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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO INDEPENDENTE

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

TURMA-A1

CURSO: DIREITO

5º ANO

LUBANGO, 2013

O DOCENTE

___________________________________

João Nascimento Rodrigues Manuel

DIREITO, ISPI-5º ANO 2023


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DIREITO, ISPI-5º ANO 2023


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INTRODUÇÃO

A envolução da ciência e da técnologia nos últimos anos têm criado um ambiente


propício para a internacionalização de várias questões que até pouco tempo atraz não se
podiam verificar com alguma recorrência. Assim, a facilidade proporcionada pelos meios de
transportes que se deslocam a velocidades absurdamente impensáveis a pelo menos cem
anos, torna as viagens de países para outros uma realidade alcançável em horas. O campo
Jurídico não fica alhéio a tais evoluções. Por enúmeras razões, mas sobretudo razões
económicas, levam aos indíviduos, no intuído de facilitarem ou benfecearem-se nas relações
jurídicas que estabelecem, a optarem por práticas que visam contornar os imperativos
normativo internos que a seu entender os prejuducariam de certa maneira. Um destes
mecanísmos anti-jurídicos é chamada fraude à lei, de que nos ocuparemos a discorrer nas
próximas linhas.

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FRAUDE A LEI

SÍNTESE

1-CONCEITO

A Fraude à Lei, segundo Ferrer, é então um acto voluntário que visa(consumada e


exitosamente) contornar, ou esquivar-se da aplicação de uma norma material imperativa, que
seja desfavoravel aos agentes, utilizando como instrumento uma norma de conflito, quer
criando um novo elemento de conexão, quer internacionalizando de forma fictícia o negócio
jurídico sujacente.

2-REQUISITOS

Para efeitos da fraude a lei temos como requisitos essesnciais os seguintes:

1º Elemento Subjectivo ou volitivo- Consiste na vontade de afastar a aplicação de


uma norma imperativa que seria normalmente aplicável. Diga-se que, seguindo as
orientações de Lima Pinheiro , deve haver necessáriamente dolo para que se fale em fraude a
lei, assim, por maioria de razão não existe fraude por negligência.

A conclusão sobre a existêcia ou não do elemento volitivo deve ser subsumida dos
factos concretos

2- Elemento Objectivo-O elemento Objectivo consiste na manipulação com êxito do


elemento de conexão ou na internacionalização fictícia de uma situação interna.

O êxito destas duas operações , constituem elemento sine qua non, para que se possa
falar de fraude a lei, assim, diz-se exitosa a manipulação que dá origem ao chamamento de
uma lei diferente daquela que normalmente deveria sê-la.

Ex: Se um sujeito A, angolano celebra um testamento na Alemanha, no intuito de


privar os filhos da legítima. Quando no caso em concreto a validade substancial do próprio
testamento dependerá do local da última nacionalidade do decuius e não da lei do lugar da
celebração. Assim, não há fraude neste caso.

3-OBJECTO DO FRAUDE A LEI

KEGEL, FERRER CORREIA E BAPTISTA MACHADO, entendem que o


objecto da fraude é a norma de conflito, porém existem um entendimento doutrinário, em
Lima Pinheiro, segundo o qual existe toda uma necessidade da existência de uma norma
material imperativa na lei que seja objecto da fraude. Então pergunta-se, qual é o verdadeiro
objecto da fraude, a norma de conflito ou a norma imperativa material?

A este questionamento Lima Pinheiro Responde que, a fraude visa afastar a norma
material, tendo como seu instrumento a norma de conflitos. Neste sentido não é a norma de
conflito o objecto da fraude, antes, é a lei material, na medida em que aquela não é afastada
pela manobra defraudatória.

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Por outro ângulo, a norma de conflito já é objecto da fraude quando, é da sua


manipulação que resulta a frustração ou desvio da sua finalidade ou seja, ao ser usada como
um instrumento que coloca em causa a própria justiça ou idoneidade da conexão

4-ORIGEM HISTÓRICA

A questão da fraude a lei a nivel de Direito Internacional Privado teve as suas primeiras
repercusões em França no chamado caso Bibesco no séculos XIX, onde ausência de um tipo
negócial específico no ordenamento jurídico francês, o divórcio, deu lugar a engenhosa idéia
da princesa Beaffremonte a naturalizar-se alemã em Saxe-Altemburgo, no intuito de contrair
novo matrimónio.

5-NATUREZA JURÍDICA E AUTONOMIA

Em relação a autonomia da Fraude a Lei, diga- se que não é um ponto assente na


doutrina ou seja, existem controvérsias e, a este respeito a doutrina italiana majoritária e
algum sector alemão negam a autonomia do instituto no Direito Internacional Privado.

A natureza da Fraude à Lei está ligado a ideia de a mesma ser ou não uma figura que
pertenceao Pertence ao DIP (doutrina que afasta o conceito de fraude à lei do campo do DIP)
ou que amesma figura pertencente a figura da violação a ordem pública (doutrina segunda a
qual afraude à lei em DIP não seria mais que uma forma particular de violação da ordem
pública) e aque defende que a fraude à lei tem relevância para o DIP. Deste modo, podemos
sumariamentefazer referência das ideias gerais de cada posição doutrinal:

a) Doutrina que afasta o conceito de fraude à lei do campo do DIP: o principal


defensor
desta doutrina foi Niederer, segundo ele, falar de fraude a lei em DIP é irrelevante, pois,
assevera este autor, é o próprio legislador que indica as partes o caminho que elas podem
escapar à aplicação das suas leis internas. Sendo que quem determina a competência da
aplicabilidade das normas imperativas do direito interno são as normas de conflito, logo, seria
ilógico falar-se em fraude a lei, se estas normas não forem aplicáveis para o caso em
concreto. Por outro lado, continua este autor asseverando que a admissibilidade da figura da
fraude à lei traria a dificuldade de determinar, de modo concreto, qual é a norma
efectivamente fraudada, quando estão em questão vários ordenamentos jurídicos. Exemplo:
Angolano, Japonês, Inglês e Argentino.

b) Doutrina segundo a qual a fraude à lei em DIP não seria mais que uma forma
particular de violação da ordem pública: teve vários defensores, dentre os quais se destacam
Bartin e Helene Bertram. Para Bartin, a figura da fraude à lei constituiria um caso particular
de violação da ordem pública, isto porque tanto a teoria da fraude à lei como a da violação da
ordem pública produzem os mesmos resultados diferenciando-se apenas pelo facto de na
violação a ordem pública a perturbação social é causada pelo conteúdo da lei estrangeira
aplicada, isto é, o seu regime para regular certo questão jurídica, já na fraude à lei a

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perturbação social ser causada em função da circunstância em que esta lei estrangeira seria
aplicada.

c) Doutrina da autonomia e relevância da fraude à lei em DIP: é defendido pela


doutrina maioritária, da qual destacamos o Professor Jão Baptista Machado. Este autor, tal
como a doutrina maioritária, tem defendido que para se compreender a autonomia da fraude à
lei no DIP, tem de se ter em conta que o problema da fraude à lei no DIP é afraude a uma lei
de conflito que cuja a sua observância dependia a aplicação da norma imperativa de direito
material. Assim sendo, não seria de todo aceitável que uma norma de imperativo do direito
material a princípio aplicável deixe de o ser por virtude da conduta fraudulenta do(s) seu(s)
destinatário (s). Sendo, portanto, relevante tratar-se da figura da fraude à lei em DIP, isto
porque a norma imperativa de direito material continua a ser aplicável enquanto as normas de
conflito (do DIP) também o forem, não havendo por isso lógica para a objecção quer da sua
relevância em DIP quer da sua autonomia face a teoria da violação a ordem pública.

6-FIGURA AFIM

Existe a nivel do direito interno uma figura muito semelhante à da Fraude a Lei, alhás,
afirma o Professor Ferrer Correia que a fraude a lei tem origem nesta mesma figura que é a
fuga a lei. O professor Lima Pinheiro trata estas figuras por uma única desígnação que é :
Fraude à Lei.

Sendo certo que, a fuga a lei é em Direito privado material, uma manifestação
resultante dos negócios jurídicos internos. Entenda-se por negócios Jurídicos, as relações
jurídicas privatísticas constituidas de pelomenos uma declaração de vontade.

A fuga a lei, ocorre quando no Direito interno, os sujeitos de uma relação jurídica,
tendendo tornear, excusar-ser de uma proibição legal utilizam um tipo negócial não
proibido.

Para o Direito Internacional a idéia subjacente ao instituto é a mesma, diferindo tão


somente no processo. Dito de outro modo, trata-se aqui de alcançar justamente o objectivo
que a norma proibitiva visa evitar, mas a manobra fraudatória utilizada no caso, tem como
obejectivo somente, afastar a lei que contém a proibição.

7-MODALIDADES OU TIPOLOGIA

A fraude a lei pode nos aparecer, segundo Lima Pinheiro, em dois prismas:

O primeiro tem que ver com Manipulação de elemento de conexão, onde para se
afastar a norma que, via de regra é competente, o agente da fraude cria um conteúdo concreto
do elemento de conexão.

Ex: A-------------B ambos angolanos, supondo que em Angola não se prevê o divórcio
nacionalizam-se portugueses para dissolver o casamento.

O segundo é a internacionalização fictícia de uma situação interna, neste caso


para se afastar o direito aplicável na ordem jurídica interna, que aplica-se com exclusividade

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a situações internas, se estabelece uma ligação com uma órdem jurídica extrangeira, de modo
a que tal se torne habilitada ou competente a regular aquele caso concreto.

EX: C--------------D com vista a excusarem-se das altas taxas de Juro num contrato de
mútuo em Angola, vão celebrar o respectivo contrato na Namíbia e escolhem por intermédio
da norma de conflito a lei namibiana como a lei competente.

8-CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS OU SANÇÕES À FRAUDE A LEI

Segundo Ferrer Correia, a consequência jurídica sobre a fraude à lei sígnifica o


regresso ao estatus quo ante, ou seja, na reconstituição da situação existente antes da fraude e
a ineficácia da situação pretendida pela fraude. Assim, tomando por exemplo o supra dito
caso da Princesa Beaffremonte o casamente de que ela pretendia ver-se livre continuou valido
e o segundo foi considerado núlo.

Fica-se então por saber se, em relação a fraude à lei extrangeira cabe a mesma sanção
ou não?

Em algum momento da História a resposta para questão em causa, segundo Ferrer, era
tendente a negação da aplicabilidade das mesmas sanções , a propósito da questão refere-se o
mesmo autor, de um caso ocorrido em França, onde o trbunal negou-se de determinar a
invalidade da naturalização de certo indivíduo que a adquiriu-a no intuito de divorsiar-se da
esposa, com o fundamento de que aos tribunais não cabia a função de invalidar aquele acto
administrativo que concedeu aquela naturalização.

Porém sabe-se que, hoje da-se alguma relevância a fraude a lei extrangeiro, seguindo
Lima Pinheiro, que a jurisprudência francesa caminha no sentido de declarar a invalidade de
todos os actos concorrentes a favor da manobra fraudatório e isto inclui, sem sombra de
dúvidas, a própria naturalização adquirida.

Ainda o supra dito autor,Lima Pinheiro, afirma que a orientação doutrinária


Portuguesa não admite a declaração de invalidade da aquisição da nacionalidade por parte do
Estado do Foro, dai que por maioria de razão, dadas as similitudes de regime por parte da
legislação Angolana(art. 21º CC), parece ser a mesma solução aceite no ordenamento jurídico
angolano.

Deste modo, com base na norma( artigo 21º CC), os actos são válidos, porém
desprezados ou seja, ineptos a produção dos efeitos preconizados.

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CONCLUSÃO

Do exposto até aqui, urge a necessidade de concluir o seguinte: A fraude à lei é um


mecanismo anti-jurídico, anti-ético, que mereceu alguma atenção tanto na doutrina, na
jurisprudência, como na própria lei que internamente quer a nivel internacional. Esta atenção
manifesta-se pela criação de dispositivos que visam então, desencorajar tais práticas e estes
dispositivos constituem no fundo uma limitação a autonomia privada, uma vez que há uma
limitação sobre a liberdade de estipulação, limtação esta que é necessária no sentido de
proteger-se a segurança jurídica quer interna quer internaciona. Por isso, dispõe a lei, a
ineficácia de todos actos jurídicos e direitos adquiridos com recurso a estes meios
fraudulentos.

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LISTA NOMINAL

NOMES NÚMEROS

Clarice Henrique

Christel Java

Conceição Sacoca

Djamila Basto

Douglas Joaquim

Dinis Vucusse

Enígma Chimuco

Eunice

Gabriel Ernesto

Isabel Alfredo

José Carlos

Laurinda Himi

Leila Sambingo

Mauro Luanda

Mendonça

Moisés Java

Nelma Hangula

Saiuse Garrido

Vanessa Medeiro

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