Você está na página 1de 11

Universidade Católica de Moçambique

Faculdade de Gestão de Turismo e Informática

A SEGURANÇA JURÍDICA

Pemba, Setembro de 2023


Universidade Católica de Moçambique

Faculdade de Gestão de Turismo e Informática

A SEGURANÇA JURÍDICA

Basalisa Mateus Trabalho de carácter científico a ser entregue e


apresentado a docente da cadeira de Direito
Cesário Albino
Bancário e dos Seguros do curso de
Licenciatura em Direito, 1o ano, período pós -
Consolata Vicente
laboral, para fins avaliativos.

Dr. Judião Zinocassa

Pemba, Setembro de 2023

2
Índice
1. Introdução............................................................................................................................................4
2. Da Segurança Jurídica.........................................................................................................................5
2.1. Conceito...........................................................................................................................................5
2.2. Sentidos da segurança jurídica:........................................................................................................6
3. Segurança Jurídica e Justiça................................................................................................................7
4. Conclusão..........................................................................................................................................10
5. Referências Bibliográficas.................................................................................................................11

3
1. Introdução

O presente trabalho incide sobre o tema “a Segurança Jurídica”, no qual procurar-se-á de uma
forma sucinta debruçar-se acerca do conceito, importância, a relação da segurança jurídica com a
justiça.

Um dos valores fundamentais do Direito é a segurança e, embora não tenha projecção pois
representa um valor de hierarquia inferior não deixa de ser indispensável na vida social, basta
imaginar um colapso institucional subsequente a uma revolução social para nos darmos conta do
valor da segurança jurídica.

Quanto à estrutura, o trabalho compreende a presente introdução, que será seguida do seu
desenvolvimento onde de maneira breve far-se-á a abordagem dos assuntos atinentes ao tema,
depois do desenvolvimento seguirá a conclusão onde far-se-á uma breve súmula referente aos
assuntos tratados no desenvolvimento e por fim as respectivas referências bibliográficas das
obras que tornaram possível a realização deste trabalho, que, passarão, devidamente, a ser citadas
ao longo do desenvolvimento.

1.1. Objectivos:
1.1.1. Geral:
 Falar de segurança jurídica.

1.1.2. Específicos:
 Definir a segurança jurídica;
 Caracterizar a segurança jurídica;
 Esclarecer a relação entre a segurança jurídica com a justiça.

1.2. Metodologia: Para o desenvolvimento do presente trabalho, a recolha de


informação ou de dados recorreu à consulta bibliográfica e as páginas na internet
relacionados com a matéria seguida da análise da informação para a sua harmonização e
posteriormente compilação.

4
2. Da Segurança Jurídica

2.1. Conceito

Conceituar segurança jurídica é uma tarefa tormentosa, o que pode ser atribuído à ampla gama
conceitual abrangida pela expressão. Ao recorrer à apertadíssima síntese dos dicionários
jurídicos, é possível encontrar um conceito para o princípio da segurança jurídica como sendo a
“certeza do direito e da protecção contra mudanças retroactivas”1.

Partindo-se dessa noção inicial, é possível começar a dividir alguns dos aspectos do instituto em
tela. Conceitos mais detidos apresentam a segurança jurídica como um conceito ou um princípio
que abrange duas dimensões, uma objectiva e uma subjectiva. A dimensão objectiva limitaria a
retroactividade dos actos do Estado (através de mecanismos como o direito adquirido, ato
jurídico perfeito e coisa julgada), ao passo que a natureza subjectiva consistiria na protecção da
confiança dos cidadãos nos actos, procedimentos e condutas do Estado que se apresentam como
legítimos.2

Dos ensinamentos de Osvaldo Ferreira de Melo sobre Política Jurídica, extrai-se que do Direito
de Exigibilidade3, indispensável para a realização da bilateralidade atributiva da norma jurídica 4,
tem-se como necessário lançar mão do processo judicial 5. Entretanto, reconhece-se que, na
prática processual, nem sempre da racionalidade jurídica resulta a exigibilidade do direito.
Afirma o autor que:

No Estado Moderno costumava-se priorizar, retoricamente, como um dos fins do Direito, a


segurança jurídica, mas essa é moeda de duas faces. Numa está gravada a preocupação com os fins
políticos, que Bobbio chama a Política do Poder: é preocupação nítida do Estado a paz social,
pois, no alcance desse objectivo, reside a própria estabilidade dos governos, cujos objectivos,

1
DIMOULIS, 2012.
2
SILVA, 2004.
3
Para o autor o direito de exigibilidade é razão da existência da norma positiva e implica no fato de que “existe a
faculdade de ação judicial sempre que o direito subjectivo for ferido por ação ou omissão ilícita ou mesmo quando
houver ameaça de ilicitude” (MELO, Osvaldo Ferreira de. Temas atuais de política do direito, p. 37).
4
“Refere à interação de pelo menos dois sujeitos vinculados numa relação jurídica da qual decorrem direitos e
deveres” (MELO, Osvaldo Ferreira de. Temas atuais de política do direito, p. 36).
5
O processo judicial é entendido como “um sistema de preceitos normativos destinados a dar vida e movimento à
ação, e sirvam de meios adequados para conduzir o feito até a concretização do direito pretendido.” (MELO,
Osvaldo Ferreira de. Temas atuais de política do direito, p. 37).

5
então, se confundem com os do próprio Estado. [...] O outro lado da moeda estampa a necessidade
de os indivíduos contarem com a certeza de que seus direitos “garantidos” pela ordem jurídica,
sejam efectivos6.

2.2. Sentidos da segurança jurídica:

1. Segurança com o sentido de paz social. Como já estudamos, o Direito destina-se a


garantir convivência entre os homens prevenindo e solucionando os conflitos que,
inevitavelmente, surgem na vida social. Assim, primeiro que tudo, o Direito tem que
cumprir essa missão pacificadora, que se estende igualmente às relações internacionais no
sentido de cada estado não se imiscuir nos assuntos internos de outros e respeitar o
princípio de Independência Nacional.
2. Segurança com o sentido de certeza jurídica. Exprime a aspiração a regras certas, isto
é, susceptíveis de serem conhecidos, uma vez que tal certeza corresponde a uma
necessidade de previsibilidade e estabilidade na vida jurídica: é necessário que cada um
possa prever as consequências jurídicas dos seus actos e saber aquilo com que pode
contar, para, com base em expectativas firmes, orientar a sua conduta ou estabelecer os
seus planos de vida.

Na ordem jurídica encontramos inúmeras disposições em que se manifestam a preocupação de


atender a certeza e estabilidade nas relações jurídicas.

Tal segurança diz-se jurídica, porquanto proveniente do Direito e não de outro mecanismo de
controlo social.

Posto que o ultimo fim do Direito, seja a justiça, esta não poderia ser obtida se este não fora apto
a conferir segurança aos indivíduos, no tocante às relações que mantém entre si:

“ Sólo sobre la base de un orden se puede halar de justicia o injusticia en la sociedade; si esse
orden no existe, entonces se puede hablar de ideas de justicia, pêro no de justicia existente, en las
relaciones de la vida, pues desde el momento que se admite que la vida social esta regida por la
justicia, se presupone que existe un orden social estabelecido presisamente por el derecho”.

6
MELO, Osvaldo Ferreira de. Temas atuais de política do direito, p. 38.

6
É falsa a oposição entre a segurança e a justiça, pôs o valor da justiça e justamente construído a
partir de direitos e de liberdades individuas fundamentais, dentre as quais se inserem a própria
segurança,

Por tal razão, deve se concordar com a doutrina que afirma que acima dos valores consagrados
pelos textos constitucional esta a segurança jurídica, quem em si mesma também e um valor,
pois ela garante e da consistência a esses outros valores, a razão pela qual não deve ser
sacrificada em defesa de um valor isolado por mais valioso que ele seja.

A segurança alem de ser um valor no sistema jurídico tendo em si relevância intrínseca e


igualmente um meio para se atingir os de mais valor tendo em si também valores instrumentais.

E, para que seja possível, a segurança através do direito, (segurança jurídica em sentido amplo,
impõe se que exista a segurança do próprio direito (segurança jurídica em sentido estrito), que
diz respeito também ao direito processual e será objecto da presente tese.

3. Segurança Jurídica e Justiça

Antes da identificação do elemento justiça no conceito de segurança jurídica importa destacar a


evolução na interpretação da Constituição. Isto implica no fato de que as cláusulas
constitucionais dependem dos elementos do caso concreto para produzir uma solução
“constitucionalmente adequada” ao problema a ser resolvido. Tal ocorre porque as ditas
cláusulas possuem conteúdo aberto e principiológico, devendo ter como norte as ideias de justiça
e a realização dos direitos fundamentais7. Desta forma, para Luís Roberto Barroso

O sistema jurídico ideal se consubstancia em uma distribuição equilibrada de regras e


princípios, nos quais as regras desempenham o papel referente à segurança jurídica –
previsibilidade e objectividade das condutas – e os princípios, com sua flexibilidade, dão
margem à realização da justiça no caso concreto8.

7
BARROSO, Luís Roberto (org.). A nova Interpretação Constitucional, p. 332-338.
8
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição: fundamentos de uma dogmática
constitucional transformadora. p. 352.

7
Tal interpretação reforça a ideia de que as regras, especialmente no paradigma do Direito
positivo, reforçam o entendimento acerca de segurança jurídica, valendo-se dos princípios para
dar flexibilidade e realizar a justiça.

Segundo Pérez Luño, há uma aproximação entre segurança e justiça. Trazendo as lições do
alemão Erhard Denninger que afirma ter ocorrido um deslizamento da segurança jurídica para a
segurança dos bens jurídicos como justiça social 9, aduz que referida aproximação se produz a
partir de uma união dos dois valores.

O primeiro [segurança] deixa de identificar-se com a mera noção de legalidade ou de


positividade do Direito, para conectar-se com aqueles bens jurídicos básicos cujo
“asseguramento” se estima social e politicamente necessário. A justiça perde sua
dimensão ideal e abstracta para incorporar as exigências igualitárias e democratizadoras
que informam o seu conteúdo no Estado social de Direito. 10

Assim, propõe Pérez Luño, uma revisão das funções da segurança jurídica fundada em três
aspectos:

1º Permite dotar de uma base empírica as garantias de segurança, ao vinculá-las à obtenção de


bens jurídicos concretos (vida, liberdade, saúde, qualidade de vida, segurança no trânsito...).

2º Contribui para comprovar a eficácia do sistema de segurança ao pô-lo em relação com suas
consequências no plano dos bens jurídicos cuja tutela se dirige.

3º Legitima a função da segurança no Estado social e democrático de Direito como caminho


operativo indispensável para a consecução dos grandes objectivos constitucionais. Em particular,
orienta o trabalho legislativo ao estabelecimento de técnicas de protecção claras e justas dos bens
jurídicos.11

O autor destaca algumas críticas para o avanço desta revisão das funções da segurança jurídica:
a) a imprecisão da noção de “bens jurídicos” e a amplidão dos bens que se julgam merecedores
de tutela jurídica, tornando “insegura” uma segurança baseada em um conceito tão amplo e de
perfis tão difusos; b) a imprecisão relacionada a interesses individuais ou sociais e colectivos,
9
“Von der Rechtssicherheit zur Rechtsgütersicherheit als sozialer Gerechtigkeit” (PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique.
Seguridad jurídica y sistema cautelar, p. 335.).
10
PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Seguridad jurídica y sistema cautelar, p. 335.
11
PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Seguridad jurídica y sistema cautelar, p. 336.

8
pois a identificação de bens jurídicos com interesses puramente individuais parece de difícil
aceitação em um Estado social e democrático de Direito, igualmente uma versão
transpersonalista ou estadista do bem jurídico, que o reduza ao interesse de quem detenha o
poder político, é perigoso; c) o perigo estadista é potencializado pela concepção de Estado
preventivo, onde o cidadão deixa de ser paulatinamente sujeito de direitos fundamentais para ser
destinatário de deveres fundamentais.

Para evitar tais perigos, Pérez Luño destaca que a segurança dos bens jurídicos deveria atender às
seguintes exigências:

1º A superação do equívoco e a ambiguidade deste termo ocorre quando se identifica com


valores constitucionalmente proclamados pelo Estado de Direito, tendo sua materialização
definitiva no próprio sistema dos direitos fundamentais;

2º A organização dos direitos fundamentais no Estado social de Direito supera a tensão entre a
concepção individualista e transpersonalista, pois os bens jurídicos tendem a possibilitar a
integração plena e simultânea entre as exigências sociais e pessoais;

3º A estruturação do Estado social de Direito que responda a princípios do pluralismo e da


participação democrática evitará a involução autoritária do Estado prevenção, pois em uma
sociedade democrática e pluralista os valores, bens ou direitos fundamentais não podem ser o
produto de uma imposição arbitrária de um grupo ideológico, senão o resultado de um consenso
intersubjectivo edificado sobre pressupostos procedimentais imparciais e a partir do sistema de
necessidades humanas fundamentais.

Percebe-se, pelo exposto, que a segurança jurídica compõe o valor justiça, fundindo-se a partir
da realização das garantias da realização dos direitos fundamentais constitucionalmente
assegurados.

4. Conclusão

Diante de tudo o que foi exposto, desde a contextualização da Segurança Jurídica até os mais
numerosos detalhes que propõem de características e a relação da mesma, é incontestável a

9
complexidade do tema abordado, dizer que foi um desafio encontrar conteúdo confiável devido a
imensidão de conteúdos não confiáveis, mas através de um esforço colectivo e redobrado
pudemos constatar que a segurança alem de ser um valor no sistema jurídico tendo em si
relevância intrínseca e igualmente um meio para se atingir os de mais valor tendo em si também
valores instrumentais.

A segurança jurídica é, de fato, um dos princípios norteadores de um Estado Democrático de


Direito. Não obstante, invocar a ideia de segurança jurídica como a certeza da manutenção do
status quo, mesmo quando verifica-se sua incompatibilidade com os valores eleitos como
fundamentos de nossa sociedade, com base em critérios unicamente procedimentais é esvaziar o
princípio e aprisiona-lo em um conceito anacrónico e incompatível com a função jurisdicional do
Estado Democrático de Direito.

A conceituação adequada da segurança jurídica deve ultrapassar as divisões em segurança


jurídica objectiva e subjectiva para ser compreendida em duas dimensões, uma formal e uma
substancial.

Em outras palavras, a segurança jurídica no paradigma do Estado Democrático de Direito, exige


uma prática jurídica também voltada para o futuro.

Portanto, correlacionando os elementos aqui abordados pode-se conceituar segurança jurídica


como a garantia da exigibilidade de direito certo estável e previsível, devidamente justificado e
motivado com vistas à realização da justiça.

5. Referências Bibliográficas

Doutrinas:

10
1. BARROSO, Luíz Roberto (org.). A nova Interpretação Constitucional: ponderação,
Direitos fundamentais e Relações Privadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.

2. ______. Interpretação e aplicação da Constituição: fundamentos de uma dogmática


constitucional transformadora. 6.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

3. MELO, Osvaldo Ferreira de. Temas atuais de política do direito. Porto Alegre: Sérgio
Fabris/UNIVALI, 1998.

4. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. 6ª ed. Coimbra: Livraria


Almedina, 1993.

Legislação:

1. REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República de Moçambique, de Lei


nº 1/2018, de 12 de Junho in Boletim da República.

11

Você também pode gostar