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LEGISLAÇÃO

EMPRESARIAL

Professora Me. Mariane Helena Lopes Benedito

GRADUAÇÃO

Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Diretoria Executiva
Chrystiano Mincoff
James Prestes
Tiago Stachon
Diretoria de Graduação
Kátia Coelho
Diretoria de Pós-graduação
Bruno do Val Jorge
Diretoria de Permanência
Leonardo Spaine
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Head de Curadoria e Inovação
Tania Cristiane Yoshie Fukushima
Gerência de Processos Acadêmicos
Taessa Penha Shiraishi Vieira
Gerência de Curadoria
Carolina Abdalla Normann de Freitas
Gerência de de Contratos e Operações
Jislaine Cristina da Silva
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Supervisora de Projetos Especiais
Yasminn Talyta Tavares Zagonel
Coordenador de Conteúdo
Patrícia Rodrigues da Silva
Design Educacional
Giovana Cardoso
Iconografia
Isabela Soares Silva

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Projeto Gráfico


Distância; BENEDITO, Mariane Helena Lopes. Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Legislação Empresarial. Mariane Helena Lopes Benedito. Arte Capa
Reimpressão 2021. Arthur Cantareli Silva
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018.
200 p. Editoração
“Graduação - EaD”. Ellen Jeane da Silva
Qualidade Textual
1. Legislação. 2. Administração . 3. Empresarial. 4. EaD. I. Título. Hellyery Agda
Pedro Afonso Barth
ISBN 978-85-459-0722-0 Alisson André Pepato
CDD - 22 ed. 343 Ilustração
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Marta Kakitani

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário


João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828

Impresso por:
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade,
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil:
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba,
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
profissional, nos transformamos e, consequentemente,
transformamos também a sociedade na qual estamos
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe
de professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
CURRÍCULO

Professora Me. Mariane Helena Lopes Benedito


Mestre em Ciências Jurídicas com ênfase em Direitos da Personalidade pelo
Centro Universitário Cesumar (Unicesumar/2012). Tem pós-graduação em
Direito Aplicado pela Escola da Magistratura do Paraná (2009). Tem graduação
em Direito (Unicesumar/2008). Professora da Unicesumar desde 2010,
atuando nos cursos de Administração, Direito, Gestão de Recursos Humanos,
Jornalismo, Pilotagem de Aviões e Publicidade e Propaganda na modalidade
presencial. No ensino a distância, atua nos cursos de Administração, Gestão de
Recursos Humanos e Processos Gerenciais, Serviço Social, Gestão Hospitalar,
Economia, Gestão de Cooperativas e trabalha também na pós graduação.

Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e


publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir:

<http://lattes.cnpq.br/1815582404405502>.
APRESENTAÇÃO

LEGISLAÇÃO EMPRESARIAL

SEJA BEM-VINDO(A)!
Olá, caro(a) aluno(a)! Com base neste livro didático, estudaremos algumas áreas do Di-
reito. A disciplina se propõe a fornecer as bases necessárias para que você possa enten-
der as matérias (Empresarial, Tributário, Trabalho e Consumidor) que serão estudadas e
que serão importantes no exercício de sua profissão.
O Direito está presente em todos os eventos do nosso cotidiano. Por exemplo, quando,
ao sairmos de casa, apagamos todas as luzes. Apesar de não percebermos, o que existe
nessa relação é um contrato de prestação de serviços fornecidos pela companhia de
energia elétrica. Por relações como essa, conhecer o Direito é essencial para a tomada
de decisões, tanto na vida pessoal quanto na vida profissional.
Neste livro, estudaremos grandes áreas do Direito, as quais são de suma importância para
o seu conhecimento e aplicação enquanto um(a) futuro(a) profissional de Administração.
Inicialmente, na Unidade I, faremos uma breve introdução sobre o que é o Direito, com-
preendendo a sua finalidade e seus objetivos, bem como divisões e classificações.
Na Unidade II, estudaremos o Direito Empresarial, analisando quem pode ser considerado
empresário ou não, de que forma a pessoa pode ser considerada empresária, bem como
as modalidades de sociedade e os títulos de crédito que existem na nossa legislação. A
seguir, na Unidade III, estudaremos o Direito Tributário, compreendendo que o tributo é
o gênero que se subdivide em espécies que são: imposto, taxa, contribuição de melhoria,
contribuição social e empréstimo compulsório e analisaremos cada uma delas.
Na Unidade IV, falaremos um pouco sobre Direito do Trabalho, a área de mais importân-
cia e grande discussão dentro de uma organização empresarial. Veremos a diferença en-
tre empregado e empregador, a forma de remunerar o empregado pela função desem-
penhada, em que medida vai o poder de direção do empregador, entre outros aspectos
relevantes e pertinentes ao conteúdo. Por fim, na Unidade V, estudaremos o Direito do
Consumidor, conhecendo um pouco melhor os direitos e deveres que o Código do Con-
sumidor criou tanto para o consumidor final quanto para o próprio fornecedor.
Espero que, por meio deste material, você possa conhecer um pouco mais sobre seus
direitos, bem como conhecer melhor a legislação para poder desempenhar o melhor
trabalho possível dentro de uma organização empresarial.

Bons estudos!
09
SUMÁRIO

UNIDADE I

DIREITO E MORAL E DIREITO CONSTITUCIONAL

15 Introdução

16 Conceito de Direito

18 Direito Objetivo e Direito Subjetivo 

19 Distinção entre Direito e Moral

20 Ramos do Direito

21 Fontes do Direito

24 Aplicação das Normas de Direito

26 Eficácia

29 Princípios Gerais do Direito

31 Direito Constitucional

34 Divisão dos Poderes

37 Direitos e Garantias Individuais

45 Considerações Finais

52 Referências

53 Gabarito
10
SUMÁRIO

UNIDADE II

DIREITO EMPRESARIAL

57 Introdução

58 Desenvolvimento do Direito Empresarial no Brasil

59 Autonomia, Importância e Conceito de Direito Empresarial

60 Objeto do Direito Empresarial

60 Conceito e Caracterização do Empresário

62 Conceito de Empresa

63 Capacidade de ser Empresário

68 Sociedades Comerciais

71 Títulos de Crédito

77 Direito Falimentar

80 Considerações Finais

88 Referências

89 Gabarito

UNIDADE III

DIREITO TRIBUTÁRIO

93 Introdução

94 Conceito e Denominação

94 Princípios Tributários 

96 Tributo
11
SUMÁRIO

102 Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar

104 Fato Gerador

104 Sujeito Ativo e Sujeito Passivo

105 Obrigação Tributária

106 Crédito Tributário

107 Lançamento

107 Exclusão do Crédito Tributário

108 Dívida Ativa

109 Considerações Finais

117 Referências

118 Gabarito

UNIDADE IV

DIREITO DO TRABALHO

121 Introdução

122 A Evolução no Brasil

125 Autonomia do Direito do Trabalho

126 Princípios do Direito do Trabalho

129 Direito Individual do Trabalho

130 Contrato de Trabalho pela Consolidação das Leis do Trabalho

135 Empregado

140 Empregador
12
SUMÁRIO

145 Remuneração

152 Formas de Rescisão de Contrato de Trabalho e Direitos do Empregado

158 Considerações Finais

166 Referências

167 Gabarito

UNIDADE V

DIREITO DO CONSUMIDOR

171 Introdução

172 Finalidade

173 Objetivo

174 Princípios do Direito do Consumidor

177 Consumidor

178 Fornecedor

184 Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo

186 Responsabilidade pelo vício do Produto e do Serviço

189 Considerações Finais 

196 Referências 

197 Gabarito 

198 Conclusão
Professora Me. Mariane Helena Lopes

DIREITO E MORAL E DIREITO

I
UNIDADE
CONSTITUCIONAL

Objetivos de Aprendizagem
■ Demonstrar a diferença entre Direito e Moral.
■ Compreender o Direito na sociedade.
■ Compreender a evolução do Direito Constitucional.
■ Analisar alguns tópicos relacionados à Constituição Federal brasileira.
■ Conhecer os direitos previstos na Constituição Federal.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Conceito de Direito
■ Direito Objetivo e Direito Subjetivo
■ Distinção entre Direito e Moral
■ Ramos do Direito
■ Fontes do Direito
■ Aplicação das Normas de Direito
■ Eficácia
■ Princípios Gerais do Direito
■ Direito Constitucional
■ Divisão dos Poderes
■ Direitos e Garantias Fundamentais
15

INTRODUÇÃO

Nesta primeira unidade, estudaremos o conceito de Direito, qual a importância do


Direito para a nossa sociedade e para regulamentar a vida humana em sociedade.
Nesse primeiro momento, é importante entendermos como o Direito funciona
e de que forma ele se divide. Além disso, precisamos saber onde o Direito está
posto, ou seja, de que forma encontramos as leis, que são as normas de conduta
a serem seguidas pela sociedade.
Compreender a divisão entre Direito e Moral também é um ponto funda-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

mental, uma vez que, na maioria das vezes, as pessoas confundem os dois, pois
em muitas situações eles se completam. Veremos também a divisão do Direito
em ramos que facilitarão o nosso estudo e fazem com que a compreensão da
matéria seja mais fácil.
Analisaremos as fontes do Direito: as principais são leis, jurisprudência,
costume jurídico e doutrina jurídica, existindo outras fontes, mas de menor
importância para esta disciplina. Ainda, no Direito temos que conhecer a melhor
forma de se aplicar uma legislação a um caso concreto. Tal quesito será demons-
trado de duas maneiras: como pode ser feito tanto com a interpretação quanto
com a integração. Cabe chamarmos a atenção para a integração, pois ela, no caso
da equidade e da analogia, só pode ser feita pelo magistrado, no momento em
que o caso concreto é levado a seu conhecimento.
Após essa parte introdutória, passaremos a estudar o Direito Constitucional,
a principal e mais importante área do Direito. É a partir da Constituição Federal
que todas as demais fontes no nosso ordenamento jurídico devem ser criadas. Caso
alguma fonte seja criada em contradição com a Constituição Federal, esta não
pode ser aplicada em nossa sociedade, devendo ser considerada inconstitucional.
Por fim, veremos alguns direitos e deveres individuais e coletivos previstos
na Constituição Federal.
Bons estudos!

Introdução
16 UNIDADE I

CONCEITO DE DIREITO

A palavra direito vem do latim directu, que tem como significado colocado
em linha reta, alinhado, direito, reto, da qualidade do que é conforme a regra
(MARTINS, 2013). Existem vários significados para a palavra Direito, tais como
norma, lei, regra, faculdade, o que é devido à pessoa, fenômeno social entre
outros. Ao se falar em conceituar, significa que se procurará limitar o signifi-
cado, bem como o sentido de cada palavra posta.
Para Luis Alberto Warat, uma boa definição de Direito depende dos seguin-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tes requisitos: “a) não deve ser circular; b) não deve ser elaborada em linguagem
ambígua, obscura ou figurada; c) não deve ser demasiado ampla, nem restrita;
d) não deve ser negativa quando puder ser positiva (WARAT, 1977, p. 6)
Muitas vezes, o conceito de Direito deve ser elaborado pela Filosofia do
Direito, podendo fazer críticas necessárias para esse fim. Aristóteles mencio-
nava que o homem é um animal político, destinado a viver em sociedade. Por
essa razão, havia a necessidade de regras para que pudesse viver em harmonia,
evitando a desordem em sociedade (MARTINS, 2013). Ou seja, para Aristóteles
as regras foram necessárias a fim de fazer com que a sociedade pudesse ser har-
mônica e ainda fosse possível em sua organização. Miguel Reale define o Direito
como “a vinculação bilateral atributiva da conduta para a realização ordenada
dos valores de convivência” (REALE, 1972, p. 617).
O Direito pode ser definido como o conjunto de princípios, regras e insti-
tuições destinados a regulamentar a vida humana em sociedade.

Nesse ponto, quando se fala em regulamentar a vida humana em sociedade,


deve-se fazer uma reflexão: o Direito está em todo lugar? Posso falar que ele
existe apenas onde existe a sociedade?

DIREITO E MORAL E DIREITO CONSTITUCIONAL


17

Vamos desmembrar a definição anterior para compreendermos melhor o


Direito. Inicialmente, podemos defini-la como conjunto. De fato, o Direito repre-
senta um conjunto por ser composto de várias partes organizadas, formando assim
um sistema. Como iremos estudar mais adiante, observaremos que o Direito é
dividido em vários ramos, cada um sobre um determinado assunto. Nesta dis-
ciplina, estudaremos os seguintes ramos: Direito Constitucional, Direito Civil,
Direito Administrativo, Direito Internacional e Direito Penal.
O Direito possui também princípios próprios como qualquer ciência, mesmo
que não exata. Dentre eles, pode-se citar o da dignidade humana, boa-fé, publici-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

dade, razoabilidade, proporcionalidade dentre outros que estudaremos adiante.


Dentro do Direito encontramos as instituições, que são entidades que perdu-
ram no tempo, como, por exemplo: os sindicatos, os órgãos do Poder Judiciário,
do Poder Executivo etc.
É necessário pontuar que o Direito tem como objetivo a regulamentação
da vida humana em sociedade, estabelecendo, para tal fim, normas de conduta
que devem ser seguidas. Além disso, e por meio do Direito que se realizará ou
se obterá a Justiça. Para finalizar, ele é um meio para a realização ou obtenção
de um fim, que é a Justiça. Por mais que esta muitas vezes pareça utópica, é para
essa finalidade que o Direito existe na sociedade.
Para que o Direito seja cumprido em sociedade, o Estado (aqui, quando se
fala em Estado, deve-se compreender como país), com o uso do seu poder impe-
rativo, prevê a sanção (punição). A sanção no Direito existe para que a norma
criada seja cumprida quando a submissão a ela não ocorre espontaneamente.
O Direito, como afirma Sérgio Pinto Martins (2013), tem em uma das mãos
a balança e na outra a espada. A balança serve para sopesar o Direito, e a espada
visa fazer cumprir as suas determinações. A espada sem a balança é a despro-
porção. A balança sem a espada é um direito ineficaz. As duas devem caminhar
juntas. A proporção do emprego da espada e da balança tem de ser igual para
não se criar desigualdades.

Conceito de Direito
18 UNIDADE I

O Direito tem três dimensões: 1º) os fatos que ocorrem na sociedade; 2º) a
valoração que se dá a esses fatos; 3º) a norma, que pretende regular as condutas
das pessoas, com base nos fatos e valores. Há uma interação dos fatos, valores e
normas. O Direito é uma ordem de fatos integrada em uma ordem de valores.
Dessa integração de um fato surge a norma (REALE, 1940), que seria a chamada
tridimensionalidade do Direito.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO

O Direito Objetivo, nas palavras de Sérgio Pinto Martins (2013, p. 5), “é o com-
plexo de normas que são impostas às pessoas, tendo caráter de universalidade,
para regular suas relações”. Ou seja, o Direito Objetivo é aquele criado pelo
Estado e aplicado a toda a coletividade. Independente da vontade do indivíduo,
ele existe. Podemos citar como exemplo o Direito Constitucional, que é apli-
cado igualmente a todos.
Já o Direito Subjetivo é a faculdade, a escolha de a pessoa postular seu direito,
objetivando a realização de seus interesses, uma vez que não foram cumpridos.
No caso do Direito Subjetivo, diferentemente do Direito Objetivo, ele depen-
derá da vontade do indivíduo para existir, ou seja, é necessária a manifestação
de vontade para a aplicação de um direito. O exemplo deste seria o Direito do
Consumidor. Quando se compra um produto e ele apresenta algum defeito,
dependerá da manifestação da vontade daquele que comprou para que o pro-
duto seja trocado ou o negócio seja desfeito.
Tanto o direito subjetivo quanto o objetivo são aspectos da mesma realidade,
podendo ser encarada de uma ou de outra forma. O primeiro é a expressão da
vontade individual, enquanto o segundo é a vontade geral. Pode-se dizer que o
interesse também configura o direito subjetivo, já que se trata de um poder atri-
buído à vontade do indivíduo para a satisfação dos seus próprios interesses, que
são protegidos pela lei, vale dizer, pelo direito objetivo.

DIREITO E MORAL E DIREITO CONSTITUCIONAL


19

DISTINÇÃO ENTRE DIREITO E MORAL

Para continuarmos nosso estudo sobre o Direito, precisamos estabelecer a dis-


tinção entre o que é Direito e o que é Moral. A Moral possui um conceito que
varia com o tempo, em razão de questões políticas, sociais e econômicas, que
vão sendo alteradas de acordo com a história e com a sociedade que é estudada.
A Moral é unilateral, pois não há punição, uma vez que a norma foi des-
cumprida. Já no Direito, há uma bilateralidade, uma vez que há uma imposição
do comportamento do indivíduo na sociedade e, quando este é descumprido,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

há uma sanção (punição) por parte do Estado.


Para melhor compreender, veja a tabela a seguir com a distinção feita por
Miguel Reale (1972, p. 626).
Quadro 1 - Diferenças entre Moral e Direito

ASPECTO MORAL DIREITO


Quanto à valoração do a) unilateral. a) bilateral.
ato b) visa à intenção, par- b) visa à exteriorização do
tindo da exteriorização ato, partindo da intenção.
do ato.
Quanto à forma a) é autônoma, prove- a) pode vir de fora da vontade
niente da vontade das das partes (heterônomo).
partes. b) é coercível.
b) não há coação.
Quanto ao objeto a) visa ao bem indivi- a) visa ao bem social ou aos
dual ou aos valores da valores de convivência.
pessoa.
Fonte: adaptado de Martins (2013).

Assim, observamos que o Direito e a Moral, apesar de parecerem a mesma coisa


em muitos momentos, apresentam diferenças bastante marcantes. A diferença
entre eles fica clara quando se fala na punição e na criação da norma de cada
um deles.

Distinção entre Direito e Moral


20 UNIDADE I

RAMOS DO DIREITO

Existe uma vasta classificação da ciência do Direito. A primeira que vamos tra-
balhar é a classificação em direito natural e direito positivo.
O Direito natural nasce a partir do momento em que surge o homem, apa-
recendo, portanto, naturalmente para regular a vida humana em sociedade, de
acordo com as regras da natureza (MARTINS, 2013). Pode-se dizer que seria
uma norma criada pela natureza e não pelo homem, logo não pode ser criada
pelo Estado. Seriam princípios gerais e universais para regular os direitos e

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
deveres do homem. O Direito natural é aquele que fixa regras de validade uni-
versal, não consubstanciadas em regras impostas ao indivíduo pelo Estado. Em
verdade, ele se impõe a todos os povos pela força dos princípios supremos dos
quais resulta, como, por exemplo, o direito de reproduzir, o direito de viver etc.
(FÜHRER; MILARÉ, 2009).
Já o Direito positivo compreende o conjunto de regras estabelecidas por
meio do poder político em vigor num determinado país e em uma determinada
época (FÜHRER; MILARÉ, 2009). Ou seja, “o Direito positivo é apenas a norma
legal, emanada pelo Estado e não de outras fontes do Direito. Ele estabelece o
que é útil, sendo conhecido por meio de uma declaração de vontade alheia, que
é a promulgação” (MARTINS, 2013, p. 8).
O Direito público é aquele que regula as relações em que o Estado é parte; o
segundo é o que disciplina as relações entre particulares, nas quais predomina,
de modo imediato, o interesse de ordem privada (REIS; REIS, 2006). Ainda,
pode-se definir o Direito público como o ramo que:
[...] regula as relações em que predominam os interesses gerais da so-
ciedade, considerada como um todo. Nas relações de Direito Público, o
Estado participa como sujeito ativo (titular do poder jurídico) ou como
sujeito passivo (destinatário do dever jurídico), mas sempre como
órgão da sociedade e, portanto, sem perder a posição de supremacia
ou poder de império. (REIS; REIS, 2006, p. 8).

DIREITO E MORAL E DIREITO CONSTITUCIONAL


21

O Direito privado é aquele que:


[...] regula as relações em que predominam os interesses particulares
ou a esfera privada. Nas relações jurídicas de Direito Privado o Estado
pode participar como sujeito ativo ou passivo, em regime de coorde-
nação com os particulares, isto é, dispensando sua supremacia ou po-
der de império. (REIS; REIS, 2006, p. 8).

Assim, conclui-se que o Direito público envolve a organização de um Estado,


em que são estabelecidas as normas de ordem pública, enquanto o direito pri-
vado diz respeito ao interesse dos particulares, decorrentes da manifestação de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

vontade dos interessados.

FONTES DO DIREITO

Ao se falar em fontes, deve-se ter em mente as diversas formas pelas quais nasce o
Direito. Como visto, o Direito é uma criação do Estado, de acordo com as neces-
sidades da sociedade. Por essa razão, a própria sociedade determinará de onde
provém ou emanam as regras que a disciplinará.
As fontes primárias do Direito são: lei, costumes, doutrina e jurisprudência.
Passaremos a estudar cada uma delas.

Fontes do Direito
22 UNIDADE I

LEI

Essa é a fonte do direito de maior


importância em nosso país e em nosso
ordenamento jurídico. Assim, deve-se
buscar na lei a forma correta de proce-
der em nossas relações sociais.
O Art. 5º, II da Constituição
Federal estabelece que “ninguém

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
será obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude
de lei”. Tal fonte é uma regra de con-
duta editada pelo Poder Legislativo,
no qual estão presentes os representantes do povo, ou seja, são os vereadores
(nível municipal), os deputados estaduais (nível estadual) e os deputados fede-
rais (nível federal).
A característica da lei é a generalidade. Ela se aplica de uma maneira geral
a todos, não fazendo qualquer tipo de distinção.

Para conhecer as leis que estão em vigor em nosso país, uma excelente fonte
de consulta é o site do Planalto. Nesse espaço você tem acesso a todo o ma-
terial legislativo produzido em nosso país. Além disso, consegue também
se manter informado sobre as alterações legislativas, leis que deixaram de
existir (revogadas) e leis que passaram a existir (vigentes) em nossa socie-
dade. Para consultar acesse o link: <http://www2.planalto.gov.br/acervo/
legislacao>.
Fonte: a autora.

DIREITO E MORAL E DIREITO CONSTITUCIONAL


23

COSTUME

O costume é o comportamento praticado reiteradamente pela sociedade,


que acaba se tornando uma lei, sendo então incorporada ao ordenamento jurí-
dico brasileiro, ou seja, antes mesmo de se tornar uma lei já é considerado uma
fonte do direito. Como dito anteriormente, a principal fonte do direito é a lei.
Todavia, em alguns casos ainda não há regulamentação, sendo necessário buscar
a solução para esses casos nas regras que a sociedade vem praticando de forma
reiterada. Deve-se salientar que o costume não poderá ser aplicado se for con-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

trário a uma determinação expressa em lei.


A aplicação do costume varia conforme o ramo do Direito. Por exemplo, no
Direito Comercial, o costume tem importância. Já no Direito Penal, o costume
é totalmente proibido, pois, conforme prevê o Código Penal e como será estu-
dado em nossa última unidade, não há crime sem lei que o defina.
Deve-se salientar que o costume não poderá ser aplicado se for contrário a
uma determinação expressa em lei.

DOUTRINA

A doutrina consiste na opinião dos juristas, que


são os estudiosos do Direito sobre determinado
assunto. Seria o conjunto sistemático de teorias
sobre o Direito elaborado pelos juristas. Pode-se
dizer que é um produto da reflexão e do estudo
que os grandes juristas desenvolvem sobre o
Direito (COTRIM, 2009).

Fontes do Direito
24 UNIDADE I

JURISPRUDÊNCIA

Ao lado da doutrina, a jurisprudência realiza a interpretação do direito. Enquanto


a doutrina é a interpretação do direito feita pelos juristas, a jurisprudência é a
interpretação do Direito feita pelos Tribunais do nosso país.
A principal fonte é a lei, porém, ela deve ser interpretada e esta é feita tanto
pelos juristas quanto pelos Tribunais, no momento em que eles julgam os casos
concretos. Dessa forma, a jurisprudência acaba sendo utilizada como uma refe-
rência para a pessoa ingressar com uma ação, ajudando assim a fundamentar

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
seu pedido.

APLICAÇÃO DAS NORMAS DE DIREITO

Ao aplicar uma lei, o juiz busca atender aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum. Passaremos a estudar a interpretação e a integração
das normas, compreendendo assim como se aplica uma lei ao caso concreto.

INTERPRETAÇÃO

Quando se fala em interpretar a norma, significa compreender o que o legis-


lador quis dizer com a criação da norma. Quanto às fontes que interpretam a
norma, elas podem ser: autêntica, doutrinária e jurisprudencial. Com relação aos
meios: gramatical, lógica, histórica e sistemática. E, por fim, quanto aos resulta-
dos: declarativa, extensiva, restritiva e finalística.
Vamos analisar as várias formas de interpretação da norma jurídica
(MARTINS, 2013, p. 21-22):

DIREITO E MORAL E DIREITO CONSTITUCIONAL


25

A. Gramatical, literal ou filológica: é a verificação do sentido grama-


tical da norma criada. Analisa-se o alcance das palavras no texto
da lei.

B. Lógica: estabelece-se uma conexão entre vários textos legais a se-


rem interpretados e aplicados ao caso concreto.

C. Teleológica ou finalística: a interpretação da norma é dada de acor-


do com o fim esperado pelo legislador.

D. Sistemática: é feita a interpretação de acordo com o sistema que a


norma está inserida, não interpretando isoladamente a lei.

E. Extensiva ou ampliativa: dá-se um sentido mais amplo à norma do


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que ela normalmente teria.

F. Restritiva ou limitativa: dá-se um sentido mais restrito, limitando-


-se à interpretação da norma jurídica.

G. Histórica: deve-se analisar a evolução histórica dos fatos, o pensa-


mento do legislador não só à época da edição da lei, mas também
de acordo com sua exposição de motivos.

H. Autêntica: é realizada pelo próprio órgão que criou a lei, no mo-


mento em que ela declara o sentido, alcance e conteúdo por meio
de norma.

I. Sociológica: constata-se a realidade e a necessidade social na ela-


boração da lei e em sua aplicação.

No Direito, não há uma única interpretação fora do que foi mencionado na


citação anterior. Ou seja, dessa forma devem ser seguidos os métodos de inter-
pretação supracitados.

INTEGRAÇÃO

A integração é quando o intérprete da lei fica autorizado a suprir as lacunas exis-


tentes na norma jurídica por meio da utilização de técnicas jurídicas, que são:
analogia, equidade e princípios gerais do direito.

Aplicação das Normas de Direito


26 UNIDADE I

A analogia é um meio de preenchimento das lacunas deixadas pelo legis-


lador no momento de criação de uma lei. É quando o juiz, ao analisar o caso
concreto, aplica uma lei semelhante ao caso.
A equidade significa justiça, o bom senso. Nesse caso, o juiz aplicará ao caso
concreto a solução que considerar como adequada de acordo com o seu enten-
dimento, com o que ele considerar correto. Ela tem como significado completar
a lacuna da lei, porém é vedado qualquer julgamento que for contra a lei.
Tanto a analogia quanto a equidade serão utilizadas exclusivamente pelo juiz
para fundamentar sua decisão quando a lei apresentar alguma lacuna.

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Já os princípios gerais do direito serão analisados separadamente no decor-
rer desta unidade, devido à sua complexidade.

EFICÁCIA

A eficácia pode ser conceituada como “a produção de efeitos jurídicos concretos


ao regular as relações” (MARTINS, 2013, p. 25). Compreende na aplicabilidade
da norma se ela é obedecida ou não pelas pessoas. A eficácia jurídica é a pos-
sibilidade de a norma ser aplicada ao caso concreto, gerando efeitos jurídicos.
Essa eficácia pode ser dividida em no tempo e no espaço, que estudaremos a
seguir (MARTINS, 2013).

EFICÁCIA NO TEMPO

Significa a entrada da lei em vigor, ou seja, quando a lei passará a existir na socie-
dade. Geralmente, a lei entra em vigor na data de sua publicação no Diário Oficial
da União (DOU). Caso a lei não apresente nenhum prazo, esta começará a vigo-
rar 45 dias depois de oficialmente publicada. (MARTINS, 2013).

DIREITO E MORAL E DIREITO CONSTITUCIONAL


27

Com a publicação da lei no Diário Oficial da União, objetiva-se torná-la


pública para toda a sociedade, não podendo ser alegado o seu desconhecimento.
Caso a lei não tenha uma vigência temporária, ou seja, não apresente um
prazo máximo em que ela existirá na sociedade, ela só poderá deixar de existir
até que outra lei a modifique ou a revogue.
A lei posterior pode revogar a anterior nas seguintes situações (MARTINS,
2013, p. 58):
A. Expressamente o declare: revogam-se as disposições em contrário,
ou quando revoga especificamente outra lei ou Artigo de lei;
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B. For incompatível como, por exemplo, quando prescrever conduta


totalmente contrária à especificada na lei anterior;

C. Regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.

Caso a nova lei estabeleça disposições gerais ou especiais iguais as já existen-


tes, não revoga nem modifica a lei anterior. Uma vez que a lei passou a ter vigor,
terá efeito imediato e geral, respeitando sempre o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e a coisa julgada.
O ato jurídico perfeito é aquele já consumado segundo a lei vigente ao
tempo em que ela se efetuou. O direito adquirido é o que integra o patrimônio
jurídico da pessoa, por já ter implementado todas as condições para adquirir o
direito, podendo exercê-lo a qualquer momento. E, por fim, a coisa julgada que
é a decisão judicial que já não cabe mais recurso, não podendo ser modificada
(MARTINS, 2013).

Eficácia
28 UNIDADE I

EFICÁCIA NO ESPAÇO

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A eficácia no espaço diz respeito ao território em que será aplicada a norma. “Ela
se aplica ao Brasil, tanto para os natos como para os estrangeiros que aqui resi-
dam” (MARTINS, 2013, p. 27). A eficácia no espaço também resolverá os casos
em que acontecer alguma atitude contrária à lei, analisando se naquele territó-
rio será aplicada a lei brasileira ou uma lei estrangeira.
Para ilustrar, imagine a seguinte situação: o indivíduo A entrou na embai-
xada brasileira na Holanda e acabou matando o sujeito B. Nesse caso, ainda que
a embaixada esteja localizada na Holanda, será aplicada a lei brasileira, pois o
órgão oficial é brasileiro, sendo considerada uma extensão do nosso território.

DIREITO E MORAL E DIREITO CONSTITUCIONAL


29

PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO

Antes de começarmos a falar das funções ou de cada um dos princípios, preci-


samos entender o que é princípio. Este deve ser considerado como o alicerce do
Direito, uma vez que são as proposições básicas, o fundamento, a base que infor-
mará e orientará as normas jurídicas.

FUNÇÕES GERAIS DO PRINCÍPIO


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As funções dos princípios são: informadora, normativa e interpretativa. A pri-


meira função tem como finalidade a inspiração ou orientação ao legislador,
servindo para basear a criação de uma norma e como sustentáculo para o orde-
namento jurídico (MARTINS, 2013).
A segunda função – normativa – atuará nos casos concretos quando não
houver uma disposição específica para disciplinar determinada situação. E, por
fim, a terceira e última função servirá de critério orientador para os intérpre-
tes e aplicadores da lei. Auxiliará na interpretação da norma e também tem sua
exata compreensão. Em nosso ordenamento jurídico, os princípios só serão uti-
lizados quando não houver uma norma legal, convencional ou contratual. Será
o último elo a que o intérprete para solucionar o caso concreto.

ALGUNS PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO

1º) Princípio do respeito à dignidade da pessoa humana: é um dos objetivos


do nosso país. O Art. 5º, X da Constituição Federal assegura a inviola-
bilidade à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas,
assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decor-
rente de sua violação.

Princípios Gerais do Direito


30 UNIDADE I

Com relação ao princípio da dignidade da pessoa humana, sabe-se que


deve ser seguido à risca. Você acredita que isso acontece no Brasil?

2º) Princípio da função social: regula a vida humana em sociedade, esta-


belecendo as regras de conduta que devem ser respeitadas por todos.

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3º) Princípio da razoabilidade: as pessoas devem agir com razoabilidade,
o que também acontece com as normas jurídicas.
4º) Princípio da proporcionalidade: não se pode impor condutas a não
ser que seja em estrito cumprimento do interesse público. Não se pode
agir com excessos, nem de forma insuficiente.
5º) Princípio do enriquecimento sem causa: uma pessoa não poderá
locupletar-se de outra, enriquecendo às custas dela, sem que haja causa
para tanto.
6º) Princípio da proibição do abuso do direito ou do lícito exercício regu-
lar do próprio direito: tal princípio é fundamental ao Direito. Nesse caso,
não se constituem atos ilícitos os praticados no exercício regular de um
direito reconhecido.

DIREITO E MORAL E DIREITO CONSTITUCIONAL


31

DIREITO CONSTITUCIONAL

Para estudarmos algumas áreas específicas


do Direito, precisamos conhecer o Direito
Constitucional, que é o ramo mais impor-
tante de todo o nosso ordenamento jurídico.
Isso porque a Constituição Federal de 1988 é
a fonte principal e que regulamenta todas as
demais áreas.
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Antes de começarmos a estudar o Direito


Constitucional, é preciso fazer a análise do Art.
1º da Constituição Federal, que dispõe que a
República Federativa do Brasil, formada pela
união indissolúvel dos estados, municípios e
do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamento a soberania, a cidadania, a
dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa,
e o pluralismo político.
A Constituição é a lei máxima e fundamental do Estado. Ela ocupa o ponto
mais alto da hierarquia das normas, recebendo, por esse motivo, nomes como: Lei
Suprema, Lei Maior, Carta Magna, Lei das Leis ou Lei Fundamental (COTRIM,
2009).
O Direito Constitucional é o ramo do Direito Público responsável por estu-
dar as regras estruturadoras do Estado, garantidoras dos direitos e liberdades
individuais (JACQUES, 1954).
A Constituição pode ser conceituada como um conjunto de princípios e regras
relativos à estrutura e ao funcionamento do Estado. Ela é uma norma escrita ou
costumeira, que regula a forma de Estado e governo, bem como a sua organização
(MARTINS, 2013). Por isso, na Constituição Federal brasileira, são encontradas
várias regras de Direito Civil, Tributário, Administrativo, Internacional, Penal, do
Trabalho, da Seguridade Social entre outras, ou seja, ela traz um pouco de cada
ramo do direito. Além disso, ela possui um conteúdo específico, previamente

Direito Constitucional
32 UNIDADE I

identificável, do que seja ou não próprio de uma Constituição. Seu conteúdo é


elástico, variando de acordo com a vontade política do povo.
Gilberto Cotrim (2009, p. 19) define a Constituição como:
É a declaração da vontade política de um povo, manifestada por meio
de seus representantes cujos mandatos resultam de eleição popular. É
uma declaração solene expressa mediante um conjunto de normas ju-
rídicas superiores a todas as outras que estabelece os direitos e deveres
fundamentais das pessoas, das entidades e dos poderes públicos.

Conclui-se que a Constituição é um documento político, dirigida a todas as pes-

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soas, tendo, geralmente, uma linguagem comum e não técnica para que todos
possam compreender.

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Passaremos a estudar alguns dos princípios constitucionais previstos na


Constituição Federal:
1º) Princípio da supremacia da Constituição: a norma constitucional é
superior, devendo ser obedecida por todas as demais normas.
2º) Princípio da unidade da Constituição: ela deve ser interpretada na
sua unidade, ou seja, no seu conjunto. A interpretação deve ser feita de
forma a evitar contradições.
3ª) Princípio da máxima efetividade da Constituição: as normas consti-
tucionais devem ter o máximo de eficácia na sua aplicação.
4º) Princípio da interpretação conforme a Constituição: caso a norma
tenha mais de uma interpretação, deve-se dar preferência àquela que esti-
ver de acordo com a Constituição.

DIREITO E MORAL E DIREITO CONSTITUCIONAL


33

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

O preâmbulo da Constituição Federal dispõe que:


Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Na-
cional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado
a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade,
a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem
interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, pro-
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mulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da Repú-


blica Federativa do Brasil (BRASIL,1988, preâmbulo).

Quando se fala em preâmbulo, deve-se entender como uma indicação das inten-
ções da Constituição brasileira.
Os fundamentos da República Federativa do Brasil são: a) soberania; b) cida-
dania; c) dignidade da pessoa humana; d) valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa; e) pluralismo político, sendo vedada a existência de um partido único.
Já os objetivos fundamentais são: a) construir uma sociedade livre, justa e
solidária; b) garantir o desenvolvimento nacional; c) erradicar a pobreza e a mar-
ginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; d) promover o bem
de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.

Direito Constitucional
34 UNIDADE I

DIVISÃO DOS PODERES

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A base da organização do governo está no Art. 2º da Constituição Federal, que
prevê: “são poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo,
o Executivo e o Judiciário” (BRASIL, 1988).
Qual é a função dos poderes? Segundo Führer e Milaré (2009, p. 73). “Os
Poderes são os órgãos que realizam as diversas funções atribuídas ao Estado,
quais sejam, as funções: legislativas, administrativas e jurisdicionais”. A fórmula
ideal para o funcionamento do Estado é de que suas operações fundamentais
sejam repartidas entre vários órgãos autônomos, cada um atuando na sua esfera
de atribuição.

DIREITO E MORAL E DIREITO CONSTITUCIONAL


35

PODER EXECUTIVO

É o órgão incumbido de executar as leis e administrar o país. Ele é exercido


pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado. O mandato
do Presidente da República é de quatro anos, com início no dia 1º de janeiro
do ano seguinte de sua eleição. A reeleição é permitida em um único período.
O presidente pode cometer crimes como: a) de responsabilidade definidos
em lei especial; b) comuns, previstos na legislação ordinária.
A acusação contra o Presidente da República, para ser admitida, precisa de
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dois terços de aprovação na Câmara dos Deputados e, após isso, será subme-
tido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais
comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade (Art. 86
da Constituição Federal).
Para ser eleito, o candidato a presidente e vice-presidente da República deve-
rão ter a idade mínima de 35 anos. O governador e o vice-governador de Estado
e Distrito Federal deverão ter no mínimo 30 anos. O prefeito e o vice-prefeito
deverão ter no mínimo 21 anos.

Divisão dos Poderes


36 UNIDADE I

PODER JUDICIÁRIO

O Poder Judiciário tem a função de


legislar e administrar, bem como a
função de dizer o direito, aplicando
ao caso concreto, mediante um pro-
cesso regularmente instaurado, por
iniciativa do interessado. É o Poder
Judiciário que dirá como as normas

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serão aplicadas. Desse modo, assim
ele demonstrará a forma correta de
interpretação das leis existentes em
nosso ordenamento jurídico.

PODER LEGISLATIVO

Em nível federal, o Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que


se compõe de duas casas, o Senado e a Câmara dos Deputados, ambos eleitos
pelos habitantes dos respectivos estados.
Cada estado e o Distrito Federal, de acordo com os Arts. 44 e 45 da Constituição
Federal elegerá três senadores, com dois suplentes cada, com mandato de oito
anos, sendo renovada a representação a cada quatro anos de forma alternada.
O número total de deputados, bem como a representação por estado e pelo
Distrito Federal, será estabelecido por Lei Complementar, proporcionalmente
à população, procedendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições,
para que nenhuma unidade da fede-
ração tenha menos de oito e mais de
setenta deputados (PALAIA, 2011).
Os deputados são escolhidos
pelo sistema proporcional.Cada
estado da federação, bem como o

DIREITO E MORAL E DIREITO CONSTITUCIONAL


37

Distrito Federal, não poderá ter menos de oito e mais de 70 representantes. O


mandato dos deputados tem duração de quatro anos e, para se elegerem, devem
ter idade mínima de 21 anos. Já no caso dos senadores, estes são eleitos pelo
sistema majoritário, sendo três para cada estado e para o Distrito Federal. Os
mandatos têm duração de oito anos e para se elegerem devem ter idade mínima
de 35 anos (MARTINS, 2013).
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DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS

Eles foram estabelecidos para coibir os abusos praticados pelas autoridades. Os


direitos não se confundem com as garantias. Os direitos são aspectos e mani-
festações da personalidade humana, em sua existência subjetiva ou em suas
situações de relação com a sociedade ou ainda os indivíduos que a compõem.
Já as garantias são os instrumentos para o exercício do direito consagrados na
Constituição (MARTINS, 2013).
Os direitos e deveres são individuais e coletivos. São garantias expressas na
Constituição, pois não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios
por ela adotados ou dos tratados internacionais em que o Brasil é parte (Art. 5º,
§2º da Constituição Federal).
A Constituição Federal, em seu Art. 5º, assegura que:
1. Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos ter-
mos da Constituição. Poderá haver tratamento diferenciado se as-
sim a Constituição estabelecer;

2. Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo a não ser em


virtude de lei. É o princípio da legalidade;

3. Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano


ou degradante;

4. É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

Direitos e Garantias Individuais


38 UNIDADE I

5. É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além


da indenização por dano material, moral ou à imagem;

6. É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegu-


rado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da
lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias;

7. É assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa


nas entidades civis e militares de internação coletiva;

8. É assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa


ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para exi-
mir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
prestação alternativa, fixada em lei;

9. É livre a expressão da atividade intelectual, Artística, científica e de


comunicação, independentemente de censura ou licença;

10. São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem


das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação;

11. A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo pe-


netrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante
delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial;

12. É inviolável o sigilo da correspondência as comunicações telegrá-


ficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei esta-
belecer para fins de investigação criminal ou instrução processual
penal. A norma que trata do assunto é a Lei nº 9.296/96;

13. É livre o exercício de qualquer trabalho, oficio ou profissão, atendi-


das as qualificações profissionais que a lei estabelecer;

14. É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo


da fonte, quando necessário ao exercício profissional;
15. É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, po-
dendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer
ou dele sair com seus bens;

16. Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais aber-


tos ao público, independentemente de autorização, desde que não
frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo
local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;

DIREITO E MORAL E DIREITO CONSTITUCIONAL


39

17. É plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de ca-


ráter paramilitar;

18. A criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas in-


dependem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em
seu funcionamento. As sociedades cooperativas são reguladas na
Lei nº 5.764/71;

19. As associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou


ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no
primeiro caso, o trânsito em julgado;

20. Ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer as-


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sociado;

21. As entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm


legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudi-
cialmente;

22. É garantido o direito de propriedade;

23. A propriedade atenderá a sua função social;

24. A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por neces-


sidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa
e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos
na Constituição;

25. No caso de iminente perigo público, a autoridade competente po-


derá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário
indenização ulterior, se houver dano;

26. A pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que tra-
balhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento
de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei
sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;

27. Aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação


ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tem-
po que a lei fixar;

28. São assegurados, nos termos da lei: (a) a proteção às participações


individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz
humanas, inclusive nas atividades desportivas; (b) o direito de fis-
calização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou
de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas
representações sindicais e associativas;

Direitos e Garantias Individuais


40 UNIDADE I

29. A lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio tem-


porário para sua utilização, bem como proteção às criações indus-
triais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros
signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvi-
mento tecnológico e econômico do país;

30. É garantido o direito de herança;

31. A sucessão de bens de estrangeiros situados no país será regulada


pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros,
sempre que não lhes seja favorável a lei pessoal do de cujus;

32. O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. O

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Código de Defesa do Consumidor é a Lei nº 8.078/90;

33. Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de


seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo de lei, sob pena de responsabilidade, ressalva-
das aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da socieda-
de e do Estado;

34. São a todos assegurados, independentemente do pagamento de


taxas: (a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de
direito ou contra ilegalidade ou abuso de poder; (b) a obtenção de
certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e escla-
recimento de situações de interesse pessoal;

35. A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ame-


aça a direito;
36. A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito
e a coisa julgada. Direito adquirido é o que faz parte do patrimô-
nio jurídico da pessoa, que implementou todas as condições para
esse fim, podendo exercê-lo a qualquer momento. Na expectativa
de direito, a pessoa não reuniu todas as condições para adquirir o
direito no curso do tempo. Ato jurídico perfeito é o que se formou
sob o império da lei velha e não pode ser modificado. A lei não
pode ser retroativa. Devem ser respeitadas as situações estabele-
cidas na vigência de lei anterior, em razão da estabilidade e segu-
rança jurídicas. Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão
judicial de que já não caiba mais recurso. Há coisa julgada “quando
se repete ação que já foi decidida por sentença, de que não caiba
recurso”. Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna
imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordi-
nário ou extraordinário.

DIREITO E MORAL E DIREITO CONSTITUCIONAL


41

37. Não haverá juízo ou tribunal de exceção;

38. É reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der


a lei, assegurados: (a) a plenitude de defesa; (b) o sigilo das vo-
tações; (c) a soberania dos veredictos; (d) a competência para o
julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

39. Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;

40. A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

41. A lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e li-


berdades fundamentais;
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42. A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,


sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;

43. A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou


anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
gas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por
eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
evita-los, se omitirem;
44. Constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos ar-
mados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático;

45. Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obri-


gação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser,
nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles assegura-
das, até o limite do valor do patrimônio transferido;

46. A lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras,


as seguintes: (a) privação ou restrição da liberdade; (b) perda de
bens; (c) multa; (d) prestação social alternativa; (e) suspensão ou
interdição de direitos;

47. Não haverá penas: (a) de morte, salvo em caso de guerra declarada;
(b) de caráter perpétuo; (c) de trabalhos forçados; (d) de banimen-
to; (e) cruéis;

48. A pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo


com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;

49. É assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

Direitos e Garantias Individuais


42 UNIDADE I

50. Às presidiárias serão asseguradas condições para que possam per-


manecer com seus filhos durante o período de amamentação;

51. Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso


de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de com-
provado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, na forma da lei;

52. Não será concedida extradição de estrangeiro por crime político


ou de opinião;

53. Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade


competente;

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54. Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal;

55. Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusa-


dos em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes;

56. São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilíci-


tos;
57. Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;

58. O civilmente identificado não será submetido a identificação cri-


minal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
59. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não
for intentada no prazo legal;

60. A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quan-


do a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

61. Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem es-
crita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo
nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar,
definidos em lei;

62. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão co-


municados imediatamente ao juiz competente e à família do preso
ou à pessoa por ele indicada;

63. O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de per-


manecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado;

DIREITO E MORAL E DIREITO CONSTITUCIONAL


43

64. O preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão
ou por seu interrogatório policial;

65. A prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judi-


ciária;

66. Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admi-
tir a liberdade provisória, com ou sem fiança;

67. Não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo ina-
dimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e
a do depositário infiel;

68. Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de


locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

69. Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líqui-


do e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quan-
do o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade
pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do
Poder Público;

70. O mandado de segurança coletivo deve ser impetrado por: (a)


partido político com representação no Congresso Nacional; (b)
organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa
dos interesses de seus membros ou associados.

71. Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma


regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberda-
des constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à
soberania e à cidadania;

72. Conceder-se-á habeas data: (a) para assegurar o conhecimento de


informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de regis-
tros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de cará-
ter público; (b) para a retificação de dados, quando não se prefira
fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

73. Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de
que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio am-
biente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucum-
bência.

Direitos e Garantias Individuais


44 UNIDADE I

74. O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que


comprovarem insuficiência de recursos.

75. O Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como


o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;

76. São gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei:


(a) o registro civil de nascimento; (b) a certidão de óbito;

77. São gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data, e, na forma


da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania;

78. A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a ra-


zoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de sua tramitação (BRASIL, 1988, art. 5).

São direitos sociais previstos na Constituição Federal: a educação, a saúde, a


alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados.

DIREITO E MORAL E DIREITO CONSTITUCIONAL


45

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), na primeira unidade estudamos quais as funções e como se


divide o Direito. Diferenciamos ainda o Direito da Moral. Neste estudo, pude-
mos constatar que o Direito surge por uma imposição do Estado, que o cria a
partir da necessidade da própria sociedade, devendo avançar conforme a evolu-
ção da mesma. Já a moral surge a partir da cultura, da religião da criação de cada
pessoa, não existindo uma punição e nem mesmo sendo imposta pelo Estado.
Além disso, precisamos entender que o Direito é essencial para a sociedade,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

uma vez que nela, por termos pessoas, origens e crenças diferentes, os conflitos
podem existir, necessitando assim de uma regulamentação para resolver esses
pequenos conflitos.
Para que o Direito seja conhecido por todos da sociedade, ele possui fon-
tes de consulta em que as pessoas podem assim conhecer e se informar sobre as
leis vigentes em nosso país, bem como a posição adotada pelos nossos tribunais.
Visto isso, passamos a analisar o Direito Constitucional. Esse ramo do Direito
é importante, visto que serve como base para todos os demais ramos jurídicos,
ou seja, uma vez que alguma norma é criada contrária à Constituição Federal,
ela é considerada inconstitucional, não podendo existir em nossa sociedade, até
porque não deveria nem mesmo ter sido criada.
Na sequência, analisamos os Poderes do nosso Estado, que são previstos
também pela Constituição Federal. São eles: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Cada um tem sua limitação de poder, seu campo de atuação e seu responsável,
sendo sempre fiscalizado pelos demais.
Vimos ainda que a Constituição brasileira traz uma série de artigos, prevendo
um pouco de cada ramo do Direito. Ela aborda quais são os fundamentos e os
objetivos do nosso Estado e, por fim, os direitos e garantias fundamentais pre-
vistos no Art. 5º da Carta Magna.
Vamos nos aprofundar ainda mais na Legislação Empresarial?

Considerações Finais
46

1. O Direito pode ser definido como o conjunto de princípios, regras e instituições


destinados a regulamentar a vida humana em sociedade. Para que o Direito seja
cumprido em sociedade, o Estado, com o uso do seu poder imperativo, prevê a
sanção (punição). Com o intuito de facilitar a compreensão do Direito, este é di-
vidido em algumas áreas. Vimos que uma dessas divisões é em Direito Objetivo e
Direito Subjetivo. Com relação a essa divisão, analise as afirmativas a seguir
e assinale a alternativa correta:
I. O Direito Objetivo é aquele criado pelo Estado e aplicado a toda a sociedade.
II. O Direito Subjetivo é a faculdade, a escolha de a pessoa postular seu direito,
objetivando a realização de seus interesses.
III. O Direito Objetivo dependerá da vontade do indivíduo para existir.
IV. O Direito Subjetivo é um complexo de normas que são impostas às pessoas.

a. Estão corretas somente as afirmativas I e II.


b. Estão corretas somente as afirmativas I e IV.
c. Estão corretas somente as afirmativas III e IV.
d. Estão corretas somente as afirmativas II e III.
e. Todas as afirmativas estão corretas.

2. O Direito é uma ciência bilateral, pois precisa de duas pessoas para existir, além
de impor um comportamento do indivíduo na sociedade e, quando for descum-
prido, haverá uma sanção por parte do Estado. Já que o Direito é uma ciência,
existe uma vasta classificação do mesmo. Com relação a essa classificação,
analise as afirmativas abaixo e assinale a alternativa correta.
I. O Direito Natural nasce a partir do momento em que surge o homem, apare-
cendo naturalmente para regular a vida humana em sociedade.
II. O Direito Positivo é um conjunto de regras estabelecidas por meio do poder
político em vigor num determinado país e numa determinada época.
III. O Direito Público envolve a organização de um Estado, onde são estabelecidas
as normas de ordem pública.
IV. O Direito Privado diz respeito ao interesse dos particulares, decorrente da ma-
nifestação de vontade dos interessados.
47

a. Apenas I e II estão corretas.


b. Apenas II e III estão corretas.
c. Apenas I está correta.
d. Apenas II, III e IV estão corretas.
e. Todas as afirmativas estão corretas.

3. Ao aplicar uma lei, o juiz busca atender aos fins sociais a que ela se dirige e às exi-
gências do bem comum. Para se aplicar uma norma, muitas vezes o juiz precisa
analisar o caso e interpretar a norma com o intuito de compreender o que o le-
gislador quis dizer com sua criação. Sobre as formas de interpretação, analise
as afirmativas abaixo e assinale a alternativa correta:
I. Histórica: constata-se a realidade e a necessidade social na elaboração da lei e
em sua aplicação.
II. Restritiva: é aquela realizada pelo próprio órgão que criou a lei, no momento
em que ela declara o sentido, alcance e conteúdo por meio de norma.
III. Lógica: estabelece-se uma conexão entre vários textos legais a serem interpre-
tados e aplicados ao caso concreto.
IV. Gramatical: é a verificação do sentido gramatical da norma criada.

a. Estão corretas somente as afirmativas I, II e IV.


b. Estão corretas somente as afirmativas I e II.
c. Estão corretas somente as afirmativas II, III e IV.
d. Estão corretas somente as afirmativas III e IV.
e. Todas as afirmativas estão corretas.

4. Como o próprio nome diz, o princípio é a base de tudo. Pode-se dizer que ele é
o alicerce do Direito. A atuação do princípio no Direito se inicia antes de a regra
ser feita, ou numa fase pré-jurídica. Ou seja, em verdade os princípios acabam in-
fluenciando a elaboração da regra. Em nossa disciplina estudamos alguns princí-
pios gerais de Direito. Sobre esses princípios, assinale a alternativa incorreta:
48

a. O princípio do respeito à dignidade da pessoa humana é um dos objetivos do


nosso país.
b. O princípio da proporcionalidade é aquele em que não se pode impor condu-
tas a não ser que seja em estrito cumprimento do interesse público.
c. O princípio da razoabilidade é aquele em que as pessoas devem agir com razo-
abilidade, o que também acontece com as normas jurídicas.
d. O princípio da função social é aquele que regula a vida humana em sociedade,
estabelecendo regras de conduta que devem ser respeitadas por todos.
e. O princípio normativo é aquele em que o Poder Legislativo atuará nos casos
concretos quando não houver uma disposição específica para disciplinar de-
terminada atuação.

5. A Constituição Federal, em seu art. 2º, prevê que “são poderes da União, indepen-
dentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. A fórmula
ideal para o funcionamento do Estado é que suas operações fundamentais se-
jam repartidas entre vários órgãos autônomos, cada um atuando em sua esfera
de atribuição. No Brasil existem três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Sobre esses poderes, assinale a alternativa incorreta:
a. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos
Ministros de Estado.
b. O Poder Judiciário dirá como as normas serão aplicadas, e assim demonstrará
qual a forma correta de interpretação das leis.
c. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que é composto so-
mente pelo Senado Federal, sendo eleito pelos habitantes dos respectivos es-
tados.
d. Os deputados são escolhidos pelo sistema proporcional e cada estado da fe-
deração, bem como o Distrito Federal, não poderá ter menos de oito e mais de
70 representantes.

e. O vereador é um representante do povo na Câmara dos Vereadores.


49

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS DO CIDADÃO


[...] Igualdade -Todas as pessoas são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer na-
tureza. Os brasileiros e os estrangeiros residentes no país têm a garantia de proteção ao
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
Igualdade de gênero - Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações.
Princípio da legalidade - Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei.
Integridade - Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou de-
gradante.
Liberdade de opinião e expressão - É livre a manifestação do pensamento e a expressão
da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de
censura ou licença, sendo vedado o anonimato.
Liberdade e assistência religiosa - É garantida a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e mantida, na forma da lei, a pro-
teção aos locais de culto e a suas liturgias. É assegurada, nos termos da lei, a prestação
de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.
Direito à intimidade e à inviolabilidade do domicílio - São protegidas a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas. A casa é abrigo inviolável do indivíduo; nin-
guém pode nela penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante
delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
Sigilo das comunicações - É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e telefônicas, exceto, no último caso, por ordem judicial.
Liberdade de informação - É assegurado a todos o acesso à informação, resguardando-
-se o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.
Direito de reunião e associação - Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em
locais abertos ao público. É plena a liberdade de associação para fins lícitos. Ninguém
pode ser obrigado a associar-se ou a permanecer associado.
Direito de propriedade - É garantido o direito de propriedade, que atenda à sua função
social. A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utili-
dade pública, mediante justa e prévia indenização.
Direito de informação e petição - Todos têm direito a receber dos órgãos públicos in-
formações de seu interesse. São assegurados, independentemente do pagamento de
taxas, o direito de petição aos poderes públicos em defesa de direitos ou contra ilegali-
dade ou abuso de poder, e a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa
de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal.
50

Estado de direito - A lei não pode prejudicar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e
a coisa julgada. É reconhecida a instituição do júri, assegurando-se a plenitude de defe-
sa; o sigilo das votações; a soberania dos veredictos e a competência para o julgamento
dos crimes dolosos contra a vida. Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena
sem prévia determinação legal. A lei penal não pode retroagir, salvo para beneficiar o
réu.
Racismo - Constitui crime inafiançável e imprescritível.
Crimes hediondos - A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo
e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os execu-
tores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.
Delitos e penas - Não haverá penas de morte, de caráter perpétuo, de trabalhos força-
dos, de banimento e cruéis. A pena é cumprida em estabelecimentos distintos, de acor-
do com a natureza do delito, a idade e o sexo do condenado. É assegurado aos presos o
respeito à integridade física e moral. Serão asseguradas às presidiárias condições para
que possam permanecer com seus filhos durante a amamentação.
Extradição - Nenhum brasileiro nato será extraditado. Não será concedida extradição de
estrangeiro por crime político ou de opinião.

Fonte: Senado Federal ([2017], on-line)1.


MATERIAL COMPLEMENTAR

Instituições de Direito Público e Privado


Sérgio Pinto Martins
Editora: Atlas
Ano: 2004
Sinopse: a obra citada é excelente para nos auxiliar a
entender melhor o Direito. É uma obra simples, com
linguagem fácil, voltada para aqueles que não têm formação
jurídica, mas têm interesse em conhecer melhor a estrutura e
o funcionamento do nosso país.

O Náufrago
Ano: 2001
Sinopse: narra a história de um empregado da FedEx
que sofre um acidente aéreo e vai parar numa ilha
desabitada no meio do Pacífico Sul. É incomum no
cinema em Hollywood que, durante a maior parte do
filme, só haja um personagem humano.
Comentário: o filme é um bom exemplo de onde existe
o Direito, de fato. No momento em que Tom Hanks fica
sozinho na ilha, não existe nenhuma regulamentação
sobre a vida em sociedade. A partir do momento
em que ele volta para a civilização, deve se adaptar
novamente à regulamentação que ali existe

Material Complementar
REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Bra-


sília-DF. Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

COTRIM, G. V. Direito fundamental: Instituições de Direito Público e Privado. São


Paulo: Saraiva, 2009.

FUHRER, M. C. A.; MILARÉ, É. Manual de Direito Público e Privado. São Paulo: R dos
Tribunais, 2009.

JACQUES, P. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 1954.

LENZA, P. Direito Constitucional esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2010.

MARTINS, S. P. Instituições de Direito Público e Privado. São Paulo: Atlas, 2013.

MENDES, K. R. Curso de Direito da Saúde. São Paulo: Saraiva, 2013.

MORAES, A. Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2009.

PALAIA, N. Noções Essenciais de Direito. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

REIS, H. M. REIS, C. N. P. Direito para administradores. v. I. São Paulo: Cengage,


2006.

REALE, M. Curso de Filosofia do Direito. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1972.

WARAT, L. A. A definição jurídica. Porto Alegre: Atrium, 1977.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1
Em: <https://www.senado.gov.br/noticias/jornal/cidadania/DireitosCidadao/
not01.htm>. Acesso em: 03 dez. 2016.
53
GABARITO

1. A
2. E
3. D
4. E
5. C
Professora Me. Mariane Helena Lopes

II
UNIDADE
DIREITO EMPRESARIAL

Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender o Direito Empresarial.
■ Analisar modelos societários.
■ Analisar títulos de crédito.
■ Conhecer o direito falimentar.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Desenvolvimento do Direito Empresarial no Brasil
■ Autonomia, importância e conceito de Direito Empresarial
■ Objeto do Direito Empresarial
■ Conceito e Caracterização do Empresário
■ Conceito de empresa
■ Capacidade para ser empresário
■ Sociedades comerciais
■ Títulos de crédito
■ Direito falimentar
57

INTRODUÇÃO

Com o Código Civil de 2002 e a revogação de parte do Código Comercial de


1850, no Brasil, alguns autores vêm utilizando a expressão “Direito Empresarial”
em vez de “Direito Comercial”. Podemos dizer que o Direito Empresarial é o
mesmo que Direito Comercial, mas o primeiro é mais amplo, alcançando todo
o exercício profissional de atividade econômica organizada para produção ou
circulação de bens ou de serviços, exceto a produção intelectual.
Nesta unidade, estudaremos como as empresas surgem, os modelos socie-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tários que podem ser escolhidos pelos futuros empresários, bem como de que
forma cada uma delas funcionará. Vamos ver que cada modelo possui um limite
de responsabilidade diferente. Como verificaremos ao longo da unidade para
que a sociedade comece a existir ela deve ser devidamente registrada no órgão
competente.
O registro de uma sociedade empresarial é importante visto que, a partir do
momento que o registro é feito, o patrimônio da empresa passa a ser separado da
pessoa que o criou. Ou seja, como o patrimônio da pessoa jurídica é separado
ele responderá somente pelas dívidas da empresa e vice e versa.
Veremos ainda que os títulos de crédito existentes poderão ser emitidos em
situações, momentos e ocasiões diferentes. Até mesmo em alguns casos, o que é
feito na prática não existe na teoria. Contudo, eles não necessitam de compro-
vação da obrigação para que tenham validade. Basta o título propriamente dito.
Por fim, verificaremos como funciona o direito falimentar, que se divide em
recuperação extrajudicial, judicial e falência. Quando uma empresa está passando
por dificuldades, ela pode solicitar sua recuperação, fazendo de tudo para que
não feche e, se ainda assim não conseguir continuar com a atividade, poderá,
em último caso, decretar a sua falência.
Bons estudos!

Introdução
58 UNIDADE II

DESENVOLVIMENTO DO DIREITO EMPRESARIAL NO


BRASIL

No período Brasil Colônia, as relações jurídicas brasileiras eram reguladas pelas


Ordenações Portuguesas, sob influência do Direito Canônico e Direito Romano
(TEIXEIRA, 2011). Em 1808, com a chegada da Família Real ao Brasil, surgiu a
necessidade de organização da Corte e de uma legislação com finalidade econô-
mica. Por obra de Visconde de Cairu, com a chamada Lei de Abertura dos Portos
de 1808, os comerciantes, antes impedidos pela política mesquinha da metró-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pole, abrem-se plenamente para o comércio (TEIXEIRA, 2011).
Na sequência, de acordo com Ricardo Teixeira (2011), surgiram a Real Junta
de Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegações e o Banco do Brasil, entre outras
determinações legais. Com a Proclamação da Independência, foi convocada a
Assembleia Legislativa de 1823, ficando determinada a vigência, no Brasil, das
leis portuguesas, com a possibilidade de invocar leis mercantis. Assim, o Código
Comercial francês de 1807, o espanhol de 1829 e o português de 1833 foram ver-
dadeiras fontes legislativas para o Brasil (TEIXEIRA, 2011).
O espírito de soberania no Brasil exigia uma legislação própria. Em 1834, foi
elaborado um projeto de Código de Comércio, que tramitou na Câmara até ser
sancionado em 1850 como Lei nº 556, sendo conhecida como Código Comercial
brasileiro (VERÇOSA, 2004).
O Código Comercial brasileiro de 1850 adotava a teoria dos atos de comér-
cio. Na segunda metade do século XX, tanto a jurisprudência quanto a doutrina
começaram a perceber que tal teoria era insuficiente, passando a admitir a teo-
ria da empresa. Tal afirmação pode ser percebida na Lei nº 8.078/90, também
conhecida como Código de Defesa do Consumidor (TEIXEIRA, 2011).
Com a vigência do Código Civil de 2002, a primeira parte do Código
Comercial de 1850 foi revogada. A partir desse momento, o Direito Empresarial
deixou de ter como fonte principal o Código Comercial, passando a ser regu-
lado pelo Código Civil.

DIREITO EMPRESARIAL
59

AUTONOMIA, IMPORTÂNCIA E CONCEITO DE


DIREITO EMPRESARIAL

Como a vigência do Código Civil levou à unificação dos diplomas obrigacionais,


as obrigações, tanto civis quanto empresariais, seguem esse mesmo regime jurí-
dico. O Direito Empresarial difere do Direito Civil por ser mais dinâmico em
suas relações e normas. O Direito Civil é estável, enquanto o primeiro é criativo
e mutante. Para se comparar com o Direito Empresarial, neste se contrata reite-
radamente, enquanto no outro contrata-se poucas vezes e se pensa muito antes
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de realizar algo (TEIXEIRA, 2012).


Esse ramo do Direito possui uma principiologia própria, sendo dinâmico
e cambiante, ocupando-se de negócios de massa, diferentemente dos demais,
que têm a peculiaridade de ser mais conservadores e estáveis nas suas relações
e também quanto às mudanças, tratando de atos isolados (TEIXEIRA, 2012).
Assim, o conceito de Direito Comercial continua como aquele que “constitui
aquela parte do direito privado que tem, principalmente, por objeto regular a
circulação dos bens entre aqueles que os produzem e aqueles que os consomem”
(VIVANTE, 1936, p. 1).
O Direito Empresarial influencia o Direito Civil, visto que ele arrisca mais,
inventando e experimentando coisas novas, que mais tarde poderão ou não ser
consolidadas no âmbito civil. Rubens Requião (2008) lembra a posição de Sylvio
Marcondes Machado (1956), ao dizer que as razões da retratação do renomado
jurista italiano Cesare Vivante continuavam válidas, mas nem por isso excluíam
a coordenação unitária de atos jurídicos concernentes ao fenômeno econômico,
e que o Direito Comercial podia conviver com o Direito Civil em um código uni-
ficado. A unificação do direito das obrigações não significa a abolição da vida
comercial, e uma unidade orgânica não conflita com a disciplina da vida mer-
cantil (REQUIÃO, 2008).
Ainda, Fábio Ulhoa Coelho (2008) pondera que a justificativa fundamental
para a autonomia do Direito Empresarial se dá pela manutenção dessa disci-
plina nos bancos universitários, inclusive no exterior, como no caso da Itália e
da Espanha.

Autonomia, Importância e Conceito de Direito Empresarial


60 UNIDADE II

OBJETO DO DIREITO EMPRESARIAL

O objeto desse ramo do Direito é, essencialmente, regular as relações entre empre-


sários e dispor sobre as regras das sociedades empresariais. Se, anteriormente,
o objeto do Direito Empresarial era tido a partir da teoria dos atos de comér-
cio, com a vigência do Código Civil de 2002 o objeto passa a ser mais amplo,
o da teoria da empresa, abrangendo toda e qualquer atividade econômica (art.
966 do Código Civil).
O Direito Empresarial, em sua evolução, chegou à atualidade como uma ala-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vanca ao desenvolvimento dos negócios, em razão dos instrumentos que coloca
à disposição para as operações, atendendo, assim, às necessidades dos empresá-
rios com suas normas e diversos tipos de contratos (TEIXEIRA, 2012).

CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO DO EMPRESÁRIO

De acordo com o art. 966 do Código Civil de 2002, empresário é aquele que exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circu-
lação de bens ou de serviços. O artigo citado é reflexo do art. 2.082 do Código
Civil italiano (apud VIVANTE, 1936), que dispõe: “é empreendedor quem exerce
profissionalmente uma atividade econômica organizada para o fim da produção
ou da troca de bens ou de serviços”.
O empresário é um ativador do sistema econômico. Ele funciona como um
intermediário, pois de um lado estão os que oferecem capital e/ou força de tra-
balho e, de outro, os que demandam satisfazer suas necessidades (TEIXEIRA,
2012). Para melhor entender o conceito de empresário, bem como analisar os
elementos que o compõem, dividiremos nosso estudo em cinco grupos:

DIREITO EMPRESARIAL
61

1º) O exercício de uma atividade


A atividade é um conjunto de atos coordenados para alcançar um fim comum.
Não é uma mera sequência de atos; é necessária a coordenação. Ela pode envol-
ver atos jurídicos e atos materiais. Quando se fala em atividade, pressupõe-se
uma habilidade do sujeito que a exerce ou a organiza, assumindo o seu risco eco-
nômico (TEIXEIRA, 2012).

2º) A natureza econômica da atividade


A atividade econômica tem como finalidade o lucro. “Econômica” é uma
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

expressão que aqui está relacionada ao fato de a atividade apresentar “risco”. A


atividade é exercida com total responsabilidade do empresário, pois há o risco
de perder o capital ali empregado, justificando o proveito que ele tem em retirar
o lucro decorrente da atividade (TEIXEIRA, 2012).

3º) A organização da atividade


Quem organiza a atividade é o empresário. Ele combina os fatores de produ-
ção, que são: 1) natureza (matéria-prima); 2) capital (recursos); 3) trabalho (mão
de obra); e 4) tecnologia (técnicas para desenvolver uma atividade). Ao combinar
os fatores de produção, ele cria riquezas e atende às necessidades do mercado.

4º) A profissionalidade do exercício de tal atividade


A profissionalidade do empresário pressupõe: 1) habitualidade; 2) pessoa-
lidade; e 3) especialidade. Toda atividade negocial é de risco, podendo-se dizer
que o empresário é um profissional em correr riscos.

5º) A finalidade da produção ou circulação de bens ou de serviços


Existem quatro possibilidades que estudaremos separadamente: 1) produ-
zir bens: é sinônimo de fabricar mercadorias; 2) produzir serviços; 3) circular
bens: é adquirir bens para revendê-los. Seria apenas uma intermediação; e 4)
circular serviços: é fazer uma intermediação entre o cliente e o fornecedor do
serviço a ser prestado.

Conceito e Caracterização do Empresário


62 UNIDADE II

EMPRESÁRIO INDIVIDUAL

O empresário é o gênero, em que o empresário individual e a sociedade empre-


sária são espécies. O empresário individual é aquele que opta por desenvolver
sua atividade isolado, sem a participação de sócios.
A essa modalidade de empresário é assegurado o direito à inscrição, à recu-
peração de empresas, à falência, à utilização dos seus livros como provas, assim
como é assegurado o direito da sociedade empresária. Contudo, ele não goza da
limitação de responsabilidade e da separação patrimonial inerente às socieda-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
des empresárias (TEIXEIRA, 2012).
Sérgio Campinho (2009) nos atenta para o fato de que o empresário indivi-
dual é a pessoa física titular de uma atividade empresarial, que por sua vez não
se confunde com o sócio da sociedade empresária. O sócio não é empresário,
mas um integrante do quadro social de uma sociedade empresária.

CONCEITO DE EMPRESA

Com relação ao conceito de empresa,


o italiano Alberto Asquini (1996)
foi quem melhor escreveu sobre o
conceito de empresa, sendo tradu-
zido no Brasil por Fábio Konder
Comparato. De acordo com Alberto
Asquini (1996), a empresa pode ser
entendida em quatro perfis, sendo
os seguintes:

DIREITO EMPRESARIAL
63

1º) Objetivo: a empresa significa patrimônio, ou seja, o conjunto de bens desti-


nados ao exercício da empresa. Nesse sentido, temos o art. 1.142 do Código Civil.

2º) Subjetivo: a empresa significa empresário, individual ou sociedade empre-


sária, que possui personalidade jurídica, com a capacidade de adquirir direito
e contrair obrigações. Nesse sentido, temos o art. 966 e 981 do Código Civil.

3º) Institucional: é um conjunto de pessoas em razão de um objetivo comum.


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

4º) Funcional: a empresa é a atividade organizada, com a coordenação dos


fatores de produção para alcançar sua finalidade.

Com base no exposto, pode-se dizer que empresa significa atividade. Ela é um
conjunto de atos coordenados pelo empresário com habilidade.

CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO

De acordo com o art. 972 do Código Civil, qualquer pessoa pode exercer a ati-
vidade empresarial, desde que esteja em pleno gozo da sua capacidade civil, não
sendo impedida por lei. Para que uma pessoa realize o exercício da atividade
empresarial, pressupõe-se a capacidade civil do sujeito que irá exercê-la. Essa
capacidade ocorre quando a pessoa atinge a maioridade – completa 18 anos – e
possui sanidade mental. Assim, vamos entender melhor como funciona a capa-
cidade no Direito brasileiro.
O Art. 1º do Código Civil prevê que “toda pessoa é capaz de direitos e deve-
res na ordem civil”, implicando a capacidade de ser parte. Existem duas espécies
de capacidade. São elas: a de gozo ou de direito e a de exercício ou de fato. A pri-
meira é a aptidão da pessoa gozar seus direitos. Ela é inerente ao ente humano
e toda pessoa a possui, enquanto a segunda é a aptidão de exercitar direitos.

CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO


64 UNIDADE II

A capacidade no Direito Civil é dividida em: 1) absolutamente incapazes; 2)


relativamente capazes e; 3) plenamente capazes ou capacidade absoluta.
Os absolutamente incapazes devem ser representados por seus pais ou guar-
diões e não podem exprimir sua vontade. De acordo com o Art. 3º do Código
Civil, até o ano de 2015 eram absolutamente incapazes:
a. Os menores de 16 anos;
b. Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessá-
rio discernimento para a prática desses atos;

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
c. Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
É o que ocorre com a pessoa embriagada ou com alguém entorpecido por
drogas alucinógenas.

Contudo, no ano de 2015, foi sancionada a Lei nº 13.146, que trouxe modifica-
ções com relação aos absolutamente incapazes. Por essa modificação, não existe
mais, no Direito Privado, pessoa absolutamente incapaz que seja maior de idade.
Como consequência, não há que se falar mais em uma ação de interdição abso-
luta no nosso sistema civil, visto que os menores não são interditados. Todas as
pessoas com deficiência, das quais tratava o comando anterior, passam a ser, em
regra, plenamente capazes para o Direito Civil, o que visa a sua plena inclusão,
em prol de sua dignidade (TARTUCE, 2015, on-line)1.
Os relativamente incapazes são aqueles que devem ser assistidos por seus pais
ou representantes. Eles são incapazes relativamente a certos atos, ou à maneira
de exercê-los. De acordo com o Art. 4º do Código Civil, são eles:
a. Os maiores de 16 e menores de 18 anos;
b. Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência men-
tal, tenham o discernimento reduzido;
c. Os pródigos são as pessoas que gastam desordenadamente, que dissipam
ou dilapidam seu patrimônio sem justificativa.

No caso dos relativamente incapazes, a Lei nº 13.146 de 2015 também trouxe


modificações. Aqui não se fala mais no inciso II, no caso dos deficientes mentais.
Mantiveram-se somente os ébrios habituais e os viciados em tóxicos (TARTUCE,

DIREITO EMPRESARIAL
65

2015, on-line)1. Por fim, os plenamente capazes ou que possuem capacidade abso-
luta são os maiores de 18 anos, que ficam habilitados para a prática de todos os
atos da vida civil.

EMANCIPAÇÃO

O Art. 1.634, V do Código Civil dispõe que, até os 16 anos, os filhos menores
devem ser representados por seus pais. A partir dos 16 anos e até os 18 anos eles são
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

assistidos. É nessa possibilidade de assistência que se pode falar na emancipação.


A emancipação é a cessação, para os maiores de 16 e menores de 18 anos, de
sua incapacidade, antes da idade prevista em lei – diga-se 18 anos – nos seguin-
tes casos, de acordo com o Art. 5º do Código Civil:
a. Por concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante ins-
trumento público, independentemente de homologação judicial, ou por
sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver 16 anos completos. Não
pode ser feita por instrumento particular;
b. Pelo exercício do emprego público efetivo;
c. Pela colação de grau em curso de ensino superior;
d. Pelo casamento;
e. Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de
emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos
tenha economia própria.

No caso da emancipação, esta não pode ser revogada. Mesmo com a mudança
dos sujeitos considerados absolutamente incapazes e relativamente incapazes,
em nada foi modificada a emancipação. O que se pode observar é que, em algu-
mas situações, a emancipação caiu em desuso, ou seja, não acontece mais em
nossa sociedade.

CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO


66 UNIDADE II

IMPEDIMENTOS E INCAPACIDADE

Existem alguns casos onde uma pessoa pode ser plenamente capaz civilmente,
não podendo exercer a atividade empresarial caso esteja impedida por lei. Tal
fato acontece por ser uma proibição legal. Entre esses impedimentos, podem ser
citados: falido não reabilitado, funcionário público, militar, devedor do INSS,
estrangeiro e incapacidade superveniente.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os impedimentos e a incapacidade do sujeito impedem que ele tenha uma
empresa, de acordo com o que estudamos e com a legislação vigente. Para
saber mais sobre os impedimentos e a incapacidade leia o texto de Vanessa
Diniz Mendonça Miranda, intitulado O exercício da atividade empresarial pelo
incapaz nos termos no Código Civil de 2002, disponível em <http://www.fest.
edu.br/data/fckfiles/file/nepe/2009_2fest_revistatransversalidades_issn.
pdf#page=121>.
Fonte: a autora

ESTABELECIMENTO

De acordo com o art. 1.142 do Código Civil, o estabelecimento é o conjunto de


bens organizado pelo empresário para o exercício da empresa. A primeira vez
que se falou em estabelecimento foi com Oscar Barreto Filho (1969, p. 73), que o
define como um “conjunto de meios materiais e imateriais, pelos quais o comer-
ciante explora determina espécie de comércio”.
Os bens materiais/corpóreos são aqueles que se caracterizam por ocupar
espaço no mundo exterior, como no caso de mercadorias, instalações e máqui-
nas. Já os bens imateriais/incorpóreos são as coisas que não ocupam lugar no
mundo exterior, sendo um resultado da elaboração abstrata humana, como os
títulos dos estabelecimentos, as marcas, as patentes, os desenhos industriais entre
outros (TEIXEIRA, 2012).

DIREITO EMPRESARIAL
67

O estabelecimento é o instrumento para o empresário exercer sua atividade;


é uma base física da empresa, podendo ser virtual também. Normalmente, os
clientes se dirigem para o estabelecimento do empresário para a realização de
negócios (TEIXEIRA, 2012).

NOME EMPRESARIAL

Nome empresarial é aquele que vai identificar o empresário. A denominação


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

bem como a razão social podem ser usadas tanto na sociedade limitada como na
sociedade em comandita por ações. No caso da sociedade em que houver sócios
de responsabilidade ilimitada, operará sob firma, na qual somente os nomes
daqueles poderão figurar, bastando para formá-la aditar ao nome de um deles a
expressão e companhia ou sua abreviatura.
Com relação ao nome empresarial, este não pode ser objeto de alienação. O
que pode ser feito é que o adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos, se
o contrato permitir, pode usar o nome do alienante, precedido de seu próprio,
com a qualificação de sucessor (MARTINS, 2013).
No caso de o sócio falecer, for excluído ou ainda se retirar da sociedade, o
nome não poderá ser conservado na firma social. Segundo Sérgio Pinto Martins
(2013), a inscrição do nome empresarial poderá ser cancelada, a requerimento
de qualquer interessado, quando cessar o exercício da atividade para que foi ado-
tado ou quando ocorrer a liquidação da sociedade que o inscreveu.

CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO


68 UNIDADE II

SOCIEDADES COMERCIAIS

Dispõe o art. 981 do Código Civil que podem celebrar contrato de sociedade as
pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para
o exercício de atividade econômica e partilha, entre si, dos resultados. A socie-
dade é considerada empresária quando tem por objeto o exercício de atividade
própria de empresário sujeito a registro. Ela visa à produção ou circulação de
bens ou serviços para o mercado com o objetivo de lucro. Exemplos dessa forma
de sociedade são: anônima, comandita por ações, em nome coletivo, limitada

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e em comandita simples. Todas devem ser registradas na Junta Comercial, de
acordo com o art. 1.150 do Código Civil.
As sociedades simples são as demais, como a cooperativa. Ela não tem
por objetivo a produção ou a circulação de bens ou serviços para o mercado
(MARTINS, 2013).

SOCIEDADE NÃO PERSONIFICADA

Nesta classificação, temos a sociedade em comum e a sociedade em conta de


participação:

1º) Sociedade em comum:


É uma sociedade em formação ou organização. Os sócios só podem provar
a existência da sociedade por escrito, mas os terceiros podem provar a existên-
cia da mesma de qualquer forma.
Os bens e as dívidas sociais constituem um patrimônio especial, sendo os
sócios os titulares em comum. Nesse caso, os bens da sociedade responderão
pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso
limitativo de poderes, que só terá eficácia contra o terceiro que o conheça ou
deva conhecer (MARTINS, 2013).
Os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais.

DIREITO EMPRESARIAL
69

2º) Sociedade em conta de participação


Nessa classificação, é aberta uma conta para indicar as operações realizadas
bem como os resultados alcançados. A participação será a divisão dos lucros
entre os sócios. Ela não é uma pessoa jurídica, não tem personalidade jurídica,
mas representa um contrato entre os sócios (MARTINS, 2013).
O contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a inscrição de
seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade jurídica a ela.
Nesse caso, pode-se dizer que a inscrição é uma faculdade e não uma obrigação.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

SOCIEDADE PERSONIFICADA

Nessa classificação, veremos a sociedade simples, em nome coletivo, em coman-


dita simples, limitada e sociedade anônima:

1º) Sociedade simples:


É uma sociedade de profissão devidamente regulamentada, como a socie-
dade de advogados, por exemplo. Ela deve ser registrada no Registro Civil das
Pessoas Jurídicas, de acordo com os artigos 998, 1000 e 1150 do Código Civil.
A constituição de tal sociedade é feita mediante um contrato escrito, seja ele
público ou particular. As obrigações dos sócios, nesse modelo societário, come-
çam imediatamente com o contrato, se o mesmo não fixar uma data diferente, e
se extinguirá com a liquidação da sociedade (MARTINS, 2013).
Os sócios não podem ser substituídos sem o consentimento dos demais. Eles
também participam tanto dos lucros quanto das perdas da empresa, de acordo
com a proporção das respectivas quotas.

2º) Sociedade em nome coletivo:


Tem previsão nos arts. 1.039 a 1.044 do Código Civil.
Somente pessoas físicas podem fazer parte desse modelo societário. Todos
os sócios responderão de forma solidária e ilimitada pelas obrigações sociais.

Sociedades Comerciais
70 UNIDADE II

A administração da sociedade será exclusivamente dos sócios, sendo que o


uso da firma poderá ser feito nos limites dos que tenham os necessários pode-
res (MARTINS, 2013).

3º) Sociedade em comandita simples:


Há os sócios comanditados e comanditários. Os primeiros são pessoas físicas,
responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais. Já os segundos
obrigam-se apenas pelo valor de sua quota (TEIXEIRA, 2011). Desde que haja
compatibilidade, serão aplicadas às normas da sociedade em nome coletivo.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O comanditário poderá participar das deliberações da sociedade e fiscali-
zar suas operações, não podendo praticar qualquer ato de gestão, nem podendo
ter o nome na firma social, sob pena de ficar sujeito à responsabilidade solidá-
ria e ilimitada.

4º) Sociedade limitada:


Nessa modalidade, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de
suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capi-
tal social (art. 1.052 do CC). Com a integralização do capital, o sócio passa a ter
responsabilidade limitada a cada quota.
A responsabilidade solidária diz respeito ao capital faltante e não a todo o
capital, visto que o art. 1.052 do CC faz referência à solidariedade pela integraliza-
ção do capital social. Este divide-se em quotas iguais ou desiguais, cabendo uma
ou diversas a cada sócio. Ela é administrada por uma ou mais pessoas designadas
no contrato social ou em ato separado. A administração pode ser feita por qual-
quer sócio ou por não sócio, dependendo de determinação no contrato social.

DIREITO EMPRESARIAL
71

TÍTULOS DE CRÉDITO

O título de crédito é um documento pelo qual se faz necessário para o exercício


do direito, de forma literal e autônoma. Como o título é considerado um docu-
mento, ele sempre reportará a um fato, ou seja, provará a existência de uma
relação jurídica. Tal documento se distingue dos demais em três aspectos. São
eles: 1º) refere-se unicamente a relações creditícias, não se documentando no
título nenhum outro tipo de obrigação; 2º) facilidade de cobrança do crédito em
juízo. Ele é considerado um título executivo extrajudicial, de acordo com o art.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

585, I do Código de Processo Civil. Ou seja, ele possui executividade, dando ao


credor o direito de promover a execução judicial do seu direito. 3º) Ostenta o
atributo da negociabilidade, estando sujeito a certa disciplina jurídica, tornando
cada vez mais fácil a circulação do crédito, a negociação do direito nele mencio-
nado (COELHO, 2013).

PRINCÍPIOS DO DIREITO CAMBIÁRIO

Estudaremos aqui três princípios do direito cambiário: cartularidade, literali-


dade e autonomia das obrigações cambiais.
■ Princípio da Cartularidade:

O exercício dos direitos representados por um título de crédito pressupõe a sua


posse, ou seja, somente quem exibe a cártula (papel) pode pretender a satisfação
de uma pretensão relativamente ao direito documentado pelo título (COELHO,
2013).
Tal princípio é a garantia de que o sujeito que postula a satisfação do direito
é mesmo seu titular. Ele evita o enriquecimento indevido de quem o negociou
com terceiros. Ainda, em virtude do citado princípio, quem paga o título deve,
como forma de cautela, exigir que ele lhe seja entregue. Isso para evitar que a
cambial seja ainda negociada com terceiros de boa-fé, que terão direito de exigir
um novo pagamento e para que o pagador possa exercer, contra outros devedo-
res, o direito de regresso.

Títulos de Crédito
72 UNIDADE II

■ Princípio da Literalidade:

Pelo princípio da literalidade somente produzirão efeitos jurídico-cambiais os


atos que forem lançados no próprio título de crédito. Caso um ato seja:
documentado em instrumento apartado, ou seja, quando for feito sepa-
radamente do contrato principal, ainda que válidos e eficazes entre os
sujeitos envolvidos, não produzirão efeitos perante o portador do título
(COELHO, 2013, p. 122).

Um exemplo disso é quando se faz a quitação em recibo separado. Quem paga


parcialmente um título deve pedir a quitação na própria cártula, não podendo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
se exonerar de pagar o valor total, caso ela seja transferida a terceiro de boa-fé.
Isso por que “o princípio da literalidade projeta consequências favoráveis e con-
trárias, tanto para credor como para devedor. Por um lado, nenhum credor pode
pleitear mais direitos do que os resultantes exclusivamente do conteúdo do título
de crédito”. (COELHO, 2013, p. 122)
Isso ocorre para que o devedor não seja obrigado a pagar mais do que está
no documento. “De outro lado, o titular do crédito pode exigir todas as obriga-
ções decorrentes das assinaturas constantes, o que representa para os obrigados o
dever de satisfazer exatamente o que está no título” (COELHO, 2013, p. 122-123).

■ Princípio da Autonomia das Obrigações Cambiais


Quando um único título documenta mais de uma obrigação, caso uma delas
seja considerada inválida, não prejudica as demais. Imagine a seguinte situ-
ação: Antônio vende a Benedito o seu carro usado, concordando em receber
metade do preço no prazo de 60 dias. Nesse caso, a nota representa a obrigação
do comprador, na compra e venda do veículo. Antônio é devedor de Carlos, em
importância próxima ao valor facial da nota promissória.
Se Carlos concordar, o débito de Antônio poderá ser satisfeito com a trans-
ferência do crédito que titulariza em razão da nota. Nessa hipótese, o título que
representava apenas a obrigação de Benedito pagar a Antônio o saldo deve-
dor do valor do automóvel, representa agora duas outras relações jurídicas: a
de Antônio satisfazendo sua dívida junto a Carlos e a de Benedito, devedor do
título agora em mãos de Carlos.

DIREITO EMPRESARIAL
73

As implicações do princípio da autonomia representam uma garantia efe-


tiva de circularidade do título de crédito. Dessa forma, o terceiro descontador
não precisa investigar as condições em que o crédito transacionado teve origem,
visto que, ainda que haja irregularidade, invalidade ou ineficácia na relação fun-
damental, ele não terá o seu direito maculado (COELHO, 2013).

ENDOSSO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O endosso é uma das formas de transmissão da propriedade dos títulos de cré-


dito. Ele não tem por objetivo a garantia do título, somente a possibilidade de
sua transferência.
O endosso pode ser feito em branco ou em preto. O primeiro é chamado
também de incompleto, sendo feito somente pela aposição da assinatura, sem
identificar o destinatário. Já o segundo, chamado também de completo, envolve
a aposição da assinatura e mais a indicação do nome do beneficiário (MARTINS,
2013). A transferência só se completa com a tradição do título. O endossatário
do endosso em branco pode mudá-lo, completando-o com o seu nome ou de
um terceiro. Poderá endossar novamente o título, em branco ou em preto, ou
pode transferi-lo sem um novo endosso (COELHO, 2013). Uma vez que a res-
ponsabilidade é assumida pelo pagamento constante no endosso, o endossante
torna-se devedor solidário. Caso o endossante pague o título, tem direito à ação
de regresso contra os coobrigados anteriores.

AVAL

O avalista se obriga pelo avalizado, comprometendo a satisfação da obrigação-


caso o devedor principal não a pague. Deve-se distinguir o aval da fiança. Nas
palavras de Sérgio Pinto Martins,
a fiança precisa ser feita por escrito, enquanto o aval não necessita dessa
formalidade. Na fiança, a responsabilidade é subsidiária, enquanto no
aval é solidária. A fiança é dada para a garantia de contratos. O aval é

Títulos de Crédito
74 UNIDADE II

prestado para a garantia de títulos de crédito. O aval só pode ser dado


no próprio título. A fiança pode ser dada em documento em separado
(2013, p. 366).

Dessa forma, pode-se analisar que o aval é uma garantia com relação à pessoa
do devedor, enquanto a fiança é uma garantia relacionada ao contrato realizado.
O aval é feito no verso ou anverso do próprio título. Para a sua validade, quando
for feito no anverso do título, é a simples assinatura do avalista.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ESPÉCIES DE TÍTULOS DE CRÉDITO

A partir de agora, estudaremos um pouco sobre os títulos de crédito. Falaremos


sobre a letra de câmbio, a nota promissória, o cheque e a duplicata.

■ Letra de Câmbio
LETRA DE CÂMBIO
Significa que vencerá no 2º dia que o sacado
aceitar/assinar a letra

N. 01 Vencimento de 2 dias da vista Valor R$ 200,00


No vencimento pagará(ão) V. Sa(s) por esta única via de letra de
Câmbio à JOÃO DA SILVA
ou à sua ordem a
LETRA DE CÂMBIO

importância de (Duzentos reais) x*x *x*x*x*x*x*x*x*x*x*x*x*x*x


Aceito (amos)

x*x *x*x*x*x*x*x*x*x*x*x*x*x*x*x *x*x*x*x*x*x*x*x*x*x*x*x*x


Na praça de Nome da Comarca
a apresentação desta cambial poderá ser feita até -- meses da data do saque.
Aceitante(s): (sacado) José da Silva Júnior & CIA LTDA.

Endereço: Rua das Flores, nº 99 - apto. 09 - Bl. 9 - CEP: 9999-999 - Bairro: Vila Raiz
Cidade: Nome da Comarca Estado: SP
Documentos: Local e data do saque
CNPJ / DPF: 99.999.999/9999-49 Nome da Comarca 09 de novembro de 2003
Outros dos.: João da Silva

Este é o Este é o sacador


Sacado/Devedor (favorecido)

Figura 1 - Letra deEste é um exemplo de Letra de Câmbio


Câmbio
Fonte: a autora. sem aceite (assinatura), porém ela também
poderá vir com aceite (assinado pelo devedor)

DIREITO EMPRESARIAL
75

A letra de câmbio é uma ordem de pagamento, sendo sacada por um credor con-
tra o seu devedor, favorável a alguém, que pode ser um terceiro ou o próprio
sacador (COELHO, 2013). O saque é a emissão do título e quem o faz é o saca-
dor. Já o sacado é o devedor contra quem foi emitida a letra de câmbio. Ele tem
24 horas para aceitar ou não o título (MARTINS, 2013). O endossante é o pro-
prietário do título, que o transfere para outrem conhecido como endossatário.

■ Nota Promissória
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Nº 001 Vencimento 02 de Fevereiro de 2016 R$ 2.500,00 *******


Ao(s) doisdias do mês de fevereiro do ano de dois mil e dezesseis
pagar ei por esta única via de NOTA PROMISSÓRIA
a FULANO DE TAL CPF/CNPJ XXX.XXX.XXX-XX
AVALISTA

Ou à sua ordem, a quantia de DOIS MIL E QUINHENTOS REAIS **************************


******************************************************************************************
em moeda corrente deste país, pagável em CHAPECÓ - SC
EMITENTE CICLANO DE TAL DATA DA EMISSÃO 02 / 12 / 2015
ENDEREÇO

ENDEREÇO
CPF/CNPJ

CPF/CNPJ

CPF/CNPJ XXX.XXX.XXX-XX ENDEREÇO Rua José Bonifácio, 5050, Centro


Chapecó - SC ASS. DO EMITENTE
SÃO DOMINGOS Cód. 6092-1

Figura 2 - Nota promissória


Fonte: a autora.

A nota promissória é uma promessa de que na data estipulada será realizado o


seu pagamento. Nota-se assim que, diferentemente do título visto anteriormente,
aqui tem-se uma promessa de pagamento e não uma ordem (MARTINS, 2013).
Com isso, a nota promissória será paga em um momento oportuno acordado
entre as partes. Ela ainda é muito praticada em nossa sociedade, principalmente
por aqueles que vendem em domicílio, devendo sempre tomar o cuidado para se
anotar todos os dados do devedor, garantindo uma possibilidade do seu paga-
mento caso não seja cumprida.

Títulos de Crédito
76 UNIDADE II

■ Cheque

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 3 - Cheque
Fonte: a autora.

O cheque é uma ordem de pagamento à vista sacada por uma pessoa contra um
banco. É chamada de emissor ou emitente a pessoa que assina o cheque e deter-
mina a ordem de pagamento. Já o beneficiário ou portador é a pessoa destinatária
da ordem de pagamento (MARTINS, 2013; COELHO, 2013; TEIXEIRA, 2012).
Essa modalidade de título de crédito, diferentemente do que muitas pes-
soas acreditam, em lei, nada prevê a modalidade à prazo. Contudo, o cheque
pré-datado (nome dado pela prática comercial), ou ainda à prazo ou pós-da-
tado, é aceito pelo comércio, possibilitando assim a circulação de mercadorias,
fazendo com que exista uma movimentação no comércio e um consumo dos
produtos e bens produzidos.
Além disso, caso o cheque pré-datado seja apresentado antes da data acor-
dada, o emissor terá direito a uma indenização por danos morais, visto que há
uma quebra de acordo verbal realizado entre as partes.
O cheque cruzado é aquele que contém duas linhas paralelas em seu anverso.
Tal cruzamento indica que ele só poderá ser pago pelo banco, devendo ser depo-
sitado. Caso o título tenha o nome do referido banco, só este paga o cheque
(MARTINS, 2013).

DIREITO EMPRESARIAL
77

O cheque deve ser apresentado ao sacado no prazo de 30 dias, caso seja da


mesma praça, ou de 60 dias, caso seja de outra praça. A não apresentação importa
a decadência da ação de execução contra os endossantes e seus avalistas.

■ Duplicata

A duplicata é um título que decorre da venda e compra mercantil ou da presta-


ção de serviços. Ao se emitir a fatura de venda, o comerciante saca uma duplicata
para a circulação como todo título de crédito. Ela é emitida para ser o pagamento
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

feito em um momento posterior (MARTINS, 2013; COELHO, 2013; TEIXEIRA,


2012). A duplicata só pode ser recusada em casos de avaria, não recebimento
de mercadorias, vícios redibitórios e divergência quanto aos prazos e preços.
A duplicata deve ser apresentada ao devedor no prazo de 30 dias de sua emis-
são para aceite, devendo ser feito em 10 dias. O prazo para protesto da mesma
é de 30 dias a contar da data de seu vencimento.

DIREITO FALIMENTAR

O direito falimentar tem previsão na Lei nº 11.101/2005, que regulamenta a recu-


peração extrajudicial, recuperação judicial e a falência. Tanto a falência quanto
a recuperação judicial não se aplicam: a) empresa pública e sociedade de econo-
mia mista; b) instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito,
consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano
de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras
entidades legalmente equiparadas às anteriores.

Direito Falimentar
78 UNIDADE II

RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

A recuperação extrajudicial é aquela em que o devedor propõe e negocia com


seus credores um plano de recuperação da empresa (TEIXEIRA, 2012). No
entanto, nessa modalidade, não serão incluídos os créditos de natureza tributá-
ria, derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente do trabalho
(MARTINS, 2013). Pode-se concluir que o plano de recuperação extrajudicial
não contempla o pagamento antecipado das dívidas existentes, nem mesmo o
tratamento desfavorável aos credores que a ele não estejam sujeitos.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Essa modalidade tem como objetivo a viabilização da superação de uma situa-


ção de crise econômico-financeira do devedor, buscando permitir que a fonte
produtora do emprego dos trabalhadores continue suas atividades, sendo tam-
bém de interesse dos credores, uma vez que assim preservam-se a empresa, sua
função social e o estímulo à atividade econômica (MARTINS, 2013; COELHO,
2013; TEIXEIRA, 2012).
A recuperação judicial pode ser requerida pelo devedor que, no momento
do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de dois anos, atendendo
aos seguintes requisitos: 1- não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas,
por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; 2- não
ter, há menos de cinco anos, obtido concessão de recuperação judicial; 3- não
ter, há menos de oito anos, obtido concessão de recuperação judicial com base
no plano especial; 4- não ter sido condenado ou não ter, como administrador
ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos na
lei de falências. Ela também pode ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, her-
deiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente.
Podem ser objetos da recuperação todos os créditos existentes na data do
pedido, ainda que não vencidos. As obrigações anteriores à recuperação judi-
cial devem observar as condições originalmente contratadas ou definidas em lei,

DIREITO EMPRESARIAL
79

inclusive no que diz respeito aos encargos, salvo se, de modo diverso, ficar esta-
belecido no plano de recuperação judicial (MARTINS, 2013).

FALÊNCIA

A falência é um processo de execução coletiva contra o devedor insolvente


(ALMEIDA, 2007). Considera-se falida a empresa ou empresário que, sem rele-
vante razão de direito, não paga no vencimento a obrigação líquida constante
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de título que legitime a ação executiva (TEIXEIRA, 2012). Em verdade, a carac-


terização da falência acontece pela impontualidade no cumprimento de suas
obrigações.
De acordo com a Lei Falimentar (Lei n° 11.101/2005) em seu artigo 94, ela
pode ser decretada nas seguintes situações:
1) sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação
líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja
soma ultrapasse o equivalente a 40 salários mínimos na data do pedido
de falência; 2) executado por qualquer quantia líquida, não paga, não
deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo le-
gal; 3) pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano
de recuperação judicial: a) faz a liquidação precipitada de seus ativos ou
lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de
retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alie-
nação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consenti-
mento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver
seu passivo; d) simula a transferência de seu principal estabelecimento
com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para preju-
dicar credor; e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída
anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes
para saldar seu passivo; f) ausentar-se sem deixar representante habi-
litado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona o
estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua
sede ou de seu principal estabelecimento; g) deixa de cumprir, no prazo
estabelecido, uma obrigação assumida no plano de recuperação judi-
cial (BRASIL, Lei n° 11.101, 2005).

Direito Falimentar
80 UNIDADE II

Nota-se, assim, que a falência ocorre quando a empresa não tem mais
possibilidade de continuar exercendo suas atividades, impossibilitando seu fun-
cionamento, bem como a continuação da atividade escolhida pelo empresário.
Uma vez decretada a falência, quando houver necessidade, poderá ser decretada
a despersonificação da pessoa jurídica criada para a existência da sociedade, a
fim de se atingir o patrimônio dos sócios, possibilitando assim o pagamento das
dívidas não cumpridas. Por fim, nesse caso, sempre deverá ser dada a preferên-
cia para o pagamento de dívidas trabalhistas, depois de acidentes de trabalho,
dívidas tributárias e, por último, dos demais credores.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, estudamos o Direito Empresarial. Tal ramo é de suma impor-


tância para que o futuro gestor saiba como deve funcionar uma organização
empresarial, os benefícios que se pode ter a partir do momento em que ocorre a
personificação do modelo societário a ser seguido, bem como os títulos de cré-
dito que são envolvidos em uma relação empresarial.
Inicialmente, falamos sobre as características que tornam a pessoa um
empresário para o Direito, bem como de que forma a pessoa está impedida de
desenvolver tal atividade, visto que em alguns casos não há possibilidade de se
realizar a atividade pretendida. Isso acontece por algum impedimento pessoal
apresentado no que diz respeito à atividade exercida ou ao cargo público ocupado.
A seguir, falamos sobre os modelos societários, demonstrando as principais
características de cada sociedade. Após o estudo do direito societário, vimos
o direito cambiário, que é a área onde se estudam os títulos de crédito. Para a
existência dos títulos de crédito, devemos observar três princípios, são eles: car-
tularidade, literalidade e autonomia das relações cambiais.

DIREITO EMPRESARIAL
81

Analisamos cada um dos títulos previstos no Direito brasileiro. Vimos que


há uma diferença na forma de pagamento de cada um deles. Uns são conside-
rados ordem de pagamento, enquanto outros promessa de pagamento. Dessa
forma, pode-se perceber que, para a emissão dos títulos, também há situações
específicas, como no caso da duplicata, que sempre será emitida acompanhada
de uma nota fiscal.
Na sequência, passamos a estudar o Direito Falimentar. Ao se falar em Direito
Falimentar, analisamos três pontos importantes no Direito Empresarial. São eles:
recuperação extrajudicial, recuperação judicial e falência. A extrajudicial, como
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

o próprio nome diz, é aquela que acontece antes de se ingressar com uma ação
judicial, enquanto a judicial já há o ingresso da ação.

Considerações Finais
82

1. A vigência do Código Civil de 2002 levou à unificação dos diplomas obrigacio-


nais, em que tanto as civis quanto as empresariais, seguem o mesmo regime ju-
rídico. O que difere o Direito Empresarial do Direito Civil é que o primeiro acaba
sendo mais dinâmico em suas relações e normas. Com relação a autonomia,
importância e conceito do Direito Empresarial, assinale a alternativa incor-
reta.
a. ( ) No Direito Empresarial a contratação é feita reiteradamente, ou seja, várias
vezes.
b. ( ) Tal ramo do Direito possui uma principiologia própria, sendo dinâmico e
cambiante, ocupando-se de negócios de massa.
c. ( ) O objeto desse ramo é a regulamentação das relações entre empresários
e dispor sobre as regras das sociedades empresariais.
d. ( ) O empresário é aquele que não exerce profissionalmente uma atividade
econômica, podendo ser organizada ou não, para a produção ou circulação
de bens ou de serviços.
e. ( ) O Direito Empresarial visa estudar somente as formas de sociedade exis-
tentes em nosso ordenamento.

2. O empresário é o gênero, em que o empresário individual e a sociedade empre-


sária são espécies. O individual é aquele que opta por desenvolver sua atividade
isolado, sem a participação de sócios. A essa modalidade de empresário é asse-
gurado o direito à inscrição, à recuperação de empresas, à falência, à utilização
dos seus livros como provas, assim como é assegurado o direito da sociedade
empresária. Sobre o conceito de empresa, assinale a alternativa correta:
a. ( ) O perfil objetivo é um conjunto de pessoas em razão de um objetivo
comum.
b. ( ) O perfil funcional significa patrimônio, ou seja, o conjunto de bens desti-
nados ao exercício da empresa.
c. ( ) O perfil institucional significa que a empresa é a atividade organizada,
com a coordenação dos fatores de produção para alcançar sua finalidade.
d. ( ) O perfil subjetivo significa empresário individual ou sociedade empresá-
ria, que possui personalidade jurídica, com a capacidade de adquirir direito
e contrair obrigações.
e. ( ) Em verdade para ser empresário basta que a pessoa tenha interesse e
vontade em exercer a atividade.
83

3. De acordo com o art. 1.142 do Código Civil, o estabelecimento é o conjunto de


bens organizado pelo empresário para o exercício da empresa. Com relação ao
estabelecimento, assinale a alternativa correta.
a. ( ) Oscar Barreto Filho aperfeiçoou a definição de estabelecimento como um
“conjunto de meios materiais e imateriais, pelos quais o comerciante explora
determinada espécie de comércio”.
b. ( ) Os bens materiais/corpóreos são as coisas que não ocupam lugar no mun-
do exterior, sendo um resultado da elaboração abstrata humana, como os
títulos dos estabelecimentos, as marcas, as patentes, os desenhos industriais
entre outros.
c. ( ) Os bens imateriais/incorpóreos são aqueles que se caracterizam por ocu-
par espaço no mundo exterior, como no caso de mercadorias, instalações,
máquinas.
d. ( ) O estabelecimento é o instrumento para o empresário exercer sua ativida-
de, sendo uma base física da empresa, podendo ser virtual também.
e. ( ) O estabelecimento é o instrumento necessário para que o empresário
concretize sua vontade de exercer a atividade empresarial.

4. O nome empresarial tem como função identificar o empresário. Considera-se a


firma ou denominação adotada para o exercício da empresa. Já a firma ou razão
social é destinada às sociedades em nome coletivo e em comandita simples. De
acordo com o que foi estudado sobre o nome empresarial, assinale a alter-
nativa incorreta:
a. ( ) A denominação bem como a razão social não podem ser usadas tanto na
sociedade limitada como na sociedade em comandita por ações.
b. ( ) No caso da sociedade em que houver sócios de responsabilidade ilimita-
da, operará sob firma, na qual somente os nomes daqueles poderão figurar,
bastando para formá-la aditar ao nome de um deles a expressão e compa-
nhia ou sua abreviatura.
c. ( ) O nome empresarial não pode ser objeto de alienação.
d. ( ) No caso do sócio falecer, for excluído ou ainda se retirar da sociedade, o
nome não poderá ser conservado na firma social.
e. ( ) Saber a denominação da área a ser estudada não tem nenhuma relevân-
cia para o Direito.
84

5. O art. 981 do Código Civil dispõe que pode celebrar contrato de sociedade às
pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para
o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Sobre a
sociedade não personificada, analise as assertivas abaixo:
I. A sociedade em comum é uma formação ou organização. Os sócios só po-
dem provar a existência da sociedade por escrito, mas os terceiros podem
provar a existência da mesma de qualquer forma.
II. Os bens da sociedade em comum não responderão pelos atos de gestão pra-
ticados por qualquer dos sócios.
III. A sociedade em conta de participação não é uma pessoa jurídica, não tem
personalidade jurídica, mas representa um contrato entre os sócios.
IV. Na sociedade em conta de participação o contrato social não produz efeito
somente entre os sócios, e a inscrição de seu instrumento em qualquer regis-
tro não confere personalidade jurídica a ela.
Assinale a alternativa em que as assertivas corretas são:
a. ( ) I e II
b. ( ) II e III
c. ( ) I e IV
d. ( ) I e III

e. ( ) II e IV
MATERIAL COMPLEMENTAR

Para saber mais sobre o direito falimentar, leia o texto Noções a respeito da Falência, de André
Abatayguara Trindade, disponível em: <http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=10580>.

Curso de Direito Comercial, v. 2


Fábio Ulhoa Coelho
Editora: Saraiva
Sinopse: a economia globalizada e a inserção do Brasil nesse
cenário reclamam novas lições sobre o direito empresarial. Como
as mudanças são tantas, apenas o sólido conhecimento das
bases teóricas da disciplina, reexaminadas à luz dos problemas
atuais, capacita o estudante e o profissional da área a enfrentá-
las. Os volumes deste Curso trazem destacadas, ao longo do
texto, sínteses da matéria em desenvolvimento, com conceitos,
anotações relevantes, súmulas de jurisprudência ou dispositivos de lei. Trata-se dos subtextos, que
podem servir tanto de introdução como de reforço e recapitulação dos assuntos abordados.

Material Complementar
86

DIREITO FALIMENTAR BRASILEIRO


Celso Marcelo de Oliveira
INSTITUTO FALIMENTAR BRASILEIRO
No ano de 1603, surgiram as Ordenações Filipinas, que abrangiam a Espanha e Portu-
gal, submetido ao Reino de Castela, e que tiveram maior influência no Brasil, devido o
florescimento da Colônia e de suas atividades mercantis. Nessa fase, sendo o devedor
condenado por sentença que transitasse em julgado, era, automaticamente, executado
e penhorados os seus bens. Caso não achassem os bens, ele seria recolhido a cárcere
privado, até que pagasse, cabendo ao devedor optar por fazer a cessão de seus bens,
sendo assim, seria libertado. Amador Paes de Almeida, escreveu que eram impostas ao
devedor culposo penas que variavam do degredo até a pena de morte, mas para os
credores que não agiram com culpa, era dado tratamento diferente. Em suas palavras: “E
os que caírem em pobreza sem culpa sua, por receberem grandes perdas no mar, ou na
terra em seus tratos e comércios lícitos, não constando de algum dolo, ou malícia, não
incorrerão em pena alguma crime. E neste caso serão os autos remetidos ao Prior Cônsu-
les do Consulado, que os procurarão consertar e compor com seus credores, conforme
a seu regimento”.
A lei de falências recebida de Portugal só passou a vigorar no Brasil após a Proclamação
da República, conforme imposto pela Lei de 30 de outubro de 1823, através de notó-
ria observância do Alvará expedido em 18 de agosto de 1769, o qual aplicava a lei das
nações civilizadas, como também do Código Napoleônico de 1807. No ano de 1850,
período designado imperial, foi promulgado o Código Comercial. Dedicou a sua terceira
parte às “quebras”, inaugurando assim, a primeira fase histórica desse instituto do di-
reito brasileiro e que se estenderia até o advento do regime republicano. José Cândido
Sampaio de Lacerda descreveu sobre essa época, destacando os principais aspectos: Em
1850, promulgado o Código Comercial, dedicou ele a sua terceira parte à falência, intitu-
lando-a “Das Quebras”, tendo o Decreto nº 738, de 1850, estabelecido o processo para as
falências (arts. 102 a 187). Com a publicação do Código Comercial de 1 850 inaugura-se a
primeira fase histórica do instituto do direito brasileiro, fase essa que se estenderia até o
advento do regime republicano. Nesse período, o que caracteriza a falência é a cessação
de pagamentos (art. 797). Alegava-se, contra o sistema do Código Comercial, ser lento,
complicado, dispendioso, prejudicando, há um tempo, credores e devedor; além disso,
dava maior importância à apuração da responsabilidade comercial da falência, pois só
com a ultimação do processo da quebra e qualificação da falência é que iniciava a liqui-
dação da massa. Por outro lado à aceitação da concordata dependendo da maioria de
credores em número e que representassem pelo menos dois terços dos créditos sujeitos
aos efeitos da concordata (art. 847, 3ª al.) constituía obstáculos à obtenção desse favor.
O período republicano teve seu início marcado pela proclamação da República. Com
esse advento, surgiu à preocupação moralizante com o governo que se instalara, a ree-
laboração da legislação sobre a falência. Sendo assim, o Governo Provisório optou por
87

revogar, inteiramente, as disposições sobre falências do Código Comercial pelo Decreto


nº 917 de 24 de outubro de 1890. Essa nova lei trouxe as esperanças de conter a fraude,
sendo considerada um marco para o andamento em matéria de falência, caracterizan-
do-se pelo estado de falência por atos ou fatos previstos na lei e na impontualidade do
pagamento da obrigação mercantil líquida e certa, tendo instituído como meios pre-
ventivos à moratória, a cessão de bens, o acordo extrajudicial e a concordata preventiva.
Mas, mesmo fazendo algumas mudanças importantes para o sistema, esse decreto não
foi isento de críticas, sendo reformado pela Lei nº 859 de 16.8.1902, regulamentada pelo
Decreto nº 4.855 de 2.6.1903. Promulgou-se, então, a Lei 2.024 de 17.12.1908. Essa nova
lei baseou-se no projeto do comercialista J. X. Carvalho de Mendonça, apresentando
suas características, conforme relata Nelson Abrão: Apresentou como características es-
senciais: a impontualidade como caracterizadora da falência; a enumeração das obriga-
ções cujo inadimplemento denota a falência; alinhou os chamados atos falimentares, a
exemplo do Direito Inglês; suprimiu a concordata amigável, admitida só a judicial; con-
ceituou os crimes falimentares e estabeleceu que o procedimento penal correria em au-
tos apartados e, a partir do recebimento da denúncia (àquela época pronúncia) perante
o juiz criminal; determinou a escolha de um até três síndicos, conforme o valor da massa,
entre os maiores credores.
Em 21 de outubro de 1943, novo anteprojeto é apresentado, agora elaborado por uma
comissão composta pelo Ministro da Justiça Alexandre Marcondes Filho, e este se trans-
formou na lei vigente, isto é, no Decreto-Lei nº 7.661 de 21.6.1945. Esse novo decreto
teve como novidade a extinção da figura do liquidatário e, também, o fato de que, a
concessão da concordata preventiva não ficava mais à mercê dos credores. Instaurou-
-se, também, a marcha paralela do processo falimentar com o processo criminal. Nas
hipóteses de crime falimentar, trazia, no entanto, um tratamento severo ou tolerante ao
falido, na esfera civil. O Decreto-Lei nº 7661 sofreu, posteriormente, muitas alterações,
principalmente no que concerne às concordatas e à classificação dos créditos e recursos
cabíveis.
Com o tempo, verificou-se que a moratória e a concordata preventiva da falência, na for-
ma de acordo entre devedor e seus credores, não atendiam às necessidades do devedor,
cumprindo, então, mudar, de novo, o sistema, para tornar, independente da vontade
dos credores, obrigatória a dilação dos prazos de pagamento das dívidas do devedor e
até mesmo a remissão parcial, o que veio a ocorrer com a concordata preventiva da fa-
lência imposta pelo juiz, pelo simples fato de o devedor preencher determinados requi-
sitos expressamente previstos em lei. Neste momento, passa, então, a ser a concordata
preventiva da falência deferida em benefício do devedor, com efeitos reflexos sobre os
direitos do credor.

Fonte: OLIVEIRA (on-line, 2005)².


REFERÊNCIAS

ALMEIDA, A. P. de. Curso de Falência e Concordata. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
ASQUINI, A. Perfis da empresa. Profili dell’impresa. Rivista del Diritto Commerciale,
1943, v. 41, I. Tradução de Fábio Konder Comparato. In: Revista de Direito Mercan-
til, Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo, RT, n. 104, out/dez., p.109-126,
1996.
BARRETO FILHO, O. Teoria do Estabelecimento Comercial. São Paulo: Max
Limonad, 1969.
BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2002.
______. LEI Nº 11.101, DE 9 DE FEVEREIRO DE 2005. Regula a recuperação judicial,
a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Disponível
em: <hhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm>.
Acesso em: 10 mar. 2017.
______. LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclu-
são da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm>.
Acesso em: 10 mar. 2017.
CAMPINHO, S. O Direito de Empresa à Luz do Novo Código Civil. 10. ed. São Pau-
lo: Renovar, 2009.
COELHO, F. U. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa. 12. ed. São Paulo:
Saraiva, 2008.
MARTINS, F. Títulos de Crédito. 16. ed. Rio de Janeiro, Forense, 2013.
REQUIÃO, R. Curso de Direito Comercial. v. 1. São Paulo: Saraiva, 2008.
TEIXEIRA, T. Direito Empresarial Sistematizado. São Paulo: Saraiva, 2012.
VERÇOSA, H. M. D. Curso de Direito Comercial. v. 1. São Paulo: Malheiros, 2004.
VIVANTE, C. Elementi di diritto commerciale. Milano: Ulrico Hoepli. 1936.

REFERÊNCIAS ON LINE

¹ Em: <http://www.migalhas.com.br/FamiliaeSucessoes/104,MI224217,21048-Al
teracoes+do+Codigo+Civil+pela+lei+131462015+Estatuto+da+Pessoa+com>.
Acesso em: 10 jan. 2017.
² Em: <http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI7991,91041-
Direito+Falimentar+Brasileiro>. Acesso em: 10 jan. 2017.
89
GABARITO

1. D
2. D
3. D
4. A
5. D
Professora Me. Mariane Helena Lopes

III
UNIDADE
DIREITO TRIBUTÁRIO

Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender o Direito Tributário.
■ Analisar de que forma funciona o Direito Tributário.
■ Demonstrar a diferença entre tributo e suas modalidades.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Conceito e denominação
■ Princípios tributários
■ Tributo
■ Limitações constitucionais ao poder de tributar
■ Fato gerador
■ Sujeito ativo e sujeito passivo
■ Obrigação tributária
■ Crédito tributário
■ Lançamento
■ Exclusão do crédito
■ Dívida ativa
93

INTRODUÇÃO

É importante conhecermos o Direito Tributário para compreendermos um pouco


mais sobre o funcionamento do nosso Estado, bem como as arrecadações reali-
zadas por ele. Como todo ramo no Direito, precisamos conhecer os princípios
do Direito Tributário, visto que são o início de tudo.
Nesta unidade, estudaremos a importância de tal ramo, analisando o que
vem a ser o tributo. Diferentemente do que todos acham, o tributo é um gênero,
que pode ser dividido em cinco diferentes espécies: imposto, taxa, contribuição
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de melhoria, contribuição social e empréstimo compulsório, que estudaremos


mais detalhadamente no decorrer desta unidade, conhecendo a diferença entre
cada um deles.
Contudo, não podemos esquecer que a fonte mais importante do Direito
brasileiro é a Constituição Federal. Por essa razão, o Direito Tributário também
deve obedecer o que a Constituição prevê e, se alguma regra for criada contrá-
ria a mesma, deverá ser considerada inconstitucional. Além disso, a própria
Constituição traz as limitações ao poder de tributar, ou seja, ao mesmo tempo
que traz direitos não só para as pessoas mas para os órgãos públicos, também
traz limitações de como eles devem agir.
Na sequência, passaremos a analisar o fato gerador, em que iremos compre-
ender como um tributo pode ser criado e o que motivaria a criação do mesmo
por parte do órgão responsável. Para tanto, em toda relação tributária sempre
terá dois sujeitos: ativo e passivo, que formarão essa relação jurídica.
Uma vez que ficou definido o fato gerador, bem como os sujeitos que farão
parte dessa relação, cria-se a obrigação tributária. É por meio dela que que se
obriga o contribuinte a pagar o valor devido.
Contudo, vamos notar que nem sempre o contribuinte cumpre com o paga-
mento do valor devido, o que pode acarretar em consequências.
Bons estudos!

Introdução
94 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONCEITO E DENOMINAÇÃO

O Direito Tributário, nas palavras de Sérgio Pinto Martins, pode ser definido
como “o conjunto de princípios, de regras e de instituições que regem o poder
fiscal do Estado e suas relações” (2012, p. 11).
Para tal ramo do Direito, podemos citar inúmeras denominações, tais como:
Direito Financeiro, Direito Fiscal, Direito Tributário e Direito do Imposto. Em verdade,
a melhor denominação é Direito Tributário, pois ele diz respeito ao gênero tributo.

PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS

Com relação ao Direito Tributário, os princípios aos quais devemos dar impor-
tância e estudar são: da legalidade, da anterioridade da lei, da igualdade tributária,
da vedação do confisco e, por fim, mas não menos importante, da uniformidade.
O princípio da legalidade nos mostra que só existirá tributo se houver uma
prévia determinação legal. Pelo art. 150, I da Constituição Federal, é vedado ao ente

DIREITO TRIBUTÁRIO
95

público exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. Obrigatoriamente,


a lei tem de definir o fato gerador, a base de cálculo e o contribuinte do tributo
(art. 97 do CTN).
O princípio da anterioridade da lei dispõe que nenhum tributo pode ser
exigido no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que o
instituiu ou aumentou, de acordo com o art. 150, III, b, da Constituição. A exce-
ção ocorre em relação aos seguintes impostos: IPI, IOF, imposto de importação
e imposto de exportação.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O princípio da anterioridade é uma segurança para o contribuinte, pois com


ele existe a possibilidade de se programar, preparando-se para o próximo
ano fiscal. Por essa razão, qualquer alteração ou novos tributos que são cria-
dos pelo Poder Legislativo e Executivo devem obedecer a esse princípio.
Contudo, sabemos que o Direito possui uma série de exceções. Para tanto,
faz-se necessário conhecer que o princípio em questão também possui ex-
ceções, considerando situações extraordinárias em que não deve ser aplica-
da a anterioridade.
Fonte: a autora.

Já o princípio da igualdade tributária dispõe que todos são iguais perante a lei
para efeito de tributação, não podendo haver exceção entre pessoas que estejam
na mesma situação. É uma aplicação específica prevista no art. 5º da Constituição
Federal. Com relação a tal princípio, reza o art. 150, II da Constituição que é
vedado ao sujeito ativo instituir tratamento desigual entre contribuintes que este-
jam em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação
profissional ou função por eles exercida, sendo independentemente da denomi-
nação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos.
O quarto princípio, que é o da vedação do confisco, indica que os tributos não
podem ser utilizados com efeitos de confisco. Ou seja, a tributação não pode exigir
exação em percentual superior a 50% do patrimônio da pessoa (MARTINS, 2012).

Princípios Tributários
96 UNIDADE III

Por fim, o princípio da uniformidade dispõe que é vedado à União instituir


tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique dis-
tinção ou preferência em relação ao Estado, Distrito Federal ou aos Municípios,
em detrimento de outro, sendo admitida a concessão de incentivos fiscais des-
tinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as
diferentes regiões do país (art. 151, I, da Constituição). Ou seja, em todo o ter-
ritório nacional deve ser aplicado o mesmo tributo, não podendo fazer qualquer
tipo de distinção entre as regiões, bem como entre os sujeitos.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
TRIBUTO

Pelo art. 3º do Código Tributário Nacional (CTN), o tributo é toda prestação


pecuniária, compulsória, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em
lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Ele é
uma prestação pecuniária que pode ser exigida em moeda ou valor que nela
possa se exprimir. Ao mesmo tempo é compulsória, pois não depende da von-
tade da pessoa do contribuinte, ou seja,
não pagamos tributo porque queremos
ou gostamos, mas sim porque o Estado
exige o pagamento.
O tributo deve ter previsão em lei
para que possa ser cobrado de acordo
com o princípio da legalidade tributária.
Ainda, ele não constitui uma sanção de
ato ilícito. Ou seja, não pode ser conside-
rado uma punição pelo descumprimento
da lei. Os tributos podem ser classifica-
dos em fiscais e extrafiscais. No fiscal, o

DIREITO TRIBUTÁRIO
97

Estado arrecada valores para o bem geral da coletividade, enquanto no extrafis-


cal tem por objetivo restringir certas condutas das pessoas, como de atividades
nocivas.
Pelo art. 4º do CTN, a natureza do tributo é determinada pelo fato gerador
da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la: a) a denominação
e demais características formais adotadas pela lei; b) a destinação legal do pro-
duto de sua arrecadação. As espécies de tributo são: imposto, taxa, contribuição
de melhoria, contribuições sociais e empréstimo compulsório. Estudaremos
cada uma delas a seguir.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Aqui devemos lembrar que analisaremos o que compreende cada uma das
espécies tributárias. Contudo, não teremos como discutir os tributos de
cada um dos Estados, muito menos dos Municípios. Por essa razão, deve
ser observado que cada um dos entes federados pode possuir uma alíquota
diferente, bem como um tributo diferente.
Fonte: a autora.

IMPOSTO

De acordo com o art. 16 do CTN, o imposto é o tributo que tem por fato gera-
dor uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa
ao contribuinte. Ele é genérico, pois atende aos interesses gerais da coletividade.
O imposto não tem uma prestação vinculada a sua cobrança, sendo assim um
tributo geral.
Na medida do possível, os impostos têm caráter pessoal e serão computa-
dos de acordo com a capacidade econômica do contribuinte.

Tributo
98 UNIDADE III

TAXA

Pelo art. 77 do CTN, a taxa tem por fato gerador o exercício regular do poder
de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e
divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição. A taxa pode ser
classificada em duas formas: de polícia ou de serviços. A primeira é aquela que
decorre do poder de polícia da Administração Pública. Esse poder é considerado
como uma atividade da administração que limita ou disciplina direito, interesse ou
liberdade, regulando a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
público relacionado à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina
da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes
de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao
respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos, conforme o art.
78 do CTN. Como exemplo, temos as taxas de vistoria, de licença e de funcio-
namento, entre outros.
Já a taxa de serviço é dependente de serviço prestado ou posto à disposição
daqueles que contribuem. Um exemplo seria a taxa de limpeza pública.

CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA

A contribuição de melhoria é um tributo que


visa custear uma obra pública, decorrente
de valorização imobiliária. Tal contribuição
tem como limite total a despesa realizada e
como limite individual o acréscimo de valor
que da obra resultará para cada imóvel que
for valorizado. Caso não exista uma valori-
zação imobiliária, tal contribuição não pode
ser cobrada.
O Decreto-lei nº 195, de 24 de feve-
reiro de 1967, em seu art. 2°, dispõe sobre a

DIREITO TRIBUTÁRIO
99

cobrança da contribuição de melhoria e as obras que implicam valorização imo-


biliária, que por sua vez são:
a. abertura, alargamento, pavimentação, iluminação, arborização, es-
gotos pluviais e outros melhoramentos de praças e vias públicas;

b. construção e ampliação de parques, campos de desportos, pontes,


túneis e viadutos;

c. construção ou ampliação de sistemas de trânsito rápido, inclusive


todas as obras e edificações necessárias ao funcionamento do sis-
tema;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

d. serviços de obras de abastecimento de água potável, esgotos, ins-


talações de redes elétricas, telefônicas, transportes e comunicações
em geral ou de suprimento de gás, funiculares, ascensores e insta-
lações de comodidade pública;

e. proteção contra secas, inundações, erosão, ressacas, e de sanea-


mento e drenagem em geral, diques, cais, desobstrução de barras,
portos e canais, retificação de ferro e construção, pavimentação e
melhoramento de estradas de rodagem;

f. construção de aeródromos e aeroportos e seus acessos;

g. aterros e realizações de embelezamento em geral, inclusive desa-


propriações em desenvolvimento de plano de aspecto paisagístico
(BRASIL, 1967, ART. 2°).

Assim, percebe-se que a contribuição de melhoria sempre agregará mais valor


ao patrimônio pela realização de alguma atividade por parte da Administração
Pública.

Tributo
100 UNIDADE III

CONTRIBUIÇÃO SOCIAL

A contribuição social, por sua vez, é um tributo destinado a custear atividades


estatais específicas, que não são inerentes ao Estado. De acordo com o art. 217
do CTN, ela pode acontecer das seguintes formas:
I. da “contribuição sindical”, denominação que passa a ter o imposto
sindical de que tratam os arts 578 e seguintes, da Consolidação das
Leis do Trabalho (...)

II. das denominadas “quotas de previdência” a que aludem os arts 71

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e 74 da Lei 3.807, de 26 de agosto de 1960 com as alterações deter-
minadas pelo art. 34 da Lei 4.863, de 29 de novembro de 1965, que
integram a contribuição da União para a previdência social (...)

III. da contribuição destinada a constituir o “Fundo de Assistência” e


“Previdência do Trabalhador Rural” (...)

IV. da contribuição destinada ao Fundo de Garantia do Tempo de Ser-


viço (...)

V. das contribuições enumeradas no § 2º do art. 34 da Lei 4.863, de 29


de novembro de 1965, com as alterações decorrentes do disposto
nos arts 22 e 23 da Lei 5.107, de 13 de setembro de 1966 (BRASIL,
2012, art. 217)

Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão contribuição, sendo


cobrada de seus servidores para benefícios e para o custeio do regime previden-
ciário tratado pelo art. 40 da Constituição Federal, cuja alíquota não será inferior
à da contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos da União, que é de
11% sobre o total da remuneração.
De acordo com o art. 149-A da Constituição Federal, os municípios e o
Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das respectivas leis,
para o custeio do serviço de iluminação pública. Ela somente poderá ser cobrada
após a edição da lei municipal ou distrital sobre o tema.

DIREITO TRIBUTÁRIO
101

Não poderá haver a cobrança da contribuição em relação a fatos geradores


ocorridos antes do início da vigência da lei ordinária que os houver instituído.
O tributo não poderá ser cobrado no mesmo exercício financeiro em que haja
sido publicada a lei que o criou. É facultada a cobrança da contribuição na fatura
de consumo de energia elétrica.

EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O empréstimo compulsório pode ser criado pelo Estado em casos extremos,


onde há necessidade de a despesa ser fundamentada. O Estado não tem possi-
bilidade de arcar com as custas das dívidas feitas por ele, necessitando de auxílio
da própria população. É uma tomada compulsória de determinada quantia de
dinheiro de quem é contribuinte a título de empréstimo.
As hipóteses de criação de empréstimo compulsório estão previstas no art.
15 do CTN, que são:
I. guerra externa ou sua iminência;
para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamida-
de pública, de guerra externa ou sua iminência;
b) no caso de investimento público de caráter urgente e de relevan-
te interesse nacional, não podendo ser cobrado no mesmo exercí-
cio financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou (BRASIL, 2012, art. 15).

O empréstimo compulsório só pode ser estabelecido por lei complementar e


não por lei ordinária.

Tributo
102 UNIDADE III

LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE


TRIBUTAR

As limitações constitucionais relacionadas ao poder de tributar são garantias


do contribuinte contra o poder fiscal do Estado. De acordo com a Constituição
Federal (1988), em seu art. 146, cabe à lei complementar:
I. dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre
a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; II. regular
as limitações constitucionais ao poder de tributar;

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
III. estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,
especialmente sobre:
a) definição de tributos e suas espécies, bem como em relação aos
impostos discriminados nesta Constituição, dos respectivos fatos
geradores, bases de cálculo e contribuintes;
b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;
c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado
pelas sociedades cooperativas;
d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as micro-
empresas e para as empresas de pequeno porte, inclusive regimes
especiais ou simplificados de ICMS, da contribuição da empresa
destinada ao custeio da seguridade social e do PIS (BRASIL, 1988,
art. 146)

Ainda, conforme o previsto no art. 150 da Carta Magna (1988), é proibido à


União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
[...]
I. exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
II. instituir tratamento desigual entre contribuintes que estejam
em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de
ocupação ou função por eles exercida, independentemente da deno-
minação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;

DIREITO TRIBUTÁRIO
103

III. cobrar tributos:


a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigên-
cia da lei que os houver instituído ou aumentado;
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei
que os instituiu ou aumentou (princípio da anterioridade da lei
tributária);
c) antes de decorridos 90 dias da data em que haja sido publicada a
lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto no item 2;
d) utilizar tributo com efeito de confisco;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

d) estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio


de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança
de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público
(BRASIL, 1988, art. 150)

Ainda no artigo 150, inciso V, a União, os Estados, o Distrito Federal e os


Municípios não podem instituir impostos sobre: I. patrimônio, renda ou ser-
viços, uns dos outros; II. templos de qualquer culto; III. patrimônio, renda ou
serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindi-
cais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem
fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; IV. livros, jornais, periódicos e o
papel destinado a sua impressão.
Caso seja necessário algum tipo de subsídio ou isenção, redução de base de
cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativo a impos-
tos, taxas ou contribuições, estes só poderão ser concedidos mediante uma lei
específica, seja ela federal, estadual ou municipal, que regule de forma exclusiva
as matérias citadas anteriormente ou que corresponda ao tributo ou contribui-
ção (MARTINS, 2013).
De acordo com o art. 151 do CTN (2012), é vedado à União:
a) Instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacio-
nal ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao
Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a
concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do
desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do país.

Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar


104 UNIDADE III

b) Tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados,


do Distrito Federal e dos Municípios, bem como a remuneração e
os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores
aos que fixar para suas obrigações e para seus agentes.
c) Instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios. As isenções de tributos esta-
duais, distritais ou municipais só poderão ser feitas por meio de
lei editada pelos próprios Estados, Distrito Federal ou Municípios
(BRASIL, 2012, art. 151).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
FATO GERADOR

O fato gerador pode ser definido como “o conjunto dos pressupostos abstratos
descritos na norma de direito material, de cuja concreta realização decorrem os
efeitos jurídicos previstos” (NOGUEIRA, 1987, p. 154). De acordo com o art.
114 da Constituição Federal, o fato gerador da obrigação principal é a situação
definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência. No que diz respeito
ao fato gerador da obrigação acessória, pode-se dizer que ocorre em qualquer
situação que impõe a prática ou a abstenção de ato que não é configurado como
uma obrigação principal.

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO

O sujeito ativo é a pessoa jurídica de Direito Público titular da competência para


exigir seu cumprimento, de acordo com o art. 119 do CTN. Nesse caso, se encon-
tram a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

DIREITO TRIBUTÁRIO
105

Já o sujeito passivo é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou pena-


lidade pecuniária (art. 121 do CTN). Ele pode ser dividido em: contribuinte e
responsável.
O contribuinte é a pessoa física ou jurídica, tendo relação pessoal e direta
com a situação que constituiu o respectivo fato gerador. Ou seja, somos todos
nós que estamos ligados diretamente com o objeto do tributo. Já o responsável
é a pessoa cuja obrigação, sem revestir a condição de contribuinte, decorre de
disposição expressa de lei. Um exemplo é o caso do empregador, responsável
pela retenção e recolhimento do imposto de renda na fonte sobre os pagamen-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tos feitos a seus empregados.

OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

Ela pode ser principal ou acessória. A obrigação principal, de acordo com o art.
113, §1º do CTN, surge com a ocorrência do fato gerador, tendo por objeto o
pagamento de tributo ou penalidade pecuniária, extinguindo-se juntamente com
o crédito dela decorrente.
Já a obrigação acessória é decorrente da legislação tributária. Tendo por
objeto as prestações positivas ou negativas nela previstas, no interesse da arre-
cadação ou da fiscalização dos tributos. Pelo simples fato da inobservância da
obrigação acessória, pode-se convertê-la em obrigação principal relativamente
à penalidade pecuniária (MARTINS, 2013).

Obrigação Tributária
106 UNIDADE III

CRÉDITO TRIBUTÁRIO

O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza


desta (art. 139 do CTN). Ele é constituído pelo lançamento fiscal. O crédito
regularmente constituído somente se modifica ou extingue, ou tem sua exigibi-
lidade suspensa ou excluída, nos casos que estão previstos no Código Tributário
Nacional, não podendo ser dispensadas fora das possibilidades previstas, sob
pena de responsabilidade funcional de acordo com a lei, sua efetivação ou as
respectivas garantias (art. 141 do CTN).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Percebe-se que existem situações previstas pelo CTN em que o crédito tri-
butário poderá ter sua exigibilidade suspensa. Tais situações estão previstas no
art. 151 do CTN (2012), que são:
[...] I. pela moratória; II. pelo depósito de seu montante integral; III.
pelas reclamações e recursos, nos termos das leis reguladoras do pro-
cesso tributário administrativo; IV. pela concessão de medida liminar
em mandado de segurança (BRASIL, 2012, art.151).

DIREITO TRIBUTÁRIO
107

LANÇAMENTO

O lançamento é o procedimento administrativo pelo qual o agente fiscal verifica


a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinando a maté-
ria tributável, calculando o montante do tributo devido, identificando o sujeito
passivo e, se for o caso, propondo a aplicação da penalidade cabível. Com o lan-
çamento haverá a constituição do chamado crédito tributário (MARTINS, 2013).
O lançamento só pode ser alterado em virtude de: “[...] I. impugnação do
sujeito passivo; II. recurso de ofício; III. iniciativa de ofício da autoridade admi-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

nistrativa”, conforme previsto no art. 145 do CTN. Ele pode ser feito de três
formas diferentes: por declaração, por ofício e por homologação. O crédito tri-
butário pode ser extinto pelos seguintes motivos:
a) o pagamento; b) a compensação; c) a transação; d) a remissão; e)
a prescrição e a decadência; f) a conversão do depósito em renda; g)
o pagamento antecipado e a homologação do lançamento; h) a con-
signação em pagamento; i) a decisão administrativa irreformável; j) a
decisão judicial passada em julgado; k) a dação em pagamento em bens
imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei (BRASIL, 2012, art.
156).

EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

As hipóteses de exclusão do crédito tributário são: isenção e anistia. A isenção é


a dispensa pela lei de tributo devido, ou seja, ocorre o fato gerador, porém a lei
dispensa o pagamento do tributo.
De acordo com o art. 176 do CTN, tal possibilidade é sempre decorrente de
lei que especifique as condições e requisitos exigidos para sua concessão, os tri-
butos que podem ser aplicados, bem como, se for o caso, o prazo de duração.
Já a anistia é a exclusão do crédito tributário, no que diz respeito a penalidades
pecuniárias tais como a multa. Ela atinge somente as infrações cometidas antes

Lançamento
108 UNIDADE III

da vigência da lei que a concede. A anistia pode ser de caráter geral, abrangendo
penalidades, sem qualquer condição (MARTINS, 2013).
A anistia diferencia-se da remissão, pois esta é o perdão da dívida, pelo fato
do crédito tributário já estar constituído. A remissão abrange tanto o tributo como
a penalidade, enquanto a anistia diz respeito somente às penalidades.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DÍVIDA ATIVA

A dívida ativa é proveniente de crédito de natureza tributária, regularmente ins-


crita na repartição administrativa competente, após esgotado o prazo fixado para
pagamento, pela lei ou por decisão final proferida em processo regular (art. 201
do CTN). Pelo art. 202 do CTN, para que exista a dívida ativa deve ser feito um
termo da mesma, que deve conter, obrigatoriamente:
[...]
I. nome do devedor e, se for o caso, o dos corresponsáveis, bem como,
sempre que possível, o domicílio ou a residência de um e de outros;
II. a quantia devida e a maneira de calcular os juros de mora acrescidos;
III. a origem e a natureza do crédito, mencionada especificamente a dis-
posição da lei em que seja fundado; IV. a data em que foi inscrita; e) se
for o caso, o número do processo administrativo de que se originar o cré-
dito (BRASIL, 2012, art.202).

Além desses requisitos, a certidão deverá conter a indicação do livro e da folha


de inscrição (MARTINS, 2013). Caso um dos requisitos acima mencionados
seja omitido ou tenha um erro relativo a um deles, será considerado como
causa de nulidade da inscrição e do processo de cobrança recorrente de tal
dívida. Contudo, a nulidade pode ser sanada até a decisão de primeira instância,

DIREITO TRIBUTÁRIO
109

mediante substituição da certidão nula, sendo devolvido ao sujeito passivo, acu-


sado ou interessado, o prazo para defesa, que versará somente sobre a parte que
foi modificada (MARTINS, 2013).
Uma vez inscrita a dívida, a mesma goza de presunção de certeza e liquidez,
tendo o efeito de prova pré-constituída.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, conhecemos um pouco mais sobre o Direito Tributário. O Brasil


é um dos países com maior carga tributária no mundo. Tal fato ocorre justa-
mente pela facilidade com que impostos podem ser criados, visto que, para que
possam existir, basta o desenvolvimento de uma lei que o institua, não necessi-
tando de uma finalidade específica para a aplicação do valor arrecadado. Dessa
forma, muitas vezes as pessoas desconhecem até mesmo a diferença entre todas
as modalidades de tributo.
Ao estudarmos o Direito Tributário, observamos que este possui espécies
de tributo, que são criados em momentos diferentes e em situações diferentes.
Os tributos podem ser divididos em: impostos, taxas, contribuições de melho-
ria, contribuições sociais e empréstimo compulsório. Analisamos também de
que forma começa a dívida ativa, ou seja, a partir de qual momento o contri-
buinte se torna devedor do Estado, podendo sofrer uma ação judicial para a
cobrança do mesmo. É a partir desse momento que o contribuinte pode vir a
sofrer alguns transtornos, pois caso não tenha como pagar a dívida, o juiz pode
determinar até mesmo que a casa do contribuinte seja penhorada, para paga-
mento do saldo devedor.
Vimos ainda as formas pelas quais uma dívida tributária pode deixar de existir.
Para tanto, deve partir da vontade do sujeito ativo que tal dívida seja reconside-
rada, não podendo acontecer por livre e espontânea vontade do contribuinte,
pois como se sabe todo tributo é cobrado compulsoriamente.

Considerações Finais
110 UNIDADE III

Para um futuro gestor, o Direito Tributário é de suma importância, devendo


o mesmo conhecer como ele é previsto em lei e de que forma ele é praticado
em nossa sociedade. Além disso, caberá ao futuro gestor também ter conheci-
mento de que os tributos para serem criados também dependerão de qual cidade
e Estado será criado, analisando as normas estaduais e municipais.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

DIREITO TRIBUTÁRIO
111

1. O Direito Tributário pode ser definido como “o conjunto de princípios, de regras


e de instituições que regem o poder fiscal do Estado e suas relações” (MARTINS,
2012, p. 11). Pode-se citar inúmeras denominações para o ramo do Direito, como
Financeiro, Fiscal, Tributário e de Imposto. Sobre os princípios, assinale a alter-
nativa correta:
a. O princípio da legalidade dispõe que nenhum tributo pode ser exigido no
mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que o instituiu
ou aumentou.
b. O princípio da anterioridade da lei mostra que só existirá tributo se houver
uma prévia determinação legal.
c. O princípio da uniformidade indica que os tributos não podem ser utilizados
com efeitos de confisco.
d. O princípio da igualdade tributária dispõe que todos são iguais perante a lei
para efeito de tributação, não podendo haver exceção entre pessoas que este-
jam na mesma situação.
e. Nenhuma das alternativas anteriores.

2. Pelo art. 3º do Código Tributário Nacional (CTN), o tributo é toda prestação pe-
cuniária, compulsória, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e
cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Sobre o tri-
buto, assinale a alternativa correta:
a. Ele é uma prestação pecuniária que não pode ser exigida em moeda ou em
valor que nela possa se exprimir.
b. Ele não é compulsório, pois não depende da vontade da pessoa do contribuin-
te.
c. Ele deve ter previsão em lei para que possa ser cobrado de acordo com o prin-
cípio da legalidade tributária.
d. A natureza do tributo não é determinada pelo fato gerador da respectiva obri-
gação, sendo relevante para qualificá-la: a) a denominação e demais carac-
terísticas formais adotadas pela lei; b) a destinação legal do produto de sua
arrecadação.
e. Nenhuma das alternativas anteriores.
112

3. Os tributos podem ser classificados em fiscais e extrafiscais. No primeiro o Esta-


do arrecada valores para o bem geral da coletividade, enquanto no segundo tem
por objetivo restringir certas condutas das pessoas, como de atividades nocivas.
As espécies de tributo são: imposto, taxa, contribuição de melhoria, contribui-
ções sociais e empréstimo compulsório. Com relação às espécies de tributo,
analise as assertivas abaixo:
I. Imposto é o tributo que tem por fato gerador uma situação independente de
qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte.
II. A contribuição de melhoria é um tributo que visa custear uma obra pública,
decorrente de valorização imobiliária.
III. A contribuição social é um tributo destinado a custear atividades estatais es-
pecíficas, que não são inerentes ao Estado.
IV. O empréstimo compulsório pode ser criado pelo Estado em casos extremos,
onde há necessidade de a despesa ser fundamentada.
Assinale a alternativa correta:
a. Se as assertivas I e II estiverem corretas.
b. Se as assertivas III e IV estiverem corretas.
c. Se as assertivas I e IV estiverem corretas.
d. Se todas as assertivas estiverem corretas.
e. Nenhuma das alternativas anteriores.

4. As limitações constitucionais relacionadas ao poder de tributar são garantias do


poder contribuinte contra o poder fiscal do Estado. Assinale a alternativa cor-
reta, de acordo com as limitações constitucionais, cabe à lei complementar:
a. Dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
b. Regular as limitações constitucionais ao poder de tributação somente da
União.
c. A Constituição não estabelecerá as normas gerais no que diz respeito a legis-
lação tributária.
d. A Constituição não dá o adequado tratamento tributário ao ato cooperativo
praticado pelas sociedades cooperativas.
e. Nenhuma das alternativas anteriores.
113

5. O Direito Tributário é um ramo importante, proporcionando assim um funciona-


mento do nosso Estado, bem como as arrecadações realizadas por ele. Sobre o
Direito Tributário, assinale a alternativa correta:
a. O fato gerador pode ser definido como um conjunto de pressupostos abstra-
tos descritos na norma de direito processual, decorrentes de efeitos jurídicos
não previstos.
b. O fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como neces-
sária e suficiente a sua ocorrência.
c. O fato gerador da obrigação acessória é uma situação específica, prevista em
lei.
d. O fato gerador da obrigação acessória não impõe a prática ou a abstenção de
ato que não configura uma obrigação principal.
e. Nenhuma das alternativas anteriores.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Direito Tributário Brasileiro


Aliomar Baleeiro
Editora: Forense
Ano: 2012
Sinopse: este livro tem a honra de apresentar ao mundo
jurídico a nova edição deste verdadeiro clássico da literatura
nacional que é o Direito Tributário Brasileiro do renomado
mestre Aliomar Baleeiro. Revelando toda a capacidade e
inteligência do autor, a obra propaga-se nas gerações de
estudiosos da doutrina jurídica. A atualizadora, Dra. Misabel
Abreu Machado Derzi, professora titular de Direito Tributário
e Financeiro da Universidade Federal de Minas Gerais e
das Faculdades Milton Campos, preservou os textos do autor. Dessa forma, tem-se agora dois textos,
nitidamente diferenciados, mas complementares. Ganha o leitor, que tem os clássicos comentários
ao Código Tributário Nacional, em versão fiel à genialidade de seu Autor, acrescidos de notas, tópicos
de adaptação à Constituição de 1988, à legislação infraconstitucional em vigência e ao pensamento
doutrinário e jurisprudencial dominante. O trabalho certamente contribuirá para a formação dos
estudantes e auxiliará, como instrumento de grande préstimo, os professores e profissionais do
Direito.
115

O PROTESTO DA DÍVIDA ATIVA COMO ALTERNATIVA À EXECUÇÃO FISCAL: DE-


TERMINAÇÕES DA PORTARIA PGFN Nº 321/2006
Arthur Salibe
Tathiane dos Santos Piscitelli
II. - A COBRANÇA DA DÍVIDA TRIBUTÁRIA E O PROTESTO EXTRAJUDICIAL
Segundo dispõe o artigo 201 do Código Tributário Nacional (CTN), “constitui dívida ativa
tributária a proveniente de crédito dessa natureza, regularmente inscrita na repartição
administrativa competente, depois de esgotado o prazo fixado, para pagamento, pela
lei ou por decisão proferida em processo regular”. Ou seja: a inscrição na Dívida Ativa é
procedimento administrativo cuja condição é a inadimplência do sujeito passivo. Trans-
corrido o prazo para o pagamento da dívida tributária, deverá a autoridade administra-
tiva proceder à inscrição do débito na Dívida Ativa. Não se trata, aqui, de mera faculdade
do agente, mas poder-dever, apenas excetuado por expressa disposição legal.
Uma vez inscrito o débito na Dívida Ativa, este passa a gozar de presunção de liquidez
e certeza, além de ter o efeito de prova pré-constituída (artigo 204 do CTN). Será com
base nesse procedimento de inscrição que será emitida a Certidão da Dívida Ativa, título
executivo extrajudicial que figurará como suporte do processo de Execução Fiscal.
A Execução Fiscal está disciplinada na Lei nº 6.830/1980 e representa a única forma de
cobrança judicial do crédito tributário, fato que foi objeto de críticas doutrinárias, tendo
em vista a previsão geral do processo de execução forçada comum no CPC. A despeito
dessas ressalvas, não se pode negar que a Lei nº 6.830/1980 introduziu procedimento
especial para a execução de débitos em que a Fazenda Pública figure como credora.
Portanto, a utilização desse procedimento, precedida da inscrição na Dívida Ativa e pos-
terior emissão da certidão respectiva, nos termos da legislação atual, é único meio exis-
tente para a exigência do crédito tributário.
De outro lado, o protesto extrajudicial é instituto disciplinado na Lei nº 9.492/1997 que,
nos termos do já mencionado artigo 1º, “é ato formal solene pelo qual se prova a inadim-
plência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos
de dívida”. Objetiva, assim, caracterizar a insolvência do devedor, conferindo ao débito
presunção de liquidez e certeza: “é o ato solene e público que se destina a comprovar a
recusa do devedor quanto ao aceite ou pagamento de letra de câmbio”.
Portanto, o protesto constitui o devedor em mora e, além disso, confere publicidade
a este estado moratório. Como efeito prático, o devedor que possua título protestado
encontrará dificuldades em realizar atos negociais, como, por exemplo, obter crédito
em instituições financeiras, avalistas ou endossantes para operações no âmbito de suas
atividades.
116

Diante dessa breve diferenciação, cumpre indagar: o instituto protesto poderia ser utili-
zado em face de créditos tributários devidamente inscritos em Dívida Ativa?
[...]

Fonte: PISCITELLI (2006, on-line)1.


117
REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário


Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e
Municípios. Código Tributário. Diário Oficial da União, Brasília, 27 out. 1966.
______. DECRETO-LEI Nº 195, DE 24 DE FEVEREIRO DE 1967. Dispõe sobre a co-
brança da Contribuição de Melhoria. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/del0195.htm>. Acesso em: 13 jan. 2017.
______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Bra-
sília-DF. Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
______. Código tributário nacional. Brasília : Senado Federal, Subsecretaria de Edi-
ções Técnicas, 2012.
MARTINS, S. P. Manual de direito tributário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
_______. Instituições de Direito Público e Privado. São Paulo: Atlas, 2013.
NOGUEIRA, R. B. Curso de direito tributário. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1987.

REFERÊNCIAS ON LINE

1
Em: <http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI24233,31047-O+protesto+da+-
divida+ativa+como+alternativa+a+execucao+fiscal>. Acesso em: 13 jan. 2017.
GABARITO

1. D
2. C
3. B
4. A
5. D
Professora Me. Mariane Helena Lopes

IV
UNIDADE
DIREITO DO TRABALHO

Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender a evolução e a hierarquia das normas no Direito do
Trabalho.
■ Compreender por que o Direito do Trabalho recebe essa
denominação.
■ Analisar os princípios mais importantes para o Direito do Trabalho.
■ Conhecer as fontes do Direito do Trabalho e sua importância.
■ Diferenciar empregado de empregador.
■ Analisar as espécies de empregado.
■ Compreender os poderes de direção do empregador.
■ Compreender o que é a remuneração.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ A evolução no Brasil
■ Autonomia do Direito do Trabalho
■ Princípios do Direito do Trabalho
■ Direito Individual do Trabalho
■ Contrato de trabalho pela Consolidação das Leis do Trabalho
■ Empregado
■ Empregador
■ Remuneração
■ Formas de rescisão de contrato de trabalho e direitos do empregado
121

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), nesta unidade, você estudará a evolução histórica do Direito


do Trabalho, que vai lhe auxiliar a compreender melhor as prioridades trazi-
das pela Legislação Trabalhista brasileira. Primeiramente, é preciso conceituar
o que vem a ser Direito do Trabalho. Inicialmente, falaremos sobre a evolução
do Direito do Trabalho e as razões de receber essa denominação hoje. Faz-se
necessário também analisar a ligação do Direito do Trabalho com outras áreas
do Direito, visualizando a ligação que essa área possui com as demais, já que
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

muitas vezes é preciso se observar outras leis, como a Constituição Federal, a


Legislação Previdenciária, dentre outras. Passamos a analisar as fontes e os prin-
cípios do Direito do Trabalho.
Visto isso, na sequência, estudaremos o empregado e suas características;
analisaremos as modalidades de empregado e trabalhador, como o doméstico, em
domicílio, aprendiz entre outros. Faz-se necessário identificar as características
que diferenciam empregado de trabalhador, já que o primeiro é protegido pela
CLT, enquanto o segundo depende de leis especiais para protegê-lo. Entenderemos
quem é o empregador e quais os poderes que ele tem sobre o empregado, como
ele pode agir, se pode fiscalizar nossos e-mails ou não.
Depois desses conceitos iniciais, estudaremos a jornada de trabalho, visando
compreender a teoria adotada pelo Direito brasileiro, com o intuito de esclare-
cer qual seria a defendida pela CLT. Também precisaremos analisar os intervalos
relacionados a jornada de trabalho, visto que em alguns casos ele é obrigatório
e em outros facultativos.
Após isso, analisaremos a parte mais temida do contrato de trabalho: a resci-
são contratual. Verificaremos como o empregado e o empregador podem terminar
um contrato de trabalho quando aquela relação já não é mais interessante para
nenhuma das partes. Essa é a parte mais problemática e mais tumultuada do
Direito do Trabalho, pois o término dessa relação sempre é complexo.
Bons estudos!

Introdução
122 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A EVOLUÇÃO NO BRASIL

Ao examinarmos o Direito do Trabalho, há a necessidade de conhecer a sua ori-


gem e o seu desenvolvimento no decorrer do tempo, como também os novos
conceitos e instituições que foram surgindo com o passar dos anos. As primei-
ras Constituições brasileiras versavam apenas sobre o funcionamento do Estado,
não se preocupando com os demais ramos do Direito. A chamada Constituição
do Império, constituída em 1824, tratou de abolir as corporações de ofício, para
que assim houvesse liberdade do exercício de ofícios e profissões.
Na Constituição de 1891, após a abolição da escravatura, começou a se falar em
liberdade de associação, permitindo que as pessoas se reunissem licitamente, sem
armas, não podendo existir a intervenção do Estado, salvo quando fosse neces-
sário para manter a ordem pública. Com a Revolução Industrial acontecendo na
Europa e com o grande número de imigrantes chegando ao Brasil, em 1930, na
gestão Getúlio Vargas, surgiu uma política trabalhista. A primeira Constituição
que tratou especificamente sobre Direito do Trabalho foi a de 1934, garantindo
ao empregado a liberdade sindical, isonomia salarial, salário mínimo, jornada

DIREITO DO TRABALHO
123

de trabalho de oito horas, proteção do trabalho das mulheres e dos menores,


repouso semanal e férias anuais remuneradas (MARTINS, 2013).
Em 1937, o Brasil passou por uma fase intervencionista com o golpe de
Getúlio Vargas. Tal Constituição instituiu o sindicato único, o imposto por lei,
vinculado ao Estado, criou o imposto sindical, acreditando ser uma forma de
submissão das entidades de classe ao poder do Estado e, por fim, a greve e o
lockout (greve dos empregadores) foram considerados como meios anti sociais,
incompatíveis com os interesses nacionais (MARTINS, 2013).
Por existirem várias normas esparsas que versavam sobre o Direito do
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Trabalho, em 1943, por meio do Decreto-lei nº 5.452, foi aprovada a sistema-


tização das mesmas através da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), com
objetivo de que todas as leis fossem consolidadas. Em 1946 surge uma nova
Constituição Federal, rompendo com o corporativismo da Constituição de 1937.
Já a Constituição de 1967 manteve os direitos trabalhistas criados anteriormente.
Em 1988, foi aprovada a atual Constituição Federal, conhecida como
“Constituição Cidadã”. O Direito do Trabalho foi incluído no Capítulo intitulado
“Dos Direitos Sociais”. Nessa última, fala-se dos direitos individuais e tutelares do
trabalho, bem como do sindicato e suas relações. Ainda especifica regras sobre a
greve, a participação dos trabalhadores em colegiados e garante a representação
dos empregados nas empresas com mais de 200 funcionários (MARTINS, 2013).

CONCEITO DE DIREITO DO TRABALHO

O Direito do Trabalho é um ramo especializado por regular certo tipo de relação


laborativa na sociedade. Os conceitos do Direito do Trabalho podem envolver os
seguintes aspectos: (a) subjetivos, em que se verificam os tipos de trabalhadores.
Alguns autores entendem que seriam todos os trabalhadores e outros apenas os
trabalhadores subordinados; (b) objetivos, em que será considerada a matéria do
Direito do Trabalho e não os sujeitos envolvidos. Para alguns autores, diria res-
peito a todas as relações de trabalho, enquanto outros afirmam que envolveria
apenas a relação de trabalho subordinado; (c) mistos, envolvendo pessoas e objeto.

A Evolução no Brasil
124 UNIDADE IV

Para Amauri Mascaro Nascimento, Direito do Trabalho é:


[...] o ramo da ciência do direito que tem por objeto as normas, as ins-
tituições jurídicas e os princípios que disciplinam as relações de traba-
lho, determinam os seus sujeitos e as organizações destinadas à pro-
teção desse trabalho em sua estrutura e atividade” (NASCIMENTO,
2011, p. 29).

Direito do Trabalho também é o “complexo de princípios, regras e institutos


jurídicos que regulam, no tocante às pessoas e matérias envolvidas, a relação
empregatícia de trabalho, além de outras relações laborais normativamente espe-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cificadas” (DELGADO, 2011, p. 51).
A palavra conjunto revela que o Direito do Trabalho é composto por várias
partes organizadas, formando um sistema, um todo. Contém o Direito do Trabalho
princípios que são proposições genéricas das quais derivam as demais normas.
Com o conhecimento dos princípios do Direito do Trabalho, notamos um tra-
tamento científico dado à disciplina, justificando também sua autonomia.
O objeto do Direito do Trabalho é o trabalho subordinado, visto que será
regido pela CLT. Para conceituarmos a matéria objeto de estudo, precisamos
analisar duas teorias: a subjetiva e a objetiva.
A primeira tem por base os tipos de trabalhadores a que se aplica o Direito do
Trabalho. Não se pode conceber, porém, que qualquer trabalhador será amparado
pelo Direito do Trabalho, como ocorre com o funcionário público e o trabalha-
dor autônomo, que são espécies do gênero trabalhadores, não sendo assistidos
por nossa matéria. A segunda analisa a matéria e não as pessoas envolvidas.
Ao falarmos em “situações análogas”, estamos tratando daquelas que tenham
semelhança com o trabalho subordinado, mas que não precisam ser necessa-
riamente iguais a ele. A finalidade do Direito do Trabalho é assegurar melhores
condições de trabalho, porém não só essas situações, mas também condições
sociais ao trabalhador. Assim, o Direito do Trabalho tem por fundamento melhorar
as condições de trabalho dos obreiros e também suas situações sociais, assegu-
rando que o trabalhador possa prestar seus serviços em um ambiente salubre,
podendo, por meio de seu salário, ter uma vida digna para que possa desempe-
nhar seu papel na sociedade.

DIREITO DO TRABALHO
125

O Direito do Trabalho pretende corrigir os defeitos existentes no contrato


de trabalho, assim como assegurar uma remuneração condigna a fim de que o
operário possa suprir as necessidades de sua família na sociedade. Visa o Direito
do Trabalho melhorar essas condições do trabalhador. Melhorar as condições de
trabalho e sociais do trabalhador objetivam protege-lo, que é, como observamos
anteriormente, a parte mais fraca dessa relação. Tais medidas protetoras estão
previstas na própria legislação, limitando a jornada de trabalho, assegurando as
férias, possibilitando intervalos nas jornadas, dentre outros.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

AUTONOMIA DO DIREITO DO TRABALHO

A autonomia vem do grego: auto, próprio; nome ou nomia, regra ou norma. No


Direito, a autonomia se traduz como a qualidade atingida por determinado ramo
jurídico de ter enfoques, princípios, regras, teorias e condutas metodológicas
próprias de estruturação e dinâmica (DELGADO, 2011). Quando se conquista
a autonomia, confirma-se a maturidade alcançada pelo ramo jurídico, que se
desprende dos laços do ramo próximo, construindo e desenvolvendo seus com-
ponentes específicos (DELGADO, 2011).
Para que se alcance a autonomia, são neces-
sários alguns requisitos: extensão da matéria,
doutrinas homogêneas e princípios específicos
e método próprio (GARCIA, 2011). Observa-se
nitidamente a autonomia científica do Direito
do Trabalho em razão da existência de ampla
temática do objeto de estudo, dando origem a
institutos específicos, com metodologia apta a
entender suas diversas peculiaridades, bem como
princípios próprios.

Autonomia do Direito do Trabalho


126 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO

A palavra princípio traduz a ideia de “começo, início”. Nessa linha “o primeiro


momento da existência de algo ou de uma ação ou processo” (DELGADO, 2011).
Sendo assim, a palavra princípio carrega consigo a força do significado de pro-
posição fundamental. Por essa razão, princípio traduz a noção de proposições
fundamentais que se formam na consciência das pessoas e grupos sociais, a partir
de certa realidade e que, após formadas, direcionam-se à compreensão, repro-
dução ou recriação dessa realidade.

PRINCÍPIO DE PROTEÇÃO

O Direito do Trabalho estrutura em seu interior uma teia de proteção à parte


hipossuficiente na relação empregatícia – empregado – visando atenuar, no plano
jurídico, o desequilíbrio inerente ao plano fático do contrato de trabalho. Tal prin-
cípio é o mais importante do Direito do Trabalho, influindo em toda a estrutura e
características próprias desse ramo jurídico especializado e com regras próprias.

DIREITO DO TRABALHO
127

PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DA RELAÇÃO DE EMPREGO

É de interesse do Direito do Trabalho a permanência do vínculo empregatício,


com a integração do trabalhador na estrutura e dinâmica empresariais. Apenas
mediante tal permanência e integração é que a ordem trabalhista poderia cum-
prir satisfatoriamente um dos objetivos do Direito do Trabalho, que é assegurar
melhores condições, sob a ótica trabalhadora, de pactuação e gerenciamento da
força de trabalho em determinada sociedade (DELGADO, 2011).
O princípio em questão é relevante, visto que a grande maioria da população
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

economicamente ativa vive apenas de seu trabalho. Por essa razão, tal princípio
propõe, como regra geral, o contrato trabalhista por tempo indeterminado, uma
vez que este é o que melhor concretiza o direcionamento pela continuidade da
relação empregatícia (DELGADO, 2011).

PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA REALIDADE

No Direito do Trabalho, deve-se ficar atento para a prática concreta efetivada ao


longo da prestação de serviços, independentemente da vontade manifestada pelas
partes na respectiva relação jurídica. A prática habitual altera o contrato pac-
tuado, gerando direitos e obrigações novos às partes contratantes (DELGADO,
2011). Assim, por esse princípio, deve prevalecer a efetiva realidade dos fatos e
não eventual forma construída em desacordo com a verdade.

PRINCÍPIO DA NORMA MAIS FAVORÁVEL

Com relação ao Direito do Trabalho, deve optar o operador do Direito pela regra
mais favorável ao empregado. Deve-se buscar a norma mais favorável enfocando
globalmente o conjunto de regras componentes do sistema.

Princípios do Direito do Trabalho


128 UNIDADE IV

PRINCÍPIO DA IMPERATIVIDADE DAS NORMAS TRABALHISTAS

Tal princípio informa que prevalece o domínio de regras jurídicas obrigatórias,


em detrimento de regras apenas dispositivas, as regras trabalhistas são essencial-
mente imperativas, não podendo, de maneira geral, ter sua regência contratual
afastada pela simples manifestação de vontade das partes.
Aqui prevalece a restrição à autonomia da vontade no contrato trabalhista,
em contraponto à diretriz civil de soberania das partes no ajuste das condições
contratuais.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DOS DIREITOS
TRABALHISTAS

Os direitos trabalhistas são irrenunciáveis pelo empregado. Por exemplo, não se


admite que o empregado renuncie a suas férias. Se tal fato ocorrer, não terá vali-
dade o ato do operário, podendo o empregado reclamá-las na Justiça do Trabalho.
Contudo, o trabalhador poderá renunciar a seus direitos se estiver em juízo,
diante do juiz do trabalho, pois nesse caso não se pode dizer que o empregado
esteja sendo forçado a fazê-lo. Se o trabalhador ainda estiver na empresa, não
se poderá falar em renúncia aos direitos trabalhistas, pois poderia dar ensejo a
fraudes (MARTINS, 2011).

PRINCÍPIO DA CONDIÇÃO MAIS BENÉFICA

Tal princípio importa na garantia de preservação, ao longo do contrato, da


cláusula contratual mais vantajosa ao trabalhador, que se reveste do caráter de
direito adquirido. Ele foi incorporado pela CLT em seu art. 468, ao informar que
“somente poderão ser suprimidas caso suplantado por cláusula posterior mais
favorável, mantendo-se intocadas em face de qualquer alteração menos vanta-
josa do contrato ou regulamento de empresa”.

DIREITO DO TRABALHO
129

PRINCÍPIO DA INTANGIBILIDADE SALARIAL

O salário merece garantia, de modo a assegurar seu valor, montante e dispo-


nibilidade em benefício do empregado. Esse merecimento deriva do fato de
considerar-se ter o salário caráter alimentar, atendendo às necessidades essen-
ciais do ser humano. A noção de natureza alimentar parte do pressuposto de
que a pessoa física, que vive fundamentalmente de seu trabalho empregatício,
proverá suas necessidades básicas de indivíduo e membro de uma comunidade
familiar com o ganho advindo desse trabalho: seu salário. A essencialidade dos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

bens a que se destina o salário do empregado é que induz a criação de garantias


fortes e diversificadas em torno da figura econômico-jurídica.

Sobre o que estudamos até o momento, você acredita que o empregado


ainda é a pessoa mais desprotegida dessa relação? Pense sobre o assunto.

DIREITO INDIVIDUAL DO TRABALHO

O Direito individual do Trabalho


“é o segmento do Direito do
Trabalho que estuda o contrato
individual do trabalho e as regras
legais ou normativas a ele aplicá-
veis” (MARTINS, 2011, p. 37). Tal
ramo do direito não é autônomo,
mas sim uma parte relacionada ao
Direito do Trabalho. Ele estuda a
relação individual do trabalho, ou
seja, aquelas relacionadas ao con-
trato de trabalho.

Direito Individual do Trabalho


130 UNIDADE IV

CONTRATO DE TRABALHO PELA CONSOLIDAÇÃO


DAS LEIS DO TRABALHO

O contrato de trabalho era denominado de locação de serviços, sendo que eram


utilizados os arts. 1.216 a 1.236 do Código Civil de 1916. A denominação con-
trato de trabalho surgiu com a Lei nº 62, de 5-6-1935, que tratava da rescisão do
pacto laboral. Em nossa legislação, são encontradas tanto a expressão contrato
de trabalho como relação de emprego. As expressões mais corretas seriam con-
trato de emprego e relação de emprego.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A relação de trabalho é o gênero que compreende o trabalho autônomo,
eventual, avulso, dentre outros. Já a relação de emprego trata do trabalho subor-
dinado do empregado em relação ao empregador. O contrato de trabalho é
gênero, compreendendo o contrato de emprego. O primeiro poderia compreen-
der qualquer trabalho, como do autônomo, do eventual, do avulso, entre outros.
Já o segundo diz respeito à relação entre empregado e empregador e não a outro
tipo de trabalho.
O contrato de trabalho tem natureza contratual. O art. 442 da CLT estabe-
lece que o contrato de trabalho é o acordo, tácito ou expresso, correspondente
à relação de emprego. O contrato de trabalho é o negócio jurídico entre uma
pessoa física (empregado) e uma pessoa física ou jurídica (empregador) sobre
condições de trabalho.
O empregado só fará parte de uma organização empresarial se assim o dese-
jar, visto que o contrato de trabalho deve ser um ajuste de vontade entre as partes.

CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO DE TRABALHO

De manifesta natureza contratual, a relação de emprego pressupõe a capacidade


das partes e objeto lícito, não havendo, a rigor, forma prescrita em lei (salvo, excep-
cionalmente, como ocorre com o trabalho temporário, de aprendizagem etc.).
Possui, outrossim, características que, embora não lhe sejam exclusivas, dele
fazem parte, a saber: é de natureza privada – em que pesem as disposições de
ordem pública; é, ainda, consensual, não se subordinando a formas específicas;

DIREITO DO TRABALHO
131

basta para configurá-lo o acordo de vontades, tácito ou escrito; ademais disso, é


bilateral, por ser celebrado apenas entre duas pessoas (empregado e empregador);
não é um pacto solene, pois independe de quaisquer formalidades, podendo ser
ajustado verbalmente ou por escrito, conforme o art. 443 da CLT; há onerosidade,
visto que não é um contrato gratuito, pois o serviço prestado deve ser remune-
rado; sinalagmático, visto que as partes se obrigam entre si, com a satisfação de
prestações recíprocas; deve haver continuidade na prestação de serviços, dizen-
do-se que é um trato sucessivo ou de duração, pois não é instantâneo; no contrato
de trabalho contrata-se a atividade e não o resultado; o empregado deve pro-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ceder com boa-fé, diligência, fidelidade, assiduidade, colaboração; e, por outro


lado, comutativo, por isso que estabelece direitos e obrigações recíprocas – a do
empregado, de prestar serviços ou colocar-se à disposição do empregador; a do
empregador, de pagar salários.

OBJETO

O objeto direto do contrato de trabalho é a prestação de serviço subordinado e


não eventual do empregado ao empregador, mediante o pagamento de salário.
O trabalho autônomo prestado a uma pessoa física ou jurídica não gera o con-
trato de trabalho, pois não há o elemento subordinação.

REQUISITOS

São requisitos essenciais do contrato de trabalho, ou seja, para ser considerado


como contrato de trabalho, sempre devem se fazer presentes os requisitos a seguir:

(a) Continuidade
O trabalho deve ser prestado com continuidade. Aquele que presta serviços
eventualmente não é empregado. O contrato de trabalho não se exaure com uma
única prestação, pois há um trato sucessivo na relação entre as partes, que per-
dura no tempo. A continuidade é da relação jurídica da prestação de serviços.

Contrato de Trabalho pela Consolidação das Leis do Trabalho


132 UNIDADE IV

(b) Subordinação
Esse é considerado o requisito de maior relevância na caracterização da rela-
ção de emprego. O empregado deve seguir as suas determinações e orientações,
estabelecidas dentro dos limites legais. Os riscos da atividade exercida são inte-
gralmente do empregador. Já o empregado presta serviços por conta alheia.

(c) Onerosidade
O contrato de trabalho não é gratuito, mas oneroso, ou seja, envolve um valor
econômico. O empregado sempre receberá um salário pelo serviço prestado ao

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
empregador.

(d) Pessoalidade
O contrato de trabalho deve ser realizado por certa e determinada pessoa. Tal
requisito pode ser chamado também de “intuito personae” (MARTINS, 2011). O
empregado somente poderá ser pessoa física, pois não existe contrato de traba-
lho em que o trabalhador seja pessoa jurídica, podendo ocorrer, no caso, locação
de serviços, empreitada etc.

(e) Alteridade
No decorrer do contrato de trabalho, o serviço prestado pelo empregado é carac-
terizado como por conta alheia, ou seja, é um trabalho em que não deve causar
nenhum tipo de risco ao empregado. Ele poderá participar dos lucros da empresa,
mas não dos prejuízos.

REQUISITOS NÃO ESSENCIAIS

No contrato de trabalho, não é necessária a exclusividade da prestação de servi-


ços pelo empregado ao empregador. O empregado pode ter mais de um emprego,
visando ao aumento de sua renda mensal. A legislação trabalhista mostra a pos-
sibilidade de o empregado ter mais de um emprego. O art. 138 da CLT permite
que o empregado preste serviços em suas férias a outro empregador, se estiver
obrigado a fazê-lo em contrato regularmente mantido com aquele.

DIREITO DO TRABALHO
133

O fato de o contrato de trabalho prever a exclusividade na prestação de


serviços pelo empregado não o desnatura. Caso o trabalhador não cumpra tal
disposição contratual, dará apenas justo motivo para o empregador rescindir o
pacto laboral. Não é essencial para a existência do contrato de trabalho o fato de
o trabalhador não ser profissional ou não ter grau de escolaridade.

DURAÇÃO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Os contratos de trabalho podem ser por prazo determinado ou indeterminado (art.


443 da CLT). No contrato de prazo determinado, as partes ajustam antecipadamente
seu termo, enquanto no contrato de prazo indeterminado não há prazo para a ter-
minação do pacto laboral. Na prática, predomina o ajuste por prazo indeterminado.
Quando as partes nada mencionam quanto ao prazo, presume-se que o contrato seja
por prazo indeterminado, que é o mais empregado. O contrato de trabalho de prazo
indeterminado não é, porém, um contrato eterno, mas apenas que dura no tempo.

CONTRATO DE TRABALHO POR TEMPO DETERMINADO

O contrato de trabalho por tempo determinado é “o contrato de trabalho cuja


vigência dependa de termo prefixado ou da execução de serviços especificados
ou ainda da realização de certo acontecimento suscetível de previsão aproxi-
mada” (§1º do art. 443 da CLT).
A CLT estabelece quais são as hipóteses em que é possível a celebração do
contrato de trabalho por prazo determinado. Caso não seja cumprido o estabe-
lecido, o contrato passará a ser por prazo indeterminado. Tal pacto laboral pode
ser celebrado verbalmente. O ideal é que esse só fosse estabelecido por escrito,
evitando assim fraudes na contratação.
O término do pacto por tempo determinado pode ser medido em razão do
número de dias, semanas, meses ou anos, ou em relação a certo serviço especí-
fico, como o término de uma obra, ou, se for possível fixar aproximadamente,
quando houver o término de uma colheita, que se realiza periodicamente em

Contrato de Trabalho pela Consolidação das Leis do Trabalho


134 UNIDADE IV

certas épocas do ano (MARTINS, 2011).


Caso o último dia do contrato de trabalho por prazo determinado caia em
feriado, domingo ou dia não útil, isso não o prorrogará para o dia seguinte. O
contrato de trabalho por tempo determinado só é válido em se tratando de: a)
serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a predeterminação do prazo;
b) atividades empresariais de caráter transitório; c) contrato de experiência (§2º
do art. 443 da CLT).
Serviço de natureza transitória é o que é breve, efêmero, temporário. Fala-se aqui
em serviço transitório e não de atividade empresarial de caráter transitório. São con-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
siderados por tempo determinado os seguintes contratos: de safra (parágrafo único
do art. 14, da Lei nº 5.889/73); de atleta profissional (art. 30 da Lei nº 9.615/98); de
artistas (art. 9º da Lei nº 6.533/78); de técnico estrangeiro (Decreto-lei nº 691/69); de
obra certa (Lei nº 2.959/56); de aprendizagem (art. 428 da CLT), da Lei nº 9.601/98.
Atualmente, o contrato de trabalho não pode ser superior a dois anos.
Mesmo que o contrato de trabalho seja prorrogado, não pode exceder o prazo
de dois anos, devendo se observar o art. 451 da CLT. A prorrogação nada mais
é do que a continuação do contrato anterior e não um novo contrato. Logo, não
poderia haver a prorrogação do contrato de trabalho por tempo determinado
fixado em dois anos, por igual período, ou seja, por mais dois anos. Nesse caso,
teremos um contrato de trabalho por prazo indeterminado.

CONTRATO DE EXPERIÊNCIA

Existem várias denominações para o contrato de experiência: período de expe-


riência, contrato de prova, pacto de prova, pacto de experiência, contrato de
experiência, período de prova.
Diferencia-se o contrato de experiência do contrato de aprendizagem. No
primeiro, verifica-se um período em que vai ser testado o empregado, sem ter
uma característica de aprendizado; no segundo, o empregado estuda para exer-
cer a profissão para adquirir capacidade.
Diferencia-se também o contrato de experiência do contrato de trabalho

DIREITO DO TRABALHO
135

temporário. No primeiro, o prazo máximo é de 90 dias; já no segundo, o prazo


é de três meses. O primeiro compreende a verificação da aptidão do empregado;
o segundo diz respeito à necessidade transitória de substituição regular e per-
manente do pessoal da tomadora ou a acréscimo extraordinário de serviços.
O contrato de experiência não deixa de ser um contrato de trabalho por
tempo determinado. Há necessidade de anotação na CTPS do empregado do
referido pacto, que dará ao trabalhador todos os direitos e obrigações pertinen-
tes ao acordo realizado. Todavia, para a validade desse contrato, a anotação na
CTPS não é requisito essencial, visto que o pacto laboral pode ser celebrado ver-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

balmente e provado por qualquer meio de prova (art. 456, CLT).


O prazo máximo dessa modalidade de contrato é de 90 dias (parágrafo único
do art. 445 da CLT). Caso o prazo seja excedido por mais de 90 dias, o contrato
vigorará como se fosse contrato por tempo indeterminado. Esse contrato pode
ser prorrogado uma única vez (art. 451 da CLT). Em hipótese alguma poderá
exceder o prazo de 90 dias, seja na prorrogação, seja por uma única contratação.
Não é possível prorrogar um contrato de trabalho de 90 dias por mais 90 dias,
pois o prazo máximo de 90 dias contido no parágrafo único do art. 445 da CLT
foi excedido. Caso o empregado cumpra a experiência e saia da empresa, não
pode o empregador, ao recontratá-lo para a mesma função, exigir novamente a
experiência, pois o trabalhador já foi testado (art. 452 da CLT).

EMPREGADO

O art. 3º da CLT dispõe que “considera-se empregado toda pessoa física que pres-
tar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e
mediante salário”. Em verdade, empregado é todo trabalhador que presta serviço
ao empregador. Cabe ressaltar que o empregado é sempre uma pessoa física ou
natural, que presta serviços com subordinação, não eventualidade, onerosidade
e pessoalidade, sendo que esses já foram estudados anteriormente.

Empregado
136 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ESPÉCIES DE TRABALHADORES

Aqui estudaremos um pouco sobre as modalidades de empregado previstas


na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Verificaremos as características
necessárias para a configuração de cada uma das espécies, analisando como cada
modalidade deve ser identificada.
Veremos ainda de que forma os administradores devem enquadrar seus
empregados, tomando o devido cuidado para não ferir nenhum dos direitos
protegidos por lei.

Empregado Em Domicílio

É aquele que trabalha na própria residência. O art. 83 da CLT, além de assegurar


ao empregado em domicílio o salário mínimo, define tal trabalho como aquele
“executado na habitação do empregado ou em oficina de família, por conta de
empregador que o remunere”.
Para ser empregado, o trabalho precisa ser por conta do empregador, ou seja,
de forma não autônoma, mas sim com subordinação e onerosidade. Conforme o
art. 6º da CLT: “não se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do

DIREITO DO TRABALHO
137

empregador e o executado no domicílio do empregado, desde que esteja carac-


terizada a relação de emprego”.
No caso do empregado em domicílio, o direito a horas extras apresenta maior
dificuldade de se caracterizar como devido, justamente em razão do labor na
própria residência do empregado, o que significa que pode trabalhar no horá-
rio que entender mais adequado. Dessa forma, somente será devido se o efetivo
labor em sobrejornada for caracterizado.

Empregado Doméstico
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

De acordo com a definição contida no art. 1º da Lei nº 5.859, de 11 de dezembro


de 1972, é “aquele que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não
lucrativa à pessoa ou à família no âmbito residencial destas”. Pode-se entender
que o empregado doméstico presta serviços, de natureza não econômica, à pes-
soa física ou à família, para o âmbito residencial destas. Sendo assim, é doméstico
não só o empregado que exerce funções internamente, na residência do empre-
gador, como de limpeza, de faxina, de cozinhar, cuidando de crianças ou idosos,
mas também o jardineiro, o vigia da casa, o motorista etc.
Portanto, o empregador doméstico não é uma empresa, não exercendo ati-
vidades econômicas ou lucrativas, mas sim é a pessoa natural ou a família. Pela
Lei nº 5.859/1972, para a existência do vínculo de emprego em questão, exige-
-se a continuidade na prestação de serviços.
Dessa forma, nos dizeres de Gustavo Filipe Barbosa Garcia:
[...] a lei exige a efetiva habitualidade na prestação de serviços, de for-
ma contínua, e não intermitente, ao longo da semana. Nesta linha, não
seria empregado doméstico aquele que presta serviços esporádicos, ou
mesmo intermitentes, ou seja, em um, dois ou até três vezes na semana
(GARCIA, 2011, p. 73).

O art. 7º da Constituição Federal de 1988 indica os direitos assegurados aos domés-


ticos. Entretanto, deve-se ressaltar que o art. 7º da CLT estabelece que os preceitos
contidos na Consolidação das Leis do Trabalho não se aplicam aos empregados
domésticos. Entretanto, a referida exclusão não mais se aplica, desde a Constituição
de 1988, quanto aos direitos assegurados no art. 7º, parágrafo único, da CF/1988.

Empregado
138 UNIDADE IV

O empregado doméstico passou por grandes mudanças no que diz respei-


to aos seus direitos trabalhistas. Essas mudanças foram recomendadas pela
Organização Internacional do Trabalho, com o intuito de melhorar a realiza-
ção da atividade, bem como a relação entre esses empregados e seus em-
pregadores. Isso porque, como se sabe, muitos não tinham CTPS assinada,
faziam horário de trabalho irregular, o que proporcionava horas extras sem
qualquer tipo de controle. Para conhecer mais sobre os direitos do empre-
gado doméstico, que foram modificados recentemente, mas sobre o qual

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ainda há dúvidas quanto à melhor forma de aplicação dos mesmos, leia “Di-
reitos do Empregado Doméstico”, disponível em <http://www3.mte.gov.br/
trab_domestico/trab_domestico_direitos.asp>.
Fonte: a autora.

Empregado rural

O art. 7º da Constituição Federal de 1988, ao arrolar direitos dos trabalhado-


res, faz previsão quanto aos “trabalhadores urbanos e rurais”. A Lei 5.889, de 8
de junho de 1973, regulamenta o trabalho rural. O empregado rural é definido
pelo art. 2º, da citada lei, como “toda pessoa física que, em propriedade rural ou
prédio rústico, presta serviços de natureza não eventual a empregador rural, sob
a dependência deste e mediante salário”.
Aplicam-se os requisitos da relação de emprego, já estudados: pessoa física,
pessoalidade, não eventualidade, subordinação e onerosidade. Entretanto, deve-
-se diferenciar o empregado rural do empregado urbano. Ao analisarmos o art.
2º da Lei nº 5.889/1973, observa-se que o empregado rural presta serviços “em
propriedade rural ou prédio rústico”. A propriedade rural é aquela situada na
zona rural. Já o prédio rústico pode ser entendido como aquele que esteja situado
na zona rural ou mesmo em zona urbana, tendo como destinação a exploração
de atividade agroeconômica. Para visualizar melhor a diferença entre essas duas
modalidades de empregado, deve-se conceituar legalmente quem é o empregador
rural. O art. 3º da Lei nº 5.889/1973 define o empregador rural como “a pessoa
física ou jurídica, proprietária ou não, que explore atividade agroeconômica, em

DIREITO DO TRABALHO
139

caráter permanente ou temporário, diretamente ou através de prepostos e com


auxílio de empregados”.
Cabe destacar, ainda, o § 1º do art. 3º da Lei nº 5.889/1973, que inclui, na ativi-
dade econômica referida, no artigo citado, a exploração industrial em estabelecimento
agrário não compreendido na Consolidação das Leis do Trabalho. Para saber o que
são atividades de exploração industrial, deve-se observar o disposto no art. 2º, §3º a 5º,
do Decreto 73.626, de 12 de fevereiro de 1974, que regulamenta a Lei nº 5.889/1973.
Dessa forma, consideram-se como exploração industrial em estabelecimento
agrário as atividades que compreendem o primeiro tratamento dos produtos
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agrários in natura sem transformá-los em sua natureza (art. 2º, §4º, do Decreto
73.626/1974. A indústria rural, em que o empregador também é considerado
rural, é aquela em que o produto agrário recebe o primeiro tratamento, desde
que não ocorra a transformação de sua natureza in natura.

Empregado aprendiz

O aprendiz é o empregado vinculado ao empregador pelo respectivo contrato de


trabalho de aprendizagem. Pela definição do art. 428, caput da CLT,o contrato
de aprendizagem é o contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por
prazo determinado, em que o empregador se compromete a assegurar ao maior
de 14 (quatorze) e menor de 24 (vinte e quatro) anos inscrito em programa de
aprendizagem formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu
desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar com zelo e
diligência as tarefas necessárias a essa formação.
O art. 7º, inciso XXXIII, da Constituição Federal de 1988, autoriza o tra-
balho como aprendiz a partir dos 14 anos. Por se tratar de contrato de trabalho
especial, por prazo determinado, o contrato de aprendizagem não pode ser esti-
pulado por mais de dois anos, “exceto quando se tratar de aprendiz portador de
deficiência”, conforme o art. 428, §3º, da CLT.
Além da necessidade de ser ajustado por escrito, a validade do contrato
de aprendizagem pressupõe a anotação na Carteira de Trabalho e Previdência
Social, matrícula e frequência do aprendiz na escola, caso não haja concluído
o ensino médio, e inscrição em programa de aprendizagem desenvolvido sob

Empregado
140 UNIDADE IV

orientação de entidade qualificada em formação técnico-profissional metódica


(§1º do art. 428 da CLT). Nas localidades onde não houver a oferta de ensino
médio para o cumprimento do que foi citado anteriormente, “a contratação do
aprendiz poderá ocorrer sem a frequência à escola, desde que ele já tenha con-
cluído o ensino fundamental” (§7º do art. 428 da CLT).
A formação técnico-profissional citada caracteriza-se por atividades teóricas
e práticas, metodicamente organizadas em tarefas de complexidade progressiva
desenvolvidas no ambiente de trabalho (§4º do art. 428, CLT). A duração do tra-
balho do aprendiz não excederá seis horas diárias, sendo vedadas a prorrogação

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e a compensação de jornada. Entretanto, tal limite pode ser de até oito horas diá-
rias para os aprendizes que já tiverem completado o ensino fundamental, se nelas
forem computadas as horas destinadas à aprendizagem teórica (art. 432 da CLT).
Quanto à remuneração, salvo condição mais favorável, será garantido o salá-
rio mínimo hora (§2º do art. 428 da CLT). Ou seja, o empregado aprendiz faz
jus ao salário mínimo proporcional às horas trabalhadas.
Por fim, em razão do contrato de aprendizagem ser um contrato a prazo
certo, ele se extingue no seu termo, ou quando o aprendiz completar 24 anos,
ressalvada a hipótese dos aprendizes portadores de deficiência (art. 433, da CLT).

EMPREGADOR

Pelo art. 2º da CLT, “considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva,


que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a
prestação pessoal de serviços”. Para compreender melhor, deve-se diferenciar a
empresa da figura do empregador. A empresa é a atividade econômica organizada,
nela estão presentes a coordenação e a organização dos fatores de produção, des-
tinada à produção ou à circulação de bens ou de serviços de mercado (COELHO,
2010). Já o empresário é quem exerce profissionalmente a atividade (art. 966,
do Código Civil).

DIREITO DO TRABALHO
141
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Dessa forma, há aqueles que, mesmo exercendo atividade econômica não são con-
siderados empresários, seja por expressa exclusão prevista em lei, seja pela ausência
de organização dos fatores de produção ao desenvolver a atividade. Deve-se obser-
var que o empresário tanto pode ser pessoa jurídica quanto pessoa física.
No âmbito da CLT, o empregador é considerado como a própria empresa.
Contudo, pode-se dizer que empregador é toda pessoa jurídica, pessoa natural ou
ente despersonalizado que contrate empregado, mantendo relação jurídica com este,
ou seja, todo ente que se utilize de empregados para a realização de seu objetivo social.

SUCESSÃO TRABALHISTA

Para a caracterização da sucessão trabalhista, é necessária a transferência de uma


“unidade econômico-jurídica”, ou seja, de “de parte significativa do(s) estabele-
cimento(s) ou da empresa”, permanecendo, ainda, a prestação de serviços pela
empresa (DELGADO, 2011). Quando ocorre a sucessão trabalhista, o sucessor
responderá por todos os direitos trabalhistas do empregado, ainda que referen-
tes ao período anterior à sucessão, e mesmo que o contrato de trabalho tenha
cessado anteriormente a ela (GARCIA, 2011).

Empregador
142 UNIDADE IV

Por essa razão, uma vez caracterizada a sucessão trabalhista, é o sucessor


quem responderá pelos eventuais direitos trabalhistas ainda não adimplidos,
sendo, portanto, parte legítima para figurar no polo passivo da relação processual.
Como destaca Martins, a empresa sucessora assume as obrigações trabalhistas
da empresa sucedida e a sua posição no processo (MARTINS, 2011).
Caso seja feita uma cláusula contratual entre sucessor e sucedido, dispondo
de forma distinta, não produz efeitos quanto aos empregados. O que pode exis-
tir é eventual direito de regresso do sucessor em face do sucedido.

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PODER DE DIREÇÃO DO EMPREGADOR

O poder de direção, que tem como fundamento o art. 2º da CLT, pode ser concei-
tuado como aquele que autoriza o empregador a organizar, controlar e disciplinar
a prestação de serviços pelo empregado, a que ocorre, de forma subordinada. O
abuso no exercício do poder de direção não deve ser aceito, o que faz com que o
empregado possa a ele se opor, fazendo jus à reparação ou prevenção da decor-
rente lesão, na esfera material e moral.

CONTEÚDO DO PODER DE DIREÇÃO

Ele pode ser dividido em três diferentes aspectos, facilitando a compreensão de


seu conteúdo.

a) Poder de Organização
O empregador tem o direito de organizar o seu empreendimento quanto aos
diferentes fatores de produção, no caso, o trabalho prestado pelos empregados,
distribuindo e determinando as funções a serem exercidas, o local de trabalho,
horário entre outros.

DIREITO DO TRABALHO
143

b) Poder de Controle
Por meio deste, autoriza-se que o empregador gerencie a atividade laboral dos
empregados, no que tange à prestação de serviços. Assim, o empregador pode,
dentro dos limites previstos em lei, verificar se os empregados estão respeitando
as exigências e diretrizes estabelecidas para o desempenho da atividade laborativa.

c) Poder disciplinar
Permite que o empregador aplique penalidades ao empregado que não observe
as ordens e regras impostas à atividade desempenhada. No caso, a punição apli-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

cada pelo empregador situa-se, somente, na esfera do Direito do Trabalho, não


devendo ser confundida com punição criminal.
Caso a punição seja abusiva ou excessiva, poderá ser questionada pelo empre-
gado, e tal ilicitude pode acarretar ao empregador o dever de reparar eventual
lesão a direito do empregado de ordem pessoal ou material.

VERIFICAÇÃO DE E-MAIL PELO EMPREGADOR

Com relação ao tema, entende-se que, caso o e-mail seja privativo (particular) do
empregado, encontra-se coberto pela garantia de proibição de violação do sigilo
das comunicações e de dados. No caso do e-mail corporativo, que é disponibili-
zado pelo empregador, as polêmicas aumentam, pois alguns autores entendem que,
mesmo assim, a mencionada vedação da violação do sigilo incide normalmente.
Por se tratar de uma ferramenta de trabalho e tendo o empregador avisado
previamente, pode-se entender que, quanto à possibilidade de seu controle, de
forma impessoal, na esfera da empresa, e estando em jogo algum valor de ordem
fundamental, pode-se autorizar a verificação no equipamento de informática, res-
guardando a sua eventual responsabilidade, o que não pode ser confundido com
interceptação da mensagem quando em seu caminho de destino (GARCIA, 2011).

Empregador
144 UNIDADE IV

Quando o empregador violar o direito de privacidade do empregado com


relação ao seu e-mail particular, ficando tal fato devidamente comprovado,
o empregado terá direito a ingressar com uma ação de indenização por da-
nos morais.
Fonte: a autora

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REGULAMENTO DE EMPRESA

O regulamento de empresa irá prever uma série de direitos e deveres dos empre-
gados e do empregador, sendo uma manifestação do uso do poder de direção do
empregador. Tal regulamento pode ser unilateral quando elaborado apenas pelo
empregador ou bilateral quando estabelecido em conjunto com os empregados.
O regulamento da empresa acaba sendo um termo complementar ao contrato
de trabalho, o que para todos os efeitos se torna parte integrante ao contrato
individual de trabalho. Algumas empresas chamam o regulamento interno de
Manual do Colaborador.

REVISTAS PESSOAIS

O art. 373-A, inciso VI, da CLT, proíbe as “revistas íntimas nas empregadas ou
funcionárias”. Contudo, considerando o princípio da igualdade, o artigo citado
é totalmente aplicável também aos empregadores do sexo masculino.
A revista íntima é aquela que apresenta invasão à intimidade do(a) empre-
gado(a), violando a sua integridade física, psíquica e moral. Já a revista pessoal,
com a intenção de evitar lesões ao patrimônio empresarial, dependendo da ati-
vidade desempenhada pelo empregador, este teria o direito de realizar revistas
nos empregados, desde que de forma não abusiva e sem caracterizar afronta a
sua intimidade, não podendo ser de forma de perseguição ou discriminação
contra certos trabalhadores.

DIREITO DO TRABALHO
145

Sendo assim, a revista deveria ser feita de forma aleatória, moderada, res-
peitosa, por pessoa do mesmo sexo, sem exposição desnecessária ou abusiva
do empregado revistado. Caso haja conflito entre o direito de propriedade (do
empregador) e os direitos à intimidade e privacidade (do empregado), devem
prevalecer estes últimos, uma vez que estão ligados ao preceito magno de dig-
nidade da pessoa humana, conforme ponderação dos valores em confronto.
Quanto aos objetos, bens e locais reservados ao empregado, estão abrangi-
dos no conceito constitucional de domicílio, só podendo “sofrer revista no caso
de flagrante delito ou por determinação judicial” (art. 5º, inciso XI, CF/1988).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

REMUNERAÇÃO

A remuneração pode ser conceituada como a contraprestação recebida pelo


empregado, decorrente do contrato de trabalho. O art. 457 da CLT apresenta o
conceito de salário, possibilitando a diferenciação da remuneração propriamente
dita. Perante o ordenamento jurídico, remuneração é termo mais amplo, ou seja,
o gênero que engloba como espécies o salário e a gorjeta. O salá-
rio é a quantia paga “diretamente pelo empregador” decorrendo
do contrato de trabalho (art. 457, caput, CLT). Ele é devido
pelos períodos em que o empregado esteve à disposição do
empregador, aguardando ou executando ordens, bem
como de certos períodos de descanso remunerado.
Com o Projeto de Lei da Câmara nº 38 de 2017,
conhecido como Reforma Trabalhista, os traba-
lhadores e as empresas poderão negociar todas as
formas de remuneração, que por sua vez não pre-
cisam mais fazer parte do salário. (BRASIL, 2017).

Remuneração
146 UNIDADE IV

FORMAS DE PAGAMENTO DE SALÁRIO

a) Salário por tempo


Ele é pago em razão do tempo no qual houve a prestação do trabalho ou que o
empregado permaneceu à disposição do empregador. O tempo aqui mencio-
nado serve não somente como critério para o cálculo, mas também para repassar
o valor ao empregado. Quanto ao horista, não há o mesmo critério. O tempo,
nesse caso, funciona apenas como unidade de cálculo. O horista recebe os salá-
rios por mês, por quinzena entre outros.

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Contudo, essa modalidade é injusta pois é imprecisa, já que remunera da
mesma forma qualquer classe e quantidade de trabalho e também é injusto por-
que remunera igualmente esforços desiguais.

b) Salário por produção


Essa forma de salário é calculada de acordo com o número de unidades produ-
zidas pelo empregado. Ela é retribuída com o valor fixado antecipadamente pelo
empregador. Entretanto, há críticas com relação a essa forma de pagamento, pois
uma das maiores dificuldades são os cálculos dos salários por produção e dos
demais pagamentos do empregado baseados nos salários, como férias, indeniza-
ções, afastamento do empregado, dentre outros. Ainda, essa forma de pagamento
força o trabalhador, que, para ganhar mais, exaure suas forças e nunca atinge
um valor suficiente.
Com o Projeto de Lei da Câmara nº 38 de 2017, conhecido como Reforma
Trabalhista, não há mais o pagamento obrigatório do piso ou do salário mínimo
nessa forma de salário.(BRASIL, 2017)

c) Salário por tarefa


Salário por tarefa é aquele pago com base na produção do empregado, caso haja
economia de tempo há uma vantagem, uma vez que o empregado ganha um
acréscimo do preço da tarefa ou é dispensado quando cumpre as tarefas do dia,
do restante da jornada.

DIREITO DO TRABALHO
147

d) Salário em dinheiro
O salário deve ser pago em dinheiro, em moeda de curso forçado. O objetivo
principal do pagamento em dinheiro é evitar o pagamento em vales, cupons,
bônus entre outros, e também o pagamento em moeda estrangeira.
Entretanto, há exceção: se a obrigação tiver que ser cumprida no exterior,
não será vedado o pagamento do salário em moeda estrangeira. A conversão
deverá ser feita tomando por base a taxa de câmbio vigente na data da contrata-
ção, aplicando-se daí em diante os reajustes legais ou convencionais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

e) Salário em utilidades
Essa forma de pagamento irá decorrer do contrato ou do costume. O art. 458
da CLT permite o pagamento em utilidades, ou seja, além do pagamento em
dinheiro, o empregador poderá fornecer utilidades ao empregado, como alimen-
tação, habitação, vestuário ou outras prestações in natura.
Para configuração da utilidade, dois critérios básicos são necessários: i)
habitualidade, que inclusive será indicada no art. 458 da CLT. Se a utilidade for
fornecida uma vez ou outra, eventualmente, provisoriamente, não será consi-
derada salário in natura; ii) gratuidade. O salário-utilidade é uma prestação
fornecida gratuitamente ao empregado. A utilidade não deixa de ter um aspecto
de compensação econômica pelo trabalho prestado, ainda que seja fornecida
gratuitamente. Havendo cobrança da utilidade pelo empregador, deixará de ter
natureza salarial a prestação fornecida ao empregado.
Se a utilidade não fosse fornecida, o empregado teria que comprá-la ou des-
pender numerário próprio para adquiri-la, mostrando que se trata realmente de
um pagamento ou de um ganho para o trabalhador, uma vantagem econômica.
Todavia, o salário-utilidade deve ser fornecido gratuitamente ao empregado,
pois se a utilidade for cobrada não deverá se falar em salário (MARTINS, 2011).
Não representa salário-utilidade o fornecimento de bebidas alcoólicas ou
drogas nocivas (art. 458, parte final, da CLT). Os vestuários, equipamentos e
outros acessórios fornecidos ao empregado e utilizados apenas no local de tra-
balho para a prestação de serviços não serão considerados como salário. Se o
uniforme não é usado apenas no emprego, ou o veículo é usado também nos
finais de semana e férias do empregado, representando vantagem concedida

Remuneração
148 UNIDADE IV

pelo trabalho e não apenas para o trabalho, serão considerados como salário in
natura (MARTINS, 2011).
Dessa forma, com base no §2º do art. 458 da CLT, é possível distinguir entre a
prestação fornecida pela ou para a prestação dos serviços. Se a utilidade é fornecida
pela prestação dos serviços, terá natureza salarial. Decorre da contraprestação do
trabalho desenvolvido pelo empregado, representando remuneração. Tem cará-
ter retributivo. Se a utilidade for fornecida para a prestação de serviços, estará
descaracterizada a natureza salarial, como ocorre com os equipamentos de pro-
teção individual, que servem para ser utilizados apenas no serviço.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
f) Salário-condição
É o pagamento feito pelo empregador ao empregado, em decorrência do con-
trato de trabalho, dependente do estabelecimento de condições específicas que
devem ser cumpridas pelo trabalhador. São espécies de salário-condição: adicio-
nais (horas extras, noturno, periculosidade, insalubridade, por tempo de serviço,
transferência etc.), prêmios e gratificações ajustadas.
A condição poderá deixar de ser pago caso o serviço não seja prestado de
acordo com a condição que foi colocada. Caso a condição seja permanente, o
salário do empregado não poderá ser reduzido ou suprimido. Se a condição for
temporária, ao final do período em que ela existir, o pagamento será cessado,
salvo se houver habitualidade no pagamento, que passará a ter natureza salarial,
sendo então incorporada ao salário.

FORMAS ESPECIAIS DE SALÁRIO

• Abonos
Abono, no caso do Direito do Trabalho quando falamos em verbas trabalhis-
tas, tem o significado de adiantamento em dinheiro, ou seja, uma antecipação
salarial. As situações de momento criam certas necessidades para as quais serão
estabelecidas medidas transitórias.

DIREITO DO TRABALHO
149

• Adicionais
Quando falamos em adicional, significa que vamos acrescentar algo. Aqui então
podemos entender que os adicionais serão acréscimos salariais que têm como
causa o trabalho realizado em condições mais gravosas. Pode ser dividido em
adicional de horas extras, noturno, de insalubridade, de periculosidade, de
transferência.

a) Adicional de Horas Extras


Esse adicional é devido pelo trabalho extraordinário à razão de pelo menos 50%
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sobre a hora normal (art. 7º, XVI, da Constituição Federal). Se as horas extras
são pagas com habitualidade, integram o cálculo de outras verbas, como indeni-
zação, 13º salário, FGTS, aviso prévio indenizado, gratificações semestrais, férias
e descanso semanal remunerado.
A lei trabalhista não define o que é habitualidade para efeito de reflexos de
horas extras. Pode-se entender que é habitual o que foi pago na maior parte do
contrato de trabalho. Se o contrato de trabalho teve duração de seis meses, por
exemplo, e as horas extras foram pagas por quatro meses, houve habitualidade.
Também pode ser considerado habitual o que foi pago por mais de seis meses,
correspondendo à maior parte do ano.

b) Adicional Noturno
Essa forma de adicional é devido ao empregado urbano que trabalhar no perí-
odo entre 22 horas e 5 horas. O trabalhador rural terá direito no período de 21
horas de um dia às 5 horas do dia seguinte, na lavoura; entre as 20 horas de um
dia às 4 horas do dia seguinte, na pecuária. O adicional será de 20% sobre a hora
diurna para o empregado urbano (art. 73 da CLT) e de 25% sobre a remunera-
ção normal para o empregado rural (art. 7º, parágrafo único da Lei nº 5.889/73)
Se o adicional for pago com habitualidade, integra o cálculo do salário do
empregado para todos os efeitos.

Remuneração
150 UNIDADE IV

c) Adicional de Insalubridade
Insalubre é o prejudicial à saúde, que dá causa à doença. Para a caracterização
da insalubridade, é preciso: i) exposição a agentes nocivos à saúde do trabalha-
dor; ii) que essa exposição seja acima dos limites de tolerância fixados em razão
da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição.
Antes do Projeto de Lei da Câmara nº 38 de 2017, conhecido como Reforma
Trabalhista, as mulheres grávidas ou lactantes eram proibidas de trabalhar em
lugares com condições insalubres. Após a aprovação da Reforma, passou a ser
permitido que mulheres grávidas realizem atividades laborais em ambientes

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
considerados insalubres, desde que a empresa apresente atestado médico que
garanta que não há risco ao bebê nem a mãe. (BRASIL, 2017)
O adicional é devido ao empregado que presta serviços em atividades insa-
lubres, sendo calculado à razão de 10% (grau mínimo), 20% (grau médio) e 40%
(grau máximo) sobre o salário mínimo.

d) Adicional de Periculosidade
Tal modalidade é devida ao trabalhador que presta serviços em contato per-
manente com elementos inflamáveis ou explosivos. Quando se fala em contato
permanente, entende-se como diário. Esse adicional é de 30% sobre o salário do
empregado, sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou partici-
pações nos lucros da empresa. Caso esse adicional seja pago com habitualidade,
ele integrará as férias, 13° salário, aviso prévio, FGTS e indenização.

e) Adicional de Transferência
O adicional de transferência é devido ao trabalhador quando for transferido pro-
visoriamente para outro local, desde que importe mudança de sua residência.
Não é devido nas transferências definitivas. Esse adicional dura enquanto existir
o fato gerador, que é a transferência provisória, não incorporando-se ao salário.

DIREITO DO TRABALHO
151

• Comissões
É frequente, nos empregos de comércio, a retribuição com base em percentuais
sobre os negócios que o vendedor efetua. Percebendo o trabalhador apenas comis-
sões, não tendo salário fixo, o empregador deve assegurar ao mesmo pelo menos
um salário mínimo no mês em que as comissões não atingirem essa importância.

• Gratificações
Gratificações são liberalidades do empregador que pretende gratificar o empregado
por ocasião das festas de fim de ano. A gratificação pode ter várias finalidades:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

i) retributiva, de modo a remunerar o empregado pelo serviço prestado, seja de


maneira expressa ou tácita; ii) premial, ou de recompensa pelos serviços extras
prestados; iii) estimulante, de modo a fazer com o que o empregado produza
mais ou melhore sua produção (MARTINS, 2011).

Imagine: tenho uma empregada que se encontra no 5º mês de gestação.


Ela me comunicou da gestação assim que descobriu. Porém, em razão de
desídia, demito-a por justa causa. Tal situação poderia de fato acontecer?

Remuneração
152 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
FORMAS DE RESCISÃO DE CONTRATO DE
TRABALHO E DIREITOS DO EMPREGADO

A cessação do contrato de trabalho pode ser conceituada como o término do


negócio jurídico, ou seja, o fim da relação jurídica de emprego.
Antes do Projeto de Lei da Câmara nº 38 de 2017, a homologação de uma
rescisão contratual deveria ser feita no sindicato que representa a categoria de
empregados, chamada também de categoria econômica. Após a aprovação da
citada Reforma, a homologação pode ser feita na própria empresa, na presença
dos advogados do empregador e do empregado, que poderá ter a assistência do
sindicato. (BRASIL, 2017).
Classificação das Modalidades de Cessação do Contrato de Trabalho

a) Dispensa Sem Justa Causa


O empregador decide pôr fim ao vínculo de emprego, por meio do exercício
de direito considerado por parte dos doutrinadores como potestativo, que lhe
autoriza tal conduta, mesmo que o empregado não tenha incorrido em qual-
quer falta disciplinar.

DIREITO DO TRABALHO
153

A despedida sem justa causa, chamada também de arbitrária, gera ao tra-


balhador o direito de receber: aviso prévio; férias vencidas e proporcionais com
1/3; décimo terceiro salários vencidos e proporcionais; saldo salarial referente
aos dias trabalhados; indenização de 40% do FGTS; levantamento dos depósi-
tos do FGTS; guias do seguro-desemprego.

b) Dispensa Com Justa Causa


Ocorre quando o empregador decide pelo término do vínculo de emprego, por
meio do exercício de seu poder disciplinar, tendo em vista falta disciplinar pra-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ticada pelo empregado. O empregado tem direito a receber: férias vencidas com
1/3, décimo terceiro salário vencido, saldo salarial referente aos dias trabalhados.
A rescisão do contrato de trabalho por justa causa exige o estudo das diversas
hipóteses previstas em lei, vistas a seguir.

1ª) Ato de improbidade:


É quando o empregado tem uma conduta desonesta, causando prejuízos ao patri-
mônio do empregador.

2ª) Incontinência de conduta:


É um ato imoral praticado pelo empregado, mas específico quanto à moral sexual.
Até mesmo o assédio sexual praticado pelo empregado contra outro caracte-
riza, em tese, a incontinência de conduta, autorizando a dispensa por justa causa
daquele que assedia.

3ª) Mau procedimento:


Pode ser entendido como uma conduta irregular, faltosa e grave do empregado,
mas que não se enquadra em nenhuma das outras hipóteses mais específicas da lei.

4ª) Negociação habitual:


É a prática de atos de comércio pelo empregado, com frequência. Pode ser rea-
lizada por conta própria ou por conta de terceiro, ou seja, para si próprio ou em
favor de outra pessoa.

Formas de Rescisão de Contrato de Trabalho e Direitos do Empregado


154 UNIDADE IV

5ª) Condenação criminal do empregado transitada em julgado:


Se o empregado for condenado criminalmente por sentença transitada em jul-
gado, caso não haja a suspensão condicional da pena, o empregador poderá
dispensá-lo por justa causa.

6ª) Desídia:
Refere-se à falta de atenção, negligência, desinteresse e desleixo do empregado
quanto à prestação dos serviços.
É frequente a reiteração de pequenas faltas, as quais, no conjunto, revelam

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
comportamento desidioso e grave do empregado, autorizando a sua dispensa
com justa causa.

7ª) Embriaguez habitual ou em serviço:


Seria o estado em que a pessoa fica sem a plenitude dos seus sentidos, em razão
de ter ingerido ou consumido substâncias químicas que afetam o sistema ner-
voso, retirando, total ou parcialmente, a sua capacidade de controle sobre si.

8ª) Violação do segredo da tempresa:


Tal conduta deve acarretar prejuízo ao empregador. Assim, mesmo que o
empregado não chegue a divulgar o segredo da empresa, se a devassa em si, já é
potencialmente danosa ao empregador.

9ª) Ato de indisciplina:


Verifica-se quando o empregado não respeita, não acata, não cumpre ordens
gerais estabelecidas e dirigidas aos empregados da empresa como um todo.

10ª) Ato de insubordinação:


Também é um descumprimento de ordens, porém de natureza pessoal, dirigi-
das especificamente a um certo empregado, quanto à prestação dos serviços.

DIREITO DO TRABALHO
155

11ª) Abandono de emprego:


É a ausência contínua e prolongada ao serviço, mesmo estando em vigência o
dever de trabalhar.

12ª) Ato lesivo da honra ou boa fama em serviço:


Refere-se à conduta do empregado em serviço que viola direitos da personali-
dade, no caso, relacionados à imagem e à moral de qualquer pessoa.

13ª) Ofensas físicas em serviço:


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

É a agressão corporal perpetrada pelo empregado, no caso, contra qualquer pes-


soa – cliente, fornecedor, colegas de trabalho, superiores hierárquicos –, quando
isso ocorrer durante o serviço.

14ª) Ato lesivo da honra ou boa fama contra o empregador:


Nesse caso é específico contra o empregador ou superiores hierárquicos, podendo
ocorrer não só em serviço, mas em qualquer lugar, justamente em razão da con-
dição da pessoa ofendida.

15ª) Ofensas físicas contra o empregador:


A ofensa é praticada pelo empregado contra o empregador ou superiores hie-
rárquicos, podendo ocorrer não só no serviço, mas em qualquer localidade, em
razão da condição da pessoa lesada.

16ª) Prática constante de jogos de azar:


Havendo a prática constante de jogos de azar pelo empregado de forma reiterada,
de modo a acarretar prejuízo (direto ou indireto) ao trabalho, haverá a presença
de justa causa, autorizando a rescisão de seu contrato de trabalho.

17ª) Atos atentatórios à segurança nacional:


Eventuais atos faltosos do empregado, apresentando teor ilícito ou criminoso,
podem autorizar a dispensa com justa causa.

Formas de Rescisão de Contrato de Trabalho e Direitos do Empregado


156 UNIDADE IV

C) Culpa Recíproca
Ocorre quando se verificam condutas faltosas tanto do empregado quanto do
empregador. As faltas devem ser simultâneas, graves e conexas. Dessa forma, não
é tão frequente a verificação de culpa recíproca na prática, pois não se configura
em face de atos faltosos praticados, de forma autônoma, pelo empregado e pelo
empregador. Na culpa recíproca, são devidas férias vencidas com 1/3, décimo
terceiro salário vencido e saldo salarial, por se tratar de direitos já adquiridos.

D) Demissão

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Ela ocorre quando o empregado decide pelo término do vínculo de emprego,
avisando o empregador quanto a tal deliberação, não tendo de justificar a medida.
Nesse caso, o empregado tem direito a férias vencidas com 1/3; férias proporcio-
nais; décimo terceiro salário vencido; décimo terceiro salário proporcional; saldo
salarial referente aos dias trabalhados. O empregado tem o dever de comunicar
o empregador da referida decisão por meio do aviso prévio. Essa regra existia
antes da Reforma Trabalhista ser aprovada.
Com a aprovação da citada reforma, agora o contrato de trabalho poderá ser
extinto de comum acordo, com pagamento de metade do aviso prévio e metade
da multa de 40% sobre o saldo do FGTS. Ainda o empregado poderá movimen-
tar até 80% do valor depositado pela empresa na conta do FGTS, contudo, não
terá mais direito ao seguro-desemprego. (BRASIL, 2017)

E) Despedida Indireta
Caracteriza-se por deliberação do empregado, mas ela ocorre em razão de justa
causa praticada pelo empregador, tornando inviável ou indesejada a continui-
dade do vínculo de emprego. Aqui a falta grave é praticada pelo empregador, e
quem decide pôr fim ao contrato de trabalho é o empregado.
O empregado tem direito às verbas rescisórias equivalentes às da dispensa
sem justa causa, ou seja: aviso prévio; férias vencidas e proporcionais com 1/3;
décimo terceiro salário vencido e proporcional; saldo salarial referente aos dias
trabalhados; indenização de 40% do FGTS; levantamento dos depósitos do FGTS;
guias de seguro-desemprego.

DIREITO DO TRABALHO
157

F) Cessação do Contrato por Falecimento do Empregado


No caso de falecimento do empregado, há a cessação do contrato de trabalho.
Nesse caso, as verbas rescisórias passam a ser devidas aos dependentes ou suces-
sores do empregado.

G) Cessação do Contrato por Falecimento do Empregador Pessoa Física


Caso o empregador pessoa física faleça, mas não haja o encerramento das ativi-
dades da empresa, há autorização para o empregado pedir demissão, sem precisar
conceder aviso prévio. As verbas rescisórias a qual o empregado tem direito são:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

saldo salarial; férias vencidas e proporcionais; décimo terceiro salários venci-


dos e proporcionais. Para que possa ser sacado o saldo em conta vinculada do
FGTS, o falecimento do empregador individual deverá implicar rescisão do con-
trato de trabalho.

H) Extinção da Empresa pelo Falecimento do Empregador


O empregado tem direito às verbas rescisórias equivalentes às da dispensa sem
justa causa, ou seja: aviso prévio; férias vencidas e proporcionais com 1/3; décimo
terceiro salário vencido e proporcional; saldo salarial referente aos dias trabalha-
dos; indenização de 40% do FGTS; levantamento dos depósitos do FGTS; guias
de seguro-desemprego.

I) Cessação do Contrato de Trabalho por Consentimento das Partes


Ocorre quando o acordo judicial homologa a cessação do vínculo empregatício,
com previsão da respectiva baixa da CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência
Social), bem como do pagamento de verbas rescisórias, que serão pactuadas no
termo judicial.

J) Cessação do Contrato de Trabalho por Força Maior


Caso fortuito é o evento imprevisível; já força maior é o fato inevitável. A pri-
meira decorre de eventos imprevisíveis, sem que pudéssemos imaginar que ele
iria acontecer, enquanto a segunda é um evento decorrente da natureza.

Formas de Rescisão de Contrato de Trabalho e Direitos do Empregado


158 UNIDADE IV

Nesse caso, o empregado terá direito de receber: saldo salarial; férias ven-
cidas e proporcionais com 1/3; décimo terceiro salários vencido e proporcional;
indenização compensatória de 20% do FGTS; saque dos depósitos do FGTS;
guias do seguro-desemprego.

L) Cessação do Contrato de Trabalho por Tempo Determinado


Nesse caso, o empregado tem direito a aviso prévio; indenização de 40% do
FGTS; saque dos depósitos do FGTS; férias vencidas e proporcionais com 1/3;
décimo terceiro salário vencido e proporcional, saldo salarial e guias do segu-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ro-desemprego. Se o empregado é quem se desliga, sem justa causa, terá direito
a saldo salarial; férias vencidas e proporcionais com 1/3 e décimo terceiro salá-
rios vencidos e proporcionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) aluno(a), esta unidade tratou sobre como a legislação trabalhista é divi-
dida e suas principais observâncias. O que são os princípios do Direito, o que
se aplica no dia a dia dos que necessitam do amparo legal para executarem suas
atividades. Dizer que esses conhecimentos são suficientes ou são receitas pron-
tas para o seu sucesso como gestor não é o objetivo, visto que seria impossível
tratar desse assunto com profundidade. Entretanto, espera-se ter despertado
curiosidades e a vontade de compreender a prática, contribuindo com a Justiça.
Estudamos os sujeitos que fazem parte da relação de emprego: empregado e
empregador. O primeiro é a parte mais frágil da relação, sendo necessário, para
a sua caracterização, que seja pessoa física, que não preste serviços eventual-
mente, que dependa do empregador, inclusive mediante pagamento de salário
pelo serviço prestado, sendo que este deve ser de forma pessoal, não podendo
outra pessoa realizar o trabalho em seu lugar.

DIREITO DO TRABALHO
159

Visto isso, analisamos alguns empregados específicos que, além das caracterís-
ticas citadas anteriormente, possuem características próprias para a configuração
da sua relação como empregado. Estudamos ainda alguns trabalhadores que são
de relevância para o Direito do Trabalho, mesmo não sendo considerados empre-
gados propriamente ditos.
A seguir, passamos a estudar o empregador, que pode ser tanto pessoa física
quanto pessoa jurídica. Ele assume os riscos do contrato de trabalho. Definidas
as partes do contrato de trabalho, demonstramos a diferença entre remunera-
ção e salário para o Direito do Trabalho. A partir dessa definição, analisamos as
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

várias formas de salário existentes, podendo o empregador escolher de acordo


com a função do empregado ou com o que for melhor para ambas as partes.
Por fim, estudamos as formas especiais de salário, que são os adicionais,
comissões e gratificações, pagos ao empregado de acordo com o trabalho realizado
por ele. Além disso, vimos que cada uma das verbas deve ser paga corretamente
ao empregado, impedindo assim que o mesmo não ingresse com uma ação para
uma eventual cobrança e enquadramento de função.

Considerações Finais
160

1. Para se definir a jornada de trabalho no Direito do Trabalho, faz-se necessário a


análise de três teorias diferentes: do tempo efetivamente trabalhado, do tempo
à disposição do empregador e do tempo in itinere. A partir do estudo desses
teorias, conclui-se que no direito brasileiro, a teoria, em regra geral, adotada é do
tempo à disposição do empregador. No que diz respeito a jornada de traba-
lho, assinale a alternativa incorreta, de acordo com a CLT.
a) Não excedente de seis horas o trabalho, será facultado um intervalo de quinze
minutos quando a duração ultrapassar quatro horas.
b) É assegurado a todo empregado um descanso semanal de vinte e quatro horas
consecutivas.
c) Entre duas jornadas de trabalho haverá um período mínimo de onze horas
consecutivas para descanso.
d) Os intervalos de descanso não serão computados para a duração do trabalho.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

2. Marines dos Santos foi contratada como empregada de uma indústria de cos-
méticos. Quando foi chamada para assinar o contrato de trabalho, o horário que
constava no mesmo era das 7hs às 17hs, com 1 hora de intervalo. Contudo, no
final do ano, devido ao aumento da produção, Marines precisou trocar sua jor-
nada de trabalho por dois dias da semana, para das 17hs às 1hs do dia seguinte,
permanecendo com uma 1 hora de intervalo, retornando ao trabalho normal-
mente assim que foi completado o quadro de funcionários da empresa. Nessa
situação hipotética, assinale a alternativa correta.
a) Quanto ao cumprimento da jornada, ela foi devidamente cumprida. Por essa
razão, Marines não tem nenhum direito relacionado a troca de horário.
b) Com relação ao trabalho realizado na semana em que foi necessária a troca
de turno, Marines tem direito ao pagamento de horas extras por não ter sido
observado o seu intervalo determinado por lei.
c) Em verdade, é devido o pagamento de adicional noturno, por ter sido realiza-
do o trabalho no período da noite.
d) Na realidade Marines não tem direito nem a adicional noturno nem ao paga-
mento de horas extras pois realizou sua atividade normalmente.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.
161

3. A jornada de trabalho pode ter denominações diferentes, como duração de tra-


balho e horário de trabalho. A jornada de trabalho são as horas de um dia de
trabalho. Em verdade, são computados na jornada de trabalho não só o tempo
efetivamente trabalhado, mas também o tempo à disposição do empregador.
Para se compreender a jornada de trabalho deve se analisar as teorias existentes
sobre o tema. Sobre as teorias existentes com relação a jornada de trabalho,
assinale a alternativa correta:
a) Na teoria do tempo efetivamente trabalhado, são consideradas todas as para-
lisações do empregado.
b) Na teoria do tempo à disposição do empregador, são consideradas para a jor-
nada de trabalho a partir do momento em que o empregado chega para pas-
sar o cartão ponto.
c) Na teoria do tempo in itinere, será considerado como tempo trabalhado desde o
momento em que o empregado sai de sua residência até quando retorna a ela.
d) No Direito do Trabalho não é admitido um sistema híbrido, sendo adotada so-
mente a teoria do tempo à disposição do empregador.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

4. A cessação do contrato de trabalho ou também chamada de rescisão pode ser


conceituada como o término do negócio jurídico, ou seja, o fim da relação jurídi-
ca de emprego. A rescisão do contrato pode acontecer de várias formas. Sobre
essas formas de término do contrato de trabalho, assinale a alternativa cor-
reta.
a) A negociação habitual somente se configura como justa causa se importar em
atos de concorrência com o empregador.
b) O elemento dolo pode estar presente na ocorrência de desídia, embora não
seja indispensável à caracterização desta falta.
c) Não tipifica falta grave o fato de o trabalhador deixar de cumprir ordens cuja
execução lhe possa acarretar sério risco à integridade física.
d) O empregado contratado como motorista e que se recusa a trabalhar como
vigia do estabelecimento comete falta grave.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.
162

5. O repouso semanal remunerado é o período em que o empregado deixa de


prestar serviços. Esse repouso acontece uma vez por semana, preferencialmente
aos domingos e nos feriados, mas o empregado receberá uma remuneração. É
um direito do empregado e que deve ser observado pelo empregador. Sobre o
repouso semanal remunerado, assinale a alternativa correta.
a) O valor percebido pelo repouso semanal remunerado não possui natureza sala-
rial, mas sim indenizatória ao empregado, pelo fato do mesmo permanecer um
dia sem trabalhar e podendo sofrer um prejuízo no exercício da sua atividade
laboral.
b) Segundo o art. 7º, inciso XV da Constituição Federal, obrigatoriamente, o descan-
so semanal remunerado deve ser aos domingos.
c) O trabalho, para as atividades ligadas ao comércio, não podem ser permitidas
aos domingos nem feriados, ainda que haja uma convenção coletiva ou um acor-
do coletivo com tal previsão.
d) Caso exista labor no dia de descanso semanal remunerado, sem folga compen-
satória, o empregado também fará jus à remuneração em dobro, sem o prejuízo
da remuneração relativa ao repouso semanal.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.
163

FGTS agora é obrigatório para trabalhadores domésticos.


O recolhimento de valores relativos ao Fundo de Garantia do Tempo Serviço (FGTS) para
os trabalhadores domésticos passou a ser obrigatório a partir de 1º de outubro. A medi-
da está prevista na chamada PEC das Domésticas, aprovada em 2013 e regulamentada
por lei sancionada pela presidenta Dilma Rousseff em junho de 2015. Com as mudanças,
estabeleceu-se a igualdade de direitos e os trabalhadores domésticos passaram a contar
com hora extra, seguro-desemprego, adicional noturno e a indenização em caso de de-
missão sem justa causa, entre outros.
O empregador deverá consultar o portal eSocial na internet para se cadastrar e cadastrar
o trabalhador doméstico. O eSocial é um projeto do governo federal que vai unificar o
envio de informações pelo empregador em relação aos seus empregados. Para evitar
problemas na hora da inclusão dos dados, a Receita recomenda que o empregador aces-
se o módulo “Consulta Qualificação Cadastral” no portal.
Outra novidade é o Simples Doméstico, mas que só será liberado a partir do dia 26 de
outubro no site do eSocial. O sistema permitirá, mediante uma guia única, o recolhimen-
to dos benefícios.
De acordo com a lei, os patrões terão de recolher de 8% a 11% de contribuição previ-
denciária, de responsabilidade do empregado, dependendo do salário, 8% de contribui-
ção patronal previdenciária para a seguridade social, a cargo do empregador, 0,8% de
contribuição social para financiamento do seguro contra acidentes do trabalho, 8% de
recolhimento para o FGTS e 3,2% para o fundo de demissão por justa causa.
Confira as principais orientações para utilizar o novo sistema do governo federal:
- O que é Simples Doméstico?
A Lei Complementar nº 150/2015 determinou a implantação do Simples Doméstico, que
define um regime unificado para pagamento de todos os tributos e demais encargos, in-
clusive o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O recolhimento do FGTS para
os trabalhadores domésticos é obrigatório a partir de 1º de outubro. A competência de
outubro deverá ser recolhida até 06 de novembro, na Guia Única (DAE), com os demais
encargos e tributos. A competência de setembro será quitada pelo empregador até 07
de outubro, utilizando o sistema antigo.
- O que é eSocial?
O eSocial é um projeto do governo federal que vai unificar a prestação de informações
pelo empregador em relação aos seus empregados. O Sistema de Escrituração Digital
das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas é gerido pela CAIXA, INSS, MPS,
MTE e RFB.
- O que é eSocial para o empregador doméstico?
O Simples Doméstico prevê a criação de um sistema eletrônico, no qual o empregador
164

doméstico deverá informar as obrigações trabalhistas, previdenciárias, fiscais, de apura-


ção de tributos e do FGTS. O eSocial para o empregador doméstico é uma solução web,
para prestação de informação simplificada e on-line por meio do endereço www.esocial.
gov.br <http://www.esocial.gov.br>. Esse sistema estará disponível dentro do portal do
eSocial.
- O que é Módulo do Empregador Doméstico?
O Módulo faz parte do sistema eSocial, sistema que futuramente abrangerá todas as
pessoas jurídicas ou pessoas físicas que contratam trabalhadores.
- Como efetuar o cadastro do empregado doméstico?
O cadastro do empregador e do empregado é a primeira providência a ser adotada pelo
empregador. Já na primeira quinzena de outubro, o empregador poderá cadastrar to-
dos os seus trabalhadores domésticos no portal do eSocial, inclusive aqueles que foram
admitidos antes de 1º de outubro de 2015 e que continuam vinculados ao empregador
doméstico. A qualquer momento, na tela de Gestão de Trabalhadores, o empregador
poderá clicar no botão “Cadastrar/Admitir” para incluir novos empregados.
- Quais os prazos para cadastro de trabalhadores ativos?
Os trabalhadores domésticos ativos, no mês de outubro de 2015, deverão ser cadas-
trados no sistema até o fechamento da folha de pagamentos da competência 10/2015
(prazo limite em 06/11/2015). Para trabalhadores domésticos contratados a partir do dia
1º de outubro de 2015, o registro no sistema eSocial deverá ocorrer até o dia imediata-
mente anterior à admissão.
Fonte: BRASIL (2015, on-line)1.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Direito do Trabalho (2011)


Sérgio Pinto Martins
Editora: Atlas
Sinopse: a presente obra expõe, de forma didática, objetiva
e prática o programa completo do Direito do Trabalho, com
base na Constituição Federal, nas leis, tratados e convenções
vigentes. O autor não só discute os temas propostos, indicando
posições jurisprudenciais, como também propõe soluções para
os problemas do dia a dia das empresas e dos sindicatos na
aplicação da legislação trabalhista.

Para saber como fazer os cálculos necessários no caso de rescisão de contrato,


assista ao vídeo disponível no endereço: <http://www.youtube.com/
watch?v=lxG0vUKOUGs>.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

ADAMOVICH, E. R. V. Comentários à CLT – Consolidação das Leis do Trabalho: acom-


panhados de legislação complementar. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010.
BARROS, A. M. Curso de direito do trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2011.
BRASIL. Decreto-Lei n. 5452, de 1º de maio de 1943. CLT. Aprova a Consolidação
das Leis do Trabalho. Diário Oficial [dos] Estados Unidos do Brasil, Poder Executivo,
Rio de Janeiro, DF, 9 ago. 1943.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Bra-
sília-DF. Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
BRASIL. Projeto de Lei da Câmara nº 38 de 2017 - Reforma Trabalhista. Brasília-
-DF. Senado Federal. Disponível em <http://www25.senado.leg.br/web/atividade/
materias/-/materia/129049>. Acesso em: 01 ago. 2017.
BRITO FILHO, J. C. M. Direito sindical. São Paulo: LTr, 2007.
DELGADO, M. G. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2011.
GARCIA, G. F. B. Curso de direito do trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
MARTINS, S. P. A continuidade do contrato de trabalho. São Paulo: Atlas, 2000.
______. Comentários à CLT. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
______. Direito do Trabalho. 26. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
MEIRELLES, H. L. Direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 2001.
MELLO, C. A. B. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 2006.
NASCIMENTO, A. M. Curso de direito do trabalho. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
______. Iniciação ao Direito do Trabalho. 36. ed. São Paulo: LTr, 2011.

Referência on-line:

1
Em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/10/fgts-e-obrigatorio-
-para-domesticos-a-partir-de-hoje-saiba-mais>. Acesso em: 21 mar. 2017.
167
GABARITO

1) A
2) B
3) C
4) C
5) D
MATERIAL COMPLEMENTAR

Direito do Trabalho
Sérgio Pinto Martins
Editora: Atlas
Sinopse: a presente obra expõe, de forma didática,
objetiva e prática o programa completo do Direito
do Trabalho, com base na Constituição Federal, nas
leis, tratados e convenções vigentes. O autor não
só discute os temas propostos, indicando posições
jurisprudenciais, como também propõe soluções para
os problemas do dia a dia das empresas e dos sindicatos
na aplicação da legislação trabalhista.

Para saber como fazer os cálculos necessários no caso de rescisão de contrato, assista ao vídeo
disponível no endereço: <http://www.youtube.com/watch?v=lxG0vUKOUGs>.
Professora Me. Mariane Helena Lopes

V
UNIDADE
DIREITO DO CONSUMIDOR

Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender o Direito do Consumidor.
■ Conhecer a importância do ramo estudado.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Finalidade
■ Objetivo
■ Princípios do Direito do Consumidor
■ Consumidor
■ Fornecedor
■ Responsabilidade civil nas relações de consumo
■ Responsabilidade pelo vício do produto e do serviço
171

INTRODUÇÃO

Nesta unidade, analisaremos alguns tópicos do Direito do Consumidor. Tal


área merece importância no nosso estudo por tratar sobre a relação entre for-
necedor e consumidor. Essa relação, antes da existência do Código de Defesa
do Consumidor, era tumultuada e a parte mais fraca dela, diga-se consumidor,
sempre saía prejudicada, pois o fornecedor tentava e, muitas vezes, conseguia se
beneficiar do desconhecimento do consumidor sobre a relação, pois não havia
uma proteção legal.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Sendo assim, o Direito do Consumidor veio para proteger essa parte mais
fraca, visando regulamentar a relação entre consumidor e fornecedor, bem como
os direitos básicos previstos no instrumento legal, analisando as formas de res-
ponsabilização pelos vícios apresentados pelo produto ou serviço. Além disso,
o Direito do Consumidor também serve para mostrar a importância do mesmo
em conhecer os produtos e serviços que adquire, proporcionando um melhor
uso do que se tem disponível.
Verificaremos então quais são os direitos básicos do consumidor, bem como
de que forma o indivíduo é caracterizado como consumidor e fornecedor. Veremos
que o consumidor pode ser até mesmo uma pessoa jurídica, desde que seja o
receptor final do produto. Analisaremos também que o Direito do Consumidor
possui princípios específicos e que procuram proteger o indivíduo em toda a
sua insuficiência econômica e técnica, possibilitando que o mesmo tenha uma
proteção maior do que o fornecedor, visto que este possui toda a tecnologia e o
poder aquisitivo a seu alcance. Dessa forma, a relação entre consumidor e for-
necedor acontecerá de forma justa para ambas as partes.
Por fim, conheceremos as formas de responsabilização por danos causados
nas relações de consumo, seja por um vício no produto ou serviço, ou por um
erro com relação à quantidade e qualidade.
Bons estudos!

Introdução
172 UNIDADE V

FINALIDADE

Por conta da massificação da produção, do consumo e da contratação, o con-


sumidor passou a ficar em desvantagem, pois, à medida que o fornecedor se
fortaleceu, tanto técnica quanto economicamente, o consumidor teve o seu poder
de escolha enfraquecido, quase eliminado. Por não ter mais acesso ao fabricante,
o consumidor acabou ficando submisso aos contratos de adesão. Acabou se
instalando um acentuado desequilíbrio ou desigualdade de forças entre produ-
tores e distribuidores, por um lado, e consumidores, por outro. O consumidor

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
se tornou vulnerável em face do fornecedor, sendo ela técnica, fática e jurídica
(CAVALIERI FILHO, 2011).
A vulnerabilidade é um requisito essencial para a formulação de um con-
ceito de consumidor; está na origem da elaboração do Direito do Consumidor,
sendo a espinha dorsal que sustenta toda a sua filosofia. Sendo assim, reconhe-
ce-se a desigualdade existente, buscando estabelecer uma igualdade real entre
as partes nas relações de consumo.

DIREITO DO CONSUMIDOR
173

OBJETIVO

O objetivo do Direito do Consumidor está expresso em seu art. 4º, demonstrando


que a ideia foi implantar uma Política Nacional de Consumo, uma disciplina jurí-
dica única e uniforme, por meio de normas de ordem pública e interesse social.
Para Fábio Konder Comparato (1974, p. 15)
A defesa do consumidor é, indubitavelmente, um tipo de princípio-
-programa, tendo por objeto uma ampla política pública. A expressão
política nacional designa um programa de ação de interesse público.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Como todo programa de ação, a política pública desenvolve uma ativi-


dade, isto é, uma série organizada de ações, para a consecução de uma
finalidade, imposta na lei ou na Constituição. A imposição constitu-
cional ou legal de políticas é feita, portanto, por meio das chamadas
“normas-objetivo”.

Contudo, essa Política Nacional de Consumo não tem caráter paternalista, tam-
pouco de ilimitado favoritismo do consumidor. Essa é uma visão equivocada que
tem levado muitos a apontar o Código como um elemento desestabilizador do
mercado, ou como ditadura do consumidor, entre outros. Em verdade, a política
normativa traçada pelo CDC desenvolve um projeto de ação destinado a alcan-
çar a harmonia das relações de consumo (CAVALIERI FILHO, 2011).
De acordo com Humberto Theodoro Júnior (2002, p. 2),
O jurista, portanto, ao interpretar o Código de Defesa do Consumidor
não pode deixar de enfocá-lo em todas as suas dimensões: não pode
tê-lo como se fosse somente uma declaração paternalista em prol de
contratantes incapazes de autogerirem seus próprios negócios. Da boa
e correta aplicação das leis de consumo depende o desenvolvimento
econômico e social que está por trás das relações de mercado e de cujo
êxito pressupõe o progresso da sociedade brasileira como um todo.

O que podemos perceber é que estamos diante de um instrumento jurídico pode-


roso, sendo o uso dele o problema. Tal arma deve ser efetiva, ou seja, tem de
cumprir o seu papel de proteger e defender quem a porta. O Código de Defesa
do Consumidor só existe por conta do consumidor ser vulnerável, ou seja, ele
é o sujeito mais fraco da relação jurídica de consumo, sendo exposto a ofensas
e agressões.

Objetivo
174 UNIDADE V

PRINCÍPIOS DO DIREITO DO CONSUMIDOR

O princípio significa início, começo, ponto de partida de algo. Com base nos
princípios, pode-se iniciar uma análise do ordenamento jurídico, se aferindo
para onde ele norteia. A partir dessa ideia de princípio, passaremos a estudar
aqueles que são pertinentes para o Direito do Consumidor.

PRINCÍPIO DA BOA-FÉ

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Com o Código de Defesa do Consumidor, o termo boa-fé passou a ser utilizado
com uma nova e moderna significação, indicando os valores éticos que estão à
base da sociedade organizada e desempenham uma função de sistematização da
ordem jurídica. Seria a chamada boa-fé objetiva.
Na lição de Cláudia Lima Marques (2006, p. 216), a boa-fé objetiva
Significa atuação refletida, uma atuação refletindo, pensando no outro,
no parceiro contratual, respeitando-o, respeitando seus interesses legí-
timos, suas expectativas razoáveis, seus direitos, agindo com lealdade,
sem abuso, sem obstrução, sem causar lesão ou desvantagem excessiva,
cooperando para atingir o bom fim das obrigações: o cumprimento do
objetivo contratual e a realização dos interesses das partes.

Percebe-se assim que a boa-fé passou a ser considerada como um cinto de segu-
rança da ordem jurídica.

PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA

O art. 4º, caput do CDC estabelece – “bem como a transparência e harmonia


das relações de consumo” – o princípio da transparência filiado ao da boa-fé.
A principal consequência desse princípio é, de um lado, o dever de informar
do fornecedor e, de outro, o direito à informação do consumidor. Isso implica
a proibição da criação artificial de barreiras à informação, com intuito de ocul-
tar desvantagens para o outro ou, ainda, forjar uma enganosa valorização das

DIREITO DO CONSUMIDOR
175

vantagens que o contrato poderá proporcionar (CAVALIERI FILHO, 2011).


Nota-se que aqui fica evidente a proibição da publicidade enganosa.
Contudo, a transparência não significa apenas um dever negativo do forne-
cedor, mas também um conjunto diversificado de deveres procedimentais que
recaem sobre aqueles que fornecem produtos e serviços no mercado de consumo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Muitas vezes escutamos que determinada propaganda foi tirada de circula-


ção devido ao seu conteúdo ou a forma como foi feita. Isso ocorre porque
algum grupo de indivíduos foi ofendido, prejudicado, ou até mesmo porque
o produto ou serviço descrito não faz o que promete.
Para saber mais sobre propagandas enganosas e conhecer alguns casos de
propagandas que também foram assim consideradas, leia o texto disponível
no seguinte link: <http://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noti-
cia/2013/07/coca-cola-vivo-e-tim-sao-multadas-por-publicidade-engano-
sa.html>.

PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE

Tal princípio está expresso no art. 4º, I do CDC, sendo considerado estrutu-
rante do Direito do Consumidor. Nas relações de consumo, o sujeito vulnerável
é aquele que pode ser prejudicado, ofendido, frágil, ou pode ser atacado. Esse é
o consumidor. Tais características mostram que o consumidor não ostenta os
mecanismos de controle do processo produtivo (produção, distribuição, comer-
cialização) e dele participando apenas em sua última etapa, que é o consumo.
Para Thereza Arruda Alvim e James Martins Eduardo Alvim (1995, p. 45):
A vulnerabilidade é qualidade intrínseca, ingênita, peculiar, imanente e
indissolúvel de todos que se colocam na posição de consumidor, pouco
importando sua condição social, cultural ou econômica [...]. É incin-
dível do contexto das relações de consumo, não admitindo prova em
contrário por não se tratar de mera presunção legal.

Princípios do Direito do Consumidor


176 UNIDADE V

Percebe-se assim que a vulnerabilidade é um estado da pessoa, uma situação


permanente ou provisória que fragiliza o consumidor. Todavia, a vulnerabili-
dade não pode ser confundida com a hipossuficiência. Na distinção traçada por
Antonio Herman Benjamim (2004, p. 371),
A vulnerabilidade é um traço universal de todos os consumidores, ri-
cos ou pobres, educados ou ignorantes, crédulos ou espertos. Já a hi-
possuficiência é marca pessoal, limitada a alguns – até mesmo a uma
coletividade – mas nunca a todos os consumidores. A vulnerabilidade
do consumidor justifica a existência do Código. A hipossuficiência, por
seu torno, legitima alguns tratamentos diferenciados no interior do

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
próprio Código, como, por exemplo, a previsão de inversão do ônus da
prova – art. 6º, VIII.

Nota-se que a hipossuficiência é um agravamento da situação de vulnerabilidade,


ou seja, mais qualificada. Assim, além de vulnerável, o consumidor se vê numa
situação de carência cultural, material ou ambas. A hipossuficiência está mais
ligada a aspectos processuais. O Código de Defesa do Consumidor empregou
tal expressão só para as hipóteses de inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII),
sendo determinada pelo juiz em face do caso concreto.
O CDC trata de maneira desigual o consumidor, não para conferir privilégios
ou vantagens indevidas, mas prerrogativas legais para que se atinja o desiderato
constitucional da igualdade real (CAVALIERI FILHO, 2011).

DIREITO DO CONSUMIDOR
177

CONSUMIDOR
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O art. 2º do CDC prevê que “o consumidor é toda pessoa física ou jurídica que
adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. A única caracte-
rística restritiva é a expressão “destinatário final”. As características marcantes
do consumidor são (CAVALIERI FILHO, 2011):
a. Posição de destinatário fático e econômico quando da aquisição de um
produto ou da contratação de um serviço: não está incluído no conceito
de consumidor padrão.
b. Aquisição de um produto ou a utilização de um serviço para suprimento
de suas próprias necessidades, de sua família, ou dos que se subordinam
por vinculação doméstica ou protetiva a ele, não desenvolvendo outra
atividade negocial.
c. Não profissionalidade entendida, como regra geral, a aquisição ou a uti-
lização de produtos ou serviços sem querer prolongar o ciclo econômico
desses bens ou serviços no âmbito de um comércio ou de uma profissão.

Consumidor
178 UNIDADE V

d. Vulnerabilidade em sentido amplo (técnica, jurídica ou científica, fática ou


socioeconômica e psíquica), ou seja, o consumidor é reconhecido como
a parte mais fraca da relação de consumo.

E a pessoa jurídica? Pode ser considerada uma consumidora? Para que tal ques-
tionamento se torne uma afirmação, a pessoa jurídica deve ostentar a mesma
característica que marca o consumidor pessoa física, que seria a vulnerabilidade.
Posteriormente, é preciso que os bens adquiridos por ela sejam bens de consumo
e que a pessoa jurídica esgote a sua destinação econômica.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
FORNECEDOR

O outro sujeito da relação de consumo é o fornecedor. O art. 3º do CDC dis-


põe que:
fornecedor é toda a pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacio-
nal ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desen-
volvem atividades de produção, montagem, criação, construção, trans-
formação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.

Pode-se perceber que o conceito jurídico de fornecedor é muito mais amplo


do que consumidor. Dessa forma, pode-se equiparar a fornecedor os entes des-
personalizados, ou seja, aquelas entidades despidas de personalidade jurídica.
Um exemplo seria a massa falida de determinado fornecedor de produtos ou de
determinado prestador de serviços.

DIREITO DO CONSUMIDOR
179

O ART. 6º DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Os direitos básicos do consumidor estão arrolados no art. 6º do CDC. Tal rol


não é exaustivo, ou seja, podem existir outros direitos diferentes dos que estão
elencados no artigo supracitado. A conclusão de Hélio Zaghetto Gama (2004)
é correta ao afirmar que os direitos básicos do consumidor, tal como elencados
no art. 6º do CDC, são as linhas mestras do ideal a ser seguido na proteção de
certas garantias instrumentais mínimas, sendo capazes de conferir efetividade
à tutela jurídica do consumidor.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

PROTEÇÃO DA INCOLUMIDADE FÍSICA DO CONSUMIDOR:


DIREITO À SEGURANÇA (ART. 6º, I)

O consumidor tem o fundamental direito à proteção de sua vida, de sua saúde


e de sua segurança contra os riscos do fornecimento de produtos e/ou de servi-
ços considerados como perigosos ou nocivos. Ao garantir a incolumidade física
do consumidor, o CDC criou para o fornecedor o dever de segurança, ou seja,
não basta que os produtos ou serviços sejam adequados aos fins a que se des-
tinam, eles precisam ser seguros. Assim, pelo princípio da prevenção, o CDC
procura garantir que os produtos e serviços colocados no mercado de consumo
não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto aqueles
que apresentam risco inerente (CAVALIERI FILHO, 2011).

DIREITO À EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO (ART. 6º, II)

O direito à educação para o consumo busca aumentar os níveis de conhecimento


e de informação do consumidor, aumentando o poder de reflexão e de formu-
lação de um juízo crítico sobre a oportunidade e a conveniência da contratação.
Tal direito envolve dois aspectos: formal e informal. No primeiro, desenvolvem-
-se tais níveis de conhecimento e informação por meio de políticas de inserção

FORNECEDOR
180 UNIDADE V

de temas relacionados ao direito do consumidor nos currículos escolares, desde


o ensino fundamental, em escolas públicas e privadas. Já o segundo diz respeito
aos veículos de comunicação em massa, bem como as mídias de comunicação
social e/ou institucional, com o objetivo de prestar informações, orientações e/
ou esclarecimentos aos consumidores (CAVALIEIRI FILHO, 2011).

DIREITO À INFORMAÇÃO (ART. 6º, III)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Esse é um dos mais importantes. Tal direito é um reflexo ou consequência do
princípio da transparência, encontrando-se umbilicalmente ligado ao princípio
da vulnerabilidade. Assim, pode-se dizer que o direito à informação é um ins-
trumento de igualdade e de reequilíbrio da relação de consumo. Isso porque o
consumidor não tem conhecimento algum sobre o produto ou serviço de que
necessita, pois quem é o detentor desse conhecimento é o fornecedor, por ter
um total conhecimento do processo produtivo. Uma outra característica é ele ter
por finalidade garantir ao consumidor o exercício de outro direito ainda mais
importante, o de escolher conscientemente. Tal escolha propicia ao consumi-
dor diminuir os riscos e alcançar suas legítimas expectativas. Por fim, a terceira
característica é a sua abrangência, fazendo-se presente em todas as áreas de con-
sumo, atuando desde antes da formação da relação de consumo, durante e até
depois do seu exaurimento, de acordo com o próprio CDC.

O CONTROLE DA PUBLICIDADE (ART. 6º, IV, PRIMEIRA PARTE)

O direito do consumidor proporcionou como direito básico a proteção contra a


publicidade enganosa e/ou abusiva, firmando o entendimento de que o princípio
da boa-fé antecede a prática de qualquer relação jurídica de consumo. Devem
imperar nessa relação a ética, a honestidade, a lealdade, a transparência e o res-
peito ao consumidor, mesmo que na fase pré-contratual ou extracontratual.

DIREITO DO CONSUMIDOR
181

O CDC confere um novo tratamento à publicidade, começando pela sua força


vinculante, ou seja, qualquer informação ou publicidade relacionada a produtos
ou serviços obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar a cumprir
com o que foi colocado na publicidade, independentemente da forma ou do veí-
culo de comunicação, passando a fazer parte integrante do contrato que vier a
ser celebrado (CAVALIERI FILHO, 2011).
A publicidade enganosa é aquela que contém informação total ou parcial-
mente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo que por omissão, seja capaz
de induzir o consumidor a erro (art. 37, § 3º, CDC). Já a publicidade abusiva é
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

aquela agressiva, desrespeitosa e discriminatória, que incita à violência, explorando


o medo ou a superstição, que se aproveita da vulnerabilidade e da inexperiên-
cia da criança, que violente valores sociais e/ou ambientais, ou que seja capaz de
induzir o consumidor a se comportar de maneira prejudicial ou perigosa a sua
saúde e/ou segurança (art. 37, §2º, CDC).
A sistemática protetiva do consumidor também veda a publicidade subli-
minar, na medida em que não é facilmente perceptível e o consumidor não tem
a noção de que está sendo induzido ao ato de consumo.

PROTEÇÃO CONTRA AS PRÁTICAS E CLÁUSULAS ABUSIVAS


(ART. 6º, IV, PARTE FINAL)

Deve ser considerado como abusivo tudo aquilo que afronta a principiologia e
a finalidade do sistema protetivo do consumidor, bem como que se relacione
à noção de abuso do direito (art. 187, Código Civil c/c art. 7º, caput, CDC),
valendo tanto para a relação fornecedor-consumidor quanto para a relação dos
fornecedores, entre si.
Os referidos comportamentos são considerados ilícitos, não havendo neces-
sidade de que o consumidor seja efetivamente lesado ou, até que se sinta lesado,
como o caso de um cartão de crédito recebido sem a solicitação. Os artigos 39,
40 e 41 descrevem algumas práticas consideradas abusivas, não esgotando o rol
como enquadráveis, ou seja, podem existir outras formas de publicidade abu-
siva além das que estão previstas no CDC.

FORNECEDOR
182 UNIDADE V

MODIFICAÇÃO E REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS: A


LESÃO ENORME E A QUEBRA DA BASE DO NEGÓCIO JURÍDICO
(ART. 6º, V)

O art. 6º, V do CDC prevê duas formas de intervenção do Estado nos contratos,
ao prever que é direito básico do consumidor “a modificação das cláusulas con-
tratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão
de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas”.
No primeiro caso, a intervenção decorre de uma lesão congênere, ou seja,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da existência de cláusulas abusivas, desde o momento da celebração do contrato.
Já no segundo caso, a intervenção decorre de superveniente e excessiva onero-
sidade, ou seja, embora não se questione a validade das cláusulas contratuais,
hígidas e perfeitas, fato posterior à formação do negócio jurídico rompe com o
equilíbrio econômico-financeiro daquela relação jurídica, necessitando assim
da intervenção judicial para restaurá-lo (CAVALIERI FILHO, 2011). Assim, na
relação contratual, devem imperar a harmonia de interesses e o equilíbrio entre
as prestações, nem que para isso deva intervir o Estado.

EFETIVA PREVENÇÃO E REPARAÇÃO DE DANOS (ART. 6º, VI)

Tal dispositivo realça dois aspectos relevantes: prevenção e reparação de danos ao


consumidor. Para que seja garantida ao consumidor efetiva prevenção e reparação
de danos, o CDC implantou um moderno e avançado sistema de responsabili-
dade civil. Estabeleceu-se uma responsabilidade objetiva – independentemente
de culpa – para o fornecedor de produtos e serviços, tendo como fundamento
os princípios da prevenção, informação e segurança.
A reparação por danos pode ser de natureza material ou moral. Para a repa-
ração de danos materiais, é necessária a comprovação de sua ocorrência e a sua
extensão. Já com relação aos danos morais, a sua indenização não deve consti-
tuir meio de locupletamento indevido do lesado, necessitando ser arbitrada com
moderação e prudência pelo julgador.

DIREITO DO CONSUMIDOR
183

FACILITAÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA E À ADMINISTRAÇÃO


(ART. 6º, VII)

Tal artigo garante ao consumidor o acesso aos órgãos judiciários e administrati-


vos, tanto para a prevenção quanto para a obtenção de reparação de danos, sejam
eles patrimoniais ou morais, individuais, coletivos ou difusos.
Para que o consumidor tenha acesso à justiça, deve observar o art. 5º do CDC,
tornando assim possível a possibilidade de representação junto às Promotorias
de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério Público; registrar
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ocorrências em delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumi-


dores vítimas de infrações penais de consumo; reclamar junto aos PROCONS,
Comissões e/ou Conselhos de Defesa do Consumidor; apresentar denúncia às
agências reguladoras; ajuizar ações perante os Juizados Especiais e/ou varas
Especializadas para a solução de litígios de consumo. Ou seja, caso o consu-
midor tenha algum problema com relação ao consumo de algum produto ou
serviço, estas são as medidas que ele deve tomar para ter o seu direito cumprido.

FACILITAÇÃO DA DEFESA DOS INTERESSES DOS


CONSUMIDORES (ART. 6º, VIII)

Aos direitos materiais fundamentais devem corresponder às garantias proces-


suais indispensáveis à sua efetivação. Os direitos materiais tornam-se normas
programáticas, promessas não cumpridas, sem realidade prática na vida do con-
sumidor (CAVALIERI FILHO, 2011).
Essa facilitação decorre do reconhecimento de sua hipossuficiência fática e
técnica, acentuando a vulnerabilidade, inclusive no que diz respeito ao processo
judicial. Tal garantia acaba sendo ampla e instrumental. Pode valer tanto para
a esfera extrajudicial quanto para a esfera judicial, não se restringindo à inver-
são do ônus da prova.

FORNECEDOR
184 UNIDADE V

O ônus da prova de um fato ou de um direito é incumbência daquele que


os alega. Com isso, a finalidade do ônus da prova é tornar mais fácil a defesa da
posição jurídica assumida pelo consumidor, numa seara específica da instru-
ção probatória.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE
CONSUMO

RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO

Ela está disciplinada no art. 12 do CDC, que dispõe:


o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o im-
portador, respondem, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decor-
rentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, ma-
nipulação, apresentação do acondicionamento de seus produtos, bem
como por informações insuficientes ou inadequados sobre sua utiliza-
ção e riscos.

Nota-se aqui o fato do produto, que é um acontecimento externo, que ocorre


no mundo exterior, que causa dano material e/ou moral ao consumidor, decor-
rendo do defeito do produto (CAVALIERI FILHO, 2011). Tal defeito pode ser
de concepção (criação, projeto, fórmula), de produção (fabricação, construção,
montagem) e ainda de comercialização (informações insuficientes ou inade-
quadas). Nas palavras de Sérgio Cavalieri Filho, são os chamados acidentes de
consumo aqueles “que se materializam através da repercussão externa do defeito
do produto, atingindo a incolumidade físico-psíquica do consumidor e o seu
patrimônio” (2011, p. 289).

DIREITO DO CONSUMIDOR
185

No caso de fornecimento de produtos ou serviços nocivos à saúde ou compro-


metedores da segurança do consumidor, o fabricante ou que a isso se equivalha
é responsável pela grande maioria dos acidentes de consumo. Sendo assim, no
que diz respeito aos danos decorrentes das relações de consumo, produzidos
por produtos defeituosos, o Código Civil deve ser afastado, aplicando somente o
Código de Defesa do Consumidor, uma vez que não se trata mais de uma relação
contratual, mas de outro tipo de vínculo, que seria o produto defeituoso lançado
no mercado e que, numa relação de consumo, contratual ou não, dá causa a um
acidente, de acordo com o art. 12 do CDC.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO

Essa forma de responsabilização vem prevista no art. 12 do CDC, que dispõe:


o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência
de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por de-
feitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

O serviço pode ser considerado defeituoso quando não fornece a segurança que
o consumidor dele pode esperar, levando em conta as circunstâncias relevantes,
tais como o modo do seu fornecimento, o resultado e os riscos que razoavelmente
dele se esperam e a época em que foi fornecido (art. 14, §1º, CDC).
Tal responsabilidade tem como fundamento o dever de segurança. A principal
diferença entre esta e a responsabilidade citada anteriormente está na designa-
ção dos agentes responsáveis. No art. 12 do CDC, fala-se como responsáveis o
fabricante, o produtor, o construtor e o incorporador, excluindo o comerciante.
Já o art. 14 do CDC fala apenas em fornecedor, incluindo-se todos que fazem
parte da cadeia produtiva.

Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo


186 UNIDADE V

RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO E


DO SERVIÇO

Primeiramente, é necessário distinguirmos o vício do defeito. O primeiro é um


defeito menos grave, circunscrito ao produto ou serviço, que causa apenas o mau
funcionamento do produto. Já o segundo é um vício grave que compromete a
segurança do produto ou do serviço, causando um dano ao mesmo (CAVALIERI
FILHO, 2011). Para Luiz Antônio Rizzatto Nunes (2000, p. 214),
há vício sem defeito, mas não há defeito sem vício; o defeito pressupõe

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
o vício. O defeito é o vício acrescido de um problema extra, alguma coi-
sa extrínseca ao produto ou ao serviço, que causa um dano maior que
simplesmente o mau funcionamento ou não funcionamento.

Dessa forma, deve-se observar que na responsabilidade por vício do produto


e do serviço cuida-se de defeitos inerentes aos produtos e serviços. A seguir,
vamos esclarecer a diferença entre as espécies de vício previstas no Código de
Defesa do Consumidor.

VÍCIO DO PRODUTO E VÍCIO REDIBITÓRIO

O vício redibitório são aqueles defeitos ocultos da coisa, de acordo com o art.
441 do Código Civil. Já os vícios de qualidade ou de quantidade de bens e ser-
viços podem ser ocultos ou aparentes. Para a configuração do vício redibitório,
é necessário, ainda, que a coisa seja recebida em virtude de relação contratual,
que o defeito seja grave e contemporâneo à celebração do contrato. Os defeitos
de pequeno dano ou superveniente à realização do negócio não afetam o prin-
cípio da garantia. Tais requisitos são irrelevantes para a configuração do vício do
produto, já que o CDC não faz qualquer distinção quanto à gravidade do vício,
quanto a ser ele anterior, contemporâneo ou posterior a entrega do bem, e nem
se ela se deu em razão de contrato (CAVALIERI FILHO, 2011).

DIREITO DO CONSUMIDOR
187

Os mecanismos reparatórios são muito mais abrangentes e satisfatórios do


que aqueles que estão previstos no Código Civil. Tais mecanismos permitem ao
consumidor, não sendo o vício sanado no prazo máximo de 30 dias, exigir, alterna-
tivamente e à sua escolha: a substituição do produto por outro da mesma espécie,
em perfeitas condições de uso; a restituição imediata da quantia paga, mone-
tariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; o abatimento
proporcional do preço; a complementação do peso ou medida, no caso do vício
de quantidade; a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

VÍCIO DE QUALIDADE E VÍCIO DE QUANTIDADE

O art. 18 do CDC prevê dois tipos de vícios do produto: de qualidade e de quan-


tidade. De acordo com o artigo, o vício de qualidade é aquele que torna o produto
(durável ou não) “impróprios ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam
o valor, assim como aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações cons-
tantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária [...]”.
Nesse caso, podemos citar como exemplo: o ferro elétrico que não esquenta,
a geladeira que não gela, o medicamento com data vencida ou inadequado para
o tratamento a que se destina, o produto alimentício estragado. Pode-se perce-
ber assim que o CDC deu ao fornecedor mais um dever, nesse caso, relacionado
à qualidade do produto ou serviço disponibilizado ao consumidor. Dessa forma,
só podem ser colocados no mercado produtos inteiramente adequados ao con-
sumo a que se destinam.
Já o vício de quantidade é aquele decorrente da disparidade entre as indica-
ções constantes no recipiente, embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária
e o produto em si.
Com relação a esse vício, as medidas reparatórias estão especificadas no art.
19 do CDC, que podem ser: abatimento proporcional do preço, complementa-
ção do peso ou medida; substituição do produto por outro da mesma espécie,
marca ou modelo; restituição imediata da quantia paga, monetariamente atua-
lizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.

Responsabilidade pelo vício do Produto e do Serviço


188 UNIDADE V

VÍCIOS DO SERVIÇO

O art. 20 do CDC dispõe sobre a responsabilidade do fornecedor por vícios do


serviço, que também podem ser de qualidade e de quantidade. O primeiro torna
o serviço impróprio ao consumo ou diminui seu valor. Impróprio é o serviço que
se mostra inadequado para o fim que razoavelmente dele se espera, bem como
aquele que não atende às normas regulamentares de prestabilidade, de acordo
com o §2º do citado artigo. O segundo é aquele que apresenta disparidade com
as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
As medidas reparatórias para os vícios do serviço, à escolha do consumi-
dor, estão previstas no art. 20 e são as seguintes: I – a reexecução dos serviços,
sem custo adicional e quando cabível; II – a restituição imediata da quantia paga,
monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III – o
abatimento proporcional do preço.
Os responsáveis por tal reparação são todos os fornecedores, solidariamente,
inclusive o comerciante.
Assim como ocorre na responsabilidade pelo fato do serviço, o número de
casos de vício do serviço é superior ao do vício do produto, tais como serviços
públicos, serviços profissionais de todo gênero, serviços bancários, financeiros,
securitários, médico hospitalares entre outros.

DIREITO DO CONSUMIDOR
189

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), nesta unidade observamos como funciona o Direito do


Consumidor, ramo do Direito que protege o consumidor, visto que este é conside-
rado como a parte mais fraca de uma relação comercial. O direito do consumidor
traz formas de responsabilidade específicas, ou seja, o Código de Defesa do
Consumidor (CDC) traz formas de proteção singulares, visto que, com a evolução
e o desenvolvimento do comércio, o consumidor passou a deixar de ter conheci-
mento sobre todos os produtos e serviços adquiridos, de modo que necessita de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

uma proteção maior devido à fragilidade na relação, como vimos anteriormente.


Por essa razão, há a necessidade de um conhecimento técnico sobre o assunto,
especificando quem é considerado consumidor e quem é fornecedor, bem como
se este último, em algum momento da relação, pode ser entendido também
como um consumidor, visto que, em uma cadeia de produção, muitas vezes há
necessidade da aquisição de produtos para que se possa desenvolver uma ativi-
dade específica.
Vimos ainda os direitos básicos do consumidor previstos no art. 6º do CDC,
o qual mostra que as formas de publicidade enganosas e abusivas também são
condenadas. Além disso, procuramos evidenciar que, em algumas situações,
são usadas mensagens subliminares, a respeito das quais o direito entende que
podem induzir o público ao consumo de um determinado produto ou serviço, o
que é um aspecto negativo, pois o consumidor deve escolher sozinho, sem sofrer
qualquer tipo de influência.
Ainda dentro dos direitos básicos, também vimos que é essencial a edu-
cação do consumidor para usar o produto corretamente, possibilitando assim
uma diminuição dos danos que são causados pelo uso incorreto. Assim, pode-
mos analisar que tal ramo é de suma importância para a sociedade, visto que a
relação de consumo deve ser protegida sempre, trazendo uma segurança maior
para a sociedade.

Considerações Finais
190

SAIBA O QUE FAZER DIANTE DE PROPAGANDAS ENGANOSAS

Existem vários tipos de publicidades que enganam o consumidor, oferecendo, por exemplo,
produtos que não cumprem o que prometem. Saiba o que fazer em cada caso
Muitas vezes o consumidor se sente enganado com propagandas em que o divulgado
parece muito mais interessante do que é na realidade. Mas em todas as situações isso é
considerado propaganda enganosa? Entenda as diferenças das publicidades descritas
como enganosas pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC) e saiba o que fazer em
cada caso.

Publicidade enganosa

De acordo com o artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), uma publicida-


de é considerada enganosa quando induz o consumidor ao erro. Ou seja, quando traz
uma informação falsa capaz de dar uma ideia diferente da realidade do produto ou do
serviço ofertado. É o caso, por exemplo, de um serviço anunciado gratuito, mas que na
verdade é pago, mesmo que isso só se perceba na hora em que é contratado ou após
certo tempo de uso.
Em casos como esse, o consumidor pode tentar contato com o ofertante, preferencial-
mente por escrito, solicitando providências. O artigo 35 do CDC dá ao consumidor lesado
o direito de escolher entre as seguintes alternativas: a obrigação de cumprir exatamente
o que foi ofertado; outro produto ou serviço equivalente ao adquirido, ou a rescisão do
contrato e a devolução do valor pago, acrescido da devida correção monetária.

Caso o fornecedor não responda à solicitação ou dê um retorno negativo, a reclamação


pode ser registrada junto a um órgão de defesa do consumidor, como o Procon da sua
cidade. Se ainda assim nada for resolvido, o caso pode ser levado à Justiça por meio do
Juizado Especial Cível (JEC). Nos casos que envolvam causas de até 20 salários mínimos,
não será necessário um advogado para mover o processo. Acima desse valor, será ne-
cessário o auxílio de um advogado de confiança para que as ações e avaliações cabíveis
sejam articuladas.
Há, ainda, a possibilidade de o consumidor tentar solucionar seu problema, antes
de entrar na Justiça, por meio de uma plataforma digital criada pelo governo federal,
chamada consumidor.gov.br. Ou até mesmo reclamar por outros meios, como as redes
sociais. Mas nunca deixe de registrar seu problema no Procon.
191

Publicidade enganosa por omissão

Além da publicidade enganosa, o artigo 37 do CDC prevê a publicidade enganosa por


omissão, que é aquela em que o fornecedor deixa de informar um dado essencial sobre
o produto ou do serviço anunciado. Por exemplo, quando um canal de TV anuncia diver-
sos produtos, mas não informa sobre a forma de pagamento ou condições - dados que
também são essenciais sobre o produto na hora da compra.
Neste caso, o procedimento a ser tomado será o mesmo que o descrito na publicidade
enganosa. O consumidor pode tentar o contato com o fornecedor, fazendo as solici-
tações convenientes. Se não houver resposta, buscar o Procon e, se mesmo assim não
funcionar, entrar na Justiça.

Publicidade abusiva

No artigo 37, parágrafo segundo, também é descrita a publicidade abusiva, esta que é
considera imprópria por incitar à violência, desrespeitar o meio ambiente e se aproveitar
da deficiência de julgamento e experiência de crianças.
A ideia da publicidade abusiva está ligada à valores morais e atuais acontecimentos
da sociedade. Em geral, é a publicidade que contém objetiva ou subjetivamente um
discurso discriminatório ou preconceituoso, ou que incita prática imorais ou a violação
de direitos humanos.
Assim como nas demais hipóteses, a abusividade constatada em uma propaganda pode
ser denunciada ao Procon. Na possibilidade da publicidade ser considerada abusiva, o
órgão tomará as medidas necessárias para que ela deixe de ser exibida ou veiculada,
além da aplicação de sanções pelas infrações cometidas.
Em março deste ano, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgou como abusiva uma pro-
paganda da Bauducco por associar a venda de um biscoito a um relógio com perso-
nagem infantil. A decisão da corte que deve impactar julgamentos semelhantes, teve
como base o CDC, e está alinhado com a resolução 163/2014 do Conselho Nacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda).
Fonte: IDEC (2017, on-line)1.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Programa de Direito do Consumidor


Sérgio Cavalieri Filho
Editora: Atlas
Ano: 2010
Sinopse: a importância do Direito do Consumidor foi reconhecida e proclamada pela primeira
vez na mensagem que o Presidente Kennedy enviou ao Congresso dos Estados Unidos em 15
de março de 1962: “Consumidores, por definição, somos todos nós. Os consumidores são o
maior grupo econômico na economia, afetando e sendo afetado por quase todas as decisões
econômicas, públicas e privadas.” A Henry Ford atribui-se esta frase: “O consumidor é o elo mais
fraco da economia: e nenhuma corrente pode ser mais forte do que o seu elo mais fraco.” Hoje,
todos reconhecem, o Direito do Consumidor é o mais discutido, estudado e aplicado em nosso
país. Basta dar uma olhada nas estatísticas dos Procons, dos Juizados Especiais e da própria Justiça
Comum para se ter a constatação desta verdade: milhares de casos diariamente. O objetivo desta
obra é auxiliar os estudantes e profissionais do direito na árdua tarefa de bem interpretar e aplicar
o Direito do consumidor. A vasta experiência do autor no magistério e na magistratura permitiu-
lhe elaborar um trabalho didático, objetivo e prático, mas ao mesmo tempo abrangente. Todas
as controvérsias doutrinárias e jurisprudenciais são examinadas de forma sucinta, com destaque
para o entendimento predominante, de forma a oferecer ao leitor orientação segura sobre as mais
variadas questões.

Para conhecer mais sobre a vulnerabilidade e a hipossuficiência, leia o texto “O princípio


da vulnerabilidade e a defesa do consumidor no Direito brasileiro: origem e consequências
nas regras regulamentadoras dos contratos e da publicidade”, de Alírio Maciel Lima
de Brito e Haroldo Augusto da Silva Teixeira Duarte, disponível em <http://jus.com.br/
artigos/8648/o-principio-da-vulnerabilidade-e-a-defesa-do-consumidor-no-direito-brasileiro>.
193

1. O Direito do Consumidor veio para proteger essa parte mais fraca, visando a re-
gulamentar a relação entre consumidor e fornecedor, bem como os direitos bá-
sicos previstos no instrumento legal e também analisar as formas de responsa-
bilização pelos vícios apresentados pelo produto ou serviço. O objetivo do ramo
estudado foi implantar uma Política Nacional de Consumo, por meio de normas
de ordem pública e interesse social. Com relação aos princípios do Direito do
Consumidor, analise as assertivas abaixo:
I. O princípio da boa-fé passou a ser utilizado com uma nova e moderna signi-
ficação, indicando valores éticos que estão à base da sociedade organizada e
desempenham uma função de sistematização da ordem jurídica.
II. O princípio da transparência é o dever do fornecedor em informar e, de outro
lado, o direito à informação do consumidor. Isso implica na proibição da cria-
ção artificial de barreiras à informação com intuito de ocultar desvantagens
para o outro, ou ainda, forjar uma enganosa valorização das vantagens que o
contrato poderá proporcionar.
III. O princípio é o início de tudo, o começo, o ponto de partida de algo.
IV. O princípio da vulnerabilidade é um estado da pessoa, uma situação perma-
nente ou provisória que fragiliza o consumidor.
Assinale a alternativa correta:
a. I e II.
b. II e IV.
c. II e III.
d. I, II, III e IV.
e. Nenhuma das alternativas anteriores.

2. O art. 2º do Código de Defesa do Consumidor prevê que “o consumidor é toda


pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destina-
tário final”. Com relação às características marcantes do consumidor, assina-
le a alternativa INCORRETA:
a. Posição de destinatário fático e econômico quando da aquisição de um pro-
duto ou da contratação de um serviço: não está incluído no conceito de con-
sumidor padrão.
b. Não profissionalidade entendida, como regra geral, a aquisição ou a utilização
de produtos ou serviços sempre busca prolongar o ciclo econômico desses
bens ou serviços no âmbito de um comércio ou de uma profissão.
194

c. Vulnerabilidade em sentido amplo, ou seja, o consumidor é reconhecido como


a parte mais fraca da relação de consumo.
d. Aquisição de um produto ou a utilização de um serviço para suprimento de
suas próprias necessidades, de sua família, ou dos que se subordinam por
vinculação doméstica ou protetiva a ele, não desenvolvendo outra atividade
negocial.
e. Nenhuma das alternativas anteriores.

3. Os direitos básicos do consumidor estão previstos no art. 6 do CDC. Tal rol não é
exaustivo, ou seja, podem existir outros direitos diferentes dos que estão elen-
cados no artigo. Com relação a esses direitos, assinale a alternativa correta:
a. O direito à educação para o consumo é um dos mais importantes. Ele é um
reflexo ou consequência do princípio da transparência, encontrando-se umbi-
licalmente ligado ao princípio da vulnerabilidade.
b. O direito à informação é que o consumidor tem como direito básico a prote-
ção contra a publicidade enganosa e/ou abusiva, consolidando assim o enten-
dimento de que o princípio da boa-fé antecede a prática de qualquer relação
jurídica de consumo.
c. A efetiva prevenção e reparação de danos garante ao consumidor o acesso aos
órgãos judiciários e administrativos, tanto para a prevenção quanto para a ob-
tenção de reparação de danos, sejam eles patrimoniais ou morais, individuais,
coletivos ou difusos.
d. A proteção contra as práticas e cláusulas abusivas é que deve ser considerado
como abusivo tudo aquilo que afronta a principiologia e a finalidade do siste-
ma protetivo do consumidor, bem como que se relacione à noção de abuso
do direito.
e. Nenhuma das alternativas anteriores.

4. A responsabilidade civil serve para reparar os danos causados pelos produtos ou


serviços adquiridos pelo consumidor, a fim de protegê-lo por ser a parte mais
vulnerável da relação. Sobre as formas de responsabilidade civil nas relações
de consumo, assinale a alternativa incorreta.
a. O vício do fato do produto é um acontecimento externo, que ocorre no mun-
do exterior, que causa dano material e/ou moral ao consumidor, decorrendo
do defeito do produto.
b. No caso de fornecimento de produtos ou serviços nocivos à saúde ou compro-
metedores da segurança do consumidor, o fabricante ou aquele que a isso se
equivalha, é responsável pela grande maioria dos acidentes de consumo.
195

c. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de cul-


pa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos rela-
tivos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos.
d. O serviço pode ser considerado defeituoso quando fornece a segurança que o
consumidor dele pode esperar, levando em conta as circunstâncias relevantes,
tais como o modo do seu fornecimento, o resultado e os riscos que razoavel-
mente dele se esperam e a época em que foi fornecido.
e. Nenhuma das alternativas anteriores.

5. O vício é um defeito menos grave, circunscrito ao produto ou serviço, que causa


apenas o mau funcionamento do produto. Já o defeito é um vício grave que
compromete a segurança do produto ou do serviço, causando um dano ao mes-
mo. A responsabilidade por vício do produto e do serviço cuida de defeitos ine-
rentes aos produtos e serviços, ou seja, que fazem parte do produto ou serviço
desde a sua aquisição. Sobre a responsabilidade pelo vício do produto e do
serviço, assinale a alternativa correta:
a. O vício redibitório são aqueles defeitos aparentes da coisa.
b. O vício de qualidade é aquele decorrente da disparidade entre as indicações
constantes no recipiente, embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária e
o produto em si.
c. O vício de quantidade é aquele que torna o produto (durável ou não) impró-
prios para o consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor.
d. O vício do serviço de qualidade torna o serviço impróprio ao consumo ou di-
minui seu valor, sendo que impróprio é o serviço que se mostra inadequado
para o fim que razoavelmente dele se espera, bem como aquele que não aten-
de às normas regulamentares de prestabilidade.
e. Nenhuma das alternativas anteriores.
REFERÊNCIAS

ALVIM, T. A.; ALVIM, J. M. E. Código do Consumidor comentado. 2. ed. São Paulo: R


dos Tribunais, 1995.

BENJAMIM, A. H. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos


autores do anteprojeto. 8. ed. São Paulo: Forense Universitária, 2004.

BRASIL. Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumi-


dor. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Disponível em: 24 mar.
2017.

CAVALIERI FILHO, S. Programa de Direito do Consumidor. São Paulo: Atlas, 2011.

COMPARATO, F. K. A Proteção ao consumidor na Constituição Brasileira de 1988.


RDM, n. 80, p. 66-85.

THEODORO JUNIOR, H. O Contrato imobiliário e a Legislação Tutolar do Consumo.


São Paulo: FORENSE, 2002.

MARQUES, C. L. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 5. ed. São Paulo:


R dos Tribunais, 2006.

NUNES, L. A. R. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. São Paulo:


Saraiva, 2000.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1
<http://www.idec.org.br/consultas/dicas-e-direitos/saiba-o-que-fazer-diante-de-
-propagandas-enganosas>. Acesso em: 24 mar. 2017.
197
GABARITO

1. D
2. B
3. D
4. D
5. D
CONCLUSÃO

Nesse material, estudamos um pouco sobre o Direito e alguns de seus importantes


ramos, necessários para o bom desempenho da atividade do administrador e do
gestor. Inicialmente, fizemos um estudo sobre o Direito propriamente dito, conhe-
cendo o momento em que surgiu, a finalidade de criar normas de conduta para re-
gulamentar a vida em sociedade, conhecendo os diferentes ramos do Direito, bem
como analisando a diferença entre o Direito e a moral.
Na segunda unidade, estudamos um pouco sobre o Direito Empresarial. Analisamos
quem pode ser considerado empresário e quem não pode, ou seja, aqueles que são
impedidos, bem como de que forma pode ser feito o seu nome empresarial. Nessa
área do Direito, é importante conhecermos um pouco mais sobre as modalidades
societárias e as principais características que as diferenciam.
Assim como é importante saber quem pode e como pode ser empresário, também
é necessário saber o que pode acontecer com uma empresa, caso passe por proble-
mas financeiros não conseguindo, em função disso, cumprir com suas obrigações.
Nesse caso, poderá ser feito um pedido de recuperação extrajudicial ou judicial e,
em último caso, a falência.
Na sequência, estudamos o Direito Tributário. Tal área é importante, pois a partir do
seu estudo é que se compreende melhor a cobrança dos tributos em nosso país.
Além disso, com esse ramo, analisamos a diferença entre imposto, taxa, contribui-
ção social, contribuição de melhoria e empréstimo compulsório. Compreendemos
quem pode ser considerado sujeito ativo e sujeito passivo nessa relação tributária,
bem como a partir de qual momento se torna uma dívida ativa. Por fim, vimos tam-
bém as formas de exclusão do crédito, ou seja, quando ele deixa de existir para o
sujeito passivo.
Na quarta unidade, analisamos o Direito do Trabalho, um ramo de suma importân-
cia, uma vez que envolve o empregado, que é o principal componente de uma or-
ganização empresarial. Inicialmente, precisamos conhecer os princípios específicos
do Direito do Trabalho que protegem o empregado.
Após os princípios, conhecemos um pouco mais sobre as modalidades de empre-
gado, caracterizando cada uma das espécies e os requisitos necessários para cada
um deles. Na sequência, vimos as formas de remuneração e as gratificações que um
empregado deve receber de seu empregador.
Em nossa última unidade, vimos o Direito do Consumidor. Tal ramo busca proteger a
relação de consumo, garantindo que o fornecedor cumpra com todos os requisitos
necessários para um bom relacionamento com o consumidor. Para compreendermos
essa relação, analisamos os direitos básicos do consumidor previstos em seu art. 6º.
199
CONCLUSÃO

Por fim, conhecemos as formas de responsabilização que o fornecedor pode sofrer


caso o seu produto ou serviço apresente algum defeito ou erro quanto à qualidade
e quantidade. Vimos ainda que a forma de realizar a propaganda não pode ser abu-
siva nem enganosa, garantindo que o consumidor não seja enganado ao adquirir
determinado produto ou serviço.
Podemos concluir que as áreas aqui estudadas são primordiais para o administra-
dor e os profissionais que atuam na gestão de organizações, podendo melhorar o
funcionamento da sua atividade empresarial, proporcionando uma prestação de
serviços ou fornecimento de produtos correto ao mercado.
ANOTAÇÕES

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