Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DESENHO
NA SALA DE AULA
Método Cacimba
Edição do Autor
Natal-RN, 2007
DESENHO
NA SALA DE AULA
Método Cacimba
Autor:
Luiz Elson Dantas
CDU - 37
CDU - 741.02
CONTATO:
Endereço: rua Guaramiranga, 2470 - Panatis I - Potengi - Natal/RN
Fone : (84) 3214-6374
E-mail: luiz-elson@hotmail.com
Apresentação
Vários são os livros que trazem informações e exercícios para
desenvolver a habilidade de desenhar. Este seria apenas mais um, se
não fosse destinado a auxiliar o professorado do componente curricular
Arte, na espinhosa tarefa de montar seu conteúdo programático.
Ora, desde o primeiro concurso público que se tem notícia, o
desenho é valorizado como instrumento para melhorar o ser humano.
Seu organizador, o sábio Confúcio (551a.c. à 479a.c.), incluiu o desenho
como uma das principais provas a qual se submetiam os candidatos.
Os séculos que se sucederam, após este concurso, demonstraram que
o sábio chinês tinha razão. Por este motivo, acredito ser indispensável
no programa curricular de formação do professorado de Artes, bem
como do destinado ao público estudantil, um espaço destinado ao
estudo do desenho.
A grande dificuldade do professorado é o domínio desta
habilidade, uma vez que não se trata de nenhum dom divino, mas de
uma prática possível e benéfica a todos os seres humanos, como hoje
é sabido, sendo utilizado com fins terapêuticos com comprovados
resultados, no tratamento de alguns distúrbios mentais.
Desenvolver esta habilidade é a que se propõe este trabalho.
Método Cacimba
Este roteiro de exercícios visa abrir o caminho da percepção
visual aguda e cognitiva, o domínio da coordenação motora, assim
como o raciocínio lógico.
O(A) professor(a) que deseje contemplar seu alunado com os
benefícios gerados pelo domínio desta habilidade, tem neste método
uma fórmula para aplicar primeiro a si mesmo, para depois desenvolver
um roteiro de conteúdos das suas aulas, junto ao seu público alvo,
baseado nas suas próprias experiências.
Aucides Sales .
Agradecimentos
Aos também amigos Lula Borges pela diagramação, Francisco Farias, Erinaldo
Alves do Nascimento, Socorro Santana , Miguel Everaldo, ao fotógrafo Jarly Barbosa,
Patrícia Michelly pela revisão e a todos que me apoiaram na produção deste trabalho.
em Natal, no ano de 1998, defendeu a necessidade É indicado para estudantes dos 7 aos 14
dos(as) educadores(as) e dos(as) professores(as) anos, faixa etária na qual se observa um bloqueio
de Arte escreverem suas experiências, eu resolvi no grafismo e a desvalorização do desenho.
realizar este trabalho. A idéia ficou amadurecendo. A idéia principal é a revalorização do de-
Porém, por muitos anos o artista foi mais senho em sala de aula. É uma reflexão de como
forte que o professor. E o meu foco de atuação era acredito que se possa dar um salto no desenvol-
a produção e edição de revistas em quadrinhos vimento do grafismo pessoal, de modo que, todos
sobre a cultura e a história do Rio Grande do que estão em sala, possam mediante a realização
Norte. Um convite para realizar uma oficina para de desenhos simples, adquirir confiança para
estudantes de artes da UFRN, feita pelo Professor vencer os bloqueios de representação que se
Dr. Vicente Vitoriano me fez repensar a idéia de apresentam em determinadas pessoas. Através
organizar um trabalho no qual eu pudesse expor destes exercícios vamos agregar valor estético, ar-
minhas idéias sobre o ensino do desenho, às vezes tístico e conteúdo ao desenho que cada pessoa já
conflitantes com outros colegas educadores. realiza e enriquecer o seu estilo próprio. De modo
Outra importante motivação foi a leitura que possibilite a quem deseja e não consegue, a
do livro, “Desenho, Desígnio e Desejo: sobre o realização de um desenho de intenção realista.
ensino do desenho”, da professora Dra. Leda Estimular o gosto pelo desenho, fazer
Guimarães. Neste Livro, ela sugere, com clareza com que o alunado seja levado a desenhar um
e objetividade, que se façam revisões sobre os pouco mais nas escolas. Este é o meu principal
caminhos trilhados no ensino do desenho e que objetivo.
se busquem formas de superar as dificuldades, de Também é meu desejo estimular a paixão
se formular novos caminhos. pelo ato de desenhar e fazer que as pessoas se re-
Este livro propõe uma seqüência de ativida- conheçam em seus próprios desenhos e expressem
des com uma abordagem diferente sobre o ensino com mais beleza, emoção, precisão e habilidade
e aprendizagem do desenho. Partindo, então, as características visuais da sua cultura.
do que o alunado já sabe, do que já se desenha, A utilização do desenho como fonte de co-
15
não são para serem copiados ou reproduzidos. caneta. O importante é não criar empecilho
O leitor deve fazer os seus próprios desenhos, à realização das tarefas em sala de aula e não
seguindo as orientações e as sugestões que são dar oportunidades de desculpas ao alunado
apresentadas pelo autor. para não produzirem. É importante dar opor-
Acho importante que o(a) professor(a) que tunidade a quem realmente não tem o material
pretenda usar essa proposta em sala de aula, faça devido às suas condições econômicas.
primeiro, ele(a) mesmo(a), todos os exercícios, Os desenhos apresentados são de alunos
pois é isto o que este livro é: um livro de sugestões (as) que durante os anos de 2004 e 2005 fre-
de desenhos. É uma descoberta individual, apesar qüentaram as minhas aulas de Arte, na Escola
de ser uma proposta de seqüência coletiva, pois a Municipal Profº Waldson Pinheiro. Foram na
idéia é utilizá-la em sala de aula com todo o alu- maioria, realizados na própria sala de aula, alguns,
nado, mesmo considerando, muitas vezes, turmas como tarefa realizadas em casas. As turmas eram
com até 50 alunos(as) como é bastante comum. compostas por alunos(as) de 5º a 8º, entre 9 e 18
Eu proponho que o professorado oriente anos. Alguns poucos são de alunos(as) que estu-
o alunado para adquirirem o material básico daram com o autor em outras escolas e ateliês nos
para realizar qualquer desenho: lápis, papel, últimos anos. Também temos desenhos realizados
borracha, régua e apontador. Um caderno de pelo autor e de amigos, artistas potiguares.
desenho pode ser adquirido, mesmo do mais Antes de iniciamos a parte prática do
simples, aquele com arame na lateral. Entre- método, acho importante uma exploração teórica
tanto, isto não é primordial. Pode ser utilizado e algumas definições, sem nos aprofundarmos
o próprio caderno pautado usado no dia a dia, demasiadamente, pois não é o objetivo deste
ou o fichário. Da mesma forma, se o alunado trabalho sobre o ato de desenhar.
não comprar o lápis grafite, pode utilizar a Neste breve histórico convido os colegas
17
funde pelos recém criados cursos universitários alunos sejam capazes de conhecer características
destinados à formação dos professores de educa- fundamentais do Brasil, nas dimensões sociais,
ção artística, fomentando um novo mercado de materiais e culturais”. Por que muitos trabalhos
trabalho. de Arte expressam questões humanas que falam
Estes cursos universitários foram orga- de coisas que contribuem para construir pro-
nizados com corpos docentes bem heterogêne- gressivamente a noção de identidade nacional e
os. Devido a falta de profissionais preparados pessoal e o sentimento de pertinência ao país.
para exercer estas funções, foram convidados Apesar de todo este avanço na valoriza-
muitos “amigos “ e artistas simpatizantes do ção da Arte, muitos educadores contemporâneos
regime militar ou parentes de políticos gover- e artistas, ainda acham que é atual copiar, repro-
nistas, pessoas sem sensibilidade social, apo- duzir a arte feita “lá fora”, pois ela é a única forma
líticos e sem formação acadêmica e artística. de beleza aceitável.
Muitos apenas tinham um vago conhecimento Então, é importante questionar, até que
sobre a disciplina que iam ministrar, pois eram ponto o despreparo de alguns professores influen-
professores de outras matérias. Outros eram ar- ciou na redução do espaço que o desenho tinha
tistas medíocres, porém serviam aos interesses na escola.
da ideologia política no poder. Alguns artistas Que espaço o desenho tem hoje, depois
também foram convidados. Destes, alguns deste processo todo?
poucos foram porque mereciam e conheciam A principal crítica que se faz ao ensino
o seu oficio e pelo papel que desempenhavam do desenho realista é a de que os métodos aca-
na sociedade. dêmicos geram a formação de copistas e que
A Educação Artística não era conside- todos reproduzem de forma igual o modelo que
rada uma disciplina “séria “, mas uma atividade estão desenhando. Então, o que dizer das obras
complementar destinada a desenvolver a criativi- de muitos artistas de hoje. Observamos toda uma
dade, a individualidade, atitudes e hábitos sobre geração de copistas em série, obras que se não
o uso de materiais, técnicas e instrumentos de fossem pelas diferentes assinaturas, era quase
arte. O professor devia ser polivalente e conhecer impossível saber a sua autoria.
o conteúdo de Teatro, Música, Artes Plástica e
Desenho Geométrico, novamente valorizado,
devido ao estímulo dado para o ensino profis-
sionalizante, pela política educacional instituída
pelos militares.
Nos anos de 1980, novas metodologias
educacionais são difundidas em congressos e
encontros de educadores, que agora se organi-
zam em entidades de classes e buscam o estudo
e fundamentação teórica mais consistente para o
desenvolvimentos de suas práticas pedagógicas.
Agora com a lei 9394/96, a Arte é con-
siderada disciplina obrigatória na Educação
Luiz Elson - Coletiva - acrílico sobre tela
uma representação livre de modelos. Vejam que Afinal, apesar desta quase ditadura, sem-
contraditório, em nome da liberdade de expressão pre teve pessoas que buscavam a intenção realista
se tira o direito de se aprender a desenhar com a em seus desenhos e porquê?
intenção realista. A professora Dra. Leda Guimarães, em
Entretanto, a falta de determinados conhe- seu livro Desenho, desígnio, desejo:sobre o en-
cimentos e até um certo pedantismo, além de uma sino de desenho, 1996, pág 129, assim expressa
dose de prepotência de muitos artistas e educado- sua opinião: “ Na tradição ocidental os critérios
res, foram responsáveis por toda uma geração de de representação visual são herdados dos gre-
artistas tão diferentes e tão iguais, que, por não gos, que instauraram na arte procedimentos de
terem estudado muitos meios e técnicas de repre- contínua superação de meios de representar o
sentação que produzem uma melhor compreensão visível de forma narrativa, ilustrativa, ilusionista.
da forma de uma figura, além de outros recursos Essa tradição, que se afirma no renascimento e
de desenhos, nos acompanha
acabam produ- até hoje, é calca-
zindo obras de da em modelos
qualidade técni- e esquemas que
ca e artística pri- servem de esteio
mária, simplista, para a represen-
sem acabamen- tação, mas como
to, ou esmero na é própria da civi-
sua confecção. lização ocidental,
Assim, tornan- esses modelos são
do-se repetitivos sempre supera-
em seus temas dos em favor de
e nas formas de soluções consi-
representação derando-as mais
de seu trabalho. apropriadas para
A valori- o momento”.
zação só do lúdi- A moderni-
co, do processo do fazer por fazer, não levou em dade também possibilitou a formação de todo um
consideração as outras funções do desenho, di- grupo de atividades artísticas, como a publicida-
ferentes funções que ele acumulou com as trans- de, a atividade gráfica e ilustrativa, as histórias em
formações que a sociedade sofreu, como ser uma quadrinhos, as vinhetas e comerciais da televisão
forma de linguagem e comunicação que interage e os desenhos animados que se desenvolveu à
com pessoas de todos os níveis culturais, trocando margem destes ensinamentos, estas atividades
idéias das mais simples às mais complexas. eram produzidas por artistas voltados para tra-
Sem títulos, sem identidade, persegui- balhos de ordem mais prática. Estes artistas que,
dores de um pioneirismo infantil, defensores de pela necessidade de trabalho e pela vivência não
uma sensibilidade sem conteúdo. Assim muitos ligados aos círculos de consumo de Arte, tiveram
artistas que se declaram atuais, modernos, na ver- que buscar um outro caminho, o da união dos
dade revelam-se como pessoas conservadoras que conhecimentos acadêmicos, com suas regras e
não desejam modificar situações. Por este motivo suas normas, com as constantes experiências
acho que a arte não deve ser um canal no qual só formais dos Modernistas.
se pode valorizar a visão do artista, baseando-se Recentemente, o desenho volta a ser valo-
no seu gosto pessoal e no seu mundo particular. rizado devido a vários motivos, um deles, possivel-
Claro que isto é importante, mais impor seu gosto mente, é a explosão da era da informática, com sua
pessoal a todos, eu acho um exagero. rede mundial virtual e seus milhões de usuários,
Hoje, felizmente, muitos educadores têm que se comunicam através de imagens, ícones
23
de um mundo novo, ainda em construção. protagonizado, de um lado, por professores(as)
O que é desenhar?
Quando perguntamos ao alunado se sa- nados desenhos, como no estudo da
bem desenhar, observamos as mais diferentes anatomia, perspectiva e proporção, na
respostas. Alguns afirmam que são capazes de representação da figura humana, exige
copiar “igualzinho” qualquer desenho, outros a obediência a regras que foram cons-
afirmam “olhar para uma pessoa e desenhá-la truídas e se mostraram eficazes.
tal qual está vendo”. Já outros revelam que não b) Um pensamento: desenhar é uma idéia
gostam e que não conseguem desenhar nada, nem representada visualmente, é a represen-
uma bola, porém, quando solicitados a fazerem tação da idéia. O desenho torna visível
qualquer desenho, repetem certos padrões. A a idéia, pode ter uma forma conhecida
maioria não reconhece a arte abstrata como um ou ser uma abstração.
desenho, chamam de borrões, riscos, doidice ou c) Uma linguagem: O desenho sendo
coisa pior. Quando assumem que não sabem de- uma criação de símbolos, códigos com
senhar é porque não conseguem representar uma formas e conteúdos compartilhados
imagem de acordo com os padrões do desenho por um grupo, às vezes compreensíveis,
com a intenção realista, seus desenhos, dizem, outras experimentais, oníricas. É uma
não ficam parecidos com as coisas, os objetos linguagem própria, composta de vários
que eles querem representar. Assumem que não elementos visuais de natureza útil, cien-
sabem desenhar “direito”, mais como veremos tífica e técnica.
nos capítulos seguintes o que é desenhar direito? d) uma Arte autônoma – Desenhar é
Afinal, o que é desenhar? uma forma de beleza em si mesmo, uma
Se formos buscar no dicionário o significa- criação artística, uma manifestação
do da palavra desenho, já teremos assunto para da imaginação e da inteligência, da
uma boa aula. Os conceitos existentes convergem criatividade humana. É um reflexo da
para as seguintes definições: individualidade, alem de algo que gera
prazer e alegria.
a) Uma habilidade: desenhar é uma ha-
bilidade e como uma habilidade, pode Então, é muito simples explicar que
ser ensinada e aprendida. É um meio não existe uma única resposta para o que é
de domínio de uma técnica, o que exi- desenhar. Como também é muito importante
ge uma certa repetição de um mesmo que se saiba que não existe um tipo CERTO
exercício, como o desenvolvimento da ou MELHOR de desenho, um jeito melhor
coordenação motora, útil em desenhos de desenhar do que outro, mais que existem
que precisam de uma mão treinada, que FORMAS DIFERENTES DE DESENHAR,
possibilite ao artista controle nos seus todas belas, igualmente.
traços. Também a prática de determi-
25
Luiz Elson
Josian
Principais motivos que os artistas usam para desenhar
A arte tem sido usada para convencer, fazer Retrato - É uma imagem de uma pessoa da
pensar, explicar as razões, chamar a atenção para vida real ou imaginários, muitas obras são home-
temas importantes; como a denúncia da injusti- nagens ou registros comparação com o passado,
ça, o horror da guerra, descortinar e chocar as refletem a personalidade, o caráter e a expressão
pessoas mostrando as maldades cometidas pelo do retratado.
preconceito e pelas violências diárias, ou por fim Pintura de gênero - retratam cenas do co-
apenas para divertir. tidiano, a vida diária com suas alegrias e tristezas,
Deve o estudante buscar compreender que atividades com cenas do dia a dia.
muitas obras de arte representam em seus temas História e mitologia - são obras que
a sua época, o pensamento coletivo ou individual descrevem histórias com os heróis, batalhas, a
que retratam os anseios de um povo. A busca pelo vida na corte, seres fantásticos, deuses, eventos
entendimento de coisas comuns a todos, como a históricos e histórias que formaram a cultura de
morte, a vida, o amor. E que estas representações um povo.
têm um significado diferente a cada cultura e em Imagens religiosas - são obras que repre-
cada época. sentam os símbolos, os ícones de uma religião, os
Selecionamos alguns motivos que freqüen- principais deuses, espíritos, superstições e a arte
temente são utilizados pelos artistas em suas muitas vezes e voltada para fins mágicos,
obras. sagrados. Também são as criações de toda
icnografia pictórica da cultura cristã com suas
Natureza morta - composição com obje- histórias de santos e da vida de Jesus cristo.
tos, frutas, organizados aparentemente de forma Decoração - imagens criadas com o obje-
casual tivo da harmonia estética entre seus elementos
Paisagem - obras onde a natureza é a internos de uma obra na busca da beleza.
mestra da beleza, o artista procura representar O artista recria, estiliza imagens que tornar
a atmosfera dos lugares, descrever, documentar, os ambientes, as coisa e as pessoas mais atraentes.
registrar locais onde hoje podemos observar as
mudanças de um mesmo espaço ao longo do Vamos à prática.
tempo.
Carlos Alberto
Luiz Elson
Nilson
27
As mais diversas representações surgem. Daí, já começo a indagar por que se desenharam tantas
imagens diferentes do sol. Se todos ao olharem para o sol, vêem a mesma imagem de um círculo?
Falo do modo de representar individual, do grafismo pessoal, do jeito particular de cada um de
desenhar e que vários fatores interferem em sua visão do mundo, que sua memória visual é inerente à
sua experiência de vida e tem a ver com as condições e impressões que cada imagem lhe causa e afeta.
Explico que essas aulas propõem um caminho a se seguir, com a realização de atividades que
buscaram resgatar imagens de nossa memória, proporcionar um novo olhar sobre nosso meio e
aprender com os artistas, vendo como eles representaram determinadas coisas e a construir novas
formas gráficas de beleza. De acordo com o sentido
de beleza de cada um dos participantes.
Nesta primeira aula procuro iniciar o estudo
do desenho com o desenho de memória, buscando
resgatar as imagens que cada um guardou do que viu.
O primeiro exercício é desenhar coisas do
cotidiano. Vamos do mais simples ao menos simples.
Peço para desenharem dez tipos diferentes
de frutas.
A primeira constatação deve ser comentada
em sala é que, todos normalmente conseguem de-
senhar. E é impressionante a variedade de formas
apresentadas sobre uma mesma fruta.
Partimos então para objetos do dia a dia esco-
28
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
lar, que estão com eles no momento, como por exemplo lápis, caderno, livro, borracha, apontador,
lapiseira, caneta e mochila.
Então, logo após os desenhos comento sobre os resultados obtidos, incentivo a olharem os
desenhos dos colegas e os incentivo ao afirmar que todos, de modos diferentes, conseguiram fazer
seus desenhos, uns com mais detalhes, outros com menos, porém pequenas diferenças são notadas,
como por exemplo as particularidades entre objetos tão parecidos e com quase a mesma forma, como
o lápis, a caneta e a lapiseira.
Vejam, todos conseguiram, vocês são capazes de desenhar. Você pode, basta tentar, é só uma
questão de paciência. Falo das virtudes que o ato de desenhar proporciona, do desenvolvimento da
concentração, da atenção, que são tão importantes no momento da vida escolar. Falo do valor da
tarefa realizada, da idéia de caprichar, de dedicar um tempo maior, nas tarefas a ter mais calma, de
se buscar um acabamento, uma limpeza no desenho.
Nesse momento solicito que desenhem com mais detalhes, forçando assim mais a memória e
a percepção visual.
A memória deve ser exercitada do mesmo modo como nosso corpo, dizem muitos educado-
res, devemos solicitar dela um pouco mais de esforço. Solicito que se lembrem de objetos de uso
domésticos, aqueles que a maioria tem em suas casas, como geladeira, fogão, televisão, som e sofá,
29
claro que nem todos possuem estes objetos, mais já viram e com certeza estão guardados em suas
o dever de casa.
Solicito que desenhem de observação o aparelho de televisão da sua casa, ou um outro objeto,
olhem e desenhe olhando para ela, não façam de memória. Introduzo neste momento, o desenho
de observação, sem fazer comentários, ao qual deixo para depois. O desenho de um telefone, um
liquidificador, um ventilador ou um computador pode ser solicitado também. . .
Atenção: não esqueça de ir realizando os seus desenhos e não copiando os dos alunos que
ilustram este livro.
Na aula seguinte corrijo de carteira em carteira os trabalhos realizados. E continuo a nossa
todos conseguiram realizar as tarefas que solicitei, então, vocês já sabiam desenhar ou é porque não
tinham tentado desenhar. Só repetiam sempre os mesmos desenhos?
Muitas vezes achamos que não sabemos ou não temos capacidade para fazer determinadas
coisas, mas, na verdade, é que, às vezes, estamos condicionados a não tentar, a não experimentar, a
não criar novos caminhos. E como não nos propomos a não tentar, não realizamos nenhuma ação
em direção para aprender coisas novas.
É importante que compreendamos que simples resultados podem conter grandes avanços e
que desenhar abre janelas para o desenvolvimento de atitudes significativas para o aprendizado.
Entramos em outra fase: a da ampliação do repertório visual e da criação de novas formas a
partir dos padrões ou esquemas estereotipados que a maioria já possui e usa sempre que desenha,
como por exemplo, o desenho de uma árvore. Normalmente, quando solicitamos o desenho
32
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
A unidade na variedade
de uma árvore, surge sempre a famosa e clássica
árvore de maçã. O condicionamento imposto na
infância surge com toda sua força, reflexo do au-
tomatismo que leva à repetição da mesma forma
e nos condiciona a repetir a mesma resposta.
Então, quando peço para que desenhem
três tipos de arvores diferentes, como, por exem-
plo, um coqueiro, uma bananeira e um cajueiro,
as dificuldades se apresentam. Porém, muitos já
têm menos medo de errar e fazem suas represen-
tações com mais detalhes. Quando buscamos a
Desenho de casas
como a existência de orelhões, postes, calçada, não sabem, pois todos conseguem realizar estes
cercas ou outras formas de construção que são desenhos olhando do quadro.
agregadas na paisagem urbana. Esta abordagem Devemos observar a posição do telhado em
inicial, que desenho no quadro da sala de aula e vários ânulos e o estudo das telhas.
que é copiada pelos alunos, serve para que eles Depois, solicito que desenhem de memória,
percam o medo de tentar desenhar a sua casa a frente, a fachada da sua casa, com todos os
de memória, pois adquirem confiança, já que detalhes. E no final da aula, como dever de casa,
normalmente todos conseguem copiar do quadro. solicito que desenhem novamente a frente da sua
E já não devem reclamar, ou dizer que casa, só que de observação.
37
Na aula seguinte, fazemos a comparação entre os dois desenhos, o que foi feito em sala de
le c r ia a atmosfera
omo e eleza únic
a.
s t a q u e , observe c de u m a b
de de flexo ra ou
elemento ada instante é o re a a uma praia, ser
ac de,
da cena e s c o la s e ja próxim acterístico da cida
Caso a e á
al car
fico natur para estudos.
e g e o g r s
ent
outro acid ém servir de mod
elo
s e u a m biente, o
mb elhor o rítica
podem ta dito que, ao ver m uma visão mais c as
Acre lver as n
m c r ia r e desenvo ar tantas diferenç
d e ta t
alunos po , porque, ao cons
a d e
da realid
Aluno Leonardo Canário pintando no Teatro Alberto Maranhão.
41
formas, pode-se ter curiosidade de saber o porque. Por que as favelas e os condomínios fechados?
A figura humana
ao não conseguir que seu desenho fique parecido Porém, muitos artistas buscam um efeito
com o que está copiando ou se está desenhando mais realista, mais fotográfico em seus desenhos
um retrato e alguém faz um comentário tal como, e só se consegue isto com tempo, disciplina e
“ah ! não está lembrando fulano”, o desgosto e a dedicação, após uma, prática constante que de-
frustração levam muitos a acharem que seu dese- senvolver certas habilidades manuais. Esta forma
nho esta feio ou que nunca vão saber desenhar, ou de desenhar é possível a todos que se dediquem ao
até que isto é um dom de Deus. Em alguns casos, estudo de determinadas técnicas. O problema é
perde-se o interesse pelo desenho e se abandona que a maioria das pessoas não teve oportunidade
esta nobre arte. Que tragédia! de aprendê-las, ou tem preguiça de estudar.
Cabe ao professorado evitar essa crueldade, Vamos então transmitir algumas noções
na medida do possível. Neste momento, com sua que facilitem a superação deste desafio e orientar
experiência, deve trazer reproduções de várias para os que desejam que seus desenhos de retratos
obras de arte com imagens de como os artistas
representaram a figura humana em vários estilos
e épocas diferentes e explicar que cada jeito de
desenhar a figura humana tem sua beleza, que
não existe uma forma melhor do que a outra, mas
formas diferentes de se ver a beleza.
Desenhar exige estudo e quem deseja
ser um bom desenhista deve praticar muito,
pois determinados resultados só se consegue
com muita observação, paciência e o domínio
do manuseio do material adequado. Saber usar
bem os materiais que proporcione um sombreado
correto é tornar possível, ou seja, se dar melhor fiquem m
caracterização, mais vida as pessoas retratadas. retratos qu
Lembre-se que grandes artistas construíram es-
tilos próprios, formas particulares de representar
a figura humana, outros destruíram a forma e a
reconstruíram, como Picasso e o Henfil que era
um dos maiores desenhistas do Brasil, desenhava
seus personagens quase que como uma caligrafia,
como um ato da sua escrita, impossível de ser
copiado.
Desenho baseado em obra de Picasso
43
artistas ou que as pessoas que
Desenho de Geniere
novas linhas até conseguir a idéia de volume. Dê especial atenção a linha que separa o lábio superior
do inferior.
NARIZ –partindo de dois pontos, vamos construindo outras formas de representação. Observe
que o nariz modifica seu desenho de acordo com a posição que o vemos.
ORELHA – uma elipse pode ser o ponto de partida do nosso desenho.
Depois, eu junto tudo explicando muito superficialmente as proporções entre as partes que
compõem o rosto. Então, peço que desenhem um rosto de um homem e de uma mulher, para que
45
comparem coisas sutis como a forma da boca, sobrancelhas, olhos e cílios.
quadrado, triângulo e o retângulo até as formas irregulares como o formato de uma pêra.
Solicito que de desenhem 10 tipos de rostos diferentes. Aqui também podemos acrescentar uma
Por fim, podemos acrescentar adereços como óculos, brincos, tiaras, lenços e chapéus.
Nesta fase de estudos, o alunado já adquiriu as noções das proporções que existem entre as
várias partes do rosto e poderão obter a intenção realista que desejam em seus desenhos.
Depois que muitos aprendem a desenhar o rosto como se fosse um tipo de boneco, vamos pro-
curar dar mais “vida” a esses desenhos, vamos observar as mudanças que ocorrem nas sobrancelhas,
47
olhos, boca e rugas, quando realizamos diferentes expressões.
a supressa e a desconfiança.
Peço que criem um per-
sonagem e o desenhe com estas
expressões e com outras que
desejarem.
Ao criar um personagem,
procure desenha-lo de vários
ângulos, com diferentes ex-
pressões
Para concluir o estudo
da expressão, proponho que
se posicionem em frente de
um espelho e realizem vários
desenhos.
Quando estiverem mais
familiarizado em desenhar um
rosto qualquer, explico que
podemos usar vários esquemas
de construção na realização dos
esboços, desenhos preliminares,
que possibilitaram um novo
aprendizado e modificações na
forma de representação de seus
desenhos.
49
Deve o professorado oferecer informações e exemplos de obras de artistas que procuraram
Luiz Pinheiro
Leonardo Canário
Ivan Cabral
Cláudio Oliveira
tudante deve conhecer vários esquemas e escolher o que melhor lhe serve.
Depois, que todos copiam os exemplos, solicito que se desenhe um colega da classe. Enquanto
um desenha o outro serve de modelo.
52
Concluído o primeiro desenho, os alunos alteram as posições, normalmente, observamos a
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
retratos com a intenção realista, já estará mais preparado tecnicamente e com certeza obterá resul-
tados melhores do que alcançava.
O primeiro é o boneco de arame, baseado nos ossos do corpo humano. Depois acrescentamos a
idéia do corpo com volume, relembrando o desenho de um cilindro. Explico a idéia de transparência,
que fazemos nos esboços quando construirmos um boneco de cilindros.
O último esquema que solicito é o baseado nos contornos do corpo. Ele é realizado com traços
Geniere
Sara
Luana
Willy
Joiran
55
Depois tente desenhar copiando, apenas olhando a foto. Por fim tente criar imagens do corpo
humano sem olhar para nada, nem desenhos dos outros ou fotos, mais abstraindo as formas que você
conhece do corpo. O desenho é criado baseado nos estudos que você realizou.
Existem vários tipos de esboços para se desenhar mãos. Procure conhecer e teste muitos destes
esquemas, até encontrar um que lhe dê um resultado satisfatório, isto é algo muito pessoal. Aqui
demonstro alguns tipos. Observe as proporções e o volume entre as diferentes partes de uma mão.
57
Desenhe usando sua própria mão como
O estudante deve se dedicar ao estudo da anatomia, mesmo que de forma superficial, conhecer
os ossos e ao músculos, trarão aos seus desenhos uma beleza que é diferente dos que desenham sem
possamos observar a mesma figura em vários ângulos, os efeitos dos músculos e as mudanças que
59
sofrem a cada movimento
A utilização de estátuas de gêsso é um recurso que facilita o entendimento dos efeitos de luz, sombra
e volume no corpo humano. Prática frequente nas antigas escolas de arte e de comprovada eficácia.
62
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
Luiz Elson
na composição da obra.
Eles acreditavam, que estes estudos ampliava a capacidade de ver. Defendiam que o aumento
da inteligência visual, aumenta o efeito da inteligência humana e amplia o espírito criativo. Cabe ao
professor provocar experiências perceptivas que acionem os dispositivos mentais impulsionadores
da criatividade. Essas idéias tiveram influencias dos artistas Abstratos, da Psicologia da Gestalt, dos
concretistas e da Escola de Artes Bauhaus.
Artistas e educadores que procuraram ao longo do tempo criar uma síntese para a linguagem
visual, trabalharam desconstruindo as imagens, já bastante transfiguradas pelas idéias modernistas,
que de modo espontâneo já produziam obras tentando criar imagens que se libertavam das formas
semelhantes à realidade. Explorando novas e criativas técnicas, valorizando a livre expressão e a
emoção, os artistas chegam até a dissecar a imagem, reduzindo-a ao máximo, a buscar a beleza até
na menor particular de expressão visual, um simples ponto.
Aqui vamos seguir um caminho prático. Proponho o seguinte método de trabalho; durante
Luiz Elson
63
Inicio a parte prática com um exercício, Vemos nos exemplos a seguir as diversas
onde solicito que cada aluno crie três composi- formas de uso, seja agrupando, ampliando, orga-
ções diferentes, usando o elemento ponto como nizado sem limitar o número ou o tamanho dos
pontos usados, comento a diversidade de imagens
que surgem, pois apesar de usarem um elemento tão simples, temos inúmeras composições.
Os alunos se surpreendem com seus trabalhos. Relato de como a mente humana é ilimitada
em suas criações e como cada pessoa tem a capacidade de criar e pensar diferente dos outros e que
todos podem realizar o que pensam, mesmo que seja uma coisa tão simples, porem se não tem a
atitude de fazer, a ação de pelo menos tentar ampliar seu conhecimento, suas capacidades mentais
serão limitadas, por que eles mesmos se castram, se anularam. E que pequenas conquistas geram
confiança e com confiança se tem coragem para enfrentar novos desafios.
Linha o elemento linha define os contornos, é capaz de conferir volume e movimento à re-
presentação gráfica, gera e qualifica as superfícies.
As principais linhas podem ser a:
Retas- horizontal vertical e inclinada e linhas curvas.
As linhas podem se apresentar : finas ou largas, fortes ou delicadas, retas ou sinuosas, escuras
ou claras, contínuas ou quebradas.
São as linhas que definem e articulam as formas, transmitem sentimentos e sensações, repro-
duzem as texturas, determinam o movimento de um ponto em um espaço.
A linha é o elemento essencial do desenho, por isso é importante para o artista e para o estu-
dante de arte, saber usá-la com liberdade, para isto deve ter o domínio da coordenação motora, que
é conseguido com treino e repetição de exercícios. Exercícios esses que praticados com freqüência,
possibilitará aos artistas se ter habilidade para produzir traços de rara beleza e expressão.
O uso do próprio elemento, linha, como centro de uma obra, como foco do trabalho de um
artista é novamente demonstrado. Recorro à reproduções de obras de grande artistas para demonstrar
o valor que eles deram a linha e ao propor exercícios, veremos que as possibilidades de realização
são ilimitadas.
A ampliação da percepção das linhas, dos seus principais tipos, começamos a observar o seu
65
emprego nas coisas do cotidiano, contornado objetos, nas estruturas arquitetônicas, na decoração,
formas geométricas, solicito que façam as suas, usando inicialmente só uma figura, como por exem-
plo, realizarem uma obra só com quadrados ou só triângulos. Neste trabalho, se possível usamos
colagens de papéis coloridos. .
A variedade de composições e a beleza dos trabalhos que vão surgir impressionam aos alunos
e enche de satisfação o professor, pela constatação de que todos produzem belos trabalhos, de uma
harmonia e mistura de cores que emocionam. São formas que vão brotando e se materializando,
revelando a beleza da alma e dos corações, as vezes de alunos tão brutalizados pela vida. E que
guardam tão belos segredos estéticos em sua intimidade.
Levar exemplos de trabalhos de artistas com obras utilizando estes elementos visuais, além de
trabalhos de outros alunos ou do próprio professor. São formas de incentivo que devem ser sempre
utilizadas.
66
Sei que cada professor busca uma melhor maneira na realização da sua aula, sei que cada pú-
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
blico é diferente um outro do outro, mas, acho que nós professores devemos ter certos cuidados ao
organizar os procedimentos que os alunos vão realizar. Não deixe margem para erros, esteja pronto
para que se eventualmente os alunos esqueçam ou não tragam seu material, tenha uma solução
para que a atividade seja realizada.
Por isso, proponho que neste exercício, o professor trabalhe inicialmente com pequenos
Seguindo o conselho do mestre francês Cezanne, vamos após conhecer as formas sólidas bá-
sicas, construir outras figuras, a partir da união destas formas.
O desenho de uma circunferência deve ser feito passo a passo, podemos inicio partindo do
quadrado, até a construção de uma circunferência.
Depois de ter uma certa prática, tente desenhar usando apenas linhas básicas em forma de
cruz, observe sempre a linha de eixo.
Essa capacidade de criar, de transformar as figuras, possibilita que as pessoas possam desenhar
68
qualquer objeto e desenvolver o seu grafismo.
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
Depois, desenhamos uma elipse, refazemos o mesmo procedimento até treinar este traçado
livremente e dominar a figura com segurança.
Nunca despreze as partes não visíveis de um objeto, faça o desenho usando a transparência
nos esboços para desenhar com correção a idéia da tridimensionalidade dos objetos.
Inicialmente coloco alguns exemplos no quadro para serem copiados e demonstro que usando
as formas como esboços podemos ir construindo vários desenhos.
Após treinar os olhos e as mãos para ver e construir as formas sólidas básicas (cone, cilindro
e a esfera). Vamos começar a unir umas com as outras.
Pintura
70
COR- Transmi-
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
te emoções e também
tem um significado
simbólico. Os Artis-
tas usam a cor incor-
porando significados
associativos ou como
referência do que ve-
mos na natureza.
Inicio traba-
lhando com tinta
guache, como pri-
meiro exercício com
pintura proponho um
exercício coletivo,
71
de 45 a 50 minutos, depois quando já tiver mais prática com a utilização dos materiais, devem-se
propor trabalhos com tamanho maiores.
Também sugiro que caso o professor seja de escola pública e não possua sala ambiente para
trabalhar. Que ele providencie, tenha em seu poder todo o material, como: tintas, pincéis, papel,
panos de limpeza e paletas, de modo que o aluno não tenha motivos para não realizar os trabalhos,
alegando falta de esquecimento em trazer o material de casa ou condições de comprá-los. Também
deve ficar, pelo menos, no início das explicações da técnica, responsável pela distribuição das tintas,
isto evita desperdício e sujeira em sala de aula.
Acho importante demonstrar a técnica com calma com um exercício simples, para que o aluno
se familiarize com as possibilidades que a tinta pode proporcionar. Depois, acho que o professor pode
72
solicitar que os alunos realizem uma cópia de uma obra de
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
Antes de fazer um trabalho, uma obra, acho necessário explicar com exercícios práticos, a
importância dos seguintes elementos visuais que compõem um desenho.
Chapado - preenchimento de uma área com uma só cor de forma uniforme, em um só tom.
Desenho de carros
Acho que é importante que os alunos realizarem estes desenhos usando todo
o caderno, ou seja uma página por desenho, para podemos observar mais detalhes.
Para concluir, solicito uma visita ao estacionamento da escola para desenhar carros
que lá se encontram, exercício que fascina a muitos alunos.
Antes de ir ao estacionamento, realizo na sala de aula desenho no quadro
de esboços utilizando as formas geométricas sólidas. Desenho a forma básica de
um carro, vendo de frente, de lado e de três quartos.
A ampliação dos sentidos abre uma nova dimensão do conhecimento nas
76
pessoas, amplia a vontade de se aprofundar, de não se conformar com o resultado rápido, observamos
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
que, quando os alunos não estudam corretamente, eles iniciam seus desenhos e procuram concluir
logo o trabalho. Depois, o alunado começa a curtir o seu desenho, a detalhar, a dedicar mais tempo
a sua tarefa. O ato de desenhar, requer, assim como a matemática, muita disciplina, exige que
para se obter determinados resultados, disciplina em seguir orientações técnicas com rigor, obedecer
leis, seguir as seqüências lógicas e a se respeitar a continuidade de um processo até se chegar a um
resultado. Dá um certo trabalho, trabalho mental, às vezes unindo o esforço mental e o esforço físico.
Talvez por isto, muitos desistam tão fácil de aprender a desenhar ou acham o estudo da matemática
tão difícil. Não é a toa que hoje a maioria das famílias desestruturadas, compostas de pessoas sem
respeito próprio ou pelos outros, sejam de pessoas sem estudos ou de pessoas que não valorizaram
sua aprendizagem.
O objeto ou objetivo do
desenho pode se encontrar em
diversas posições quanto a linha
do horizonte.
77
Música
80
Peço que os alunos desenhem no quadro, cinco instrumentos musicais, depois explico as
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
famílias, os tipos de sons que emitem, que serão identificados através da audição de CD’s. Como
pesquisa solicito o desenho de outros instrumentos.
Criando símbolos
81
Trabalhar a escrita com seus alunos é hoje uma tarefa de todo professor. Conhecer os signifi-
cados e sentidos de uma palavra, possibilita usá-la com mais beleza e emoção. Saber contextualizar
uma palavra e com ela construir um conceito sobre qualquer assunto, são objetivos, que todos os
professores devem perseguir para que seus alunos realizem.
Neste sentido tenho trabalhado com a produção de dicionários, atividade onde os alunos
produzem o seu próprio dicionário. Cada aluno constrói o seu repertório particular de conceitos,
organiza desenhos, realiza pesquisas, colagens, diagramação e a confecção de um livreto.
No exemplo aqui exposto demonstro um trabalho que realizei em uma aula integrada com
ciências e português.
O aluno pesquisa e desenha a imagem, faz a leitura na sala de aula do conceito que elaborou,
84
os amigos e o professor discutem os seus argumentos. Depois o aluno reescreve o seu novo conceito.
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
O desenho da cena do bairro é um espécie de teste, pois, neste momento, podemos observar
se os alunos modificaram a sua forma de desenhar, podemos comparar os primeiros desenhos com
os atuais e avaliar quais mudanças ocorreram, que novos elementos da representação gráfica foram
incorporados, incluídos no repertório visual de cada aluno. Podemos então constatar os resultados
e os benefícios das seqüências do Método Cacimba. Salientando que é importante o professor levar
em consideração na sua avaliação a forma particular de cada pessoa de desenhar.
O professor que desejar, deve solicitar que os alunos sempre realizem redações sobre o trabalho
TUBARÃO - É um
animal carnívoro
e muito perigoso.
que estão produzindo. Devem registrar todo o processo desenvolvido, analisando o seu grafismo, as
modificações que ele sofreu, as alegrias, as decepções, as supressas e os resultados alcançados.
Escrever todo dia, como propõe Ziraldo, qualquer coisa, como por exemplo um diário, é uma
atividade importante na fase escolar e possibilita o desenvolvimento pelo ato da leitura. Solicito ao
alunado que produzam um diário da Arte, onde eles registrem o que viu relacionado a arte naquele
Cenas do Bairro
dia. Ler e escrever devem ser metas constantes dos educadores
Por fim, o professor pode organizar e realizar uma exposição com os trabalhos dos alunos. Se
possível com uma abertura festiva e que os alunos contem com a presença da família e dos amigos
do bairro.
Ao final de um semestre ou um ano, dependendo do ritmo da turma e das interferências ou
de novas propostas que sempre surgem, como também da forma como cada professor adapta esta
proposta às suas práticas, poderemos observar as mudanças que ocorreram nos desenhos dos alunos e
a postura com relação a forma como
eles encaram a Arte.
Talvez, após realizarem estes
desenhos os alunos passem a dizer:
-Minha casa é bonita.
-Minha rua é muito bonita.
-Eu sou um cara bonito.
-Puxa !, como o mundo é in-
teressante, por que eu não via como
tem tanta coisa para conhecer.
-Como existem coisas erra-
das, que precisam melhorar, quanta
injustiça, como têm pessoas tristes
e sem um sentido para suas vidas.
Seria realmente muito bom.
Gostaria realmente que o desenho
despertasse nas pessoas uma nova
forma de encarar as suas vidas. E
que jovens tão brutalizados por
uma cultura consumista, que lhe
impõe modelos estranhos a sua
realidade, baseados em valores que
não respeitam o mundo em que eles
vivem, o seu mundo mais próximo,
sua intimidade familiar, sua rua, sua
comunidade, seus amigos, mas uma
realidade imaginária, idealizada
como adequada segundo padrões
que possibilitaram através do con-
sumo de determinados bens e de
89
Depois de realizar tantos desenhos é possível que muitos alunos sintam o desejo de se aprofundar
nos caminhos da Arte e queiram se tornar artistas, aviso que o caminho é longo e as vezes penoso,
cheios de incompreensões, desgostos e revolta, porém também fonte de prazer, sucesso e realizações.
É importante que eles saibam que o oficio da Arte exige dedicação, estudo e conhecimento.
Afinal, será se todos artistas conhecem o seu ofício? Ou, apenas sabem usar melhor do que
outras pessoas determinadas técnicas?
Porque, de que adianta um artista que tem um bom domínio da técnica, mas não conhece o
seu papel?
Papel este que veio sofrendo transformações ao longo do tempo, seja o artista como um filósofo
de seu tempo, como um observador e crítico da sua realidade, como um educador, um transmissor de
idéias e histórias moralistas para novas gerações, um homem que aponta caminhos.
O artista cumpri o papel de sonhador, um mágico, criador de novas formas ou de interpretações
dos símbolos dos rituais religiosos. O artista tem seu trabalho, sua obra, guiada pela sua ideologia, fruto
de sua vivência, suas leituras, sua forma de entender o mundo.
93
Segundo Diderot, escritor francês, celebre pela criação da sua famosa enciclopédia e estudioso
Davi - 15 anos
94
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
ARNHEIN, Rodolf. Arte e Percepção Visual: uma psicologia da visão criadora. São Paulo; Pioneira,
USP, 1980.
AZENHA, Maria da Graça. Construtivismo de Piaget a Emilia Ferreiro, 7º Ed. São Paulo: Ática,
1999.
BARBOSA, Ana Mae T. B. Arte Educação:conflitos e acertos. São Paulo: Max Limonad, 1984.
( ARTE/MaxLimonad. )
CARREIRA, Eduardo-Os Escritos de Leonardo da Vinci, Sobre a Arte da Pintura/ Eduardo
Carreira (organizador) – Brasília: Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do
96
RELAÇÃO DOS CRÉDITOS DAS ILUSTRAÇÕES. Allison, Joelma, lílian, Joelma Silmara, Ataniel, Solange,
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
Estado, 2000
COLL, CÉSAR e Teberosky Ana, Aprendendo Arte : conteúdos essenciais para o ensino
fundamental, , 1º edição São Paulo. Ed. Ática, 2004.
DIDEROT, Denis, Ensaios Sobre a Pintura; tradução Enid. Abreu Dobranszky –Editora UNICAMP
Campinas, 1993.
EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Seqüencial. Tradução Luis Carlos Borges. – São Paulo: Martins
fontes, 1989.
FISCHER, Ernst, A Necessidade da Arte, edição tradução Rio de Janeiro ZAHAR EDITORAES
1971 – 3º EDIÇÃO.
GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. 8º Ed. São Paulo: Ática, 1999.
GUIMARÃES, Leda Maria de Barros. Desenho, desígnio, desejo: sobre o ensino de desenho.
Teresina: EDUFPI, 1996; Tese –Mestrado-UFPI Orientador: Dr. Luiz Botelho Albuquerque.
LOWENFELD, Viktor. BRITTAIN, W. Lambert. Desenvolvimento da Capacidade Criadora.
Tradução. Álvaro Cabral. São Paulo :Mestre Jou, 1977.
MCCLOUD, Scott. Desvendando os Quadrinhos/ tradução Hélcio de Carvalho, Marisa do
Nascimento paro. São Paulo: MAKRON BOOKS, 1995.
MYERS, Bernard. Como Apreciar Arte – ( as belas artes enciclopédia ilustrada de pintura, desenho
e escultura). Royal College Art, Londres: Ed. Grolier – 69 edição, 1971. Londres.
NASCIMENTO, Erinaldo Alves. As Nomeações da Arte na Educação. Ensino e Sujeitos em
Maturação. tese Doutorado - Orientação geral – Dra. Ana Mae Barbosa. Orientação interconcurso
com UB) Dr. Fernando Hermandez.
OLIVEIRA, Jô. Explicando a Arte: uma iniciação para entender e aprender as artes visuais/ Jô
Oliveira e Lucília Garcez – Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
98
OSTROWER, Fayga. Universos da Arte. 7ª ed.
Luiz Elson Dantas - Desenho na Sala de Aula
Vinicius Dantas