Você está na página 1de 8

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS


PROF. DR.: GUSTAVO HENRIQUE DE SOUZA VILELA
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I - PARTE GERAL
CURSO: BACHARELADO EM DIREITO

ANTONIEL DA SILVA ROCHA

SEGUNDO RESUMO:
ABUSO DO DIREITO

PALMAS DO TOCANTINS
2023
SUMÁRIO
Direito Civil I - Parte Geral

1. QUANDO SURGI O ABUSO DE DIREITO......................................... 1

2. CONCEPÇÃO DE ABUSO DE DIREITO............................................. 1 a 2

3. FUNDAMENTOS TEORICOS A RESPEITO DO ABUSO DE DIREITO:

3.1. A TEORIA SUBJETIVA............................................................ 2


3.2. A TEORIA OBJETIVA................................................................. 2 a 3
3.3. BOA-FÉ....................................................................................... 3 a 4
3.4. BOA-FÉ OBJETIVA E SUBJETIVA............................................ 4 a 5

4. SITUAÇÕES EM QUE SE CONSTATA ABUSO DE DIREITO............. 5 a 6

PALMAS DO TOCANTINS
2023
1. QUANDO SURGI O ABUSO DE DIREITO.
Há várias linhas racionais sobre a origem do Abuso de Direito. O conceito de
abuso de direito é uma concepção jurídica que evoluiu ao longo do tempo e tem as
suas raízes na tradição jurídica romana, ou seja, foi na Idade Média para a
Moderna que a concepção atual de abuso de direito surgiu, tanto com a
jurisprudência francesa, como também com o aparecimento de novas leis e
codificações que tratavam do tema. No entanto, a sua formulação moderna e o seu
reconhecimento como princípio jurídico substantivo surgiram principalmente no
século XIX, graças às contribuições significativas de juristas europeus. “Abuso de
direitos” refere-se ao uso inadequado ou excessivo de direitos que causa danos
injustos a terceiros. Este princípio é geralmente aplicável no direito civil e comercial
e é reconhecido em diversas jurisdições em todo o mundo. Vale a pena notar que a
interpretação e aplicação do conceito de abuso de direito pode variar de país para
país e pode ser afetada por leis e precedentes locais. Normalmente, este conceito
é utilizado para garantir um equilíbrio entre a proteção dos direitos individuais e a
prevenção de comportamentos prejudiciais ou antiéticos. Com isso, o Direito
moderno surgi com o código civil Francês de 1804 – código de Napoleão –,
segundo Francisco Amaral (1999), esse código foi elaborado no ápice do
absolutismo moderno, representando o triunfo do individualismo liberal expresso no
caráter absolutismo do direito de propriedade e no princípio da liberdade contratual
que afirma ser o contrato lei entre as partes, e surgi também com o código Alemão
de 1900 - Bürgerliches Gesetzbuch. Desta forma, o Abuso do Direito nasce com
renitência a esse individualismo, sendo as decisões da jurisprudência francesa,
proferidas no final no século XIX, de onde se inicia essa teoria.

2. CONCEPÇÃO DE ABUSO DE DIREITO.


Primeiramente, é muito complexo ou até mesmo difícil de encontrar ou
constituir um conceito para o abuso de direito, mas, a grosso modo, a concepção de
abuso de direito está presente no artigo 187 do atual Código Civil brasileiro de 2002
que diz: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé
ou pelos bons costumes”. Segundo doutrinadora brasileira, Maria Helena Diniz, o
Abuso de Direito é quando o “uso de um poder, direito ou coisa além do permitido
ou extrapolando as limitações de um direito, lesando alguém, traz como efeito
jurídico o dever de indenizar”.

3. FUNDAMENTOS TEORICOS A RESPEITO DO ABUSO DE DIREITO.

3.1. A TEORIA SUBJETIVA:

Essa Teoria foi sustentada pelos estudiosos Bufnoir, Baudry-Lacantinerie,


Domolombe e Chaveau, estes acreditam que o exercício de um direito com a
intenção de causar dano a outrem (dolo ou má-fé) e sem qualquer interesse
econômico, seria o suficiente para caracterizar abuso do direito. Para os
subjetivistas, a teoria subjetiva do abuso de direito considera as intenções e
motivações do titular do direito como fatores essenciais na avalição de se houve
abuso desse direito, ou seja, afirmam que é necessária uma intenção determinada
de causar dano a um indivíduo para caracterizar o abuso de direito. Há necessidade
que o agente tenha plena consciência de que, ao exercer seu direito, inicialmente
legítimo, extrapolou os limites legais e lesionou o direito de outrem. Assim, para a
teoria subjetivista, são três os elementos caracterizadores do abuso do direito: o
exercício de um direito, a intenção de causar um dano e a inexistência de interesse
econômico.

Por último, com base no critério adotado, a noção de abuso do direito poderá
variar, ou seja, enquanto os objetivistas admitem o abuso do direito como um desvio
em seu exercício, pois nesse caso falta ao titular o interesse legítimo em exercê-lo;
para os subjetivistas, o abuso do direito consiste no seu uso com a intenção
deliberada de causar dano a outro indivíduo.

3.2. A TEORIA OBJETIVA:

A escola Objetivista nega a existência de leis subjetivas. Além disso, mesmo


com todas as manifestações dos juristas, o movimento doutrinário subjetivista não
foi suficiente para estabelecer um programa claro de repressão aos abusos de
direitos aceitáveis para a maioria e, devido à falta de consenso, acabou por
conceber uma nova fase construtivista. com base na tendência Objetivista. A
escritora Leedsônia Albuquerque (2002) afirma que a teoria objetivista compreende
o ato abusivo quando realizado sem conformidade com a finalidade do instituto
jurídico, que, mesmo sem a intenção de prejudicar, contrarie seu caráter social.
Leedsônia Albuquerque (2002) fala que: o abuso do direito se caracteriza pelo seu
lado objetivo e não pelo seu fim; o ato intencional, com o fim exclusivo de lesar, é um
ato objetivamente contra os bons costumes; é o exercício anormal do direito, mesmo
que seja apenas imprudente. Proclama assim, a relatividade dos direitos e a
abusividade do exercício quando desviado da destinação econômica e social,
reprovado pela consciência pública.

A teoria objetiva no abuso de direito ocorre quando este é exercido for de sua
normalidade, excedendo-se dentro de sua finalidade social, de boa-fé e bons
costumes e, com isso, exclui-se, portanto, a culpa em sua caracterização. Leva em
conta a intenção do agente manifestada por sua conduta, pouco importando se os
meios por ele empregados ou o objeto do crime eram ou não idôneos para a
produção do resultado e, assim, seja a inidoneidade absoluta ou relativa, em
qualquer hipótese haverá tentativa.

3.3. BOA-FÉ.

O princípio da boa-fé remonta ao Direito Romano. É considerado um dos


princípios mais importantes do direito privado brasileiro, com o objetivo principal de
estabelecer um padrão ético de comportamento para todas as partes envolvidas
em uma ampla gama de relações obrigatórias. Segundo Rosalice Pinheiro (2002),
existe uma ligação entre o abuso de direito e a boa-fé no direito romano. Diz-se
que o conceito de fides, presente nas relações com clientes, nos negócios
contratuais e na proteção possessória, evoluiu para a ideia de boa-fé. Agir com
honestidade e respeito nas relações jurídicas é conhecido como princípio da boa-
fé. Este princípio implica um acordo tácito para tratar os outros de forma justa e
evitar comportamentos enganosos. É essencial para promover a confiança e o
respeito mútuos em diversas situações jurídicas. Segundo Rui Stoco (2002), o
mesmo expõe que a boa-fé e agir de boa-fé implica em estados inerentes do ser
humano, uma vez que ele nasce ingênuo e isento de maldade ou perversidade, ou
seja, a boa-fé é um ato natural do ser humano e a má-fé passa a ser o resultado de
um desvio de personalidade. Já Sílvio Venosa (2004), por outro lado, evidencia que
a boa-fé é difícil de ser fixada legislativamente e que as legislações que detalham tal
assunto tendem a ser consideradas como simples conselhos ao juiz, sem quaisquer
outras finalidades.

Por conseguinte, o princípio da boa-fé é quando as pessoas agem com


honestidade e respeito nas relações jurídicas, é como se fosse um acordo implícito
para ser justo e não enganar os outros.

3.4. BOA-FÉ OBJETIVA E SUBJETIVA.

O princípio da boa-fé tem como premissa uma cláusula processual geral, o


que torna mais acertada a opção pela cláusula geral de boa-fé. O grande número
de situações potenciais que podem surgir durante os processos judiciais torna
ineficaz uma enumeração jurídica exaustiva de comportamento injusto, é por isso
que a legislação brasileira favorece um padrão geral que exige um comportamento
que esteja em conformidade com a boa-fé. Na verdade, não há necessidade de
enumerar condutas desleais, uma vez que o artigo 5º do CPC é suficientemente
amplo como cláusula geral. Juntamente com o princípio da boa-fé processual,
existem regulamentos adicionais que salvaguardam a boa-fé. Estas regras
implementam o princípio da boa-fé e estabelecem a estrutura para o processo legal
brasileiro.

O conceito jurídico de boa-fé recebeu tratamento preciso aos olhos da lei. Ao


referir-se à boa-fé subjetiva no direito alemão, especificamente através do BGB a
partir de 1900, é importante notar as diversas complexidades envolvidas. A
cláusula geral contém tanto a boa-fé subjetiva (glauben) quanto a boa-fé objetiva
(treu und glauben). A Secção 243 determina que o devedor deve cumprir a sua
obrigação de acordo com a boa fé e com respeito pelos costumes de trânsito. A
instituição do princípio da boa-fé processual decorreu da extensão do requisito da
boa-fé do direito privado para o direito público. O sistema jurídico alemão
interpretou o §242 do Código Civil Alemão (que trata da cláusula geral de boa-fé)
como abrangendo o direito processual civil e penal, essa interpretação foi seguida
pela doutrina jurídica que também ampliou a boa-fé objetiva para abranger todas
as áreas do direito. Em qualquer caso, incluindo aqueles que envolvem indivíduos
não civis, existe uma ligação jurídica entre as partes. Nestas situações, é
obrigatório que todas as partes envolvidas se comportem de uma forma que não
prejudique as expectativas razoáveis de confiança nelas depositadas e que se
comportem de boa-fé, o que acontece com qualquer relação jurídica, a boa-fé recai
também sobre as relações processuais.

Desse modo, o Leonardo Greco afirma que: “bem aplicado, esse princípio (...)
serve com certeza mais adequadamente ao processo liberal”, pois serve à proteção
dos direitos subjetivos dos litigantes, “pois a eficácia das garantias fundamentais do
processo impõe um juiz tolerante e partes que se comportem com lealdade”.
Portanto, o Código Civil vigente adotou o princípio da eticidade, valorizando as
condutas guiadas pela boa-fé, principalmente no campo obrigacional.

4. SITUAÇÕES EM QUE SE CONSTATA ABUSO DE DIREITO.


Uma análise das diversas teorias desenvolvidas para identificar
cuidadosamente os abusos de direitos também ajuda a inferir as suas
características. O abuso de direito é antes de tudo um ato humano, ou seja, um ato
que decorre da atividade humana e tem impacto no âmbito da lei. Contudo, o
chamado comportamento humano pode ser conduzido com ou sem observância
das disposições do ordenamento jurídico. Na segunda hipótese, as ações humanas
que carecem de legalidade são chamadas de ações ilegais. Parte deste princípio
reluta em classificar o abuso de direito como um dos tipos de conduta ilegal. Sílvio
de Salvo Venosa, após o incidente de Limongi França, sugeriu que o abuso de
direito não deveria ser classificado na categoria de atos ilícitos, para ele, a
instituição já está incompleta, ou seja, “é constituída por atos jurídicos com fins
legítimos, mas cujo exercício, sem a devida regularidade, conduz a resultados
considerados ilícitos”.

Indubitavelmente, é possível a identificação da ocorrência do abuso do direito


diante das seguintes colocações: no comportamento emulativo, ou seja, na ação ou
omissão destinada a causar prejuízo a outrem; no comportamento que, embora
desprovido do caráter emulativo, não gera vantagem ao agente e revela-se
desvantajoso ao terceiro; e no comportamento que, embora imponha utilidades e
desutilidades de “pesos” aparentemente semelhantes, se mostre, na análise do caso
concreto, mais distante dos valores, princípios e máximas de condutas que
compõem a “unidade conceitual e valorativa” do Código Civil.

Por último, o Código Civil de 2002 trouxe a fórmula expressa para definir a
ilicitude no modo do exercício do direito, com isso, de acordo com o art. 187,
“comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes”.

5. REFERÊNCIAS.

SOUZA, Luiz Sérgio Fernandes. Abuso do direito. Enciclopédia jurídica da PUCSP.


São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017.

MARCACINI, Daniela Tavares Rosa. O abuso do direito. 2006.

STOCO, Rui. Abuso do direito e má-fé processual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, p. 721-732, 2002.

GUERRA, Alexandre Dartanhan de Mello et al. Responsabilidade civil por abuso do


direito. 2007.

Você também pode gostar