Você está na página 1de 100

Luiz Elson Dantas

DESENHO
NA SALA DE AULA

Método Cacimba

Edição do Autor
Natal-RN, 2007
DESENHO
NA SALA DE AULA

Método Cacimba
Autor:
Luiz Elson Dantas

Editoração e distribuição eletrônica:


Lula Borges Imagem e Som
reverbo@hotmail.com

D192d Dantas, Luiz Elson 1963-


Desenho na sala de aula: método cacimba /
Luiz Elson Dantas. – Natal / RN: Ed. do Autor, 2007.
100p.; il.
ISBN: 978-1-329-82816-2

1. Arte – Educação. 2. Desenho. 3. Desenho - Método


Cacimba. I. Título

CDU - 37
CDU - 741.02

CONTATO:
Endereço: rua Guaramiranga, 2470 - Panatis I - Potengi - Natal/RN
Fone : (84) 3214-6374
E-mail: luiz-elson@hotmail.com
Apresentação
Vários são os livros que trazem informações e exercícios para
desenvolver a habilidade de desenhar. Este seria apenas mais um, se
não fosse destinado a auxiliar o professorado do componente curricular
Arte, na espinhosa tarefa de montar seu conteúdo programático.
Ora, desde o primeiro concurso público que se tem notícia, o
desenho é valorizado como instrumento para melhorar o ser humano.
Seu organizador, o sábio Confúcio (551a.c. à 479a.c.), incluiu o desenho
como uma das principais provas a qual se submetiam os candidatos.
Os séculos que se sucederam, após este concurso, demonstraram que
o sábio chinês tinha razão. Por este motivo, acredito ser indispensável
no programa curricular de formação do professorado de Artes, bem
como do destinado ao público estudantil, um espaço destinado ao
estudo do desenho.
A grande dificuldade do professorado é o domínio desta
habilidade, uma vez que não se trata de nenhum dom divino, mas de
uma prática possível e benéfica a todos os seres humanos, como hoje
é sabido, sendo utilizado com fins terapêuticos com comprovados
resultados, no tratamento de alguns distúrbios mentais.
Desenvolver esta habilidade é a que se propõe este trabalho.

Método Cacimba
Este roteiro de exercícios visa abrir o caminho da percepção
visual aguda e cognitiva, o domínio da coordenação motora, assim
como o raciocínio lógico.
O(A) professor(a) que deseje contemplar seu alunado com os
benefícios gerados pelo domínio desta habilidade, tem neste método
uma fórmula para aplicar primeiro a si mesmo, para depois desenvolver
um roteiro de conteúdos das suas aulas, junto ao seu público alvo,
baseado nas suas próprias experiências.

Aucides Sales .
Agradecimentos

Ao meu irmão ELTON LUIZ


Aos alunos que nos últimos vinte anos me acompanharam
Aos amigos artistas
A Rose pela digitação e apoio
A minha família
Ao amigo professor Vicente Vitoriano que teve a paciência e a generosidade de
ler, aconselhar,criticar e propor modificações colaborando com esse trabalho
Aos artistas Potiguares: João Natal, Cláudio Oliveira, Emanoel Amaral, Aucides
Sales, Francisco Iran, Ivan Cabral, Evaldo Oliveira, Paulo Sérgio (Locha) e Alex Barbosa,
que cederam os direitos de publicarem seus desenhos.

Aos também amigos Lula Borges pela diagramação, Francisco Farias, Erinaldo
Alves do Nascimento, Socorro Santana , Miguel Everaldo, ao fotógrafo Jarly Barbosa,
Patrícia Michelly pela revisão e a todos que me apoiaram na produção deste trabalho.

Nosso agradecimento também ao mestre Câmara Cascudo; desenho de Emanoel Amaral


Sumário

Desenho na sala de aula............................................................................................................... 1 1


Método Cacimba ......................................................................................................................... 1 3
Como usar este livro.................................................................................................................... 1 4
Breve histórico............................................................................................................................. 1 5
O que é desenhar ....................................................................................................................... 2 2
As formas de representação de uma imagem ou correntes básicas do desenho.......................... 2 3
Principais motivos que os artistas usam para desenhar .............................................................. 24
Iniciando o curso no Método Cacimba ....................................................................................... 25
A unidade na variedade ............................................................................................................ 3 0
Desenho de casas ........................................................................................................................ 3 4
A figura humana ......................................................................................................................... 4 0
O corpo humano ......................................................................................................................... 5 3
Elementos básicos do desenho .................................................................................................... 6 1
Construindo figuras ..................................................................................................................... 67
Luz e sombra .............................................................................................................................. 6 9
Desenho de observação .............................................................................................................. 7 1
Agregando valor ao desenho ...................................................................................................... 7 3
Desenho com medidas ................................................................................................................ 7 5
Arte e outras disciplinas ............................................................................................................. 8 0
Dicionários .................................................................................................................................. 8 5
Cenas do bairro .......................................................................................................................... 8 6
Quais as funções de um artista? .................................................................................................. 9 2
Conclusão ................................................................................................................................... 9 3
Créditos dos desenhos ................................................................................................................. 9 4
Biografia ...................................................................................................................................... 9 5
Referências .................................................................................................................................. 96
13

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


O Desenho na Sala de Aula
Por que grande parte das crianças, ao entrar na pré-adolescência, perde o interesse ou é de-
sestimulada a desenhar?
Como o ato de desenhar pode contribuir para a vida das pessoas e em especialmente para a
vida dos jovens que se encontram na escola?
Como o ensino do desenho, ministrado em sala de aula pode influenciar o desenvolvimento
intelectual, cultural e criativo de um jovem estudante?
Como o professorado têm utilizado as técnicas, os materiais e as noções básicas de desenho
em suas atividades docentes?
E, principalmente, por que a maioria das pessoas, ao deixar a infância, passa a achar que não
sabe mais desenhar?
Por que, ao ingressar no ensino fundamental, não encontra mais o espaço que tinha para o
desenho que existia em sala de aula durante
a educação infantil?
Refletir sobre os caminhos que o en-
sino da Arte e em especial, do ensino do
desenho está tomando na atualidade, é uma
das questões básicas que tem direcionado
as pesquisas e o pensamento de muitos
educadores.
Este livro, é um destes estudos. Nele,
pretendo expor meu ponto de vista e propor
ações que contribuam para a prática do
ensino do desenho e enriquecer o debate
sobre esta prática, que deve ser constante
e ilimitado.

Seguindo uma sugestão da profª Dra.


14
Ana Mae Barbosa, que em uma palestra, realizada pretendo acrescentar novos conhecimentos.
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

em Natal, no ano de 1998, defendeu a necessidade É indicado para estudantes dos 7 aos 14
dos(as) educadores(as) e dos(as) professores(as) anos, faixa etária na qual se observa um bloqueio
de Arte escreverem suas experiências, eu resolvi no grafismo e a desvalorização do desenho.
realizar este trabalho. A idéia ficou amadurecendo. A idéia principal é a revalorização do de-
Porém, por muitos anos o artista foi mais senho em sala de aula. É uma reflexão de como
forte que o professor. E o meu foco de atuação era acredito que se possa dar um salto no desenvol-
a produção e edição de revistas em quadrinhos vimento do grafismo pessoal, de modo que, todos
sobre a cultura e a história do Rio Grande do que estão em sala, possam mediante a realização
Norte. Um convite para realizar uma oficina para de desenhos simples, adquirir confiança para
estudantes de artes da UFRN, feita pelo Professor vencer os bloqueios de representação que se
Dr. Vicente Vitoriano me fez repensar a idéia de apresentam em determinadas pessoas. Através
organizar um trabalho no qual eu pudesse expor destes exercícios vamos agregar valor estético, ar-
minhas idéias sobre o ensino do desenho, às vezes tístico e conteúdo ao desenho que cada pessoa já
conflitantes com outros colegas educadores. realiza e enriquecer o seu estilo próprio. De modo
Outra importante motivação foi a leitura que possibilite a quem deseja e não consegue, a
do livro, “Desenho, Desígnio e Desejo: sobre o realização de um desenho de intenção realista.
ensino do desenho”, da professora Dra. Leda Estimular o gosto pelo desenho, fazer
Guimarães. Neste Livro, ela sugere, com clareza com que o alunado seja levado a desenhar um
e objetividade, que se façam revisões sobre os pouco mais nas escolas. Este é o meu principal
caminhos trilhados no ensino do desenho e que objetivo.
se busquem formas de superar as dificuldades, de Também é meu desejo estimular a paixão
se formular novos caminhos. pelo ato de desenhar e fazer que as pessoas se re-
Este livro propõe uma seqüência de ativida- conheçam em seus próprios desenhos e expressem
des com uma abordagem diferente sobre o ensino com mais beleza, emoção, precisão e habilidade
e aprendizagem do desenho. Partindo, então, as características visuais da sua cultura.
do que o alunado já sabe, do que já se desenha, A utilização do desenho como fonte de co-
15

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


O Método Cacimba
nhecimento, é uma idéia que surge da experiência do passado, o hoje e o ontem, as perspectivas de
acumulada em anos de ensino em sala de aula, em futuro com o que se vê a sua frente, o que não
atelier e em escolas de arte, em Natal e também existe, não é visível, às abstrações do pensamento
em viagens, nas leituras, nas visitas a museus e com a realidade.
nas conversas com vários artistas, principalmente É uma sugestão de um caminho a ser se-
com Aucides Sales, com quem aprendi e discuti guido, apenas mais um método, como os muitos
bastante sobre os vários métodos e as didáticas que já existem. Porém, em arte não existe um
mais apropriadas para o ensino dos diferentes único caminho.
tipos de desenho. Essa história de caminho único sempre
A principal questão que procurei enfrentar é prejudicial a todos, seja na política com seus
foi como utilizar o desenho na sala de aula, dian- líderes e sua obsessão por controle e poder total,
te da infeliz realidade de que em nosso Estado a na religião com seus pregadores racistas e intole-
carga horária destinada às aulas de Artes, hoje, é rantes, ou na arte com seus modismos.
de 45 a 50 minutos semanais e, neste sentido, fui São chamadas de Cacimba, aqui no Nor-
desenvolvendo uma seqüência de atividades de deste do Brasil, os tipos de poços escavados de
desenho que depois chamei de Método Cacimba. forma rudimentar no chão da terra nos períodos
Este Método é baseado na utilização da de seca. São pequenos poços onde jorra água
memória visual, na observação da realidade cir- do solo. A água é toda retirada durante o dia e
cundante, na pesquisa e no estudo de imagens e no dia seguinte se encontra novamente cheia.
na imaginação criadora do aluno, na sua capaci- Assim como a Cacimba, nossa mente quando
dade de abstração das imagens e na capacidade de solicitada sempre nos dá respostas, porém, se não
conceituar e criar novas formas, pois nossa mente for alimentada, provocada, instigada a novas res-
ainda é uma desconhecida, misteriosa e fascinante postas preguiçosamente repetirá velhas respostas
construtora de conhecimentos. e padrões. O nome também é uma homenagem
O desenho como fonte de conhecimento ao escritor Ariano Suassuna, pela sua defesa da
é uma provocação, é um questionamento do por Cultura Nordestina.
que não unir o ensino do novo e as metodologias

Os desenhos dos alunos que ilustram o livro


16
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

Como usar este livro

não são para serem copiados ou reproduzidos. caneta. O importante é não criar empecilho
O leitor deve fazer os seus próprios desenhos, à realização das tarefas em sala de aula e não
seguindo as orientações e as sugestões que são dar oportunidades de desculpas ao alunado
apresentadas pelo autor. para não produzirem. É importante dar opor-
Acho importante que o(a) professor(a) que tunidade a quem realmente não tem o material
pretenda usar essa proposta em sala de aula, faça devido às suas condições econômicas.
primeiro, ele(a) mesmo(a), todos os exercícios, Os desenhos apresentados são de alunos
pois é isto o que este livro é: um livro de sugestões (as) que durante os anos de 2004 e 2005 fre-
de desenhos. É uma descoberta individual, apesar qüentaram as minhas aulas de Arte, na Escola
de ser uma proposta de seqüência coletiva, pois a Municipal Profº Waldson Pinheiro. Foram na
idéia é utilizá-la em sala de aula com todo o alu- maioria, realizados na própria sala de aula, alguns,
nado, mesmo considerando, muitas vezes, turmas como tarefa realizadas em casas. As turmas eram
com até 50 alunos(as) como é bastante comum. compostas por alunos(as) de 5º a 8º, entre 9 e 18
Eu proponho que o professorado oriente anos. Alguns poucos são de alunos(as) que estu-
o alunado para adquirirem o material básico daram com o autor em outras escolas e ateliês nos
para realizar qualquer desenho: lápis, papel, últimos anos. Também temos desenhos realizados
borracha, régua e apontador. Um caderno de pelo autor e de amigos, artistas potiguares.
desenho pode ser adquirido, mesmo do mais Antes de iniciamos a parte prática do
simples, aquele com arame na lateral. Entre- método, acho importante uma exploração teórica
tanto, isto não é primordial. Pode ser utilizado e algumas definições, sem nos aprofundarmos
o próprio caderno pautado usado no dia a dia, demasiadamente, pois não é o objetivo deste
ou o fichário. Da mesma forma, se o alunado trabalho sobre o ato de desenhar.
não comprar o lápis grafite, pode utilizar a Neste breve histórico convido os colegas
17

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Breve Histórico
professores a refletirem sobre os métodos e os 2007, “Nada do que está posto culturalmente é
processos pedagógicos, que foram e são utilizados natural, tudo é construção humana, uma inven-
na prática do ensino do desenho no Brasil. ção articulada por relação entre saber e poder “.
Por que será que muitos (as) professores(as) Por isso, acho um equívoco muitos edu-
utilizam o desenho de uma forma aleatória, sem cadores e artistas acreditarem que a forma de
lhe dar a importância que merece? representação da arte moderna e da contempo-
Será por que a maioria não conheça e não rânea seja visto como uma “evolução natural”
domine certos códigos desta nobre arte e essa do trabalho dos artistas. E que todos agora, só
insegurança resulta em tais atitudes. devem aceitar como padrão de beleza estética e
Por que será que a formação pedagógica de linguagem esse tipo de manifestação, e, prin-
ensinada nas universidades gerou tantos precon- cipalmente, que as formas utilizada no passado
ceitos, simplificações e deformações no ensino não mais servem para os artistas se expressarem.
de desenho? Considero pertinente que se devia refletir
E, finalmente, por que o professorado de- melhor sobre estas questões. Porque se deve levar
senha igual aos seus alunos de 10 anos? em consideração todo o processo histórico ocor-
Por que acabam por transformar suas aulas rido para se chegar aos conceitos hoje defendidos
de desenho em aulas que, apenas, visam o desen- por muitos.
volvimento do potencial criador, valorizando só E, infelizmente, parece que não se ob-
desenhos que expressem o interior através de servaram os aspectos e as influências ideológicas,
abstrações? políticas e culturais que os geraram. Muitos não
Por que, quando realizam releituras, só pro- viram ou não quiseram ver, por exemplo, a impo-
duzem cópias mal feitas, ao invés de criarem no- sição de gostos e idéias de uma elite em paralelo
vas obras baseadas nos exemplos demonstrados? a promoção do preconceito e a desvalorização
E quando utilizam o desenho como base das manifestações populares. Aspectos estes que
de uma aula temática só repetem os velhos es- interferiram no processo de formação cultural do
quemas, sem nada acrescentar a seus repertórios nosso povo.
visuais? No Brasil, a desigualdade social é uma
Por que, alguns poucos professores rea- das maiores do mundo e a desigualdade de acesso
lizam aulas com desenho de observação, como aos diferentes tipos de manifestações culturais é
base para a aprendizagem do desenho realista, ainda maior.
de forma superficial? Devemos lembrar que a Educação Brasilei-
Afinal, por que nossos professores de Arte ra foi e, continua sendo, elitista e excludente. O
são tão mal preparados? conhecimento foi oferecido a poucos senhores de
Compreendo e aceito, como também posses, resultando daí a grande massa de analfa-
observou o Prof. Erinaldo Alves do Nascimento, betos e semi-analfabetos que existe até hoje no
na sua palestra durante um curso na UFRN, em nosso país. Essa distribuição do saber, preconcei-
18
tuosa e desigual, também foi prejudicial à Arte, estampas religiosas, de forma artesanal.
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

que só chegou a ser oferecida sistematicamente No período do ciclo do ouro, em Minas


de forma organizada, a toda população escolar, Gerais, observa-se uma mudança significativa
em nível nacional, nos últimos 35 anos. neste processo. Ordens religiosas e irmandades
Na inclusão da Arte no Currículo Na- possibilitam aos artistas trabalharem como em-
cional, em diversas ocasiões, tratou-se os dife- preiteiros na construção de templos, na decora-
rentes como iguais, como se todos já tivessem ção de igrejas e outras atividades. O ofício era
tido acesso aos conhecimentos e à produção, ensinado de pai para filho, as vezes, de artistas
especificamente em desenho e pintura, da arte europeus para seus filhos mestiços ou escravos
acadêmica ocidental, como também, a todas as que participavam das obras.
transformações estéticas provocadas pelos artistas A chegada da Missão Francesa, em 1816
nos últimos séculos. Desconsideraram que tais e a implantação da Academia e Escola de Belas
ensinamentos ocorreram nas poucas e seletivas Artes, que abriu seus cursos em 1826 e formou a
Escolas de Artes. primeira turma em 1827, com apenas 38 alunos,
Então, se o acesso à educação no Brasil sendo 21 em pintura, vai produzir uma ruptura
ainda é, hoje, um grande desafio e necessita de nos métodos de ensino da arte no Brasil, ensino
toda uma mobilização da sociedade para que se este, destinado a poucos selecionados que eram
torne possível a todos as pessoas e com qualidade, submetidos a um longo aprendizado realizado em
imagine os desafios e os problemas que a Arte/ muitos anos.
Educação e o ensino do desenho em especial, tem O método de ensino era baseado no estudo
de enfrentar. Ensino levado a uma pequena parte de temas tradicionais da cultura Européia: mitos,
de estudiosos, uma parte mínima de educadores e lendas, cenas bíblicas, história, retratos e nature-
ao meu ver, de uma forma equivocada, motivado za-morta, no estudo das regras de perspectiva, da
pela ingenuidade de uns, oportunismo de outros anatomia humana, dos cânones de proporção e
e pela falta de uma consciência coletiva da sua do gosto da técnica de pintura apurada, baseada
real importância. em valores do neo classicismo.
Vamos refletir um pouco sobre a História. Durante 100 anos, estes valores foram de-
fendidos e utilizados pelos jovens que que-
riam ser artistas profissionais, ofício presente
em um mercado de trabalho que exigia por
parte do aspirante, o conhecimento e o uso
de técnicas, materiais, de regras de compo-
sição e produção de uma obra de arte.
É claro que ocorreram mudanças
pontuais, neste período de um século.
Como vimos, a formação de um artista
levava tempo. Ao concluir seus estudos. ele
devia estar preparado para registrar a His-
tória, a Botânica, retratar a elite, produzir
quadros decorativos, cenas do cotidiano.
Além disto, muitos artistas começaram a
participar da implantação da industria grá-
fica, com gravuras, desenhos, caricaturas
e anúncios publicitários. Também havia
No Brasil Colônia, o desenho fazia parte os artistas que ganhavam prêmios de viagens de
de uma educação refinada destinada à nobreza estudo na Europa, a partir de 1850 e que depois
portuguesa. Para os nativos a arte era ministrada voltavam ao Brasil para prestar serviços ao Impé-
por padres estrangeiros, mais interessados na rio Brasileiro, patrocinador das viagens.
difusão da fé cristã. Era voltada para a cópia de O modelo de instituição de ensino, o das
19
Escolas de Belas Artes, foi implantado em poucos estudos na Europa. Quando retorna, torna-se o

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Estados no Brasil. Também se registra algunhas maior representante desta estética moderna. Seu
escolas de Belas Artes vinculadas a ordens religio- sucesso serve de modelo para surgirem no Brasil,
sas e outras funcionando em escolas particulares, em quase todos os Estados, dos anos trinta aos
quase todas, de forma esporádica e por pouco anos cinqüenta, toda uma geração de artistas que
tempo. pintam ou desenham “quase como Picasso”, ou
Com a República, novas mudanças ocor- um “muito parecido com Portinari “.
rem no sistema educacional Brasileiro. O início Novas transformações vão caracterizar
do processo de industrialização, a organização os anos de 1950. Tanto na produção artística,
política dos imigrantes anarquistas e brasileiros como na no ensino da Arte. Uma das mais forte
e os emergentes conflitos sociais, provocam influência é a provocada por educadores ame-
mudanças na sociedade e uma reformulação nos ricanos que adotaram o discurso dos críticos da
métodos de ensino. arte modernos, os que desejavam a valorização
O desenho é valorizado neste processo, do que era produzido na atualidade. Esta escolha,
principalmente o geométrico e as técnicas de que difundia a idéia de que tudo que era novo,
desenho do natural, aplicadas a produção de era uma tida como uma evolução e talvez, en-
objetos de forma artesanal ou industrial. O ensino cobrisse o interesse dos empresários americanos
buscava produzir para o mercado bons artesãos e que estavam montando o acervo dos seus Museus
trabalhadores para a indústria. recentemente construídos.
As viagens de nossos artistas à Europa e Na Educação, as influências da nova peda-
um maior intercâmbio cultural patrocinado pe- gogia e da psicologia, abrem as portas do estudos
los meios de comunicação do mundo industrial, para o desenvolvimento da percepção visual e da
como os jornais e revistas, contribuíram para livre expressão de sentimentos e emoções. Esta
provocar na Arte Brasileira, um movimento de atitude influencia também a arte. Torna-se um
ruptura artística, o Modernismo, que influenciou novo caminho, para muitos artistas direcionarem
fortemente o ensino do desenho. suas obras.
No inicio, o Modernismo troca a cópia A criação da Bienal de Arte de São Paulo,
do modelo acadêmico, pelo modelo moderno, em 1951, insere os nossos artistas em contato com
também Europeu. Só em 1928, com o Manifesto o que se produzia de mais atual no mundo e estes
Antropofágico é que Oswald de Andrade, pro- novos artistas, buscam superar a estética, ainda
põe a valorização das nossas raízes como tema e valorizada, dos inovadores Modernistas, agora
a busca de uma forma Brasileira de pintar, uma considerados ultrapassados, como Portinari, Lasar
Arte com características próprias e não só cópia Segall e Di Cavalcante. A gravura, a escultura e
dos temas e estilos estrangeiros. Ele defendia o desenho também são valorizados.
que os artistas brasileiros deviam conhecer os Começam a surgir Escolinhas de Arte, a
movimentos estéticos europeus, mas não segui-los primeira em 1949, com seus fundamentos artís-
fielmente. O social e a Cultura deveriam ser a ticos baseados nestas tendências e formas de ver
fonte de inspiração para nossos artistas, era o que a arte. A Arte era vista, para as crianças, como
defendiam os envolvidos no manifesto, inclusive uma válvula de escape de tensões emocionais
questionando, a partir dos anos 30, a influência reprimidas e exerce uma função terapêutica e
estética idealizada pelo cinema americano. preventiva às aflições do espírito. A Arte era
O nacionalismo incentivado pelo poder pú- um processo de criação, sem crítica, que dava
blico, da época, de tendência populista, utilizava liberdade excessiva à sensibilidade estética das
a arte como propaganda dos avanços sociais pelas crianças.
quais o país passava, buscando associar-se a idéia Em 1971, a lei de diretrizes de Base da
de uma nação moderna, com uma arte moderna. Educação Nacional, torna obrigatória a inclusão
Infelizmente a verdade era outra. das atividades da Educação Artística nos currícu-
Cândido Portinari foi aluno da Escola los de todas as escolas Brasileiras. O Ministério
de Belas Artes e ganhou o prêmio de bolsa de da Educação e Cultura- MEC, apropria-se da
20
filosofia da Escolinha de Arte do Brasil e a di- a necessidade de que é preciso “ fazer com que os
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

funde pelos recém criados cursos universitários alunos sejam capazes de conhecer características
destinados à formação dos professores de educa- fundamentais do Brasil, nas dimensões sociais,
ção artística, fomentando um novo mercado de materiais e culturais”. Por que muitos trabalhos
trabalho. de Arte expressam questões humanas que falam
Estes cursos universitários foram orga- de coisas que contribuem para construir pro-
nizados com corpos docentes bem heterogêne- gressivamente a noção de identidade nacional e
os. Devido a falta de profissionais preparados pessoal e o sentimento de pertinência ao país.
para exercer estas funções, foram convidados Apesar de todo este avanço na valoriza-
muitos “amigos “ e artistas simpatizantes do ção da Arte, muitos educadores contemporâneos
regime militar ou parentes de políticos gover- e artistas, ainda acham que é atual copiar, repro-
nistas, pessoas sem sensibilidade social, apo- duzir a arte feita “lá fora”, pois ela é a única forma
líticos e sem formação acadêmica e artística. de beleza aceitável.
Muitos apenas tinham um vago conhecimento Então, é importante questionar, até que
sobre a disciplina que iam ministrar, pois eram ponto o despreparo de alguns professores influen-
professores de outras matérias. Outros eram ar- ciou na redução do espaço que o desenho tinha
tistas medíocres, porém serviam aos interesses na escola.
da ideologia política no poder. Alguns artistas Que espaço o desenho tem hoje, depois
também foram convidados. Destes, alguns deste processo todo?
poucos foram porque mereciam e conheciam A principal crítica que se faz ao ensino
o seu oficio e pelo papel que desempenhavam do desenho realista é a de que os métodos aca-
na sociedade. dêmicos geram a formação de copistas e que
A Educação Artística não era conside- todos reproduzem de forma igual o modelo que
rada uma disciplina “séria “, mas uma atividade estão desenhando. Então, o que dizer das obras
complementar destinada a desenvolver a criativi- de muitos artistas de hoje. Observamos toda uma
dade, a individualidade, atitudes e hábitos sobre geração de copistas em série, obras que se não
o uso de materiais, técnicas e instrumentos de fossem pelas diferentes assinaturas, era quase
arte. O professor devia ser polivalente e conhecer impossível saber a sua autoria.
o conteúdo de Teatro, Música, Artes Plástica e
Desenho Geométrico, novamente valorizado,
devido ao estímulo dado para o ensino profis-
sionalizante, pela política educacional instituída
pelos militares.
Nos anos de 1980, novas metodologias
educacionais são difundidas em congressos e
encontros de educadores, que agora se organi-
zam em entidades de classes e buscam o estudo
e fundamentação teórica mais consistente para o
desenvolvimentos de suas práticas pedagógicas.
Agora com a lei 9394/96, a Arte é con-
siderada disciplina obrigatória na Educação
Luiz Elson - Coletiva - acrílico sobre tela

Básica, nos diversos níveis, de forma a promover


o desenvolvimento CULTURAL do aluno.
E com a proposta e implantação de
estudos dos temas transversais, a Arte adquiri
um espaço privilegiado dentro da Escola. Essa
valorização já é observada desde os objetivos dos
Parâmetros Curriculares Nacionais, mas especifi-
camente no terceiro objetivo geral, o qual salienta
21
Vejamos o que diz Ariano Suassuna;em é importante. A beleza está na arte que valoriza

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Iniciação a Estética, 1992, pág222, apenas a obra que revele a verdade do artista, sem
“Mas, a partir do século XIX e principal- qualquer interferência social, política, ideológica
mente XX, certos pintores e teóricos da pintura do mundo real.
começaram a reagir contra os excessos dos manei- O contrário também ocorre, onde toda
ristas posteriores a renascença. Começaram sua esquisitice ou novidade produzida por um deter-
reação de modo até certo ponto correto, porque, minado artista é considerada um ato genial, não
de fato corriam-se certos riscos com aquele tipo havendo a necessidade de uma obra concreta.
de pintura. Mas, depois caíram estes artistas e teó- Outras correntes estéticas vão além acham que a
ricos no risco oposto, passando a considerar como verdadeira arte é a arte que usa apenas o conceito,
Única forma lícita de pintura, a Abstracionista”. o processo de criação passa a ser vista como mais
O risco a que ele se refere, no caso dos importante que os outros tipos de manifestações
acadêmicos, é a arte ficar só presa, atada, à de- visuais.
fesa de uma tese. Por exemplo, a arte a serviço Para o desespero e tristeza dos vendedores
da política, como no período do nazismo, do de telas e pinceis e a alegria dos fabricantes de
fascismo, do stalinismo, ou na defesa intolerante bonequinhas de plástico.
da religião, como na idade média,
em alguns paises islâmicos, ou hoje
com as tendências fundamentalistas
de alguns artistas Gospel. Momentos
nos quais não existe espaço para o
contrário.
Outro risco que pode acon-
tecer é o que já aconteceu no pas-
sado com muitos artistas, que ao
apenas valorizarem a parte técnica,
a virtuosidade no manejo e uso
dos materiais, se deixem levar pelo
orgulho infantil de se acharem que
são melhores artistas do que outros
que não possuem tais atributos e
este apego a técnica sem levar em
consideração leituras, sensibilização
com causas políticas e sociais ou
respeito às diferenças, atitudes que
acabam por tornar muitos artistas em pessoas Todo excesso tem seus riscos.
intolerantes, egoístas e sem caráter, produtores Infelizmente nas escolas, este pensamento
de obras sem alma e sentimento, apenas belas fundamentalista, acabou sendo adotado pelos
esteticamente. nossos professores de educação artística, hoje
E no caso da Arte Moderna, pode ocorrer arte/educadores propositores.
uma desumanização da arte, pois a busca pela Nas últimas décadas, prevaleceu a visão de
beleza na arte pela arte, foi aos pouco tirando que o ensino deve valorizar uma arte voltada à
elementos que construíam esteticamente as obras busca de uma representação livre de modelos, de
e surgindo obras sem ter títulos, sem assunto, regras e do quase total repúdio ao estudo temático
com composições criadas quase sempre ao acaso, da representação realista.
obras sem representação de objetos, também sem As metodologias modernas e pós-modernas
cores, algunhas apenas pintadas com o branco criaram um preconceito contra a idéia da repre-
sobre o branco. Até chegamos aos sem tela, sem sentação do natural, defendido nas poucas e ra-
suporte, obras em que a expressão humana não ríssimas escolas de arte. A didática das academias
22
era repudiada pelos que defendiam a busca de feito uma auto-crítica sobre suas práticas.
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

uma representação livre de modelos. Vejam que Afinal, apesar desta quase ditadura, sem-
contraditório, em nome da liberdade de expressão pre teve pessoas que buscavam a intenção realista
se tira o direito de se aprender a desenhar com a em seus desenhos e porquê?
intenção realista. A professora Dra. Leda Guimarães, em
Entretanto, a falta de determinados conhe- seu livro Desenho, desígnio, desejo:sobre o en-
cimentos e até um certo pedantismo, além de uma sino de desenho, 1996, pág 129, assim expressa
dose de prepotência de muitos artistas e educado- sua opinião: “ Na tradição ocidental os critérios
res, foram responsáveis por toda uma geração de de representação visual são herdados dos gre-
artistas tão diferentes e tão iguais, que, por não gos, que instauraram na arte procedimentos de
terem estudado muitos meios e técnicas de repre- contínua superação de meios de representar o
sentação que produzem uma melhor compreensão visível de forma narrativa, ilustrativa, ilusionista.
da forma de uma figura, além de outros recursos Essa tradição, que se afirma no renascimento e
de desenhos, nos acompanha
acabam produ- até hoje, é calca-
zindo obras de da em modelos
qualidade técni- e esquemas que
ca e artística pri- servem de esteio
mária, simplista, para a represen-
sem acabamen- tação, mas como
to, ou esmero na é própria da civi-
sua confecção. lização ocidental,
Assim, tornan- esses modelos são
do-se repetitivos sempre supera-
em seus temas dos em favor de
e nas formas de soluções consi-
representação derando-as mais
de seu trabalho. apropriadas para
A valori- o momento”.
zação só do lúdi- A moderni-
co, do processo do fazer por fazer, não levou em dade também possibilitou a formação de todo um
consideração as outras funções do desenho, di- grupo de atividades artísticas, como a publicida-
ferentes funções que ele acumulou com as trans- de, a atividade gráfica e ilustrativa, as histórias em
formações que a sociedade sofreu, como ser uma quadrinhos, as vinhetas e comerciais da televisão
forma de linguagem e comunicação que interage e os desenhos animados que se desenvolveu à
com pessoas de todos os níveis culturais, trocando margem destes ensinamentos, estas atividades
idéias das mais simples às mais complexas. eram produzidas por artistas voltados para tra-
Sem títulos, sem identidade, persegui- balhos de ordem mais prática. Estes artistas que,
dores de um pioneirismo infantil, defensores de pela necessidade de trabalho e pela vivência não
uma sensibilidade sem conteúdo. Assim muitos ligados aos círculos de consumo de Arte, tiveram
artistas que se declaram atuais, modernos, na ver- que buscar um outro caminho, o da união dos
dade revelam-se como pessoas conservadoras que conhecimentos acadêmicos, com suas regras e
não desejam modificar situações. Por este motivo suas normas, com as constantes experiências
acho que a arte não deve ser um canal no qual só formais dos Modernistas.
se pode valorizar a visão do artista, baseando-se Recentemente, o desenho volta a ser valo-
no seu gosto pessoal e no seu mundo particular. rizado devido a vários motivos, um deles, possivel-
Claro que isto é importante, mais impor seu gosto mente, é a explosão da era da informática, com sua
pessoal a todos, eu acho um exagero. rede mundial virtual e seus milhões de usuários,
Hoje, felizmente, muitos educadores têm que se comunicam através de imagens, ícones
23
de um mundo novo, ainda em construção. protagonizado, de um lado, por professores(as)

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Talvez todo este processo histórico, que propõem ao alunado produzirem obras que
nos oriente um pouco sobre o por que muitos exercitem a sua liberdade de criação, que atuam
docentes parecem ignorar o valor do desenho e na elaboração de conceitos sobre uma obras de
diminuem os seus espaços na escola e chegam arte, em releituras e comparações de trabalhos
até a desestimular o seu uso, acabam promo- de artistas, dos próprios alunos ou dos colegas
vendo bloqueios na juventude em relação ao de classe. E do outro lado, jovens que só desejam
desenho, exatamente no momento em que fazer cópias de seus heróis prediletos ou fazer
mais se poderia usar o desenho. Principalmente desenhos de retratos de seus cantores, atores e
quando se encontram na idade da descoberta, atrizes mais queridos.
da curiosidade, da expansão e do entendimento Como conciliar os dois desejos tão distintos?
de uma realidade bem maior do que a que até Esses desejos antagônicos, podem ser
então ele conhecia? traduzidos nos desafios que se apresentam aos
Então, o ensino do desenho na arte/edu- professores de Artes contemporâneos.
cação, enfrenta hoje um conflito de interesses,
24
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

O que é desenhar?
Quando perguntamos ao alunado se sa- nados desenhos, como no estudo da
bem desenhar, observamos as mais diferentes anatomia, perspectiva e proporção, na
respostas. Alguns afirmam que são capazes de representação da figura humana, exige
copiar “igualzinho” qualquer desenho, outros a obediência a regras que foram cons-
afirmam “olhar para uma pessoa e desenhá-la truídas e se mostraram eficazes.
tal qual está vendo”. Já outros revelam que não b) Um pensamento: desenhar é uma idéia
gostam e que não conseguem desenhar nada, nem representada visualmente, é a represen-
uma bola, porém, quando solicitados a fazerem tação da idéia. O desenho torna visível
qualquer desenho, repetem certos padrões. A a idéia, pode ter uma forma conhecida
maioria não reconhece a arte abstrata como um ou ser uma abstração.
desenho, chamam de borrões, riscos, doidice ou c) Uma linguagem: O desenho sendo
coisa pior. Quando assumem que não sabem de- uma criação de símbolos, códigos com
senhar é porque não conseguem representar uma formas e conteúdos compartilhados
imagem de acordo com os padrões do desenho por um grupo, às vezes compreensíveis,
com a intenção realista, seus desenhos, dizem, outras experimentais, oníricas. É uma
não ficam parecidos com as coisas, os objetos linguagem própria, composta de vários
que eles querem representar. Assumem que não elementos visuais de natureza útil, cien-
sabem desenhar “direito”, mais como veremos tífica e técnica.
nos capítulos seguintes o que é desenhar direito? d) uma Arte autônoma – Desenhar é
Afinal, o que é desenhar? uma forma de beleza em si mesmo, uma
Se formos buscar no dicionário o significa- criação artística, uma manifestação
do da palavra desenho, já teremos assunto para da imaginação e da inteligência, da
uma boa aula. Os conceitos existentes convergem criatividade humana. É um reflexo da
para as seguintes definições: individualidade, alem de algo que gera
prazer e alegria.
a) Uma habilidade: desenhar é uma ha-
bilidade e como uma habilidade, pode Então, é muito simples explicar que
ser ensinada e aprendida. É um meio não existe uma única resposta para o que é
de domínio de uma técnica, o que exi- desenhar. Como também é muito importante
ge uma certa repetição de um mesmo que se saiba que não existe um tipo CERTO
exercício, como o desenvolvimento da ou MELHOR de desenho, um jeito melhor
coordenação motora, útil em desenhos de desenhar do que outro, mais que existem
que precisam de uma mão treinada, que FORMAS DIFERENTES DE DESENHAR,
possibilite ao artista controle nos seus todas belas, igualmente.
traços. Também a prática de determi-
25

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


As formas de representação de uma imagem ou
correntes estilísticas básicas
Fayga Ostrower, 1991, pág. 312, distinguiu
três atitudes básicas que os artistas, de forma co-
letiva ou individual, selecionam ao representar os
aspectos significativos nos conteúdos expressivos
de suas obras, Nas diversas épocas e culturas, da
Pré-história até a contemporaneidade, ao por ela
denominadas correntes estilísticas básicas que
se apresentam as vezes com suas características
particulares ou interpenetrando umas nas outras,
ou seja, uma apresenta características da outra.
Luiz Elson
Acredito que é importante analisar esta
questão, pois ela tem provocado muitos equívocos NATURALISMO
entre artistas e educadores. - o artista busca copiar
Quando falamos que muitos alunos deixam a aparência da natureza
Vicente Vitoriano

de desenhar ou dizem que não sabem, observamos de forma objetiva que o


que eles estão opinando sobre o desenho chama- espectador identifique sua
do naturalista, ou de intenção realista. descrição ou emoção.
“ A arte não imita a natureza, ela a recria
e a transfigura “, esta é a opinião de Ariano Su-
assuna, 1992, página 197. IDEALISMO - o artista recria a natureza,
Esses argumentos poderiam servir de exem- valoriza sua individualidade e a criação de uma
plo para que modernistas e contemporâneos dei- composição com atmosfera e geometrização das
xem de preconceitos, atitudes que demonstram formas consi-
contra o desenho acadêmico de representação deradas ideais
do natural, talvez, seja a hora deles deixarem
de ser tão conservadores e não mais repitam os EXPRESSIO-
mesmos erros que cometeram os artistas aca- NISMO - o
dêmicos. Erros de não verem a beleza na forma artista expres-
como os modernistas construíam formalmente e sa sua emo-
esteticamente suas obras. ção diante da
Fayga definiu seu pensamento sobre esta natureza sem
Auto-retrato Francisco Iran

questão, classificando as obras dos artistas, em respeito à for-


três diferentes formas de representação : ma. Ele busca
representar
seus estados
da alma.
26
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

Luiz Elson
Josian
Principais motivos que os artistas usam para desenhar

A arte tem sido usada para convencer, fazer Retrato - É uma imagem de uma pessoa da
pensar, explicar as razões, chamar a atenção para vida real ou imaginários, muitas obras são home-
temas importantes; como a denúncia da injusti- nagens ou registros comparação com o passado,
ça, o horror da guerra, descortinar e chocar as refletem a personalidade, o caráter e a expressão
pessoas mostrando as maldades cometidas pelo do retratado.
preconceito e pelas violências diárias, ou por fim Pintura de gênero - retratam cenas do co-
apenas para divertir. tidiano, a vida diária com suas alegrias e tristezas,
Deve o estudante buscar compreender que atividades com cenas do dia a dia.
muitas obras de arte representam em seus temas História e mitologia - são obras que
a sua época, o pensamento coletivo ou individual descrevem histórias com os heróis, batalhas, a
que retratam os anseios de um povo. A busca pelo vida na corte, seres fantásticos, deuses, eventos
entendimento de coisas comuns a todos, como a históricos e histórias que formaram a cultura de
morte, a vida, o amor. E que estas representações um povo.
têm um significado diferente a cada cultura e em Imagens religiosas - são obras que repre-
cada época. sentam os símbolos, os ícones de uma religião, os
Selecionamos alguns motivos que freqüen- principais deuses, espíritos, superstições e a arte
temente são utilizados pelos artistas em suas muitas vezes e voltada para fins mágicos,
obras. sagrados. Também são as criações de toda
icnografia pictórica da cultura cristã com suas
Natureza morta - composição com obje- histórias de santos e da vida de Jesus cristo.
tos, frutas, organizados aparentemente de forma Decoração - imagens criadas com o obje-
casual tivo da harmonia estética entre seus elementos
Paisagem - obras onde a natureza é a internos de uma obra na busca da beleza.
mestra da beleza, o artista procura representar O artista recria, estiliza imagens que tornar
a atmosfera dos lugares, descrever, documentar, os ambientes, as coisa e as pessoas mais atraentes.
registrar locais onde hoje podemos observar as
mudanças de um mesmo espaço ao longo do Vamos à prática.
tempo.

Carlos Alberto

Luiz Elson
Nilson
27

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Iniciando o curso no Método Cacimba
Eu inicio perguntando se todos sabem desenhar. Com a negação de alguns, proponho que
os alunos desenhem um sol.

As mais diversas representações surgem. Daí, já começo a indagar por que se desenharam tantas

imagens diferentes do sol. Se todos ao olharem para o sol, vêem a mesma imagem de um círculo?
Falo do modo de representar individual, do grafismo pessoal, do jeito particular de cada um de
desenhar e que vários fatores interferem em sua visão do mundo, que sua memória visual é inerente à
sua experiência de vida e tem a ver com as condições e impressões que cada imagem lhe causa e afeta.
Explico que essas aulas propõem um caminho a se seguir, com a realização de atividades que
buscaram resgatar imagens de nossa memória, proporcionar um novo olhar sobre nosso meio e
aprender com os artistas, vendo como eles representaram determinadas coisas e a construir novas
formas gráficas de beleza. De acordo com o sentido
de beleza de cada um dos participantes.
Nesta primeira aula procuro iniciar o estudo
do desenho com o desenho de memória, buscando
resgatar as imagens que cada um guardou do que viu.
O primeiro exercício é desenhar coisas do
cotidiano. Vamos do mais simples ao menos simples.
Peço para desenharem dez tipos diferentes
de frutas.
A primeira constatação deve ser comentada
em sala é que, todos normalmente conseguem de-
senhar. E é impressionante a variedade de formas
apresentadas sobre uma mesma fruta.
Partimos então para objetos do dia a dia esco-
28
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

lar, que estão com eles no momento, como por exemplo lápis, caderno, livro, borracha, apontador,
lapiseira, caneta e mochila.
Então, logo após os desenhos comento sobre os resultados obtidos, incentivo a olharem os
desenhos dos colegas e os incentivo ao afirmar que todos, de modos diferentes, conseguiram fazer
seus desenhos, uns com mais detalhes, outros com menos, porém pequenas diferenças são notadas,

como por exemplo as particularidades entre objetos tão parecidos e com quase a mesma forma, como
o lápis, a caneta e a lapiseira.
Vejam, todos conseguiram, vocês são capazes de desenhar. Você pode, basta tentar, é só uma
questão de paciência. Falo das virtudes que o ato de desenhar proporciona, do desenvolvimento da
concentração, da atenção, que são tão importantes no momento da vida escolar. Falo do valor da
tarefa realizada, da idéia de caprichar, de dedicar um tempo maior, nas tarefas a ter mais calma, de
se buscar um acabamento, uma limpeza no desenho.
Nesse momento solicito que desenhem com mais detalhes, forçando assim mais a memória e
a percepção visual.
A memória deve ser exercitada do mesmo modo como nosso corpo, dizem muitos educado-
res, devemos solicitar dela um pouco mais de esforço. Solicito que se lembrem de objetos de uso
domésticos, aqueles que a maioria tem em suas casas, como geladeira, fogão, televisão, som e sofá,
29
claro que nem todos possuem estes objetos, mais já viram e com certeza estão guardados em suas

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


memórias visuais.
Com o resultado deste exercício, motivo ainda mais o alunado, pois a supressa que demonstram
com os desenhos que realizam é enorme, a maioria não acredita no que produziu, normalmente vão
mostrar aos colegas o que fizeram e ver como os amigos desenharam, a alegria na sala é contagiante.
30
Caso a aula já esteja terminando vamos a uma atividade um pouco fora de moda, mais muito útil:
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

o dever de casa.
Solicito que desenhem de observação o aparelho de televisão da sua casa, ou um outro objeto,
olhem e desenhe olhando para ela, não façam de memória. Introduzo neste momento, o desenho
de observação, sem fazer comentários, ao qual deixo para depois. O desenho de um telefone, um
liquidificador, um ventilador ou um computador pode ser solicitado também. . .
Atenção: não esqueça de ir realizando os seus desenhos e não copiando os dos alunos que
ilustram este livro.
Na aula seguinte corrijo de carteira em carteira os trabalhos realizados. E continuo a nossa

busca nos arquivos da memória visual com outros exercícios.


Solicito que desenhem objetos pessoais, do vestuário e adereços, tais como: relógio, calça,
31
camisa, paletó, vestido e outros.

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Vamos em frente. . .
Neste momento, duas ou três aulas após, podemos comentar sobre os resultados alcançados,
vocês diziam que não sabiam desenhar e como já realizaram mais de 30 desenhos? Observem que

todos conseguiram realizar as tarefas que solicitei, então, vocês já sabiam desenhar ou é porque não
tinham tentado desenhar. Só repetiam sempre os mesmos desenhos?
Muitas vezes achamos que não sabemos ou não temos capacidade para fazer determinadas
coisas, mas, na verdade, é que, às vezes, estamos condicionados a não tentar, a não experimentar, a
não criar novos caminhos. E como não nos propomos a não tentar, não realizamos nenhuma ação
em direção para aprender coisas novas.
É importante que compreendamos que simples resultados podem conter grandes avanços e
que desenhar abre janelas para o desenvolvimento de atitudes significativas para o aprendizado.
Entramos em outra fase: a da ampliação do repertório visual e da criação de novas formas a
partir dos padrões ou esquemas estereotipados que a maioria já possui e usa sempre que desenha,
como por exemplo, o desenho de uma árvore. Normalmente, quando solicitamos o desenho
32
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

A unidade na variedade
de uma árvore, surge sempre a famosa e clássica
árvore de maçã. O condicionamento imposto na
infância surge com toda sua força, reflexo do au-
tomatismo que leva à repetição da mesma forma
e nos condiciona a repetir a mesma resposta.
Então, quando peço para que desenhem
três tipos de arvores diferentes, como, por exem-
plo, um coqueiro, uma bananeira e um cajueiro,
as dificuldades se apresentam. Porém, muitos já
têm menos medo de errar e fazem suas represen-
tações com mais detalhes. Quando buscamos a

da escola ou estacionamento, desenhar alguns


tipos de árvores que podemos ver.
A pesquisa e a observação ajudam a des-
pertar a curiosidade, tão presente e importante
no processo de ensino e aprendizagem. Podemos
observar que a busca pelo detalhe, pela diferença,
por características particulares em cada desenho
passa a ser objeto do desejo do alunado. Eles
se tornam mais exigentes com seus desenhos e
consigo mesmo. Eles começam a dar importância
as pequenas diferenças nos objetos analisados.
variedade, dentro de uma mesma unidade, neste Os alunos começam a dar atenção ao seu
caso arvores de vários tipos. A nossa visão se ambiente de vida. A curiosidade se aguça como
amplia, nosso mundo aumenta. a atenção pela busca pelo detalhe.
Depois, para provocar respostas mais com- Na próxima aula, o alunado continua a
plexas, aumento o grau de dificuldade. Proponho realizar desenhos no qual pequenos detalhes são
um trabalho de pesquisa a partir do qual possam determinantes nas diferenças entre animais da
observar na sua rua ou bairro, vários tipos de mesma espécie. Solicito que se desenhe animais
árvores. Também para reforçar a aquisição destas que apresentam pequenas diferenças, como um
novas percepções, vou com o alunado até ao pátio boi e uma vaca, um galo e uma galinha entre
33
outros.

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Acredito ser este exercício muito significativo. É um momento em que o alunado pode de-
senvolver a sua capacidade de auto-aprendizagem, de criar o hábito e o interesse na realização de
pesquisas.
Como tarefa de casa, solicito que realizem desenho olhando, pegando, cheirando os legumes e
as verduras. Desenhos mais complexos em detalhes podem surgir como: desenhos de cebolas, alhos,
34
pimentões, entre outros.
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

Outros exercícios propostos são: desenhos


de peixes, insetos, animais selvagens, domésticos
e pássaros.
Temos aqui uma ótima oportunidade para a

ampliação da visão sobre o mundo que vemos,


mais às vezes não prestamos muita atenção. Este
aumento do repertório visual gera uma variedade
de novas informações e desenvolve um olhar
diferente sobre o cotidiano. O alunado vai apren-
35
dendo novos conhecimentos ao desenhar, vai acumulando informações na medida que utiliza os

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


conhecimentos, que já tem em sua memória aos novos, quando se propõe a realização de pesquisas.
Muitos exercícios podem ser solicitados como dever de casa, atividade que estimula o alunado
a repetir a aula e a desenvolver o hábito de estudar e pesquisar, como também conhecer o prazer na
realização das tarefas, da missão cumprida
A cobrança, por parte dos professorado deve ser rígida, de mesa em mesa na sala de aula,
corrigindo os trabalhos de cada aluno(a), observando os progressos obtidos de acordo com a forma
de representação inerente a cada um(a).
Depois, passo para o desenho da casa do próprio alunado, que é outra atividade que pode ser
bem explorada.
Inicialmente, são demonstrados, em sala de aula, os diferentes tipos de fachadas (no caso de
casas populares), portas, janelas, portões, muros, detalhes de telhas da casa e a paisagem ao redor,
36
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

Desenho de casas
como a existência de orelhões, postes, calçada, não sabem, pois todos conseguem realizar estes
cercas ou outras formas de construção que são desenhos olhando do quadro.
agregadas na paisagem urbana. Esta abordagem Devemos observar a posição do telhado em
inicial, que desenho no quadro da sala de aula e vários ânulos e o estudo das telhas.
que é copiada pelos alunos, serve para que eles Depois, solicito que desenhem de memória,
percam o medo de tentar desenhar a sua casa a frente, a fachada da sua casa, com todos os
de memória, pois adquirem confiança, já que detalhes. E no final da aula, como dever de casa,
normalmente todos conseguem copiar do quadro. solicito que desenhem novamente a frente da sua
E já não devem reclamar, ou dizer que casa, só que de observação.
37
Na aula seguinte, fazemos a comparação entre os dois desenhos, o que foi feito em sala de

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


aula e o de observação. Essa atitude é importante para demonstrar como a nossa memória retém
determinada informações e como esquece outras. Esta seleção da memória demonstra a necessidade
de treiná-la, de exercitá-la, pois assim obteremos melhores resultados quando a usamos.
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
38
39
Ao olharem com mais atenção o seu ambiente, a sua casa, a sua cidade, a sua realidade, as

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


imagens que lhe são impostas no dia a dia, lhes possibilitará adquirirem novos conhecimentos.
Passam, então, a comparar com outros olhares, com um novo enfoque, refletir melhor sobre o seu
mundo e sua vida.
Depois do desenho de uma casa podemos propor novas pesquisas como o desenho de igre-

jas do bairro, do supermercado, da padaria, da farmácia, de lojas de material de construção ou dos


prédios públicos.
A professora Maria Inês Moura Biondi, na sua tese de mestrado em geografia, defende a im-
portância do desenho no estudo da geografia. Baseada nos PCN´s, ela propõe que uma das situações
ideais para o estudo da geografia é a leitura de paisagens, pois, o desenho acompanhado de uma
reflexão, possibilita um aprimoramento das habilidades de localização, proporção, pontos de vistas e
o entendimento da simbologia local, atitudes tão úteis ao conhecimento e ao estudo da cartografia.
40
Visite locais e prédios de valores históricos em aulas passeios pela cidade.
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

Observe e desenhe a sua arquitetura, as esculturas, os acidentes geográficos e as


pessoas. Observe o percurso que faz da sua casa até a escola ou seu próprio quarto.
Todos podem ser fontes de estudo do desenho.
No estudo de paisagens, procure estudar as diferentes formações das nuvens, pois o céu é um

le c r ia a atmosfera
omo e eleza únic
a.
s t a q u e , observe c de u m a b
de de flexo ra ou
elemento ada instante é o re a a uma praia, ser
ac de,
da cena e s c o la s e ja próxim acterístico da cida
Caso a e á
al car
fico natur para estudos.
e g e o g r s
ent
outro acid ém servir de mod
elo
s e u a m biente, o
mb elhor o rítica
podem ta dito que, ao ver m uma visão mais c as
Acre lver as n
m c r ia r e desenvo ar tantas diferenç
d e ta t
alunos po , porque, ao cons
a d e
da realid
Aluno Leonardo Canário pintando no Teatro Alberto Maranhão.
41
formas, pode-se ter curiosidade de saber o porque. Por que as favelas e os condomínios fechados?

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Por que parte da cidade e estão bem cuidadas e outras não? Como foi se construindo esta situação?
Esta compreensão do seu ambiente pode gerar uma atitude de não se conformar com as injustiças
presenciadas e o desejo de buscar soluções para que se mude a situação.

Luiz Elson - caneta esferográfica

O desejo de representar visualmente, de desenhar de


várias formas, ângulos e maneiras diferentes a figura humana
tem, principalmente na cultura ocidental, atraído a atenção
de muitos artistas que, nos mais diferentes momentos da
história, têm criado e usados vários modelos de desenhar o
corpo e as expressões humanas. Do mesmo modo, esse desejo
acontece, também, com as crianças em idade escolar. Na
atualidade, devido a forte influência dos meios eletrônicos,
a grande maioria busca na cópia dos desenhos animados ou
de personagens de histórias em quadrinhos a realização deste
desejo.
E é neste momento que se gera um dos bloqueios, pois
42
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

A figura humana
ao não conseguir que seu desenho fique parecido Porém, muitos artistas buscam um efeito
com o que está copiando ou se está desenhando mais realista, mais fotográfico em seus desenhos
um retrato e alguém faz um comentário tal como, e só se consegue isto com tempo, disciplina e
“ah ! não está lembrando fulano”, o desgosto e a dedicação, após uma, prática constante que de-
frustração levam muitos a acharem que seu dese- senvolver certas habilidades manuais. Esta forma
nho esta feio ou que nunca vão saber desenhar, ou de desenhar é possível a todos que se dediquem ao
até que isto é um dom de Deus. Em alguns casos, estudo de determinadas técnicas. O problema é
perde-se o interesse pelo desenho e se abandona que a maioria das pessoas não teve oportunidade
esta nobre arte. Que tragédia! de aprendê-las, ou tem preguiça de estudar.
Cabe ao professorado evitar essa crueldade, Vamos então transmitir algumas noções
na medida do possível. Neste momento, com sua que facilitem a superação deste desafio e orientar
experiência, deve trazer reproduções de várias para os que desejam que seus desenhos de retratos
obras de arte com imagens de como os artistas
representaram a figura humana em vários estilos
e épocas diferentes e explicar que cada jeito de
desenhar a figura humana tem sua beleza, que
não existe uma forma melhor do que a outra, mas
formas diferentes de se ver a beleza.
Desenhar exige estudo e quem deseja
ser um bom desenhista deve praticar muito,
pois determinados resultados só se consegue
com muita observação, paciência e o domínio
do manuseio do material adequado. Saber usar
bem os materiais que proporcione um sombreado
correto é tornar possível, ou seja, se dar melhor fiquem m
caracterização, mais vida as pessoas retratadas. retratos qu
Lembre-se que grandes artistas construíram es-
tilos próprios, formas particulares de representar
a figura humana, outros destruíram a forma e a
reconstruíram, como Picasso e o Henfil que era
um dos maiores desenhistas do Brasil, desenhava
seus personagens quase que como uma caligrafia,
como um ato da sua escrita, impossível de ser
copiado.
Desenho baseado em obra de Picasso
43
artistas ou que as pessoas que

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


posarem se reconheçam nos
desenhos produzidos. Como
também possibilitar aos dese-
nhos ficarem mais expressivos.
Partimos do mais simples
para o menos simples. Vamos
começar.
Inicialmente copio no
quadro da sala de aula partes
distintas do rosto e, separada-
mente, vou desenhando as for-
mas mais simples de represen-
tação e acrescentado detalhes,

Desenho de Geniere

passo a passo, até formar uma figura


mais complexa. Na seqüência: o olho,
a boca, o nariz e a orelha (primeiro
vistos em um rosto de frente).
OLHO –inicio com o desenho
de um simples ponto.
Para aprofundar os estudos sobre
os olhos, deve-se observar as formas
ao redor do globo ocular, é importante
ressaltar as pálpebras, as sobrancelhas,
as rugas e o brilho dos olhos.

Desenho de João Natal


44
BOCA – dependendo do desenho, uma reta já define uma boca, mais vamos acrescentando
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

novas linhas até conseguir a idéia de volume. Dê especial atenção a linha que separa o lábio superior
do inferior.
NARIZ –partindo de dois pontos, vamos construindo outras formas de representação. Observe
que o nariz modifica seu desenho de acordo com a posição que o vemos.
ORELHA – uma elipse pode ser o ponto de partida do nosso desenho.
Depois, eu junto tudo explicando muito superficialmente as proporções entre as partes que
compõem o rosto. Então, peço que desenhem um rosto de um homem e de uma mulher, para que
45
comparem coisas sutis como a forma da boca, sobrancelhas, olhos e cílios.

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Outro exercício que proponho é que se criem vários personagens, observando os formatos de
desenhar uma cabeça, pois podemos partir das formas mais conhecidas, como a oval, o círculo, o

quadrado, triângulo e o retângulo até as formas irregulares como o formato de uma pêra.
Solicito que de desenhem 10 tipos de rostos diferentes. Aqui também podemos acrescentar uma

pesquisa sobre os vários tipos de cabelo, barba,


bigode para que se desenhe com mais detalhes a
46
grande diversidade de biótipos humanos.
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

Por fim, podemos acrescentar adereços como óculos, brincos, tiaras, lenços e chapéus.

Nesta fase de estudos, o alunado já adquiriu as noções das proporções que existem entre as
várias partes do rosto e poderão obter a intenção realista que desejam em seus desenhos.
Depois que muitos aprendem a desenhar o rosto como se fosse um tipo de boneco, vamos pro-
curar dar mais “vida” a esses desenhos, vamos observar as mudanças que ocorrem nas sobrancelhas,
47
olhos, boca e rugas, quando realizamos diferentes expressões.

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


O estudante deve cumprir com seu papel de estudar. Em um bloco de anotações registre,
inicialmente as diversas expressões faciais e, depois, desenhe as formas que o corpo expressa como
linguagem.
Organize como se fosse um dicionário de gestos e atitudes, pesquise em revistas, recorte fo-
tos, veja trabalhos de vários artistas. Observe em revistas em quadrinhos e em desenhos animados,
48
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

atentando para os exageros nas expressões.


Depois de ampliar as possibilidades de representar um retrato, eu copio no quadro as principais
formas de expressão do rosto, as conhecidas em todas culturas : a alegria, a tristeza, o nojo, a raiva,

a supressa e a desconfiança.
Peço que criem um per-
sonagem e o desenhe com estas
expressões e com outras que
desejarem.
Ao criar um personagem,
procure desenha-lo de vários
ângulos, com diferentes ex-
pressões
Para concluir o estudo
da expressão, proponho que
se posicionem em frente de
um espelho e realizem vários
desenhos.
Quando estiverem mais
familiarizado em desenhar um
rosto qualquer, explico que
podemos usar vários esquemas
de construção na realização dos
esboços, desenhos preliminares,
que possibilitaram um novo
aprendizado e modificações na
forma de representação de seus
desenhos.
49
Deve o professorado oferecer informações e exemplos de obras de artistas que procuraram

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


em suas obras realçar a beleza da nossa diversidade étnica.
Vários povos contribuíram no processo da formação cultural brasileira: diferentes nações
indígenas, africanos, europeus, asiáticos, entre outras, aqui se misturaram e formaram uma nação
mestiça. Ainda hoje podemos identificar características físicas diferentes destes diversos povos. Tais
diferenças e misturas devem ser objetos de estudo de nossos desenhos.
É importante que se identifiquem, vejam-se fazendo parte desta diversidade, que não perpetue

antigos preconceitos, como o que só considera bonito um padrão


de beleza baseado nos cânones gregos. Mais que veja a beleza no
negro, no mulato, no índio, no asiático, no oriental, enfim, em
todas as pessoas, cada um com uma beleza nova e particular, com
sua singularidade e características próprias.
50
O desenho da criação de um personagem também pode ser utilizado o desenho cômico e não
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

só necessariamente retratar de forma realista. O melhor exemplo é o estudo de desenhos animados,


nos quais o exagero das formas, a deformação das proporções possibilitam vários estudos. Diminua,
aumente o queixo, o nariz, o corpo, não há limites para as distorções, invente, crie personagens
usando como base frutas, animais, objetos, lembre-se que ratos, esponja e coelhos são exemplos de
personagens queridos por muitos.
O desenho do rosto de perfil é outra forma de representar a figura humana que estudamos

Luiz Pinheiro

Leonardo Canário

Inicialmente, copio no quadro os


esquemas mais usados. Como ensinei na
construção de rosto de frente, também
vou por partes, desenho primeiro os
olhos, depois a boca, o nariz e a orelha.
No desenho do olho de perfil, rea-
lizo o mesmo procedimento, inicio com a
imagem de um ponto, depois acrescento
outras linhas que se parecem com um A
deitado. Lembrem-se de representar os
espaços existentes ao redor dos olhos.
Aucides Sales
51
O desenho do nariz é caracterizado pela forma triangular.

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


O desenho da boca de perfil é realizado seguindo uma seqüência que vai acrescentado linhas
até obter a idéia do volume, observe com atenção a posição dos lábios superior e inferior, eles apre-
sentam tamanhos diferentes para cada pessoa.
A orelha deve ser estudada em diversas posições
Apresento agora, vários esquemas de construção de desenho de uma cabeça em perfil, o es-

Ivan Cabral

Cláudio Oliveira

tudante deve conhecer vários esquemas e escolher o que melhor lhe serve.
Depois, que todos copiam os exemplos, solicito que se desenhe um colega da classe. Enquanto
um desenha o outro serve de modelo.
52
Concluído o primeiro desenho, os alunos alteram as posições, normalmente, observamos a
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

alegria e a satisfação de nossos alunos com os resultados obtidos.


Depois de toda esta preparação, sugiro que quem desejar, quem tiver o interesse de desenhar

retratos com a intenção realista, já estará mais preparado tecnicamente e com certeza obterá resul-
tados melhores do que alcançava.

Os alunos podem utilizar fotografias de seus ídolos, de personalidades ou solicitarem que


amigos e parentes posem para eles.
Para concluir o estudo do desenho da figura humana estudamos os esquemas de representação
53
do corpo. Explico que existem mais de 100 sugestões de esboços(desenhos preliminares ) de esquemas

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


de construção, que vão dos cânones de proporção até linhas circulares de contorno.
Usando um aluno como modelo, pode se propor que se desenhe de observação uma pessoa

em pé. Sempre usando modelos masculinos


e femininos para evitar que pelo condi-
cionamento e preconceito os meninos só
desenhem meninos e as meninas, meninas.
Depois de desenhar um aluno em
sala de aula, volto ao quadro e demonstro
03 tipos de esquemas básicos de esboços.
Solicito que os alunos copiem as imagens
54
do quadro,
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

O primeiro é o boneco de arame, baseado nos ossos do corpo humano. Depois acrescentamos a
idéia do corpo com volume, relembrando o desenho de um cilindro. Explico a idéia de transparência,
que fazemos nos esboços quando construirmos um boneco de cilindros.
O último esquema que solicito é o baseado nos contornos do corpo. Ele é realizado com traços

Geniere

Sara

Luana

Willy
Joiran
55

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


O corpo humano
usados livremente, esse tipo de esboço é executado com poucas linhas.
O estudo da proporção deve ser uma constante, cada pessoa tem tamanho diferente. Mas,
para facilitar, vamos usar o padrão de 7 cabeças e meia ou seja, o tamanho da cabeça é usado como
unidade de medidas. Lembre-se a proporção varia de acordo com estatura de cada um, pela idade e

pelo tipo de desenho.


Os desenhistas de
Quadrinhos e animação
utilizam padrões de 2 cabe-
ças e meio, 3 ou 4 cabeças
para criação de persona-
gens.
Treine com revistas
de moda e fofoca, utilize
fotografias para compreen-
der melhor os locais onde
56
se dividem as medidas baseadas no padrão escolhido.
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

Depois tente desenhar copiando, apenas olhando a foto. Por fim tente criar imagens do corpo

humano sem olhar para nada, nem desenhos dos outros ou fotos, mais abstraindo as formas que você
conhece do corpo. O desenho é criado baseado nos estudos que você realizou.
Existem vários tipos de esboços para se desenhar mãos. Procure conhecer e teste muitos destes
esquemas, até encontrar um que lhe dê um resultado satisfatório, isto é algo muito pessoal. Aqui
demonstro alguns tipos. Observe as proporções e o volume entre as diferentes partes de uma mão.
57
Desenhe usando sua própria mão como

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


modelo, também observe, sempre que possível
mãos das pessoas em diferentes posições.
Observe as curvas dos pés e o movimento
dos dedos.
Para avaliar os esforços do alunado como
tarefa extra-classe, peço que desenhem a sua
família, observando as características de cada

um, se um é gordo o outro magro, um é alto o


outro baixo. Solicito que tentem representar estas
diferenças e a ação do tempo sobre as pessoas.
Observamos que muitos acabam por transmitir
características pessoais de uma forma riquíssima
e sutil.
Outro exercício que é proposto é realizar
desenhos baseados nos esportes que os alunos
mais gostam ou praticam.
Existem muitos esquemas de esboços, pro-
cure conhecer o máximo possível.
Aprenda a conhecer as principais curvas
do corpo humano, estes detalhes são importan-
58
tíssimos para que os desenhos de figura humana apresentem naturalidade. .
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

O estudante deve se dedicar ao estudo da anatomia, mesmo que de forma superficial, conhecer
os ossos e ao músculos, trarão aos seus desenhos uma beleza que é diferente dos que desenham sem

estes conhecimentos. Quem desejar se aprofundar procure livros especiali-


zados que existem no mercado, existem artista que exageram nestes estudos
e vêem beleza até nas deformações. Este tipo de estudo proporciona que

possamos observar a mesma figura em vários ângulos, os efeitos dos músculos e as mudanças que
59
sofrem a cada movimento

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


O uso de modelo nu deve fazer parte dos estudo de quem deseja se aprofundar na prática do
desenho da figura humana, na verdade, este conhecimento é essencial, observe, copie inicialmente
a partir de fotos de revistas especializadas e os que puderem estudem com um modelo vivo.
60
Tenha sempre um bloco de anotações
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

para que possa desenhar, observe na rua, em lo-


cais públicos e até em casa, às vezes, um simples

cochilo é motivo para um belo desenho.


Após realizar mais de 100 dese-
nhos em sala de aula os alunos já não
podem mais dizer que não sabem dese-
nhar. Muitos já possuem uma confiança
que não possuíam, já perderam o medo
de riscar, de tentar, de fazer.
Chego a brincar, dizendo; Pronto!
61

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Agora vamos começar a estudar, a
aprender a desenhar! Está primeira
parte foi só a introdução, para provar
que vocês já sabiam, que todos já
desenhavam, porém poucos acredi-
tavam.
Depois de ter explorado um
pouco o campo da memória e da ob-
servação, vamos agora brincar com
a imaginação e com a capacidade de
criar e recriar novas imagens.
Vamos dar liberdade a experi-
mentação gráfica, desenvolvendo um
centro de interesse visual totalmente
novo para muitos, vamos ampliar a

A utilização de estátuas de gêsso é um recurso que facilita o entendimento dos efeitos de luz, sombra
e volume no corpo humano. Prática frequente nas antigas escolas de arte e de comprovada eficácia.
62
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

nossa visão trabalhando os elementos básicos


do desenho.

O Alfabetismo visual, é uma didática artís-


tica baseada em uma visão estética organizada por
arte/educadores com o objetivo de explorar cada
elemento visual de uma obra de arte, interpretar
as diversas relações entre estes elementos da
linguagem visual e a analise da sua importância

Luiz Elson

na composição da obra.
Eles acreditavam, que estes estudos ampliava a capacidade de ver. Defendiam que o aumento
da inteligência visual, aumenta o efeito da inteligência humana e amplia o espírito criativo. Cabe ao
professor provocar experiências perceptivas que acionem os dispositivos mentais impulsionadores
da criatividade. Essas idéias tiveram influencias dos artistas Abstratos, da Psicologia da Gestalt, dos
concretistas e da Escola de Artes Bauhaus.
Artistas e educadores que procuraram ao longo do tempo criar uma síntese para a linguagem
visual, trabalharam desconstruindo as imagens, já bastante transfiguradas pelas idéias modernistas,
que de modo espontâneo já produziam obras tentando criar imagens que se libertavam das formas
semelhantes à realidade. Explorando novas e criativas técnicas, valorizando a livre expressão e a
emoção, os artistas chegam até a dissecar a imagem, reduzindo-a ao máximo, a buscar a beleza até
na menor particular de expressão visual, um simples ponto.
Aqui vamos seguir um caminho prático. Proponho o seguinte método de trabalho; durante

Luiz Elson
63

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Elementos básicos do desenho
a explicação dos três primeiros elementos, o beleza, uma beleza diferente da que eles estavam
ponto, a linha e a figura, podemos utilizar diver- acostumados a entender como correta, mas, uma
sos materiais tais como: grafite, lápis aquarela, nova visão da arte, que muitas vezes, não precisa
canetas esferográficas, lápis cera, tinta guache, de explicação, é só deleite. Apesar da ausência
tinta nanquim e principalmente, colagens com de formas conhecidas ela é cheia de significados,
papéis coloridos. o aluno passa a gostar e compreender, fazendo,
Pelo pouco tempo disponível para uma produzindo obras com a estética da arte moderna.
aula, utilizo os papeis em pequenos formatos Esta nova forma de comunicação visual,
(10X15 cm), de modo que possibilite aos alunos este ver com outros olhos, tão simples, tão ob-
concluírem um ou dois trabalhos por aula. via, tão verdadeira e universal comum a todos
Estes exercícios também podem ser reali- os povos independente de cultura, ou país, a
zados com o uso de computadores, caso a escola linguagem espiritual da alma como denominou
disponha, pois os programas de computadores Kandinsky.
baseados em cálculos matemáticos e suas combi- Vamos reproduzir alguns conceitos já
nações, possibilitam o aprendizado destas noções, conhecidos e acrescentar a nossa opinião sobre
por facilitar a criação de verdadeiras obras de arte esses estudos.
com um simples toque. Ponto
Para iniciar, o melhor programa é o Paint, Portanto vamos ao ponto.
acessível a todos os computadores que usam o Ponto é o resultado do primeiro choque do
Sistema Operacional Windows. instrumento (lápis, pena, etc. ) com o plano (x).
Acredito que após os alunos terem realiza- Ou seja um local, um espaço qualquer.
do vários exercícios, aqui sugeridos e produzidos
as colagens, usado outros materiais ou utilizando
a computação gráfica, como recurso didático, sua
visão sobre desenho e as artes visuais se ampliará
de forma que ele passe a valorizar e compreender
um pouco mais sobre Arte moderna, a pintura
Abstracionista. E estas formas de arte serão vista É o elemento de menor superfície que o
com outros olhos, não só encarada como algo olho humano pode perceber isoladamente no
mal feito, borrões, riscos ou uma mistura de cores campo visual em relação a um plano. Agrupando
sem sentido. –os ou isolando-os obtemos diversos efeitos. Nas
Após produzirem seus trabalhos percor- artes gráficas e na computação, é o elemento de
rendo caminhos parecidos com os usados pelos base, podem ser grandes, pequenos ou médios e
artistas, os alunos terão uma outra noção de de qualquer cor.
beleza no desenho, entendendo que aqueles O ponto é o elemento indicador e mode-
desenhos tão estranhos a eles revelaram a sua rador do espaço.
64
Vamos então realizar desenhos. base para seus trabalhos.
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

Inicio a parte prática com um exercício, Vemos nos exemplos a seguir as diversas
onde solicito que cada aluno crie três composi- formas de uso, seja agrupando, ampliando, orga-
ções diferentes, usando o elemento ponto como nizado sem limitar o número ou o tamanho dos
pontos usados, comento a diversidade de imagens

que surgem, pois apesar de usarem um elemento tão simples, temos inúmeras composições.
Os alunos se surpreendem com seus trabalhos. Relato de como a mente humana é ilimitada
em suas criações e como cada pessoa tem a capacidade de criar e pensar diferente dos outros e que
todos podem realizar o que pensam, mesmo que seja uma coisa tão simples, porem se não tem a
atitude de fazer, a ação de pelo menos tentar ampliar seu conhecimento, suas capacidades mentais
serão limitadas, por que eles mesmos se castram, se anularam. E que pequenas conquistas geram
confiança e com confiança se tem coragem para enfrentar novos desafios.
Linha o elemento linha define os contornos, é capaz de conferir volume e movimento à re-
presentação gráfica, gera e qualifica as superfícies.
As principais linhas podem ser a:
Retas- horizontal vertical e inclinada e linhas curvas.
As linhas podem se apresentar : finas ou largas, fortes ou delicadas, retas ou sinuosas, escuras
ou claras, contínuas ou quebradas.
São as linhas que definem e articulam as formas, transmitem sentimentos e sensações, repro-
duzem as texturas, determinam o movimento de um ponto em um espaço.
A linha é o elemento essencial do desenho, por isso é importante para o artista e para o estu-
dante de arte, saber usá-la com liberdade, para isto deve ter o domínio da coordenação motora, que
é conseguido com treino e repetição de exercícios. Exercícios esses que praticados com freqüência,
possibilitará aos artistas se ter habilidade para produzir traços de rara beleza e expressão.
O uso do próprio elemento, linha, como centro de uma obra, como foco do trabalho de um
artista é novamente demonstrado. Recorro à reproduções de obras de grande artistas para demonstrar
o valor que eles deram a linha e ao propor exercícios, veremos que as possibilidades de realização
são ilimitadas.
A ampliação da percepção das linhas, dos seus principais tipos, começamos a observar o seu
65
emprego nas coisas do cotidiano, contornado objetos, nas estruturas arquitetônicas, na decoração,

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


na natureza.
Figura - Forma - Contorno
O contorno descrito pelas linhas define os espaços. É aquilo que se vê, como as coisas exis-
tem, é a sua estrutura organizacional realizada através da junção de linhas.
As principais figuras são:
quadrado, triângulo, círculo, elipse, retângulo, losango e trapézio, além de outras formas
irregulares.
Inicio recordando a aula de linha e demonstrando que ao unir várias linhas passo a construir
figuras, formas como o quadrado, o circulo, o triângulo, que são as figuras mais comuns. Depois,
desenho no quadro outras formas regulares e solicito que reproduzam em seus cadernos como o
retângulo, a elipse e o losango, por fim as formas irregulares.
Novamente após mostrar obras de vários artistas que produziram obras usando apenas as

formas geométricas, solicito que façam as suas, usando inicialmente só uma figura, como por exem-
plo, realizarem uma obra só com quadrados ou só triângulos. Neste trabalho, se possível usamos
colagens de papéis coloridos. .
A variedade de composições e a beleza dos trabalhos que vão surgir impressionam aos alunos
e enche de satisfação o professor, pela constatação de que todos produzem belos trabalhos, de uma
harmonia e mistura de cores que emocionam. São formas que vão brotando e se materializando,
revelando a beleza da alma e dos corações, as vezes de alunos tão brutalizados pela vida. E que
guardam tão belos segredos estéticos em sua intimidade.
Levar exemplos de trabalhos de artistas com obras utilizando estes elementos visuais, além de
trabalhos de outros alunos ou do próprio professor. São formas de incentivo que devem ser sempre
utilizadas.
66
Sei que cada professor busca uma melhor maneira na realização da sua aula, sei que cada pú-
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

blico é diferente um outro do outro, mas, acho que nós professores devemos ter certos cuidados ao
organizar os procedimentos que os alunos vão realizar. Não deixe margem para erros, esteja pronto
para que se eventualmente os alunos esqueçam ou não tragam seu material, tenha uma solução
para que a atividade seja realizada.
Por isso, proponho que neste exercício, o professor trabalhe inicialmente com pequenos

pedaços de papéis coloridos, que ele já deve


trazer cortado de casa, depois, dividir a sala em
pequenos grupos e distribuir o material, de modo
que todos participem e não reclamem pela falta
do que fazer.
Textura

traços e hachuras que se agrupam ou se isolam.


A textura é a pele das coisas, é como repre-
sentamos gráficamente o que vemos ou criamos.
Para exemplificar melhor podemos usar as textu-
ras visíveis na própria sala de aula.
Solicito que os alunos desenhem a textura
do piso, a da madeira que reveste o quadro negro,

No desenho, a textura é a forma que utili-


zamos para representar as diferentes superfícies.
É a representação e o caráter das superfícies dos
materiais visuais.
As texturas se caracterizam visualmente
pelo modo como se forma a superfície, pela
concentração de linhas, pontos, tramas que se
alternam ora ordenados ou desorganizados, com
67
a dos azulejos da parede, o chapisco da parede e as formas das telhas. Depois apresento reproduções

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


de obras de artistas que explorarão basicamente a textura em suas obras, então copio no quadro 10
tipos de texturas gráficas e solicito que criem outros 20 tipos diferentes.
Peço para não utilizem nenhuma forma conhecida, como o desenho de uma casa, uma arvore,
mas só linhas, traços, hachuras e formas geométricas.
Como pesquisa extra-classe, peço que desenhe texturas a partir de folhas de arvores, troncos e
para quem tem computador em casa, que experimentem criar várias obras, brincando no programa
Paint, onde terão recursos para observar que existem milhões de respostas a uma mesma pergunta,
que eles podem criar ilimitados desenhos, mudando as cores, os tamanhos.
Uma simples atitude, a de experimentar, a de re-trabalhar uma mesma idéia, de buscar novas
e possíveis soluções, são recursos que os computadores nos oferecem para que reflitamos e modifi-
quemos a nossa forma de ver e pensar o mundo, pois se isto é possível em um simples trabalho, por
que não em outras coisas? Não existe só uma solução para quase tudo. É preciso criar o hábito de
observar, de testar, de imaginar varias soluções para um mesmo problema.
O volume
A ilusão criada pela idéia da perspectiva, representa a dimensão dos objetos.
Agora temos um momento especial no estudo dos elementos básicos a idéia de volume na
representação das figuras. A primeira constatação que temos é que a maioria das pessoas fazem seus
desenhos de forma chapada, ou seja só apresentando duas dimensões a altura e a largura. o volume
só se apresenta, em média em 30% dos desenhos de uma sala.
Acredito que estes conhecimentos ainda não foram difundidos e incorporados ao pensamento
coletivo. Isto talvez seja a razão pela qual a maioria das pessoas não consigam representar “direito
“ um objeto da forma realista.
A difusão deste conhecimento se deu principalmente nas Escolas de Arte e no ensino do
desenho geométrico nas escolas, mais voltado para o estudo da matemática, como já vimos, não
era para todos.
Inicio os estudos ensinando a desenhar um simples Cubo.
Faço isto no quadro, passo a passo, primeiro desenho um quadrado, relembro os cuidados com
a habilidade técnica de fazer as linhas retas, sem auxilio de régua. Depois, demonstro que só uma
linha inclinada na base, já possibilita a idéia de profundidade e vai exigir novas linhas horizontais e
verticais para complementar a construção da figura.
É importante que eles desenhem pelo menos três vezes o cubo. O último sem olhar o modelo no
quadro, que deve ser apagado. Também acho que é necessário mostrar a inclinação para o outro lado
do quadrado e quando as duas linhas da base estejam inclinadas. Conforme o exemplo da ilustração.
Após todos terem assimilado estas noções, solicito que desenhem uma pirâmide, um cilindro,
um cone, um paralelepípedo, uma esfera e um prisma para observarem outras figuras sólidas em
perspectiva.
Já dizia Cézanne : “Saber desenhar é só desenhar um cilindro, um cone e uma esfera”.
Também podemos trabalhar com volume construindo objetos em três dimensões, usando di-
versos materiais como o isopor, o papelão, o barro ( argila ) a massa adesiva tipo durepox, madeira,
gesso e outros. Neste momento, podemos fazer pequenas esculturas, utilizando estes materiais.

Seguindo o conselho do mestre francês Cezanne, vamos após conhecer as formas sólidas bá-
sicas, construir outras figuras, a partir da união destas formas.
O desenho de uma circunferência deve ser feito passo a passo, podemos inicio partindo do
quadrado, até a construção de uma circunferência.
Depois de ter uma certa prática, tente desenhar usando apenas linhas básicas em forma de
cruz, observe sempre a linha de eixo.
Essa capacidade de criar, de transformar as figuras, possibilita que as pessoas possam desenhar
68
qualquer objeto e desenvolver o seu grafismo.
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

Depois, desenhamos uma elipse, refazemos o mesmo procedimento até treinar este traçado
livremente e dominar a figura com segurança.
Nunca despreze as partes não visíveis de um objeto, faça o desenho usando a transparência
nos esboços para desenhar com correção a idéia da tridimensionalidade dos objetos.
Inicialmente coloco alguns exemplos no quadro para serem copiados e demonstro que usando
as formas como esboços podemos ir construindo vários desenhos.
Após treinar os olhos e as mãos para ver e construir as formas sólidas básicas (cone, cilindro
e a esfera). Vamos começar a unir umas com as outras.

Solicito a execução de desenhos de sofás e cadeiras, como pesquisa extra-classe. É importante

comparar os diferentes estilos que um mesmo objeto apresenta, com-


parando seu desenho com o dos colegas, os alunos passam a observar
com mais atenção os objetos do seu cotidiano.
No desenho, podemos obter os efeitos visuais de luz e sombra
usando recursos simples, como na forma de sombrear tracejado, em que
as linhas são aproximadas ou separada, cruzando linhas usando hachuras
e esfumando usando o esfuminho ou os dedos.
Na sala de aula podemos demonstrar este exercício com o lápis
grafite, com a caneta esferográfica ou com canetas com tinta nanquim.

cubo, pirâmide, paralelepípedo, cilindro, cone, prisma, tronco e esfera


Para estudar os efeitos da luz e da sombra, devemos seguir um roteiro já usado no estudo das
formas geométricas sólidas. Aqui podemos usar as formas construídas de isopor ou madeira sugeridos
no estudo de desenho de observação, depois ir desenhando objetos.
69

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Construindo figuras
TOM – é a graduação de valor entre o branco e o negro,
representa a ausência ou a presença da luz. O tom molda as
formas visíveis. Eles separam os planos, um do outro e pos-
sibilitam a justaposição entre as partes de uma composição.
É importante observar o foco da luz (natural ou arti-
ficial), os tipos (sombra do objeto, sombra projetada), sua
posição em relação ao objeto iluminado, sua intensidade e a
sombra produzida.
No início dos estudos é importante buscar dominar
poucos tons, 3 ou 4, depois ir ampliando a sua escala entre o
preto e o branco.
O estudo do degradê tem grande importância para o
jovem desenhista, deve-se treinar a mudança dos tons do
claro para o escuro e do escuro para o claro.
Exercício – crie quatro variações de tons usando a
mesma imagem, com diferentes estudos de tons.
Luz – quanto mais o ambiente é iluminado mais forte
são as sombras, quanto a iluminação é fraca, as sombras ficam
difusas, se percebe pouco.
As sombras criam
a atmosfera de uma obra.
O tamanho das
sombras depende da dis-
tância do foco de luz.
Estude projeções
de sombra do natural, ob-
serve as diferentes ima-
gens criadas nas sombras
projetadas.
Observe que nas
superfícies curvas as mu-
danças nas sombras são
graduais.

Pintura
70
COR- Transmi-
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

te emoções e também
tem um significado
simbólico. Os Artis-
tas usam a cor incor-
porando significados
associativos ou como
referência do que ve-
mos na natureza.
Inicio traba-
lhando com tinta
guache, como pri-
meiro exercício com
pintura proponho um
exercício coletivo,
71

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Luz e sombra
porém feito individualmente
Os alunos começam trabalhando em um formato pequeno de papel (10 x 14 cm ), para que
tenha disciplina, respeite as qualidades técnicas da tinta e compreenda que certos efeitos só são
conseguidos se utilizar a técnica correta.
O pequeno formato do papel possibilita que o aluno conclua sua pintura em uma única aula

de 45 a 50 minutos, depois quando já tiver mais prática com a utilização dos materiais, devem-se
propor trabalhos com tamanho maiores.
Também sugiro que caso o professor seja de escola pública e não possua sala ambiente para
trabalhar. Que ele providencie, tenha em seu poder todo o material, como: tintas, pincéis, papel,
panos de limpeza e paletas, de modo que o aluno não tenha motivos para não realizar os trabalhos,
alegando falta de esquecimento em trazer o material de casa ou condições de comprá-los. Também
deve ficar, pelo menos, no início das explicações da técnica, responsável pela distribuição das tintas,
isto evita desperdício e sujeira em sala de aula.
Acho importante demonstrar a técnica com calma com um exercício simples, para que o aluno
se familiarize com as possibilidades que a tinta pode proporcionar. Depois, acho que o professor pode
72
solicitar que os alunos realizem uma cópia de uma obra de
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

arte de um artista conhecido, pode ser um artista da própria


cidade ou um da arte mundial, entendo que ao copiar o alu-
no vai tentar descobrir os caminhos percorridos pelo artista
e vai aprender como ele conseguiu certas soluções e ver a
importância de cada estilo, de cada traço.
Dai então é que ele pode fazer uma releitura, com mais
segurança e não simplesmente só copiar de forma mal feita.
Concluindo, esta atividade solicito que cada aluno
produza um trabalho individual com tema a sua escolha.
A aprendizagem da técnica do desenho de observação
vai proporcionar aos alunos a ampliação da sua percepção
visual, pois vai fazer com que olhem as diferentes formas das
coisas com mais atenção e como eles já estão familiarizados
com as formas geométricas planas e sólidas, isso facilitará a
compreensão da aula.
Acho necessário construir as figuras sólidas (fazer de
madeira, isopor ou cartão) de tamanho razoável, de modo
que fiquem visíveis a todos os alunos. Estes devem se posicionar em forma de círculo, para
que todos possam ver ao mesmo tempo as figuras e facilitar a circulação do professor na sala, de
modo que ele possa fazer as correções e orientações necessárias.
Após percorrer todo o caminho que já fizemos, os alunos já estão aptos a avançar no seu
grafismo. E ao desenhar olhando para um objeto tentando reproduzir uma imagem que fique o mais
parecido possível com o real, eles vão perceber que já venceram o medo, já não dizem mais, “eu não
sei”, “eu não consigo desenhar”. Simplesmente olham e desenham.
Na segunda sessão de desenho de observação usamos objetos de formas simples, como jarros
e objetos de cozinha, depois passamos para objetos mais complexos como um lampião, um telefone,
um par de tênis ou outro qualquer.

Antes de fazer um trabalho, uma obra, acho necessário explicar com exercícios práticos, a
importância dos seguintes elementos visuais que compõem um desenho.
Chapado - preenchimento de uma área com uma só cor de forma uniforme, em um só tom.

DegradÊ - pintura com mudanças de tons, do claro para o escuro


Contorno - Traço exterior de um desenho. delimita
os diferentes planos.
Contrastes - pode ser tonal, entre cores ou com
uma só cor, ou com relação a tamanhos.
Perspectiva - É o modo matemático de mostrar
distância e a escala, é o modo mais conhecido de fazer
superfícies planas parecerem tridimensionais.
ProporçãO - É a relação matemática entre os di-
versos tamanhos.
Ritmo – É a repetição de uma forma com igualdade
ou alternância.
Transparência – É a visibilidade das partes inter-
nas das figuras
Figura/ fundo - É a relação visual que aproxima e
distancia a imagem do expectador.
TOM – É a ausência e a presença de luz
73

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Desenho de observação
LUZ- Como elemento visual, a luz é o elemento de contraste entre o claro e o escuro, que cria
um movimento de vibração dos valores dos tons.
ESCALA- A escala determina a proporção, a medida e o tamanho relativo das coisas, é a coerência
dos pontos formando uma totalidade.
MOVIMENTO- O artista articula dois
aspectos fundamentais contidos no
movimento o espaço e o tempo, através
dos contrastes (tensões espaciais) e das
semelhanças (seqüências rítmicas).
O movimento é um efeito de ilusão
visual. Também ocorre quando o olhar
realiza um caminho visual percorrendo
a obra.
COR- O problema da cor deve ser
entendido como uma questão de re-
lacionamento entre as cores e não o
estudo de uma cor isolada.
EQUILÍBRIO - Pode ser conseguido com as harmonias entre simetria, contrastes, proporções.
PROFUNDIDADE - É conseguida através dos efeitos de perspectiva.
DIREÇÃO – As formas (contorno) básicas expressam três direções básicas e significativas, a
horizontal, a vertical e a diagonal.
Perspectiva
Caso o professor deseje pode se aprofundar um pouco no estudo da perspectiva para con-
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
74
75

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Agregando valores ao trabalho
seguir mais profundidade nas dimensões dos objetos.
Explico as principais regras na construção da perspectiva.
A linha do horizonte –Linha imaginária que se localiza de acordo com o
nível do olho do observador, ela se desloca acompanhando a visão do mesmo.
Primeiro fazemos no quadro da sala de aula e peço que copiem acompa-
nhando meu desenho, passo a passo, um desenho de um cubo com um ponto de
fuga e depois um com dois pontos de fuga.
Como exercício, solicito que desenhe um compartimento da sua casa, pode
ser um quarto ou a sala.
perspectiva com um ponto de fuga
perspectiva com dois pontos de fuga
No estudo do desenho de observação é importante se estudar a idéia da
proporção (relação entre as medidas). O primeiro exercício que proponho é treinar
o olho a ver as medidas e a fazer uma relação de unhas com as outras. Proponho
o seguinte exercício de linhas :
Inicio solicitando que reproduzam linhas do mesmo tamanho e depois
dividam-nas em partes iguais, sem utilização de réguas e por fim reproduza o de-
senho de um quadrado usando a técnica descrita.
A mesma técnica serve para o desenho de objetos e é claro que requer a
obtenção de varias medidas.
Use o lápis e o polegar como instrumento de medidas. A medida padrão
deve ser usada para se ampliar em escala, basta repetir quantas vezes desenha a
mesma medida.

Desenho de carros
Acho que é importante que os alunos realizarem estes desenhos usando todo
o caderno, ou seja uma página por desenho, para podemos observar mais detalhes.
Para concluir, solicito uma visita ao estacionamento da escola para desenhar carros
que lá se encontram, exercício que fascina a muitos alunos.
Antes de ir ao estacionamento, realizo na sala de aula desenho no quadro
de esboços utilizando as formas geométricas sólidas. Desenho a forma básica de
um carro, vendo de frente, de lado e de três quartos.
A ampliação dos sentidos abre uma nova dimensão do conhecimento nas
76
pessoas, amplia a vontade de se aprofundar, de não se conformar com o resultado rápido, observamos
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

que, quando os alunos não estudam corretamente, eles iniciam seus desenhos e procuram concluir
logo o trabalho. Depois, o alunado começa a curtir o seu desenho, a detalhar, a dedicar mais tempo
a sua tarefa. O ato de desenhar, requer, assim como a matemática, muita disciplina, exige que
para se obter determinados resultados, disciplina em seguir orientações técnicas com rigor, obedecer
leis, seguir as seqüências lógicas e a se respeitar a continuidade de um processo até se chegar a um
resultado. Dá um certo trabalho, trabalho mental, às vezes unindo o esforço mental e o esforço físico.
Talvez por isto, muitos desistam tão fácil de aprender a desenhar ou acham o estudo da matemática
tão difícil. Não é a toa que hoje a maioria das famílias desestruturadas, compostas de pessoas sem
respeito próprio ou pelos outros, sejam de pessoas sem estudos ou de pessoas que não valorizaram
sua aprendizagem.

Acredito que o desenho, algo tão simples

O objeto ou objetivo do
desenho pode se encontrar em
diversas posições quanto a linha
do horizonte.
77

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Desenho com medidas
de se fazer, possa contribuir para modificar esta
situação, porque com a ampliação da nossa visão
e dos nossos outros sentidos, abrimos uma nova
dimensão para adquirir novos conhecimentos e o
desejo, a vontade de se aprofundar nos detalhes,
na atenção redobrada as coisas mais simples e
a dedicação a resolver problemas dos pequenos
aos grandes. Podem gerar uma confiança que é
possível de se realizar quase tudo daquilo que se
pensa e se cria. Esta certeza torna as pessoas mais
pacientes, mais sensíveis, mais tolerantes, pessoas
que passam a acreditar em si mesmo e que res-
peitam os outros, pois vêem nas diferenças, não
algo estranho, reprovável, mas uma forma nova
de ver as coisas, essas atitudes vão proporcionar,

pelo ato do desenho, que


as pessoas se tornem me-
lhores do que elas já são.
Essa expectativa
também foi compartilha-
da por Kandinsky e Rui
Barbosa.
O desenho de ani-
mais
78
Estude os esboços utilizando os círculos e as elipses, conheça, se possível a anatomia de cada
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

animal e quando desenhar de observação realize vários estudos em diferentes posições.


O professor pode dedicar especial atenção ao desenho de cavalos e bois, temas freqüentes na
obra de muitos artistas.
Buscando romper com a estrutura particularizada onde as matérias tem conteúdos indepen-
dentes, hoje se busca uma maior integração entre as diferentes disciplinas e a Arte pode servir como
uma ponte, como uma conexão metodológica para uma inter-relação de saberes relacionando os
vários conhecimentos, essa integração entre as cadeiras torna-se a cada dia uma realidade nas escolas.
As escolas buscam se adaptar a esse novo mundo com saberes tão especializados e cada vez mais
79
influentes na formação da cultura, do trabalho e do pensamento da comunidade escolar. Processo

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


que necessita de todos uma eterna aprendizagem, para possibilitar uma educação emancipadora e
autônoma, que desmistifique a realidade e a compreenda como um espaço de diferentes, verdades,
que os conhecimentos e os conceitos produzidos sejam relativizados e que o alunado construa sua
aprendizagem dentro de uma visão holística que explique a realidade sem fragmentação.
A Arte coopera com outras disciplinas e o desenho é um dos instrumentos desta atitude,
ele atua dentro desta pluridisciplinaridade, desta relação complementar entre disciplinas mais ou
menos afins.
Voltando para o desenho – Aulas temáticas
Agora sugiro atividades de apoio a aulas temáticas, que normalmente a maioria dos professores
usa em sala.
Aula sobre folclore
Os mitos e as lendas do nosso folclore estudados pela maioria dos nossos alunos na educação
infantil, marcam a memória dos mesmos, pois quando solicitamos que desenhem os personagens
destes mitos. Todos conseguem, cada qual com sua forma própria de representação, mais vemos o
resgate das imagens dos sacis, cucas lobisomens e outros.
Aproveito a ocasião para fazer pesquisas e contar histórias, enriquecendo com novas informa-
ções, o conhecimento já adquirido de modo que esta atividade possibilite o aumento do repertório
visual de cada um.

Música
80
Peço que os alunos desenhem no quadro, cinco instrumentos musicais, depois explico as
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

famílias, os tipos de sons que emitem, que serão identificados através da audição de CD’s. Como
pesquisa solicito o desenho de outros instrumentos.
Criando símbolos
81

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Desenho: Luiz Elson, pintura: Emanuel Amaral

A propaganda e a publicidade são duas


atividades econômicas que utilizam a arte em suas
criações. Elas influenciam a sociedade contempo-
Xilogravura de Paulo Sergio (Locha).
82
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

A arte e outras disciplinas


rânea com a mesma velocidade com que as comunicações se expandem e transmitem informações,
criando toda uma cultura baseada em imagens simbólicas, com suas marcas, logotipos, brasões e
desenhos que já fazem parte do cotidiano das pessoas.
Propor ao aluno que ele crie um símbolo, é uma aula muito significativa, para que ele com-
preenda um pouco desta nova cultura visual.
Inicialmente, explico os conceitos de propaganda e de símbolos, depois os tipos, as principais
formas de letras, o uso das cores, a hierarquia dos formatos e tamanhos de letras e apresento exem-
plos de recortes em revistas de trabalhos de artistas gráficos. Então, solicito que cada aluno crie
um logotipo com as letras iniciais de seu nome ou com uma profissão que deseja seguir no futuro.
Também posso solicitar um símbolo pra cada uma das disciplinas que ele tem na escola ou sobre as
áreas da arte.
Esse exercício possibilita de que o aluno após conhecer muitas formas de desenhos, passe a
utilizar a capacidade de criar uma imagem a partir da abstração do pensamento.
Desenho de profissões
Neste exercício o aluno procura unir o desenho da figura humana com o cenário, solicito
que o aluno desenhe uma pessoa em seu local de trabalho. O professor pode sugerir que cada um
desenhe a profissão que almeja. Observamos que muitos alunos buscam ideais profissionais muitos
simples. Apesar de estarem na escola com o desejo de serem alguém na vida e acreditarem que o
estudo vai melhorar as suas vidas.
História
A disciplina de história
tem no uso do desenho um
forte aliado para sua aprendi-
zagem, principalmente pelo
apelo visual da cultura pro-
duzida nas diferentes épocas,
utilizar como motivo para
desenhos as transformações
do vestuário, das armas e
armaduras, da arquitetura,
dos móveis, dos adereços
(chapéus, bengalas, sapatos,
óculos) dos meios de transpor-
tes, entre outras coisas, é sem
dúvida, algo que motivará os
83
alunos a utilizarem o desenho como fonte de conhecimento.

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Também podemos explorar a partir dos estereótipos, o que pode gerar discussões sobre con-
ceitos e preconceitos, de como certas idéias são construídas e reproduzidas. É papel dos professores
fazer os alunos refletirem sobre elas.
O desenho de adereços estimula o aluno a realizar pesquisas e a conhecer as diferentes formas

de um mesmo objeto. O desenho de personagens históricos também é um motivo a ser explorado.

Trabalhar a escrita com seus alunos é hoje uma tarefa de todo professor. Conhecer os signifi-
cados e sentidos de uma palavra, possibilita usá-la com mais beleza e emoção. Saber contextualizar
uma palavra e com ela construir um conceito sobre qualquer assunto, são objetivos, que todos os
professores devem perseguir para que seus alunos realizem.
Neste sentido tenho trabalhado com a produção de dicionários, atividade onde os alunos
produzem o seu próprio dicionário. Cada aluno constrói o seu repertório particular de conceitos,
organiza desenhos, realiza pesquisas, colagens, diagramação e a confecção de um livreto.
No exemplo aqui exposto demonstro um trabalho que realizei em uma aula integrada com
ciências e português.
O aluno pesquisa e desenha a imagem, faz a leitura na sala de aula do conceito que elaborou,
84
os amigos e o professor discutem os seus argumentos. Depois o aluno reescreve o seu novo conceito.
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

É impressionante os contrastes apresentados nos conceitos criados pelos alunos, as dificuldades


de muitos alunos em criarem um conceito sobre coisas tão simples e a quantidade de informações
que outros possuem. Este é um ótimo exercício, onde imagem e texto se relacionam.
A cada ano realizo com os meus alunos um trabalho diferente, como por exemplo, o dicionário
dos animais, o dicionário da arte, o dicionário do seu bairro, entre outros.
85

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Uma das principais atividades que solicito é o desenho de cenas do seu bairro. Proponho que
o professor escreva no quadro sugestões de 10 locais diferentes, locais estes, que normalmente te-
mos em um bairro de periferia e que sejam próximos a escola e da casa dos alunos. Reforço a idéia
de que procurem só desenhar o que tem em seu bairro e a evitarem locais imaginados como praias,
florestas, aquelas famosas casinhas com chaminé e cortinas com um jarro na janela, isto é quando
o bairro não é localizado próximo a estes locais citados.
SUGIRO DEZ CENAS
86
Dentro de casa - em situações diversas, assistindo tv, cozinhando, no banheiro, no quarto, etc
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

Na escola, no pátio, na sala de aula, desenho dos professores, o recreio


Na feira do bairro
No local de trabalho do aluno.
Locais conhecidos do bairro, como; padaria, farmácia, lanchonete, igreja
Em frente a casa do aluno.
Um fato marcante na sua vida, como um assalto, um acidente
Lazer no bairro, andando de bicicleta, jogando bola.
A noite no churrasquinho da esquina, em uma pizzaria.

Índio Tapuia , desenho de


Evaldo Oliveira .
Estudo de tipos de chapéus.

O aluno Arthur , criou este belíssimo


desenho onde ele brinca com os estereó-
tipos e as bandeiras de diferentes paises.
87

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Dicionários
Em uma festa, um show musical.
Cada aluno deve desenhar apenas uma cena, porém exijo no desenho a presença da figura
humana, detalhes nas casas, caracterização das pessoas, animais, meios de transporte, enfim, que
procurem expressar em seus desenhos as coisas que estudamos neste livro.

O desenho da cena do bairro é um espécie de teste, pois, neste momento, podemos observar
se os alunos modificaram a sua forma de desenhar, podemos comparar os primeiros desenhos com
os atuais e avaliar quais mudanças ocorreram, que novos elementos da representação gráfica foram
incorporados, incluídos no repertório visual de cada aluno. Podemos então constatar os resultados
e os benefícios das seqüências do Método Cacimba. Salientando que é importante o professor levar
em consideração na sua avaliação a forma particular de cada pessoa de desenhar.
O professor que desejar, deve solicitar que os alunos sempre realizem redações sobre o trabalho

TUBARÃO - É um
animal carnívoro
e muito perigoso.

que estão produzindo. Devem registrar todo o processo desenvolvido, analisando o seu grafismo, as
modificações que ele sofreu, as alegrias, as decepções, as supressas e os resultados alcançados.
Escrever todo dia, como propõe Ziraldo, qualquer coisa, como por exemplo um diário, é uma
atividade importante na fase escolar e possibilita o desenvolvimento pelo ato da leitura. Solicito ao
alunado que produzam um diário da Arte, onde eles registrem o que viu relacionado a arte naquele

J JOÃO REDONDO - BONE-


QUINHOS PARA BOTAR
NAS MÃOS E BRINCAR DE
FAZER TEATRO.
88
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

Cenas do Bairro
dia. Ler e escrever devem ser metas constantes dos educadores
Por fim, o professor pode organizar e realizar uma exposição com os trabalhos dos alunos. Se
possível com uma abertura festiva e que os alunos contem com a presença da família e dos amigos
do bairro.
Ao final de um semestre ou um ano, dependendo do ritmo da turma e das interferências ou
de novas propostas que sempre surgem, como também da forma como cada professor adapta esta
proposta às suas práticas, poderemos observar as mudanças que ocorreram nos desenhos dos alunos e
a postura com relação a forma como
eles encaram a Arte.
Talvez, após realizarem estes
desenhos os alunos passem a dizer:
-Minha casa é bonita.
-Minha rua é muito bonita.
-Eu sou um cara bonito.
-Puxa !, como o mundo é in-
teressante, por que eu não via como
tem tanta coisa para conhecer.
-Como existem coisas erra-
das, que precisam melhorar, quanta
injustiça, como têm pessoas tristes
e sem um sentido para suas vidas.
Seria realmente muito bom.
Gostaria realmente que o desenho
despertasse nas pessoas uma nova
forma de encarar as suas vidas. E
que jovens tão brutalizados por
uma cultura consumista, que lhe
impõe modelos estranhos a sua
realidade, baseados em valores que
não respeitam o mundo em que eles
vivem, o seu mundo mais próximo,
sua intimidade familiar, sua rua, sua
comunidade, seus amigos, mas uma
realidade imaginária, idealizada
como adequada segundo padrões
que possibilitaram através do con-
sumo de determinados bens e de
89

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
90
91

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


92
atitudes a serem seguidas, o alcance de uma felicidade idealizada.
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

Este processo de acomodação cultural realizado através de uma publicidade mentirosa e


convincente, torna nossa juventude, presas fácies para pregadores oportunistas, políticos espertos,
sujeitos crentes na lei do mais forte e do mais rico como única solução de sucesso na vida, pessoas
sem rumos, sem destinos, sem senso crítico, sem leitura da sua própria vida, sem uma identidade
cultural própria, mais uma copia mal feita de algo que muitas vezes ele nem compreende o que é.

Depois de realizar tantos desenhos é possível que muitos alunos sintam o desejo de se aprofundar
nos caminhos da Arte e queiram se tornar artistas, aviso que o caminho é longo e as vezes penoso,
cheios de incompreensões, desgostos e revolta, porém também fonte de prazer, sucesso e realizações.
É importante que eles saibam que o oficio da Arte exige dedicação, estudo e conhecimento.
Afinal, será se todos artistas conhecem o seu ofício? Ou, apenas sabem usar melhor do que
outras pessoas determinadas técnicas?
Porque, de que adianta um artista que tem um bom domínio da técnica, mas não conhece o
seu papel?
Papel este que veio sofrendo transformações ao longo do tempo, seja o artista como um filósofo
de seu tempo, como um observador e crítico da sua realidade, como um educador, um transmissor de
idéias e histórias moralistas para novas gerações, um homem que aponta caminhos.
O artista cumpri o papel de sonhador, um mágico, criador de novas formas ou de interpretações
dos símbolos dos rituais religiosos. O artista tem seu trabalho, sua obra, guiada pela sua ideologia, fruto
de sua vivência, suas leituras, sua forma de entender o mundo.
93
Segundo Diderot, escritor francês, celebre pela criação da sua famosa enciclopédia e estudioso

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


da arte no século XIX, “O artista dispõe apenas de um instante para ver a vida, sentir e representar
são a os limites extremos da arte, para isso ele deve aprender a ver e isto implica em aprender falar
sobre o que vê e usar sua arte como ferramenta para tornar a virtude amável, o vício odioso, o ridículo
respeitável, eternizar as boas ações, aterrorizar aos tiranos e alertar aos soberanos e à plebe sobre o que
se deve se esperar desses pregadores sagrados da mentira. O artista deve estar ao lado dos educadores
e dos consoladores dos males da vida”.
Ser artista, viver de seu oficio, é diferente de fazer Arte, embora muitos confundam as duas coisas.
Acredito que o desenho é uma fonte de conhecimento, pelos seus sutis caminhos, que levam
à diferentes aprendizagens.
Acredito na experiência, na ousadia de se buscar novos caminhos, acredito no valor do desenho,
na sua magia. Esse foi um caminho que trilhei e que venho utilizando em sala de aula. Como falei
antes, uma seqüência de atividades, onde muitos exercícios são de práticas corriqueiras nas aulas de
Arte. Porém, não organizadas nesta forma, ela com certeza apresenta resultados, como os exemplos
aqui expostos e espero que possa contribuir para a melhoria do ensino da Arte nas salas de aula.
Valorizar o desenho é uma necessidade, é uma reação ao desinteresse e a desilusão que muitos
jovens apresentam ao se dirigirem as aulas de Arte. Afinal, desenhar faz parte da infância.
Talvez desenhando, brincando de ver o mundo de uma outra forma, eles possam adquirir a
capacidade de imaginar, de criar e sonhar com um novo tipo de mundo, com uma outra realidade,

Davi - 15 anos
94
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

Quais as funções de um artista?


onde ele esteja como sujeito, como herói da sua própria história.
Em seu artigo “ A cultura visual no ensino da Arte Contemporânea :singularidades no traba-
lho com imagens “, publicado no informativo Arte na Escola n º45, Erinaldo Alves do Nascimento,
ressalta que “ A principal tarefa de atuação do professor de ensino da Arte comprometido com
a cultura visual é possibilitar condições para que a escola forme sujeitos com uma capacidade e
disposição para compreender muito bem o que foi feito no passado e que ainda é preciso ser feito
para mudar ou preservar no presente e que agindo desta forma podemos contribuir para a formação
de sujeitos menos obedientes, mais questionadores e críticos, pessoas com a capacidade de serem
autores e criadores de si mesmos, com queria Nietzche – SUJEITOS ÚNICOS E IRREPETÍVEIS “.
Assim também é a proposta deste livro, que cada aluno mesmo seguindo uma seqüência
coletiva de desenhos, façam trabalhos que serão ÚNICOS! ninguém REPETIRÁ suas criações e
nem ele a dos outros.
Ao finalizar, espero que todos que realizaram os exercícios aqui propostos, tenham se divertido,
gostado de desenhar, brincado um pouco com esta fascinante atividade criada pelo espírito humano.
Caso não tenha conseguido alcançar os resultados que imaginou, não seja tão rígido consigo
mesmo, tenha calma, refaça alguns exercícios, crie novos, acredite na prática e que com o tempo,
estes resultados surgiram. Pois, o bom em arte é que no final tudo dá certo.
LUIZ ELSON DANTAS

Nasceu em Angicos ( RN), no dia 23 de Agosto de 1963, É licenciado em Educação Artística,


com habilitação em artes plástica pela UFRN e especializado em Teoria da Arte pela UFPE. Estudou
desenho com o artista Aucides Sales e pintura com Jomar Jackson.
Francisco Iran.
95

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Conclusão
É desenhista de história em quadrinhos, membro do Grupo de Pesquisa e História em Qua-
drinhos, onde editou com o grupo, a revista MATURI, o suplemento cultural, “O Cascudinho”,
semanalmente por 2 anos no jornal o Poti.
Realiza trabalhos com as técnicas da pintura á óleo, acrílica, aquarela e já participou de varias
exposições coletivas.
É professor de Artes na rede pública Municipal e Estadual, já trabalhou nas escolas particulares
Henrique Castriciano e Encanto. Todas em Natal (RN).
Ministrou cursos de desenho e pintura na Escolinha de Artes Newton Navarro, na Cidade da
Criança, durante dez anos, também foi professor do Atelier Central, Escola de Artes que funcionou
nos anos 90 pela Secretaria Estadual de Educação.
Também trabalha organizando projetos culturais, eventos artísticos e peças teatrais participou
da criação do texto e como ator do filme Cartas na Mesa, dirigido por Carlos Tourinho e roteirizado
por Geraldo Alburquerque.
Atualmente trabalha na Biblioteca Prof. Américo de Oliveira, na Zona Norte de Natal.
Entrem em contato conosco
Luiz Elson Dantas
Fone : (84) 3214-6374 - 8829-7191
E-mail: luiz-elson@hotmail.com
professorluizelson@ig.com.br
REFERÊNCIAS

ARNHEIN, Rodolf. Arte e Percepção Visual: uma psicologia da visão criadora. São Paulo; Pioneira,
USP, 1980.
AZENHA, Maria da Graça. Construtivismo de Piaget a Emilia Ferreiro, 7º Ed. São Paulo: Ática,
1999.
BARBOSA, Ana Mae T. B. Arte Educação:conflitos e acertos. São Paulo: Max Limonad, 1984.
( ARTE/MaxLimonad. )
CARREIRA, Eduardo-Os Escritos de Leonardo da Vinci, Sobre a Arte da Pintura/ Eduardo
Carreira (organizador) – Brasília: Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do
96
RELAÇÃO DOS CRÉDITOS DAS ILUSTRAÇÕES. Allison, Joelma, lílian, Joelma Silmara, Ataniel, Solange,
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

Hudson, jéssica Janine, Clecio, Ednaldo, Maria Soraide,


Infelizmente, não poderei colocar o credito ao lado Raiane Apolinário, Alana Mycaely, kellen, lindenberg,
do desenho, por que, quando recolhi alguns desenhos não lais Eunice, Hallen, joiran Cleiber, Luana, Beatriz, Luis
solicitei a identificação completa do aluno e há páginas em Felipe, Jose Adriano, willy, Felipe Talita, Rayane, Felipe
que estão desenhos de vários alunos, por isto estou apenas Dantas, Maira williane, João Paulo Emerson, Issac, Nitiery,
listando os nomes de todos. Felipe Fonseca, Carlos Eduardo, Cleidjane, Iara, Jucimara,
Carlos Eliabi, Lucas, Diego, Denílson, Arthur Suyane, Djackson, Ítalo, Julia karla, Lea Marques, Maxuell,
Constatino, Natahany Andressa, Kleion Rolemberg, Julio Augusto Sergio, jose Adriano, Pettros, Ana Maria, Brenda
Cesar, Romilson, Jhonatan Nascimento, Aldrey, Regi- Roseane Apolinário, liedson, Vinicius Dantas, Leonardo
vaneide, Elizama, Felipe Diego, Tony, Franklim, Bruce, Canário, Laís Eunice, Aline Raissa, Sara,.

Desenho de Alex Barbosa


97

Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula


Luiz Elson ao lado da releitura de Picasso produzida por seus alunos de curso de pintura

Estado, 2000
COLL, CÉSAR e Teberosky Ana, Aprendendo Arte : conteúdos essenciais para o ensino
fundamental, , 1º edição São Paulo. Ed. Ática, 2004.
DIDEROT, Denis, Ensaios Sobre a Pintura; tradução Enid. Abreu Dobranszky –Editora UNICAMP
Campinas, 1993.
EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Seqüencial. Tradução Luis Carlos Borges. – São Paulo: Martins
fontes, 1989.
FISCHER, Ernst, A Necessidade da Arte, edição tradução Rio de Janeiro ZAHAR EDITORAES
1971 – 3º EDIÇÃO.
GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. 8º Ed. São Paulo: Ática, 1999.
GUIMARÃES, Leda Maria de Barros. Desenho, desígnio, desejo: sobre o ensino de desenho.
Teresina: EDUFPI, 1996; Tese –Mestrado-UFPI Orientador: Dr. Luiz Botelho Albuquerque.
LOWENFELD, Viktor. BRITTAIN, W. Lambert. Desenvolvimento da Capacidade Criadora.
Tradução. Álvaro Cabral. São Paulo :Mestre Jou, 1977.
MCCLOUD, Scott. Desvendando os Quadrinhos/ tradução Hélcio de Carvalho, Marisa do
Nascimento paro. São Paulo: MAKRON BOOKS, 1995.
MYERS, Bernard. Como Apreciar Arte – ( as belas artes enciclopédia ilustrada de pintura, desenho
e escultura). Royal College Art, Londres: Ed. Grolier – 69 edição, 1971. Londres.
NASCIMENTO, Erinaldo Alves. As Nomeações da Arte na Educação. Ensino e Sujeitos em
Maturação. tese Doutorado - Orientação geral – Dra. Ana Mae Barbosa. Orientação interconcurso
com UB) Dr. Fernando Hermandez.
OLIVEIRA, Jô. Explicando a Arte: uma iniciação para entender e aprender as artes visuais/ Jô
Oliveira e Lucília Garcez – Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
98
OSTROWER, Fayga. Universos da Arte. 7ª ed.
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula

Rio de Janeiro Campus, 1991.


PROENÇA, Graça. Historia da Arte. São Paulo;
editora Ática, 2003.
READ Herbert. O Significado da Arte. Lisboa:
Editora Ulisseia, 1960.
SUASSUNA, Ariano. Iniciação á Estética. 13º
edição, Recife: Ed. Universitária da UFPE, 1992.
VIGENS, Frances. Arte Abstrata e Arte
Decorativa. ( biblioteca salvat de grandes temas).
Rio de Janeiro: Saluart Editora do Brasil, 1979.
WOODFORD, Susan. A Arte de Ver a Arte,
Tradução Álvaro Cabral. São Paulo, Circulo do
livro, Zahar editores S. A, 1983.

Vinicius Dantas

Você também pode gostar