Aula 1

A Clínica com Crianças Conversa Inicial

Profª Marianne Bonilha

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Hoje começamos esta disciplina para saber

como acontece a clínica com crianças no
Objetivos para a aula de hoje
método psicanalítico
Compreender a clínica com crianças
Serão abordadas questões conceituais e
metodológicas, tais como: Identificar os conceitos elaborados pelos
principais psicanalistas, que influenciam a
O surgimento da clínica psicanalítica com
prática clínica até o dia de hoje
crianças e seu histórico
Conhecer o surgimento da psicanálise no
Conheceremos as nuances e diferenças
Brasil
entre autores que dedicaram sua pesquisa
à prática clínica com crianças

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Objetivo da psicanálise com crianças

Desponta como possibilidade de abrir espaço

para a demanda da própria criança, permitindo
espaço de trabalho para sua subjetividade, quase
Histórico da psicanálise com sempre a partir de uma queixa da família, que
crianças também deve ser questionada/transformada
A escuta psicanalítica permite o tratamento com
crianças com dificuldades emocionais que
implicam sofrimento e interfirem em seu
cotidiano
Pode-se utilizá-la em vários campos de atuação
(saúde, educação, jurídica e social)

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 O início da psicanálise com crianças
O início da psicanálise é também o início da
psicanálise com crianças
O caso do Pequeno Hans (1909):
Vínculo parental
Grafismo
Escuta do profissional
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O início da psicanálise com crianças no
Brasil
Década de 1920, sob o cuidado da medicina,
da psiquiatria e da pedagogia
Contribuições na educação, adaptação e
orientação aos pais
Projeto Higienista, Ideologia totalitária:
Prevenção, correção dos desvios de
comportamento, adaptação ao meio
social e à família
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Finalidades educativas e
adaptativas
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A clínica com crianças
As crianças já foram tratadas como adultos
pequenos ou adultos imperfeitos, tanto pela
sociedade quanto pela medicina
A partir de 1900, o conceito de criança passa
a ganhar importância na sociedade
Psicoterapia infantil no Brasil
A partir de 1950: nova orientação clínica a
partir da influência de Melanie Klein
Menos educativa e mais psicoterapêutica
Atualmente a singularidade da infância é bem
reconhecida
Sujeito do inconsciente
Sujeito de direitos (ECA)
O início da psicanálise com crianças
respondia à demanda social de adaptação à
sociedade e ao ambiente escolar
Destacam-se duas psicanalistas com este
perfil:
Hermine von Hug-Hellmuth (1871-1924)
Anna Freud (1895-1982)
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 Hermine von Hug-Hellmuth Anna Freud
Pioneira da psicanálise infantil
Analista não precisava interpretar aspectos
inconscientes, bastando o ato de brincar sem Perspectiva semelhante à de Hermine
que precisassem falar (descarga)
Aalorizou aspectos educativos e conscientes
Divergia da ideia de um pai analisar o próprio
de crianças com mais de cinco anos
filho
Conciliava os objetivos psicanalíticos com os Conflito: eu – mundo exterior (…)
da escola e da sociedade
Pedagogia curativa

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Anna Freud

(…) Fortalecimento do ego, descarga

libidinal, reeducação dos impulsos
O analista deve controlar, além de decidir o Clínica com crianças bem
que deve ser rejeitado, domado ou pequenas
satisfeito
Brinquedo: expressivo mas não
representativo (simbólico)
Seu método analítico era com desenhos e
sonhos

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Melanie Klein (1882-1960)

Brincar = a linguagem da criança
Livre expressão, sem pressões morais
Melanie Klein e Donald Winnicott romperam
Interpretações: nomeando angústias,
com os objetivos pedagógicos e inauguraram
trazendo à consciência as fantasias edípicas,
a clínica psicanalítica com análise do
falando diretamente para elas
inconsciente de crianças
Pais: anamnese inicial
Função do analista: abrandar a severidade do
superego, em vez de ajudar o ego controlar
os impulsos

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 Donald Winnicott (1896-1971) Donald Winnicott (1896-1971)

Brincar:
Aspecto fundamental no trabalho analítico
Representação dos objetos e de si próprio
Permite o exercício da espontaneidade e da
criatividade
Universal na natureza humana e
terapêutico por si só
Lugar do analista:
Similar ao de uma mãe quando exerce a
função de holding, que corresponde à
sustentação psíquica, atenta às
necessidades do paciente

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Winnicott preferia desenhar com a criança,

fazendo-lhe perguntas e sugestões de modo
a despertar o seu interesse em falar de coisas
que, normalmente, não falaria com outras
pessoas Autores lacanianos
Klein e Winnicott teorizaram sobre o
psiquismo primitivo dos bebês, que
fundamenta processos primários,
característicos de estruturas psicóticas nos
adultos

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Françoise Dolto (1908-1988)

No mesmo contexto histórico em que Klein e
Winnicott atuaram na Inglaterra, Jacques
Lacan iniciava sua atuação na França
Klein e Winnicott: Ingleses
Lacan: Francês
Lacan não se dedicou ao atendimento de
crianças, mas seu ensino influenciou
diretamente Françoise Dolto e Maud
Mannoni
Aspecto emocional no adoecimento das crianças
Leitura de sintomas físicos relacionados a
aspectos inconscientes (corpo erógeno)
Função do analista:
Conduzir-se ao contrário de um professor ou de
um mestre
Possibilitar a expressão e o alívio de angústias
decorrentes de traumas
Compreender a relação mãe-filho e pai-filho e o
desenvolvimento geral (biopsicossocial)

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 Françoise Dolto (1908-1988) Françoise Dolto (1908-1988)

Diferente de Klein e Winnicott, Dolto incluía

os pais nas sessões, por entender que a
construção da criança como sujeito ocorre
por meio dos dizeres parentais O sintoma da criança é o sintoma da família
Anamnese: pais com criança junto e por isso é preciso dar lugar aos pais no
processo terapêutico
Sessões subsequentes: apenas a criança, e
os pais com certa frequência
Com bebês: pais junto em todas as sessões

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Criança e psicótico chegam à análise pela queixa Maud Mannoni (1923-1998)

de um outro com relação ao sintoma deles
Ao ouvir as angústias dos pais, deve-se atentar
aos
Efeitos que o sintoma da criança produz neles,
Lugar que a doença do filho ocupa/preenche
na doença dos pais (filhos que agora são pais)
Significantes que constituem o fantasma que
atravessa a narrativa do sujeito, a história que
o constituiu
Direção do tratamento = reordenar as fantasias
que estruturam os sintomas
O campo em que o psicanalista opera é o da
linguagem
Fundou a Escola de Bonneuil
Assim como para Dolto, o discurso familiar
era fundamental
O lugar que a doença do filho ocupa na
doença dos próprios pais, que está
relacionada à dinâmica edípica destes na
história da criança

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Maud Mannoni (1923- 1998)

Brinquedos: não têm significado preconcebido. O
importante é o que a criança fala sobre o brinquedo
Prevalência do simbólico
Só há psicanálise do sujeito e
Crédito:
Jefferson
Schnaider. não da criança

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 Robert e Rosine Lefort
A psicanálise é uma
Prática com crianças institucionalizadas
Independente da estrutura clínica ou da
idade, o paciente é tomado como sujeito
A posição do sujeito não depende do
desenvolvimento, mas, ao contrário, o
desenvolvimento depende da posição do
sujeito
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Na Prática
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A paciente continua a chorar e dizer que não
gosta da psicanalista, que, diante da recusa da
paciente, senta-se próxima dela, na sala de
espera, e pergunta se pode permanecer ao lado
dela. A paciente, fazendo uma expressão chorosa
e sentida, repete que não gosta da psicanalista, e
que a psicanalista também não gosta dela. Por
mais duas vezes agendada consulta, Alice repete
o mesmo comportamento, acrescentando, a cada
ida à consulta, falas sobre a mãe. Exemplo: que
“ela (a mãe) não estava indo lá”, “que ela não
lembrava o nome da mãe”, que ela “estava com
saudade da mãe”
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Todo tratamento psicanalítico sustenta uma
aposta de que o paciente possa ser um ser de
linguagem
A clínica do casal defende uma prática que se
ampara num saber que não seja sobre o
paciente, mas que advenha dele
Caso Nádia
Crítica à psicopatologização da infância
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Vamos pensar em um caso em que uma
paciente, de nome fictício Alice, de 4 anos,
encontra-se abrigada por perda da guarda
dos pais (pai suspeito de abuso sexual e mãe
internada por tentativa de suicídio). Paciente
apresenta comportamento contido e timidez.
Frente ao convite de acompanhar a
psicanalista até a sala de atendimento, Alice
começa a chorar e dizer que não gosta da
psicanalista, recusando-se a acompanhá-la.
Frente a isso, a profissional pergunta à
criança por que esta não gosta dela
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A cada uma dessas falas da paciente, a
psicanalista conversava com ela, perguntando
onde a mãe estava, pesquisando o nome da mãe
para relembrarem juntas, conversando sobre a
saudade que Alice sentia da mãe. Ou seja, a
psicanalista foi dando lugar para a dor da
paciente, para a tristeza da paciente, para a
destituição subjetiva que ela estava enfrentando.
Justamente por isso, ao mesmo tempo,
nomeando, dando lugar, dando sentido e
possibilidade de representar o sofrimento que a
paciente enfrentava. Com isso podemos
reconhecer a possibilidade de escuta do sujeito,
como Rosine e Robert Lefort indicaram,
independentemente da idade
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 Nesta aula, abordou-se o começo da psicanálise
de crianças desde a trajetória freudiana.
Foram apresentados autores que são referência
para a compreensão dos fundamentos teóricos
dessa modalidade de tratamento:
Finalizando Hermine Von Hug-Hellmuth
Anna Freud
Melanie Klein
Donald Winnicott
Françoise Dolto
Maud Mannoni

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Apresentou-se, ainda, as contribuições de

Robert e Rosine Lefort, sustentando a ética
psicanalítica de promover a escuta do sujeito,
independentemente da idade do paciente;
trazendo o desenvolvimento da prática
psicanalítica com crianças em instituições

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