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PROCESSO DE

TRABALHO EM
SERVIÇO SOCIAL

Professora Me. Daniele Moraes Cecilio Soares

GRADUAÇÃO

Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Planejamento de Ensino
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Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Direção de Mercado
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Direção de Polos Próprios
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Direção de Desenvolvimento
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Head de Produção de Conteúdos
Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli
Gerência de Produção de Conteúdos
Gabriel Araújo
Supervisão do Núcleo de Produção de
Materiais
Nádila de Almeida Toledo
Supervisão de Projetos Especiais
Daniel F. Hey
Coordenador de Conteúdo
Maria Cristina Araújo de Brito Cunha
Designer Educacional
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Amanda Peçanha Dos Santos
Distância; SOARES, Daniele Moraes Cecilio.
Iconografia
Processo de Trabalho em Serviço Social. Daniele Moraes Ce- Isabela Soares Silva
cilio Soares.
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.
Projeto Gráfico
150 p. Jaime de Marchi Junior
“Graduação - EaD”. José Jhonny Coelho

Arte Capa
1. Processo. 2. Trabalho . 3. Serviço Social 4. EaD. I. Título.
André Morais de Freitas
ISBN: 978-85-459-0877-7 CDD - 22 ed. 361 Editoração
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Robson Yuiti Saito
Qualidade Textual
Hellyery Agda
Helen Braga do Prado
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário
Ilustração
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Bruno Cesar Pardinho
Impresso por:
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um
grande desafio para todos os cidadãos. A busca
por tecnologia, informação, conhecimento de
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a
educação de qualidade nas diferentes áreas do
conhecimento, formando profissionais cidadãos
que contribuam para o desenvolvimento de uma
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais
e sociais; a realização de uma prática acadêmica
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização
do conhecimento acadêmico com a articulação e
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela
qualidade e compromisso do corpo docente;
aquisição de competências institucionais para
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade
da oferta dos ensinos presencial e a distância;
bem-estar e satisfação da comunidade interna;
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de
cooperação e parceria com o mundo do trabalho,
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
profissional, nos transformamos e, consequentemente,
Pró-Reitor de
Ensino de EAD
transformamos também a sociedade na qual estamos
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
Diretoria de Graduação
e Pós-graduação este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou
seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de
Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista
às aulas ao vivo e participe das discussões. Além dis-
so, lembre-se que existe uma equipe de professores
e tutores que se encontra disponível para sanar suas
dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza-
gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e
segurança sua trajetória acadêmica.
AUTORA

Professora Me. Daniele Moraes Cecílio Soares


Mestre em Serviço Social pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
Unioeste (2016). Especialista em Gestão e Planejamento de Programas e Projetos
Sociais pelo Centro Universitário de Maringá – Unicesumar (2013). Bacharel
em Serviço Social pelo Centro Universitário de Maringá - Unicesumar (2011).
Desde 2014 é professora mediadora do o Curso de Serviço Social do Núcleo
de Educação a Distância – NEAD Unicesumar.

Conferir mais detalhes em: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/


visualizacv.do?id=K4477762U1>.
APRESENTAÇÃO

PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL

SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro (a) aluno (a) bem vindo (a) a disciplina Processo de trabalho em Serviço Social, em
que vamos conhecer as particularidades que o conceito trabalho desenvolvida por Marx
para compreender seu significado ontológico, uma vez que o trabalho é o categoria
constituinte do Ser Social.
Na primeira unidade aborda-se o debate sobre o processo de trabalho, considerando o
processo capitalista de trabalho e o indivíduo social, o trabalho e a sociabilidade.
Em seguida apresenta a reestruturação produtiva, as transformações do capitalismo
contemporâneo, trabalho produtivo e improdutivo, o fenômeno da globalização e as
relações de produção e reprodução social
A terceira unidade o serviço social e reestruturação produtiva e a defesa do projeto éti-
co-político profissional, Serviço Social na divisão sociotécnica, processo de trabalho no
Serviço Social Serviço Social como especialização do trabalho coletivo A defesa do pro-
jeto ético-político profissional.
A quarta unidade desafios do mundo do trabalho na atualidade, desemprego, precari-
zação do trabalho e questão social, alienação e exploração do trabalho, o capitalismo e
o projeto neoliberal.
Para finalizar a última unidade desafios profissionais no capitalismo globalizado, altera-
ções no mundo do trabalho e repercussões no mercado profissional do Serviço Social,
as novas configurações para o mercado de trabalho do assistente social e o Serviço So-
cial nas novas conjunturas do mundo contemporâneo.
O conhecimento acerca dessa temática é de extrema importância para a formação aca-
dêmica e atuação profissional, pois elucida o conceito trabalho que fundante do ser
social.
Bons estudos!!!
09
SUMÁRIO

UNIDADE I

O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO

15 Introdução

16 O Significado Ontológico do Trabalho

18 Trabalho Como Categoria Constituinte do ser Social

21 Processo Capitalista de Trabalho e o Indivíduo Social

30 Trabalho e Sociabilidade

35 Considerações Finais

40 Referências

41 Gabarito

UNIDADE II

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA

45 Introdução

46 As Transformações do Capitalismo Contemporâneo

52 Trabalho Produtivo e Improdutivo

55 O Fenômeno da Globalização

59 As Relações de Produção e Reprodução Social

62 Considerações Finais

66 Referências

67 Gabarito
10
SUMÁRIO

UNIDADE III

O SERVIÇO SOCIAL E REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E A DEFESA DO


PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL

71 Introdução

72 Serviço Social na Divisão Sócio Técnica

76 Processo de Trabalho no Serviço Social

82 Serviço Social como Especialização do Trabalho Coletivo

88 A Defesa do Projeto Ético Político Profissional

93 Considerações Finais

98 Referências

100 Gabarito

UNIDADE IV

DESAFIOS DO MUNDO DO TRABALHO NA ATUALIDADE

103 Introdução

104 Desemprego, Precarização do Trabalho e Questão Social

108 Alienação e Exploração do Trabalho

112 O Capitalismo e o Projeto Neoliberal

117 Considerações Finais

124 Referências

126 Gabarito
11
SUMÁRIO

UNIDADE V

DESAFIOS PROFISSIONAIS NO CAPITALISMO GLOBALIZADO

127 Introdução

128 Alterações no Mundo do Trabalho e Repercussões no Mercado


Profissional do Serviço Social

135 As Novas Configurações Para o Mercado de Trabalho do Assistente Social

139 Serviço Social nas Novas Conjunturas do Mundo Contemporâneo

143 Considerações Finais

148 Referências

149 Gabarito

150 Conclusão
Professora Me. Daniele Moraes Cecilio Soares

O DEBATE SOBRE O

I
UNIDADE
PROCESSO DE TRABALHO

Objetivos de Aprendizagem
■■ Apreender a finalidade da ontologia do trabalho.
■■ Compreender a categoria trabalho e suas refrações para a formação
do Ser Social.
■■ Analisar os fundamentos do trabalho enquanto conceito primordial
para as relações sociais.
■■ Refletir sobre como o trabalho é a peça chave para o modo de
produção capitalista.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O Significado Ontológico do Trabalho
■■ Trabalho como categoria constituinte do Ser Social
■■ Processo capitalista de trabalho e o indivíduo social
■■ Trabalho e sociabilidade
15

INTRODUÇÃO

Caro (a) aluno (a), a nossa primeira unidade de estudo do material da disciplina:
Serviço Social e Processo de Trabalho, tem os objetivos de buscar apreender a
finalidade da ontologia do trabalho, compreender a categoria trabalho e suas
refrações para a formação do Ser Social, analisar os fundamentos do trabalho
enquanto conceito primordial para as relações sociais e refletir sobre como o tra-
balho é a peça chave para o modo de produção capitalista.
Nesse sentido, o debate inicial acerca do significado ontológico do trabalho
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

é a base fundante da teoria marxista, a qual nos brinda com a magnífica con-
cepção de que o trabalho como categoria constituinte do Ser Social, isto é, o
processo de transformação que passamos diariamente ao sermos considerados
como seres orgânicos. Tais elementos nos propiciarão refletir sobre como o tra-
balho é a peça chave para o modo de produção capitalista.
Em seguida, aborda-se o processo capitalista de trabalho e o indivíduo social,
o qual se constitui no processo de produção e reprodução das relações sociais.
Por isso, é fundamental compreender as diversas formas específicas que a divi-
são do trabalho assume, de acordo com as condições de produção sobre a qual
se baseia nos estágios de desenvolvimento do capitalismo.
O quarto tópico disserta sobre o trabalho e a sociabilidade, destacando-
-se a questão de que o trabalho não apenas produz mercadoria, mas também
constrói o modelo de homem burguês, isto é, no processo de formação do ser
orgânico para ser social, se molda o indivíduo conforme os ditames do capital.
Esses elementos nos propiciam a apreensão de como o conceito de trabalho está
intrinsecamente relacionado no cotidiano do exercício profissional e seus mean-
dros na sociedade de classes.
Por isso, convido(a) vocês para desvelar a importância do debate sobre o
processo de trabalho. Bons estudos!!!

Introdução
16 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O SIGNIFICADO ONTOLÓGICO DO TRABALHO

Para compreendermos o significado ontológico do trabalho, é importante saber


que, enquanto categoria de análise do modo de produção capitalista, o trabalho
é o principal elemento que compõe os fundamentos que regem o mundo. “As
categorias são formas de ser, determinações da existência” (MARX, 1975, s/p.).
Por isso o trabalho é a categoria fundante da vida humana.
Nesse sentido, o trabalho é inerente à sobrevivência humana, mas seu pro-
cesso perpassa pela teleologia, que somente os seres humanos são capazes de
realizar, isto é, há intencionalidade em desenvolver algo, que ao planejar determi-
nada atividade se projeta idealmente a ação, mediatizando os métodos que serão
utilizados para a obtenção do resultado final. Por exemplo, o homem primata fazia
seus instrumentos para a pesca e caça, ou seja, elaborava o processo de trabalho
para realizar e finalizar o produto que propiciasse a função que ele estabeleceu
para o objeto construído.
Para isso Marx (1975, p.116), afirma:
[...] o homem faz da atividade vital o objeto da vontade e da consciência.
Possui uma atividade vital lúcida. Ela não é uma deliberação a qual ele
imediatamente coincide. A atividade vital lúcida diferencia o homem da
atividade vital dos animais. Só por este motivo que ele é um ser genérico.

O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO


17

A ideia do autor apresenta que o homem é o primeiro ser que conquistou certa
liberdade de movimento em face da natureza, pois é por meio dos instintos e das
forças naturais, em geral, que a natureza dita para os animais o comportamento
que eles devem ter para sobreviver. Entretanto, o homem com o trabalho buscou
dominar em partes as forças da natureza, trazendo-as à seu serviço.
O trabalho aos olhos de Marx aparece como uma condição necessária para que
o homem seja cada vez mais livre, dono de si próprio, uma vez que é capaz de pro-
jetá-lo, tendo a capacidade de definir meios diversos que possibilitam o alcance de
seu objetivo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Somente o trabalho tem na sua natureza ontológica um caráter claramente


transitório. Ele é em sua natureza uma inter-relação entre homem (socie-
dade) e natureza, tanto com a natureza inorgânica (…), quanto com a or-
gânica, inter-relação (…) que se caracteriza acima de tudo pela passagem
do homem que trabalha, partindo do ser puramente biológico ao ser social
(…). Todas as determinações que, conforme veremos, estão presentes na
essência do que é novo no ser social estão contidas in nuce no trabalho. O
trabalho, portanto, pode ser visto como um fenômeno originário, como
modelo, protoforma do ser social (…) (LUCKÁS, 1980: IV – V apud AN-
TUNES, 1999, p. 136).

Vale ressaltar, que para Marx o trabalho é compreendido como uma atividade
em que o indivíduo expressa em seu produto/arte aquilo que ele já havia pla-
nejado e visualizado em sua mente. Isso significa que o homem produz e tem a
capacidade de desenvolver suas atividades, colocá-las em prática, no concreto a
partir de suas idealizações.
[…] O trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um proces-
so em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu
metabolismo com a natureza. […] Não se trata aqui das primeiras formas
instintivas, animais, de trabalho. […] Pressupomos o trabalho numa forma
em que pertence exclusivamente ao homem. Uma aranha executa opera-
ções semelhantes às do tecelão e a abelha envergonha mais de um arquiteto
humano com a construção de favos de suas colméias. Mas o que distingue,
de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo
em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de traba-
lho obtém-se um resultado que já foi no início deste existiu em na imagi-
nação do trabalhador, e portanto idealmente. Ele não apenas efetua uma
transformação da forma da matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na
matéria natural, o seu objetivo. […] Os elementos simples do processo de
trabalho são a atividade orientada a um fim ou o trabalho mesmo, seu ob-

O Significado Ontológico do Trabalho


18 UNIDADE I

jeto e seus meios. […] O processo de trabalho […] é a atividade orientada


a um fim para produzir valores de uso, apropriação do natural para satis-
fazer a necessidades humanas, condição universal do metabolismo entre o
homem e a natureza, condição natural eterna da vida humana, e portanto,
[…] comum a todas as suas formas sociais (MARX, 1983, p. 149-150, 153
apud BRAZ; NETTO, 2008, p. 31-32).

Sendo assim, o sentido do trabalho será, sempre, para satisfazer as necessidades


humanas, sendo libertador, uma vez que a realidade coloca a necessidade em
primeiro lugar, tornando-se a práxis fundante, isto é, “[…] a práxis é uma deci-
são entre alternativas [...]” (NETTO, 2001, p. 80). Por isso, ao ser formado por

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
posições teleológicas a capacidade do trabalho é que dá a essência do humano
em suprir suas necessidades, diferentemente do trabalho alienado, que é a con-
dição pela qual o trabalho se expressa no capitalismo, em que volta-se a serviço
do capital e não das necessidades humanas, como observaremos mais adiante.

TRABALHO COMO CATEGORIA


CONSTITUINTE DO SER SOCIAL

A instituição da terminologia Ser Social, é de extrema importância para denomi-


nar como os indivíduos se transformam no modo de produção capitalista. Marx
desenvolve esse conceito a partir da relação com a categoria trabalho e sua obje-
tivação material, em que “[…] o homem introduz suas finalidades na natureza
[...]” (FREDERICO, 1995, p.176).
Nessa perspectiva, Netto (1978) apresenta que o homem se transforma no
ser social por meio do trabalho, pois passa de ser natural orgânico (são aqueles
seres vivos com capacidade de reprodução), ao dar respostas às suas necessida-
des, ao mesmo tempo em que questiona as formas para satisfazer e quais são
suas possibilidades, sendo o único ser com essa capacidade intelectual, diferen-
temente dos seres naturais inorgânicos (por exemplo, como os sais minerais, que
não tem capacidade de reprodução) e dos demais seres orgânicos.

O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO


19
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Segundo Antunes (1999), para Luckás “[...] o complexo que dá fundamento ao


ser social encontra seu momento originário, sua protoforma, a partir da esfera
do trabalho [...]” (ANTUNES, 1999, p. 145). Concomitantemente a esse processo
laborativo que o trabalho desenvolve enquanto atividade fundamental, por ser
a categoria originária que possibilita a mediação entre o ser orgânico para o ser
social, é a metamorfose pela qual somos submetidos sem prévia consciência,
uma vez que é um processo intrínseco à vida social.
O surgimento do ser social foi o resultado de um processo mensurável
numa escala de milhares de anos. Através dele, uma espécie natural, sem
deixar, de participar da natureza, transformou-se, através do trabalho,
em algo diverso da natureza – mas essa transformação deveu-se à sua
própria atividade, o trabalho: foi mediante o trabalho que os membros
dessa espécie se tornaram seres que, a partir de uma base natural (seu
corpo, suas pulsões, seu metabolismo etc.), desenvolveram caracterís-
ticas e traços que os distinguem da natureza [...] mediante o trabalho,
os homens produziram-se a si mesmos [...] tornando-se – para além
de seres naturais – seres sociais. Numa palavra esté é o processo da
história: o processo pelo qual, sem perder sua base orgânico-natural,
uma espécie da natureza constituiu-se como espécie humana – assim,
a história aparece como a história do desenvolvimento do ser social,

Trabalho Como CategoriaConstituinte do ser Social


20 UNIDADE I

como processo de humanização, como processo da produção da hu-


manidade através de sua auto-atividade; o desenvolvimento histórico é
o desenvolvimento do ser social (BRAZ; NETTO, 2008, p. 37-38).

Frente a esse contexto, verifica-se que o processo de constituição do ser social está
intrinsecamente relacionado ao trabalho e à sua evolução ao longo dos séculos.
Em conformidade com os autores sobre o ser social ser o único que:
[...] realiza atividades teleologicamente orientadas; objetivar-se mate-
rial e idealmente; comunicar-se e expressar-se pela linguagem articu-
lada; tratar suas atividades e a si mesmo de modo reflexivo, consciente e

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
autoconsciente; escolher entre as alternativas concretas; universalizar-
-se; e socializar-se (BRAZ; NETTO, 2008, p.41).

Tais características são únicas e exclusivamente humanas, portanto do ser social.


Esse que vem sendo metamorfoseado durante o processo de trabalho e de socia-
lização, agregando e desvelando traços que compõe sua essência e formação de
um ser orgânico para um ser social.
Para Marx “os homens fazem sua própria história, mas não em circunstân-
cias por eles escolhidas”. Tal afirmação indaga qual a finalidade do trabalho, em
especial no modo de produção capitalista?
A premissa de que a teleologia apresenta ao trabalho possibilidade para
satisfazer a necessidade humana se confronta com a imposição mercadológica
e acumulação do capital na produção e reprodução das relações sociais.
Na obra “Ontologia do Ser Social”, Luckás buscou definir que “[...] a ontologia
é a modalidade real e concreta da existência do ser, a sua estrutura e movimento
[...]” (NETTO, 1978, p. 70-71). Para tanto, essa compreensão trouxe elemen-
tos primordiais para complementar os fundamentos do materialismo histórico
dialético da teoria marxista.
Segundo Antunes (1999):
[...] no novo ser social que emerge, a consciência humana deixa de ser epi-
fenômeno biológico e se constitui num momento ativo e essencial da vida
cotidiana. Sua consciência é um fato ontológico objetivo [...] E a busca de
uma vida cheia de sentido, dotada de autenticidade, encontra no trabalho
seu locus primeiro de realização. A própria busca de uma vida cheia de
sentido é socialmente empreendida pelos seres sociais para sua auto-rea-
lização individual e coletiva. É uma categoria genuinamente humana, que
não se apresenta na natureza [...] (ANTUNES, 1999, p. 143).

O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO


21

Com base nas ideias de Marx (1967) os autores pontuam que o ser social e a cons-
ciência social, são determinados pela vida e não ao contrário, pois são conceitos
estabelecidos para desvendar as mudanças ocorridas pela categoria trabalho.
Assim, caro(a) aluno(a), a relação de reciprocidade entre a teleologia e cau-
salidade que compõem o trabalho é de extrema importância para o processo de
transformação que o homem vivencia desde sua interação natural com o meio
ambiente, em virtude de sua necessidade de socialização e satisfação. Porém, a
história demarca que os processos de produção colocam a finalidade no fazer
humano, ou seja, determina os diferentes tipos de trabalho que devem ser rea-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

lizados a partir da divisão do trabalho.

PROCESSO CAPITALISTA DE TRABALHO E O


INDIVÍDUO SOCIAL

Considerando que ao longo da história da humanidade o trabalho esteve pre-


sente desde os primórdios da socialização com o ambiente natural, sua evolução
transcorreu no mesmo processo social, o que fez surgir a compreensão da força
de trabalho designada na produção de determinado produto.
Para Costa (1997), a força de
trabalho passa a ser vista como
mercadoria, reconhecida por Adam
Smith como “[…] a verdadeira
fonte de riqueza das sociedades”.
(COSTA, 1997, p.88). Dessa forma,
foi a partir do modo de produção
capitalista que é composto pela
propriedade privada, trabalho assa-
lariado, que os donos dos meios
de produção compram a força de

Processo Capitalista de Trabalho e o Indivíduo Social


22 UNIDADE I

trabalho dos indivíduos que a vendem em troca de um valor, institui-se o conceito


de classes sociais: burguesa e proletária, para denominar os proprietários do capi-
tal e os da força de trabalho, respectivamente.
A dimensão genérica do ser social é dada pelo trabalho, só é possível
como atividade coletiva: o próprio ato individual do trabalho é essen-
cialmente histórico-social. Ora o trabalho vivo só se se realiza median-
te o consumo de instrumentos, matérias e conhecimentos legados por
gerações anteriores. Resultados esses que trazem em si condensação
do trabalho corporificado já realizado ou trabalho passado, atestando
o caráter social do trabalho. Este expressa-se essencialmente no fato de

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que o homem só pode realizá-lo através da relação com outros homens
[...] (IAMAMOTO, 2012, p.43).

Verifica-se que “[...] para os humanos em sociedade, a força de trabalho é uma


categoria especial, distinta e não intercambiável com qualquer outra, simples-
mente porque é humana” (BRAVERMAN; 1987, p.54). Desse modo, a força de
trabalho humana não tem condições de ser trocada por outra coisa e/ou bem,
porque não há possibilidades dos homens comprarem um braço ou até mesmo
uma mente. No entanto, o capitalismo nos mostra que ao vender a força de tra-
balho exercida na produção de um material ou na prestação de um serviço, o
indivíduo troca essa força em função do trabalho assalariado.
Vale ressaltar que o capital não é somente algo material, mas uma relação
social que envolve os meandros de antagonismos presentes na relação Capital
X Trabalho, que se configura em uma relação social.
Sendo o capital uma relação social, supõe o outro termo da relação:o
trabalho assalariado, do mesmo modo que este supõe o capital. Capital
e trabalho assalariado são uma unidade de diversos; um se expressa no
outro, um recria o outro, um nega o outro. O capital pressupõe como
parte de si o trabalho assalariado (IAMAMOTO, 1982, p.30).

Assim, para sua existência o capital necessita da força de trabalho exaurida do


trabalhador, para garantir seu próprio desenvolvimento. Para tanto, Marx (1967)
afirma que o capitalismo transformou o trabalho em mercadoria, para agregar
mais-valia absoluta e relativa, bem como atribuir altos valores do processo de
produção.

O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO


23

Portanto, é fundamental compreender o estudo do modo de produção para


ter o conhecimento de como se organiza e funciona as engrenagens de uma socie-
dade. Como se dá a exploração do homem pelo homem.
[...] a riqueza,a diversidade e a fecundidade do debate em curso sobre
a teoria do processo de trabalho. São temas necessários à apreensão das
múltiplas mediações que atribuem concretude histórica às diferentes
experiências vividas por segmentos diversificados de trabalhadores,
homense mulheres [...] (IAMAMOTO, 2012, p. 35).

Nessa perspectiva, a estrutura de uma sociedade reflete-se na forma como os


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

homens se organizam para a produção de bens, a qual engloba dois fatores: for-
ças produtivas e relações de produção.
Quadro 01 - Definição sobre os conceitos: forças produtivas e relações de produção

Forças Produtivas Relações de Produção


• São as formas que os homens se organi-
• Condição material de toda produção = zam para executar a atividade produtiva,
matérias-primas. dentre elas:
• escravista, servis, capitalista, cooperativas.
• Instrumentos já transformados e adapta-
• Força produtiva mais relações de produ-
dos pelo homem, como ferramentas e/ou
ção = modo de produção.
máquinas.
• O homem faz a ligação entre a natureza, a
técnica e os instrumentos.
• O desenvolvimento da produção determi-
na a combinação desses elementos.
• A produção existe em função do mercado.
Fonte: a autora.

Segundo Tomazi, “[...] as mudanças ocorridas nas relações sociais fizeram com
que o trabalho passasse a ser visto como o criador de toda a riqueza, o que resul-
tou na discussão sobre seu significado” (TOMAZI, 2000, p. 48).
Conforme Braverman (1987), entre outros autores, a forma em que o traba-
lho e a força deste vêm se configurando no mundo capitalista, no qual o indivíduo
passa a vender essa força, não é possível medir ou pesar tal força, pois essa é
comprada e vendida de acordo com a produtividade expressa em cada produto
e/ou prestação de serviços.

Processo Capitalista de Trabalho e o Indivíduo Social


24 UNIDADE I

Os autores destacam que o capitalismo fez com que a finalidade, isto é, a tele-
ologia colocada no trabalho em seu desenvolvimento, fosse deturpada, pois os
produtos são projetados conforme os ditames do modo de produção capitalista
e não mais a partir do interesse e determinação individual própria do homem,
uma vez que “o trabalho humano é consciente e proposital [...]”, (BRAVERMAN
1987, p.50), e por isso centra sua finalidade em realizar algo.
Retomando o conceito de trabalho em Marx, o autor afirma que:
[…] o produto é o trabalho que se fixou num objeto, que se transfor-
mou em coisa física, é a objetivação do trabalho. A realização do traba-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
lho aparece na esfera da economia política como desrealização do tra-
balhador, a objetivação como perda e servidão ao objeto, a apropriação
como alienação (MARX, 1975, p.130).

Conceitos elaborados por Marx:


Alienação: separação entre a força de trabalho e os meios de produção.
Mais- valia: horas trabalhadas e não pagas.
Materialismo histórico dialético: método de análise e corrente teórica e
metodológica do pensamento social.
Modo de produção: relações para executar a atividade produtiva.
Valor de uso: produto do trabalho humano.
Valor de troca: mercadoria.
Fonte: a autora.

No decorrer dos séculos, verifica-se que “[…] o modo de produção capitalista é


muito dinâmico e inevitavelmente expansível, que, incessante e constantemente,
reforma o mundo em que vivemos” (HARVEY, 2005, p.41). Concomitantemente
à ideia apresentada, o desenvolvimento das forças produtivas define a produti-
vidade dos meios de produção e as relações sociais.

O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO


25

A força produtiva, a produtividade do trabalho, é, ela própria, deter-


minada por numerosas circunstâncias, entre as quais: o grau de desen-
volvimento da ciência e sua aplicação tecnológica, o modo normal do
processo de produção, a extensão e a eficácia dos meios de produção,
e, finalmente, as condições naturais […] Em regra geral: quanto maior
a força produtiva de trabalho e menor o tempo de trabalho necessário
para a produção de um artigo, tanto menor a quantidade de trabalho
que aí se encontra cristalizada e conseqüentemente tanto menor seu
valor. Inversamente: quanto menor a força produtiva do trabalho e
mais longo o tempo de trabalho necessário à produção de um artigo,
tanto maior seu valor (MARX, 1967, p. 27).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Para exemplificar esse contexto, vamos analisar a força de trabalho, a qual passa
a ser vendida como uma mercadoria, tendo o salário como seu valor, em que
se institui o trabalho assalariado. Esse, por sua vez, se estabelece em uma rela-
ção de oposição entre capital e trabalho, que se desdobra em uma divisão da
sociedade entre interesses inconciliáveis, a luta de classes entre burguesia e pro-
letariado. A análise da remuneração do capital e dos salários situam-se nesse
contexto mais amplo.
Para sobreviver, o homem precisa produzir os seus meios de subsistên-
cia e, para isso, tem que dispor dos meios necessário à sua produção.
Quando o trabalhador está desprovido dos meios de produção, está
também, desprovido dos meios de subsistência […] (IAMAMOTO;
CARVALHO, 1982, p.39).

Diante disso, o único elemento que pertence ao trabalhador é sua força de tra-
balho, a qual ele vende a partir dos ditames da lógica de produção, mas apesar
de ser responsável pela produção das mercadorias, é o modo de produção capi-
talista que determina sua função e remuneração.
O trabalhador torna-se mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto
mais a sua produção aumenta em poder e em extensão. O trabalhador torna-se
uma mercadoria tanto mais barata, quanto maior número de bens produz. Com
a valorização do mundo das coisas aumenta em proporção direta a desvaloriza-
ção do mundo dos homens.
Características que definem como o valor é determinado histórica e
socialmente:

Processo Capitalista de Trabalho e o Indivíduo Social


26 UNIDADE I

■■ Mudança de acordo com os períodos históricos;


■■ Difere entre países ou entre as regiões de um mesmo país;
■■ Difere entre as categorias profissionais;
■■ Difere entre os níveis de qualificação;
■■ Sofre interferência da luta de classes.

Coros (as) alunos (as), verificas-se que com a passagem do modo de produção
feudal para o capitalista, no final do século XVIII, com a chamada Revolução

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Burguesa, a qual visou atender as necessidades da classe emergente em garantir
a propriedade privada, trouxe consigo o chamado mundo Moderno, para rees-
truturar as relações produtivas. A enfática frase de Marx define esse processo
claramente ao afirmar que “Cada modo diferente de produção cria diferentes
formas de relações sociais”.
De acordo com Marx e Engels, é:
[...] com a divisão do trabalho […] desde que trabalho começa a ser
repartido, cada indivíduo tem uma esfera de atividade exclusiva que lhe
é imposta e da qual não pode sair; é caçador, pescador ou crítico e não
pode deixar de o ser se não quiser perder os seus meios de subsistência
(MARX; ENGELS, 1975, p. 40).

Esse processo histórico determina a vinculação de indivíduos em órbitas profis-


sionais específicas, de acordo com as condições de produção sobre qual se baseia
os estágios de desenvolvimento do capitalismo.
A divisão do trabalho na divide e a sociedade entre ocupações, cada
qual apropriada a certo ramo de produção; a divisão pormenirizada do
trabalho destrói ocupações consideradas neste sentido, e torna o traba-
lhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produção.
No capitalismo, a divisão social do trabalho é forçada caótica e anar-
quicamente pelo mercado, enquanto a divisão do trabalho na oficina
é imposta pelo planejamento e controle (BRAVERMAN 1987, p. 72).

Com base na constituição que a divisão social do trabalho pauta para a orga-
nização do processo de trabalho, esse por sua vez se apresenta como uma
característica humana, tornando-se portanto “[...] trabalho social, isto é, execu-
tado na sociedade e através dela” (BRAVERMAN, 1987, p. 72).

O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO


27

Para auxiliar a compreensão desse conteúdo, prezado(a) aluno(a), analise


as figuras abaixo:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 01 - Processo de produção


Fonte: a autora.

Figura 02 - Cadeia produtiva


Fonte: a autora.

Os esquemas apresentam como as relações de produção se estabelecem no modo


de produção capitalista, o qual envolve as forças produtivas e as relações de pro-
dução para que haja o processo de circulação da mercadoria.
Desse modo, a divisão manufatureira do trabalho é um meio de produzir mais
mercadoria com a mesma garantia de trabalho, conferindo mais rapidez no processo
de acumulação de capital. Nesse processo conserva-se o caráter manual do processo
de produção, caracterizado pela atomização; cria uma força produtiva nova resultante
da jornada de trabalho combinada (força produtiva social do trabalho), essa força
é desenvolvida para o capitalista e não para o trabalhador; contribui para a degra-
dação do trabalhador individual, acentuando o trabalho repetitivo e fragmentado,
criando uma verdadeira “patologia industrial”; estabelece uma divisão entre trabalha-
dores qualificados e não qualificados; é um método de criação de mais-valia relativa.

Processo Capitalista de Trabalho e o Indivíduo Social


28 UNIDADE I

Neste sentido, Batista (2014) expõe que:


[...] as manifestações da “questão social” estiveram presentes desde o emer-
gir das classes sociais; porém, com configurações diferenciadas na história
temporal e espacial. No entanto, é no modo de produção capitalista que
essas manifestações atingiram o seu ápice (BATISTA, 2014, p. 51).

Diante deste contexto, é importante ressaltar que o capitalismo se organizou


de duas formas peculiares, mas complementares para a acumulação da riqueza
socialmente produzida, são eles capitalismo concorrencial (a partir de meados
do século XIV a 1890) e monopolista (1890 - 1940), o qual demarca a passagem

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de um para o outro no final do século XVIII e início do século XIX.
O capitalismo concorrencial teve suas bases de organização pautado na lei do
mercado, isto é, da oferta e da procura de mercadorias; livre concorrência (mercado
– auto regulação, mão invisível); Estado Mínimo - não intervinha nas relações eco-
nômicas (guardião da propriedade privada) e a liberdade individual; em que cada
indivíduo é responsável pela sua própria subsistência. Essa conjuntura apresentava
um Estado não intervencionista junto às mazelas sociais e quando necessário uti-
liza-se a coerção; o uso da força para conter os “desajustados sociais”.
Já no capitalismo monopolista há uma superprodução, limites na relação
do mercado e intervenção estatal, com o início dos direitos à classe trabalha-
dora, aumento do exército industrial de reserva bem como investimentos em
tecnologias para o aumento da acumulação do capital, o que abordaremos minu-
ciosamente na segunda unidade do livro.
Por isso,
a livre concorrência constitui traço essencial do capitalismo e da pro-
dução mercantil em geral; o monopólio é exatamente o contrário da
livre concorrência, mas nós vimos esta última converter-se, sob os nos-
sos olhos, em monopólio, criando nela a grande produção, eliminando
dela a pequena, substituindo a grande por uma ainda maior, levando
a concentração da produção e do capital a um ponto tal que fez e faz
surgir os monopólios (LÊNIN, 1982, p. 87 apud Batista 2014 p.61 ).

O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO


29

Dessa forma, o capitalismo monopolista transforma parte de seu capital em


força de trabalho, em que passa a explorar todo o seu capital. Esse processo de
produção exibe o trabalhador separado das condições de trabalho, apresentan-
do-o como trabalhador assalariado, o que permite ao capitalista a conquista
dos benefícios de tudo aquilo que esta classe retira da classe trabalhadora em
forma de salário.
De modo que “[…] com a máxima ênfase é que a constituição da organização
monopólica obedeceu à urgência de viabilizar um objetivo primário: o acrés-
cimo dos lucros capitalistas através do controle dos mercados […]” (NETTO,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

2001, p. 20).
Assim, ressalta-se que:
[...] os limites colocados pelas contradições, que são intrínsecas ao
modo de produção capitalista, alertam, periodicamente, os donos dos
meios fundamentais de produção e apropriadores dos valores exceden-
tes sobre a necessidade de reavaliar a forma de produzir e acumular
[…] (BATISTA, 2014, p. 58).

Tendo em vista, esse contexto, identifica-se que:


[...] o capital sub supõe o monopólio dos meios de produção e de sub-
sistência por uma parte da sociedade – a classe trabalhista – em con-
fronto com os trabalhadores desprovidos das condições materiais ne-
cessárias à materialização de seu trabalho. Supõe ao trabalhador que
para sobreviver tem a vender sua força de trabalho. O capital supõe o
trabalho assalariado e este o capital (MARX, 1975,p. 4-101).

Sendo assim, o século XX se caracteriza a partir de um acelerado processo de


reestruturação do capitalismo e a integração econômica. Desde então, começa a
busca pelos avanços científicos, tecnológicos, entre outros. Nesse mesmo tempo
nascem as multinacionais, as quais são algumas das muitas expressões da forma
da sociedade capitalista se organizar em monopólios.

Processo Capitalista de Trabalho e o Indivíduo Social


30 UNIDADE I

TRABALHO E SOCIABILIDADE

Tendo em vista os conceitos estudados até o presente momento sobre o traba-


lho e sua relação com homem, as relações de produção e do modo de produção
capitalista, é importante assinalar que como categoria fundante do ser social o
trabalho é eminentemente primordial para a sociabilidade.
Nessa perspectiva, aponta-se que “[...] o processo de trabalho se converte em
meio de subsistência [...]” (ANTUNES, 2005, p. 126), isso porque como vimos
anteriormente, o trabalho passa para a condição de mercadoria, o que segundo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Marx (1967), precariza o trabalho na sociedade capitalista.
Segundo Antunes (2005), nesse momento há um estranhamento nesse pro-
cesso, pois ao invés de satisfazer as necessidades, o trabalho é apenas um meio
para alcançar seu objetivo principal, além de ser realizado fora da produção.
Isso ocorre porque o modo de produção capitalista visa apenas a acumulação
da riqueza socialmente produzida, para apropriar-se cada vez mais da proprie-
dade privada e dos meios de produção, condicionando o trabalhador a precárias
condições e tornando-o trabalho alienado, isto é, aquele que mutila e/ou exclui
o homem de seu pôr teleológico e escolha das alternativas para sua realização.
No entanto, ressalta-se que o
trabalho não produz apenas mer-
cadorias, produz-se também a si
mesmo e ao trabalhador como
uma mercadoria e, justamente, na
mesma proporção com que produz
bens. Semelhante fato implica ape-
nas que o objeto produzido pelo
trabalho, o seu produto, se lhe opõe
como ser estranho, como um poder
independente do produtor. Por isso,
a afirmação de Marx (1967) é inci-
siva ao declarar que o trabalho
alienado não realiza o trabalhador.

O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO


31

Na obra “Os Manuscritos de 1844”, Karl Marx faz uma crítica radical à socie-
dade capitalista centrada na análise da alienação, cuja matriz explicativa está na
alienação sócio-econômica. Uma vez que, para o autor a propriedade privada
é a força motriz dos meios produtivos, sendo intrínseca a alienação, por ser a
raiz dos antagonismos sociais e políticos, que delineiam a sociedade burguesa.
O capitalismo produz a concentração de riqueza que reduz os que vendem
o seu tempo de vida para sobreviverem - os proletários - a um estado de aliena-
ção. A teoria marxista, compreende que os processos econômicos determinam
toda a evolução social humana. Assim, a organização econômica de uma socie-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

dade é a sua base, sua “infraestrutura”. A cultura em geral e o próprio sistema


educativo, dependem desta e constituem a “superestrutura”. É a propriedade pri-
vada dos meios de produção que gera desigualdade e alienação.
Para aumentar a mais-valia, o capital desenvolveu vários métodos, dentre
eles destaca-se o fordismo, que é a terminologia adotada para explicar a forma
de organização desenvolvida por Henry Ford em 1914 em sua fábrica, a qual
estruturou um novo modelo de produção, representou uma etapa importante
para o capital, “[...] a era do consumismo: produção em massa para um consumo
em massa. Esse processo disseminou-se e atingiu todos os setores das socieda-
des industriais (TOMAZI, 2000, p.52).
Em seguida surgiu a expressão taylorismo, que também identificava esse
processo de aumento na produtividade, desenharam um modelo de linha de
montagem para aprimorar o controle das horas trabalhadas, a divisão das tare-
fas e a mecanização de alguns processos, inserção das máquinas para a produção
em larga escala.
A revolução que o trabalho no modo de produção capitalista demarca pro-
cessos importantes e complexos para a sociabilidade humana, por perpassar,
primordialmente, pelas suas condições de sobrevivência, que impõe a garantia
de suas necessidades objetivas, como: alimentação e moradia, estendendo-se
para outras criadas pelas relações sociais de produção e reprodução de produ-
tos e serviços da sociedade moderna.

Trabalho e Sociabilidade
32 UNIDADE I

[...] de um lado, tem-se o caráter útil do trabalho, relação de intercâmbio


entre os homens e a natureza, condição para a produção de coisas social-
mente úteis e necessárias. É o momento em que se efetiva o trabalho concre-
to, o trabalho em sua dimensão qualitativa [...] (ANTUNES, 2005, p. 84).

De acordo com o autor, a compreensão sobre a finalidade do trabalho, traz a


indagação da forma como a sociabilidade vem sendo agregada no valor das
mercadorias, por ser considerada como atributo primordial na relação mercado-
lógica estabelecida pelo capital. Assim, prevalece a criação dos valores de troca
em relação ao valor de uso das mesmas, em que a finalidade do produto em si
não é o objetivo principal, mas sim o valor de comercialização.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Por isso, Marx é enfático quando diz que “[...] para produzir mercadorias
é preciso que não se produzam apenas valores de uso, mas valores de uso para
outrem, valores de uso sociais [...]” (MARX, 1967, p. 28-29). Essa é a lei que
rege o processo de circulação do modo de produção capitalista, e seu processo
de fortalecimento e acumulação dos bens e riquezas socialmente produzidos.
O capital se corporifica na forma de dinheiro para que haja a produção e a
circulação das mercadorias, bem como se expressa nas relações sociais huma-
nas que em detrimento desse processo de mercadorização se tornam reificadas.
Para Iamamoto, “ao mesmo tempo em que as expressam, as encobrem, pois as
relações aparecem invertidas naquilo que realmente são [...] relações entre clas-
ses sociais antagônicas [...]” (IAMAMOTO; CARVALHO 1982, p. 31).
Salienta-se que:
[...] o produtor só se confronta com o caráter social do seu trabalho no
mercado: sua interdependência em face dos outros produtores lhe apare-
ce no momento da compra-venda das mercadorias; em poucas palavras:
as relações sociais dos produtores aparecem como se fossem relações en-
tre as mercadorias, como se fossem relações entre coisas. A mercadoria
passa a ser, então, a portadora e a expressão das relações entre os homens.
Na medida em que a troca mercantil é regulada por uma lei que não
resulta no controle consciente dos homens sobre a produção (a lei do va-
lor), na medida em que o movimento das mercadorias se apresenta inde-
pendentemente da vontade de cada produtor, opera-se uma inversão: a
mercadoria, criada pelos homens, aparece como algo que lhe é alheio e os
domina; a criatura (mercadoria) revela um poder que passa a subordinar
o criador (homens) (BRAZ; NETTO, 2008, p. 41).

O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO


33

Concomitantemente ao apresentado pelos autores, verifica-se que que há um


fetichismo da mercadoria, expressão utilizada por Marx (1967) para explicar
como há a desvalorização dos homens pelo capital e por eles mesmos, uma vez
que são consideradas a prevalência do Ter ao Ser.
Tal condição é mensurada pela reificação que significa a coisificação nas rela-
ções sociais, imbricadas pelo capital para subordinar uma classe sobre a outra.
O que faz emergir os interesses antagônicos entre Capital X Trabalho.
Desse modo, é fundamental compreender que é por meio do modo de pro-
dução capitalista que se realiza a construção das relações sociais. Assim,
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o processo capitalista de produção expressa, portanto uma maneira


historicamente determinada de os homens produzirem e reproduzirem
as condições materiais da existência humana e as relações sociais atra-
vés das quais levam a efeito a produção. Nesse processo se reproduzem,
concomitantemente, as idéias e representações que expressam estas
relações e as condições materiais em que se produzem, encobrindo o
antagonismo que as permeia [...] (IAMAMOTO, 1982, p. 30)

Com base no apontamento da autora, evidencia-se que as relações humanas não


são determinadas apenas pelas subjetividades individuais, mas, principalmente,
pelas relações materiais que os circundam, sendo esse fator determinante nas
relações sociais, as quais não são realizadas de forma isolada.
A partir dos anos 1970 surge o conceito de natureza flexível do trabalho, que
traz consigo uma roupagem de “novo capitalismo”, o qual alterou seu significado
em relação ao sentido do ofício. Uma vez que a flexibilização do trabalho não
passa de uma nova forma de controle, em que penetra nas entranhas do indiví-
duo, em seu caráter, afetando seus próprios valores (SENETT, 2000).
Esses são riscos desconhecidos e geram uma latente configuração no traba-
lho, pois não há nenhum estranhamento e/ou indignação dessa relação corrosiva
que trabalho exerce no ser social. Assim, esse contexto não fornece condições
para a formação do indivíduo sobre o que realmente o trabalho significa, pois a
ausência de compartilhar experiências predomina sua fragmentação, impossi-
bilitando a formação de identidade de classes sociais.

Trabalho e Sociabilidade
34 UNIDADE I

O homem faz sua história, mas não a faz sozinho, faz de acordo com a reali-
dade concreta que o circunda.
(Karl Marx)

Destarte, o trabalho passa a ocupar todo o tempo do indivíduo, sendo a mais-

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-valia sua dedicação exclusiva, o que implica na corrosão do caráter, que está
intrinsecamente relacionada como às relações humanas contemporâneas estão
associadas à frieza e a exploração do outro, permeados pelo fascismo que estão
presentes e contribuem para a quebra dos vínculos, sendo a ausência freqüente
no ambiente familiar, fragmentando as relações sociais e familiares. Por isso, o
homem burguês é um subproduto do capitalismo.

O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO


35

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Prezado(a) aluno(a), ao finalizar nossos estudos acerca do debate sobre o pro-


cesso de trabalho enfatiza-se a sua finalidade enquanto categoria primordial, uma
vez que funda o homem como Ser Social. Por isso, a importância de compreen-
der o significado ontológico do trabalho e suas refrações nas relações sociais no
modo de produção capitalista.
Nesse sentido, iniciamos nossos estudos a partir da categoria trabalho e seu
significado ontológico, em que se buscou compreender nos fundamentos suas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

refrações para a formação do Ser Social. Para isso, foi necessário, desvelar o con-
ceito de trabalho, que traz à luz do conhecimento a necessidade de diferenciação
entre os seres orgânicos3 e inorgânicos, isto é, aqueles dotados de consciência são
capazes de gerir a teleologia em seus pensamentos e no fazer da transformação
da natureza e de produtos, bens e serviços. O homem é privilegiado e ao ser con-
siderado um Ser Social, tem condições de conhecer os meandros que envolvem
as relações sociais de produção, as forças produtivas, dentre outros elementos
que possibilitam a engrenagem do processo de trabalho ser cíclico e constante.
Tendo como base a relação intrínseca do trabalho com o homem – Ser Social,
a sociabilidade é constituinte dessa inserção, isto é, independentemente de suas
escolhas individuais, o ser orgânico está determinado a viver junto com os seus
pares, o que requer o convívio para suprir suas necessidades de sobrevivência,
sendo somente o trabalho que pode realizar esse objetivo principal.
Entretanto, verificamos que com a passar do avanço do modo de produção
capitalista, o trabalho é visto como o meio de garantir sua expansão, o que meta-
morfoseia sua finalidade, incorporando os princípios do capital para sua atividade.
Sendo assim, o processo capitalista vem formando não apenas riquezas,
bens e serviços, mas o próprio Ser Social que se forma com ideologias de um
homem burguês.

Considerações Finais
36

1. Disserte sobre a categoria trabalho e sua centralidade enquanto conceito fun-


dante do Ser Social.

2. Tendo em vista que o modo de produção capitalista é inerente ao processo de


trabalho, diferencie os conceitos: forças produtivas e relações de produção.

3. Com base nas afirmações de Marx sobre o trabalho, descreva como este con-
ceito é primordial para as relações sociais do modo de produção capitalista.

4. As figuras 01 e 02 desta unidade de estudo, apresentam como se estabelecem


as relações de produção. Assim, explique os conceitos: valor de uso e valor de
troca.

5. Marx no decorrer de sua trajetória intelectual, filosófica, econômica, elaborou


conceitos fundamentais para a compreensão do modo de produção capitalista.
Escolha três conceitos e defina cada um deles conforme as ideias do autor.
37

A CATEGORIA TRABALHO EM MARX: ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE SUA CEN-


TRALIDADE ONTOLÓGICA
A resenha de George Amaral, mestrando em em Educação e Ensino pelo MAIE-FAFIDAM/
FECLESC (UECE), aborda um esforço primeiro dessa reflexão é procurar se aproximar o
máximo possível do que anotou Karl Marx sobre a categoria trabalho. O seu desenvol-
vimento em meio a exposição para extrair o movimento do capital enquanto dimensão
hegemônico de demiurgo societal. Notadamente, queremos ressaltar também, que ape-
sar de produções de grande relevo sobre a obra do filósofo alemão, o afastamento que o
marxismo apresentou na história, ocasionou uma específica interpretação de Marx que
o coloca como determinista e economicista. Entre outros ataques para relegar sua obra
revolucionária ao plano do esquecimento e desconhecimento, fragmentar o autor em
departamentos e até mesmo invalidar seu postulado como querem os intelectuais dos
paradigmas pós-modernos. Um dos alvos é impostação de que a categoria trabalho foi
superada pela sociedade do conhecimento.
Nesse caso, consideramos a centralidade da categoria trabalho na análise da sociedade
capitalista e, por isso, Marx defendeu a concepção de trabalho emancipado, através da
superação do capitalismo. Esse é o nosso ponto de partida, pois o trabalho na sociedade
capitalista é a essência subjetiva da propriedade privada que é estranha ao homem e
à natureza e, assim, à consciência e à vida. Através desse fio condutor, podemos com-
preender melhor os fenômenos sociais, mesmo aqueles que não se constituíram em
objetos específicos de estudo na obra marxiana.
Advém daí, a necessidade de rastrearmos na obra do próprio Marx a centralidade da
categoria trabalho. Por esse prisma, a perspectiva sua ontológica basilar fundadora do
ser social e da totalidade histórica, vinculada ao complexo do trabalho. Ao passo que,
com surgimento da sociedade burguesa, pôs margem, o trabalho abstrato-estranhado
assalariado da produção social da existência alienadora da constituição essencial do ser
humano: o trabalho como forma de liberdade.
O trabalho conforme Marx é a base fundamental para que o ser humano se constituís-
se como ser social, superando a esfera do ser dominado pela natureza para o ser que
pensa e a transforma para garantir sua existência. Desse modo, o trabalho assume o
caráter mediador da relação homem e natureza, ao mesmo tempo em que transforma
a natureza, transforma o próprio homem. Com efeito, surgem novas características na
constituição de um ser que passar a dominar habilidades, desenvolver técnicas através
de conhecimentos adquiridos no intercâmbio com meio natural. Conforme Marx (2013,
p. 255), “o trabalho é, antes de tudo, um processo entre homem e a natureza, processo
este em que o homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo
com a natureza”.
38

No legado marxiano o trabalho é uma atividade tipicamente humana, porque implica


a existência de ação previamente concebida no plano das ideias que orientam a ação
a ser efetivada para alcançar um fim estabelecido. Para Marx (2013), o que diferencia o
trabalho, do ponto de vista ontológico, de qualquer atividade natural desenvolvida por
outros seres, é o ato do homem idealizar o resultado final do trabalho antes de sua obje-
tivação. Ao converter a natureza através de sua ação, o faz por meio de sua força física e
de sua potência espiritual. Ao se referir ao trabalho, Marx assinala.
Pressupomos o trabalho numa forma em que ele diz respeito unicamente ao homem.
Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e uma abelha envergonha
muitos arquitetos com estrutura de sua colmeia. Porém, o que desde o início distingue
o pior arquiteto da melhor abelha é o fato de que primeiro tem a colmeia em sua mente
antes de construí-la com a cera. No final do processo de trabalho, chega-se a um re-
sultado que já estava presente na representação do trabalhador no início do processo,
portanto, um resultado que já existia idealmente (MARX, 2013, p. 255-256).
Através dessa concepção, podemos compreender que não existe ser social sem o trabalho.
De sua natureza essencial, faz o trabalho ter como função social transformar a natureza para
criar os bens materiais necessários à existência humana, permitindo os desdobramentos de
transformações na base do ser. Com isso ele se constitui no fundamento ontológico do ser
social. Ou como prefere Lukács (2012), o trabalho é protoforma do ser social. Essa questão
expõe de acordo com Lukács (2012, p. 286) o caráter duplo da transformação. “Por um lado, o
próprio ser humano que trabalha é transformado por seu trabalho; ele atua sobre a natureza
exterior e modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza, desenvolve as ‘potências que
nela se encontram latentes’ e sujeita as forças da natureza a ‘seu próprio domínio”.
O trabalho começa quando o ser humano na interação com a natureza elabora instru-
mentos para suprir suas necessidades de sobrevivência. Posteriormente, o trabalho se
diversificou, foi sendo aperfeiçoado de geração em geração, estendendo-se cada vez
mais a novas atividades. A mudança desencadeada por esse processo desperta poten-
cialidades adormecidas, possibilita o surgimento e refinamento de habilidades que só
o homem desenvolveu. O trabalho é o ponto de partida da humanização do homem,
do refinamento de suas faculdades, processo do qual não se deve esquecer o domínio
sobre si mesmo e transformação do meio natural. Nesse sentido, essa categoria na teoria
marxiana participa do processo de humanização do homem, transformando-se no mo-
delo de toda a práxis social, realizando-se pela relação entre teleologia e movimentos de
séries causais (LUKÁCS, 2012).
Partindo de Marx e balizado por Lukács, consideramos que a história humana objetiva-
-se mediante o ato de produção de sua existência material, que se realiza pelo trabalho.
Nisso, Marx posicionou a base do desenvolvimento histórico dos homens. O mundo ob-
jetivo é, em primeira instância, produzido pelo trabalho. Ele é a categoria fundante do
ser social, pois sobre a natureza o homem imprimiu sua vontade realizando a si mesmo
através do trabalho, afastando das barreiras naturais e fundando a sociedade humana.
Fonte: Amaral (2014, on-line)1.
MATERIAL COMPLEMENTAR

O caracol e sua concha: ensaios sobre a nova morfologia do trabalho


Ricardo Antunes
Editora: Boitempo
Sinopse: o caracol e sua concha retoma, de forma polêmica
e combativa, a teoria de Ricardo Antunes, um dos mais
destacados sociólogos marxistas da atualidade, sobre a
centralidade da categoria “trabalho”.
A tese central apresentada no livro afirma que o progresso
científico-tecnológico no capitalismo contemporâneo não
resulta, como expõe a corrente eurocêntrica, no fim da teoria
do valor trabalho. O núcleo teórico de sua argumentação é
inspirado em Marx e em sua ideia de que o saber rigoroso
e o conhecimento técnico-científico desempenham papel
fundamental na transformação da produção.
Ricardo Antunes empreende um estudo sobre a alteração
produzida pela incorporação da ciência e da tecnologia na
composição orgânica do capital e nas suas relações entre
trabalho produtivo e improdutivo, manual e intelectual,
material e imaterial e na forma assumida pela divisão sexual
do trabalho, interferindo na nova composição das classes
sociais do capitalismo contemporâneo globalizado.

No vídeo sobre “A nova morfologia do trabalho”, Ricardo Antunes, faz uma análise de
como a categoria trabalho vem sendo apreendida e debatida com as configurações do
modo de produção capitalista frente a nova classe trabalhadora.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=0eOQ7ZfwJMs>.

Material Complementar
40
REFERÊNCIAS

ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho. São Paulo: Boitempo, 1999.


ANTUNES, R. Adeus ao trabalho?: ensaio sobre a as metamorfoses e centralida-
de do mundo do trabalho. 10 ed. São Paulo: Cortez, 2005.
BRAVERMAN, H. Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho. Trad.
Nathanael C. Caixeiro. Rio de Janeiro, RJ: LTC - Livros Técnicos e Científicos Editora
S.A, 1987.
BRAZ, M.; NETTO, J. P. Economia Política: uma introdução crítica. 4 ed. São Paulo:
Cortez, 2008.
BATISTA, A. A. Trabalho, questão social e serviço social. Cascavel: Edunioeste, 2014.
COSTA, C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 1997.
FREDERICO, C. O jovem Marx (1843-44: as origens do ser social). São Paulo: Cor-
tez, 1995.
HARVEY, D. A produção capitalista no espaço. São Paulo: Annablume, 2005.
IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R de. Relações sociais e Serviço Social no Brasil: es-
boço de uma interpretação histórico-metodológica. 19 ed. São Paulo: Cortez, 1982.
IAMAMOTO, M. V. Trabalho e indivíduo social: um estudo sobre a condição operá-
ria na agroindústria canavieira paulista. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2012.
MARX, K.; ENGELS, F. A Ideologia Alemã. Portugal: Editorial Presença Lisboa, 1975,
Vol I.
MARX, K. Escritos de Juventude, Manuscritos de 1844. Lisboa: Edições 70, 1975.
______. O Capital. Rio de Janeiro: Livros Técnicos, 1967.
NETTO, J. P. Lukács e a crítica da filosofia burguesa. Lisboa: Seara Nova, 1978.
______. Capitalismo monopolista e Serviço Social. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2001.
SENNETT, R. Como o novo capitalismo ataca o caráter pessoal. (cap.1). In: SENNETT,
R. A corrosão do caráter: as conseqüências pessoais do trabalho no novo capi-
talismo. Tradução: Marcos Santarrita. 4 ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.
SOUSA, M. C. Homem de, “Os Manuscritos de 1844 de Karl Marx”. Revista Portugue-
sa de Filosofia, Faculdade de Filosofia, Braga, Tomo v. 36, n. 2-1980, p.153-186.
TOMAZI, N. D. (org). Iniciação à sociologia. São Paulo: Atual, 2000.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1
Em: <http://www.marilia.unesp.br/Home/Eventos/2014/viseminariointernacio-
nalteoriapoliticadosocialismo/a_categoria_georgea.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2017.
41
REFERÊNCIAS
GABARITO

1) De acordo com Marx, o sentido do trabalho será sempre para satisfazer as ne-
cessidades humanas, sendo libertador, uma vez que a realidade coloca a neces-
sidade em primeiro lugar, tornando-se a práxis fundante, isto é, ao ser formado
por posições teleológicas a capacidade do trabalho é que dá a essência do hu-
mano em suprir suas necessidades.
2) Forças produtivas: condição material de toda produção = matérias-primas; ins-
trumentos já transformados e adaptados pelo homem, como ferramentas e/ou
máquinas; o homem faz a ligação entre a natureza, a técnica e os instrumentos;
o desenvolvimento da produção determina a combinação desse elementos; a
produção existe em função do mercado.
Relações de produção: são as formas que os homens se organizam para execu-
tar a atividade produtiva, dentre elas: escravista, servis, capitalista, cooperativas.
Força produtiva mais relações de produção = modo de produção.
3) Conforme Braverman (1987), entre outros autores que elucidam sobre a forma
em que o trabalho e a força de trabalho vêm se configurando no mundo capita-
lista, em que o indivíduo passa a vender essa força. Mas que ao mesmo tempo,
não é possível medir ou pesar tal força, pois esta é comprada e vendida de acor-
do com a produtividade expressa em cada produto e/ou prestação de serviços.
Os autores destacam que o capitalismo fez com que a finalidade, isto é, a tele-
ologia colocada no trabalho em seu desenvolvimento, fosse deturpada, pois os
produtos são projetados conforme os ditames do modo de produção capitalista
e não mais a partir do interesse e determinação individual própria do homem.
4) Valor de uso: produto do trabalho humano
Valor de troca: mercadoria
Vale ressaltar que a criação dos valores de troca em relação ao valor de uso das
mesmas, em que a finalidade do produto em si não é o objetivo principal, mas
sim o valor de comercialização.
5) Conceitos elaborados por Marx:
Alienação: separação entre a força de trabalho e os meios de produção.
Mais- valia: horas trabalhadas e não pagas.
Materialismo histórico dialético: método de análise e corrente teórica e
metodológica do pensamento social.
Modo de produção: relações para executar a atividade produtiva.
Valor de uso: produto do trabalho humano.
Valor de troca: mercadoria.
Professora Me. Daniele Moraes Cecilio Soares

REESTRUTURAÇÃO

II
UNIDADE
PRODUTIVA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender o movimento de transformação do modo de produção
capitalista.
■■ Identificar as diferenças nos conceitos de trabalho produtivo e
improdutivo.
■■ Desvelar a globalização e a mundialização do capital.
■■ Analisar as relações sociais no processo de trabalho.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ As transformações do capitalismo contemporâneo
■■ Trabalho produtivo e improdutivo
■■ O fenômeno da globalização
■■ As relações de produção e reprodução social
45

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), nesta unidade de estudo intitulada Reestruturação Produtiva,


tem-se os objetivos de compreender o movimento de transformação do modo
de produção capitalista, identificar as diferenças nos conceitos de trabalho pro-
dutivo e improdutivo, desvelar a globalização e a mundialização do capital e
analisar as relações sociais no processo de trabalho.
Para isso, vamos estudar primeiramente as metamorfoses do capital a par-
tir da crítica marxista sobre a economia política, em que se destaca a passagem
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

do capitalismo concorrencial para o monopolista, o qual teve reflexos direto nas


relações de produção e reprodução social, sendo esses elementos constitutivos
do movimento sócio-histórico do modo de produção capitalista.
Nesse sentido, buscou-se, na literatura, estudos sobre as relações entre Capital
X Trabalho, para compreender os meandros do modo de produção capitalista a
partir da dialética materialista histórica e suas configurações e estrutura ao longo
da história. Os conceitos de trabalho produtivo e improdutivo são fundamen-
tais para diferenciar a estruturação do trabalho.
A assimilação desses conteúdos se faz necessária para a aprendizagem de
como o capital gere os processos produtivos de produção e sua reestruturação,
conforme suas necessidades, impondo o trabalho e suas forças de trabalho, isto
é, a classe trabalhadora, os requisitos para a inserção na produção e reprodução
das relações sociais. Nesse contexto é abordado o fenômeno da globalização.
Entretanto, vale ressaltar que para a categoria trabalho, as finalidades des-
ses foram e são direcionadas a partir da acumulação do capital e suas múltiplas
formas de dominação e poder, o que implica na contradição dos interesses das
classes sociais.
Sendo assim, desejo a todos vocês uma excelente leitura e aprendizado!!!

Introdução
46 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
AS TRANSFORMAÇÕES DO CAPITALISMO
CONTEMPORÂNEO

No decorrer do desenvolvimento do modo de produção capitalista, verifica-se


que este modelo se metamorfoseou-se, mas para a sua compreensão é importante
destacar a crítica marxista sobre a Economia Política Clássica: caracterizada
como uma ciência burguesa da sociedade que, submetida à crítica dialética,
fornece a chave para a compreensão da sociedade capitalista e da dinâmica da
história. Karl Marx, a partir da obra “Influências: Hegel e a Economia Política
Clássica”, desenvolve a crítica de superação das concepções anteriores, levando-
-as a suas consequências e a sua formulação completa e final.
São características da Economia Política:
a) trabalhar com categorias econômicas que se apresentam como entidades
situadas fora da história.
b) não apresenta uma análise do trabalho no contexto do modo de produ-
ção capitalista.

Nesse aspecto é fundamental retomar que o Modo de Produção Capitalista pres-


supõe a propriedade privada dos meios de produção, o trabalho assalariado, para
estabelecer e ter controle de uma relação de oposição entre capital e trabalho,

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
47

que se desdobra em uma divisão da sociedade entre interesses inconciliáveis, a


luta de classes entre burguesia e proletariado. A análise da remuneração do capi-
tal e dos salários situam-se nesse contexto mais amplo.
Baseado nesse contexto, a superexploração do trabalho ocorre quando a
remuneração do trabalhador fica abaixo do valor da força de trabalho. Para isso
classificamos alguns fatores, dentre eles:
■■ a Concorrência acirrada entre empresas.
■■ a Ampliação do desemprego conjuntural ou estrutural.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■■ a Regimes ditatoriais e/ou ausência de liberdades democráticas.


Netto assinala que:
[...] o capitalismo monopolista recoloca, em patamar mais alto, o siste-
ma totalizante de contradições que confere à ordem burguesa os seus
traços basilares de exploração, alienação e transitoriedade histórica, to-
dos eles desvelados pela crítica marxiana. Repondo estes caracteres em
nível econômico-social e histórico-político distinto, porém, a idade do
monopólio altera significativamente a dinâmica inteira da sociedade
burguesa [...] (NETTO, 2001, p. 20).

Com base na afirmação do autor, é de extrema importância destacar que a crise de


1929 nos EUA , também conhecida como a grande depressão do capitalismo, com
a quebra da bolsa de valores de Nova York, em que houve a crise do liberalismo
clássico – ruína das bases liberais de acumulação; ou seja; a derrocado do Estado
Mínimo; da livre concorrência e da liberdade individual. Além disso, a moderniza-
ção da economia, propiciada pela I Guerra Mundial e uma super produção versus
a diminuição do poder de consumo que ocasionou no acirramento das expres-
sões da questão social, devido às dificuldades de manutenção da força de trabalho.
Para responder a esse cenário, o Estado passa a intervir com políticas sociais
para conter as manifestações da classe trabalhadora, se buscou no investimento
para a manutenção da força de trabalho com um único objetivo: a promoção da
acumulação de lucros por meio da junção dos meios de produção.
Neste momento de crise a pressão para melhores condições no trabalho
fez com que fosse criado um pacto, entre capital e trabalho, proposta de Estado
interventor desenvolvida por Keynes para tirar o capital da crise por meio do
pleno emprego e da igualdade.

As Transformações do Capitalismo Contemporâneo


48 UNIDADE II

Estado Mínimo X Estado Interventor

Liberalismo: Estado não interventor; Mercado auto regulável (teoria da


mão invisível – Adam Smith); Liberdade Individual.
Pacto social – K X T: capital abre espaço para a luta democrática, par-
tidos políticos e o trabalho abre mão da luta que colocasse em ameaça a
ordem de acumulação capitalista.

Esse modelo de Estado Interventor, foi fundamental para a criação do Welfare State
- Estado de Bem Estar Social, sendo essa ideia expandida mundialmente pós 1945.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
[...] As proposições de Keynes estavam sintonizadas com a experiência
do New Deal americano, e inspriraram especialmente as saídas euro-
péias da crise, sendo que ambas têm um ponto em comum: a sustenta-
ção pública de um conjunto de medidas anticrise ou anticíclicas, tendo
em vista amortecer as crises cíclicas de superprodução, superacumu-
lação e subconsumo, ensejadas a partir da lógica do capital. Mandel
sinaliza que tais medidas, nas quais se incluem as políticas sociais, ob-
jetivam amortecer a crise [...] (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p.71).

Tendo em vista os princípios que preconizam a política social, os quais buscam


amenizar o acirramento dos efeitos colaterais do capital, é necessário compreen-
der se as políticas sociais envolvem direitos ou não. Por isso, Vieira afirma que:
[…] as políticas sociais têm sido ligadas ao funcionamento do merca-
do, à capacidade de compensar as falhas deste, à ação e aos projetos
dos governos, aos problemas sociais, à reprodução das relações sociais,
à transformação dos trabalhadores não assalariados em trabalhadores
assalariados, ao abrandamento dos conflitos de classe e etc. Políticas
sociais meramente descritivas ou não, seu estudo implica muito esforço
e enormes embaraços [...] (VIEIRA, 2009, p. 13).

Assim, o Estado atua como um regulador do ciclo de crise do capital, em que


“[…] sua base de sustentação e legitimação sócio-política, mediante a generali-
zação e a institucionalização de direitos e garantias cívicas e sociais, permite lhe
organizar um consenso que assegura o seu desempenho”. (NETTO, 2001, p. 27).
Para compreender as transformações que demarcam o capitalismo mono-
polista é preciso desvelar que:

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
49

[...] a expansão monopolista provoca a fusão entre o capital industrial


e bancário, dando origem ao domínio do capital financeiro [...] Nesse
processo de monopolização verifica-se uma ampla concentração e cen-
tralização bancária [...] O sistema bancário bancário mantém sua fun-
ção de converter o capital monetário inativo em ativo, isto é, em capital
que rende lucro ao reunir todo tipo de rendimento monetário a serviço
da classe capitalista [...] (IAMAMOTO, 2012, p. 100-101).

Em conformidade com a análise da autora, verifica-se que a unificação do


capital trouxe a contraditória compreensão para a classe trabalhadora: acesso
a financiamentos e créditos, mas que na verdade é uma nova roupagem do
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

capital lucrar ainda mais com os juros e taxas que são embutidos nessa rela-
ção de empréstimo que atrela o indivíduo cada vez mais aos ditames do capital
internacional.

Figura 01 - Estado - articulação de interesses antagônicos


Fonte: a autora.

Conforme a explicação acima, identifica-se a função do Estado no modo de


produção capitalista e suas articulações a fim de garantir sua expansão e poder
sobre o processo de trabalho.

As Transformações do Capitalismo Contemporâneo


50 UNIDADE II

Ao mesmo tempo Antunes (2005) observa que no universo do mundo do


trabalho, isto é, no capitalismo contemporâneo, há diferenças na forma em que o
trabalho passa a ser classificado, pois apesar de haver uma redução do trabalhador
assalariado com vínculo empregatício há um aumento na terceirização e presta-
ção de serviços, para muitos a ilusão de tornar-se livre e dono do próprio negócio.
Entretanto, tem-se como resultado:
[...] a expansão sem precedentes na era moderna, do desemprego es-
trutural que atinge o mundo em escala global [...] Há, portanto, um
processo de maior heterogeneização, fragmentação e complexificação da

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
classe trabalhadora (ANTUNES, 2005, p. 49-50).

A essa realidade emerge o exército industrial de reserva, em especial nos perío-


dos de crise econômica, em que o capitalismo monopolista tende a crises cíclicas
e constantes para sua renovação.
No capitalismo tardio, outras determinações enriquecem o arsenal de
possibilidades de extração dos superlucros, enquanto redistribuição da
massa total de mais-valia. Além das formas incorporadas de momen-
tos anteriores (exploração de colônias e semicolônias), em decorrência
dos monopólios e da revolução tecnológica, tem-se uma justaposição
industrial global de setores dinâmicos e subdesenvolvidos num mesmo
ramo (BEHRING, 2007, p. 116).

Diante do exposto, caro(as) aluno(a), a compreensão sobre a organização do capi-


talismo monopolista, seja com as expressões de tardio ou contemporâneo, sua
estruturação pressupõe a garantia de direitos sociais para subsidiar seu desen-
volvimento, uma vez que, a base de acumulação e extração da mais-valia está na
força de trabalho da classe trabalhadora.
Contudo, não se pode confundir que as políticas sociais são submetidas a
lógica econômica para atender exclusivamente a seus interesses. Portanto, no
cenário mundial a história nos mostra que a partir de 1970 há retomada das
ideias liberais, corporificadas no chamado Neoliberalismo, que nada mais é que

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
51

um ataque ao Estado de Bem Estar Social.


A crise econômica da década 70 que atingiu diretamente os países capi-
talistas centrais e teve seus reflexos com proporções significativas nos países
considerados subdesenvolvidos e/ou em desenvolvimento, propiciou a retomada
efervescente do liberalismo com uma nova roupagem, a qual foi denominado
de neoliberalismo.
A crise econômica capitalista é sempre uma crise de superprodução de
mercadorias. Essa não é nem uma simples aparência, nem o produto de
uma visão ideologicamente deformada. É uma realidade tangível que o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

marxismo , procura explicar, e não afogar em um palavrório pseudote-


órico (MANDEL, 1985, p. 211).

Destarte, “[...] a luta para melhorar o capitalismo é tão essencial quanto sem-
pre foi. Contudo, não devemos confundir essa luta com a busca do socialismo”
(SAGRA, 2005, p. 290). O posicionamento da autora, é incisivo ao nos dizer que
enquanto o capitalismo for voltado para a acumulação, não haverá mudanças
em suas engrenagens, sendo possível somente quando houver a retomada da
luta de classes com fins revolucionários.
É preciso mostrar que o que está em desenvolvimento é um proces-
so manipulatório por uma classe determinada, de um modo bastante
preciso, e que a manipulação parte de certos pretensos axiomas que
são incapazes de resistir a uma observação mais atenta (LUCKÁS, 1969
apud BATISTA, 2014, p. 75 ).

Frente a este contexto, Harvey (2005) em sua obra “A produção capitalista do


espaço”, aborda que é preciso “[...] centralizar o capital em megaempresas ou
estabelecer alianças mais amplas (como no setor automobilístico ou aéreo), para
dominar os mercados [...]” (HARVEY, 2005, p. 224). Esse movimento faz com
que sejam ampliados os direitos e legislações internacionais que assegurem a
propriedade privada no comércio global.

As Transformações do Capitalismo Contemporâneo


52 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
TRABALHO PRODUTIVO E IMPRODUTIVO

Conforme vimos na unidade anterior, a categoria trabalho é a principal fonte


de compreensão da organização social do modo de produção capitalista, bem
como da formação do ser social e das relações que são estabelecidas nesse pro-
cesso de desenvolvimento da sociedade de classes.
Marx (2000) classifica que o trabalho produtivo é aquele que possui um
valor, como por exemplo um produto X que custa Y. E o trabalho improdutivo
não tem condições de ser medido nessa escala de proporção econômica por não
produzir valor, como o trabalho doméstico. Essa análise simplificada nos apre-
senta que no mundo capitalista que retifica as relações sociais, o trabalho tem
que ser classificado de acordo com o valor de uso e de troca, sendo primordial
para sua condição na divisão sociotécnica do trabalho.
Braz e Netto, salientam que:
[...] pode-se definir trabalho produtivo como todo trabalho que se troca por
capital [...], ou seja, todo trabalho que enriquece a um ou a vários capitalis-

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
53

tas e que lhes permite apropriar-se de uma parte da massa global de mais-
-valia produzida pela massa global de trabalho assalariado que produz va-
lor. [...] Todo trabalho assalariado contratado pela empresa capitalista – em
contraste com o trabalho doméstico [...] – entra nesta categoria (MAN-
DEL, 1985, p. 122-123 apud BRAZ; NETTO, 2008, p. 115; grifo nosso).

Assim,
[...] o trabalho produtivo é o que se troca por dinheiro enquanto capital
– ou, mais concisamente, troca-se diretamente por capital – , isto é, po di-
nheiro que está destinado a enfrentar, como capital, a força de trabalho.
Para o trabalhador, o trabalho produtivo limita-se a reproduzir o valor
previamente definido da força de trabalho [...] (IAMAMOTO, 2012, p. 75).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Baseado nessas compreensões de trabalho produtivo, verifica-se que somente


a venda de produtos e serviços pelo capital é que se caracteriza como tal, isto é,
por ter o caráter de geração de lucros, além do processo de produção.
[...] para Marx, o trabalho produtivo é o que repõe o capital variável e
produz mais-valia; o mesmo trabalho de qualidade determinada pode
ser produtivo – se é comprado pelo capital para valorizá-lo – ou im-
produtivo, se é comprado pelo consumidor, com sua renda para con-
sumi-lo como valor de uso [...] o caráter de trabalho produtivo não é
definido pelo consumidor dos serviços, mas pelo empresário capitalista
que emprega os trabalhadores que o realizam e,ao realizá-lo, repõem
o capital variável e produzem mais-valia (IAMAMOTO, 2012, p. 81).

Para exemplificar esse conceito, vamos analisar uma sessão de cinema. Uma pro-
dutora compra a força de trabalho dos atores e equipe técnica para gravação,
com a venda do filme se restitui o valor pago em salários e os custos e obtém o
lucro, finalidade pela qual os produtos sejam eles enquanto mercadoria ou pres-
tação de serviços é realizado.
Nesse sentido, Behring apresenta que:
[...] quanto a distinção entre trabalhadores produtivos e improdutivos,
a economia burguesa assume uma firme oposição. As atividades labo-
rativas são equalizadas ao adquirir um preço no mercado. Dessa forma,
a única diferença é a magnitude da remuneração entre entre os vários
tipos de trabalho. No entanto, o trabalho improdutivo, segundo Baran,
representa uma parcela significativa do trabalho empregado, que não se
relaciona diretamente com o processo de produção e se mantém por uma
parte do excedente econômico da sociedade (BEHRING, 2007, p. 54).

Trabalho Produtivo e Improdutivo


54 UNIDADE II

Desse modo, Iamamoto pautada nas ideias de Marx afirma que “[...] o trabalho
improdutivo é aquele que se troca diretamente por renda, isto é, salário e lucro
[...]” (IAMAMOTO, 2012, p. 83). Tendo em vista essa definição de trabalho
improdutivo e das demais abordadas sobre o trabalho produtivo, conclui-se que
o mesmo trabalho se classifica nessas duas categorias, uma vez que o critério de
análise está na forma em que o trabalho ou as relações de produção se realizam.
A contínua transformação que ocorre na base produtiva não se dá no
mesmo ritmo e intensidade nos vários ramos e esferas produtivas. Re-
produz “em sua forma capitalista, a velha divisão do trabalho com suas

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
particularidades ossificadas”. A tendência do desenvolvimento do capital
na sua maturidade é atribuir um caráter científico ao processo inteiro
de produção, desvencilhando-o da dependência da habilidade direta do
trabalhador em favor da aplicação tecnológica da ciência. Essa tendência
expressa a contradição do próprio capital: colocar o tempo de trabalho - a
quantidade de trabalho vivo - como o princípio determinante da produ-
ção de valor, ao mesmo tempo que tende a reduzir o trabalho imediato
a proporções as mais exíguas a um momento subalterno - ainda que im-
prescindível - , ante a aplicação tecnológica da ciência e a estruturação
social da produção [...] (IAMAMOTO, 2012, p. 141-142).

Com relação ao Serviço Social, Freire (2010) afirma que:


[...] um mesmo assistente social, desempenhando um mesmo trabalho
concreto sob a forma de serviço, possuindo mais de um vínculo, de-
senvolve, em uma empresa, um trabalho produtivo (de mais-valia) e,
em uma instituição pública voltada para a saúde do trabalhador, por
exemplo, um trabalho improdutivo (FREIRE, 2010, p. 75).

Para complementar, elucida-se que o “serviço social, como divisão, subordina-se


ao movimento de reorganização interna do processo produtivo, de tal modo que
suas atribuições variam conforme as necessidades do processo [...] (KARSCH,
1998, p. 40). A compreensão da autora nos remete a refletir sobre a imbricação
que a profissão possui na sociedade de classes.
Sendo assim, caro(a) aluno(a), a organização que o modo de produção
capitalista estabelece para seu desenvolvimento em larga escala e expansão de
monopólios para seu controle e poder dos mercados, está imbricado diretamente
ao regime político e ideologias, que direcionam os rumos que a sociedade de
classes segue em seu percurso sócio-histórico.

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
55

Na obra “Manuscritos Econômico- Filosóficos”, escritos por Marx em 1844,


o autor faz uma crítica sobre a exploração do capital sobre o trabalho. Essa
literatura é considerada clássica, pois traz para a realidade contemporânea
elementos fundamentais para a reflexão da reestruturação produtiva do tra-
balho.
Para saber mais acesse: <http://petdireito.ufsc.br/wp-content/uplo-
ads/2013/05/manuscritos-economicos-e-filos%C3%B3ficos-_-marx.pdf>.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Fonte: a autora.

O FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO

A história demarca um processo chamado de mundialização do capital, em que


a propriedade ditada pelo capital é referente a centralização monetária, que con-
serva a forma que pretende se produzir dentro da esfera financeira. O poder e
a existência desse capital monetário (dinheiro), são definidos pelas instituições
financeiras internacionais e pelos estados mais poderosos do globo.

O Fenômeno da Globalização
56 UNIDADE II

Portanto, a manifestação da mundialização do capital ocorre sob a forma de


uma progressão quantitativa do movimento de e centralização e concentração
do capital industrial. Tal contexto, propiciou a abertura econômica e a crescente
limitação dos poderes dos Estados, em que o poder se concentra nas forças do
mercado, nos grupos e corporações financeiras que junto ao Estado definem as
estratégias para o desenvolvimento e os ajustes político-financeiro.
Desse modo, as terminologias mundialização e globalização do capital são
semelhantes, sendo utilizadas por vários autores para denominar a abertura ou
um novo fenômeno na economia, que é formado por um conjunto de processos

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que possibilitam produzir, distribuir e construir bens e serviços, independen-
temente das fronteiras. Um exemplo disso, são os blocos econômicos formados
pelos países para firmar alianças de importação e exportação de produtos entre
si, como o G8 que buscou liderar a economia mundial.
Considerando que a globalização pode ser definida como uma estratégia do
capitalismo enfrentar a crise, a partir da constituição de uma nova ordem mun-
dial para a acumulação do capital. Dessa forma, após o de 1970, com a inserção
da configuração do capitalismo imperialista ou tardio, houve a necessidade de
agregar os mercados internacionais para minimizar os custos do modo de pro-
dução, a exportação e importação de produtos de países desenvolvidos e em
desenvolvimento cresceu em uma escala longitudinal.
[...] O recente surto de globalização diminui significativamente a proteção
monopolista conferida historicamente pelos altos custos de transporte e
comunicação, embora a remoção das barreiras institucionais ao comércio
(protecionista) também tenha reduzido as rendas monopolistas a ser obti-
das por esse meio. No entanto, o capitalismo não pode existir sem poderes
monopolistas, e busca meios de reuni-los. Portanto, a ordem do dia é como
reunir os poderes monopolista numa situação em que foram muito re-
duzidas, quando não eliminadas, as proteções proporcionadas pelos assim
chamados “monopólios naturais” [...] (HARVEY, 2005, p. 224).

No entanto, verifica-se que, de um modo geral, essa formação global ou mundial,


ocorre por meio de uma lógica de exclusão de países, regiões e, consequentemente,
das pessoas, pois é uma etapa do capitalismo é regida pela ideologia do mercado livre,
mas que a acumulação flexível do capital se desenvolve em um sistema integrado.

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
57
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Figura 02 - Estrutura executiva do capital


Fonte: a autora.

A Figura 02, apresenta como os organismos internacionais estão relacionados


com o processo de globalização, em que a organização dos mercados trouxe-
ram para a conjuntura global, “a mundialização da economia [...] resultantes
de processos de fusões e aquisições de empresas em um contexto de desregula-
mentação e liberalização da economia [...]” (IAMAMOTO, 2012, p. 108). Isto,
porque ao facilitar a entrada de empresas internacionais nos países periféricos,
o capital submete às relações cada vez mais à dependência de crescimento, bem
como a isenção fiscal e a dívida pública, ao financiar esse processo, que se pro-
paga pelo falso discurso de geração de emprego e renda.
Em um mercado mundial realmente unificado, impulsiona-se a tendên-
cia à homogeneização dos circuitos do capital, dos modos de dominação
ideológica e dos objetos de consumo – por meio da tecnologia e da mul-
timídia. Homogeneização está apoiada na mais completa heterogeneidade e
desigualdade das economias nacionais. Acelera-se, pois, o desenvolvimen-
to desigual, aos salts, entre empresas, ramos de produção da indústria e
de diferentes nações, e, no interior dos países, a favor das classes e grupos
dominantes [...]. A transferência de riqueza entre classes e categorias so-
ciais e entre países está na raiz do aumento do desemprego crônico, da
precaridade das relações de trabalho, das exigências de contenção salarial,
da chamada “flexibilidade” das condições e relações de trabalho, além do
desmonte dos sistemas de proteção social (IAMAMOTO, 2012, p. 111).

O Fenômeno da Globalização
58 UNIDADE II

Assim, a imposição dos países desenvolvidos, capitalistas e detentores do poder


econômico e político, em um mundo considerado globalizado para as relações,
se fez necessária, com a justificativa de redução estatal para propiciar o desen-
volvimento e expansão brasileira nos mercados internacionais.
[...] A generalidade do mercado globalizado gera [...] uma força pode-
rosa, que procura garantir não apenas a continuidade dos privilégios
monopolistas da propriedade privada, mas também as rendas mono-
polistas que resultam da descrição de mercadorias como sendo merca-
dorias incomparáveis (HARVEY, 2005, p. 227).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Por isso, a constituição da globaliza-
ção obedeceu à urgência de viabilizar o
acréscimo de lucros do capital por meio
do controle dos mercados, princípios da
organização monopólica.
Neste sentido, Harvey (2005) aborda
que “[...] o conceito de renda monopo-
lista dentro da lógica da acumulação do
capital, é que o capital não possui meios
de se apropriar e extrair excedentes das
diferenças locais [...]” (HARVEY, 2005,
p. 235). Essa organização do capital na
globalização trouxe a questão dos com-
modities, isto é, a matéria-prima das
mercadorias como primordiais para o
processo de produção capitalista da con-
temporaneidade, considerando que cada
país tem em suas riquezas naturais e mão
de obra, busca-se a unificação por meio
da globalização como fator indispensá-
vel para a massificação das mercadorias,
bens e serviços em prol da acumulação
do capital.

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
59

AS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO


SOCIAL

Vimos nos conteúdos abordados que


as relações de produção e a reprodução
social se estabelecem na sociedade por
meio do modo de produção capitalista,
em que este comanda o processo de tra-
balho, é fundamental compreender sua
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

dinâmica.
Segundo Marx (2013), o que deter-
mina a vida do homem são as relações de
produção, pois são as bases que condicio-
nam as demais relações sociais, uma vez
que a produção é a raiz de toda estru-
tura social.
Considerando que as relações de produção formam as relações sociais, a
partir da perspectiva da totalidade, a qual Carvalho e Netto (2000), apresentam
como aquela que está “[...] em processo de estruturação e desestruturação. Ela
é histórica. Assim, é preciso captar o seu movimento e a sua direção enquanto
devir histórico”. (CARVALHO; NETTO, 2000, p.21).
Tendo em vista a ideia dos autores, identifica-se que é na vida cotidiana que as
relações de produção e a reprodução social realizam-se diariamente. “[...] O critério
de validez do cotidiano é o da funcionalidade” (CARVALHO; NETTO, 2000, p.25).
Nesse sentido, é preciso compreender que é na vida cotidiana que surgem
condições para a reprodução social, pois é nessa conjuntura que o homem a
reproduz como um dos instrumentos para sua sociabilidade.
As relações de produção se desenvolveram em torno do processo de traba-
lho, sendo fundamental para realizar a leitura da realidade, que segundo Marx
(2000), torna-se algo concreto, pois a sociedade é uma totalidade de máxima
complexidade. Esta por sua vez, precisa ser desvelada continuamente para que
suas especificidades sejam enfrentadas.

As Relações de Produção e Reprodução Social


60 UNIDADE II

Para isso, é necessário compreender que processo de construção, descons-


trução, para decifrar e reconstruir a categoria trabalho, por meio do método
do materialismo histórico dialético e das mediações entre singular-particular-
-universal para abstrair o movimento que perpassa as relações de produção e a
reprodução social.
A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os
instrumentos de produção e, portanto, as relações de produção, isto
é, todo o conjunto das relações sociais. Esta mudança contínua da pro-
dução, esta transformação ininterrupta de todo o sistema social, esta
agitação, esta perpétua insegurança distinguem a época burguesa das

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
precedentes. Todas as relações sociais tradicionais e estabelecidas, com
seu cortejo de noções e idéias antigas e veneráveis, dissolvem-se; e to-
das as que as substituem envelhecem antes mesmo de poder ossificar-se
(MARX; ENGELS, 2000).

Frente ao exposto, fica evidente o papel que a tecnologia e a ciência exercem na


sociedade burguesa, isto é, sua atuação e desenvolvimento, apesar de contribuir
com inúmeros fatores que auxiliam as condições objetivas de vida da população,
em contrapartida, para isso, os indivíduos têm que estar diretamente inseridos
na cadeia produtiva, o que faz marginalizar o exército industrial de reserva.

Segundo Marx e Engels (2000, p. 41) “[...] a história da sociedade até os nos-
sos dias tem sido a história da luta de classes.”.Por que enfatiza na contem-
poraneidade os rumos que o modo de produção capitalista percorreu desde
sua gênese.

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
61

Alvin Toffler e Heidi Toflfler (2012), em sua obra “O futuro do capitalismo:


a economia do conhecimento e o significado da riqueza no século XXI”, aborda
que estamos vivenciando a terceira onda de riqueza, “[...] “desmassifica” a pro-
dução, os mercados e a sociedade [...] reconhece e aceita uma diversidade muito
maior de modelos familiares”. (TOFFLES, A; TOFFLER, H, 2012, p. 39). Essas
configurações da contemporaneidade contribuem para um novo olhar da socie-
dade de classes, em que se reconhece as divergências entre Capital X Trabalho,
mas que não se tem uma cisão no modo de produção.
Exemplo disso, são as atividades mercantis artesanais, que apesar de estarem
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

em crescimento, não suportam a concorrência de custo e lucro do capitalismo


monopolista.
Em 1776, Adam Smith chamou a divisão de trabalho de “a fonte que
possibilita grande melhora na capacidade produtiva”. Porém é preci-
so considerar que quanto mais refinada e especializada se torna uma
tarefa, mas difícil e caro fica para integrá-la à cadeia produtiva, espe-
cialmente em uma economia competitiva que valoriza a inovação (TO-
FFLES, A; TOFFLER, H, 2012, p. 46).

Tendo em vista esta premissa, os autores afirmam que:


[...] os custos da integração podem exceder o valor e a importância
dessa superespecialização [...] profissionais altamente especializados
podem ajudar a produzir inovações e mudanças incrementais, mas a
inovação que rompe totalmente com o passado e com o que existia
antes dela, em geral, é produto de grupos transdisciplinares de trabalho
(TOFFLES, A; TOFFLER, H, 2012, p. 46).

Desse modo, caro(a) aluno(a), verifica-se a importância que o trabalho


multidisciplinar, transdisciplinar e interdisciplinar vem desenvolvendo na con-
temporaneidade frente às relações de produção e reprodução social, em que se
faz necessário a competência técnica e as habilidades específicas de cada área do
conhecimento em prol das melhorias nos processos sociais de trabalho.

As Relações de Produção e Reprodução Social


62 UNIDADE II

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Prezado(a) aluno(a), este estudo teve o intento de discutir os impactos que o


capitalismo trouxe para a reestruturação produtiva, qual é de extrema importân-
cia no processo de formação acadêmica, bem como na atuação profissional, pois
os pressupostos marxistas nos fornecem subsídios ímpares para compreender a
questão trabalho e produção, elementos fundamentais para o entendimento da
teoria da acumulação, a qual possui um elo com o imperialismo capitalista que
criou as dependências entre os países e a relação do comércio exterior.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os estudos apontaram que a globalização é formada pelas grandes potên-
cias econômicas mundiais na gestão e articulação para a exploração dos países
em desenvolvimento, as quais são condições sine qua non para compreender a
influência que o modo de produção capitalista leva para cada espaço social, seja
ele familiar e/ou comunitário.
Assim, a compreensão acerca das transformações do capitalismo contem-
porâneo são primordiais para entender o movimento histórico e dialético do
capital, o que requer o aprendizado sobre os conceitos do trabalho produtivo e
improdutivo, elaborados por Marx para distinguir o trabalho que gera mais-va-
lia daquele que apenas realiza suas atividades sem a finalidade econômica direta.
As relações de produção e reprodução social foram fundamentais para apre-
ender como ocorre o movimento das engrenagens da categoria trabalho frente às
imposições do modo de produção capitalista. Vale ressaltar, que o objetivo pri-
mário do capitalismo monopolista refere-se ao acréscimo dos lucros, por meio
do controle dos mercados, esse processo ocorre das seguintes formas: fusão de
empresas, acúmulo de riquezas e bens socialmente produzidos pelo processo de
trabalho e exploração da mais-valia.
Por isso, a aprendizagem dos conteúdos abordados são elementos obrigató-
rios para o aprofundamento do conhecimento acerca dos processos de trabalho
na contemporaneidade.

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
63

1. Considerando as transformações do capitalismo, descreva as características da


Economia Política e sua interferência no modo de produção e nas relações
sociais de produção. Justifique sua resposta.

2. Tendo em vista os conceitos elaborados por Marx de trabalho produtivo e impro-


dutivo, faça um pequeno texto de 3 a 4 parágrafos dissertando as relações
sociais que são intrínsecas a este processo.

3. Com base na Figura 01 - Estado - articulação de interesses antagônicos, descre-


va a função do Estado no modo de produção capitalista.

4. A globalização é um fenômeno que vem se desenvolvendo e consolidando-se


para o fortalecimento e expansão/dominação do modo de produção capitalista.
Explique quais são as consequências desse processo?

5. Análise a figura 02 e explique em que consiste a estrutura executiva do capital.


64

RTrabalho, Educação e Reestruturação Produtiva.


O livro organizado por Fabiane Santana Previtali, doutora em Ciências Sociais (UNI-
CAMP), docente do Programa de Pós-Graduação em Educação (UFU), pesquisadora aca-
dêmica (FAPEMIG e CNPq)) e coordenadora do Grupo de Pesquisa Trabalho, Educação e
Sociedade (GPTES), traz em seu bojo importante contribuição à temática dos impactos
da reestruturação produtiva sobre as esferas do trabalho e da educação. A obra reúne
o resultado de debates e discussões desenvolvidas por pesquisadores de diversas uni-
versidades (UFU, UFSCAR, UFG, UNICAMP e Université de Provence), instigados pelos
reflexos históricos, econômicos, políticos e sociais sobre os setores produtivos em suas
mais diversas vertentes, advindos das novas exigências do capital mundializado, cujo
interesse maior repousa na superação da crise estrutural que impede sua expansão.
Questões relativas ao processo de reorganização do trabalho, tais como a flexibilização,
intensificação, produtivismo exacerbados, inovações tecnológicas e novas formas de
controle do trabalhador para maximização dos lucros, representam algumas das mui-
tas preocupações levantadas pelos autores. Estes procuram demonstrar que a captura
da subjetividade dos trabalhadores e a constante responsabilização dos mesmos pela
própria capacitação/qualificação para se adequarem ao perfil imposto pelo mercado,
fragmenta, individualiza e enfraquece a classe, cada vez mais constrangida e subsumida
aos interesses do capital. O trabalho deixa de ser atividade vital e modo de produção
e reprodução de uma vida plena e digna para tornar-se instrumento de exploração e
adestramento – passa a ser trabalho alienado, estranhado, aprisionador.
Estruturado em três partes, o livro aborda em um primeiro momento a questão relacio-
nal Trabalho e Educação, tendo como premissa a problemática do trabalho enquanto
categoria central da sociabilidade humanaDenota-se a grande relevância, abrangência
e atualidade desta obra, cujo supedâneo são os esforços e estudos coletivos de elevado
rigor científico dos pesquisadores envolvidos em sua elaboração. O leitor é brindado
com explanações precisas sobre as transformações ocorridas no mundo do trabalho e
convidado a refletir sobre o cenário de precarização das condições de vida e emprego
da classe trabalhadora em face das exigências do capital. Questionamentos acerca das
políticas neoliberais e do papel do Estado na regulamentação dos interesses da socieda-
de civil são trazidos à baila com indispensável senso crítico. Os autores demonstram que
a reestruturação produtiva e a reorganização do trabalho na cidade e no campo impli-
cam em reflexos nocivos sobre a classe trabalhadora. Por seu turno, as novas demandas
mercadológicas de qualificação profissional impedem a formação de uma consciência
capaz de promover a emancipação dos trabalhadores. A fim de impedir a expansão des-
te triste cenário, faz-se necessário aos estudiosos do tema munir-se desta e de outras
leituras para melhor compreender e, talvez assim, propor diretrizes para uma transfor-
mação positiva do processo social contemporâneo.
Fonte: Previtali (2012, on-line)1.
MATERIAL COMPLEMENTAR

A produção capitalista do espaço


David Harvey
Editora: Annablume
Sinopse: a produção capitalista do espaço agrupa sete
textos, escritos entre 1975 a 2001, de índole essencialmente
metodológica, que buscam explicar os fundamentos teóricos
e conceituais com que opera David Harvey em sua singular
“geografia”. As concepções marxistas do Estado, das classes
sociais, da acumulação, da urbanização e da renda, entre
outras, são discutidas neste volume, que também apresenta
uma entrevista com o autor publicada pela New Left Review
no ano de 2000.

O artigo “Trabalho e reestruturação produtiva no Brasil neoliberal: Precarização


do trabalho e redundância salarial”, de Giovanni Alves (2009), aborda como está
organizado o processo de trabalho no país na contemporaneidade.
disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/katalysis/article/view/S1414-
49802009000200008/11117>.

Material Complementar
66
REFERÊNCIAS

ANTUNES, R. Adeus ao trabalho?: ensaio sobre a as metamorfoses e centralidade


do mundo do trabalho. 10 ed. São Paulo: Cortez, 2005.
BATISTA, A. A. Trabalho, questão social e serviço social. Cascavel: Edunioeste, 2014.
BRAZ, M.; NETTO, J. P. Economia Política: uma introdução crítica. 4 ed. São Paulo:
Cortez, 2008.
BEHRING, E. Política social no capitalismo tardio. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2007.
BEHRING, E.; BOSCHETTI, I. Política social fundamentos e história. 4 ed. São Paulo:
Cortez, 2011.
CARVALHO, M. do C. B. de; NETTO, J. P. Cotidiano: conhecimento e crítica. 5 ed. São
Paulo: Cortez, 2000.
FREIRE, L. M. de B. Oserviço social na reestruturação produtiva: espaços, progra-
mas, direções e processos do trabalho profissional. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2010.
HARVEY, D. A produção capitalista no espaço. São Paulo: Annablume, 2005.
IAMAMOTO, M. V. Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro,
trabalho e questão social. 7 ed. São Paulo: Cortez, 2012.
______. Trabalho e indivíduo social: um estudo sobre a condição operária na
agroindústria canavieira paulista. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2012.
KARSCH, U. M. S.. O serviço social na era dos serviços. 3 ed. São Paulo: Cortez,
1998.
MANDEL, E. O capitalismo tardio. Trad. Carlos Eduardo Silveira Natos, Régis de Cas-
tro Andrade, Dinah de Abreu Azevedo. São Paulo: Cultura, 1985.
MARX, K. l.; ENGELS, F. Manifesto do partido comunista. Trad. Marco Aurélio Noguei-
ra, Leandro Konder. 10 ed – Petrópolis: Vozes, 2000.
NETTO, J. P. Capitalismo monopolista e Serviço Social. 3 ed. ampliada - São Paulo:
Cortez, 2001.
SAGRA, A. A II internacional. Histórias das Internacionais Socialistas. Cadernos Mar-
xistas. São Paulo: Instituto José Luis e Rosa Sundermann, 2005.
TOFFLER, A.; TOFFLER, H. O futuro do capitalismo: a economia do conhecimento e
o significado da riqueza no século XXI. Trad. Maiza Prande Bernardello, Luiz Fernan-
do Martins Esteves. São Paulo: Saraiva, 2012.
VIEIRA, E. Os direitos e a política social. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2009.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1
Em: <periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/downlo-
ad/8640311/7870>. Acesso em: 26 abr. 2017.
67
REFERÊNCIAS
GABARITO

1. Compreensão: são características da Economia Política:


a) trabalhar com categorias econômicas que se apresentam como entidades si-
tuadas fora da história.
b) não apresenta uma análise do trabalho no contexto do modo de produção
capitalista.
Nesse aspecto é fundamental retomar que o Modo de Produção Capitalista,
pressupõe a propriedade privada dos meios de produção, o trabalho assalaria-
do, para estabelecer e ter controle de uma relação de oposição entre capital e
trabalho, que se desdobra em uma divisão da sociedade entre interesses incon-
ciliáveis, a luta de classes entre burguesia e proletariado. A análise da remunera-
ção do capital e dos salários situa-se nesse contexto mais amplo.
2. Compreensão e desenvolvimento das ideias a partir:
[...] para Marx, o trabalho produtivo é o que repõe o capital variável e produz
mais-valia; o mesmo trabalho de qualidade determinada pode ser produtivo – se
é comprado pelo capital para valorizá-lo – ou improdutivo, se é comprado pelo
consumidor, com sua renda para consumi-lo como valor de uso [...] o caráter de
trabalho produtivo não é definido pelo consumidor dos serviços, mas pelo em-
presário capitalista que emprega os trabalhadores que o realizam e,ao realizá-lo,
repõem o capital variável e produzem mais-valia (IAMAMOTO, 2012, p. 81).
Iamamoto pautada no marxismo afirma que “[...] o trabalho improdutivo é aque-
le que se troca diretamente por renda, isto é, salário e lucro [...]” (IAMAMOTO,
2012, p. 83). Tendo em vista essa definição de trabalho improdutivo e das demais
abordadas sobre o trabalho produtivo, conclui-se que o mesmo trabalho se clas-
sifica nessas duas categorias, uma vez que o critério de análise está na forma em
que o trabalho ou as relações de produção se realizam.
3. Identifica-se que a função do Estado no modo de produção capitalista e suas ar-
ticulações a fim de garantir sua expansão e poder sobre o processo de trabalho.
4. Verifica-se que de um modo geral essa formação global ou mundial, ocorre por
meio de uma lógica de exclusão de países, regiões e consequentemente das pes-
soas, pois é uma etapa do capitalismo é regida pela ideologia do mercado livre,
mas que a acumulação flexível do capital se desenvolve em um sistema integrado.
5. A figura apresenta como os organismos internacionais estão relacionados com
o processo de globalização, em que a organização dos mercados trouxe para a
conjuntura global, “a mundialização da economia [...] resultantes de processos
de fusões e aquisições de empresas em um contexto de desregulamentação e
liberalização da economia [...]” (IAMAMOTO, 2012, p. 108). Isto, porque ao facilitar
a entrada de empresas internacionais nos países periféricos, o capital submete
às relações cada vez mais à dependência de crescimento, bem como a isenção
fiscal e a dívida pública, ao financiar este processo, que se propaga pelo falso
discurso de geração de emprego e renda.
Professora Me. Daniele Moraes Cecilio Soares

III
O SERVIÇO SOCIAL E

UNIDADE
REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E A
DEFESA DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO
PROFISSIONAL

Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender a inserção do Serviço Social na divisão sociotécnica do
trabalho.
■■ Analisar o processo de trabalho no Serviço Social.
■■ Desvelar como Serviço Social se desenvolve enquanto especialização
do trabalho coletivo.
■■ Debater sobre o projeto ético político da profissão.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Serviço Social na divisão sócio-técnica
■■ Processo de trabalho no Serviço Social
■■ Serviço Social como especialização do trabalho coletivo
■■ A defesa do projeto ético-político profissional
71

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), nesta unidade aborda-se: o Serviço Social e reestruturação


produtiva: a defesa do projeto-ético profissional, em que se tem como objetivos,
compreender a inserção do Serviço Social na divisão sociotécnica do trabalho,
analisar o processo de trabalho no Serviço Social, desvelar como Serviço Social
se desenvolve enquanto especialização do trabalho coletivo e debater sobre o
projeto ético político da profissão.
No primeiro tópico vamos estudar o Serviço Social na divisão sociotécnica
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

do trabalho, que é um processo histórico determinado pela vinculação de indi-


víduos em órbitas profissionais específicas, sendo um produto social que reflete
a forma como a sociedade se reproduz.
Posteriormente, disserta-se sobre o processo de trabalho no Serviço Social
e seu desenvolvimento enquanto especialização do trabalho coletivo. Com base
nesses conteúdos, verifica-se que ao analisar a profissão é necessário romper
com a visão endógena (ir além da profissão), entender as relações e condições
de trabalho, como estas são imbricadas e afetam as atribuições, competências e
os requisitos da formação profissional.
Para finalizar enfatiza-se o debate acerca do projeto ético-político, para balizar
o caminho atual do quadro sócio-histórico que perpassa o cotidiano do exercício
profissional e conforma a população usuária dos serviços e das políticas públi-
cas e sociais. Por isso, se faz cada vez mais presente a necessidade de se articular
de maneira profunda, em uma dinâmica de transformação das relações sociais
que seja crítica ao contexto, que se vincule ao processo de resistência à ordem
dominante, em busca da promoção da cidadania e a democracia.
Portanto, convido todos a refletir a afirmação de Antoine de Saint-Exupery
“preparar o futuro significa fundamentar o presente”, então vamos lá!!

Introdução
72 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
SERVIÇO SOCIAL NA DIVISÃO SÓCIO TÉCNICA

O surgimento do Serviço Social ocorre na transição do capitalismo concorren-


cial para o monopolista, período em que se demarca a divisão sóciotécnica do
trabalho. A profissão está atrelada a necessidade do Estado e do capital em dar
respostas manifestação das expressões da questão social, formadas pelo desem-
prego e pobreza. Assim, o Serviço Social se afirma como uma instituição peculiar
na e a partir da divisão sóciotécnica do trabalho.
Nesse sentido, o Serviço Social como profissão inscrita na divisão social e
técnica do trabalho, faz-se necessário por estar vinculado aos interesses contra-
ditórios de classes, isto é, no Estado burguês capitalista. Frisa-se que o espaço
do serviço social na divisão sóciotécnica do trabalho depende: da correlação
de forças entre as classes; da posição da classe subalterno no enfrentamento da
questão social e do caráter das políticas do Estado.
O Serviço Social se gesta e se desenvolve como profissão reconhecida
na divisão social do trabalho, tendo por pano de fundo o desenvolvi-
mento capitalista industrial e a expansão urbana, processos esses aqui
apreendidos sob o ângulo das novas classes sociais emergentes a consti-
tuição e expansão do proletariado e da burguesia industrial e das modi-
ficações verificadas na composição dos grupos e frações de classes que
compartilham o poder do Estado em conjunturas históricas específicas
[...] (CARVALHO, IAMAMOTO, 1982, p.77).

OSERVIÇOSOCIALEREESTRUTURAÇÃOPRODUTIVAEADEFESADOPROJETOÉTICO-POLÍTICOPROFISSIONAL
73

Tendo em vista esse contexto, a emergência do Serviço Social no Brasil está


imbricado no movimento social da Igreja Católica da década de 1930, em que se
buscou uma presença mais ativa no mundo temporal na tentativa de recuperar
áreas de influência e privilégios perdidos, em face da crescente secularização da
sociedade e das tensões entre as relações da Igreja e do Estado.
O Serviço Social surge, portanto, da iniciativa de grupos e frações de
classes dominantes que se expressaram por meio da Igreja, como um dos
desdobramentos do movimento do apostolado leigo. A institucionaliza-
ção da profissão reconhecida na divisão do trabalho, a partir da criação das
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

grandes instituições assistenciais, estatais, autárquicas e particulares, espe-


cialmente na década de 40.
Com o processo de industrialização do século XX, em especial com os mode-
los fordista/tayloristas, que mecanizavam o trabalho humano em séries únicas
e específicas para agilizar a produção e reprodução dos bens, foram adotadas
práticas profissionais condizentes com as impostas pelo capital. Em especial, “a
atividade com bases mais doutrinárias que científicas, no bojo de um movimento
de cunho reformista e conservador […]”. (IAMAMOTO, 1997, p.21).
Por isso, Abreu (2002) afirma que se fez necessário ao Serviço Social adotar
práticas de cunho “educativo”, “ressocializador”, pois as regras do mercado de
trabalho precisavam ser seguidas sem questionamentos pelos operários, sendo
estes “adequados” às necessidades do modo de produção capitalista.
Assim, o “Serviço Social que nasce e se desenvolve embebido em ideias conser-
vadoras, incorpora as ambiguidades do reformismo conservador” (IAMAMOTO
1997, p.23). Concomitante a isso a história da profissão nos mostra o quanto a
correlação de forças entre as classes é o terreno fértil da intervenção e trabalho
do assistente social, mesmo após a ruptura “tradicional”, que tinha sua funcio-
nalidade na reprodução do status quo.
Para Netto (2011) o conservadorismo é uma afirmação como prática bur-
guesa de dominação e controle, sendo que o pensamento conservador é uma
expressão cultural e particular de um tempo e um espaço sócio-histórico, bus-
cando sempre se remeter ao passado.

Serviço Social na Divisão Sócio Técnica


74 UNIDADE III

[...] análise do surgimento do Serviço Social e do capitalismo como fe-


nômenos históricos profundamente relacionados [...] procura respon-
der a indagação se em algum momento o Serviço Social desenvolveu
formas peculiares de prática ou se, ao contrário, limitou-se a ser sempre
um modo de aparecer típico do capitalismo, por ele engendrado e de-
senvolvido [...] (MARTINELLI, 1997, p.18).

Reitera-se que:
[...] o processo pelo qual a ordem monopólica instaura o espaço determi-
nado que, na divisão social (e técnica) do trabalho a ela pertinente, propi-
cia a profissionalização do Serviço Social tem sua base nas modalidades

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
através das quais o Estado burguês se enfrenta com a “questão social”,
tipificadas nas políticas sociais [...] suas medulares dimensões políticas,
se constituem também como conjuntos de procedimentos técnico-ope-
rativos; requerem, portanto, agentes técnicos em dois planos: o da sua
formulação e o da sua implementação [...] (NETTO, 2011, p. 74).

Por isso, com o passar dos anos a necessidade do Estado dar respostas às expres-
sões da questão social, criou políticas voltada para a assistência social e com
isso precisou da contribuição de técnico qualificados a executar, gestar e plane-
jar tais políticas.
Ressalta-se, que a prática profissional do Serviço Social sofreu - e sofre até
os dias atuais - intensamente com as influências econômicas do modo de pro-
dução capitalista, para pautar suas ações e intervenções, bem como as condições
sócio-históricas que estão intrinsecamente relacionadas ao desenvolvimento ver-
sus a exploração da mão de obra humana.
No texto “O Serviço Social na divisão do trabalho”, salienta-se a importân-
cia de:
[...] apreender o movimento da prática profissional como atividade social-
mente determinada pelas condições histórico conjunturais [...] é condição básica
para se apreender o perfil e as possibilidades do Serviço Social hoje, as novas

OSERVIÇOSOCIALEREESTRUTURAÇÃOPRODUTIVAEADEFESADOPROJETOÉTICO-POLÍTICOPROFISSIONAL
75

perspectivas do espaço profissional (p.103 apud MARTINELLI, 1997, p. 87).


A afirmação é evidente ao pontuar a necessidade da reflexão da prática pro-
fissional e do contexto político e econômico que o profissional está inserido, pois
somente por meio de uma minuciosa análise de conjuntura, que o assistente
social poderá criar instrumentos que compactuem de seu projeto de sociedade
expresso em seu Código de Ética Profissional e no Projeto Ético Político.
Não obstante, os assistentes sociais se deparam com um grande desafio: o de
atender os interesses do capital, ou o de garantir direitos da classe trabalhadora.
Essa questão é um ponto de interrogação constante para todos profissionais que
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

refletem minuciosamente sua prática e/ou cotidiano profissional, pois sem “que-
rer”, o mesmo acaba por mediar o canal de comunicação entre estes, fato que
outorga falhas e negligências.
Mas como enfrentar o capitalismo de frente se esses profissionais precisam
vender sua força de trabalho, além de todos os indivíduos estarem inseridos
neste modo de produção?
Para tanto, ao analisar a profissão é necessário romper com a visão endó-
gena (ir além da profissão), entender as relações e condições de trabalho, como
essas afetam as atribuições, competências e os requisitos da formação profissio-
nal. Compreender que o atual quadro sócio-histórico perpassa e conforma o
cotidiano do exercício profissional e a população usuária dos serviços que este
presta, além de não desvincular a prática profissional do modo como o Estado
intervém na Questão Social – Políticas Sociais e Públicas.
Desse modo, é imprescindível a necessidade de se articular de maneira pro-
funda, em uma dinâmica de transformação das relações sociais que seja crítica
ao contexto, que se vincule ao processo de resistência à ordem dominante, em
busca da promoção da cidadania e democracia.

Serviço Social na Divisão Sócio Técnica


76 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PROCESSO DE TRABALHO NO SERVIÇO SOCIAL

Prezado(a) aluno(a), o processo de trabalho do Serviço Social, requer a compre-


ensão de que este se desenvolve a partir de seu objeto, isto é, a questão social e
suas múltiplas expressões. Gentilli apresenta que “o processo de trabalho é con-
figurado por todo o fazer profissional que abrange metodologias, utilização do
arsenal técnico da profissão [...]” (GENTILLI, 1998, p. 25).
Nesse sentido, o desenvolvimento do fazer profissional está intrinsecamente
relacionado as dimensões: teórico-metodológica, ético-política e técnico-opera-
tivo, por serem complementares umas outras, não sendo indissociável a teoria
da prática e vice e versa.
Após o Movimento de Reconceituação, especificamente no final da década de
80 e início dos anos 1990, o debate da categoria perpassou sobre a compreensão
de que o Serviço Social é trabalho e possui um processo próprio, desencadeou
na revisão das diretrizes curriculares, materializadas em 1996.
[...] por ser requisitado para ocupar-se de expressões da questão so-
cial, situadas no centro da tensão entre as classes fundamentais, o assis-
tente social tem condições de favorecer às necessidades da população
atendida e seu desenvolvimento como sujeito político. Nessa direção, a
formação teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política das

OSERVIÇOSOCIALEREESTRUTURAÇÃOPRODUTIVAEADEFESADOPROJETOÉTICO-POLÍTICOPROFISSIONAL
77

profissões, também presente nas organizações das categorias profissio-


nais, inserem-se nessa dinâmica contraditória, juntando-se à singulari-
dade de cada profissional (FREIRE, 2010, p. 78).

Batista (2014) aborda que foram Iamamoto e Carvalho em 1982 que fizeram a
discussão dessa temática, ao renderem a compreensão da natureza do Serviço
Social, “[...] é uma disciplina que intervém na esfera da reprodução social, nos
espaços públicos ou privados, onde a atuação dos profissionais se caracteriza
como trabalho assalariado” (BATISTA, 2014, p. 150).
Pautando-se nessa compreensão dos autores, em que o profissional de Serviço
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Social também é um trabalhador assalariado e por isso está inserido no modo


de produção capitalista, na relação de compra e venda de sua força de trabalho,
que molda sua inserção, “[...] pois o salário faz sua equivalência com o mundo
das mercadorias [...]” (IAMAMOTO 2012, p. 330).
Nessa perspectiva, a compreensão de que o Serviço Social é trabalho e tem
um processo de trabalho, baseados na teoria social de Marx se afirma com as
análises de Iamamoto e outros autores que trazem para o debate da categoria
profissional, elementos essenciais para a formatação do currículo, que:
[...] o trabalho como elemento fundante do ser social. Especificidade do
trabalho na sociedade burguesa e a inserção do Serviço Social como es-
pecialização do trabalho coletivo. O trabalho profissional face às mudan-
ças no padrão de acumulação capitalista e regulação social. Os elementos
constitutivos do processo de trabalho do Assistente Social considerando:
a análise dos fenômenos e das políticas sociais; o estudo da dinâmica
institucional; os elementos teórico-metodológicos, ético-políticos e téc-
nicos-operativos do Serviço Social na formulação de projetos de inter-
venção profissional; as demandas postas ao Serviço Social nos espaços
ocupacionais da profissão, nas esferas públicas e privadas e as respostas
profissionais a estas demandas. O Assistente Social como trabalhador e
o produto do seu trabalho. A Supervisão do processo de trabalho e o
estágio (CADERNO ABESS, 1997, p. 70 apud BATISTA, 2014, p. 153).

Para tanto, o processo de trabalho do Serviço Social, se materializa nos diversos


espaços sócio-ocupacionais como um “arsenal de técnicas”, terminologia utilizada
por Iamamoto para descrever os recursos que a profissão desenvolve em seu fazer.
Em Gentilli (1998), identifica-se que o profissional está inserido em dois pólos: o
primeiro se refere às organizações normativas, legais e jurídicas, como as universidades,

Processo de Trabalho no Serviço Social


78 UNIDADE III

o Conselho Federal de Serviço Social e os Conselhos Regionais, conjunto CFESS/


CRESS, são nestas organizações que são formadas a identidade profissional e
[...] são desenvolvidos e articulados os discursos básicos da profissão,
que deverão influenciar decisivamente as representações, a partir das
quais o processo de trabalho profissional ganhará racionalidade no
mercado de trabalho (GENTILLI, 1998, p. 27).

O segundo pólo diz respeito aos campos de atuação que, por sua vez, “[...] expres-
sam modos de trabalha; dificuldades para implementar decisões sobre “como
fazer” profissional [...]” (GENTILLI, 1998, p. 29). Esta baliza pelo que Faleiros

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
(2008) denominou de “Saber profissional e poder institucional”, obra em que
o autor discorre sobre os embates entre a categoria profissional dos assistentes
sociais e as instituições em que realizam seu trabalho, pois apesar de ser consi-
derada um profissional liberal, a mesma não se realiza com tal, por necessitar
dos aparatos para efetivação da garantia de direitos, sejam eles estatais, do ter-
ceiro setor e empresariais.
Destaca-se que “a intervenção profissional passa a ser enquadrada não em
função da problemática real da população, mas em função da perturbação da
ordem institucional” (FALEIROS, 2008, p. 61). Esse risco que o autor vislumbra
é o mais comum no cotidiano profissional e deve ser enfrentado com o conheci-
mento ético e político, articulando estratégias e conhecimento sobre o processo
de trabalho.
Iamamoto (2008), destaca que há duas implicações que precisam ser analisa-
das: a primeira refere-se “[...] não se tem um único e idêntico processo de trabalho
do assistente social [...] e sim de processos de trabalho nos quais se inserem os assis-
tentes sociais [...]” (IAMAMOTO, 2008, p. 106). E a segunda, apresenta que:
“[...] o processo de trabalho em que se insere o assistente social não é
por ele organizado e nem é exclusivamente um processo de trabalho do
assistente social, ainda que nele de forma peculiar e com autonomia
ética e técnica” (IAMAMOTO, 2008, p. 107).

Os apontamentos da autora, propiciam a reflexão de que enquanto trabalhador


assalariado o profissional irá realizar suas funções de acordo com as deman-
das impostas pelo empregador, mas em contrapartida é função do profissional
desempenhar seu trabalho no processo coletivo. Para Camargo, “[...] o Assistente

OSERVIÇOSOCIALEREESTRUTURAÇÃOPRODUTIVAEADEFESADOPROJETOÉTICO-POLÍTICOPROFISSIONAL
79

social não detém todos os meios necessários para a efetivação de seu trabalho:
financeiros, técnicos e humanos necessários ao exercício profissional autônomo”
(CAMARGO, 2008, p. 02).
Corrobora-se da afirmação da autora, a profissão mesmo sendo considerada
liberal, não se vincula no processo de trabalho desvinculada de uma instituição,
seja ela pública ou privada.
Assim,
[...] a qualificação serve tanto ao processo de modernização tecnológica
quanto para atender aquelas situações em que as mudanças situam-se ape-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

nas nos mecanismos de reorganização do processo de trabalho, a partir de


uma nova cultura de trabalho (KAMEYAMA; NOGUEIRA, 2002 p. 32).

Desse modo, a compreensão do processo de trabalho deve considerar três ele-


mentos: objeto, meios e o próprio trabalho, definidos por Iamamoto como:
[...] os resultados ou produtos dos processos de trabalho em que par-
ticipam os assistentes sociais situam se tanto no campo da reprodução
da força de trabalho, da obtenção das metas de produtividade e ren-
tabilidade das empresas, da viabilização de direitos e da prestação de
serviços públicos de interesse da coletividade, da educação sociopo-
lítica, afetando hábitos. Modos de pensar, comportamentos e práticas
dos indivíduos sociais em suas múltiplas relações e dimensões da vida
quotidiana na produção e reprodução social, tanto em seus componen-
tes de reiteração do instituído, como de criação e re-invenção da vida
em sociedade (IAMAMOTO, 2008, p. 111-112).

Entretanto, Batista (2014), traz em sua obra “Trabalho, questão social e Serviço
Social”, que autores como Lessa (1999, 2000a, 2000b) e Costa (1999), consta-
tam que o Serviço Social é trabalho e que possui seu processo próprio. Por isso,
vamos compreender a análise por eles realizada:
[...] o Serviço Social é um complexo social da esfera da reprodução.
Não é trabalho, nem processo de trabalho, porque não efetua transfor-
mação da natureza nos bens materiais necessários à sociedade, antes
participa como uma das mediações que, indiretamente na maior parte
das vezes, organizam a sociedade de tal modo a tornar a produção ma-
terial (o trabalho) possível na sua forma contemporânea, capitalista.
Neste preciso sentido, embora seja um assalariado, o assistente social,
como todo outro assalariado não operário, vive da riqueza produzida
pela classe operária (LESSA, 2000b, p. 29 apud BATISTA, 2014, p. 157).

Processo de Trabalho no Serviço Social


80 UNIDADE III

Seguindo essa perspectiva, Costa salienta que:


[...] se o Serviço Social exerce uma função no âmbito dos conflitos, a
busca de dirigir-se ao comportamento dos indivíduos decorre essen-
cialmente dessa sua prática, enquanto manifestação da função ideoló-
gica. Os conflitos derivados da totalidade social manifestam-se basica-
mente na consciência dos indivíduos. Isso significa que o serviço social
age na realidade tendo por base um momento ideal a partir do qual
opera como posição teleológica secundária. Entendemos ainda que,
por isso, a prática profissional dos assistentes sociais é perpassada por
ações muito próximas aos processos educativos e, muitas vezes, adqui-
rem também a dimensão política, inserindo-se no campo das lutas por
melhores condições de vida, de saúde, educação, trabalho etc. (COSTA,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
1999, p. 97 apud BATISTA, 2014, p. 158-159).

Frente a esse contexto, verifica-se que a compreensão da categoria trabalho na


profissão é essencial por ser ela o eixo fundante do ser social, bem como o cerne
da questão social, que é o objeto de trabalho do Serviço Social. Tem-se a impor-
tância de retomar os conceitos de trabalho produtivo e improdutivo, em que o
primeiro refere-se aquele que produz mais-valia e o segundo são os trabalhos que
desfrutam dos serviços, tais como: advogado, alfaiate, cantor, professor e o assis-
tente social, por serem socialmente determinadas na esfera da reprodução social.
Destarte,
[...] o Serviço Social também é responsável por preparar a força de traba-
lho para servir ao capital, ao mesmo tempo em que garante, por meio das
políticas sociais ‘modernas’, a atenuação dos conflitos cotidianos, os que
colocam na esfera das necessidades ou da política (BATISTA, 2014, p. 162).

Concomitante a afirmação do autor, tem-se que elucidar que ao negar a pro-


fissão enquanto trabalho, descaracteriza-se sua origem na divisão sociotécnica
do trabalho coletivo, sendo o trabalho e a questão social categorias fundamen-
tais para a formação do Serviço Social.
Salienta-se que:
[...] o efeito útil do trabalho do assistente social incide sobre as condi-
ções materiais e sociais daqueles que são objeto de sua ação, “cuja so-
brevivência depende do trabalho”. A título de ilustração, citamos: “[...]
o Serviço Social em uma empresa produz treinamentos, realiza progra-
mas de aposentadoria, viabiliza benefícios assistenciais e previdenciá-
rios, presta serviços de saúde, faz prevenção de acidentes de trabalho
etc.”. A contribuição do Serviço Social no processo de valorização do
valor estaria ligada ao fato da ação do assistente social incidir sobre as

OSERVIÇOSOCIALEREESTRUTURAÇÃOPRODUTIVAEADEFESADOPROJETOÉTICO-POLÍTICOPROFISSIONAL
81

condições sociais e materiais daqueles que vivem do trabalho; “tem um


efeito no processo de reprodução da força de trabalho”, [...] que é a úni-
ca mercadoria que sendo colocada em ação tem a capacidade de criar
mais valor do que ela custou (CASTRO, 2012, p. 79).

Considerando que o trabalho é o que causa a ruptura entre o ser orgânico para
o ser social, o homem nesse processo para trabalhar precisa criar instrumen-
tos, meios que possam auxiliá lo nesse processo. Assim, o Serviço Social realiza
sua ação profissional por meio de vários instrumentos específicos a sua área ou
competência, uma vez que as propriedades sociais se evidenciam quando o assis-
tente social atribui capacidade ao instrumental, pelo pôr teleológico, potenciam
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ações para o alcance de sua finalidade.

O Serviço Social tem, em seus processos de trabalho, particularidades, em


especial conforme a área de atuação, seja por segmento, política pública,
dentre outras. Mas qual é sua relação na produção e reprodução social?

O instrumental é uma categoria que se constrói permanentemente a partir das


finalidades da ação que se quer realizar e dos determinantes políticos, sociais e ins-
titucionais a ela referidos. Porém, não se pode centrar o trabalhalho profissional
apenas na dimensão microssocial, geralmente focada na regulação e fiscalização de
ações subjetivas. Há que se estabelecer a dialética entre o singular-particular-uni-
versal, priorizando instrumentais que potencializam práticas de interesse coletivo.
Portanto caro(a) aluno(a), é imprescindível a compreensão de que a medida
que a classe trabalhadora se impõe enquanto classe social, maior será o espaço
de atuação do assistente social, pois o acompanhamento dos processos sociais
passam a ser encarados como componentes indissociáveis do exercício profis-
sional (IAMAMOTO, 2008).
Sendo assim, a mediação entre o singular-particular e universal é funda-
mental para compreender os meandros que envolvem os processos de trabalho
do Serviço Social.

Processo de Trabalho no Serviço Social


82 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
SERVIÇO SOCIAL COMO ESPECIALIZAÇÃO DO
TRABALHO COLETIVO

Com a divisão social e técnica do trabalho,


[...] o Serviço Social se afirma como um tipo de especialização do tra-
balho coletivo, ao se constituir em expressão de necessidades sociais
derivadas da prática histórica das classes sociais [...] (IAMAMOTO,
2008, p. 88).

especialmente no ato de produzir e reproduzir seus meios de vida e de traba-


lho de forma socialmente determinada. Ressalta-se que apesar da profissão ter
sido construída para servir aos interesses do capital, ela não produz necessidades
exclusivas do capital, pois participa de respostas às demandas da classe trabalha-
dora, enfrentadas seja coletivamente, por meio de movimentos sociais, na busca
de acesso aos recursos sociais existentes por meio dos equipamentos do Estado,
que fazem face aos direitos sociais do cidadão, elementos estes que fundamen-
tam o significado social da profissão.
O trabalho coletivo é definido por Marx como aquele que os indivíduos ao
despender sua força de trabalho no processo de produção, podem desempenhar
uma função do outro, chamado também de trabalho combinado.

OSERVIÇOSOCIALEREESTRUTURAÇÃOPRODUTIVAEADEFESADOPROJETOÉTICO-POLÍTICOPROFISSIONAL
83

“Essa relação entre trabalho coletivo e especialização profissional merece


desdobramento, considerando que o trabalho coletivo permite ilumi-
nar a qualificação de um trabalho particular na totalidade dos trabalhos
combinados” (IAMAMOTO, 2008, p. 108).

Vamos exemplificar esse processo ao analisar por exemplo uma escola, o pro-
fessor, diretor, psicólogo e o assistente social tem a mesma finalidade, garantir
o acesso a uma educação de qualidade para o desenvolvimento intelectual dos
indivíduos, porém cada um tem sua competência privativa, mas que com “[...] a
visão da totalidade da organização do trabalho que torna possível situar a con-
tribuição de cada especialização do trabalho no processo global” (IAMAMOTO,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

2008, p. 108).
[...] o controle do processo de trabalho assume progressiva importân-
cia, integrando-se à tecnologia à qual o trabalhador fica subordinado,
inclusive nos seus elementos subjetivos de conhecimento e habilidades,
implicando visões de mundo, sentimentos e comportamentos de con-
sentimento e resistência, de cuja construção o Serviço Social participa
(FREIRE, 2010, p. 76).

Concomitante a afirmação da autora sobre a centralidade dos meios de trabalho,


traz a partir das conclusões marxianas a questão do trabalhador coletivo, em que
[...] o Serviço Social, como as demais atividades-meio que produzem
melhores condições para o consumo da força de trabalho no próprio
processo produtivo-fim, situar-se-ia como subfunção paralela a este
processo (FREIRE, 2010, p. 77).

Por isso, é fundamental no trabalho coletivo, em que se insere o assistente social,


o trabalho multi e interdisciplinar. Mas esse conceito de trabalho coletivo, foi
materializado por Marx para identificar os processos de trabalho da indústria,
em que os trabalhadores podem desenvolver o trabalho de outrem, com o único
objetivo de reduzir os custos da produção e da força de trabalho, isto significa
ampliar a proporção entre a mais-valia e o valor total.
[...] o trabalhador coletivo é o conjunto de envolvidos na produção,
desempenham eles atividades manuais ou não: sob a grande indústria
capitalista, na qual se operou a subsunção real do trabalho ao capital,
“não é o operário singular, mas cada vez mais, uma capacidade de tra-
balho socialmente combinada, que se converte no agente real do pro-
cesso de trabalho em seu conjunto (MARX, 1985, p.78-79 apud BRAZ;
NETTO, 2008, p. 113).

Serviço Social como Especialização do Trabalho Coletivo


84 UNIDADE III

Tendo em vista este conceito, o qual se relaciona diretamente com a questão do


trabalho produtivo e improdutivo, sendo essa uma das maiores polêmicas do
debate da Economia Política:
o objeto da sua análise é o modo de produção capitalista e [Marx] sim-
plesmente determina o que é produtivo ou improdutivo para o funcio-
namento [...] desse sistema , e só dele. Em termos de utilidade ou ne-
cessidade social, um médico [...] é indispensável para a sobrevivência
de qualquer sociedade humana.Se trabalho, portanto, é eminentemente
útil. Apesar disto, trata-se de trabalho improdutivo sob o ponto de vista
da produção e da expansão do capital. O contraste fornecido pela pro-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dução de projéteis, drogas estupefacientes ou pornográficas – inútil e
deletéria para os interesses gerais da sociedade humana – : como essas
mercadorias encontram ávidos compradores, a mais-valia incorpora-
das nelas se realiza e o capital se reproduz e amplia; o trabalho nelas
investido é, portanto, trabalho produtivo (MANDEL, 1998, p. 122 apud
BRAZ, NETTO, 2008, p. 114).

Desta forma , verifica-se que o trabalhador coletivo pode desenvolver atividades


laborativas que envolva tanto o trabalho produtivo quanto o improdutivo, uma
vez que, somente a criação do valor sobre a mercadoria é que define qual fun-
ção do trabalho realizado, sendo, portanto, trabalho produtivo, apenas aquele
que produz mais-valia ao capital, independentemente de sua finalidade no pro-
cesso de relações sociais para assegurar condições úteis para a vida humana.
[...] vão sendo construídas formas particulares de trabalho, relativas a
cada especialização do trabalho coletivo, incorporadas como formas
singulares de exercício profissional, resultantes da conjunção entre de-
mandas, formação profissional e organização do trabalho coletivo, de-
terminadas e mutáveis, de acordo com o movimento histórico (FREI-
RE, 2010, p. 78-79).

Assim, Pola (2009) afirma que:


[...] como trabalhador produtivo, o assistente social é um legítimo inte-
grante do trabalhador coletivo, porque participa do processo de criação
de valor. Tal assertiva encontra respaldo em Marx no entendimento
de trabalho coletivo que explica como a subsunção real do trabalho
no capital modifica a forma de existência deste no capitalismo (POLA,
2009, p. 91).

OSERVIÇOSOCIALEREESTRUTURAÇÃOPRODUTIVAEADEFESADOPROJETOÉTICO-POLÍTICOPROFISSIONAL
85

Contudo, para o assistente social ser considerado como um trabalhador pro-


dutivo, este deve estar relacionado ao capital, isto é, seu vínculo empregatício
tem que ser com instituições privadas e não públicas, como por exemplo com o
Estado, que não tem a função de gerar mais-valia, diferentemente do mercado.
[...] o assistente social é chamado a desempenhar sua profissão em um
processo de trabalho coletivo, organizado dentro de condições sociais
dadas, cujo produto, em suas dimensões materiais e sociais é fruto do
trabalho combinado ou cooperativo, que se forja com o contributo es-
pecífico das diversas especializações do trabalho (IAMAMOTO, 2008,
p. 107).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A égide do capital sobre a profissão do Serviço Social está intrinsecamente rela-


cionada com as relações sociais e relações de produção, em que o assistente social
é um partícipe da classe trabalhadora.
Trata-se de um esforço de captar o significado social dessa profissão na
sociedade capitalista, situando-a como um dos elementos que partici-
pam da reprodução das relações de classe e do relacionamento contra-
ditório entre elas. Nesse sentido, efetua-se um esforço de compreender
a profissão historicamente situada, configurada como um tipo de espe-
cialização do trabalho coletivo dentro da divisão social do trabalho pe-
culiar à sociedade industrial (CARVALHO, IAMAMOTO, 1982, p.71).

Por isso, nota-se, sobretudo, que inserida na divisão social e técnica do trabalho,
a profissão faz parte da classe trabalhadora assalariada, a qual vende sua força de
trabalho para o capital e perece como as demais das insídias impostas por esse
modo de produção capitalista.
[...] o serviço social desenvolve um movimento constante no conjunto
do trabalho coletivo, na medida em que acompanha as modificações
internas e políticas que se realizam fora e dentro da grande empresa [...]
(KARSCH, 1998, p. 37).

Assim, o Serviço Social, enquanto especialização do trabalho coletivo, integra


um projeto de sociedade que, por sua vez, determina o Projeto Ético Político da
profissão, o qual tem como pressuposto a equidade e a democracia. Do ponto de
vista profissional, o projeto implica no compromisso com a competência técnica,
teórica e política, que tem como base o aprimoramento intelectual do assistente
social, que se configura a partir da investigação da realidade.

Serviço Social como Especialização do Trabalho Coletivo


86 UNIDADE III

b[...] não há um único e idêntico processo de trabalho do assistente


social, mas [...] eles vão sendo construídos dentro dos limites e possi-
bilidades das condições particulares do exercício profissional, por sua
vez articulados à totalidades das relações sociais, através de múltiplas
mediações (FREIRE, 2010, p. 78).

Para construir uma prática baseada no empoderamento e emancipação humana


dos usuários é preciso tornar público os recursos institucionais, articular com
outras profissões propostas e ações que se vinculam com as lutas gerais da classe
trabalhadora.
Desse modo, é preciso estar pautado na prática crítica, a qual implica nas 3

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dimensões da profissão:

■■ Teórico-metodológica: as correntes, matrizes teóricas, a literatura da


profissão que orienta a prática, por meio da teoria social para explicar a
realidade;
■■ Ético-política: os compromissos do profissional com a classe trabalha-
dora, com os usuários e a com a profissão, considera ontologicamente a
prática social com suas determinações sócio-históricas. Esta dimensão é
movida pela teleologia, ou seja, pelo projeto e pela concepção de socie-
dade que o profissional busca, para isso é necessário romper com práticas
e discursos hegemônicos;
■■ Técnico-operativa: refere-se às estratégias, instrumentos, táticas e ferra-
mentas utilizadas pelo profissional. Esta ação é desenvolvida por meio das
aproximações sucessivas, a partir do momento que o profissional entra em
contato com a realidade, posteriormente se distancia para refletir sobre
esta, a reconstruindo teoricamente, é um processo dialético. É nesse pro-
cesso que se insere a prática profissional.

Para que a prática seja concebida em práxis profissional é necessário que pos-
samos compreender que ela é reflexiva e intencional, sendo constituída pelas
seguintes características:
■■ INVESTIGATIVA: ato de conhecer, em que é necessário unidade de arti-
culação entre teoria e prática;

OSERVIÇOSOCIALEREESTRUTURAÇÃOPRODUTIVAEADEFESADOPROJETOÉTICO-POLÍTICOPROFISSIONAL
87

■■ PRODUTIVA: ato de transformar materialmente, sendo a reflexão teórica;


■■ SOCIAL/POLÍTICA: opção que se faz de manter ou transformar as rela-
ções sociais estabelecidas, apresenta o compromisso com a classe social
que representa.

Tais elementos são fundamentais para a compreensão e o exercício de constru-


ção/desconstrução/reconstrução dos objetos, uma vez que, estes são constituintes
e constitutivos da síntese/totalização/difusão do fazer profissional, em que se
contribui para a reprodução social das relações sociais na direção da liberdade
e da justiça social.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A sociedade de classes no capitalismo monopolista cria uma civiliza-


ção de serviços. A idéia de “prosperidade” desencadeia um avanço nas
formas diversificadas que garantem,no mercado, o circuito do capital e
das mercadorias. As necessidades exacerbadas pela publicidade justifi-
cam novos serviços para novas necessidades que, no mundo moderno,
desenvolvem uma proliferação de formas de atendimento ao homem,
administrado por profissionais (KARSCH, 1998, p. 31-32).

Destarte, a análise da profissão perpassa pela compreensão de que no modo de


produção capital, o assistente social está inserido entre a luta constante do capi-
tal e trabalho.

Em sua obra “O serviço social na era dos serviços”, Ursula M. S. Karsch (1998),
traz indagações pertinentes sobre a prestação de serviços que a profissão
realiza, uma vez que contribui indiretamente para o processo produtivo do
trabalho.
Fonte: a autora.

Serviço Social como Especialização do Trabalho Coletivo


88 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A DEFESA DO PROJETO ÉTICO POLÍTICO
PROFISSIONAL

Para Iamamoto (2012) é necessário, no processo de amadurecimento do Serviço Social,


romper com o profissionalismo estreito, com a preocupação da especificidade, com
o recorte do terreno próprio. Os limites e possibilidades são historicamente diferen-
ciados, cabendo ao agente profissional acompanhar atentamente diferenciados, os
movimentos da realidade social, compreender essa dinâmica é passo fundamental mas,
faz-se necessária a inscrição de projetos profissionais antenados com o nosso tempo.
O debate acerca das mudanças do Código de Ética Profissional do Assistente
Social de 1993 trouxeram para a categoria uma reflexão crítica sobre o exercí-
cio profissional, bem como seu posicionamento junto à classe trabalhadora. Em
seus 11 princípios aborda-se a importância da postura ética no exercício profis-
sional, definida como a:
[…] crítica à vida cotidiana, em seus aspectos morais, isto é, à discri-
minação ao preconceito, ao moralismo, ao individualismo, ao egoísmo
moral, entendidos como formas de expressão das relações sociais fun-
dadas na exploração do trabalho e na apropriação privada da riqueza
socialmente construída pelo gênero humano (BARROCO, 2010, p. 84).

OSERVIÇOSOCIALEREESTRUTURAÇÃOPRODUTIVAEADEFESADOPROJETOÉTICO-POLÍTICOPROFISSIONAL
89

A concepção de ética da autora nos permite compreender que o assistente social


deve-se despir de todas as formas de preconceito, discriminação e juízos de
valores em sua atividade profissional, pois a luta visa a defesa intransigente pela
garantia dos direitos sociais e humanos para todos os indivíduos, bem como a
luta por uma nova ordem societária sem dominação de uma classe sobre a outra.
Com o amadurecimento da teoria social de marxista pela categoria pro-
fissional e sua materialização no Código de Ética de 1993, o qual propiciou
diretamente para a gestação do Projeto Ético Político, o qual deve estar em cons-
trução diariamente, por todos os assistentes sociais que compactuam e lutam nos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

mais diversos espaços sócios ocupacionais, para que a garantia de direitos seja
assegurada e se possam buscar uma nova sociabilidade sem a divisão de classes.

É fundamental que ao se remeter ao Projeto Ético-Político da profissão se


atente aos 11 princípios do Código de Ética do Assistente Social, entre eles:
I – Reconhecimento da liberdade como valor ético central e
das demandas políticas a ela inerentes – autonomia, eman-
cipação, e plena expansão dos indivíduos sociais;
V – Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que
assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relati-
vo Serviço Social sem ser discriminado/a, nem discriminar por
questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião,
nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero, ida-
de e condição física (BARROCO; TERRA, 2012, p. 121 - 131).
Fonte: a autora.

Segundo Netto (2013), não é mera coincidência que a liberdade seja o primeiro
princípio expresso no Código de Ética de 1993, pois “[...] com a centralidade
ética conferida à liberdade, vem oferecendo uma resposta profissional que [...],
atende às exigências históricas contemporâneas” (NETTO, 2013, p. 28).

A Defesa do Projeto Ético Político Profissional


90 UNIDADE III

Desta forma, é fundamental compreender o significado de um projeto pro-


fissional, pois:
[…] apresentam a auto imagem de uma profissão, elegem os valores
que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam os seus objetivos
e funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos)
para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos
profissionais e estabelecem as balizas da sua relação com os usuários de
seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e institui-
ções sociais, privadas e públicas (entre estas, também e destacadamente
com o Estado, ao qual coube, historicamente, o reconhecimento jurí-
dico dos estatutos profissionais) (NETTO, 1999, p.95 apud YASBEK,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
MARTINELLI, RAICHELIS, 2008, p. 23).

A definição dos autores, evi-


dencia a importância que
a escolha por um projeto
societário, o qual se dire-
ciona em todos os âmbitos do
exercício profissional, desde
a formação na graduação à
práxis cotidiana. Contudo, é
necessário que para o reco-
nhecimento do Projeto Ético
Político pela categoria, para
que possa ser executado na
atividade profissional.
Assim, são elementos que constituem o PEP que é um projeto construído por
sujeitos coletivos, apresenta uma dimensão política, há componentes imperativos
e indicativos, possuem instâncias político organizativas, produz conhecimento
teórico crítico e sua fundamentação é de natureza ética.
Reitera-se que:
[…] o projeto ético-político do Serviço Social tem futuro. E tem futuro
porque aponta precisamente ao combate – ético, teórico, ideológico,
político e prático-social – ao neoliberalismo, de modo a preservar e
atualizar os valores que, enquanto projeto profissional, o tornam so-

OSERVIÇOSOCIALEREESTRUTURAÇÃOPRODUTIVAEADEFESADOPROJETOÉTICO-POLÍTICOPROFISSIONAL
91

lidário ao projeto de sociedade que interessa à massa da população


(NETTO, 2009, p. 158).

Portanto, ele é um instrumento em construção coletiva da categoria, mas que pre-


cisa ser debatido e incorporado no exercício profissional em prol da qualidade dos
serviços prestados aos usuários das políticas públicas, visando assegurar os direi-
tos sociais e humanos, além de assumir posição ao lado da classe trabalhadora.
Diante disso, verifica-se que é:
[…] na esfera do mundo do trabalho, na esfera do Estado e na esfera da
cultura, apresenta desafios para a formação e o exercício profissional do
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ponto de vista da defesa do projeto profissional com direção sociopo-


lítica historicamente construída e consolidada nos marcos do processo
de ruptura (ABRAMIDES, 2007, p. 43).

Este é o enfrentamento que a categoria profissional deve realizar diariamente,


pois é:
[...] a ruptura com a herança conservadora […] entendida numa di-
mensão processual, essa ruptura tem como pré-requisito que o As-
sistente Social aprofunde a compreensão das implicações políticas de
sua prática profissional, reconhecendo-a como polarizada pela luta de
classes […] Essa compreensão é básica para tornar possível que o Assis-
tente Social faça uma opção teórico-prática por um projeto coletivo de
sociedade e supere as ilusões de um fazer profissional que paira “acima”
da história. Isso implica, por sua vez, o enriquecimento do instrumen-
tal científico de análise da realidade social e o acompanhamento atento
da dinâmica conjuntural (IAMAMOTO, 1997, p. 37).

Desta forma, é extremamente importante retomar que somente com o processo


de ruptura com o conservadorismo e a prática tradicional, os quais não possi-
bilita-se condições efetivas na perspectiva da construção cidadã e de direitos
individuais e coletivos, apenas assegurava condições mínimas e emergenciais para
não frear o desenvolvimento e a permanência do capital em seu controle social.
Esse caminho foi iniciado, mas seu percurso precisa ser ampliado e vi-
vificado, o que significa, permanentemente, enfrentar os desafios. E aos
Assistentes Sociais, tanto na esfera individual como na coletiva, cabe
a “coragem cívica e intelectual” para continuar realizando essa tarefa
histórica (BATISTA, 2014, p. 179).

A Defesa do Projeto Ético Político Profissional


92 UNIDADE III

O desafio posto aos Assistentes Sociais para efetivar os pressupostos de seu


Código de Ética e Projeto Ético Político, em que se fundamenta suas competên-
cias e atribuições profissionais, pois nelas estão expressos seus deveres privativos
como assistente social, estando estes de acordo com a pedagogia emancipató-
ria de Abreu (2002).
A autora define que:
[...] a função pedagógica do assistente social vincula-se à capacitação, mo-
bilização e participação populares, mediante, fundamentalmente, processo
de reflexão, identificação de necessidades, formulação de demandas, con-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
trole das ações do Estado de forma qualificada, organizada e crítica.

[…] a intervenção do assistente social, numa perspectiva emancipatória,


volta-se para o rompimento de práticas identificadas com a cultura tutela-
dora/clientelista da relação entre Estado e sociedade, contribuindo para o
surgimento de uma nova e superior prática social (ABREU, 2002, p. 216).

Sendo assim, devemos continuar rumo ao caminho da luta, que é coletiva e


precisa se fortalecer para enfrentar com sabedoria os melindrosos processos do
trabalho no modo de produção capitalista.

OSERVIÇOSOCIALEREESTRUTURAÇÃOPRODUTIVAEADEFESADOPROJETOÉTICO-POLÍTICOPROFISSIONAL
93

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a finalização dos estudos desta unidade, verifica-se ser de suma importância
sinalizar algumas questões que contribuíram ininterruptamente para a construção
deste. Primeiramente a discussão deste tema proporciona uma reflexão sobre o
Serviço Social na divisão sociotécnica do trabalho, o qual implica em um processo
histórico e ocorre a medidas que a satisfação das necessidades sociais se tornam
mediatizadas pelo mercado, ou seja, pela produção, troca e consumo de mercado-
rias. Além disso, quando a mercadoria passa a mediar as relações sociais, há uma
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

crescente divisão do trabalho, pois mais se produz sob a forma de valores de troca.
O processo de trabalho no Serviço Social está associado ao processo de
reprodução social e, sua especialização enquanto trabalho coletivo, se afirma
como uma instituição peculiar na e a partir da divisão sociotécnica do traba-
lho, a qual está intrinsecamente relacionada com a correlação de forças entre as
classes sociais, a posição da classe subalterna no enfrentamento das expressões
da questão social e do caráter das políticas públicas do Estado.
Tendo em vista esse contexto, fica evidente a necessidade da reflexão da prática
profissional, da conjuntura política e econômica que o profissional está inserido,
pois somente por meio de uma minuciosa análise de conjuntura o assistente
social poderá criar instrumentos que compactuem de seu projeto de sociedade
expresso em seu Código de Ética Profissional e no Projeto Ético Político. Por isso,
a defesa de uma sociedade sem exploração de uma classe sobre a outra é funda-
mental, em que se almeje uma sociedade para além do capital.
Destarte, como afirma Marx em 1848 “trabalhadores do mundo uni-vos”
(MARX, 2000) . Esta é a mensagem, os profissionais devem formar uma lutar
em defesa da qualidade da vida digna para todos os seres sociais.

Considerações Finais
94

1. Considerando que a divisão do trabalho é um processo histórico, o qual deter-


mina a vinculação de indivíduos em órbitas profissionais específicas e que este
é um produto social, explique como o Serviço Social se insere na divisão so-
ciotécnica do trabalho.
2. Tendo em vista que o Serviço Social se afirma como uma instituição peculiar e a
partir da divisão sociotécnica do trabalho, descreva como ocorre o processo de
trabalho na profissão. Justifique sua resposta.
3. “O Serviço Social se afirma como um tipo de especialização do trabalho coletivo
ao se construir em expressão de necessidades sociais derivadas da prática histó-
rica das classes sociais[...]” (IAMAMOTO, 2008, p.88). Com base na ideia da au-
tora explique como o Serviço Social se apresenta como uma especialização
do trabalho coletivo.
4. Vimos no decorrer dos estudos que o Serviço Social possui três dimensões que
são indissociáveis entre a teoria e a prática profissional. Sobre esta questão, es-
colha uma delas e aponte sua importância no processo de trabalho do as-
sistente social.
5. De acordo com os estudos realizados nesta unidade, o Serviço Social está im-
bricado na reestruturação produtiva? Disserte sobre como o profissional irá
realizar a defesa do Projeto Ético-Político nesse contexto.
95

Os impactos econômicos da terceirização: Ao reduzir os salários, a terceirização


tem um impacto imediato sobre o consumo.
Ana Luíza Matos de Oliveira, Alex Wilhans Antonio Palludeto e Saulo Abouchedid
Os impactos da terceirização sobre o mercado de trabalho e sobre a distribuição de
renda já foram amplamente debatidos por diversos especialistas. No entanto, pouco se
discutiu os impactos macroeconômicos, em termos de crescimento, do PL 4.330/2004.
Os defensores dessa lei são os mesmos que julgam como principal trava ao investimen-
to – e, portanto, ao crescimento – o aumento do salário real acima da produtividade.
Dessa forma, o PL 4.330/2004 é visto como fundamental para se reduzir o custo salarial
e, assim, melhorar as condições de oferta da indústria.
No entanto, como apontou o economista Antônio Carlos Diegues em artigo no Valor
(26/03/2015), a perda de competitividade da indústria brasileira não é resultado do au-
mento dos salários reais acima da produtividade, mas, sim, resulta de fatores como a bai-
xa intensidade de capital por trabalhador (sintoma do viés maquilador assumido pela
indústria brasileira na última década) e a já baixa participação na estrutura produtiva
doméstica de setores com elevada produtividade.
Surpreendentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) – que é conhecido pelo
apoio a medidas de flexibilização do mercado de trabalho – aponta na mesma dire-
ção,em recente relatório publicado: o estudo analisa o efeito de reformas estruturais
no crescimento da produtividade nos países do G20 e mostra que os maiores ganhos
de produtividade estão associados com investimentos em pesquisa e desenvolvimento
e em tecnologias de informação e comunicação, indicando que investimentos em in-
fraestrutura também têm impacto positivo na produtividade no longo prazo. Efeitos, a
princípio, esperados. Mas a surpresa é que, segundo o estudo, a regulação do mercado
de trabalho não tem impacto estatisticamente significante na produtividade total, ou
seja, não afeta a produtividade das economias analisadas positiva ou negativamente.
Dessa forma, defende-se que a retomada da competitividade da indústria e, assim, a
recuperação sustentada do investimento – em um cenário de acirramento da concor-
rência global – não se faz por meio da redução do custo salarial.
Um exemplo recente, que, embora distinto, provoca os mesmo efeitos macroeconômi-
cos, é a desoneração da folha de pagamentos, mostrando claramente que o custo sala-
rial não era entrave para a retomada do investimento nos últimos anos.
Ademais, conforme demonstra o relatório de 2014 do National Employment Law Pro-
ject, a terceirização torna as condições de trabalho mais precárias, aumentando o nú-
mero de acidentes e acarretando a diminuição de direitos e salários: faz da remuneração
média do trabalhador relativamente menor quando comparada à de um trabalhador
não terceirizado que ocupa função equivalente.
96

Além disso, ao reduzir os salários, a terceirização tem um impacto imediato sobre o


consumo: por exemplo, os menores salários significam, diretamente, uma redução da
demanda solvente da classe trabalhadora e o rendimento mais baixo faz com que os
trabalhadores tenham uma capacidade menor de acessar o crédito – ou o façam em
condições piores em termos de prazos e taxas. Ambos os fatores, combinados, contri-
buem para a redução do consumo – e, portanto, das condições de vida da maior parte
da população brasileira.
Políticas dessa natureza em um contexto econômico que aponta para uma recessão não
parecem ser as mais acertadas: reduzir um componente importante da demanda total –
o próprio consumo – e esperar que o investimento privado se eleve de forma sustentada
parece uma aposta arriscada quando se tem em mente que a riqueza é investida se, e
somente se, existe a expectativa de que a própria demanda seja elevada.
Em outras palavras, ainda que o menor custo do trabalho amplie a rentabilidade de de-
terminadas atividades, nada garante que a menor demanda da classe trabalhadora seja
contrarrestada por uma ampliação dos investimentos, uma vez que estes dependem do
que se espera ser a demanda total no futuro.
Pelo contrário, o mais provável é que a redução da demanda dos trabalhadores apro-
funde o ambiente de pessimismo do empresariado e torne cada vez mais provável o
cenário que já se configura: a crise.
Fonte: Oliveira, Palludeto e Abouchedid (2017, on-line)1.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Projeto Ético-Político do Serviço Social: contribuições à sua


crítica
Valeria Forti, Yolanda Guerra
Editora: Lumem Jurís
Sinopse: a coletânea que vem a público expressa o compromisso
histórico e político na trajetória de uma profissão e em prol
da defesa de uma sociedade emancipada. Em tempos de
desmonte dos direitos sociais conquistados, de financeirização
e mercantilização da vida, de criminalização dos movimentos
sociais, em particular, de ataque à educação e à formação crítica
do Serviço Social, temos em mãos uma publicação que nos
fortalece, nos encoraja e reanima o caminhar ético e político de
nosso projeto profissional. A inquietação, os desafios e os nossos
princípios fundamentais dirigem os artigos aqui presentes. É disso
que precisamos, é assim que se faz ciência, política e História.

No texto “A Construção do Projeto Ético-Político do Serviço Social”, José Paulo Netto


(1999), aborda os aspectos sócio-históricos e determinantes para a posição que a
profissão adotou, bem como para a luta por uma outra sociabilidade para além do
capital.
Disponível em:: <http://www.cpihts.com/PDF03/jose%20paulo%20netto.pdf>.

Material Complementar
98
REFERÊNCIAS

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prática profissional. São Paulo: Cortez, 2002.
BARROCO, M. L. S. Ética: fundamentos sócio-históricos. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2010.
______. TERRA, S. H. Conselho Federal de Serviço Social – CFESS (Org). Código de
Ética do/a Assistente Social comentado. São Paulo: Cortez, 2012.
BATISTA, A. A. Trabalho, questão social e serviço social. Cascavel: Edunioeste, 2014.
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trabalho_do_ServicoSocial_KarenCamargo%20(4).pdf>. Acesso em: 24 jan. 2017.
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Disponível em: file:///C:/Users/DW/Downloads/6057-23821-1-PB%20(2).pdf>. Aces-
so em 24 jan. 2017.
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REFERÊNCIAS ON-LINE

1
Em: <https://<www.brasildefato.com.br/2017/03/21/artigo-or-os-impactos-eco-
nomicos-da-terceirizacao/>. Acesso em: 27 abr. 2017.
GABARITO

1) O Serviço Social como profissão inscrita na divisão social e técnica do trabalho,


faz-se necessário por estar vinculado nos interesses contraditórios de classes,
isto é, no Estado burguês capitalista. Frisa-se que o espaço do serviço social na
divisão sociotécnica do trabalho depende: da correlação de forças entre as clas-
ses; da posição da classe subalterno no enfrentamento da questão social e do
caráter das políticas do Estado.
2) O processo de trabalho do Serviço Social, se materializa nos diversos espaços
sócio-ocupacionais como um “arsenal de técnicas”, terminologia utilizada por
Iamamoto para descrever os recursos que a profissão desenvolve em seu fazer.
3) O Serviço Social enquanto especialização do trabalho coletivo integra um proje-
to de sociedade que, por sua vez, determina o Projeto Ético Político da profissão,
o qual tem como pressuposto a equidade e a democracia. Do ponto de vista pro-
fissional, o projeto implica no compromisso com a competência técnica, teórica
e política, que tem como base o aprimoramento intelectual do assistente social,
que se configura a partir da investigação da realidade.
4) Compreensão do aluno com base: Teórico-metodológica: as correntes, matrizes
teóricas, a literatura da profissão que orienta a prática, por meio da teoria social
para explicar a realidade:
• Ético-política: os compromissos do profissional com a classe trabalhadora,
com os usuários e a com a profissão, considera ontologicamente a prática so-
cial com suas determinações sócio-históricas. Esta dimensão é movida pela
teleologia, ou seja, pelo projeto e pela concepção de sociedade que profis-
sional busca, para isso é necessário romper com práticas e discursos hege-
mônicos.
• Técnico-operativa: refere-se às estratégias, instrumentos, táticas e ferramen-
tas utilizadas pelo profissional. Esta ação é desenvolvida por meio das apro-
ximações sucessivas, a partir do momento que o profissional entra em con-
tato com a realidade, posteriormente se distancia para refletir sobre esta a
re-construindo teoricamente, é um processo dialético. É nesse processo que
se insere a prática profissional.
5) O PEP é um instrumento em construção coletiva da categoria, mas que precisa
ser debatido e incorporado no exercício profissional em prol da qualidade dos
serviços prestados aos usuários das políticas públicas, visando assegurar os direi-
tos sociais e humanos, além de assumir posição ao lado da classe trabalhadora.
Professora Me. Daniele Moraes Cecilio Soares

DESAFIOS DO MUNDO DO

IV
UNIDADE
TRABALHO NA ATUALIDADE

Objetivos de Aprendizagem
■■ Analisar o fenômeno do desemprego frente a precarização do
trabalho e as manifestações das expressões da questão social.
■■ Compreender o processo de alienação e exploração do trabalho na
contemporaneidade.
■■ Desvelar a ofensiva neoliberal.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Desemprego, precarização do trabalho e questão social
■■ Alienação e exploração do trabalho
■■ O capitalismo e o projeto neoliberal
103

INTRODUÇÃO

Caros(as) alunos(as), nesta unidade de estudo vamos aprofundar o conhecimento


sobre os desafios, na atualidade, do mundo do trabalho, para dar conta dessa
proposta definiu-se analisar o fenômeno do desemprego frente a precarização
do trabalho e as manifestações das expressões da questão social, compreender
o processo de alienação e exploração do trabalho na contemporaneidade e des-
velar a ofensiva neoliberal.
O primeiro tópico aborda o desemprego, precarização do trabalho e ques-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tão social; elementos esses que são fundamentais para a discussão a temática
central, uma vez que esses processos estão associados a dinâmica sócio-histó-
rica do modo de produção capitalista. Além disso, é importante apreender que
os reflexos da crise do trabalho na contemporaneidade estão imbricados com
os contextos econômico e políticos, sendo vivenciados na reprodução da vida
social da classe trabalhadora.
Em seguida apresenta-se o debate acerca da alienação e exploração do tra-
balho, conceitos elaborados por Marx para a compreensão da organização da
órbita do capital. Contudo, apesar de serem tradicionais da obra marxista, esses
conceitos são clássicos, pois explicam o movimento atual que os impactos da
exploração e da alienação que trabalho exerce sobre o trabalhador. Efeitos estes
que são expressos no cotidiano desde sua gênese enquanto trabalho produtivo
agregado de valor, isto é, mercadorias e processos de trabalho.
No último tópico discorre-se sobre o capitalismo e o projeto neoliberal, os
quais estão intrinsecamente relacionados pelo direcionamento político e econô-
mico que exercem, uma vez que esses processos instauram um amplo programa
voltado para o aumento das taxas de desemprego e a precarização dos direitos
trabalhistas.
Assim, proponho que façam a leitura e interpretação desses conteúdos com
muita atenção e dedicação. Bons estudos!!

Introdução
104 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DESEMPREGO, PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E
QUESTÃO SOCIAL

O modo de produção capitalista germina a questão social, que é pré requisito das
contradições entre os interesses das classes sociais, K X T. Para seguir seu per-
curso de acumulação, o capital está fadado a crises cíclicas e constantes processo
de autofagio, isto é, auto -destruição para se fortalecer e retomar seus objetivos.
Nesse processo tem se propagado o desemprego e a precarização do trabalho,
bem como a polarização e secularização dos processos de reprodução social.
Tonet (2009) apresenta que a crise capitalista na atualidade tem sua raiz “[...]
nas relações que os homens estabelecem entre si na produção da riqueza mate-
rial. [...]” (TONET, 2009, p. 1). Paralelamente a isso, a reestruturação produtiva
que a crise que é global atinge as balizas da sociabilidade capitalista.
Nesse sentido, é necessário ter claro conceito que “[…] a expressão “questão
social” não é semanticamente unívoca: ao contrário, registram-se em torno dela a
compreensões diferenciadas e atribuições de sentidos diversos”. (NETTO, 2001,
p. 152). Por isso, os elementos fundamentais da questão social são o desemprego
e a pobreza, sua reprodução são consideradas como múltiplas expressões que se
manifestam no cotidiano e atingem a classe trabalhadora.
O texto “Cinco notas a propósito da questão social” de José Paulo Netto
(2001) elenca cinco características importantes sobre o objeto de trabalho do
assistente social:

DESAFIOS DO MUNDO DO TRABALHO NA ATUALIDADE


105

■■ Pauperismo;
■■ Classe proletária;
■■ Lei geral da acumulação;
■■ Welfare State;
■■ Novas expressões da questão social.

Tendo em vista essa conjuntura, é preciso compreender que o movimento social


da realidade, fez com que:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

[...] a “questão social” se metamorfoseou, no período pós 1970, em sua


forma e conteúdo, manifestando-se em diferentes expressões na esfera
do reprodução social e interferindo no pensar e no fazer dos profis-
sionais Assistentes Sociais. As consequências diretas e indiretas dessas
transformações atingiram a base produtiva (a matéria, bruta ou prima,
os instrumentos de trabalho e a força de trabalho). Porém, é no cerne
da força de trabalho que as transformações produziram implicações
decisivas (BATISTA, 2014, p. 130).

Corrobora-se da ideia do autor, pois é neste mesmo período que o capital enfrenta
uma de suas maiores crises que intensificou a exploração dos trabalhadores, con-
forme vimos na Unidade II de estudo.
Nesse sentido, o Estado de Bem Estar Social tinha como:
[…] principal função seria de efetuar um microgerenciamento da eco-
nomia para assegurar crescimento sob condições de pleno emprego e
desenvolver uma série de políticas sociais incumbidas de redistribuir
os frutos do crescimento econômico; controlar os efeitos desse cresci-
mento sobre a população; e compensar aqueles que pagaram o preço
desse crescimento […] (PEREIRA, 2008, p.91).

Todavia, a implementação do neoliberalismo, fez com que a crise global contem-


porânea desencadeada a partir da crise do Welfare State, resultado da ineficiência
do Estado e da crise do socialismo real, que corresponde à redução de socializa-
ção do poder político e da estatização. Com essa conjuntura houve uma regressão
social, ou enfraquecimento da luta de classes.

Desemprego, Precarização do Trabalho e Questão Social


106 UNIDADE IV

[...] do ponto de vista histórico, no capitalismo a “questão social” vincula-


-se estreitamente à questão da exploração do trabalho, ou seja, a “questão
social”, apresenta-se, desde suas primeiras manifestações, estreitamente
vinculada à questão da exploração capitalista, à organização e mobili-
zação da classe trabalhadora na luta pela apropriação da riqueza social
[...] os processos estruturais que dão sustentação às desigualdades e aos
antagonismos próprios da ordem burguesa; dessa forma, vincula-se ne-
cessariamente ao aparecimento e desenvolvimento da classe operária e
seu ingresso no mundo da política (PASTORINI, 2010, p. 113).

Com base na ideia da autora sobre a questão social, verifica-se que na contempo-
raneidade os avanços tecnológicos, que cada vez mais substituem trabalhadores

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
por máquinas, há a diminuição do trabalho vivo, o que reduz o número de
assalariados, ocasionando na redução do consumo, o que não implica em sua
eliminação, mas que altera as engrenagens de circulação do capital.

“O resultado das análises precedentes leva a interpretar a questão social tal,


como se manifesta hoje, a partir do enfrentamento da condição salarial” (CASTEL,

DESAFIOS DO MUNDO DO TRABALHO NA ATUALIDADE


107

1998, p. 495). Concomitantemente a afirmação do autor, compreende-se que a


instabilidade e a precarização do trabalho que a classe trabalhadora está inse-
rida, são elementos fundamentais que direcionam os processos de exclusão da
mão de obra do exército industrial de reserva.
Em sua forma contemporânea o capital necessita, cada vez mais, expandir
as formas precarizadas do trabalho, devido a crise e a superprodução de mer-
cadorias, em que a ciência (e o conhecimento gerado pelo progresso científico)
não está desarticulada da lógica de reprodução do capital. A esfera da produção
continua sendo o motor da vida na sociedade capitalista.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Segundo Santos (2012), verifica-se que a minimização


[...] no período recente, o desemprego no Brasil só poderá ser realmen-
te impactado mediante reformas estruturais clássicas como a fundiária
e a tributária, somadas as taxas de crescimento econômico que supe-
rem a soma da elevação da produtividade do trabalho com o cresci-
mento da população economicamente ativa (SANTOS, 2012, p. 240).

Frente a esse contexto, corrobora-se da afirmação da autora sobre as mudanças


que são necessárias para o enfrentamento do desemprego causado pela flexibili-
zação trabalhista, terceirização de serviços e, consequentemente, da eclosão da
questão social, os quais são elementos constituintes da exploração do modo de
produção capitalista.
A crise do trabalho é
[…] particularizada e singularizada pela forma pela qual essas mudan-
ças econômicas, sociais, políticas e ideológicas afetaram mais ou menos
direta e indiretamente os diversos países que fazem parte dessa mun-
dialização do capital […]” (ANTUNES,1999, p. 188).

Por isso, a compreensão do modo de produção capitalista em tempo de capital


e fetiche é primordial para identificar como a manifestação das expressões da
questão social tem se evidenciado com processo de precarização do trabalho e
do desemprego, que condicionam as necessidades humanas a situações precá-
rias de sobrevivência.

Desemprego, Precarização do Trabalho e Questão Social


108 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ALIENAÇÃO E EXPLORAÇÃO DO TRABALHO

A estrutura do trabalho no modo de produção capitalista condiciona o trabalhador


a alienação e a exploração, diária, do trabalho, ao permitir processos que implicam
na ausência de identidade da classe trabalhadora, bem como o reconhecimento
desta como tal, classificando-a como massa de manobra para a manutenção da
ordem do capital.
Nesse sentido, a exploração do trabalho se desenvolve na produção de mais-
-valia, que, conforme vimos anteriormente, se refere ao valor excedente embutido
à produção, isto é, aquele que o capitalista se apropria sem ter tido nenhum custo
ou despesa, seja com os meios de produção, matéria prima ou com o salário.
Segundo Löwy, Duménil e Renault (2015), o conceito de alienação desenvol-
vido por Marx refere-se a “[...] a) uma separação [...] b) uma inversão [...] uma
opressão [...]” (LÖWY, DUMÉNIL, RENAULT, 2015, p. 13). Tendo em vista a
compreensão dos autores, verifica-se que a alienação religiosa, filosófica e política
são necessárias para apreender a alienação social, que está imbricada no traba-
lho alienado, isto é, aquele que separa o trabalhador de sua produção.

DESAFIOS DO MUNDO DO TRABALHO NA ATUALIDADE


109

A compra e venda da força e trabalho é a forma clássica para a cria-


ção e existência continuada da classe trabalhadora. No que respeita a
esta, essa forma incorpora relações sociais de produção, relações de su-
bordinação e exploração [...] A forma de emprego assalariado exprime
duas realidades inteiramente diferentes: num caso, o capital contrata
uma “força de trabalho” cuja função é atuar, sob direção externa, para
aumentar o capital; na outra, por um processo de seleção dentro da
classe capitalista e principalmente a partir de suas próprias fileiras, o
capital escolhe um pessoal administrativo para representá-lo no local,
e ao representá-lo supervisionar e organizar os trabalhos da população
trabalhadora (BRAVERMAN, 1987, p. 342-343).

Com base nos apontamentos do autor, esse processo de representação traz também
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

aspectos da exploração e da alienação do trabalho, uma vez que o administrador,


gestor, gerente, supervisor, coordenador, entre outros nomenclaturas para desig-
nar os cargos exercidos nos setores públicos e privados, na maioria das vezes é
um trabalhador como os demais, isto significa que o seu próprio trabalho é, tam-
bém, condicionado aos determinantes do capital, especificamente aos conceitos de
alienação, exploração e recentemente de precarização e flexibilização do trabalho.
Para Braz e Netto (2008), “[...] a relação entre trabalho necessário e trabalho
excedente fornece a magnitude da taxa de mais valia (m’) que é, decorrentemente
a taxa de exploração do trabalho pelo capital [...]” (BRAZ; NETTO, 2008, p.
106-107). O apontamento dos autores auxiliam na reflexão de que essa compre-
ensão de trabalho necessário e trabalho excedente não é assimilada pela maioria
dos indivíduos, o que impede seu enfrentamento, pois o trabalhador assalariado
é regido por horas trabalhadas e não por produção, por isso, quanto maior for a
jornada de trabalho mais trabalho excedente esta gera para o capital.
Nos estudos de Marx, identifica-se que:
[...] quando a mais-valia não é consumida, mas empregada como capi-
tal, forma-se um novo capital que é acrescentado ao antigo. A utilização
da mais-valia como capital, ou retransformação da mais-valia em capi-
tal, é o que se chama de acumulação do capital (MARX, 1967, p. 147).

Por isso, a mais-valia é tão importante para o capital, porque somente ela pode
gerar sua acumulação e consequentemente sua expansão, domínio e poder, que
em suas amarras ocasiona a alienação, a qual tem sua raiz no processo de pro-
dução, em que os trabalhadores não têm acesso ao fruto do seu trabalho.

Alienação e Exploração do Trabalho


110 UNIDADE IV

De acordo com diversos autores, o trabalho é reconhecido como a explo-


ração que leva a bárbarie, isto significa que na sociedade capitalista o trabalho
tem sua finalidade distorcida, pois precisa maximizar os lucros e a produção.
Essa tese se sustenta pela forma como o modo de produção está estabelecido.
O sistema do capital se baseia na alienação do controle dos produtores.
Neste processo de alienação, o capital degrada o trabalho, sujeito real
da reprodução social,à condição de objetividade reificada – mero “fator
material de produção” – e com isso derruba, não somente na teoria,
mas na prática social palpável, verdadeiro relacionamento entre sujeito
e objeto (MÉSZÁROS, 2011, p. 126).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Concomitantemente a esse contexto verifica-se que:
[...] tal como o trabalho é alienado ao capital ao se converter em tra-
balho assalariado, também a reprodução social passa por um processo
de alienação ao se identificar com a reprodução do capital. Por dois
motivos. Em primeiro lugar, porque o capital só pode se expandir au-
mentando a exploração dos trabalhadores e, portanto, aumentando a
miséria. Em segundo lugar, como necessidades da reprodução amplia-
da do capital não se identificam com as necessidades humanas, cada
vez mais a sociedade reproduz não o que as pessoas necessitam, mas o
que dá lucro. [Por ex.] gasta-se trilhões de dólares fabricando bombas
atômicas e realizando guerras! Assim, a produção ampliada do capital
é cada vez mais a produção ampliada de desumanidades, de alienações,
pelo próprio homem (LESSA, 1999, p. 31, apud SILVA, 2008, p. 67-68).

Tendo em vista esse contexto, verifica-se que em relação ao assistente social a


identidade atribuída ao profissional relaciona-se com os interesses burgueses,
uma vez que a
“identidade e consciência social não podem ser pensadas [...] a dis-
tância da realidade social, como abstrações ou generalidade ou como
categorias isoladas; é preciso pensá-las dialeticamente, como categorias
plenas de movimento e historicidade” (MARTINELLI, 1997, p. 30).

Nessa perspectiva, corrobora-se com a autora de que é extremamente necessá-


rio compreender os conceitos de identidade e consciência, pois sem analisá-los
os profissionais deparam-se com hipótese de que “[...] a ausência de identidade
profissional fragiliza a consciência social da categoria profissional, determi-
nando um percurso alienado, alienante e alienador de prática profissional”
(MARTINELLI, 1997, p. 25).

DESAFIOS DO MUNDO DO TRABALHO NA ATUALIDADE


111

Por isso, é
somente a partir do momento em que se expandiu a base crítica da
consciência dos agentes, através da ruptura da alienação, é que eles pu-
deram perceber o caráter conservador, subordinado e burguês de suas
práticas (MARTINELLI, 1997, p. 140).

Concomitantemente, emerge como primordial à categoria profissional dos assis-


tentes sociais a ruptura com as práticas tradicionais, que eram permeadas pelas
determinações da hegemonia burguesa, e evidencia-se que a “[…] prática é a
libertação na perspectiva daquela teoria que declara ser o humano a mais ele-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

vada essência do ser humano […]” (MARX, 2010, p. 56).

No livro “100 palavras do marxismo”, Löwy, Duménil e Renault (2015), abor-


dam os principais conceitos elaborados por Marx para compreender o modo
de produção capitalista e suas interferências na reprodução da vida social.
Fonte: a autora.

Netto (2011) reitera que o conservadorismo é uma afirmação como prática bur-
guesa de dominação e controle, sendo que o pensamento conservador é uma
expressão cultural e particular de um tempo e um espaço sócio-histórico, bus-
cando sempre se remeter ao passado.
Assim, a ruptura com alienação ocorre a partir do Movimento de
Reconceituação do Serviço Social, em que vislumbra a consciência crítica dos
agentes,
“[…] como uma função do “pensamento crítico reflexivo”, “através
do qual criações fetichizadas no mundo reificado se dissolvem e per-
dem sua enganosa fixidez, permitindo que se revele o mundo real[...]”
(MARTINELLI,1989, p. 125 apud IAMAMOTO, 2012, p. 287).

Alienação e Exploração do Trabalho


112 UNIDADE IV

Esse processo só foi possível com a aproximação da teoria social de Marx e com
o diálogo com outras áreas, como a Filosofia e a Sociologia. Por isso, Carvalho
e Netto (2000) afirmam que:
[...] separar o joio do trigo não é tarefa fácil. Aprender o caminho cole-
tivo da conquista, sem cair na alienação, exige dos assistentes sociais e
militantes políticos estratégias de ação baseadas na leitura desta mes-
ma realidade e poder de interferência sobre os sistemas que mantêm
este Estado (CARVALHO; NETTO, 2000, p. 55).

Caro(a) aluno(a), este é o desafio que os profissionais têm para não se emaranhar

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nos caminhos que a alienação envolve, pois o enfrentamento, ao modo de produção
capitalista, requer o exercício de uma análise minuciosa da conjuntura de explora-
ção e alienação que o trabalho e as relações de produção direcionam o indivíduo.

O CAPITALISMO E O PROJETO NEOLIBERAL

O neoliberalismo começa a ser pensado por Friederich Hayek em 1945, no berço


do capitalismo – EUA, mas é na Inglaterra, que há a consolidação de suas ideias
em 1970, no governo de Margareth Tatcher, conhecida na história como a “dama
de ferro”, por ser uma chefe de Estado forte. A implantação do neoliberalismo
ocorre devido ao ataque a organização e estrutura do Estado de Bem Estar Social,
crise instaurada por processos econômicos para desmantelar e enfraquecer o
poder de organização sindical com a flexibilização das relações de trabalho, das
legislações, que precarizam os direitos trabalhistas e que estão intrinsecamente
relacionadas ao aumento do nível de desemprego.
A Ofensiva Neoliberal se estrutura por elementos que formam o que deno-
minou-se de quadra histórica, a qual é composta por:
■■ Crise Global Contemporânea (desemprego, emprego informal, aumento
das horas trabalhadas);

DESAFIOS DO MUNDO DO TRABALHO NA ATUALIDADE


113
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■■ Crise do Estado de Bem Estar Social (fragilidade imposta pela ofen-


siva neoliberal: enfraquecimento da luta de classe, desmantelamento de
direitos sociais);
■■ Crise do socialismo real (socialismo alinhado às ideias ortodoxas mar-
xistas, socialismo revolucionário. Enfraquecimento e desmantelamento
da luta revolucionária capaz de pôr fim à exploração entre K X T);
■■ Regressão Social (enfraquecimento da luta de classe).

De acordo com Anderson (1995), a ofensiva neoliberal retoma os princípios do


liberalismo clássico, que se fundamenta na base sócio-histórica da ordem do
capital em seu ingresso no capitalismo monopolista, o qual requer a intervenção
estatal para se manter estável e crescente, por isso a proposição neoliberal reme-
te-se ao reino das fábulas, por não passar de uma falácia, uma vez que há fatos
concretos que afirmam que sem a intervenção do Estado na economia não há
condições de se levantar da crise sozinha, bem como para seu processo de acu-
mulação e dominação enquanto modo de produção.
Nesse sentido, Soares (2009) discorre em sua obra “Os custos Sociais do ajuste
neoliberal na América Latina”, as particularidades que o ideário do neoliberalismo
trouxe para os países periféricos que compõem parte do continente americano. Ao
resgatar a história, especialmente do Brasil, se precisa compreender mais uma vez

O Capitalismo e o Projeto Neoliberal


114 UNIDADE IV

o efeito retardatário com que os comandos do sistema capitalista, em especial a


questões políticas, econômicas e sociais, chegaram no referido país, 20 anos após o
retorno dos princípios neoliberais como fundamentais para a reorganização estatal.
E o que realmente significa o neoliberalismo? Esta indagação é fundamental
para compreendermos como “[…] uma ideologia, uma forma de ver o mundo
social, uma corrente de pensamento [...]” (MORAES, 2001, p.27), pode ditar a
reorganização do modo de produção capitalista e das relações sociais.
A inserção do ideário neoliberal no Brasil ocorreu em meados da década
de 90, pouco tempo após o início da construção do Estado de Bem Estar Social

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
com o processo de redemocratização e promulgação da Constituição Federal de
1988, a qual trouxe a legalização para a garantia dos direitos sociais e humanos
como elementos fundamentais para assegurar a dignidade da pessoa humana.
E o que isso pressupõe? Retoma-se que“[…] a idéia do Estado Mínimo é uma
consequência da utilização da lógica do mercado em todas as relações sociais,
não reduzidas somente ao aspecto econômico.” (BIANCHETTI, 1997, p. 88).
Ressalta-se que a:
[…] vinculação aos ditames do chamado “Consenso de Washington”,
que são: ajuste fiscal, redução do tamanho do Estado, fim das restrições
ao capital externo, abertura do sistema financeiro, desregulamentação,
reestruturação do sistema previdenciário […] a simples defesa do capi-
tal monopolista nacional ou estrangeiro instalado no país (COGGLIO-
LA, 1996, p. 196).

O Consenso de Washington trouxe a adoção de medidas neoliberais para o Brasil,


as quais associaram-se à pressão dos organismos financeiros internacionais impos-
tas aos governos no sentido de iniciar as reformas estatais. Assim, definiu-se
uma série de medidas que segundo Bento (2003) podem ser resumidas como:
■■ Disciplina fiscal, (manutenção dos gastos superávit primário;
■■ Priorização dos gastos públicos em áreas de alto retorno econômico;
■■ Reforma tributária;
■■ Altas taxas de juros fixadas pelo mercado;
■■ Libertação do câmbio (valorização do dólar e desvalorização do real);
■■ Abertura ao capital internacional;

DESAFIOS DO MUNDO DO TRABALHO NA ATUALIDADE


115

■■ Políticas não protecionistas (contribuição para a expansão internacional);


■■ Privatização das empresas estatais;
■■ Desregulamentação da economia, em especial das relações trabalhistas;
■■ Proteção à propriedade privada (Reforma do Estado).
[...] a essência do arsenal do neoliberalismo: uma argumentação teórica
que restaura o mercado como instância mediadora societal elementar e
insuperável e uma proposição política que repõe o Estado mínimo como
única alternativa e forma para a democracia (NETTO, 2012, p. 84).

Tem portanto, o que Soares (2003, p. 30) elucida como uma marca “[...] das polí-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ticas sociais de corte neoliberal é a substituição da universalidade base do direito


de cidadania pela focalização”, este é que se refere diretamente a proposta de mini-
mização do Estado, uma vez que o neoliberalismo propõe a não intervenção do
Estado na economia, retomando os princípios que o mercado deve se auto regular.
A história brasileira é demarcada com entrada avassaladora neoliberal a par-
tir do governo de Fernando Henrique Cardoso que, como gestor conservador,
realizou a gestão do país em seus oito anos de governo 1995 – 2002, para reduzir
as ações estatais, privatizar os serviços e bens públicos, incentivar a terceirização
do trabalho, bem como o emprego informal e o subemprego, como também os
serviços sociais de saúde, educação, previdência social, segurança, dentre outros,
que além de essenciais são direitos sociais e humanos, os quais foram e são vio-
lados diariamente pelo Estado independente da esfera que deve executar, pois a
descentralização dos serviços entre a União, Estado e Município é uma das fer-
ramentas de isenção do Estado em se responsabilizar pela garantia efetiva dos
direitos sociais e humanos por meio da prestação de serviços.

O papel do Estado no neoliberalismo, se coloca como mínimo para o social


e máximo para o capital. Mas como este processo é possível se é necessário
o Estado de Bem Estar Social para a eficácia econômica e social do capital.
Fonte: a autora.

O Capitalismo e o Projeto Neoliberal


116 UNIDADE IV

Neste sentido, o recorte e ajuste neoliberal presente desde este período até a con-
temporaneidade nas políticas sociais públicas, evidenciam condicionantes como
a fragmentação, focalização, precarização e sucateamento dos aparelhos estatais,
com o intento de apresentá-las como ineficientes propagando os programas, pro-
jetos e planos governamentais como ruins, mas, em contrapartida, financiam a
iniciativa privada para a conquista permanente do mercado.
Sendo assim, compreender a conjuntura que envolve o ideário neoliberal
frente ao minimalismo social que este impõe ao Estado é imprescindível para
conhecer a quais projetos que os representantes políticos se embasam para exercer

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a gestão de governar uma nação, que em sua grande maioria depende da garan-
tia de seus direitos para sobreviver em uma sociedade que faz questão de excluir
e segregar aqueles sujeitos que não tem acesso aos mecanismos legais da venda
de sua força de trabalho, isto é, desconsiderando os efeitos que as expressões da
questão social associados ao modelo de governo produzem na vida objetiva para
aqueles que estão inseridos na linha da pobreza, miséria e indigência humana.

A história do homem é a história da luta de classes, da luta constante entre


interesses opostos
(Karl Marx)

DESAFIOS DO MUNDO DO TRABALHO NA ATUALIDADE


117

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Prezado(a) aluno(a), ao finalizar esta unidade de estudo almeja-se que você tenha
adquirido conhecimento sobre os desafios do mundo do trabalho na atualidade, em
que buscou-se analisar o fenômeno do desemprego frente a precarização do trabalho e
as manifestações das expressões da questão social, compreender o processo de aliena-
ção e exploração do trabalho na contemporaneidade e desvelar a ofensiva neoliberal.
Por isso, temos algumas considerações primordiais para ressaltar a impor-
tância desse debate, que perpassa diretamente as relações sociais de produção
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

e reprodução da vida social de todos nós, pois estamos inseridos nesse modelo
e na sociedade de classes. Tendo em vista que o desemprego, a precarização do
trabalho, seu processo de alienação e exploração estão imbricado ao capitalismo
e ao neoliberalismo, é fundamental a compreensão dos determinantes sócio-his-
tóricos que trouxeram para a realidade contemporânea a conjuntura econômica,
política e social que se tem hoje.
Com relação ao Brasil, apesar desse processo ser tardio, iniciado especifica-
mente a partir da década de 90, no governo de Fernando Henrique Cardoso é
que passa a ser reconhecido, pela Reforma do Estado, com as privatizações das
estatais e abertura do mercado na prestação de serviços públicos.
Nossa recente história nos mostra que não houve, no país, um Estado de
Bem Estar Social, apesar da Constituição Federal de 1988, especialmente com
a expressa Seguridade Social, que engloba as políticas de saúde, previdência e
assistência social. Esse tripé, como é conhecido, tem sido alvo da precarização,
focalização que o Estado tem tratado as políticas públicas e sociais.
Sendo assim, destaca-se que o capitalismo e o neoliberalismo estão em pro-
cesso de efervescência nos dias de hoje com as discussões da terceirização e da
Reforma Previdenciária.

Considerações Finais
118

1. Com relação a questão social, Netto (2001), explica que há cinco elementos fun-
damentais para se compreender este conceito. Elabore um pequeno texto de
3 a 4 parágrafos dissertando cada um destes elemento.

2. A crise do trabalho está diretamente relacionada aos ditames do capital, o qual


é fadado a crises cíclicas e constantes. Tendo em vista este contexto, explique a
precarização que o trabalho enfrenta na contemporaneidade.

3. Considerando que a contemporaneidade possui características diferentes do pe-


ríodo industrial, descreva como ocorre o processo de alienação e exploração
do trabalho no século XXI.

4. A ofensiva neoliberal está associada a quadra histórica, a qual é formada pela


crise global contemporânea, crise do Estado de Bem Estar Social, crise do so-
cialismo real e a regressão social. Com base nessas características, explique
porque a proposição neoliberal remete-se ao reino das fábulas?

5. Disserte sobre o neoliberalismo, seus princípios, consequências e sua rela-


ção com o capitalismo.
119

O CARACOL E SUA CONCHA: ENSAIOS SOBRE A NOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO


O livro “O Caracol e sua Concha - ensaios sobre a morfologia do trabalho” é uma impor-
tante obra do professor e sociólogo Ricardo Antunes, lançado em setembro de 2005 no
Brasil pela Editora Boitempo. Nele o autor analisa a questão do trabalho no capitalismo
contemporâneo e seus desdobramentos. Para enriquecer a análise traz para o diálo-
go autores como: Marx, Weber, Habermas, André Gorz, Robert Kurz, Mészáros, Domini-
que Méda, João Bernardo, Vasapollo e Martufi entre outros.
O trabalho discorre sobre a defesa de suas teses acerca da centralidade do trabalho
no mundo. Contrário às teorias que tentam desconsiderar a importância do trabalho
na sociedade, ele argumenta que as transformações tecnológicas influem nas formas
de exploração e acumulação do capital, mas não retiram do trabalho seu papel cen-
tral. Contudo, o autor tem o cuidado de não se deixar levar pelas análises que fazem
uma defesa acrítica acerca do trabalho; em suas palavras “se por um lado, necessitamos
do trabalho humano, reconhecemos seu potencial emancipador, devemos também
recusar o trabalho que explora, aliena e infelicita o ser social” (ANTUNES, 2005, p.14,).
A obra resulta de um conjunto de doze ensaios escritos pelo autor entre os anos de
2000 e 2005. Trabalhos esses oriundos do projeto de pesquisa intitulado ‘Para onde vai
o mundo do trabalho?’ financiado pelo CNPq desde 1992. Logo na introdução o autor
diz que a obra é apenas “uma coletânea absolutamente despretensiosa, desdobramen-
to livre de algumas teses apresentadas anteriormente”, (ANTUNES, 2005, p. 21) mas na
realidade o que percebemos é uma atualização de conceitos e argumentos importantes
para o entendimento das transformações ocorridas no mundo do trabalho e seus des-
dobramentos.
Chama-nos a atenção o instigante título do livro que se refere a uma passagem de
“O Capital”, em que Marx faz uma analogia entre o trabalhador e seus meios de pro-
dução e o Caracol e sua concha, visto que da mesma forma que o caracol não
pode ser separado de sua concha, o trabalhador também não deve ser separa-
do dos meios de produção, afinal estes são sua proteção assim como a concha o
é para o caracol. Nessa perspectiva, segundo o autor o desafio da sociedade atu-
al é recuperar a indissolúvel unidade entre o trabalhador e seus meios de produção.
O Livro aborda o presente e o futuro das relações capital-trabalho, tendo como centro
das discussões a relevância do trabalho na atualidade, o que contraria a corrente eu-
rocêntrica pautada na repercussão do progresso científico-tecnológico que advoga o
perecimento e a desaparição do mesmo. Para tanto tráz à tona questões importantes
como a suposta tese do fim da classe que vive do trabalho, o desemprego estrutural que
tem atingido um grande número de trabalhadores, inclusive nos países mais ricos do
sistema além da crescente exploração rentista na era da qualidade total na qual
120

O autor chama a atenção também para as novas formas de confrontação social que para
ele “são ações que articulam luta social e luta ecológica [...] são ações que articulam luta
de classes com luta de gênero, ação social com luta ética” (ANTUNES, 2005, p.37) e, em
seguida, lista vários exemplos desses tipos de ações.
Ao finalizar o autor defende que o processo de emancipação da classe trabalhadora não
pode ficar restrito aos âmbitos público e institucional. Mas que possa haver um movimento
de massas radical e extra parlamentar, que possa criar e inventar novas formas de atuação
autônoma, capazes de articular lutas sociais, que possibilitem o resgate em bases total-
mente novas da inseparável unidade entre o ‘trabalhador e seus meios de produção’.
Em síntese, a obra tem como ponto chave as discussões acerca da centralidade do tra-
balho na sociedade atual. O autor entende o trabalho como elemento ontologicamente
essencial e fundante, como condição para a existência do homem diferentemente das
teorias que tentam desconstruir a importância dessa categoria na atualidade. Mas alerta
sobre a necessidade de recusa de um trabalho alienado, que ‘explora e infelicita o ser
social’. Nessa direção argumenta que “uma vida cheia de sentido fora do trabalho supõe
uma vida dotada de sentido dentro do trabalho”. (ANTUNES, 2005 p. 91).
A obra em questão se torna referência pela riqueza das análises abordadas, podendo ser
de interesse de todos que conduzam estudos sobre as transformações no mundo
trabalho e seus desdobramentos.
Fonte: RICARDO (2005, on-line)1.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Trabalho, questão social e serviço social


Alfredo Aparecido Batista
Editora: Edunioeste
Sinopse: o dilema: como conviver com a apropriação da
natureza, das potencialidades em graus exponenciais pela
classe burguesa em suas diferentes frações e, no mesmo espaço
de sociabilidade, vivenciar, cotidianamente, a destruição da
força física e psíquica da classe operária e das demais frações
da classe trabalhadora? O estudo apresentado nesta obra
investiga e analisa historicamente esse dilema, focando as
determinações que se manifestaram durante a década de 1990
no Brasil. Entre elas, destacam-se o processo das transformações
societárias em movimento, seus impactos na “questão social” e
suas refrações no Serviço Social brasileiro, na década de 1990.
Isso porque o último quartel do século XX foi marcado por
transformações no tecido societário, na esfera da produção e
da reprodução social. Os Assistentes Sociais, nos espaços sócio-
ocupacionais e no trabalho profissional, face às dificuldades
encontradas em colocar em movimento os procedimentos
teórico-metodológicos, ético-político e técnico-operativos que
conduzissem a uma intervenção inclusiva, ontológica e crítica,
estão restaurando práticas conservadoras.

No artigo “Crise do capital, precarização do trabalho e impactos no Serviço Social”,


George Francisco Ceolin, analisa alguns impactos das transformações societárias em
curso no período histórico de transição dos séculos XX e XXI na particularidade da
profissão Serviço Social.
Para saber mais acesse o link:
<http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n118/a03n118.pdf>.

Material Complementar
122
REFERÊNCIAS

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ad/8639543/7112>. Acesso em: 27 abr. 2017.
GABARITO

1. Compreensão e desenvolvimento do aluno sobre: 1. Pauperismo; 2. Classe


proletária; 3. Lei geral da acumulação; 4. Welfare State; 5. Novas expressões
da questão social.
2. Em sua forma contemporânea o capital necessita, cada vez mais, expandir as for-
mas precarizadas do trabalho, devido a crise e a superprodução de mercadorias,
em que a ciência (e o conhecimento gerado pelo progresso científico) não está
desarticulada da lógica de reprodução do capital. A esfera da produção continua
sendo o motor da vida na sociedade capitalista.
3. O processo de representação traz, também, aspectos da exploração e da aliena-
ção do trabalho, uma vez que o administrador, gestor, gerente, supervisor, co-
ordenador, entre outras nomenclaturas para designar os cargos exercidos nos
setores públicos e privados, na maioria das vezes é um trabalhador como os de-
mais, isto significa que o seu próprio trabalho também é condicionado aos de-
terminantes do capital, especificamente aos conceitos de alienação, exploração
e, recentemente, de precarização e flexibilização do trabalho.
4. A proposição neoliberal remete-se ao reino das fábulas por não passar de uma
falácia, uma vez que há fatos concretos que afirmam que sem a intervenção do
Estado na economia não há condições de se levantar da crise sozinha, bem como
para seu processo de acumulação e dominação enquanto modo de produção.
5. Compreensão do aluno sobre a unidade, especificamente aos conteúdos sobre
o capitalismo e o projeto neoliberal.
Professora Me. Daniele Moraes Cecilio Soares

V
DESAFIOS PROFISSIONAIS

UNIDADE
NO CAPITALISMO
GLOBALIZADO

Objetivos de Aprendizagem
■■ Analisar as transformações do mundo do trabalho e seus reflexos no
Serviço Social.
■■ Compreender as novas configurações do mercado de trabalho para
os Assistentes Sociais.
■■ Debater as novas conjunturas sociais contemporâneas.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Alterações no mundo do trabalho e repercussões no mercado
profissional do Serviço Social
■■ As novas configurações para o mercado de trabalho do assistente
social
■■ Serviço Social nas novas conjunturas do mundo contemporâneo
127

INTRODUÇÃO

O debate desta V e última unidade de estudo perpassa pelos desafios profissionais


no capitalismo globalizado, em que elencou-se os seguintes objetivos: analisar as
transformações do mundo do trabalho e seus reflexos no Serviço Social, com-
preender as novas configurações do mercado de trabalho para os Assistentes
Sociais e debater as novas conjunturas sociais contemporâneas.
Nesse sentido, inicia-se o conteúdo com a abordagem das alterações no
mundo do trabalho e repercussões no mercado profissional do Serviço Social,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

em que é diretamente impactado pela reestruturação produtiva e precarização


do trabalho, pois a profissão, uma vez inscrita no modo de produção capitalista,
enfrenta os mesmos rebatimentos da classe trabalhadora, mas com o diferen-
cial de ter a clareza de estar subordinada aos ditames do capital, em especial dos
monopólios internacionais.
Em seguida apresenta-se a discussão acerca das novas configurações para o
mercado de trabalho do assistente social, em especial, destaca-se o setor empresa-
rial que tem tido nos últimos anos um crescimento exponencial para a profissão.
Ressalta-se que a partir da década de 90 com a entrada avassaladora do neo-
liberalismo no país, as políticas públicas expressas na Constituição Federal de
1988, foram “esquecidas”, pelos governantes, representantes do povo para legis-
lar e garantir seus direitos e o bem estar da sociedade. O governo deu espaço
para privatizações de estatais, vendas de bens públicos, flexibilização e terceiri-
zação do trabalho, precarização das políticas públicas e sociais, sucateamento
dos espaços e instrumentos públicos, dentre outras perdas.
Por fim, tecem-se reflexões sobre o Serviço Social nas novas conjunturas do
mundo contemporâneo, momento em que deve-se compreender as amarras que
o capital utiliza para moldar suas transformações que, apesar de apresentarem
com esta nomenclatura, não passam de roupagens “novas” para continuar o pro-
cesso de exploração e alienação do trabalho nesse modo de produção.

Introdução
128 UNIDADE V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ALTERAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO E
REPERCUSSÕES NO MERCADO PROFISSIONAL DO
SERVIÇO SOCIAL

A década de 70 iniciou as configurações do mundo do trabalho, transforma-


ções societárias que constituem-se em solo privilegiado para o processamento
de alterações profissionais, ou seja, no surgimento de novas ou no redimensio-
namento de novas profissões consolidadas, conforme as necessidades do capital
na divisão social e técnica do trabalho.
Demarca-se que as mudanças societárias, em movimento, metamorfoseiam
a produção e a reprodução das necessidades sociais, uma vez que, ao conside-
rar as profissões como um “corpus teórico prático”, que condensam processos
sociais para articular respostas a projetos sociais em curso, sendo que uma profis-
são não pode ser tomada exclusivamente enquanto resultado de transformações
macroscópicas, mas deve-se considerar os complexos que compõem a profissão
no modo de produção capitalista.

DESAFIOS PROFISSIONAIS NO CAPITALISMO GLOBALIZADO


129

Em 1974-1975 explode a primeira recessão generalizada da economia capi-


talista internacional, que foi desencadeada desde a II Guerra Mundial. Neste
momento houve uma mudança no padrão de crescimento do capital, em que
suas “ondas largas expansivas” foram subsidiadas pelo pacto keynesiano expresso
no Welfare State, conforme vimos na Unidade III.
De acordo com Castel (1998) as leis do trabalho tem caráter punitivo e repres-
sivo e não protetor. Os objetivos eram o de estabelecer o imperativo do trabalho
a todos que dependiam de sua força de trabalho para sobreviver, aceitar qual-
quer trabalho que lhe fosse oferecido, regular a remuneração do trabalho, não
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

havia negociação de remuneração, proibir a mendicância dos pobres válidos.


Entretanto, esse contexto não se difere da situação contemporânea.
A seguridade social procede de uma espécie de transferência de proprie-
dade pela mediação do trabalho e sob a égide do Estado. Seguridade e tra-
balho vão tornar-se substancialmente ligados porque, numa sociedade que
se reorganiza em torna da condição de assalariado, é o estatuto conferido
ao trabalho que produz o homólogo moderno das proteções tradicional-
mente asseguradas pela propriedade privada [...] (CASTEL, 1998, p. 387).

Concomitantemente a esse processo, a Seguridade Social no Brasil é expressa com


a promulgação da Constituição Federal de 1988, em que se tem o tripé das políticas
públicas de saúde, previdência e assistência social. A Constituição Cidadã como é
conhecida, trouxe, por pouco tempo, a esperança de haver no país um Estado de Bem
Estar Social, mas que na década de 90 com o desmonte das políticas públicas com a
entrada avassaladora do neoliberalismo fica apenas como uma possibilidade remota.
Com o neoliberalismo e o processo de reestruturação produtiva, o desem-
prego estrutural tende para o aumento de programas sociais, em contrapartida
as demandas do capital apontam para a diminuição dos gastos sociais. Resultado:
um processo conflituoso de negociação e luta de classes e seus segmentos, que se
colocam em condições desiguais nas arenas de negociação disponíveis no Estado
democrático de direito, o que leva à conflitos também extras institucionais.
Nessa perspectiva, no nível social as mudanças provocadas no capitalismo
tardio vão além das mudanças na estrutura das classes sociais, estas se relacionam
diretamente com as mudanças do perfil demográfico, dentre as quais destacam-
-se as seguintes características:

Alterações no Mundo do Trabalho e Repercussões no Mercado Profissional do Serviço Social


130 UNIDADE V

ü expansão urbana;
ü crescimento das atividades de prestação de serviços;
ü expansão da educação formal;
ü novos circuitos da comunicação social.

Tendo em vista esse processo de reorganização social para atender as demandas


do capital, verifica-se que essas mudanças rebatem na estrutura familiar, com a
inserção efetiva da mulher no mercado de trabalho, a ascensão do jovem como
força motriz atrelado a expansão da indústria cultural e o reconhecimento das

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
expressões da questão social que atingem as minorias.
Contudo, as mudanças também interferem na dinâmica cultural, em que
há uma translação da lógica do capital para todos os processos do espaço cultu-
ral, desqualificação da esfera pública e a supervalorização do indivíduo sobre a
sociedade. Esses elementos impõem a redefinição dos papéis e relações do Estado
e da sociedade civil, em que o Estado burguês tem um redimensionamento de
suas funções legitimadas, como o corte nas políticas sociais, propagando-se o
discurso e ações de desqualificar o Estado para tomar frente o processo de pri-
vatização dos aparelhos estatais.
Para isso, desenvolveu-se uma “cultura política” anti-Estado, isto é, desregu-
la-se como órgão gestor dos direitos sociais, apresentada pela modernidade para
promover a sociedade civil ao transferir as responsabilidades do Estado para a
mesma, objetivo do neoliberalismo em detrimento da valorização do voluntariado.
De modo geral, pode-se considerar que a configuração do capitalismo tardio
possui três elementos essenciais: crescente alargamento da distância entre o mundo
rico e o pobre, a ascensão da xenofobia e do racismo , bem como a crise ambien-
tal. Estes são os desafios que a sociedade enfrentará, devido a imposição capitalista
para a sobrevivência das espécies dos seres vivos inclusive a dos humanos, uma
vez que para expandir seu poder e dominação desconsidera a força da natureza,
a qual tem dado inúmeras respostas aos efeitos de degradação do meio ambiente.
A análise do processo de trabalho no Serviço Social [...], parte da concep-
ção marxiana clássica relativa ao trabalho, como espaço de interação do

DESAFIOS PROFISSIONAIS NO CAPITALISMO GLOBALIZADO


131

homem com o mundo natural, modificando-o e se modificando nesse


movimento. Ele se objetiva num produto, correspondente a um valor
de uso, decorrente desse processo, que pode não somente ser consumi-
do, mas também transmutar-se em meio para um novo processo de ou-
tro produto [...] ( MARX, 1983, p. 149-154 apud FREIRE, 2010, p. 71a).

Frente a esse contexto, verifica-se que a categoria trabalho pautada na relação


mercadológica, configura-se o processo de compra e venda de produtos para a
relação comercial, mas é preciso reconhecer que as relações sociais de produção
são consideradas da mesma forma como a mercadoria, o implica em retirar a
importância que a força de trabalho humana tem no modo de produção capitalista.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Na obra “Serviço Social em tempo de capital e fetiche: capital financeiro, tra-


balho e questão social”, Iamamoto (2012), faz uma crítica sobre marxista da
economia política atual, em especial no Capítulo III, a autora tece conside-
rações importantes sobre as teses dos principais autores do Serviço Social
brasileiro.
Fonte: a autora.

A comunicação de massa popular surgiu no século XIX, com o jornal diário,


mas se consolidou no século XX com o rádio, o cinema e a televisão, e no XXI,
a internet. Os meios de comunicação de massa são os canais usados na trans-
missão de mensagens a um grande número de receptores, uma vez que esta
contribui para a modificação dos significados que os homens atribuem a diver-
sas situações ou coisas.
No dia a dia, os meios de comunicação de massa mais comuns são os jor-
nais, as revistas, o rádio, a televisão e mais recente a internet. Além destes canais
e instrumentos há também a comunicação artística, a qual se reflete por meio
do cinema, teatro, dança, entre outros.

Alterações no Mundo do Trabalho e Repercussões no Mercado Profissional do Serviço Social


132 UNIDADE V

Neste sentido, a comunicação não inclui apenas as mensagens faladas, pois o


olhar, os gestos e os sinais contribuem e auxiliam para uma efetiva comunicação
entre duas ou mais pessoas. Segundo Gramsci a cultura criada pelo povo, é a que
articula uma concepção do mundo e da vida em contraposição aos esquemas ofi-
ciais, por isso inúmeras manifestações populares tem em seu bojo a sede e a fome
de expressar sua revolta e/ou indignação sobre determinadas situações ou assuntos.
Segundo Adorno (2002), “a indústria cultural” impede a formação de indi-
víduos autônomos, independentes, capazes de julgar e decidir conscientemente.
Diante desse contexto, pode-se dizer que a cultura de massa não é algo constru-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ído por seus membros, mas sim pela própria indústria, que transforma tudo em
mercadoria, deixando os indivíduos como meros consumidores, os quais não
precisam se dar o trabalho de pensar, é só escolher.
É de extrema importância deixar claro que o conceito de indústria cultural
não se refere aos veículos transmissores, mas sim ao uso de tal tecnologia por
parte da classe dominante. Portanto, a produção cultural e intelectual passa a ser
embasada e guiada pela possibilidade de consumo mercadológico.
Frente a esse contexto social, Iamamoto (2008) discute sobre as condições de
trabalho e as respostas profissionais, as quais implicam numa minuciosa reflexão
sobre a prática e práxis profissional. Tendo em vista que “a realidade torna-se
obstáculo, vista como o que impossibilita o trabalho” (IAMAMOTO, 2008, p.
162). Essa afirmação da autora remete a compreensão da forma como o trabalho
do assistente social está se desenvolvendo, por meio de precárias condições de
atendimento à população usuária de determinado serviço bem como das con-
dições e pressões do trabalho desse profissional.
Nesse sentido, convém ressaltar a importância dos profissionais estarem
descrevendo sua prática profissional com a finalidade de informar e produzir
conhecimento. Este exercício de produção está se desenvolvendo em um pro-
cesso moroso, tendo em vista que com a exigência de elaboração do trabalho
de conclusão de curso como requisito para a formação profissional, esse traba-
lho tem despertado em alguns acadêmicos e docentes o interesse pela produção
científica, o que é algo muito importante tanto para a academia quanto para a
categoria profissional se posicionar frente às novas configurações e proliferações
das expressões da questão social.

DESAFIOS PROFISSIONAIS NO CAPITALISMO GLOBALIZADO


133

Para Iamamoto (2008, p. 168),


[...] a preocupação [...] é de construir no âmbito do Serviço Social, uma
proposta de formação profissional conciliada com os novos tempos,
radicalmente comprometida com os valores democráticos e com a prá-
tica de construção de uma nova cidadania na vida social, isto é, de um
novo ordenamento das relações sociais.

Conforme a autora descreve, é preciso que a formação profissional do assistente


social esteja pautada, não apenas na habilidade técnica, mas na competência de
analisar a conjuntura da sociedade atual bem como numa leitura crítica e reflexiva
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

das condições de trabalho. Pois, somente, dessa forma teremos profissionais de


qualidade no mercado, prestando um atendimento pautado no Código de Ética e
Projeto Ético Político Profissional, e não apenas cumprindo ordens e quantidades.
A perfeita expressão do conceito de qualificação na sociedade capitalista
é que o que se encontra nos lemas estéreis e rudes dos primeiros tayloris-
tas, que descobriram a grande verdade do capitalismo segundo a qual o
trabalhador deve tornar-se um instrumento de trabalho nas mãos do ca-
pitalista, mas não haviam aprendido ainda a sabedoria de adornar, obs-
curecer, e confundir essa necessidade do modo como o fazem a gerência
e a Sociologia modernas [...] (BRAVERMAN, 1987, p. 377-378).

Tendo em vista a afirmação do autor, é importante ressaltar que a qualificação


não se refere apenas a questão de estudos acadêmicos, mas também de apri-
moramento das atividades laborais diárias, isto é, a qualificação da trabalho
executado no cotidiano.
[...] a qualificação serve tanto ao processo de modernização tecnológica
quanto para atender aquelas situações em que as mudanças situam-se
apenas nos mecanismos de reorganização do processo de trabalho, a
partir de uma nova cultura de trabalho (KAMEYAMA, NOGUEIRA,
2002, p. 32).

Conforme a citação, é clara as intenções das empresas ao qualificar o trabalha-


dor, em que estas, ao investirem neste processo, visam atingir outras metas que
a de apenas “melhorar” o desempenho de trabalho de determinados indivíduos,
pois estas, antes de buscar o aprimoramento, analisam os benefícios posteriores.
A partir da crise do trabalho é que surgem as oportunidades, especialmente
para o assistente social, em que precisa ser engajado assertivo, ou seja, precisa

Alterações no Mundo do Trabalho e Repercussões no Mercado Profissional do Serviço Social


134 UNIDADE V

ter presente em sua prática profissional a inovação, bem com o conceito de


empregabilidade.
De acordo com a autora, a visão de oportunidades de trabalho para o Serviço
Social referem-se:
1º a você, ator social que tenha motivação, visão de negócio, cultura e adminis-
tração, isto é, um profissional atento às mudanças e exigências do mercado;
2º à nossa ideia e a nossa fé, significa que o profissional terá que construir a
sua imagem e a do Serviço Social em seu espaço de trabalho;

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
3º nossos colegas de profissão, dizem respeito a contribuição e até mesmo
ajuda que um profissional pode oferecer ao outro, um exemplo disso é a
inserção dos acadêmicos no campo de estágio, lugar este que contribui
de forma significativa para a formação técnica;
4º nossos parceiros, como o próprio diz, refere-se às oportunidades oferecidas
por nossos parceiros para execução de determinado programa e/ou projeto;
5º nossos clientes em potencial, são as empresas que, futuramente, pode-
rão contar com a colaboração do Serviço Social em sua gestão, para isso
é fundamental a venda de uma profissão que tenha dinamicidade e con-
trole das situações emergentes;
6º organizações metanólicas, referem-se a organizações que passaram por
mudanças, cujas quais precisam de uma gestão social para o fortaleci-
mento das relações.

Nesse sentido, houve, a partir da década de 90, uma expansão nas oportunida-
des de consultoria em Serviço Social. Essa, por sua vez, pode ser realizada tanto
interna como externa. A primeira diz respeito à prestação de um serviço em que
o profissional assessora as pessoas e a empresa na tomada de decisão apresen-
tando-lhes instrumentos de mudança; a segunda refere-se a um auxílio sobre os
processos de gestão da empresa.
Esse período também ficou marcado pela construção de uma prática pro-
fissional interdisciplinar, com a finalidade de aprimorar os serviços oferecidos.
Por isso, Battini (1994, p. 144) afirma que:
[...] pensar os fatos, os acontecimentos, as relações exige questionar, in-
vestigar a realidade, criticá-la, tornando-a evidente pela contínua recolo-

DESAFIOS PROFISSIONAIS NO CAPITALISMO GLOBALIZADO


135

cação de questões, fazendo-a emergir de forma cada vez mais rica e viva,
recriando-a num contínuo percurso entre a aparência e a essência, entre
a parte e o todo, entre o universal e o particular, numa visão dialética.

Sendo assim, o Serviço Social é uma profissão investigativa e interventiva, pois


seu exercício profissional está em descobrir as necessidades e causa que determi-
nado indivíduo enfrenta para buscar que seja efetiva a garantia de seus direitos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

AS NOVAS CONFIGURAÇÕES PARA O MERCADO DE


TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL

O cenário contemporâneo da sociedade


capitalista tem aberto as portas para
o Serviço Social nas diversas áreas das
políticas públicas, mas o mercado vem
tendo destaque, pois as empresas estão
mais preocupadas com os colaborado-
res e buscam a melhoria na qualidade do
trabalho e da vida dos mesmos, para isto,
utilizam de benefícios como instrumento
de remuneração indireta para satisfazer as
necessidades dos colaboradores e propi-
ciar um ambiente saudável e qualitativo.
O recorte e ajuste neoliberal em curso na contemporaneidade nas políticas
sociais públicas, evidenciam condicionantes como a fragmentação, focalização,
precarização e sucateamento dos aparelhos estatais, com o intento de apresentá-las
como ineficientes propagando os programas, projetos e planos governamentais
como ruins, mas, em contrapartida, financiam a iniciativa privada para a con-
quista permanente do mercado.

As Novas Configurações Para o Mercado de Trabalho do Assistente Social


136 UNIDADE V

Esta análise de conjuntura é fundamental para o Assistente Social compre-


ender como a reestruturação produtiva em desenvolvimento está se expressando
frente às demandas de Capital X Trabalho.
Contudo, para as empresas é de extrema importância ter um plano de bene-
fícios, pois, assim, ela se torna competitiva e aparece no mercado como empresa
que respeita e valoriza seus colaboradores e, assim, estes se tornam mais com-
prometidos e envolvidos com a organização, gerando mais produtividade.
O plano de benefícios tem inúmeras vantagens, entre elas está uma melhor
qualidade de vida dentro e fora da organização, um quadro de funcionários moti-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vados e envolvidos com a empresa, a possibilidade de atrair e manter talentos,
diminuir a rotatividade e o absenteísmo.
Nesse sentido, as empresas são constituídas de pessoas e precisam delas
para atingir seus objetivos e missões, para as pessoas não é muito diferente,
pois o lugar/ambiente em que trabalha é o meio que usam para conseguir reali-
zar seus sonhos e desejos pessoais. Desse modo, devemos sempre lembrar que
o colaborador é um ser humano e precisa estar bem mentalmente, fisicamente,
espiritualmente e intelectualmente. Para tanto, é necessário que a organização e
o colaborador estejam sempre em sinergia, isto é, os dois precisam ligar esfor-
ços para alcançar seus objetivos.
Entretanto, é necessário compreender que;
[...] no caso das fusões, o emprego total das empresas incorporadas se
reduz. No caso das aquisições, o quadro de pessoal se torna mais he-
terogêneo. Na racionalização dos negócios, cresce a terceirização. No
mundo inteiro o emprego estável de longa duração se retrai e as novas
modalidades de trabalho se expandem: subcontratação, o trabalho por
projeto, a atividade autônoma, o tele-trabalho, o trabalho domiciliar
etc. (KAMEYAMA, NOGUEIRA, 2002, p. 28).

A citação nos mostra o quanto o trabalho vem sendo massificado e deturpado,


isto é, os indivíduos estão perdendo a garantia de trabalho, conquistados há anos,
bem como seus direitos, por se vincularem a sistemas de precários e insuficien-
tes para subsidiar suas próprias necessidades profissionais.

DESAFIOS PROFISSIONAIS NO CAPITALISMO GLOBALIZADO


137

Como o Serviço Social na contemporaneidade enfrenta os rebatimentos da


crise do trabalho e a reestruturação produtiva nos processos sociais da pro-
fissão.
Fonte: a autora.

Segundo Chiavenato (2002) a gestão de RH envolve seis processos básicos: agregar,


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

aplicar, recompensar, desenvolver, manter e monitorar pessoas. Esses processos se


dividem em: Recrutamento, Seleção, Planejamento de RH, Desenho e Análise de
Cargos, Avaliação de Desempenho, Remuneração, Benefícios, Higiene/Segurança,
Relações Sindicais, Treinamento e Desenvolvimento de pessoas e organização.
Tais atividades estão interligadas, pois são por meio dessas atividades que se con-
segue sustentar a organização dos recursos e da empresa em si.
Destarte, é fundamental informar que manter colaboradores qualificados,
motivados e comprometidos com a organização em que trabalho é impor-
tante e necessário, pois assim se consegue atingir os objetivos e a missão da
empresa. Desta forma, pode-se afirmar que para se ter um colaborador produ-
tivo e envolvido com a empresa é necessário dispor de um plano de benefícios
que busque o bem estar dos colaboradores em geral, independentemente de
cargo ou função.
O plano de benefícios é um meio indispensável para incentivar, manter e
satisfazer as necessidades dos colaboradores. Segundo Marras (2000, p. 250)
“denomina-se benefício o conjunto de programas ou planos oferecidos pela orga-
nização como complemento ao sistema de salários”. Neste sentido, o plano de
benefícios visa facilitar a vida dos colaboradores, o que faz com que o colabo-
rador poupe dinheiro, tempo e esforços, pois se não fossem transmitidos pelas
empresas teriam de ser comprados diretamente pelo colaborador. Ainda pode-se
ressaltar que os benefícios podem ser financiados pela empresa parcial ou integral.

As Novas Configurações Para o Mercado de Trabalho do Assistente Social


138 UNIDADE V

Os benefícios surgiram para reter e motivar os colaboradores, e estes possuem


dois objetivos, atender ao colaborador e ao empregador, para o empregador, os
benefícios servem para melhorar o clima organizacional, manter a empresa com-
petitiva no mercado, e são analisados pelo custo – benefício, por isso, é necessário
fazer pesquisa de mercado, para o colaborador os benefícios são uma distribui-
ção justa e equável para suprir suas necessidades.
Os objetivos dos planos de benefícios são compreendidos a partir de três visões,
as quais se complementam entre si, são elas: individuais, econômicas e sociais. A
primeira refere-se à melhoria da qualidade de vida do colaborador, a segunda diz

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
respeito na forma da empresa atrair e manter o colaborador e, por última, a social
busca preencher deficiências da previdência social, bem como dos aparelhos estatais.
Desse modo, há três tipos de benefícios, são eles: flexíveis, legais e liberais.
Entretanto, estes são classificados de acordo com sua exigibilidade, quanto a sua
natureza e quanto a seus objetivos. Por isso estão denominados como:
■■ Benefícios Legais: são os benefícios exigidos e garantidos pela Consolidação
das Leis Trabalhistas – CLT ou previdenciárias, ou ainda por convenção
coletiva entre sindicatos. Exemplos: férias, aposentadoria, 13° salário,
auxílio creche, vale transporte, dentre outros;
■■ Benefícios Espontâneos ou Liberais: são os benefícios concedidos por
meio da liberdade da empresa, ou seja, não são exigidos por nenhuma
legislação nem por negociação coletiva. São, também, conhecidos e cha-
mados de benefícios marginais ou benefícios voluntários. Exemplos:
gratificações, refeições, transporte, complementação de aposentadoria,
dentre outros.
■■ Benefícios Assistenciais: são os benefícios que visam oferecer ao cola-
borador e a sua família certas condições de segurança e previdência.
Exemplos: assistência médico-hospitalar e odontológica, Serviço Social,
vantagens, dentre outros.

A gestão de benefícios, recursos humanos e de sustentabilidade e responsabili-


dade social, tem absorvido os profissionais assistentes sociais nas empresas para
contribuir com sua imagem social e produtividade.
[…] o balanço das experiências profissionais não revela com a mesma
força essa diretriz. São selecionados alguns espaços ocupacionais do-
tados de potencial para “práticas pedagógicas emancipatórias”, o que

DESAFIOS PROFISSIONAIS NO CAPITALISMO GLOBALIZADO


139

significa que nem todos seriam passíveis de orientação nessa direção,


o que parece colidir com o fato de que esses são espaços de disputas
políticas e de recursos (IAMAMOTO, 2012, p. 327).

De acordo com autora, é possível o profissional realizar numa dinâmica ativa


práxis-ação-práxis a elaboração de ações gradativas que somam-se à pedagogia
emancipatória, conforme vimos na Unidade III. Por isso, é necessário no processo
de amadurecimento do Serviço Social, romper com o profissionalismo estreito,
com a preocupação da especificidade, com o recorte do terreno próprio. Os limites
e possibilidades são historicamente diferenciados, cabendo ao agente profissio-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

nal acompanhar atentamente diferenciados, os movimentos da realidade social,


compreender essa dinâmica é passo fundamental mas, faz-se necessária a inscri-
ção de projetos profissionais antenados com o nosso tempo (IAMAMOTO, 2008).

SERVIÇO SOCIAL NAS NOVAS CONJUNTURAS DO


MUNDO CONTEMPORÂNEO

A partir da década de 60 iniciou-se a discussão sobre a


questão de gênero, as diferenças entre os sexos, tanto no
mercado de trabalho quanto na sociedade como um todo.
Tal discussão efervescente nesse período fez com que os
homossexuais passassem a expor sua condição, bem como
o movimento feminista, o qual buscava igualdade e reco-
nhecimento em quanto classe trabalhadora.
Nessa perspectiva, diversos autores afirmam que uma
questão de como grupos específicos de homens habitam
posições de poder e riqueza e como eles legitimam e repro-
duzem as relações sociais que geram sua dominação. Isto
significa que são os homens, os que estão e/ou possuem
poder econômico, político e cultural que estabeleçam as

Serviço Social nas Novas Conjunturas do Mundo Contemporâneo


140 UNIDADE V

regras e normas de convívio, porém os mesmos têm uma grande tendência em


excluir os grupos e categorias que consideram inferiores, agindo dessa forma
com preconceitos e discriminando os indivíduos por situações singulares.
Desse modo, as novas conjunturas sociais especificamente as de gênero, tive-
ram reflexos na configuração da estrutura familiar, em que hoje não é regra o
modelo de família burguês, mas a família passou a ser constituída conforme a
vivência de pessoas diferentes no mesmo ambiente e/ou espaço.
E como podemos identificar essas mudanças no trabalho do assistente social?
A contemporaneidade propicia ao profissional um trabalho cada vez mais diver-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sificado e dinâmico, pois essa precisa basear sua atuação na garantia ao acesso
dos direitos sociais, políticos e econômicos, por meio de intervenção neutra base-
ada em princípios do Código de Ética e do Projeto Ético Político, sem deixar que
seus valores pessoais interfiram no desempenho de seu trabalho.
Portanto, é preciso que assistente social respeite as diferenças, o relativismo,
o pluralismo, o etnocentrismo, para que possa desempenhar uma atuação de
acordo com cada particularidade, singularidade de seus usuários, estando sem-
pre ligado à alteridade.
[…] o trabalho do assistente social está profundamente condicionado
pela trama de relações vigentes na sociedade e, sem dúvida, o atual ce-
nário do desenvolvimento capitalista coloca para o Serviço Social con-
temporâneo novas demandas e competências, quer no nível de conhe-
cimentos, quer no plano concreto da intervenção e negociação política
no âmbito das Políticas Sociais (YAZBEK, 2009, p. 139).

Nessa perspectiva, tem-se a relevância de compreender a dinâmica do capital


para desvelar as necessidades que seu sistema demanda para articular a inser-
ção profissional nos diferentes espaços sócio-ocupacionais.
A história da profissão demarca que o marxismo foi via do filtro da prática
político - partidária ao influenciar o Serviço Social e trouxe alguns problemas:
■■ Identidade entre prática profissional e militância político partidária (o volun-
tarismo desconsiderava o movimento histórico e a correlação de forças);
■■ Recusa do espaço institucional (desconsideração do papel e as demandas
que o Serviço Social tinha que responder);

DESAFIOS PROFISSIONAIS NO CAPITALISMO GLOBALIZADO


141

■■ A recusa da prática profissional ditada pela visão de que a Instituição ape-


nas reproduzia a ideologia dominante (ruptura da intervenção);
■■ A ação político - moral não ajudou no desvendamento dos fundamentos
do tradicionalismo profissional;
■■ Ausência de consciência teórica capaz de desvendar as relações sociais
na sua contradição.

Considerando que a realidade e a sociedade são contraditórias podemos enten-


der os limites e possibilidades da ação profissional. De tal modo que não houve
crítica sobre o conhecimento acumulado historicamente, redução da capacidade
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

explicativa/operativa da teoria de Marx no entendimento de nossa profissão.


Assim, Iamamoto (2008) afirma que há dois dilemas existentes até hoje em
nosso meio: Fatalismo e Messianismo, o primeiro diz que nada é possível ser
feito e o segundo tem o idealismo (pensar na mudança é suficiente para que ela
ocorra). O profissional hipertrofia suas possibilidades para muito além do que
seu mandato Institucional lhe permite.
Entretanto, ambos têm ausência de compreender a perspectiva histórica das
relações sociais desenvolvidas no modo de produção capitalista. Por isso Iamamoto
(2008), apresenta que esses discursos são utilizados como mecanismos de defesa
para justificar as dificuldades que a profissão tem em suas competências.
Para tanto, a autora ressalta que foi somente no interior da tradição Marxista
que foi possível o alargamento dos eixos temáticos:
■■ A natureza do estado brasileiro na idade do monopólio;
■■ O significado das políticas sociais no estado Capitalista;
■■ Análise de conjuntura/ correlação de forças;
■■ O papel dos Movimentos Sociais (redemocratização da sociedade
brasileira);
■■ Democracia/ Cidadania/ e Direitos Sociais.

A concentração de estudos sobre o Estado e as políticas públicas têm secunda-


rizado o estudo sobre a sociedade civil, trazendo problemas de ordem teórico
- metodológica.

Serviço Social nas Novas Conjunturas do Mundo Contemporâneo


142 UNIDADE V

Considerar que as políticas públicas são a grande solução para a classe tra-
balhadora, é ficar de frente para o Estado e de costas para os trabalhadores e os
não trabalhadores (os que estão fora do mercado formal de trabalho).
As contradições ampliadas revelam-se na reestruturação produtiva,
que se insere na reestruturação política, social e econômica do novo
estágio de acumulação.Ela constitui o novo modelo de racionalização
das empresas, determinando modificações na sua estrutura, nas políti-
cas econômicas de expansão, nos processos de produção, organização
e gestão da força de trabalho, com ênfase no controle do processo de
trabalho e na criação de uma nova cultura pautada na competitividade

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
do mercado globalizado (FREIRE, 2010, p. 39).

Sendo assim, caro(a) aluno(a), Iamamoto (2008) sinaliza que é primordial conhe-
cer os modos de vida dos subalternizados, que são os protagonistas da história,
e que, por vezes, são menosprezados pelo Serviço Social. Se quisermos ganhar
visibilidade e legitimidade temos que buscar conhecer suas condições de vida,
trabalho, cultura, formas de resistência. Trazer esse conhecimento para o campo
Investigativo e Interventivo da atuação profissional.

DESAFIOS PROFISSIONAIS NO CAPITALISMO GLOBALIZADO


143

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao término da discussão proposta, nesse estudo, sobre os desafios profissionais


no capitalismo globalizado, faz-se necessário destacar as formas e condições
de trabalhos que estão presentes nas empresas do país, os planos de benefícios
oferecidos, os limites e possibilidades que as mesmas oferecem a seus trabalha-
dores, uma vez que estes podem ser retirados a qualquer momento, pois não é
requisito, por exemplo, como o salário que tem que seguir as legislações sobre o
direito do trabalho e as normativas sindicais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Nesse sentido, os estudos apontam que há diversos entraves impostos ao


mundo do trabalho com a consolidação do neoliberalismo, em que este se mos-
tra como “facilitador” para os micro-empresários terem um salto na produção.
Entretanto, o que se verifica é uma intensa precarização do trabalho e dos direi-
tos a ele garantido, por ser diversas vezes exercido na informalidade, o que não
proporciona a garantia de direitos previdenciários, entre outros.
Por isso, o que se verifica é a presença incisiva de alguns conceitos que afir-
mam o caráter dúbio das empresas, ou seja, faz uma análise de conjuntura das
ações por elas desempenhadas, das quais versam em suas entre linhas apenas
pela lucratividade. Em especial, o contexto político, econômico e social que a
sociedade brasileira vivencia na contemporaneidade não tem propiciado a per-
manência dos direitos ao trabalho, ao contrário tem se enfatizado questões como
a terceirização do trabalho e a Reforma Previdenciária, o que implica na preca-
rização massiva da classe trabalhadora.
Diante disso, caros(as) alunos(as), o assistente social tem que ter clareza de
que também é um trabalhador assalariado e enfrenta os mesmos rebatimentos
em seu trabalho e, além disso, precisa lutar pela garantia de direitos de todos,
inclusive sua, pois como vimos no decorrer dos conteúdos, a força de trabalho é
o indivíduo que detém e, por isso, tem que unir as bandeiras coletivas da classe
trabalhadora para reivindicar condições dignas de trabalho.

Considerações Finais
144

1. Descreva como o capitalismo vem se desenvolvendo após a implantação do ide-


ário neoliberal no Brasil.
2. Tendo em vista o poder de controle que a indústria cultural exerce na sociedade
contemporânea, explique seus impactos sociais.
3. A área empresarial tem se expandido para o Serviço Social nos últimos anos,
identifique as principais atividades realizadas.
4. Disserte sobre as transformações nos processos sociais de trabalho do assistente
social.
5. Iamamoto (2008) expõe que há dois dilemas que a profissão enfrenta, explique
os impactos destes para o exercício profissional.
145

Esclarecimento sobre a implantação da jornada de 30 horas para Assistentes So-


ciais sem redução salarial - CFESS
Desde a publicação da Lei n. 12.317, de 27 de agosto de 2010, que estabeleceu a jornada
de trabalho de 30 horas semanais para assistentes sociais, o CFESS vem recebendo inú-
meras consultas acerca de sua aplicabilidade nos diversos espaços sócio-ocupacionais
de atuação de assistentes sociais.
É importante destacar que, além dessas consultas, o Conselho Federal recebeu muitas
manifestações de reconhecimento da importância dessa conquista e, ainda, informa-
ções sobre a implementação da lei em diversas instituições públicas, privadas, ONGs,
filantrópicas entre outras, que se materializa e se amplia dia após dia.
No site do CFESS foi criado o Observatório das 30 horas, no qual são divulgadas, siste-
maticamente, informações importantes sobre as ações efetivadas pelo Conjunto CFESS/
CRESS em defesa da lei.
Ações em nível nacional vêm sendo realizadas pelo CFESS, a exemplo de reuniões com
o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) e com o Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS) e envio de ofícios aos diversos ministérios, colegiados de gesto-
res, conselhos e fóruns de políticas públicas. Além dessas ações, os CRESS também estão
promovendo diversas ações em seus estados, a exemplo de audiências públicas nas as-
sembleias legislativas e com diversos órgãos estaduais e municipais. Todas essas ações
fazem parte de um conjunto de estratégias definidas coletivamente no Encontro Nacional
CFESS/CRESS, realizado em setembro de 2010, que reuniu conselheiras/os e assistentes
sociais de base representando o CFESS e todos os CRESS e Seccionais de base estadual.
É importante ressaltar, também, que a conquista das 30 horas semanais sem redução de
salário para assistentes sociais deve ser compreendida no conjunto das lutas da classe
trabalhadora, porque contribui para a garantia de melhores condições de trabalho e se
insere na luta pelo direito ao trabalho com qualidade para todos/as.
Nesse sentido, temos recebido informações de várias ações em curso, protagonizadas
por grupos profissionais em seus espaços de trabalho. São ações que mobilizam os
sindicatos do ramo de atividade, reuniões com gestores e dirigentes das instituições,
consultas jurídicas, mobilização junto a parlamentares, manifestações públicas, dentre
outros, que revelam a disposição de seguir em defesa da lei.
Importa ainda destacar que, apesar de todo o empenho do Conjunto CFESS/ CRESS fren-
te a esse processo, algumas questões que nos são remetidas fogem à nossa competên-
cia e, portanto, não poderão ser respondidas individualmente, até porque se referem,
muitas vezes, a situações muito específicas de cada profissional, de sua relação de traba-
lho, de sua natureza e da especificidade da instituição empregadora.
146

Obtivemos uma grande vitória com a aprovação da jornada de 30 horas sem redução sa-
larial. Todos/as sabem que no tempo presente vem prevalecendo a restrição e redução de
direitos. Lutar e conquistar um direito trabalhista tão importante, nesse momento históri-
co, faz da nossa conquista uma vitória ainda mais saborosa. Nossa luta segue pela amplia-
ção de direitos para toda a classe trabalhadora. Como trabalhadores/as que somos, vamos
comemorar cada dia e cada minuto esse importante ganho, fruto da articulação, pressão
e mobilização dessa categoria aguerrida que são os/as assistentes sociais brasileiros/as. A
luta continua e conclamamos todos/as para ficarem “firmes e fortes” na defesa da imple-
mentação dessa Lei. A luta agora é de todos/as e de cada um/a, para fazermos valer esse
direito. Cada assistente social, em cada município desse país, deve divulgar esse direito em
todos os espaços e convocar os empregadores a implementar a Lei.
O Conjunto CFESS/CRESS está empreendendo todos os esforços legais e políticos para
garantir essa conquista!
Fonte: adaptado de Scielo (2011, on-line)1
MATERIAL COMPLEMENTAR

Serviço Social:temas, textos e contextos


Valeria Forti e Yolanda Guerra
Editora: LumenJuris
Sinopse: uma lacuna na publicação do Serviço Social refere-se a
reflexões sobre o cotidiano do exercício profissional dos assistentes
sociais face aos dilemas impostos pela atual crise estrutural do capital.
A coletânea ‘’Serviço Social: temas, textos e contextos’’ pretende
enfrentar esse desafio. Contributo que busca ser representativo
de parte de uma categoria que vivencia e enfrenta, no cotidiano
profissional, as expressões da exploração do capital sobre o trabalho
e constrói respostas no campo dos direitos, reconfigurando, crítica e
socialmente, a questão social que se converte numa diversidade de
demandas para a profissão.
Comentário: Leitura obrigatória e inquietante por suas necessárias
abordagens e perspectivas plurais, esta Coletânea é, sobretudo, um
instrumento para subsidiar o debate sobre a questão social brasileira
atual, as Políticas Sociais constituídas para seu enfrentamento e o
papel do Serviço Social nesse processo.

Segunda feira ao sol (2002)


Sinopse: uma cidade costeira no norte da Espanha sofre com seu isolamento quando
seus estaleiros começam a ser fechados, deixando vários trabalhadores desempregados
à mercê de pequenas ocupações temporárias. Entre eles está Santa (Javier Bardem), um
machão rebelde e auto-suficiente que se recusa a admitir o fracasso. Mas a verdade é que
ele e seus companheiros, dos quais ele se torna uma espécie de líder, são perdedores
completos, mergulhados no alcoolismo e em crises familiares.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

ADORNO, T. W. Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002.


BATTINI, O. Atitude investigativa e formação profissional: a falsa dicotomia. In: Ser-
viço Social & Sociedade, São Paulo, Cortez, ano 15, n. 45, p. 142-146, ago. 1994
BRAVERMAN, H. Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho. Trad.
Nathanael C. Caixeiro. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos Editora S.A,
1987.
CASTEL, R. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Trad. Iraci
D. Poleti. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
CHIAVENATO, I. Administração nos Novos Tempos. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2002.
FREIRE, L. M. de B. O serviço social na reestruturação produtiva: espaços, progra-
mas, direções e processos do trabalho profissional. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2010.
IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação
profissional. 14 ed. São Paulo: Cortez, 2008.
______. Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e
questão social. 7 ed. São Paulo: Cortez, 2012.
KAMEYAMA, N.; NOGUEIRA, C. L. As tendências da gestão da força de trabalho nas
empresas brasileiras. Revista da Associação brasileira de Ensino e Pesquisa
em Serviço Social – ABEPSS – Temporalis. Espírito Santo. Ano III, n. 6, p. 23 – 36,
jul.2002.
MARRAS, J. P. Administração de Recursos Humanos: do operacional ao estratégi-
co. São Paulo: Futura, 2000.
YAZBEK, M. C. O significado sócio-histórico da profissão. In: Serviço Social: direitos
sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009. p.126-141.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1
Em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0101-66282011000100013>.
GABARITO

1) Com o neoliberalismo e o processo de reestruturação produtiva, o desemprego


estrutural tende para o aumento de programas sociais, em contrapartida as de-
mandas do capital apontam para a diminuição dos gastos sociais. Resultado: um
processo conflituoso de negociação e luta de classes e seus segmentos, que se
colocam em condições desiguais nas arenas de negociação disponíveis no Esta-
do democrático de direito, o que leva a conflitos também extras institucionais.
2) As mudanças também interferem na dinâmica cultural, em que há uma transla-
ção da lógica do capital para todos os processos do espaço cultural, desqualifica-
ção da esfera pública e a supervalorização do indivíduo sobre a sociedade. Esses
elementos impõem a redefinição dos papéis e relações do Estado e da sociedade
civil, em que o Estado burguês tem um redimensionamento de suas funções le-
gitimadas, como o corte nas políticas sociais, propagando-se o discurso e ações
de desqualificar o Estado para tomar frente o processo de privatização dos apa-
relhos estatais.
3) Gestão de benefícios surgiram para reter e motivar os colaboradores, e estes
possuem dois objetivos, atender ao colaborador e ao empregador, para o em-
pregador, os benefícios servem para melhorar o clima organizacional, manter a
empresa competitiva no mercado, e são analisados pelo custo – benefício, por
isso, é necessário fazer pesquisa de mercado, para o colaborador os benefícios
são uma distribuição justa e equável para suprir suas necessidades.
4) Compreensão do material de estudo. Análise crítica do aluno.
5) Fatalismo e Messianismo, o primeiro diz que nada é possível ser feito e o segun-
do tem o idealismo (pensar na mudança é suficiente para que ela ocorra). O pro-
fissional hipertrofia suas possibilidades para muito além do que seu mandato
Institucional lhe permite.
CONCLUSÃO

Prezado(a) aluno(a) na disciplina Processo de trabalho em Serviço Social, perpassa-


mos pelo debate sobre o processo de trabalho, a reestruturação produtiva, o serviço
social e reestruturação produtiva e a defesa do projeto ético-político profissional,
desafios do mundo do trabalho na atualidade e desafios profissionais no capitalis-
mo globalizado.
A compreensão destes conteúdos é fundamental para realizar a análise de conjun-
tura da sociedade e do modo de produção capitalista, que desde sua gênese impõe
os padrões necessários para a produção e reprodução das relações sociais.
Tendo em vista que o trabalho é a categoria fundante do ser social, que é o diferen-
cia entre os seres orgânicos e inorgânicos, enquanto ser social o ser humano tem na
sociabilidade, que é constituinte dessa inserção, isto é, independentemente de suas
escolhas individuais, o ser orgânico está determinado a viver junto com os seus pa-
res, o que requer o convívio para suprir suas necessidades de sobrevivência, sendo
somente o trabalho que pode realizar esse objetivo principal.
Portanto, o conhecimento acerca das relações de produção e reprodução social
foram primordiais para apreender como ocorre o movimento das engrenagens da
categoria trabalho frente as imposições do modo de produção capitalista.
A recente história do Brasil, nos mostra que não houve no país um Estado de Bem
Estar Social, apesar da Constituição Federal de 1988, especialmente com a expressa
Seguridade Social, que engloba as políticas de saúde, previdência e assistência so-
cial. Esse tripé como é conhecido, tem sido alvo da precarização, focalização que o
Estado tem tratado as políticas públicas e sociais.Assim, destaca-se que o capitalis-
mo e o neoliberalismo estão em processo de efervescência na contemporaneidade,
com as discussões da terceirização e da Reforma Previdenciária, o que impacta dire-
tamente nos processos de trabalho, inclusive dos assistentes sociais.

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