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PENSAMENTO
ECONÔMICO
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
<http://lattes.cnpq.br/9999135590410897>
APRESENTAÇÃO
SEJA BEM-VINDO(A)!
Olá caro(a) aluno(a), seja bem vindo(a) ao livro de História do Pensamento Econômico.
É uma imensa satisfação apresentar a você esse material. Ele é fruto do encontro viven-
ciado durante minha atividade estudantil e profissional. Isso porque é uma temática
que me encanta desde a graduação em Ciências Econômicas na Universidade Estadual
de Maringá, passando pela minha experiência em instituição financeira, quando pude
perceber que o mercado obedece à “leis econômicas universais” e na carreira acadêmica,
ao observar que a história é ferramenta explicativa de muitas realizações do presente.
Trata-se de um trabalho de cunho exploratório e bibliográfico para atender a uma de-
manda de caráter didático informativo. Para isso fizemos uso de uma série de manuais
de História do Pensamento Econômico que em muito contribuíram para que fosse pos-
sível essa compilação de assuntos. Obras como a de Stanley L. Brue, Hunt, Roberson
de Oliveira e Adilson Gennari nos acompanharam durante todo o processo de desen-
volvimento da pesquisa. Ainda é importante expor que, pelo caráter interdisciplinar da
economia, fizemos uso, por muitas vezes, da obra de Marilena Chaui: Convite à filosofia.
Será uma viagem temporal entre a Antiguidade clássica e os dias atuais. Iremos nos re-
meter à Xenofonte (primeira metade do século IV a. C.) com o seu tratado de ética. Co-
nhecendo uma abordagem fundamental, possibilitando o resgate da noção ética em
economia, como já tratado por Sen (1999). De modo que a proposta é que a economia
precisa ser reavaliada para um sentido que transcende as finanças, ou seja, a riqueza não
é o fim em si mesma. E sim, a economia é um meio de ordenar a produção e a distribui-
ção. Reavaliar o propósito hedonístico ao maximizar o bem individual em prol de uma
noção mais ampla com vistas à sociedade.
Você perceberá que a economia é uma disciplina dinâmica e, desse modo, novas ideias
se desenvolvem a todo tempo nesse contexto. Assim, será possível, querido(a) leitor(a),
perceber que um pensamento é estendido e ampliado mediante outro. Mesmo permea-
do por críticas, um está necessariamente ligado ao outro. Em termos teóricos, nem sem-
pre, mas um atrás do outro vai obedecendo à temporalidade, submetido aos contextos
presentes em cada espaço temporal.
Assim, conhecerá a Escola Clássica, Escola Marxista, Neoclássica e Keynesiana. Todas
elas, impreterivelmente, estavam sujeitas à expansão e concorrência de ideias, que nem
sempre produziram “verdades” no sentido científico da palavra, mas generalizaram um
grupo de princípios básicos da economia quase que universalmente aceitos. Esses prin-
cípios estão sempre surgindo e se renovando, contudo, muitas vezes, com o pé no pas-
sado. E dessa maneira percebemos que novas ideias raramente levam ao abandono da
herança já existente e, isso é muito bom!
APRESENTAÇÃO
UNIDADE I
15 Introdução
18 Os Primeiros Filósofos
23 Os Romanos
45 Mercantilismo
51 A Escola Fisiocrática
56 Considerações Finais
62 Referências
63 Gabarito
UNIDADE II
A ESCOLA CLÁSSICA
69 Introdução
75 Adam Smith
85 Thomas Malthus
90 David Ricardo
10
SUMÁRIO
98 Os Utilitaristas e a Utilidade
111 Referências
112 Gabarito
UNIDADE III
ESCOLA MARXISTA
115 Introdução
138 Referências
139 Gabarito
11
SUMÁRIO
UNIDADE IV
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
143 Introdução
144 Os Marginalistas
172 Referências
173 Gabarito
UNIDADE V
177 Introdução
188 Neoliberalismo
196 Referências
197 Gabarito
198 CONCLUSÃO
Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
I
O PENSAMENTO
UNIDADE
ECONÔMICO NA
ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender a importância da história para as ciências sociais.
■■ Conhecer a origem da economia por meio do pensadores gregos.
■■ Refletir o relevante papel da teologia na análise econômica.
■■ Analisar as características do sistema feudal.
■■ Verificar as característica do Mercantilismo.
■■ Demonstrar a relevância da questão agrária
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O papel da história na ciência social
■■ Os primeiros filósofos
■■ Os romanos
■■ A teologia e a análise econômica
■■ O sistema feudal e uma análise crítica
■■ Mercantilismo
■■ A escola fisiocrática
15
INTRODUÇÃO
Introdução
16 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
©shutterstock
O PAPEL DA HISTÓRIA NA CIÊNCIA SOCIAL
caracteriza o ser social. A interação dos seres humanos se dá, por conta de sua
especificidade de realizar transformações concretas na natureza para ter condições
de existência. É por meio da atividade laborativa que o homem se desenvolve de
um estágio pré-hominídeo para a noção de humanidade (ENGELS, 2015, p. 215).
A aplicação do esforço humano (trabalho), buscando obter, por meio de
bens ou de serviços, a satisfação das necessidades, para Gastaldi (2006), é o que
caracteriza a atividade econômica. Estamos tratando, portanto, do modo como,
em condições determinadas e não escolhidas por eles, os homens produzem
materialmente (pelo trabalho, pela organização econômica) sua existência e dão
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
OS PRIMEIROS FILÓSOFOS
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Momento relevante do nosso trabalho: podemos imaginar que a partir daqui
nossa trilha vai se tornando mais nítida, em que os pensadores apresentam
contribuições próprias para o pensamento econômico.
PLATÃO
ARISTÓTELES
Os Primeiros Filósofos
20 UNIDADE I
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da propriedade e do excedente econômico. As transações caracterizam a ocor-
rência de sobra para uma família ou tribo, enquanto para outra havia a falta.
Naturalmente, essas trocas envolviam o problema da proporção em que, os pro-
dutos eram transacionados, isto é, implicavam relações de valor.
As necessidades de consumo são caracterizadas como fundamento da natu-
reza humana. No entanto, o comércio é uma modalidade de troca que consiste
em comprar para vender mais caro, tem como meta o enriquecimento por isso
contraria os fins da natureza.
Ao mesmo passo da ampliação do intercâmbio, surgiu a necessidade de
um meio para facilitar as trocas, a criação da moeda. A análise monetária de
Aristóteles contempla o valor intrínseco da moeda, o valor de face (nominal).
Ele também percebeu que ela assumiu outras funções à medida em que seu uso
se generalizou. Além do meio de troca, tornou-se reserva de valor (riqueza) e
meio de enriquecimento (capital usurário) (GENNARI, 2009).
Essa análise associativa do dinheiro à dupla função (meio de troca e reserva
de valor) pode ser utilizada para se obter mais riqueza, particulariza uma “aqui-
sição inestimável no campo da análise econômica”, conforme Gennari (2009,
p. 10), pois foi a primeira vez que se estabeleceu a diferença entre o dinheiro e
o capital (dinheiro empregado para se obter mais dinheiro). Outra conclusão
importante de seus estudos sobre a moeda, com decisiva influência no pensa-
mento econômico posterior, foi o reconhecimento de que o papel desempenhado
pela moeda não está associado às características naturais e físicas, sendo muito
mais resultado de uma convenção fixada pelo costume entre os agentes envol-
vidos na atividade de troca.
Os Primeiros Filósofos
22 UNIDADE I
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Figura 1 - Os filósofos gregos e a formação do conceito de comunidade cristã.
Fonte: adaptada de Gennari (2009).
OS ROMANOS
Os Romanos
24 UNIDADE I
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quistados, formaram a organização de um corpo jurídico comum, o jus gentium.
Esse conceito é fundamental tanto na constituição jurídica e política do Ocidente
quanto na formação do pensamento econômico moderno. Os juristas romanos
foram os que mais tiveram influência na composição do pensamento econô-
mico. Merecem destaque, dois elementos cruciais do jus gentium para a história
econômica:
1. Um direito de propriedade quase sem limites (propriedade privada legal).
2. Liberdade contratual semelhante aos padrões que vigoram atualmente.
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pontos de vista decisivos dessa particularidade foi a grande empreitada dos seus
principais teólogos, que realizaram um imenso esforço para tornar a religiosi-
dade cristã uma referência que fosse além da vida espiritual e mostrasse uma
nova visão de mundo integrando a filosofia, a conduta humana (a ética) e os fenô-
menos da natureza e, que, inclusive, regulasse os processos da vida econômica.
É apresentado um momento caracterizado pela falência de um modelo de
civilização, de insegurança e de pessimismo em relação às possibilidades terrenas
de realização humana. Do ponto de vista econômico, a ruralização que induziu à
retração da agricultura mercantil e estimulou a produção destinada ao consumo a
ponto de ela tornar-se hegemônica. No tocante à política, houve uma fragmentação
do poder e da autoridade em uma infinidade de domínios que deram aos senhores
feudais, na Europa Ocidental. Na esfera
social, surgiu uma ordem rigidamente
hierarquizada e desigual, reconhecida e
aceita como natural e justificada por uma
determinação divina, por meio dos ensi-
namentos dos Evangelhos dos primeiros
teólogos e da filosofia clássica, que era
valorizada por oferecer um modelo sofis-
ticado de articulação entre moral, ética e
“análise econômica”.
Nesse espaço temporal, Santo Agostinho
elaborou sua teologia e formulou suas consi-
©shutterstock derações sobre a “vida econômica”.
de salvação da alma.
Para Santo Agostinho, a concepção de justiça verdadeira só se efetiva no
âmbito do cristianismo, de modo que confere uma concepção teocrática de
poder, em que a Igreja cristã tem toda a legitimidade sobre a Sociedade Política.
Santo Agostinho pouco acrescentou às formulações dos juristas romanos.
O comércio e o lucro comercial continuaram a ser condenados pelo teólogo,
pois afastavam o homem do desejo de encontrar Deus. A atividade econômica
deveria ser realizada atendendo aos requisitos do preço justo, como na análise
de inspiração aristotélica.
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fundamentais da natureza humana. Considerava a sociedade econômica como
um sistema que deveria seguir os princípios da justiça cumulativa e distributiva
e operar baseado na cooperação. Os componentes dessa sociedade eram consi-
derados partes especializadas e interdependentes que, deveriam se submeter às
regras, operar de maneira cooperativa e ser coordenados por associações ou grê-
mios. O princípio fundamental para a sociedade econômica era preservar seu
equilíbrio e respeitar o preço justo definido por Santo Tomás, tanto do ponto de
vista formal quanto prático, e o Estado só deveria intervir no sistema em casos
de absoluta necessidade.
A influência da tradição aristotélica em Santo Tomás vai se manifestar em
vários outros aspectos de seu “pensamento econômico”, em especial na maneira
como via a riqueza, as relações entre indivíduo e coletividade, a propriedade,
o comércio e a usura. As transações econômicas, de acordo com o pensador,
deveriam ser consideradas dentro de seu contexto, desde que aconteçam como
tentativas humanas de obter as matérias que a natureza proporciona para alcan-
çar certos fins.
Para São Tomás, a riqueza e a propriedade poderiam trazer coisas boas
mas também efeitos nocivos. Nessa perspectiva, o interesse individual deveria
estar subordinado ao coletivo. Daí o repúdio à avareza, à cobiça, enfim, às prá-
ticas que conduzissem à exploração e a desigualdade no interior da comunidade
(GENNARI, 2009).
A doutrina tomista avançou, à medida que expôs que a remuneração do
comerciante pelo seu trabalho, numa proporção que garantisse a sua subsistência
e a da sua família, não violava a justiça, estabelecendo, pela primeira vez, que a
“troca desigual” não é necessariamente injusta.
caridade.
Para finalizar essa breve abordagem da temática teológica, com sua pro-
funda importância na história do pensamento econômico, faz-se pertinente
evidenciar que há vinculação entre as ideias calvinistas e o processo de forma-
ção do capitalismo. Sem fazer salto histórico, mas considerando a importância
do entendimento desse movimento da Reforma da Igreja. O sociólogo ale-
mão Max Weber apresentou uma visão aprofundada e precisa dessas relações
nos seus ensaios publicados em 1904 e 1905 e, depois reeditados numa versão
ampliada, em 1920, com o título de A ética protestante e o espírito do capita-
lismo. Segundo o autor, a Reforma contribuiu decisivamente para a dissolução
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de uma série de valores religiosos, morais e éticos. Esse contexto foi fundamen-
tal para “desobstruir” o caminho para as transformações econômicas e políticas
que se sucederam ao final da Era Medieval.
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um momento de expansão do comércio de longa distância. A partir do século XI,
as cruzadas deram força a uma marcante expansão do comércio. Provavelmente
você já conhece esse termo, mas vale lembrar, em breves linhas, a relevância
desse movimento na história. A expressão “Cruzada” não era conhecida por
esse nome no período em que ocorria. Os termos usados eram “Guerra Santa” e
“Peregrinação” e faziam referência ao movimento de tentativa de tomar a “Terra
Santa” dos mulçumanos. Tratavam-se de tropas ocidentais enviadas à Palestina
para recuperar a liberdade de acesso dos cristãos à Jerusalém. Dessa maneira, as
Cruzadas não podem ser vistas como fator externo ou acidental no desenvolvi-
mento da Europa. Elas oportunizaram o renascimento do comércio na Europa.
Muitos cavaleiros, ao retornarem do Oriente, surrupiaram cidades e organizaram
pequenas feiras nas rotas comerciais. Houve, portanto, um significativo reaque-
cimento da economia no Ocidente.
Em Hunt (1989), vemos que as indústrias que apareciam nas novas cidades
eram basicamente indústrias de exportação, nas quais o produtor estava distante
do comprador final. No sistema artesanal feudal, o produtor (o mestre artesão)
era também o vendedor, eles vendiam seus produtos aos comerciantes que, por
sua vez, os transportavam e revendiam. Outra diferença importante é a de que
o artesão feudal, de modo geral, eram também fazendeiros. O novo artesão das
cidades desistiu da terra para dedicar-se inteiramente ao trabalho com o qual
ele poderia obter uma renda monetária que poderia ser usada para satisfazer
suas outras necessidades.
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Com efeito, a crise geral do feudalismo, nos séculos XIV e XV, deixa que
flutuam algumas ilustres prosperidades urbanas, algumas brilhantes fortunas
mercantis, essa visão é mais uma aparência que uma realidade. É o tempo do
luxo, das grandes construções, dos mecenas das artes. Mas não é o auge produ-
tivo. As grandes burguesias enriquecidas vivem, daí em diante, de rendas, ou
compram terras feudais, imitam os grandes senhores. Pode-se observar que são
elas que sustentam sempre os senhores quando se produzem as guerras campo-
nesas. No interior das comunidades, as lutas de classe agravam-se e os sistemas
representativos, que sempre foram oligárquicos, transformam-se. Por último, as
cidades que haviam realizado as mais importantes “repúblicas mercantis”, as do
Mediterrâneo, caem em decadência, pelo menos relativa, devido ao fato da con-
quista do Oriente pelos turcos e diante do próximo triunfo das rotas comerciais
do Atlântico. Será agora em Flandres, na Inglaterra, em Portugal e Espanha onde
aparecerão as novidades decisivas para a transformação do Ocidente europeu.
De fato, a primeira etapa da formação do capitalismo, depois da crise dos
séculos XIV e XV, não poderia fundar-se senão por um avanço das forças pro-
dutivas: o que ocorreu entre meados do século XV e XVI. Foi precisamente ao
longo da crise geral do feudalismo, que numerosas invenções vieram modificar
o nível das forças de produção. O uso da artilharia obrigou a impulsionar a pro-
dução de metal. A difusão do pensamento humano com a invenção da imprensa,
os progressos da ciência e da navegação desempenharam um papel não menos
importante. Observa-se que, pela primeira vez, técnicas industriais e técnicas de
comunicação ultrapassam a técnica agrícola. É o começo de um processo que
colocará a indústria no primeiro plano do progresso. Apresenta-se um impulso
econômico para o momento que será interrompido pela injeção de riqueza externa
oriunda da expansão marítima e colonial. A circunavegação da África, o desco-
brimento da rota das Índias por Vasco da Gama, o da América por Colombo e
a volta ao mundo por Magalhães elevaram o nível científico e ampliaram a con-
cepção do mundo na Europa.
O grande comércio de produtos exóticos, de escravos e metais preciosos, vol-
tava a ser aberto e extraordinariamente ampliado. Uma nova era abria-se para
o capital mercantil, mais fecunda que a das repúblicas mediterrâneas da Idade
Média, porque dessa vez constituía-se um mercado mundial e seu impulso afe-
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tava todo o sistema produtivo europeu e, porque grandes Estados (e não mais
simples cidades) iriam aproveitar-se daí, para se constituírem (VILAR, 1975).
Ernest Mandel (1982) afirma que o modo de produção capitalista não se
desenvolveu “em meio a um vácuo, mas no âmbito de uma estrutura sócio-e-
conômica específica, caracterizada por diferenças de grande importância”, por
exemplo, na Europa ocidental, Europa oriental, Ásia continental, América do
Norte, América Latina e Japão. O sistema mundial capitalista é, em grau conside-
rável, precisamente uma função da validade universal da lei de desenvolvimento
desigual e combinado.
Caro(a) leitor(a), um requisito histórico era a concentração da propriedade
dos meios de produção em mãos de uma classe, consistindo de apenas uma parte
pequena da sociedade e o aparecimento consequente de uma classe destituída
de propriedade, para a qual a venda de sua força de trabalho era a única fonte
de subsistência. Mandel (1982, p. 29) descreve que: “O movimento efetivo do
capital manifestamente começa a partir de relações não capitalistas e prossegue
dentro do quadro de referência de uma troca constante, exploradora, metabó-
lica, com esse meio não capitalista.” A atividade produtiva era por isso suprida
por ela, não em virtude de compulsão ou obrigação legal, mas na base de um
contrato salarial.
Torna-se claro que tal definição exclui o sistema de produção artesanal inde-
pendente, no qual o artesão possuía seus próprios e modestos implementos
de produção e empreendia a venda de seus próprios artigos. Não existia qual-
quer divórcio entre a propriedade e o trabalho, a não ser nos o artesão recorria
em qualquer medida ao emprego de diaristas, era a venda e compra de artigos
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que cada período histórico é modelado sob a influência preponderante de uma
forma econômica única, mais ou menos homogênea e deve ser caracterizado
de acordo com a natureza desse tipo predominante de relação socioeconômica.
Cada etapa apresenta uma característica nas situações históricas que, simulta-
neamente, propicia a homogeneidade de configuração a qualquer tempo dado,
e torna os períodos de transição, quando existe um equilíbrio de elementos dis-
cretos, inerentemente instáveis. Isto, pois, a sociedade se acha constituída de
maneira que o conflito e interação de seus elementos principais, ao invés do
crescimento simples de algum único elemento, formam o fator principal de
movimento e mudança, pelo menos no que diz respeito às transformações prin-
cipais. Se esse for o caso, uma vez que o desenvolvimento tenha atingido certo
nível e os diversos elementos que constituem aquela sociedade estejam dispos-
tos, de certo modo, os acontecimentos deverão marchar com rapidez incomum,
não apenas no sentido de crescimento quantitativo, mas no de uma alteração de
equilíbrio dos elementos constituintes, resultando no aparecimento de compo-
sições novas e alterações ou mudanças mais ou menos abruptas na tessitura da
sociedade. É como se em certos níveis de desenvolvimento, fosse acionado algo
como reação em cadeia.
A transformação da forma medieval de exploração do trabalho excedente para
a moderna não foi processo simples que possa ser apresentado como uma tabela
genealógica de descendência direta, mas ainda assim, entre os redemoinhos desse
movimento a vista pode distinguir certas linhas de direção do fluxo. Tais linhas
incluem não apenas modificações na técnica e o aparecimento de novos instru-
mentos de produção, que aumentaram grandemente a produtividade do trabalho,
mistificadora pela qual uma classe ociosa pode explorar o trabalho excedente dos
outros e que é a essência do sistema moderno ao qual chamamos capitalismo.
Na Inglaterra, a pequena propriedade e o gozo dos direitos contribuíram para
desenvolver, a partir do século XIV, uma classe rural precocemente comprome-
tida na produção artesanal e na comercialização dos produtos. Por essa mesma
razão, a diferenciação entre aldeões ricos e pobres e o incentivo de grandes lucros
conseguidos sobre os campos de pastagem, devido à extensão da indústria de
lã, trouxeram, como consequência, uma expulsão em massa dos pequenos agri-
cultores durante os séculos XV e XVI e uma apropriação sistemática de suas
parcelas, concomitantemente a das terras comunais, pelos grandes proprietá-
rios. A legislação foi impotente contra esse movimento, e foi contra os pobres,
desocupados e vagabundos que a lei acabou voltando suas armas. A primeira
“lei dos pobres”, no reinado de Elizabeth, preparou, sob o pretexto de ajuda obri-
gatória, essas futuras “casas de trabalho” nas quais o pobre “que não tinha onde
cair morto” seria colocado à disposição do produtor industrial (VILAR, 1975).
Expropriação e proletarização são os dois termos da “acumulação primitiva”
no estado puro, a perfeita separação, mediante a violência legalizada, do pro-
dutor com seus meios de produção. Por isso, Marx elegeu o exemplo inglês dos
séculos XV e XVI como símbolo. É no século XVIII que o processo é concluído
e somente na Inglaterra apresenta-se de uma maneira radical. Vilar (1975) des-
creve que a colonização europeia, em escala mundial, determina outro aspecto da
acumulação primitiva. Ela se realiza por mecanismos bastante variados, a saber:
Os saques - delicadas joias arrebatadas dos índios das ilhas, imensos tesouros
dos príncipes mexicanos e incas; tudo foi diretamente transferido para a Europa.
É correto que os “conquistadores” espanhóis e o imperador Carlos V dedicaram,
essencialmente, esses primeiros lucros a suas empresas militares ou suntuárias,
mas o ouro passou às mãos dos mercadores, dos banqueiros que, converteram-
-se nos intermediários da aventura colonial.
É imaginável, conforme Dobb (1983), que uma economia não pode basear-
-se durante muito tempo no simples e puro saque, tampouco deve-se crer que
se tratou de um breve episódio. Os holandeses, que difundiram uma versão das
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crueldades espanholas na América, não foram menos cruéis nas ilhas do Extremo
Oriente, as quais ocuparam no século XVII e nem os ingleses na Índia (século
XVIII). Além do que, desde o tempo de Elizabeth, uma das grandes fontes de
enriquecimento da corte real inglesa foi a pirataria, a pilhagem direta dos car-
regamentos espanhóis. A essa economia de pilhagem, a colonização acrescenta
uma exploração contínua e sistemática.
Historiadores constataram, na Europa do século XVI, uma chegada em massa
de ouro e de prata, isto vai desencadear uma “revolução nos preços”; o preço dos
produtos europeus sobe, Dobb (1983) estima que o aumento seja na proporção
de 1 para 4. Como os salários sobem muito menos, produz-se uma “inflação de
lucros”, é o primeiro grande episódio de criação capitalista.
No século XVI, a quantidade de ouro e prata em circulação na Europa
aumentou por consequência do descobrimento das minas americanas,
mas ricas e fáceis de explorar. O resultado foi que o valor do ouro e da
prata diminui em relação ao de outros artigos de consumo. Continu-
ava-se a pagar aos trabalhadores os mesmos salários por sua força de
trabalho. Seu salário-dinheiro manteve-se estável, mas seu salário di-
minuiu, porque em troca da mesma quantidade de dinheiro recebiam
uma quantidade menor de bens. Este foi um dos fatores que favore-
ceu o crescimento do capital e o Ascenso da burguesia no século XVI
(DOBB, 1983, p. 80).
Essa situação representa apenas um dos fatores que favoreceu o avanço produ-
tivo no século XVI. Marx considera ainda que, nesse período, primeiramente,
a quase totalidade da produção não é obtida sob o regime de assalariamento (a
economia é feudal ou artesanal); é a alta dos preços que vai favorecer a instalação
do assalariamento (fase preparatória do capitalismo, na acumulação “primitiva”).
camponês que não tem do que viver, o necessário para comprar a semente ou uma
ferramenta, ou para pagar o imposto; no nível mais alto, os grandes mercadores
ou banqueiros emprestam aos grandes senhores ou aos príncipes; é mais peri-
goso; pode haver falências, confiscos, mas ao mesmo tempo é remunerador. A
especulação sobre a escassez é outro modo de acumulação: as carestias são peri-
ódicas, e aqueles que podem acumular grão, o vendem, no momento oportuno,
a quem oferece mais. Esses “açambarcadores” são detestados, mas enriquecem.
Uma terceira situação é a especulação comercial a partir dos produtos valiosos,
que alimenta o capital mercantil propriamente dito, relacionando pontos do globo
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nos quais as condições de produção são completamente distintas e monopoli-
zando pequenas quantidades de produtos de grande valor, o mercador da Idade
Média realizava operações aventureiras, mas lucrativas. Os primeiros mercado-
res portugueses e espanhóis, que colocaram Lisboa e Sevilha em relação com o
Extremo Oriente e com a América, não fizeram outra coisa. Os conquistadores
e colonos dos primeiros tempos estavam dispostos a dar muito ouro (lhes cus-
tava pouco) em troca de azeite, vinho ou tecidos chegados da Europa. Foi esse
primeiro contato entre condições coloniais e condições europeias o que, em pri-
meiro lugar, causou a alta de preços. Todos os mercadores do continente afluíram
às feiras da Península Ibérica. Foi o maior boom histórico do capital mercantil
(VILAR, 1975).
Mas um movimento de tal envergadura levava em si sua própria contradi-
ção: em primeiro lugar, aqueles países onde os preços subiram demasiado foram
eliminados pela concorrência; foi o caso da Espanha, onde o afluxo de dinheiro
traduziu-se numa pirâmide de dívidas, rendas e censos tão perfeitamente para-
sitários, que a economia espanhola atingiu seu auge e foi eliminada do processo
capitalista, do qual fora o ponto de partida. Por outra parte, quanto mais dinheiro
circula, mais difícil é exigir lucros usurários. Dobb (1983) é incisivo ao afirmar
que a usura não morreu pelas inúteis condenações lançadas pela igreja; mor-
reu devido à circulação de dinheiro. Por último, na medida em que a navegação
progredia, o “mercado mundial” passava a ser uma realidade cotidiana e, con-
sequentemente, desapareceram cada vez mais as oportunidades para a grande
especulação comercial. Os preços tendem a igualarem-se.
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ria, proletarização da mão de obra, atividade marítima e colonial – permitiu-lhe
superar definitivamente os países dos primeiros descobrimentos – Espanha e
Portugal, paralisados pelo excessivo afluxo de dinheiro e o parasitismo das ren-
das – e evoluir mais depressa que a Holanda (privada de recursos industriais) e a
França (onde a estrutura agrária resistiu ao movimento de concentração das pro-
priedades e de “cercamento” das terras comunais). Marx expressou esse avanço
da Inglaterra com a seguinte frase:
os diferentes métodos de acumulação primitiva, que a era capitalista faz
aparecer, dividem-se, primeiro, por ordem mais ou menos cronológica,
entre Portugal, Espanha, Holanda, França e Inglaterra, até que esta úl-
tima combina-os todos, no último terço do século XVII, num conjunto
sistemático que inclui por sua vez o regime colonial, o crédito público,
as finanças modernas e o sistema protecionista (MARX, 1989, p. 71).
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Resta considerar que um regime social não está constituído, exclusivamente,
por seus fundamentos econômicos. A cada modo de produção corresponde,
não somente um sistema de relações de produção, como também um sistema
de direito, de instituições e de formas de pensamento.
Um regime social em decadência serve-se precisamente desse direito, dessas
instituições e desses pensamentos já adquiridos, para opor-se com todas as suas
forças às inovações que ameaçam sua existência. Isso provoca a luta das novas
classes, das classes ascendentes, contra as classes dirigentes que ainda acham-se
no poder e, determina o caráter revolucionário da ação e do pensamento que
animam essas lutas.
O regime feudal, conforme Vilar (1975), não morreu sem defender-se. E o
ataque que ele sofreu não começou somente com as formas mais desenvolvidas
dos novos modos de produção. Essas formas, com efeito, só puderam triunfar
quando já tinham se liberado dos inconvenientes, dos entraves que as instituições
de tipo feudal necessariamente lhes opunham. Isto é, a história das revoluções
burguesas.
É muito importante se atentar, caro(a) leitor(a), para a relevância do século
XVI para a História Européia. Esse espaço cronológico representa a tênue linha
divisória entre a ordem feudal decadente e o sistema capitalista que surgia.
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MERCANTILISMO
Mercantilismo
46 UNIDADE I
lã pela indústria têxtil lanífera inglesa. As ovelhas davam bons lucros e exigiam
um mínimo de trabalho nas pastagens. O movimento de cercamento atingiu seu
ponto máximo nos séculos XV e XVI, quando, em algumas áreas, os habitantes
foram expulsos do campo e forçados a buscar sustento nas cidades.
Os cercamentos e o crescimento populacional destruíram os laços feu-
dais remanescentes, criando uma grande e nova força de trabalho - uma
força de trabalho sem terra, sem quaisquer instrumentos de produção,
apenas com a força de trabalho para vender (HUNT, 1989, p.15).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Mercantilismo
48 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
(Bélgica e Holanda) haviam prosperado em economias capitalistas, dominadas
pelos mercadores, que controlavam não só o comércio, mas também grande parte
da indústria. Nas modernas nações-estado, coalizões de monarcas e capitalistas
tinham retirado o poder efetivo da nobreza feudal de muitas áreas importantes,
principalmente nas relacionadas com a produção e o comércio. Essa época do
início do capitalismo é conhecida, geralmente como mercantilismo.
Florescem as artes, a poesia e as ciências. O período, também conhecido
por sistema mercantil, assenta-se em bases de análise econômica e do pensa-
mento econômico de maneira autônoma, a partir desse movimento histórico.
Entendemos, em conjunto com (Gastaldi, 2006), que a organização comercial
passa a ser o centro da atividade econômica ou da vida econômica e a riqueza,
o centro da vida social, por isso, a palavra latina mercator (mercador), pois o
comércio era a base fundamental para o aumento das riquezas.
A acumulação de moedas e de metais preciosos é o que vai definir, no mer-
cantilismo, a arte de governar. Em linhas gerais, a finalidade básica do Estado, no
entender mercantilista, deveria ser a de encontrar os meios necessários para que o
respectivo país adquirisse a maior quantidade possível de ouro e prata. Nesse cami-
nho, vários regulamentos foram estabelecidos objetivando disciplinar a indústria
e o comércio, impedindo ao máximo as importações e favorecendo as exporta-
ções. A proposta dos mercantilistas era que a balança comercial (Exportações
menos importações) fosse sempre a mais favorável possível. Isso porque, para eles,
exportar mais que importar, representaria, uma compensação em ouro e prata.
Mercantilismo
50 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pelo Estado e empregada na ampliação dos dispositivos naval, militar,
burocrático e fiscal, o sistema contribuía para incrementar o poder e o
intervencionismo estatal, integrando-se plenamente aos objetivos es-
tratégicos da política mercantilista. (GENNARI, 2009, p. 43).
A ESCOLA FISIOCRÁTICA
A Escola Fisiocrática
52 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
indústria e do comércio. Nesse panorama, o resultado não poderia ser outro se
não o caos econômico e social, conforme apresenta Hunt (1989). Por consequ-
ência dessa desordem estrutural deu-se a Revolução Francesa.
Com a intenção de demonstrar como uma sociedade deveria ser estrutu-
rada, a fim de refletir a lei natural, os fisiocratas defendiam, de modo geral, uma
reforma política pautada na: abolição das corporações de ofício e a remoção de
todas as tarifas, impostos, subsídios, restrições e regulamentações existentes que
prejudicassem a indústria e o comércio. Propuseram a substituição da agricul-
tura em pequena escala e ineficiente, então vigente, pela agricultura capitalista
em grande escala. Na prática, por conta desse princípio da prevalência da agri-
cultura como fonte de riqueza, a principal reforma proposta foi o imposto único.
Os fisiocratas são amplamente caracterizados, justamente por essa atribuição
também conhecida por teoria do imposto único, na qual a recomendação era de
que toda a renda do Governo fosse obtida por meio de um único imposto para
todo o país, sobre as atividades agrícolas. Esse imposto deveria incidir sobre a
renda da terra, na modalidade de tributo territorial. Esses pensadores se dedi-
caram de forma integral à análise dos problemas econômicos, formulando pela
primeira vez, de forma sistemática e lógica, uma teoria econômica do libera-
lismo: A Fisiocracia (governo da natureza). Difundiram a célebre frase: “Laissez
faire, laissez passer”(deixar fazer deixar passar), que serviu de bandeira contra
o intervencionismo estatal.
como exemplo de produto agrícola, Quesnay disse que essa categoria poderia
incluir qualquer coisa produzida na terra, inclusive minérios.
Utilizando o exemplo encontrado em O Livro da Economia, podemos pensar
que cada um dos três grupos comece com $ 2 milhões. Os proprietários de terra
não produzem nada. Gastam seus $2 milhões igualmente com produtos agrí-
colas e artesanais e os consomem por inteiro. Recebem $ 2 milhões de aluguel
dos agricultores - estes podem pagar, visto que são o único grupo que produz
um excedente - de modo que os proprietários voltam para onde começaram. Os
agricultores são o grupo produtivo, de um ponto inicial de $ 2 milhões, eles pro-
duzem produtos agrícolas no valor de $ 5 milhões, acima do que eles próprios
consomem. Desses, $ 1 milhão é vendido aos proprietários para seu consumo. Eles
vendem $ 2 milhões aos artesãos, metade para consumo e metade como maté-
ria-prima, para os bens que os artesãos produzem. Isso lhes deixa $ 2 milhões
para ser usados no cultivo no ano seguinte. Quanto à produção, eles voltaram
ao ponto inicial, todavia, eles também têm três milhões das vendas, dos quais
gastam $ 2 milhões em aluguel e $ 1 milhão nos produtos artesanais (ferramen-
tas, implementos agrícolas etc).
Portanto, Quesnay atribuiu à classe dos agricultores como único setor pro-
dutivo, por produzir uma quantia que ultrapassa o consumo dos agricultores. Os
fisiocratas consideravam esse excedente um presente da natureza e achavam que
só por meio do contato direto com a natureza, na produção extrativa ou agrícola,
é que o trabalho humano poderia produzir um excedente. Os agricultores eram,
portanto, chamados de classe produtiva. Os produtores de mercadorias indus-
trializadas eram chamados de classe estéril, não pelo fato de não produzirem,
A Escola Fisiocrática
54 UNIDADE I
mas porque supostamente a produção era igual aos custos necessários de maté-
rias-primas, mais os necessários salários de subsistência dos produtores. Não se
achava que pudesse sobrar qualquer excedente ou lucro na atividade industrial.
Havia, poranto, três classes:
1. Produtiva: capitalistas e trabalhadores dedicados à produção agrícola.
2. Classe estéril: capitalistas e trabalhadores ligados à indústria.
3. Classe ociosa: donos de terras que consumiam o excedente produzido
pela classe produtiva.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
As ideias dos pensadores franceses sobre a produtividade e a improdutividade
dos setores reapareceram ao longo da história do pensamento econômico. O
modelo representado pelo Tableau Économique mostra os processos de produ-
ção, circulação da moeda e das mercadorias e a distribuição da renda. O centro de
atenção nesse sistema, como vimos, é a agricultura. Além disso, ilustra o fato de
que a alocação de insumos e produtos requerem a circulação contínua da moeda.
Os fisiocratas se anteciparam a T. R. Malthus, Karl Marx, J. M. Keynes e muitos
outros economistas posteriores, os quais mostraram como o entesouramento
da moeda ou, a criação de pontos de estrangulamento ou, ainda, desequilíbrios
no processo de circulação monetária poderiam atrapalhar a alocação de insu-
mos e de produtos, provocando crises ou depressões econômicas. Os conceitos
de excedente e capital de Quesnay tornaram-se a chave do modo como os eco-
nomistas clássicos analisavam o crescimento econômico. Um modelo clássico
típico centra os três fatores de produção: terra, trabalho e capital. Os proprietá-
rios recebem aluguéis e podem se permitir luxos, já os trabalhadores aceitam os
salários disponibilizados no mercado e, se estes sobem, podem fazer mais filhos,
por exemplo. Contudo, os empreendedores têm lucro e o reinvestem na indús-
tria produtivamente. Assim, o lucro incentiva o crescimento, e o desempenho
econômico depende de setores da economia que geram excedentes. Portanto, de
maneira generalizada, Quesnay antecipou as ideias sobre o crescimento das eco-
nomias. Gennari (2009) afirma que os fisiocratas apresentam um papel crucial na
trajetória da economia enquanto Ciência. Como veremos na próxima unidade.
A Escola Fisiocrática
56 UNIDADE I
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta extensa unidade, caro(a) aluno(a), foi possível realizar uma viagem tem-
poral. Na Antiguidade, percebemos que a economia possui uma relação estreita
com a ética. É relevante perceber que ética e economia são, respectivamente, mãe
e filha. E à medida em que a filha vai crescendo, vai criando maturidade e cami-
nhando com suas próprias pernas.
É assim que podemos pensar a economia. Seu nascimento está associado
à obra de Xenofonte, recebe uma atenção em Platão e, de forma especial, em
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Aristóteles. Na sequência, com a ascensão do Império Romano, a economia
toma lugar em um ambiente pensado por meio das leis. Com um salto tempo-
ral, vamos até à descrição do sistema feudal. Como você pôde perceber, tratou-se
do processo de acumulação primitiva de capital, o qual, na sequência, se reve-
lará no início de um novo sistema: o capitalismo.
Podemos, aqui, associar o mercantilismo como representação do primeiro
período do capitalismo, tempo de metais e ouro. Imaginem um mundo que era
pequeno, relativamente e, se tornou grande. Isso porque as grandes navegações
possibilitaram essa ampliação de horizontes, e a questão era enriquecer o estado.
Tratava-se, como vimos, de um Estado Absoluto.
Finalizando nossa unidade, vimos que a escola fisiocrata representou uma
reação contra o empirismo e o estatismo mercantilista, defendendo a plena liber-
dade da atividade econômica. Notava-se a necessidade de procurar a explicação
científica para os fenômenos econômicos. Em meados do século XVIII se afirma
a reação científica, sob a forma de teoria, e, apresenta-se a primeira escola eco-
nômica. Na França ela surgirá com o nome de fisiocrata. De qualquer modo,
somente a terra ou natureza representavam um fator econômico produtivo. Nesse
contexto, François Quesnay foi o expoente dessa escola que trabalhou com fatos
e fenômenos econômicos propriamente científicos. Na próxima unidade, vere-
mos como os fisiocratas foram importantes para a Escola Clássica.
2. “Na história da civilização de Roma vamos encontrar muitos dos elementos que
caracterizam o moderno capitalismo. Embora a história romana tenha se evi-
denciado mais por lutas de conquistas, construindo em primeiro estágio uma
República e depois um Império mundial, dominando toda a área do Mediterrâ-
neo, incluindo Ásia Menor, norte da África, França (Gália), Espanha, abrangendo
partes da Europa Central até o Rio Danúbio e chegando à Inglaterra e à Escócia,
suas contribuições culturais, políticas e econômicas não podem ser subestima-
das” (GASTALDI, 2006, p. 39).
Com base nesse fragmento de texto e com o que você pôde apreender da
Unidade I, infere-se que a sociedade romana:
a. Teve uma expansão territorial pífia (pequena, insignificante).
b. Atribui o poder à uma instituição chamada “Senado e Povo Romano”.
c. Apresenta uma história irrelevante para a constituição jurídica e política do
Ocidente.
d. A queda de Roma, em nada relaciona-se com o contexto agrícola.
e. A desestruturação do Império resultou na concentração de poder nas mãos
da monarquia e se distanciou do poderio da Igreja.
58
específico. Não obstante, todas as épocas da produção têm certos traços e certas de-
terminações comuns. A produção em geral é uma abstração, mas uma abstração que
possui um sentido, na medida em que realça os elementos comuns, os fixa e assim nos
poupa repetições. Contudo, esses caracteres gerais ou esses elementos comuns, des-
tacados por comparação, articulam-se de maneira muito diversa e desdobram-se em
determinações distintas. Alguns desses caracteres pertencem a todas as épocas; outros,
apenas a algumas. Certas determinações serão comuns às épocas mais recentes e mais
antigas. São determinações sem as quais não se poderia conceber nenhuma espécie
de produção. Certas leis regem tanto as línguas mais desenvolvidas como outras mais
atrasadas; no entanto, o que constitui a sua evolução são precisamente os elementos
não gerais e não comuns que possuem. Indispensável fazer ressaltar claramente as ca-
racterísticas comuns a toda a produção em geral, isto porque, uma vez que são sempre
idênticos o sujeito (a humanidade) e o objeto (a natureza), correríamos o risco de esque-
cer as diferenças essenciais. Neste esquecimento, reside, por exemplo, toda a “sapiên-
cia” dos economistas políticos modernos, os quais tentam demonstrar que as relações
sociais existentes são harmoniosas e eternas. Um exemplo: não pode haver produção
sem um instrumento de produção, nem que seja simplesmente a mão; não pode ha-
ver produção sem haver um trabalho acumulado no passado, mesmo que esse traba-
lho consista na habilidade que, pelo exercício repetido, se desenvolveu e concentrou
na mão do selvagem. O capital também é um instrumento de produção, um trabalho
passado, objetivado. Logo, o capital seria uma relação natural, universal e eterna, mas
só o seria se puséssemos de parte o elemento específico que transforma “instrumento
de produção” e “trabalho acumulado” em capital. Assim, toda a história das relações de
produção aparece, como uma falsificação malevolamente organizada pelos governos.
Se não existe produção em geral, também não há uma produção geral. A produção é
sempre um ramo particular da produção, por exemplo, a agricultura, a criação de gado,
a manufatura - ou uma totalidade.
Odisséia no Espaço
Ano: 1968
Sinopse: desde a “Aurora do Homem” (a pré-história),
um misterioso monolito negro parece emitir sinais de
outra civilização interferindo no nosso planeta. Quatro
milhões de anos depois, no século XXI, uma equipe de
astronautas liderados pelo experiente David Bowman
(Keir Dullea) e Frank Poole (Gary Lockwood) é enviada à
Júpiter para investigar o enigmático monolito na nave
Discovery, totalmente controlada pelo computador HAL
9000. Entretanto, no meio da viagem HAL entra em pane e
tenta assumir o controle da nave, eliminando um a um os
tripulantes.
Material Complementar
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
1. E.
2. B.
3. As Cruzadas representaram a reação dos países católicos, que, a partir do ano
1096, objetivaram a reconquista da Terra Santa e a abertura do sul do Mediter-
râneo aos povos ocidentais, fechado pelos islamitas, ou muçulmanos. Tiveram
significativa importância, ampliando as possibilidades de comércio com a Ásia
Menor e o norte da África possibilitando o retorno do medievalismo à economia
urbana.
4. E.
5. Fisiocracia significa governo da natureza. Foi o primeiro sistema científico em
economia a substituir o empirismo dos mercantilistas. Representa o individualis-
mo econômico, gerador do liberalismo capitalista.
64
ANEXOS
II
UNIDADE
A ESCOLA CLÁSSICA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender o papel fundamental da escola clássica como um todo
para a ciência econômica.
■■ Entender a teoria de Adam Smith.
■■ Conhecer a teoria da população de Thomas Malthus.
■■ Reconhecer a importância de David Ricardo até os dias atuais.
■■ Verificar o processo de quantificar a questão da utilidade das diversas
mercadorias para os utilitaristas.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Visão geral da escola clássica
■■ Adam Smith
■■ Thomas Malthus
■■ David Ricardo
■■ Os utilitaristas e a utilidade
69
INTRODUÇÃO
balho é um ato social. Faz uso da matemática, pois precisa de ferramenta para
compreender de forma lógica as abstrações dos mais diversos raciocínios. E, par-
ticularmente, nesta Unidade II, a psicologia.
Mas por que a psicologia? A Escola clássica, como você poderá ver, caro(a)
leitor(a), trata de assuntos que passam de ordem moral a comportamentos. Mais
especificamente, você aprenderá que os indivíduos econômicos tomam decisões
a partir da sua racionalidade. Agem de forma egoísta, como vai nos apresentar
Adam Smith.
Vamos aprender que a economia clássica racionaliza as práticas em que estava
envolvida ao transformar as pessoas em empreendedores. Ela justifica a queda
das restrições mercantilistas, que não eram mais úteis. E isso se deu mediante a
noção de que o Governo deveria intervir o mínimo possível. A concorrência era
um fenômeno crescente e a confiança nela como a grande reguladora da econo-
mia era um ponto de vista sustentável.
Os economistas clássicos forneceram a melhor análise do mundo econô-
mico até a sua época, ultrapassando, de longe, as análises dos mercantilistas e
dos fisiocratas. Eles lançaram a base da economia moderna como uma ciência
social e, as gerações que se seguiram se beneficiaram de suas intuições e con-
quistas. A doutrina clássica é normalmente chamada de liberalismo econômico.
Seja muito bem vindo(a) à nossa trilha do pensamento econômico. Ótimo
estudo!
Introdução
70 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Neste momento do nosso trabalho, vamos nos ater ao con-
texto precursor da escola clássica.
O contexto relativo à escola clássica envolve a revolução
na ciência. Em 1687, Isaac Newton (1642-1727) promo-
veu significativamente leis científicas sobre o movimento
dos planetas de Kepler e as leis matemáticas de Galileu,
em relação aos movimentos dos corpos na terra. Newton
apresentou a lei da gravitação universal - uma revolução
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A ESCOLA CLÁSSICA
71
1. Liberdade pessoal.
2. Propriedade privada.
3. Iniciativa individual.
4. Empresa privada.
5. Interferência mínima do governo.
Conforme Brue (2016), o termo liberalismo não pode ser analisado fora do con-
texto histórico: as ideias clássicas eram liberais, em contraste com as restrições
feudais e mercantilistas sobre a escolha de profissões, transferências de terra,
comércio e por aí vai. Uma pessoa que defende o liberalismo econômico pode
ser chamada de “conservadora” nos dias atuais.
Temos, nesse ponto, uma dimensão temporal importantíssima para a história
do pensamento econômico: duas “revoluções”. Em Brue (2016, p. 46) temos que
trata-se de “uma relativamente madura e a outra apenas no início”. A Revolução
Científica à medida em que propiciou a contestação de “verdades”, abriu espaço
para a segunda transformação econômica-social: a Revolução Industrial. Com
o fim do feudalismo e o processo transitório do mercantilismo, o modo de pro-
dução capitalista em ascendência passa a revelar claramente características
sócio-econômicas intrínsecas na Revolução Industrial.
A Inglaterra é o berço da Revolução Industrial, isso porque, entre 1700 e
1770, os mercados externos para os produtos ingleses cresceram muito mais
rapidamente do que os mercados internos ingleses. Conforme Hunt (1989),
entre 1700 e 1750, a produção das indústrias internas aumentou 7%, enquanto
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
desenvolvimento tomaria.
O crescimento substancial da indústria alterou profundamente a vida das
pessoas. O crescimento do comércio, o aumento substancial da manufatura, e das
invenções, além da divisão do trabalho, caracterizaram, a princípio, a Inglaterra
do século XVIII, em uma economia de mercado bem desenvolvida. Nessa con-
juntura, o preconceito tradicional contra o mercado capitalista, em termos de
atitudes e ideologia, já estava muito enfraquecido. Na Inglaterra daquela época,
maiores quantidades de produtos industrializados a preços mais baixos signifi-
cavam lucros sempre crescentes. Deu-se um “surto” de atividades inventivas, à
medida em que a procura externa crescia, os empresários viram as possibilida-
des de maiores lucros, dessa maneira, era necessário inovar tecnologicamente.
Nesse sentido, a mais relevante e marcante das inovações foi o desenvolvimento
do motor a vapor.
Em 1769, James Watt projetou um motor com especificações tão exatas,
que o simples movimento de um pistão podia ser transformado em
movimento giratório. Um fabricante de Birmingham, chamado Boul-
ton, associou-se a Watt e, com os recursos financeiros de Boulton, eles
conseguiram iniciar uma produção, em larga escala, de motores a va-
por. No fim daquele século, o vapor estava substituindo rapidamente a
água como principal fonte de energia na indústria. O desenvolvimento
da energia a vapor levou a profundas mudanças econômicas e sociais
(Hunt, 1989, p. 62).
A ESCOLA CLÁSSICA
73
indústria em larga escala. Haja vista o vapor não dependia, como o uso da água,
da localização geográfica das fábricas e dos recursos locais. Sempre que pudesse
comprar carvão a preço razoável, poderia ser construído um motor a vapor.
Houve uma multiplicação de fábricas. Originam-se as “escuras” cidades indus-
triais (HUNT, 1989).
Em 1776, como não poderia deixar de ser, a Inglaterra era o país mais eficiente
e poderoso do mundo. Ela beneficiou-se, grandemente com o livre comér-
cio internacional, em face do início da Revolução Industrial. Nesse ínterim, os
empresários foram se fortalecendo e não mais precisavam contar com a ajuda
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DOGMA DESCRIÇÃO
Envolvimento Mínimo É o primeiro princípio da escola clássica. O melhor
do Governo governo governa o mínimo. As forças do mercado livre
e competitivo guiariam a produção, a troca e a distri-
buição. A economia era considerada auto-ajustável
caminhando na direção do emprego total sem inter-
venção do governo. A atividade do governo deveria
ser limitada à aplicação dos direitos de propriedade
e ao fornecimento da defesa nacional e da educação
pública.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Comportamento Os economistas clássicos supunham que o compor-
Econômico de auto-in- tamento de auto-interesse é básico para a natureza
teresse humana. Os produtores e os mercadores forneciam
bens e serviços para obter salários e os consumidores
compravam produtos como uma maneira de satisfazer
seus desejos.
Harmonia de Interesses Com exceção importante de Ricardo, os clássicos
enfatizavam a harmonia natural de interesses em uma
economia de mercado. Ao correr atrás de seus inte-
resses individuais, as pessoas atendiam aos melhores
interesses da sociedade.
Importância de todos Os clássicos notabilizam que todos os recursos
os recursos e atividades econômicos - terra, mão de obra, capital e habilidade
econômicas empresarial - , bem como as atividades econômicas
- agricultura, comércio, produção e comércio interna-
cional - contribuíam para a riqueza de uma nação. Os
mercantilistas tinham dito que a riqueza derivava do
comércio, os fisiocratas acreditavam que a terra e a
agricultura eram as fontes de riqueza.
Leis Econômicas A escola clássica deu grandes contribuições para a eco-
nomia ao concentrar a análise em teorias econômicas
explícitas ou “leis”. Exemplos incluem a lei da vantagem
comparativa, a lei de rendimentos cada vez menores, a
teoria da população de Malthus, a lei dos mercados (lei
de Say), a teoria da renda de Ricardo, a teoria quantita-
tiva da moeda e a teoria do valor-trabalho. Os clássicos
acreditavam que as leis da economia são universais e
imutáveis.
Fonte: adaptado de Brue (2016).
A ESCOLA CLÁSSICA
75
Podemos listar aqui várias das “leis” clássicas que são ensinadas como “princí-
pios” econômicos:
1. Lei dos rendimentos decrescentes.
2. Lei da vantagem comparativa.
3. Noção de soberania do consumidor.
4. Importância do acúmulo de capital para o crescimento econômico.
5. Mercado como mecanismo para reconciliar os interesses dos indivíduos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ADAM SMITH
No começo dessa unidade comentamos que a Escola Clássica tem como funda-
dor Adam Smith. Ele é considerado o Pai da Economia Política.
O maior dos escoceses foi o primeiro economista, Adam Smith. Os
economistas não têm grande fama de concordar uns com os outros -
porém, numa coisa há unanimidade total. Se a economia teve um fun-
dador, esse sem dúvida alguma foi Smith. Ele nasceu, ou pelo menos foi
batizado, na pequena cidade portuária de Kirkcaldy, ao norte de Firth
of Forth, no ano de 1723. O pai do homem cujo nome ficaria para sem-
pre ligado à liberdade de comércio era um funcionário da alfândega
(GALBRAITH, 1979, p. 4).
Adam Smith
76 UNIDADE II
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admitido na Universidade de Glasgow em 1737, onde
estudou os clássicos, Teologia, Matemática e Filosofia.
Após quatro anos, optou por prosseguir seu bacha-
relado em Balliol College, Oxford. Após terminar os
estudos, retornou à Escócia em 1746.
O Iluminismo foi o período intelectual que ser-
viu de panorama para o pensamento de Smith. Esse
movimento intelectual geral da sua época, se ergueu
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sob dois pilares: a habilidade de raciocínio das pes-
soas e o conceito de ordem natural, conforme tratado
anteriormente. Outra influência importante para Smith foi dos fisiocratas. Ele
elogiou o sistema fisiocrático “com toda a sua imperfeição” como “talvez o mais
próximo da verdade que já tivesse sido publicado sobre o assunto da economia
política”. O ataque dos fisiocratas ao mercantilismo e suas propostas para remo-
ver as barreiras comerciais ganharam sua admiração. A partir desses pensadores,
ele descreveu o tema da riqueza como “os bens de consumo produzidos anual-
mente pelo trabalho da sociedade”, a desejável interferência mínima do governo
na economia e o conceito do processo circular de produção e distribuição.
Com Adam Smith, a história da economia deu seu maior passo. Eric Roll
(1971 apud Gennari, 2009 p. 68) escreveu a seu respeito, “o apóstolo do libera-
lismo econômico falou em termos lúcidos e persuasivos”, dirigindo-se a
um público que estava pronto para receber sua mensagem e sua voz era
a voz de industriais ansiosos por eliminar todas as restrições sobre o
mercado e sobre a oferta de mão de obra – os resquícios do antiquado
regime do capital mercantil e dos interesses dos proprietários de terras.
(ROLL, 1971 apud GENNARI, 2009 p. 68).
A ESCOLA CLÁSSICA
77
Adam Smith
78 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em 1776, Smith publicou sua obra An inquiry into the nature and causes of
wealth of nations (A Riqueza das Nações), que tinha iniciado na França, dez anos
antes. A obra possui o significado de manifesto de uma nova ciência. O sucesso
do livro foi imediato e isso estabeleceu definitivamente o prestígio de Smith. Um
dos aspectos históricos mais relevantes dessa obra é sua atualidade em relação à
economia capitalista moderna, haja vista que a dimensão temporal revelava um
momento marcado por grandes transformações econômicas e sociais impulsio-
nadas pela primeira revolução industrial, cujo epicentro foi o Reino Unido como
já tratamos anteriormente. O texto cumpriu o singular papel de instrumento de
uma ideologia triunfante no século subsequente, o liberalismo.
Smith foi um daqueles pensadores que extraíram da noção de direito natu-
ral (jusnaturalismo) uma particularidade sobre o fazer material do homem. De
modo a associar tanto o apelo à razão e a inspiração nas descobertas newtonianas,
quanto o afastamento da órbita do Estado, em contraposição ao conhecimento
administrativo característico do mercantilismo, assim como a atenção aos pro-
blemas correntes dos preços, câmbio e moeda. De modo geral, A Riqueza das
Nações é uma síntese da temática típica da reflexão econômica dos séculos XVII
e XVIII, reunindo, de modo original e em uma trama coerente, os fios antes dis-
persos da cena material e cultural do capitalismo nascente.
Em outras palavras, ele quis saber como as ações de indivíduos livres resul-
tavam em um mercado ordenado e estável, de modo que a corrente Smithiana
destaca que os participantes da economia tendem a ir atrás de seus interesses
pessoais. O homem, com sua liberdade, rivalidade e desejo de ganhar, é guiado
por uma:
A ESCOLA CLÁSSICA
79
[...] mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas
intenções. Aliás, nem sempre é pior para a sociedade que esse objetivo
não faça parte das intenções do indivíduo. Ao perseguir seus próprios
interesses, o indivíduo muitas vezes promove o interesse da sociedade
muito mais eficazmente do que quando tenciona realmente promovê-
-lo (SMITH, 1996, p. 437).
Adam Smith
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Para o escocês, o avanço da produtividade tinha a capacidade de se espraiar para
todos os ofícios e, assim, produzir uma riqueza universal que se estenderia às
camadas mais baixas da população.
A ESCOLA CLÁSSICA
81
sua renda natural. O capital utilizado na sua fabricação deveria auferir seu lucro
natural. A mão de obra usada deveria ganhar seu salário natural. Os preços e
margens de lucro do mercado podem diferir de seus níveis naturais em certos
períodos, como na escassez. Nesse caso, as oportunidades de ganho surgirão e
os preços aumentarão, mas só até a concorrência trazer novas empresas ao mer-
cado e os preços caírem ao seu nível natural. Se a demanda em uma indústria
começa a sofrer queda, preços e salários cairão, mas, com o aparecimento de
outra indústria, essa oferecerá salários mais altos para atrair trabalhadores. No
longo prazo, diz Smith, os preços de “mercado” e os “naturais” serão os mesmos
– os economistas modernos chamam isso de equilíbrio.
A concorrência é essencial para que os preços sejam justos. Smith atacou
os monopólios que ocorrem no âmbito do sistema mercantilista, que exigiu dos
governos o controle do comércio exterior. Quando há apenas um fornecedor de
um bem, a empresa que o fornece pode segurar o preço permanentemente acima
do nível natural. Consequentemente, para Smith (1996, p. 85):
[...] o preço natural é como que o preço central ao redor do qual conti-
nuamente estão gravitando os preços de todas as mercadorias. Contin-
gências diversas podem, às vezes, mantê-los bastante acima dele e, nou-
tras vezes, forçá-los para baixo desse nível. Mas, quaisquer que possam
ser os obstáculos que os impeçam de fixar-se nesse centro de repouso e
continuidade, constantemente tenderão para ele.
Ele entendia que as coisas que tinham muito valor de uso possuíam frequen-
temente pouco ou nenhum valor de troca e vice-versa. Menciona o famoso
exemplo da água e do diamante para ilustrar tal idéia. A água possui muito valor
de uso e pouco valor de troca, já com o diamante ocorre exatamente o contrário.
Adam Smith
82 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
é mais natural estimar o valor de troca de uma mercadoria pela quantidade de
outra mercadoria do que com base no trabalho que ela pode comprar. Na ver-
dade, a dificuldade apresentada por Smith (1996, p. 66) é que “o trabalho é o
valor real das mercadorias; o dinheiro é apenas o preço nominal delas”.
Ao buscar desembaraçar-se do problema, ele afirma que “pode-se dizer que o
trabalho, da mesma forma que as mercadorias, têm preço real e um preço nomi-
nal”. O preço real consiste na quantidade de bens necessários que se permutam
em troca dele e o preço nominal, na quantidade de dinheiro.
Sendo o trabalho a medida do valor de troca, Smith (1996, p. 77) entende que:
[...] se, em uma nação de caçadores, abater um castor custa duas vezes
mais trabalho do que abater um cervo, um castor deve ser trocado por
– ou, então, vale – dois cervos. É natural que aquilo que normalmente
é o produto do trabalho de dois dias ou de duas horas valha o dobro
daquilo que é produto do trabalho de um dia ou uma hora.
Concluindo, Smith (1996, p. 78) pensa que “fica, pois, evidente que o trabalho
é a única medida universal e a única medida precisa de valor, ou seja, o único
padrão pelo qual podemos comparar os valores de mercadorias diferentes, em
todos os tempos e em todos os lugares”.
Para Smith, as fontes originais de todas as rendas são o salário do trabalhador,
o lucro do empresário e a renda da terra dos proprietários, e, desse modo, de todo
valor de troca. Quanto ao lucro e à renda da terra, a análise de Smith apresenta a
idéia de que “o trabalho mede o valor não somente daquela parte do preço que se
desdobra em trabalho efetivo, mas também daquela representada pela renda da
terra e daquela que se desdobra no lucro devido ao empresário” (Id., p.79).
A ESCOLA CLÁSSICA
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Adam Smith
84 UNIDADE II
e pela oportunidade de lucro. Smith disse que o crescimento pode ser reduzido
por fracassos comerciais, falta de recursos necessários para estabilizar o estoque
de capital, um sistema monetário inadequado (há mais crescimento com papel
moeda do que com ouro) e uma proporção alta de trabalhadores improdutivos.
Ele alegou que o capital é mais produtivo na agricultura do que na indústria,
que é mais alto que no comércio ou no transporte. Em última análise, a econo-
mia vai crescer até atingir um estado rico, estacionário. Smith subestimou aí o
papel da tecnologia e da inovação. Conforme discorda Schumpeter (1997, p. 47).
Conforme Gennari (2009), para Smith o bem-estar humano sempre esteve
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
presente em sua teoria. Para o fundador da economia política, o bem-estar eco-
nômico estaria relacionado ao livre jogo das forças de mercado que comandaria,
por meio de uma mão invisível, as ações egoístas dos indivíduos, que, buscando
seus interesses individuais, atingiriam, como por derivação, o bem-estar geral
da sociedade.
Segundo Smith, todos os indivíduos estão empenhados em realizar da maneira
mais vantajosa possível a aplicação de seu capital, ou seja, realizar sua atividade
buscando como resultado o maior valor possível. Além disso, os indivíduos
procuram empregar seu capital o mais próximo possível “de sua residência”,
fomentando, assim, preferencialmente, a atividade nacional. Dessa maneira,
guiado pela mão invisível, suas atividades individuais geram, assim como exter-
nalidades, o bem-estar de toda a sociedade (GENNARI, 2009).
A noção de bem-estar econômico faz relação à quantidade do produto do
trabalho anual e do número dos consumidores de tal produto e dependeria fun-
damentalmente de uma ética relacionada ao egoísmo. Smith, nas palavras de
Napoleoni (2000, p. 46):
[...] individualiza uma zona do proceder humano na qual um compor-
tamento correspondente ao objetivo egoísta justifica-se tomando por
base o próprio princípio da utilidade: trata-se da esfera na qual ocor-
rem a formação e o desenvolvimento da riqueza, já que, quando um
indivíduo se esforça por conseguir a maior vantagem pessoal na troca,
vai mais além de sua própria vontade, de tal sorte que seja máxima a
disponibilidade de bens para todos.
A ESCOLA CLÁSSICA
85
THOMAS MALTHUS
Thomas Malthus
86 UNIDADE II
CARACTERÍSTICA DESCRIÇÃO
Aumento da Em 1798, alguns dos efeitos negativos da Revolução Indus-
pobreza trial, bem como a urbanização crescente, estavam começan-
do a aparecer. O desemprego e a pobreza já eram proble-
mas, criando necessidades de tratamento reparador. Deu-se
um debate caloroso. Sua principal preocupação era com a
inquietação dos trabalhadores e com os esquemas que esta-
vam sendo defendidos por intelectuais radicais, com relação
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
à reestruturação da sociedade, a fim de promover o bem-
-estar e a felicidade dos trabalhadores. No entanto, a classe
proprietária inglesa negava qualquer responsabilidade pela
pobreza e se opunha ativamente a leis que favoreciam a
distribuição de renda.
A TEORIA DA POPULAÇÃO
A ESCOLA CLÁSSICA
87
sava o aumento, cada vez mais rápido, do povo. A produção de alimentos não o
acompanharia. Contudo, há uma força contrária: Malthus achava que a má nutri-
ção e as doenças causadas por uma oferta alimentar mais limitada ocasionaram
uma mortalidade crescente e evitariam o descontrole do desequilíbrio. Menos
alimento para o mundo também implicaria sustento menor para as crianças e
o índice de natalidade cairia. Isso reduziria a pressão sobre a terra, restituindo
os padrões de vida.
Além de evitar a fome total, a mudança nos índices de natalidade e mortali-
dade faz a população não mais se beneficiar de altos padrões de vida por longo
tempo. Suponha que a economia tenha um golpe de sorte com a descoberta de
terra. Mais terra dá um incentivo único à produção de mais alimento para cada
pessoa, cada uma fica mais saudável, e o índice de mortalidade cai. Um padrão de
vida mais alto permite mais filhos. Juntos, esses fatores fazem a população cres-
cer. A produção de alimentos não segue o ritmo e a economia retoma o padrão
de vida anterior, mais baixo. A isso chama-se armadilha malthusiana: padrões
de vida mais altos são sempre sufocados pelo aumento da população. Assim,
aconteça o que acontecer, a economia sempre volta a uma produção de alimen-
tos que sustente uma população estável (HUNT, 1989).
Malthus previa uma estagnação econômica, com o povo lutando para sobre-
viver e seu crescimento sendo refreado por fome e doenças. Porém, esse modelo
- uma economia de agricultores que labutam com ferramentas simples num lote
imutável de terra - já estava defasado na virada do século XVIII. Novas técnicas
já permitiam maior produção de alimentos com a mesma quantidade de terra
e de mão de obra. Novas máquinas e fábricas proporcionavam uma produção
Thomas Malthus
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Thomas Malthus
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DAVID RICARDO
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David Ricardo
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 2 - Equivalência ricardiana
Fonte: adaptado pela autora de Rosa (2013).
David Ricardo é considerado por Galbraith (1979, p. 73) a figura mais obscura
da história da sua disciplina. Isso se explica pelo fato de Ricardo não ter uma
linguagem clara e acessível. Inclusive, aconselha o leitor: “ [...] após o exaustivo
exercício de compreendê-la (a obra de Ricardo), pode sentir uma certa liber-
dade de escolher no que ele prefere acreditar”. Essa consideração também é
semelhante no manual de Hunt (1989), que destaca ser Ricardo, o mais rigoroso
economista clássico. Em que a capacidade do pensador britânico de construção
de um modelo abstrato de como funcionava o capitalismo e dele deduzir todas
as suas implicações lógicas, foi, em sua época, insuperável.
É tão representativa, caro(a) leitor(a), a contribuição de David Ricardo para
história do pensamento econômico, que sua teoria econômica estabeleceu um
estilo de modelo próprio que perdura na ciência econômica até os dias atuais.
Napoleoni (2000 p. 85) atribui à Ricardo a seguinte definição para a Economia
Política:
A ESCOLA CLÁSSICA
93
A noção inicial é a de que para que uma mercadoria tenha valor de troca,
necessariamente deve ter valor de uso. A utilidade (satisfação subjetiva de uma
necessidade) não é a medida de valor de permuta, embora seja essencial para ela.
Possuindo utilidade, as mercadorias emanam seu valor de troca de duas origens:
1. Escassez.
2. Quantidade de trabalho exigida para obtê-las.
Em que pese os trabalhos de arte raros, livros clássicos, vinhos de quali-
dade peculiar, em que o único determinante é a escassez, a maioria das
mercadorias é reprodutível. E é sobre esse contexto de mercadorias que
Ricardo adotou sua teoria de valor do trabalho.
David Ricardo
94 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
lidade. Trabalhadores altamente eficientes podem produzir mais em uma hora
de trabalho do que trabalhadores pouco eficientes. Diferentes mercadorias são
produzidas com grandes variações nas combinações de tipos de mão de obra
empregada. No entanto, no mercado, o valor relativo de troca é igual.
A ESCOLA CLÁSSICA
95
100 90 80
A produção da terra marginal trará uma receita suficiente para cobrir todas as
despesas da produção mais a taxa média de lucros sobre o investimento na mão
de obra e no capital. Caro(a) leitor(a), a própria definição de Ricardo é a seguinte,
segundo suas próprias palavras:
é apenas [...] porque a terra não é limitada em sua quantidade nem
uniforme em sua qualidade e porque, com o aumento da população, é
preciso usar terra de qualidade inferior, que se paga renda pelo seu uso.
Quando com o progresso da sociedade, se cultivam terras do segundo
grau de fertilidade, a terra de primeira qualidade começa imediatamen-
te a dar renda e o volume desta renda dependerá da diferença de qua-
lidade das duas terras. Quando se começa a cultivar a terra de terceira
categoria, a terra de segunda categoria começa logo a dar renda, que é
determinada, como antes, pela diferença de sua capacidade produtiva.
Ao mesmo tempo, a renda da terra de primeira categoria aumentará,
pois terá sempre que estar acima da renda da segunda, por causa da
diferença entre seus produtos com determinada quantidade de capital e
trabalho. Toda vez que a população aumenta, o país é obrigado a recor-
rer à terra de pior qualidade para poder aumentar a oferta de alimentos,
e a renda de toda a terra mais fértil aumenta (RICARDO, 1982, p. 35).
David Ricardo
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
transformações advindas com a Revolução Francesa. A indústria têxtil era respon-
sável por significativa fração das exportações britânicas. Ricardo justificava que:
[...] cada país naturalmente se especializa nos ramos em que tem maio-
res vantagens, isto é, em que seus custos de produção são menores do
que os de seus parceiros. Na divisão internacional de trabalho, cada
país apresenta vantagens naturais (solo, clima, minério etc.) ou artifi-
ciais (mais capital acumulado, melhor infraestrutura), que determinam
os produtos que pode obter com menor custo. Dessa maneira, os gran-
des beneficiados pelo comércio internacional são os consumidores dos
países importadores, pois podem dispor de produtos do mundo inteiro
pelos menores preços. (RICARDO, 1982, p. 103).
Para que haja o aumento da taxa de lucros, é necessário uma redução dos salá-
rios. Para que haja essa queda, é necessário uma queda dos preços dos gêneros
de primeira necessidade, nos quais os salários são gastos. Se, portanto, por
uma ampliação do comércio exterior, ou por melhoramentos na maquinaria,
A ESCOLA CLÁSSICA
97
David Ricardo
98 UNIDADE II
aplicar seu capital na produção de vinho, pelo qual poderia obter mais
tecido da Inglaterra do que se desviasse parte de seu capital do cultivo
da uva para a manufatura daquele produto (RICARDO, 1992, p. 98).
Isto posto, a Inglaterra poderia exportar tecidos e importar vinho de forma mais
vantajosa do que se dedicasse tempo de trabalho para a produção de vinho, des-
perdiçando horas de trabalho, que de outro modo, como na produção de tecidos,
tornaria a indústria têxtil mais produtiva e teria mais tecidos e vinho do que se
produzisse ambos. Do mesmo modo, a indústria de Portugal seria benéfica para
ambos os países se produzisse vinho e trocasse pelos tecidos ingleses.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
OS UTILITARISTAS E A UTILIDADE
A ESCOLA CLÁSSICA
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JEREMY BENTHAM
Os Utilitaristas e a Utilidade
100 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que concebeu a ação humana como um cálculo de prazeres e sofrimentos e que
trouxe o princípio da utilidade para o centro das discussões. O utilitarismo cons-
titui uma doutrina ética de acordo com a qual o bem se identifica com o que é
útil. Com J. Bentham, contudo, esse pensamento se consolida como um sistema
filosófico, segundo o qual a felicidade consiste em se obter aquilo que é útil e,
ao mesmo tempo, em se afastar do sofrimento, tornando-se próximo do prazer.
A idéia principal é que os seres humanos buscam maximizar a utilidade de
maneira que buscam o máximo de prazer e, ao mesmo tempo, o mínimo de dor.
Segundo Bentham, “a natureza colocou a humanidade sob o domínio de dois
mestres soberanos, a dor eo prazer. Só eles podem mostrar o que devemos fazer.
O princípio da utilidade reconhece esta sujeição e a aceita como fundamento de
sua teoria social” (BENTHAM, 1984, p. 10).
Bentham argumentou que a riqueza é uma medida de felicidade, mas tem
uma utilidade marginal decrescente à medida que aumenta.
De duas pessoas que têm fortunas desiguais, aquela que tem a maior
riqueza deve, por um legislador, ser considerada como tendo a maior
felicidade. Mas a quantidade de felicidade não continuará aumentando,
em qualquer coisa, quase na mesma proporção que a quantidade de ri-
queza: dez mil vezes a quantidade de riqueza não trará com ela dez mil
vezes a quantidade de felicidade. Será até mesmo assunto de dúvida, se
dez mil vezes a riqueza em geral trará com ela duas vezes a felicidade.
O efeito da riqueza na produção de felicidade continua diminuindo,
enquanto a quantidade pela qual a riqueza de um homem excede à
daquele outro continua a aumentar: em outras palavras, a quantidade
de felicidade produzida por uma pequena parte da riqueza (cada parte
A ESCOLA CLÁSSICA
101
Os Utilitaristas e a Utilidade
102 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ensino dessa disciplina na França. Tentou separar a economia
©Jov
Skie
da política e se reconhecia como herdeiro das ideias dos mer-
cantilistas, dos fisiocratas e das obras clássicas de Adam Smith.
Segundo a definição de Say, a produção não é uma criação de matérias, mas
uma criação de utilidades. Ele se opôs à teoria do valor do trabalho da escola
clássica, substituindo-a pela oferta e demanda que, por sua vez, são reguladas
pelos custos da produção e da utilidade. Sobre a teoria do valor, nas palavras de
Say (1983, p.10):
[...] a utilidade é o fundamento do valor. O preço é a medida da uti-
lidade. Quando não existem obstáculos à livre concorrência, nem in-
tervenções estatais, os preços do mercado refletem adequadamente
os valores reais, ou seja, a utilidade dos diversos produtos. O custo da
produção não é mais do que uma limitação imposta ao produtor, um
limiar aquém do qual ele se absterá de produzir, mas que não determi-
na, de modo algum, o valor dos produtos. [...] trata-se, aqui, de uma
total rejeição da teoria do valor-trabalho, assim como, também, de toda
a distinção entre o valor de uso e o valor de troca. O valor de Say é um
valor mercante que só define pela troca.
A ESCOLA CLÁSSICA
103
lucro. Nesse ambiente teórico, o Estado não tem papel determinante algum, ape-
nas deve abster-se de intervir no livre jogo das forças de mercado, ou seja, da
oferta e da procura, que, se deixadas livremente, irão necessariamente estabele-
cer e manter o equilíbrio econômico (GENNARI, 2009).
Say(1983) afirma que “a demanda dos produtos em geral é tanto maior
quanto mais ativa for a produção” ou “os produtos criados fazem nascer deman-
das diversas”.
Nas palavras mais conhecidas pelos economistas acerca da lei de Say: “Toda oferta
cria sua própria demanda”. A abordagem do pensador pressupõe que a economia
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os Utilitaristas e a Utilidade
104 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
maximizar a felicidade geral para todas as pessoas; na segunda, por outro lado,
sustenta que a sociedade pode interferir na liberdade dos indivíduos somente
para prevenir danos a terceiros, ou seja, não deveria haver interferência mesmo
quando tal tenha a possibilidade de produzir grandes ganhos globais em felicidade.
Na filosofia moral e política de Mill, destaca-se a liberdade e a espontanei-
dade humana. Nas palavras de Mill (1996, p. 268):
Depois de assegurados os meios de subsistência, a necessidade pessoal
mais forte dos seres humanos é a liberdade; e (ao contrário das neces-
sidades físicas, as quais, à medida que a civilização progride, se tornam
mais moderadas e mais fáceis de controlar) a necessidade de liberdade
aumenta de intensidade, em vez de diminuir, à medida que a inteli-
gência e as faculdades morais se desenvolvem mais. A perfeição tanto
das estruturas sociais como da moral prática, consistiria em assegurar
a todas as pessoas independência e liberdade completas de ação, não
sujeitas a nenhuma outra restrição senão a de não causar dano a ou-
tros; a educação que ensinou ou as instituições sociais que exigiram que
as pessoas trocassem o comando de suas próprias ações por qualquer
soma de conforto ou influência, ou abdicassem à liberdade em função
da igualdade, privaram as pessoas de uma das características mais ele-
vadas da natureza humana.
A ESCOLA CLÁSSICA
105
Como verifica Sen (2007), autores como Adam Smith, John Stuart Mill, Karl
Marx, se preocuparam mais com questões éticas do que os escritos de William
Petty, François Quesnay, David Ricardo, que se concentraram nos assuntos de
logística e engenharia na Economia. Temos que, Stuart Mill pode ser conside-
rado um autor de transição, sob a perspectiva do pensamento que dá maior foco
aos aspectos ligados à produção da riqueza (pensamento antigo) e o pensamento
econômico moderno que tem como objetivo de pensamento os aspectos ligados
à distribuição da riqueza. É diante desse cenário que vamos conhecer um pensa-
dor fundamental para a análise do sistema capitalista de produção: Karl Marx.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os Utilitaristas e a Utilidade
106 UNIDADE II
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
um cenário histórico com forte clima intelectual da época: o iluminismo. Esse
movimento intelectual se ergueu sob dois pilares: a habilidade de raciocínio das
pessoas e o conceito de ordem natural. Conforme vimos na unidade anterior, a
revolução científica associada a Newton estabeleceu que a ordem e a harmonia
caracterizavam o universo físico. É muito clara a influência de Quesnay em Smith,
de modo que chega a elogiar o “sistema fisiocrático” “com toda a sua imperfeição”.
Em Malthus, o cenário histórico era de aumento substancial da pobreza e a
questão da lei dos cereais, de modo a impor tarifas aos grãos importados. Você
deve ter compreendido que a teoria da população de Malthus implicava em con-
trole preventivo da população e, sobre as questões políticas, teve que rever a lei
dos pobres. Haja vista que publicou primeiramente que o governo não deveria
oferecer ajuda aos pobres e, nas edições posteriores teve que se desculpar.
Nosso trabalho tratou também de David Ricardo, figura importantíssima
que tem um trabalho que perdura até os dias atuais. Com grande destaque para
a teoria dos rendimentos decrescentes e da renda.
Nos utilitaristas, apresenta-se a questão que vimos, do hedonismo. Em que
temos que maximizar o prazer e minimizar a dor. Essa teoria foi a base do que
trataremos na unidade IV ao abordar Alfred Marshall. Nesse momento, nossa
dimensão temporal está cercada de crises e pobreza, nesse ínterim surge a escola
socialista, motivo de estudo da nossa próxima unidade.
A ESCOLA CLÁSSICA
107
Haviam restado na colmeia tão poucas abelhas que só podiam dar conta da centésima
parte frente aos embustes das outras colmeias. Mesmo sem mercenários, lutaram com
bravura pelo que era seu, obtendo a coroa da vitória. Mas a que preço: calejadas de
tanto trabalho e exercícios, agora consideravam vício o próprio descanso. E, para evitar
extravagâncias, repletas de contentamento e honradez, emigraram para um tronco oco
(Mandeville, 2001, p. 11-21). A moral da fábula é clara: Deixai, pois, de queixar-vos: so-
mente os idiotas se esforçam para fazer de uma grande colmeia uma colmeia honrada.
Querer gozar dos benefícios do mundo e ser famosos na guerra e viver com folga, sem
grandes vícios, é vã utopia assentada no cérebro. Fraude, luxo e orgulho devem viver en-
quanto desfrutamos de seus benefícios: a fome é, sem dúvida, uma praga terrível, mas,
sem ela, quem prospera ou se alimenta? [...] Segundo Kaye (apud Mandeville, 2001, p.
65-77), a influência da obra de Mandeville se deu em três campos. Na literatura, a influ-
ência foi superficial. No domínio da ética, o impacto foi forte, figurando Mandeville entre
os principais promotores do desenvolvimento do utilitarismo moderno. Foi no campo
da economia que sua influência mais se destacou (embora raramente reconhecida de
forma explícita!) e isso particularmente em dois pontos: “na formulação da famosa teoria
da divisão do trabalho, que Adam Smith converteu numa das pedras angulares do pen-
samento econômico moderno”, e “como uma das principais fontes literárias da doutrina
do Laissezfaire”. Mandeville antecipa, por assim dizer, duas formulações importantes do
liberalismo econômico clássico: a noção de divisão de trabalho e a noção de liberdade
econômica ou liberalismo econômico. Aliás, muito provavelmente Smith deve a Mande-
ville esses conceitos de divisão do trabalho e de liberdade econômica, tão centrais em
sua obra A riqueza das nações, de 1776. É sumamente interessante.
Fonte: Ravanello (2009, on-line)2.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Queimada
Sinopse: um provocador inglês enviado à ilha fictícia de
Queimada para incitar uma revolta de escravos contra o
colonialismo português. Os ingleses servem-se dos sentimentos
independentistas dos escravos para se apropriarem, eles
próprios, do comércio do açúcar, mas a revolta dos escravos
ganha pernas próprias e prova-se difícil de controlar. Marlon
Brando é irrepreensível no papel de William Walker, um cínico
mercenário inglês que compreende demasiado bem à lógica do
lucro e à desumanidade do colonialismo para lhes ser indiferente.
A edição crítica das obras de Ricardo foi organizada por Piero Sraffa com a colaboração de
Maurice Dobb: The Works and Correspondence of David Ricardo. Seus 11 volumes foram lançados
entre o final as décadas de 1950 e 1970.
Disponível em: <http://www.pensamentoeconomico.ecn.br/economistas/david_ricardo.html>.
111
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIA ON-LINE
1
Em: <http://www.ihu.unisinos.br/images/stories/cadernos/ideias/195caderno-
sihuideias.pdf>. Acesso em: 26 set. 2016.
2
Em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n41/v14n41a09.pdf>. Acesso em: 12
dez. 2016.
GABARITO
III
UNIDADE
ESCOLA MARXISTA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer a teoria da história de Marx.
■■ Compreender a teoria do valor do trabalho para Marx.
■■ Estudar a questão da acumulação no sistema capitalista.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A teoria da história de Marx
■■ A teoria do valor - trabalho
■■ A teoria da exploração
■■ O acúmulo de capital
■■ O acúmulo de capital e a crise
■■ A centralização do capital e a concentração de riqueza
■■ O conflito de classes
115
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), nesta unidade você perceberá que a escola Marxista surgiu
entre 1840 e 1860 e podemos pensar que seu início foi marcado pela publicação
das obras de Marx. Esse pensador formulou ideias tanto sobre questões intelec-
tuais quanto sobre questões práticas, poucos são os intelectuais que tenham tido
impacto equivalente às ideias dele. Apresentou sistema intelectual integrado, com
argumentação contextualizada.
Para que Marx pudesse se debruçar sobre seus estudos, contou com o apoio,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
116 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os cargos universitários sempre estiveram fechados a Marx
devido ao seu radicalismo. Assim, ele se tornou jornalista, exi-
lou-se na Alemanha e foi para Paris, onde estudou socialismo
francês e economia política inglesa. Durante seu exílio em Paris,
©shutterstock conheceu Engels, estabeleceram uma estreita relação de amizade,
na qual Engels passa a se tornar, inclusive, colaborador e protetor
financeiro de Marx. Juntos, Engels e Marx escreveram o Manifesto do Partido
Comunista, em 1848. No quadro 1, temos os detalhes da biografia, intensa, diga-
-se de passagem, da vida do pensador.
ESCOLA MARXISTA
117
Beluzzo (2013) nos apresenta, que para Marx a socialização dos indivíduos se dá
mediante o mercado, mas, no capitalismo, o mercado não é uma relação paralela
entre vendedores e compradores. Isso implica uma abordagem diferenciada dos
economistas anteriores a ele, que acreditavam na Lei de Say que “toda oferta cria
sua própria demanda”, (Unidade II). As relações econômicas fundamentais estão
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
constituídas, dessa maneira, por uma assimetria de poder entre os que possuem
os meios de produção e os que, para sobreviver, são obrigados a vender livre-
mente sua força de trabalho. A história do capitalismo é a narração da crescente
subordinação do trabalho e do “empobrecimento” do indivíduo.
Marx era um admirador do caráter progressista da burguesia e do capitalismo,
ao mesmo tempo em que é um crítico impiedoso de uma estrutura social que
desenvolve formas de dominação econômicas cada vez mais abstratas e distan-
tes do alcance do indivíduo despossuído, mutilado e cerceado em sua atividade
criativa. A questão não é propriamente monetária, no sentido de ter mais ou
menos dinheiro no bolso. O indivíduo é mais pobre, à medida que o desenvolvi-
mento capitalista “cria” necessidades e as ajusta diante do contexto de ampliação
do lucro, “a qualquer custo”, na troca de mercadorias e em outros aspectos, que
veremos adiante. Nas palavras de Beluzzo (2013, p. 15):
a automação crescente do processo de trabalho e a tendência à concen-
tração e centralização das forças produtivas assumem diretamente, em
sua forma material, o automatismo da acumulação e seu caráter auto
referencial, determinando o “empobrecimento” e a submissão da sub-
jetividade dos indivíduos “livres” e de seu mundo da vida. Ao contrário
do prometido, eles não conseguem escolher o seu destino, mas são tan-
gidos por forças que lhe são estranhas, senão hostis.
Marx acreditava que a opressão das formas econômicas que se apresentam como
“naturais”, entra frequentemente em conflito com as aspirações do indivíduo
moderno e isso abre a possibilidade da ação transformadora. O pensamento
original de Karl Marx causa assombro até os dias de hoje, tanto para os liberais
e os defensores do capitalismo, quanto para os intelectuais e trabalhadores que
ESCOLA MARXISTA
119
se opõem ao status quo. Desde o século XIX, sua influência vem se estendendo
a todos os campos das ciências humanas. Na sociologia, na economia, na psi-
canálise, na teoria da administração, na antropologia entre outras. Podemos
encontrar adeptos da escola marxista. Talvez o principal motivo esteja na pro-
fundidade e agudeza da crítica empreendida e desenvolvida ao longo de toda a
obra. Nenhum trabalho de filosofia, de ciência natural, literatura ou pensamento
social escapou aos estudos e à avaliação crítica de Karl Marx.
Karl Marx não se limitou a estudar e entender a realidade histórica com os
olhos de seus contemporâneos. Foi além e criou seu próprio método de aborda-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ser social que determina sua consciência.
Nesse sentido, a contribuição de Chauí (2014) é esclarecedora, pois mostra
que Marx e Engels, ao contrário do que se pode pensar, não são as ideias huma-
nas que movem a história, mas são as condições históricas que produzem as
ideias. Ainda em Chauí (2014, p. 481):
Materialismo porque somos o que as condições materiais (as relações
sociais de produção) nos determinam a ser e a pensar. Histórico porque
a sociedade e a política não surgem de decretos divinos nem nascem
da ordem natural, mas dependem da ação concreta dos seres humanos
no tempo.
Atente-se:
Materialismo: não tem relação com o sentido ético à medida que se busca
de forma de medida por bens materiais. A ideia de materialismo é que somos
o que as condições materiais (as relações sociais de produção) nos determinam
a ser e pensar. Histórico, porque a sociedade e a política não surgem do nada,
dependem da ação concreta dos seres humanos no tempo.
ESCOLA MARXISTA
121
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: a autora.
ESCOLA MARXISTA
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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É por meio da análise das “mercadorias” que Marx inicia seu Capítulo I, da obra
O Capital (2012, p. 57):
a riqueza das sociedades onde rege a produção capitalista configura-
-se ‘imensa acumulação de mercadorias’, e a mercadoria, isoladamente
considerada, é a forma elementar dessa riqueza. Por isso, nossa investi-
gação começa com a análise da mercadoria.
Cada coisa útil, como ferro, papel etc., pode ser considerada sob duplo
aspecto, segundo qualidade e quantidade. Cada um desses objetos é um
conjunto de muitas propriedades e pode ser útil de diferentes modos.
Constituem fatos históricos a descoberta dos diferentes modos, das
diversas maneiras de usar as coisas e a invenção das medidas, social-
mente aceitas, para quantificar as coisas úteis. A variedade dos padrões
de medida das mercadorias decorre da natureza diversa dos objetos a
medir e também da convenção. A utilidade de uma coisa faz dela um
valor-de-uso. Mas essa utilidade não é algo aéreo. Determinada pelas
propriedades materialmente inerentes à mercadoria, só existe através
delas. A própria mercadoria, como ferro, trigo, diamante etc., é, por
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
faz dela um valor de uso.
A mercadoria é produzida por ter um valor de uso, mas que está destinada à
troca. Se fosse produzida para autoconsumo, por exemplo: o móvel que um mar-
ceneiro produz para sua própria casa, não são mercadorias. Somente, um bem
que satisfaz uma necessidade. É nesse sentido que o valor de uso é o veículo do
valor de troca. E o valor de troca, implica, necessariamente, na faculdade que
uma mercadoria tem em ser trocada ou vendida. Assim, portanto, a mercado-
ria é uma unidade que sintetiza valor de uso e valor de troca.
Para que haja produção de mercadorias, é necessário que haja divisão social
do trabalho e propriedade privada dos meios de produção.
Para que as mercadorias sejam produzidas, faz-se necessário que o tra-
balho seja repartido em diferentes homens, ou diferentes grupos de homens.
Caracterizando a divisão social do trabalho. Essa é uma pré-condição para que
haja produção no sistema capitalista. Mas não somente! Para Marx essa questão
deve se articular à propriedade privada dos meios de produção. Ou seja, impre-
terivelmente para que haja produção, é necessário a divisão social do trabalho e
a propriedade dos meios produtivos.
Historicamente, a produção mercantil é um fruto tardio do processo
de constituição da sociedade humana- suas primeiras formas surgem
quando a comunidade primitiva se desintegrou. Ela aparece no modo
de produção escravista, fazendo com que em inúmeras sociedades
assentadas sobre o escravismo exista um segmento, maior ou menor,
de relações mercantis. No modo de produção feudal, esse segmento
cresceu significativamente, em especial a partir do século XVIII (como
vimos na Unidade I sobre as Cruzadas e o comércio). todavia , nem
o escravismo, nem o feudalismo podem ser considerados modos de
ESCOLA MARXISTA
125
Caro(a) leitor(a), agora você está num ponto importantíssimo para o entendi-
mento da teoria do valor do trabalho para Marx. Eu e você vimos os conceitos de
valor de uso e valor de troca. Mas o que determina o valor de uma mercadoria?
A expressiva resposta de Marx: o tempo de trabalho socialmente necessário embu-
tido na mercadoria. Ou seja, considerando-se as condições normais de produção,
a competência média e a intensidade do trabalho no tempo. O tempo de traba-
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A TEORIA DA EXPLORAÇÃO
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o detalhe: força de trabalho apresenta um conceito
diverso de tempo de trabalho.
ESCOLA MARXISTA
127
Para Marx o motivo desse salário de subsistência não tem relação com o cresci-
mento demográfico de Malthus (Unidade II). O autor defendia que o capitalismo
produz um “exército industrial de reserva”. Esse excesso de força de trabalho
impõe, ao longo do tempo, que o salário médio permaneça próximo ao nível
cultura de subsistência.
À medida em que o valor do trabalho é o custo da sobrevivência, ou seja,
o salário é o preço da mercadoria força de trabalho, a exploração do trabalho
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A Teoria da Exploração
128 UNIDADE III
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O ACÚMULO DE CAPITAL
ESCOLA MARXISTA
129
O Acúmulo de Capital
130 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
total mínimo de capital individual necessário para que a comerciali-
zação e a negociação ocorram em condições normais. Os capitalistas
menores, portanto, insistem em esferas de produção que a indústria
moderna dominou apenas esporadicamente ou de forma incompleta.
Essa competição torna-se acirrada na proporção direta com o número
e na proporção inversa com a magnitude dos capitalistas antagônicos.
Ela sempre termina com a decadência de muitos pequenos capitalistas,
cuja parte dos capitais passa para as mãos de seus conquistadores e
parte desaparece. Fora isso, com a produção capitalista, uma nova força
conjunta entra em cena - o sistema de crédito.
ESCOLA MARXISTA
131
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O CONFLITO DE CLASSES
Karl Marx disse que as pessoas são movidas pelo desejo de se ligar a ou-
tras e que isso as fazem felizes. Mostramos tal desejo por meio do trabalho.
Quando uma pessoa faz um produto, ele representa a sua personalidade.
Quando uma pessoa faz um produto, ele representa a sua personalidade. De
modo que o produtor se compraz não apenas porque satisfez a necessidade
de outra pessoa, mas também porque o comprador confirma a “bondade”
da personalidade do produtor. O capitalismo destrói a essência da huma-
nidade, declarou Marx, pois afasta o trabalhador daquilo que ele produz.
As pessoas não mais controlam sua produção; são apenas contratadas para
fazer algo a que elas deram pouca contribuição criativa e que muito pro-
vavelmente não consumiram nem negociaram. A natureza cooperativa da
sociedade se perde, porque as pessoas são isoladas na concorrência por em-
prego. Marx afirmou que é esse distanciamento do nosso trabalho que nos
deixa infelizes.
Fonte: O Livro da Economia (2013).
O Conflito de Classes
132 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ESCOLA MARXISTA
133
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
134
Na verdade, o capitalismo não nasceu na cidade, mas no campo, num lugar específico
e numa época definida. As forças competitivas foram fatores fundamentais na expro-
priação violenta dos produtores diretos (camponeses), conforme descreveu Marx, com
riqueza de detalhes, em A Assim chamada acumulação primitiva (Livro I, volume 2 de O
Capital). Os cercamentos das terras comunais e dos campos abertos ingleses represen-
taram, de fato, a extinção, com ou sem a demarcação física das terras, dos costumes em
comum e dos direitos consuetudinários (costumeiros) dos trabalhadores e pequenos
proprietários, buscando a criação extensiva de ovelhas ou o cultivo de terras aráveis
com maior produtividade. Assim também nascia uma nova concepção de propriedade
privada: a propriedade, no capitalismo agrário nascente, passava a ser, além de privada,
absoluta e exclusiva, ao excluir grandes contingentes de indivíduos e comunidades do
acesso à terra e aos meios de produção.
A possibilidade de crise no capitalismo nasce da produção desordenada e do fato pelo
qual a extensão do consumo, pressuposição necessária da acumulação capitalista, entra
em contradição com outra condição, a da realização do lucro, já que a ampliação do con-
sumo de massas exigiria aumento de salários, o que provocaria redução da taxa de mais-
-valia. Tal contradição insanável faz com que o capital busque compensá-la por meio da
expansão do campo externo da produção, isto é, da ampliação constante do mercado.
Quanto mais a força produtiva se desenvolve, tanto mais entra em antagonismo com
a estreita base da qual dependem as relações de consumo. Portanto, a crise periódica
é inerente ao capitalismo, pois somente pode ser resultante das condições específicas
criadas pelo próprio sistema.
Segundo a teoria exposta originalmente por Marx no Livro III de O Capital, quanto mais
se desenvolve o capitalismo, mais decresce a taxa média de lucro do capital. Esta ideia
fundamenta-se no fato de que o processo de acumulação capitalista leva, necessaria-
mente, ao aumento da composição orgânica do capital, a qual é apontada como sendo
a relação existente entre o capital constante (o valor da quantidade de trabalho social
utilizado na produção dos meios de produção, matérias-primas e ferramentas de tra-
balho, ou seja, o “trabalho morto” representado, basicamente, pelas máquinas e pelos
insumos necessários à produção) e o capital variável (valor invertido na reprodução da
força de trabalho, o “trabalho vivo” dos operários). O processo de acumulação resulta na
tendência à substituição do “trabalho vivo”, a única fonte de valor, por “trabalho morto”,
que não incorpora às mercadorias nova quantidade de valor, mas apenas transmite às
mesmas, a quantidade de valor já incorporada nos meios de produção.
Fonte: O Capitalismo… ([2016], on-line)1.
MATERIAL COMPLEMENTAR
O Capital
Karl Marx
Editora: Civilização Brasileira
Sinopse: malgrado o impacto que teve e continua a ter, com
todos os méritos, nos debates da chamada “ciência econômica”,
O CAPITAL — que não por acaso tem como subtítulo CRÍTICA
DA ECONOMIA POLÍTICA — não é simplesmente um livro de
economia. Graças ao emprego do método dialético, que privilegia
o ponto de vista da totalidade, a obra tem como objeto a
reconstrução das principais determinações da vida social global
dos homens. Quando, numa carta a Engels, Marx chamou o seu livro de “um todo artístico”, não
fazia com isso uma simples metáfora: buscava indicar o princípio metodológico que orienta seu
trabalho e que lhe possibilita atingir aquela profunda unidade sistemática de conceitos que
reproduz, no plano do pensamento, a unidade do próprio ser social na riqueza explicitada e
concreta de todas as suas determinações.
Tempos Modernos
Ano: 1936
Sinopse: o Vagabundo tenta sobreviver em meio ao mundo
moderno e industrializado.
Material Complementar
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <https://pcb.org.br/portal/docs1/texto6.pdf>. Acesso em: 1 out. 2016
139
GABARITO
IV
UNIDADE
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer a escola marginalista.
■■ Compreender a relação entre a escola marginalista e a escola
neoclassica.
■■ Refletir a importância da escola neoclássica para a economia.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Os marginalistas
■■ A escola neoclássica
143
INTRODUÇÃO
Introdução
144 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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OS MARGINALISTAS
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
145
DOGMA DESCRIÇÃO
Essa escola direcionou sua atenção ao ponto de mudança em
que as decisões são tomadas; em outras palavras, à margem de
Foco na margem lucro. Os marginalistas ampliaram para toda a teoria econômi-
ca o princípio marginal desenvolvido por Ricardo em sua teoria
da renda.
Os marginalistas supuseram que as pessoas agem racional-
mente ao comparar prazeres e trabalho, ao medir a utilidade
marginal de diferentes bens e ao equilibrar as necessidades
presentes contra as futuras. Eles também supuseram que o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os Marginalistas
146 UNIDADE IV
DOGMA DESCRIÇÃO
Para os primeiros marginalistas, a demanda tornou-se a prin-
cipal força na determinação do preço. O economista clássico
enfatizava o custo da produção (suprimentos) como fator
determinante e significativo do valor da troca. Os marginalistas
Teoria do preço
mais antigos passaram para o extremo oposto e enfatizaram a
orientado pela
demanda para a virtual rejeição do abastecimento. Na sequên-
demanda
cia, vamos ver que Alfred Marshall resumiu o abastecimento e
a demanda no que podemos chamar de economia neoclássica.
Esse tipo de economia é marginalista, com um reconhecimen-
to criterioso sobre as contribuições da escola clássica.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
De acordo com os marginalistas, a demanda depende da utili-
dade marginal, que é um fenômeno subjetivo e psicológico. Os
Ênfase na utilidade
custos de produção incluem os sacrifícios e os aborrecimentos
subjetiva
de trabalhar, gerenciar um negócio e economizar dinheiro para
formar um fundo de capital.
Os marginalistas acreditavam que as forças econômicas
geralmente movem-se em direção ao equilíbrio - um balancea-
mento entre forças opostas. Toda vez que os distúrbios causam
desarticulação, ocorrem novos movimentos em direção ao
equilíbrio.
Os marginalistas juntaram a terra e os recursos capitais em
suas análises e referiam-se aos juros, rendimento e lucro como
sendo o retorno para os recursos de propriedade. Tudo isso
tinha suas vantagens analiticamente e também se opunha à
Fusão de terra e
conclusão demonstrada por alguns, de que o rendimento da
bens de capital
terra é uma renda diferida e um pagamento desnecessário
com a finalidade de garantir o uso da terra. Os marginalistas
uniram o pagamento ao proprietário de terras à teoria dos
juros.
Os marginalistas deram continuidade à defesa pelo envolvi-
mento mínimo do governo na economia, apresentada pela
Mínimo envolvi-
escola clássica, como a política mais desejada. Em muitos ca-
mento do governo
sos, nenhuma interferência nas leis econômicas naturais seria
prescrita se fossem realizados grandes benefícios sociais.
Fonte: adaptado de Brue (2016).
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
147
Os Marginalistas
148 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ortodoxia neoclássica. A noção de utilidade marginal decrescente permitiu que
Jevons, Menger e Walras (e seus sucessores que não trabalharemos nesse material)
mostrassem como a utilidade determinava os valores (como vimos na Unidade
II ao tratar sobre Bentham). O ponto principal da contribuição das ideias dos
três autores estava em como eles mudaram a forma da economia utilitarista e
não em qualquer grande mudança em seu conteúdo. O marginalismo permitiu
que a visão utilitarista da natureza humana, que era considerada somente uma
maximização racional e calculista da utilidade, fosse formulada em termos de
cálculo diferencial. Conforme Hunt (1989), esse foi o verdadeiro começo da
tendência à formulação matemática das teorias econômicas. Alguns economis-
tas que apreciam o rigor matemático como um fim em si mesmo vêem Jevons
e Walras como os mais importantes criadores da moderna teoria econômica. É,
ainda importante comentar que, para Hunt (1989 p. 280) “apenas Walras - em
sua teoria do equilíbrio geral- parece ter dado uma contribuição verdadeira-
mente significativa para a tradição utilitarista da Economia”.
Podemos entender, de modo geral, que os marginalistas defendiam a alocação
e a distribuição de mercado, lamentavam a intervenção do governo, denuncia-
vam o socialismo e procuravam desencorajar o sindicalismo trabalhista como
ineficaz ou nocivo.
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
149
Os Marginalistas
150 UNIDADE IV
JEVONS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
E ainda, no prefácio apresenta sobre Bentham 1984:
Jeremy Bentham formula a teoria utilitarista da forma mais firme. De
acordo com ele, o que quer que seja de interesse ou de importância para
nós, deve ser a causa de prazer ou de sofrimento; e quando os termos
são usados numa acepção suficientemente ampla, o prazer e o sofri-
mento incluem todas as forças que nos conduzem à ação. São explícita
ou implicitamente o objeto de todos os nossos cálculos e formam as
principais magnitudes a serem tratadas em todas as ciências morais.
As palavras de Bentham sobre esse tema podem requerer alguma ex-
plicação ou qualificação, mas são demasiado importantes e repletas de
verdade para serem omitidas (JEVONS, 1996, p. 27).
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
151
Aristóteles foi a primeira pessoa a observar que uma coisa útil em grande quanti-
dade, perderia a utilidade. A ideia de que, quanto mais se consome um produto,
menor é o aumento da satisfação que se tem, é cultuada na teoria econômica
como a lei da utilidade marginal decrescente. Marginal refere-se à mudança no
“limite”, como comer mais um biscoito, ou seja, o nível de satisfação a partir de
um biscoito adicional. Utilidade é o “prazer ou a dor” da decisão de consumir.
Jevons (1996) mostrou que a utilidade pode ser medida por correlação com a
quantidade disponível do produto.
O conceito de utilidade Marginal decrescente (UMD) tornou-se mais impor-
tante à medida em que os economistas se empenharam para entender o que
determina o preço dos produtos. Se todos costumam concordar que um bis-
coito a mais gere menos utilidade, então é “lógico” que só faça sentido mais um
biscoito se o preço cair, pois mais biscoitos dão menos prazer (unidades adicio-
nais), então, só compraremos se custarem menos. A procura resultante tem uma
relação negativa com o preço, o que, junto com a oferta, ajuda a definir o preço
de equilíbrio ou natural de um biscoito.
É claro que existem muitas exceções à lei da UMD, como encontrar a última
peça de um quebra-cabeça, o que é muito prazeroso. Produtos viciantes, como
drogas e álcool, também são exceções - quanto mais consumidos, mais apreciados.
O princípio também faz certas suposições, como “o consumo deve ser contínuo”.
Os Marginalistas
152 UNIDADE IV
Comer um pacote de biscoitos de uma só vez, por exemplo, demonstra mais apro-
priadamente o princípio da UMD do que comê-los espaçadamente em um dia.
A Figura I demonstra o conceito de UMD, à medida em que evidencia a rela-
ção inversa de oferta e procura. Quanto mais uma pessoa tenha de certo produto,
menos ela está disposta a pagar por cada unidade dele.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 1 - Utilidade total e marginal
Fonte: Neves (2015).
Por fim, Jevons entende que o prazer e o sofrimento são o objeto privilegiado
do cálculo da Economia, na medida em que os indivíduos agem no sentido de
buscar satisfazer ao máximo sua necessidade com o mínimo de esforço, ou seja,
agem com o intuito de maximizar o prazer e minimizar a dor.
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
153
CARL MENGER
Os Marginalistas
154 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
São valores hipotéticos da utilidade marginal para vários números de unidades
de dez mercadorias ou classes de mercadorias (I até X). Os números seguintes
de cada coluna representam sucessivas adições à satisfação total resultante do
aumento de consumo da mercadoria especificada. Por exemplo, observe que o
item de consumo mais importante é alimento, e assume-se que a primeira uni-
dade de alimento consumida tenha uma utilidade igual a 10, como mostrado
na coluna I. Se uma segunda unidade de alimento fosse consumida no mesmo
dia, sua utilidade seria 9. Observe que na coluna I que uma 11° unidade de ali-
mento não adicionaria nada à utilidade total dessa pessoa.
O tabaco, uma necessidade menos urgente, é mostrado na coluna V. A pri-
meira unidade consumida dá uma satisfação de apenas 6. Abaixo de seis unidades,
os níveis mais elevados de consumo não aumentam a utilidade. Se um indivíduo
obtivesse quatro unidades de alimento, a utilidade da pessoa por unidade cairia
de 10 para 7. Essa pessoa, então, descobriria que uma quinta unidade de alimento
provocaria a mesma satisfação (6) que a primeira unidade de tabaco (também 6).
→ Cada unidade de cada mercadoria representa o mesmo gasto de dinheiro
ou de esforço ou sacrifício.
→ A economia individual é capaz de classificar as satisfações tanto ordinal
como cardinalmente.
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
155
Nesse ponto cabe uma comparação entre as teorias de Jevons e Menger. Este
chegou a uma conclusão interessante com base na sua tabela. Imagine que um
indivíduo pudesse suportar apenas sete unidades de alimento. Esse indivíduo
satisfaria somente essas necessidades alimentares, que variam de importância
entre 10 e 4 unidades de utilidade marginal. As outras necessidades alimentícias,
variando entre 3 e 1, ainda não seriam satisfeitas. Qual seria a utilidade das sete
unidades de alimento para essa pessoa? Jevons adicionaria as utilidades margi-
nais de cada unidade, da primeira até a sétima, para obter uma resposta de 49
(10+9+8+7+6+5+4). A resposta de Menger, no entanto, seria 28 (4x7), a utili-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dade marginal da última unidade vezes o número de unidades. Por quê? Menger
respondeu, todas as unidades são semelhantes; assim, cada uma possui a mesma
utilidade que a unidade marginal. Se uma pessoa tivesse somente uma unidade
de alimento por dia, seu estado de quase fome atribuiria um alto nível de utili-
dade a essa unidade. Mas, se a pessoa tivesse sete unidades, nenhuma unidade
de alimento lhe daria mais satisfação do que a utilidade marginal. Nesse sen-
tido, Menger comparou o valor de troca com a utilidade total, diferentemente de
Jevons, que comparou o valor de troca com a utilidade marginal. Das formula-
ções dos dois economistas, os contemporâneos geralmente aceitam a perspectiva
de Jevons sobre o assunto.
Na avaliação de Menger, “o valor é por sua própria natureza algo totalmente
subjetivo” (MENGER, 1983, p. 286).
Por fim, Menger deu origem à ideia de imputação nos fatores de preço da
produção. Os marginalistas enfatizaram a importância da demanda do consu-
midor, especialmente em seus aspectos psicológicos subjetivos, na determinação
de preços. Dessa forma, em sua teoria da imputação, sustentava a ideia de que os
fatores de produção também produziam satisfação aos consumidores de forma
indireta, ou seja, pela utilidade marginal do produto final a que deram origem.
Os Marginalistas
156 UNIDADE IV
GRAU DE
SATISFAÇÃO
MARGINAL
(Alimento) Tabaco
Unidade I II III IV V VI VII VIII IX X
Consumida
1º 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
2º 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
3º 8 7 6 5 4 3 2 1 0
4º 7 6 5 4 3 2 1 0
5º 6 5 4 3 2 1 0
6º 5 4 3 2 1 0
7º 4 3 2 1 0
8º 3 2 1 0
9º 2 1 0
10º 1 0
11º 0
Fonte: a autora.
LEON WALRAS
Léon Walras (1834-1910) nasceu em Evreux, França. A parte inicial de sua vida
foi muito mal sucedida. Foi reprovado duas vezes no exame de admissão de
Ecole Polytechnique, escreveu um romance que passou despercebido e fundou
um banco que faliu. Num segundo momento, voltado ao estudo da economia,
Walras foi nomeado professor de economia política em Lausanne, Suíça. Lá, ele
fundou a Lausanne School of Economics, que enfatizava a aplicação da matemá-
tica à análise econômica.
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
157
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
A Escola Neoclássica
158 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
econômicos do Reino Unido. Em 1890 publicou sua principal obra: Principles
of economics (Princípios de Economia). Após a publicação, ela se tornou o prin-
cipal manual de economia por décadas, influenciando a formação de gerações
de economistas. Em 1906 ele escreveu:
nos últimos anos, tive um sentimento cada vez maior em relação ao
meu trabalho de que um bom teorema matemático que trata de hipó-
teses econômicas dificilmente se transformaria em uma boa economia:
e fui muito além das regras – (1) Use a matemática como um idioma
taquigráfico, em vez de um mecanismo de investigação. (2) Guarde-os
até que você termine. (3) Traduza para o inglês. (4) Depois, ilustre com
exemplos que sejam importantes para a vida real. (5) Queime a mate-
mática. (6) Se você não conseguir o item (4), queime o (3). Este último
eu fiz com frequência (MARSHALL, 1996, p. 6).
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
159
É sob essa perspectiva que vamos conhecer de forma breve os seguintes tópi-
cos em Marshall:
■■ Lei da Demanda.
˚˚ Utilidade marginal.
˚˚ Escolha racional do consumidor.
˚˚ Lei da demanda.
˚˚ Elasticidade da demanda.
A Escola Neoclássica
160 UNIDADE IV
■■ Lei da Oferta.
˚˚ Presente imediato.
˚˚ Curto prazo.
˚˚ Longo prazo.
■■ Preço de Equilíbrio e quantidade.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
De acordo com Marshall, a demanda baseia-se na utilidade marginal decrescente.
A utilidade marginal de uma coisa para um indivíduo diminui a cada
aumento da quantidade que ele já possui dessa coisa. Há, porém, uma
condição implícita nessa lei, que deve ser esclarecida: é preciso dar por
admitido que o tempo não há de produzir nenhuma alteração no ca-
ráter ou gosto da pessoa. Não constitui, portanto, uma exceção à lei de
que quanto melhor música ouvir, mais forte se tornará o gosto por ela;
que a avareza e a ambição sejam freqüentemente insaciáveis; nem que
a virtude da limpeza e o vício da embriaguez aumentam igualmente à
medida que se praticam. Pois em tais casos nossa observação se estende
a certo período de tempo (MARSHALL, 1996, p. 166).
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
161
LEI DA DEMANDA
A Escola Neoclássica
162 UNIDADE IV
constantes. Marshall entende que você vai comprar mais do bem X. Isso é expli-
cado por meio do raciocínio que implica que: uma queda do preço do bem X,
faz a razão explicativa da utilidade marginal crescer. Ou seja, em condições de
equilíbrio a UMx/Px =UMy/Py...-=UMn/Pn (A utilidade marginal do bem X com
relação ao seu preço é constante em tal ponto que é igual para os produtos Y…
até N). Quando o preço do bem X cai, essa relação UMx/Px essa relação aumenta
com relação às outras dos outros bens. Para recuperar o equilíbrio das despe-
sas, o consumidor substituirá mais de X por menos de Y, Z e assim por diante.
Quando essa substituição ocorre, a utilidade marginal de X, agora mais baixa em
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
relação ao preço mais baixo de X, produzirá uma razão igual a UMy/Py e UMz/Pz.
Assim, o equilíbrio será recuperado. Nas palavras de Marshall(1996): “a quanti-
dade demandada aumenta com a queda no preço e diminui com o aumento do
preço”. Essa é a conhecida Lei da demanda decrescente.
Elasticidade
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
163
OFERTA
Para Marshall a oferta é controlada pelo custo da produção. Nesse sentido, nosso
pensador inovou, à medida que introduziu o conceito de oferta por meio de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A Escola Neoclássica
164 UNIDADE IV
Nesse ponto, uma reflexão relevante é que o curto prazo é definido como o
período durante o qual os insumos variáveis podem ser aumentados ou dimi-
nuídos, mas os custos fixos da fábrica não podem ser alterados.
Já os custos variáveis podem mudar a curto prazo e, a longo prazo, todos
os custos são variáveis e devem ser cobertos, se a empresa deseja continuar no
negócio. Se o preço aumentar a tal nível que a receita total exceda o custo total
de produção, o capital ingressará na indústria, normalmente por meio de novas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
empresas, e a oferta de mercado aumentará.
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
165
PROPRIETÁRIOS
COMPRADORES DISPOSTOS A
AO PREÇO DE DISPOSTOS A VENDER
COMPRAR (UNIDADES)
(UNIDADES)
37 xelins 1.000 quarters 600 quarters
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A Escola Neoclássica
166 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
167
CONSIDERAÇÕES FINAIS
poucos discordariam que Marshall foi o teórico mais influente de sua geração.
Seu Principles of economics apresentou a análise econômica a milhares de econo-
mistas que o seguiram. O fato de seu livro ter atingido a circulação máxima 40
anos após a publicação de sua primeira edição atesta sua importância duradoura.
Conforme Brue (2016), praticamente todos os economistas contemporâneos
incluiriam Marshall com Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill, como
uma das quatro figuras mais importantes das escolas clássica e neoclássica. Para
Galbraith (1979), Marshall “reunia a reputação de um profeta com a aura de
um santo”. Foi o pai da escola neoclássica que dominou o mundo da economia
anglo-americana de maneira quase incontestável por muitos anos. É por esse
motivo, que resolvemos intitular essa unidade como Escola Neoclássica ao invés
de Marginalista, por exemplo. Em outras palavras, é por conta da capacidade de
Alfred Marshall em enfrentar os problemas práticos da economia real e fornecer
instrumentos relevantes para a gestão econômica do livre mercado.
Foi necessário esperar até a crise de 1929, conforme Gennari (2009), para
que essa convicção sofresse um abalo consistente. Em que, a realidade objetiva,
no caso a acumulação de capital e a própria prosperidade do capitalismo, ques-
tionou o credo neoclássico. De fato, ninguém poderia prever as proporções que
essa crise ocasionou no contexto econômico mundial. É o que veremos na pró-
xima unidade.
Considerações Finais
168
Aprende Economia
Paul Singer
Editora: Brasiliense
Sinopse: aprender economia hoje é uma necessidade. Todo
mundo anda preocupado com a inflação, desemprego, com
a dívida externa. Este livro trata a economia numa linguagem
acessível e didaticamente transmite conhecimentos
indispensáveis ao exercício do aprendizado de economia e
cidadania. Se saber economia é hoje uma necessidade, nada
melhor do que um livro preocupado com as pessoas comuns
que na maioria das vezes não conseguem entender o ‘economês’, que ouvem ou lêem por aí.
Roger e eu
Ano: 1989
Sinopse: no fim da década de 1980, o fechamento de onze
fábricas da General Motors em Flint, Michigan, deixou
cerca de trinta mil pessoas desempregadas. Michael Moore
tenta encontrar o presidente da empresa, Roger Smith,
para ouvir o que ele tem a dizer sobre isso.
Material Complementar
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pd=S1518-61482009
000400004>. Acesso em: 13 dez. 2016.
173
GABARITO
A ESCOLA KEYNESIANA E OS
V
UNIDADE
DIAS ATUAIS
Objetivos de Aprendizagem
■■ Refletir a relevância da Teoria Keynesiana.
■■ Reconhecer os conceitos apresentados na teoria keynesiana.
■■ Conhecer a escola de Chicago.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Contexto histórico e biografia de Keynes
■■ A Teoria de Keynes
■■ Neoliberalismo
■■ Escola de Chicago
177
INTRODUÇÃO
modo que vai propor uma representatividade do governo para estabilizar a eco-
nomia em um nível de emprego da renda nacional. Para combater o alto índice
de desemprego sua proposta é aumentar as despesas agregadas. Por exemplo,
o governo deveria estimular os investimentos privados durante um período de
recessão, forçando a queda na taxa de juros, o que seria realizado por meio de
uma política do Banco Central.
Nesse caso, os limites da diminuição da taxa de juros a certo ponto, poderá
demonstrar que a política monetária não se torna uma maneira efetiva de redu-
zir as taxas de juros e de aumentar os gastos com investimentos durante um
grande período de recessão. Também está em Keynes a questão da política fis-
cal como possibilidade de superar a recessão (política expansionista). Por certo,
chegaremos ao ponto central da discussão de Keynes, segundo a qual quanto
mais rica se torna uma sociedade, mais ela poupa e mais difícil se torna manter
o emprego e, nesse sentido, retoma-se o papel do Governo. Uma crítica de Brue
(2005) ao tratamento de Keynes é o pensamento estático de curto prazo, que o
levou a exagerar a tendência à estagnação secular.
Por fim, trataremos, de forma modesta, a questão do neoliberalismo e a
escola de Chicago, representando um novo classicismo nos dias atuais. E a fim
de sedimentar o conteúdo de maneira satisfatória, apresentaremos um quadro
com as características principais dessa escola. Ótimo estudo!
Introdução
178 UNIDADE V
Até 1930 não havia qualquer preocupação, por parte dos eco-
nomistas do mundo ocidental, com o estudo dos problemas
da economia como um todo, em particular em relação ao
nível de emprego.
Isso ocorria porque o pensamento predominante, à época,
(os clássicos, como já vimos anteriormente) era de que não
havia desemprego significativo na economia que não fosse
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
temporário. Os economistas clássicos acreditavam que, se
houvesse um mercado descompensado, no caso o mercado de
trabalho, em que oferta (de trabalhadores) excedesse a procura
(por trabalhadores), o preço em tal mercado cairia causando
o equilíbrio entre a oferta e procura (VICECONTI, 2010).
A partir do trabalho de Keynes houve um desenvolvimento significativo
da Teoria Macroeconômica, em que a ciência econômica passa a se preocupar
com o desemprego, por exemplo. Nesse contexto, vamos primeiramente conhe-
cer a biografia de Keynes e na sequência entender melhor esse desenvolvimento
diante dessa dimensão temporal (1936).
John Maynard Keynes (1883 - 1946) era britânico, filho de pais intelectuais,
que viveram mais do que ele. Seu pai era John Neville Keyne, ilustre economista
lógico e político. Sua mãe, foi juíza de paz, conselheira municipal e prefeita de
Cambridge. Estudou com ilustres professores, entre eles Marshall e Pigou, que
reconheceram seu brilhantismo. Fez fortuna principalmente por meio de tran-
sações em moedas e mercadorias estrangeiras. Era um profícuo especulador.
O currículo de Keynes é vasto e extremamente relevante para a história
econômica. Ocupou cargos públicos como autoridade, por exemplo, em 1940,
juntou-se ao Ministério da Fazenda para orientar a Inglaterra durante as dificul-
dades financeiras da guerra. Enfim, nos cabe afirmar a unanimidade da classe
acadêmica em considerá-lo como um grande economista. Podemos, inclusive,
colocá-lo, em termos de representatividade para o estudo da economia, ao lado de
Smith e Marx. Segundo Dillard (1982, p. 3), um estudiosos das ideias de Keynes:
A TEORIA DE KEYNES
A Teoria de Keynes
180 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Keynes vai tratar, principalmente, de um problema urgente de seus dias:
a depressão e o desemprego. Para a Escola Neoclássica, o fato das pessoas não
estarem empregadas era uma questão voluntária, ou seja, os trabalhadores, ao
intervirem no arranjo das forças de mercado, seja com os sindicatos, greves e
reivindicações salariais, provocariam o aumento do desemprego à medida que
não aceitavam o salário de mercado. De forma que, ao aceitar, seriam todos
empregados, na medida em que os salários estariam de acordo com as forças
de oferta e demanda de mão de obra. Já em Keynes, o pleno emprego poderia
ocorrer “abaixo do pleno emprego”, ou seja, poderia haver desemprego involun-
tário. (GENNARI, 2009).
Keynes critica de forma incisiva alguns postulados dos fundamentos da Escola
Neoclássica (Pigou, Marshall e outros a denominam como clássica), no que toca
à visão microeconômica, pautada nas relações entre compradores e vendedores
individuais. Sua crítica vai além e ataca alguns pilares centrais das teorias hedo-
nistas (falamos de hedonismo ao tratarmos do pensador Bentham, Unidade II.
Lembre-se sobre prazer e sofrimento), que, segundo Paul Hugon (1982), indi-
vidualizam ainda mais os problemas econômicos.
[...] trata-se, para Keynes, de combater e ultrapassar esse ponto de vista
microeconômico, para considerar o problema em termos mais gerais
de ‘rendimentos globais’, ‘procura global’, ‘emprego global’, ou seja, ra-
ciocinar com base em dados de conjunto” (HUGON, 1959 apud GEN-
NARI, 2009, p. 245).
Keynes entende que o emprego depende da demanda efetiva e ela está relacio-
nada ao volume de investimento e ao poder de compra ou consumo efetivamente
existente. No entanto, os investimentos em novas fábricas e novos empreendi-
mentos, isto é, em formação bruta de capital fixo, só se darão se as expectativas
de lucros dos empresários excederem o prêmio pago pelo dinheiro emprestado,
isto é, a taxa de juros. Ocorre que,
[...] quando o preço a pagar pelo dinheiro se eleva, muitos tipos de
negócios novos, que se poderiam empreender a taxas de juros mais
baixas, não serão realizados. Por conseguinte, um aumento das taxas
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A Teoria de Keynes
182 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
moderna enfraqueceram o laissez-faire. O papel dos economistas e da análise
econômica na determinação da direção da política do governo, era, por assim
dizer, maior.
A economia contemporânea está repleta de elementos pensados por Keynes.
E, mais, pode ser uma combinação da microeconomia neoclássica com a macro-
economia inspirada no keynesianismo. Apresentamos uma lista de conceitos
utilizados, nos dias de hoje, nos livros didáticos de economia, que nasceram na
teoria keynesiana:
■■ Função do consumo.
■■ Propensão marginal a consumir.
■■ A função das poupanças.
■■ A propensão marginal a poupar.
■■ A eficiência marginal do capital.
■■ As demandas de transação, preventivas e especulativas de moeda.
■■ O multiplicador.
A Teoria de Keynes
184 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
revisadas determinando um novo nível de produção.
Fonte: adaptado de Brue (2016).
Keynes observou que uma economia não consome tudo o que produz, conforme
afirma Chang (2015). É fácil perceber que a teoria de Keynes está submetida à
uma análise de um processo contínuo de produção, circulação e consumo. Como
uma firma, que, em determinado período de produção, gera um determinado
valor em dólares de mercadorias. Com a receita da venda dessas mercadorias, a
firma paga seus custos de produção, que incluem salários, ordenados, aluguéis,
materiais e matérias-primas, além dos juros pelo dinheiro tomado emprestado,
de forma que, o que sobra, após esses custos terem sido pagos, é o lucro.
Nesse sentido, para Keynes, as economias capitalistas eram tidas como eco-
nomias empresariais ou economias monetárias de produção. Caro(a) leitor(a),
o caráter essencial de uma economia monetária é que a moeda não é apenas um
meio de troca. Trata-se de um ativo apto a resguardar as alterações nas expecta-
tivas dos agentes, isso porque reserva valor do presente para o futuro, de modo
que possuindo liquidez máxima, pode saldar tanto transações à vista quanto
pagamentos futuros. Isso vai depender da forma pela qual a preferência pela
liquidez dos empresários for pautada pelas expectativas deles sobre o futuro.
Esse panorama, envolve, fundamentalmente a questão da incerteza. À medida
em que essas expectativas são movidas por fatores psicológicos, e não por cál-
culos racionais, pois o futuro é cheio de incertezas.
DOGMA DESCRIÇÃO
Ênfase macroeconômica Keynes e seus seguidores preocuparam-se com os
determinantes das quantias totais ou agregadas de
consumo, poupança, renda, produção e emprego.
Estavam menos interessados, por exemplo, em como
uma empresa individual decide sobre seu nível de
emprego que maximiza o lucro do que na relação
entre gastos totais na economia e o conjunto de tais
decisões.
A Teoria de Keynes
186 UNIDADE V
DOGMA DESCRIÇÃO
Orientação pela Os economistas keynesianos reforçavam a importân-
demanda cia da demanda efetiva como o determinante imedia-
to da renda nacional, da produção e do emprego. Os
gastos agregados, diziam esses economistas, consis-
tem na soma dos gastos de consumo, de investimen-
tos, do governo e da exportação líquida. As empresas
produzem coletivamente um nível de produção real
que esperam vender. Mas, às vezes, os gastos agrega-
dos são insuficientes para comprar toda a produção.
À medida em que os bens se acumulam, as empresas
demitem funcionários e reduzem a produção. Isto
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
é, a demanda efetiva estabelece a produção real da
economia que, em alguns casos, é menor que o nível
de produção que existiria se houvesse emprego pleno
(produção potencial).
Instabilidade na De acordo com os keynesianos, a economia tende
economia a aumentos rápidos recorrentes, porque o nível de
gastos planejados com investimentos é irregular. As
alterações nos planos de investimentos fazem com
que a renda e a população nacional mudem em
quantias maiores do que as mudanças iniciais nos
investimentos. Os níveis equilibrados de investimento
e poupança - aqueles que existem depois de todos
os ajustes- são alcançados por meio de mudanças na
renda nacional, em oposição às mudanças na taxa de
juros. Os gastos com investimentos são determinados
pela taxa de juros e pela eficiência marginal do capital
ou pela taxa de retorno esperada acima do custo so-
bre novos investimentos. A taxa de juros depende das
preferências das pessoas por liquidez e da quantidade
de dinheiro. A eficiência marginal do capital depende
da expectativa de lucros futuros e do preço de oferta
de capital. A taxa de lucro esperada dos novos inves-
timentos é instável, e, portanto, uma das causas mais
importantes das flutuações econômicas.
DOGMA DESCRIÇÃO
Inflexibilidade nos Os keynesianos apontavam que os salários tendem
salários e preços a ser inflexivelmente decrescentes, devido a fatores
institucionais como os contratos com os sindicatos, as
leis de salário mínimo e os contratos implícitos (enten-
dimentos entre os patrões e seus empregados de que
os salários não serão reduzidos durante os períodos
de quedas temporárias). Em períodos de queda na
demanda agregada por bens e serviços, as empresas
respondem às vendas mais baixas com a redução de
preços e a demissão de empregados, sem insistir nas
reduções salariais. Os preços também caem; a queda
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A Teoria de Keynes
188 UNIDADE V
NEOLIBERALISMO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
se insurge contra o Estado, mais especificamente
o totalitarismo, o nazismo, e o comunismo, e
fundamentalmente o Estado de bem-estar social,
visto em conjunto, como formas de cercear as liberdades individuais.
ESCOLA DE CHICAGO
DOGMA DESCRIÇÃO
Comportamento ideal Os membros da escola de Chicago
reforçam o princípio neoclássico de
que as pessoas tendem a maximizar
seu bem-estar; a unidade econômica
básica é o indivíduo.
Preços e salários controlados tendem Os preços e salários refletem custos
a ser uma boa estimativa dos preços e de oportunidade para a sociedade na
salários da concorrência a longo prazo margem.
Orientação matemática A escola de Chicago confia muito na
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Temos por fim, em Friedman, um ideário monetarista. Sua tese é que as pres-
sões inflacionárias decorrem, em geral, do desregramento por parte do Estado,
que, ao gastar mais do que arrecada, produz um desequilíbrio. Nesse sentido, o
monetarismo é um ataque frontal às ideias keynesianas.
Escola de Chicago
190 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
nomia. O nosso pensador diz que a moeda afeta motivos e decisões. Destarte, a
moeda é concebida como sendo não neutra tanto no curto quanto no longo prazo.
Keynes também trabalha com a questão da incerteza, atribuindo aí a importân-
cia da dimensão temporal na economia.
Vimos também sobre o neoliberalismo e a escola de Chicago. Essa escola
se apresenta na fase moderna da economia e tem seu marco em 1946. Quando
Milton Friedman ingressou na escola de Chicago. Essa doutrina segue as prin-
cipais tradições clássicas-neoclássicas. Nesse sentido, está amplamente ligada
ao termo neoliberalismo, por conta das aspirações da escola, implicando na
retomada da questão da maximização do bem-estar, com um viés matemático
significativo como explicativo das variáveis econômicas.
Sob esse ponto de vista, os defensores das ideias de Chicago ajudaram a con-
vencer a população em geral e os oficiais eleitos de que o sistema de mercado
concorrente, se deixado relativamente livre da intervenção governamental, pro-
duz liberdade econômica máxima. Na medida em que essa proposição é válida,
o pensamento de Chicago beneficiam toda a sociedade.
É importante destacar que Brue (2016) afirma que essa escola beneficiou
amplamente muitos interesses corporativos. De fato, algumas pessoas, inclusive,
conforme o autor, ajudaram com patrocínio a defesa desse ideário.
Considerações Finais
192
a. A-B-C-D.
b. A-B-D-C.
c. A-D-B-C.
d. D-C-A-B.
e. D-A-B-C.
193
Trabalho Interno
Ano: 2010
Sinopse: em 2008, uma crise econômica de proporções
globais fez com que milhões de pessoas perdessem
suas casas e empregos. Ao todo, foram gastos mais
de US$ 20 trilhões para combater a situação. Por meio
de uma extensa pesquisa e entrevistas com pessoas
ligadas ao mundo financeiro, políticos e jornalistas, é
desvendado o relacionamento corrosivo que envolveu
representantes da política, da justiça e do mundo
acadêmico.
Acesse o site do World Bank (Banco Mundial) e conheça os dados sobre países em
desenvolvimento. Disponível em: <www.worlbank.org/data>.
A Associação Keynesiana Brasileira (AKB) é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, que tem como
objetivo desenvolver o conhecimento da teoria e da economia Keynesiana. Acesse e confira!
Disponível em: <http://www.akb.org.br>.
Material Complementar
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <http://funag.gov.br/loja/download/42-As_Consequencias_Economicas_da_
Paz.pdf> Acesso em: 1 out. 2016.
197
GABARITO
3. A escola keynesiana construiu uma teoria econômica mais adequada para a eco-
nomia capitalista avançada do século XX do que a escola clássica ou neoclássica.
Keynes apresenta a separação estrutural entre poupadores e investidores, que,
dificultou a equalização entre poupança e investimento e, portanto, a realização
do pleno emprego. Além disso, a escola keynesiana destaca o papel
5. B.
CONCLUSÃO
Querido(a) aluno(a), foi uma imensa satisfação promover este trabalho. por meio
dele, pude ver a economia com um olhar inovador. Possibilitou-me perceber a im-
portância dessa ciência social, principalmente nos dias atuais.
Essa caminhada nos facilitou perceber que o pensamento econômico apresenta um
significativo grau de continuidade durante os séculos. Em que os fundadores de
uma nova teoria podem recorrer às ideias de seus predecessores e expandi-las, ou
ainda, reagir em oposição, como por exemplo Karl Marx e a escola clássica.
Amplas generalizações sobre as escolas clássica, marxista, neoclássica e keynesiana
foram apresentadas. Isso foi possível à medida em que consolidamos serem essas
escolas os pilares das tantas outras que não conseguimos abordar. São exemplos:
a escola histórica alemã, a qual podemos associar um pensador já conhecido, Max
Weber, e outras escolas que não estão contidas nesse trabalho de forma direta,
como a escola institucionalista, a desenvolvimentista e, tantos pensadores impor-
tantes que por questão lógica não foi possível abordar.
Vale lembrar que a questão do liberalismo econômico estava presente desde a esco-
la fisiocrática, passando pela Escola Clássica com Smith, Ricardo, Say, Bentham, Mill.
Com Marx, a abordagem toma outra direção e o papel do governo é central em sua
teoria. Na Unidade IV, começamos com os trabalhos dos marginalistas, que foram
considerado uma revolução para o pensamento econômico vigente, e conhecemos
Alfred Marshall, como pai da economia neoclássica.
Por fim, tornou-se possível conhecer a teoria Keynesiana e o seu papel transforma-
dor diante do cenário de crise a partir da década de 1930, na qual, por intermédio de
Keynes, a macroeconomia passa a ter uma representatividade inovada. E, por fim, a
Escola de Chicago que, via de regra, pode ser associada ao ideário de neoliberalismo
que vigora nos dias atuais.
Fica registrado aqui a minha gratidão a você, motivador(a) central desse trabalho.
Meus sinceros votos de agradecimento.
Até a próxima!