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ECONÔMICA
GERAL
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
SEJA BEM-VINDO(A)!
É uma imensa satisfação apresentar a você este material. Ele é fruto do encontro viven-
ciado durante minha atividade estudantil e profissional. Isso porque é uma temática
que me encanta desde a graduação em Ciências Econômicas na Universidade Estadual
de Maringá, passando pela minha experiência em uma instituição financeira, quando
pude perceber que o mercado obedece à “leis econômicas universais”, simultaneamente
à carreira acadêmica, ao observar que a história é a ferramenta explicativa de muitas
realizações do presente.
Ao abrir este material, é provável que você, caro(a) aluno(a), tenha alguma expectati-
va quanto ao conteúdo. Diante de projeções é sempre um desafio atender a contento.
Devo antecipar, portanto, que é possível elaborar diferentes “histórias econômicas ge-
rais”, ainda que os processos históricos observados sejam os mesmos. Assim, é conve-
niente, nesta apresentação, demonstrar que meu compromisso é facilitar a compreen-
são da dinâmica histórica que envolve a descrição “dos esforços que o homem fez ao
longo dos séculos para satisfazer as necessidades materiais” (IGLESIAS, 1959, p. 27 apud
SAES, 2013, p. 1).
Para o desenvolvimento desse material fizemos uso de muitas obras que foram trans-
formando o modo de ver a economia da autora. Contudo, devo creditar principalmente
dois manuais de História Econômica Geral, que em muito contribuíram para que fosse
possível essa compilação de assuntos: História Econômica Geral, do professor Cyro Re-
zende (2010) e o trabalho dos professores Flávio Azevedo Marques de Saes, com Alexan-
dre Macchione Saes (2013).
Ao estudar física ou química há possibilidades de estudar efeitos da causa “x” sobre o
evento “y”, isolando, cuidadosamente, a modificação de outras variáveis que poderiam,
eventualmente, perturbá-la. Na economia não há essa possibilidade! Nas “ciências na-
turais” a descoberta de “leis” não modifica a natureza. Por exemplo: Newton formulou a
Lei da gravitação universal, e a constante gravitacional não sofreu alterações ao longo
dos séculos. A economia é uma área do conhecimento com uma peculiaridade bastante
diferente das referidas acima. Trata-se de uma ciência social. A “natureza”, na economia,
é a sociedade humana. Um agrupamento de indivíduos diferentes uns dos outros, que
reagem aos estímulos de formas diversas, raciocinam, têm diversas “identidades” e por
assim dizer, pertencem a culturas. Formam um complexo sistema de inter-relações que
se modificam e se dinamizam durante o tempo. E, nesse panorama, é fundamental o
domínio da história que envolve processos, pessoas, sistemas, atividades e costumes
das épocas passadas para avaliar e refletir o presente.
O objeto da economia não muda. O que vai variar é o comportamento da sociedade
diante dos fatos históricos; a sociedade muda à medida que ela se conhece. É no intuito
de aprender que a economia não tem relações estáveis e que estamos sempre em mu-
dança que o presente material se apresenta. Temos, portanto, em mãos, um trabalho de
cunho exploratório e bibliográfico para atender a uma demanda de caráter didático-in-
formativo.
APRESENTAÇÃO
UNIDADE I
15 Introdução
27 A Economia na Antiguidade
33 O Feudalismo
52 Considerações Finais
57 Referências
59 Gabarito
UNIDADE II
63 Introdução
74 A Revolução Industrial
92 Considerações Finais
98 Referências
99 Gabarito
10
SUMÁRIO
UNIDADE III
103 Introdução
121 Imperialismo
131 Referências
132 Gabarito
11
SUMÁRIO
UNIDADE IV
135 Introdução
147 O Pós-Guerra
164 Referências
165 Gabarito
12
SUMÁRIO
UNIDADE V
169 Introdução
194 Referências
195 Gabarito
196 CONCLUSÃO
Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
I
A HISTÓRIA ECONÔMICA
UNIDADE
E OS ASPECTOS DO
FEUDALISMO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Refletir a relação entre economia e história.
■■ Conhecer a Economia na Antiguidade.
■■ Reconhecer o sistema feudal e apreender aspectos do mercantilismo.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A relação entre economia e história
■■ A Economia na Antiguidade
■■ O feudalismo
15
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), o conteúdo que você encontrará nas próximas páginas foi
minuciosamente construído no intuito de lograr a compreensão da íntima rela-
ção da economia e da história; o nascimento da História Econômica; o processo
gestacional do capitalismo: o feudalismo e o mercantilismo.
É por acreditar categoricamente na primordialidade da história como ferra-
menta de análise do momento presente, principalmente no que tange às questões
materiais de vivência, que nos dedicamos, na primeira parte do material, a inves-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
16 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nessa caminhada que estamos iniciando, caro(a) aluno(a), vamos conhecer
datas, pensadores e acontecimentos, isto é, vamos trilhar a história sob a pers-
pectiva econômica. É relevante apresentar que, conforme Harari (2015), a partir
da dimensão temporal (há 70 mil anos) em que o Homo Sapiens começou a for-
mar estruturas elaboradas chamadas culturas é que pontuamos a história.
Há cerca de 13,5 bilhões de anos, a matéria, a energia, o tempo e o espa-
ço surgiram naquilo que é conhecido como o Big Bang. A história des-
sas características fundamentais do nosso universo é denominada físi-
ca. Por volta de 300 mil anos após seu surgimento, a matéria e a energia
começaram a se aglutinar em estruturas complexas, chamadas átomos,
que então se combinaram em moléculas. A história dos átomos, das
moléculas e de suas interações é denominada química. Há cerca de 3,8
bilhões de anos, em um planeta chamado Terra, certas moléculas se
combinaram para formar estruturas particularmente grandes e com-
plexas chamadas organismos. A história dos organismos é denominada
biologia. Há cerca de 70 mil anos, os organismos pertencentes à espécie
Homo sapiens começaram a formar estruturas ainda mais elaboradas
chamadas culturas. O desenvolvimento subsequente dessas culturas
humanas é denominado história (HARARI, 2015, p.11).
Quadro 1 - Cronologia
ANOS ATRÁS
Surgem matéria e energia. Começo da física.
13,5 bilhões
Aparecem átomos e moléculas. Começo da química.
4,5 bilhões Formação do planeta Terra.
3,8 bilhões Surgimento de organismos. Começo da biologia.
6 milhões Último ancestral em comum de humanos e chimpanzés.
ANOS ATRÁS
2,5 milhões Evolução do gênero Homo na África. Primeiras ferramentas de pedra.
Humanos se espalham da África para Eurásia. Evolução de dife-
2 milhões
rentes espécies humanas.
500 mil Surgem os neandertais na Europa e no Oriente Médio.
300 mil Uso cotidiano do fogo.
200 mil Surge o Homo sapiens na África Oriental.
Revolução Cognitiva. Surge a linguagem ficcional. Começo da
70 mil
história. Os sapiens se espalham a partir da África.
45 mil Os sapiens povoam a Austrália. Extinção da megafauna australiana.
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MARTIN, 2010, p. 12).
Contudo, o que é a história, na sua forma clássica, e como ela se relaciona com
a História Econômica?
Marc Bloch (2001, p.51) definiu a História como a “ciência dos homens no
tempo”. Em outras palavras, conforme Saes e Saes (2013) é o estudo da atividade
alguns animais pode produzir tudo (ou quase tudo) o que necessita
para sobrevivência (levando em conta o que é considerado necessário
naquele momento, como alimento, vestuário, habitação). Na socieda-
de atual, as necessidades materiais comportam muito mais do que ali-
mentos, vestuário e habitação, pois bens duráveis, como os eletrônicos,
meios de transporte, lazer, cultura, etc. passaram a fazer parte do dia a
dia de grande parte da população (SAES; SAES 2013, p. 2).
Caro(a) aluno(a), diante da sua possível expectativa acerca deste conteúdo é impor-
tante que seja esclarecido que estamos diante da Economia e da História, duas
(atuais) ciências que se relacionam para contribuir de maneira a procurar identifi-
car as formas pelas quais os homens satisfazem suas necessidades materiais, como
também de investigar de que maneira essas formas se alteram ao longo do tempo
por meio de diferentes relações entre os homens que participam desse processo
(trabalhadores, empresários, consumidores) e de técnicas em constante alteração.
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SURGIMENTO DA HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL
Segundo Saes e Saes (2013), Adam Smith via a história da economia como uma
sequência de formas de atividade econômica: caça, coleta, pastoreio, agricul-
tura e comércio. De modo que o pensador escocês preservava uma perspectiva
histórica em suas reflexões. Essa seria a “ordem natural”, ou seja, como deveria
ter acontecido ou acontecer em cada sociedade. De modo geral, os economis-
tas clássicos mantiveram a preocupação em relação às mudanças da economia
pontuadas em sua dimensão temporal.
O surgimento e o desenvolvimento do capitalismo, para Karl Marx, é expli-
cado por meio de sua vasta construção teórica. Na Alemanha, a Economia como
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de produção, assumem outra abordagem. A atenção passa a ser para o entendi-
mento do processo de formação dos preços dos bens e a alocação dos recursos,
com base nas preferências dos indivíduos em determinado momento do tempo.
Na perspectiva dos marginalistas, na Economia não havia espaço para a História:
aliás, essa perspectiva foi formulada na polêmica sobre o Método entre os mar-
ginalistas, em especial pelo austríaco Karl Menger, e a Escola Histórica Alemã,
representada por G. Schmoller (SCHUMPETER, 1968, p. 177-185)
Saes e Saes (2013) apresentam que o afastamento entre Economia e a História
não ocorreu apenas com os marginalistas, pois esse foi um movimento mais
geral que talvez, contraditoriamente, fortaleceu a História Econômica. Sem
espaço para integrar seus estudos à teoria econômica, aqueles que, de algum
modo, dedicavam-se à análise da história de economias nacionais, buscaram um
espaço específico para sua atividade. Daí o surgimento da História Econômica
como disciplina acadêmica nos países anglo-saxões, no final do século XIX e
no começo do século XX.
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para o dos povos e das sociedades. Quanto aos historiadores que ti-
vessem a fraqueza de ainda se interessar pelo político, e praticar essa
história superada, fariam o papel de retardatários, uma espécie em via
de desaparecimento, condenada à extinção, na medida em que as novas
orientações prevalecessem na pesquisa e no ensino (RÉMOND, 1996,
p. 18-19).
O que os historiadores mais jovens desejavam era, antes de mais nada, mudar
o foco da história: das elites para as massas, para o trabalho, para a produção
e para as trocas. Vários historiadores romperam com o domínio acadêmico do
positivismo e produziram obras que incorporavam as novas preocupações, con-
forme o quadro abaixo.
Quadro 2 - Historiadores franceses que se opunham ao método positivista
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científicos) de produção.
Marx desenvolveu um método próprio: o materialismo histórico. É a relação
entre infra (a soma das forças produtivas e das relações de produção) e superes-
trutura (envolve aspectos institucionais – ligados ao Estado, à justiça, às formas de
governo e às leis – bem como ideológicos, os quais se revelam mediante ideias, dou-
trinas, crenças, moralidade e produções artísticas e culturais) que permite explicar
as ações, as realizações e os pensamentos humanos no tempo. Além desses dois
conceitos, outros se destacam no interior da teoria marxista e exercem, na produ-
ção historiográfica, reconhecida importância. Dentre esses conceitos, destacamos o
“modo de produção”, o de “contradição” e o de “luta de classes”. (RODRIGUES, 2016)
A ECONOMIA NA ANTIGUIDADE
A Economia na Antiguidade
28 UNIDADE I
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As civilizações As civilizações
hidráulicas comerciais
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Civilização Minóica
Mesopotâmia
de Creta
A Economia na Antiguidade
30 UNIDADE I
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com suas posses. E a difusão do conceito de propriedade levou à neces-
sidade de se demarcar com precisão os limites dos lotes de terras, de se
registrar o tamanho dos rebanhos, e de se mensurar o volume da pro-
dução agrícola, o que induziu à invenção da escrita, com a consequente
passagem para a história (REZENDE FILHO, 2010, p.13).
Mesopotâmia Egito
– Líbano atual;
A Economia na Antiguidade
32 UNIDADE I
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pela primeira vez na história, tornaram a escravidão absoluta na forma
e dominante em extensão,transformando-a, de forma de trabalho auxi-
liar e complementar, em um sistemático modo de produção.
REPÚBLICA ROMANA
O que vimos até agora nos encaminha para nosso objetivo de compreender aspectos
importantes da economia atual. De certo modo, tratamos até então dos “antepas-
sados” do sistema capitalista de produção. A partir de agora, vamos acessar àquele
que é, propriamente, o processo gestacional da economia capitalista: o feudalismo.
O FEUDALISMO
O Feudalismo
34 UNIDADE I
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Em Anderson (2016, p. 20)
como modo de produção, o feudalismo se define por uma unidade orgâ-
nica entre economia e política, paradoxalmente distribuída em uma ca-
deia de soberanias parcelares por toda a formação social. A instituição da
servidão como mecanismo de extração de excedente unia a exploração
econômica com a coerção político-jurídica no nível molecular da aldeia.
São várias definições e todas são complementares, de modo que não podemos
eleger um conceito preciso. O mais importante é que seja apreendida a concep-
ção de que para além da relação senhor feudal versus trabalhador que vive no
feudo (cuja condição social o define como um servo), trata-se, ainda, de uma
esfera política caracterizada por uma forma de governo ou de dominação frag-
mentada do ponto de vista espacial. Com a desagregação do Império Romano,
houve a constituição de vários Estados Bárbaros de dimensões menores, cuja
autoridade se viu progressivamente reduzida do ponto de vista geográfico. Em
contrapartida, o feudo assumiu o papel de unidade política fundamental.
O feudalismo em torno do ano 1000 está estabelecido com base nos moldes
apresentados anteriormente. Nessa dimensão temporal, a Europa Ocidental
apresentava as características definidoras do sistema: a relação suserano-vas-
salo, a fragmentação do poder e o estabelecimento da servidão como relação
social fundamental no campo.
Em termos de organização econômica, podemos considerar o feudo como
uma área de terra comumente denominada senhorio, distribuída de seguinte
forma:
I. Reserva Senhorial.
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i. Centro do domínio.
ii. Terras cultiváveis.
II. Lotes dos camponeses.
III. Terras de uso comum.
O Feudalismo
36 UNIDADE I
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■■ Captação: pagamento anual justificado como doação aos senhores em
troca de sua proteção (cobrado por pessoa).
■■ Mão morta: quando da morte do servo, seus herdeiros deviam entregar
ao senhor o melhor animal que tivessem.
Nesse contexto, a Igreja era muito forte e, maior proprietária de terras. O cená-
rio estava emoldurado em uma hierarquia feudal na qual o servo ou camponês
era protegido pelos senhores feudais, os quais, por sua vez, deviam fidelidade e
eram protegidos por senhores mais poderosos. Essa estrutura se estendia, indo
até o rei. “Os fortes protegiam os fracos” (HUNT, 1989, p. 29), mas o faziam por
um alto preço. Em troca de pagamento em moeda, alimentos, trabalho ou fide-
lidade militar, os senhores garantiam o feudo a seus vassalos. Como escora desse
sistema, estava o servo que cultivava a terra.
Portanto, além das obrigações acima referidas, tinha o dízimo para a Igreja,
pagamentos em troca de permissão para casar uma filha ou para um filho ingres-
sar em ordens religiosas. Ah! Vale muito expor aqui, caro(a) aluno(a), o crescente
poderio da Igreja do espaço temporal da Idade Média. Esse crescimento se deve,
especialmente, à expansão do cristianismo pela obra de evangelização dos povos,
realizada pelos padres nos territórios pertencentes ao poder de Roma e para
além deles.
A partir do século XI, as cruzadas deram força a uma marcante expansão
do comércio. Provavelmente, você já conhece esse termo, mas vale lembrar,
em breves linhas, a relevância desse movimento na história. A expressão “cru-
zada” não era conhecida por esse nome no período em que ocorria. Os termos
usados eram “Guerra Santa” e “Peregrinação”, os quais faziam referência ao
Até aqui nossa atenção estava centrada nos eventos que ocupam os séculos XI,
XII e XIII, os quais caracterizam a fase de expansão feudal (por meio do cres-
cimento da população, da colonização de novas áreas e também pelo crescente
volume de comércio). No entanto, em meados do século XIV, a expansão foi
interrompida e vários eventos indicam a emergência de uma crise do sistema
feudal (a qual também ocupa a primeira metade do século XV).
O Feudalismo
38 UNIDADE I
ALGUNS
PERÍODO CARACTERÍSTICAS CONSEQUÊNCIAS
PENSADORES
Trabalho
escravo;
Antiguidade Ausência de um
Clássica – 1ª fase ausência de moeda; pensamento Não há
(4000 a 1000 a.C.) comércio incipiente; econômico.
regimes teocráticos.
Fase inicial da Xenofonte
economia agrária,
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(440 – 355 a.C.)
seguida da econo-
mia urbana. Platão
Início da preocu- (427 – 347 a.C.)
pação pelos fatos Gradativo desenvol-
Antiguidade vimento do comér- Aristóteles
econômicos.
Clássica – 2ª fase cio internacional (384 – 322 a.C.)
(1000 a.C. ao ano Conceitos em- e embriões da Catão
500 da era cristã) brionários sobre a empresa. (234 – 149 a.C.)
riqueza, valor eco-
nômico e moeda. Queda do Império Plínio, o Antigo
Romano do Ociden- (23 – 79 d.C.)
te, surgimento do
feudalismo e retorno Columela
à economia agrária. (fl. c. 65 A. D.) etc.
Não há resposta conclusiva acerca de motivo especial para a crise do sistema feu-
dal. Uma evidência é o esgotamento das áreas disponíveis para colonização. Com o
crescimento populacional, novas áreas foram sendo incorporadas ao sistema feudal,
porém com o crescente risco de se caminhar para terras menos férteis e, possivel-
mente, aumentar excessivamente a densidade nas área mais antigas. Desse modo,
as condições de subsistência do conjunto da população teriam se tornado precárias.
A população continuou a crescer e a produção caiu nas terras mar-
ginais ainda disponíveis para uma recuperação aos níveis da técnica
existente, e o solo deteriorava por causa da pressa e do mau uso. [...]
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O aumento da área plantada com cereais, ainda por cima, era atingido
muitas vezes à custa de uma redução das pastagens: em consequência, a
criação de animais sofria, e com isto, o abastecimento de esterco para a
própria terra arável. Assim, o progresso da agricultura medieval incor-
ria agora em suas próprias perdas. A derrubada de florestas e as terras
desoladas não haviam sido acompanhadas de um cuidado comparável
em sua conservação (ANDERSON, 1991, p. 192).
Povos medievais personificavam a Peste Negra como uma horrível força de-
moníaca que estava além do controle e da compreensão humanos.
O Feudalismo
40 UNIDADE I
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nua expansão há três séculos. O efeito foi provocar uma crise geral do sistema.
Quadro 4 - Três motivos principais para a crise feudal
CRISE AGRÁRIA
projeta para fora do seu espaço geográfico. Saes e Saes (2013, p. 62) apontam
que “a expansão comercial e marítima da Europa a partir de meados do século
XV expressou a reação da sociedade europeia ao impacto da crise feudal do
século XIV”.
A desorganização do feudalismo foi determinantemente marcada pela Guerra
dos Cem Anos (1337-1453), a peste bubônica (1348), a fome e as revoltas cam-
ponesas, como consequência houve uma redução na esfera do poder privado
da nobreza feudal, um enfraquecimento dos laços de servidão, a desurbaniza-
ção e a retração das atividades comerciais que vinham se desenvolvendo desde
o século XI.
Esse conjunto de transformações estruturou uma nova esfera de poder, que
possibilitou uma nova linha de reflexão sobre os fenômenos da produção, da
distribuição e do consumo, ou seja, da atividade econômica. Huberman (2016,
p. 14) apresenta que As Cruzadas contribuíram para o surgimento das cidades:
[...] chegou o dia em que o comércio cresceu, e cresceu tanto que afetou
profundamente toda a vida da Idade Média. O século XI viu o comércio
evoluir a passos largos; o século XII viu a Europa ocidental transfor-
mar-se em consequência disso.
O Feudalismo
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deram privilégios a comerciantes que se estabelecessem nos seus domínios para
servir às necessidades do feudo. Para Saes e Saes (2013, p. 63) qualquer que seja
a origem das cidades, a maior parte delas se manteve durante algum tempo, sob
a jurisdição de um senhor, pois as cidades haviam sido formadas em terras de
domínio feudal. Com o crescimento da população e da riqueza urbana, as cida-
des puderam conquistar autonomia em relação à autoridade feudal.
MERCANTILISMO
O Feudalismo
44 UNIDADE I
Os exércitos não mais iriam lutar por uma ideologia, e sim objetivando paga-
mento. A necessidade de metais preciosos para remunerar as tropas, que eram o
sustentáculo do poder real, da ordem interna e da defesa do reino, é fundamental
para compreender o conjunto das análises e práticas econômicas que surgiram
nessa etapa inicial da organização do Estado Moderno (GENNARI; OLIVEIRA,
2009). Algumas características são fundamentais a serem destacadas com rela-
ção ao novo formato de Estado:
1. força militar permanente;
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2. sistemas centralizados de arrecadação;
3. burocracia.
O Feudalismo
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 10 - Período Mercantilista e Período Medieval
Fonte: Iori (2017, p. 65).
O mercantilismo prevaleceu até o início do século XVII, quando ocorreu uma reação
contra os excessos de absolutismo e das regulamentações. Durante seu predomínio,
apresentou-se como mercantilismo espanhol, também conhecido por bulionismo,
mercantilismo inglês e o mercantilismo francês. Conforme quadro abaixo.
Quadro 5 - Características do mercantilismo
O Feudalismo
48 UNIDADE I
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rompante para um encadeamento de profundas mudanças ocorridas ao longo
de vários séculos e que resultaram na decomposição do feudalismo medieval e
no início do capitalismo.
O mais importante avanço tecnológico da Idade Média foi a substitui-
ção do sistema de plantio de dois campos para o sistema de três cam-
pos. Embora haja evidência de que o sistema de três campos tenha sido
introduzido na Europa já no oitavo século, seu uso não se generalizou
antes do século XI. O plantio anual da mesma área esgotava a terra e
acabava por torná-la inútil. Assim, no sistema de dois campos, metade
da terra era sempre deixada ociosa, de modo que se recuperasse do
plantio do ano anterior. Com o sistema de três campos, a terra arável
era dividida em três partes iguais. [...] dessa mudança aparentemente
simples na tecnologia agrícola resultou um dramático aumento do pro-
duto agrícola (HUNT, 1989, p. 32).
Em Hunt (1989), vemos que as indústrias que apareciam nas novas cidades
eram basicamente indústrias de exportação, nas quais o produtor estava distante
do comprador final. No sistema artesanal feudal, o produtor (o mestre artesão) era
também o vendedor, eles vendiam seus produtos aos comerciantes que, por sua vez,
os transportavam e revendiam. Outra diferença importante é a de que o artesão
feudal, de modo geral, era também fazendeiro. O novo artesão das cidades desistiu
da terra para se dedicar inteiramente ao trabalho com o qual ele poderia obter uma
renda monetária que poderia ser usada para satisfazer suas outras necessidades.
Conforme o comércio se desenvolvia e se expandia, aumentava a necessidade
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O Feudalismo
50 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
geral do feudalismo, nos séculos XIV e XV, deixa que flutuem algumas ilustres
prosperidades urbanas e algumas brilhantes fortunas mercantis, essa visão é mais
uma aparência que uma realidade.
É o tempo do luxo, das grandes construções e dos mecenas das artes.
Entretanto, não é o auge produtivo. As grandes burguesias enriquecidas vivem,
daí em diante, de rendas ou compram terras feudais, imitam os grandes senho-
res. Pode-se observar que são elas que sustentam sempre os senhores quando
se produzem as guerras camponesas. No interior das comunidades, as lutas de
classe se agravam e os sistemas representativos, que sempre foram oligárquicos,
transformam-se.
Por último, as cidades que haviam realizado as mais importantes “repú-
blicas mercantis”, as do Mediterrâneo, caem em decadência, pelo menos
relativa, devido ao fato da conquista do Oriente pelos turcos e diante do pró-
ximo triunfo das rotas comerciais do Atlântico. Será agora em Flandres, na
Inglaterra, em Portugal e Espanha onde aparecerão as novidades decisivas
para a transformação do Ocidente europeu. De fato, a primeira etapa da for-
mação do capitalismo, depois da crise dos séculos XIV e XV, não poderia ser
fundada senão por um avanço das forças produtivas: o que ocorreu entre mea-
dos do século XV e XVI.
Foi precisamente ao longo da crise geral do feudalismo que numerosas
invenções vieram modificar o nível das forças de produção. O uso da artilharia
obrigou a impulsionar a produção de metal. A difusão do pensamento humano
com a invenção da imprensa, os progressos da ciência e da navegação desem-
penharam um papel não menos importante. Observa-se que, pela primeira vez,
mercantil, mais fecunda que a das repúblicas mediterrâneas da Idade Média, por-
que, dessa vez, constituía-se um mercado mundial e seu impulso afetava todo o
sistema produtivo europeu e porque grandes Estados (e não mais simples cida-
des) iriam aproveitar para, a partir daí, constituírem-se (VILAR, 1975).
Nesse sentido, na próxima unidade, vamos abordar a transformação que se
deu no mundo econômico por meio desse processo possibilitado pela amplia-
ção de “mundo”. Trata-se do capitalismo na sua “infância”.
O Feudalismo
52 UNIDADE I
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo dos séculos, a forma pela qual os homens satisfazem suas necessidades
materiais se altera, assim como aquilo que é considerado “necessário” em cada
época. Destarte, apresentamos, nesta primeira unidade, a relação da economia
e história. Portanto, nosso intuito no primeiro tópico abordado é, justamente,
demonstrar a estreita relação do estudo que tem como objeto o modo de pro-
duzir, à luz do conceito de História apresentado por Bloch (2001), que a definiu
como ciência dos homens no tempo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nessa dinâmica procuramos, também, expor que a História Econômica
é uma área de pesquisa relativamente recente e que emergiu como disciplina
acadêmica a partir do fim do século XIX. No universo da História Econômica,
fomos apresentados aos fundamentos teóricos da Escola dos Annales, a concep-
ção de história em Marx, a New Economy History, o papel de Douglas North, a
Economia Institucional e a História Quantitativa.
A Economia na Antiguidade foi um ponto muito relevante de conhecer e
perceber a importância dos egípcios e hebreus para a sociedade atual. E apren-
demos como eles viviam, produziam e distribuiam os frutos de suas atividades
produtivas. Em destaque, há a importância dos rios que eram motivo de ferti-
lidade do solo, resultando em boa produção que, por assim dizer, resultava em
aglomerado de pessoas em busca da satisfação de suas necessidades materiais.
A sociedade feudal tem extrema importância enquanto explicativa para o
que viria a ser o capitalismo. Conhecemos que o feudo incluía uma espécie de
concessão, por parte do rei, aos cavaleiros, uma parte de terras para ter seu sus-
tento e assim poder se dedicar à guerra.
A partir do século XIV, avanços nos meios de navegação permitiram ultra-
passar o estreito de Gibraltar, de modo que o comércio intraeuropeu, antes apenas
terrestre, deslocou-se em parte para o Atlântico. Como efeito, houve estímulo para
o desenvolvimento de centros comerciais. O mundo estava sendo descoberto!
2. “Possa ele tornar os campos produtivos como o cultivador. Possa ele multipli-
car os rebanhos como um pastor de confiança. Sob seu reinado, que haja plan-
tas e grãos. Que, no rio, haja água de sobra. Que no campo possa haver uma
segunda colheita” (REZENDE, 2010, p. 12). Oração mesopotâmica do IIIº milênio
a.C., para celebrar o ritual da união do rei com a deusa da Terra.
Com relação aos primeiros sistemas econômicos, avalie as afirmativas a
seguir:
I. A área da Mesopotâmia e do Egito é, dentro do contexto histórico, denomi-
nada de Crescente Fértil.
II. As civilizações hidráulicas representam um papel importante por caracteri-
zarem uma área produtiva por conta dos rios.
III. Os bancos fizeram parte da vida econômica da Mesopotâmia, caracterizan-
do uma economia bastante monetarizada.
É correto o que se afirma em:
a) Apenas na afirmativa II.
b) Apenas na afirmativa III.
c) Apenas nas afirmativas I e II.
d) Apenas nas afirmativas I e III.
e) I, II e III.
54
3. Sob qualquer prisma que se olhe, a história de Roma reflete um percurso único:
“de pequena cidade-Estado de uma confederação de povos afins (latinos), em
poucos séculos ela se toma capital de um Império que se estende por toda
costa do mar Mediterrâneo” (REZENDE FILHO, 2010, p. 33).
Nesse sentido, o sistema econômico presente no Império Romano tinha
por características:
a) o modo servil como forma de trabalho;
b) o modo assalariado como forma de trabalho;
c) a monetarização como padrão de troca;
d) o escambo como padrão de troca;
e) a indústria como unidade produtiva.
Cruzada
Ano: 2005
Sinopse: Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, que guarda luto
pela morte de sua esposa e filho. Ele recebe a visita de Godfrey de Ibelin (Liam
Neeson), seu pai, que é também um conceituado barão do rei de Jerusalém
e dedica sua vida a manter a paz na Terra Santa. Balian decide se dedicar
também à esta meta, mas após a morte de Godfrey ele herda terras e um
título de nobreza em Jerusalém. Determinado a manter seu juramento, Balian
decide permanecer no local e servir a um rei amaldiçoado como cavaleiro.
Paralelamente ele se apaixona pela princesa Sibylla (Eva Green), a irmã do rei.
57
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
2. Alternativa e.
3. Alternativa c.
4. A Idade Média foi assim denominada por ser o período intermediário entre a
Antiguidade (associada às civilizações clássicas de Grécia e de Roma) e a Época
Moderna (cujas origens remontam às Grandes Navegações, às Descobertas, ao
Renascimento). O feudalismo se situa, temporalmente, dentro da Idade Média,
mas as características que envolvem o feudal apontam na direção de fenômenos
políticos, econômicos, sociais, jurídicos e culturais.
II
O CAPITALISMO E A
UNIDADE
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
(1760-1870)
Objetivos de Aprendizagem
■■ Apreender aspectos gerais do processo de formação do capitalismo.
■■ Compreender o conceito de Revolução Industrial.
■■ Refletir os impactos da Revolução Industrial.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O Desenvolvimento do Processo Capitalista de Produção
■■ A Revolução Industrial
■■ A Revolução Industrial e sua Amplitude
63
INTRODUÇÃO
Definir capitalismo, caro(a) aluno(a), é uma ousadia diante de tão ampla circu-
lação na fala popular e na literatura clássica. Tanto é que, antes de apresentar,
como caráter introdutório do nosso trabalho, devo dizer que não chegamos a
tal definição propriamente. Contudo, buscamos demonstrar que o capitalismo
recebeu reconhecimento autorizado como categoria histórica.
Nosso entender contempla, portanto, uma abordagem de capitalismo de
acordo com seu desenvolvimento histórico. A busca pela essência do capitalismo,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
64 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Para tratar da grande revolução que modificou a história do mundo, a Revolução
Industrial (século XIX), é preciso, antes de mais nada, apreender o modo capita-
lista de produzir como um sistema caracterizado pelo processo da concentração
dos meios de produção. Antes de caracterizarmos o momento histórico transfor-
mador da sociedade moderna, vamos tratar de modo breve das características da
organização econômica da sociedade dentro dessa dimensão temporal.
Ernest Mandel (1982, p. 14) afirma que o modo de produção capitalista não
se desenvolveu
em meio a um vácuo, mas no âmbito de uma estrutura sócio-econômi-
ca específica, caracterizada por diferenças de grande importância,por
exemplo, na Europa ocidental, Europa oriental, Ásia continental, Amé-
rica do Norte, América Latina e Japão. As formações sócio-econômica
específicas - as “sociedades burguesas” e economias capitalistas - que
surgiram nessas diferentes áreas no decorrer dos séculos XVII, XIX e
XX [como veremos adiante] e que em sua unidade complexa (junta-
mente com as sociedades da África e da Oceania) abrangem o capi-
talismo ‘concreto’, reproduzem em formas e proporções variáveis uma
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A força de trabalho, produzindo um valor maior do que ela vale, isto é, uma
mais-valia, gerou o capital.
Fonte: autora.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
é que a existência do comércio e do empréstimo de dinheiro, bem como a pre-
sença de uma classe especializada de comerciantes ou financistas, ainda que
fossem homens de posses, não bastava para constituir uma sociedade capitalista.
Os homens de capital, por mais aquisitivos, não bastam. É fundamental apreen-
der que o capital tem de ser usado na sujeição da força de trabalho à criação da
mais-valia na produção (DOBB, 1980).
Cada período histórico é modelado sob a influência preponderante de uma
forma econômica única, mais ou menos homogênea, e deve ser caracterizado de
acordo com a natureza desse tipo predominante de relação socioeconômica. Ao
buscar a definição de um sistema econômico, Iori (2014) percebe, portanto, que
cada etapa apresenta uma característica nas situações históricas que,
simultaneamente, propicia a homogeneidade de configuração a qual-
quer tempo dado, e torna os períodos de transição, quando existe um
equilíbrio de elementos discretos, inerentemente instáveis. Isto, pois, a
sociedade se acha constituída de maneira que o conflito e interação de
seus elementos principais, ao invés do crescimento simples de algum
único elemento, formam o fator principal de movimento e mudança,
pelo menos no que diz respeito às transformações principais. Se esse
for o caso, uma vez que o desenvolvimento tenha atingido certo nível e
os diversos elementos que constituem aquela sociedade estejam dispos-
tos, de certo modo, os acontecimentos deverão marchar com rapidez
incomum, não apenas no sentido de crescimento quantitativo, mas no
de uma alteração de equilíbrio dos elementos constituintes, resultando
no aparecimento de composições novas e alterações ou mudanças mais
ou menos abruptas na tessitura da sociedade. É como se em certos ní-
veis de desenvolvimento, fosse acionado algo como reação em cadeia
(IORI, 2014, p. 20).
A acumulação primitiva
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
isso, Marx (1985) elegeu o exemplo inglês dos séculos XV e XVI como símbolo.
É no século XVIII que o processo é concluído e somente na Inglaterra se apresenta
de uma maneira radical. Vilar (1975) descreve que a colonização europeia, em
escala mundial, determina outro aspecto da acumulação primitiva. Ela se realiza
por mecanismos bastante variados, a saber: os saques – delicadas joias arrebatadas
dos índios das ilhas, imensos tesouros dos príncipes mexicanos e incas; tudo foi
diretamente transferido para a Europa. É correto que os “conquistadores” espa-
nhóis e o imperador Carlos V dedicaram, essencialmente, esses primeiros lucros às
suas empresas militares ou suntuárias, mas o ouro passou às mãos dos mercado-
res e dos banqueiros que se converteram nos intermediários da aventura colonial.
É imaginável, conforme Dobb (1980), que uma economia não pode ser base-
ada, durante muito tempo, no simples e puro saque, tampouco deve-se crer
que se tratou de um breve episódio. Os holandeses, que difundiram uma ver-
são das crueldades espanholas na América, não foram menos cruéis nas ilhas
do Extremo Oriente, as quais ocuparam no século XVII. Os ingleses na Índia
(século XVIII) também usaram desse esquema pérfido. Além do que, desde o
tempo da Rainha Elizabeth I, uma das grandes fontes de enriquecimento da
corte real inglesa foi a pirataria, a pilhagem direta dos carregamentos espanhóis.
A essa economia de pilhagem, a colonização acrescentou uma exploração con-
tínua e sistemática. Historiadores constataram, na Europa do século XVI, uma
chegada em massa de ouro e de prata, o que desencadeou uma “revolução nos pre-
ços”. O preço dos produtos europeus subiu, e Dobb (1980) estima que o aumento
foi na proporção de 1 para 4. Como os salários sobem muito menos, produz-se
uma “inflação de lucros”, isto é, o primeiro grande episódio de criação capitalista.
Esse contexto representa apenas um dos fatores que favoreceu o avanço produ-
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desse panorama, contextualiza-se o capital usurário e o capital mercantil em
que a acumulação monetária é obtida, a princípio por meio do empréstimo
usuário para o consumo: no nível mais baixo, em cada aldeia, o homem que
tem disponibilidades monetárias pode emprestar, com juros muito elevados,
ao camponês, que não tem do que viver, o necessário para comprar a semente
ou uma ferramenta, ou para pagar o imposto; no nível mais alto, os grandes
mercadores ou banqueiros emprestam aos grandes senhores ou aos príncipes;
é mais perigoso, uma vez que pode haver falências, confiscos, mas, ao mesmo
tempo, é remunerador.
Apresenta-se um aspecto dialético da relação do capital usurário e mercan-
til: a acumulação primitiva de capital engendra sua própria destruição. Em uma
primeira fase, a alta dos preços, o aumento dos impostos reais e os empréstimos
grandiosos estimulam os usurários, mas, no final, em graus diferentes, segundo
países diversos, as taxas médias de juros e dos lucros tendem a se igualar e a
diminuir. Então, é necessário que o capital acumulado busque outro meio de se
reproduzir. É preciso que os homens de dinheiro – que haviam se mantido relati-
vamente à margem da sociedade feudal – invadam todo o corpo social e tomem
o controle da produção (IORI, 2014).
É no curso do século XVII, menos favorável aos lucros extraídos das colô-
nias, que os mercadores, aproveitando as dificuldades do artesanato corporativo
e o excesso de mão de obra existente no campo, põem-se a distribuir primeiro a
matéria-prima e, logo após, instrumentos de produção (matérias têxteis), tanto
em domicílio entre os camponeses quanto às grandes oficinas (em geral privi-
legiadas pelo Estado).
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as que concernem à metalurgia (fundição do carvão) e, por último, à
máquina a vapor. Este avanço das forças produtivas é necessário para
subverter as estruturas econômicas e sociais. Daí em diante, a produ-
ção industrial em massa será a fonte essencial do capital, pela distância
estabelecida entre o valor produzido pelo operário e o valor que lhe é
restituído sob a forma de salário por aqueles que dispõem dos novos
meios de produção (máquinas, fábricas). A era da “acumulação primi-
tiva” terminou. Tudo irá tornar-se “mercadoria” e as relações sociais se
estabelecerão exclusivamente em termos de dinheiro. Já não há mais
‘feudalismo’ (VILAR, 1975, p. 47-48).
ressente, mas o capital industrial cada vez que pode diminuir o conteúdo-valor
da alimentação mínima do operário, assegura um lucro sempre maior.
Caro(a) aluno(a), daí em diante, o capitalismo industrial, que nesse caso
merece simplesmente o nome de capitalismo, substitui as modalidades primitivas
de formação do capital. Contudo, ainda nos países avançados, como a Inglaterra,
a agricultura, nas mãos dos capitalistas, adapta-se à produção em massa para a
venda, ou seja, ao capitalismo.
Somente no século XIX, o capitalismo industrial se propagará tal
como havia nascido na Inglaterra a partir de 1760. Resta considerar
que um regime social não está constituído, exclusivamente, por seus
fundamentos econômicos. A cada modo de produção corresponde,
não somente um sistema de relações de produção, como também um
sistema de direito, de instituições e de formas de pensamento. Um re-
gime social em decadência serve-se precisamente desse direito, dessas
instituições e desses pensamentos já adquiridos, para opor-se com to-
das as suas forças às inovações que ameaçam sua existência. Isso pro-
voca a luta das novas classes, das classes ascendentes, contra as classes
dirigentes que ainda acham-se no poder e, determina o caráter revo-
lucionário da ação e do pensamento que animam essas lutas (IORI,
2014, p. 28).
O regime feudal, conforme Vilar (1975), não morreu sem se defender. E o ata-
que que ele sofreu não começou somente com as formas mais desenvolvidas
dos novos modos de produção. Essas formas, com efeito, só puderam triunfar
quando já tinham se liberado dos inconvenientes, dos entraves que as institui-
ções de tipo feudal necessariamente opunham, isto é, a história das revoluções
burguesas.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
apenas 500 anos. A última, à medida em que propiciou a contestação de “ver-
dades”, abriu espaço para outra transformação econômica-social: a Revolução
Industrial. Com o fim do feudalismo e o processo transitório do mercantilismo, o
modo de produção capitalista em ascendência passa a revelar, claramente, carac-
terísticas sócioeconômicas intrínsecas na Revolução Industrial.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A Revolução Industrial
76 UNIDADE II
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dia, e talvez nem mesmo 1 (SMITH, 1996, p. 65-66).
A Revolução Industrial
78 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
7) emergência de novas classes sociais e ocupacionais determinada pela
propriedade dos meios de produção, que não a terra, ou pela relação
dessas classes com os referidos meios de produção, principalmente o
capital. Esse contexto de metamorfoses inter-relacionadas, ao ocorre-
rem simultaneamente, constituem uma Revolução Industrial, em que
pese a associação de crescimento demográfico e aumento no volume
anual de bens e serviços produzidos (DEANE 1975, p. 11).
A Revolução Industrial
80 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: adaptado de Iori (2014).
quando o homem passa a atuar apenas como força motriz numa má-
quina – ferramenta, em vez de atuar com a ferramenta sobre o seu ob-
jeto de trabalho, podem tomar seu lugar o vento, a água, o vapor, etc.,
e torna-se acidental o emprego da força muscular humana como força
motriz. Essas mudanças dão origem a grandes modificações técnicas
no mecanismo primitivamente construído apenas para ser impulsiona-
do pela força humana... além disso, a força humana é um instrumento
muito imperfeito para produzir um movimento uniforme e contínuo.
A Revolução Industrial
82 UNIDADE II
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A ferramenta característica desse período, diz Mantoux (1957, p. 193), era “passiva
na mão do trabalhador; sua força muscular, sua habilidade natural ou adquirida,
ou sua inteligência determinam a produção até o menor detalhe”. Na situação
antiga, antes do estágio da maquinofatura, o pequeno mestre independente, incor-
porando em si a unidade de instrumentos de produção humana e não humana.
Os elementos “não-humanos” eram elementos modestos.
No contexto da Revolução Industrial, o tamanho mínimo para um processo
de produção unitário se tornara grande demais para o “pequeno mestre” contro-
lar. Isso porque a relação entre os instrumentos humanos e mecânicos haviam
se transformado. Era necessário, a partir de então, capital para financiar o equi-
pamento complexo requerido pelo novo tipo de unidade de produção.
[...] criara-se um papel para um tipo novo de capitalista, não mais ape-
nas como usurário ou comerciante em sua loja ou armazém, mas como
capitão de indústria, organizador e planejador das operações da unida-
de de produção, corporificação de uma disciplina autoritária sobre um
exército de trabalhadores que, destituídos de sua cidadania econômica,
tinham de ser coagidos ao cumprimento de seus deveres onerosos a
serviço alheio pelo açoite alternado da fome e do supervisor do patrão
(DOBB, 1980, p. 262).
Foi uma metamorfose ampla, pois foi crucial em seus diversos aspectos, que
mereceu integralmente o nome de Revolução Econômica. Essa foi a descrição
clássica de Toynbee referenciada por Dobb (1980).
A Revolução Industrial
84 UNIDADE II
MÁQUINA
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Transfere-se as ferramentas das mãos do artesão para um mecanismo que procu-
ra reproduzir os movimentos do artesão de forma automática e padronizada.
↓
Pode ser movido pela energia humana, embora, com a Revolução Industrial, seja
mais típico o uso de energia não humana e não animal.
Figura 3 - O trabalho da máquina
Fonte: autora.
A Revolução Industrial
86 UNIDADE II
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lucionamento da indústria algodoeira: ‘a máquina de fiar (spinnin-
g-jenny), patenteada por Hargreaves em 1770; o filatório tocado a
água, inventado por Arkwright no ano anterior; o filatório Cromp-
ton, introduzido em 1779; e o filatório autônomo, inventado pri-
meiramente por Kelly em 1792’; embora ‘nenhuma dessas, por si só,
tivesse revolucionado a indústria’, não fosse o patenteamento da má-
quina a vapor por James Watt em 1769 e sua aplicação à manufatura
algodoeira quinze anos depois. A estas, Toynbee acrescenta como
elos cruciais no processo o tear mecânico de Cartwright de 1785 ,
e, afetando a siderurgia, a invenção da redução do carvão na parte
inicial do século XVIII e a ‘aplicação em 1788 da máquina a vapor
aos altos-fornos’.
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posição mais favorável do que outros países. Daí o fato dela ser o berço desse
desenvolvimento. Entretanto, ainda aprendemos que no tocante à expansão
demográfica
parece razoável supor-se que sem o aumento da produção que data a
partir da década de 1740 o crescimento paralelo da população teria
sido finalmente refreado por uma elevação na taxa de mortalidade
devida aos padrões de vida em declínio. Parece igualmente provável
que sem o crescimento demográfico, o qual ganhou impulso na se-
gunda metade do século XVIII, a revolução industrial britânica teria
sido retardada pela falta de mão-de-obra. Parece provável que sem a
procura e preços crescentes, os quais refletiam inter alia o crescimen-
to da população, teria havido menos incentivo para os produtores
britânicos se expandirem e inovarem e, por conseguinte, que se per-
deria parte do dinamismo que impulsionou a revolução industrial.
Parece igualmente provável que as oportunidades de emprego em
expansão criadas pela revolução industrial animaram os indivíduos
a se casarem e formar famílias numa idade mais jovem do que no
passado, e que aumentaram a expectativa média de vida (DEANE,
1975, p. 48).
rápido nas fileiras do proletariado, junto com uma série de acontecimentos que
ampliaram simultaneamente o campo do investimento e o mercado dos bens
de consumo, em grau sem precedente. Nos séculos anteriores, o crescimento da
indústria capitalista foi dificultado pelo estreitamento do mercado e sua expan-
são foi ameaçada pela baixa produtividade impostas pelos métodos de produção
do período, sendo esses obstáculos reforçados de quando em vez pela escassez
de trabalho. Na Revolução Industrial, essas barreiras foram simultaneamente
banidas e, em vez disso, a acumulação e o investimento do capital se viram, a
cada ponto do quadrante econômico, diante de horizontes cada vez mais amplos
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para incitá-los.
Somente por um singular desconhecimento da história buscar-se-ia na
revolução industrial as origens do capitalismo. Estas recuam à medida
em que mais se as estuda: elas são talvez mais antigas do que o comér-
cio e o numerário, ou do que a distinção entre ricos e pobres. O que
pertence propriamente ao regime da grande indústria, é a aplicação do
capital na produção de mercadorias e a própria formação do capital no
decorrer dessa produção: é a existência de uma classe capitalista que é,
essencialmente, uma classe industrial (MANTOUX, 1957, p. 369).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sas rurais e o saque e exploração colonial.
O desenvolvimento do capitalismo se classifica em uma série de estágios
caracterizados por níveis diversos de maturidade e cada qual reconhecível por
traços bastante distintos. No entanto, buscamos apresentar que a segunda car-
reira desse sistema ocorre com a Revolução Industrial. Essa dinâmica da evolução
do sistema está representada por uma transição de um estágio inicial e ainda
imaturo do capitalismo para outro, baseado na transformação técnica. Processo
esse apoiado na unidade de produção em grande escala e coletiva da fábrica, efe-
tuando, assim, o que Dobb (1980, p. 28) chama de “divórcio final do produtor
quanto à participação que dispunha nos meios de produção”, de forma a estabe-
lecer uma relação simples e direta entre capitalistas e assalariado.
Essa transformação foi determinante na História Econômica Geral e, por
assim dizer, para todo o futuro da economia capitalista. Pois, diante de uma
nova configuração, com a máquina como protagonista, o capitalismo alterou as
relações internacionais. Modificou-se o ritmo econômico por conta do volume
de produção, a partir de então possível, e a variedade do comércio era anormal
quando comparada aos padrões anteriores. Destarte, a metamorfose do mundo
econômico do século XIX tem de ser essencialmente uma interpretação de sua
transformação e movimento.
REVOLUÇÃO INGLESA
Qual o significado da Revolução Inglesa? Tratou-se efetivamente de uma Revolução? Es-
sas questões nortearam o estudo do historiador inglês L. Stone, um dos integrantes do
grupo de historiadores ingleses de orientação marxista que se propôs a discutir, ques-
tionar e repensar o marxismo a partir da década de 50. O estudo em questão, publicado
na coletânea Revoluciones y rebeliones de La Europa Moderna, analisa as causas remotas,
próximas e os elementos que contribuíram para desencadear o processo revolucionário
inglês do século XVII. No trecho selecionado, conclusão do estudo, o autor comenta as
especificidades e o significado da Revolução Inglesa.
O que caracteriza a Revolução Inglesa é o conteúdo intelectual dos diversos programas
e atuações da oposição depois de 1640. Pela primeira vez na história, um rei ungido foi
julgado por faltar à palavra dada a seus súditos e decapitado em público, sendo seu
cargo abolido. Aboliu-se a Igreja estabelecida, suas propriedades foram confiscadas e se
proclamou - e inclusive se exigiu - uma tolerância religiosa bastante ampla para todas
as formas do protestantismo. Por um breve espaço de tempo, e provavelmente pela
primeira vez, apareceu no cenário da história um grupo de homens que falavam de li-
berdade, não de liberdades: de igualdade, não de privilégios; de fraternidade, não de
submissão. Estas idéias haveriam de viver e reviver em outras sociedades e em outras
épocas. Em 1647, o puritano John Davenport predisse com misteriosa exatidão que ‘a
luz que acabava de ser descoberta na Inglaterra... jamais se extinguirá por completo,
apesar de eu suspeitar que durante algum tempo prevalecerão idéias contrárias’.
Ainda que a revolução fracassasse aparentemente, sobreviveram ideias de tolerância
religiosa, limitações do poder executivo central a respeito da liberdade pessoal das clas-
ses proprietárias e uma política baseada no consentimento de um setor muito amplo
da sociedade. Essas idéias reaparecerão nos escritos de John Locke e se consolidarão no
sistema político dos reinados de Guilherme III e Ana, com organizações partidárias bem
desenvolvidas, com a transferência de amplos poderes ao Parlamento, com um Bill of
Rights e um Toleration Act, e com a existência de um eleitorado assombrosamente nu-
meroso, ativo e articulado. É precisamente por estas razões que a crise inglesa do século
XVII pode aspirar a ser a primeira “Grande Revolução” na história mundial, e portanto,
um acontecimento de importância fundamental na evolução da civilização ocidental”.
Fonte: Stone (1981, p.120-121).
MATERIAL COMPLEMENTAR
A revolução industrial
Phyllis Deane
Editora: Zahar
Sinopse: Sinopse: um ponto importante que se coloca, quando tratamos da
Revolução Industrial, é desvendar as suas origens. O livro acima, publicado pela
carioca Zahar em 1969, aborda essa e outras questões.
Comentário: para entender o processo de transformação social é importante
se aprofundar nos estudos sobre o que vem a ser conhecido como revolução
industrial. A autora nos proporciona uma análise detalhada sobre esse
movimento dinâmico de metamorfose da história econômica.
Tempos Modernos
Ano: 1936
Sinopse: essa obra-prima cômica encontra o icónico vagabundo, empregado
em uma fábrica, onde as máquinas inevitável e completamente o dominam
e vários percalços o levam para a prisão. Entre suas passagens pela prisão,
ele conhece e faz amizade com uma garota órfã. Ambos, juntos e separados,
tentam lidar com as dificuldades da vida moderna, o vagabundo trabalhando
como garçom e, eventualmente, um artista.
Material Complementar
REFERÊNCIAS
1. Alternativa d.
2. Alternativa c.
3. Alternativa a.
5. A autora apresenta que o contexto do século XIX, nos moldes da Revolução In-
dustrial, vai resultar em sentimento de perdas diversas para o homem. O merca-
do passa a ser o senhor. O homem vai se deparar com situações paradoxais. A
começar pelo tempo que passa a ser o tempo da máquina. Perda que implica a
imposição de uma nova concepção do tempo: abstrato, linear, uniformemente
dividido a partir de uma convenção entre os homens, medida de valor relacio-
nada à atividade do comerciante e às longas distâncias. Tempo a ser produtiva-
mente aplicado, que se define como tempo do patrão, tempo do trabalho, cuja
representação aparece como imposição de uma instância captada pelo intelec-
to, porém presa a uma lógica própria, exterior ao homem que o subjuga. Outra
perda é no que tange à atividade de trabalho, pois o homem passa a ser uma
das engrenagens do sistema. Ainda esse trabalhador vai levar uma vida agressi-
va nas cidades, que se dá de forma brusca. O lugar é o lugar do trabalho, não o
lugar de morar.
Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
III
A GRANDE DEPRESSÃO DO SÉCULO XIX,
UNIDADE
A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
E O CONTEXTO DAS TRANSFORMAÇÕES
CAPITALISTAS (1870-1913)
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer a Grande Depressão do Século XIX.
■■ Refletir a importância da Segunda Revolução Industrial.
■■ Analisar o contexto histórico do capitalismo do século XIX.
■■ Aprender sobre o capital monopolista.
■■ Identificar a noção de imperialismo.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A Grande Depressão do Século XIX
■■ A Segunda Revolução Industrial
■■ Uma breve contextualização histórica do capitalismo e seu
alargamento geográfico
■■ O capital monopolista
■■ Imperialismo
103
INTRODUÇÃO
A história econômica é marcada por crises. É interessante notar que há uma clara
distinção entre aquelas surgidas antes do crescimento capitalista e as que apon-
taram depois do referido sistema. Em um primeiro momento do nosso estudo,
vamos aprender sobre a Grande Depressão do século XIX. Você, caro(a) aluno
(a), poderá perceber que, antes do século XVIII, o tipo mais comum de crise
era provocado pelo fracasso das colheitas, pelas guerras ou por algum aconte-
cimento anormal, como a escassez de alimentos e outros artigos necessários,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
104 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Para avançarmos no nosso conhecimento sobre o aspecto econômico da his-
tória geral, optamos aqui pela abordagem cronológica. Temos, portanto, o ano
de 1873 como marco de uma crise econômica conhecida pelos analistas como
“Grande Depressão”. Essa dinâmica instável se estenderá em dimensão tempo-
ral até 1895, quando é inaugurada a idade do imperialismo.
A história é pontuada pela sequência de episódios que vão se “costurando”
ao longo do tempo. Nesse sentido, a “Grande Depressão” perfaz a soma de várias
crises representadas pelo ”Krash” (palavra alemã que representa derrocada) da
Bolsa de Viena (1873) e Lyon (1882); o pânico das estradas de ferro nos Estados
Unidos (1884); a falência da companhia encarregada da construção do canal do
Panamá, na França (1889); a crise do banco Baring e a depressão do setor têxtil
na Inglaterra (1890); a super construção de estradas de ferro e amplo financia-
mento de ferrovias levaram a uma nova crise (1893) com uma série de falências
de bancos.
O ponto de partida, já referenciado acima, é o ano de 1873, considerado o
marco inicial da Grande Depressão do Século XIX. Saes e Saes (2013) atribuíram
a utilização desse termo “Grande Depressão” aos contemporâneos, para expres-
sar, de modo particular, a situação da economia britânica. Essencialmente, sua
manifestação foi o declínio do nível de preços: a deflação. Ocorreu tanto em rela-
ção aos bens industriais quanto às matérias-primas e aos produtos alimentícios.
Os índices de preços de atacado na Grã-Bretanha indicam claramente esse movi-
mento descendente durante cerca de duas décadas. O quadro abaixo apresenta
os índices de preços por atacado.
AÇÚCAR, CHÁ,
CARVÃO FIBRAS PRODUTOS ÍNDICE
GRÃOS FUMO, CAFÉ E
E METAIS TÊXTEIS ANIMAIS TOTAL
CACAU
1871-1875 100 100 100 100 100 100
1876-1880 66,7 85,4 95,4 102,6 90,2 92
1881-1885 60,7 76,9 83,7 98,6 75,1 83,5
1886-1890 61,5 66,5 67,7 84,8 56,8 70,6
1891-1895 63,6 60,3 66,0 84,6 53,7 68,3
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Embora haja alguma divergência entre os movimentos dos preços por atacado
dos grupos de produtos considerados, o sentido geral é de acentuada queda, indi-
cando, em média, uma redução de cerca de 30% nos preços entre 1873 (pico dos
preços por atacado desde 1940) e 1896 (ano em que o índice inicia novo período
de elevação). A adesão de vários países ao padrão-ouro, como veremos adiante,
promoveu razoável solidariedade do movimento dos preços no plano internacio-
nal, fazendo com que a Grande Depressão, expressa pelo declínio generalizado
dos preços, se manifestasse de modo bastante amplo.
Redução do ritmo do crescimento do produto, declínio da taxa de juros,
aumento dos salários reais e redução dos lucros são algumas das variáveis que
acompanharam o declínio dos preços.
Toda fase de industrialização é feita de movimentos cíclicos: prosperidades e
quebras por crise. Tratava-se de um período de crise que, por sua vez, apresentou
sua maior expressividade na Grã-Bretanha. A taxa de crescimento da produção
industrial britânica declinou da média anual de 3,2% entre 1847 e 1873 e para
1,7%, entre 1873 e 1900. Nesses mesmos períodos, o salário real teve aumento
anual médio de 0,6% e de 1,2% (índice referente aos trabalhadores de Londres)
ou de 1,1% para 1,3% (englobando maior número de trabalhadores britânicos)
(ROSTOW, 1948, p. 8 apud SAES; SAES, 2013, p. 214). A conciliação do declí-
nio dos preços, o aumento do salário real e, paralelamente, a redução do ritmo
de crescimento da produção industrial impactou nos lucros, de modo a ter uma
participação menor na renda industrial e na renda nacional.
LUCROS/RENDA LUCROS/RENDA
INDUSTRIAL NACIONAL
1870-1874 47,7% 29,4%
1875-1879 44,3% 26,1%
1880-1884 42,6% 25,7%
1885-1889 42,2% 25,2%
1890-1894 37,8% 22,7%
Fonte: Saul (1969, p. 42 apud SAES; SAES, 2013, p. 213).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os contornos gerais da Grande Depressão podem ser delineados a partir da
apresentação da situação da Grã-Bretanha. É relevante destacar que a produ-
ção apresentou um crescimento reduzido diante de seu comportamento prévio.
Em busca dos motivos dessa instabilidade em fins do século XIX, verificou-se
uma crise com prolongado declínio dos preços. Diferente do que se conhecia
até então, em que os desequilíbrios eram caracterizados por serem explosivos
e menos duradouros, causados, principalmente, por más colheitas e ausência
de produtos no mercado, gerando fome e miséria e canalizando o descontenta-
mento das massas.
Não há consenso sobre o motivo principal, o que podemos concluir, desse
ponto da linha do tempo, é que a Grande Depressão do século XIX representa
um momento peculiar na história do capitalismo, visto que revela alguns aspec-
tos importantes da dinâmica da economia capitalista que estão interligados: 1) a
crescente concentração das atividades produtivas em grandes unidades de pro-
dução que favoreceu a adoção de práticas monopolistas; 2) a tendência anterior
(1) foi reforçada pelas inovações tecnológicas implementadas à época, no que se
convencionou chamar de Segunda Revolução Industrial. Na sequência, vamos
abordar este último aspecto como explicativa para o primeiro que merecerá uma
abordagem mais detalhada.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dustrial das matérias-primas naturais. A fábrica conheceu seu apogeu
com a introdução da linha de produção. O capital concentrou-se em es-
cala jamais imaginada. A ciência tornou-se matéria auxiliar da técnica.
E a administração dos negócios adquiriu caráter científico (REZENDE
FILHO, 2010, p. 145).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que esses bens passaram a ser imprescindíveis na satisfação material da sociedade.
No que tange ao campo da energia, a substituição do vapor pela eletrici-
dade e pelo petróleo representou avanço sem precedentes. Cabe, aqui, a ênfase
na transformação que a indústria química ocasionou na época. A partir de sua
instalação, as matérias-primas puderam ser produzidas artificial e sinteticamente,
tornando o homem independente da natureza.
Países que não possuem jazidas de determinados produtos, ou cuja condi-
ção geoclimática não permite o cultivo de plantas tintoriais, podem agora,
graças à indústria química, criar esses produtos artificialmente. Anilinas,
ácidos, tecidos e corantes sintéticos, alcalóides, explosivos, essências, me-
dicamentos e plásticos são produzidos em grandes volumes, por essa nova
indústria que ‘imita a natureza’ (REZENDE FILHO, 2010, p. 147).
As novas técnicas e fontes de energia, bem como os novos materiais e novos bens
de consumo caracterizados pela Segunda revolução industrial, paralelamente à
concentração do capital, foram a base para o surgimento e consolidação de gran-
des empresas. Precisamente dentro do período 1870-1913 ocorreram mudanças
fundamentais no capitalismo que entendemos ser importante contextualizá-las,
o que se dará na sequência.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO
CAPITALISMO E SEU ALARGAMENTO GEOGRÁFICO
larga escala. Lobo (1973) considera que, nos fins do século XIX, poucas eram as
nações ocidentais que não adotaram o regime representativo e que, talvez, não
existia nenhuma em que a legislação não favorecesse amplamente a livre con-
corrência, base e condição do capitalismo liberal.
A produção e a distribuição de riquezas, por todo o planeta, passaram a depen-
der estreitamente do que se sabe e se providencia nas concentrações comerciais
mais ricas e nas regiões mais aparelhadas. Com isso, firmou-se um dos aspectos
que caracterizam a era capitalista, a saber: o mercado mundial, isto é, a interde-
pendência e o profundo entrosamento de todos os mercados, com predomínio
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Você aprenderá mais sobre isso no próximo tópico, mas podemos adiantar que
o retraimento do mercado de livre concorrência deu origem a diferentes tipos
de concentração e integração de empresas, tais como: consórcios, cartéis, trus-
tes e holdings.
De forma ampla, a figura 1 nos apresenta o cenário da organização do capital.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Concorrência A concentração e a centralização
desenfreada entre as do capital eram sinônimos de uma
Absorção ou
empresas, associada às Monopolização acumulação capitalista operada
eliminação das
crises sucessivas e à com um número cada vez menor
indústrias pelas e oligopolização
pressão por melhores de detentores de capital,
suas concorrentes do capital.
salários e condições de resultando, ao mesmo tempo, na
trabalho exercida pelo mais fortes ou diminuição do número de
crescente movimento hábeis. empresas e no aumento do
operário tamanho médio das suas plantas.
Para que possamos entender melhor esse movimento capitalista o tópico a seguir
abordará de forma sistemática o tema do capital monopolista.
O CAPITAL MONOPOLISTA
O Capital Monopolista
116 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: adaptado de Beaud (1987).
O Capital Monopolista
118 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
foco a realização e a multiplicação dessa vantagem comercial.
Com a acumulação do capital e o desenvolvimento das forças produtivas, esti-
mulada pela concorrência intercapitalista, ampliou-se a massa de riqueza nas mãos
do capitalista e deu-se o processo de concentração de capital. Esse processo acu-
mulativo estimula e, ao mesmo tempo, é estimulado por inovações tecnológicas na
medida em que estas permitem aos capitalistas a redução dos seus custos. Netto e
Braz (2012) sugerem que a inovação é um recurso do capitalista na concorrência
com seus pares. Propositadamente, a dinâmica da acumulação e do desenvolvi-
mento tecnológico está intimamente relacionada à elevação orgânica do capital.
Grandes massas de capital são capazes de implementar empreendimentos que
envolvem elevada composição orgânica de capital. Destarte, a tendência do capi-
tal, em seu movimento, diga-se excludente, é de concentrar-se. A forma utilizada
é redundante na ousadia de ser objetiva: mais capital é necessário para produzir
mais mais-valia. Assim, os grandes capitalistas acumulam uma massa de capi-
tal cada vez maior. Isso é capitalismo, magis do latim, mais, mais e sempre mais.
A centralização do capital é outra tendência da dinâmica da acumulação
capitalista. Trata-se do aumento do capital pela fusão de vários outros capitais.
Realiza-se pela união de capitais já existentes. Expressa-se pelos cartéis, trustes
e a formação de holdings.
Costa (1986) define o agrupamento de monopólios, que produz mercadorias
semelhantes, como cartel. Os proprietários desses monopólios estabelecem entre si
um acordo de preços, a partir de um patamar mínimo, partilham os mercados de
venda, determinando as condições de contratação de força de trabalho etc. O obje-
tivo é o lucro máximo para cada componente, mantida a independência de produção
O Capital Monopolista
120 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tas produtivas gigantescas. A disponibilidade concentrada de crédito de capital
era condição para que as escalas de produção pudessem crescer celeremente e,
por sua vez, as enormes plantas produtivas que surgiam, constituíam poderosa
arma para centralização de capitais, pois, com suas economias de escala, podiam
liquidar as empresas menores. O progressivo aumento das escalas de produção
exigiam gigantescos montantes de capitais centralizados para que novos inves-
timentos pudessem ser realizados e, desse modo, começava a tornar remota a
possibilidade da formação de novos capitais individuais que concorressem com
os capitais já em função (IORI, 2014).
Esses fenômenos, aos quais às vezes nos referimos como a Segunda Revolução
Industrial, já detalhado anteriormente, eram parte integrante da guinada de um
capitalismo caracterizado por pequenas unidades competitivas para outro, em
que a cena industrial e financeira é dominada por grandes concentrações de
poderio econômico (MAGDOFF, 1978, p. 27).
A referência à Segunda Revolução Industrial, por parte de Magdoff (1978),
foi com base no desenvolvimento tecnológico e industrial que poucos países
alcançaram, como os EUA, Japão e Alemanha. Desses países, o que apresentou
a mais rápida monopolização das indústrias foi os EUA. Até 1870, a indús-
tria Norte-Americana processava produtos agrícolas por meio de pequenas
empresas que compravam matéria-prima local e na mesma região vendiam sua
produção. Com o desenvolvimento da tecnologia, no final do século XIX, os
grandes negócios foram incorporados na indústria e no comércio, concentrando
o capital nas mãos de corporações que cresceram pela junção de várias empre-
sas menores. Essas corporações passaram a utilizar redes próprias para venda
IMPERIALISMO
Imperialismo
122 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ção de impérios era a política que predominava como ação de várias potências
europeias (e ainda dos Estados Unidos e Japão). Destarte, o modo de expressar
essa política colonial, consoante à forma de análises dessa realidade de forma
crítica, constitui-se em Imperialismo. Nas palavras de Saes e Saes (2013, p. 294),
assim, as noções de império e Imperialismo ficaram associadas à do-
minação que um Estado exerce sobre outro Estado ou nação. Por isso,
o imperialismo foi identificado, antes de mais nada, com a expansão
colonial do final do século XIX.
Uma síntese dos principais domínios coloniais e de sua abrangência pode ser
visualizada no Quadro 4 a seguir.
Quadro 4 - Impérios coloniais do mundo - 1914
Saes e Saes (2013) nos apresentam que a grande potência colonial era a Inglaterra,
que englobava tipos variados de territórios: se a Índia era a ‘jóia da coroa’
(somando grande área e população), as colônias ‘brancas’, mas semi-indepen-
dentes, como Canadá, Austrália e Nova Zelândia, contavam com a enorme área
do império colonial britânico. A França, como a Grã-Bretanha, controlava um
território colonial muito maior do que o da metrópole, abrigando uma popula-
ção também bastante superior. Já os extensos territórios coloniais alemães não
comportavam população tão densa. A Bélgica, cujo território metropolitano
é muito limitado, tinha em sua única colônia, o Congo, área muito superior à
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Imperialismo
124 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
glória, muito mais que reformas onerosas; e o que há de mais glorioso
que conquistas de territórios exóticos e raças de pele escura, sobretu-
do quando normalmente era barato dominá-los. De forma mais geral,
o imperialismo encorajou as massas, e, sobretudo, as potencialmente
descontentes, a se identificarem ao Estado e à nação imperiais, outor-
gando assim, inconscientemente, ao sistema político e social represen-
tado por esse Estado justificação e legitimidade (HOBSBAWM, 1988,
p.105-106).
Imperialismo
126 UNIDADE III
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A possibilidade de crise no capitalismo nasce da produção desordenada e
do fato de que a extensão do consumo, pressuposição necessária da acumulação
capitalista, entra em contradição com outra condição, a da realização do lucro.
Tal contradição insanável fez com que o capital buscasse compensá-la por meio
da expansão do campo externo da produção, isto é, da ampliação constante do
mercado.
Mesmo tendo, pois, testemunhado o efeito drástico da concorrência na redu-
ção de preços e margens de lucro, os homens de negócios mostravam simpatia
cada maior por medidas pelas quais a concorrência pudesse ser restringida, tal
como o mercado protegido ou privilegiado e o acordo de preços e produção. Essa
maior preocupação com os perigos da concorrência sem barreiras veio em uma
época na qual a crescente concentração da produção, principalmente na indús-
tria pesada, lançava os alicerces de uma centralização maior da propriedade e
do controle da política dos negócios. Essa indústria nascente estava totalmente
pautada nas características da chamada Segunda Revolução Industrial.
Entendemos, portanto, que os últimos 20 anos do século XIX e o começo do
século XX foram marcados por uma preocupação que faz lembrar o mercanti-
lismo dos séculos anteriores: as esferas privilegiadas de investimento no exterior.
Consideramos essa apreensão como uma marca distintiva de um período que
terá como traço dominante o capitalismo maduro, impelido pela necessidade de
encontrar novas extensões no campo de investimento.
A partir de finais do século XVIII, quando a segurança da velha economia artesã teve
seu fim por conta da Revolução Industrial, apareceram as primeiras críticas à atuação
do então sistema capitalista. Os ataques se dirigiram principalmente à exploração que
a ordem econômica vigente submetia as classes operárias, propondo algumas soluções
alternativas, baseadas na “cooperação entre as classes”.
Nesse sentido, apresentam-se aqueles que defendiam o socialismo. Vamos omitir, aqui,
muito do que pode fazer parte dessa temática, para não corrermos o risco de adentrar na
História do Pensamento Econômico. É necessário, contudo, apresentar os diversos tipos
de socialismo: Socialismo utópico; Socialismo de Estado; Socialismo cristão; Anarquis-
mo; Comunismo; Revisionismo; Sindicalismo; Socialismo da guilda; Socialismo marxista.
Vamos nos deter brevemente na lógica marxista, na qual a Revolução Socialista deveria
ocorrer onde o capitalismo fosse mais desenvolvido, onde suas contradições internas
estivessem mais acirradas, o que na época da elaboração teórica identificava a Ingla-
terra. No entanto, a primeira revolução socialista se deu no elo mais fraco da cadeia
capitalista, a Rússia, conforme a definição de Lênin. As implicações foram profundas em
termos de sociedade de transição que veio a surgir.
A primeira Revolução Socialista ocorreu graças a um golpe político, em uma área
periférica pouco industrializada - a Rússia -, houve a necessidade de se construir
condições para o socialismo, recorrendo inclusive ao reforço de certos elemen-
tos capitalistas. Isto implicou uma readaptação teórica dos postulados marxistas,
que passaram a ser conhecidos como marxismo - leninismo (de Lênin, nome de
Guerra de Vladimir Ilitch Ulianov, líder do Partido Comunista Russo de 1917 a
1924) (REZENDE FILHO, 2010, p. 243).
O jardineiro fiel
Ano: 2005
Sinopse: O reservado diplomata britânico Justin Quayle se muda para o Quênia
com sua adorável jovem esposa Tessa, uma ativista pela justiça social. Quando
Tessa é encontrada morta no deserto, as circunstâncias apontam para seu amigo,
Dr. Arnold Bluhm, mas é logo esclarecido que ele não é o assassino. De luto e
zangado, Justin se prepara para descobrir a verdade por trás do assassinato e,
no processo, ele desenterra algumas revelações perturbadoras.
131
REFERÊNCIAS
BEAUD, M. História do Capitalismo de 1500 até nossos dias. São Paulo: Brasilien-
se, 1987.
COSTA, E. Imperialismo. São Paulo: Global, 1986.
CURSO NACIONAL de Formação Política do Partido Comunista Brasileiro. Disponível
em: <http://www.pcb.org.br/portal/docs/historia1a.pdf> Acesso em: 12 fev. 2018.
DOBB, M. H. A evolução do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.
HOBSBAWM, E. A Era dos Impérios (1875-1914). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
IORI, C. F. A. G. O sentido oculto do valor do trabalho e sua implicação no setor
bancário: um estudo de caso para a cidade de Maringá-Pr e sua região metropolita-
na em 2000 a 2010. 2014. 140 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regio-
nal e Agronegócio) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo, 2014. Dis-
ponível em: <http://tede.unioeste.br/handle/tede/2187>. Acesso em: 12 mar. 2018.
LÊNIN, V. I. Imperialismo: fase superior do capitalismo. São Paulo: Global, 1982.
LOBO, R. H. História econômica geral e do Brasil. São Paulo: Atlas, 1973.
MAGDOFF, H. A Era do Imperialismo. São Paulo: HUCITEC, 1978.
MANDEL, E. O Capitalismo Tardio. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
MATTOSO, J. E. Trabalho e Desigualdade Social no final do século XX. 1993. Tese
(Doutorado em Economia) – Instituto de Economia, Universidade Estadual de Cam-
pinas, Campinas, 1993.
NETTO, J.P.; BRAZ, M. Economia política: uma introdução crítica. 8 ed. São Paulo,
Cortez, 2012. (Coleção Biblioteca Básica de Serviço Social.)
OLIVEIRA, C. A. B. Processo de industrialização: do capitalismo originário ao atra-
sado. São Paulo: UNESP; UNICAMP, 2003. Disponível em: <http://livros01.livrosgratis.
com.br/up000037.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2018.
PEINADO, J. GRAEML, A. R. Administração da produção: operações industriais e de
serviços. Curitiba: UnicenP, 2007.
REZENDE FILHO, C. B. História Econômica Geral. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
SAES, F. A. M.; SAES, A. M. História econômica geral. São Paulo: Saraiva, 2013.
REFERÊNCIA ON-LINE
¹Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:IMGCDB82_-_Caricatura_sobre_con-
ferencia_de_Berl%C3%ADn,_1885.jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 13 mar. 2018.
GABARITO
2. Alternativa d.
3. Os países mais avançados (lembre-se que, nesse período, a liderança estava com
a Inglaterra) buscaram matérias-primas nos rincões mais afastados do globo e
inundaram todas as latitudes com as suas mercadorias produzidas em larga es-
cala. Lobo (1973) considera que ,em fins do século XIX, poucas eram as nações
ocidentais em que não se adotara o regime representativo e, talvez, não existisse
nenhuma em que a legislação não favorecesse amplamente a livre concorrência,
base e condição do capitalismo liberal. A produção e a distribuição de riquezas,
por todo o planeta, passaram a depender estreitamente do que se sabia e provi-
denciava nas concentrações comerciais mais ricas e nas regiões mais bem apare-
lhadas. Com isso, firmou-se um dos aspectos que caracterizam a era capitalista, a
saber: o mercado mundial, isto é, a interdependência e o profundo entrosamen-
to de todos os mercados, com predomínio de bem estruturadas organizações de
âmbito internacional e das nações mais desenvolvidas. O alargamento da base
geográfica da economia mundial se deu na fase monopolista, demonstrando a
expansão das relações capitalistas para novas áreas do globo na Europa, Améri-
ca do Norte e Japão.
4. Alternativa d.
IV
A PRIMEIRA GUERRA
UNIDADE
MUNDIAL À GRANDE
DEPRESSÃO (1914-1933)
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer os aspectos da Primeira Guerra Mundial.
■■ Refletir sobre os impactos do pós-guerra.
■■ Aprender sobre o desempenho da economia na década de 1920.
■■ Aprender sobre a queda da bolsa de 1929 e a Grande Depressão.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A Primeira Guerra Mundial
■■ O pós-guerra
■■ A Economia mundial e os anos 20
■■ A Grande Depressão (1929-1933)
135
INTRODUÇÃO
Olá, querido(a) aluno (a). Você está lendo o material de forma sequencial? Se por
ventura você está conhecendo a História Econômica Geral de forma a contem-
plar pontos históricos diferentes, não tem problema. Saiba que, nesta Unidade
IV, você vai conhecer as razões de ordem econômica que levaram à Primeira
Guerra Mundial. Se me permite um conselho, eu diria para se atentar a alguns
elementos da Unidade III. Por quê? A eclosão desse momento de lutas está intrin-
secamente relacionada com as questões do capital monopolista.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
136 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O nosso estudo está objetivado na atividade humana, em suas múltiplas dimen-
sões, na perspectiva da mudança ao longo do tempo. Em outras palavras, você
está trilhando o caminho, caro(a) leitor(a), que discorre sobre os fatos sociais.
Até aqui você já deve ter percebido que estamos “costurando” os episódios e
formando conjuntura(s) gradativamente. Isso exige muito cuidado e dedicação,
sobretudo neste ponto que chegamos. Concordamos com Sondhaus (2013) que
a Primeira Guerra Mundial e o acordo de paz, que pôs fim a ela, constituíram
uma revolução global. Foram questões além das relacionadas a fronteiras e ter-
ritórios (Imperialismo, tratado na unidade anterior). A guerra também viria
revolucionar as relações de poder dentro das sociedades europeias.
Não podemos perder de vista que o nosso trabalho envolve a descrição de
como os homens se esforçaram (e se esforçam) ao longo dos séculos para satisfa-
zer as necessidades materiais (conforme abordado na Unidade I). Nesse sentido,
qual a perspectiva econômica da Primeira Guerra Mundial? Para Rezende Filho
(2010, p. 188), embora haja uma série de motivos políticos ideológicos, que
tenham levado as nações européias à formação de dois blocos antagônicos de
alianças militares, as razões subjacentes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
foram de ordem econômica. E implicaram em um impacto no sistema capita-
lista de forma brutal. Mais especificamente, a busca agressiva por mercados de
investimentos privilegiados e o enorme crescimento econômico da Alemanha,
que ameaçava transformá-la na potência hegemônica europeia, forneceram as
razões primárias para o que Rezende (2010) denomina de “guerra para uma redi-
visão de mercados em nível mundial”.
Você poderá ver no mapa, logo a seguir, o destaque para Belgrado, capital
da Sérvia. Trata-se do marco da Primeira Guerra Mundial, oois, na tarde de 28
de julho de 1914, a artilharia austro-húngara começou a bombardear Belgrado.
Estamos diante de um momento de instabilidade política que
de todas as crises internacionais da história, nenhuma foi alvo de
escrutínio mais meticuloso ou de maior número de análises acadê-
micas do que a crise de julho de 1914, que começou com o assas-
sinato do arquiduque Francisco Ferdinando em Sarajevo em 28 de
junho, e culminou em um troca de declarações de guerra entre as
grandes potências a partir de 1º de agosto. Assim que o conflito teve
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Países
bálticos
IMPÉRIO
GRÃ-BRETANHA RUSSO
ALEMANHA
BÉLGICA
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AUSTRIA-
HUNGRIA
FRANÇA
BELGRADO
?
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Primeira
Guerra Mundial
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1ª fase: 2ª fase: 3ª fase: regresso
Guerra de Guerra das à Guerra de
Movimentos Trincheiras Movimentos
Vitória dos
aliados
Conferência Novo
de paz Mapa Sociedade Supremacia
Tratado de Político das nações americana
Versalhes Mundial
Figura 3 - Multidão de alemães animados com a declaração da Primeira Guerra Mundial, em agosto de
1914, em Berlim
Origens da 1ª
Guerra Mundial
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econômica nacionalismos
Fortes rivalidades
internacionais
Foi no século XIX que o mundo conheceu Charles Darwin por meio da sua
Teoria da Seleção Natural. A partir daí, temos o darwinismo (grupo social
que dá vida ao darwinismo), Hull chama de entidade histórica, no sentido
de ser entendida como a história de um sistema conceitual, que se desen-
volve no espaço e no tempo: os darwinistas. A complexidade e a estrutura
do trabalho é de tamanha significância científica que propagou-se o Darwi-
nismo Social. As ideias evolucionistas aplicadas como instrumento de aná-
lise social. A partir dos princípios do social darwinismo, ganhou força uma
teoria política fundada na ideia de que a relação entre as nações é impulsio-
nada por sua luta pela sobrevivência em um mundo de recursos limitados.
Isso fez com que a preparação para a guerra fosse considerada o objetivo
maior dos Estados.
Fonte: adaptado de Moraes (2013).
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Figura 5 - Europa em blocos
Fonte: Moraes (2017, p. 163).
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gas sintéticas e materiais para processamento fotográficos exemplificam essa
relação, visto que justamente as fábricas que produziam esses produtos pode-
riam, facilmente, passar a produzir explosivos. Destarte, a Inglaterra teve de criar
uma indústria química a partir do nada, baseada em patentes alemãs apreen-
didas. Também com relação a gêneros mais sofisticados da Segunda Revolução
Industrial, como rolamentos, magnetos, velas de ignição, máquinas fotográfi-
cas e aparelhos ópticos, Inglaterra e França eram parcialmente dependentes de
importações alemãs. Encontramos em Harari (2015, p. 271) sobre o “casamento”
da ciência e da guerra para atender a ordem do sistema econômico:
Quando a Primeira Guerra Mundial se transformou em uma guerra de
trincheiras interminável, ambos os lados convocaram cientistas para
sair do impasse e salvar a nação. Os homens de branco atenderam o
chamado, e dos laboratórios saiu um fluxo constante de novas superar-
mas: aeronaves de combate, gás venenoso, tanques, submarinos, me-
tralhadoras, peças de artilharia, rifles e bombas cada vez mais eficazes.
Dependia consideravelmente dos Estados Unidos para obter aço para obuses e
outros tipos de aço para máquinas-ferramentas”. Em pouco tempo, os Estados
Unidos assumiram um caráter de importância vital para o esforço de guerra
dos aliados. Inverteram sua posição de tomadores de empréstimos de capital
europeu para a posição de maiores credores da Europa e experimentaram um
enorme impulso em sua produção industrial.
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O PÓS-GUERRA
Neste ponto, caro aluno (a), você está diante de um elemento crucial na his-
tória econômica: o fato histórico, em 1917, da entrada dos Estados Unidos no
conflito. A Europa perdera sua posição hegemônica para o país americano. Em
novembro de 1918, marca-se a vitória da Entente, forçando os países da Aliança
a assinarem a rendição. Os derrotados tiveram de assinar o Tratado de Versalhes.
A Alemanha sofreu grandes perdas de territórios e colônias (Alsácia-Lorena
para a França e Prússia Ocidental e Posnânia para a Polônia), além de ter de
ressarcir todos os danos provocados pela guerra. A contribuição de Rezende
Filho (2010) é relevante para
o entendimento do desen-
volvimento econômico
mundial, pois a forma como
esses encargos foram impos-
tos à Alemanha marcaram
toda a trajetória econômica
da década de 1920, sendo
a grande responsável pelo
mais forte abalo que o capi-
talismo sofreu: a depressão
da década de 1930.
O Pós-Guerra
148 UNIDADE IV
Quando o mundo procurava recobrar fôlego para se dedicar à tarefa de sua re-
construção econômica, ocorreu um surto epidêmico. Foi provocado por um ví-
rus só identificado em 1933, denominado de gripe espanhola, registrando mais
vítimas fatais que a guerra de 1914-1918. Tendo seu auge em 1919, a epidemia
alastrou-se pelo mundo todo, causando cerca de 27 milhões de mortes. A maio-
ria delas ocorreu na África, Índia e China, e nas regiões européias muito devas-
tadas pela guerra, que abrigavam populações carentes de alimentos e medica-
mentos, no que foi chamado com propriedade as ‘sobras da colheita da guerra’.
Fonte: Rezende Filho (2010, p. 196).
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O fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, deixou como legado uma série de
efeitos sobre a economia mundo-capitalista, conforme a figura a seguir apresenta:
Aldcroft, 2001, p. 6-8 apud Saes, 2013, p. 323 admite a perda total de população
entre 1914 e 1921 (incluindo mortes e redução da natalidade)
foi da ordem de 50 a 60 milhões.
A contribuição das colônias para o esforço de guerra aliado foi substancial, o que
levou suas elites à convicção de que alguma forma de autogoverno seria
nelas permitido.
149
A contribuição das colônias para o esforço de guerra aliado foi substancial, o que
levou suas elites à convicção de que alguma forma de autogoverno seria
nelas permitido.
O limite temporal entre os anos de 1918 e 1929 são assinalados por Rezende
Filho (2010) como o marco das mudanças estruturais pelas quais o sistema
capitalista passava. Trata-se, para o autor, da crise sistêmica que reflete sua pas-
sagem da juventude para a idade madura. Com seu espaço geográfico reduzido,
o capitalismo assistiu à luta de sua área central originária, a Europa, para reco-
brar sua antiga posição hegemônica sobre a economia-mundo. No entanto, o
novo centro, os Estados Unidos, atravessava, notavelmente, um período de
prosperidade, devido mais aos créditos acumulados no período da guerra,
junto aos países aliados, do que a um real alargamento de seu mercado con-
sumidor interno.
Conforme Saes e Saes (2013), o período da guerra, por concentrar a pro-
dução bélica, criou uma demanda reprimida por muitos produtos – não só os
bens duráveis, mas também de consumo corrente, não disponíveis nos anos de
conflito. Além disso, o financiamento da guerra se fez, ainda que em pequena
parte, por meio de empréstimos do público aos governos – por meio dos cha-
mados bônus de guerra –, ou seja, uma parcela da população formou, durante a
guerra, uma poupança que, ao fim, poderia ser gasta para satisfazer a demanda
reprimida durante os anos de guerra. Assim, admite-se que uma demanda,
represada por cerca de quatro anos, foi liberada em 1919 e gerou impulso para
a expansão da economia de alguns países.
Ainda para Saes e Saes (2013), o pós-guerra demarcou na Europa Ocidental
duas fases distintas.
O Pós-Guerra
150 UNIDADE IV
PRIMEIRA FASE
Reconstrução das sociedades em um contexto complexo de destruição física e
humana, de desorganização do mercado mundial, de endividamento público e
de inflação.
SEGUNDA FASE
Em meados dos anos 1920, tem-se recuperação econômica e reorganização das
antigas estruturas econômicas. Do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos
gozavam de:
1º) grande prestígio financeiro, em função dos empréstimos para a guerra e para
a reconstrução européia, com Nova Iorque se tornando um novo e importante
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centro financeiro;
2º) grande poder industrial, e um exemplo desse contexto foi o sensacional
desenvolvimento da indústria automobilística, que ultrapassava de longe, em
volume industrial, as outras potências.
Fonte: adaptado de Saes e Saes (2013).
Figura 7 - Contas da dona de casa em 1914 Figura 8 - Contas da dona de casa em 1918
Fonte: Wikimedia Commons¹ Fonte: Wikimedia Commons².
O Pós-Guerra
152 UNIDADE IV
No que tange ao desempenho das economias na primeira metade dos anos 1920,
podemos declarar que foi variado. No caso dos Estados Unidos, retomaram o
rápido crescimento, ao passo que a Grã-Bretanha, em busca do padrão-ouro,
manteve-se estagnada. O índice de atividade industrial, apresentado em Saes e
Saes (2013), reflete, em grande medida, a forma pela qual os países se envolve-
ram com a Primeira Guerra: os mais afetados pela destruição e os que arcaram
com as reparações de guerra tiveram grande dificuldade para, ainda na primeira
metade dos anos 1920, retomarem o crescimento econômico.
O Tratado de Versalhes, assinado em junho de 1919, definiu que as repara-
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ções de guerra eram devidas pela Alemanha para os vencedores, Grã-Bretanha,
França, Estados Unidos e Itália.
Os objetivos dos vencedores, em síntese, eram: fortalecer os países eu-
ropeus para que não fossem levados pelo caminho da revolução russa
(vide leitura complementar); redividir os territórios deixados em aber-
to pela queda dos grandes Impérios (Austro-Húngaro, Russo, Turco e
Alemão); enfraquecer a Alemanha, que quase sozinha havia derrotado
as tropas aliadas; redifinir as políticas internas dos países vitoriosos;
e, finalmente, garantir um acordo de paz que impossibilitasse o surgi-
mento de uma nova guerra. Para tanto foi criada a “Liga das Nações”,
que deveria agregar as principais potências mundiais a fim de solucio-
nar pacífica e democraticamente as questões diplomáticas entre os pa-
íses. Contudo, tanto o Tratado de Versalhes como a Liga das Nações
se mostraram incapazes de instituir um equilíbrio de poder definitivo
(SAES; SAES, 2013, p. 329).
O país derrotado da Primeira Guerra Mundial viu sua economia arruinada por
uma série de fatores. A enorme quantidade de títulos públicos emitidos sem las-
tro durante a guerra, aliada à perda de territórios de concentração industrial e
de recursos naturais e a instabilidade política são fatores que representam esse
contexto. Conforme Rezende Filho (2010), em finais de 1922, a Alemanha se
declarou incapaz de continuar com o pagamento das reparações, o que levou a
França, que apostava todo seu futuro econômico nos pagamentos que adviriam
dos germânicos, a ocupar a região do Ruhr, em 1923, para que o fornecimento de
carvão garantisse o pagamento da dívida. Os efeitos psicológicos da ocupação e
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a onda de greves dos mineiros que se seguiu, tornaram a situação insustentável.
Em fins de 1923, entretanto, o marco é abandonado por não valer mais nada e foi
criado o rentenmark para substituí-lo. Em nossa sucinta análise, devemos apre-
sentar, ainda, sob a perspectiva econômica alemã, a elaboração dos Plano Dawes
por parte de uma comissão internacional. Este estabeleceu novos valores anuais
para o pagamento das reparações, considerando o quanto a Alemanha poderia
pagar, e não quanto deveria pagar como culpada pela guerra. Além disso, garan-
tiu um empréstimo de 40 milhões de libras para auxiliar nesses pagamentos.
O outro pilar da economia europeia, , por seu lado, também não se com-
portava mais como no pré-guerra. A França é obrigada a manter-se pela
força militar em suas novas áreas da Síria e Líbano, e na Indochina a
década de 1920 pauta-se pelo renascimento do sentimento nacionalista
vietnamita, com uma série de greves, passeatas de protestos e incipientes
movimentos de rebeldia militar. Em 1919 o Ocidente é sacudido pelas
manifestações chinesas contra os acordos coloniais do Tratado de Versa-
lhes e a presença do Japão em seu território. Na Índia, após o massacre de
Amritsar em 1919, quando 379 homens, mulheres e crianças são mortos
pelos ingleses durante manifestação pacífica, a presença inglesa não será
mais aceita consensualmente. Surgem movimentos de aberta rebeldia
e de resistência pacífica de Mahatma Gandhi. A Inglaterra é obrigada a
conceder independência a seus ex-domínios do Canadá, Austrália, Nova
Zelândia e África do Sul, graças em grande parte ao auxílio que eles lhe
prestaram durante a guerra, reconhecendo que a ligação que mantinham
entre si, devia-se apenas ao símbolo de uma coroa comum. E mesmo os
países sujeitos ao imperialismo informal, vêem a presença econômica eu-
ropeia diminuir; Argentina e Brasil, por exemplo, adquirem durante os
anos 20, 64% e 50% de suas importações na Europa, contra 80 e 60% em
1913. Em resumo, sem o afluxo de capitais norte-americanos, a Europa é
incapaz de aumentar tanto suas exportações como suas importações, para
equipará-las aos níveis de pré-guerra (REZENDE FILHO, 2010, p. 201).
Por fim, o período de 1925-1929 teve como peculiaridade sua reconstrução a partir
do padrão-ouro, em uma fase de expansão significativa e desenvolvimento da eco-
nomia mundial e com a incorporação das transformações da Segunda Revolução
Industrial. Aprendemos com Saes e Saes (2013) que se trata de um período de fra-
gilidade por conta da dependência mundial em relação às exportações de capital
norte-americanas que se refletem em 1928, quando os Estados Unidos, na ten-
tativa de segurar o boom em Wall Street, elevou a taxa de juros. Para compensar
a queda da entrada de capitais dos Estados Unidos, vários países retornaram às
políticas protecionistas, com o objetivo de ampliar as rendas das balanças comer-
ciais. O impacto da crise de 1929 e da Grande Depressão evidenciou que as bases
da economia mundial da década de 1920 eram frágeis e foram insuficientes para
fazer frente aos problemas colocados pelos eventos do fim da década.
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acontece sua “passagem da ‘juventude’ para a idade ‘adulta’”.
No sistema dos Estados Unidos, otimismo e confiança eram sentimentos
inerentes ao público em geral na época que antecedeu a queda da bolsa nova ior-
quina. Até fevereiro de 1928, aproximadamente, a alta do preço dos papéis seguiu
assinalando o aumento dos lucros das empresas, a partir dessa dimensão tempo-
ral, conforme Rezende Filho (2010), ela foi sustentada pela onda especulativa.
Em meados de 1928, a construção civil foi abalada por um colapso. Assim, em 4
de dezembro de 1928, o presidente norte-americano Calvin Coolidge emitiu uma
mensagem no intuito de restabelecer a credibilidade. Galbraith (1988, p. 3) nos
apresenta a afirmação da autoridade americana:
nenhum Congresso deste país já se terá reunido para apreciar o estado da
União diante de uma perspectiva mais agradável do que a que se apresen-
ta neste momento. O cenário nacional é de tranquilidade e satisfação…
além de registrar o recorde absoluto de anos de prosperidade. O cenário
internacional apresenta a paz e a boa vontade próprias do entendimen-
to mútuo’… Afirmava o Presidente que juntamente com o país todos os
legisladores podiam olhar o presente com satisfação e aguardar o futuro
com otimismo.
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revoluções sociais, instauração de novas formas de governo e, também, criação de
novas políticas econômicas. Tal peculiaridade transformou o crash da Bolsa de Nova
Iorque e a depressão dele decorrente em um dos grandes temas dentre os estudos
e os debates econômicos.
A década de 1930 (Grande Depressão) pode ser pensada como mais um elemento
desestabilizador no cenário de reorganização da economia mundial. Esse ínterim
foi marcado pela permanência das incertezas herdadas da década anterior. A onda
de falência dos bancos, nos Estados Unidos, o aumento do desemprego, a deflação
e a crise da agricultura resultaram em um projeto global bem definido para enfren-
tar essa conjuntura: o New Deal . Outro fato que merece destaque, principalmente
para os estudiosos da Economia, foi a publicação da obra de Keynes, Teoria geral do
emprego do juro e da moeda, em 1936. Ousamos omitir alguns elementos importan-
tes para a História Econômica Geral, diante do convite, caro(a) aluno(a), para que
possa conhecer obras importantes e esclarecedoras do período estudado. Galbraith,
Keynes, Schumpeter, Berle e Means, entre outros. Por questões didáticas, encerraremos
a Unidade IV aqui, diante da expectativa de que o cenário apresentado tenha configu-
rado a Segunda Guerra Mundial, protagonista da nossa próxima unidade. Até breve!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Hobsbawm (1995, p. 30) declarou que para os que cresceram antes de 1914, não
havia continuidade – pós-guerra – com relação ao passado. “Paz” significava
“antes de 1914” depois disso veio algo que não mais merecia esse ano.
É sobre esse tempo infértil que estudamos na Unidade IV. Sem fecundidade,
pois entendemos que a vida humana tem um valor que transcende à ordem eco-
nômica. A Primeira Guerra Mundial foi o primeiro evento, efetivamente, que
envolveu todas as Grandes Potências. Milhões de mortos – a nacionalidade deles
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não tem a menor relevância –, vidas que se foram para satisfazer os anseios das
disputas coloniais. A humanidade sobreviveu, mas nunca mais foi a mesma!
Apresentamos o cenário histórico da Primeira Guerra composto pela Tríplice
Aliança e pela Tríplice Entente. O motivo era o de pontuar o contexto imperia-
lista vigente.
No entanto, após a guerra, a configuração mundial mudou! Os Estados
Unidos se beneficiam e passam a ser o novo centro da economia-mundo. Vimos
que foi um notável período de prosperidade americana, devido aos créditos acu-
mulados no período da guerra junto aos países aliados. Contudo, revelou-se
um crescimento artificial, uma vez que o país do Tio Sam se percebeu impossi-
bilitado de continuar a sustentar níveis de consumo interno por uma absoluta
escassez de capitais, os quais haviam se transformado em estoques ou em inves-
timentos externos.
Por fim, as frágeis bases sobre as quais se assentava a era de prosperidade
norte-americana são ainda mais fragilizadas pela corrida especulativa, que fez,
de 1923 a 1926, as transações na Bolsa de Nova Iorque subirem. A presença dos
consórcios de investimentos, de grandes empresas e de bancos, atuando no mer-
cado de ações como financiadores, demonstrava a explosão de crédito que houve,
no final da década de 1920, para ser direcionado a ganhos financeiros por meio
da especulação. Em outubro de 1929, marca-se a queda da bolsa de Nova Iorque.
E o período que sucede é de Depressão e os americanos passam a sentir sinais
de recuperação apenas em 1937. De forma bastante generalizada, são esses os
nossos pontos abordados nesta Unidade IV.
Considerações Finais
160
Ouro
Ano: 2017
Sinopse: Kenny Wells (Matthew McConaughey) é um homem americano que
tem como sonho mudar de vida. Filho de pai garimpeiro, ele vê na busca pelo
ouro a chance para mudar sua situação. E é por isso que ele vai atrás de um
geólogo picareta para, juntos, viajarem para Indonésia em busca desta pedra
dourada. Eles queriam encontrar grandes reservas do metal precioso. O que
não esperavam é que, ao encontrarem o que procurava, teriam de fugir de
ferozes inimigos que querem barrar seus negócios.
Material Complementar
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
¹Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Comptes_de_la_m%C3%A9nag%-
C3%A8re_en_1914-_Archives_nationlaes-AB-XIX-4012-classeur3.jpg>. Acesso em:
14 mar. 2018.
²Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Comptes_de_la_m%C3%A9nag%-
C3%A8re_en_1918-Archives_nationales-AB-XIX-4012-classeur3(2).jpg>. Acesso em:
14 mar. 2018.
165
GABARITO
1. Alternativa b.
4. Alternativa e.
5. Alternativa d.
Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
V
UNIDADE
AS PERSPECTIVAS DO CAPITALISMO
TARDIO (1933- DIAS ATUAIS)
Objetivos de Aprendizagem
■■ Analisar o contexto da Segunda Guerra Mundial.
■■ Reconhecer a dimensão da Segunda Guerra Mundial.
■■ Refletir a abordagem do capitalismo tardio.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O Contexto da Segunda Guerra Mundial
■■ A Dimensão da Segunda Guerra Mundial
■■ O capitalismo tardio e a financeirização do sistema: as peças de um
quebra cabeça
169
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), nesta unidade, vamos refletir sobre os aspectos que envolve-
ram a Segunda Guerra Mundial, bem como a repercussão econômica em nível
mundial. Vamos conhecer, portanto, uma série de transformações institucionais
no capitalismo tardio, que vão desde o incentivo ao consumo ao regime de acu-
mulação predominantemente financeiro.
Reconheceremos o cenário responsável pela Segunda Guerra Mundial. Dessa
forma, vamos identificar a tensão entre as relações internacionais que, desde a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
170 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cenário econômico na primeira década do novo século. É uma continuação em
nível mais adiantado e em um ritmo acelerado. Esses dois episódios mundiais
podem ser definidos como guerras de “redivisão” de mercados e colônias no
interior do sistema capitalista.
As relações internacionais estavam tensas ao longo da década de 30. Rezende
Filho (2010) assinala a Segunda Guerra Mundial como a última tentativa, de cer-
tos países da área central da economia-mundo, de recuperar suas economias pelo
estabelecimento de relações imperialistas no estilo do século XIX e, estrutural-
mente, como a possibilidade de tirar o sistema capitalista da Grande Depressão.
O período entre guerras representou para o sistema capitalista
um verdadeiro teste, experimentando sua solidez e articulação interna,
através de duas guerras mundiais, dois períodos de reconstrução eco-
nômica, uma longa década de profunda depressão econômica geral, e
a diminuição de seu espaço geográfico pela implantação de soluções
econômicas alternativas (REZENDE FILHO, 2010, p. 187).
Regimes autoriátios
- fascismo (Itália).
- nazismo (Alemanha).
- Expansionismo militarista (Japão).
- Franquismo (Espanha).
- Salazarismo (Portugal).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Às 5h29min45s da manhã de 16 de julho de 1945 ocorreu o momento mais notá-
vel e definidor dos últimos 500 anos. Naquele exato segundo, concretizava-se a
Experiência Trinity, o primeiro teste nuclear da história. O teste foi conduzido
pelos Estados Unidos da América, cientistas detonaram a bomba atômica em
Alamogordo, Novo México. Conforme Harari (2015, p. 259), desse ponto em
diante “a humanidade teve capacidade não só de mudar o curso da história como
também de colocar um fim nela”.
A partir desse cenário, fica a sugestão da tamanha atrocidade que foi a Segunda
Guerra Mundial. Contudo, ela não se saldou apenas por pavorosas perdas huma-
nas ou por uma alteração, por vezes lamentável, dos valores morais geralmente
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
admitidos e que, mal ou bem, reagiam às relações entre os indivíduos e, às vezes,
entre as nações. Também houve um balanço econômico cuja amplitude atingiu
dimensões desconhecidas. Foi, na verdadeira acepção da palavra, uma guerra
total, que utilizou recursos até o seu limite e que se traduziu por consequências
igualmente capitais e diversificadas. O quadro 1, a seguir, ajuda a explicitar sobre
aspectos, como a dívida pública, o nível de vida das pessoas, o controle gover-
namental e a variação da produção industrial.
Quadro 1 - Aspectos da Segunda Guerra Mundial
DÍVIDA PÚBLICA
Aumento geral da dívida pública, e em proporções frequentemente catastrófi-
cas. A guerra custou à França o equivalente a 35 mil milhões de dólares, à Ingla-
terra 50 mil milhões: para fazer face a este enorme déficit, a Grã-Bretanha teve
de liquidar a terça parte dos seus bens no estrangeiro e endividar-se em relação
aos Estados Unidos e aos seus próprios domínios; a dívida interna passou de 7
mil milhões de libras em 1939 para 22 milhões; a libra desvalorizou-se 38% em
relação ao dólar. A dívida pública dos Estados Unidos passou de 46 para 263 mil
milhões de dólares.
NÍVEL DE VIDA
Abaixamento do nível de vida das populações: racionamento de bens alimenta-
res, desaparecimento, por vezes total, dos bens de consumo julgados indispen-
sáveis, manutenção das “senhas de racionamentos” até cerca de 1950.
CONTROLE GOVERNAMENTAL
Estabelecimento de um controle governamental energético: controle dos preços
e da moeda, das matérias-primas; orientação da produção; controle das trocas
para tentar reduzir a fuga de capitais;
navais, à sua indústria química. E o papel destes dois países será capital para o
fornecimento de alimentos e equipamento indispensável aos países arruinados
e devastados.
Fonte: adaptado de Marques et al. (2012).
Nos países europeus, nos anos imediatamente após a guerra, o capital era o
ingrediente que faltava. Isso podia ser fornecido, e o foi pelo Plano Marshall.
Fonte: Galbraith (1979, p. 225).
compondo as forças dos Aliados junto com a Grã-Bretanha, França e outros países,
depois da vitória seus governos se afastaram, dando início a um conflito potencial
que, em uma ocasião, quase se tornou efetivo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A concentração dos recursos na indústria pesada e nos transportes, em detri-
mento dos bens de consumo, permitiu uma rápida recuperação dos níveis de
produção. Em 1950, o Produto Nacional Bruto da União Soviética era inferior
apenas ao dos Estados Unidos, embora seu produto per capita ainda fosse infe-
rior ao do Reino Unido, da França e da Alemanha Ocidental, conforme podemos
observar a seguir.
Tabela 1 - Produto Nacional Bruto e per capita em 1950 (valores em dólares de 1950)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
os níveis mais altos de produtividade industrial, o processo de industrialização
se estendeu, pouco a pouco, na era do capitalismo de livre concorrência, a um
número cada vez maior de países.
Com a exportação em massa de capital para os países subdesenvolvidos, para
a organização da produção capitalista de matérias-primas nessas áreas, a dife-
rença quantitativa na acumulação de capital e no nível de produtividade entre os
países metropolitanos e os economicamente atrasados foi, subitamente, transfor-
mada em uma diferença qualitativa. Esses países se tornaram dependentes, além
de atrasados. A dominação do capital estrangeiro sobre a acumulação de capital
sufocou o processo de acumulação primitiva de capital, e a defasagem industrial,
em relação às áreas metropolitanas, alargou-se regularmente. Além disso, como
a produção de matérias-primas ainda era pré-industrial ou apenas rudimentar-
mente industrial, visto que os baixos custos da força de trabalho desestimulavam
a constante modernização da maquinaria, essa defasagem industrial deu origem
a um abismo crescente nos respectivos níveis de produtividade, que tanto expres-
sava quanto perpetuava o real subdesenvolvimento. Do ponto de vista marxista,
isto é, a partir de uma teoria consistente do valor do trabalho, subdesenvolvi-
mento é sempre, em última análise, subemprego, quantitativamente (desemprego
em massa) e qualitativamente (baixa produtividade do trabalho).
É verdade que as mercadorias capitalistas criaram e conquistaram o mercado
mundial capitalista, isto é, levaram aos limites extremos do mundo a domina-
ção da circulação capitalista de mercadorias e o predomínio das mercadorias
produzidas em grande escala na moderna indústria capitalista. Entretanto, ao
mesmo tempo, a expansão internacional não implantou, por toda a parte, o modo
dos preços desses materiais. O resultado não foi apenas o colapso notório no
preço dos artigos agrícolas – e a grande crise da agricultura européia –, mas tam-
bém uma rápida queda no preço relativo dos minérios, em comparação ao preço
dos produtos na indústria capitalista de bens acabados. Em longo prazo, entre-
tanto, essa tendência estava destinada a ser invertida devido aos baixos custos de
reprodução da força de trabalho nos países subdesenvolvidos, em decorrência
da escala maciça de subemprego e do baixo grau de produtividade do trabalho,
os quais alargavam, constantemente, a diferença no nível de produtividade entre
esses países e os da metrópole. Com a estagnação da produtividade nos países
dependentes e, simultaneamente, com um rápido aumento na produtividade do
trabalho nos países industrializados, era apenas uma questão de tempo antes que
o preço das matérias-primas começasse a aumentar.
A alta começou a se manifestar durante a Primeira Guerra Mundial. Para
certas matérias-primas, a alta continuou durante os anos 20 até a crise econô-
mica mundial de 1929-1932. As consequências dessa crise acarretaram uma
súbita interrupção do processo que, entretanto, abriu novamente caminho com
o surto armamentista internacional nos anos 40, atingindo seu apogeu em 1950,
no início da Guerra da Coréia. A estrutura específica que o final do século XIX
havia gravado sobre a economia mundial tornava-se, agora, um obstáculo adi-
cional à valorização do capital ou, mais precisamente, um fator adicional para o
declínio da taxa média de lucro.
Assim, a lógica interna do capital ocasionou uma repartição do processo que
já ocorrera nas décadas de 1950 e 1960 do século anterior. Naquele momento,
quando o preço relativo das matérias-primas começou a subir rapidamente, a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
rialismo ‘clássico’ deu lugar ao capitalismo tardio, o capital respondeu com uma
penetração em massa ainda mais profunda. A partir dos anos 30 e, particular-
mente, na década de 40 do século anterior, essa penetração maciça na esfera das
matérias-primas conduziu – exatamente como se passara no último quarto do
século XIX – a uma revolução fundamental na tecnologia, organização do tra-
balho e relações de produção. No final do século XIX, tinha sido uma questão
de substituir uma organização primitiva do trabalho, pré-capitalista, por méto-
dos organizacionais adequados ao capitalismo manufatureiro ou à fase inicial
da industrialização.
Os resultados desse rearranjo na estrutura da economia mundial, no período
de transição do imperialismo “clássico” ao capitalismo tardio, foram numero-
sos, mas de natureza bastante contraditória. Entre outros aspectos, esse novo
período foi caracterizado pelo fato de que, paralelamente aos bens de consumo
industriais feitos por máquinas, surgidos no início do século XIX, deparamo-nos
com matérias-primas e gêneros alimentícios produzidos por máquinas. Longe
de corresponder a uma sociedade “pós industrial”, o capitalismo tardio aparece,
assim, como o período em que, pela primeira vez, todos os ramos da economia
se encontram plenamente industrializados; ao que ainda seria possível acrescen-
tar, a mecanização crescente da esfera da circulação (excetuados os serviços de
simples conserto) e a mecanização crescente da superestrutura.
Portanto, os traços básicos do capitalismo tardio já podem ser derivados
das leis de movimento do capital. A origem imediata da terceira revolução tec-
nológica pode ser referida a quatro objetivos principais do capital nos anos 30
e 40 do século XX.
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Alves (2007) nos alerta que, diante das condições de mundialização do capital,
na época da produção destrutiva ou, ainda, no período de passagem para uma
nova modalidade de acumulação capitalista – acumulação flexível –, que o insaci-
ável movimento do capital em processo assume um caráter plenamente inovador,
dado pela constituição dos circuitos globais do dinheiro, que projeta a nível glo-
bal, “essa caça apaixonada pelo valor” (MARX, 1989, p.184).
Nesse sentido, Alves (2007, p. 20) aponta que
O surgimento de um “único mercado mundial de dinheiro e de crédito”
é parte intrínseca da plena posição do capital enquanto sujeito da alta
modernidade, ou da exacerbação da modernidade, com seus impactos
decisivos nas esferas da cultura, da economia e da política.
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égide de Bretton Woods, o poder do dólar conversível foi sustentáculo do que
Belluzo (2013) entende como processos simultâneos: o déficit na conta de capi-
tais, produto da expansão da grande empresa norte-americana; a reconstrução
dos sistemas industriais da Europa e do Japão; a industrialização de muitos paí-
ses da periferia, impulsionada pelo investimento produtivo direto em conjugação
com políticas de desenvolvimento nacional.
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A terceira revolução industrial tem um viés antiemprego e antissindical.
Por um lado, não houve redução da jornada de trabalho acompanhando os
ganhos de produtividade, como aconteceu historicamente nas duas primeiras
revoluções industriais. Por outro lado, atingiu o movimento sindical, enfra-
quecendo-o de forma fundamental ao promover o desemprego industrial. Isso
porque o movimento sindical tem cultura industrial (secundária), e não terciária.
A chamada terceira revolução industrial se desenvolveu dentro do contexto de
mundialização financeira. Nesse cenário, o movimento sindical estava enfra-
quecido e com muitas dificuldades de interferir no processo em curso. Diferente
do que aconteceu na segunda revolução industrial, quando o sindicalismo teve
ascensão e contribuiu para constituição do Estado de Bem-estar Social.
O cenário da mundialização financeira, juntamente com a terceira Revolução
Industrial, desencadeou uma profunda transformação do sistema econômico,
tanto no plano nacional quanto no internacional. A razão podemos encontrar
em sua rápida expansão, pois os ativos financeiros “viajam” em ritmo mais veloz
do que o produto ou o comércio. Entendemos que a esfera financeira ganhou
“autonomia” em relação à “economia real”. Em outras palavras, a partir desse
momento, a acumulação de capital tinha como núcleo a esfera financeira, não
mais a produtiva. Em um trabalho dessa natureza, não há espaço para uma
abordagem completa e uma conclusão formal. Ainda teríamos muito mais “a
conversar”, como exemplo: tratar da abertura do mercado norte-americano e do
comércio mundial aos produtos chineses, que potencializou o efeito das refor-
mas econômicas. Diante dessa nossa limitação fica a reflexão: teria o capitalismo
ingressado em uma nova fase?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
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2. Sob muitos aspectos, mas não todos, os vinte anos que separaram a Primeira
da Segunda Guerra Mundial testemunharam a continuação daquelas tendên-
cias imanentes que modelaram o cenário econômico na primeira década do
novo século (DOBB, 1980, p. 321).
I. Os movimentos autoritários e conservadores surgiram no período entre
guerras.
II. Esse período marca também o fim da hegemonia europeia sobre a econo-
mia-mundo, com sua substituição pelos Estados Unidos.
III. Não houve nenhum tipo de tensão nas relações internacionais, principal-
mente ao longo da década de 1930, em que as barreiras protecionistas
eram nulas.
É correto o que se afirma em:
a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
PAZ-GUERRA
No atual estado da técnica militar, precisa-se de uma centena de viaturas e mais de cem
toneladas de obuses para romper de modo certeiro a resistência oferecida em um único
quilômetro, por um único batalhão bem entrincheirado e com cobertura de arame...
Nas fronteiras restritas, como as da Europa, muito estreitas para os efetivos enormes
do recrutamento geral, metralhados pela defesa das fortificações permanentes, pouca
esperança pode haver de suplantar as posições adversárias... A decisão só poderá ser
tomada depois do sucesso de numerosas ações ofensivas, portanto, ao preço de um es-
forço gigantesco que pressupõe uma superioridade numérica e industrial considerável.
Se não fosse assim, o conflito só poderia ser resolvido pelo desgaste moral e material de
um dos dois beligerantes. Nos dois casos, a luta tomaria a forma de uma luta de morte
com tantas perdas e ruínas que as condições de paz, por mais vantajosas que fossem,
jamais poderiam compensá-las.
O conceito clássico da guerra conduz, portanto, a uma forma de conflito que não corres-
ponde às possibilidades e às necessidades da Europa, atualmente. A Europa, na verdade,
não se refez ainda dos inconvenientes de todo tipo provocados pela Grande Guerra. Pre-
cisa de paz para se refazer e reorganizar sua economia em função dos meios modernos
de produção... Por outro lado, a opinião pública, na maior parte das nações europeias,
recusa-se instintivamente a aceitar a ideia da guerra... Essa convicção é um fato capital
peculiar da nossa época.”
Sendo assim como resolver os conflitos entre as nações?... Impõe-se novos métodos... O
problema continua sem solução: consiste em forçar um Estado a subscrever obrigações
que lhe são impostas, em uma palavra, a capitular. A guerra pode mudar sua forma, mas
o objetivo essencial permanece o mesmo.
Incapaz de subjugar, de um só golpe, o adversário, a nova guerra terá como objetivo
convencê-lo a capitular, em vez de continuar a luta. A ação radical é substituída por
uma ação persuasiva da força. Mas...a política só dispunha antigamente de uma margem
de pressão muito fraca... o menor erro de manobra, o menor excesso podiam provo-
car a guerra. A política era portanto exercida como um jogo variado de combinações
e compromissos. Hoje a situação é completamente diferente: o espectro sempre pre-
sente da guerra total e o temor que ela inspira fazem com que seja vista como uma
solução desesperada à qual se recorrerá somente em último caso. A impotência da ação
militar torna quase insensível a epiderme das nações (Anschluss, Sudetos, intervenção
na Espanha, combate russo-japonês de Kuang-Tcheu-Feng), poderíamos multiplicar os
exemplos de paciência espantosa das nações, comparada ao seu nervosismo anterior.
Assim, essa repugnância pela guerra total, por uma transformação surpreendente, auto-
riza o emprego da violência que ultrapassa nitidamente as regras da tradição diplomáti-
ca... Já não é a paz e ainda não é a guerra que conhecíamos, mas um estado intermediá-
rio que chamaremos de paz-guerra.
192
Pearl Harbor
Ano: 2001
Sinopse: Pouco antes do bombardeio japonês em Pearl Harbor, dois amigos
que são como irmãos um para o outro se envolvem de maneira distinta nos
eventos que fazem com que os Estados Unidos entrem na 2ª Guerra Mundial.
Enquanto que Rafe (Ben Affleck) se apaixona pela enfermeira Evelyn (Kate
Beckinsale) e decide se alistar na força americana que lutará na 2ª Guerra
Mundial, em Londres, Danny (Josh Hartnett) torna-se piloto da Força Aérea
dos Estados Unidos e permanece no país. Após a notícia de que Rafe morrera
em um dos combates que travava contra os alemães, Danny e Evelyn se
aproximam e terminam se apaixonando.
Material Complementar
REFERÊNCIAS
1. Alternativa d.
2. Alternativa c.
3. A pior forma de desperdício, inerente ao capitalismo tardio, jaz no mau uso das
forças de produção humanas e materiais existentes. Em vez de serem usadas
para o desenvolvimento de homens e mulheres livres são cada vez mais empre-
gadas na produção de coisas inúteis e perniciosas.
4. Alternativa e.
5. Reflexão particular.
CONCLUSÃO