Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ESPECIAIS
(SERVIÇO SOCIAL)
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
<http://lattes.cnpq.br/0319529066801482>.
APRESENTAÇÃO
SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) aluno(a), esta é a disciplina de Tópicos Especiais, do curso de Ser-
viço Social. Esse material foi organizado e elaborado a fim de promover o
estudo sobre vários temas importantes de nossa sociedade.
A sociedade contemporânea vive uma mudança de estruturas institucio-
nais, morais e de ideias, cuja rapidez obriga-nos a pensar e repensar tal
sociedade, ainda mais por ela ser o corpus de pesquisa e trabalho para
esse material. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2001), trouxe em
seu livro “Modernidade líquida”, uma reflexão sobre a modernidade e a
falta de solidez em tudo, gerando ao homem temores que vão desde o
agravamento da violência, intolerância, solidão, falta de ética, exclusões
entre outros problemas sociais. Logo, o profissional do Serviço Social tem o
dever de refletir sobre esses temas, além de compreender seu papel nessa
nova e mutante sociedade.
Nós, sem exceção, vivemos dentro de uma caixinha. Dentro dela, as mais
variadas relações e fenômenos sociais acontecem. O fato é que o estudante
universitário, em especial o de Serviço Social, precisa sair dela, para assim
poder vê-la por fora e entender como ela é feita e organizada. Enquanto
estamos dentro dela, pouca coisa conseguimos fazer. Minha função, bem
como a do meu material, é pegá-lo pelas mãos e, juntos, sairmos desta
caixinha e observá-la profundamente.
Iamamoto (1999) nos lembra que o contexto da contemporaneidade é
um desafio a mais para os assistentes sociais, que devem se qualificar
para explicar tais mudanças, além de acompanhar, vivenciar e se atualizar
frente à nova realidade social. A prática de intervenção no atual momento
só é possível se o profissional do Serviço Social ter clareza sobre o mundo
em que vive.
Para tanto, este material foi desenvolvido para discutir variados temas so-
ciais, agregados em 5 eixos abordados nas unidades: Violência, Sexualidade,
Questões Raciais, Ética e Tecnologia e Política que são, sem dúvida, temas
recorrentes dentro e fora da academia. Ademais, o aluno de Serviço Social
precisa compreender tais temas dentro do contexto de atuação, tornando-se
assim um profissional mais bem preparado e, principalmente, mais humano.
Na Unidade 1 abordaremos os fenômenos da violência e seus mais variados
vieses. Na unidade 2, estudaremos sobre questões raciais e como o racismo
atinge nossa sociedade. Neste contexto, compreenderemos o porquê das
políticas públicas de cunho racial, e conheceremos algumas políticas para os
povos afro-brasileiros, indígenas e ciganos. Já na Unidade 3, o foco será em
compreender a temática da sexualidade dentro de nossa sociedade. Estudare-
mos conceitos sobre gênero e sexualidade, homofobia, adoção homoparental
e a dificuldade social das pessoas trans para o direito ao nome social.
APRESENTAÇÃO
UNIDADE I
AS VÁRIAS FACES DA
VIOLÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE
15 Introdução
24 Violência e Poder
26 Tipos de Violência
48 Intolerância Religiosa
57 Considerações Finais
65 Referências
68 Gabarito
UNIDADE II
71 Introdução
72 Raça e Racismo
123 Referências
126 Gabarito
UNIDADE III
129 Introdução
168 Referências
172 Gabarito
11
SUMÁRIO
UNIDADE IV
ÉTICA, TECNOLOGIA
E MEIO AMBIENTE
175 Introdução
194 Cyberbullying
207 Referências
209 Gabarito
UNIDADE V
213 Introdução
251 Referências
255 Gabarito
256 Conclusão
Professor Dr. Silvio Ruiz Paradiso
AS VÁRIAS FACES DA
I
UNIDADE
VIOLÊNCIA NA
CONTEMPORANEIDADE
Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender o contexto e conceito do termo Violência em nossa
sociedade.
■ Relacionar a violência com o conceito de poder hegemônico.
■ Diferenciar os tipos de violência, em especial o físico do simbólico.
■ Estudar e refletir sobre as variadas manifestações da violência na
sociedade, como contra a mulher, contra a criança e adolescente,
violência dentro da escola e no contexto religioso.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Violência: O que é
■ Violência e Poder
■ Tipos de Violência
■ Violência contra a Mulher
■ Violência contra Crianças e Adolescentes
■ Violência Escolar e Bullying
■ Intolerância Religiosa
15
INTRODUÇÃO
termo tem sua raiz etimológica no latim violentia, derivada do termo vis, que
significa força. Compreenderemos que a violência no campo social não deve ser
compreendida apenas pela ideia de força no sentido físico, mas sim, de maneira
simbólica, com a ideia de poder. Veremos que as relações de poder, desde o início
da civilização, criam e justificam mecanismos de violência, para separar grupos
e privilegiar uns contra outros.
Abordando sobre violência e poder, veremos que o machismo, o racismo, a
xenofobia e até mesmo o bullying são manifestações de violência que visam fomen-
tar a superioridade de determinados grupos sobre outros, como o homem sobre
a mulher, o branco sobre o negro, o povo europeu sobre os não europeus, etc.
Assim, entenderemos que a violência acaba sendo um processo não apenas
físico e resumido em chutes, tapas e lesões, mas também simbólico, como o iso-
lamento, a intolerância e a humilhação, que causam prejuízos à saúde moral e
psicológica das vítimas. Neste ponto, passaremos a conhecer os vários tipos de
violência, que vão desde a psicológica até a tortura e morte.
Em seguida, discutiremos sobre quatros específicas manifestações da vio-
lência na sociedade: a Violência contra a Mulher, e como o machismo e as ideias
preconceituosas em relação ao gênero contribuem para isso; Violência contra
Criança e Adolescente, que muitas vezes são, simultaneamente, agressores atra-
vés da delinquência e vítimas, no contexto da violência intrafamiliar; Violência
Escolar e Bullying , reconhecendo que a escola também é um campo de disse-
minação da violência, em seus vários sentidos, e a Intolerância Religiosa, uma
violência específica dentro do campo religioso que atinge principalmente ateus
e adeptos das religiões afro-brasileiras.
Introdução
16 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VIOLÊNCIA: O QUE É?
Violência: O Que É?
18 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
inclusive sendo escravizados.
No mundo romano, a mesma coisa acontecia, e a organização social por
grupos legitimava a violência social, ou seja, as leis eram instrumentos assegu-
radores dos privilégios de pequenos grupos, sob a maioria marginalizada - mas,
a relação disso com a violência veremos adiante. Com o passar dos tempos, essa
regulação social sobreviveu à queda dos impérios greco-romano, passando a
continuar no mundo feudal da Idade Média.
A relação de vassalagem era baseada em contratos de fidelidade, o que legi-
timava punições ao vassalo, caso ele não cumprisse alguma norma. Na Idade
Média, a violência era utilizada para diversos fins: pedagógico, punitivo e inti-
midativo. Muitas vezes, a violência se transformava em espetáculos públicos,
em que homens e mulheres eram enforcados, guilhotinados e torturados cruel-
mente. A Igreja e o Estado faziam o papel de juiz, mantendo engessado o sistema
vigente (MUCHEMBLED, 2012).
Se por um lado se dava a instrumentalização da Igreja, por outro ela se
tornava a força político-ideológica mais importante do império, depois do
Estado. Essa relação particular entre Igreja e Estado, caracterizada por um
regime de união e de religião de Estado, seria sua característica mais especí-
fica. Dessa forma,
“o Estado assegurava à Igreja a presença privilegiada na sociedade e, de-
pendendo das situações históricas, o monopólio sobre a produção dos
bens simbólicos, constituindo-a, além disso, em aparelho de hegemonia do
sistema. Já a Igreja assegurava ao Estado e aos grupos/classes dominantes
a legitimação de sua hegemonia e dominação” (BINGEMER,2001, p. 14).
Violência: O Que É?
20 UNIDADE I
1 4
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
5
Figura 1 - Cadeira usada para interrogatórios na Idade Média. Figura 2 - Instrumento de tortura medieval. Figura 3 -
Instrumento de execução por sufocamento. Figura 4 - Instrumento de tortura. Figura 5 - Jaula e a dama de ferro.
Figura 6 - Polé
Fonte: História de Alagoas (2015, on-line)2.
Violência: O Que É?
22 UNIDADE I
mais que isso. Ela está no campo do saber filosófico e social, quando a enten-
demos como uma ruptura nas normas morais de uma sociedade (FERREIRA,
1986). É nesse sentido, caro(a) aluno(a), que quero discutir o tema, pois o con-
ceito de violência muda de sociedade para sociedade, quando ele é observado
apenas no âmbito da “força”, por exemplo, ou os rituais iniciáticos/religiosos de
grupos étnicos ao redor do mundo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em Os Ritos de Passagem (2011), o antropólogo francês, Arnold Van Gennep,
cita casos em que rituais de transição podem ser extremamente violentos, a
partir do nosso olhar ocidental. Gennep (2011), cita os índios algonquianos,
que separam a criança em processo de emancipação, dá-lhe de beber e os
enjaula. Há também o rito dos vanuatu, do Oceano Pacífico, cujo garotos de
idade entre sete e oito anos, devem subir uma torre de 30 metros de altura
com cipós amarrados nos tornozelos e se jogar, em um mergulho; ou rito
dos rapazes da tribo Fulani, na África, cujo rito de passagem muito dolo-
roso para se tornar adultos: lutam a golpes de chicotadas. Tem-se ainda os
aborígenes australianos Mardudjara, que tiram o prepúcio dos jovens sem
anestesia, os índios Satere-Mawe, da amazônia, que nos ritos de passagem,
enchem uma luva com formiga-bala (cuja mordida é 20 vezes mais dolorida
que a picada da vespa), ou tribo Sambia/Matausa, da Papua Nova Guiné,
em que o jovem antes de se casar tem o nariz perfurado por uma haste que
entra pela boca, para sangrar, e assim expurgar a vida antiga.
Fonte: Gennep (2011).
Violência: O Que É?
24 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VIOLÊNCIA E PODER
Sobre a relação entre violência e poder, Souza (2010, p.17) elenca dois pensadores
para nos debruçarmos sobre o assunto: Hannah Arendt e Michel Foucault. Sobre
Arendt, filósofa política alemã de origem judaica, uma das mais influentes do século
XX, o autor cita que, para a filósofa “O que define e separa violência de poder é a
dimensão política, que é ausente em violência e presente no poder”. Lembrem-se
do que discutimos anteriormente: violência, por si só, nem pode ser considerada
como tal, dependendo do contexto, mas o poder, utilizado como violência, é arqui-
tetado para não só ferir, como também manter um status quo, de desigualdade e
diferença - por isso tem raízes políticas/ideológicas. Souza (2010, p.17) continua:
poder é uma ação humana orquestrada, baseada no princípio de repre-
sentação e delegação políticas e se consubstancia no poder político do
Estado soberano. O poder não pode ser confundido com a potência. A
potência é, digamos, a força de um homem e de uma coletividade [...] é
uma energia que pode ser utilizada [...].
Nesse sentido, Arendt está nos dizendo que, de tanto usar a “força” ou a “potên-
cia”, geramos poder. Um marido, por exemplo, pode bater na esposa motivado
pelo discurso social de superioridade masculina e, em um determinado momento,
não precisará mais usar da “força”, e sim do poder sobre a mulher. Contudo, tanto
o ato físico do uso da “potência” física (a agressão em si) quanto depois, usando
apenas do “poder” (naturalização da superioridade dele em relação a ela), são
atos de extrema violência.
bém é ameaça à autoridade e ao poder, quando usada pelos oprimidos. Por essa
razão a violência é, ao mesmo tempo, um instrumento do poder hegemônico,
assim como um instrumento de rebelião das margens (FANON, 2010). Já em
relação às contribuições de Foucault, um respeitado filósofo francês, historiador
das ideias, teórico social e crítico literário, o autor Souza (2010), apresenta a rela-
ção entre poder e violência na ótica deste pensador: Para ele, as relações sociais
são caracterizadas como relações de poder, pois toda relação social é permeada
por estratégias de dominação e de controle, por tentativas de interferir sobre a
ação de outras pessoas, ou mesmo sobre seus pensamentos. O poder não per-
tence à política, no sentido da política estatal.
O poder pertence ao mundo cotidiano, às relações entre os indivíduos. Há
relações de poder entre um pai e um filho, professor e aluno, entre um homem
e uma mulher. As relações de poder são, de certa forma, esquecidas pela nossa
sociedade, visto que nós tendemos a acreditar nas ideias e nos saberes produzi-
dos a partir dessas relações.
Assim, não vemos poder na relação entre pai e filho, por exemplo, porque
acreditamos que a relação é dada pela Natureza ou pela vontade de Deus. Desse
modo, essa relação é mistificada e considerada sagrada. Além disso, não vemos
relações de poder entre homem e mulher porque acreditamos que as diferenças
sexuais são naturais, e que o homem foi provido de um maior quantum de força
comparado à mulher, o que dá a ele certas vantagens e direitos (SOUZA, 2010).
Está claro que falar de violência é falar do que a motiva, em especial, as rela-
ções de poder. Essa violência, gerada pelo poder, se manifesta na sociedade de
várias formas, e é basicamente dividida em física e simbólica.
Violência e Poder
26 UNIDADE I
TIPOS DE VIOLÊNCIA
Dentre a violência física e simbólica, esta segunda é muito mais complexa e está
enraizada nas relações de poder. Essa violência é exercida sem a coação física, mas
seu resultado causa danos sérios do ponto de vista psicológico e moral. Ela é invisível
pois é quase inconsciente, e tem seu fundamento na contínua fabricação de crenças
e ideias sociais, que induzem as pessoas a se posicionar seguindo critérios do dis-
curso de grupos dominantes. Bordieu (1996, p. 16), revela que “a violência simbólica
é uma violência que se exerce com a cumplicidade tácita daqueles que a sofrem e
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
também, frequentemente, daqueles que a exercem na medida em que uns e outros
são inconsciente de a exercer ou a sofrer”. Está aí a outra ideia de força, baseada no
discurso dominante, seja do homem, da pessoa branca, da elite intelectual e finan-
ceira, da Igreja, etc. O sociólogo francês se utiliza do termo grego doxa (opinião),
para designar que esse discurso dominante é visto e encarado como uma prática
social tradicional e natural, perpetuando a violência em todos os seus sentidos.
A violência, invisível ou simbólica, anda de mãos dadas com a violência
física. Uma acaba sendo fruto da outra. A dominação masculina, por exemplo,
que dentro de nossa sociedade patriarcal sempre foi vista como algo natural,
visto que, para os detentores do discurso dominante (curiosamente, homens), as
mulheres são “naturalmente” fracas, devendo, portanto, se submeter ao homem.
A sociedade acaba recebendo tal ideia como verdade absoluta, naturalizan-
do-a, e quando alguma mulher tenta fugir ou reagir a esse pensamento, o homem
a agride fisicamente, usando como justificativa o seu pertencimento ao grupo
dominador. Isso se reproduz em outras instâncias, como brancos agredindo
negros, por se considerarem etnicamente superiores (vide movimentos como a
Ku Klux Klan), grupos de pessoas heterossexuais perseguindo homossexuais e
agredindo-os, acreditando numa pseudo superioridade da heteronormatividade
- neonazistas - por exemplo. Exemplos assim também acontecem no campo reli-
gioso, intelectual, econômico, entre outros.
A violência tem inúmeras manifestações na sociedade, e acontece quando
uma pessoa ou um grupo usa da força, física ou não (no caso, o poder), a fim
de agredir, ameaçar ou submeter outras pessoas a danos psicológicos, emocio-
nais, físicos e até mortais.
Tipos de Violência
28 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
contra a mulher. Entender uma sociedade dominada por valores masculinos é
entender o gosto dessa mesma sociedade pela violência.
contação destas histórias, o doxa vai se “naturalizando”. Sobre isso, Leite e Maio
(2013, p. 7) discutem a respeito desses padrões de gênero:
[...] Culturalmente houve a construção de padrões de comportamento
de meninas e meninos, esses papéis específicos em função de cada gê-
nero, consequentemente, são reproduzidos nas brincadeiras, pois, mui-
tos são os discursos que permeiam no âmbito escolar, revelando que
as meninas devem brincar de bonecas, casinha, utensílios domésticos
e outros brinquedos em espaços mais fechados e tranquilos. Em con-
troversa, os meninos devem brincar de carrinho, bola, armas e outros
elementos lúdicos, em espaços mais livres.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
©shutterstock
cado. É dessa masculinidade, que tem
a violência como marca, que estamos
abordando.
O próprio termo força, visto no
início de nosso livro, propõe essa rela-
ção. A violência é o uso da força, e
o homem, por sua vez, é o produtor
dessa força, através de sua virilidade,
por meio de competições ou por
simples exibicionismo. E como cons-
trução social, “é esse homem, imbuído
de disposições de converter facilmente
sua agressividade em agressão, que faz
jus a ideia de que não se nasce homem;
torna-se. O processo de sua forma-
ção é atravessado pela incorporação
da violência” (SILVA, 2014, p. 2805).
A violência pode ser uma forma
de proteção contra a ameaça do
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dramáticas, em quase todas as sociedades humanas, torna a aquisição da mas-
culinidade um processo violento.
O psicoterapeuta carioca Sócrates Nolasco, no livro ‘’De Tarzan a Homer
Simpson – banalização e violência masculina em sociedades contemporâneas
ocidentais’’ (2001), afirma que a violência pode não ter classe social ou etnia,
mas tem gênero: é masculina! Afinal, Nolasco (2001) faz um apanhado quanti-
tativo sobre o tema, por meio do IBGE, ISER (Instituto de Estudos da Religião)
e da própria ONU, percebendo que, apesar da ideia de masculinidade ter se plu-
ralizado, as maiores vítimas de acidente de trânsito, morte por bebidas e drogas,
armas de fogo, suicídio, e 90% do contingente carcerário, são homens. O autor
acaba constatando uma cruel realidade, que a violência está associada à mascu-
linidade e virilidade.
Cacheto (2004) chega praticamente a mesma conclusão, quando estuda “os
estilos de masculinidade e suas variadas associações com a violência a partir de
estudo com jovens do Rio de Janeiro envolvidos com galeras funk, lutadores de
jiu-jitsu e freqüentadores de baile charme” (SOUZA, 2005, p. 61).
Cecchetto (2004 apud SOUZA, 2005) conclui, porém, que não é possível
generalizar, com base no sexo, a presença ou não do etos guerreiro, bem como
da adesão dos valores e, principalmente, às práticas da violência. Contudo, é
inegável que, nos indicadores do país, com extensão para os dados em nível
mundial, é óbvio o crescente envolvimento de rapazes, cada vez mais jovens, em
situações de violência (OMS, 2002; BARROS et al., 2001), ou seja, no sentido
quantitativo, as pesquisas ainda colocam o homem como o gênero dominante
no quesito violência.
©shutterstock
O índice de violência contra a mulher é ainda
mais marcante quando nos referimos às mulhe-
res negras, duplamente objetificadas em uma
sociedade machista e racista. Em uma década,
o homicídio de mulheres negras aumentou em
54% (MAPA DA VIOLÊNCIA, 2015). O fato é
de extrema importância para o Serviço Social,
visto que clama um olhar mais atento às polí-
ticas públicas em relação à mulher e ao negro.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Onde esse tipo de violência mais acon-
tece? Dentro da própria casa. O parceiro é o
responsável por mais de 80% dos casos repor-
tados de violência de gênero (FPA/SESC, 2010,
on-line)5. Uma pesquisa, com apoio da SPM-PR
(Secretaria Especial de Proteção a Mulher) e
Campanha Compromisso e Atitude pela Lei Figura 7 - A mulher negra sofre no Brasil
duas violências concomitantes: a de gênero e a
Maria da Penha, revelou que, para 70% da popu- institucional.
lação, a mulher sofre mais violência dentro de casa do que fora dela. Dentre
esses 70%, metade acreditam que as mulheres se sentem inseguras dentro da
própria casa.
ECONOMICAMENTE
DO CASAMENTO E
ACONTECER COM
QUE NADA IRIA
PRESERVAÇÃO
AUTO-ESTIMA,
VIOLÊNCIA EM
AUMENTO DA
O AGRESSOR
ACREDITAVA
DO MARIDO
VERGONHA,
DA FAMÍLIA
DEPENDE
OUTROS
MEDO
CASA
BOPE/
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Instituto Patrícia 28% 24% 18% 18% *
Galvão 2006
IBOPE/AVON
24% 29% 24% 26%
2009
Intituto AVON
17% 25% 27% 27%
2011
DataSenado 2011 23% 23% 23% 18% 18%
Tabela 1 - Motivos da não denúncia de violência doméstica.
Fonte: o autor
Concomitante com a Lei Maria da Penha, o uso de telefones como o ligue 180,
do Centro de Atendimento à Mulher, criado pela Secretaria de Políticas para as
Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), em 2005, auxilia a coibir e
denunciar a violência de gênero. O serviço realizou 749.024 atendimentos em
2015, variados em prestação de informações (41%), encaminhamento a serviços
especializados (9,6%), e encaminhamento a outros serviços como 190 da Polícia
Militar, 197 da Polícia Civil e Disque 100.
Todas essas discussões apontam para a seguinte reflexão dada por Lisboa e
Pinheiro (2005, p. 204):
A temática da violência de gênero, com seus diferentes desdobramen-
tos – violência doméstica, violência contra a mulher, violência intra-
familiar e outras – tem sido definida como uma relação de poder e de
permanente conflito, principalmente no lócus familiar, demandando
atendimento, encaminhamentos, orientação, informação, recursos e
capacitação por parte de assistentes sociais. A violência contra a mu-
lher tornou-se objeto de intervenção profissional do assistente social
como um desafio posto no cotidiano sobre o qual ele deverá formular
um conjunto de reflexão e de proposições para intervenção.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■ Gerar políticas inclusivas de inserção da mulher no mercado de trabalho.
■ Projetos de economia solidária e cooperativas de mulher.
■ Ações dentro de hospitais públicos podem ser desenvolvidas, gerando
estratégias que ressaltam a noção de violência contra mulher, um pro-
blema de saúde pública também.
■ Promover ações e atividades em escolas, envolvendo Professores, alunos,
pais e funcionários, como palestras e debates, pontuando sobre a violên-
cia e questões de gênero. Paralelamente, temas como violência e educação
sexual devem ser promovidos. Tal atividade pode ser realizada também
em rádios, jornais e TVs comunitárias.
■ Reuniões periódicas em ONGs, Igrejas e Associações de bairro devem
ser promovidas pelo profissional de Serviço Social, expondo todo o pro-
cesso de conscientização, e até mesmo recebendo denúncias de violência
doméstica, por exemplo.
■ Quase 188 mil crianças apresentam peso baixo, e 69 mil apresentam peso
muito baixo para sua idade, segundo dados do Ministério da Saúde.
Todo esse contexto negativo acaba impondo, aos jovens e crianças, tanto a vio-
lência simbólica quanto física. Dados do IBGE (2012) apontam que mais de 3,3
milhões de crianças e adolescentes (entre 5 e 17 anos) estão em situação de tra-
balho infantil, e 19% dos homicídios no Brasil são praticados contra crianças e
adolescentes, sendo 80% deles com armas de fogo. Esse último dado nos mos-
tra que a tríade - violência, juventude e armas de fogo - é uma constante desde a
década de 90, cujos números só crescem, principalmente na periferia.
Arma de fogo, negligência e abandono, tráfico de pessoas e trabalho infan-
til são termos usualmente comuns na realidade de jovens e crianças no Brasil.
Os tipos de violência mais comuns na realidade juvenil brasileira, quase que
exclusivo dessa faixa etária, são a Negligência e Abandono, Trabalho Infantil
e o Tráfico de Pessoas. Ademais, violência estrutural, delinquência e violência
intrafamiliar são conceitos importantes na realidade de crianças e jovens de até
17 anos no Brasil (MINAYO, 2001).
Minayo (2001) compreende que, no transcorrer da civilização, as variadas
violências contra criança e adolescente eram vinculadas ao processo educativo e
como instrumento de socialização. Ou seja, a prática violenta contra criança tinha,
por meio da arbitrariedade dos pais, relação direta com a rebeldia e desobedi-
ência, ou seja, punição. Tal fato se naturalizou, infelizmente, e a violência contra
crianças e jovens passou também a ser “justificada” como “corretivo pedagógico”.
Esta naturalização mergulhou uma população de aproximadamente 60 milhões
Violência estrutural
De acordo com Minado (2001, p. 11), entende-se por violência estrutural, “aquela
que incide sobre a condição de vida das crianças e adolescentes, a partir de deci-
sões histórico-econômicas e sociais, tornando vulnerável o seu crescimento e
desenvolvimento”. Ou seja, a pobreza, o analfabetismo e o trabalho infantil, por
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
exemplo, são manifestações deste tipo de violência, que parecem “naturaliza-
das” em nossa sociedade.
Criança pedinte
renda mensal de até ½ salário mínimo per capita. A falta de condições finan-
ceiras acabam levando a outras situações de violência estrutural, como o não
acesso à educação.
O IBGE (1997, p.47) considera que “[...] a desigualdade no acesso à escola
são marcadas pela condição econômica das famílias [...] confirmando a teoria de
que a renda familiar é um determinante da frequência escolar”. Com isso, além
da pobreza, o analfabetismo é outra face da violência estrutural.
Apesar do número de analfabetismo no Brasil ter caído nos últimos anos,
ele ainda é realidade para muitos jovens. O percentual de crianças e adolescen-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tes analfabetos, entre dez e 14 anos, era de 3,1% em 2007, e passou para 2,8%
em 2008. Os números nos ajudam a entender que políticas públicas e a partici-
pação conjunta de profissionais como educadores e Assistentes sociais podem
fazer mudanças, além de minimizar os estragos da violência estrutural contra
jovens. Graças a programas como o PBA (Programa Brasil Alfabetizado), o aten-
dimento escolar a crianças de quatro e cinco anos de idade subiu de 70,1%, em
2007, para 72,8%, em 2008. Isso significa um incremento de 2,7 pontos percentu-
ais em um período de 12 meses. No ensino fundamental, a taxa de atendimento
à faixa de sete a 14 anos passou de 97,6% para 97,9%.
A evasão escolar acaba fomentando o trabalho infantil, uma outra face da
violência estrutural. Define-se trabalho infantil como todo trabalho realizado
por pessoas que não tenham a idade mínima permitida para trabalhar. Aqui no
Brasil, o trabalho não é permitido sob qualquer condição para crianças e adoles-
centes até 14 anos. Adolescentes entre 14 e 16 podem trabalhar, mas na condição
de aprendizes. Dos 16 aos 18 anos, as atividades laborais são permitidas, desde
que não aconteçam das 22h às 5h e não sejam insalubres ou perigosas (UNICEF,
2016). A questão do trabalho infantil no Brasil é observado diretamente por ONGs
de defesa da criança e pela UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância),
que junto com o governo estão elaborando políticas compensatórias que incen-
tivam as famílias a manter suas crianças na escola. O papel do assistente social
nesse processo é essencial, ainda mais no atual contexto, em que o número do
trabalho infantil aumentou 4,5% em 2014, em relação ao ano anterior. São 3,3
milhões de crianças e adolescentes de cinco a 17 anos trabalhando no Brasil.
Dessa turma toda, meio milhão tem menos de 13 anos (IBGE, 2010). Apesar da
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Delinquências
Violência intrafamiliar
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Violência estrutural -> violência intrafamiliar - > delinquência - >
maior parcela da sociedade, reivindicar a sua própria cultura, seu próprio conceito
de cientificidade, arte e literatura, revertendo a imposição cultural e, consequen-
temente, a violência simbólica que sofrera durante séculos.
Mas, além da violência desse “currículo escolar”, a escola é um ambiente, infeliz-
mente, de extrema violência. Abramovay (2008, p. 2) revela isso quando apresenta que:
encontramos é uma escola que exclui os seus alunos, não respeita as
diferenças, é elitista, baseada em um modelo de escola que durante
muitos anos atendeu a elite brasileira. Além de ser excludente ela, mui-
tas vezes, não respeita a criança e o jovem, expulsando-os direta ou
indiretamente do seu espaço.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Mas a escola não é apenas violenta pelos seu sistema de vigilância, por sua arquite-
tura parecer uma prisão, pelo currículo que venera a história do europeu e exclui
a do africano, ou por não incentivar a educação sexual, fomentando a misogi-
nia, homofobia e sexismo na sociedade ou por ela não promover a laicidade. A
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
escola é violenta nos cochichos diários, nas conversas de canto, no burburinho
da sala dos professores ou nos comentários maldosos de funcionários e edu-
cadores. A escola é violenta pois ela produz e reproduz o bullying – a violência
típica do universo escolar.
BULLYING E CYBERBULLYING
Os autores Antunes e Zuin (2008) entendem, igualmente, que o bullying está dire-
tamente relacionado ao preconceito, por compreenderem que retrata os fatores
sociais e seus possíveis agressores. Logo, no ambiente escolar e às vezes fora dele,
o bullying estará intimamente ligado à violência institucional.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
seja excluída do grupo, expondo informações ofensivas/rudes sobre a vítima
(FANTE, 2005, p. 50).
Essa questão do bullying ser um fenômeno recorrente de colégios e escolas
é muito importante para o assistente social, visto que grande parte da ausência
de alunos na escola, ou seja, a evasão escolar, é motivada pelo bullying.
O bullying interfere no processo de aprendizagem e no desenvolvimen-
to cognitivo, sensorial e emocional. Favorece um clima escolar de medo
e insegurança, tanto para aqueles que são alvos como para os que as-
sistem calados às mais variadas formas de ataques. O baixo nível de
aproveitamento, a dificuldade de integração social, o desenvolvimento
ou agravamento das síndromes de aprendizagem, os altos índices de
reprovação e evasão escolar têm o bullying como uma de suas causas
(FANTE, 2008, p. 10).
É uma pessoa que não aprendeu a transformar sua raiva em diálogo, e o sofri-
mento do outro não é motivo para ele deixar de agir. Pelo contrário, o agressor
se sente satisfeito com a reação do agredido, supondo ou antecipando quão dolo-
rosa será aquela crueldade vivida pela vítima.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Shariff (2011, p. 54) traz que “os efeitos do bullying podem ser profundos e para
a vida toda”, podem iniciar na fase escolar quando a vítima se encontra na ado-
lescência, acarretando no desgaste em todas as fases posteriores. Por fim, a autora
considera que o bullying e o ciberbullying precisam ser trabalhados pela família
e escola, uma vez que são problemas que sucedem na vida escolar e pessoal dos
alunos. No entanto, quando se trata da violência com crianças e adolescentes, a
escola se torna um local pouco pesquisado.
O fato dos estudantes estarem em conduta agressiva constante, segundo
Neto (2005), compreende que o comportamento violento, que causa tanta pre-
ocupação e temor, resulta da interação entre o desenvolvimento individual e os
contextos sociais como a família, a escola e a comunidade, contextos estes que
devem sempre ter a participação de um assistente social.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
Intolerância Religiosa
50 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os números sobre a intolerância contra religiões afro-brasileiras no Brasil são
alarmantes, e fundamentam-se na porcentagem de denúncias ao disque 100, tele-
fone da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR).
“Fiéis de religião de matriz africana (candomblé e Umbanda) são os alvos mais
comuns dos relatos de intolerância recebidos pelo serviço, um terço dos episó-
dios em que há esse detalhamento” (SANT’ANNA, 2015, on-line)7.
Os casos registrados de intolerância religiosa contra as crenças de matriz
africana somam 71% do total, segundo o Centro de Promoção da Liberdade
Religiosa & Direitos Humanos (Ceplir), do Estado do Rio de Janeiro. Entre dois
anos foram 948 queixas de adeptos do Candomblé, Umbanda e demais religi-
ões afro-brasileiras (BBC BRASIL, 2016, on-line)8.
Pesquisadores da PUC-Rio desenvolveram um projeto chamado “Presença do
axé - Mapeando terreiros no Rio de Janeiro”. O grupo contabilizou as agressões
aos membros dos cultos afro-brasileiros, e das 840 casas listadas no mapeamento,
430 foram alvo de discriminação, sendo que mais da metade (57%) dos casos
ocorreram em local público, sendo a rua (67%) o principal local.
No Rio de Janeiro, por exemplo, até mesmo nas comunidades de morros,
em que as religiões afro-brasileiras tinham espaço conquistado, vê-se uma per-
seguição aos cultos negros. Com a manchete “Crime e preconceito: mães e filhos
de santo são expulsos de favela por traficantes evangélicos” (SOARES, 2013,
on-line)9, o jornal EXTRA/O Globo denunciava a prática no Morro do Amor, no
complexo de Lins, onde o simples fato de roupas brancas nos varais era denun-
ciado aos traficantes frequentadores de igrejas evangélicas, que não admitiam
tais cultos nos morros.
Intolerância Religiosa
52 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
com o candomblé e a Umbanda. Desde a publicação de ‘’Orixás Caboclos e Guias,
Deuses ou Demônios?’’ (1997), o conflito entre a IURD e as religiões afro-bra-
sileiras só se intensificou.
Em 2004, a IURD foi condenada a pagar mais de um milhão de reais à
família da mãe de santo Gildásia dos Santos, que morreu em 2000, depois de
profunda depressão por ter fotos suas vinculadas à reportagem da folha univer-
sal, intitulada “Macumbeiros e charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”
(FRANCISCO, 2004).
Infelizmente, a perseguição, o preconceito, a hostilidade e a violência contra
as religiões de matriz africanas são disseminadas através de outras crenças, prin-
cipalmente as que dominam a mídia com seus horários na TV, jornais, revistas e
programas de rádio. Com isso, a violência religiosa no Brasil contra o Candomblé
e a Umbanda tornou-se um guerrilha “santa” urbana (JESUS, 2003, p. 188), em
que a violência até então simbólica passa a ser física.
A intolerância não respeita ninguém – nem crianças, nem idosos. Lembre-se
do caso de Kailane Campos de 11 anos, que em 2015, junto da avó que é mãe
de santo, foi agredida e insultada por dois homens ao sair de um candom-
blé. Os homens levantaram a Bíblia e começaram a proferir termos como:
‘’diabo’’, ‘‘vai para o inferno’’, ‘‘Jesus está voltando’’ e, por fim, um deles jogou
uma pedra na cabeça da garota. Enquanto isso, em Camaçari, na Bahia, uma
mãe de santo de 90 anos de idade, conhecida como Mãe Dede de Iansã enfar-
tou, após seguidores de uma igreja terem passado uma madrugada inteira em
vigília proferindo ofensas em direção à casa de santo (VI O MUNDO, 2015,
on-line)11.
Intolerância Religiosa
54 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tes e massivos da sociedade brasileira. A revista apresentou uma pesquisa realizada
pela CNT/ Sensus, revelando que o brasileiro não votaria em um presidente ateu.
rando que pessoas que não creem em Deus são responsáveis pela degeneração
da sociedade (CARTA CAPITAL, 2015, on-line)14. Em 2013, o MPF entrou com
uma ação contra Datena e a Band, que perderam e tiveram que fazer uma retra-
tação pública.
A situação de intolerância religiosa no Brasil cresceu tanto que, em 27
de dezembro de 2007, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei
11.635, que cria o “Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa”, no dia
21 de janeiro.
E qual é o papel do assistente social em relação a isso? No caso de discri-
minação religiosa, a vítima deve ser conduzida a uma Delegacia de Polícia e
registrar ocorrência. Também é necessário ligar para o Disque 100, Central de
Denúncias da Secretaria de Direitos Humanos. Tanto a partir do telefonema
quanto da ocorrência, o delegado deve instaurar inquérito e, a partir do judici-
ário, iniciar o processo penal.
No caso da vítima sofrer violência física, deve ser conduzida para o exame
de corpo de delito. Se a violência acontecer dentro do templo religioso ou na
própria residência da vítima, deve-se manter o local para as devidas investiga-
ções de autoridades competentes. Se a violência religiosa tiver natureza racial,
principalmente contra adeptos de religiões de matriz africana, deve-se ir a uma
Delegacia especializada, caso haja em sua região. Em São Paulo, por exemplo,
existe a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, especializada em
crimes religiosos e de cunho étnico-racial.
O Código de Ética do Assistente Social, no TÍTULO III DAS RELAÇÕES
PROFISSIONAIS revela:
Intolerância Religiosa
56 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
religião, precisa ter ciência que ela não deve influenciar negativamente o pro-
cesso laboral.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A violência foi tema desta unidade. Nela, aprendemos que, de forma genérica,
violência seria um comportamento que intimidaria moralmente um outro ser
de forma intencional, invadindo a integridade física e psicológica de outrem. Ela
sempre esteve em contextos de divisões de classe, “justificando” violências sociais.
Vimos que a violência em relações de poder é muitas vezes invisível na socie-
dade, mas constantemente manipulada por forças hegemônicas, a fim de manter
o status quo. Estudamos, desse modo, que as relações de dominação do homem
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Considerações Finais
58
3. Sobre a Lei Maria da Penha, cujo nome é homenagem a cearense, Maria da Pe-
nha Maia Fernandes, que lutou para que seu agressor viesse a ser condenado.
Leia as opções, assinalando-as como Verdadeiro (V) ou Falso (F).
( ) Lei Maria da Penha é a lei nominada como 11.340/2006.
( ) A Lei Maria da Penha vale apenas para mulheres biologicamente nascidas
como mulheres.
( ) A Lei Maria da Penha é uma lei específica para violência contra as mulheres.
59
Violência
Slavoj Žižek
Editora: Boitempo (2014)
Sinopse: num cenário de manifestações de rua cada vez mais sangrentas, chega às livrarias
brasileiras o aguardado Violência, de Slavoj Žižek. Nesse brilhante ensaio de crítica da ideologia,
as sociedades em que vivemos são viradas de cabeça para baixo, em uma análise que articula
conhecimentos dos múltiplos campos da história, da psicanálise, da filosofia, da sociologia e das
artes, dissecando a violência inerente à globalização, ao capitalismo, ao fundamentalismo e à
própria linguagem. A premissa ousada do esloveno é de que a violência que enxergamos – a que
surge imediatamente como agente identificável – é ela própria produto de uma violência oculta,
profundamente arraigada nas bases de nosso sistema político e econômico. Em seis breves e
provocativos artigos, Žižek lança novas bases para a reflexão acerca do fenômeno moderno da
violência e se afirma como um dos mais eruditos, incendiários (e baderneiros) pensadores radicais
de nosso tempo.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Nesta dissertação de Paula Trottman, intitu- período de transição que, por preceder a
lada “O Trabalho Infantil, a Assistência Social vida adulta, implica que os indivíduos se
e o Programa de Erradicação do Trabalho preparam para uma nova fase através de
Infantil”, a autora discute sobre o trabalho reconstruções feitas sobre seu passado
infantil, desde causas, consequências, ocor- e elaboração de projetos para o futuro.
rência e incidência espacial e geográfica, Assim, pode-se afirmar que as etapas de
bem como sua classificação. Elaborou-se amadurecimento que compõem a vida
um histórico da assistência social no Bra- são consideradas instituições sociais com
sil, delimitando fatos e eventos históricos. desenvolvimento linear seqüenciado, nas
Nele, efetuou-se uma discussão acerca da quais há a busca do indivíduo por maior
avaliação de programas sociais, com base competência e maturidade. [....]
em uma metodologia proposta no traba-
lho, foi feita uma análise do Programa de Ao mesmo tempo em que os jovens são
Erradicação do Trabalho Infantil do governo concebidos como os agentes responsáveis
federal brasileiro. pela mudança, são vistos também como
causadores de problemas sociais, como
O texto é dividido em sete partes: O traba- violência, enorme capacidade de repro-
lho infantil no mundo; O trabalho infantil dutiva, ameaça de explosão demográfica,
no Brasil; Classificações do trabalho infantil; instabilidade no mercado de trabalho,
Causas e consequências do trabalho infan- entre outros. Sob tal ótica, não são vistos
til; Assistência social no Brasil; Avaliação de pela sociedade, e, em geral, pelo poder
programas sociais; Programa de Erradica- público, como sujeitos portadores de
ção do Trabalho Infantil – PETI, além dos direitos, assim, não se apresentam como
resultados. público-alvo de programas sociais estri-
tamente desenhados em seu benefício. É
A seguir um trecho da Introdução: importante compreender que as dificul-
dades criadas para tal grupo etário são,
“[....] As crianças foram consideradas, muitas vezes, originadas pela própria socie-
durante muito tempo, propriedade dos dade, no interior da comunidade em que
pais. Em 1893, a Convenção Francesa pro- estão inseridos. Os autores observam, tam-
cura defender os interesses das crianças, bém, que nas classes sociais mais carentes,
tornando os pais responsáveis por seus a população jovem tende a ser inserida no
cuidados. A Declaração Internacional mercado de trabalho precocemente, sen-
dos Direitos da Criança (1959) reafirma e do-lhes impostas atividades que não está
define as responsabilidades dos adultos apta a realizar, como ocorre no caso das
em relação às crianças. Durante o século crianças. Esse evento, além de antecipar
XX, observam-se que as preocupações dire- características da vida adulta, como a res-
cionadas às crianças e aos cuidados a elas ponsabilidade, o auxílio na renda familiar e
dirigidos tornam-se regras, normas sociais a constituição de família, gera característi-
amparadas por instrumentos de controle cas negativas ao desenvolvimento social e
em relação ao seu cumprimento. Tam- profissional dos jovens no futuro, que, por
bém no mesmo período, a adolescência trabalharem, têm redução ou privação de
ganha destaque, conceituada como um horas de estudo.
64
Referências On-Line
1
Em: <https://dicionariodoaurelio.com/violencia>. Acesso em: 26 abr. 2017.
2
Em: <http://www.historiadealagoas.com.br/inquisicao-matou-um-alagoano.
html>. Acesso em: 17 abr. 2017.
3
Em: <http://www.reporterunesp.jor.br/sequelas-da-violencia/>. Acesso em: 26 abr. 2017.
4
Em: <www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2016/08/ligue-180-registra-mais-de-
-555-mil-atendimentos-este-ano> . Acesso em: 26 abr. 2017.
5
Em:<http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/pesquisas/pesquisa-mu-
lheres-brasileiras-nos-espacos-publico-e-privado-fundacao-perseu-abramo-
sesc-2010/>. Acesso em: 26 abr. 2017.
6
Em:<http://www.conjur.com.br/2012-abr-26/anos-numero-processos-lei-maria-
-penha-beira-700-mil>. Acesso em: 26 abr. 2017.
7
Em:<http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/06/1648607-a-cada-3-dias-
-governo-recebe-uma-denuncia-de-intolerancia-religiosa.shtml>. Acesso em: 26
abr. 2017.
8
Em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160120_intolerancia_re-
ligioes_africanas_jp_rm>. Acesso em: 26 abr. 2017.
9
Em: <http://extra.globo.com/casos-de-policia/crime-preconceito-maes-filhos-
-de-santo-sao-expulsos-de-favelas-por-traficantes-evangelicos-9868829.html>.
Acesso em: 26 abr. 2017.
10
Em:<http://extra.globo.com/casos-de-policia/sargento-que-pastor-evangeli-
co-apontou-arma-para-cabeca-de-soldado-praticante-do-candomble-3467767.
html#ixzz3urOPCoG5>. Acesso em 18 abr. 2017.
11
Em:<http://www.viomundo.com.br/denuncias/menina-iniciada-no-candomble-
-e-apedrejada-nao-saio-mais-de-branco-tenho-medo-de-morrer.html>. Acesso
em: 26 abr. 2017.
12
Em:<http://oespiritualismoocidental.blogspot.com.br/2015/06/bob-fernandes-
-sobre-hipocrisia.html>. Acesso em: 18 abr. 2017.
13
Em:<http://docslide.com.br/documents/veja-a-fe-no-terceiro-mile-
nio-26-12-2007.html>. Acesso em: 18 abr. 2017.
14
Em: <http://www.cartacapital.com.br/blogs/midiatico/apos-ofensa-a-ateus-band-
-tera-de-exibir-campanha-liberdade-religiosa-9813.html>. Acesso em 26 abr. 2017.
15
Em: <http://www.each.usp.br/flamori/images/TCC_Paula_2008.pdf>. Acesso em:
18 abr. 2017.
GABARITO
1. B
2. E
3. C
4. A
5. Resposta Pessoal. Pense que a aceitação da cultura europeia (história, arte, lite-
ratura e religião) é diferente da aceitação da cultura africana. Reflita em sua res-
posta sobre a possibilidade do racismo e da hierarquização das “raças” ter contri-
buído para isso.
Professor Dr. Silvio Ruiz Paradiso
II
SOCIEDADE E RELAÇÕES ÉTNICO-
UNIDADE
RACIAIS: NEGROS, INDÍGENAS,
CIGANOS, IMIGRANTES E
POLÍTICAS PÚBLICAS
Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender o que é racismo.
■ Diferenciar os termos raça e etnia, no âmbito das discussões
étnico-raciais.
■ Relacionar o racismo e a necessidade das ações afirmativas.
■ Conhecer algumas políticas públicas para afrodescendentes, como a
cota e a lei de número 10639/11645.
■ Entender algumas políticas públicas para povos indígenas.
■ Ampliar o conhecimento sobre algumas políticas públicas para os
povos ciganos.
■ Assimilar a questão da imigração no Brasil.
■ Refletir sobre as relações sociais entre imigrantes e a sociedade
brasileira.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Raça e Racismo
■ Racismo e ações afirmativas
■ Políticas Públicas para afrodescendentes
■ LEI 10639 / 11645 - Obrigatoriedade do Ensino de Cultura e História
afrobrasileira e indígena
■ Políticas públicas para indígenas e outros grupos
■ A Questão dos imigrantes
71
INTRODUÇÃO
nas às questões biológicas, como a cor da pele, e o segundo, mais amplo, está
ligado também à uma identidade sociocultural. Compreender os termos nos
leva a entender o Racismo e, sobre esse assunto, refletiremos sobre o conceito da
palavra e sua manifestação ao longo da história, problematizando pseudoteorias
raciais, que visavam justificar a opressão de grupos étnicos só pela cor da pele.
Veremos que essa justificativa do racismo trouxe para a população negra e
indígena brasileira uma grande defasagem de direitos, que se perpetuou no doxa
(Você se lembra desse termo? Doxa é o sistema ou conjunto de juízos que uma
sociedade elabora em um determinado momento histórico, naturalizando uma
ideia, que nem sempre é verdadeira.) racial, criando um abismo econômico,
educacional, jurídico, cultural e social entre brancos e outros povos. Em seguida,
iremos constatar que o racismo e suas consequências fomentaram discussões,
além da necessidade de implementação de política para equidade étnico-racial,
as ações afirmativas.
Assim, na segunda parte da unidade, conheceremos as principais Políticas
Públicas para afrodescendentes, em especial o sistema de cotas para ingresso às
universidades, e também a Lei 11.645 (10.639), que obriga o ensino de História
e Cultura afro-brasileira e indígena nas escolas. Continuando, iremos conhecer
algumas políticas públicas para indígenas e para os povos ciganos.
Na última parte, nosso foco será acerca da questão dos imigrantes. Iremos
abordar os motivos, as necessidade e a realidade desses indivíduos que lutam
para se adaptar em nossa sociedade, garantindo direitos mínimos, ainda que
envoltos ao preconceito e hostilidade.
Bom estudo.
Introdução
72 UNIDADE II
RAÇA E RACISMO
O bom profissional do Serviço Social deve, além de conduta, ética e boa forma-
ção, ter conhecimento básico acerca do uso de alguns termos, bem como de seus
significados. Raça, racismo e etnia são exemplos de termos cujo conceito deve
ser compreendido por aqueles que trabalham com a sociedade, além de suas
importâncias nas relações sociais no Brasil.
Raça é um termo que deveria ser abolido de nosso vocabulário, ao se tra-
tar especificamente de grupos culturalmente estabelecidos, pois o uso de “raça”
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ficou estagnado apenas no contexto biológico.
O conceito de raça perpassa, fundamentalmente, dois significados bá-
sicos: o biológico e o sociológico. O primeiro define critérios sobre as
raças com fundamento em pesquisas da Biologia, em especial da gené-
tica. O segundo define critérios baseando-se na Sociologia, no estudo
do comportamento humano em sociedade e na forma de um grupo
conviver e definir outro (LIMA, 2010, p. 9).
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
73
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Logo não há raça negra, nem raça indígena, nem raça branca, mas houve tempos
em que o conceito existia, e era “cientificamente” justificado. A força do uso de
“raça”, no contexto de definição dos povos humanos, nasce das “teorias raciais”.
Desde o século XVIII, pesquisadores tentavam compreender as diferenças huma-
nas por meio da biologia (desconsiderando a esfera social). Um dois primeiros foi
o botânico sueco Carlos Lineu (1707-1778), que classificou o ser humano em 4
grupos, a partir das variedades geográficas: os europeus, asiáticos, americanos e
africanos. Depois, o alemão Johann Friedrich Blumenbach (1752-1840) expandiu
a classificação de Lineu, dividindo o ser humano em raça caucasiana para os euro-
peus (brancos); raça americana; raça mongol, para os povos do extremo oriente;
raça etiopiana, para os africanos; e raça malasiana, para os povos do sul da Ásia
e da Oceania (SCHWARCZ, 1993). Essas divisões formam problemáticas? sim,
quando se começou a acreditar que as “raças” influenciavam o comportamento.
A partir de pseudociências do século XVIII e XIX, como a frenologia, antropo-
metria, craniologia, etnologia e a eugenia, o mundo foi dividido em raças superiores
e inferiores. Joseph Arthur, Conde de Gobineau (1816-1882), conhecido apenas
Raça e Racismo
74 UNIDADE II
como Gobineau, desenvolveu uma teoria em seu livro “Ensaio sobre a desigual-
dade das raças humanas” (1855), que dizia que a raça branca era superior às demais.
Com isso, uma série de ideologias raciais começaram a ganhar força no mundo: na
colonização, os europeus justificavam as invasões tendo como premissa que os colo-
nizados nativos eram inferiores; a escravidão teve aval destas teorias e, além disso,
o nazismo se utilizou da ideia e, junto com a eugenia, acreditava em exterminar
algumas “raças”, com finalidade de fortalecer a “raça” ariana (caucasianos alemães).
Com isso, as pessoas começaram a ser hierarquizadas e julgadas apenas pelos
seus biótipos (SCHWARCZ, 1993). Infelizmente, essas pseudoteorias científicas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
aportaram no Brasil no fim do século XIX, fomentando a escravidão e o racismo:
No Brasil, as teorias racistas com fulcro biológico e genético surgiram
um pouco antes de 1888, buscando identificar os africanos e seus des-
cendentes como pertencentes a raças socialmente inferiores, tendo, en-
tre seus objetivos, possuir uma justificativa para continuar a subjugá-los
quando abolida a escravidão. No final do século XIX e início do século
XX, as teorias racistas estavam em voga no Brasil. As ideias racistas
com um fundamento supostamente científico difundiram-se no país.
Esses valores sobre a superioridade da raça branca foram introduzidos
no imaginário dos próprios descendentes de escravo das mais variadas
formas, influenciados por teorias racistas. Tais ideias difundiram-se e
perpetuaram-se na sociedade brasileira, permanecendo no imaginário
de indivíduos brancos e negros (LIMA, 2010, p. 96).
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
75
Apesar do conceito de raça estar fora de nossa realidade, seu uso no ponto de
vista ideológico é válido. O próprio termo “racismo” usa-se da raiz “raça” para
sua definição. O termo racismo define o campo ideológico, em que o conceito
de raça tem vigência (GUIMARÃES, 2005). E por quê? O primeiro elemento
usado para o racismo é o fenótipo. O negro sofre racismo primeiramente pela
cor da sua pele, os indígenas, os ciganos, por exemplo, pelas feições próprias,
trazendo o senso de diferença.
Raça e Racismo
76 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
contextos, justamente pela sua carga de generalização biológica. Lima (2010)
diz que essa identificação importa na distribuição de oportunidades e no exer-
cício de direitos, ou seja, a raça no Brasil determina a distribuição de direito e
oportunidade. Vemos isso diariamente nos dados estatísticos (MARTINS, 2014,
on-line)3; (IBGE, 2002); (DOMINGUES, 2015, on-line)4.
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
77
O número de negros na região Norte, acima dos 16 anos e que possuam trabalho
informais é de 49,6%, número extremamente alto, além de que este grupo apre-
senta um rendimento mensal inferior ao branco exercendo as mesmas funções.
Dados de 2013 mostram que os negros que terminaram a faculdade ganhavam
em média 28% menos do que os brancos em mesma situação.
Em relação aos ofícios, os advogados negros ganham 27% menos que advo-
gados brancos; engenheiros, 20%; médicos, 13%. Médicas negras ganhavam cerca
de R$ 2 mil a menos que os outros colegas. Além disso, quando exercem fun-
ções de direção, “patrões” negros ganham 25% menos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os negros estão ausentes da política, pois dos 513 deputados federais, 80%
são brancos. No Superior Tribunal de Justiça, 25 dos 29 ministros são brancos.
Apenas um se considera negro. Todos os 11 ministros do Supremo Tribunal
Federal são brancos. Na mídia, as novelas em exibição na TV aberta têm apenas
15% de atores negros, e raramente um protagonista.
Contudo, quando o assunto é miséria e cárcere, a população negra assume o
destaque. Três quartos dos beneficiários de programas sociais do Brasil Sem Miséria,
que inclui o Bolsa Família, o Brasil Carinhoso e o Pronatec, entre outros, são negros.
O motivo é que segundo o IBGE (2011), 71% das pessoas que vivem na situação
de extrema pobreza são negros ou pardos. Além disso, a população carcerária
entre 18 e 29 anos representam 54,8%, e deste grupo, 60,8% do total são negros.
“No Brasil os negros são a maioria dos pobres e dos indigentes, possuem
uma perspectiva de vida inferior a de pessoas brancas, além da taxa de
mortalidade infantil ser maior entre os negros. O índice de desenvolvi-
mento humano (IDH) dos negros é inferior ao dos brancos. Os negros
possuem menor mobilidade social que os brancos e as desigualdades
não são apenas de renda, mas também no acesso a programas sociais,
como educação e saúde. No mercado de trabalho, os negros possuem
perspectivas muito piores em suas vidas profissionais, seja em relação
aos empregos, seja em relação à remuneração. Trabalhadores negros
recebem menores salários que trabalhadores não negros em qualquer
nível de escolaridade e também a taxa de desemprego entre negros é
sempre maior que a de brancos. Os negros são exceções entre a quase
totalidade de brancos no comando das maiores empresas do país. A
população negra é maioria entre os que moram em domicílio sem água
e sem esgotamento sanitário e minoria entre os que possuem compu-
tadores residenciais. Na educação, área fundamental na formação do
indivíduo e na sua posterior disputa por oportunidades de trabalho, há
Raça e Racismo
78 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Segundo o IBGE/PNAD (2014), os negros (pretos e pardos) são a maioria da
população brasileira, representando 53,6% da população. Os brasileiros que
se declaram brancos são 45,5%. Os números mostram um país miscigenado e
aparentemente harmônico na questão étnico-racial, mas isso não é a realidade.
Apesar de sermos um país miscigenado, não há equidade de direitos, tampouco
divisão equânime do poder.
O mito da democracia racial continua sendo uma justificativa, e também um
obstáculo para o reconhecimento que, no Brasil, há racismo. O mito da democra-
cia racial ganhou força com o livro de Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala
(1933), e baseia-se na ideia de que os grupos étnicos no país vivem em harmo-
nia e sem conflito, ou seja, ela ignora a existência do racismo.
É muito claro que as desigualdades sociais e de direitos no Brasil perpas-
sam as questões raciais e precisam ser debatidas, pois a discriminação racial é
ainda um empecilho ao desenvolvimento econômico, social, cultural e pessoal
das minorias étnicas, que sobrevivem em condições de vida aviltantes.
A solução é o fim do racismo, mas enquanto isso não acontece, ainda mais
em um país como o Brasil, que perpetua o chamado “racismo velado”, Políticas
Públicas para negros, indígenas e outras minorias étnicas são necessárias e urgen-
tes, e em alguns caso são chamadas de “Ações Afirmativas”.
Surge a necessidade política de atribuir direitos iguais a grupos da socie-
dade que são oprimidos ou sofrem com as sequelas do passado de opressão. As
políticas públicas para estes povos visam combater os efeitos acumulados de
séculos de racismo.
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
79
Para se entender as cotas, temos que ter ciência de uma coisa: a grande maio-
ria da população negra no Brasil é pobre e sem oportunidades, devido a uma
herança ideológica escravocrata.
Cotas como ações afirmativas não são coisas tão recentes assim. O Brasil
vivenciou 354 anos de escravidão, em que a população negra trabalhava para
enriquecer a parcela branca, ou seja, as relações raciais de superior e inferior
organizavam o contexto de oportunidade durante o período. No segundo rei-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nado, a partir da Lei Eusébio de Queiros, em 1850, proibiu-se o tráfico negreiro
e a entrada de escravos africanos no Brasil. Trinta e oito anos depois, o cho-
que aos escravocratas se acentuou com a Lei Imperial n.º 3.353, chamada de Lei
Áurea. A escravidão foi abolida e o negro ficou sem rumo, visto que, mesmo
livres, não eram considerados cidadãos, criando uma massa de desempregados.
Segundo Giabernadino e Robl Filho (2005), os negros daquele período soma-
vam 56% da população e estavam ansiosos em participar economicamente do
novo Brasil, que vivia um processo de desenvolvimento. Contudo, o pensamento
racial falou mais alto e o Estado, sedento em “embranquecer” o país, criou polí-
ticas para a chegada de imigrantes europeus: as cotas para europeu!
Desde 1870, o Estado incentivava a “troca” do negro pelo “europeu”. Na pro-
víncia de São Paulo, as “cotas para europeus” já tinham força desde 1884, pois
existiam medidas para concessão de passagem gratuita aos imigrantes europeus
que trabalhassem na agricultura (IANNI, 2004). Dois anos depois, foi criada a
Sociedade Promotora da Imigração, entidade não lucrativa destinada a recrutar,
transportar e distribuir trabalhadores europeus pelas fazendas paulistas.
Assim, elege-se o modelo branco como sendo o do trabalhador ideal e apela-se
para uma política migratória sistemática e subvencionada, alegando-se a necessi-
dade de dinamizar a nossa economia por meio da importação de um trabalhador
superior, do ponto de vista racial e cultural, capaz de suprir, com sua mão-de-o-
bra, as necessidades da sociedade brasileira em expansão (MOURA,1988). Desse
modo, no período pós-abolição, durante o processo de desenvolvimento do Brasil, o
incentivo à vinda de migrantes europeus para cá foi sistêmica, em que estes recebiam
terras do Estado brasileiro, concessões, benefícios sociais e acesso à remuneração.
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
81
Somos iguais? Se somos iguais, porque o negro ficou de fora das Univer-
sidades e, consequentemente, do sucesso em profissões como Medicina,
Engenharias, Magistratura? Por que o negro continua sendo o grande con-
tingente penitenciário? Por que o negro protagoniza os números de miséria
e violência?
Não, queridos(as) alunos(as), não somos iguais, e nosso traços étnicos eviden-
ciam muito bem isso. Aliás, o discurso de igualdade é um dos pilares do racismo
contemporâneo, pois incita a negação de políticas públicas para minorias étni-
cas. Somos diferentes sim! Mas o acesso ao direito e oportunidade precisa ser
igual. Igualdade nem sempre é equidade! O problema, no Brasil, é que a dife-
rença é transformada em desigualdade. Há na internet duas charges recorrentes
sobre o tema.
Uma tem o título de “Nosso Sistema Educacional”, em que mostra um homem,
fazendo o papel de julgador, e em sua frente, um pássaro, um macaco, um pin-
guim, um elefante, um peixe dentro de um aquário, uma foca e um cachorro. O
homem então diz: “ Para uma seleção justa, todos farão o mesmo exame: esca-
lar aquela árvore”, apontando para uma enorme árvore no fundo do desenho.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
diferentes de caixotes. A primeira por ser alta, não precisa de caixote, a segunda
criança de estatura mediana, precisa de um apenas, e a terceira, a mais baixinha
fica com dois caixotes. Assim todas as três conseguem ver o jogo. Em baixo da
imagem vemos o termo EQUIDADE.
A primeira apresenta que igualdade nem sempre é a mesma coisa que equi-
dade, enquanto a segunda mostra que, para se considerar o mérito de algo, deve-se
compreender se o percurso para o “sucesso” tem o mesmo caminho para todos.
Mérito só se justifica entre pessoas com condições de vida semelhantes e não
entre desiguais. As cotas raciais não são uma vantagem para os negros e indí-
genas, mas uma correção de uma desvantagem histórica. Tanto é que essa ação
afirmativa é temporária,visando a longo prazo equiparar o número de habitan-
tes negros com aqueles que têm acesso à Universidade. Desse modo, as cotas
são uma ação paliativa.
Vivemos em meio as cotas, como a Lei 9100/95, que estabelece cota para
mulheres nas eleições, e a Lei 9504/97, que indica cota para deficientes físicos em
concursos públicos. Mas por que cotas raciais geram tanta polêmica e hostilidade?
O profissional do Serviço Social deve estar atento às principais dúvidas que
se apresentam nas discussões sobre cotas. Ao final da Unidade, dez importantes
questões sobre as cotas sociais e raciais serão apresentadas, e você, provavel-
mente, terá que responder!
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
83
O sistema de cotas para ingresso em Universidades públicas foi adotado bem antes
da lei de 2012. Brandão (2005) nos revela que, já na década de 1990, surgiram as
primeiras tentativas de ações afirmativas neste contexto, promovidas por Ongs
dos direitos negros. Os cursinhos pré-vestibulares gratuitos para alunos carentes
e/ou negros foi um exemplo. Em 1999, as cotas chegaram no âmbito legislativo
com a Lei 298, que destinava metade das vagas nas Universidades aos alunos que
estudassem integralmente (Ensino Fundamental e Médio) em escola pública.
Foi esta lei que começou a aquecer as discussões sobre a necessidade de cotas
raciais, visto que a quase totalidade de alunos que pleitearam as vagas eram pardos e/
ou negros. Brandão (2005) cita que a discussão sobre cotas raciais em Universidades
vem a partir da criação da Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares, que
previa no curso de Administração 40% das vagas aos afrodescendentes.
Outras Universidades começaram a adotar as cotas após a Marcha Zumbi dos
Palmares e da conferência de Durban, na África do Sul (2001), onde aconteceu a III
Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e
Intolerância Correlata. Um ano depois, a Universidade Federal da Bahia (UFBA)
acatou as cotas, sendo seguida em 2003 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) e Universidade de Brasília (UNB), 2004 pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e em 2005 pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dantes de escolas públicas com renda familiar bruta igual ou inferior a um salário
mínimo e meio per capita, e 25% para estudantes de escolas públicas com renda
familiar superior a um salário mínimo e meio. Em ambos os casos, também
será levado em conta o percentual mínimo correspondente ao da soma de pre-
tos, pardos e indígenas no Estado, de acordo com o último censo demográfico
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O aluno que optar pela cota racial deve se autodeclarar negro/pardo/indí-
gena em documento, comprovando obviamente suas características fenotípicas.
Em alguns casos, documentos de identificação de ascendentes de até segundo
grau, documentos oficiais com indicação de cor/raça própria ou de ascendentes
até segundo grau em linha reta (pais e avós) e fotos pessoais podem ser exigi-
dos. Alguns trechos da Lei 12.711:
Art. 1o As instituições federais de educação superior vinculadas ao Mi-
nistério da Educação reservarão, em cada concurso seletivo para in-
gresso nos cursos de graduação, por curso e turno, no mínimo 50%
(cinquenta por cento) de suas vagas para estudantes que tenham cursa-
do integralmente o ensino médio em escolas públicas.
[...]
Art. 3o Em cada instituição federal de ensino superior, as vagas de que
trata o art. 1o desta Lei serão preenchidas, por curso e turno, por au-
todeclarados pretos, pardos e indígenas e por pessoas com deficiência,
nos termos da legislação, em proporção ao total de vagas no mínimo
igual à proporção respectiva de pretos, pardos, indígenas e pessoas com
deficiência na população da unidade da Federação onde está instalada
a instituição, segundo o último censo da Fundação Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística - IBGE.
[...]
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
85
A Lei 12711 deve ser bem estudada por você, aluno(a) do Serviço Social. Ela
está na íntegra no site do Planalto, podendo ser acessada em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/Lei/L12711.htm>. Acesso
em: 19 abr. 2017.
Fonte: o autor.
Mais do que polêmicas, devemos nos ater aos resultados. De acordo com a repor-
tagem da revista ISTO É (2013, on-line)6, o sistema de cotas não só melhorou a
qualidade de vida de milhares de estudantes negros, pardos e indígenas, como
também melhorou a qualidade de ensino e reduziu os índices de evasão. Até
mesmo o nível de corte das notas acabam subindo, e consequentemente, a qua-
lidade dos vestibulares. Segundo dados do Sistema de Seleção Unificada, a nota
de corte para os candidatos convencionais a vagas de medicina nas Federais foi
de 787,56 pontos. Para os cotistas, foi de 761,67 pontos, ou seja, uma diferença
entre eles de menos de 3%.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Atualmente, em nível de Universidade Federal,
das 59 universidades no Brasil:
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
87
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
excluídos e saberes produzidos pelas culturas juvenis.
O curso foi um sucesso em seu objetivo inicial, que era de desconstruir
a imagem sedimentada da cultura do negro, por anos renegada na educação.
O MEC, nas diretrizes Curriculares da Educação das Relações Étnico-Raciais
(2005, p. 10), deixa claro que “tais políticas têm como meta o direito dos negros
se reconhecerem na cultura nacional, expressarem visões de mundo próprias,
manifestarem com autonomia, individual e coletiva, seus pensamentos”, o que
se expandiu, mais tarde, em relação aos povos indígenas.
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
89
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 7 - Religião de
matriz negra.
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
91
A Lei promulgada em 2003, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, visava
basicamente: incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da
temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira’. Segundo as diretrizes (2005, p. 10):
O ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, [...] tem
como objetivos o reconhecimento e valorização da identidade, histó-
ria e cultura dos afro-brasileiros, garantia de seus direitos de cidadãos,
reconhecimento e igual valorização das raízes africanas da nação brasi-
leira, ao lado das indígenas, européias, asiáticas. -
[...]
O ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, a educa-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Todavia, a Lei 10.639/03 sofreu alteração em 2008, e passou a ser Lei 11.645/08,
em que insere também a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura indígena:
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos
aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da popula-
ção brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da
história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas
no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na for-
mação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas
social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A FUNAI nasce a partir de uma necessidade de expandir a luta a favor
dos direitos dos indígenas brasileiros, já desenvolvida desde 1910, com o SPI
(Serviço de Proteção ao Índio). Até meados de 1990, todo assunto no governo
relacionado aos povos indígenas eram concentrados na FUNAI, mas, a partir da
metade da década de 90, esse órgão passou a estar subordinado ao Ministério
da Justiça, e depois, acabou perdendo força como “única” agência governamen-
tal para esse assunto.
[...] O desenvolvimento de políticas públicas direcionadas aos povos
indígenas está firmemente alicerçado em princípios constitucionais,
consoantes aos mesmos que definem o Brasil como Estado democrá-
tico de direito, isto é, na Constituição Federal que assegura e reconhe-
ce as especificidades étnico-culturais e os direitos sociais e territoriais
desses povos. Estes direitos são reafirmados pela Convenção 169 da
Organização Internacional do Trabalho – OIT sobre Povos Indígenas
e Tribais, ratificada pelo Brasil em 25 de julho de 2003 e aprovada pelo
Decreto nº 5.051, de 19 de abril de 2004. Nos últimos anos têm sido
significativos o direcionamento e a construção de políticas, progra-
mas específicos e de investimentos do governo federal sem preceden-
tes direcionados aos povos indígenas, os quais são geridos por vários
órgãos (FUNAI, FUNASA/MS, MEC, MMA e outros). [...] (FUNAI,
2016, s/p.).
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
93
Contudo, a Funai continua a ter um papel estratégico em boa parte das políti-
cas para os povos indígenas, primeiro por sua tradição na área, e segundo, pelo
protagonismo dela em relação às propostas governamentais. Somado a isso, em
2006, foi criada a Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), cuja atri-
buição seria criar um outra estrutura com a mesma atuação, mas de caráter
permanente: Conselho Nacional de Política Indigenista.
O primeiro desafio seria, junto com a FUNAI, criar, coordenar e executar políticas
públicas voltadas para gestão ambiental, atendimento à saúde, fiscalização e vigilância
territorial, regularização fundiária, geração de renda, valorização do patrimônio cul-
tural etc. Contudo, dois fatos são necessários à compreensão: 1) os “povos indígenas
são, portanto, sociedades não estatais, com formas próprias de organização política,
que convivem legalmente dentro de uma sociedade estatal mais ampla” (DE PAULA;
VIANNA, 2011, p. 8); e 2) o que entendemos como “povos indígenas” é um grupo
“heterogêneo, fragmentado e multifacetado, características que geram profundas
implicações no plano que nos interessa investigar” (DE PAULA; VIANNA, 2011, p. 8).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nacional do Índio (FUNAI), Ministério da Saúde (MS)/ Fundação Nacional de Saúde
(FUNASA), Ministério da Educação (MEC), Ministério do Meio Ambiente (MMA),
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome (MDS) e Ministério da cultura (MINC).
Grande parte da pesquisa é extraída do material dos pesquisadores Luis
roberto de Paula e Fernando de Luiz Brito Vianna, nomeado “Mapeando políticas
Públicas para povos indígenas”, cujo disponibilidade é gratuita no link disponi-
bilizado ao final do material.
Como citamos anteriormente, a FUNAI era o órgão responsável por toda cria-
ção, coordenação e execução de políticas públicas para os povos indígenas, mas
que, a partir de um decreto de 2009, passou a estar subordinada ao Ministério
da Justiça. O Decreto Nº 7.056, de 28/12/2009, conhecido como “o novo Estatuto
da Funai” seria um instrumentos para orientar a atuação da Fundação Nacional
do índio. Segue trecho do decreto:
DECRETO Nº 7.056 DE 28 DE DEZEMBRO DE 2009.
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
95
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
disponível nos intermédios entre o governo e as comunidades nativas. Além
disso, durante o trâmite, há ainda a necessidade de argumentos antropológicos
e jurídicos convincentes, ou seja, a participação de pesquisadores e advogados
no processo.
A organização e regularização dessa área é feita pela CGID (Coordenação-
Geral de Identificação e Delimitação de Terras Indígenas), e todas as etapas
podem ser observadas no organograma feito por De Paula e Vianna, no material
Mapeando Políticas Públicas para povos Indígenas (2011, p. 46). Outras infor-
mações sobre o tema podem ser encontradas na página da FUNAI, em especial,
nos tópicos sobre “terras indígenas” (informações sobre o processo de regulari-
zação fundiária indígena e o apoio do PPTAL – Projeto Integrado de Proteção
às Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal).
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
97
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 23 de setembro de 1999; 178º da Independência e 111º da Repú-
blica. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (BRASIL, 1999, on-line).
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
99
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
De Paula e Vianna (2011) revelam que a formação de Professores indígenas e a
sua inserção nas universidades são os dois pontos principais das políticas públi-
cas do MEC. A formação de professores indígenas, em nível de licenciatura/
graduação, é realizada a partir do trabalho em conjunto entre a Secretaria de
Educação Superior (SESU) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES).
A formação de professores indígenas é uma demanda que partiu das pró-
prias comunidades, uma vez que os “principais problemas identificados pelo
movimento indígena e seus apoiadores durante a década de 1980 dizia respeito
ao fato de que o agente principal da educação escolar nas aldeias, o professor,
não era indígena” (DE PAULA ; VIANNA, 2011, p. 75).
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
101
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA) E DO MINISTÉRIO DO
DESENVOLVIMENTO SOCIAL E AGRÁRIO (MDSA)
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
103
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tas das vezes são eles que se aproximam da gente, procuram a assistente
social ou a psicóloga para solicitar ajuda, algum acompanhamento fa-
miliar (PORTAL BRASIL, 2015, on-line)10.
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
105
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
estigmas que trouxeram consequências em suas vidas sociais. Tal marginaliza-
ção acaba fazendo com que famílias ciganas encontrem-se em precárias situações
sociais.
No Brasil, há pelos menos três etnias ciganas: Calon, Rom e Sinti. Cada grupo
tem seus costumes próprios, mostrando assim a necessidade de especificidades,
assim como os povos indígenas. Como povo nômade, há aproximadamente entre
500 –800 mil ciganos no Brasil (GUIA, 2013, on-line)11.
Das três etnias, os calon são os mais conhecidos por nós, visto que foram os
primeiros a chegar no Brasil, e é o mais numeroso dos três grupos. O idioma
dos calon, além do português, é o romani, e seu estilo de vida baseia-se em viver
em acampamentos (públicos ou privados), cujo homens trabalham em comércio
informal e adotam um estilo “country” no vestir (chapéus, cintos com grandes
fivelas, botas, etc (RAMANUSH, 2014, on-line)12. Já as mulheres vivem exer-
cendo a “draba”, que é a leitura das mãos, cujo dinheiro auxilia nas despesas do
dia a dia. Na vestimenta, usam cores fortes e muito tecido, lembrando muito as
ciganas banjara, da Índia. De acordo com o IBGE, há mais 13.400 calon no Brasil,
divididos segundo o mapa abaixo:
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
107
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Grande parte das políticas públicas para ciganos são as mesmas oferecidas
para quem tem o Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal
(CadÚnico), como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Tarifa Social (luz),
Programa Saúde da família, etc. As políticas mais específicas para estas comuni-
dades são relacionados as Escolas Itinerantes, cursos de formação para membros
da DPU, Centros de Referências em Direitos Humanos, Prêmio Cultura Cigana
e Regulamentação Fundiária de acampamentos ciganos.
O MEC visa fomentar políticas públicas aos povos ciganos, em conjunto
com programas como PRONATEC, Bolsa Família e “Agenda Territorial de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Desenvolvimento Integrado de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos”,
além das escolas itinerantes, que são escolas públicas inicialmente criadas para o
Movimento Sem Terra (MST), que garantem às crianças, jovens e adultos acam-
pados o direito à educação.
Dado a situação de itinerância, tem a sua base oficial e toda parte documen-
tal e pedagógica sustentada por Escolas Base (KNOPF, 2009). A Escola Itinerante,
como política pública, existe em seis estados: Rio Grande do Sul, Paraná, Santa
Catarina, Alagoas, Piauí e Goiás. O objetivo é ter uma escola para toda população
acampada, além de se converter em centro de encontros de toda a comunidade
acampada. Contudo, a ideia do MST também se aplica às comunidades ciganas,
visto que grande parte desta população são andantes.
Fazer com que os membros dos órgãos públicos conheçam a cultura e os hábi-
tos ciganos também é uma política social. Assim, a SEPPIR e Defensoria Pública
da União (DPU) firmaram, desde 2012, estratégias para melhorarem a atuação da
DPU em comunidades indígenas, quilombolas e ciganas, por meio de cursos e pales-
tras de capacitação, apresentando as singularidades culturais destas comunidades.
Aliás, falando em cultura, o MINC, possui o Prêmio Cultura Cigana, um concurso
público que premia iniciativa culturais de comunidades ciganas em todo o país.
Por fim, atualmente, a maior demanda de grupos ciganos é a regulariza-
ção fundiária de alguns acampamentos. O fato é que, mesmo sendo de grupos
itinerantes, alguns acampamentos são fixos, justamente para agregar grupos
temporários. As políticas Públicas de regulamentação fundiária são feitas pela
Secretaria do Patrimônio da União (SPU), e inicia-se com um dossiê feito por
qualquer interessado.
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
109
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de residir ou trabalhar. Porém, atualmente, soma-se ao conceito o fato dos refugia-
dos, isto é, pessoas que se deslocam de países em razão de catástrofe natural e guerra.
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
111
Infelizmente, não são esses fatores que protagonizam os relatos de vários dos imi-
grantes no país. A guerra, fome, crise política, desastre ambiental e perseguição
religiosa configuram os motivos desta diáspora forçada. O caso é tão sério que
em 2016, ano que o candidato à presidência dos Estados Unidos Donald Trump
criou um discurso de ódio e hostilidade contra imigrantes, o Conselho Federal
de Serviço Social no Brasil foi na contramão, e teve como tema/foco do ano as
relações fronteiriças e fluxos migratórios internacionais, e tem acompanhado o
Projeto de Lei nº 2.516/2015, do Senado Federal, que institui uma nova “Lei de
Migração” e altera o atual Estatuto do Estrangeiro.
O Serviço Social tem participado da temática, principalmente, para com
o auxílio de grupos imigrantes que sofrem com a xenofobia, o preconceito e
racismo. O CFESS acompanha a PL 2516, visto que o tema evidencia as con-
tradições da violação de direitos sociais de toda ordem. Ademais, os imigrantes
buscam nas esferas locais (Município e Estado) direitos e oportunidades, e veem
no assistente social um parceiro.
De acordo com o site da Câmara (Relações Exteriores), o projeto 2516 tem
como foco:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Gustavo Barreto de Campos, em sua tese Dois Séculos de Imigração no Brasil:
A Construção da Identidade e do Papel dos Estrangeiros pela Imprensa entre
1808 e 2015 (2015), analisou a receptividade brasileira em relação ao imigrante
nos jornais brasileiros desde o século XIX, e pasmem, o preconceito, o estigma
e a xenofobia permanecem.
Nos últimos anos são os sul-americanos como os bolivianos, empregados em
pequenas indústrias de roupas no sudeste, que são explorados e submetidos a tra-
balhos análogos à escravidão (AFP, 2013), Além dos colombianos, que cruzam as
fronteiras fugindo dos conflitos armados de seu país natal e os venezuelanos, que
fogem da crise política e econômica e sofrem pela estigmatização. Primeiro, pela
relação étnica, visto que são povos de traços nitidamente indígenas, o que mostra
a aversão da sociedade brasileira a esses povos. Contudo, são os imigrantes negros
que mais sofrem no Brasil. Haitianos e africanos, como senegaleses e guineen-
ses sofrem duplamente – um pelo caráter imigratório e outro por serem negros.
Campos (2015) cita três casos recentes. Um em Porto Alegre, onde haitia-
nos foram humilhados e hostilizados num posto de gasolina, por um gerente
de vendas chamado Daniel Barbosa. Em sua fala, Barbosa ironiza o fato do hai-
tiano estar empregado no Brasil, e revela que a chegada de “estrangeiros no país
é parte de um plano do governo Federal, em conjunto com outros países lati-
no-americanos, para transformar o continente em uma nação governada sob o
regime comunista” (sic) (TRUDA, 2015, on-line)16.
O segundo caso foi em São Paulo, um ataque xenófobo contra quatro hai-
tianos, baleados com chumbinho na escadaria da Igreja Nossa Senhora da Paz,
no Glicério (FARIAS, 2015, on-line)17. E o terceiro caso, no Paraná, é dos boatos
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
113
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de Mário Covas, Programa Saúde da Família (PSF), com inclusão de populações
vulneráveis, através da Prefeitura de São Paulo, na gestão de Marta Suplicy, da
Igreja Católica, através da pastoral do Migrante, e de Dom Paulo Evaristo Arns,
então cardeal-arcebispo de São Paulo. No âmbito federal, o visto humanitário e
o Estatuto dos Refugiados auxiliaram, principalmente, os imigrantes haitianos
e os do Oriente Médio e da África.
Percebe-se que muitas discussões ainda devem ser feitas sobre o tema. Há
a necessidade da participação do governo, de pesquisadores e profissionais das
mais diversas áreas, para que o preconceito e hostilidade contra os imigrantes se
finde, e os direitos mínimos possam ser desfrutados por eles em nossa sociedade.
SOCIEDADEERELAÇÕESÉTNICO-RACIAIS:NEGROS,INDÍGENAS,CIGANOS,IMIGRANTESEPOLÍTICASPÚBLICAS
115
CONSIDERAÇÕES FINAIS
pelos seus biótipos. Tal pensamento aportou no Brasil no fim do século XIX,
fomentando a escravidão e o racismo. Com isso, estudamos em nosso material
que o passado escravista e o racismo imputado aos negros e alguns povos tirou-
-lhes direitos, marginalizando-os. Assim, verificamos que surgiu a necessidade
política de atribuir direitos iguais a estes grupos, com políticas de equiparação,
chamadas de ações afirmativas.
Tais ações visam equiparar direitos aos povos marginalizados pelo precon-
ceito, como índios, ciganos e principalmente, negros. Há várias Políticas Públicas
para afrodescendentes, mas nosso foco, em especial, foram as mais importan-
tes: o sistema de cotas, para ingresso às universidades e a Lei 11.645 (10.639),
que obriga o ensino de História e Cultura afro-brasileira e indígena nas escolas.
Seguindo este raciocínio, nosso material elencou algumas políticas públi-
cas para os povos indígenas e ciganos, que assim como as ações afirmativas aos
negros, visam inserir tais povos na sociedade, garantindo-lhes direitos.
E por fim, estudamos a questão dos imigrantes, discutindo os motivos, as
necessidades e a realidade desses indivíduos que lutam para se adaptar em nossa
sociedade. Percebemos que o Serviço Social tem participado da temática, princi-
palmente, para com o auxílio de grupos imigrantes que sofrem com a xenofobia,
preconceito e racismo, buscando em nosso país o mesmo objetivo da profissão
de vocês: a justiça social.
Considerações Finais
116
1. Estudamos nesta unidade sobre o Racismo. Vimos que a ideia sobre esse termo
pode ser entendida de forma geral como:
a. Crença na superioridade apenas cultural de uma raça sobre outras.
b. Crença na superioridade apenas biológica de uma raça sobre outras.
c. Crença na superioridade total de uma raça sobre outras.
d. Crença na inferioridade de uma raça sobre outras.
e. Crença na igualdade de uma raça e outras.
4. Sobre as demandas dos povos ciganos, assinale a alternativa que não é um ele-
mento emergencial a este grupo, no que tange às políticas públicas:
a. Renda
b. Acesso a Saúde e Educação
c. Liberdade Religiosa
d. Segurança
e. Registro civil
A Negação do Brasil
Joel Zito Araújo (2000)
O documentário é uma viagem na história da telenovela no Brasil e
particularmente uma análise do papel nelas atribuído aos atores negros,
que sempre representam personagens mais estereotipados e negativos.
Baseado em suas memórias e em fortes evidências de pesquisas, o diretor
aponta as influências das telenovelas nos processos de identidade étnica
dos afro-brasileiros e faz um manifesto pela incorporação positiva do negro nas imagens televisivas
do país.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
FUNAI
A Fundação Nacional do Índio – FUNAI é o órgão indigenista oficial do Estado brasileiro. Criada
por meio da Lei nº 5.371, de 5 de dezembro de 1967, vinculada ao Ministério da Justiça, é a
coordenadora e principal executora da política indigenista do Governo Federal. Sua missão
institucional é proteger e promover os direitos dos povos indígenas no Brasil. Em seu site há muito
material e informação sobre o tema. Acesse em <www.funai.gov.br>. Acesso em: 19 abr. 2017.
123
REFERÊNCIAS
Referências On-Line
1
Em: <https://www.priberam.pt/dlpo/ra%C3%A7a>. Acesso em: 27 abr. 2017.
2
Em: <https://www.priberam.pt/dlpo/etnia>. Acesso em: 27 abr. 2017.
3
em <http://www.cartacapital.com.br/revista/767/o-racismo-em-numeros-6063.
html>. Acesso em: 20 abr. 2017.
4
Em: <http://www.diarioliberdade.org/opiniom/opiniom-propia/56303-n%C3%BA-
meros-do-racismo-brasileiro.html>. Acesso em: 27 abr. 2017.
125
REFERÊNCIAS
5
Em: <http://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-es-
tudos/textos-para-discussao/td-147-a-constitucionalidade-das-politicas-de-acoes-
-afirmativas>. Acesso em: 27 abr. 2017.
6
Em: <http://www.istoe.com.br/reportagens/288556_POR+QUE+AS+COTAS+RA-
CIAIS+DERAM+CERTO+NO+BRASIL?pathImagens=&path=&actualArea=internal-
Page>. Acesso em: 27 abr. 2017.
7
Em: <http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Images/DRE_itaque-
ra/15384.jpg>. Acesso em: 19 abr. 2017.
8
Em: <http://blogdoacra.blogspot.com.br/2013/12/mestre-didi-educador-contem-
poraneo.html>. Acesso em: 19 abr. 2017.
9
Em: <http://sustentahabilidade.com/educacao-escolar-indigena-no-brasil/>. Aces-
so em: 27 abr. 2017.
10
Em: <<http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/11/centro-de-referen-
cia-da-assistencia-social-garante-protecao-a-indigenas>. Acesso em: 27 abr. 2017.
11
Em: <www.seppir.gov.br/comunidades-tradicionais/GuiaCiganoFinal.pdf>. Aces-
so em: 27 abr. 2017.
12
Em: <http://www.embaixadacigana.org.br/etnicidades_ciganas_no_brasil.html>.
Acesso em: 20 abr. 2017.
13
Em: <http://luizdomosaico.blogspot.com.br/2013/03/audiencia-publica-na-ca-
mara-de-bh.html>. Acesso em: 19 abr. 2017
14
Em: <http://exame.abril.com.br/brasil/o-panorama-da-imigracao-no-brasil/>.
Acesso em: 27 abr. 2017.
15
Em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/RELACOES-EXTERIO-
RES/517147-PROJETO-DA-LEI-DE-MIGRACAO-ESTA-PRONTO-PARA-SER-VOTADO-
-PELO-PLENARIO.html>. Acesso em: 27 abr. 2017.
16
Em: <http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2015/06/homem-aborda-
-frentista-haitiano-cita-desemprego-no-pais-e-ironiza-sorte.html>. Acesso em: 27
abr. 2017.
17
Em: <http://vejasp.abril.com.br/cidades/haitianos-baleados-centro/>. Acesso em:
27 abr. 2017.
18
Em: <http://midiacidada.org/img/oglobo-2014-ago-17.png>. Acesso em: 27 abr.
2017.
19
Em: <https://www.sinait.org.br/arquivos/noticias/Noticia_13707_17344.jpg>.
Acesso em 23 jan. 2017.
20
Em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/suspeita-de-ebola-a-
cirra-preconceito-contra-haitianos-eeu8mc3u2uv4pwv71dcggdjda>. Acesso em:
23 jan. 2017.
21
Em:<https://www.ufmg.br/inclusaosocial/?p=53>. Acesso em: 19 abr. 2017.
GABARITO
1. C
2. C
3. E
4. C
5. Você deve pensar em seu papel como “minimizador” de conflito entre a socie-
dade e os imigrantes. Assim, deveria elencar algumas estratégias, que levem em
conta a teoria e prática do Serviço Social.
Professor Dr. Silvio Ruiz Paradiso
III
UNIDADE
E SEXUALIDADE
Objetivos de Aprendizagem
■ Refletir a concepção das categorias gênero e sexualidade, bem como
suas implicações para o Serviço Social.
■ Problematizar os tipos de violências contra mulheres e LGBTs, como
expressões da questão social.
■ Relacionar o processo de redesignação sexual com o Serviço Social.
■ Analisar as concepções e os estigmas que encobrem a reflexão acerca
da ideologia de gênero.
■ Compreender os processos de adoção homoparental e o papel do
Assistente Social neste espaço.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Gênero e ideologia no tempo presente
■ Violência de gênero, sexual e políticas públicas
■ Comunidade LGBT, homofobia, transfobia
■ Adoção homoparental
■ Sobre a adoção homoparental no cenário brasileiro
129
INTRODUÇÃO
Introdução
130 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Maneira de ser ou de fazer: é esse o seu gênero de vestir-se.
Gênero literário, variedade da obra literária, segundo o assunto e a
maneira de tratá-lo, o estilo, a estrutura e as características formais da
composição: gênero lírico, gênero épico, gênero dramático.
Gênero humano, a espécie humana.
Gênero de vida, modo de viver, de proceder.
Segundo Joan Scott (1995), gênero é um elemento constitutivo das relações sociais
fundadas sobre diferenças percebidas entre os sexos, que fornece um meio de
decodificar o significado e de compreender as complexas conexões entre as várias
formas de interação humana.
Ou seja, discutir questões de gênero, na atualidade, é pensar nas diversas deter-
minações atuais que representam grupos que possuem características que os unem
e os identificam em relação ao sexo, identidade de gênero e orientação sexual.
Primeiramente, pertencemos ao gênero humano, e depois nos identificamos
e nos reconhecemos no gênero - como a forma de ser em sociedade (modo de
ser e de proceder). Por isso, na contemporaneidade, já não responde a realidade
falar em homem e mulher, devemos considerar e validar os gêneros: Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Intersexuais – LGBTI.
Quem ou o que define o que somos?
Todavia, por mais que entendamos que falar em gênero masculino e feminino
não corresponda à realidade, ainda estes são os modelos aceitos e propaga-
dos como certo e válido pela moral dominante.
Essa questão de gênero nos remete à questão ética que vivenciamos na
contemporaneidade. Para Santos e Oliveira (2010, p. 12), “[...] trata-se de
identificar como os valores objetiva e subjetivamente construídos são intro-
jetados, vivenciados e reproduzidos na vida cotidiana.”
Porém, começamos a entender que tal domínio precisa ser contestado, obser-
vando que não nos identificamos com os padrões historicamente estabelecidos,
o que leva à compreensão de que família e gênero são construções sociais, em
que as pessoas buscam sua felicidade pelo o que se é e não por aquilo que disse-
ram que deve ser. De acordo com Santos e Oliveira (2010, p. 12):
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nos. De acordo com Souza (2004, p. 70):
Pensar o gênero como conhecimento construído na interação significa rom-
per com a ideia de naturalização desse conceito, isto é, os modelos elabo-
rados e utilizados pelas crianças, adolescentes e adultos não são naturais,
nem inerentes à constituição biológica do homem e da mulher. São modelos
sujeitos a mudanças, por serem construídos dentro de um contexto social.
71), afirma que, nas crianças, a construção das diferenças entre homens e mulheres
“[...] acontece durante as atividades de imitação sobre esses conteúdos e quando
atribuem valores aos comportamentos sociais e transmitidos pela cultura.”
A partir dos dois anos de idade, a criança já tem consciência de ser menina
ou menino. Desde pequena é tratada conforme seu sexo biológico, recebendo
informações como “menino é forte como o papai”, “homem não chora” etc.
Para as meninas, os afetos são cheios de delicadeza e frases como “bonita como
a mamãe, uma bonequinha” e, também, “menina, feche as pernas!”. “São frases
que vão delimitando a identidade sexual e os papéis masculinos e femininos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dos às diferenças sexuais. Gênero remete à cultura, aponta para a construção social
das diferenças sexuais e diz respeito às classificações sociais de masculino e de femi-
nino. A partir dessa visão aparentemente consensual do conceito de gênero, o termo
foi empregado de diferentes maneiras pelos historiadores (PINSKY, 2009, p. 162).
Ou seja, gênero pode ser entendido como questão biológica e construção
social. E a partir daí, nos remetemos à identidade de gênero, que está ligada a
questão de como o ser se reconhece em sociedade (gays, lésbica, bissexual, tra-
vesti e transexual), e a orientação sexual que está relacionada ao desejo e atração
entre as pessoas, sejam homem – mulher; mulher – mulher; homem – homem.
A questão central deste debate está no respeito. Será que há necessidade de
determinações, ou o que importante é reconhecer que esses gêneros existem e
devem ser respeitados?
Porém, o preconceito e a violência existem. Então, se faz importante refle-
tir sobre as seguintes perguntas: o que podemos fazer para contribuir para a
inversão da lógica atual, de padrões estabelecidos e preconceitos? A alteridade?
A educação? Busca por outra sociabilidade? E como estamos hoje?
Borges (2013, on-line)2, em uma entrevista ao Jornal Le Monde Diplomatique,
situa-nos na contemporaneidade em relação às questões de gêneros.
A grande mudança das últimas duas décadas foi o aumento da visibilidade
do que a gente chama de as diferenças de sexualidade e identidade. Até então, a
homossexualidade ou as sexualidades menos de acordo com a heteronormati-
vidade viviam muito marginalizadas.
Com esse aumento da visibilidade, há uma representação social e cultural
muito maior com literatura, filmes com personagens gays e novelas com gays que
fogem do estereótipo. Assim, começa-se a ver toda uma luta da militância con-
tra o preconceito e as representações degradantes da figura do homossexual...
Enfim, hoje há uma nova visibilidade e uma maior tolerância, mas aceitação é
uma coisa complicada, que não é tudo ou nada. Você diz: “A sociedade aceita o
gay?”. Depende. Por exemplo, dizem: “Você é livre, tudo bem”. Agora, quer que
seu pai seja gay? Não, aí é diferente. E se for o professor do meu filho? Há dife-
rentes graus de aceitação. Ainda não chegamos a um nível social e cultural em
que haja aceitação da diversidade sexual com mais naturalidade.
Do ponto de vista cultural, o que acontece é que essa identidade homosse-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tiva, ética (por possuir valores que defendem) e política (por ter uma determinada
direção social), se faz necessário discutir gênero na formação acadêmica; pois
durante a atuação profissional, o/a assistente social é um dos profissionais que
atua por meio de uma dimensão socioeducativa e que poderá contribuir para o
entendimento e a aceitação destas questões, tanto referente ao indivíduo como
a família.
Portanto, vivemos uma era de desafios em que avanços aconteceram, mas
ainda há muito o que vencer, aceitar, desconstruir e construir, onde o ser humano
seja visto em plenitude na sua genericidade humana, e não reduzido a uma ques-
tão de gênero.
A distinção entre sexo e gênero atende à tese de que, por mais que o sexo
pareça intratável em termos biológicos, o gênero é culturalmente construído.
(Judith Butler)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
41-42).
essas políticas. E, visto que elas se configuram como políticas afirmativas e tem
caráter compensatório dentro da nossa sociedade, discussão esta que, diante do
objetivo do nosso trabalho, não será possível desenvolvê-la.
Porém, apesar de não aprofundarmos essas questões, é importante destacar
que estas políticas públicas e sociais procuram garantir os direitos sociais e o
empoderamento dos grupos sociais, considerados em situação de vulnerabilidade
social. Entre eles, atualmente são desenvolvidas políticas voltadas para os grupos
sociais considerados minorias, como a criança/adolescente, a mulher, o idoso
e grupos inseridos na diversidade de gênero e sexualidade – LGBTI (Lésbicas,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
As questões correlatas à violência sexual e de gênero irão perpassar pela ques-
tão da diversidade de gênero e sexual, diante da necessidade dessa sociedade
de enquadrar os seres sociais em determinados padrões construídos histori-
camente, como forma de reprodução do padrão de dominação e do modo de
produção desta sociedade.
As mulheres são vítimas de diversas formas de violências, sejam elas físicas,
psicológicas, emocionais entre outras, fruto do machismo e da dominação do
homem em relação a ela, o que tem causado muitas vezes sua morte.
Apesar da violência contra a mulher não ser algo recente, a formulação da
política de proteção a ela ainda é recente, e muita vezes não é possível garantir
a proteção dos seus direitos de forma efetiva. isso se deve ao fato dessas ques-
tões estarem permeadas por fenômenos sociais e históricos, por ideologias que
naturalizam determinadas relações sociais de dominação. Para isso, torna-se
necessária uma educação emancipatória, que procure desconstruir determi-
nadas ideologias e visão de homem e de mundo, permeadas culturalmente por
relações de dominação.
Por essas questões, percebemos que atualmente não existem políticas afir-
mativas em relação ao homem, diante do fato que, historicamente, ele não tem
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
às formas de violência contra a mulher.
O plano possui 199 ações, distribuídas em 26 prioridades, partindo de quatro
linhas de atuação: a autonomia, igualdade no mundo do trabalho e cidadania, edu-
cação inclusiva e não sexista, saúde das mulheres, direitos sexuais e reprodutivos
e o enfrentamento à violência contra a mulher, considerados como fundamen-
tais para o desenvolvimento do direito a uma qualidade de vida digna para as
mulheres. Esse plano foi avaliado no ano de 2007, onde foi criado um segundo
plano de políticas para as mulheres.
Em 2006, ocorreu um fato social que sensibilizou a população: um caso
de violência doméstica, contra Maria da Penha Maia Fernandes, que pos-
suía 23 anos de casada e sofreu várias agressões e ameaças de assassinato,
chegando a ficar tetraplégica. Diante deste fato, foi criada a Lei 11.340, que
leva seu nome como homenagem. A Lei Maria da Penha busca criminali-
zar e punir os casos de violência contra as mulheres, ocorridas no âmbito
doméstico ou familiar.
Recentemente, mesmo após a criação da Lei Maria da Penha e de meca-
nismos de atenção e proteção à mulher, percebemos que o índice de violência
ainda é muito grande. É o que nos revela os dados divulgados pelo IPEA (2013,
on-line)3, sobre os índices de violência intrafamiliar, especificamente no que
tange a violência contra a mulher.
Estudo preliminar do Ipea estima que, entre 2009 e 2011, o Brasil registrou
16,9 mil feminicídios, ou seja, “mortes de mulheres por conflito de gênero”, espe-
cialmente em casos de agressão perpetrada por parceiros íntimos. Esse número
indica uma taxa de 5,8 casos para cada grupo de 100 mil mulheres.
Esses dados mostram que, apesar dos avanços em termos de políticas de pro-
teção a mulher, ainda é alto o índice de violência contra a mulher e, em muitos
desses casos, elas correm risco de vida. Esses dados provam que é necessária uma
política mais efetiva de proteção à mulher, além do desenvolvimento de práticas
de educação emancipatória nas escolas, contribuindo para o desenvolvimento
de uma sociedade mais justa e que respeite as diferenças.
Além dos dispositivos legais, atualmente com a estruturação da Política
Nacional de Assistência Social – PNAS em 1993, temos alguns serviços que pro-
curam atender à mulher e suas famílias vítimas de violência doméstica, como o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da sociedade e que, de certa forma, apresenta um enfrentamento contra as formas
de dominação social, sofre com as formas de opressão e violência.
A construção de políticas de garantias de direitos para estas minorias ainda
é muito recente, diante principalmente de avanços de setores conservadores
da sociedade, que tem assumidos cargos importantes na garantia dos direitos
humanos, como é o caso da bancada evangélica na câmara dos deputados, e da
comissão dos direitos humanos.
A luta pela conquista e afirmação dos direitos sociais e políticos do movimento
LGBT, vem em busca não só do seu reconhecimento enquanto sujeito e a sua
aceitação pela sociedade. Ela também aglutina forças com os novos movimentos
sociais, como o feministas e movimentos tradicionais, como o dos trabalhado-
res e operários, em busca da consolidação da cidadania e no fortalecimento de
um projeto de sociedade mais justa, igualitária e humana.
Os avanços que se tem contemporaneamente, em termos de políticas volta-
das para a diversidade de gênero e sexual, ainda se concentram no Estado de São
Paulo, devido aos avanços dos movimentos sociais, e também no Rio Grande do
Sul, onde se concentra grandes estudos relacionados à temática.
Apesar de serem grandes conquistas, elas são significativas para a popula-
ção LGBT, por garantir alguns direitos mínimos para essa população. O terreno
que propiciou esses avanços no Brasil foi a partir de 1997, quando no governo
de Covas, no Estado de São Paulo, foi lançado o Programa Estadual de Direitos
Humanos, cujos principais objetivos eram a consolidação da democracia, jun-
tamente com a promoção e a educação frente aos Direitos Humanos. Segundo
Costa (2012, p. 118):
Segundo Costa (2012), esta comissão também apontou que, para lidar com
os desafios postos a essa realidade, é necessário uma atuação multidisciplinar,
buscando a garantia integral dos direitos dessa população. O autor ainda diz que,
o que esse documento traz de diferente, se deve ao fato de colocar que todos os
direitos inerentes aos seres humanos são negados para
essa população específica, e como estratégia
para seu enfrentamento, expressa as medi-
das que os Estados devem viabilizar para
as garantias mínimas, sendo composta por
23 diretrizes.
A partir da luta de João Antônio
Mascarenhas, no sentido de inserir a luta pelos
direitos LGBT nos direitos Humanos, temos
em 2004 o lançamento do programa
do governo Federal “Brasil sem
Homofobia - Programa de Combate
à Violência e à discriminação contra
LGBT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis
e transexuais) e de Promoção da Cidadania
Homossexual”, oriundo do Plano Plurianual
2004-2007.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Atualmente, se encontra na vanguarda do debate o Projeto Lei 122/06, para a
criminalização da homofobia em todo território nacional, e também existe uma
iniciativa de anteprojeto de um Estatuto da Diversidade Sexual, sendo apresen-
tada no Fórum Mundial de Direitos Humanos, procurando aglutinar esforços em
torno da garantia da proteção específica para essa população e dos seus direitos.
Apesar de todos os avanços e propostas apresentadas no cenário político
brasileiro, ainda vivenciamos inúmeros desafios. Ainda são constantes os casos
de homicídios contra homossexuais, transexuais e travestis. Presenciamos que,
diante do avanço dos movimentos LGBT e de categorias profissionais que apoiam
estes movimentos, conseguimos avanços nas conquistas de alguns direitos, mas
ainda caminhamos a passos lentos, pois até nos dias atuais a homofobia não foi
criminalizada em todo país.
No Brasil, a virada dos anos de 1970 para os anos 1980, não se caracterizou
somente pelas discussões que opunham os que consideravam que a questão das
“minorias” (negros, índios, mulheres e homossexuais) deveria estar subordinada (ao
menos em uma primeira etapa) à questão mais ampla da democratização do país e
da revolução social. O primeiro movimento homossexual brasileiro esteve também
profundamente dilacerado quanto a se constituir ou não em torno de uma identidade
homossexual. Havia naquele momento uma grande inquietação quanto à possibi-
lidade de essencialização (ou “reificação”, para usar uma expressão mais comum à
época) da oposição hetero/homossexualidade e da conseqüente instituição de novas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
formas de rotulação, estigmatização e marginalização (CARRARA; SIMÕES, 2007).
A formação da identidade sexual que rompesse com os conflitos ideológicos
entre heterossexual – homossexual, masculinidade (relacionado ao compor-
tamento das mulheres) – feminilidade (relacionado ao comportamento dos
homens), ativo (homem insertivo, mantêm o papel de macho) – passivo (receptivo,
caracteriza-se por efeminado, pois exerce um papel sexual feminino) começou
a ser discutida pela antropologia, no referido período de manifestações popula-
res, considera. Aproveitaram-se os movimentos pela redemocratização do país
para agregar política homossexual no cenário ditatorial – democracia do Brasil.
Não poderia ter existido melhor época para as manifestações dos homos-
sexuais, pois os partidos políticos da época consideravam que os movimentos
da minoria não seriam relevantes em relação às lutas sociais e desigualdades, e
tampouco importantes para o processo político da época. Porém, com o reco-
nhecimento das lutas sociais como forma de poder do povo, e relacionando-as
ao controle das pessoas em suas vidas cotidianas, esses movimentos (da mino-
ria) ganharam força e foram considerados como categorias políticas de grande
representatividade (CARRARA ; SIMÕES, 2007).
A partir dessa fase, os homossexuais começaram a construir uma identidade
sexual concreta, conquistaram espaços próprios, iniciaram a produção de pesquisas,
passaram a ser atores sociais nas literaturas e até hoje lutam para conquista de direi-
tos. Só é possível pensar a homossexualidade porque a realidade apresentada pelas
relações capitalistas tem se confrontado com paradigmas religiosos, proporcionando
maior abertura nas discussões apresentadas nesse momento, contribuindo ainda para
a maior visibilidade “trans”, que há décadas ainda viviam sob a invisibilidade social.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Como podemos perceber, as relações de produção capitalista, no período de
colonização do Brasil, é um exemplo de como os camponeses, índios e escravos
eram explorados, tanto pela mão-de-obra barata quanto sexualmente. A classe
explorada geralmente exercia o papel de receptivos em relações com os senho-
res dos latifúndios.
Voltando à realidade contemporânea, apresentamos um último ponto inte-
ressante, que não poderia ficar à margem das reflexões até agora realizadas. A
globalização, que é um processo rápido de inter-relação sócio-econômico-cul-
tural entre países dos cinco continentes, favoreceu a expansão da cultura de
hegemonia e hierarquização de gênero, bem como a oposição entre atividade/
passividade. Como dizem os autores Carrara e Simões (2007), as relações inter-
nacionais proporcionam uma importação e exportação de culturas e paradigmas
de várias naturezas.
A cultura da sexualidade, sua prática e suas diversas formas de expressão tam-
bém são disseminadas pela globalização, visto que, com a internet, convivência
pessoal ou virtual com pessoas de variadas localidades, acesso a uma diversidade
de informações e opções de entretenimento e de desenvolvimento intelectual,
estamos mais susceptíveis a aprimorar práticas, apreender novas realidades, atri-
buir novos valores, alterar concepções, formar acepções da nossa realidade e até
mesmo planejar e caminhar por novos rumos.
O texto de Carrara e Simões (2007) cita a realidade de travestis e transe-
xuais, mediante conhecimentos importados de vários países, como carreiras
com altos salários, partirem para países da Europa para prostituição, já que o
Figura 2 - Drag queens sempre foram símbolos de militância LGBT no mundo todo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
além de comunicar o prazer entre pessoas do mesmo sexo, representam hoje cate-
gorias sociais de fácil inserção e sociabilidade. Duprat (2009), em sua reportagem
na Revista A Capa, faz um recorte apontando as diversas formas de fazer a militân-
cia, seja na internet com os blogs, sites de relacionamento como Orkut, Facebook,
Messenger ou MSN, comumente conhecidos, e o mais recente Twitter. Cabe lem-
brar que o meio eletrônico também corresponde a um espaço contraditório, quando
grupos intolerantes disseminam o ódio por meio desses veículos informativos.
Outras formas de promoção da militância consistem no enfrentamento de bar-
reiras no cotidiano das pessoas, pois “pequenas atitudes, como beijar em público
e se assumir, podem ser encaradas como militância cotidiana” (DUPRAT, 2009,
p. 34). O ativismo também ocorre por meio das expressões artísticas, como pin-
turas homoeróticas ou também chamadas de HomoGraphix criado pelo artista
Bernardo de Gregório (DUPRAT, 2009), além da militância tradicional, realizada
em ações coletivas, de atuações em ONG’s ou em organismos estatais, dentre outros.
Assim “quando falamos em liberação sexual, estamos falando de liberar
um espaço interior que luta entre a necessidade de eclodir e de ser reprimido”
(TREVISAN In: GOLIN; WEILER, 2002, p. 166). Portanto, concordando com
Trevisan, a sexualidade humana compreende um dispositivo macroestrutural, pois
engloba fatores tanto internos quanto psicológicos, comportamentais, cognitivos e
exteriores ou sociais, como culturais, econômicos, políticos e educacionais, que vão
da transmissão de papéis da família até as relações interpessoais na comunidade.
Dessa forma, é importante que o público LGBT lute pelos seus direitos, concre-
tizando a possibilidade de estabelecer a igualdade de direitos sociais e o respeito
nos espaços de sociabilidade, rompendo assim com a hegemonia heteronormativa.
ADOÇÃO HOMOPARENTAL
Adoção Homoparental
154 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 3 - A adoção é um desafio para casais homoafetivos.
ECA que se aproxima de uma ilegalidade, porém sua interpretação fica obscura
no entendimento do tema, “Art. 29 - Não se deferirá colocação em família subs-
tituta a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a natureza
da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado”.
A orientação sexual ou identidade de gênero jamais poderiam ser utilizadas
como justificativa para obstruir ou indeferir qualquer processo que envolva a adoção
de crianças e adolescentes. Sobre a união civil entre casais homoafetivos, em maio
de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconhece a união civil entre pessoas
do mesmo sexo, ampliando a conquista de direitos e deixando nítida a importância
da luta LGBTI para o avanço da dignidade entre essas pessoas nos seus contextos
de sociabilidades. Confira trechos da decisão publicada na época no portal do STF:
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgarem a Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e a Arguição de Descum-
primento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, reconheceram a união
estável para casais do mesmo sexo. As ações foram ajuizadas na Corte,
respectivamente, pela Procuradoria-Geral da República e pelo gover-
nador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
O julgamento começou na tarde de ontem (4), quando o relator das
ações, ministro Ayres Britto, votou no sentido de dar interpretação
conforme a Constituição Federal para excluir qualquer significado do
artigo 1.723 do Código Civil que impeça o reconhecimento da união
entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar.
O ministro Ayres Britto argumentou que o artigo 3º, inciso IV, da CF
veda qualquer discriminação em virtude de sexo, raça, cor e que, nesse
sentido, ninguém pode ser diminuído ou discriminado em função de
sua preferência sexual. “O sexo das pessoas, salvo disposição contrá-
ria, não se presta para desigualação jurídica”, observou o ministro, para
concluir que qualquer depreciação da união estável homoafetiva colide,
Adoção Homoparental
156 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dos de diversas entidades, admitidas como amici curiae (amigos da Corte).
Ações
A ADI 4277 foi protocolada na Corte inicialmente como ADPF 178. A
ação buscou a declaração de reconhecimento da união entre pessoas do
mesmo sexo como entidade familiar. Pediu, também, que os mesmos
direitos e deveres dos companheiros nas uniões estáveis fossem esten-
didos aos companheiros nas uniões entre pessoas do mesmo sexo.
Já na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF)
132, o governo do Estado do Rio de Janeiro (RJ) alegou que o não re-
conhecimento da união homoafetiva contraria preceitos fundamentais
como igualdade, liberdade (da qual decorre a autonomia da vontade)
e o princípio da dignidade da pessoa humana, todos da Constituição
Federal. Com esse argumento, pediu que o STF aplicasse o regime ju-
rídico das uniões estáveis, previsto no artigo 1.723 do Código Civil, às
uniões homoafetivas de funcionários públicos civis do Rio de Janeiro
(Migalhas, 2011, on-line)9.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
No Brasil, existiam casos de deferimento da adoção através do direito com-
parado (analogia), que mostra a nova realidade social do país, as novas exigências
e as novas constituições de famílias que estão se estabelecendo na sociedade.
Somente em março de 2015 o Supremo Tribunal Federal (STF) reconhe-
ceu o direito de casais homoafetivos à adoção de crianças e adolescentes, sem
qualquer distinção. A decisão foi feita pela Ministra Carmen Lúcia, atual presi-
dente do STF. Veja alguns trechos da decisão histórica, registradas no portal do
Instituto Brasileiro de Direito de Família (2015, on-line)10:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
“Assim interpretando por forma não-reducionista o conceito de família,
penso que este STF fará o que lhe compete: manter a Constituição na
posse do seu fundamental atributo da coerência, pois o conceito con-
trário implicaria forçar o nosso Magno Texto a incorrer, ele mesmo, em
discurso indisfarçavelmente preconceituoso ou homofóbico. Quando o
certo - data vênia de opinião divergente - é extrair do sistema de coman-
dos da Constituição os encadeados juízos que precedentemente verba-
lizamos, agora arrematados com a proposição de que a isonomia entre
casais heteroafetivos e pares homoafetivos somente ganha plenitude de
sentido se desembocar no igual direito subjetivo à formação de uma
autonomizada família. Entendida esta, no âmbito das duas tipologias de
sujeitos jurídicos, como um núcleo doméstico independente de qual-
quer outro e constituído, em regra, com as mesmas notas factuais da
visibilidade, continuidade e durabilidade’’ (IBDFAM, 2015, on-line)10.
Obviamente que, até o tempo presente, a adoção por casais homoafetivos ainda é
condenada e discriminada por cidadãos com posicionamentos e ações conserva-
doras. As posições possuem embasamento unicamente pautado no texto bíblico.
Não há análise para refletir a terrível cultura do abandono no Brasil e a realidade
perversa de crianças e adolescentes em Acolhimentos Institucionais, pois muitos
serviços como esses ainda revitimizam esses jovens do que realmente os protegem.
O Serviço de Acolhimento para Crianças e Adolescentes Brasileiro está
muito aquém de oferecer acolhimento digno e humano para esse público. O
preconceito é excedente, baseado em mitos como o de que filho adotivo de gay
se tornaria gay também, outros falam que a homossexualidade é uma anomalia
genética e que família é apenas a constituição de homem, mulher e filhos. Não
há uma abertura para a compreensão dos novos arranjos familiares atualmente
postos na sociedade.
Redesignação de gênero:
Chamamos de identidade de gênero a forma como a pessoa se identifica
como homem ou mulher, ou seja, uma auto-imagem. Por vezes, há incom-
patibilidade entre a forma que me vejo e penso, e as características físicas
determinados ao nascimento. Esta incongruência recebe o nome de distúr-
bio de identidade de gênero. Tal condição traz a pessoa sérios problemas
psicológicos.
Logo, é necessário entender a diferença entre identidade de gênero (“como
a pessoa se vê”), sexualidade (“por quem a pessoa se sente atraída”) e ana-
tomia biológica (“genitália”), já que são características totalmente indepen-
dentes. No caso de “redesignificação de gênero” a pessoa vai adaptar seu
corpo à sua auto-imagem, seja de homem ou mulher. Para tanto, o processo
vai desde tratamento hormonal e acompanhamento psicológico até pro-
cedimentos cirúrgicos e estéticos.
Fonte: adaptado de Manica ([2017], on-line)11.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, foi possível concluir que gênero é um conceito construído coleti-
vamente. O gênero é o sexo socialmente e historicamente construído. Por meio
de um contexto determinado, se constrói no imaginário das pessoas o que é ser
homem e o que é ser mulher, e essa construção social é perpassada por uma ide-
ologia. Há um poder ideológico para manutenção da hierarquia heteronormativa
masculina para reproduzir preconceitos/discriminações contra as mulheres e
contra os LGBTIs, como se esses fossem inferiores e devessem ser subordina-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dos aos homens.
Gênero é um elemento constitutivo de relações sociais, baseadas nas dife-
renças entre os sexos, e é uma forma primária de dar significado às relações
de poder. Assim, lutamos por liberdade e igualdade de gênero, e não por uma
liberdade burguesa de direito de consumo, de ir às praias, à baladas LGBTIs, de
comprar produtos, mas para além do consumo, o direito de ser cidadão, de ser
considerado um sujeito de direitos.
A emancipação da mulher e dos LGBTIs só será possível quando estes tive-
rem todos seus direitos respeitados - direito político, de ser cidadão. Porém, não
se trata apenas de direitos sociais, mas também ter acesso a equipamentos sociais
de qualidade, tais como: saúde, educação, creche, moradia, entre outros, e não
por meio de políticas públicas que reforçam ainda mais a questão da subordina-
ção da mulher, como no caso do programa bolsa família, entre outros.
Precisamos de políticas públicas para toda a população que trabalhe com
valores e com preconceitos, a fim de se posicionar contra o machismo e a homo-
fobia, além de combater e prevenir a violência, a discriminação e o preconceito.
É importante também criar políticas públicas que atendam à questão de gênero
em sua totalidade, indo além de medidas paliativas. Por isso, mais do que legisla-
ções e políticas públicas para igualdade de gênero, lutamos por um rompimento
de paradigmas, pela construção de novas relações e valores, baseadas na igual-
dade e na liberdade de gênero.
1. Segundo Joan Scott (1995), gênero é um elemento constitutivo das relações so-
ciais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, que fornece um
meio de decodificar o significado e de compreender as complexas conexões en-
tre as várias formas de interação humana. De acordo com a citação da autora,
estamos pensando em qual categoria?
a. Orientação Sexual.
b. Ideologia de Gênero.
c. Relações de Gênero.
d. Violência de Gênero.
e. Homo-lesbo-transfobia.
Muitas são as teorias e os estudos sobre os cia se instala já na infância; nos demais, ela
transexuais para identificar o transtorno se desenvolve na adolescência e na vida
que eles possivelmente sofrem. A teoria adulta. Quanto mais tardia for a transi-
neurológica mais aceita pelos médicos é ção para o novo sexo, mais dolorosa será.
a holandesa. Ao estudarem o hipotálamo, ” Os transexuais podem ser divididos em
região do cérebro responsável pelo desen- dois grupos: aqueles que nasceram com o
volvimento dos hormônios sexuais, em fenótipo masculino, porém tem a identi-
cadáveres, os holandeses verificaram que dade de gênero feminina (MTF – sigla em
a região da chamada “estria terminal” é 44% inglês que significa Male to Female), sendo
maior nos homens em relação às mulhe- melhor identificados como femininos e
res, e ao medirem em seis transexuais a não afeminados; e aqueles que nasceram
mesma região, verificaram ser 52% menor mulheres, mas se identificam como homens
do que a média masculina, sendo, portanto, (FTM – sigla em inglês Female to Male) e
mais próxima do tamanho encontrado nas não são masculinizados, mas masculinos.
mulheres. Outros estudos afirmam que os A doutrina apresenta duas modalidades.
transexuais possuem um quociente intelec- A primeira conhecida como o transexual
tual (QI) um pouco acima da média, entre verdadeiro, ou primário, é aquela dos indi-
106 e 118. Também há hipóteses de que, víduos que apresentam, desde a formação
entre os últimos dias de vida fetal ou nas de sua identidade, rejeição ao corpo bioló-
primeiras semanas de vida, o indivíduo gico e a convicção de pertencerem ao sexo
sofre uma impregnação hormonal no hipo- oposto. Ou seja, precocemente já manifes-
tálamo, pelo hormônio contrário ao de seu tam vontade inequívoca de modificação
sexo biológico. Algumas experiências iden- de sexo. São eles que buscam a cirurgia
tificaram uma alteração nos cromossomos como único meio de adequação, e é para
das células dos transexuais, outras identi- eles que se entende que a cirurgia deve ser
ficaram independência total entre o sexo autorizada. O segundo grupo é conhecido
psicológico – ligado a um processo com- como transexual secundário, tratando-se
plexo que se forma desde o nascimento e daqueles que oscilam entre o travestismo
depende de influência, primeiramente, da e homossexualidade, manifestando a von-
mãe e, depois, do pai – e o sexo biológico, tade de pertencer ao sexo oposto, porém
que depende de cromossomos. O médico não tendo rejeição de seu próprio corpo,
Drauzio Varella traz a seguinte afirmação: como no caso do transexual verdadeiro.
“Em 66% dos transexuais, a incongruên- Entende-se, neste caso, não ser recomen-
166
A Garota Dinamarquesa
Tom hooper - Universal Pictures (2016)
Material Complementar
168
REFERÊNCIAS
Referências On-Line
Em: <http://www.dicio.com.br/genero/> Acesso em: 24 abr 2017.
1
2
Em: <http://diplomatique.org.br/avancamos-e-levamos-porrada-ao-mesmo-tem-
po/> Acesso em: 18 abr 2014
171
REFERÊNCIAS
3
Em: <http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=arti-
cle&id=19873> Acesso em: 27 abr. 2017.
4
Em: <http://www.ufmt.br/ufmt/site/noticia/visualizar/18132/JulioMuller>. Acesso
em: 27 abr. 2017.
5
Em: <http://www.aids.gov.br/publicacao/2008/plano-de-enfrentamento-da-epi-
demia-de-aids-e-das-dst-entre-gays-hsh-e-travestis>. Acesso em: 27 abr. 2017.
Em: <http://www.arco-iris.org.br/wp-content/uploads/2010/07/planolgbt.pdf>.
6
sal+gay++adotar+sem+restri%C3%A7%C3%B5es+de+idade+e+sexo>. Acesso
em: 27 abr. 2017.
11
Em: <https://www.drmatheusmanica.com.br/crs>. Acesso em: 20 abr. 2017.
Em: <http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/tra-
12
1. B
2. C
3. C
4. A
5. D
Professor Dr. Silvio Ruiz Paradiso
ÉTICA, TECNOLOGIA
IV
UNIDADE
E MEIO AMBIENTE
Objetivos de Aprendizagem
■ Compreender o contexto e conceito do termo Violência em nossa
sociedade.
■ Relacionar a violência com o conceito de poder hegemônico.
■ Diferenciar os tipos de violência, em especial, o físico do simbólico.
■ Estudar e refletir sobre variadas manifestações da violência na
sociedade.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Ética e Moral
■ Ética, moral e o perfil do assistente social
■ Ética, tecnologia e sociedade
■ Redes socias
■ Cyberbullying
■ Ética, Meio-ambiente e sociedade
175
INTRODUÇÃO
Introdução
176 UNIDADE IV
ÉTICA E MORAL
O Assistente Social deve ter muita clareza nos conceitos sobre ética e moral e, princi-
palmente, em seu papel com esses termos e, consequentemente, no resultado positivo
da responsabilidade social. O tema é ainda mais importante na atualidade, visto que
as mudanças na sociedade tem acontecido de forma acelerada, gerando fenôme-
nos ambíguos e polêmicos na vida social. Como apresenta Carvalho (2011, p. 240):
A ética faz parte da natureza do Serviço Social”. A ética no Serviço So-
cial deve ser observada no âmbito da responsabilidade social. Mas o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que é “ética”? É a mesma coisa que “moral”? Ética e moral tem haver
com questões como “devo ou não devo?”, “isto é certo ou errado”, “isto
é contra minhas crenças pessoais?.
Em suma, a princípio, todas as condutas são morais pois são ações humanas e
comportamentos. Nesse caso, entende-se moral enquanto ação do sujeito que
vive em sociedade. A Ética é, por sua vez, a ciência da moral: é ela quem pensa,
analisa e valida ou não um ato moral. Assim, um ato pode ser não ético, mas
ação realizada. A moral tem caráter prescritivo e normativo, assim como as leis,
que são normativas mas nem sempre éticas.
Cela especial para quem tem curso superior, por exemplo - é lei, norma e
moral, mas não ético. Diferenciar pessoas de conduta criminosa a partir de seu
grau de instrução, privilegiando-a, fere princípios, e por isso fere a ética. Ganhar
salário pelo seu trabalho é lei e é moral, mas o valor nem sempre é ético. A con-
duta ética é um comportamento que deve se valer da relação com o outro, ou
seja, nunca unilateral.
Ética e Moral
178 UNIDADE IV
Cortina (2005) revela que Aristóteles compreendia a ética como uma esco-
lha, que visava o viver bem com e para os outros, criando relações justas. E
Platão entendia ética por este viés, da virtude justa. Além desses, outros pensa-
dores observavam a ética como uma escolha, baseada na razão (reflexão). Logo,
a ética seria uma reflexão sobre a moral, sendo esta explicada e fundamentada
de forma racional. É como se a Ética explicasse a Moral, dando-lhe, em deter-
minado contexto, validade ou não, e aí entra a questão de ser ético para ter uma
responsabilidade social.
Na construção das liberdades e garantias, a ordem moral transfor-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ma-se em ética e tem um significado não de prescrição de compor-
tamentos, mas de reflexão sobre os mesmos. A ética não impõe nor-
mas, mas questiona o que acontece, é uma análise da atitude face ao
ocorrido (factos). Por isso, a ética descreve, propõe, reflecte, a par-
tir de condições determinadas, os melhores princípios a seguir [...].
Pressupõe uma reflexão sobre a moral e as razões justificativas dessas
normas, regras, princípios e direitos em determinada realidade social
(CARVALHO, 2011, p. 240).
Por isso, nas palavras de Besson e Guay (2000, p. 49), a ética interessa saber
“o que é o melhor em determinada situação, quais os melhores princípios, o
melhor objectivo a seguir”. Dessa forma, algumas profissões possuem códigos
de ética, que visam justamente apresentar os princípios e nortear o compro-
misso com os usuários, com base na liberdade, democracia, cidadania, justiça
e igualdade social. Ou seja, independente da moral do profissional de Serviço
Social, há uma conduta esperada, visando a responsabilidade social.
A ética no Serviço Social deve ser encarada como suporte a uma ontolo-
gia do ser social, levando em conta o contexto da época (moral). Em 1986,
o código de ética do Serviço Social deu um salto em relação aos anteriores,
na questão de desvincular da profissão a moral religiosa e tradicionalista.
Esta mudança nasce em 1979 com o III Congresso Brasileiro de Assistentes
Sociais, trazendo uma nova perspectiva de conscientização profissional, des-
vinculando-se da moral e focando-se na Ética.
Nesta unidade, quero que possamos refletir sobre o papel da ética em nossas esco-
lhas, nossos (pré)conceitos, na nossa moral e na realidade social tão subjetiva
em que vivemos. Entendamos que o código de ética visa sugerir um comporta-
mento homogêneo entre os profissionais, independentemente de suas crenças,
experiências e valores familiares e culturais.
Ética e Moral
180 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O julgamento em relação a moral é definido por questões pessoais, pois até
mesmo um comportamento ou costume de um grupo pode ser questionado. Ou
seja, ninguém nasce moral ou imoral, pois o caráter de quem é ou não, bem como
os parâmetros de julgamento são culturais e, por vezes, simbólicos.
Podemos romper padrões morais sem necessariamente deixar de sermos éti-
cos. Roubar é algo imoral em nossa sociedade. Imagina a seguinte situação: uma
pessoa rouba um remédio para salvar a vida da avó, e outro, que vive em condições
de miséria, rouba um litro de leite no mercado para saciar a fome do filho. Ambos
quebraram uma regra da sociedade vigente em que vivem, mas os fatos podem ser
justificados eticamente? É ético deixar o filho padecer de fome e/ou a avó morrer?
Por essa razão, a Ética é “racional’’ e reflexiva, além de demandar um debate
coletivo, levando em consideração princípios maiores que qualquer valor moral
subjetivo. Logo, os “códigos de ética” das profissões fazem esse papel, de “suge-
rir” e apresentar os princípios que criam uma cultura ética e, consequentemente,
uma responsabilidade social.
No código de Ética do Serviço Social, temos uma série de fundamentos que
visam essa “cultura ética” do assistente social. Vejamos quatro princípios, que se
encontram na primeira parte do código Princípios Fundamentais:
I. Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das deman-
das políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expan-
são dos indivíduos sociais;
[...]
VI. Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incen-
tivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente
discriminados e à discussão das diferenças;
Reparem que esses princípios vão de encontro com os valores morais de cada um,
ou seja, o código deixa implícito que, independentemente de convicção teórica,
preconceitos raciais, sexuais, religiosos e visão pessoal em relação ao que a pes-
soa deve ou não escolher, o assistente social precisa ser ético, não discriminar o
próximo, não ser preconceituoso, não defender o machismo, xenofobia, homo-
fobia ou o racismo, reconhecendo a liberdade individual e escolhas dos cidadãos.
É seguindo esse código que se propõe a responsabilidade social. E, se o
código tem estes princípios como premissas, é porque algo não ia (ou não vai)
bem na profissão nesse âmbito, do choque entre moral e ética. Segundo Simões
(2005), um dos elementos que mais interferem nas decisões e escolhas do assis-
tente social, trazendo consequências para a profissão, são os valores religiosos:
[os valores religiosos] são fortes motivadores para o ingresso na pro-
fissão, sejam eles de base católica ou evangélica/protestante. A idéia de
fazer o bem, de ajuda ao próximo, da busca da justiça social, o ideal do
“bom samaritano”, são elementos repetidamente trazidos por aqueles
que escolhem o serviço social. [...] Curiosamente, a formação profis-
sional em serviço social é bastante avessa às justificativas religiosas e ao
ideário de ajuda social do qual seus alunos são portadores ao ingres-
sarem nos cursos. Em contraposição a estas idéias, os cursos oferecem
uma formação extremamente politizada a seus alunos e, principalmen-
te nas universidades públicas, a formação tem uma ampla base marxis-
ta e socialista (SIMÕES, 2007, p. 175).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que são responsáveis pelas transformações e mudanças do mundo em
que vivemos. No entanto, essas transformações só serão possíveis en-
quanto atos coletivos. Para o autor, a religião atua na contramão da
conscientização da sociedade, isto porque ela idealiza uma sociedade
perfeita em outro mundo, fora deste. No paraíso. Neste pensamento
a religião é entendida como um mecanismo que barra a tomada de
consciência humana frente a real situação social. Assim, a preocupa-
ção dos homens ocupa-se de pensar no outro mundo, em que tudo
será perfeito e completo. O resultado disto é que as situações sociais
deste mundo, ou seja, a luta de classes que gera opressão e exploração,
são encaradas como processos naturais, e/ou como culta por erros
(pecados) de forma culpabilizadora e individualista. Ou seja, os acon-
tecimentos não são entendidos como resultado de um dado processo
histórico e social (DUTRA, 2015, p. 4).
Figura 2 - A religião pode e deve ser uma aliada à justiça social, nunca o inverso.
pessoa na cabeça, os problemas vêm todos de uma vez, você não sabe
como pode ter acumulado na vida de uma pessoa tantos problemas,
que e você fala “por onde começo?”. Eu tenho muita alegria de ter mi-
nha vida com Deus, com minha família, eu convivo com esta realidade,
mas o meu desejo é de fazer algo mais, mas enquanto eu não posso ter
uma igreja do lado do [...] eu vou tentar fazer o meu melhor [...] (AS4).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mais fácil, mais fácil entre aspas porque mais pra frente vai ter conse-
quências[...] (AS1) (DUTRA, 2015, p. 8).
Ainda que não tão investigado, o assunto é recorrente nas discussões univer-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Por mais absurdo que são esses exemplos, eles são reais (SILVA, 2017) e demons-
tram o antagonismo dito anteriormente – se o Serviço Social tem como premissa
a busca de direitos, equidade social e justiça, esse comportamento é incompa-
tível com a profissão:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a dia, na mídia e nas redes sociais, a ética é um fenômeno em jogo, principal-
mente na sociedade da comunicação.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ram na surface web, ou seja, no espaço virtual que acessamos diariamente.
Os limites da impressão 3D: As impressoras 3D já estão no mercado para
o público comum e podem fazer quase tudo, desde objetos simples, demo-
cratizando a manufatura de pequenos empresários, até
próteses médicas, como uma perna ou parte da face.
Contudo, não é só para atividades honrosas que o
uso da tecnologia de impressão 3D avança: há tam-
bém o uso dessas máquinas para a confecção de
bombas e armas. A popularização dessas impres-
soras, que podem ser adquiridas, em opções mais
simples, até por menos de 500 dólares, tem levan-
tado o questionamento da proliferação de armas
Figura 4 - Mandíbula feita em
para defesa pessoal, pondo em discussão a política de impressora 3D
REDES SOCIAIS
Redes Sociais
190 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
é a mais popular entre os internautas. [...] Já no Brasil, conforme afe-
rição realizada no mês de março de 2013, o número de usuários que
possuíam um perfil nessa ferramenta chegou aos 73 milhões, número
elevado ao se considerar que, no país, existem 94 milhões de pessoas
com acesso à internet, isto é, pessoas que dispõem de meios de aces-
so domiciliar à web, ainda que eventualmente não tenham feito uso
(MARTORELL, NASCIMENTO,GARRAFA, 2016, p. 14).
A criação de perfil público ou semipúblico faz da rede social uma micro socie-
dade, porém diferente da macro sociedade, visto que ainda não tem regras e,
consequentemente, um código de ética próprio.
Mesmo assim, essa microssociedade chamada “mundo virtual”, em ter-
mos jurídicos, nos últimos anos começou a receber os primeiros “problemas”
e, consequentemente, um debate sobre “regras” e normas “éticas de conduta”
(MENDES, 2011, on-line)4.
A relação entre quem você é (curte, compartilha e escreve) nas redes sociais,
podem definir sua identidade como sujeito na vida “real”. Tanto, que nos dias atuais,
mais de 70% das empresas já consultam Redes Sociais, antes e/ou durante o processo
de contratação (MENDES, 2011, on-line)4. No Twitter, sabe-se a opinião pessoal do
candidato sobre vários temas, no Facebook, suas crenças pessoais e estilo de vida e
no Linkedin, toda sua trajetória profissional. O fato é que essa “checagem” também
deve ser questionada no âmbito da ética, pois isso não seria invasão de privacidade?
Por outro lado, uma pessoa que compartilha conteúdos de violência animal,
racismo, homofobia e pensamentos machistas não é responsável por esta imagem
que cria? (GOMES; CHERER; LÖBLER, 2012). Tanto os prós e contras dessa
abordagem sugerem que a ética é observada, tanto direta, quanto indiretamente.
Redes Sociais
192 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Drauzio Varella foi a público desmentir o boato que ligava mamografia ao cân-
cer de tireoide. O hoax causou até a necessidade do instituto Oncoguia publicar
uma nota, afirmando que não há relação entre o exame e a doença. Varella foi
usado como “fonte” no boato, mas nunca havia dito tal informação (COSTA,
2016, on-line)6.
A foto do serralheiro Carlos Luiz Batista, de 39 anos, viralizou na inter-
net e em grupos de redes sociais. Nas mensagens, a foto dele era identificada
como o de um condutor de um carro preto, estuprador e sequestrador de crian-
ças (EXTRA, 2016, on-line)7. Sem nenhuma fonte ou checagem, a notícia se
espalhou e fez com que Batista não pudesse mais sair de casa. Assustado, teve
que registrar queixa na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática
(DRCI) e aguardar o processo. O fato é que, mesmo apagando todas as men-
sagens e punindo os criadores do boato, a imagem de Carlos Batista nunca
mais será a mesma.
Todavia, o caso de maior repercussão foi a da morte de Fabiane Maria de
Jesus, linchada e morta após ser vítima de boatos, que diziam que ela sequestrava
crianças para fazer magia negra. O caso de Fabiane foi emblemático, visto que
primeiro criaram um hoax, de que estavam sequestrando crianças para rituais
de magia negra no litoral, em Guarujá. Depois, junto das mensagens, coloca-
ram aleatoriamente um retrato falado de uma mulher, dizendo que ela seria a
sequestradora.
Redes Sociais
194 UNIDADE IV
CYBERBULLYING
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
os estudos sobre ciberespaço. O livro mostra que o ciberespaço não é um local
físico ou um território delimitado, mas sim uma rede que mantêm as informa-
ções mais acessíveis.
O ciberespaço, na concepção de Rabaça e Barbosa (2001), é um universo
virtual que contêm informações que circulam e são armazenadas em todos os
computadores ligados em rede, um local onde as pessoas se comunicam por meio
de computadores interligados à internet, ou seja, um lugar real, mas não físico.
Já a cibercultura é a cultura que surgiu a partir do uso da rede de compu-
tadores, isto é, se todo espaço produz cultura, o espaço virtual (ciberespaço)
também. O autor Pierre Lévy, em seu livro Cibercultura (1999), expressa que
ela se constrói sobre a indeterminação de um sentido global qualquer. O refe-
rido autor ainda afirma que cibercultura é o “conjunto de técnicas (materiais e
intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento, que se desen-
volvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”.
Barwinski (2010, on-line)9 concorda com Lévy (1999), quanto cita que a
“cibercultura é entendida como um conjunto de espaços, atitudes, rituais e cos-
tumes que as pessoas desenvolvem quando entram em contato com a tecnologia”.
Em síntese, a cibercultura é construída a partir do conhecimento comum e teórico,
por meio de culturas aplicadas/inseridas na tecnologia existente no ciberespaço.
Após conceituar os termos ciberespaço e cibercultura, torna-se mais fácil enten-
der o que é cyberbullying, ou seja, violência ocorrida no ciberespaço. Esse ato
violento não ocorre fisicamente, mas sim virtualmente.
Segundo Maidel (2009, p. 14), “cyberbullying é um tema relativamente novo
na literatura e envolve o uso das tecnologias digitais por crianças e adolescentes
Cyberbullying
196 UNIDADE IV
De acordo com Hinduja e Patchin (2009 apud, WENDT; LISBOA, 2014) cyber-
bullying é um processo no qual alguém executa, proativa e repetidamente, atitudes
como piadas acerca de uma pessoa em contextos virtuais, ou quando um indi-
víduo “assedia” alguém através de e-mails ou mensagens de texto, ou ainda por
meio de postagem de tópicos sobre assuntos que a vítima não aprecia. A nova
era, chamada era digital, trouxe novas soluções, contudo, também novos pro-
blemas acerca de vários aspectos, inclusive sobre o comportamento humano.
Neste sentido, o cyberbullying é mais frequente entre crianças e adolescentes, pois
esse grupo de pessoas não possui condições claras de distinguir o que pode ser
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
aproveitado e o que deve ser descartado no uso das novas tecnologias. Contudo,
cresce o número de vítimas e agressores entre adultos.
O site SaferNet Brasil foi criado para oferecer recursos a educadores que
queiram promover o uso ético e consciente da Internet de forma transversal
em suas atividades curriculares e extracurriculares. O melhor do site são as
orientações sobre diversas situações de conflito entre internet e ética como
o Sexting (uso da Internet para expressão da sexualidade na adolescência),
o cyberbullying (bullying virtual), crimes virtuais etc. O site está disponível no
link: <http://new.netica.org.br/educadores/orientacoes/orientacoes>
Fonte: o autor.
O que meio ambiente tem a ver com justiça social? Bem, devemos nos ater, pri-
meiramente, a nossa Constituição, que diz:
Todos têm direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impon-
do-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preser-
vá-lo para as presentes e futuras gerações. Art. 225 da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988 (BRASIL, 2002, p. 136).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
De lá para cá, a ilusão de que um país pode crescer sem afetar a natureza
ou certos grupos sociais, só ratificou as palavras de Marx (1968, p. 71), que “[...]
na lógica do capital, não há crescimento sem a exploração da natureza, do tra-
balhador e também não há aumento do capital sem aumento da pobreza e da
vulnerabilidade social.” Ou há crescimento econômico, ou há exploração da
natureza. Em último caso, não há nada ou há apenas pobreza: “A natureza for-
nece os meios de produção, mas o produto não pertence ao trabalhador e sim à
propriedade privada, resultado do trabalho exteriorizado da relação externa do
trabalhador com a natureza”(MOREIRA, 2013, p. 20).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Da extração de minérios até o fomento à pecuária, qualquer atividade que
vise o crescimento econômico de um país terá consequências diretas na natureza.
Nesse sentido, Moreira (2013, p. 24) reafirma o papel do Serviço Social com a
ética no meio-ambiente, pois crê que o
assistente Social tem como responsabilidade dentre outras, executar
trabalhos no sentido de ampliar a responsabilidade ambiental e ecoló-
gica da sociedade através de uma educação sustentável, ou seja, educa-
ção ambiental junto à comunidade local.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cias indeléveis a longo prazo, causadas pela natureza.
[...] maior concentração de riqueza, aumento da pobreza, degradação
do meio ambiente, utiliza forma predatória de recursos naturais, pre-
mia a dimensão material da vida fortalecendo o individualismo e ali-
mentando a visão de curto prazo. Cria, no limite, um cenário favorável
para que cada cidadão não se preocupe com as futuras gerações (AMA-
RAL; COSAC, 2009, p. 88-89).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
202
1. Um motorista de ônibus dialogava com uma mulher sobre uma notícia que saíra
no jornal naquela manhã: “Eu não acho que bandido deveria viver, se o ladrão
se feriu no assalto, deveria ficar lá. Não há por que da polícia acionar uma am-
bulância”.
Essa ideia do homem está intimamente ligada a uma questão moral e ética. So-
bre isso, leia as assertivas, e em seguida, assinale a alternativa correta:
I. Achar que todo bandido deve morrer é um princípio ético do motorista do
ônibus.
II. Salvar a vida de alguém, independentemente de ser um criminoso ou não, é
um princípio ético.
III. Ficar indignado por um criminoso estar vivo é fruto de uma moral pessoal.
IV. Se os policiais que atenderam o criminoso tivessem a mesma moral do moto-
rista do ônibus, os criminosos não seriam salvos.
Estão corretos:
a. Somente II, III e IV;
b. Somente I, II e IV;
c. Somente II e IV;
d. Somente I, II e III;
e. Somente I.
atuante em que suas atitudes devem ser diria alguém:. eu posso, mas não devo.
encontradas no seu âmago. Construir edi- As leis devem ser criadas para elevar o
fícios, abrir estradas, montar indústrias pensamento a reflexão: eu posso derru-
químicas etc., são necessidades para a bar esse baobá, mas em que isso vai me
contemporaneidade. Como tudo isso vai fazer mais feliz? A ética na preservação do
ocorrer depende de cada profissional. Mas meio ambiente pode reduzir o número
antes de tudo deve-se considerar os impac- de árvores derrubadas quando consta-
tos no seio da sociedade não só no que tar que o comportamento do homem
concerne a aquecimento global ou outras além de imoral não o beneficia em nada
coisas desastrosas, como também, na enquanto sentimento de bem.
mudança de comportamento do homem,
na sua felicidade, no seu bem-estar. Não é a criação a peça principal do artista,
mas o seu processo criatório. Da mesma
A ética acredita que a preservação do forma não são os deveres que fazem do
meio ambiente será possível quando o homem sábio, mas seu processo cons-
homem voltar-se ao estudo do compor- trutivo de tal saber. A construção do
tamento dos seus antepassados e ao seu pensamento humano baseado em prin-
comportamento atual, ou seja, o dever cípios e valores morais estabelecem um
nem sempre é o melhor. Os homens anti- cuidado e zelo com as coisas ao seu redor,
gamente viviam em paz com a natureza, pois tal homem preocupa-se na procura
porque aprenderam a respeitá-la não por do seu bem, logo conservará os atribu-
dever, mas por amor. O amor ora refe- tos desse bem. Se os homens aprenderem
rido é aquilo que faz do homem um ser desde a infância a amar os animais não
reflexivo diante das suas ações, dos seus será na idade adulta tomados pelas caças
deveres e comportamento. Não adianta ilegais, pois sabem que os animais são
praticar o bem pensando no retorno. constituem esses atributos. A felicidade
Não adianta conservar uma árvore não está em plantar uma rosa, mas em
pensando que ela dará bons frutos. É como regá-la mesmo nas manhãs em que
preciso saber plantar sementes tantas ela não necessitar. O bem consiste na divi-
vezes sejam necessárias em terra árida e são ímpar para a rosa e para quem dela
seca, mas com o amor e felicidade, sem cuida, eis porque a ética estuda o com-
esperar retorno. O meio ambiente não portamento e o fundamento das leis.
precisa de leis que não se preocupem
com o comportamento humano, como Fonte: Trajano (2010,on-line)10.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Ética e Moral
Leonardo Boff (2003)
Editora: Vozes
Sinopse: contra a apatia dominante acerca do que é bom ou mau, certo
ou errado tem termos éticos e morais, Leonardo Boff apresenta reflexões
que visam criar clareza e motivações para um comportamento ético e
moral responsável e à altura dos desafios contemporâneos.
Referências On-Line
Em: <http://www.cress-mg.org.br/coletanea/Home/Lei/31>. Acesso em: 28 abr. 2017
1
2
Em: <https://www.youtube.com/watch?v=zbijJcvceg4>. Acesso em: 28 abr. 2017.
3
Em: <https://conexaociencia.wordpress.com/2011/06/20/projeto-questiona-in-
fluencia-da-religiao-no-trabalho-de-assistentes-sociais/>. Acesso em: 28 abr. 2017.
4
Em: <http://www.saladacorporativa.com.br/2011/11/conflitos-da-etica-e-privaci-
dade-em-redes-sociais-2/>. Acesso em: 28 abr. 2017.
5
Em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,unimed-demite-medico-que-
-fez-comentarios-sobre-marisa-leticia,70001652748>. Acesso em: 28 abr. 2017.
6
Em: <http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2016/10/e-um-desservico-mulheres-
-drauzio-varella-desmente-boato-que-liga-mamografia-cancer-de-tireoide.html>.
Acesso em: 28 abr. 2017.
7
Em: <http://extra.globo.com/casos-de-policia/vitima-de-boato-em-redes-sociais-
-homem-tem-medo-de-sair-de-casa-rv1-1-20227314.html>. Acesso em: 24 abr. 2017.
8
Em: <http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/05/mulher-morta-apos-
-boato-em-rede-social-e-enterrada-nao-vou-aguentar.html>. Acesso em: 28 abr.
2017.
Em: <https://www.tecmundo.com.br/internet/4232-o-que-e-cibercultura-.htm>.
9
abr. 2017.
209
GABARITO
1. A
2. C
3. E
4. C
5. Você deve refletir sobre o comportamento dele em relação às escolhas da profis-
são e crenças pessoais.
Professor Dr. Silvio Ruiz Paradiso
V
CIDADANIA, GLOBALIZAÇÃO,
UNIDADE
DEMOCRACIA E POLÍTICA
INTERNACIONAL
Objetivos de Aprendizagem
■ Discutir a origem, o desenvolvimento e a posição das políticas sociais
brasileiras no tempo presente.
■ Refletir a importância da participação popular e do controle social no
cenário brasileiro.
■ Analisar a importância do Serviço Social nos espaços de participação
e controle de políticas públicas.
■ Pensar sobre o atual percurso das relações humanas a partir de uma
perspectiva global.
■ Compreender a relação dos fenômenos de violações de direitos
humanos pelo mundo no cenário brasileiro.
■ Refletir sobre a perspectiva dos tempos líquidos nas relações
humanas.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Democracia e cidadania sob o viés das políticas públicas
■ Sobre as políticas sociais
■ As políticas sociais brasileiras pós 1988
■ Participação popular e controle social: princípios fundamentais para a
efetivação da cidadania e da democracia
■ Globalização, política internacional e os seus rebatimentos nas
relações humanas.
213
INTRODUÇÃO
Introdução
214 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
aceitabilidade das diferenças, de solidariedade, mútuo respeito, e, ainda, de con-
sideração para com o ambiente e para com a natureza (BUENO, 2011).
Sobre a categoria democracia, o dicionário práxis de sociologia, da
Universidade Federal de Santa Catarina, a conceitua como um regime político,
ou seja, uma maneira de organizar as relações de poder no seio de um grupo
social soberano. O princípio fundador da democracia é a afirmação de que toda
a relação de poder entre societários e cidadãos se enraíza naqueles que obedecem
e não naqueles que mandam, quer o façam em seu nome próprio ou em nome
de um princípio transcendente, como Deus, a nação, história, classe ou raça.
Cada um é senhor de si, podendo ou não obedecer aos outros. Cada qual
só obedece se julgar vantajoso fazê-lo. A democracia é, por tal fato, uma socie-
dade de responsabilidade limitada, em que cada um entra para atingir certos
fins. Esses fins são de duas ordens: uns são próprios dos indivíduos ou dos gru-
pos intermédios (famílias, empresas, clubes e Igrejas), outros são comuns a todos
(DICIONÁRIO DE SOCIOLOGIA, [2017], on-line)1.
Um espaço democrático e cidadão pressupõe a participação de toda a popu-
lação ou de representantes em espaços decisórios, monitorando e acompanhando
as ações do Estado ou de outras Instituições constituídas nos territórios. Para
Tonet (2005), a concepção que temos de cidadania e democracia é aquela cons-
truída sob moldes liberais, no qual falamos em participação, direitos e liberdade,
porém, todas estabelecidas com várias limitações.
Não vivemos em uma sociedade plenamente livre, logo, a democracia que
temos notícia está aquém de se efetivar, garantindo igualdade e mesmas opor-
tunidades à todos.
Figura 1 - A democracia seria “o governo do povo”, mas qual povo? Todo? Ou parte dele?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
p. 91). Defendia a criação de um Projeto Ético-político que fomenta a potenciali-
dade das massas, que por sua vez ficaram relegadas às propostas emancipatórias
da modernidade.
O pensador ainda defendia a transformação social pela via cultural e política,
pela via do protagonismo consciente, organizado e ativo dos homens, desenca-
deando processos de rupturas com o atual sistema coercitivo e de dominação,
que explora, oprime e impede a conquista da liberdade, criando assim uma
contra-hegemonia.
Gramsci centrou seus estudos nos movimentos revolucionários dos operários,
da elevação crítica da consciência humana, da edificação de uma contra-hege-
monia, centrando o poder nas classes subalternas, além da extinção do fascismo
na Itália.
Gramsci considerava a educação como a via mais importante para ascen-
der as classes subalternas à consciência filosófica, ou seja, sair do senso comum,
partindo para o bom senso frente a realidade. Assim, as práticas pedagógicas e
democráticas devem ser fomentadas para socializar e universalizar o conheci-
mento, criando, consequentemente, uma cultura política madura nas classes e
grupos sociais, enfrentando assim os mecanismos de poder e dominação hege-
mônicos (LUIZ, 2013).
O pensador chama esse processo de rupturas moleculares, pois essas práti-
cas vão agindo em cada grupo ou classe específica, e cada molécula social vai,
aos poucos, conquistando maiores condições de emancipação que, ao se junta-
rem, consolidam o projeto de transformação, e a emancipação humana por meio
de uma contra-hegemonia será, finalmente, concretizada.
■ Código de Ética.
■ Lei de Regulamentação da Profissão.
■ Liberdade como valor ético central – explicada como a possibilidade de
escolha entre alternativas reais concretas.
■ Emancipação humana.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sional, comprometida com a luta pela libertação dos trabalhadores e das pessoas
sem trabalho das opressões do sistema capitalista.
É importante ainda reconhecer que nossa prática profissional possui, além
das dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa, a dimen-
são educativa, sendo que a educação é o meio para construir conhecimento e
elevar o pensamento das pessoas pela via crítica-reflexiva.
Esse conhecimento não só auxiliará o profissional a atuar em face aos sujei-
tos de sua intervenção, como também oferecerá elementos para que o próprio
profissional, enquanto sujeito inserido em uma classe trabalhadora, crie estra-
tégias para se emancipar. O conhecimento crítico emancipa a todos e estimula
a luta, para que esta proposta não se perca e nem deixe de existir.
Assim, a práxis deve ser configurada desde o estágio, estimulando os
estudantes a sempre alimentá-la para que, futuramente, o profissional dessa
área não adentre ao discurso de que teoria é uma realidade e prática é outra
totalmente distante. Distanciar teoria da prática é perder toda a bagagem
de formação no período da graduação, oferecendo riscos ao cometimento
de posturas antiéticas que fogem do compromisso atual da categoria dos
Assistentes Sociais.
Há profissionais que dizem que a teoria está muito distante da prática.
Contudo, conforme já dito anteriormente, esse pensamento pode ocasionar em
práticas profissionais descomprometidas com o Projeto Ético-Político defendido,
arruinando qualquer forma de luta pela liberdade e emancipação da classe tra-
balhadora das opressões e domínio do capital.
Durante o curso, você já questionou tal frase “A teoria está muito distante
da prática”?
Você já refletiu como pode mudar isso? Qual sua responsabilidade neste
contexto?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
bém deve lutar pela sua própria emancipação, pois a categoria também sofre
com a dominação, coerção e barbárie do sistema hegemonicamente posto, e o
conhecimento que nós adquirimos desde a graduação, perpassando pela prática
do estágio e, posteriormente, nos campos de atuação, dão subsídios suficientes
para lutar pela construção de uma contra-hegemonia, pelo desenvolvimento das
classes e igualdade, e da tão defendida emancipação humana.
Isto posto, este capítulo segue com algumas reflexões e provocações acerca
da importância das políticas sociais, para pensarmos em direitos em um con-
texto democrático e cidadão.
Iamamoto (2008) define a Questão Social como o conjunto das expressões das
desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz em comum: a
produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente
social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopoli-
zada por uma parte da sociedade.
Sob o viés global, as expressões da questão social surgiram no processo de
industrialização dos países europeus no século XVIII, num período em que o
Estado se caracterizava como liberal.
O Estado Liberalista focava a condução da economia para o desenvolvi-
mento da nação. A questão das manifestações populares deveria ser resolvida
entre patrão e empregado. No entanto, reconhecendo a importância dos direi-
tos aos cidadãos, até mesmo sob a ótica de manter estável e pacífica as relações
entre classes, o Estado Liberal passou a ser conhecido como Estado Social.
As manifestações não instalaram uma nova ordem social, mas contribuíram
para a criação e garantia de direitos antes inexistentes, mais dignidade à classe
trabalhadora, questionamento do papel do Estado frente à sociedade e controle
de suas ações. Esses fenômenos se caracterizam por políticas sociais, uma res-
posta às problemáticas sociais oriundas das relações precarizadas de trabalho.
Segundo Behring e Boschetti, o final do século XIX foi o “período em que o
Estado capitalista passa a assumir e a realizar ações sociais de forma mais ampla,
planejada, sistematizada e com caráter de obrigatoriedade” (2007, p. 64).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que a população, em sua totalidade, ou seja, o público, tem acesso às políticas
implementadas pelo governo para suprir suas necessidades básicas com mais
qualidade de vida.
A Política Social envolve os direitos sociais em sua composição, e é dire-
cionada às parcelas da sociedade que vivenciam vulnerabilidades e fragilidades
decorrentes da conjuntura política, econômica, cultural e social, configuradas a
partir da mundialização e financeirização do capital. Segundo Pereira (2009, p.
92, grifos da autora), “a política social é uma espécie do gênero política pública” .
Para Magalhães (2013, p. 42), política pública é o mesmo que “governo em
ação”. Essa ação é controversa, já que se compreende por público algo que, em
tese, deveria pertencer ou ser acessado por todos. Todavia, como sabe-se que,
na prática, esse acesso universal não acontece, vem a política social como uma
ação mediadora entre a ordem capitalista e a classe trabalhadora, no desafio de
harmonizar as relações econômicas da hegemonia capitalista em face das neces-
sidades básicas da população.
A política social é uma política, própria das formações econômi-
co-sociais capitalistas contemporâneas, de ação e controle sobre as
necessidades sociais básicas das pessoas não satisfeitas pelo modo
capitalista de produção. É uma política de mediação entre as neces-
sidades de valorização e acumulação do capital e as necessidades de
manutenção da força de trabalho disponível para o mesmo. Nesta
perspectiva, a política social é uma gestão estatal da força de traba-
lho e do preço da força de trabalho. Ressaltamos que entendemos,
por força de trabalho todos os indivíduos que só têm a sua força
de trabalho para vender e garantir sua subsistência, independente
de estarem inseridos no mercado formal de trabalho (MACHADO;
KYOSEN, [2000], p. 1).
No Brasil, o surgimento das políticas sociais são diferenciadas, visto que não
vivemos uma revolução industrial no século XVIII. Os problemas sociais aqui
têm sua gênese no processo de colonização do país, a partir do século XVI, se
desenvolvendo até as últimas décadas do século XIX, quando encerra-se o impé-
rio e inicia-se o regime democrático e independente.
Ao longo do século XX, o Brasil conquista uma característica de país liberal,
surgindo as classes burguesas. A influência das relações comerciais e até mesmo
da colonização de europeus foram fatores bastante influentes para a configura-
ção do sistema social, político e econômico brasileiro.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
públicas no Brasil, o próximo item traz uma reflexão histórica e contemporâ-
nea sobre elas, após o processo de redemocratização na década de 1980 até o
presente momento.
Nos países pobres periféricos não existe o Welfare State nem um ple-
no keynesianismo em política. Devido à profunda desigualdade de
classes, as políticas sociais não são de acesso universal, decorrentes do
fato da residência no país ou da cidadania. São políticas “categoriais”,
isto é, que tem como alvo certas categorias específicas da população,
como trabalhadores (seguros), crianças (alimentos, vacinas) desnutri-
das (distribuição de leite), certos tipos de doentes (hansenianos, por
exemplo), através de programas criados a cada gestão governamental,
segundo critérios clientelísticos e burocráticos. Na América Latina, há
grande diversidade na implantação de políticas sociais, de acordo com
cada país [...] (FALEIROS, 1991, p. 28).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Pela primeira vez, uma Carta Magna afirma as políticas sociais com o com-
promisso do Estado frente à sociedade civil, afirmando um sistema de proteção
social que venha de encontro às demandas sociais, respeitando a diversidade
territorial e descentralizando ações para os Estados e Municípios, propondo
políticas voltadas para as diversas áreas que contemplem a superação de vulne-
rabilidades e riscos.
A Constituição de 1988 consagrou os novos princípios de reestrutura-
ção do sistema de políticas sociais, segundo as orientações valorativas
então hegemônicas: o direito social como fundamento da política; o
comprometimento do Estado com o sistema, projetando um acentuado
grau de provisão estatal pública e o papel complementar do setor pri-
vado; a concepção da seguridade social (e não de seguro) como forma
mais abrangente de proteção e, no plano organizacional, a descentrali-
zação e a participação social como diretrizes do reordenamento insti-
tucional do sistema (DRAIBE, 2003, p. 69, grifos da autora).
Assim, assume Itamar Franco, que lança em conjunto com Fernando Henrique
Cardoso, na época Ministro da Fazenda, o Plano Real e a substituição da moeda
Cruzeiro Real para a moeda Real, sendo esta oficial até o presente momento. No
campo social houve a aprovação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS),
em 1993, que regulamenta os artigos da CF 1988 voltados para esta política e,
em 1994, aprova-se a Política Nacional do Idoso.
A partir de 1995 a 2002, a gestão FHC expandiu os programas sociais, criando
diversas formas de transferência de renda, como o Bolsa Escola (1995), Bolsa
Alimentação (2001), Vale Gás (2002) e Cartão Alimentação (2002). Esse período
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
também foi marcado pela privatização de estatais, abertura econômica e comercial,
atendendo à política de globalização e intensificação das relações internacionais.
Conforme ilustra Draibe (2003), o Governo FHC traçou algumas estratégias
de desenvolvimento social com crescimento econômico, conforme tabela a seguir:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da história do Brasil, sucedendo Lula pelo mesmo partido. Dilma deu continui-
dade à gestão lulista, visando o crescimento econômico, contudo com um maciço
investimento na área social. Deu continuidade ao carro chefe de Lula, expan-
dindo o Programa Bolsa Família, enfatizou o programa habitacional Minha Casa,
Minha Vida e substituiu o Fome Zero pelo Brasil sem Miséria.
Houve a desaceleração do crescimento do PIB. As metas anuais de cresci-
mento econômico não foram cumpridas dentro das expectativas traçadas todos
os anos. Dilma também assumiu, sem escolha, os ranços e a prática da corrup-
ção historicamente constituída e exercida. O Brasil chegou em 2011 como a
sexta economia mundial, perdendo o posto para o Reino Unido ao final de 2012
(PORTAL G1, 2013, on-line)2.
Dilma Rousseff enfrentou, recentemente, a indignação e revolta da popu-
lação, que foi às ruas, em junho de 2013, reivindicando melhorias nas mais
variadas políticas públicas. O movimento esfriou ao longo dos meses, porém
ainda não cessou. As relações internacionais buscam acordos econômicos com
a China e com potências do mundo todo, como também volta para a questão
dos Direitos Humanos.
Houve a criação de novos Ministérios e Secretarias de Estado, mesmo com
muitas críticas devido à ampliação dos gastos com o funcionalismo público. A
marca do governo Dilma consiste nos investimentos do PAC 2 e cobertura da
Copa do Mundo de 2014.
Os atuais calores das manifestações e a indignação frente a tantos programas
sociais, somado à precária educação básica que não permite que a massa crie
opiniões com maior criticidade, internacionalização de patrimônios naturais,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dades coletivas e comuns a todos devem estar em primeiro lugar. Referenciamos
aqui, umas concepções clássicas sobre a participação, a partir dos movimentos
de Gramsci sobre os conselhos de fábricas.
As primeiras discussões sobre a participação dos trabalhadores dos espaços
de decisão vieram com Gramsci, em 1905, quando foi criada a Comissão Interna
em uma fábrica. Para o pensador, essa comissão deveria estimular os operários a
participarem da gestão da fábrica e das decisões que nela deveriam ser tomadas.
Gramsci também frisava que essa comissão deveria ser cada vez mais libertada
das opressões e do controle dos dirigentes das fábricas (WANDERLEY, 2012).
Esse acontecimento na, Itália em 1905, abriu precedentes para a histórica
formação da participação da população enquanto cidadãos políticos. O Brasil
herda, segundo Wanderley (2012), esse pensamento, quando começa a pensar
na participação popular no país, na pluralidade dos participantes, na autonomia
dos conselhos e na sua paridade – Estado = Sociedade Civil.
Gohn (2007) traz algumas concepções de participação, a partir dos seus
estudos, sendo elas:
Participação liberal: parte do princípio de democracia, na qual todos os
membros da sociedade são iguais, e a participação destes poderão corres-
ponder às suas necessidades particulares.
Participação corporativa: deriva da participação liberal, todavia a dife-
rença está, digamos, no sentimento que move o interesse do indivíduo em
ser partícipe: para Gohn, a adesão na participação parte do espírito e não dá
razão por um interesse. “Há um sentimento de identidade e concordância
com uma certa ordem social que cria algo superior chamado ‘bem comum’”
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
o Estado Brasileiro cumpre com pouca seriedade o dever de garantir espaços de
participação e controle com efetividade, pois na educação básica pouco ou não
se trabalha essas questões com os estudantes. Historicamente, a massa popula-
cional não foi mobilizada para este direito, transformando as gerações em grupos
etários com pouca ou nula consciência política.
Quando consegue-se levar para os espaços de participação pessoas que
usufruem das políticas públicas, porém leigas no conhecimento da política que
acessa, observa-se a baixa adesão ou o desaparecimento destas pessoas, pois, o
constrangimento por não compreender a linguagem das discussões, realizadas
nos espaços de participação e controle, soam mais alto que a coragem de dizer
que não se compreende aquilo que está em pauta.
As representações se encontram em
mesmo patamar, não podendo haver
hierarquia por níveis de conheci-
mento, pois, se isso acontece, estamos
desmerecendo, em primeiro lugar, a
importância do cidadão que acessa
as políticas públicas e os espaços de
controle, e ainda contribui-se para a
perpetuação das desigualdades socio-
políticas e da segregação social dos
menos favorecidos.
Figura 4 - Falta de representatividade política,
inequidade e injustiças sociais: consequências de
um povo apolítico
O tempo presente é constituído por uma trama social, na qual a filosofia de vida
se resume no “cada um por si” e nem sempre Deus para todos. Vivemos em tem-
pos líquidos, onde a insegurança domina a vida em sociedade e afasta cada vez
mais as pessoas umas das outras. A empatia pelo próximo está enxuta e quase
nula, e tende-se a não manifestar interesse em dar ao trabalho de preocupar pelas
questões que atingem negativamente aqueles que não conhecemos ou mesmo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
e concretizar as revoltas por não existir igualdade e justiça nas relações globais.
Diante do exposto, compreendemos a globalização como perversa e injusta em
sua natureza. “A perversa ‘abertura’ das sociedades imposta pela globalização
negativa é por si só a causa principal da injustiça e, desse modo, indiretamente,
do conflito e da violência” (BAUMAN, 2007, p. 14).
Os sujeitos que são impedidos de satisfazer essas necessidades fabricadas pela
indústria cultural, podem expressar o sofrimento que decorre desta insatisfação,
em gestos de violência. Logo, “a violência, em muitos casos, pode ser conside-
rada expressão trágica de necessidades não atendidas” (SCHERER, 2013, p. 29).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Dessa forma, a globalização vem destruindo tudo que não é conveniente para
a manutenção da dominação burguesa e para a acumulação capitalista, como
exemplo, as relações humanas. Bauman (2007) vai nos dizer que o tempo pre-
sente é o tempo das relações frágeis. O medo perpassa por toda a dinâmica da
sociedade, que se reflete nos aspectos locais e globais e que configuram o mundo
contemporâneo, afrouxando ou rompendo os laços humanitários entre pessoas
e/ou comunidades, nivelando a individualização e a falácia de que uma auto-
proteção e maior segurança de cada sujeito é reforçada.
Diante dessa perspectiva, a solução para superar ou amenizar os medos de viver
nas cidades violentas é o investimento no consumo – de bens materiais para ali-
viar os momentos de solidão e de segurança para proteção. Bauman (2007, p. 18)
chama o mercado da segurança de “capital do medo”, considerando que o mercado
acumula grande parte do seu capital através do medo e insegurança das pessoas.
Para se vender segurança, é necessário investir no medo e propagar a inse-
gurança a qualquer custo. Dessa forma o mercado, juntamente com a mídia e
a política, ou seja, os atores aliados ao grande capital, investem na acentuação
e na reconfiguração do cenário de violência e barbárie, já instaladas na socie-
dade global. Isso não quer dizer que a violência é mera fantasia do capitalismo.
Ao contrário, é sabido que os índices de violência estão se elevando, porém, os
aliados do capital manipulam as formas de determinar os “únicos culpados”, ou
melhor, os vilões da sociedade contemporânea, para vender a segurança para
indivíduos que vivem em função do medo em suas rotinas diárias.
Atribuir a uma classe ou grupo de pessoas a condição de vilões da socie-
dade contemporânea, além de ser uma expressão da barbárie, esquiva o sistema
“Pilhas de lixo humano crescem ao longo das linhas defeituosas da desordem mun-
dial, e se multiplicam os primeiros sinais de uma tendência à autocombustão, assim
como os sintomas de uma explosão iminente” (BAUMAN, 2004, p. 149). É inegável
que a miséria e a segregação vêm crescendo em todo o planeta, e observamos ações
desumanas de atenção à população segregada, com vistas a higienizar um planeta
que se encontra cheio – superlotado de pessoas. Os soberanos do capital, que nada
mais são do que bonecos de ventríloquos do próprio sistema, sentem-se no poder
absoluto de determinar a “[...] vida que não vale a pena ser vivida” (BAUMAN,
2004, p. 158), financiando as guerras e outras ações de extermínio por todo o globo.
São muitos os fenômenos que poderíamos apontar neste capítulo. Porém, nos
atentaremos aos exemplos mais recentes que vem ganhando destaque na mídia
nacional e internacional. Comecemos pelo processo de imigração de refugiados
pelos países europeus. São pessoas que deixaram às pressas os seus países por
diversos motivos: miséria, conflitos entre facções, disputas de poder, ausência
de Estado de proteção, assassinatos em massa e conflitos históricos, do passado
ou recentes, que obstrui qualquer capacidade de manutenção e sobrevivência
com qualidade e segurança.
O movimento imigratório intensifica a chama da xenofobia, em que pessoas
estranhas que se encontram à nossa porta (BAUMAN, 2017) são humilhadas,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ções humanas se potencializarem com o passar do tempo, nota-se um avanço de um
conservadorismo carregado de barbárie, ódio, intolerância e desejo de extermínio.
A recente eleição e ascensão de Donald Trump nos Estados Unidos, tam-
bém contribui para o avanço da discussão, trazendo à tona a preocupação dos
rumos das relações globais, a partir de ações reacionárias de chefes de Estado,
sob o aval de seus eleitores e, ao mesmo tempo, causando a fúria daqueles que
ainda lutam por uma sociedade mais digna, humana e justa.
Trump, ainda em campanha e após assumir a posição de destaque nos EUA
e no mundo, apresenta e reitera o seu discurso xenofóbico de separar o México
dos EUA, a partir da construção de um muro, cuja conta seria paga pelo Estado
Mexicano. É o discurso da “América para os americanos” ganhando nova rou-
pagem, cada vez mais perversa e desumana. Além dos discursos xenofóbicos
contra os latino-americanos e povos do Oriente Médio, Trump, no seu primeiro
dia como presidente, retira do portal da Casa Branca informações acerca da luta
e dos direitos LGBTIs, deixando nítida sua posição perante liberdade e direito
de expressão de gênero e sexual.
Os discursos de chefes de Estado de outros países, como os de Donald Trump,
intensificam, em outros espaços, discussões que deveriam não mais existir: discur-
sos de ódio contra minorias, xenofobia, preconceitos de classe e intolerâncias de
diversas naturezas, colocando em status pessoas públicas, como políticos da extrema
direita brasileira, que vem ganhando notoriedade com discursos ultraconservadores.
Em uma sociedade global, onde vivemos interconectados diariamente com várias
pessoas do mundo, é comum, porém não natural, acessarmos e multiplicarmos
informações que acentuam a barbárie e a destruição da humanidade das pessoas.
Figura 5 - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desconhece o sentido de “sociedade global”
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de eliminar o perigo, mesmo que isto custe a extinção de uma parte da popula-
ção, a dos mais pobres.
É possível que se possa curar a consciência culpada cuja causa é o
destino da parcela condenada da humanidade. Para obter esse efeito,
basta permitir que o processo de biosegragação prossiga, invocando e
fixando identidades maculadas por guerras, violência, êxodos, doen-
ças, miséria e desigualdade – um processo que já está em pleno curso.
Os portadores do estigma serão mantidos definitivamente à distância
em razão de sua humanidade inferior, o que representa sua desuma-
nização tanto física quanto moral (LE HOUEROU apud BAUMAN,
2007, p. 47).
Não há dúvidas de que o “capital do medo” criou as suas raízes na sociedade global,
e consegue manter o domínio sobre boa parte dos seres humanos que, subordi-
nados ao ideário da insegurança, perdem o senso de humanidade e tornam-se
objetos do consumo, mercadorias do sistema que são facilmente manipuláveis
para viabilizar a acumulação capitalista, e agem de modo a violentar a vida de
pessoas que sofrem com as contradições do capital.
Bauman (2013) retrata a ausência da ética, no tocante a pensar as relações
humanas e possíveis formas de resolver o problema da segurança, que é a base
sólida da liquidez do tempo e das sociabilidades. Não há, por parte da população
insegura, condições ou intenções de pensar a reintegração daqueles que, supos-
tamente, oferecem perigo para a sociedade. O medo acentuado apenas permite
que sejam consideradas as maneiras de eliminação dos sujeitos perigosos, sejam
eles quem for – crianças, adolescentes, jovens, adultos ou velhos. É o descarte
acima de qualquer característica ou questão.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
destruí-la, excluir a identidade do outro por meio da afirmação da nos-
sa, tomada como a única válida (BARROCO, 2014, p. 472).
Ainda sobre a identidade, que possui vários vieses, e estes formatam conflitos
visando impor aquela ideia concebida como verdadeira, única e correta, Bauman
(2005, p. 82-83) afirma que:
[...] é uma ideia inescapavelmente ambígua, uma faca de dois gumes.
Pode ser um grito de guerra de indivíduos ou das comunidades que de-
sejam ser por estes imaginadas. Num momento o gume da identidade é
utilizado contra as “pressões coletivas” por indivíduos que se ressentem
da conformidade e se apegam a suas próprias crenças (que “o grupo”
execraria como preconceitos) e a seus próprios modos de vida (que “o
grupo” condenaria como exemplos de “desvio” ou “estupidez”, mas, em
todo caso de anormalidade, necessitando ser curados ou punidos). Em
outro momento é o grupo que volta o gume contra um grupo maior,
acusando-o de querer devorá-lo ou destruí-lo, de ter a intenção viciosa
e ignóbil de apagar a diferença de um grupo menor, forçá-lo ou indu-
zi-lo a se render ao seu próprio “ego coletivo”, perder prestígio, dissol-
ver-se... Em ambos os casos, porém, a “identidade” parece um grito de
guerra usado numa luta defensiva: um indivíduo contra o ataque de um
grupo, um grupo menor e mais fraco (e por isso ameaçado) contra uma
totalidade maior e dotado de mais recursos (e por isso ameaçadora).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cação, cuidado, paciência e tolerância. Contudo, as reflexões já expostas neste
item, a capacidade para o árduo compromisso de se envolver em relações sociais
e buscar maneiras de mantê-las sempre fortalecidas está se perdendo.
Amar significa abrir-se ao destino, a mais sublime de todas as condi-
ções humanas, em que o medo se funde ao regozijo num amálgama
irreversível. Abrir-se ao destino significa, em última instância, admi-
tir a liberdade do ser: aquela liberdade que se incorpora no Outro, o
companheiro no amor. “A satisfação no amor individual não pode ser
atingida... sem a humildade, a coragem, a fé a disciplina verdadeiras”,
afirma Erich Fromm – apenas para acrescentar adiante, com tristeza,
que em “uma cultura na qual são raras essas qualidades, atingir a ca-
pacidade de amar será sempre, necessariamente, uma rara conquista.”
(BAUMAN, 2004, p. 21).
Sem humildade e coragem não há amor. Essas duas qualidades são exigidas,
em escalas enormes e contínuas, quando se ingressa numa terra inexplorada e
não mapeada. “E é a esse território que o amor conduz ao se instalar entre dois
ou mais seres humanos” (BAUMAN, 2004, p. 22). Diante do medo de explorar
os caminhos das relações por meio dos sentimentos, o amor também se tornou
mercadoria, pois hoje é possível estabelecer um vínculo e rompê-lo sem dores,
a qualquer momento. É a banalização da expressão humana e sentimental do
amor. Hoje se ama a tudo, a todos e, de repente deixamos de exercê-lo facilmente.
Essa provocação que o sociólogo nos coloca pode ser associada à segregação
que a sociedade estabelece, em face aos públicos apresentados neste capítulo.
Não há razão em constituir relações com aqueles considerados perigosos para
a sociedade. É impossível ter qualquer empatia pelos estranhos que se encon-
tram próximos a nós, pois, se fazem mal para a sociedade, merecem o descarte,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
o encarceramento e até a mesmo a extinção.
O rebaixamento de homens, mulheres, crianças, adolescentes, jovens e velhos
refugiados, delinquentes, perigos para a sociedade e subversivos no atual con-
texto capitalista é condição suficiente para defender a perversa ideia de se manter
distância deles. Diante dos riscos, melhor evitar se socializar com eles. “O com-
promisso com outra pessoa ou com outras pessoas, em particular o compromisso
incondicional, [...] parece cada vez mais uma armadilha que se deve evitar a todo
custo” (BAUMAN, 2004, p. 111). Essa é nossa sociedade: a sociedade que o assis-
tente social tem um grande desafio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nessa Unidade, compreendemos que as políticas sociais são ações que visam
garantir os direitos constitucionalmente adquiridos pela população, e que elas vêm
passando por um reordenamento, cujas raízes do ajustamento do ser humano ao
meio social e a intervenção paternalista e imediatista se reconfiguram em meio
à crise do capital, impactando severamente as classes subalternas.
O reordenamento aqui exposto desmonta as conquistas da sociedade, que
por meio das lutas de classes e disputas de poder político e ideológico conquista-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ram direitos, que por sua vez beneficiam gerações no país. As políticas públicas
traduzem, em seu processo de elaboração e implantação e, sobretudo em seus
resultados, formas de exercício do poder político, envolvendo a distribuição e
redistribuição de poder, o papel do conflito social nos processos de decisão, a
repartição de custos e benefícios sociais.
Dessa maneira, o Estado tem um importante papel de representação pública,
com o desafio histórico de emancipar uma sociedade secularmente violentada e
explorada pelos sistemas econômicos colonizador, escravista, rural, industrial e,
o mais recente, o capitalista e tecnológico, que não exclui a população da dinâ-
mica global, mas os segrega da forma mais discriminatória, desumanizando as
relações sociais.
A (des)ordem capitalista do tempo presente e a acumulação sem preceden-
tes e a qualquer custo, formataram vários mecanismos de segregação e extinção
das pessoas, consolidando a ideia de tempo e amor líquidos, permitindo inferir
que a liberdade e o amor entre humanos não serão possíveis enquanto o capita-
lismo for a ordem societária vigente.
O desafio só será superado a partir do momento em que o Estado reconhecer
de fato a soberania da população, ouvir seus clamores e assumir um compro-
misso legítimo de desenvolvimento social atrelado ao crescimento econômico,
construindo um espaço em que as oportunidades serão igualitárias e a visão
social das classes será mais respeitosa e política.
Considerações Finais
248
3. Bauman, pensador polonês, afirma que vivemos em uma época em que nada é dura-
douro; as pessoas estão mais individualistas, em constante medo, seja da violência ou
de estreitar vínculos com outras pessoas. Bauman chama esse fenômeno de:
a. Tempos Modernos.
b. Amor Líquido e Tempos Modernos.
c. Tempos Líquidos para nossa sobrevivência.
d. Tempo Líquido e Amor Líquido.
e. Pós-modernidade líquida.
4. Segundo a leitura e reflexão sobre a primeira parte desta Unidade, o Serviço Social
começa a repensar sua posição ideopolítica a partir do movimento de reconceitua-
ção. Sobre essa afirmativa, assinale a alternativa correta:
a. A partir deste movimento, o Serviço Social adere à filosofia de Mary Richmond,
propondo o modelo médico, reconhecendo os trabalhadores como clientes do
Serviço Social.
b. A partir deste movimento, o Serviço Social reconhece o pensamento positivista
e funcionalista compreendendo a classe trabalhadora como classe que deve se
adequar à ordem vigente.
c. A partir deste movimento, o Serviço Social reconhece o pensamento de Marx,
compreendendo a história de luta da classe trabalhadora, considerando-os pro-
tagonistas de um processo de luta contra os mandos da classe dominante, visan-
do uma sociedade emancipada.
d. A partir deste movimento, o Serviço Social reconhece o pensamento de Marx,
negando a história de luta da classe trabalhadora, considerando-os antagonistas
de um processo de luta contra os mandos da classe dominante, visando uma so-
ciedade dominada.
e. A partir deste movimento, o Serviço Social não reconhece o pensamento de Marx,
desconsidera a história de luta da classe trabalhadora, considerando-os antago-
nistas de um processo de organização da sociedade capitalista.
5. O surgimento das políticas sociais brasileiras teve como premissas:
a. A Constituição Federal de 1988 e a Consolidação das Leis Trabalhistas de 1943.
b. Os princípios da caridade, benesse e de manutenção da ordem, para somente,
décadas mais tarde virem a ser reconhecidas como direitos sociais à população.
c. A implantação do Welfare State como aconteceu nos EUA.
d. Os princípios da caridade, benesse e de manutenção da ordem, se mantendo le-
galmente desta forma até o tempo presente.
e. Os princípios da caridade, benesse e de manutenção da ordem, para somente, dé-
cadas mais tarde virem a modificadas a partir da implantação do Welfare State.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Tempos líquidos
Zygmunt Bauman
Editora: Zahar
Sinopse: uma reflexão profunda sobre a insegurança, sobretudo nas
grandes cidades. Terrorismo, desemprego, solidão – fenômenos típicos
de uma era na qual, para Bauman, a exclusão e a desintegração da
solidariedade expõem o homem aos seus temores mais graves. Tempos
líquidos mostra como as cidades, que originalmente foram construídas
para fornecer proteção ao cidadão, se tornaram um ambiente inseguro.
“As ideias de Bauman são fortes. O mundo contemporâneo está, de fato, infestado de emoções
fluidas, que transformam a vida numa experiência rápida e sem profundidade, como se viver fosse
deslizar sobre as águas de uma piscina. “José Castello, O Globo.
251
REFERÊNCIAS
DRAIBE, S. A política social no período FHC e o sistema de proteção social. In: Re-
vista Tempo Social. São Paulo, v. 15, n. 2, nov. 2003. Disponível em: <http://www.
scielo.br/pdf/ts/v15n2/a04v15n2.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2017.
FALEIROS, V. de P. O que é política social. 5 ed. Coleção “Primeiros Passos”. São Pau-
lo: Brasiliense, 1991.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 8 ed. Organização, introdução e revisão técni-
ca de Roberto Machado. São Paulo: Graal, 1989.
IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação
profissional. 15ª ed. São Paulo: Cortez, 2008.
______. Estado, Classes Trabalhadoras e Política Social no Brasil. In: BOSCHETTI, Iva-
nete, et. al. Política Social no capitalismo: tendências Contemporâneas. 2ª ed. São
Paulo: Cortez, 2009, p. 13-43.
INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística. Síntese de Indicadores Sociais: uma
análise das condições de vida da população brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2013.
LANÇA, A. M. C. G.; et. al. Políticas Públicas e os Compromissos com o Social.In: PI-
MENTEL, Rosalinda Chedian. Estado, Economia, Trabalho e Sociedade: o mosaico
de uma Nação. Franca: Editora Unifran, 2010, p. 15-54.
MACHADO, E. M.; KYOSEN, R. O. Política e Política Social. In: Serviço Social em Re-
vista. Londrina, v. 3, n.1, jul./dez. 2000. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/
ssrevista/c_v3n1_politica.htm>. Acesso em: 28 abr. 2017.
MAGALHÃES, E. Políticas Públicas: conceitos e principais características. In: Curso
sobre Marxismo. Guararema: Escola Nacional de Formação “Florestan Fernandes”,
2013.
NETTO, J. P. Impactos da crise do capital nas políticas sociais e no trabalho do/a as-
sistente social. In: Conferência de abertura do XIV Congresso Brasileiro de Assis-
tentes Sociais. Águas de Lindóia, out. 2013.
PEREIRA, P. A. P. Discussões conceituais sobre política social como política pública e
direito de cidadania. In: BOSCHETTI, Ivanete, et. al. Política Social no capitalismo:
tendências contemporâneas. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2009, p. 87 – 108.
______. Proteção Social Contemporânea: Cui prodest? Serviço Social & Sociedade,
n. 116. Ano XXXIII. São Paulo: Cortez, out./dez., 2013, p. 636-651.
______. Necessidades humanas: subsídios à crítica dos mínimos sociais. 6 ed. São
Paulo: Cortez, 2011.
PERISSINOTTO, Renato M. Hannah Arendt, Poder e A Crítica Da “Tradição”. In: Lua
Nova, São Paulo, n. 61: 115-138, 2004.
PIANA, M. C. A construção do perfil do assistente social no cenário educacional.
São Paulo: Editora UNESP; Cultura Acadêmica, 2009, p. 21-56.
253
REFERÊNCIAS
Referências On-Line
1
Em: <http://bib.praxis.ufsc.br:8080/xmlui/bitstream/handle/praxis/482/
5023019-DICIONARIO-DE-SOCIOLOGIA.pdf?sequence=1>. Acesso em: 28 abr. 2017.
2
Em: <http://g1.globo.com/economia/noticia/2013/04/brasil-deve-recuperar-pos-
to-de-6-maior-economia-em-2013-mostra-fmi.html>. Acesso em: 28 abr. 2017.
3
Em: <http://www.rdpizzinga.pro.br/livros/zygmunt/bauman.htm>. Acesso em: 25
abr. 2017.
Em: <http://www.uel.br/grupo-pesquisa/gepal/terceirosimposio/marialucimar.pdf>.
4
255
GABARITO
1. B
2. E
3. D
4. C
5. B
CONCLUSÃO