos, pois é o que se observa.
Juntamente a isso, temos a crítica quanto à livre entrada, pois a diferencia-
ção de produtos, por si só, causa barreiras à entrada, visto que as empresas que
entram no mercado têm de fazer esforços extras para cativar a preferência dos
consumidores e reverter o consumo para o seu produto.

MODELOS LOCACIONAIS

Os modelos locacionais são uma classe de modelos utilizados para analisar o


processo de diferenciação na Economia Industrial. Esses modelos utilizam a
analogia entre as características de produtos e a localização das lojas para ava-
liar os incentivos das empresas para produzirem mercadorias muito ou pouco
diferenciadas. Dentro dos modelos locacionais, existem dois modelos: da cidade
linear e da cidade circular.

Modelo de Competição Monopolística


60 UNIDADE II

Modelo da cidade linear

Desenvolvido originalmente por Hotteling, em 1929, analisa os incentivos exis-


tentes para que duas empresas diferenciem seus produtos, sem considerar o efeito
da entrada de novas empresas.
Para essa análise, é considerada uma cidade com uma única rua, onde os
consumidores estão distribuídos e duas empresas que ofertam o mesmo produto
decidem onde vão se localizar.
Considerando que os preços das empresas são iguais, os consumidores vão

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
consumir os produtos das empresas que estiverem mais perto das suas residências,
sendo aqueles que ficam entre as duas empresas indiferentes entre uma e outra.
O gráfico a seguir representa a situação inicial, em que as empresas se
localizam nos pontos extremos e buscam se encaminhar ao centro da cidade,
aumentando a participação de mercado.

a b c d

Empresa 1 i Empresa 2
Figura 1 - Situação inicial modelo da cidade linear
Fonte: adaptado de Kupfer e Hasenclever (2002).

Depois de vários movimentos, as empresas estão no meio da cidade, onde se


encontram em equilíbrio. Aplicando o resultado para a questão da diferenciação
de produtos, temos que as empresas têm incentivos a não diferenciar seus pro-
dutos, resultado conhecido como princípio da diferenciação mínima.
Esse ponto é criticado por outros autores, que desenvolvem modelos con-
trários, como D’Aspremont, Gabszewincs e Thisse (1979). Em seu modelo, as
empresas também escolhem seus preços e não ficam em equilíbrio se escolhe-
rem se localizar na região central da cidade. Assume-se que os consumidores são
mais sensíveis à distância e, então, o equilíbrio se dá com as empresas se locali-
zando nos extremos da cidade, sendo válido o princípio da máxima diferenciação.

MODELOS DE CONCORRÊNCIA
61

Modelo da cidade circular

Desenvolvido por Salop, em 1979, este modelo analisa a localização das empre-
sas e também os efeitos da entrada de novas empresas na indústria, buscando
verificar se o número de variedades geradas pelas empresas é socialmente ótimo.
Esse modelo analisa a localização das empresas e a entrada de novas no mer-
cado, considerando um espaço circular, de forma que, inicialmente, não existem
vantagens de localização entre as empresas.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Empresa
Empresa Empresa
n 1/n 1 1/n 2

Figura 2 - Cidade circular


Fonte: adaptado de Kupfer e Hasenclever (2002).

O modelo considera que os consumidores adquirem apenas uma quantidade de


produto e que podem existir n empresas estabelecidas nesse círculo de períme-
tro, a uma distância de 1/n umas das outras. A simetria faz com que os preços
sejam iguais e a entrada livre faz com que o número de empresas seja determi-
nado pelo lucro nulo.
O número de empresas e o preço do ponto de equilíbrio devem ser com-
parados com o número de empresas que maximiza o bem-estar social, e vai
corresponder a metade do número que surge com livre atuação no mercado.

Modelo de Competição Monopolística


62 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
MODELOS DE OLIGOPÓLIO

A realidade dos mercados é que, com frequência, são compostos por um grande
número de vendedores, com alguma influência sobre o preço, situação que conhe-
cemos por oligopólio.
As variáveis de decisão dos produtores são as quantidades (q) e os preços
(p). As decisões de um produtor individual são tomadas considerando as infor-
mações que ele tem dos outros produtores e considerando as reações que os
outros produtores irão ter.
Existem diversas interações estratégicas que podem ocorrer entre essas ações
individuais dos produtores. As reações dos produtores rivais em relação à ação
de um produtor individual são chamadas variações conjecturais. Quando os pro-
dutores atuam em um mercado de produtos homogêneos, a variação conjectural
pode ser medida da seguinte forma:
dQ
v1 =
dqi

Enquanto para mercados em que os produtos são heterogêneos e os produtores


competem por unidades:
dq j
vij =
dqi

MODELOS DE CONCORRÊNCIA
63

E se eles competem por preços, a variação conjectural é medida da seguinte forma:


dp j
vij =
dpi

Os modelos de concorrência da indústria são definidos a partir do valor atribu-


ído pelos produtores à variação conjectural.
Para simplificar o entendimento, vamos considerar a existência de um duopólio
na economia, em que há apenas duas empresas fabricantes de produtos homogê-
neos, o que nos permite captar vários aspectos importantes da interação estratégica.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

No caso de duas empresas, serão importantes os preços cobrados e as quan-


tidades produzidas de cada uma delas. A empresa que estabelece o seu preço
primeiro é a líder de preço, e a outra é a seguidora de preço. Com a quantidade,
da mesma forma, a primeira a estabelecer é a líder de quantidade, enquanto a
segunda é a seguidora de quantidade. Essas interações formam um jogo sequencial.
Existe a possibilidade de nenhuma conhecer as escolhas da outra, o que faz
com que ocorra um jogo simultâneo de escolha de quantidades e preços.

MODELO DE STACKELBERG

O caso em que ocorre liderança de quantidade e uma empresa escolhe antes da


outra é conhecido como modelo de Stackelberg, em homenagem ao primeiro
economista a estudar esse tipo de interação líder-seguidor.
Frequentemente utilizado para descrever casos em que há uma empresa
dominante, esse modelo entende que as empresas menores esperam a decisão
da dominante para depois ajustarem seus produtos.
A empresa líder escolhe o seu nível de produção de acordo com a reação
que espera de sua seguidora, ou seja, considerando o problema de maximiza-
ção de lucro da seguidora.

Modelos de Oligopólio
64 UNIDADE II

REGIME DE COURNOT

Homenagem ao matemático francês Augustin Cournot, que foi o primeiro a


examinar as consequências do modelo em que a competição se dá pelas quan-
tidades, e onde cada produtor deve fazer uma previsão da escolha de produção
dos rivais e, com base nessa previsão, irá escolher a quantidade que produzirá.
O regime de Cournot é preferido em relação ao regime de concorrência
perfeita, pois proporciona às empresas maiores lucros. Com base na previsão, a
empresa vai escolher produzir uma quantidade que maximiza os seus lucros e

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
,para cada expectativa sobre a produção das empresas concorrentes (2), existirá
uma escolha ótima por parte da empresa 1:

y1  f1  y2e 

Esta equação nos diz que a escolha ótima da empresa 1 é uma função da expectativa
de produção esperada da empresa 2. Devemos procurar, então, um equilíbrio das
previsões, em que cada empresa verifica que as suas crenças sobre a outra são verda-
deiras. A esta combinação de níveis de produção chamamos de equilíbrio de Cournot.
As equações a seguir são utilizadas para encontrarmos o nível de produção
ótimo da empresa 1 e da empresa 2:

y1*  f1  y2* 

y2*  f1  y1* 

Portanto, o equilíbrio de Cournot é o par de produções em que as duas curvas de


reação se cruzam, e cada empresa não achará lucrativo mudar a sua produção, pois
estará produzindo em um nível que maximiza os lucros dada a produção da outra.

REGIME DE BERTRAND

Outro matemático francês, Joseph Bertrand, formulou o seu trabalho numa


resenha do trabalho de Cournot. Nesta abordagem, a competição se dá via pre-
ços e cada produtor não espera que as alterações de preços sejam previstas pelas

MODELOS DE CONCORRÊNCIA
65

concorrentes. As empresas fixam os preços e esperam que o mercado determine


a quantidade vendida, chamamos isso de concorrência de Bertrand.
Quando uma empresa fixa o preço, ela precisa prever o preço que será fixado
pela outra empresa. Nesse caso, também buscamos um equilíbrio, no qual tere-
mos o par de preços correspondente às escolhas que maximizam o lucro de cada
empresa dada a escolha feita pela concorrente.
Se as empresas atuam em um mercado com produtos homogêneos, o equi-
líbrio de Bertrand se dá onde o preço é igual ao custo marginal. Nessa situação,
a empresa com menor custo marginal irá monopolizar o mercado, ofertando o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

produto a qualquer preço (p) menor que o custo marginal da segunda empresa
mais eficiente do mercado: ct ≤ p < cj. O produtor i maximizará o seu lucro.
Em casos em que as empresas produzem produtos heterogêneos, a varia-
ção no preço do produto j, antecipada pelo produtor i, será igual a zero quando
este altera o seu preço. Portanto, o equilíbrio se dará em qualquer inclinação das
curvas de reação.
O regime de Cournot e o regime de Bertrand têm um aspecto em comum:
os lucros obtidos serão maiores quanto menores forem as elasticidades-preço
das demandas residuais pelos bens.

A demanda residual de um bem é a demanda de mercado que não é atendida


pelos demais concorrentes a um determinado preço.
Fonte: adaptado de Carlton e Perloff (1994).

Esses modelos podem deixar de fazer sentido quando as empresas se unem para
formar conluio ou cartel. Quando as empresas se unem para escolher a produção
que maximiza os lucros totais da indústria e dividem os lucros entre si, formam
um conluio. O cartel corresponde ao ato de se unirem para tentarem fixar pre-
ços e produção de forma a maximizar os lucros do setor.
Obrigada por me acompanhar em mais uma unidade. Bons estudos e até a
próxima!

Modelos de Oligopólio
66 UNIDADE II

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, aprendemos que o modelo de competição perfeita é composto por


algumas hipóteses básicas, que o definem. Esta estrutura de mercado é caracteri-
zada pela existência de um grande número de empresas, que não possuem poder
de mercado. O produto produzido neste mercado é homogêneo e não existem
barreiras à entrada e saída de empresas. Essas empresas objetivam a maximiza-
ção de lucros, buscando a remuneração do capital e o retorno do risco incorrido
no investimento. E, por último, há livre circulação de informação das condições

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de mercado e perfeita mobilidade de fatores entre as empresas.
Outra estrutura de mercado que passamos a conhecer é o monopólio, modelo
que possui quatro condições básicas: a existência de um único produtor; o fato
de o produto não ter substitutos próximos; a existência de barreiras à entrada por
parte da empresa que domina esse mercado; e, da mesma forma que as empre-
sas na competição perfeita, a empresa de monopólio busca a maximização de
lucros. Neste tópico, aprendemos, também, que o monopólio pode causar inefi-
ciências no mercado, levando o consumidor a ter um gasto maior.
A competição monopolística corresponde ao modelo desenvolvido por meio
das críticas aos dois modelos neoclássicos, vistos anteriormente. Esse modelo
prevê a livre circulação de empresas no mercado e uma demanda negativamente
inclinada, formato com influência da diferenciação dos produtos. Considera-se
que as empresas podem obter lucros econômicos positivos no longo prazo por
meio da diferenciação de produtos, que faz com que as empresas tenham algum
poder de mercado e possam elevar seu preço acima do custo marginal.
Finalmente, o modelo de oligopólio traz uma versão mais realista dos mer-
cados, onde existem muitos vendedores e estes possuem algum poder sobre os
preços. Devido aos produtos que compõem o mercado serem heterogêneos, a
forma de competição dos produtores é por meio de preços e quantidades, e tudo
depende de quem toma a decisão primeiro e das reações das concorrentes.

MODELOS DE CONCORRÊNCIA
67

1. A competição perfeita é um modelo básico de concorrência apresentado pela


teoria neoclássica que não prevê alinhamento entre as empresas que a consti-
tuem e também compreende algumas hipóteses básicas. Assinale a alternativa
que não corresponde a duas hipóteses do modelo do modelo de competição
perfeita:
a) Produto homogêneo e maximização de lucros.
b) Livre circulação da informação e livre entrada e saída.
c) Maximização de lucros e grande número de empresas.
d) Perfeita mobilidade de fatores e barreiras anteriores à entrada.
2. O modelo de mercado conhecido como monopólio tem suas hipóteses bási-
cas defendidas pelos economistas neoclássicos, que fazem suposições acerca
das empresas e do mercado. A respeito desta estrutura de mercado, avalie as
seguintes afirmações:
I. O monopólio maximiza os lucros produzindo a quantidade correspondente
ao ponto em que a receita marginal é igual ao custo marginal.
II. Nesse modelo, apenas uma empresa domina o mercado, de forma que a
demanda de mercado é a demanda da empresa.
III. Os lucros extraordinários obtidos por essas empresa fazem com que novas
empresas entrem no mercado.
IV. O fato de uma empresa monopolista ser formadora de preços faz com que
produtor e consumidor tenham suas condições de bem-estar melhoradas.
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas IV está correta.
d) Apenas I, II e III estão corretas.
3. A competição monopolística combina características do monopólio e da com-
68

petição perfeita. Assinale verdadeiro (V) ou falso (F) para as afirmativas sobre
essa estrutura de mercado:
(( ) A principal característica da competição monopolística é a diferenciação
de produtos.
(( ) As empresas em competição monopolística maximizam seus lucros no
ponto onde a receita marginal é igual ao custo marginal.
(( ) Nessa estrutura de mercado, as empresas não possuem lucros no longo
prazo, de forma que o mercado permanece em equilíbrio no longo prazo.
Assinale a alternativa que corresponde à ordem correta das sentenças:
a) V, F, F.
b) F, F, V.
c) V, V, F.
d) F, V, F.
e) Nenhum das alternativas anteriores está correta.
4. O oligopólio é a estrutura de mercado composta por empresas que possuem
uma certa influência sobre os preços. Existem duas variáveis de decisão dos
produtores que fazem parte de um oligopólio. Quais são elas e o que é consi-
derado para que essas escolhas sejam feitas?
5. O modelo de competição monopolística foi criado a partir da insatisfação com
os modelos de monopólio e concorrência perfeita. Quais foram as críticas que
levaram à criação desse novo modelo?
69

Vimos que a presença de regulação por parte do governo pode exercer vários papéis.
Um deles é desenvolver mecanismos que incentivem a eficiência das empresas presta-
doras de serviço para que os recursos possam ser canalizados para a expansão da in-
fraestrutura. Vamos ver algumas formas de regulação dos serviços públicos oferecidos
pelas empresas monopolistas.
Formas de regulação
As empresas monopolistas de serviços públicos apresentam dois tipos de regulação: estru-
tural e de condutas. A regulação estrutural aborda as condições de entrada e de saída das
firmas nos setores regulados e as medidas para separação vertical de segmentos da presta-
ção dos serviços (PINHEIRO; SADDI, 2005). Na separação vertical, o processo de produção de
bens e serviços é segmentado em várias etapas, o que permite a atuação de várias empresas
nas diferentes fases da cadeia produtiva (JOURAVLEV, 2001a). Já a de condutas regula o com-
portamento das empresas dentro do mercado e engloba preços, qualidade e investimentos
(JOURAVLEV, 2001b). Como cada setor da infraestrutura apresenta estágios diferentes de
desenvolvimento tecnológico e características específicas quanto ao nível de competição
em alguns segmentos da prestação dos serviços, os papéis da regulação estrutural e de con-
dutas assumem configurações variadas para cada setor. Por exemplo, na energia, a cadeia
produtiva é dividida em geração, transmissão e distribuição. Essa condição de desverticaliza-
ção permite que na geração várias empresas, inclusive com diferentes matrizes energéticas,
concorram para ofertar energia aos distribuidores. Assim, nessa área, assume um papel rele-
vante a regulação estrutural que define as condições de participação das firmas no mercado
de produção de energia. No entanto, o segmento final desse setor, a distribuição, é mono-
pólio natural, onde a regulação de condutas é necessária para simular competição e corrigir
falhas de mercado. Ao mesmo tempo, no saneamento básico, as características do setor não
permitem competição, seja pela inviabilidade econômica da desverticalização da prestação
dos serviços, seja pela falta de mudanças no padrão tecnológico. Há também outros fatores
que dificultam a desagregação do saneamento básico, como a geração de economias de
escopo em função da verticalização do setor e a dificuldade de tarifação das diversas etapas
da produção (JOURAVLEV, 2004).
Já para o setor de telecomunicações, a tecnologia viabiliza a competição das empresas
para operação dos serviços. Nesse caso, a concorrência originou-se da dinâmica da evo-
lução tecnológica e impõe participação efetiva da regulação estrutural nas condições de
acesso das empresas ao mercado. De acordo com Jouravlev (2003), a diferença entre o
saneamento básico e os setores de telecomunicações e energia, é que a regulação deve
se estender a todos os segmentos da prestação dos serviços, em virtude da dificuldade
de competição nesses segmentos. Quanto à regulação de condutas, a fixação de preços
é a mais relevante, pois interfere diretamente nas condições econômico-financeiras dos
serviços regulados. Independentemente do método adotado para regulação de preços,
as atividades necessárias para determinação de custos e valoração de ativos são com-
plexas e exigem elevada expertise dos reguladores. No Brasil, o principal mecanismo
de precificação utilizado é o da taxa de retorno, adotado desde a edição do Decreto nº
70

24.643, de 10 de julho de 1934, que instituiu o Código das Águas (BRASIL, 1934). Com
efeito, a principal crítica a esse método diz respeito à possibilidade de sobreinvestimen-
to, o que geraria desincentivos para a busca de eficiência pelos prestadores de serviços.
Já a regulação da qualidade tem como objetivo fixar condições e parâmetros para a
qualidade dos produtos e serviços prestados e, também, verificar o cumprimento dessas
disposições. Especificamente em relação aos setores da infraestrutura, a regulação da
qualidade dos serviços públicos exige mecanismos diretos e indiretos para acompanha-
mento dos parâmetros e indicadores regulados, que demandam recursos humanos e
custos elevados.
De acordo com Jouravlev (2001b), as regulações de preço e de qualidade são interde-
pendentes, pois uma redução da qualidade equivale a um aumento de preços. Entre-
tanto, essa abordagem não tem sido compreendida pelos reguladores, provavelmente
em decorrência da complexidade da análise da regulação da qualidade com métodos
de regulação de preços.
Fonte: Júnior (2009).
MATERIAL COMPLEMENTAR

CÓDIGO DE HONRA (2011)


Sinopse: Mike (Chris Evans) e Paul (Mark Kassen) são advogados e
sócios. O primeiro tem uma vida marcada pelo vício em drogas, já
o segundo leva uma vida familiar estável. Os dois aceitam o caso de
Vicky Rogers (Vinessa Shaw), uma enfermeira infectada pelo vírus HIV
através de uma agulha contaminada. Com a ajuda de um engenheiro,
esta mulher desenvolveu um novo tipo de agulha, que se retrai em caso
de introdução forçada, mas ninguém comprou a patente da invenção.
Mike e Chris decidem levar o caso aos tribunais, enfrentando uma das
companhias médicas mais poderosas, defendida por um advogado
renomado.

Material Complementar
72
REFERÊNCIAS

CARLTON, D. W.; PERLOFF, J. M. Modern Industrial Organization. New York: Fores-


man Little Brown, 1994.
CHAMBERLIN, E. H. The Theory of Monopolist Competition. Cambridge: Harvard
University Press, 1933.
D’ASPREMOND, C.; GABSSEWICZ, J.; THISSE, J. On Hotelling’s Stability in Competi-
tion. Econometrica, n.17, p. 10445-1151, 1979.
HOTELLING, H. Stability in Competition. Economic Journal, n. 39, p. 41-57, 1929.
JUNIOR, G.; CASTRO, A.; SILVA PAGANINI, W. Aspectos conceituais da regulação dos
serviços de água e esgoto no Brasil. Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 14, n. 1,
p. 79-88, 2009.
KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia Industrial: fundamentos teóricos e práti-
cas no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002.
SALOP, S. Monopolistic Competition with Outside Goods. Bell Journal of Economi-
cs, n. 10, p. 141-156, 1979.
SRAFFA, P. The Laws of Returns under Competitive Conditions. Economic Journal,
v. 36, n. 2, p. 535-550, 1926.
VARIAN, H. R. Microeconomia: Princípios Básicos. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
WAQUIL. P. D.; ALVIM, A. M. Acordos Comerciais e o Setor Produtivo de Carne Bovina:
estimativas de ganhos para o Mercosul. Revista de Economia e Agronegócio, v. 4,
n. 2, 2015.
73
GABARITO

1. d.
2. a.
3. c.
4. As variáveis de decisão dos produtores são as quantidades (q) e os preços (p). As
decisões de um produtor individual são tomadas considerando as informações
que ele tem dos outros produtores e considerando as reações que os outros pro-
dutores irão ter.
5. As críticas que deram origem ao modelo de competição monopolística são: o
modelo de competição perfeita não explicava vários fatos da realidade; a hipóte-
se do produto homogêneo não se encaixava, pois as empresas se utilizavam de
diversas outras formas de fidelizar os consumidores, como marketing e técnicas
de vendas; e as empresas expandiam sua produção por meio dos retornos cres-
centes de escala, ao contrário do que indicava o modelo de competição perfeita.
Professora Me. Marieli Vieira

O PARADIGMA ESTRUTURA-

III
UNIDADE
CONDUTA-DESEMPENHO

Objetivos de Aprendizagem
■■ Introduzir as principais medidas de concentração e os méritos
relativos.
■■ Apresentar as principais definições sobre inovação industrial e os
elementos deste processo.
■■ Entender o modelo estrutura-conduta e desempenho.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Medidas de concentração
■■ Estrutura industrial e inovação
■■ Estrutura, conduta e desempenho
77

INTRODUÇÃO

Nesta unidade, iremos aprender sobre as medidas de concentração, que apre-


sentam noções do comportamento dominante dos agentes em determinados
mercados, considerando as participações desses agentes no mercado. As medi-
das de concentração auxiliam no conhecimento dos setores que têm poder de
mercado significativo.
As medidas de concentração são classificadas em parciais ou sumárias, ou
como positivas ou normativas. Nesta unidade, nosso objeto de estudo serão as
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

medidas de concentração parciais, onde estudaremos o índice de entropia de


Theil e o índice de Hirschman-Herfindahl, também chamadas de razões de con-
centração. Vamos ver, ainda, que os índices de concentração precisam atender a
alguns requisitos básicos para que sejam considerados bons.
No tópico seguinte, a respeito da estrutura industrial e inovação, veremos
que as empresas e instituições podem contribuir para o desenvolvimento eco-
nômico por meio da introdução de mudanças, sejam elas em métodos, insumos,
bens ou serviços. Conheceremos, ainda, cada um dos três estágios do ciclo de
inovação: invenção, inovação, imitação.
Procura-se saber se as estruturas de mercado em que as empresas estão inse-
ridas têm alguma influência na possibilidade de investimento em pesquisa e
desenvolvimento e, dessa forma, aumentar as chances de introdução de inovações.
Finalizando a unidade, estudaremos os princípios do modelo de Estrutura-
Conduta-Desempenho, que surgiu em resposta às discordâncias da economia
neoclássica, esse modelo busca explicar o funcionamento do mercado a partir da
maximização de lucro e o equilíbrio. No desenvolvimento desse modelo, vere-
mos que cada um dos componentes - estrutura, conduta e desempenho - têm
uma influência no funcionamento do mercado. O modelo é utilizado na análise
de setores considerados importantes economicamente.

Introdução
78 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
MEDIDAS DE CONCENTRAÇÃO

Olá! Neste tópico, iremos introduzir as principais medidas de concentração que


costumam ser utilizadas e discutiremos as suas propriedades.
As medidas de concentração são utilizadas para se ter uma ideia da concor-
rência de um determinado mercado. Maior a concentração quanto menor o grau
de concorrência entre as empresas, e menor a concentração quanto mais empresas
disputam o poder de mercado da indústria (KUPFER; HASENCLEVER, 2002).
O poder de mercado de uma empresa se relaciona com o controle dos preços de
venda do produto. Quanto mais eficiente na produção as empresas são, maior a capa-
cidade de competição e elas conseguem dominar uma parcela maior de mercado.
Empresas com poder de mercado são capazes de fixar o preço de mercado acima das
concorrentes e mantê-lo assim sem ter a sua participação de mercado prejudicada.
O poder de mercado é medido pela participação de mercado, que se traduz
na razão entre a sua oferta e a oferta total de produtos da indústria. São usadas
como medida, também, a capacidade instalada, o PL e o número de emprega-
dos, embora isso não reflita necessariamente o poder de mercado.
O padrão concorrencial é resultado de vários fatores, como as preferências
dos consumidores, a escolha dos níveis de preços ou quantidades ofertadas, e a
existência ou não de barreiras à entrada no mercado. O padrão concorrencial
contribui de acordo com a maior ou a menor eficiência produtiva e gerencial,
conforme os resultados obtidos, para a obtenção de poder de mercado.

O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO
79

Maior poder de mercado faz com que, devido a maior concentração da pro-
dução, sejam causadas desigualdades na repartição de mercado. Porém maiores
desigualdades na participação do mercado podem também causar a existência
de concentração industrial.
As medidas de concentração podem ser classificadas como parciais ou sumá-
rias, ou como positivas ou normativas. As medidas de concentração parciais não
utilizam dados da totalidade das empresas que atuam na indústria, enquanto as
sumárias requerem dados de todas as empresas em operação. As medidas de
contração positivas dependem da estrutura aparente do mercado e não do com-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

portamento dos produtores ou consumidores, enquanto as normativas, além da


estrutura aparente, levam em conta esses comportamentos, relacionados às pre-
ferências dos consumidores e produtores.
As razões de concentração são o principal exemplo das medidas de con-
centração parciais, nessa modalidade, veremos um pouco do índice de
Hirschman-Herfindahl e da entropia.
As razões de concentração de ordem k fornecem a parcela de mercado das k,
maiores empresas da indústria. No índice, dado pela fórmula seguinte, utiliza-se
comumente k = 4 e k = 8, e quanto maior o índice, maior o poder de mercado
exercido pelas k maiores empresas.
k
CR  k    si
i 1

As razões de concentração ignoram as empresas que se classificam abaixo das pri-


meiras posições, desde que fusões e aquisições entre elas não alterem a sua posição.
Desconsideram, também, as participações dessas empresas menores nas empre-
sas maiores, pois não afetam a concentração medida pelo índice. Estas duas falhas
fazem com que a razão de concentração tenha dificuldade para ser utilizada como
medida do poder de mercado ou mesmo para acompanhar a evolução da estru-
tura industrial e, por isso, considera-se as medidas sumárias como mais atraentes.
Índice de Hirschman-Herfindahl - HH
Esse índice positivo é definido por:
n
HH   si2
i 1

Medidas de Concentração
80 UNIDADE III

Essa fórmula, elevando cada parcela de mercado ao quadrado, atribui um


peso maior às empresas maiores, o que nos traz a interpretação de que quanto
maior o índice HH, mais elevada a concentração de mercado e menor a concor-
rência entre os produtores.
O índice HH varia entre 1/n e 1. O limite inferior decresce à medida que
aumenta o número de empresas, enquanto o limite superior está associado ao
caso da existência de monopólio, quando uma única empresa atua no mercado.
Portanto, o índice não vai necessariamente reduzir com o aumento de empresas.
Uma empresa adicional no mercado pode fazer com que a concentração medida

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pelo índice reduza ou aumente.
Índice de entropia de Theil - ET proposto por Theil (1967), o pode ser inter-
pretado, para a economia industrial, como uma medida inversa da concentração.
A fórmula original foi desenvolvida para o contexto da teoria da informa-
ção, e posteriormente, foi adaptada por Braga e Mascolo (1982), substituindo o
que era probabilidade de ocorrência pela parcela de mercado da firma:
n
ET   si ln  si 
i 1

O índice ET vai indicar o conteúdo informacional esperado da ocorrência, cal-


culado sobre todas as empresas da indústria. Portanto, esta informação será a
média das empresas.
Uma mensagem confirmando a ocorrência de um evento vem associada
ao grau de surpresa que esse evento vai ocasionar. O grau de surpresa é maior
quanto menor a probabilidade de ocorrência, válido para o contrário.
Quanto maior a empresa, menor o grau de surpresa associado à mensagem
e menor o índice de entropia, assim, maior o grau de concentração na indústria.
O limite inferior desse índice corresponde a zero, que indica concentração
máxima, que ocorre em caso de existência de monopólio. Para encontrarmos o
limite superior, sabemos que ET assume o valor mínimo quando todas as empre-
sas são iguais (s1 = 1/n), neste caso, teremos:

0  ET  ln  n 

O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO
81

Propriedades básicas dos índices de concentração


Considerando o índice de concentração genérico como uma função posi-
tiva das distribuições de mercado, Encaoua e Jacquemin (1980) desenvolveram
propriedades básicas a serem consideradas para que os índices de concentração
sejam considerados bons:
■■ Princípio da transferência: se uma empresa maior ocupar a parcela de
mercado de uma empresa menor, o índice de concentração irá diminuir.
■■ Minimalidade em simetria: o índice deve apresentar valor mínimo quando
todas as empresas têm parcelas iguais de mercado.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■■ Critério de Lorenz: se duas indústrias possuírem o mesmo número de


empresas e as mesmas parcelas de mercado, em que a primeira distribuição
domine a segunda, a concentração da primeira será maior que na segunda.
■■ Não decrescimento em fusões horizontais: fusões horizontais nunca são
benéficas para a concorrência, ou seja, a concentração continua a mesma.
■■ Não crescimento em simetria: quando as empresas de uma indústria têm
o mesmo tamanho e existe a possibilidade de uma nova empresa entrar,
o índice de concentração não aumenta.
Os índices HH e ET atendem os cinco requisitos, enquanto as razões de concen-
tração não atendem a primeira e a quarta propriedades.

O trabalho de Schimidt e Lima (2002) apresenta diferentes medidas de con-


centração que são utilizadas por órgãos antitruste de vários países, inclusive
o índice de Hirschman-Herfindahl. Para saber mais, acesso: <https://www.
researchgate.net/profile/Marcos_Lima2/publication/228459414_Indices_
de_concentracao/links/00b4953ccfc1fd3434000000.pdf>.
Fonte: a autora.

Medidas de Concentração
82 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ESTRUTURA INDUSTRIAL E INOVAÇÃO

Iniciada por Joseph Schumpeter após a Segunda Guerra Mundial, a Economia


da Inovação veio com objetivo de estudar as inovações tecnológicas e organiza-
cionais que são feitas pelas empresas para fazerem frente à concorrência.
Para Schumpeter (1988), o desenvolvimento econômico vem das mudanças
que são iniciadas espontaneamente na vida econômica. A inovação tecnológica
tira o sistema econômico do equilíbrio e representa um papel muito importante
no desenvolvimento regional e no desenvolvimento de um país.
Uma empresa realiza uma inovação quando utiliza métodos ou insumos novos
para ela ou quando produz bens ou serviços com mudanças, neste momento, ela
realiza mudanças tecnológicas.
Além das empresas e das atividades de P&D, as instituições também contri-
buem para a inovação nacional, entre elas estão as universidades, os institutos
públicos de pesquisa, as agências públicas e privadas e o sistema educacional.
A Pesquisa e Desenvolvimento refere-se à pesquisa básica, à aplicada e ao
desenvolvimento experimental. A pesquisa básica é o trabalho teórico e experi-
mental utilizado para compreender questões da natureza, enquanto a pesquisa
aplicada envolve a busca pelo conhecimento que gere finalidades práticas, e o
desenvolvimento experimental é a comprovação da viabilidade e do aperfeiço-
amento de novos produtos, processos, sistemas ou serviços.

O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO
83

O ciclo da inovação ocorre em três estágios:


■■ Invenção: criação de coisas que não existiam anteriormente por meio de
novos conhecimentos ou aplicação de conhecimentos já existentes com
novas formulações. As invenções geram direitos de propriedade, porém
nem todas as invenções vão se transformar em inovações.
■■ Inovação: introdução de invenções ou melhorias de processos já existen-
tes de produtos e/ou serviços que busquem atender às novas necessidades
do usuários.
■■ Imitação: introdução de variações que causam a difusão das inovações,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

porém, sem acrescentar melhorias ou com melhorias incrementais.

O modelo de incitação, desenvolvido por Kenneth Arrow, em 1962, é um modelo


de análise econômica da inovação que é utilizado para a concorrência pura e
para o monopólio.
O objetivo principal é descobrir se existem vantagens dessas duas estrutu-
ras quanto à motivação ao investimento em Pesquisa e Desenvolvimento, pois,
para que uma empresa faça esse investimento, é necessário que os retornos que
serão obtidos sejam suficientes para financiar esse processo.
O monopólio tem vantagem, pois, devido ao poder de mercado, já garante
lucros extraordinários, logo o incentivo a inovação vem do fato de ele conse-
guir, com isso, reduzir os custos envolvidos no processo de produção. Enquanto
a empresa que atua em modo concorrencial e sem poder de mercado é motivada
a aumentar a sua margem de lucros, mesmo que a entrada de empresas imitan-
tes seja capaz de reduzir novamente essa margem pouco tempo depois.
Independentemente da realização de uma inovação drástica ou não drástica,
radical ou incremental, o monopólio tem menor motivação ao investimento em
Pesquisa e Desenvolvimento do que as empresas em concorrência perfeita, pois
o seu retorno é menor em ambos os casos.
Uma versão posterior do modelo de Arrow foi desenvolvida por Dasgupta
e Stiglitz (1980), na qual foi feita uma adaptação para utilização em várias
formas de concorrência. Esse modelo busca avaliar como a taxa de inovação
interage com a estrutura de mercado e o impacto de outras variáveis centrais
desta interação.

Estrutura Industrial e Inovação


84 UNIDADE III

O artigo de Dasgupta e Stiglitz (1980) pode ser acessado integralmente no


endereço eletrônico: <https://www.jstor.org/stable/3003398>.
Fonte: a autora.

Outro modelo de análise da inovação é o modelo de seleção iniciada por Penrose


a Alchian nos anos 50, retomada por Winter nos anos 60 e, finalmente, conso-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
lidada nos anos 80 por Richard Nelson.
Considerando que o mercado está em constante evolução, as empresas ten-
dem a buscar alternativas de atuação no lugar daquelas já existentes, procurando
se desenvolver, pois aquelas que param no tempo entram em processo de falência.
Visando a este desenvolvimento, as empresas que inovam sem ser imitadas
rapidamente e aquelas que imitam rapidamente possuem destaque na indústria.
Considerando isso, o modelo leva em consideração as políticas voltadas para a
inovação e as políticas voltadas para a imitação.
As empresas desenvolvem essas políticas sempre em busca da maximização
de lucros. Um investimento a ser realizado em P&D é incerto, pois não se sabe
se vai ser bem-sucedido ou não, somente o decorrer dos acontecimentos é que
revelarão se a atitude adotada foi bem-sucedida.
Quando não houver inovações, a estrutura de mercado é estabelecida pela
maneira como as empresas se comportam frente à pesquisa de informações tec-
nológicas e às modalidades de difusão dos conhecimentos. Outra suposição do
modelo é que a estrutura mais competitiva possui um desempenho médio infe-
rior, enquanto a menos competitiva possui uma produtividade mais elevada.

ESTRUTURA INDUSTRIAL E MUDANÇA TECNOLÓGICA

A questão que se fez ao longo do tempo, dentro da economia industrial, é se


existe a possibilidade de algumas estruturas industriais serem mais propensas e
mais eficazes no investimento em Pesquisa e Desenvolvimento?

O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO
85

Partindo da ideia de Schumpeter (1984), de que a maior frequência de ino-


vação está ligada às empresas maiores, alguns estudos empíricos estabeleceram
duas proposições independentes: de que a inovação cresce conforme aumenta
o tamanho das empresas e de que a inovação cresce quanto mais concentrado
o mercado.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Você considera que é possível, nesses casos, a utilização do termo “concen-


tração do bem”?

Vários argumentos foram formulados, tanto para afirmar estas hipóteses como
para contrariá-las. Buscando justificar o tamanho da empresa quando se fala em
grau de concentração, utiliza-se os recursos próprios das empresas, a existência
de economias de escala na tecnologia e as imperfeições no mercado de capitais
que levam o financiamento de forma mais fácil até as empresas. Por outro lado,
sugere-se as economias de escala, a perda do incentivo ao empreendedorismo
ou o aumento da burocratização das atividades.
Os investimentos realizados em Pesquisa e Desenvolvimento transformam
recursos em conhecimentos, que afetarão diretamente os produtos e processos
das empresas. Existem diferentes tipos de indicadores que possibilitam medir os
esforços das empresas e a eficácia da aplicação desses recursos.
As empresas inovadoras podem analisar seus processos de Pesquisa e
Desenvolvimento de maneira incremental e fundamental. A primeira mede a
agilidade em explorar o conhecimento existente, a segunda mede a capacidade
de criar conhecimento - aquele conhecimento que é novo para a empresa e para
o mundo.
Na Tabela a seguir podemos ver alguns dos indicadores utilizados em casos
de empresas que investem na Pesquisa e Desenvolvimento de novos produtos:

Estrutura Industrial e Inovação


86 UNIDADE III

Tabela 1 - Indicadores financeiros de novos produtos

INDICADORES FINANCEIROS
Aumento do Market Share devido aos novos produtos.
Percentual da receita gerada por novos produtos.
Crescimento da receita proveniente de novos produtos.
Custo das devoluções provenientes de novos produtos.
Gastos com o desenvolvimento de novos produtos.
Percentual dos investimentos destinados aos novos produtos.
INDICADORES NÃO-FINANCEIROS

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nível de satisfação dos clientes pelos novos produtos.
Vantagem competitiva devido aos novos produtos.
Número de reclamações devido à qualidade do produto.
Tempo de desenvolvimento de novos produtos.
Número de novos produtos lançados no ano.
Número de novos clientes com pedidos de novos produtos.
Pontualidade na entrega de novos produtos.
Novos produtos sustentáveis.
Fonte: adaptado de Nantes (2015).

Esses indicadores apresentam também algumas limitações, pois o Manual Frascati


registra somente os esforços que são contínuos:
■■ São incluídas somente as despesas em P&D, o que pode estar subesti-
mando essas despesas, pois os custos com processos de aprendizagem
também deveriam ser considerados.
■■ A mudança tecnológica também pode ser proveniente de atividades de
pesquisa de outras fontes.
■■ O número de patentes é a melhor maneira de medir a propensão a ino-
var do que a propensão a investir; existem outras formas de transformar
tecnologias em ativos rentáveis; e nem todas as patentes se transformam
em novos produtos ou processos.

O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO
87
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ESTRUTURA, CONDUTA E DESEMPENHO

O modelo de Estrutura-Conduta-Desempenho (E-C-D) analisa como a orga-


nização de mercado afeta as estratégias das empresas e o seu desempenho e é
referência quando se trata de análise da concorrência.
Os desdobramentos do paradigma E-C-D advêm da insatisfação com a teo-
ria neoclássica. Essa teoria neoschumpeteriana busca explicar o comportamento
das empresas e o funcionamento do mercado a partir da maximização de lucro
e o equilíbrio.
Tendo como precursor E. Mason, J. Bain formalizou o modelo em seu livro
Industrial Organization, onde estudou cada um dos elementos presentes no
paradigma.

Estrutura, Conduta e Desempenho


88 UNIDADE III

Segundo Bain (1968), a estrutura trata das características de organização


das empresas que influenciam a competição e os preços. Uma das variáveis mais
importantes é o número de empresas e seu tamanho relativo, variável essa que
pode ser conhecida por meio do grau de concentração de mercado, um dos ele-
mentos na concorrência nas indústrias. Pode envolver, também, a diferenciação
de produtos, integração vertical e diversificação da produção.
Além da estrutura de mercado, são consideradas importantes as barreiras à
entrada, afetadas pela concorrência e pela concentração.
As condutas, que ficam entre a estrutura e o desempenho, são fundamen-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tais para a competitividade e pressionam as políticas públicas junto ao governo.
Referem-se ao comportamento adotado pelas empresas para se adaptarem aos
mercados e melhorarem o desempenho. Porém com a evolução do paradigma,
aceitou-se que as condutas também afetam a estrutura - no modelo tradicional,
o sentido da causalidade era unidirecional, indo da estrutura para a conduta.
Partindo das estratégias das empresas para interação com os consumido-
res no mercado, o desempenho é definido pelo retorno econômico e o nível de
bem-estar gerado.
O modelo ECD inicial tinha algumas falhas, como a falta de importância
das condutas das empresas no processo de concorrência e a incapacidade de
lidar com a existência de diferenciais de lucratividade entre as empresas em uma
mesma indústria, devido às variações nos tamanhos das empresas.
Na Figura 1, é possível identificar o que envolve as condições básicas de
oferta e demanda, assim como as estruturas de mercado, conduta e desempe-
nho nas relações de mercado:

O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO
89

CONDIÇÕES BÁSICAS
OFERTA DEMANDA
Matérias-primas Elasticidade-preço
Tecnologia Taxa de crescimento
Durabilidade do produto Substitutos
Valor/peso Tipo de comercialização
Atitudes comerciais Método de compra
Organização sindical Características clínicas e sazonais

ESTRUTURA DE MERCADO
Número de vendedores e compradores
Diferenciação do produto
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Barreiras à entrada
Estrutura de custos
Integração vertical
Diversificação

CONDUTA
Forma de determinação de preços
Estratégia de produto
Pesquisa e inovação
Propaganda
Táticas legais

DESEMPENHO
Produção e eficiência alocativa
Avanço tecnológico
Nível de emprego
Equidade

Figura 1 - Condições básicas do modelo Estrutura-Conduta-Desempenho.


Fonte: adaptado de Scherer e Ross (1990).

Estrutura, Conduta e Desempenho


90 UNIDADE III

O modelo E-C-D é utilizado para análise de setores específicos, buscando co-


nhecer aspectos de setores com revelada importância econômica no mer-
cado brasileiro ou no mercado externo. Seguindo este gênero, o trabalho
de Lopes (2016) dá especial atenção ao setor calçadista gaúcho. Acesse o
trabalho em: <http://revistas.ufpr.br/economia/article/view/40610/27859>.
Fonte: a autora.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A resposta para os problemas do modelo foi a aceitação da existência de cau-
salidades menos rígidas, que se expressavam em uma relação interativa entre
as variáveis de estrutura, conduta e desempenho. Passou-se a avaliar empirica-
mente todos os possíveis feedbacks entre as três categorias. Ou seja, a partir de
então, a conduta pode afetar a estrutura e não apenas ser afetada por ela, e afe-
tar também as condições básicas.
Encerrando esta unidade, desejo bons estudos! Nos vemos na próxima uni-
dade, onde iniciaremos os estudos sobre concorrência real e potencial, e também
o modelo de preço limite.

O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO
91

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As medidas de concentração são utilizadas para conhecer o nível de concorrên-


cia do mercado, que será menor quanto maior a concentração de empresas e
maior quanto menor a concentração de empresas.
No primeiro tópico, estudamos o índice de Hirschman-Herfindahl, que varia
entre 1/n e 1, e sua interpretação de que, quanto maior o índice, maior será a con-
centração do mercado. Conhecemos também o índice de entropia de Theil, que
é uma medida inversa da concentração e nos diz que, quanto menor o índice,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

maior a concentração e menor a concorrência.


Os estágios do ciclo de inovação são a invenção, a inovação e a imitação. A
invenção se refere à criação de coisas novas por meio de novos conhecimentos
ou novas formulações de conhecimentos já existentes. A inovação corresponde
à introdução de invenções e das melhorias de produtos e serviços para atender
às necessidades futuras dos usuários e, por último, a imitação é quando as varia-
ções de produto são utilizadas difundindo as inovações, mas sem acrescentar
melhorias, ou apenas com aperfeiçoamentos.
Bain estudou o que significam cada um dos componentes do modelo
Estrutura-Conduta-Desempenho. A estrutura se refere às características da orga-
nização das empresas que influenciam nos preços e na competição. As condutas,
ficam entre a estrutura e o desempenho, e referem-se ao comportamento das
empresas que buscam se adaptar ao mercado e obter um desempenho melhor.
O desempenho melhor se traduz em maior retorno econômico e em aumento
do nível de bem-estar gerado.
O modelo ECD inicial apresentava falhas, como a ausência de importân-
cia das condutas para o processo de concorrência e a incapacidade de lidar com
diferentes níveis de lucratividade devido às diferenças de tamanho das empre-
sas. Com o desenvolvimento do modelo, estas questões foram resolvidas por
meio da aceitação de uma relação interativa entre os elementos de Estrutura,
Conduta e Desempenho. A partir de então, a conduta pode afetar a estrutura e
não somente ser afetada por ela.

Considerações Finais
92

1. O cálculo das medidas de concentração é feito buscando conhecer o grau de


concorrência entre as empresas em determinado mercado. Sobre as medidas
de concentração, assinale a alternativa incorreta:
a) As razões de concentração são uma das formas de medir a concentração e
fornecem a parcela de mercado das x maiores indústrias do mercado.
b) O índice de Hirschman-Herfindahl atribui peso maior às maiores empresas e
,quando igual ao limite superior, indica a existência de monopólio.
c) Quando o índice de entropia corresponde ao seu limite superior, indica a
concentração máxima.
d) O índice de Hirschman-Herfindahl atende a todas as propriedades.
e) Quanto maior a concentração de mercado, maiores as desigualdades cau-
sadas no mercado.
2. As medidas de concentração industrial indicam que, quanto maior a concen-
tração, maiores serão as desigualdades na participação do mercado. Como são
classificadas as medidas de concentração?
3. Tanto o índice ET, que foi desenvolvido por Henri Theil, quanto o índice HH,
desenvolvido por Orris Hirschman e Albert Herfindahl, são medidas de con-
centração parciais. Qual a diferença na interpretação da concentração entre o
índice de entropia de Theil e o índice de Hirschman-Herfindahl?
4. A inovação pode ser a introdução ou o aperfeiçoamento de novos processos,
produtos ou serviços, e o ciclo da inovação ocorre em três estágios. Quais são
eles e o que eles envolvem?
5. O modelo ECD analisa como a organização de mercado afeta a maneira como
as empresas agem e como o seu desempenho é afetado. O que correspondem
cada um dos fatores do modelo Estrutura-Conduta-Desempenho?
93

As medidas de concentração dão ideia da concorrência de um mercado, e as políticas


de defesa da concorrência são instrumentos para criar uma economia mais eficiente
e inovadora, e também preservar o bem-estar econômico da sociedade. No trecho a
seguir veremos alguns indicadores concorrenciais baseados nas variáveis das empresas.
“Segundo o relatório elaborado pelo instituto Copenhagem Economics, não há um indi-
cador que reflita fidedignamente a intensidade da concorrência, pois esta é um fenôme-
no complexo, multidimensional e, especialmente, dinâmico, que tende a ter equilíbrio
instável no médio prazo. Por outro lado, cada indicador pode capturar algumas partes
dessa complexidade. O objetivo do relatório foi discutir os principais índices que têm
sido usados sistematicamente pelas autoridades de países como Estados Unidos, Reino
Unido, Holanda e nórdicos (Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia). O estudo elenca em
oito grupos de 57 indicadores, tanto de estrutura quando de conduta e desempenho. A
Tabela 1 em anexo apresenta esses indicadores que, além da “concentração”, envolvem
aspectos tais como: “barreiras à entrada”, “lucro”, “produtividade”, preços”, “inovação”,
“qualidade do produto” e “mobilidade”.
O relatório sugere, portanto, 31 indicadores considerados mais eficientes e viáveis para
avaliar a concorrência, de acordo com dois critérios: (i) o embasamento teórico e (ii) a apli-
cação prática. A Tabela 1 a seguir apresenta os 31 indicadores recomendados pela Cope-
nhagen Economics e sua categoria de classificação” (OLIVEIRA, 2014, p. 11).
Tabela 1 - Indicadores para análise da concorrência

TIPO INDICADOR ESPECÍFICO


Percentual de concentração de N firmas.
Índice de Hirschmann-Herfindahl (IHH).
Razão entre importações e produção.
Concentração
Fatia de mercado das autoridades públicas.
Variação na parcela de concentração.
Variação no IHH.
Razão capital e custo.
Razão de custo de marketing.

Barreiras à entra- Razão de desvantagem de custo.


da Taxa de entrada.
Taxa de abandono de consumidores.
Taxa de crescimento da indústria.
94

Coeficiente de variância da concentração.


Mobilidade
Estabilidade da parcela de mercado.
Percentual de P&D de dado custo.
Inovação
Percentual de patentes.
Variação de preços dentro de um setor.
Preços Paridade do poder de compra.
Número de variações de preço.
Retorno dos ativos.
Retorno do capital empregado.
Retorno do capital investido.
Lucros Retorno do capital de terceiros.
Retorno das vendas.
Renda residual bruta.
Renda residual líquida.
Variação na produtividade do trabalho.
Dispersão da produtividade do trabalho.
Produtividade
Variação na produtividade total dos fatores.
Dispersão da produtividade total dos fatores.
Qualidade do
Reclamações dos consumidores.
produto
Fonte: adaptado de Olivera (2014, p. 13).

Você pode conhecer a metodologia de alguns indicadores da Tabela apresentada por


meio do documento completo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica escri-
to por Glauco Avelino Sampaio Oliveira (2014).
Fonte: a autora.
MATERIAL COMPLEMENTAR

A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005)


Sinopse: Willy Wonka (Johnny Depp) é o excêntrico dono da maior fábrica
de doces do planeta, que decide realizar um concurso mundial para
escolher um herdeiro para seu império. Cinco crianças de sorte, entre
elas Charlie Bucket (Freddie Highmore), encontram um convite dourado
em barras de chocolate Wonka e com isso ganham uma visita guiada pela
lendária fábrica de chocolate, que não era visitada por ninguém há 15
anos. Encantado com as maravilhas da fábrica, Charlie fica cada vez mais
fascinado com a visita.

Material Complementar
96
REFERÊNCIAS

BAIN, J. S. Industrial organization. New York: John Wiley, 1968.


BRAGA, C. H.; MASCOLO, J. L. Mensuração da concentração industrial no Brasil. Pes-
quisa e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 401, ago. 1982.
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The Bell Journal of Economics, v. 11, n. 1, p. 1-28, 1980.
ENCAOUA, D.; JACQUEMIN, A. Degree of monopoly, Indeces of Concentration and
Threat of Entry. International Economic Review, n. 21, p. 87-105, 1980.
KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia Industrial: fundamentos teóricos e práti-
cas no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002.
LOPES, H. C. O Setor Calçadista do Vale dos Sinos/RS: Um Estudo a partir do Modelo
Estrutura-Conduta-Desempenho. Revista de Economia, Curitiba, v. 40, n. 3, a. 38, p.
68-90, set./dez. 2014.
NANTES, J. F. D. Indicadores de Desempenho em Projetos de Desenvolvimento de
Produtos: Estudo de Caso em uma Empresa do Setor Têxtil. In: ENCONTRO NACIO-
NAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. 35., 2015, Fortaleza. Anais... Fortaleza: ENE-
GEP, 2015.
OLIVEIRA, G. A. S. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Documentos de
Trabalho 001/2014: Indicadores de Concorrência. Brasília: CADE, set. 2014. Dispo-
nível em: <http://www.cade.gov.br/acesso-a-informacao/publicacoes-institucio-
nais/dee-publicacoes-anexos/documento-de-trabalho-n-01-2014-indicadores-de-
-concorrencia.pdf>. Acesso em: 19 set. 2018.
SCHERER, F.; ROSS, D. Industrial market structure and economic performance.
Boston: Houghton Mifflin, 1990.
SCHMIDT, C. A. J.; LIMA, M. A. Secretaria de Acompanhamento Econômico do Minis-
tério da Fazenda. Índices de concentração. Brasília: SEAE/MF. Documento de Traba-
lho n. 13. 2002.
SCHUMPETER, J. A. A teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Nova Cul-
tural, 1988.
______. Capitalismo, Socialismo e Democracia. Rio de Janeiro: Zahar, 1984.
THEIL, H. Economics and Information Theory. Chicago: Rand McNally, 1967.
97
GABARITO

1. c.
2. As medidas de concentração podem ser classificadas como parciais ou sumárias,
ou como positivas ou normativas. As medidas de concentração parciais não uti-
lizam dados da totalidade das empresas que atuam na indústria, enquanto as
sumárias requerem dados de todas as empresas em operação. As medidas de
contração positivas dependem da estrutura aparente do mercado e não do com-
portamento dos produtores ou consumidores, enquanto as normativas, além da
estrutura aparente, levam em conta esses comportamentos, relacionados às pre-
ferências dos consumidores e produtores.
3. O índice de Hirschman-Herfindahl eleva cada parcela de mercado ao quadrado
e atribui um peso maior às empresas maiores, o que nos traz a interpretação
de que quanto maior o índice HH, mais elevada a concentração de mercado e
menor a concorrência entre os produtores. O índice HH varia entre 1/n e 1. O
limite inferior decresce à medida que aumenta o número de empresas, enquan-
to o limite superior está associado ao caso da existência de monopólio, quando
uma única empresa atua no mercado. Já o índice de Theil é uma medida inversa
da concentração. O índice ET vai indicar o conteúdo informacional esperado da
ocorrência, e a confirmação da ocorrência de um evento vem associada ao grau
de surpresa que esse evento vai ocasionar. O grau de surpresa é maior quanto
menor a probabilidade de ocorrência, válido para o contrário. Quanto maior a
empresa, menor o grau de surpresa associado à mensagem e menor o índice
de entropia, assim, maior o grau de concentração na indústria. O limite inferior
desse índice corresponde a zero, que indica concentração máxima, indicando a
existência de monopólio.
4. Os três estágios são invenção, inovação e imitação. A invenção se refere à criação
de coisas que não existiam anteriormente por meio de novos conhecimentos ou
aplicação de conhecimentos já existentes com novas formulações. A inovação
envolve a introdução de invenções ou melhorias de processos já existentes de
produtos e/ou serviços que busquem atender novas às necessidades do usuá-
rios. Por último, a imitação diz respeito à introdução de variações que causam
a difusão das inovações, porém, sem acrescentar melhorias ou com melhorias
incrementais.
5. A estrutura trata das características de organização das empresas que influen-
ciam a competição e os preços. As condutas se referem ao comportamento ado-
tado pelas empresas para se adaptarem aos mercados e melhorar o desempe-
nho. E o desempenho é definido pelo retorno econômico e o nível de bem-estar
gerado.
Professora Me. Marieli Vieira

BARREIRAS E ESTRATÉGIAS

IV
UNIDADE
COMPETITIVAS

Objetivos de Aprendizagem
■■ Discutir os conceitos de concorrência real e potencial e apresentar o
modelo de preço-limite.
■■ Apresentar os mecanismos de barreiras à entrada e à saída.
■■ Estudar as tomadas de decisões estratégicas.
■■ Entender a escolha do melhor resultado.
■■ Aprender os conceitos de jogos com comunicação.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Concorrência real e potencial e o modelo de preço limite
■■ Barreiras à entrada e barreiras à saída
■■ Jogos e decisões estratégicas
■■ Estratégias dominantes
■■ Ameaças, compromisso e credibilidade
101

INTRODUÇÃO

Iniciaremos unidade IV com a discussão entre os conceitos de concorrência


real, que é objeto de estudo dos modelos tradicionais, e concorrência potencial,
que é estudada pelos clássicos. Os autores clássicos entendem que se as empre-
sas apresentam lucros elevados, a tendência é que outras empresas tentem entrar
nos mercados para compartilhar desses lucros.
Veremos, ainda no primeiro tópico, que, apesar de todas as fontes que impe-
dem a livre mobilidade de capital ou a existência de lucros extraordinários serem
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

consideradas barreiras à entrada, existem várias definições operacionais. Na sequ-


ência, estudaremos o preço-limite.
No segundo tópico, veremos as barreiras à entrada de maneira mais apro-
fundada, e conheceremos os quatro elementos que compõem a estrutura das
indústrias e que podem se constituir em barreiras: vantagem absoluta de custos,
diferenciação dos produtos, existência de economias de escala e a necessidade
de capital inicial. Concluindo esse tópico, vamos aprender sobre as barreiras à
saída, que envolvem os custos que as empresas enfrentam caso saiam do mer-
cado, encerrando sua produção.
Seguindo para o terceiro tópico, saberemos que a teoria dos jogos estuda as
diversas interações estratégicas entre os agentes econômicos, que chamamos de
jogadores. As interações estratégicas podem envolver muitas estratégias e muitos
jogadores, podem se tratar de jogos com ou sem manipulação de informações.
Vamos aprender o que significa um equilíbrio de Nash em um jogo.
Durante o quarto tópico, veremos a possibilidade de existência de uma estra-
tégia dominante e o que isto implica. Um equilíbrio em um jogo é uma ótima
situação, mas, ao mesmo tempo, é muito difícil de ocorrer.
Finalmente, ameaças e promessas são ações por parte dos agentes econô-
micos que representam compromisso e buscam limitar as escolhas de um ou de
outro no futuro, sem a possibilidade de reversão.

Introdução
102 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONCORRÊNCIA REAL E POTENCIAL E O MODELO DE
PREÇO LIMITE

A concorrência real é aquela que ocorre em função do número e do tamanho


relativo das empresas que formam uma determinada indústria. Enquanto a con-
corrência potencial acontece quando as empresas que já fazem parte da indústria
competem pelos lucros com as empresas entrantes, ou seja, aquelas que têm
potencial para entrar no mercado.
A concorrência real é estudada pelos modelos tradicionais, enquanto a con-
corrência potencial é estudada pelos clássicos. Segundo os clássicos, se a empresa
apresenta lucros elevados, faz sentido que novas empresas busquem entrar nesses
mercados para compartilhar desses lucros. Assim como as empresas podem encerrar
suas atividades naquele setor, buscando outros setores que sejam mais atraentes. Esta
movimentação só acabaria quando os lucros das indústrias estivessem em equilíbrio.
Dessa forma, a concorrência é a livre movimentação de capitais e a tendência
à equalização das taxas de lucro, e essas interações das empresas entre os mer-
cados são a base da teoria geral de preços e da produção.
Segundo esta visão, a empresa só poderia obter lucros acima da média por

BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS


103

um tempo, pois a movimentação das empresas no mercado e entre os mercados


fariam com que os lucros existissem ou não. O tempo de duração desses lucros
extraordinários seria o tempo de aumentar a capacidade de produção.
Dessa forma, se uma indústria consegue ter lucros extraordinários perma-
nentes, significa que, de alguma forma, novas empresas estão impossibilitadas
de entrar nesse mercado. Por isto, essas barreiras à entrada sempre constituí-
ram um problema para o entendimento do funcionamento dos mercados, que
podem ser definidos nos elementos básicos a seguir:
■■ Geralmente são empresas que já atuam naquela indústria e se coordenam
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de modo a impedir a entrada de outras.


■■ As empresas potenciais são aquelas que apresentam a capacidade de inves-
tir nesse mercado, sendo que as primeiras da fila seriam aquelas com os
melhores requisitos.
■■ Os incentivos à entrada se relacionam com os ótimos lucros que as empre-
sas podem obter em caso de participarem da indústria, desde que esses
lucros possam ser obtidos no momento em que comecem as suas atividades.
■■ Uma entrada corresponde ao início de atuação de uma nova empresa,
portanto, ficam excluídas aquelas que já atuam e aumentam a sua capa-
cidade, ou aquelas que compram uma empresa já atuante.
■■ Uma saída corresponde ao encerramento das atividades com a desativa-
ção da capacidade produtiva, pois, em caso de venda, por exemplo, só
haverá transferência da capacidade produtiva.

Dentre os vários enfoques existentes na questão das barreiras à entrada, todos


eles destacam a questão do longo prazo e da concorrência potencial. Todo fator
que impeça a livre mobilidade do capital e possibilite a existência de lucros extra-
ordinários no longo prazo se constitui em barreiras à entrada.
Quando, nas definições operacionais existem divergências, podemos citar
alguns grupos:

Concorrência Real e Potencial e o Modelo de Preço Limite


104 UNIDADE IV

Quadro 1 - Definições de barreiras à entrada

Representantes Definições
Barreiras à entrada se traduzem condições que permitam
Joe Bain às empresas já participantes do mercado praticarem preços
acima do competitivo sem atrair novos competidores.
Há barreiras quando as empresas entrantes precisam arcar
J. Stigler com custos os quais as empresas estabelecidas não precisa-
ram arcar.
Há barreiras à entrada caso as empresas já estabelecidas
apresentem vantagens comparativas ou diferencial econô-
R. Gilbert

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mico frentes às entrantes, como se fosse um “prêmio pela
existência”.
Consideram que, além dos diferenciais de custos, precisa
C. Von Weizsa-
haver distorções na alocação de recursos do ponto de vista
cker
social entre as empresas estabelecidas e as entrantes.
Fonte: adaptado de Kupfer e Hasenclever (2002, on-line)1.

MODELO DE PREÇO LIMITE

Para entendermos o modelo de preço limite, vamos visualizar uma indústria em


equilíbrio, na qual as empresas possam produzir tanto bens homogêneos quanto
diferenciados. Essas empresas utilizam tecnologias que lhes permitem apresen-
tar ganhos de escala, ou seja, os custos médios são decrescentes até atingirem o
ponto de escala mínima eficiente, quando se tornam constantes.
Consideramos que o longo prazo dessa indústria corresponde ao período
de pré-entrada e de pós-entrada e, ainda, que a empresa só vai avaliar entrar no
mercado se for possível que obtenha os lucros acima da média já no segundo
momento, o pós-entrada. Esta hipótese faz parte da ideia de que uma empresa
entrante não tem capital financeiro constituído, o que faz com que ela não possa
suportar prejuízos de maneira alguma. O que não ocorre quando se trata de
empresas com capital já estabelecido em outra indústria, por exemplo.
As empresas atuantes no mercado têm duas opções extremas: trabalhar sem-
pre com os preços no nível competitivo, de maneira a tornar pouco atrativa a
entrada para novas empresas, porém, assim, estariam prejudicando elas próprias,

BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS


105

de forma que não obteriam lucro em nenhum dos períodos; ou poderiam estabe-
lecer os preços acima do competitivo, de forma que teriam lucros até o segundo
período, quando a entrada de novas empresas levaria o preço ao equilíbrio, tor-
nando os lucros das indústrias normais.
Além dessas duas opções, pode haver ainda uma decisão intermediária, na
qual as empresas poderiam trabalhar com preços acima do competitivo, porém
não obtendo o lucro máximo. Dessa forma, elas teriam lucros no longo prazo de
forma permanente, porém não os lucros extraordinários que tornam a indústria
atrativa a empresas entrantes. O preço que possibilita essa situação é conhecido
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

como preço limite. Mas quando esse preço limite seria escolhido pelas empresas?
O preço limite seria dependente do preço competitivo de longo prazo e das
condições de entrada:
PL  PC 1  E 

Nas quais podem ocorrer algumas situações:


1. Quando as empresas já estabelecidas no mercado não têm vantagem sobre as
entrantes, ou seja, a entrada no mercado é fácil, pois não existem barreiras.
2. Quando as empresas já estabelecidas têm alguma vantagem e preferem
praticar a maximização de lucros no curto prazo, mesmo que isso dure
somente até o segundo período. Fazem isso considerando também que
as empresas entrantes demorem até materializar os investimentos. Essa
situação é descrita pela entrada ineficazmente impedida.
3. Quando as empresas estabelecidas têm vantagem competitiva e buscam
praticar o preço limite para barrar novas entradas. Esta decisão depende
de os lucros obtidos nos dois períodos serem maiores do que aquele que
seria obtido em apenas um período de maximização de lucros. Isto é o
que chamamos de entrada eficazmente impedida.
4. Quando as empresas estabelecidas têm uma vantagem competitiva muito
grande, as novas empresas têm entradas bloqueadas. Isto acontece quando
o preço de maximização de lucros está em uma faixa que não incentiva
entradas, o que faz com que essas empresas consigam manter esses lucros
permanentemente.

Concorrência Real e Potencial e o Modelo de Preço Limite


106 UNIDADE IV

Alguns mecanismos são capazes de constituir fontes de barreiras à entrada


dentro das indústrias:
■■ Existência de vantagem absoluta de custos: esta situação ocorre quando
o custo médio de longo prazo das empresas que estão entrando no mer-
cado é muito maior do que o das empresas que já estão estabelecidas no
mercado, independentemente do nível de produção.
■■ Existência de preferências dos consumidores: em casos que os consumi-
dores são leais ao produtos vendidos pelas empresas já estabelecidas no
mercado pode fazer com que as empresas que estão entrando nesse mer-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cado tenham que vender seus produtos a preços bem baixos para deslocar
as preferências.
■■ Existência de significativas economias de escala: quando novas empre-
sas ficam impedidas de atuar devido à existência de economias de escala.
■■ Existência da necessidade de elevados investimentos iniciais: quando há a
necessidade de mobilização elevada de capital para o investimento inicial.

BARREIRAS À ENTRADA E BARREIRAS À SAÍDA

BARREIRAS À ENTRADA

Barreiras para a entrada de empresas em determinados mercados se traduzem


basicamente na falta de incentivos à entrada de empresas novas, devido à exis-
tência de vantagem competitiva das empresas já estabelecidas. Maiores serão as
barreiras à entrada quanto maiores forem as vantagens competitivas. Existem
quatro elementos nas estruturas das indústrias que podem constituir barreiras
à entrada, os quais veremos a seguir.

BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS


107
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Vantagem absoluta de custos

Essa vantagem é presente quando os custos das empresas entrantes é superior


aos das que já estão estabelecidas no mercado, independentemente do nível de
produção para um bem homogêneo. Existem algumas fontes dessas vantagens,
como a tecnologia. As empresas atuantes podem ter desenvolvido técnicas de
produção mais eficientes ou até mesmo, acumulado aprendizado que expliquem
esses diferenciais.
Outra fonte pode ser as matérias-primas, as quais a aquisição pelas empresas
já estabelecidas é mais favorável. Os recursos naturais são exemplos, as empre-
sas estabelecidas exploram uma melhor relação custo-qualidade, podendo fazer
uso, também, da mão-de-obra mais qualificada para o processo de produção e
impondo altos custos de treinamento às empresas entrantes. Da mesma forma
ocorre com o acesso ao capital: empresas já estabelecidas têm melhores avalia-
ções e, assim, acesso mais fácil e taxas menores que as entrantes.
Contudo, devemos considerar que existem, também, maneiras de anular essas
vantagens de custos. Um exemplo disso é quando a empresa que está entrando
no mercado é inovadora, nesse caso, ela terá a melhor tecnologia que as empre-
sas existentes. As vantagens de custos são consideradas restritas, pois, muitas
vezes, se aplicam somente a um grupo limitado de ramos industriais.

Barreiras à Entrada e Barreiras à Saída


108 UNIDADE IV

Diferenciação dos produtos

De acordo com a ideia de competição real, a existência de diferenciação de pro-


dutos implica em algum grau de poder sobre os preços, tornando possível praticar
os preços acima do custo marginal sem comprometer completamente a receita.
Na competição potencial, a existência de diferenciação implica em barreiras
à entrada. Os consumidores podem ter preferências pelas marcas já conhecidas,
fazendo com que a diferença no preço praticado pelas empresas entrantes tenha
que ser grande para ocorrer uma reavaliação.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Dessa forma, as barreiras à entrada vão depender bastante das característi-
cas do produto, dos impostos e do esforço de vendas das empresas já existentes.
Os economistas, em geral, concordam que essa seja a fonte mais forte das
barreiras de entrada, pois são amplas as possibilidades de criação de vantagens
- buscando as preferências dos consumidores. A diferenciação e a qualidade do
produto fazem parte de um processo muito custoso. Porém a eficácia dessa bar-
reira pode ser diminuída quando uma empresa entra em determinada indústria,
trazendo consigo marcas conceituadas em outros mercados, isso faz com que a
credibilidade seja transferida do mercado original para o novo mercado, efeito
esse que chamamos de spill-over, ou transbordamento.

Existência de economias de escala

Sugerida por Bain (1956), com uma fonte fraca de barreiras à entrada, as con-
dições para existência de barreiras de escala são:
■■ Escala mínima eficiente considerada na comparação com o tamanho do
mercado.
■■ Custos médios de produção maiores na escala subótima do que os cus-
tos médios mínimos de longo prazo.

A existência de economias de escala não impõe necessariamente à empresa


entrante nenhum custo o qual a empresa já estabelecida não tenha incorrido.
Por este motivo, Stigler (1968) e seus seguidores rejeitam esse tipo de barreiras,

BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS


109

pois se não existe assimetria de custos entre as empresas entrantes e as estabe-


lecidas, não há porque a empresa que está entrando no mercado acreditar que
haverá uma guerra de preços após a entrada.

Necessidade de capital inicial

Considerada por Bain (1956) a quarta fonte de barreiras à entrada, a necessidade de


capital inicial reflete a dificuldade de financiar grandes volumes de capital quando
o investimento inicial requerido é muito alto. Não tendo essa barreira nada a ver
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com os preços e as lucratividades provocadas pelo aumento da oferta da indústria.


A rigor, barreiras de capital não são barreiras, salvo em situações em que
haja imperfeições no mercado de capitais, o que gera controvérsias na literatura.
Essa questão é, no entanto, intuitiva, devido ao fato de que os altos investimen-
tos iniciais são formados por altos custos irrecuperáveis, que irão implicar nas
decisões estratégicas das empresas.

BARREIRAS À SAÍDA

As barreiras à saída envolvem os custos que as empresas incorrem ao sair do


mercado, encerrando a sua produção. Esses custos podem envolver desde que-
bras de contrato até a perda de investimentos ou custos irrecuperáveis.
No final dos anos 80, entrou em foco a teoria da contestabilidade, na qual
estrutura e condutas são pouco valorizadas por se considerar que as as condi-
ções básicas é que são essenciais ao desempenho dos mercados.
Para a teoria da contestabilidade, o mecanismo de equilíbrio se dá na entrada
e saída das empresas, pela existência de livre mobilidade. Ou seja, a concorrên-
cia é dada pela existência ou não de custos irrecuperáveis para a empresa que
está entrando no mercado.
A teoria aplica os conceitos de factível e sustentável: uma configuração indus-
trial é factível quando todas as empresas atendem a toda a demanda, sem ter
prejuízos; uma configuração industrial é sustentável quando é factível e quando

Barreiras à Entrada e Barreiras à Saída


110 UNIDADE IV

uma empresa entrante não vá obter lucros com as quantidades e preços que estão
vigorando no mercado. Ou seja, quando os custos de entrada são maiores do
que seriam as vendas, menos os custos de produção dessa empresa no mercado.
Uma configuração não-sustentável é aquela que está em equilíbrio, porém
sempre tendendo ao equilíbrio. A exceção ocorre quando as empresas que estão
entrando no mercado esperam que as empresas atuantes reduzam os preços
para o nível sustentável após a sua entrada, ou seja, após a entrada de uma nova
empresa, vai haver um novo equilíbrio, e as empresas já atuantes podem esco-
lher baixar os preços para se moverem ao equilíbrio.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A condição estrutural suficiente para assegurar a existência de uma confi-
guração industrial sustentável é um mercado perfeitamente contestável, que é
atingido quando: não existem barreiras à entrada, pois as empresas entrantes
têm acesso aos mesmos fatores de produção e às mesmas habilidades; e quando
não existem barreiras à saída, não há custos irrecuperáveis, o que indica que os
investimentos realizados inicialmente foram completamente recuperados.
Essas duas condições permitem uma competição que disciplina as decisões das
empresas, pois qualquer sobrepreço cobrado dá oportunidade à entrada lucrativa,
possibilitando a empresa entrante sair do mercado sem custos irrecuperáveis e com
lucros. Um exemplo dessa competição é o mercado de linhas aéras, pois o investi-
mento inicial, o avião, não é um custo irrecuperável, apesar de ser um custo fixo.

JOGOS E DECISÕES ESTRATÉGICAS

A teoria dos jogos estuda as diversas situações de interações estratégicas dos


agentes econômicos, ela lida com a análise geral da interação estratégica e pode
ser usada, além de estudar o comportamento econômico, para o estudo de jogos
de salão e de negociações políticas.

BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS


111
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

As interações estratégicas podem envolver muitas estratégias e muitos jogado-


res, porém, buscando simplificar e facilitar o entendimento, trataremos de um
jogo simples, entre apenas duas pessoas. Assim, poderemos representar facil-
mente o jogo por meio de uma matriz de ganhos.
Jogos não cooperativos com informação completa são jogos nos quais a
interação estratégica não contempla a manipulação de informações. Quando os
jogadores podem observar as ações dos seus concorrentes, os jogos são de infor-
mação completa e perfeita. Quando isso não ocorre, os jogos são de informação
imperfeita. Podemos caracterizar os jogos de forma extensiva com informação
completa, incompleta e estratégica. Veremos cada uma delas no tópico seguinte.

EQUILÍBRIO DE NASH

O equilíbrio de Nash significa que temos um par de estratégias ótimas. Nesse


caso, podemos ter apenas uma escolha ótima de A para a escolha ótima de B. O
equilíbrio de Nash se traduz na escolha de A ser a melhor considerando a esco-
lha de B, e a escolha de B ser a melhor considerando a escolha de A.
O equilíbrio de Nash é um par de expectativas a respeito das escolhas de
outra pessoa, e se a escolha da pessoa for revelada, nenhum dos agentes irá que-
rer mudar o seu comportamento.

Jogos e Decisões Estratégicas


112 UNIDADE IV

Quadro 1- Equilíbrio de Nash

Jogador B
Esquerda
Direita
Alto 2,1 0,0
Jogador A
Baixo 0,0 1,2
Fonte: adaptado de Varian (2003).

O equilíbrio de Nash é uma generalização do modelo de Cournot, por meio


do qual a empresa maximiza os seus lucros com base no comportamento da
empresa concorrente.
Apesar do equilíbrio de Nash ter lógica, ele tem alguns problemas: os jogos

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podem ter mais de um equilíbrio de Nash e há jogos que não têm equilíbrio de Nash.

Você se lembra o que significa dizer que uma alocação é um ótimo de Pareto?

DILEMA DO PRISIONEIRO

Um equilíbrio de Nash não leva sempre a um resultado com ótimo de Pareto. No


quadro a seguir podemos ver um jogo conhecido como o dilema do prisioneiro.
Quadro 2 - Dilema do prisioneiro

Jogador B
Confessa Nega
Confessa -3,-3 0,-6
Jogador A
Nega -6,0 -1,-1
Fonte: adaptado de Varian (2003).

Na sua configuração original, o dilema do prisioneiro envolve a decisão de dois


prisioneiros, comparsas de um crime, de confessar o crime e envolver o outro, ou
negar o crime. Os dois prisioneiros eram interrogados separadamente, logo, um
não sabia a decisão do outro. Se ambos negassem, passariam apenas um mês na
prisão e se ambos confessassem, ambos passariam três meses na prisão. Se apenas
um confessasse, ele seria libertado, enquanto o outro passaria seis meses na prisão.

BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS


113

No único equilíbrio de Nash, a melhor decisão para cada prisioneiro é confessar,


pois independentemente do que o outro jogador faça, estarão na escolha ótima.
O dilema do prisioneiro pode ser aplicado a uma gama ampla de questões.
Considere o problema de burlar ou não um cartel - substitua o “confessa” por
“produzir mais do que a sua quota” e “nega” por “manter a quota original”. Se
você acha que a empresa concorrente irá manter a quota ou exceder, então vale
a pena você produzir mais que a sua quota em ambas as situações.
A utilização do dilema do prisioneiro depende da sua utilização apenas uma
vez ou repetidas vezes. Se for jogado apenas uma vez, você estará melhor se bur-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

lar (“confessar”).
Se o jogo for repetido várias vezes, existirão novas possibilidades estratégi-
cas para cada jogador, que pode buscar manter uma “reputação”. Essa decisão
vai depender se o número de jogadas é finito ou infinito.
Se o número de jogadas for definido, na última jogada, os jogadores ten-
dem ao equilíbrio da estratégia dominante, pois jogar pela última vez é o mesmo
que jogar apenas uma vez. O mesmo ocorre com as jogadas anteriores, pois se
não houver meio de impor a cooperação na última rodada, não haverá meio de
impor nas jogadas anteriores.
Os jogadores cooperam porque esperam que isto leve a mais cooperação no
futuro, portanto, deve sempre haver a possibilidade de um jogo futuro para que
o comportamento do oponente seja influenciado. Ambas as partes se preocu-
pam com os seus ganhos futuros, então a possibilidade de não-cooperação para
convencer os jogadores a decidirem pela estratégia eficiente.

Podemos saber mais sobre a história e os fundamentos da teoria dos jogos


no trabalho de Dias (2004). Lá é possível encontrar definições da teoria dos
jogos, dos jogadores, além das regras que delimitam um jogo. É possível
identificar diferentes modelos ou tipos de jogos e maneiras de represen-
tá-los. Para saber mais, acesse: <http://ojs.fsg.br/index.php/global/article/
viewFile/503/400#page=49>.
Fonte: a autora.

Jogos e Decisões Estratégicas


114 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ESTRATÉGIAS DOMINANTES

A existência de uma estratégia dominante implica que existe uma estratégia ótima
para cada um dos jogadores, sem importar o que o outro faça. Ou seja, inde-
pendentemente da decisão do jogador B, o jogador A obterá um ganho maior se
jogar baixo, assim como, independentemente da decisão do jogador A, o joga-
dor B obterá um ganho maior se jogar à esquerda. Esta situação pode ser vista
na matriz de ganhos de um jogo apresentada a seguir.
Quadro 3 - Matriz de ganhos de um jogo

Jogador B
Esquerda Direita
Alto 1, 2 0, 1
Jogador A
Baixo 2, 1 1, 0
Fonte: adaptado de Varian (2003).

A estratégia dominante é a melhor escolha, independentemente da escolha do


outro jogador, então, se houver uma estratégia dominante para cada jogador em
um jogo, podemos prever o equilíbrio do jogo.

BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS


115

O equilíbrio de um jogo é uma boa situação, porém muito difícil de ocorrer.


O jogo apresentado no Quadro representa o equilíbrio de Nash, que já vimos
no tópico anterior.
Quadro 4 - Equilíbrio de Nash

Jogador B
Esquerda Direita
Alto 2,1 0,0
Jogador A
Baixo 0,0 1,2
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Fonte: adaptado de Varian (2003).

Em vez da escolha do jogador A ser ótima para todas as escolhas de B, e vice-


-versa, podemos ter apenas uma escolha ótima de A para a escolha ótima de B.
Portanto, o equilíbrio de Nash, representado no Quadro 4, significa que temos
um par de estratégias se a escolha de A for ótima considerando a escolha de B,
e se a escolha de B for ótima considerando a escolha de A.
Para chegar às estratégias, podemos ter as seguintes situações nas represen-
tações dos jogos:

• Representação extensiva de jogos com informação completa

A representação extensiva dos jogos é feita por meio do diagrama de árvore.


A árvore é formada por ramificações que conectam dois pontos denominados
“nós”. O primeiro nó representa a raíz da árvore e o início do jogo. Existem nós
que não possuem ramificações à frente, estes são chamados de nós terminais.
Uma sequência de eventos ocorre por meio das ramificações e são as pos-
síveis maneiras dos jogos serem jogados. Como no jogo, a árvore representa as
incertezas associadas às possíveis ações que podem ser tomadas pelos jogado-
res, que antecedem os ganhos finais.
Quando se trata de um jogo com informação completa e perfeita, as ações
do jogador 1 são sempre observadas pelo jogador 2, que irá tomar as suas deci-
sões baseado nas informações que tiver no momento em que for jogar. Portanto,
o jogador sabe em qual nó ele está. As possibilidades de um jogo com infor-
mação completa e perfeita são representadas pelo diagrama de árvore a seguir:

Estratégias Dominantes
116 UNIDADE IV

E (1, 1)
II1
E
I B (3, 2)
(2, 4)
e
B
II2

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
b
(4, 3)
Figura 1- Forma extensiva de um jogo com informação completa e perfeita
Fonte: adaptado de Kupfer e Hasenclever (2002, on-line)1.

Quando se trata de um jogo com informação completa e imperfeita, as ações de


um jogador não são observadas pelo outro, pois existem dificuldades de comu-
nicação entre os jogadores. Nesse jogo, os nós de decisão de uma empresa ou
outra não podem mais ser distinguidos, pois, na sua vez de jogar, a empresa não
tem como saber se está no nó de decisão superior ou inferior. Essa situação é
representada no diagrama de árvore abaixo:

E
II
E
I B

E
B
II
B
Figura 2 - Forma extensiva de um jogo com informação completa e imperfeita
Fonte: Kupfer e Hasenclever (2002, on-line)1.

BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS


117

• Representação estratégica de jogos com informação completa

Por meio das informações anteriores a respeito da representação extensiva, pode-


mos chegar à representação estratégica. A estratégia é o que determina como a
empresa irá agir se encontrando em cada uma das situações/ramificações, em
cada um dos conjuntos de informação.
Quando a informação é perfeita, a primeira empresa possui apenas uma
posição possível. Dessa forma, para a empresa 2, é necessário traçar uma estra-
tégia caso chegue a se localizar em qualquer uma das posições.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Quando se aplica o caso da informação imperfeita, as empresas escolhem


entre uma ou outra alternativa somente e, partindo daí, se dão novamente as
mesmas alternativas de escolha. Nesse caso, é importante saber que os jogado-
res jogam com vários objetivos a partir de um conjunto de estratégias.
Existe também a possibilidade da utilização de estratégias mistas. O seu
entendimento é difícil, porém, há justificativas para seu uso, como o fato dos
jogadores desejarem que as suas estratégias de jogo sejam dificilmente previstas
pelo outro jogador e, para isso, precisam tornar suas escolhas aleatórias.

São vários os tipos de estratégias que podem ser assumidas por uma or-
ganização: planejada, empreendedora, ideológica, guarda-chuva, processo,
desarticulada, consenso e imposta.
Fonte: adaptado de Avila (2006).

Estratégias Dominantes
118 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
AMEAÇAS, COMPROMISSO E CREDIBILIDADE

As ameaças ou promessas são ações que representam o compromisso dos agen-


tes, visando a restringir ou as suas escolhas ou as escolhas dos adversários no
futuro, de maneira que não possam reverter.
Segundo Nash (1996), quando um jogador convence o outro a agir conforme
sua exigência para que não tenha consequências ruins, o primeiro está realizando
uma ameaça contra o outro. O ameaçador cumprir a ameaça não significa neces-
sariamente que este seja o seu desejo. Uma ameaça pode ser caracterizada pelas
cinco regras a seguir, segundo Searle (1984):
■■ Prejudica a ação futura do ameaçador, caso o ameaçado não cumpra com
a exigência.
■■ A ameaça deve ser feita em casos em que o ameaçado deseje que o ame-
açador não a realize.
■■ A ameaça será feita em casos em que a ação exigida não seja decorrente
dos acontecimentos normais.
■■ Quando o ameaçador faz a ameaça, ele está realmente com a intenção de
cumpri-la caso as exigências não sejam atendidas.

BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS


119

■■ Desde que feita, a ameaça deve ser cumprida pelo ameaçador se as con-
dições exigidas não forem cumpridas.

Para entendermos mais claramente, vamos visualizar o jogo apresentado no


Quadro a seguiur:
Quadro 5 - Jogos e comunicação

Jogador B
Esquerda Direita
Alto 0, 80 80, 0
Jogador A
Baixo -1, -150 -40, -250
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Fonte: adaptado de Luce e Raiffa (1989).

As quantidades 0 e 80 correspondem ao equilíbrio das estratégias alto e esquerda,


para o jogador A e B, respectivamente. Essa situação pode ocorrer em um jogo
em que não haja comunicação e seja jogado apenas uma vez.
Se os jogadores puderem se comunicar, o jogador A pode impor um acordo
ao jogador B, ameaçando jogar na opção baixo, fazendo, dessa forma, com que
se o jogador B se mantenha na posição esquerda ao invés de abrir mão das 80
unidades em seu favor, incorra em um prejuízo de 150. Esse comportamento
por parte do jogador B seria impensável, pois, seguindo o princípio da raciona-
lidade, qualquer comunicação deveria ser evitada.
Caso haja comunicação entre os dois jogadores, a possibilidade da ame-
aça existe. Portanto, o jogador B deve evitar entrar em contato com o jogador A
para manter a sua possibilidade de ganhos, fazendo um jogo não-cooperativo.
Caso o jogador B queira lutar pelo seu resultado de 80, deve levar o jogador
A à mesa de negociação, agindo da mesma forma, com uma ameaça. O jogador
B pode ameaçar jogar direita caso o jogador A jogue baixo, causando a A um
prejuízo de 40. Essa atitude também causaria aumento do seu prejuízo, mais espe-
cificamente e para 250. Devido ao prejuízo que causaria a si mesmo caso tomasse
essa atitude, a ameaça de B não teria credibilidade em relação a do jogador A.
As ameaças obterem os efeitos desejados dependem de que o oponente não
perceba qualquer incentivo à mentira por parte do ameaçador. O grau de credi-
bilidade dos agentes depende da coincidência dos interesses entre os jogadores
e também de uma análise econômica e psicológica destes, pois entra em jogo
também a reputação de cada um e sua disposição à preservá-la.

Ameaças, Compromisso e Credibilidade


120 UNIDADE IV

Percebemos que cortar a comunicação com os adversários pode ser a melhor


atitude para o jogador que tem a vantagem, caso o jogo seja jogado de maneira
não-cooperativa. Um dos fatores que contribuem para reforçar a credibilidade
das ações é o custo de realização das ameaças. Quanto maiores os custos e suas
consequências, maiores as de chances as ameaças ser em cumpridas.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Existem alguns passos que possibilitam alcançar a credibilidade por parte
dos jogadores:
• Estabeleça e use sua reputação – com o objetivo de criar credibilidade
para comprometimentos incondicionais, ameaças e promessas.
• Faça uso de contratos – os contratos ajudam a dar credibilidade aos
comprometimentos, e impõem punições no caso de não cumprimento
de um compromisso assumido.
• Corte a comunicação – é uma maneira bem sucedida de dar credibi-
lidade aos comprometimentos, e a uma ação, um caráter verdadeira-
mente irreversível.
• Queimando as pontes atrás de você (Burning the Bridges Behind You) – a
ideia é eliminar as possibilidades de voltar atrás.
• Brinkmanship – trata-se de assediar e intimidar o adversário, expondo-o
e a si mesmo a um risco dividido, porém considerável.
Fonte: Dixit e Nalebuff (1991, apud AZEVEDO; CARVALHO; SILVA, 2002, p. 75).

Encerramos aqui mais uma unidade da disciplina de Economia Industrial. Desejo


bons estudos e nos vemos na próxima unidade!

BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS


121

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Encerramos mais uma unidade, agora sabendo que a diferença entre a con-
corrência real e a potencial é que a primeira se dá em função do número e do
tamanho relativo das empresas, enquanto a segunda se dá por meio da compe-
tição pelos lucros das empresas que já fazem parte da indústria com aquelas que
estão entrando no mercado.
O modelo de preço limite corresponde a uma das estratégias das indústrias
que estão estabelecidas no mercado de tentar barrar a entrada de novas empre-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sas. Elas podem fazer isso decidindo praticar preços que ficam acima do nível
competitivo, mas que não levem a lucros extraordinários no longo prazo, o que
tornaria o mercado atraente às novas empresas.
Elementos da estrutura das indústrias podem ser usados como barreiras à
entrada, como a vantagem absoluta de custos, quando os custos das empresas
entrantes são superiores aos daquelas que já fazem parte do mercado. Outro
elemento é a diferenciação de produtos, o que dá algum poder às empresas já
estabelecidas. E a existência de economias de escala, apesar de ser considerada
uma fonte fraca, também gera barreiras à entrada. Por último, a necessidade de
capital inicial, em que as empresas entrantes têm dificuldade quando o investi-
mento inicial é muito alto. Além de barreiras à entrada, existem também barreiras
à saída, que envolvem desde custos de quebra de contratos até a perda de inves-
timentos ou custos irrecuperáveis.
A teoria dos jogos lida com a interação estratégia e pode ser utilizada para
análise de comportamentos econômicos. Existem diversas possibilidades de estra-
tégias para os jogadores a depender da ocorrência das situações, da quantidade
de jogadas e do nível de informação. Pode haver, em determinados jogos, a exis-
tência de estratégias dominantes para ambos os jogadores sem importar o que o
outro faça. Finalmente, os jogadores também podem interferir nas decisões dos
adversários por meio de promessas ou ameaças, com as quais pretendem fazer
com o que o jogo se desenvolva lhe proporcionando vantagens.

Considerações Finais
122

1. A concorrência real é estudada pelos modelos tradicionais e a concorrência


potencial é estudada pelos clássicos. Diferencie uma da outra.
2. A entrada corresponde ao início da atuação de uma nova empresa no merca-
do, enquanto a saída corresponde ao encerramento das atividades e desati-
vação da capacidade produtiva. O que significa dizer que um mercado possui
barreiras à entrada ou barreiras à saída? Dê exemplos.
3. O preço limite pode ser praticado pelas empresas a depender do preço com-
petitivo de longo prazo e das condições de entrada no mercado. A respeito do
modelo de preço limite, avalie as seguintes afirmativas:
I. As empresas estabelecem preços acima do nível competitivo, o que possibi-
lita terem lucros extraordinários de forma permanente.
II. O preço escolhido pelas empresas fica acima do preço competitivo, mas as
empresas não obtêm o lucro máximo.
III. A prática do preço limite pode ser usada para barrar a entrada de novas
empresas no mercado.
IV. Quando o preço limite é praticado, o mercado deixa de ser atrativo para as
empresas entrantes.
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas II, III e IV estão corretas.
4. Um equilíbrio de Nash significa que temos um par de estratégias ótimas, quando
sendo revelada a escolha de um dos jogadores, nenhum deles irá desejar mudar o
seu comportamento. Apresente um exemplo de aplicação de um equilíbrio de Nash.
5. A teoria dos jogos envolve diversas situações de interações entre jogadores,
como são chamados os agentes econômicos e a utilização de estratégias. Assi-
nale a alternativa incorreta a respeito da teoria dos jogos:
a) A existência de uma estratégia dominante implica a existência de equilíbrio
no jogo.
b) Em um jogo com informação perfeitas, os “nós” de decisão de uma empresa
não podem ser distinguidos.
c) Em um jogo com informação imperfeitas, os jogadores têm dificuldades em
se comunicar.
d) As ameaças representam compromisso e dependem da credibilidade entre
os jogadores
123

A teoria dos jogos estuda diversas interações estratégicas entre os agentes econômicos,
que podem envolver muitas estratégias e muitos jogadores.
Na Tabela aseguir, podemos ver as características dos tipos de estratégias:
Tabela 01 - Características dos tipos de estratégias

TIPO DE ESTRATÉGIA PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS


São as estratégias que se originam em planos formais: formu-
ladas por uma liderança central, essas estratégias se carac-
Planejadas terizam por intenções precisas e são apoiadas por controles
formais para garantir uma implementação livre de surpresas.
São as mais deliberadas.
Essas estratégias têm origem na visão central de um único
Empreendedoras líder e são adaptáveis às novas oportunidades. Amplamente
deliberadas.
Originadas em crenças comuns, as intenções dessas estraté-
gias existem como visão coletiva de todos os agentes e são
Ideológicas
relativamente imutáveis. Controladas por meio da doutrina-
ção e/ou socialização. Mais deliberadas.
Originadas nas restrições, há controle parcial das ações
organizacionais. São definidos limites estratégicos dentro
Guarda-chuvas
dos quais outros agentes respondem às suas experiências ou
preferências. Deliberadamente emergentes.
Originadas no processo, a liderança os aspectos processuais e
Processos deixa os aspectos de conteúdo para outros agentes. Delibera-
damente emergentes.
Com origem em enclaves e empreendimentos, os agentes
ligados de maneira fraca ao restante da organização produ-
Desarticuladas
zem padrões em ações próprias e em ausências de intenções
centrais. Organizacionalmente emergentes.
Vindas do consenso, por meio do ajuste mútuo, os agentes
Consensos convergem sobre o padrões e há ausência de intenções co-
muns. Bastante emergentes.
Se originam no ambiente e ditam padrões em ações por meio
Impostas da imposição. Principalmente emergentes, mas podem se
tornar deliberadas.
Fonte: adaptado de Avila (2006).

O foco da estratégia deliberada é o controle, enquanto da estratégia emergente é o apren-


dizado. Segundo o autor, apesar da distinção entre uma e outra - estratégias deliberadas e
emergentes - a primeira tende a se tornar a segunda, pois quando a organização percebe
uma estratégia emergente, ela pode descartá-la ou incorporá-la à estratégia deliberada.
Fonte: Avila (2006).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Estratégia Competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência


Michael Porter
Editora: Elsevier
Sinopse: Estratégia competitiva transformou a teoria, a prática e o ensino
da estratégia em todo o mundo. A análise de Porter da indústria captura
a complexidade da competição na indústria com base em cinco forças
subjacentes. Ele introduz uma das mais importantes ferramentas competitivas
já desenvolvidas - as três estratégias genéricas - custo mais baixo, diferenciação
e foco, que estruturam a tarefa do posicionamento estratégico. O autor
demonstra como a vantagem competitiva pode ser definida em termos de
custo relativo e preços relativos, integrando-a, desse modo, diretamente à
lucratividade. Além disso, ele apresenta uma nova perspectiva em relação a
como o lucro é criado e dividido. As ideias apresentadas neste livro baseiam-
se nos fundamentos subjacentes à competição, independentemente das
especificidades relacionadas à forma como as empresas competem.

Teoria dos Jogos


Ronaldo Fiani
Editora: Elsevier
Sinopse: este livro busca difundir os conhecimentos de jogos para
todos aqueles que lidam com situação em que estratégias estão
presentes de modo importante em sua atividade profissional,
permitindo-os conhecer como a interação entre indivíduos ou
organizações, que agem estrategicamente de acordo com os
seus interesses, pode ser estudada objetivamente com métodos
matemáticos.

Uma Mente Brilhante (2002)


Sinopse: John Nash (Russell Crowe) é um gênio da matemática que,
aos 21 anos, formulou um teorema que provou sua genialidade e o
tornou aclamado no meio onde atuava. Mas aos poucos o belo e
arrogante Nash se transforma em um sofrido e atormentado homem,
que chega até mesmo a ser diagnosticado como esquizofrênico pelos
médicos que o tratam. Porém, após anos de luta para se recuperar, ele
consegue retornar à sociedade e acaba sendo premiado com o Nobel.
MATERIAL COMPLEMENTAR

A Estratégia do Jogo
Steve Bull
Editora: Campus
Sinopse: os desafios enfrentados por indivíduos e equipes em todos
os setores empresariais são parecidos. As pessoas são desafiadas
por longas horas de trabalho, mudanças constantes, adversidades
e obstáculos e, frequentemente, por uma pressão assustadora.
Confiança, clareza de pensamento e resiliência são pré-requisitos
para o sucesso e elementos que farão a diferença na hora de vencer.
Neste livro fácil e reflexivo, Steve Bull desenvolveu um modelo de
resistência mental para ser usado no coaching de executivos e
equipes corporativas. Testado na prática em uma grande variedade
de setores do Reino Unido, Estados Unidos e outros países, este
modelo servirá como o caminho mais curto até o sucesso.

O Jogo da Imitação (2015)


Sinopse: durante a Segunda Guerra Mundial, o governo britânico
monta uma equipe que tem por objetivo quebrar o Enigma, o
famoso código que os alemães usam para enviar mensagens
aos submarinos. Um de seus integrantes é Alan Turing (Benedict
Cumberbatch), um matemático de 27 anos estritamente lógico
e focado no trabalho, que tem problemas de relacionamento
com praticamente todos à sua volta. Não demora muito para que
Turing, apesar de sua intransigência, lidere a equipe. Seu grande
projeto é construir uma máquina que permita analisar todas as
possibilidades de codificação do Enigma em apenas 18 horas, de
forma que os ingleses conheçam as ordens enviadas antes que
elas sejam executadas. Entretanto, para que o projeto dê certo,
Turing terá que aprender a trabalhar em equipe e tem Joan Clarke
(Keira Knightley) como sua grande incentivadora.

Material Complementar
126
REFERÊNCIAS

AVILA, S. C. A teoria dos jogos em estratégia. Perspectivas Contemporâneas, v. 1,


n. 2, 2006.
AZEVEDO, G. M.; CARVALHO, H. F.; SILVA, J. F. Dissuasão de entrada, teoria dos jogos
e Michael Porter - Convergências teóricas, diferenças e aplicações à administração
estratégica. Caderno de pesquisas em Administração, São Paulo, v. 9, n. 3, jul./set.
2002. Disponível em: <http://www.guilhermeazevedo.com/public/dissuacaodeen-
tr.PDF>. Acesso em: 18 set. 2018.
BAIN, J. Barriers to New Competition. Cambridge: Harvard University Press, 1956.
DIAS, Henry Paulo. Teoria dos jogos. Global Manager - Faculdade da Serra Gaúcha,
Caxias do Sul, v. 4, n. 6, p. 49-56, 2004.
KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia Industrial: Elementos Teóricos e Práticas
no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2002.
LUCE, R. D.; RAIFFA, H. Games and Decisions. New York: Dover, 1989.
NASH, J. F. Essays on Game Theory. Cheltenham: Edward Elgar, 1996.
SEARLE, J. R. Os Actos de Fala. Tradução de Carlos Vogt. Coimbra: Almedina, 1984.
STIGLER, G. J. The Organization of Industry. Homewood: Richard D. Irwin, 1968.
127
GABARITO

1. A concorrência real é aquela que ocorre em função do número e do tamanho


relativo das empresas que formam uma determinada indústria. Enquanto a con-
corrência potencial acontece quando as empresas que já fazem parte da indús-
tria competem pelos lucros com as empresas entrantes, ou seja, aquelas que têm
potencial para entrar no mercado.
2. Barreiras à entrada significam que, de alguma forma, devido à falta de incenti-
vos, novas empresas estão impossibilitadas de entrar no mercado. Barreiras à
saída envolvem os custos que empresas incorrem ao sair do mercado.
3. d.
4. O dilema do prisioneiro é um exemplo de equilíbrio de Nash. Este dilema envol-
ve a decisão de dois prisioneiros, comparsas de um crime, de confessar o crime
e envolver o outro, ou negar o crime. Os dois prisioneiros eram interrogados
separadamente, logo um não sabia a decisão do outro. Se ambos negassem,
ambos passariam apenas um mês na prisão, e se ambos confessassem, ambos
passariam três meses na prisão. Se apenas um confessasse, ele seria libertado,
enquanto o outro passaria seis meses na prisão. O único equilíbrio de Nash, a
melhor decisão para cada prisioneiro, é confessar, pois independentemente do
que o outro jogador faça, estarão na escolha ótima.
5. b.
Professora Me. Marieli Vieira.

POLÍTICAS E REGULAÇÃO

V
UNIDADE
ECONÔMICA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar as características da política de defesa da concorrência.
■■ Discutir o conceito de monopólio natural e apresentar as várias
formas de regulação.
■■ Abordar tópicos sobre a política industrial.
■■ Expor razões e instrumentos de política ambiental.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Defesa da concorrência
■■ Regulação econômica
■■ Política industrial
■■ Política ambiental
131

INTRODUÇÃO

Esta é a última unidade da disciplina e, nela, vamos saber mais sobre as políti-
cas e a regulação dos mercados.
Iniciamos a unidade com a defesa da concorrência, política que tem o obje-
tivo de garantir a existência de condições de competição nos mercados, fazendo,
dessa forma com que exista uma maior eficiência econômica no funcionamento
dos mercados.
A defesa da concorrência não busca eliminar a existência de poder de mer-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

cado, mas sim, limitar o poder abusivo que a existência deste causa, podendo
ser implementada de duas formas: voltadas às condutas das empresas e voltadas
ao caráter estrutural dos mercados.
Dando prosseguimento ao conteúdo, veremos a regulação econômica, que
pode ser definida como as ações do governo que têm intenção de limitar as esco-
lhas dos agentes econômicos. Nos casos de necessidade de regulação econômica,
o governo atua por meio de agente reguladores, que são responsáveis pelos dife-
rentes setores da economia. A regulação vai além do estabelecimento de tarifas,
se estende também à regulação de quantidades, qualidade, segurança do traba-
lho e outros. Nossa preocupação, neste tópico, será com a regulação de preços.
No terceiro tópico, iremos falar sobre a utilização da política industrial. Há
um forte debate entre as diferentes correntes teóricas a respeito da utilização da
intervenção para promover as atividades econômicas. Porém, desconsiderando as
questões ideológicas, o objetivo da política industrial é promover a atividade pro-
dutiva, tentando levar o país em questão a um nível elevado de desenvolvimento.
Finalmente, veremos como se desenvolveu a política ambiental. Política esta
que influencia as demais políticas econômicas e que tem crescido em importân-
cia, principalmente quando se fala em países industrializados. Cada país possui
uma realidade ambiental diferente e diferentes problemas, o que faz com que as
medidas adotadas sejam específicas, mas veremos que também existem aspec-
tos comuns.

Introdução
132 UNIDADE V

DEFESA DA CONCORRÊNCIA

A política de defesa da concorrência tem o objetivo de prevenir o mercado e


os consumidores das ineficiências causadas pela prática do poder abusivo de
mercado. O poder de mercado não é considerado ilegal, apenas limitado o seu
exercício abusivo (KUPFER; HASENCLEVER, 2002).
A defesa da concorrência pode ser implementada de duas formas: voltada
às condutas e voltada ao caráter estrutural. Quando voltada à conduta, são apli-
cadas punições às práticas anticompetitivas, de forma que essas restrições do

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
processo concorrencial punem por meio de caráter repressivo. Já as práticas vol-
tadas ao caráter estrutural evitam a concentração do domínio de mercado, por
meio da prevenção dos atos de concentração.
Essas duas formas de defesa da concorrência atingem a natureza horizon-
tal e vertical, ou seja, as práticas envolvem empresas de mesmo segmento, que
envolvem as empresas dos produtos e as dos seus insumos.
A defesa da concorrência busca canalizar as forças de mercado e as estraté-
gias das empresas, para evitar que o processo concorrencial seja restringido por
agentes que têm esse poder. Isso significa que não age nos resultados, mas sim,
nos meios, e é representada pela política antitruste, que busca reprimir práticas
que interfiram no processo de concorrência, e as imposições geradas por ela são
em forma de abstenções.
A política busca defender a concorrência e não os concorrentes ou os consu-
midores de maneira direta. Este é um fato importante para deixar claro que atos de
repressão à Concorrência Desleal e de Defesa da Concorrência
estão em âmbitos de incidência

POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA


133

diversa. A defesa da concorrência tem o propósito principal de melhorar as


condições de bem-estar da sociedade como um todo.
A análise antitruste gira em torno do poder de mercado e dos danos que
podem ser causados pelos detentores desse poder. Para identificar a existência
do mercado, primeiramente, é necessária a delimitação do mercado e da aná-
lise das condições deste.

MERCADO RELEVANTE
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Para análise antitruste e verificação da concentração de mercado, é essencial a


delimitação do mercado relevante. Definição esta que deve ser feita caso a caso, iden-
tificando os mercados (produto e/ou região) em que atuam os agentes envolvidos.
A delimitação é feita por aproximações sucessivas e são avaliadas as reações
da demanda, verificando as condições de mercado que tornam provável ou não o
exercício do poder de mercado. É verificada a existência de fatores que causam efi-
ciências e efeitos anticompetitivos. Se forem identificados os dois, somente serão
tomadas atitudes de proibição da conduta se os efeitos competitivos forem maiores.
A existência de eficiências que compensam os efeitos líquidos devem ser
analisadas caso a caso, pois o que importa em cada caso são os efeitos líquidos.
Essa abordagem é chamada de princípio da razoabilidade (rule of reason), prove-
niente da jurisprudência americana. Como a lei busca reprimir as ineficiências,
ela não será utilizada em casos em que as condutas gerem ganhos de eficiên-
cia, e se o fizer, pode causar ineficiências maiores do que as que busca combater.
A análise da eficiência deve observar:
■■ A existência do risco de prejuízo à competição, provocada por alguma
conduta. Se o risco não for verificado, a análise deve ser interrompida.
■■ As eficiências que podem ser compensatórias devem ser decorrentes tam-
bém das condutas e não de outras fontes.
■■ Devem ser comprovadas que essas eficiências não seriam alcançadas
de outra forma senão por meio das condutas que afetam o processo
concorrencial.

Defesa da Concorrência
134 UNIDADE V

Quanto às condutas anticompetitivas, costuma-se dividi-las em horizontais e verticais.


As horizontais afetam o processo concorrencial em um mesmo mercado, enquanto
as verticais afetam compradores e vendedores ao longo da cadeia produtiva.

Horizontais

As práticas anticompetitivas horizontais envolvem acordos ou concorrência


predatória entre concorrentes, buscando aumentar o poder de mercado. A prá-
tica de preços predatórios envolve o estabelecimento de preços abaixo do custo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
médio variável, visando a praticar preços próximos aos níveis de monopólio.
Os acordos com efeitos anticompetitivos entre concorrentes podem ser:
Cartéis: estabelecimento de preços, quotas de produção e distribuição e divi-
são territorial, nos quais, geralmente, não existem benefícios compensatórios.
Outros acordos: que envolvem apenas parte do mercado ou são temporários.
Acordos de associações profissionais: é feito o tabelamento de preços limi-
tando a concorrência entre profissionais.

Verticais

Entre as condutas anticompetitivas verticais estão:


Fixação de preços de revenda: quando o produtor estabelece preços que deve-
rão ser praticados pelos distribuidores e revendedores dos seus produtos.
Restrições territoriais e da base de clientes: quando o produtor limita a
área de distribuição e revenda dos seus produtos.
Acordos de exclusividade: envolvem a proibição, por parte do produtor,
de os distribuidores e revendedores comercializarem outros produtos
que não os seus.
Recusa de venda/negociação: quando o fornecedor estabelece condições
de negócio para viabilizar os acordos de exclusividade ou a fixação dos
preços de revenda.
Venda casada: na tentativa de alavancar o poder de mercado, a prática da
venda casada consiste na vinculação de venda de produtos, fazendo com

POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA


135

que o comprador seja forçado a adquirir um produto que não deseja jun-
tamente com aquele que está comprando.
Discriminação de preços: prática de preços diferenciados do mesmo pro-
duto para diferentes compradores.

Para definição do produto ou região em que possa ser exercido o poder de mer-
cado, utiliza-se as elasticidades-preço da demanda e as elasticidades-preço da oferta.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O texto de Pondé, Fagundes e Possas (1997), de título “Custos de Transação e Polí-


tica de Defesa da Concorrência” busca relacionar a teoria dos custos de transação
às políticas de defesa da concorrência . Para saber mais sobre as áreas de defesa
da concorrência e os custos de transação, acesse o texto no endereço eletrôni-
co disponível em: <https://www.researchgate.net/profile/Mario_Possas/publica-
tion/255592600_CUSTOS_DE_TRANSACAO_E_POLITICA_DE_DEFESA_DA_CON-
CORRENCIA/links/0f31753b5a45d9dd5b000000.pdf.>.
Fonte: a autora.

Os principais ganhos de eficiência causados em atos de concentração de mer-


cado são as economias de escala ou escopo, as economias da racionalização e
especialização, a utilização do aumento da capacidade, economias em pesquisa
e desenvolvimento, tecnologias e eficiência dinâmicas, economias dos custos de
transação.
Exemplos desses atos são:
■■ Quando os concorrentes reais e potenciais se unem para aproveitar econo-
mias de escala, baixando os custos e, possivelmente, aumentando os lucros.
■■ Quando concorrentes potenciais se unem para desenvolver um novo pro-
duto e diminuir os gastos em P&D, porém, isto pode retardar a introdução
desse produto no mercado.
■■ Quando concorrentes multiproduto se especializam, fornecendo um ao
outro os insumos. Reduzem os custos, porém, eliminam a concorrência
em qualidade de preços.

Defesa da Concorrência
136 UNIDADE V

REGULAÇÃO ECONÔMICA

A regulação econômica envolve qualquer ação do governo buscando limitar a


liberdade de escolha dos agentes econômicos, desde regulação de preços, até a
regulação de quantidades, de qualidade, da segurança do trabalho e várias outras
formas de intervenção. Porém, neste capítulo, vamos nos concentrar na regula-
ção de preços e um pouco a respeito da regulação de qualidade.
O que se espera é que, em uma economia em concorrência perfeita, o mer-
cado forneça estímulos que tornem desnecessária a intervenção do governo.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Porém, existem algumas situações em que o mercado não é capaz de direcionar
a uma alocação eficiente dos recursos, na qual os custos de oportunidade são
minimizados. Uma dessas situações é a presença de externalidades.
As externalidades existem quando os benefícios sociais superam os benefí-
cios que a empresa tem com a produção, ou quando os custos sociais superam
os custos que as empresas têm. Essa situação costuma levar à produção insufi-
ciente no primeiro caso e à produção de quantidade excessiva no segundo caso.
Quando da existência do monopólio natural de um único produto, os custos
são menores em um a empresa do que em duas para uma quantidade x, proprie-
dade conhecida como subaditividade:

Ca  x*   Cb  x1   Cc  x2 

Esta proposição nos diz exatamente que é mais barato (C representa os


custos menores) produzir uma quantidade x em apenas uma unidade
(a) que dividir essa produção entre duas unidades (b e
c), e a condição para isso é de que existam economias
de escala, no caso de um único produto.
No caso de múltiplos produtos, a condição de suba-
ditividade continua a mesma:
Ca  Qx , Qy   Cb  Qx , 0   Cc  0, Qy 

Esta proposição nos diz que é mais barato produzir


uma quantidade de cada produto em uma única empresa

POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA


137

do que produzir a mesma quantidade dos dois produtos, um em cada empresa


diferente. Nesse, caso não são mais as economias de escala que são importantes,
mas as economias de escopo, pois, caso não exista economia de escopo, mesmo
que se tenha economias de escala em cada produto isoladamente, a proposição
não será verdadeira. Caso só existam de escopo, a proposição será verdadeira.

FORMAS DE REGULAÇÃO DE PREÇOS


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Aqui, veremos algumas formas de regular os preços:


■■ Regulação por taxa de retorno
Aqui, o regulador estabelece tarifas para cada tipo de produto ou serviço
da empresa, de forma a garantir uma taxa de retorno que assegure o pros-
seguimento das atividades.
Este método, por ser complexo e apresentar algumas dificuldades, é ade-
quado apenas quando custos e demanda não variem muito dentro de um
período curto de tempo, ou seja, quando custos e demanda são relativa-
mente estáveis. Além de envolver vários itens de difícil determinação e
não incentivar a eficiência.
Ao estabelecer uma taxa de retorno acima do valor de mercado, a agên-
cia reguladora torna o capital mais barato, de forma que substituirá o
trabalho e, assim, será empregada uma quantidade excessiva de capital,
resultando na alocação ineficiente de recursos.
■■ Preço-teto (price cap)
Esta forma de regulação consiste em estabelecer um limite superior de
preços, de forma que a empresa regulada não possa passar destes limite.
O limite de preços pode ser atribuído para cada preço individualmente ou
para a média de preços dos serviços fornecidos pela indústria regulada.
Espera-se que um teto de preços favoreça setores que tenham a facilidade
na inovação tecnológica.

Regulação Econômica
138 UNIDADE V

■■ Regra de Preço eficiente


A efficient component-pricing rule, ou mesmo RCPE, é utilizada em casos
em que uma empresa precise utilizar a infraestrutura de uma rival ou que
hajam problemas de interconexão.
Caso a única maneira de chegar a determinados consumidores envolva,
por exemplo, utilizar a estrutura da rival, tendo que pagar um preço de
acesso. Esta regra, se aplicada, permite que as empresas mais eficientes
permaneçam no mercado, desde que o preço final tenha sido estabele-
cido em bases competitivas. A eficiência dessa regra depende da fixação

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dos preços em níveis concorrenciais.
■■ Regra de Ramsey
Aqui, os preços dos produtos ou serviços são estabelecidos de forma a mini-
mizar as perdas dos consumidores, geradas pela necessidade do monopolista
em cobrir os seus custos totais. Uma das soluções para o monopólio multi-
produto, a Regra de Ramsey é uma maneira de maximizar o bem-estar da
sociedade dada a restrição do lucro econômico do monopolista ser nulo.
■■ Tarifa em duas partes
A two-part tariff é calculada por meio de uma taxa fixa para o rendimento
total, independentemente da venda, e uma taxa por unidade efetivamente
utilizada.

REGULAÇÃO NA PRÁTICA

Dado o surgimento de inúmeras empresas que passaram a se utilizar do mono-


pólio natural e da integração de vertical das diversas etapas da cadeia produtiva,
passou a ser necessário o poder regulatório. A partir dos anos 30, os Estados
Unidos e vários países europeus deram início à utilização dos instrumentos de
regulação, que variavam de país para país.

POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA


139

Nos anos de 1980, foram realizadas algumas reformas que deram início a
uma nova fase de regulação, ocasionadas pelas diversas mudanças organizacio-
nais que vinham ocorrendo nos segmentos das indústrias.
Foram criados novos órgãos de regulamentação setorial, muito mais complexos,
que passaram a regular a indústria conforme algumas missões de regulação, como:
■■ Supervisão do poder de mercado e das práticas anticompetitivas.
■■ Organização dos novos competidores e promoção da competição.
■■ Implantar um novo modo de organização industrial.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■■ Defender as regras e administrar os conflitos.


■■ Complementar o processo de regulamentação.
■■ Estimular a eficiência e a inovação.

No Brasil, a regulamentação seguiu os mesmos princípios das experiências


internacionais. Direcionadas pela dificuldade de financiamento das empresas
governamentais, os capitais privados eliminam os gargalos de crescimento desse
setor. As reformas, em nosso país, foram mais visíveis quando da criação das
agências reguladoras da eletricidade, telecomunicações, petróleo e gás:
■■ Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) - criada pela Lei 9.427/1996,
que enquanto agência federal de regulação do setor, tem o objetivo regular
e fiscalizar as atividades de geração, transmissão, distribuição e comer-
cialização de energia elétrica.
■■ Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) - criada pela Lei
9.472/1997, reguladora dos serviços de telecomunicações, incluindo a
telefonia fixa e celular.
■■ Agência Nacional do Petróleo (ANP) - criada pela Lei 9.478/1997, regula-
dora das atividades das indústria de petróleo e gás natural. Diferentemente
da ANEEL e ANATEL, a ANP não exerce a regulação de preços (JÚNIOR,
2014, on-line)1.

Regulação Econômica
140 UNIDADE V

A agências reguladoras são autarquias autônomas que fazem parte da es-


trutura administrativa do Estado. Podemos saber mais sobre a sua origem
e criação no endereço eletrônico disponível em: <https://jus.com.br/arti-
gos/26712/agencias-reguladoras.>.
Fonte: a autora.

Temos, ainda, outras agências reguladoras brasileiras: Agência Nacional de Aviação

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Civil (ANAC), Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Agência Nacional de
Transportes Aquaviários (ANTAQ), Agência Nacional do Cinema (Ancine). Agência
Nacional de Transporte Terrestres (Antt), Agência Reguladora de Águas, Energia e
Saneamento do Distrito Federal (Adasa), Agência Nacional de Águas (ANA), Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

POLÍTICA INDUSTRIAL

A política industrial procura promover a atividade econômica, para que se desenvolva


e chegue a estágios superiores de desenvolvimento em um determinado espaço nacio-
nal. Conceitualmente, conforme Kupfer e Hasenclever (2002 S. P.), corresponde ao:
conjunto de incentivos e regulações associadas a ações públicas, que
podem afetar a alocação inter e intra-industrial de recursos, influen-
ciando a estrutura produtiva e patrimonial, a conduta e o desempenho
dos agentes econômicos em um determinado espaço nacional.

Os questionamentos a respeito das relações entre o Estado e o mercado surgem


quando o setor privado apresenta deficiências na alocação eficiente dos recursos
escassos, assim como as necessidades de desenvolvimento de uma nação quanto
à riqueza, à eficiência e ao conhecimento. Sendo que a intervenção deve ser coe-
rente como o estágio de desenvolvimento.

POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA


141
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

POLÍTICA INDUSTRIAL PELA ÓTICA DAS FALHAS DE MERCADO

Segundo a visão neoclássica, a livre mobilidade dos fatores nos mercados compe-
titivos faz com que a política industrial, além de desnecessária, seja considerada
indesejada. A intervenção do governo seria necessária somente se o mecanismo de
preços não fosse capaz de captar os benefícios e custos de oportunidade associados
à produção e ao consumo de bens, ou seja, quando ocorrem as falhas de mercado.
Somente em casos de falhas de mercado é que os custos da intervenção
pública seriam inferiores aos benefícios produzidos. Podemos citar cinco prin-
cipais falhas de mercado:
■■ Estruturas ou condutas não competitivas: estruturas como monopólio e
oligopólio, que são decorrentes das economias de escala. Como as estrutu-
ras atuais de mercado são oligopolizadas, a política industrial toma lugar
por meio da regulação do poder de mercado das grandes empresas, bus-
cando evitar a perda de bem-estar da sociedade.
■■ Externalidades: ocorrem quando as decisões dos agentes influenciam nega-
tivamente ou positivamente outros agentes. Podemos citar o exemplo da

Política Industrial
142 UNIDADE V

poluição como externalidade negativa. Uma empresa pode produzir polui-


ção juntamente com seus produtos, o que vai afetar outro setor, causando a
ineficiência dos recursos, pois a produção do setor afetado poderá diminuir.
■■ Bens públicos: as falhas de mercado podem envolver também o forne-
cimento de bens públicos. Os bens públicos possuem as características
de não-exclusividade e não-rivalidade, que significam, respectivamente,
que o uso do bem público não pode ser atribuído exclusivamente a um
único agente econômico; e que o fato de um consumidor a mais se utili-
zar do bem público não vai alterar o seu custo. Essas duas características
dão margem ao comportamento oportunista denominado free rider, no

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
qual há possibilidade de usar em pagar.
■■ Bens de propriedade comum: da mesma forma, os bens de propriedade
comum estimulam comportamentos oportunistas, pois, como não são
apropriados de maneira individual, as pessoas podem ser incentivadas à
falta de cuidado.
■■ Diferenças entre preferências intertemporais privadas e públicas: exis-
tem quando os agentes privados divergem na opinião de consumir um
bem agora ou no futuro.

Segundo a perspectiva ortodoxa, a política industrial somente seria utilizada


para correção, buscando diminuir os impactos das falhas de mercado.

POLÍTICA INDUSTRIAL PELA ÓTICA DESENVOLVIMENTISTA

Esta corrente defende a atuação do mercado não somente em situações correti-


vas, mas também como um elemento ativo. Em seu entendimento, a intervenção
pode ser utilizada de maneira a promover e apoiar a indústria nascente, promo-
vendo e sustentando, assim, o desenvolvimento.
A intervenção do Estado, buscando o desenvolvimento das forças produti-
vas por meio da proteção da indústria, segue duas premissas básicas: os custos
de produção altos, inicialmente, tendem a se reduzir conforme é adquirido o
aprendizado e, com a diminuição desta desvantagem, a proteção seria temporária.

POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA


143

Os desenvolvimentistas destacam a importância do capital intelectual e do


learning by doing para a obtenção de um processo de emparelhamento (catchin-
g-up) aos líderes internacionais.
O desafio dessa corrente é a capacidade do Estado em evoluir sua forma de
intervenção, adaptando-se às mudanças da indústria, visto que, com o passar
do tempo, a indústria amadurece e a intervenção deve ser diminuída para que
sejam predominantes as decisões privadas.

Política Industrial pela Ótica da Competência para Inovar


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Nesta ótica, são destacadas as relações entre estrutura de mercado, estratégia


empresarial e progresso técnico. Sob este ponto de vista, é rejeitada a ideia de equi-
líbrio de mercado, informação perfeita e racionalidade dos agentes. Acredita-se
que a competição é o principal movimentador das interações estratégicas e da
rivalidade entre os agentes.
Para entendermos essa abordagem, existem quatro conceitos-chaves:
■■ A competição es dá por meio da inovação tecnológica.
■■ São obtidas vantagens no aprendizado por meio das interações entre os
agentes econômicos.
■■ São definidas estratégias a serem seguidas e os recursos são alocados nas
capacitações tecnológicas, as quais buscam eficiência e diferenciação dos
produtos.
■■ O ambiente e o processo seletivo são importantes, pois neles as melho-
res práticas se tornam referência e direcionam a conduta dos agentes
econômicos.

A argumentação de origem schumpeteriana parte do processo da concorrên-


cia pela inovação, que, devido à presença de incertezas, dá espaço à intervenção
pública. Nesse sentido, a política industrial e tecnológica dá espaço à política
de inovação.
A intervenção envolve importantes investimentos e orientação das ações
voltadas às instituições que compõem o sistema inovativo local ou nacional:
científicas, tecnológicas e de recursos humanos.

Política Industrial
144 UNIDADE V

POLÍTICA INDUSTRIAL NA PRÁTICA

As políticas industriais podem ser chamadas de horizontais (ou funcionais),


quando são pautadas no alcance global e podem ser verticais (ou seletivas),
quando buscam fomentar as indústrias e cadeias produtivas. As políticas indus-
triais horizontais podem ser executadas por meio de instrumentos de:
■■ Repressão das condutas anticompetitivas e controle dos atos de concen-
tração dos mercados.
■■ Privatizações e controle de preços.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ Utilização de política tarifária e não tarifária, para prevenir a concorrên-
cia desleal.
■■ Propriedade intelectual - marcas, patentes e transferência de tecnologias.
As políticas industriais horizontais podem ser executadas por incentivos de:
■■ Inovação, por meio da promoção da Pesquisa e Desenvolvimento.
■■ Ao capital, por meio de estímulos ao financiamento e às exportações e
financiamento de importações.
■■ Fiscais, para a promoção das atividades industriais.
■■ Compras de governo, privilegiando produtores locais.

As políticas industriais verticais privilegiam uma indústria específica. Portanto, o


Estado mobiliza alguns dos instrumentos anteriormente citados, de forma a foca-
lizar em um conjunto de empresas. Comumente, são direcionadas à indústrias que
causam um grande incremento da renda, que concentram grande quantidade de
trabalhadores (o que geraria mais renda), indústrias com grande poder de enca-
deamento e também indústrias nascentes ou que apresentem retornos de escala.

POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA


145

A respeito dos problemas de implementação das políticas industriais e tec-


nológicas de países que tentam alcançar economias líderes, acesse o traba-
lho de Suzigan e Furtado (2010) disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
ee/v40n1/v40n1a01.pdf>.
Fonte: a autora.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Os países costumam adotar políticas horizontais e verticais simultaneamente,


embora a tendência para uma ou outra se altere ao longo do tempo, conforme
as condições da economia do país.

POLÍTICA AMBIENTAL

Estas políticas aplicadas pelo governo buscam reduzir os impactos ambientais


causados pelo homem e têm sido, cada vez mais frequente, devido ao aumento
da sua importância, principalmente nos países industrializados.
Cada país tem seus instrumentos de política ambiental específicos, que são
necessários para fazer com que os agentes econômicos adotem atitudes menos
agressivas ao meio ambiente, reduzindo a emissão de poluição e a degradação
dos recursos naturais.
A produção industrial intensiva gera rejeitos em grande quantidade, os quais
a natureza não tem dado conta de absorver. Essa poluição causa efeitos negativos
ao bem-estar da população, afetando a qualidade dos recursos naturais e a har-
monia dos ecossistemas, sem contar que, tendo uma qualidade de vida menor,
a população acaba por ocasionar aumentos dos gastos com saúde por parte do
governo. A poluição industrial está associada à especialização da economia e à
escala de produção. Quanto maior a escala de produção, maiores são as emis-
sões de poluentes.

Política Ambiental
146 UNIDADE V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A legislação ambiental passou a evoluir a partir do século XX, de forma que as
políticas ambientais são bastante recentes. Devido ao rápido processo de indus-
trialização, à falta de estrutura, à acumulação de poluentes e resíduos se deu a
necessidade da intervenção buscando regular a conduta dos agentes.

SOLUÇÕES ECONÔMICAS

Uma das soluções econômicas para os problemas ambientais é a livre nego-


ciação, na qual poluidores e vítimas da poluição negociam uma quantidade de
poluição aceitável.
Ronald Coase argumenta que a solução para os problemas da poluição pode ser
a livre negociação entre os envolvidos, que chegariam a um consenso, resultando
em uma solução ótima. A hipótese básica é que quanto maior a redução da polui-
ção, maior será o custo marginal de abatê-la. Porém, essa negociação, muitas vezes,
não é possível, pois não há como reunir muitas vítimas e muitos poluidores, além
do fato de que não existe a definição dos direitos de propriedade sobre o ambiente.
A livre negociação só é possível em casos particulares, devido ao alto custo
da transação, que talvez não compense os ganhos obtidos; aos problemas ambien-
tais afetarem bens que não têm direito de propriedade definidos; aos problemas
ambientais, muitas vezes, afetarem gerações futuras e não haver um consenso a
respeito de quem irá negociar em nome delas.

POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA


147

INSTRUMENTOS DE POLÍTICA AMBIENTAL

Com o intuito de internalizar as externalidades ambientais, os instrumentos de


política ambiental podem ser divididos entre instrumentos de comando-e-con-
trole, instrumentos econômicos e instrumentos de comunicação.
Os instrumentos de comando-e-controle, ou de regulação direta, compreen-
dem controles de produtos e processos ou restrições de atividades, especificações
tecnológicas, controle do uso de recursos naturais e padrões de poluição para fon-
tes específicas. Esses instrumentos são o controle direto sobre os locais que estão
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

emitindo poluentes e é necessária uma fiscalização contínua por parte dos órgãos
reguladores. Envolvem a exigência da utilização de filtros nas chaminés indus-
triais, por exemplo, ou, ainda, a fixação de cotas para extração de recursos naturais.

Quais questões você acha que estão envolvidas quando se fala na falsa cren-
ça de que a miséria das pessoas favorece e estimula a degradação ambiental?

Os instrumentos econômicos são também chamados de instrumentos de mer-


cado, visam a internalização das externalidades e possuem algumas vantagens
em relação aos instrumentos de regulação direta:
■■ Permitem a geração de receitas fiscais e tarifárias, por meio das cobran-
ças dos órgãos reguladores.
■■ Alocam, de maneira mais eficiente, os recursos econômicos à disposição
da sociedade, portanto, os custos econômicos à sociedade são menores.
■■ Possibilitam o estímulo de tecnologias menos intensivas em bens e ser-
viços ambientais por meio da redução da despesa fiscal.
■■ Atuam no início do processo de uso desses bens e serviços.
■■ Evitam despesas judiciais para aplicação das penalidades.
■■ Utilizam taxação progressiva à capacidade de pagamento dos agentes.

Política Ambiental
148 UNIDADE V

São exemplos desses instrumentos os empréstimos com taxas menores para agen-
tes que queiram melhorar o seu desempenho ambiental, por exemplo.
Ovs instrumentos de comunicação são utilizados por meio da conscientização
dos agentes sobre os diversos impactos ambientais das suas ações, incentivando a
busca de soluções. São exemplos a educação ambiental e a divulgação dos bene-
fícios para as empresas que respeitam o meio ambiente.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Sousa (2005), em seu trabalho, apresenta a evolução da política ambiental
brasileira no século XX e como ela se desenvolveu, considerando marcos im-
portantes em todo o mundo. Acesse o artigo no link disponível em: <http://
www.geoplan.net.br/material_didatico/A%20evolução%20da%20políti-
ca%20ambiental%20no%20Brasil%20do%20século%20XX.pdf>.
Fonte: a autora.

O comércio internacional, quanto aos problemas ambientais, causa danos devido


ao uso dos produtos e devido aos processos de produção utilizados, que podem ser:
■■ Poluição que cruza as fronteiras com outros países, afetando-os
negativamente.
■■ Prejuízos causados às espécies migratórias, que são recursos comuns e
podem estar ameaçados de extinção.
■■ Quando a poluição afeta os recursos comuns a todos os países, prejudi-
cando o meio ambiente global.
■■ Quando os danos ambientais ultrapassam os limites geográficos do país,
causando preocupação com o meio ambiente local.
Para diminuir esses problemas, alguns países podem se utilizar da imposição de
barreiras verdes, nas quais eles restringem as exportações e, consequentemente,
a produção, a renda e o emprego.

POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA


149

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo, aprendemos que a defesa da concorrência pode ser implemen-


tada por meio das condutas, punindo práticas anticompetitivas, e também, por
meio de práticas voltadas ao caráter estrutural, as quais evitam a concentração
de mercado. A política de defesa da concorrência busca defender a concorrên-
cia, evitando danos que podem ser causados aos agentes econômicos em caso da
existência de poder de mercado, levando ao aumento do bem-estar da sociedade.
As condutas anticompetitivas que são combatidas pela defesa da concor-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

rência são divididas em horizontais e verticais. As horizontais correspondem


a práticas de acordos entre concorrentes para aumentar o poder de mercado.
Enquanto as verticais envolvem práticas entre compradores e vendedores ao
longo da cadeia produtiva.
As regulações econômicas de preços feitas pelo governo podem ser de várias
formas: por meio da fixação de tarifas que garantem uma taxa de retorno às empre-
sas; da fixação de um limite superior de preços; utilização do preço eficiente;
estabelecimento de preços de maneira a minimizar as perdas dos consumidores
e a utilização da tarifa em duas partes.
No terceiro tópico, abordamos a função da política industrial na atividade
econômica. Vimos que os neoclássicos acreditam ser desnecessária a interven-
ção do governo por meio da política industrial, a não ser em casos de falhas de
mercado. Os desenvolvimentistas defendem a intervenção como um elemento
ativo, levando as indústrias ao desenvolvimento e se reduzindo com o passar do
tempo. Enquanto os schumpeterianos acreditam que a concorrência se dá pela
inovação e que a política industrial dá espaço à política de inovação.
Finalmente, vimos que cada país adota instrumentos de política ambien-
tal específicos aos seus problemas, buscando reduzir a poluição e a degradação
dos recursos naturais. Apesar da legislação ambiental ser recente, existem vários
instrumentos de política ambiental que buscam internalizar as externalidades
ambientais.

Considerações Finais
150

1. A lei antitruste de defesa da concorrência reprime o abuso do poder e a elimina-


ção da concorrência, buscando combater condutas que interfiram na ordem eco-
nômica. Assinale a alternativa que não corresponde às práticas anticompetitivas.
a) A proibição, nos cinemas, de entrar com alimentos de fora do estabeleci-
mento, de forma que caso você deseje consumir algo, precise adquirir nos
guichês do estabelecimento.
b) Compra de um refrigerante pelo consumidor na conveniência de um posto
onde realizou o abastecimento de seu carro.
c) Lanchonetes que atrelam à venda de lanches infantis ao recebimento de
brinquedos.
d) Financiamento habitacional que deve ser vinculado a seguro adquirido na
mesma unidade financiadora.
e) Compras de passagens vinculadas à contratação de hotel e serviços de pas-
seio pelas agências de viagens.
2. Em que momento se deu o aumento da preocupação com o meio ambiente e
quais os instrumentos econômicos utilizados para a diminuição dos problemas
ambientais?
3. A política industrial, pela ótica das falhas de mercado, diz respeito à interven-
ção do Estado no mercado. Fale sobre a visão neoclássica quanto à política
industrial.
4. A abordagem chamada de princípio da razoabilidade (rule of reason) teve ori-
gem na jurisprudência americana. O que ela nos diz a respeito da eficiência e
da ineficiência?
5. A regulação de preços envolve a intervenção do governo de maneira a limitar
as escolhas dos agentes econômicos. Quais são as formas utilizadas pelo go-
verno nesse tipo de intervenção?
151

As Agências Reguladoras fiscalizam os serviços públicos que são oferecidos pela iniciati-
va privada em determinados setores da economia.
A Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária - é uma das agências reguladoras que
atua como forma de autarquia do governo e é vinculada ao Ministério da Saúde.
Essa agência reguladora atua na regulamentação, no registro e nas autorizações, na
fiscalização e no monitoramento de agrotóxicos, alimentos, cosméticos, medicamentos,
entre outros itens os quais é necessário o controle sanitário.
No assunto agrotóxicos, a agência desenvolve o Programa de Análise de Resíduos de
Agrotóxicos em Alimentos (PARA), iniciado em 2001, buscando avaliar, de forma contí-
nua, os níveis de resíduos de agrotóxicos nos alimentos vegetais consumidos, indicando
a ocorrência de resíduos de agrotóxicos em alimentos (ANVISA, [2018], on-line)2.
Quanto aos cosméticos, um exemplo são as orientações sobre alisantes de cabelos. A es-
Tes se recomenda, devido à existência de substâncias que são irritantes para a pele, que
sejam obrigatoriamente registrados na Anvisa, e é feita, ainda, a recomendação de que
substâncias como formol e glutaraldeído não são permitidos como alisantes (ANVISA,
[2018], on-line)2.
A agência atua também na realização de pesquisa, como em relação aos medicamentoS
genéricos, como a explicação contida no trecho a seguir:
O medicamento genérico é aquele que contém o(s) mesmo(s) princípio(s)
ativo(s), na mesma dose e forma farmacêutica, é administrado pela mes-
ma via e com a mesma posologia e indicação terapêutica do medicamen-
to de referência, apresentando eficácia e segurança equivalentes à do me-
dicamento de referência e podendo, com este, ser intercambiável.
A intercambialidade, ou seja, a segura substituição do medicamento de
referência pelo seu genérico, é assegurada por testes de equivalência tera-
pêutica, que incluem comparação in vitro, através dos estudos de equiva-
lência farmacêutica e in vivo, com os estudos de bioequivalência apresen-
tados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, [2018], on-line)4.
No site da Anvisa, também são disponibilizados, além de serviços às empresas e aos pro-
fissionais de saúde, serviços aos consumidores de grande utilidade, como: consulta de
drogarias e farmácias, consulta de produtos que são irregulares, consulta de empresas
autorizadas e registro de produtos, entre outras informações de medicamentos.
Fonte: a autora.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Política Industrial
Maria Tereza Leme Fleury e Afonso Fleury (Organizadores)
Editora: Publifolha
Sinopse: a obra traz artigos que discutem em profundidade
aspectos importantes da política industrial brasileira, analisando
as ações do passado e lançando propostas para o futuro. Os
autores deste volume debatem, entre outros temas, critérios e
eixos para a formulação de uma política industrial no Brasil e o
alinhamento dessa política com os diferentes arranjos produtivos.
O livro é organizado pelos professores Afonso Fleury e Maria
Tereza Fleury, ambos da Universidade de São Paulo (USP).

A Última Hora (2007)


Sinopse: Causadas pela própria humanidade, enchentes, furacões
e uma série de tragédias assolam o planeta cotidianamente. O
documentário mostra como a Terra chegou a este ponto: de que
forma o ecossistema tem sido destruído e, principalmente, o
que é possível fazer para reverter este quadro. Entrevistas com
mais de 50 renomados cientistas, pensadores e líderes ajudam a
esclarecer estas importantes questões e a indicar as alternativas
ainda possíveis.

A lei antitruste busca punir práticas anticompetitivas que fazem uso do poder de
mercado para restringir a produção e aumentar os preços. No endereço eletrônico
indicado é possível consultarmos a Lei Antitruste Brasileira.
Web: <https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/103268/
lei-antitruste-lei-8884-94>.
153
REFERÊNCIAS

KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia Industrial: fundamentos teóricos e práti-


cas no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002.
PONDÉ, J. L.; FAGUNDES, J.; POSSAS, M. Custos de transação e políticas de defesa
da concorrência. Revista de Economia Contemporânea, v. 1, n. 2, p. 115-135,
1997.
SUZIGAN, W.; FURTADO, J. Instituições e políticas industriais e tecnológicas: refle-
xões a partir da experiência brasileira. Estudos Econômicos. São Paulo, v. 40, n. 1,
p. 7-41, 2010.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1
Em: <https://jus.com.br/artigos/26712/agencias-reguladoras>. Acesso em: 19 set.
2018.
2
Em: <http://portal.anvisa.gov.br/programa-de-analise-de-registro-de-agrotoxi-
cos-para>. Acesso em: 19 set. 2018.
3
Em: <http://portal.anvisa.gov.br/alisantes>. Acesso em: 19 set. 2018.
4
Em: <http://portal.anvisa.gov.br/genericos>. Acesso em: 19 set. 2018.
GABARITO

1. b.
2. Quando os danos ambientais ultrapassam os limites geográficos do país é que
surge a preocupação com o meio ambiente. Para diminuir esses problemas, al-
guns países podem se utilizar da imposição de barreiras verdes, nas quais eles
restringem as exportações e, consequentemente, a produção, a renda e o em-
prego.
3. A visão neoclássica considera que a livre mobilidade dos fatores nos mercados
competitivos faz com que a política industrial, além de desnecessária, seja con-
siderada indesejada. A intervenção do governo seria necessária somente se o
mecanismo de preços não fossem capazes de captar os benefícios e custos de
oportunidade associados à produção e ao consumo de bens, ou seja, quando
ocorrem as falhas de mercado.
4. A abordagem chamada de princípio da razoabilidade (rule of reason) diz que a
existência de eficiências que compensam os efeitos líquidos devem ser anali-
sadas caso a caso, pois, o que importa, em cada caso, são os efeitos líquidos.
Como a lei busca reprimir as ineficiências, ela não será utilizada em casos em que
as condutas gerem ganhos de eficiência e, se o fizer, pode causar ineficiências
maiores do que as que busca combater.
5. Regulação por taxa de retorno: quando o regulador estabelece tarifas para cada
tipo de produto ou serviço da empresa, de forma a garantir uma taxa de retorno
que assegure o prosseguimento das atividades; Preço-teto (price cap): essa for-
ma de regulação consiste em estabelecer um limite superior de preços, de forma
que a empresa regulada não possa passar deste limite; Regra de Preço eficiente:
é utilizada em casos em que uma empresa precise utilizar a infraestrutura de
uma rival ou que haja problemas de interconexão; Regra de Ramsey: os preços
dos produtos ou serviços são estabelecidos de forma a minimizar as perdas dos
consumidores geradas pela necessidade do monopolista de cobrir os seus cus-
tos totais; e Tarifa em duas partes: é calculada por meio de uma taxa fixa para o
rendimento total, independentemente da venda, e uma taxa por unidade efeti-
vamente utilizada.
155
CONCLUSÃO

Caro(a) aluno(a), esperamos ter contribuído com conhecimentos, com a sua forma-
ção acadêmica, a sua atuação no mercado de trabalho ou com o gerenciamento da
sua própria organização.
Enfatizou-se que as organizações são um conjunto de recursos tangíveis, intangíveis
e humanos, interdependentes e integrados, que precisam ser orientados por um ou
mais objetivos. A Controladoria é uma ciência multidisciplinar em construção que
colabora para organização atingir os seus objetivos em curto, médio e longo prazos.
Verificou-se que o planejamento estratégico e o planejamento operacional de-
vem ser consonantes à missão, à visão e aos valores. Além disso, a missão, a visão
e os valores colaboram para a disseminação dos objetivos da organização aos seus
funcionários e demais stakeholders.
Foi visto que o orçamento é uma previsão anual das entradas e saídas de recursos
da organização, produzido em bases sistemáticas e mediante capacidades reais da
empresa. A descentralização pode corroborar para a qualidade das tomadas de de-
cisão, contudo, ela demanda indicadores adicionais para mensurar o desempenho
dos responsáveis pela gestão.
A Governança Corporativa, os controles internos e o gerenciamento de riscos são
funções e modelos de gestão que corroboram para a organização atingir os seus
objetivos, utilizando os recursos tangíveis, intangíveis e humanos com responsa-
bilidade. Nada obstante, você constatou a importância de congregar informações
financeiras e não financeiras para subsidiar as tomadas de decisão dos gestores.
A Controladoria é capaz de proporcionar mudanças estratégicas e identificar novas
formas de criar valor nas organizações. Por meio do assessoramento de informa-
ções, ela pode corroborar para o alinhamento dos objetivos estratégicos e das ativi-
dades da organização.
Desejamos boa sorte, muita saúde e sucesso para a conclusão de sua jornada aca-
dêmica!
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