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UNIVERSIDADE METODISTA DE ANGOLA

FACULDADE DE DIREITO

TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL

BRUNA ALEXANDRA CALE

NÚMERO DE ESTUDANTE: 34061

PERÍODO: MANHÃ

O ABUSO DE DIREITO E A FUNÇÃO LIMITADORA DO PRINCÍPIO DA


BOA-FÉ

O DOCENTE:

DOMINGOS GINGA INGLÊS

___________________________

Luanda
2021
Sumário
INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 3
O ABUSO DE DIREITO E A FUNÇÃO LIMITADORA DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ ... 4
TEORIA DO ABUSO DE DIREITO.................................................................................. 4
NOÇÃO DE ABUSO DE DIREITO ....................................................................................... 6
ABUSO DE DIREITO NO COTIDIANO .............................................................................. 8
ELEMENTOS ESTRUTURAIS NO ABUSO DO DIREITO .............................................. 10
OS EFEITOS DO ABUSO DO DIREITO ........................................................................... 11
NOÇÃO DE BOA-FÉ ........................................................................................................... 11
Boa-fé objetiva .................................................................................................................. 12
Boa-fé subjetiva ................................................................................................................. 13
Direitos anexos............................................................................................................... 13
QUANTO A LIMITAÇÃO DA BOA-FÉ:............................................................................ 14
CONCLUSÃO....................................................................................................................... 15
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 16

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INTRODUÇÃO
Abordarei no presente trabalho o tema “Abuso do Direito e a limitação da boa-
fé”, com a pretensão de fazer um estudo ordenado. Que tem por finalidade a análise sob
o enfoque dessas particularidades diante de uma sociedade moderna. Para tanto,
conceituarei o abuso do direito como sendo de elementos de boa-fé, económicos, sociais
e de bons costumes. Apontarei os elementos estruturais e os efeitos dentro do abuso de
direito. E no final do tema, farei o estudo de um caso concreto, dentro das relações
trabalhistas, mais especialmente dentro do abuso do direito de greve.

O abuso de direito tem sido bastante analisado nos atos emulativos, ou seja,
aqueles que podem ser implicados como os atos realizados pelos indivíduos com a total
intenção de causar vários prejuízos a terceiros.

Emulação, então, é o exercício de um direito com o propósito de prejudicar a outra pessoa.


Melhor explicando, quer dizer que o individuo em vez de ter o intuito de tirar para si
próprio um benefício, ele tem consciência que ira causar prejuízo a outra pessoa, e mesmo
assim o faz. Age de uma maneira totalmente abusiva, mesmo não havendo nenhum
benefício próprio, desfruta de seu direito para conseguir prejudicar outro de uma forma
ostensiva de modo a vir prejudicá-lo. Mas quando o dano causado a outrem não é ilícito
e se usa apenas o seu direito, sem visar propositadamente o prejuízo de terceiros e
operando de uma maneira normal, como se encontra no estado de necessidade, na legítima
defesa, no exercício regular do direito e no estrito cumprimento do dever legal.

Quanto ao princípio da boa-fé, é um dos princípios fundamentais do direito


privado e sua função principal é de estabelecer um padrão ético de conduta para as partes
nas mais diversas relações obrigacionais. Possui duas facetas, a “boa-fé objetiva” e a
“boa-fé subjetiva”.

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O ABUSO DE DIREITO E A FUNÇÃO LIMITADORA DO PRINCÍPIO DA


BOA-FÉ
TEORIA DO ABUSO DE DIREITO
A teoria do abuso de direito surge como uma construção da doutrina e
da jurisprudência no decorrer do século XX. Mas é no Direito Medieval, com os atos
emulativos (aemulatio), que consistiam no exercício de um direito com o objetivo de
causar prejuízos a terceiros, que se encontra sua origem. Logo, o titular do direito
praticava o ato não para lhe proporcionar um benefício, mas tendo escopo de causar um
dano a outrem. A presença destes atos é observada, na era medieval, no âmbito do direito
de propriedade. Importa mencionar que o Direito Romano não desconhecia o instituto do
abuso de direito, pois o utilizava para solucionar casos concretos a exemplo: a perda da
propriedade quando o titular se recusava a prestar caução de dano infecto.
O abuso de direito consiste na manifestação excessiva de um agente ao exercer um direito,
excedendo os limites impostos. No que concerne aos atos emulativos, é imperioso frisar
que os mesmos podiam ser constantemente observados, principalmente, nas relações
imanentes ao direito de propriedade, quando proprietários ou vizinhos exercitavam seus
direitos com o objetivo de prejudicar terceiros.
Fora, portanto, através das normas da aemulatio que se intentou a relativização do direito
subjetivo de propriedade, o qual, até então, era compreendido de maneira absoluta. Dessa
forma, passou-se a relativizar o direito subjetivo, deixando de lado seu caráter absoluto a
fim de se iniciar o império da função social dos direitos.
Roma
É de suma importância mencionar que o Direito Romano também guardou vestígios do
exercício dos atos emulativos, vez que, eram praticados os mais grosseiros abusos sob o
firme pretexto de se exercitar um direito reconhecido por lei. Desvirtuava-se a finalidade
social dos direitos subjetivos com o intuito de causar dano injusto a terceiro.

“ A figura do abuso do direito, se não chegou a ser teorizada pelos romanos,


pelo menos foi conhecida do ponto de vista doutrinário. ”

Ocorre que os romanos eram infensos às teorias, posto que buscavam estabelecer soluções
casuísticas para as situações práticas que iam se descortinando.
Os romanos não desconheciam totalmente a teoria do abuso de direito. Ao contrário,
utilizaram-se dela para apresentar soluções a determinados casos concretos. Dentre as
tentativas de vedação ao abuso do direito localizadas no Direito Romano, temos: a
proibição ao proprietário de demolir sua casa para vender os materiais; a perda da

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propriedade quando o titular se recusava a prestar caução de dano infecto; ou, ainda, as
proibições de se manterem incultas as terras e de se manterem os latifúndios.
França
Na França, durante o período que antecedeu o Código Napoleônico, era consagrada, pela
legislação vigente à época, a proibição do uso da propriedade em desconformidade com
a sua destinação social. Entretanto, com o advento do Código Civil Francês, prevalecera
o pensamento individualista, esvaindo-se, dessa maneira, o princípio que limitava o
exercício absoluto e anti-social do direito de propriedade. Apesar disso, a doutrina do
abuso de direito era aplicada em diversos julgados dos órgãos jurisdicionais franceses.
Em um conhecido caso, um vizinho construiu em sua propriedade enormes e pontiagudas
torres de madeira, que não tinham nenhum propósito ou utilidade, senão furar os balões
e dirigíveis de seu vizinho, o que, de fato, acabou acontecendo. Trata-se de um evidente
caso de abuso de direito.
Alemanha
Outro famoso caso que bem caracteriza a figura do abuso de direito, passou-se no início
do século XX e encontra-se, desta feita, inserto na jurisprudência alemã. Consta que o
proprietário de uma fazenda, sob a alegação de que sempre que se encontrava com seu
filho ocorria altercação, impediu-lhe que penetrasse em suas terras, a fim de visitar o
túmulo de sua mãe, que lá se encontrava sepultada. Apesar de não encontrar amparo na
legislação, o filho provocou a tutela jurisdicional estatal e obteve ganho de causa, tendo-
lhe sido assegurado o direito de visitar as terras de seu pai nos dias de festa. Tal decisão,
proferida em 1909, consistiu no grande marco para a plena caracterização do abuso do
direito no ordenamento jurídico da Alemanha.
Brasil
No Direito brasileiro, o revogado Código Civil de 1916 não previa diretamente o instituto
do abuso do direito. Utilizava-se uma interpretação inversa do dispositivo contido no
inciso I do art. 160, o qual, por sua vez, albergava como excludente do ato ilícito o
exercício regular de um direito. Contudo, o atual Código Civil preencheu essa lacuna
legislativa, embora a doutrina e a jurisprudência já fizessem uso do instituto há algum
tempo. Assim, em seu artigo 187 positivou a teoria do abuso de direito, dispondo:
“Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes”. Afirma-se que a responsabilidade civil decorrente do abuso do
direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo finalístico, tese

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acolhida no Enunciado 37 da I Jornada de Direito Civil, o qual, todavia, é criticado por


alguns autores. A obrigação da indenização do dano causado decorre naturalmente do
Código Civil e é apenas reforçada pela Lei de Abuso de Autoridade. O artigo 186 do
Código Civil já afirma que todo aquele que dolosa ou culposamente viola direito ou causa
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. E o ilícito civil, nestes
termos definido, implica na obrigação de indenização, de acordo com o artigo 927, CC.
“ Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo. ”
Portugal
Atualmente, o abuso de direito encontra-se expresso no art.° 334° do Código Civil
Português.

NOÇÃO DE ABUSO DE DIREITO


O abuso de direito advém do predomínio da vontade do titular de um direito como
condutor absoluto de seu exercício. Dessa forma, na literatura moderna, tem servido para
demonstrar a funcionalização de uma cadeia de direitos, tais como os contratos e a
propriedade. A conceituação do abuso de direito pela doutrina, apesar de ampla, também
pode ser definida como o exercício do direito de modo a contrariar e contradizer o valor
que o mesmo procura tutelar. Assim sendo, representaria uma violação a limites que não
estão colocados na existência de direitos de terceiros, e sim em elementos típicos
emanados do próprio direito, exemplificado como o seu valor ou sua função (Oliveira et
al. 2010).
O fundamento da teoria encontra-se nos preceitos éticos morais que o direito não
pode desconhecer, para que haja dentro das relações interpessoais equilíbrio e que o
interesse coletivo se sobreponha ao interesse individual. Já que abusar significa exceder,
afrontando direitos de terceiros. Assim, Venosa conceitua o abuso de direito da seguinte
maneira:
“Juridicamente, abuso de direito pode ser entendido como fato de usar de um poder, de
uma faculdade, de um direito ou mesmo de uma coisa, além do razoavelmente o Direito
e a Sociedade permitem. O titular de prerrogativa jurídica, de direito subjetivo, que atua
de modo tal que sua conduta contraria a boa-fé, a moral, os bons costumes, os fins
econômicos e sociais da norma, incorre no ato abusivo. Nesta situação, o ato é contrário
ao direito e ocasiona responsabilidade” (VENOSA, 2003, p. 603 e 604).

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O abuso do direito para Roberto Senise Lisboa “é o exercício imoderado de um


direito, que causa prejuízo económico ou moral a outra pessoa”.
Já para Paulo Nader, “abuso de direito é espécie de ato ilícito, que pressupõe a violação
de direito alheio mediante conduta intencional que exorbita o regular exercício de direito
subjetivo”. Portanto, por fim para deixar claro, o abuso acontece no momento em que o
titular de um direito o executa afastando da verdadeira função para a qual esse direito foi
designado.

A proibição do abuso de direito está consagrada nas mais diversas legislações e


dela tem feito as jurisprudências dos respetivos países importantíssimas aplicações nos
mais variados sectores jurídicos, frequentemente precedendo e impulsionando o próprio
movimento dos textos legislativos.
O código civil dá-nos a noção de abuso de direito num preceito que faz parte das
disposições gerais sobre o exercício e tutela dos direitos.
Dispõe no artigo 334, com epígrafe “Abuso de direito”: é ilegítimo o exercício de um
direito quando o titular exceda manifestamente os limites impostos pela boa-fé, pelos
bons costumes ou pelo fim social ou económico desse direito.
Algumas disposições legais referem-se expressamente ao abuso do direito. São por
exemplo, de referir a este propósito os artigos 269 e 1482 do código civil.
O abuso do direito traduz-se, pois, num ato ilegítimo, consistindo a sua
ilegitimidade precisamente num excesso de exercício de um determinado direito
subjetivo: hão-de ultrapassar-se os limites que ao mesmo direito são impostos pela boa-
fé, pelos bons costumes ou pelo próprio fim social ou económico do direito exercido.
Consagração:
Tem sido atribuídas a teoria do abuso das direito origens longínquas que pelo menos se
situaram já no direito romano e que continuaram por todo direito intermédio. Porém,
verdadeiramente, a teoria do abuso de direito surge e vai-se afirmando no contexto
histórico-social do liberalismo capitalista como reação a mentalidade que o século
anterior impusera ao mundo dos códigos de direito privado e as contradições ínsitas entre
os princípios formulados e a prática, quer no âmbito das relações entre estes e a
administração pública.
A locução “Abuso do direito” surgiu na doutrina de língua francesa, nos finais do
século passado para designar situações nas quais uma pessoa que agira formalmente nos
termos de um direito subjetivo, fora no entanto, condenada, por anomalias no seu

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exercício. Neste momento assiste-se uma aplicação sistemática e criteriosa do abuso do


direito e em certos casos, uma banalização do instituto com aplicações menos justificadas.
A aplicação judicial é tão generalizada que se chega a firmar que não há quase
nenhum processo que se desenrole sem que, pelas partes, em paralelo com outros
argumentos, seja invocado o abuso de direito.
Porém, tal como diz Menezes Cordeiro, aos tribunais, pede-se, todavia, o maior critério e
a maior precisão na aplicação da boa-fé e, designadamente quando isso suceda contra o
iuris strictum. A possibilidade de qualquer pedido ser detido por invocado abuso introduz,
nos processos, um factos de Álea ou de insegurança incompatível com a justiça. Decidir
de acordo com a boa-fé exige, ao interprete-aplicado, um esforço analítico, concetual e
justificatório paradoxalmente muito superior a requerido pela aplicação de normas
estritas.

ABUSO DE DIREITO NO COTIDIANO


Em nossas relações cotidianas o abuso de direito ocorre com as mais diversas
relações de consumo e de vizinhança. Todavia, não são as únicas, pois até na rede mundial
de computadores, a internet, o comportamento abusivo se manifesta.
Nesse sentido, Barros (2005), nos apresenta situações bastante consideráveis dessas
ocorrências. Na seara das relações de consumo, um dos mais claros exemplos de abuso
de direito pode ser encontrado por ocasião das cobranças de débitos. Ocorre que muitos
fornecedores costumam, no exercício do direito de crédito, extrapolar os limites
permitidos para a cobrança, ocasionando para o devedor enormes constrangimentos e, em
alguns casos, expondo-o ao ridículo. Um exemplo clássico dessa prática é o do cobrador
de porta, indivíduo que realiza a cobrança de maneira humilhante, vexatória, visto que
expõe o devedor ao ridículo perante a vizinhança e demais pessoas presentes no momento.
Ainda nas relações de consumo, considera-se abusiva cláusula contratual que
autoriza a instituição financeira a descontar diretamente da conta corrente de funcionário
público, seu cliente, valor de empréstimo, uma vez que os vencimentos do servidor têm
natureza alimentar, não se admitindo que a instituição credora continuasse a efetivar tal
desconto. Claro está que tal conduta excede os limites éticos de qualquer negócio,
ensejando, via de consequência, o abuso de direito.

Não obstante, exemplos diversos de cláusulas abusivas, isto é, cláusulas


contratuais que excedem a boa-fé e a função social do contrato, são facilmente

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encontrados no cotidiano. Barros (2005) cita as taxas de serviços cobradas pelos hotéis
sem qualquer sentido, uma vez que a hospedagem já se apresenta como o objeto da
contratação; as cláusulas que isentam de responsabilidade por furtos ou danos causados a
veículos nos estacionamentos de centros comerciais, restaurantes ou supermercados; as
cláusulas que permitem o curso cobrar mensalidades, independente da desistência do
aluno, além de tantas outras. Dentre práticas comerciais viciadas de abuso, o autor destaca
a venda casada, a recusa de recebimento de cheques de correntistas com menos de seis
meses ou um ano de conta corrente, etc.
Partindo para situações que acontecem com abusos na internet, tem-se relações de
comércio na internet que dizem respeito às compras realizadas através de cartões de
crédito. Nesse tipo de negociação, contraente fornecedor abusa da boa-fé do consumidor
ao utilizar-se de seus dados para prática de fins escusos, ou ainda quando recebe o
pagamento e descumpre a sua prestação na avença. Neste caso, além de atentar contra a
boa-fé da outra parte, violou também os fins econômicos e sociais que norteavam a sua
posição como contratante. Decerto que na área penal esta conduta poderia ser enquadrada
como estelionato.
Outra situação, ainda, que ocorre na internet e que enseja o abuso de direito,
segundo Barros (2005), é o spamming. O spam nada mais é do que o envio ao
consumidor-usuário de publicidade de serviços ou produtos, oferecendo uma gama de
vantagens para o caso de uma efetiva contratação ou utilização, sem que a mesma tivesse
sido solicitada. Após receber tais mensagens indesejadas, o usuário geralmente perde um
bom tempo selecionando, lendo e excluindo as mesmas. Ademais, o spamming causa
grandes dificuldades aos fornecedores de serviços de internet, já que os mesmos
necessitam viabilizar medidas para coibir essa prática, o que, naturalmente, implica
aumento nos custos de sua atividade econômica. O spam, com isso, contraria o fim social
e econômico da grande rede, o que já serviria para enquadrar a prática como abuso de
direito. De outro norte, insta salientar que a conduta dos spammers também é atentatória
a boa-fé objetiva. Uma pessoa que envia mensagens para outra sem que esta tenha ao
menos solicitado, está distante da probidade e lealdade que se espera das relações
intersubjetivas, mesmo que se manifestem em meios virtuais.

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ELEMENTOS ESTRUTURAIS NO ABUSO DO DIREITO


A boa-fé retrata o padrão de confiança de equidade e de lealdade, que são
indispensáveis para a convivência em sociedade. Assim o individuo de direito subjetivo
que descumprir este princípio não está sendo justo e principalmente digno de confiança
para com alguém. Por este motivo, o individuo responderá civilmente pelos seus atos
praticados no momento em que abusar de seu direito para com outrem.

Boa-fé subjetiva tem duas vertentes, sendo eles o conhecimento ou


desconhecimento de alguma situação. Indica uma condição de consciência, quanto à
intenção do sujeito da relação jurídica, sua íntima convicção ou seu estado psicológico.
Muitas vezes pode acontecer, de haver uma falsa confusão de alguma característica do
negócio jurídico que é celebrado e o contratante por sua vez é enganado por si próprio,
por ter a plena convicção que algo acontece ou existe, no momento em que na verdade é
que ela não ocorreu ou não existe.

Como deixa claro Fernando Henrique Guedes Zimmermann:

Embora tanto a boa-fé subjetiva como a objetiva possuam a ideia de tutelar a


confiança, na primeira se resguarda a confiança de quem acredita em uma situação
aparente. já na objetiva a de quem acreditou que a outra parte procederia de acordo com
os padrões de conduta exigíveis. Se em ambas há um elemento subjetivo, só na boa-fé
objetiva existe um segundo elemento, que é o dever de conduta de outrem.

Nos elementos com a finalidade económica, é o proveito ou a benefício material


que o titular de direito ocasionou a outra parte, explorando de seu direito, e usufruindo de
um direito que na verdade não lhe pertence.

Raymond Saleilles afirma que:

O ato abusivo é um ato anormal, porque contraria a finalidade económica e social


do direito – ato sem conteúdo jurídico, economicamente prejudicial e reprovado pela
consciência pública. O critério é eminentemente económico.

Já no caso do fim social são todos e quaisquer os preceitos morais e legais que a
sociedade deseja como forma de obter uma conquista com a paz e harmonia, sem precisar
abusar de um direito que não é seu.

Salienta sobre o assunto Sérgio Cavalieri Filho:

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E o fim social é tudo que a sociedade pretende atingir, como a pás, a ordem, a
harmonia, a solidariedade, o bem comum, etc., o que também deverá ser sobrepesado pelo
juiz, quando do julgamento final.

Já aos bons costumes, são práticas relacionadas ao comportamento do indivíduo,


determinado pela crença e tradição. Trata-se de condutas ético-jurídicas que foram
instituídas dentro da sociedade, ou melhor, é um conjunto de regras de hábitos e reiteradas
em um determinado ambiente e momento realizado por pessoas corretas e justas. Desta
forma, ocorrerá o abuso do direito no momento em que o titular de direito violar às
práticas que estão inseridas dentro da sociedade.

OS EFEITOS DO ABUSO DO DIREITO


A anti juridicidade material do ato abusivo, acarreta-lhe como reação lógica por
parte do ordenamento jurídico a recusa da tutela que, não fora tal contrariedade, seria
adequada ao caso concreto. Na verdade, o código de 1966 trata o abuso do abuso do
direito como ato “ilegítimo” artigo334 mas não determina as sanções que lhe
correspondem.
Segundo Pires De Lima e Antunes Varela, a ilegitimidade do abuso do direito tem
as consequenciais de todo o ato ilegítimo: pode dar lugar a obrigação de indemnizar, a
nulidade nos termos do artigo 294, a legitimidade de oposição, ao alongamento de um
prazo de prescrição ou de caducidade, etc.

Em consequência, dele decorreu os efeitos que são próprios dos atos antijurídicos,
conforme as circunstâncias do caso: cessação do exercício, invalidade do ato, reposição
das coisas no estado anterior ao exercício abusivo e, no caso de este ter ocasionado danos
a outrem, obrigação de indemnizar.

Em suma, os efeitos do abuso do direito não podem fixar-se a prori e de maneira


uniforme, cumprindo determiná-los, em face da lei, segundo as circunstâncias do caso.

NOÇÃO DE BOA-FÉ
Com origens lá no Direito Romano, o princípio da boa-fé, a rigor, é um dos
princípios fundamentais do direito privado e sua função principal é estabelecer um
padrão ético de conduta para as partes nas mais diversas relações obrigacionais.

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Em outras palavras, no direito contemporâneo não tem como pensar em um contrato


de direito privado que esteja fora do alcance do princípio boa-fé.

A boa-fé representa hoje possivelmente a cláusula geral de maior extensão e surge


referida no código civil vigente em setenta artigos, dispersos pelos seus cinco livros.

Mesmo assim, não está genericamente consagrada mas apenas em previsões


sectoriais, em institutos parcelares de índole variada.

Porém, sem que isso retire interesse as previsões sectoriais, a boa-fé é hoje um
princípio geral de toda a valoração de comportamentos e funciona em qualquer ramo,
aplicando-se particularmente as conjunturas de relação.

A boa-fé constitui uma diretriz e um empenhamento que se afirmam com


particular insistência no pensamento jurídico dos nossos dias.

Quanto ao seu sentido e alcance, enquanto princípio fundamental, diga-se desde


já que não é possível encerrar o seu significado num conceito de contornos bem precisos
e rigorosos, fixado a priori e de uma vez por todas. É que ela constitui um critério
normativo e envolve uma cláusula geral e, como é sabido, tais esquemas são dotados de
grande elasticidade, postulando o afastamento de soluções imediatas e formalmente
acabadas em favor de linhas ou critérios gerais de orientação, as quais permitirão chegar
a resolução dos problemas jurídicos concretos.

A “boa-fé” encerra assim um conteúdo valorativo que ajuda no esclarecimento das


hipóteses concretas e a lei recorre a esta noção, justamente por ela estar tradicional e
linguisticamente ligada as noções de honestidade e correção no tráfego. Trata-se de um
padrão ético-social que permite eliminar e valorar os casos concretos.

Entretanto, é importante destacar que nessa esfera, o princípio da boa-fé possui


duas facetas, a “boa-fé objetiva” e a “boa-fé subjetiva” que é uma distinção fundamental.

Boa-fé objetiva
Neste sentido, é um critério normativo de valoração de condutas, um padrão
objetivo de comportamento ou seja, um princípio que norteia a conduta das partes. Atua
como uma regra imposta do exterior e que as pessoas devem observar.

A integração da declaração negocial poderá fazer-se segundo os ditames da boa fé


(art 239 do CC). Exprime-se por regras que traduzem a boa-fé objetiva. É ainda o caso
dos artigos 3, número 1, 227, número1, 272, 334, 437, 762.

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Boa-fé subjetiva
Neste sentido, é um estado de consciência do agente, que consiste, portanto, em
não ter consciência de lesar direito alheio. Ela reporta-se a um elemento intencional
individual, exprimindo um estado ou situação de espírito que envolve o convencimento
ou consciência de se ter um comportamento em conformidade com o direito.
Na boa-fé subjetiva está em causa um estado de sujeito, e este estado é
caracterizado pela lei em vigor ora como um mero desconhecimento ou ignorância de
certos factos (artigos: 119, 243, 1260, e 1340) ora como um seu desconhecimento sem
culpa ou uma ignorância desculpável (artigos: 291, 1648) ora finalmente pela consciência
de certos fatores (artigo: 612, n 2).

Discute-se se a boa-fé subjetiva é psicológica ou ética.


Ela será psicológica quando a lei se contente com o mero desconhecimento. Assim
acontecia com a posse, no direito romano. Será ética quando se exigir ainda que esse
desconhecimento não possa ser reprovado.
Considera-se então de, á fé o sujeito que desconheça com culpa: devia saber.
A lei vigente consagra por vezes a boa-fé ética. Assim, o artigo 291, número 3
considera de boa-fé o terceiro adquirente que desconhecia sem culpa o vício do negócio
anterior. Podemos, no entanto, concluir que a boa-fé relevante é predominante a boa-fé
ética.

Direitos anexos

Além disso, o princípio da boa-fé estabelece diversos deveres que nem precisam
estar escritos no negócio jurídico. São os chamados direitos anexos, como os citados
abaixo:

- Dever de cuidado em relação à outra parte negocial;


- Dever de respeito;
- Dever de informar a outra parte sobre o conteúdo do negócio;
- Dever de agir conforme a confiança depositada;
- Dever de lealdade e probidade;
- Dever de colaboração ou cooperação;
- Dever de agir com honestidade;
- Dever de agir conforme a razoabilidade, a equidade e a boa razão.

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Logo, o que tem prevalecido na vida prática, sobretudo no Direito Civil, é que a
violação de qualquer um desses deveres implica em ofensa ao princípio da boa-fé.

QUANTO A LIMITAÇÃO DA BOA-FÉ:

Não é de excluir a atuação contra legem do princípio da boa-fé. Ele pode


desempenhar uma função corretiva, exercendo ou limitando o alcance de normas
imperativas. Todavia, há que proceder aqui com extrema cautela, Tendo em conta os
limites postulados por eventuais exigências de um autêntico iusstrictum.
Pode, assim, haver um sacrifício da boa-fé. Como num plano mais geral pode, em certas
condições o direito ter de sacrificar a justiça. Assim pode suceder quando estejam em
causa pressupostos formais de uma certa pretensão, como a observância de um prazo ou
de determinadas formalidades legais.
A aplicação da boa-fé envolve também certos riscos. São eles, fundamentalmente:
- O de possibilitar uma certa ligeireza na investigação do regime aplicável, com o recurso
demasiado apressado ao critério geral sem previamente esgotar as possibilidades técnicas
do sistema: pondo de lado uma cuidadosa investigação da eventual existência de uma
norma especialmente atinente ao caso;
- O de contribuir para um acréscimo de insegurança do tráfico jurídico;
- E o de abrir a porta ao arbítrio do julgador.

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CONCLUSÃO
É preciso considerar que, segundo o nosso sistema jurídico, aquele individuo que
faz uso do seu direito com finalidade diferente a qual se destina, responderá assim pelos
danos causados a terceiros, pois se caracteriza como abuso de direito.

De tudo aquilo foi exposto, também chega-se a conclusão de que a limitação da


aplicação da boa-fé pressupõe o sacrifício da mesma ou seja, num plano mais geral, pode
em certas condições, o direito ter de sacrificar a justiça. Podendo assim suceder quando
estejam em causa pressupostos formais de uma certa pretensão, como a observância de
um prazo ou de determinadas formalidades legais.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
www.jus.com.br. Acesso em 05.02.2021
SILVA, Carlos Alberto Burity. Teoria Geral do Direito Civil: 2ª Edição. Luanda:
Norprint- a casa do livro, junho 2015.

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