Para a realização das múltiplas funções que competem ao Estado e outros entes públicos
e, assim, satisfazerem as necessidades económicas de carácter público e não só, o Estado e
demais entes públicos, necessitam de meios indispensáveis à respectiva cobertura. Dai que o
Estado e outras entidades públicas desenvolvam uma actividade económica com características
próprias tendente quer a obtenção dos meios económicos susceptíveis de assegurar a satisfação
das necessidades publicas, quer, ao correcto emprego dos meios obtidos, e quer, finalmente, a
coordenação entre os meios e as necessidades publicas a satisfazer. Essa a actividade designa –
se Actividade Financeira, muitas vezes, também chamadas incorrectamente de Actividade
financeira do Estado1.
As particularidades específicas desta actividade resultam fundamentalmente da
circunstância de as necessidades públicas não implicarem uma procura prévia individual e,
consequentemente, ao contrário do que acontece com as necessidades privadas, a cobertura do
seu custo não se situar no plano das livres opções individuais
Todas as realizações de despesas orientadas para a aquisição de bens ou serviços
destinados a satisfazer necessidades públicas se integram na actividade financeira. E para que as
entidades públicas possam realizar essas despesas têm de obter receitas adequadas, as quais não
correspondem a uma massa homogénea. Algumas assemelham-se a receitas de particulares,
como é o caso das obtidas pela exploração do património do Estado. Muitas outras oferecem
características inseparáveis do sector público. Assim sucede com os impostos e as receitas dos
chamados “monopólios fiscais”.
Não obstante a heterogeneidade dos fenómenos que se integram na actividade financeira,
todos se situam no plano da obtenção e do emprego de meios económicos adequados à satisfação
1
Gomes, Nuno de Sá, Manual de Direito Fiscal, volume I, 1999, p. 11
de necessidades públicas. Todos eles têm, pois, natureza económica. São fenómenos
económicos.
Direito financeiro
A actividade financeira do estado e dos restantes entes públicos, não se exerce de forma fortuita,
incondicionada e livre, ao sabor das conveniências ou vontade dos órgãos públicos. Pois,
tratando - se de actividade social relevante, esta subordinada ao direito, que disciplina não só as
formas jurídicas de que o Estado pode lançar mão na obtenção de receitas publicas, e na
satisfação de despesas, mas ainda o respectivo conteúdo.
E se é certo que, como vimos, a actividade financeira relativa ao património privado dos entes
públicos se subordina as normas do direito privado, v.g., arrendamento de bens do Estado e de
outros entes públicos e vendas no mercado de bens do respectivo património agrícola, silvícola
ou industrial [frutos, madeira, armas, produtos alimentares, etc.], a verdade é que a evolução
conduziu a subordinar, em grande medida, a restante actividade financeira a regras jurídicas
próprias, designadamente na obtenção de receitas que implicam a absorção dos patrimónios
particulares, no sentido de a manter dentro de limites razoáveis.
Dai que a actividade financeira, sem prejuízo da unidade do sistema jurídico-financeiro seja, em
parte, disciplinada pelo direito comum e, noutra parte, por normas jurídicas próprias, que são as
mais significativas. Ora, ao complexo de normas próprias que disciplinam a actividade financeira
do Estado, designadamente a obtenção de receitas e a realização das despesas públicas, bem
como as que regulam a organização e funcionamento dos órgãos públicos criados para coordenar
umas e outras, dá-se o nome de Direito Financeiro. Dai que, no direito financeiro, costume ainda
distinguir-se, esquematicamente, em função do respectivo objecto, três sectores:
1. Direito das receitas,
2. Direito das despesas,
3. Direito da administração fazendária.
E o Direito Financeiro será um verdadeiro ramo do direito dotado de autonomia face a outros
ramos do Direito Publico.
Desde logo, pode chamar-se que este termo de direito público tem tido inegável autonomia
didáctica, figurando no elenco das disciplinas professadas em muitas escolas superiores, no
nosso pais e no Estrangeiro. E haverá ainda uma certa autonomia legislativa decorrente da
existência das leis próprias definidoras do sistema financeiro.
Note-se, porem, que a autonomia científica do direito financeiro particularmente face ao direito
administrativo, continua sendo discutida, sendo afirmada e negada pela doutrina nacional e
estrangeira.
Trata-se, porem, de matéria que, não discutiremos aqui.
Direito tributário e direito fiscal
O Direito Financeiro comporta, como vimos, três divisões: Direito das receitas, Direito das
despesas e Direito da administração das finanças.2
Mas, por um lado, no direito das receitas foi-se ainda autonomizando o direito tributário ou
direito fiscal, e, por outro, no direito da administração das finanças, destacou-se o direito
orçamentário.
Ora, é precisamente o estudo do direito tributário ou fiscal o objecto do nosso curso.
Ao empregarmos a expressão direito tributário ou direito fiscal, seguimos a generalidade da
doutrina angolana que emprega, como nos a expressão tributário e fiscal em sinonímia, para
referir, em ambos os casos, o direito relativo aos impostos, sendo certo, porem, que a primeira
expressão e, para alguns, mais ampla, pois designa o direito relativo aos tributos, ou receitas
coactivas e este conceito, designadamente na doutrina italiana, e mais extenso, pois abrange,
além dos impostos, as taxas, as contribuições especiais, as receitas parafiscais e segundo alguns
autores, os próprios monopólios fiscais. Dai que, nesta óptica, o Direito Tributário seja o género
de que o direito fiscal é a espécie.
Mas tem-se defendido com razão que não há uma teoria jurídica aplicável simultaneamente a
todas essas categorias de receitas coactivas.
Assim, perante o generalizado emprego das expressões como sinonimas, quer na doutrina, quer
até na própria lei, nós ao longo do curso, referir-nos-emos também indistintamente a Direito
Tributário e Direito Fiscal como Direito relativo aos impostos.
4. Âmbito do Direito Fiscal
Assente que o direito tributário ou fiscal é o direito relativo aos impostos, ainda ai não ficamos
esclarecidos sobre o respectivo âmbito, que, como veremos, e muito vasto.
Assim, o Direito Fiscal abrange princípios e normas de diversos tipos de que salientamos:
2
Cfr. Pedro Soares Martinez, Elementos para o Curso do Direito fiscal, p.37
a) Princípios jurídicos fundamentais que informam a constituição material de Estado de Direito,
de natureza supra-positiva, e que, sendo comuns a todo o Direito, tem, naturalmente, incidência
no âmbito de direito fiscal e princípios gerais de direito fiscal, que, fundamentam e possibilitam
o tratamento homogéneo e sistematizado deste ramo do direito,
b) Normas fiscais da constituição formal, quer relativas a produção normativa fiscal, como
sucede com as relativas a formação da lei fiscal, quer ao poder fiscal a vários níveis do governo
ou de decisão, quer a outas normas constitucionais, materiais e programáticas, constantes da
Constituição, em matéria fiscal e que a doutrina designa por direito fiscal constitucional,
c) Normas de organização dos serviços públicos fiscais e que poderemos incluir no direito da
organização administrativa da fiscalidade,
d) Normas materiais positivas e negativas, que regulam as situações jurídicas a que dão lugar as
leis de imposto direito tributário material positivo e negativo que regulam o imposto e direito aos
desagravamentos estruturais, e excepcionais benefícios fiscais,
e) Normas instrumentais ou formais, que regulam o processo administrativo de definição das
situações jurídicas tributaria positivais normas de reconhecimento dos benefícios fiscais e o
exercício das garantias administrativas reclamações e recursos e que a doutrina designa por
direito tributário formal ou direito processual tributário administrativo e que o Código de
Processo Tributário designa por processo administrativo tributário.
f) Normas de contencioso fiscal que regulam o processo judicial tributário direito processual
fiscal, em sentido estrito, que regula os processos judiciais tributários e aduaneiros,
g) Normas fiscais sancionatórias, que prevêem as reacções desfavoráveis estabelecidas na lei
como como consequência dos actos ilícitos e, designadamente normas que regulam as sanções
preventivas, compensatórias, compulsórias, reconstitutiva e punitivas e punitivas (direito
sancionatório, fiscal, direito penal fiscal e Direito Fiscal Penal);
h) Normas de conflitos que regulam os conflitos de leis fiscais, positivos e negativos e negativos,
internos e internacionais neste ultimo caso quer de fonte interna, quer de fonte internacional
(direito fiscal internacional e direito internacional e direito intencional fiscal e direito
internacional de conflitos).
d) O Direito Fiscal tem também afinidades com o Direito Penal, pois a teoria da infracção
fiscal é moldada pelos princípios da teoria da infracção penal (penas de prisão, multas,
coimas).
d) O Direito Fiscal relaciona-se ainda com o Direito Processual, quer penal, quer civil, na
medida em que foi com base nestes ramos de direito que em Direito Fiscal se procedeu à
estrutura do processo tributário. Além disso, o Código do Processo Civil é subsidiário do Código
do Processo Tributário (p. ex., processo de impugnação judicial, processo de transgressão,
processo de execução fiscal,...).
e) O Direito Fiscal tem ainda afinidades com o Direito Privado (comum), porque o Direito
Fiscal, como Direito institucional que prossegue fins específicos, conceitos e institutos próprios,
não dispensa a contribuição do Direito Privado Comum (aceita conceitos como o de “obrigação”
vindo do Direito privado).
f) O direito fiscal mantem ainda estreita relação com o Direito Intencional pela necessidade que
os estados têm de regular entre si certas situações tributárias que os afectem como entes ou seus
nacionais. E por isso, relativamente frequente a celebração de acordos e convenções entre dois
ou mais estados co vista a regular as questões fiscais referentes a certos tipos de relações ou
determinados sectores de actividade ou ainda a evitar que um mesmo facto seja tributado pelo
mesmo título em mais de um Estado (dupla tributação internacional) ou o não seja em nenhum
(evasão fiscal). Ou seja o Direito Fiscal esta associado ao Direito Internacional com objectivo
fundamental de evitar a dupla tributação dos produtos e para que haja maior e melhor circulação
das mercadorias internacionais.
O que se pretende é um desenvolvimento internacional harmonioso entre os vários países e em
que o comércio internacional saia beneficiado. Por vezes, os países invocam restrições teóricas,
que são egoístas, para que o comércio sofra certos entraves (p. ex., proibir a importação de carros
com faróis redondos, só admitindo carros com faróis quadrados).
Por isso é que se celebram certos acordos internacionais, para que a saúde de cada Estado não
saia deteriorada e para que o comércio internacional não sofra também qualquer tipo de doença;
o objectivo é precisamente o contrário, ou seja, um comércio internacional saudável.
3
Jose Casalta Nabais, Direito Fiscal, 6 edição,
4
Jónatas Eduardo M. Machado, Paulo Nogueira da Costa, Osvaldo Macaia, Direito Fiscal Angolano –
segunda reforma de 2014, Coimbra, p. 15.
estabelecido pela lei, a favor de uma pessoa colectiva de Direito Público para a realização de fins
públicos.
O conceito de imposto tem como elementos essenciais o objectivo, o subjectivo e o
teleológico.
A) Objectivamente o imposto é:
1. O imposto é uma prestação. A relação jurídica de imposto tem um carácter obrigacional ou
creditício, com objecto de natureza patrimonial, sendo que geralmente a respectiva prestação
tem carácter pecuniário. Contudo, nem sempre o imposto tem natureza pecuniária. Ainda
hoje existe um imposto que não tem natureza pecuniária, que é o imposto de selo.
2. O imposto é uma prestação coactiva. Trata – se de uma de uma característica que se
encontra traduzida na própria denominação do imposto. Visa – se com ela significar que a
obrigação de imposto e estabelecida na lei ou por forca da lei. Assim, verificado o
pressuposto de cuja ocorrência a lei faz depender o nascimento da obrigação de imposto,
passa ser exigida independentemente da vontade do contribuinte.
3. O imposto tem carácter definitivo, ou seja, não dá ao sujeito passivo qualquer direito a um
reembolso, retribuição ou indemnização. Todas as importâncias que o sujeito passivo
transfere para o sujeito activo não são reembolsadas, a não ser que haja uma tributação
indevida. Por isso é que o imposto é diferente de empréstimo e de requisição administrativa,
dada a sua natureza definitiva.
4. A prestação do imposto é também unilateral. Sublinha-se, deste modo, que não corresponde
qualquer contraprestação por parte do credor da receita (Estado), em termos directos. Assim
se distingue o imposto do empréstimo forçado e da taxa. Quando o particular satisfaz a
obrigação de imposto nada recebe de troca, limita – se a contribuir para o financiamento da
actividade do ente que é dessa prestação.
5. O imposto não é uma sanção de um acto ilícito, ou seja, não é uma prestação sem caracter
sancionatória. O imposto não tem caracter sancionatório, o que permite distinguir a
respectiva prestação das sanções patrimoniais, como o confisco e a multa. Já que estas tem
origem num facto ilícito e visam um fim preventivo e regressivo o que não acontece com o
imposto ao contrário da multa ou da coima, apesar de estas também serem definitivas.
B) Quanto ao elemento subjectivo, o imposto é uma prestação a favor de uma pessoa colectiva
de direito público, sendo sempre desta natureza o sujeito activo da relação de imposto.
Como entidades públicas activas da relação fiscal podemos ter o Estado e as autarquias locais (e
também as regiões autónomas, na opinião de Sá Gomes, enquanto Soares Martinez acha que
não). Segundo o prof. M. Vasconcelos, a posição de Sá Gomes foi reforçada pela revisão
constitucional de 1997.
No caso de Angola temos o estado e as possíveis autarquias locais quando forem
institucionalizadas.
Sujeito passivo da relação pode ser qualquer pessoa singular ou colectiva. Pode até ser uma
pessoa colectiva pública, como o Estado. Por vezes, o Estado paga impostos a si mesmo (p. ex.,
quando o Estado arrenda um prédio como se fosse um particular).
C) Por fim, o elemento teleológico tem a ver com o fim do imposto.
Até há alguns anos atrás entendia-se que os impostos tinham como finalidade dotar os entes
públicos com meios para a realização de tarefas – tarefa meramente fiscal.
Com o alargamento da intervenção do estado – Estado de Direito Social – o imposto aparece
como mecanismo de redistribuição da riqueza, de protecção da indústria, como elemento de
intervenção nos rendimentos gerados pela economia, etc.
O imposto tem, pois, finalidades fiscais (receitas do estado) e Extra - Fiscais (intervenção na
economia). A própria CRA, no art. 101º, refere-se à afectação do imposto.
a) O imposto e a Taxa:
No imposto, desde logo, não há contraprestação, na taxa já existe essa contraprestação, dado que
a taxa visa adquirir a prestação de um serviço.
As taxas são prestações estabelecidas por lei, a favor de uma pessoa colectiva de Direito Público,
como retribuição de um serviço individualmente prestado, como retribuição pela utilização de
determinados bens de domínio público, ou ainda como remoção de determinado limite jurídico à
actividade dos particulares.
Do ponto de vista jurídico, a distinção passa pela existência ou não de uma contraprestação por
parte do ente activo da relação, isto é, passa pelo carácter unilateral do imposto e o carácter
bilateral da taxa.
O imposto resulta de se querer tributar um facto – a capacidade tributária – e a taxa resulta do
facto de se querer compensar uma actividade individualizada prestada por alguém (exs. de taxa
são o pagamento dos serviços de registo civil e predial).
O CGT, no entanto, faz corresponder os impostos directos aos impostos sobre o rendimento (art.
11º) e os impostos indirectos aos impostos sobre o consumo (art. 12 º), colocando os impostos
sobre o património à margem desta classificação (art.13º).
Contudo, atendendo ao supramencionado critério do objecto, entendemos que os impostos sobre
o património se integram nos impostos directos, a par com os impostos sobre o rendimento.
2.2.3. IMPOSTOS REAIS E IMPOSTOS PESSOAIS
Impostos reais são aqueles que não atendem à situação pessoal do contribuinte (é o caso dos
impostos sobre o consumo). Impostos pessoais são os que tomam em consideração a situação
pessoal do contribuinte {v. g., nível de rendimento, composição do agregado familiar, despesas
suportadas com habitação, saúde, educação, entre outras).
2.2.4. IMPOSTOS PERIÓDICOS E IMPOSTOS DE OBRIGAÇÃO ÚNICA.
São periódicos os impostos que incidem sobre manifestações de capacidade contributiva
com carácter estável e duradouro {como os impostos sobre o rendimento). São de obrigação
única os impostos que incidem sobre manifestações isoladas e instantâneas de capacidade
contributiva (como sucede com os impostos sobre o consumo).
Vários são os critérios distintivos que se podem adoptar para fazer a classificação entre impostos
directos e indirectos.
Assim, nos impostos periódicos o pressuposto de tributação apresenta uma certa característica de
estabilidade ou continuidade: a propriedade de um prédio, o exercício de uma actividade
comercial, industrial ou agrícola. Pelo contrário, nos impostos de obrigação única esse
pressuposto apresenta – se isolado e, quando se possa repetir é tomado isoladamente: aquisição
de um prédio, a transmissão de um bem por morte …
2.2.5 - IMPOSTOS DE QUOTA FIXA E IMPOSTOS DE QUOTA VARIÁVEL
São de quota fixa os impostos em que a lei estabelece uma importância fixa (taxa ad valorem) a
pagar pelo contribuinte. São de quota variável os impostos em que o montante a pagar varia em
função da matéria colectável (normalmente, através da aplicação de um valor percentual - uma
taxa específica - à matéria colectável).
2.2.6 - IMPOSTOS ESTADUAIS E IMPOSTOS LOCAIS
Nem sempre o estado é o credor do imposto, o sujeito activo da relação jurídico-tributária. Esta
constitui-se, muitas vezes, em benefício de uma autarquia local ou de um instituto público. Daí a
separação dos impostos estaduais dos não estaduais. A origem de uns e outros é legal e, portanto,
estadual, mas só em relação aos primeiros o estado se apresenta como credor.
Dizem-se estaduais os impostos em que o sujeito activo da relação jurídica tributária é o Estado
(administração directa). São denominados impostos locais, aqueles em que o sujeito activo é
outro ente público distinto do Estado, como sejam os municípios ou organizações supra
municipais (art. 3º do CGT).
De qualquer modo, a distinção é feita com base na natureza do sujeito activo. Se temos
impostos cujo sujeito activo é o Estado temos impostos estaduais. Se, pelo contrário, o sujeito
activo é outro ente público que não o Estado, nomeadamente as autarquias locais, temos
impostos não estaduais.
A distinção entre impostos gerais e impostos locais tem em conta o âmbito territorial de
aplicação dos tributos. Os impostos gerais abrangem todo o território nacional; os impostos
locais destinam-se a uma determinada zona ou autarquia.
2.2.7 - IMPOSTOS PROPORCIONAIS, PROGRESSIVOS E REGRESSIVOS
Tendo em atenção a natureza das taxas aplicáveis à matéria colectável, os impostos
podem dividir-se cm proporcionais, progressivos ou regressivos. Os impostos proporcionais são
impostos de taxa fixa, isto é, são impostos em que a taxa aplicável não se altera em função do
valor da matéria colectável. Os impostos regressivos são aqueles cm que a taxa aplicável diminui
à medida que aumenta o valor da matéria colectável. Os impostos progressivos são aqueles em
que a taxa aplicável vai aumentando à medida que se eleva o valor da matéria colectável.
A progressividade do imposto está intimamente ligada às doutrinas da redistribuição do
rendimento de acordo com as necessidades dos indivíduos e não apenas com a sua capacidade.
Ela liga-se, igualmente à noção de equidade vertical, de acordo com a qual quem mais ganha
mais deve pagar, e à doutrina da utilidade marginal decrescente do rendimento, segundo a qual
os ricos retiram benefícios decrescentes por cada incre1nento adicional do seu rendimento.
Pela sua aparência de cientificidade, estes argumentos têm sido geralmente aceites, apesar das
dificuldades que rodearam a sua empírica e aplicação à política fiscal. A teoria do bcnel1cio
também tem servido para justificar a progressividade do imposto, assumindo-se que os ricos
retiram mais benefício do Estado do que os pobres.
A progressividade é contestada por ser um incentivo negativo ao trabalho - na medida em que
quem trabalha mais e melhor terá que pagar mais imposto - e. por restringir o direito
fundamenta! a colher os frutos do próprio trabalho - inerente aos direitos ao trabalh0, à
propriedade e à iniciativa economica-se cuja restrição carece de um fundamento especialmente
ponderoso.
2.2.8. Impostos comutativos, distributivos, restitutivos e punitivos
Os impostos podem ser qualificados à luz de uma teoria multifuncional da tributação e das
diferentes manifestações do princípio da justiça.
São comutativos os impostos que visam corrigir determinadas falhas de mercado (v. g.
fornecimento de bens públicos, free rider problem, externalidades, assimetria informativa)
associados à conduta legítima dos agentes económicos. Estes obrigam ao pagamento pelos
benefícios obtidos e à internalização de externalidades.
São restitutivos os impostos que visam anular e confiscar os ganhos ilícitos obtidos pelos
particulares (v. g. impostos retroactivos extraordinários sobre bónus excessivos de legitimidade
duvidosa). Em ambos os casos o objectivo é restaurar a distribuição que resultaria naturalmente
de um mercado funcionando de acordo com a justiça transaccional ou comutativa.
São distributivos os impostos que visam corrigir a distribuição do rendimento operada pelo
mercado, de acordo com uma ideia de justiça social distributiva.
São punitivos os impostos que visam desencorajar comportamentos indesejáveis e anti-sociais,
de acordo com uma lógica de justiça retributiva.
Os impostos restitutivos e punitivos ocupam um lugar periférico no sistema jurídico.
Frequentemente os impostos combinam em maior ou menor medida as dimensões comutativa e
distributiva. Esta classificação permite uma avaliação funcional dos impostos.
ELEMETOS DO IMPOSTOS
1. Incidência fiscal: são disposições normativas que definem quem são os sujeitos e qual e o
objecto da relação jurídica de imposto.
CAPITULO III - TEORIA GERAL DO DIREITO FISCAL
3.1 - FONTES DO DIREITO FISCAL
A palavra fonte que etimologicamente significa nascente, por extensão veio também
significar origem, causa, principio. Assim, a expressão “fontes de Direito” admite diversos
entendimentos, ou conteúdos. Um, substancial, respeita à origem e à razão vinculativa das
normas; outro, formal, abrange os revestimentos pelos quais os preceitos jurídicos se revelam,
são enunciados, se apresentam aos seus destinatários.
Constitui as fontes formais do Direito Fiscal, o conjunto das normas que compõem esse ramo do
Direito, ou seja, a dogmática do Direito Fiscal. Ou seja, Fontes direito são aquelas que, em cada
ordenamento jurídico, se converteram nos vários modos de formação e revelação das normas
jurídicas. Modos de revelação ou de formação do direito. Desta feita, são tradicionalmente quatro
as fontes de direito: A Lei, o Costume, a jurisprudência e a doutrina. Quando nos referimos a lei,
estamos aqui a nos referir no seu sentido Material que reflecte a própria norma jurídica, isto é, o
ato jurídico normativo, caracterizado por sua generalidade e pelo fato de veicular
hipoteticamente previsão, ou regra de conduta; tem por fim regular relações ou criar direitos, não
obstante a sua hierarquização.
3.1. 1 - PRINCÍPIOS JURÍDICOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO FISCAL
Precedência de lei
O princípio da precedência de lei afirma que toda a actividade administrativa deve ter uma base
legal. Ou seja, a lei deve ser anterior a toda a actuação administrativa, sendo que a falta de um
fundamento legal significa que a administração actua para além das suas competências (ultra
vires). Este princípio estrutura as relações entre o legislador e a administração, na medida em que
estabelece uma espécie de reserva rota! de lei, no sentido de que roda a actividade normativa da
administração tem que ter um fundamento legal, não existindo qualquer legitimação para a
função administrativa ir para além de uma decisão do legislador.
Assim, em princípio toda a actividade normativa da administração tem de basear-se numa lei
anterior que determine os fins a atingir e os meios adequados à prossecução desses fins ou, pelo
menos, os fins a atingir, deixando à administração alguma discricionariedade normativa quanto
aos meios para a sua consecução, necessitando de regulamentação ou complementação.
Reserva de lei
O princípio da reserva de lei remete para a existência de matérias sobre as quais só a Assembleia
Nacional tem competência legislativa exclusiva. Isto, evidentemente, não impede a remissão,
para a administração, da definição de aspectos técnicos do regime, para os quais esta é
institucionalmente mais adequada. Importa salientar algumas das suas principais implicações:
Fundamentalmente assinala-se a vigência de uma reserva de lei formal da AN nas matérias
nucleares da vida financeira do Estado de direito democrático.
Em primeiro lugar, deve referir-se a reserva de lei em matéria de Orçamento Geral do Estado,
consagrada no artigo 161º. , alínea. e), da CRA. Ao Presidente da República, como titular do
poder Executivo, cabe apresentar à Assembleia Nacional a proposta de Orçamento Geral do
Estado [art. 120º. , al. e), da CRA. As regras da elaboração, apresentação, adopção, execução,
fiscalização e controlo do Orçamento Geral do Estado estão também sujeitos a reserva de lei (art.
104º. , n º. 3, da CRA).
Outrossim, a definição do regime geral das finanças públicas está também abrangida pela reserva
de lei da Assembleia Nacional. Neste caso, trata-se de uma reserva relativa de competência
legislativa (art. 165º. , nº. 1, alínea d), da CRA).
Em matéria tributária a Constituição estabelece uma reserva relativa [art. 165º. , nº.1, alínea o),
da CRA], significando isso que à Assembleia Nacional é legítimo legislar sobre esta matéria ou
aprovar uma lei de autorização que habilite o Executivo a legislar sobre a mesma, mediante
decreto legislativo presidencial autorizado.
No entanto, a lei de autorização, deve estabelecer o objecto, o sentido, a extensão e a duração da
autorização, tem por obrigação circunscrever e parametrizar a área de intervenção do Poder
Executivo, definindo o sentido geral da mesma.
Relativamente à criação de impostos, a Constituição determina que, ao legislador assim
caracterizado, cabe estabelecer os respectivos elementos essenciais, os quais, nos termos do
artigo 102º. nº. 1, da CRA, consistem na incidência, na taxa, nos benefícios fiscais e nas
garantias dos contribuintes.
O princípio da legalidade supõe, natural1nente, a prevalência de lei, enquanto exigência de
subordinação da administração fiscal à lei fiscal, nas suas dimensões concretizadoras de
legalidade negativa, ou proibição de contradição, e legalidade positiva, enquanto obrigação de
regulamentação e execução.
RESERVA DE LEI
O princípio da reserva de lei remete para a existência de matérias sobre as quais só a Assembleia
Nacional tem competência legislativa exclusiva. Isto, evidentemente, não impede a remissão,
para a administração, da definição de aspectos técnicos do regime, para os quais esta é
institucionalmente mais adequada. Importa salientar algumas das suas principais implicações.
Fundamentalmente assinala-se a vigência de uma reserva de lei formal da Assembleia Nacional
nas matérias nucleares da vida financeira do Estado de Direito Democrático. Subjacente a esta
opção político-constitucional encontra-se a conhecida teoria da essencialidade, nos termos da
qual as matérias essenciais para o autogoverno da comunidade política globalmente considerada
devem ser decididas por acto solene do órgão democrático-representativo por excelência, a
Instituição Parlamentar.
Em primeiro lugar, deve referir-se a reserva de lei em matéria de Orçamento Geral do Estado,
consagrada no artigo 161º., alínea e), da CRA. Ao Presidente da República, como titular do
Poder Executivo, cabe apresentar à Assembleia Nacional a apresentação de uma proposta de
Orçamento Geral do Estado [art. 120º. al. e), da CRA. As regras da elaboração, apresentação,
adopção, execução, fiscalização e controlo do Orçamento Geral do Estado estão também sujeitos
a reserva de lei (art. 104º. nº. 3, da CRA).
A definição do regime geral das finanças públicas está também abrangida pela reserva de lei da
Assembleia Nacional. Neste caso, trata-se de uma reserva relativa de competência legislativa
[art. 165º , nº. 1, alínea. d), da CRA].
Este princípio assenta no reconhecimento de que um sistema fiscal composto por normas
demasiado imprecisas, vagas ou complexas é dificilmente administrável e facilmente
manipulável, abrindo as portas para a desigualdade, o arbítrio, a irracionalidade e a ineficiência,
dando azo à instabilidade e imprevisibilidade. A dignidade humana e a liberdade individual estão
cm causa, na medida em que as fronteiras da actuação Autónoma devem ser bem delimitadas.
Os cidadãos devem poder identificar e compreender com clareza quais as obrigações tributárias
que para eles decorrem da lei fiscal. É importante que os operadores económicos possam levar a
cabo um planeamento fiscal informado a partir de um quadro legal previsível, inteligível e
estável. Do ponto de vista do Estado de direito democrático, tributação sem compreensão é tão
inadmissível como tributação sem representação.
PROIBIÇÃO DA RETROACTIVIDADE
A questão da justiça intergeracional nas Finanças Públicas tem assumido cada vez mais
relevância nos processos políticos e jurídicos das democracias tendencialmente liberais, em
particular diante da percepção de que o endividamento público crescente, em especial para
atendimento de despesas correntes em benefício exclusivo das gerações atuais, tem gerado
injustos encargos para as gerações que estão por vir. Nesse contexto, surge a necessidade de
interpretar o equilíbrio fiscal, e o seu correlato princípio jurídico, à luz de uma teoria da justiça
que leve os indivíduos a sério, conferindo protecção aos direitos e às contas públicas, mas
também às futuras gerações, que devem ser considerados, no contexto do debate democrático,
uma minoria política, incapaz de se organizar politicamente e formar uma maioria democrática.
A justiça fiscal intergeracional pressupõe flexibilidade e equilíbrio entre receita fiscal e despesa pública,
essencial na protecção das gerações que sobre elas recai o dever constitucional de contribuir. Desta feita,
a justiça fiscal intergeracional consiste na ponderação de receitas fiscais e despesas publicas, essenciais
na protecção das gerações que sobre elas recai o dever constitucional de contribuir.
31.1 - A Constituição
Numa perspectiva hierárquica, a Constituição é indiscutivelmente a primeira das fontes ou
modos de revelação das normas jurídico - fiscais. Efectivamente, não há a menor dúvida de que o
direito dos impostos se apresenta fortemente moldado pela chamada "constituição fiscal', isto é,
por um conjunto de princípios jurídico-constitucionais disciplinadores, ao mais elevado nível,
quer de quem, de como e de quando pode tributar, quer do que (é que) e do quanto tributar.
estabelecendo assim toda uma teia de limites à tributação - de carácter formal, os primeiros e, de
carácter material, os segundos.
As normas fundamentais em matéria de tributação, como nalgumas outras, acham-se
normalmente, nos sistemas de Direito modernos, reunidas nas leis constitucionais, no caso de
Angola, Constituição. Assim, na Constituição vigente em Angola, o princípio da legalidade do
imposto, conjugado com o da anualidade, que a Constituição define expressamente, reflecte-se
nos arts.10 º /2, 102º e 165 º /1, al. o), conjugado com o art. 6º. Também poderá entender-se que
o princípio da igualdade fiscal tem acolhimento na Constituição, através do art. 23º , (Princípio
da Igualdade) que e transversal a todos ramos de direito.
A forma como tradicionalmente, entre os anos 1890 e agora, a tradição tem feito com que o
instrumento principal utilizado para resolver estas situações de dupla tributação jurídica
internacional sejam as convenções para evitar e eliminar a dupla tributação – CDTs (convecções
de Dupla Tributação), que têm sido, na sua maioria, bilaterais, ou seja Estado a Estado (ex.:
Estado A com Estado B, Estado A com Estado C, etc.). Tudo tem assentado na construção de
redes para solução dos problemas de dupla tributação jurídica internacional. Assim, sob a forma
internacional de um tratado, negociado Estado a Estado, estabelece - se um conjunto de regras
que tentam resolver as situações de dupla tributação jurídica internacional.
3.1.3 - Lei
3.1.4 - Decreto-Legislativo
Uma vez que a reserva de lei formal respeita apenas a criação e alteração dos impostos e a
determinação dos elementos essenciais dos impostos o titular do poder executivo quando
autorizado pela Assembleia Nacional, legislar sobre matérias tributarias. Desta feita, os decretos
legislativos e também do Direito Fiscal, embora, por via desta não possa determinar essenciais
dos impostos, pois por imperativo do principio da legalidade tributaria a criação dos impostos e a
normatividade dos elementos essenciais dos impostos e matéria de Lei da Assembleia Nacional.
3.14 - Regulamento:
COSTUME
Há ramos de Direito cujas normas vão sendo elaboradas pelos próprios destinatários,
constantemente, através do ajustamento quotidiano de critérios de justiça, espontaneamente
definidos, às situações concretas que se sucedem no tempo. E os legisladores, na sua função de
descobrir as normas já existentes, ou em formação, numa sociedade, acabam, com maior ou
menor lentidão, por formular essas normas assim criadas por via consuetudinária. Em tais esferas
jurídicas, o costume - "tacitus consensus populi longa consuetudine inveteratus" há-de afirmar-se
como fonte de Direito. Mas não parece que aconteça no campo tributário, onde as normas não
são criadas espontaneamente pelos destinatários