Você está na página 1de 8

Universidade Aberta ISCED

Faculdade de Direito

Curso de Licenciatura em Direito

Teoria contemporânea da interpretação

Arsénio Sadique Aualo

O presente trabalho foi


submetido na Faculdade de
Direito, no Curso de
Licenciatura Em Direito, no 1º
Ano, no Módulo de Direito e
Pensamento Jurídico, como
requisito da 3ª avaliação.

Lichinga, Outubro de 2023


Índice
1. Introdução ........................................................................................................................................... 3

1.1. Objectivos .................................................................................................................................... 3

1.1.1. Objectivo Geral ..................................................................................................................... 3

1.1.2. Objectivos Específicos .......................................................................................................... 3

1.2. Metodologia do Trabalho ............................................................................................................ 3

2. Desenvolvimento ................................................................................................................................ 4

2.1. Conceito de Interpretação ........................................................................................................... 4

2.1.1. Tipos de Interpretação ......................................................................................................... 4

2.2. Teoria contemporânea da interpretação .................................................................................... 4

2.2.1. Hermenêutica contemporânea em Dworkin........................................................................ 5

2.3. Interpretação da norma jurídica de acordo com o direito Moçambicano .................................. 5

3. Conclusão ............................................................................................................................................ 7

4. Referências Bibliográficas ................................................................................................................... 8


1. Introdução
O presente trabalho corresponde ao trabalho de campo do Módulo de Direito e Pensamento Jurídico
e versa sobre: Teoria contemporânea da interpretação. Entretanto, o direito não pode se resumir aos
costumes indeterminados dos povos (como na antiga tradição escolástica do direito natural) nem ao
exercício individual da razão sobre o que é justo ou injusto (na esteira do racionalismo moderno). É
preciso reconhecer que o Direito não se limita mais a dizer como funcionam as relações jurídicas, ao
contrário, inclui um vasto número de possibilidades para os próprios sujeitos sociais dizerem qual
será o Direito ou os direitos a regular as relações jurídicas. Se cada um pudesse tomar tal decisão
segundo suas próprias concepções, exercendo seu juízo, recairíamos em uma situação de anarquia.
Pois, o Estado define então o direito o conjunto de regras válidas e as impõem. Pode-se ainda julgar a
justiça substantiva de tal direito, mas se trata de uma avaliação moral (sobre o que o direito deveria
ser), e não de um juízo sobre o que o direito é. Contudo, como a interpretação deve ter em conta o
ordenamento jurídico e não apenas uma lei isolada nem, tampouco, um artigo de lei específico, já
que toda norma se integra numa ordem da qual a regra é apenas um modo de expressão, é preciso
estabelecer, através do elemento sistemático, as necessárias relações entre as várias disposições.

1.1. Objectivos
1.1.1. Objectivo Geral
✓ Compreender a teoria contemporânea da interpretação.

1.1.2. Objectivos Específicos


✓ Conceituar a interpretação;
✓ Apresentar as diversas facetas da Teoria da interpretação na actualidade;
✓ Analisar a interpretação da norma jurídica de acordo com o direito Moçambicano.

1.2. Metodologia do Trabalho


Para Marconi e Lakatos (2001), a pesquisa bibliográfica, abrange toda bibliografia já tornada pública
em relação ao tema estudado, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas,
monografias, teses, materiais cartográficos, etc (p.18). Portanto, na efectivação desse trabalho
utilizou-se a pesquisa bibliográfica.

3
2. Desenvolvimento
2.1. Conceito de Interpretação
Segundo Maximiliano (2010) “interpretar é explicar, esclarecer, dar o significado do vocábulo,
mostrar o sentido verdadeiro de uma expressão”, daí por que incumbe, ao intérprete, “examinar o
texto em si, o seu sentido, o significado de cada vocábulo.
Faz depois obra de conjunto; compara-o com outros dispositivos da mesma lei, e com os de leis
diversas, do país ou de fora. Inquire qual o fim da inclusão da regra no texto e examina este tendo
em vista o objetivo da lei toda e do Direito em geral. Determina por esse processo o alcance da
norma jurídica e, assim, realiza, de modo completo, a obra moderna do hermeneuta” (p.23).

2.1.1. Tipos de Interpretação


Quanto à origem a interpretação, pode ser:
✓ Autêntica;
✓ Jurídica e
✓ Doutrinal.
Quanto aos meios, elementos, métodos ou processos, podem ser:
✓ Interpretação gramatical;
✓ Interpretação lógica;
✓ Interpretação sistemática e
✓ Interpretação histórica;
✓ Interpretação teleológica;
✓ Interpretação histórica.
Todavia, no presente trabalho focar-se-á na abordagem da interpretação jurídica. Portanto, o ponto
de partida de toda interpretação é o texto da lei, aliás, não só o ponto de partida, mas, por igual, o
limite da busca do espírito, daí deve o jurista, através do elemento literal ou gramatical, proceder à
análise filológica do texto, da sua linguagem, do significado dos termos.
Pode, entretanto, o elemento literal não exprimir o pensamento do legislador em termos adequados,
quer porque usou palavras ambíguas, quer porque o espírito e a letra podem não coincidir, impondo-
se então o sacrifício da letra.

2.2. Teoria contemporânea da interpretação


O ser humano não está submetido à esfera da necessidade (das determinações genéticas ou sociais),
mas também à esfera da liberdade, pois pelo exercício de sua própria razão é capaz de eleger cursos
de ação alternativos. Por isso, o direito, assim como a ética, não se resume àqueles dados empíricos

4
do mundo. O discurso jurídico desenvolve-se no plano do dever-ser, da normatividade, e não da
empiria.
Desse modo, os realistas atacaram os formalistas, que resumiam o direito aos conceitos e regras
formulados na legislação ou na jurisprudência, com claras hipóteses de incidência e consequências
devidas (Amato, 2021).
2.2.1. Hermenêutica contemporânea em Dworkin
Ronald Dworkin tem-se destacado com um pensamento original, pois, é um dos principais
jusfilósofos que desenvolve críticas relevantes ao liberalismo utilitarista e ao positivismo jurídico
contemporâneo, principalmente na versão dada a esta teoria pelo professor Herbert Hart. Portanto,
para outros, Dworkin é responsável por criar uma terceira teoria do direito, onde a primeira e a
segunda seriam o positivismo jurídico e o jusnaturalismo.
Tanto o teórico do direito quanto o jurista prático fazem argumentos sobre o que o direito requer
nessa medida, com maior ou menor abstração, engajam-se em controvérsias valorativas, que no
fundo pressupõem a articulação de certa moralidade política. Por isso, o que caracterizaria o direito
são os “desacordos teóricos” emergentes para além do acordo sobre questões fáticas: normas
aplicáveis e circunstâncias concretas (Dworkin, 2010, p. 5).
Assim a visão de dentro, explica o direito como uma prática social normativa, um campo de
exercícios interpretativos em que não somente se considera a busca a melhor interpretação possível
(a mais forte, racional e convincente) dos textos jurídicos (legislativos e jurisprudenciais).
Dworkin (2010), argumenta que o direito é uma actividade interpretativa, abrange padrões não
institucionalizados, que não foram objeto de decisão por autoridade competente anterior, mas que
guardam coerência valorativa e adequação com o corpo de regras interpretado.
Também parece acreditar que a interpretação no sentido forte, a aplicação “interpretativa”, também
não é rotineira embora sempre esteja potencialmente contida na aplicação do direito. Os juízes nem
sempre são demandados a filosofar, mas no limite podem ter sob seu juízo questões morais
controversas que exigem um tipo de análise conceitual qualitativamente afim à prática da filosofia,
ainda que mais circunscrita (Dworkin, 2010).

2.3. Interpretação da norma jurídica de acordo com o direito Moçambicano


Naturalmente, é preciso, repensar o papel de vários intervenientes como detentores da produção de
normas jurídicas face a uma nova organização social que está se formando. É neste contexto de
emergência de novas tendências culturais e de transformações do cenário jurídico moçambicano
característico da pós-modernidade que será analisada a interpretação da norma jurídica de acordo
com o direito Moçambicano. Por outro lado, é preciso ter se em conta que o mundo contemporâneo
vive a crise do direito dogmático.
5
Como a interpretação deve ter em conta o ordenamento jurídico, neste caso, moçambicano, e não
apenas uma lei isolada nem, tão pouco, um artigo de lei específico, já que toda norma se integra
numa ordem da qual a regra é apenas um modo de expressão, é preciso estabelecer, através do
elemento sistemático, as necessárias relações entre as várias disposições. Portanto, o Estado se
sente impossibilitado de monopolizar a feitura das normas jurídicas e não consegue fazer prevalecer
suas fontes. Pelo contrario, diversas outras fontes normativas e ate sistemas éticos se apresentam
evadindo a esfera estatal e, as vezes, se sobrepondo a ela.
No contexto moçambicano, toda decisão judiciária gera duas ordens de efeitos: sobre o sistema
normativo e fora do sistema normativo. Assim sendo, até as decisões e são a maioria que se limitam
a repetir a interpretação tradicional de um certo grupo de normas e a seguir fielmente os
precedentes exercem um efeito sobre o sistema normativo, enquanto consolidam esse tipo de
interpretação e essa orientação jurisprudencial. Mais visíveis são os efeitos das decisões que se
afastam das precedentes e dão uma interpretação mais ou menos inovadora de um grupo de
normas. É para tais decisões que se volta geralmente a atenção dos estudiosos de direito, que
examinam seu grau de precisão técnica e de coerência com os princípios gerais do sistema normativo
tal como cada um os entende.
A importância da discussão sobre a interpretação da norma jurídica como paradigma do direito
moçambicano é plenamente justificada, pelo facto do modelo jurídico estatal vigente (unitário) no
pais nunca desempenhou a sua função primordial, qual seja a de recuperar os conflitos do sistema
institucionalmente, dando-lhes respostas que restaurem a estabilidade da ordem estabelecida, na
medida em que o modelo instituído se apresenta insuficiente e inadequado para dar conta das suas
funções. Assim, efeitos da interpretação, da conjugação desses elementos, resulta a ratio legis, o
sentido, o espírito, a razão, o alcance da lei.

6
3. Conclusão
Conclui-se que a no direito moçambicano a excepcionalidade da interpretação é forte na sustentação
de uma explicação convencionalista da prática jurídica. Pois, a interpretação, surge como excepcional
e isto nos termos tradicionais. Portanto, a interpretação é excepcional, a partir do momento que não
deixa de ser importante. Assim, trata-se de um modelo conversacional que guarda maior afinidade
com a imagem positivista do direito baseado em fontes sociais, isto é, em decisões de autoridades.
Noutra senda, às versões mais cruas de interpretação baseada na intenção das autoridades, a qual
apresentaria um deficit de legitimidade ao permitir que sejam incorporados ao direito padrões que
não podem ser pensados como tendo sido desde o início criados como jurídicos ou juridicamente
vinculantes. Entretanto, a natureza do direito implicaria essa exclusão desde o princípio. Hart
reafirmava a visão pós-realista de que a interpretação jurídica também implica juízos de valor para
além daqueles pré-definidos pelo legislador em regras já formuladas e válidas. Observe-se que se o
resultado da interpretação levar à conclusão de que o dispositivo de lei tem um sentido nocivo,
contrário aos interesses que se pretendem superiores, faz-se, então, uma interpretação corretiva,
tendo em conta que a lei é um corpo harmônico e sistemático das normas, se a regra legal disse
menos, recorre-se à interpretação extensiva, para ampliar-lhe o sentido, e se a norma jurídica disse
mais, pede-se auxílio à interpretação restritiva para estreitar-lhe, reduzir-lhe o sentido.

7
4. Referências Bibliográficas
Amato, L.F. (2019). Moralidade, legalidade e institucionalização. Revista de Direito da Universidade
Federal de Viçosa, Viçosa, v. 11, n. 1, p. 335-360.

Dworkin, R. (2010). Justice in Robes. Cambridge, MA: Harvard University Press.

Geertz, C. (1997). O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Tradução de Vera
Mello Joscelyne. Petrópolis: Vozes.

Macedo Júnior, R.P. (2013). Dworkin e a teoria do direito contemporânea. São Paulo: Saraiva.

Michelon Júnior, C.F. (2004). Aceitação e objetividade: uma comparação entre as teses de Hart e do
positivismo precedente sobre a linguagem e o conhecimento do direito. São Paulo: Revista dos
Tribunais.

Santos, B.S. (2003). Conflito e transformação social: uma paisagem das justiças em Mocambique.
Porto: Afrontamento, v. 1, p. 48

Você também pode gostar