Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
NA EDUCAÇÃO
DE JOVENS E
ADULTOS
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
Impresso por:
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade,
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil:
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba,
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
profissional, nos transformamos e, consequentemente,
Pró-Reitor de transformamos também a sociedade na qual estamos
Ensino de EAD inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
Diretoria de Graduação este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
e Pós-graduação se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe
de professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
AUTOR
SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) graduando(a),
A formação do pedagogo requer compromisso, responsabilidade de sempre continuar
estudando, se aperfeiçoando, haja vista os princípios éticos que dispomos na tarefa de
educar. Estudar sempre e refletir sobre as intencionalidades pedagógicas da nossa fun-
ção devem ser o lema da nossa profissão.
Esse material foi elaborado com a finalidade de dar subsídios para a disciplina de Teoria
e Prática na Educação de Jovens e Adultos. A partir dos conteúdos expostos, preten-
de-se envolvê-los em reflexões que conduzirão em momentos futuros a um trabalho
direcionado e consciente.
Com a profissionalização, é possível intervir na realidade, possibilitando um novo olhar
acerca da Educação de Jovens e Adultos e, principalmente, sobre a formação dos indi-
víduos. Assim, no decorrer do livro, poderá perceber por meio dos planos de estudos
clareza e objetividade em relação aos assuntos expostos. Poderá estabelecer relações
entre a teoria e a prática, observando a importância da articulação entre os elementos
que constituem os saberes e fazeres pedagógicos.
As teorias da educação, que influenciam para a reflexão sobre a ação docente, favore-
cem para a efetivação da práxis, necessária no processo de transformação dos sujeitos
que buscam a EJA.
As unidades de trabalho desta disciplina complementam os demais estudos realizados,
pois a formação do pedagogo deve basear-se nos fundamentos, teorias e práticas já
desenvolvidas em tempos e espaços situados.
Na unidade I, buscou-se apresentar a você, caro(a) aluno(a), uma recuperação históri-
ca da Educação de Jovens e Adultos. Ainda no Brasil Imperial, tiveram início algumas
reformas educacionais, as quais davam ênfase à necessidade do ensino noturno para
pessoas adultas analfabetas. Precisamente em 1876, o ministro José Bento da Cunha Fi-
gueiredo, por meio de um relatório, apontava a existência de pelo menos 200 mil alunos
frequentando o ensino noturno. As escolas noturnas foram por bastante tempo a única
possibilidade de educação para adultos. No início do século XX, com o desenvolvimen-
to industrial acelerado, tem-se um processo lento, porém crescente, de valorização da
educação de adultos. Por outro lado, manifesta-se grande preocupação com algumas
questões de ordem técnica, pedagógica e, principalmente, política. Dentre esses aspec-
tos, estavam a valorização da língua, tanto oral quanto escrita, anseios que se voltavam
para as questões produtivas, a técnica. A leitura e a escrita poderiam ser instrumentos
para atingir a ascensão social; os adultos, pela alfabetização, poderiam corroborar com
o crescimento do país e, ainda, para ampliar o número de eleitores.
No final da década de 1940, o SEA (Serviço de Educação de Adultos), iniciativa do MEC
(Ministério da Educação e Cultura), encaminhou materiais a fim de propor aos serviços
estaduais discussões sobre essa temática. Os ordenamentos propostos enfatizavam,
segundo Soares (1996), investimentos na educação de adultos, tendo em vista que a
APRESENTAÇÃO
Isso nos orienta para a valorização dos saberes que esses sujeitos trazem e, a par-
tir desses, desenvolver o trabalho sistematizado de apropriação dos conhecimen-
tos escolares. Para o professor, certamente é um desafio, principalmente no que se
refere à alfabetização. Nesse sentido, é importante organizar e planejar o trabalho
pedagógico de forma que se possa diminuir a distância entre os conhecimentos
cotidianos e o que é importante que os alunos saibam.
Podemos ressaltar que em relação aos temas geradores há movimentos que se im-
bricam: Freire propaga a investigação temática na obra Pedagogia do oprimido,
quando propõe a busca no universo vocabular do aluno e da sociedade, palavras e
temas que orientam para um trabalho significativo. Temas esses que se relacionam
à vida cotidiana do grupo.
Normalmente as palavras geradoras são selecionadas por sua característica silábica
e fonética, mas, principalmente, por sua importância enquanto significado para o
grupo em processo de alfabetização. Freire salienta que esses temas devem passar
pela descodificação, um termo utilizado para explicar a divisão das palavras em par-
tes, para melhor explorá-las. No material de estudo, expomos como é desenvolvido
o método Paulo Freire a partir do caderno produzido pela ADITEPP, já que a grande
maioria dos acadêmicos ouve falar, mas não conhece o método freireano de alfabe-
tização.
A problematização se insere nas indagações provenientes da dúvida, das incertezas,
do que é ainda desconhecido. É nesse momento que se dá a explicação, a exposi-
ção do professor, na busca por respostas, na superação dos obstáculos por parte
dos alunos. Na problematização dos conteúdos (nesse caso, das palavras), tem-se a
realidade concreta, que precisa ser abstraída pelos sujeitos, na condição própria de
apropriação dos elementos que constituem os saberes que estão sendo ensinados.
Assim, entende-se a função social da Educação de Jovens e Adultos, o compromisso
com a formação humana dos cidadãos, no acesso aos bens culturais, na formação
da consciência crítica e política que possa contribuir para a autonomia intelectual.
Os sujeitos necessitam sair da condição alienadora de uma sociedade excludente
para uma nova condição, a de pessoas que com conhecimento tenham possibili-
dade de contribuir conscientemente para uma sociedade melhor, tanto individual
quanto coletivamente.
A EJA tem a função social de propiciar o acesso aos cidadãos, inclusive aos bens
científicos e tecnológicos que favorecem sua inserção social e histórica dos proces-
sos produtivos, garantindo ainda conhecimento sobre a cultura.
Como em qualquer outra situação, você pode constatar pelos estudos que, em rela-
ção ao conhecimento, o caráter é sempre de inconclusão, como enfatiza Freire em
seus escritos. Não podemos afirmar que todos sabem tudo. Nossa aprendizagem se
dá a todo instante, acontece permanentemente. A EJA permite a cada um compre-
ender-se como sujeito da história em um processo de ressignificação da realidade
APRESENTAÇÃO
Essa qualidade pode ser possível por meio da efetivação da práxis que deve orientar
o currículo escolar e, principalmente, a Educação de Jovens e Adultos, pois, como
modalidade de ensino, tem um compromisso social na formação de indivíduos
conscientes de seu papel também social.
O princípio da práxis representa o processo de transformação da realidade concreta.
É o pensar a prática para transformá-la. Mas não só pensar a prática, mas todos os
elementos que a constituem, todos os condicionantes que interferem para a ação.
Não se pode entender que toda prática é práxis.
Para se constituir a práxis, é preciso haver intencionalidade na ação pedagógica do
professor que atua com a EJA. Assim, a reflexão, a formação continuada, a mudança
de práticas, atitudes, enfim, devem estar presentes na atuação profissional do do-
cente.
Destacou-se, nessa unidade, a função social da escola e o seu compromisso social na
transformação dos sujeitos.
A escola é espaço de aprendizagem e desenvolvimento, todas as vivências fazem
parte do processo que envolve o ensinar e o aprender. A escola, como instituição
de ensino trabalha com os aspectos culturais, afetivos, sociais, cognitivos, históricos,
dentre outros. Na EJA, esses aspectos estão presentes nas relações estabelecidas en-
APRESENTAÇÃO
Na formação para a cidadania, um aspecto que deve ser considerado pelo professor
diz respeito à formação de princípios e valores, éticos e morais, que favorecem a par-
ticipação efetiva nas situações que envolvem a coletividade, ou seja, reconhecer-se
e reconhecer o outro como sujeitos sociais impõe atitudes e comportamentos mais
solidários, de respeito e valorização da pessoa humana, portanto, o professor, nas
suas ações pedagógicas, pode introduzir elementos que visem atingir esses objeti-
vos.
Ao profissional da EJA, requer considerar as condições históricas, culturais, políticas
e sociais do trabalho educativo, no sentido de que o compromisso deste está em
conhecer para ensinar.
Passar pelo exercício docente na EJA significa perceber como acontece a dinâmica
da sala de aula, quanto à organização da turma, os encaminhamentos e direciona-
mentos do professor em relação ao conteúdo, as manifestações dos alunos, o refe-
rencial teórico-metodológico utilizado. Outra questão importante que se deve con-
siderar é que “não é qualquer pessoa que pode ser um docente”. A banalização da
profissão se dá, na maioria das vezes, pela prática sem o compromisso ético-político,
tão necessário às posturas profissionais docentes.
É importante salientarmos que a Educação de Jovens e Adultos, incluindo certa-
mente os idosos, possui especificidades enquanto Modalidade de Ensino, assim, é
preciso adotar mecanismos diferenciados de trabalho visando atender essas especi-
ficidades. Normalmente são pessoas que tiveram dificuldades no seu tempo regular
de escolarização e, com isso, não tiveram permanência no processo, o que vem de
certa forma garantida pelas políticas atuais da EJA.
Muitos são os fatores que implicam na não permanência dos cidadãos na escola, fa-
tores de ordem econômica, social e até mesmo cultural. A formação de jovens, adul-
tos e idosos pode ser um fator importante para a efetivação das políticas públicas,
bem como para a formação de professores que atuam nos programas direcionados
a esse atendimento e na EJA, enquanto modalidade de ensino.
Na unidade IV, intencionou-se tratar dos elementos fundamentais para a vida so-
cial dos homens. A partir de nossos estudos, destacou-se a importância da alfabeti-
zação e do letramento acontecerem de forma concomitante na aquisição da leitura
e da escrita.
As práticas sociais de leitura e escrita devem ser a essência do trabalho com a alfa-
betização e o letramento. Estudos de diferentes áreas contribuem para esse traba-
lho, como a linguística, sociolinguística, a psicolinguística, dentre outras áreas do
conhecimento.
Compartilha-se com diversos autores que trabalham nessa perspectiva (REGO,
1986, 1988; ABAURRE, 1986; KATO, 1987), pois diferenças entre a língua oral e escrita
podem ser percebidas na utilização dos gêneros textuais, quando o professor pode
APRESENTAÇÃO
UNIDADE I
48 Considerações Finais
UNIDADE II
73 Considerações Finais
20
SUMÁRIO
UNIDADE III
UNIDADE IV
UNIDADE V
183 Conclusão
185 Referências
Professora Me. Maria Rosânia Mattiolli Ribeiro
I
RECUPERANDO A HISTÓRIA
UNIDADE
DA EDUCAÇÃO DE JOVENS
E ADULTOS
Objetivos de Aprendizagem
■■ Recuperar, historicamente, fatores que influenciaram o surgimento
de políticas públicas para a Educação de Jovens e Adultos.
■■ Compreender a Educação de Jovens e Adultos conscientizando-se
acerca dos conceitos atribuídos a essa demanda da escolarização.
■■ Analisar os sentidos e significados apresentados pelos autores e
pelos programas de EJA.
■■ Analisar os princípios e ideologias presentes no contexto da
educação e, nesta, a Educação de Jovens e Adultos.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Recuperação histórica: educação de jovens e adultos
■■ Educação de jovens e adultos: atribuição de conceitos
■■ Educação de adultos: outros sentidos, outros significados
■■ A alfabetização de jovens e adultos no contexto das políticas públicas
educacionais
25
INTRODUÇÃO
Introdução
26 UNIDADE I
seus conteúdos. Nessa perspectiva, exerce a função social que propicia a sistema-
tização dos conhecimentos produzidos e acumulados pelos homens. Conceituar
a Educação de Jovens e Adultos é entendê-la como forma de valorização dos
sujeitos que ainda não tiveram a oportunidade de obterem essa sistematização.
As políticas públicas destinadas especificamente a esses sujeitos têm a fun-
ção de promover e garantir o acesso e a permanência para atingir os objetivos
educacionais. Essa demanda está representada por trabalhadores de diferentes
situações cotidianas, um grupo que na maioria das vezes esteve excluído dos
bens produzidos por eles mesmos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
RECUPERAÇÃO HISTÓRICA: EDUCAÇÃO
DE JOVENS E ADULTOS
A Educação de Jovens e Adultos no Brasil teve início com os Jesuítas por meio
da ação missionária. Intencionava-se difundir os preceitos religiosos aos nativos
da Terra, porém propôs estratégias que possibilitassem o trabalho com crianças
e adultos. Em um primeiro momento, envolveu os índios, mas depois o traba-
lho se estendeu aos negros escravos.
No Brasil, durante todo o seu processo de colonização, eram os adultos que
assumiam a educação religiosa, era ensinado o evangelho, normas de comporta-
mento e os ofícios necessários à economia colonial aos indígenas e aos escravos.
Na verdade, isso se constituía nos objetivos da formação.
Na primeira Constituição Brasileira, em 1824, já no Brasil Império, promo-
veu-se a instrução primária e gratuita para os adultos. Nesse período, pouco foi
feito, os adultos somente possuíam cidadania, a maioria desse grupo fazia parte
da elite alfabetizada. Até o final do império, 82% ainda eram analfabetos.
Em 1889, com a Proclamação da República, e na sequência, com a Constituição
Federal de 1891, reforçou-se a concepção da educação elementar. Esta tarefa
estaria a cargo dos estados e municípios. À União, entretanto, caberia a respon-
sabilidade do ensino secundário e superior.
Fonte:<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=15879>
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
republicano para, por efeito, atender aos interesses das elites. A esco-
larização passou a se tornar critério de ascensão social, referendada
pela Lei Saraiva de 1882, incorporada depois à Constituição Federal de
1891, que impediu o voto ao analfabeto, alistando somente os eleitores
e candidatos que soubessem ler e escrever (PARANÁ, 2006, p. 17).
No final do século XIX e início do século XX, foram aprovados projetos de leis
que enfatizavam a obrigatoriedade da educação de adultos, na verdade, havia
intencionalidades econômicas e políticas nesse processo, haja vista a emergên-
cia do desenvolvimento urbano industrial do país, porém, retomando a questão
política. Essa afirmação é percebida na intenção de atender aos interesses domi-
nantes da época, constatava-se a necessidade em aumentar o contingente eleitoral,
e isso se daria pelo movimento contra o analfabetismo. Esse movimento foi uma
organização dos setores sociais e civis.
O analfabetismo, naquele momento, representava um mal que precisava ser
superado. Os sujeitos analfabetos eram considerados incultos, preguiçosos, igno-
rantes e incapazes. A educação deveria resolver essa problemática para atingir o
progresso e o desenvolvimento. Nos anos de 1930, para atender à emergência das
atividades técnicas, os homens necessitavam ter o domínio da leitura e da escrita.
Com o crescimento industrial e, por consequência, urbano das cidades, cres-
ceu a preocupação com questões sociais. Com a emergência desse processo, a
educação escolar passa a ser um objetivo que precisa ser perseguido pelas autori-
dades e toda a sociedade civil. Esse objetivo traduz-se na ampliação dos serviços
educacionais, para isso, neste contexto, surgiram políticas públicas destinadas à
escolarização de jovens e adultos como forma de fazer valer o direito à instru-
ção dos cidadãos.
Fonte:<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14280>
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
[...] na década de 1940, com a criação do Fundo Nacional do Ensino Pri-
mário e sua regulamentação em 1945, que destinava 25% dos recursos do
fundo para a Educação de Adultos e adolescentes analfabetos, a criação
do Serviço de Adultos em 1947 com a aprovação de um Plano Nacional
de Educação Supletiva, ainda em 1947 (CORREIA, 1979, p. 21-22).
A atenção dos educadores brasileiros estava, aliás, desde 1948, direcionada às dis-
cussões em torno da LDB. Nesse sentido, acreditava-se que a educação pudesse
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Na década de 70, as correntes já citadas continuam sendo de caráter não formal.
No Brasil, instaura-se o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), um
sistema que propaga princípios diferentes aos propostos pelo educador Freire.
Esse movimento desencadeia por meio da Lei nº 5.692/71 um capítulo destinado
ao ensino supletivo. Aos Estados caberia atender essa demanda da educação.
Vamos observar o que reza a lei sobre o ensino supletivo no capítulo IV:
Art. 24 O ensino supletivo terá por finalidade:
a) suprir, a escolarização regular para os adolescentes e adul-
tos que não a tenham seguido ou concluído na idade própria;
1) proporcionar, mediante repetida volta à escola, estudos de aperfei-
çoamento ou atualização para os que tenham seguido o ensino regular
no todo ou em parte.
Parágrafo único. O ensino supletivo abrangerá cursos e exames a serem
organizados nos vários sistemas de acordo com as normas baixadas pe-
los respectivos Conselhos de Educação.
Art. 25 O ensino supletivo abrangerá, conforme as necessidades a
atender, desde a iniciação no ensino de ler, escrever e contar e a for-
mação profissional definida em lei específica até o estudo intensivo
de disciplinas do ensino regular e a atualização de conhecimentos.
§ 1º Os cursos supletivos terão estrutura, duração e regime escolar que
se ajustem às suas finalidades próprias e ao tipo especial de aluno a que
se destinam.
§ 2º Os cursos supletivos serão ministrados em classes ou mediante
a utilização de rádio, televisão, correspondência e outros meios de
comunicação que permitam alcançar o maior número de alunos.
anos.
§ 2º Os exames supletivos ficarão a cargo de estabelecimentos oficiais
ou reconhecidos indicados nos vários sistemas, anualmente, pelos
respectivos Conselhos de Educação.
§ 3º Os exames supletivos poderão ser unificados na jurisdição de
todo um sistema de ensino, ou parte deste, de acordo com nor-
mas especiais baixadas pelo respectivo Conselho de Educação.
Tratar a educação como um fenômeno próprio dos seres humanos nos permite
pensar na dimensão desta, na formação dos homens enquanto sujeitos históri-
cos. Pinto (1997, p. 36) enfatiza que a educação pertence à cultura, desta forma,
explica-a em dois sentidos:
• primeiramente, no sentido de que o mesmo conceito de educação
é um dos produtos ideológicos da cultura. Como tal reflete e resume
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a totalidade cultural que o enuncia;
• em segundo lugar, a educação pertence ao campo cultural por ser
o processo produtor (e transmissor) da cultura.
lado das áreas de conhecimento, bem como do contexto, no qual este se insere,
da mesma forma que é preciso considerar a realidade posta, os conhecimentos
advindos dessa realidade.
Assim, vê-se o caráter do trabalho da Educação de Jovens e Adultos na
perspectiva da práxis consciente. Torna-se importante considerar que o ato peda-
gógico que envolve o trabalho com o conteúdo requer o rigor científico e, por
isso, direcionado a partir do princípio da práxis, devido à complexidade desse
ato, que é intencional.
A Educação de Jovens e Adultos no Brasil, conforme a constituição das polí-
ticas para essa modalidade de ensino, faz com que compreendamos os conceitos,
comumente empregados e discursados, os quais apresentam ideologias gover-
namentais, também demonstradas nas ações políticas e sociais.
Na compreensão sobre esses conceitos, é preciso considerar as intenciona-
lidades políticas, econômicas que os constituíram. Na dinâmica da conjuntura
social, hoje existente, se tem que pensar as diferenças, os mecanismos que con-
tribuíram para a mudança na forma de pensar a educação no sentido de propor
a todos a condição de aprendizagem, principalmente no que diz respeito à
Educação de Jovens e Adultos.
Em relação especificamente aos conceitos produzidos, têm-se semelhan-
ças, diferenças, muitas interpretações utilizadas em determinados períodos,
reutilizados de outras formas em outros, enfim, o que provoca um ir e vir normal-
mente descontextualizado. Nesse contexto conceitual da EJA, faz-se necessário
compreender quais foram as intencionalidades que o envolveu, bem como os
desdobramentos resultantes deste.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte:<http://portaldoprofessor.mec.gov.br/conteudoJornal.html?idConteudo=1467>
Nesse aspecto, tem-se a educação pautada na criticidade, onde os homens são con-
siderados como seres do devir, seres que estão em constante aprendizado, já que
sujeitos incompletos, inacabados, cuja realidade necessita também estar em cons-
tante mudança, a fim de atender às necessidades humanas. É na perspectiva crítica
que deve se pautar a Educação de Jovens e Adultos no contexto da sociedade atual.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pela possibilidade de intervenção do e no universo cultural. Isso se dá pelas ações
que se inserem nos sujeitos da EJA a partir de princípios, normas, valores éti-
cos e morais presentes na sociedade. As intervenções às quais nos referimos não
acontecem somente no âmbito da escola, mas devemos considerar que a escola
também segue princípios, ideias, interesses, valores de uma dada sociedade.
A educação é pautada em princípios, valores, ideais, enfim, quando se pensa
em educar, logo se tem uma ação que é intencional. Também é notório que
quando se forma alguém, é preciso considerar o que queremos, que homem se
pretende formar. Isso inclusive está posto nos Projetos Políticos Pedagógicos das
escolas, isso significa que ao pretender uma formação, não se pode fazê-lo sem
um conceito ideal de homem.
Nesse pensamento, a educação se concebe na interação entre sujeitos, permeada
por relações sociais estabelecidas, onde a transmissão da cultura e o processo
de criação se impõem reconfigurando o sentido da educação e, consequente-
mente, da formação do homem. Essa análise nos permite considerar o seguinte
raciocínio:
Construir uma EJA que produza seus processos pedagógicos, con-
siderando quem são esses sujeitos, implica pensar sobre as possibi-
lidades de transformar a escola que os atende em uma instituição
aberta, que valorize seus interesses, conhecimentos e expectativas;
que favoreça a sua participação; que respeite seus direitos em prá-
ticas e não somente em enunciados de programas e conteúdos; que
se proponha a motivar, mobilizar e desenvolver conhecimentos que
partam da vida desses sujeitos; que demonstre interesse por eles
como cidadãos e não somente como objetos de aprendizagem (AN-
DRADE, 2004, s/p, grifos da autora).
A educação deve ser compreendida na totalidade, desde que nascemos nos faze-
mos humanos por meio dela, ou seja, inicia na infância e atinge a idade adulta.
A diferença existente entre os conhecimentos da criança, do jovem e adulto está
na experiência adquirida e acumulada pela humanidade, como enfatiza Saviani
em a Pedagogia Hitórico-Crítica (2008).
A Educação de Jovens e Adultos em linhas gerais envolve os processos forma-
tivos cuja natureza implica no próprio entendimento do que é educação, assim,
sua efetivação se dá a partir na interação entre sujeitos. Nesse aspecto,
[...] de um lado, tem-se o Estado, as organizações da sociedade civil
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e o setor privado, entre outros, e, de outro, uma gama de sujeitos tão
diversificada e extensa quanto são os representantes das camadas mais
empobrecidas da população (negros, jovens, idosos, trabalhadores,
populações rurais etc.). Estamos falando de trabalhadores e não-tra-
balhadores; das diversas juventudes; das populações das regiões me-
tropolitanas e rurais; dos internos penitenciários, contingentes esses
que, em sua grande maioria, são formados por jovens; afrodescenden-
tes; como também portadores de necessidades especiais, entre outros
(ANDRADE, 2004, s/p).
A autora enfatiza que construir uma Educação de Jovens e Adultos que pro-
duza seus processos pedagógicos implica considerar quem são os sujeitos que
frequentam essa modalidade de ensino, bem como pensar na escola adequada
a atender essa demanda, normalmente já excluída do processo de aquisição do
conhecimento na idade devida.
A EJA deve garantir aos cidadãos que a procuram a valorização dos conheci-
mentos da prática social, ou seja, trabalhar na perspectiva de que o conhecimento
existente necessita de aprofundamento teórico-prático, com base na sistematiza-
ção desse conhecimento, o que significa que a escola exerce uma função social
e precisa cumpri-la no sentido de promover a formação humana e profissional.
As práticas pedagógicas devem mobilizar “conhecimentos que partam da vida
desses sujeitos; que demonstre interesse por eles como cidadãos e não somente
como objetos de aprendizagem” (ANDRADE, 2004, s/p) grifo da autora.
Sabemos que quando os indivíduos se matriculam na modalidade da EJA
trazem muitas expectativas e buscam atingi-las. O currículo precisa visar à par-
ticipação desses jovens e adultos, respeitá-los nos seus direitos mais essenciais,
direitos que para alguns foram negados, dependendo do contexto histórico, para
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
respondam por uma forma de organização sob os princípios da dialética, em que
se leve em consideração as contradições existentes na realidade social.
Não se pode pensar somente no papel da escola como um todo, mas no papel
social de cada professor que atua na Educação de Jovens e Adultos. O papel do
professor é de extrema importância para a elevação da autoestima desses sujei-
tos, mostrar que possuem capacidade para aprender e que a aprendizagem dos
conteúdos requer envolvimento e interesse, pois há necessidade dessas aprendi-
zagens para a vida, para a função social que exercem ou que exercerão.
Portanto, deve-se problematizar a realidade, ou seja, buscar caminhos e res-
postas para superar os obstáculos existentes, considerando o tempo e o
espaço históricos.
A educação escolar que tem como pressuposto
a formação crítica é dotada de inten-
cionalidades, conduz à mudança,
à transformação do homem, bem
como da realidade na qual esse homem
se insere, a única capaz de oferecer o
conteúdo e o método visando à instru-
ção, à formação humana. Como seres
históricos incompletos, o homem
necessita estar em constante
aprendizagem, superando os
entraves dominantes da socie-
dade contemporânea.
Conforme Arroyo (2001, p. 10), os olhares sobre a condição social, política e cul-
tural dos alunos de EJA têm condicionado as diversas concepções da educação
que lhes é oferecida, “os lugares sociais a eles reservados – marginais, oprimi-
dos, excluídos, empregáveis, miseráveis... – têm condicionado o lugar reservado
a sua educação no conjunto das políticas públicas oficiais”.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A educação deve ser compreendida na totalidade, desde que nascemos, nos fa-
zemos humanos por meio dela, ou seja, inicia na infância e atinge a idade adulta.
A Educação de Jovens e Adultos é, destinada de acordo com a LDB/96, aos que não
tiveram, na idade própria, oportunidades de frequentar o Ensino Fundamental e
Médio, ou ainda, àqueles que frequentaram parcialmente essas etapas da Educação
Básica e que, por diferentes razões, não puderam dar continuidade aos estudos.
O texto da lei estimula o trabalhador à oportunidade de acesso e permanên-
cia à escola, por outro lado, não deixa claro ou define quais são as políticas que
irão assegurar esse acesso e permanência.
O texto reflete as intenções contraditórias que permearam os proces-
sos de negociações e pressões de interesses diversos presentes em sua
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
elaboração. Neste sentido, cabe identificar tais aspectos de modo a pre-
ver no movimento mais geral das reformas educacionais, os caminhos
possíveis de implementação do direito à educação de jovens e adultos
(HADDAD; XIMENES, 2008, p.137).
Uma questão é certa. A LDB/96 não dedicou nenhum capítulo destinado à pre-
ocupação com o analfabetismo. Nesse sentido, Haddad e Ximenes (2008, p. 138)
explicitam:
Ao suprimir o combate ao analfabetismo do caput do art. 60 das Dis-
posições Transitórias da Constituição de 1988, o governo FHC abriu
caminho para que a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
cional fechasse os olhos para o enorme contingente de pessoas jovens
e adultas que não têm o domínio da leitura, da escrita e das operações
matemáticas elementares.
Cabe ressaltar, diante desse pressuposto, que a demanda da EJA ainda carece ser
pensada e valorizada nas políticas públicas, considerando que um país se desen-
volve à medida que o poder público passe a enxergar e investir para que mais
pessoas sejam escolarizadas, que saibam ler, escrever e que possam fazer uso do
que aprendem na vida social.
O trabalhador necessita perceber no seu processo de trabalho uma forma de
continuar aprendendo. Portanto, é preciso que haja incentivos, inclusive para que
empresas ou outros setores de atividade humana permitam a seus funcionários
estudarem. Esse intento está posto no art. 4º da LDB/96, inciso VII, quando se lê:
“O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garan-
tia de oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características
e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se
aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola” [...].
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
anos.
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por
meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames.
De acordo com a Carta Magna (art. 208, I), a modalidade de ensino “educa-
ção de jovens e adultos”, no nível fundamental deve ser oferecida gratuita-
mente pelo Estado a todos a que a ele não tiveram acesso na idade própria.
Trata-se de um direito público subjetivo (CF, art. 208, parágrafo 1o). Por isso
compete aos poderes públicos disponibilizar os recursos para atender a essa
educação (HADDAD; XIMENES apud BRZEZINSKI, 2008, p. 144).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
elaboração das Diretrizes Curriculares da Fundação Educar. Reivindicava uma
escola pública, gratuita e de qualidade para os jovens e adultos do Ensino de
Primeiro Grau, na tentativa de dotá-los de identidade própria. A Comissão, à
qual se refere, recomendava “a criação de uma política nacional de educação
de jovens e adultos, ao seu financiamento e à revisão crítica da legislação nessa
área” (PARANÁ, 2006, p. 19).
O poder de decisão até esse momento estava concentrado no MEC. Iniciou
um processo de descentralização dos recursos, bem como desse poder, voltado
às políticas públicas para a oferta da EJA, que deveria ser encampada pelos esta-
dos e municípios, pois estes deveriam assumir e controlar os orçamentos, bem
como a demanda de alfabetização e escolarização dos sujeitos.
II
EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS: PRESSUPOSTOS
UNIDADE
TEÓRICOS E A FUNÇÃO SOCIAL
NO CONTEXTO BRASILEIRO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer os pressupostos teóricos que embasaram e embasam a
Educação de Jovens e Adultos no Brasil.
■■ Reconhecer em Paulo Freire o método produzido com
intencionalidade específica da alfabetização de adultos.
■■ Compreender a função social da educação de jovens e adultos no
contexto brasileiro.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Os pressupostos teóricos que embasaram a educação de jovens e
adultos: as teorias em foco
■■ Paulo Freire: os temas geradores como proposta para aquisição da
leitura e escrita
■■ A função social da educação de adultos
53
INTRODUÇÃO
antes da escola, aspectos de cidadania já devem fazer parte da educação das pes-
soas. Refletir como se dá a autonomia, a cidadania dos educandos da EJA implica
em mostrar comportamentos, atitudes, questões que indiquem a prática de soli-
dariedade, respeito, justiça etc.
O método propõe a identificação de palavras significativas do meio das pes-
soas (indivíduos que frequentam a EJA), palavras que estejam no repertório de
informações presentes no cotidiano, o que mais veem no espaço familiar, de tra-
balho, de grupo social. Apresenta a palavra e sua representação (figura, desenho,
cartaz). Assim, trabalha-se a linguagem, as possibilidades silábicas, bem como o
estudo das mais variadas situações em que essas palavras estão presentes.
Normalmente essas pessoas trabalham, possuem responsabilidades familia-
res, na maioria das vezes trabalham em atividades sem muita qualificação, além,
de serem mal remuneradas. As experiências que trazem são bastante diversi-
ficadas. Para citar alguns exemplos: pessoas trabalhadoras (garis, vendedores
ambulantes, moradores de periferias, desempregados, muitos vivem em con-
dições de marginalidade, privados possivelmente dos bens culturais que eles
mesmos contribuem no processo de trabalho).
Sabe-se que a EJA, como modalidade de ensino, incorpora culturas diversas
que devem ser essenciais à construção de encaminhamentos teórico-metodo-
lógicos para satisfazer a realidade da demanda escolar, desses jovens e adultos,
os quais foram mencionados no parágrafo anterior. Conforme Soares (1986), o
educando passa a ser visto como sujeito sócio-histórico-cultural, com conheci-
mentos e experiências acumuladas.
Cada sujeito necessita ressignificar sua concepção de homem, de mundo,
Introdução
54 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
EMBASARAM A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:
AS TEORIAS EM FOCO
econômicas e sociais bem diferentes dos anos 20. Paiva (1987, p.163) explicita
que esses educadores estavam comprometidos com o “nacionalismo desenvol-
vimentista” e com a “transformação do pensamento social da igreja”.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
em contradição umas com as outras, as tarefas que o mundo, em tal mo-
mento, me propõe, o que toca milhões de homens – e minha originalidade
pessoal, são as escolhas de minhas respostas e de minhas inserções, mais ou
menos numerosas, estendidas, intensas, ativas, apaixonadas, mais ou menos
dominadas. Um modo pessoal, único de dar a réplica, graus infinitamente
variáveis nas sínteses a que me esforço.
A alegria cultural, aqui, é sentir que o “eu” existe – e que ao mesmo tempo
em que ele não é separável das afinidades que me ligam ao mundo, das
relações pensadas, afetivas e técnicas que me prendem ao mundo, pelas
quais eu me prendo ao mundo; o “eu” existe e não é separável dos outros:
“a verdadeira riqueza intelectual do indivíduo depende da riqueza de suas
relações reais”. A solidez dos homens e das coisas próximas a mim pode não
inquietar, mas, ao contrário, confortar, afirmar minha existência; sou, posso
tornar-me, tenho que me tornar “rico em possibilidades que (me) são ofere-
cidas pelos homens e pela sociedade das coisas, as quais entram melhor em
nossa órbita pelo fato de terem sido trabalhadas pelos homens” (SNYDERS,
1988, p. 60-61).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que poderemos organizar o conteúdo
programático da educação ou da ação
política” (FREIRE, 2005, p. 100). Nessa
referência de Freire, constata-se que
seu método implica em considerar o
conhecimento prévio ou adquirido
como elementar no processo de aqui-
sição do conhecimento formal.
Nesse sentido, faz-se necessário
introduzir elementos que estejam pre-
Paulo Freire sentes nas contradições básicas, sociais,
políticas em que o homem está inserido, ou seja, é preciso se valer da prática
social dos homens para então introduzir a cultura erudita à população. Quando
se levantam as contradições presentes na sociedade, os problemas devem ser
desafiadores a fim de atingirem questões que respondam aos mesmos. Os indi-
víduos devem sentir-se desafiados a levantar e a buscar respostas aos mesmos.
O diálogo, elemento fundamental na relação professor/aluno, na linguagem
do educador, na relação educador/educando, deve servir de base na mediação
em relação ao conhecimento. Os desafios que se colocam necessitam pautar-se
não só no nível intelectual, segundo Freire, mas no nível da ação.
Freire (2005, p. 101) enfatiza que “é na realidade mediatizadora, na consciência
que dela temos, educadores e povo, que iremos buscar o conteúdo programá-
tico da educação”. E “o momento deste buscar é o que inaugura o diálogo da
educação como prática da liberdade”. Essa reflexão nos provoca pensar que é
preciso que haja conscientização dos indivíduos para o que se aprende, ou seja,
ao mesmo tempo em que se apreendem os temas geradores, se tome consciên-
cia sobre os mesmos.
Para que se coloquem os temas geradores, faz-se necessária a investigação
do universo temático (assuntos que possam gerar conhecimento e que seja da
prática social dos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos). Assim:
Pensávamos numa alfabetização que fosse ao mesmo tempo um ato
de criação, capaz de gerar outros atos criadores; uma alfabetização
na qual o homem, que não é passivo nem objeto, desenvolvesse a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Havia, segundo Freire, uma descrença em relação aos abecedários, acreditava que
estes ofereciam simplesmente uma montagem de signos gráficos, o que reduzia o
analfabeto ao estado de objeto e não de sujeito do seu processo de alfabetização.
No que diz respeito aos temas geradores, era preciso limitar o número das
palavras, as quais gerariam outras palavras, ou os significados que se buscava. Na
aprendizagem de uma língua silábica, como a nossa, o educador Freire (1980)
enfatizava que não havia necessidade de 40, 50, 80 palavras geradoras para per-
mitir a compreensão das sílabas de base da língua portuguesa. Para ele, 15 ou 18
seriam suficientes para o processo de alfabetização visando à conscientização.
O método de Paulo Freire implica em três etapas: a primeira etapa corres-
ponde à investigação: a busca pelo universo vocabular. Palavras ou temas que
estejam relacionados à vida dos sujeitos; a segunda etapa refere-se à tematiza-
ção: codificação e decodificação das palavras ou temas, buscando compreender
significados, desenvolvendo a consciência sobre o mundo; a terceira etapa compre-
ende a problematização: é por meio dessa etapa que se pode chegar à superação
da visão ingênua de mundo, o que propicia a consciência crítica da realidade.
Nesse sentido, buscou-se em nossos estudos e pesquisas compreender como
se processa o método - Paulo Freire na temática da Educação de Jovens e Adultos
- considerando as palavras ou temas geradores.
Paulo Freire: os Temas Geradores como Proposta para Aquisição da Leitura e Escrita
60 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sorias a educadores, lideranças e movimentos sociais, a ADITEPP desenvolve
programas específicos no campo da Alfabetização de Adultos, Cultura Popular,
Compras Comunitárias (ADITEPP, 1987).
Ao completar 15 anos prestando serviço, principalmente no tocante à edu-
cação popular, continua mantendo sua característica fundamental de favorecer o
desenvolvimento da organização e do pensamento crítico dos Setores Populares. A
referência a essa associação se dá em função de mostrar na perspectiva de Freire,
por meio de um caderno, o método pelo qual os cidadãos podem ser alfabetiza-
dos, seguindo a proposta dos Temas Geradores. O próprio material indica que
não pretende abordar todos os aspectos do método “Paulo Freire”, mas apenas
os aspectos práticos, uma sugestão em relação a um conteúdo programático, a
princípio, utilizando as palavras geradoras (ADITEPP, 1987).
O caderno está organizado em duas partes: a primeira implica nos momen-
tos de preparação e uso do método; a segunda parte orienta sobre os passos a
serem seguidos no trabalho com cada palavra geradora.
O primeiro momento do método de Freire trata da descoberta dos assun-
tos e palavras que têm a ver com a vida do povo, visitando-os, entrevistando-os.
Nessa perspectiva, sugere-se ao educador “ser um igual com elas” (ADITEPP,
1987) para penetrar na realidade complexa desses sujeitos.
O segundo momento da primeira parte implica na escolha de palavras tiradas
de dentro dos assuntos pesquisados, as quais serão o conteúdo a ser trabalhado. O
método indica a importância de seleção do maior número de palavras que se possa
formar com as sílabas destas; as palavras devem ser de fácil pronúncia, para não
haver dificuldades e inibir os alunos; o conteúdo necessita expressar a vivência,
assuntos que estejam relacionados à realidade dos sujeitos. Isso implica trabalhar
com a significação das palavras no meio social em que esses alunos estão inseridos.
No terceiro momento confeccionam-se, para cada palavra geradora, situações
que permeiam fatos concretos, vivenciados pelo grupo com que se está traba-
lhando. Sugere o material em questão, cartazes, slides, canto, teatro, na realidade
atual, têm-se ainda muitas outras possibilidades de representações simbólicas,
envolvendo até as tecnologias, tão presentes nos meios educacionais. Esses ele-
mentos funcionam como códigos que permitem estabelecer relações com a
realidade, podendo os indivíduos enxergá-la de forma mais crítica e objetiva.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Paulo Freire: os Temas Geradores como Proposta para Aquisição da Leitura e Escrita
62 UNIDADE II
PANELA
O segundo passo orienta para a representação da palavra escrita em caixa alta
(letra de máquina retrada por Freire) e, em letra cursiva (o que Freire chamava
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de letra de mão), isso depois de conhecer o sentido prático da palavra, de explorá-
-la nas diversas possibilidades de apreensão de seu significado social. Exemplo:
PANELA
panela
PA NE LA
pa ne la
PA PE PI PO PU
pa pe pi po pu
pa pe pi po pu
na ne ni no nu
la le li lo lu
PA PO
PA LA
PU LA
Paulo Freire: os Temas Geradores como Proposta para Aquisição da Leitura e Escrita
64
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ZER, 2000, p. 40).
Nesse enfoque, muito mais do que simplesmente ler e escrever, a formação deve
contemplar a compreensão da realidade para poder intervir sobre ela.
O artigo 37 da LDBEN 9.394/96 prescreve que ‘’a Educação de Jovens e
Adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos
no Ensino Fundamental e Médio na idade própria’’. Reforça então a ideia de que:
é característica dessa Modalidade de Ensino a diversidade do perfil dos
educandos, com relação à idade, ao nível de escolarização em que se
encontram, à situação socioeconômica e cultural, às ocupações e à mo-
tivação pela qual procuram a escola” (PARANÁ, 2006, p. 27).
A EJA precisa ser considerada como uma modalidade que possui especifi-
cidades próprias, mas que como qualquer outra formação sistematizada, requer
rigor no seu trabalho, visando metodologias que permitam conteúdos signifi-
cativos para a vida social e profissional.
Nesse entendimento, é preciso considerar que o tempo não é único para todos.
“Os limites e possibilidades de cada educando devem ser respeitados;
portanto, é desafio destas Diretrizes apresentar propostas viáveis para
que o acesso, a permanência e o sucesso do educando nos estudos este-
jam assegurados” (PARANÁ, 2006, p. 28).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O trabalho deve ser entendido como o processo por meio do qual permite ao
homem inserir-se na sociedade com criticidade, pois ao mesmo tempo em que
transforma, é transformado por uma ação intencional. O trabalho deve servir
como categoria de análise das contradições sociais presentes.
Pelo pensamento crítico, político, é possível perceber a separação existente
entre a função técnica e intelectual, entre funções opressoras e oprimidas, concei-
tos esses normalmente aparentes em modelos do sistema capitalista de produção.
Não há educação fora das sociedades humanas e não há homem no
vazio. [...] Desde logo, qualquer busca implica, necessariamente, numa
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
opção. Opção pelo ontem, que significava uma sociedade sem povo,
comandada por uma “elite” superposta a seu mundo, alienada, em que
o homem simples, minimizado e sem consciência desta minimização,
era mais “coisa” que homem mesmo. Ou opção pelo Amanhã, por uma
nova sociedade, que sendo sujeito de si mesma, tivesse no homem e no
povo sujeitos da História. [...] A opção teria de ser também entre uma
“educação” para a “domesticação”, para a alienação, e uma educação
para a liberdade (FREIRE, 1985, p. 35-36).
Segundo o autor, é por meio de uma base sólida de formação científica e histórica
dos professores que se pode contribuir para a aprendizagem e o desenvolvimento
dos educandos na perspectiva ética. Assim, conhecer significa a possibilidade
de intervir socialmente.
Frigotto (1996) nos traz reflexões ao tratar dos desafios no plano teórico e
epistemológico da formação e profissionalização do educador. Segundo o autor,
“o grande desafio, hoje, na formação e profissionalização do educador, está em
que além do domínio técnico e científico, que o sujeito também seja dirigente,
podendo atuar numa perspectiva de projeto social democrático e solidário [...]”
(FRIGOTTO, 1996, p. 95).
O ensino formal se dá na escola, espaço institucionalizado do conhecimento
produzido e acumulado no conjunto dos homens, como tão bem enfatiza Saviani
(2008). Portanto, é na escola que se desenvolvem as capacidades intelectivas de
pensar, produzir e interpretar o mundo.
Ao professor cabe exercer a ação mediadora entre o sujeito (educando) e o
conhecimento (conteúdo escolar). Essa possibilidade propicia a atividade trans-
formadora do homem sobre a realidade. Nesse aspecto:
A EJA tem um papel fundamental na socialização dos sujeitos, agregan-
do elementos e valores que os levem à emancipação e à afirmação de sua
identidade cultural. Portanto, a escola deve superar o ensino de caráter
enciclopédico, centrado mais na quantidade de informações do que na
relação qualitativa com o conhecimento. Quanto aos conteúdos especí-
ficos de cada disciplina, deverão estar articulados à realidade, conside-
rando sua dimensão sócio-histórica, articulada ao mundo do trabalho,
à ciência, às novas tecnologias, dentre outros (PARANÁ, 2006, p. 29).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
escola e importante na construção da autonomia”. “[...] A emancipa-
ção humana será decorrência da construção dessa autonomia obtida
pela educação escolar. O exercício de uma cidadania democrática pelos
educandos da EJA será o reflexo de um processo cognitivo, crítico e
emancipatório, com base em valores como respeito mútuo, solidarie-
dade e justiça (PARANÁ, 2006, p. 29).
Sobre a função social da EJA, leia o texto das Diretrizes Curriculares para a
Educação de Jovens e Adultos do Estado do Paraná (p. 27-29): <http://www.
educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/diretrizes/dce_eja.pdf>.
Fonte:<http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=23715>
O conteúdo da educação, tal como a forma, possui caráter social, portanto, é his-
tórico. O Parecer CNE/CEB 11/2000 enfatiza três funções para a Educação de
Jovens e Adultos: reparadora, equalizadora e permanente.
A primeira delas, a função reparadora, está ligada à recuperação de um
direito que historicamente foi negado. Nessa perspectiva, tem-se o letramento,
pois não basta somente o domínio da leitura e da escrita, mas o uso que se faz
desses instrumentos de socialização e inserção no mundo de forma consciente.
A segunda função diz respeito ao retorno dos indivíduos à educação escolar,
de forma a permitir-lhes participar efetivamente no espaço de trabalho, na vida
em sociedade, dentre outros. A terceira função está relacionada à qualificação,
ou seja, à função que permite aos sujeitos constantemente estarem se aperfeiço-
ando nos conhecimentos.
[...] Há que se considerar que a nova LDB não dedicou um artigo sequer
à questão do analfabetismo. Ao suprimir o combate ao analfabetismo do
caput do art. 60 das Disposições Transitórias da Constituição de 1988, o go-
verno FHC abriu caminho para que a nova Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cação Nacional fechasse os olhos para o enorme contingente de pessoas jo-
vens e adultas que não têm o domínio da leitura, da escrita e das operações
matemáticas elementares. Como em um passe de mágica, o tema passou
despercebido, como se a lei tratasse de uma realidade que não é a nossa. No
capítulo IX das Disposições Transitórias, no art. 87, onde se institui a Década
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da Educação, nenhuma palavra mencionada foi dita sobre o analfabetismo,
nenhuma responsabilidade foi atribuída aos vários níveis de governo, ne-
nhuma meta foi estabelecida, ignorando-se os compromissos firmados no
Plano Decenal de Educação de 1993 (HADDAD; XIMENES, 2008, p. 138).
Ler art. 4º da LDB nº 9.394/96.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
74 UNIDADE II
para além do espaço escolar, o que implica certamente para toda a vida.
A modalidade de EJA consiste na apropriação de conhecimentos para o
trabalho, bem como para o exercício da cidadania. É no assumir seus compro-
missos enquanto cidadãos que os homens buscam significar e ressignificar suas
experiências sociais e culturais.
É nas experiências do cotidiano que homens e mulheres se modificam con-
forme vão se alterando as relações sociais e, principalmente, por meio das relações
de trabalho, o que favorece para a apropriação de ideias novas que darão conti-
nuidade ao processo de mudança e transformação.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O entendimento acerca das formas de opressão e de expropriação dos homens
nas relações sociais e de trabalho também aparece como uma das grandes pos-
sibilidades para a desmistificação sobre a divisão do trabalho, no tocante ao
trabalho manual e intelectual, conceitos presentes nas demandas de organiza-
ção do sistema produtivo que advém desde a revolução industrial.
III
CONCEPÇÕES DE CURRÍCULO,
UNIDADE
COMPROMISSO SOCIAL DA ESCOLA
E A FORMAÇÃO PARA O EXERCÍCIO
CONSCIENTE DA CIDADANIA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Reconhecer a Educação de Jovens e Adultos como modalidade
de ensino, e a importância do currículo para atendimento às
especificidades dessa demanda de ensino.
■■ Compreender a função social da escola e o compromisso na
formação e transformação dos sujeitos.
■■ Analisar o compromisso ético do professor e a formação para o
exercício consciente da cidadania.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A Educação de Jovens e Adultos como modalidade de ensino: o
currículo na perspectiva emancipadora
■■ Os objetivos da educação como componentes fundamentais para
pensar o processo formativo dos cidadãos da EJA
■■ A função da escola: o compromisso social na transformação dos
sujeitos
■■ O professor e a formação consciente para o exercício da cidadania
79
INTRODUÇÃO
Introdução
80 UNIDADE III
[...] Tal medida constitui uma faca de dois gumes. Por um lado, pode
viabilizar mais cedo os estudos para aqueles cujas condições de vida e
trabalho impedem ou dificultam a frequência ao ensino regular, mes-
mo noturno. Por outro lado, pode estimular o adolescente matricu-
lado no ensino regular a abandonar a escola para, aos quinze anos,
obter o certificado de conclusão do ensino fundamental mediante
exames supletivos, aguardando os dezoito anos para prestar os exa-
mes supletivos do ensino médio. Afinal, quinze e dezoito anos estão
abaixo da média de idade dos concluintes do ensino regular ao nível
fundamental e médio.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
promover a inclusão dos alunos que não tiveram oportunidade na idade regu-
lar à escolarização. Esse caráter de inclusão precisa ser contemplado no sentido
da emancipação e à medida que a escola trabalha a alfabetização e os conteúdos
pertinentes a atingir essa emancipação poderíamos dizer que estarão os jovens
e adultos preparados à inserção de forma mais consciente na sociedade.
Na proposta de trabalho com a EJA, cabe pensar em uma formação que corres-
ponda aos anseios dessa demanda que já vem de um processo de exclusão, de
expropriação do conhecimento, por diversos motivos, o que já pudemos obser-
var no texto “Os sujeitos educandos da EJA”, da autora Eliane Ribeiro Andrade
e de outros autores já referenciados nesse material que muito contribuem para
que possamos compreender a realidade educacional presente hoje na sociedade,
e que ainda não corresponde ao ideal a que almejamos.
Com esse intuito, cabe à escola por meio do currículo que atribui à educa-
ção o princípio da emancipação, propagar múltiplas possibilidades do cidadão
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nesse sentido, faz-se necessária uma reflexão sobre essa questão, haja vista sua
importância na escolarização de jovens e adultos. O princípio da unidade entre
teoria e prática se traduz na busca para a humanização. A relação entre esses
dois elementos didático-pedagógicos se impõe não simplesmente como princí-
pio metodológico na ação de planejar, mas fundamentalmente como princípio
epistemológico, que permite a transformação por meio da ação humana.
O planejamento educacional
orienta-se pela ação curricular,
“instância mediadora das rela-
ções pedagógicas e objeto da
experiência formativa vivida
pelos alunos” (SOUZA; et al.
2011, p. 12). Ainda considerando
o texto disponível no material da
APP-PARANÁ, temos a seguinte
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
indagação: Qual é o significado,
para o planejamento educa-
cional, da afirmação de que o
currículo é um dos elementos articuladores do trabalho pedagógico?
A palavra currículo tem origem latina, scurrere, correr, e refere-se a curso
(carro de corrida) ou pista de corrida. Reflete interesses e intencionalidades, justa-
mente pelo sentido a que se atribui a palavra. Segundo Goodson (1995, p. 118) “a
história do currículo procura explicar como as matérias escolares, métodos e cur-
sos de estudo constituíram um mecanismo para designar e diferenciar estudantes”.
As ideias surgidas para explicação do termo currículo, a princípio, estive-
ram relacionadas à busca da eficiência e da eficácia no ensino. Algumas questões
são pertinentes quando se pensa o currículo da escola. Historicamente, tem-se o
planejamento curricular direcionado a partir de técnicas de organização do tra-
balho fabril transferidas para a escola, ou seja, funções e orientações da indústria
transpostas para o espaço escolar. Assim,
[...] os princípios defendidos por F. BOBBIT para a organização cur-
ricular apoiavam-se nos mesmos princípios postulados por F. W.
TAYLOR para o trabalho em geral. Posteriormente, a organização e o
desenvolvimento curricular, segundo R. TYLER, deveriam se orientar
a partir de quatro questões básicas: 1. Que objetivos educacionais deve
a escola procurar atingir? 2. Que experiências educacionais podem ser
oferecidas que tenham probabilidade de alcançar esses propósitos? 3.
Como organizar eficientemente essas experiências educacionais? 4.
Como podemos ter a certeza de que esses objetivos estão a ser alcança-
dos? (SILVA, 2000 apud SOUZAet al. 2011, p. 12).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
lado “A escola pública que queremos”. Dentre as questões,
destacam-se:
1 – Garantia de oferta da Educação Básica, para os Jovens, Adultos e
Idosos na rede pública estadual de ensino que vise uma formação crí-
tica e emancipadora para a conquista da cidadania por meio do acesso
aos diferentes saberes, assegurando: a) Participação dialogada com a
sociedade civil organizada no processo de avaliação das propostas pe-
dagógicas e curriculares das escolas de Educação de Jovens e Adultos
[...]; b) Avaliação da atual estrutura e organização de jovens e adultos,
por meio de estudos [...]; c) Formação humanista e inclusiva que garan-
ta o desenvolvimento afetivo, intelectual, social, cultural e político [...].
2 – Universalização e oferta da EJA nas escolas da rede pública, de for-
ma gratuita e mantida pelo Poder Público, sendo suas atribuições: a)
Garantia da oferta de EJA que atenda as características do/a educando/a
respeitando sua disponibilidade de tempo e condições socioculturais;
b) Garantia de que professores/as do quadro próprio do magistério es-
tadual, com formação voltada para esta modalidade [...]; c) Garantia de
estrutura administrativa e pedagógica nas escolas estaduais que atenda
as necessidades da EJA [...]; d) Estabelecimento de política pública, em
nível estadual, articulada aos governos municipais, para alfabetização e
continuidade da escolarização de jovens e adultos; e) Inclusão dos edu-
candos da EJA nas políticas públicas de incentivo à educação básica [...];
f) Cumprimento da lei que garante a redução da jornada de trabalho
para que o estudante trabalhador possa frequentar a escola; g) Garantir
aos educandos da EJA um ensino de qualidade; h) Garantia de que o
número máximo de alunos por turma siga a regulamentação proposta
para o ensino regular garantindo tratamento isonômico para a EJA.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
bre as guerras das religiões sem mesmo se perguntarem se dentre eles havia
protestantes” (SNYDERS, 1988, p. 190).
A Educação de Jovens e Adultos tem como objetivo dar condição aos indiví-
duos que a frequentam de se inserirem na sociedade de forma mais interventiva.
Sabemos que a população da EJA, na maioria das vezes, são pessoas que tra-
balham e que veem a necessidade de retornarem à escola, por fatores diversos.
Alguns por não terem tido mesmo a oportunidade quando crianças, outros, por
necessidade de melhorar as condições de trabalho, qualificando-se por meio de
um trabalho mais sistematizado, que permita comunicar-se melhor, inserir-se na
leitura e na escrita de forma mais fluente, ou ainda, para concluírem a Educação
Básica, visando à continuidade de estudos no Ensino Superior.
É certo que esses indivíduos não encontrem a mesma escola que deixaram,
aqui, referi-me àqueles que um dia já frequentaram a escola, haja vista tantas
mudanças já acontecidas. Porém, também se pode considerar que muitas prá-
ticas ainda permanecem. Muitas instituições continuam reproduzindo alguns
modelos de ensino defasados quanto às questões metodológicas e avaliativas.
Não devemos desconsiderar que além do conteúdo necessário à aquisição de
conhecimentos voltados à qualificação para o trabalho, tem-se os conhecimentos
para a formação intelectual e científica. Por meio da EJA, os educandos devem
encontrar a ressignificação da função da escola e do trabalho com os conteúdos
escolares. Partir da realidade dos mesmos implica na valorização da realidade
em que os mesmos estão inseridos, assim a participação no processo de aquisi-
ção da linguagem certamente será mais efetiva.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
titutivo da organização escolar”. Implica “[...] a interação entre sujeitos que têm
um mesmo objetivo e a opção por um referencial teórico que o sustente”. A ques-
tão do referencial teórico é de extrema importância quando se tem propósitos e
intencionalidades comuns (professores e alunos). O currículo pressupõe a sis-
tematização dos meios para que a produção social do conhecimento aconteça.
Para Veiga (1995, p. 26-27),
[...] a transmissão dos conhecimentos historicamente produzidos e as
formas de assimilá-los, portanto, produção, transmissão e assimilação,
são processos que compõem uma metodologia de construção coletiva
do conhecimento escolar, ou seja, o currículo propriamente dito. Nesse
sentido, o currículo refere-se à organização do conhecimento escolar.
Esse pensamento condiz com o que Saviani (1992) traz sobre currículo em
Pedagogia Histórico-Crítica. Vejamos o que nos orienta o autor sobre essa questão:
De uns tempos para cá se disseminou a idéia de que currículo é o con-
junto das atividades desenvolvidas pela escola. Portanto, currículo se
diferencia de programa ou de elenco de disciplinas; segundo essa acep-
ção, currículo é tudo o que a escola faz; assim, não faria sentido falar
em atividades extracurriculares. Recentemente, fui levado a corrigir
essa definição acrescentando-lhe o adjetivo “nucleares”. Com essa reti-
ficação a definição, provisoriamente, passaria a ser a seguinte: currículo
é o conjunto das atividades nucleares desenvolvidas pela escola. E por
que isto? Porque, se tudo o que acontece na escola é currículo, se se
apaga a diferença entre curricular e extracurricular, então tudo acaba
adquirindo o mesmo peso; e abre-se o caminho para toda sorte de ter-
giversações, inversões e confusões que terminam por descaracterizar o
trabalho escolar (SAVIANI, 1992, p. 16).
O docente que trabalha com a demanda da EJA deve contribuir para a transfor-
mação do sujeito social, para que compreenda a realidade e possa intervir sobre
ela de forma crítica, consciente.
Na explicação sobre currículo, Veiga (1995) considera alguns pontos básicos:
O primeiro é de que currículo não é um instrumento neutro, é sim, um instru-
mento que transmite uma ideologia. O segundo ponto é que currículo não deve
ser separado do contexto social, pois “é historicamente situado e culturalmente
determinado”. O terceiro diz respeito ao tipo de organização curricular que a
escola deve adotar.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Segundo a autora, as instituições têm sido orientadas para uma organização
hierárquica e fragmentada do conhecimento escolar. Faz-se importante articular
as disciplinas do currículo em uma dimensão mais ampla dos conhecimentos.
O quarto e último ponto destacado por Veiga (1995, p. 18) se refere ao “controle
social”. “O currículo formal (conteúdos curriculares, metodologia e recursos de
ensino, avaliação e relação pedagógica) implica controle”.
A autora ainda explicita que “por outro lado, o controle social é instrumen-
talizado pelo currículo oculto” (VEIGA, 1995, p. 28), o que não aparece implícito
nos conteúdos trabalhados, mas que se manifesta no ambiente escolar. Assim,
o currículo voltado à Educação de Jovens e Adultos deve atender, portanto, às
necessidades de sua demanda. O professor para acompanhar também o processo
de formação nessa perspectiva não pode se eximir de estar frequentemente se
aperfeiçoando pedagogicamente.
É preciso considerar que o Projeto Político Pedagógico seja um documento
vivo na escola, ou seja, que ele manifeste os anseios da demanda que a frequenta.
Isso implica pensar que, na medida em que as atividades pedagógicas se reali-
zam, os conhecimentos trabalhados precisam articular-se entre si. O aluno deverá
perceber que os mesmos não são estanques, isolados da realidade. E, ainda, deve
ser considerado que as concepções pedagógicas precisam estar inseridas nas prá-
ticas desenvolvidas.
As concepções precisam pautar-se em referenciais que direcionam para o
entendimento sobre a realidade em que esses sujeitos estão inseridos, ainda há
outra questão interessante que pode promover a busca, o interesse dos alunos em
aprender os conteúdos da escola, são as ações que desafiam para a aprendizagem.
Articulador Desafiador
Deve ser
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Construído e vivenciado
Norteador por todos os membros da instituição
Fonte:<http://jmzimmer.blog.uol.com.br/projetos/>
Moreira (2000), ainda sobre a restrita visão de currículo, nos afirma que o
currículo não pode ser visto como somente lista de disciplinas e conteúdos, mas
uma visão de currículo que envolve “todo e qualquer fenômeno educativo”. No
Parecer do MEC, está colocado:
A flexibilidade curricular deve significar um momento de aproveita-
mento das experiências diversas que estes alunos trazem consigo como,
por exemplo, os modos pelos quais eles trabalham seus tempos e seu
cotidiano. A flexibilidade poderá atender a esta tipificação do tempo
mediante módulos, combinações entre ensino presencial e não–pre-
sencial e uma sintonia com temas da vida cotidiana dos alunos, a fim de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que possam se tornar elementos geradores de um currículo pertinente
(BRASIL, 2000, p. 61).
O que se espera é que a escola, por meio de sua prática pedagógica, possibilite
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
www.educadores.diaadia.pr.gov.br
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=27390>
Essa perspectiva nos impõe pensar sobre a prática educativa que é socialmente
construída, determinada por condicionantes que atendem às exigências postas,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cujos interesses são representados antagonicamente, considerando o homem, a
sociedade e a função social que este homem deve desempenhar na sociedade.
Nesse sentido, quando tratamos dos objetivos educacionais, devemos con-
siderar o que esses expressam. Os propósitos sobre a humanização dos sujeitos
precisam estar pautados na dimensão maior do trabalho com a educação. Os
indivíduos precisam estabelecer perspectivas de participação nas lutas sociais
que atendem os anseios da população de forma crítica, consciente, exercendo
a cidadania.
As práticas pedagógicas, portanto, devem atender essas finalidades, bus-
cando meios que favoreçam a efetividade desses objetivos, orientando o trabalho
da escola, dos professores, ou seja, das ações que são direcionadas para que, de
fato, tenhamos indivíduos que possam intervir, modificando, transformando seu
meio social. Não há como chegar a esse objetivo se as práticas pedagógicas não
tiverem organizadas no seu processo educativo, de planejamento, avaliação, coe-
rentes com o tipo de homem, sociedade que se quer formar, como está sempre
posto nos Projetos Políticos Pedagógicos dos sistemas de ensino.
Libâneo (1991, p. 120-130) destaca que há três referências para formulação
dos objetivos educacionais:
Os valores e ideais proclamados pela legislação educacional e que
expressam os propósitos das forças políticas dominantes no sistema
social.
Os conteúdos básicos das ciências, produzidos e elaborados no decurso
da prática social da humanidade.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
forma que seja percebido pelo grupo é o que muitas pessoas almejam. Podemos
perceber pela pesquisa realizada por Garcia que as pessoas envolvidas são traba-
lhadores, ex-trabalhadores (aposentados) que, mesmo sendo adultos ou idosos,
sentem falta de estarem aprendendo.
Segundo a autora, alguns alunos querem aprender, buscam a escola pelo
prazer que veem nela, um espaço em que podem conhecer mais, sentem-se capa-
zes de aprender. Garcia (2005) denomina esse motivo como alfabetização como
prazer em aprender. Observamos o relato do senhor Antonio, de 70 anos, tam-
bém aposentado:
Eu hoje estou aposentado [...] mas é muito importante a gente aprender
cada vez mais. Enquanto estou vivo, vou aprendendo cada vez mais
porque abre espaço para novos relacionamentos [...] Cada vez eu me
aprofundo mais. O meu grupo aí é o terceiro. Eles acham que eu sou
muito sabido, mas não sou. Eu procuro me aprofundar e vou embora.
Enquanto estiver vivo vou, entendeu? [...] Eu já com essa idade... os
mais jovens então, esses adolescentes então têm que se aprofundar [...]
(GARCIA, 2005, p. 6-7).
Esse depoimento nos orienta para a necessidade, para o prazer, para a disponi-
bilidade em que a pessoa se coloca diante do fato “aprender”. Considerado como
um homem “sabido” demonstra que se envolve com o processo, valoriza o tempo
e o espaço que se encontra, ainda faz referência aos jovens, os quais, hoje, não
aproveitam esse tempo e espaço escolar, percebendo depois, na vida adulta, o
quão poderiam ter estudado e aprendido para a vida.
A pesquisadora em questão enfatiza que os cidadãos que procuram a EJA vol-
tam a estudar visando sua participação social mais efetiva no âmbito da sociedade,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
né! Então agora, nessa idade, é que eu resolvi estudar para aprender
mais, mais é conta, o resto das coisas eu sei, entendeu? [...] todo mundo
até pergunta: nem parece que você nem estudou o segundo ano, por-
que eu sempre fui muito desembaraçada (STELA, 53 anos, manicure)
(GARCIA, 2005, pp. 9-10).
Então agora eu sou viúva, fiquei sozinha, só com meu filho. Meu filho
sai pra trabalhar [...] mas ficar sozinha é muita solidão, aí passei a voltar
pra estudar, pra eu sair dessa, entendeu? (ZILÁ, 52 anos, passadeira)
(GARCIA, 2005, p. 10).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que a formação docente deve fundamenta-se em bases teóricas sólidas, apoia-
das no pensamento filosófico e no conhecimento científico. Tal fundamentação,
para Mazzeu (s.d., p. 1), “é condição sine qua non para a efetiva compreensão do
homem como síntese de múltiplas determinações, assim como das vinculações
do trabalho educativo no contexto da prática social”.
A escola deve exercer uma função desinteressada, em que sejam produzi-
das nela as condições para que o homem possa desenvolver-se integralmente.
Considerando principalmente a EJA nesse processo, podemos inferir, a partir
do seguinte pensamento, que:
[...] Para o proletariado é necessária uma escola desinteressada. Uma
escola em que seja dada à criança a possibilidade de formar-se, de se
tornar homem, de adquirir princípios gerais que servem para o desen-
volvimento do caráter. Uma escola humanista, em suma, como a enten-
diam os antigos e os mais recentes do Renascimento. Uma escola que
não hipoteque o futuro da criança e não obrigue a sua vontade, a sua
inteligência e a sua consciência em formação a mover-se num sentido
pré-estabelecido. Uma escola de liberdade e de livre iniciativa e não
uma escola de escravidão e mecânica. Também os filhos dos proletá-
rios devem usufruir de todas as possibilidades, todos os campos livres
para poder realizar a sua própria personalidade no melhor sentido e,
portanto, no modo mais produtivo para eles e para a colectividade. A
escola profissional não deve tornar-se uma incubadora de pequenos
monstros aridamente instruídos para uma profissão, sem ideias gerais,
sem cultura geral, sem alma, só com um golpe de vista infalível e a mão
firme. Mesmo através da cultura profissional se pode fazer transformar
a criança em homem, contanto que seja cultura educativa e não apenas
informativa, não apenas prática manual (GRAMSCI, 2004, p. 101).
Na concepção de Gramsci (2001), o trabalho deve ser visto como princípio educa-
tivo e, ainda, considerando que a educação é um processo de trabalho, é possível
pensar que poucos na sociedade vivem do trabalho de muitos. Ou seja, aque-
les que produzem os bens não tem acesso a eles, porque a sociedade é desigual.
O homem, pelo processo de trabalho, se humaniza, todos, portanto, têm
esse direito. A educação deve estar alicerçada nesse princípio, já que ela mesma
é um processo de trabalho (Saviani, 2008).
É desta dimensão ontológica que Marx aponta o trabalho como um
princípio educativo. Trata-se de um pressuposto ético-político de que
todos os seres humanos são seres da natureza e, portanto, têm a neces-
sidade de alimentar-se, proteger-se das intempéries e criar seus meios
de vida. Socializar, desde a infância, o princípio de que a tarefa de pro-
ver a subsistência, pelo trabalho, é comum a todos os seres humanos,
é fundamental para não criar indivíduos, ou grupos, que exploram e
vivem do trabalho de outros. Na expressão de Antônio Gramsci, para
não criar mamíferos de luxo. (FRIGOTTO, 2001, p. 41, grifos do autor).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
comum (VÁZQUEZ, 1977, p. 333).
O agir consciente propicia pensar a práxis como revolucionária nas ideias colo-
cadas por Marx, Gramsci e traduzida neste material por Vázquez. Esta aspira
ao princípio ético, pressupõe estar bem consigo e com os outros. Essa questão
impõe mudança no aspecto social dos indivíduos, tira do condicionamento em
relação às situações de exploração a que estão submetidos.
Diante das palavras de Vázquez (1977), os sujeitos, no exercício de sua cons-
ciência, podem prescindir de relações humanas coletivas, na intencionalidade
percorrem caminhos para atingir objetivos próprios, mas que, na dinâmica da
sociedade, voltam-se para a produção como atividade social, atingindo o coletivo
nesse papel social. Assim, a função da escola deve tratar os conteúdos escola-
res como forma de preparar os indivíduos para atendê-los na dimensão mais
ampla, visando formá-los integralmente para enfrentar os desafios postos de
forma consciente, crítica.
A citação nos provoca a pensar que os sujeitos fazem parte de uma realidade
concreta, compreender o meio em que vive e fazer parte de um grupo social opor-
tuniza pensar acerca dos desafios em que se colocam os homens e a sociedade
como um todo. O professor necessita refletir sobre seu papel social à medida
que trabalha com os jovens e adultos. É pela educação que os homens se liber-
tam. Nessa perspectiva, Freire (1980) continua a afirmar:
Quanto mais refletir sobre a realidade, sobre sua situação concreta, mais
emerge, plenamente consciente, comprometido, pronto a intervir na reali-
dade para mudá-la. [...] Uma educação que procura desenvolver a tomada
de consciência e a atitude crítica, graças à qual o homem escolhe e decide,
liberta-o em lugar de submetê-lo, de domesticá-lo, de adaptá-lo, como faz
com muita frequência a educação em vigor num grande número de países
do mundo, educação que tende a ajustar o indivíduo à sociedade, em lugar
de promovê-lo em sua própria linha (FREIRE, 1980, p. 35).
Para atender a essa educação, a formação de professores, para atuar com alunos
jovens e adultos, exige pensar sobre esses sujeitos históricos, sobre a negação de
seus direitos em tempos passados. Não se pode deixar, nesse sentido, de consi-
derar o Estado que tem como responsabilidade implementar políticas públicas
que deem condição para que essa realidade se modifique no quadro educacio-
nal. Essa questão também perpassa a necessidade de formação dos profissionais
que trabalham com a modalidade de EJA.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=10697>
A realidade dos educandos deve ser o ponto de partida para a sistematização dos
conhecimentos. Para Bannell (2001, p.122), “é pensar que cada sala de aula está
inserida em um contexto sociocultural, que é plural, marcado pela diversidade
de grupos e classes sociais, visões de mundo, valores, crenças, padrões de com-
portamentos etc., uma diversidade que está refletida na sala de aula”.
Esse pensamento é colocado por Arroyo (2005, p. 35), quando enfatiza que
os “saberes, conhecimentos, interrogações e significados que aprenderam em
suas trajetórias de vida será um ponto de partida para uma pedagogia que se
paute pelo diálogo entre os saberes escolares e sociais”.
Material Complementar
108 UNIDADE III
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pudemos observar que o currículo da EJA não pode reproduzir uma proposta
metodológica pautada na adaptação, mas que procure trabalhar na perspectiva
da emancipação, desenvolvendo a consciência crítica. Santos (2000, p. 47) explica
currículo a partir da “fragmentação do ensino, com a introdução das disciplinas
escolares”. Essa não é uma preocupação atual. Porém, nos últimos anos, tem-se
discutido e estudado muito sobre esse assunto. A teorização sobre essa temática
ganha corpo cada vez mais, mas a escola em sua essência não tem manifestado
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mudanças significativas em relação à construção de um currículo que caminha
para a perspectiva emancipadora.
Outra questão analisada nesses estudos diz respeito aos indivíduos, quando
podemos afirmar que os mesmos se desenvolvem nos aspectos individual e
coletivo, individual no sentido de que o conhecimento se dá em cada indivíduo
singular, à medida que este se apropria dos conhecimentos produzidos coleti-
vamente pelos homens, mas, ao mesmo tempo, desenvolvem possibilidades e
capacidades que requerem o envolvimento social, intervenções constantes visando
atender os anseios coletivos dessa sociedade.
Os estudos nos oportunizaram também pensar que os jovens e adultos que
procuram a EJA necessitam do saber formal, haja vista as intenções em rela-
ção às questões pessoais, bem como às exigências do mundo do trabalho. Nesse
sentido, as próprias diretrizes tratam dos horários escolares desses indivíduos.
Os adolescentes, jovens e adultos da EJA normalmente trazem consigo expe-
riências ou visões da escola tradicional, ainda se veem como sujeitos passivos do
conhecimento. Assim, torna-se fundamental problematizar essas questões com
os educandos, no sentido de que construam sua autonomia intelectual, passando
a serem ativos e participantes no processo de aquisição dos conhecimentos.
IV
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
E POLÍTICA DOS CIDADÃOS:
UNIDADE
O CURRÍCULO E A (RE)
DEFINIÇÃO TEÓRICA DA EJA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conceituar alfabetização e letramento.
■■ Analisar o contexto da sociedade letrada e as exigências no mundo
trabalho.
■■ Refletir sobre o letramento a fim de perceber sua função para a
formação da consciência crítica e política dos cidadãos.
■■ Reconhecer a importância do currículo para a EJA enquanto
Modalidade de Ensino.
■■ Compreender a abordagem da Pedagogia Histórico-Crítica para a
redefinição teórica da Educação de Jovens e Adultos.
■■ Repensar sentidos e significados da EJA a partir das dimensões do
conhecimento.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Alfabetização e Letramento: elementos fundamentais para a vida
social dos homens
■■ A sociedade letrada e as exigências do mundo do trabalho
■■ Letramento: a consciência crítica e política dos cidadãos
■■ O currículo pertinente à modalidade de ensino: a EJA em questão
■■ A pedagogia histórico-crítica e a (re)definição da abordagem teórica
no trabalho escolar de jovens e adultos
■■ A EJA e o trabalho com as dimensões do conhecimento: repensando
sentidos e significados desta modalidade de ensino
113
INTRODUÇÃO
A vida social exige situações em que a simples codificação não dá conta de expli-
car. É preciso compreender, estabelecer relações, saber comunicar-se, argumentar
posicionamentos, inferir. Assim, percebe-se que alfabetizar somente não propor-
ciona possibilidades de inserção social condizentes com o que as pessoas esperam.
O grande desafio é alfabetizar letrando. Essa necessidade se dá na relação
que se estabelece com as dimensões sociais, políticas, culturais, históricas, eco-
nômicas; é preciso orientar o trabalho com a alfabetização a partir de situações
significativas da aprendizagem. Os sujeitos precisam perceber que os conheci-
mentos não são estanques, isolados de um contexto.
O letramento deve contribuir para que as pessoas possam relacionar suas
aprendizagens a outras aprendizagens, que cada palavra, cada texto possui senti-
dos que vão além do que está posto. Ler nas entrelinhas é compreender sentidos
e significados que mudam a vida. A leitura e escrita precisam fazer parte das
práticas sociais dos homens, por meio das ações destes na produção do próprio
processo de humanização.
O grande desafio do atendimento de jovens e adultos não se refere somente
àqueles que nunca foram à escola, mas àqueles que a frequentaram parcialmente,
mas que não conseguiram aprender para avançar em seus estudos, tendo que
retornar para conquistar essa finalidade ou, ainda, para participar da vida social
em todos os aspectos.
Torna-se relevante perceber na demanda da EJA as diferenças existentes
entre os sujeitos no que diz respeito à linguagem, à cultura, aos comportamen-
tos, enfim, perceber quais são as identidades que se fazem presentes no espaço
escolar da Educação de Jovens e Adultos.
Introdução
114 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: ELEMENTOS
FUNDAMENTAIS PARA A VIDA SOCIAL DOS HOMENS
Magda Soares, no livro Letramento: um tema em três gêneros, nos traz a concei-
tuação de letramento e faz o confronto entre esse processo e a alfabetização. A
autora coloca que esses elementos têm levado a uma
concepção equivocada de que os dois fenômenos se confundem, e até
se fundem. Embora a relação entre alfabetização e letramento seja ine-
gável, além de necessária e até mesmo imperiosa, ela, ainda que focalize
diferenças, acaba por diluir a especificidade de cada um dos dois fenô-
menos (SOARES, 2004, p.8).
©shutterstock
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
115
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em relação ao letramento, Soares (2003) afirma que “Letrar é mais que alfa-
betizar, é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a escrita e a leitura
tenham sentido e façam parte da vida do aluno” (s.p.). Nesse aspecto, a alfabe-
tização sempre foi entendida como aprendizagem do sistema da escrita. Essa
concepção foi ampliada, pois não basta o aluno apenas ler e escrever, é preciso ir
além da alfabetização funcional, ou seja, é saber fazer uso da leitura e da escrita
na prática social.
Portanto, o sentido ampliado da alfabetização, o letramento, designa as prá-
ticas de leitura e escrita. Para Soares (2003),
A entrada da pessoa no mundo da escrita se dá pela aprendizagem de
toda a complexa tecnologia envolvida no aprendizado do ato de ler e
escrever. Além disso, o aluno precisa saber fazer uso e envolver-se nas
atividades de leitura e escrita. Ou seja, para entrar nesse universo do
letramento, ele precisa apropriar-se do hábito de buscar um jornal para
ler, de frequentar revistarias, livrarias, e com esse convívio efetivo com
a leitura, apropriar-se do sistema de escrita (s.p.).
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
117
perceber que possuem uma origem que é histórica e cultural, possuem especi-
ficidades, são, na sua maioria, trabalhadores, filhos de trabalhadores com baixa
instrução e, muitas vezes, com pouca qualificação profissional. Sujeitos que
carregam marcas sociais, indicadores de desigualdades, de ausência de oportu-
nidades, de baixa autoestima, enfim, homens que necessitam se tornar sujeitos
da história, cidadãos que exerçam efetivamente sua cidadania.
A condição para que os indivíduos enfrentem os desafios da sociedade con-
temporânea é ler e escrever. A leitura e a escrita propiciam o acesso aos rudimentos
do saber, fazem com que os sujeitos se apropriem dos bens culturais por meio
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
©portaldoprofessor
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Para o desenvolvimento cognitivo, há que se destacar a importância das
relações sociais dos indivíduos da EJA, trazendo para a escola questões perti-
nentes ao âmbito das relações familiares, do trabalho, da comunidade em que
faz parte, assim o sentido e o significado do que se aprende constitui-se de forma
mais efetiva.
Trabalhar com o texto traz situações possíveis para perceber a realidade como
um todo, embora se detenha durante o processo, em partes específicas como, por
exemplo, trabalhar as letras do nome ou a primeira sílaba de uma palavra signi-
ficativa do texto para depois introduzir outras sílabas ou palavras.
À medida que se incorporam os sentidos e significados do que se ensina,
favorece aos sujeitos perceberem o conhecimento em situações da prática social.
Ao relacionar o que aprende com o que observa e vê na prática social, os alunos
da EJA formulam hipóteses, descobrem, relacionam, comparam, reestruturam
e se apropriam do sistema de escrita.
As situações de aprendizagem desenvolvidas pela escola precisam valori-
zar as experiências de seus alunos, bem como sua realidade social, mostrando
as relações que podem ser estabelecidas no âmbito educacional e profissional,
quando se trata dos educandos da EJA.
Em relação à leitura e à escrita, faz-se necessário contemplar no trabalho
pedagógico o universo vocabular dos sujeitos, para que possam basear-se na sua
familiaridade, relacioná-los aos conhecimentos transmitidos. Suas vivências e
experiências de vida se tornam significativas nesse processo.
A complexidade que envolve a alfabetização e o letramento traduz-se nas
normas da língua, no sistema alfabético, nos padrões silábicos, nas questões
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
119
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
seus conflitos, seus desafios, percebendo melhor a realidade.
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
121
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
123
cado que a leitura e escrita devem ter para o educando da EJA. É preciso perceber
que o alfabeto possui uma sequenciação e isso exige memória, sistematização.
Essa situação permite conhecer o alfabeto, pensar sobre sua ordem, e o
quanto essa apropriação promove o conhecimento sobre a localização do alfa-
beto nas palavras que visualiza, nos diversos recursos expostos no meio social
(placas, outdoors, rótulos de embalagens etc), além de facilitar o entendimento
e localização das palavras presentes em listas diversas que compõem o cotidiano
(lista telefônica, agenda, catálogo, dicionário, arquivo, listas de compras etc.).
O Caderno de orientações didáticas para EJA – Alfabetização/Etapas da
Educação Básica, São Paulo (2010), orienta que para além das descobertas que
os alunos fazem sobre o uso social da leitura e a da escrita, “o aluno precisará
reconhecer a palavra como identidade de significado entre dois espaços. Na lei-
tura e cópia de textos de diferentes gêneros, o espaço deve ser trabalhado como
observável, possibilitando essa elaboração e a amplia”.
A discussão dos tipos de espaço encontrados nos textos pode gerar as
primeiras descobertas sobre parágrafo. Toda descoberta impõe novas
reflexões no sentido de reconstrução e reorganização do conhecimen-
to assimilado. As novidades próprias desse processo contribuirão para
que o aluno supere as limitações iniciais de compreensão e uso do pa-
rágrafo, ampliando para que perceba que há mudanças de parágrafos
quando se muda de assunto, por mudança de tempo, de espaço, de per-
sonagem, de foco etc. (SÃO PAULO, 2010).
paragrafação. Os sinais que não são letras, cabe ao professor mediar no momento
em que o aluno está produzindo, explicando de forma que o aluno perceba a
organização a partir desses elementos, para melhor organização do texto.
A leitura de textos variados feita com ênfase nas falas das personagens,
acompanhadas de gestos e expressões faciais sugerem que esses recur-
sos traduzem o sentimento das personagens e que, na escrita, essa fun-
ção é ocupada pelos sinais de pontuação. Dramatizações de histórias
do cotidiano ou da literatura podem preceder o exercício de escrita que
tem por objetivo a escrita de texto e o emprego dos sinais de pontuação.
A coordenação dos significados do espaço e da pontuação é facilitadora
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da aprendizagem do discurso direto, mas ainda assim é preciso que o
leitor consiga diferenciar entre os trechos narrados e as falas das perso-
nagens (SÃO PAULO, 2010).
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
125
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
©portaldoprofessor
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
127
como piada.
©portaldoprofessor
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
©portaldoprofessor
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
129
©portaldoprofessor
Podemos inferir que a escola possui uma função que lhe é específica, cabe a ela
proporcionar a aquisição da leitura e da escrita, desenvolver capacidades cogni-
tivas que levem à interpretação, à produção de textos, de forma que os sujeitos
da EJA possam perceber os usos e funções dessas questões na vida social. O con-
tato com diferentes gêneros favorece para essa apreensão.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
©portaldoprofessor
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
131
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
autocrítica, expandir seu pensamento, fazer análises etc.
O que se almeja no trabalho com a leitura na EJA é dar condições para que
os indivíduos possam adquirir o gosto pelo ato de ler continuamente, e perceber
que a leitura amplia os horizontes, utilizando uma linguagem mais corriqueira.
Se os indivíduos adquirirem o hábito da leitura, poderão fazer inferências,
questionar, analisar, desenvolver com o tempo a capacidade de síntese, relacio-
nando os conhecimentos da escola, das produções que leem nos livros ou outros
instrumentos de leitura, às coisas do seu cotidiano. Assim, é possível estabele-
cer relações com os conhecimentos prévios, os que já trouxeram para a escola,
a partir de suas experiências de vida.
Vejamos a canção abaixo, certamente chamará atenção de pessoas jovens e
adultos que lidam com a terra ou moram no campo.
O Cio da Terra
Milton Nascimento Decepar a cana Afagar a terra
Debulhar o trigo Recolher a garapa da Conhecer os desejos da
Recolher cada bago do cana terra
trigo Roubar da cana a Cio da terra, propícia esta-
Forjar no trigo o milagre doçura do mel, ção
do pão Se lambuzar de mel. De fecundar o chão.
E se fartar de pão. Composição: Chico Buarque/
Milton Nascimento
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
133
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
IV
UNIDADE
134
135
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: <http://miriamveiga.wordpress.com/eja/eja-folclore-1/>
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Ilustração: Nara Tanaka / EAD
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
137
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
139
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
141
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A SOCIEDADE LETRADA E AS EXIGÊNCIAS DO
MUNDO DO TRABALHO
Por meio do trabalho, construímos nossa existência humana bem como forma-
mos nossa consciência. Na ação sobre a natureza, o homem produz sua existência.
O trabalho não pode ser entendido nesse aspecto como emprego que o homem
na sua condição prática necessita para sobreviver, ou seja, busca por meio do
emprego a forma de suprir suas necessidades elementares.
O trabalho é o meio pelo qual o homem consegue humanizar-se, por isso não
deve ser de exploração das forças produtivas, de alienação, mas de possibilidade
de crescimento, tanto pessoal quanto profissional. Nessa forma de entendimento,
o homem cria e recria, se aperfeiçoa continuamente em suas condições de sub-
sistência para continuar se humanizando. O trabalho torna-se a base histórica de
análise da sociedade. Saviani (1989, p.1-2) afirma que o trabalho pode ser con-
siderado em três sentidos diversos, mas que são articulados entre si:
Num primeiro sentido, o trabalho é princípio educativo na medida em
que determina, pelo grau de desenvolvimento social atingido histori-
camente, o modo de ser da educação em seu conjunto. Nesse sentido,
aos modos de produção correspondem modos distintos de educar com
uma correspondente forma dominante de educação. Em um segundo
sentido, o trabalho é princípio educativo na medida em que coloca exi-
gências específicas que o processo educativo deve preencher, em vista
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
143
É pela consciência sobre as ações práticas, teóricas, políticas que o ser humano
busca as formas para intervir na natureza, dominando-a e modificando-a. Essa
mesma consciência também permite ao homem pensar sobre como suas ações,
com base em interesses capitalistas, podem destrui-la e torná-la desumana.
O trabalho pode ser visto sob sua atividade criadora que produz, como já foi
dito, a existência humana, ou ainda, como atividade que promove o desenvolvi-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Podemos ainda, caro(a) graduando(a), nos reportar a Gramsci (2001), o
qual nos propicia o entendimento acerca do “trabalho como princípio educa-
tivo”. Esse autor nos faz pensar sobre o sentido que está presente na dinâmica:
trabalho, identidade, contradição. Assim:
Descobrir a identidade real sob a aparente diferenciação e contradi-
ção, e descobrir a substancial diversidade sob a aparente identidade,
eis o mais delicado, incompreendido e, não obstante, essencial dom
do crítico das idéias e do historiador do desenvolvimento histórico.
O trabalho educativo-formativo desenvolvido por um centro homo-
gêneo de cultura, a elaboração de uma consciência crítica (por ele
promovida e favorecida) sobre uma base histórica que contenha as
premissas concretas para tal elaboração [...]. [...] O trabalho necessá-
rio é complexo e deve ser articulado e graduado: deve haver dedução
e indução combinadas, a lógica formal e a dialética, identificação e
distinção, demonstração positiva e destruição do velho. Mas não de
modo abstrato, e sim concreto, com base no real e na e na experiência
efetiva (GRAMSCI, 2001, p. 206-207).
Gramsci se interessava muito pela questão cultural dos indivíduos, isso parecia
estar bem evidenciado nesse autor. Podemos completar essa ideia por meio de
outros autores contemporâneos.
[...] a cultura deve ser compreendida no seu sentido mais amplo pos-
sível, ou seja, como a articulação entre o conjunto de representações e
comportamentos e o processo dinâmico de socialização, constituindo
o modo de vida de uma população determinada. Portanto, cultura é o
processo de produção de símbolos, de representações, de significados
e, ao mesmo tempo, prática constituinte e constituída do/pelo tecido
social (FRIGOTTO; CIAVATTA; RAMOS, 2005, p. 6).
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
145
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao3.pdf>
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
147
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nhos só com desenhos, pinturas, charges, etc), é preciso discutir o que
dizem as linguagens não verbais e, quando este for o caso, como elas se
correlacionam com a linguagem verbal. Elementos da linguagem não
verbal são cores, formas de balões, linhas, volumes, expressões fisionô-
micas das pessoas em desenho ou foto, elementos presentes, músicas,
gestos, etc (TRAVAGLIA; COSTA; ALMEIDA, 2005, p. 32, grifos dos
autores).
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
149
A estrutura da língua que uma pessoa fala influencia a maneira com que
esta pessoa percebe o universo.
(Lev Vygotsky)
Zona de Desenvolvimento
Proximal
REAL POTENCIAL
ZDP
“O bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento“
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Na abordagem sócio-histórica da Psicologia Soviética, têm-se as contribuições
de Luria, Leontiev e Vygotsky (1988). Essa teoria tem seu enfoque nas intera-
ções socioculturais.
Esses teóricos colocam que o desenvolvimento dos processos psicológicos
superiores, que estão relacionados à consciência dos sujeitos, é resultado do pro-
cesso sócio-histórico. O desenvolvimento, nessa perspectiva, acontece de forma
intersubjetiva (de fora – exógeno) para o intrasubjetivo (para dentro – endó-
geno), e é nessa dinâmica que a cultura ganha importância na vida dos homens.
É nessa relação, ainda, que temos os conhecimentos espontâneos, cotidianos,
formulados pela linguagem, e os científicos, cujo compromisso está na escola
como espaço sistematizado dos conhecimentos.
Fonte: <http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/eja_caderno1.pdf>
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
151
A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA E A
REDEFINIÇÃO DA ABORDAGEM TEÓRICA: O
TRABALHO EM TURMAS DE JOVENS E ADULTOS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
opõe, necessariamente, ao moderno e muito menos ao atual. O clássico
é aquilo que se firmou como fundamental, como essencial. Pode, pois,
se constituir num critério útil para a seleção dos conteúdos do trabalho
pedagógico.
A escola tem como tarefa fundamental a aquisição dos instrumentos que possi-
bilitam o acesso ao saber elaborado (ciência) bem como o acesso aos rudimentos
desse saber. Saviani (1992, p. 15) enfatiza que as atividades da escola básica
necessitam se pautar a partir desse pressuposto. Na explicação sobre currículo,
o autor acrescenta:
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
153
À medida que há a mediação, pode-se instigar o aluno para que pense acerca
de sua realidade, fazendo comparações, estabelecendo relações, acionando o pen-
sar constante sobre o que está aprendendo.
O professor precisa percorrer todas as possibilidades de apreensão desses
conhecimentos por parte dos seus alunos. Sempre ir retomando os objetivos para
observar se o que está acontecendo em termos didáticos e pedagógicos de ensi-
nar e aprender está indo ao encontro do que foi proposto nos objetivos gerais e
específicos no seu Plano de Trabalho Docente.
Os conteúdos com os quais a escola trabalha são resultado das necessida-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
des sociais, políticas, culturais, econômicas. Portanto, considerar o movimento
histórico é fundamental para que haja compreensão da origem, das causas, dos
fatos ou fenômenos que acontecem.
Considerando esse pensamento, a prática-teoria-prática tomada como prin-
cípio da práxis torna-se relevante no processo como um todo, perceber que tudo
pode ser transformado pelo homem é fundamental, ao mesmo tempo em que é
possível trazer as questões essenciais da vida humana como valores e princípios
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA
155
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
158
1. A partir das leituras realizadas nesta unidade, desenvolva um breve texto ex-
plicando a relação homem e natureza, homem e trabalho na perspectiva da
análise de Saviani (2008).
2. Discorra sobre a importância de se realizar um planejamento pautado nos ele-
mentos da didática para a Pedagogia Histórico-Crítica em salas da EJA.
Conceitue:
• Alfabetização
• Letramento
• Educação
• Trabalho
MATERIAL COMPLEMENTAR
EDUCAÇÃO E TRABALHO
Acesse o link e assista a mais um vídeo sobre essa temática: O homem, para subsistir, produz
continuamente os bens de que necessita. Ao fazer isso, transforma o ambiente natural em seu
benefício, ao mesmo tempo em que se transforma como homem.
Esse processo de transformação se dá pelo trabalho, elemento indispensável para que o homem
continue subsistindo. O trabalho passa a ser uma ação adequada a finalidades, uma ação
intencional.
Para compreender mais sobre EDUCAÇÃO E TRABALHO, acesse o link: <http://www.youtube.com/
watch?v=-bc5OMfUSGk>.
Material Complementar
Professora Me. Maria Rosânia Mattiolli Ribeiro
V
OS OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO, PLANEJAMENTO
UNIDADE
ESCOLAR, A ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
NO PRINCÍPIO DA PRÁXIS E A AVALIAÇÃO DO
PROCESSO DE ENSINO E DA APRENDIZAGEM
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer os objetivos da educação e da educação escolar para
compreender sua dinâmica no processo formativo dos sujeitos.
■■ Analisar o sentido da práxis no contexto da ação docente.
■■ Compreender a função social do planejamento escolar e a atuação
do professor diante desse compromisso ético.
■■ Reconhecer a avaliação como um componente importante do
planejamento escolar.
■■ Analisar a avaliação como processo que articula saberes e fazeres
pedagógicos.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Os objetivos da educação: componentes fundamentais para pensar o
processo formativo dos cidadãos
■■ A práxis: princípio orientador da ação docente na EJA
■■ O compromisso social do professor: o planejamento escolar e a
orientação pedagógica a partir do princípio da práxis
■■ A avaliação e o contexto de apropriação do conhecimento
■■ A avaliação como processo: caminho para mudança da prática
pedagógica
163
INTRODUÇÃO
Introdução
164 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O COMPROMISSO SOCIAL DO PROFESSOR: O
PLANEJAMENTO ESCOLAR E A ORIENTAÇÃO
PEDAGÓGICA A PARTIR DO PRINCÍPIO DA PRÁXIS
Neste pensamento, nos reportamos a Kuenzer (1990); a autora aponta que para
haver mudança é preciso ter direção. Isso significa que no momento do plane-
jamento é preciso ter em mente onde se pretende chegar.
Um dos princípios que orientam o planejamento é seu contexto histórico.
Sabemos que, sua forma e elementos fundamentais permeiam um contexto téc-
nico, mas não pode ser esquecida sua abordagem teórico-prática de organização,
de sistematização sobre o quê, para quê e como ensinar.
A escola, na sua função de transmissora de conhecimentos elaborados
tudo conhecer. Dessa forma, é preciso garantir o acesso às práticas sociais para
produzir uma vida digna aos cidadãos, talvez assim se possa superar a exclusão
social e educacional. Portanto, pode-se inferir que:
O princípio da unidade entre pensamento e ação é correlato à busca
intencional da convergência entre teoria e prática na ação humana, seja
ela qual for. A relação entre teoria e prática se impõe, assim, não apenas
como princípio metodológico inerente ao ato de planejar, mas, funda-
mentalmente, como princípio epistemológico, isto é, princípio orienta-
dor do modo como compreendemos a ação humana, de conhecer uma
determinada realidade e intervir sobre ela no sentido de transformá-la
(SOUZA; GOUVEIA; SILVA; SCHWEENDLER, 2011, p. 11).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
• Definir objetivos – em função dos 3 níveis de aprendizagem: aquisi-
ção, reelaboração e produção de conhecimentos;
• Prever conteúdos – tendo como critérios de seleção a finalidade de
que eles atuem como instrumento de compreensão crítica da realidade
e como elo propiciador da autonomia;
• Selecionar procedimentos metodológicos – considerando os dife-
rentes níveis de aprendizagem e a natureza da área do conhecimento;
• Estabelecer critérios e procedimentos de avaliação – consideran-
do a finalidade de intervenção e retomada no processo de ensino e
aprendizagem sempre que necessário (SOUZA; GOUVEIA; SILVA;
SCHWEENDLER, 2011, p. 28, grifos dos autores).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cimentos científicos escolares.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
respeito à modalidade da EJA. Tratar o processo de ensino e aprendizagem na pers-
pectiva da práxis é sair da condição de alienação para outra condição, a de participante
e atuante no processo educativo, pois o conhecimento escolar, conforme Gramsci,
é o bem universal que precisa se tornar realidade, necessita ser direito de todos.
A cientificidade do trabalho educativo em relação aos conteúdos escolares
é demonstrada por Manacorda (1990) quando nos coloca que em Engels, na
Dialética da Natureza e, por coincidência, nas formulações de Marx, é demons-
trado que os conteúdos científicos devem ser entendidos como elementos de
rigor objetivo que orientam para uma compreensão geral do mundo.
Esse rigor implica em o que se trabalha, para que se trabalha e como se tra-
balha esses conteúdos, de forma a atingir os objetivos que a EJA se propõe a
ensinar. A teoria e a prática docente são elementos fundamentais para desen-
volver qualquer possibilidade de aquisição do conhecimento. Nesse sentido, a
alfabetização precisa acontecer concomitantemente ao letramento, assim é pos-
sível compreender melhor o mundo.
Essa possibilidade reforça a implicação consciente de que teoria e prá-
tica são elementos constituintes da dimensão política capaz de propi-
ciar a práxis no sentido que atribui Marx, não se confundindo com a
prática no sentido utilitário, voltada para os imediatismos decorrentes
das necessidades dos setores produtivos da sociedade, os quais visam
somente os “resultados”, não sendo considerados os processos como
um todo. Assim, a atividade humana é compreendida como prática e
teoria ao mesmo tempo, se confundindo entre si na atuação docente
(GOZZI; RIBEIRO, 2009, p. 3288).
Esta questão vem explicitada por Pimenta (2006, p. 88), continuando o pensa-
mento do autor: “a atividade humana se caracteriza como produto da consciência,
a qual prefigura as finalidades da ação (atividade teórica)”. Essas finalidades,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Vázquez (1977, p. 189) destaca, que são “a expressão de certa atitude do sujeito
em face da realidade. Pelo fato de traçar-me um objetivo, adoto certa posição
diante da realidade”. Isso representa o objetivo que o sujeito estabelece a partir
do modo como lê e interpreta a realidade.
Na distinção entre práxis e atividade, Vázquez (1977, p. 185) enfatiza que:
“Toda práxis é atividade, mas nem toda atividade é práxis”. Em uma concepção
de educação, em uma perspectiva crítica, há necessidade de coerência quanto
aos elementos didáticos e metodológicos que constituem a atividade docente.
Saviani (2005), trazendo a questão no texto “Para Além dos Métodos Novos e
Tradicionais”, reporta-se também a Sánchez-Vázquez (1977) para explicitar o
campo em discussão, ou seja, da teoria e prática educativa.
A teoria em si [...] não transforma o mundo. Pode contribuir para a sua
transformação, mas para isso tem que sair de si mesma, e, em primeiro
lugar, tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar, com seus atos
reais, efetivos, tal transformação. Entre a teoria e a atividade prática
transformadora se insere um trabalho de educação das consciências, de
organização dos meios materiais e planos concretos de ação; tudo isso
como passagem indispensável para desenvolver ações reais, efetivas.
Nesse sentido, uma teoria é prática na medida em que se materializa,
através de uma série de mediações, o que antes só existia idealmente,
como conhecimento da realidade ou antecipação ideal de sua transfor-
mação (SANCHEZ-VÁZQUEZ apud SAVIANI, 2005, p. 73).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Cabe a nós, portanto, compreendermos a natureza dos fenômenos e objetos,
pois é dela que partirá toda a noção de realidade para o professor, essa realidade
que supomos sempre pode ser transformada a partir de nossas ações nos sabe-
res e fazeres docentes.
Cabe, nesta abordagem, pensar a importância de se ter clara a concepção
de educação, de ensino e aprendizagem para que a práxis seja efetivada concre-
tamente na ação docente, bem como a compreensão sobre a unidade, que deve
ser estabelecida entre teoria e prática.
Parafraseando Vázquez, a natureza, a sociedade ou os homens reais são obje-
tos da atividade prática, e a finalidade dessa atividade é a transformação real e
objetiva do mundo natural ou social para satisfazer as necessidades humanas.
deve ser constante, haja vista que por meio dela é possível perceber como os sujei-
tos aprendem em um processo que exige a mediação. Nesse sentido, os registros
do professor são fundamentais para acompanhamento do processo que envolve
a aprendizagem dos seus alunos, bem como é possível compreender as dificul-
dades encontradas pelos mesmos na aquisição dos conhecimentos propostos.
Outra questão importante é observar sempre se os objetivos estabeleci-
dos nos planos de ensino estão sendo alcançados. Retomá-los, se faz necessário
durante o processo, assim pode-se intervir a tempo na superação dos obstáculos.
Acompanhar o processo de aprendizagem dos alunos é obter suporte para
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a avaliação. Cabe ressaltar que a observação sobre como os alunos aprendem
e os registros elaborados pelo professor podem contribuir para uma avaliação
mais apurada sobre o ensino e a aprendizagem. Esse levantamento de informa-
ções necessita acontecer continuamente, não somente ao final de um processo,
mas durante o mesmo.
A avaliação não é só para o aluno, mas também para o professor que deve
sistematizar seu trabalho, retomar conteúdos, a fim de atingir os objetivos pro-
postos, às vezes, redefini-los, rever metodologias, enfim, replanejar. “Em outras
palavras, a avaliação não pode ser um mecanismo para classificar, excluir ou pro-
mover o aluno, mas um parâmetro da práxis pedagógica que toma os erros e os
acertos como elementos sinalizadores para o seu replanejamento” (PARANÁ,
2006, p. 42).
A avaliação, como instrumento que permite compreender a realidade esco-
lar dos alunos, principalmente no que diz respeito ao trabalho em sala de aula,
contribui para que outros rumos sejam tomados. Os resultados avaliativos devem
servir para a revisão de instrumentos e critérios estabelecidos, inclusive no âmbito
do Projeto Político Pedagógico das escolas que ofertam a EJA.
O professor que quer superar o problema da avaliação precisa, a partir
de uma auto-crítica: abrir mão do uso autoritário da avaliação que o
sistema lhe faculta, lhe autoriza; rever a metodologia do trabalho em
sala de aula; redimensionar o uso da avaliação (tanto do ponto de vista
da forma como do conteúdo); alterar a postura diante dos resultados
da avaliação; criar uma nova mentalidade junto aos alunos, aos colegas
educadores e aos pais (VASCONCELOS, 1994, p. 54).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tiza que a avaliação deve preocupar-se com a transformação da sociedade e isso
se dá por meio do sujeito social, que de posse do conhecimento contribui para
a transformação desta.
Esse pensamento se aproxima da análise de Pinto (2005, p. 78), o qual admite
que a Educação de Adultos destaca-se por ser um desdobramento da cultura e,
sendo assim, compreende-se que possibilita o acesso a uma vida melhor, tanto
no sentido pessoal quanto profissional, voltado à atuação do trabalhador. Em se
tratando da avaliação em caráter democrático, são percebidos avanços, haja vista
seu sentido na construção de critérios coletivos definidos no âmbito interno dos
ambientes escolares.
Os critérios, aos quais nos referimos, precisam acontecer com maior rigor na
avaliação escolar. Quando falamos em critérios avaliativos, sabemos que é uma
tarefa um tanto difícil, afinal, avaliar o outro implica em ter domínio, segurança,
firmeza do que se está fazendo. Saber o que fazer com os resultados torna-se mais
difícil ainda, pois requer reorganização da prática, rever conceitos, reestruturar
o planejamento, retomar conteúdos.
Assim, podemos entender que é preciso buscar formas, meios que favoreçam
a análise do processo como um todo para, então, intervir de maneira organizada
e sistemática e levar mais pessoas a superarem os obstáculos que se colocam no
ensino e na aprendizagem. Normalmente nos escritos sobre avaliação, temos a
concepção de que é contínua, diagnóstica, cumulativa e, ainda que deva ocor-
rer, durante o processo e não após o processo.
A avaliação, ainda no nosso meio, muitas vezes é desenvolvida com finali-
dade coercitiva; esta não pode ser um mecanismo de arbitrariedade, de punição.
A esse se acrescenta:
No contexto de uma cultura avaliativa classificatória e excludente, faz-
-se necessário repensar no discurso de uma “escola libertadora”, se tal
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ATIVIDADE DE AUTOESTUDO
Observe a tirinha abaixo e relacione-a com o texto que acabaram de ler. Pro-
duza um comentário destacando o sentido da avaliação escolar:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Ilustração Nara Tanaka / EaD
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), o professor não desenvolve um bom trabalho se não houver uma
boa direção. Planejar é antecipar mentalmente uma ação a ser realizada e agir de
acordo com o que se propõe, é buscar fazer algo com finalidades específicas, essen-
cialmente humanas. Nesse aspecto, tem-se a realidade comandada pelo ideal, nessa
intencionalidade, portanto, se contribui para concretizar aquilo que se almeja.
Quando falamos em planejamento educacional, temos sempre as finalidades
estabelecidas em longo prazo, tradicionalmente constam como objetivos gerais,
que são mais profundos, mais abrangentes que representam os anseios maiores
da escola, e os objetivos específicos, pensados em curto prazo, os quais orien-
tam os conteúdos nas suas especificidades imediatas. Tanto os gerais quanto os
específicos se articulam mutuamente.
Discutindo o planejamento, temos a avaliação com finalidades específicas.
É preciso percorrê-las na medida em que o trabalho pedagógico é realizado, o
desempenho do aluno não deve resultar somente em aspectos quantitativos, mas
qualitativos. Intervir pedagogicamente é tarefa do professor, às vezes há necessi-
dade de retomar, voltar ao início, recomeçar, quando se percebem as limitações
dos alunos, dependendo da demanda com a qual se trabalha.
Ainda cabe salientar que outra questão é a relação com os objetivos do trabalho
com os conteúdos propostos. Não se pode esquecê-los, pois esses orientam a prá-
tica pedagógica e traduzem as mudanças almejadas na prática social dos sujeitos.
Considerações Finais
180
Material Complementar
183
CONCLUSÃO
Prezado(a) aluno(a),
Chegamos ao final desse livro e espero ter contribuido com seu conhecimento so-
bre a Educação de Jovens e Adultos. Compreendemos que recuperar historicamen-
te a Educação de Jovens e Adultos implica em retomar os princípios e valores que
estiveram presentes no âmbito da educação brasileira.
A historicidade é algo a não perder de vista quando pensamos a educação na sua
dimensão mais ampla. Paiva (1987, p. 19) nos provoca a pensar que “os sistemas
educacionais e os movimentos educativos em geral, embora influam sobre a socie-
dade a que servem, refletem basicamente as condições sociais, econômicas, políti-
cas dessa sociedade”.
A história da educação de um país acompanha os movimentos que direcionam con-
tinuamente essa história, suas transformações em todas as instâncias: sociais, políti-
cas, econômicas, culturais.
Nesse sentido, têm-se as contradições que precisam ser analisadas sob esses mes-
mos aspectos, entendendo, assim, que a sociedade está em constante movimento
de transformação. A EJA se enquadra nesse processo histórico à medida que vem
passando por mudanças, reformulações que orientam sua condição teórico-meto-
dológica.
Sabemos que a EJA, na sua historicidade, vem lutando para melhor inserção no
quadro das políticas públicas. Os sujeitos que procuram a formação na modalidade
de ensino da EJA são pessoas que normalmente sentem-se excluídas do processo
social como um todo. O conceito que tem sido empregado para justificar essa de-
manda de escolarização fere, muitas vezes, os princípios da pessoa humana, pois
são colocados como incompetentes, fracassados, dentre outras denominações.
Os jovens e adultos se inserem na sociedade ativamente, pois já possuem vivência,
experiências de vida ricas de elementos que necessitam ser explorados. Essas pes-
soas são homens, mulheres, muitas vezes desempregados, trabalhadores que bus-
cam melhorar suas condições de vida ou de trabalho. Lutam para superar condições
precárias, nas quais vivem.
A pessoa quando adulta retorna aos bancos escolares, com o objetivo de buscar
algo que deixou para trás. Às vezes sua visão é ingênua, pois não irá encontrar a
mesma escola que deixou, hoje terá uma nova realidade a enfrentar. Outras vezes
o leva a buscar os estudos novamente; é a necessidade de qualificação profissional.
Aconselha-se não utilizar metodologias desenvolvidas nas escolas do Ensino Fun-
damental regular, principalmente a linguagem infantilizada. Certamente, adultos
não vão se interessar por atividades, textos que normalmente são direcionados às
crianças.
CONCLUSÃO
_______. Educação popular e educação de adultos. São Paulo: Edições Loyola, 1987.
PAIVA, Vanilda P. Educação popular e educação de adultos. 5.ed. São Paulo: Loyo-
la, 1983.
PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos. Governo do
Estado do Paraná, Secretaria de Estado da Educação, Superintendência da Educa-
ção, Curitiba: PR. 2006.
PARANÁ. Secretaria da Educação. Disponível em: www.educadores.diaadia.pr.gov.
br/modules/mylinks/viewcat.php?op=&vid=1>. Acesso em: 18 dez. 2014.
PEREIRA, M. Z. C. Globalização e Políticas Curriculares: mudanças nas práticas. In:
PACHECO, José Augusto; MORGADO, José Carlos; MOREIRA, Antônio Flávio. (orgs.)
Globalização e (Des)Igualdades: Desafios Contemporâneos. Porto: Porto Editora,
2007.
PINTO, Álvaro Vieira. Sete lições sobre educação de adultos. São Paulo: Cortez,
1997.
PINTO, J. B. Planejamento participativo na escola cidadã. Palestra proferida no
Seminário Nacional Escola Cidadã. Porto Alegre: Secretaria Municipal de Educação,
1994.
PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na formação de professores: unidade teoria e
prática? 7. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
RIBEIRO, Vera Maria Masagão (Coord). Educação de Jovens e Adultos: proposta
curricular para o 1º segmento do Ensino Fundamental. São Paulo/Brasília: MEC/SEF,
1997.
SACRISTÀN, José Gimeno. A instituição escolar e a compreensão da realidade: o cur-
rículo integrado. In: SILVA, Luiz Heron et al. (Org.). Novos mapas culturais, novas
perspectivas educacionais. Porto Alegre: Sulina, 1996a, pp. 58-73.
_____. Escolarização e Cultura: a dupla determinação. In: SILVA Luiz Heron et al.
(Org.). Novos mapas culturais, novas perspectivas educacionais. Porto Alegre:
Sulina, 1996b, pp.34-56.
SANTOS, Lucíola L.C.P. Pluraridade de saberes em processos educativos. In: CAN-
DAU, Vera Maria. (Org). Didática, currículo e saberes escolares. Rio de Janeiro:
DP&A, 2000.
SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Alfabetização: etapas alfabe-
tização e básica. São Paulo: Caderno de orientações didáticas para EJA - SME/DOT,
2010. Disponível em:<http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/BibliPed/Do-
cumentos/publicacoes/orienta_alf_portal.pdf>.
SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico-Crítica: primeiras aproximações. Campi-
nas: Autores Associados, 1992a.
189
REFERÊNCIAS