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Formação em Psicanálise

Reconhecido pela Sociedade Psicanalítica Miesperanza

Psicanálise de Crianças e
Adolescentes

Dr Francis Bittencourt Oliveira

2019
Psicanálise de Crianças e Adolescentes
Francis Bittencourt

IDADE MÉDIA

 Pequeno adulto

 Indiferenciação intelectual, comportamental e emocional

 Durava até uma básica independência, quando já passavam a participar da vida do


adulto, trabalhos, jogos e festas.

 Crianças não sobreviviam muito assim os pais não se apegavam a elas

 Relacionavam-se mais com a comunidade do que com os próprios pais, responsável


pelo aprendizado

 Presenciavam assuntos sexuais por serem consideradas indiferentes à sexualidade

RENASCIMENTO

 Privatização do espaço doméstico

 Diferenciação do espaço público e privado

 Criança como centro do grupo familiar

 Infância considerada como período de preparação para o futuro

 Surge o interesse psicológico e moral pela criança

 Ainda vista como um encargo pesado

 Contratação de Amas de Leite

SANTO AGOSTINHO

 Não tem nenhum valor

 Indício da corrupção do homem

 A maldade natural precisa ser contida pelo adestramento educativo e moral


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Francis Bittencourt

 Os pais, instruídos pelos pedagogos, devem adotar uma postura rigorosa com seus
filhos a fim de livrá-los de suas malignidades

JEAN-JACQUES ROUSSEAU

 Bondade natural do homem

 Pureza da criança, a criança nasce pura

 A educação visa desenvolvimento das potencialidades e o afastamento dos males


sociais

 Infans (aquele que não fala) desprovido de toda sexualidade

 Pensamento amplamente aceito pelos pedagogos da Europa

CONTIBUIÇÕES DO PENSAMENTO CAPITALISTA

 Criança como investimento lucrativo para o Estado

 Produção de lucro a longo prazo

 Modelo pedagógico visa educa-la para o futuro da civilização

 Surgimento da escola como meio de educação em detrimento da educação informal

 Família se preocupa com a higiene e saúde física

SÉCULO XX

 O discurso psicológico se destaca como capaz de produzir um discurso científico


sobre a infância, sobre o qual a pedagogia vai se apoiar para produzir praticas
educativas.

 Desqualificação da família como aquela que poderia gerir a educação dos filhos. Os
pais se tornaram submissos aos ditames da ciência.

 Nesse contexto surge a psicanálise em 1900.


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Francis Bittencourt

 PULSÃO X INSTINTO – Instinto: a sucção do peito com finalidade de obtenção do


alimento. Pulsão: apesar de se apoiar na função nutritiva, dela se afasta por visar o
prazer que foi experimentado pela excitação dos lábios e da língua no contato com o
seio durante a primeira amamentação.

 SATISFAÇÃO ALMEJADA X SATISFAÇÃO ALCANÇADA

 FANTASIA INFANTIL DE SEDUÇÃO

 SEXUALIDADE INFANTIL

 REALIDADE PSÍQUICA BASEADA NA FANTASIA X REALIDADE FACTUAL

 Psicanalise nasce da medicina e da psiquiatria

 Psicanálise infantil nasce da filosofia e do Iluminismo

 Mulheres analistas de crianças

 Para Freud, criança não era analisável, até o caso do Pequeno Hans

 Ideia freudiana era junção da “autoridade paterna e autoridade médica”

 Anna Freud – junção das autoridades numa só pessoa: o analista.

CONTRIBUIÇÕES DO CASO DO PEQUENO HANS

 DEMANDA – originada nos pais

 TRANSFERÊNCIA – na junção da autoridade paterna e autoridade médica


percebida pela criança

 INTERPRETAÇÃO – associação da fobia do menino por cavalos com o medo da


castração

 Faltou no caso a descoberta do brinquedo como técnica. Essa descoberta foi


introduzida por Freud em 1908, no artigo “O Poeta e o Fantasiar”, onde a
brincadeira corresponde à fantasia no adulto.
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Francis Bittencourt

 A criança não faz associação livre no divã, mas ela brinca livremente.

HERMINE VON HUG-HELLMUTH

 Primeira mulher a compor a Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras

 Analisada por Isidor Sadger em 1913

 Freud confiou-lhe a seção dedicada à psicanálise com crianças na revisa Imago.

 Visitava crianças em seus lares para observa-las em suas brincadeiras lúdicas

 Utilizava jogos e desenho como expressão de situações difíceis e traumáticas

 Combinava a interpretação do material inconsciente com a influencia pedagógica


direta.

 Desaprovava analise de crianças antes do édipo por acreditar que o poder de


mobililzar o recalque e fortalecer as pulsões poderia prejudicar a criança.
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 Outros lugares da Europa outros psicanalistas também já iniciaram analises de


crianças nessa época, como por exemplo, Sandor Ferenczi, em Budapeste, com o
caso “O pequeno homem-galo”.

ANNA FREUD

 Filha de Sigmund Freud e Martha Freud

 Caçula de seis irmãos, fruto de gravidez não bem aceita pelos pais

 Lutou para ser reconhecida numa família onde apenas dos homens era esperado
talento

 Tornou-se professora por não poder ser médica

 Tentou se aproximar do pai tornando-se sua discípula

 Seu primeiro contato com a psicanálise se deu em 1913

 Foi analisada por Freud em 1918 por dois anos. Depois retomou a analise em 1922
e concluiu em 1924.

 Recebeu influencias de Hermine Von Hug-Hellmuth

 Estudou comportamento de crianças em jardins de infância

 A criança não entra em analise por falta de demanda, já que a demanda vem dos
pais.

 Cria um período de preparação, com entrevistas preliminares, para produzir uma


demanda de análise, onde a criança é conscientizada de seu sofrimento e da
necessidade de ser ajudada. Ex: rebeldia x castigo.

 Associação de medidas pedagógicas às psicanalíticas para conquistar a confiança


da criança

 Trabalhar sempre em transferência positiva

 A criança não associa livremente como o adulto

 Não realiza neurose de transferência em virtude de sua ligação com os pais da


realidade

 Se não houver uma colaboração dos pais com o analista, a criança deverá ser
momentaneamente colocada numa instituição onde possa ser analisada.
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 Na situação onde os pais maltratam a criança, se coloca como aliada da criança


contra os pais

 A analise não visa liberação do recalque e sim controlar e decidir o que deve ser
rejeitado, domado ou satisfeito, exercendo uma função educativa

 Analisar e educar como função do analista

 Analista como Ego Auxiliar da criança (conquista inicialmente e depois exerce uma
autoridade superior a dos pais)

 O material recolhido no âmbito da família é superior ao do setting analítico

 Suas teorias deram origem as correntes da Psicologia do Ego e da Terapia Breve de


Orientação Psicanalítica, devido ao papel pedagógico delas

 Início da analise possível: 2 anos de idade.


Psicanálise de Crianças e Adolescentes
Francis Bittencourt
Psicanálise de Crianças e Adolescentes
Francis Bittencourt

 Feitas pelos pais com ou sem o impulso do meio escolar.

 Por inadaptação ao meio extrafamiliar;

 Ou inadaptação ao meio familiar.

 A inadaptação dá uma ideia de alienação, ou seja, a consideração da criança como


fora da norma.

 Trata-se de um perturbação afetiva.

 Podem ter duas categorias: perturbações da aprendizagem ou perturbações do


comportamento.

 Constituem as perturbações específicas da linguagem falada e escrita.

 A descoberta precoce pode evitar que as mesmas se organizem numa estrutura


patológica da personalidade e se tornem um sintoma dificilmente redutível.

 Ex.: Dislexia e disortografia

 CAMPO DA ORALIDADE – recusa alimentar

 ESFINCTERIANA – enurese diurna e noturna, prisão de ventre persistente, etc.

 PERTURBAÇÕES DO SONO – insônias, medos noturnos, pesadelos, dificuldade


para adormecer, etc.

 PERT. CARACTERIOLÓGICAS – raivas, destrutividade, ou contrario, passividade,


timidez, fugas, dificuldades de deixar o meio familiar.

 INSTITUAL – perversas.

 PSICOSSOMÁTICAS:

Série alérgica – asma, urticária, cefaleia, vômitos, rinofaringites repetidas, etc.


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Série Obsessiva – mania, ritos de arrumação, de lavagens, repetições, perfeccionismo no


trabalho escolar (resultando em uma enorme lentidão), etc.

Série Fóbica – medo de animais, do escuro, de doenças, da morte própria ou de outros,


etc.

Série Histérica – teatralismo, mitomania, instabilidade emocional, etc.

 Se retomarmos a classificação de “neurose de transferência” de Freud, será


importante ver a que quadros clínicos ela corresponde na criança.

 Manifestações Histéricas – histeria de conversão, teatralismo ou espasmo do soluço


lactente estão ligados a uma identificação com a pessoa amada.

 Histeria de angústia e fobias – a criança confrontada com os seus desejos


agressivos para com o progenitor do mesmo sexo encontra uma saída
amadurecedora na projeção de sua agressividade sobre uma imagem inquietadora
diferente (objeto fobogênico) o que lhe permite conservar uma boa relação com esse
progenitor. No entanto essas manifestações fóbicas podem intensificar-se, invadir a
vida da criança, traduzindo num sofrimento do Ego.

 Psicoses Agudas – estados delirantes, perturbações do comportamento,


esquisitices.

 Autismo – que evitam totalmente o mundo exterior e não são absorvidas senão por
suas sensações internas de seu próprio corpo.

 Crianças que estabelecem relação com objetos inanimados ou parciais, como


interruptores, botões de porta, etc.

 Excessos de mimos – incapacidade para assumir responsabilidades na vida.

 Desencorajamento a tomar iniciativas – inapta a tomar decisões

 Impedimento do direito de escolha – frustrações e sentimentos de culpa.


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 Sentimento de posse sobre a criança e exigências de provas de afeto– inadaptação


social.

 Transferência das ansiedades dos pais à criança (discussão de problemas de


adultos na presença das crianças) – morbidamente influenciadas pelas apreensões
dos adultos.

 Comparações – inferioridade e inveja

 Disputas de autoridade – fixação e dramatização.

 Emoções instáveis dos pais (ora afeto, ora repulsa) – instabilidade emocional nos
filhos.

 Indiferença – insegurança e repulsa

 Excesso de disciplina – tendências ao absurdo e autodestruição.

 Amedrontamento – hostilidade contra os pais e neurose na fase adulta.

 Deficiência dos pais – sentimento de culpa e perda de confiança em si.

 Incompatibilidades conjugais – reações de tensões e conflitos.

 Desigualdade entre irmãos – reações de ódio e inveja.

 Filho único – deficiência no comportamento competitivo, dificuldade de adaptação à


sociedade, egoísmo e herdeiro das angústias dos pais.

 Filho adotivo – inferioridade devido à sensação de não pertencer a ninguém.

 Criança não desejada – estado de pânico de ser rejeitada.

 Os problemas da infância se agravam nessa fase ao iniciar o contato com as


responsabilidades da vida social.

 Surgem os problemas de conflitos com as autoridades estabelecidas: lar, escola e


igreja.

 O tradicional é posto a prova.

 Ceticismo.

 A revolta é parte do desenvolvimento sadio.

 Evolui da situação de dependência infantil para autoconfiança.


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 A adolescência exige orientação judiciosa (justo em seu julgamento) para um


desenvolvimento sadio.

 Os adolescentes tímidos e submissos tendem a neuroses mais tarde.

A REVOLTA CONTRA O LAR

 Censura exagerada

 Falsos Níveis de perfeição

 Autoridade por coação

 Imaturidade emotiva dos pais

 Falta de espírito de alegria dos pais

 Reconhecimento do lar como pesado compromisso

 O ridículo e a observação contínua.

A REVOLTA CONTRA A ESCOLA

 O medo de desagradar os pais os lança de modo compulsivo a superar os colegas


nos estudos.

 O boletim se transforma num barômetro de vida.

 Quando não conseguem, se revoltam contra aquilo que apontam para um fracasso
de vida.

 Ressentimento que leva à revolta geral.

A REBELDIA CONTRA A IGREJA

 Visa por a prova o tradicional.

 É proibido duvidar.

 Religião gera o medo, pelas ameaças do juízo e do inferno (representam uma


continuidade das ameaças paternas intensificadas).

 Fuga de uma forma de pressão paterna intensificada.


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PROBLEMAS SEXUAIS

 O organismo está pronto para exprimir-se sexualmente.

 Conflito entre a pulsão e as proibições convencionais.

 Necessidade de orientação, sem a qual a força se exterioriza caoticamente.

 Seriam evitados tais problemas se respostas honestas fossem dadas às suas


perguntas.

 Troca de respostas por imposições e tabus, superstições, falsas ideias de perfeição,


ameaças e proibições.

PROBLEMAS SEXUAIS

 Com tantos conflitos e dúvidas, o neurótico é uma pessoa presa a infância e aos
pais, ou ao seus substitutos, tanto no amor como no ódio.

 Com seu comportamento inseguro, ele nunca atinge uma maturidade sexual,
permanecendo sempre cheio de pontos de interrogação, indeciso e balanceante.

VERDADES

 O adolescente não quer ser entendido.

 É uma fase que precisa ser efetivamente vivida.

 É uma fase de descoberta pessoal.

 A cura da adolescência não interessa ao menino e a menina que está em pleno


sofrimento.

A CURA NA ADOLESCÊNCIA

 Passar do tempo e chagada de amadurecimento.

 Os processos não podem ser atrasados nem acelerados, mas podem ser invadidos
e destruídos.

 Podem definhar inteiramente, no caso de distúrbio psiquiátrico.


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A SEXUALIDADE

 Ainda estão desprovidos de maturidade sexual.

 Em virtude disso, inabilitados a um relacionamento padrão com o outro.

 São ainda caracterizado pelo isolamento (individualismo) mesmo quando em grupo.


O grupo é uma forma de preservação da espécie quando ameaçada. Findando a
ameaça, voltam ao isolamento emocional.

 Os atos sexuais são mais uma forma de se livrar das pulsões sexuais do que uma
busca de uma completude no outro com quem deseja viver.

 Daí comum os atos masturbatórios, homossexuais e heterossexuais exagerados.

NECESSIDADE DO ADOLESCENTE

 Evitar a falsa solução.

 Tolerar a absoluta falta de sentimento.

 Ser rebelde e, ao mesmo tempo, dependente e que seu ambiente saiba acolher isso.

DO NORMAL AO PATOLÓGICO

 Quando a necessidade de evitar a falsa solução torna-se incapacidade de aceitar o


meio termo.

 Quando a necessidade de falta de sentimento se torna depressão acompanhada de


despersonalização.

 Quando a necessidade de desafiar se torna tendência antissocial tal como na


delinquência.

CUIDADOS COM O QUE VOCÊ FALA

Cuidado com:

 NÃO

 MAS

 TENTAR
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 DEVO

 NÃO POSSO

Troque:

 SE por QUANDO

 ESPERO por SEI

 CONDICIONAL pelo PRESENTE

JUNIOR é um garoto de 6 anos. É filho único. Vive com o pai e com a mãe, que estão em
processo de separação conjugal bastante conflituosa.

O relacionamento de JUNIOR com a mãe é bem afetuoso. De igual modo é o seu


relacionamento com o pai, que lhe dedica tempo e amizade.

Um dia, JUNIOR foi esquecido na escola pelo transporte escolar na hora da saída. Desde
então, desencadeou uma fobia específica relacionada a escola. Seus pais se revezavam
na tarefa de levá-lo a escola, contudo, ninguém era capaz de fazê-lo entrar no colégio.
Manifestava teatralmente seu desespero, acompanhado de alterações orgânicas, como
taquicardia, sudorese, etc.

Quais interpretações podem ser feitas dos sintomas de JUNIOR e quais as intervenções
psicanalíticas apropriadas para a solução do caso?

Gustavo possui 12 anos. Apresenta um quadro de claustrofobia (medo de lugares


fechados). Seus pais são pessoas de reconhecido prestígio social, moral e ético. Gustavo
sempre buscou agradar aos pais e manter uma conduta exemplar perante todos. Apesar do
rigor moral imposto pelos seus pais e pelas freiras do colégio onde estuda, Gustavo nunca
se mostrou rebelde contra as normas que lhe eram impostas. Pelo contrario, tornou-se
repressor de seus próprios desejos socialmente reprováveis. Chegou, algumas vezes, ser
chamado de tímido.

Que tipo de vínculo das interrelações pessoais Gustavo desenvolveu e qual a ligação
existente entre esse vínculo e a patologia desenvolvida por Gustavo?

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