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ESSA DESCONHECIDA
FREDIE DIDIER JR.
O prof. Dr. Humberto Avila nos dá um panorama geral da obra de Fredie Didier
Jr., afirmando ser o objeto de estudo do autor a estrutura, função e os limites dos
“conceitos fundamentais do direito e a função da ciência do direito, em geral e no âmbito
do processo”. Ao investigar a Teoria Geral do Direito e principalmente a teoria geral do
processo o autor divide os conceitos em lógico jurídicos e jurídicos positivos, sendo os
primeiros dotados de pretensão de universalidade, ou seja, atrelados ao próprio ser
humano e presentes em todo ordenamento jurídico, e os segundos se restringindo a
determinado ordenamento jurídico, por isso sendo mais limitado.
O assunto é polêmico em primeiro lugar por não existir ‘’consenso sobre a
estrutura e a função desses conceitos, nem na epistemologia e na filosofia, nem na
própria teoria geral do direito’’, em segundo lugar por não haver concordância sobre a
rigidez e funcionalidade desses conceitos, existindo a perspectiva de que os conceitos
são condições absolutas de conhecimento de direito e a visão de que se tratariam de
condições relativas. Por fim por não existir um consenso sobre a função da própria
ciência do direito o estudo dos conceitos da teoria geral do direito é tão complexo. Avila
afirma que o autor não foge das polêmicas supracitadas e mesmo adotando como base
de sua argumentação obras de fundamentação empirista e que defendem a objetividade
semântica, que seria a mera descrição do direito pelo que ele é visando dar ‘’foros de
cientificidade’’ à ciência do direito, segue na ‘’direção certa’’. Fredie Didier Jr. não se
limita as obras que usa de base, se distanciando delas para defender o papel
reconstrutivo da própria ciência do direito com a intersubjetividade discursiva e o
‘’caráter histórico e força relativa dos conceitos’’.
Considerando a complexidade do assunto a obra cumpre seu objetivo de
problematizar o tema “que precisa ser pensado e repensado em profundidade por todos
que se dedicam, com seriedade e rigor, a analisar os grandes temas do direito”.
PREFÁCIO (ROBSON RENAULT GODINHO)
Com a frase “tese estranha, prefácio esquisito”, o Prof. Dr. Robson Renault
Godinho inicia seu prefácio destacando a excepcionalidade da tese de livre-docência de
Fredie Didier Jr. Quando foi defendida a tese não contou com a adesão de nenhum dos
professores titulares que a examinaram, apresentando “uma abordagem epistemológica
do processo” que tornaria a aceitação de sua teoria mais difícil.
Partir da Teoria Geral do Direito e da Filosofia para o estudo do Direito
Processual e tratar de um “não tema”, como o próprio autor afirma, são outras
“estranhezas” que tornariam a tese de Fredie Didier Jr. memorável.
Partindo para a obra, o autor revisita o primeiro artigo que publicou, com a
retomada das premissas metodológicas deste, que são resumidas pelo prefaciador da
seguinte maneira:
1) O Direito Processual deve ser estudado à luz da Teoria Geral do
Direito;
2) Existência de uma Teoria Geral do Processo, que tem por
conteúdo a definição dos conceitos lógico-jurídicos dos institutos
fundamentais do processo;
3) Impossível e imprestável qualquer estudo do processo civil que se
faça sem o devido confronto com as regras do direito material;
4) Percepção da existência de tutela jurisdicional individual e coletiva.
(GODINHO, 2012)
Reiterando o que foi dito por Didier Jr. nos itens anteriores, a postura do cientista
do direito diante dos conceitos lógico-jurídicos deve seguir as seguintes diretrizes:
a) É preciso compreendê-lo (conceito jurídico-fundamental) como
ferramenta (instrumento) para o conhecimento do Direito, com nítida
função heurística. Como todo instrumento, não serve para a solução
de qualquer problema, bem como o problema não desaparece porque
não possui a ferramenta adequada para solucioná-lo.
b) Os conceitos jurídico fundamentais são essencialmente
“reconstruíveis”: se perdem a sua funcionalidade, sua aptidão para a
compreensão da realidade, não se pode ignorar a realidade para
preservar o conceito, que deve ser reconstruído. Esta é a razão pela
qual se dedica um capítulo inteiro ao tema da reconstrução da Teoria
Geral do Processo.
c) A Analítica Jurídica não é o único repertório de que se deve valer
o cientista do direito. Não se faz ciência do direito apenas manipulando
os conceitos jurídicos fundamentais. A afirmação, que pode soar como
platitude, justifica-se para evitar a crítica de que esta tese ignora, por
exemplo, as funções da Hermenêutica e da Axiologia Jurídica para a
Ciência do Direito. (DIDIER JR., 2012, p.66).
Para compreender a distinção entre Teoria Geral do Direito e Parte Geral, Didier
Jr. aborda a diferença entre enunciado doutrinário e enunciado normativo (chamados
proposições jurídicas e normas jurídicas para Hans Kelsen).
O primeiro é, segundo Didier Jr. (2012, p.72), o “produto da atividade de quem
tenha competência para produzir normas jurídicas”, como leis, atos administrativos,
contratos e decisões judiciais. São enunciados contendo comandos, permissões e
proibições. Já o segundo é resultado da atividade filosófica ou científica, trabalhando
com os enunciados normativos nos níveis semântico1, pragmático2 e sintático3, para
“indicar critérios que permitam uma aplicação coerente, racional e justa do Direito”.
(DIDIER JR., op. cit.). Assim, a Ciência do Direito é uma metalinguagem, examinando,
também, elementos não linguísticos, como os fatos, conduta, valores, fins a serem
alcançados, etc.
1
Reconstrução do significado.
2
Efeitos práticos.
3
Conexão dos enunciados.
O Direito é um produto cultural, logo tem-se uma linguagem do Direito, que não
se confunde com a linguagem da Ciência do Direito: enunciados normativos não são
iguais aos enunciados doutrinários.
A partir dessas premissas o autor define a Parte Geral como um conjunto de
enunciados normativos, sendo “Parte” uma indicação de que existe outro conjunto de
enunciados normativos que abarca o conteúdo dessa parte. “Geral” significa que o
conjunto de normas presentes nele servem para a compreensão e aplicação de outras
normas, que são “específicas” e não necessariamente estão presentes no veículo
normativo a que pertencem as gerais. O autor usa como exemplo a Parte Geral do
Código Civil brasileiro, que é utilizada em todo o direito privado brasileiro. A Teoria Geral
do Direito pode ter várias Partes Gerais de códigos de matérias diversas, não se
limitando a um certo número de partes gerais.
Assim, Teoria Geral do Direito e Parte Geral são linguagens distintas, sendo a
primeira o produto da atividade filosófica ou científica e a segunda resultado da atividade
legislativa.