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I

UNIVERSIDADE CATOLICA DE MOÇAMBIQUE


FACULDADE DE DIREITO

Segurança Jurídica e Liberdade Jurídica

NAMPULA
2023
II

UNIVERSIDADE CATOLICA DE MOÇAMBIQUE


FACULDADE DE DIREITO

ELEMENTOS DO GRUPO:
NABIL MODAN
VALGY SABINO
KAILANE MARIA
SORTÊNCIA AMISSE
PAULINA DO CARMO MARIANO VIANA
JADMILSON FÉLIX
TATIANA USSENE
JOICE DA FATIMA SELEMANE
JUNETE DA NITA ANGELO
SHANILA MOMADE HAGI
MARIA ROSALINA VICENTE MARTINS
ERICA CHIMITA
O presente trabalho corresponde á
avaliação em grupo da disciplina de
Filosofia Jurídica no primeiro ano,
do curso de licenciatura em Direito,
tendo como Docente Raufo LLM.

NAMPULA
2023
III

Índice
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................4
1. Segurança Jurídica ..................................................................................................................5
Evolução Histórica ..................................................................................................................... 5
1.2. Segurança Juridica ...............................................................................................................6
1.3. Do Paradigma do Estado Liberal .........................................................................................7
1.4. Do Paradigma Do Estado Social ......................................................................................... 7
1.5. Do Paradigma Do Estado Democrático De Direito .............................................................8
1.6. Qual a importância da segurança jurídica para a sociedade? .............................................. 9
2. PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA ....................................................................... 10
3. Liberdade Juridica ................................................................................................................ 11
3.1. Da Liberdade Jurídica E A Juridificação Excessiva Da Vida Em Sociedade ................... 11
3.3. Liberdade Negativa e Liberdade Positiva – o Direito Da Humanidade Como Ponto De
Confluência. .................................................................................................................................. 12
3.4. O Uso Externo Da Liberdade Segundo Kant .................................................................... 13
3.5. Liberdade Natural ..............................................................................................................14
3.6. A Fundação De Um Corpo Jurídico Comum .................................................................... 14
Conclusão ................................................................................................................................. 16
Referências Bibliograficas ....................................................................................................... 17
4

INTRODUÇÃO
Para introduzir o nosso trabalho de Filosofia, com os seguintes temas:
 Segurança Juridica;
 Liberdade Natural e Liberdade Juridica;
O presente ensaio defende a ideia de que a presença do princípio da legalidade num
determinado ordenamento jurídico não garante a existência de segurança jurídica, devido às
questões de interpretação e de aplicação das leis aos casos concretos. Contudo, para podermos
efectuar este argumento, é necessário analisar, em primeiro lugar, o que é a interpretação de texto.
A chamada “segurança jurídica”, nascida da necessidade de estabilização do ordenamento e
de proteção contra o arbítrio absolutista, por diversas vezes demonstrou ser útil e até mesmo
indispensável. Não se nega, portanto, que representou uma evolução no que se relaciona aos
padrões jurídicos anteriores ao Estado de Direito.
Ocorre que a segurança jurídica é objeto de discussão doutrinária e jurisprudência há vários
anos, especialmente após a supervivência do Estado Democrático do Direito e da revolução
copernicana ocorrida nos paradigmas interpretativos, especialmente no que concerne à
Constituição.
A própria ideia de segurança reflete um “impulso” da natureza humana, que se evidencia
quando uma pessoa se depara com sua situação de “ente limitado”. Nesse sentido, a segurança
jurídica é apenas um elemento da ideia segurança.
Para a libersade juridica, na verdade, o conceito de liberdade é tão central na filosofia de Kant
que não há exagero em dizer que ela é essencialmente uma filosofia da liberdade. Aliás, o
referido filósofo é, antes de tudo, preciso e atento quanto aos diferentes sentidos do conceito de
liberdade. Em particular, vai nos interessar neste contexto a distinção entre liberdade externa ou
liberdade das ações - de um lado, e liberdade interna ou liberdade da vontade e de outro lado, a
liberdade do juízo.
5

SEGURANÇA JURIDICA

1. Segurança Jurídica

Evolução Histórica
Uma rápida digressão histórica acerca da segurança jurídica faz-se indispensável para o seu
entendimento hodierno, bem como para estabelecer a sua relação com a previsibilidade das
decisões judiciais. Assim, dividiremos o seu estudo, segundo os ditames do constitucionalismo,
em três fases: Estado Liberal, Estado Social e Estado Democrático de Direito.
Preambularmente, quanto ao ponto, cumpre assinalar que não se pretende aprofundar
qualquer discussão sobre se segurança jurídica constitui uma categoria — parece que seria
possível assim entender. Se não no conceito aristotélico ao menos dentro do conceito de
categoria proposto por KANT, como condições de possibilidades ou um princípio, aqui
considerado como uma verdade fundante. Não que isso seja absolutamente irrelevante, mas sim
porque, qualquer que seja a conclusão, o tema continuará sendo de interesse da Teoria Geral do
Direito, que é o que se busca demonstrar.
Parece certo afirmar que segurança jurídica e justiça se imbricam e se condicionam
reciprocamente, dado que não é imaginável uma situação em que o valor segurança jurídica haja
desaparecido e, mesmo assim, se possa falar em realizar justiça; de outra banda, a só redução do
Direito à segurança jurídica sem consideração do valor justiça transformaria o direito num
simples instrumento de legitimação do poder qualquer que fosse sua qualidade.1
O sistema jurídico deve ser visto atualmente como operativamente fechado e cognitivamente
aberto em relação aos outros subsistemas que compõem a sociedade. Nesse contexto, a
complexidade e a dupla contingência são elementos essenciais para a compreensão da sociedade
contemporânea, assim como o conceito de risco, que assume papel fundamental na sociedade
dita pós-moderna.
A segurança, postulado da modernidade no Direito, abre espaço para a atual e constante
contingência da atualidade. O Direito não pode mais ter a simples pretensão de afastar os riscos –

1
NUNES, Jorge Amaury Maia , Segurança Juridica, P 23.
6

deve ser um alívio para as expectativas. É a presença inevitável do risco e a forma com que o
Direito pode enfrentar tal situação, o objeto de reflexão deste breve estudo.2
Para o desenvolvimento desse raciocínio, o estudo divide-se em três partes. A primeira traz a
teoria sistêmica como alternativa em busca de uma teoria jurídica mais adequada à
contemporaneidade que as teorias dogmáticas tradicionais. A segunda parte trata de alguns
conceitos-chave para a teoria dos sistemas: complexidade, contingência, risco e paradoxo.3

1.2. Segurança Juridica


Segurança jurídica é o princípio de previsibilidade e coerência na aplicação das leis sobre os
ambientes de negócios garantindo aos investidores e empresas um cenário mais previsível,
razoável e estável para maior segurança entre as relações de negócios. O conceito segurança
jurídica busca maior clareza e melhor compreensão de direitos e deveres e de sua aplicação ao
longo prazo.
A segurança jurídica favorece, portanto, a tomada de decisões de todos sobre como se portar e
a previsão, com algum grau de certeza, das consequências que ocorrerão no futuro com relação
aos atos que foram praticados no presente.
Em suma, há segurança jurídica quando o Direito serve de instrumento de orientação, de
proteção e de tranquilidade para os cidadãos, de modo que eles possam praticar seus atos e
realizar investimentos sem que sejam surpreendidos de modo abrupto e incoerente.
O Direito é mutável, geralmente com base na realidade social, em razão de receber
influências dos ideais econômicos, políticos e morais de cada momento histórico. De acordo com
os valores protegidos e os objetivos a ser alcançados, o Direito molda-se à ideologia dominante,
e apresenta diferentes características.
O período da modernidade foi marcado pela busca da segurança jurídica. A grande
preocupação era assegurar os direitos conquistados pelos indivíduos ante o Estado. O Direito
estava centrado no positivismo; era de grande importância a existência de leis que
determinassem claramente os direitos e os deveres dos cidadãos. A segurança jurídica era valor
fundamental, buscava-se a estabilidade e a total previsibilidade na realização do direito, o que
justifica o fundamento teórico no positivismo e o formalismo predominante.

2
Gomes, Daniela Vasconcellos, segurança juridica, P34.
3
IDEN, 35
7

Nesse ideário liberal, o indivíduo possuía direitos intrínsecos que fundamentariam toda a
disciplina jurídica. O ordenamento jurídico possuía um caráter nitidamente individualista, ao ter
como função apenas proteger o livre-exercício de tais atributos da personalidade, posto que os
princípios fundamentais eram a igualdade formal e a liberdade civil.4

1.3. Do Paradigma do Estado Liberal


O Estado Liberal de Direito caracteriza-se pela difusão da ideia de direitos fundamentais, da
separação de poderes e do império das leis, nesse paradigma, há nítida divisão entre o público e o
privado, permitindo-se a segurança nas relações sociais por meio da observância à legalidade.
Assim, o princípio da legalidade permite que o jurisdicionado estabeleça um cálculo sobre as
consequências jurídicas de suas condutas e, com isso, a vida social ganha segurança jurídica e
previsibilidade.
Não bastasse, a segurança torna-se um pressuposto do Direito e do Estado. Hobbes , Locke e
Rousseau perceberam a passagem do estado de natureza para a sociedade civil. A partir desta
passagem, a segurança jurídica torna-se basilar, pois o capitalismo necessita de certeza e
legalidade nas relações jurídicas. Por este motivo, a segurança jurídica restou positivada na
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

1.4. Do Paradigma Do Estado Social


No início do século XX, o modelo de aplicação do Direito até então utilizado no Estado
Liberal começou a ser colocado em questão, em razão da constatação de que os juízes não
aplicam as normas de forma neutra. Como a norma geral e abstrata poderia garantir segurança
jurídica se a sua interpretação é aberta e ela nada mais é do que uma moldura que pode ser
preenchida com diferentes substratos.
Com o surgimento do capitalismo monopolista e a Primeira Guerra Mundial, temos a crise da
sociedade liberal, possibilitando o surgimento de uma nova fase do constitucionalismo, que tem
como principal expoente a Constituição da República de Weimar (1919).
Com o intuito de garantir segurança jurídica, a hermenêutica passa a estabelecer métodos
mais sofisticados, como a análise teleológica, a sistêmica e a sociológica, buscando —
4
Gomes, Daniela Vasconcellos, A Questão da (In)Segurança Jurídica na Sociedade Contemporânea, P. 160.
8

obviamente, sem alcançar a finalidade pretendida — emancipar a interpretação da vontade


subjetiva do intérprete, em direção à vontade objetiva da própria lei.

1.5. Do Paradigma Do Estado Democrático De Direito


O paradigma do Estado Social, contudo, passa a apresentar sinais de insuficiência para atendr
às demandas sociais e políticas. Isso porque, ao final da Segunda Guerra Mundial, o Estado
Social começa a ser questionado em razão de sua crise de legitimação, tendo em vista os novos
movimentos sociais (hippie, estudantil, pacifista, entre outros) que eclodem na década de 60 e as
relações sociais extremamente intrincadas e fluidas que passam a existir entre os países.
Assim, o paradigma do Estado Democrático de Direito exsurge como alternativa ao modelo
de Estado do bem-estar-social.
No paradigma do Estado Democrático de Direito, os princípiosse empenham um novo papel
que visa, sobretudo, permitir a solução para demandas complexas: o caso posto em discussão
diante do Poder Judiciário pode ser um caso difícil.
O princípio da separação de poderes, por sua vez, também ganha uma nova leitura, na qual o
Poder Judiciário amplia sua participação no processo de concretização dos direitos, pois a ele
compete viabilizar a legitimação do Estado Democrático pelo procedimento da cidadania.5
O Homem é um ser intrinsecamente inseguro, mas que anseia por segurança, fazendo desta
aspiração uma necessidade vital. A insegurança suportada pelo Homem ultrapassa a esfera
individual e atinge a própria sociedade. Ocorre que é impossível uma sociedade se desenvolver
diante da insegurança humana e da instabilidade. Assim, a segurança é uma necessidade básica
do Homem.
O Homem deve tomar decisões a todo o momento, portanto, é necessário que haja regras de
orientação a serem seguidas. Tais regras exoneram o ser humano do fardo de refletir
exaustivamentesobre cada ação antes de conduzir-se, o que impossibilitaria a vida cotidiana.
Sob o ponto de vista sociológico, não é possível admitir uma sociedade sem o mínimo de
organização, e esta, por seu turno, não é concebível sem normas de orientação.

5
COSTA, Rafael de Oliveira, SEGURANÇA JURÍDICA E (IM)PREVISIBILIDADE DO DIREITO, P 179.
9

O Direito é um instrumento social que viabiliza a organização da sociedade através de normas


de conduta. Sem essa organização, sem essa ordem, a sociedade estaria fadada ao fracasso, à
catástrofe.
Daí alguns autores, entre juristas, filósofos e sociólogos, afirmarem que a segurança é a razão
do Direito. Como diria Rudolf Von Ihering, em A luta pelo Direito: “O objetivo do Direito é a
paz.” Esta somente pode ser alcançada se o Direito garantir a segurança jurídica tanto à
sociedade como aos próprios indivíduos.
A segurança jurídica é um dos objetivos do Direito, mas representa também um valor e um
princípio. Valor por ser escolha axiológica social como um conceito que “é” (ser) ‘bom’ para a
sociedade que o escolheu. Um princípio porque é uma norma que ‘deve ser’ concretizada.
Entretanto, para fins do presente trabalho, adotar-se-ão estes termos como sinónimos.6
A segurança jurídica consiste no 'conjunto de condições que tornam possível às pessoas o
conhecimento antecipado e reflexivo das consequências diretas de seus atos e de seus fatos à luz
da liberdade reconhecida'. Uma importante condição da segurança jurídica está na relativa
certeza que os indivíduos têm de que as relações realizadas sob o império de uma norma devem
perdurar ainda quando tal norma seja substituída.7

1.6. Qual a importância da segurança jurídica para a sociedade?


A segurança jurídica deve primariamente pautar a atuação do Poder Público de modo geral, e
não somente a dos três Poderes da República. Deve incluir, portanto, o agir dos Tribunais de
Contas e do Ministério Público. É fundamental que tais instituições atuem de modo a propiciar
aos cidadãos a necessária compreensão, previsão e confiança no Direito em vigor adotado nas
decisões administrativas e judiciais proferidas.
A segurança jurídica é muito importante para a sociedade por dar ao indivíduo um melhor
entendimento de seus direitos e deveres, das consequências de suas ações e omissões e de como
a sociedade é organizada e regida.
Para o ambiente de negócios, a segurança jurídica se une a itens basilares, tais como
infraestrutura, qualidade da educação, capacitação profissional e um sistema administrativo

7
https://www.migalhas.com.br/depeso/302189/o-stj-e-o-principio-da-seguranca-juridica, acessado: 28 de set de 2013, pelas
09:41.
10

público desburocratizado como pilares fundamentais para a atrair, criar e manter empresas e
empregos.
A insegurança jurídica, por outro lado, traz grande desconfiança às instituições e aos
investidores. Muitas vezes as empresas não conseguem prever as consequências dos seus atos
baseados nas normas jurídicas vigentes, seja pela complexidade do texto ou pelas divergências
de entendimento na sua interpretação.
Quanto maior a estabilidade jurídica e a clareza sobre as leis e as possíveis sanções em caso
de seu descumprimento, maior a chance de investidores aportarem capital e fazerem transações
comerciais num determinado mercado.
A falta de segurança jurídica também aumenta a pressão sobre o Judiciário, com a
judicialização de situações que, num cenário de maior clareza do Direito, seriam resolvidas sem
a necessidade de se acionar a Justiça. O uso excessivo da Justiça para a solução de conflitos
prejudica o desempenho do Judiciário, a competitividade das empresas e gera custos
desnecessários para o Estado, além de não ser garantia de uma solução ideal. A judicialização
exagerada, ao fim, afugenta investimentos.8
2. PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA
A própria etimologia da palavra segurança remeto-nos a uma ideia de proteção, de certeza, de
firmeza, e até de tranquilidade, precaução e garantia. O bom conceito de segurança, quando
aplicado ao direito e às relações jurídicas, traz-nos sempre a ideia de paz, de certeza e de garantia
dos direitos.
O princípio da segurança jurídica estabelece que o Poder Público, em suas relações
administrativas, ou judiciais, respeite e cumpra as situações de fato e de direito já consolidadas, e
as preserve perante lei nova, em proveito da estabilidade e paz nas relações jurídicas. A
segurança jurídica é um valor, estado ideal de coisas que aponta para a previsibilidade,
determinando certeza nas relações. Contudo, não basta garantir-se mera certeza da aplicação da
lei, mas igualdade nesta aplicação.
Não basta a lei prescrever determinado comportamento para que exista garantia de segurança.
A segurança jurídica é mais bem definida com a certeza de aplicação igualitária da norma,
tomando-se como pressuposto de que a própria norma a ser aplicada já respeita a igualdade.9

8
https://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/seguranca-juridica/, Acessado 15.10.2023, pelas 02,15.
9
SEGER, Giovana Abreu da Silva,Princípio da segurança jurídica, Pag 4-5.
11

3. Liberdade Juridica
Portanto, para Kant a liberdade é o fundamento da existência de leis práticas incondicionadas,
ou, leis morais, sobre as quais se fundamenta a doutrina do Direito, uma vez que “o critério de
distinção entre moral e direito é, como foi dito, puramente formal, no sentido de que a mesma
ação pode ser tomada em consideração tanto pela legislação interna quanto pela externa” 10
A definição de liberdade jurídica como a simples autorização de não cometer injustiças aos
demais, ou seja, não obstruir-lhes as ações que são conformes ao direito, conduziria, segundo
Kant, a uma tautologia. Com efeito, é necessário trazer à tona o pressuposto implícito que
confere positividade a esse princípio tautológico: à definição da liberdade externa jurídica
como a mera faculdade de coagir quem ilegitimamente impede o uso permitido alheio do arbítrio
tem de ser acrescida uma cláusula essencial, a saber, que essa liberdade seja conforme a uma lei
universal, ou ainda, seja passível de receber o assentimento de todos os envolvidos, que, dessa
maneira, reconhecem a legitimidade da lei e da coerção ligada a ela. Assim como ocorre na
Fundamentação da Metafísica dos Costumes, em que a clássica fórmula do imperativo categórico
como lei universal se “realiza” no princípio de autonomia e na fórmula do reino dos fins também
o princípio universal do direito precisa ser trazido à sua “determinação completa” em um
princípio que defina a autonomia jurídica e a ideia que lhe é inerente de uma comunidade
jurídica regida por leis das quais seus membros, sujeitos legisladores universais, reconheçam-se
como autores e destinatários.

3.1. Da Liberdade Jurídica E A Juridificação Excessiva Da Vida Em Sociedade


O conceito de Honneth para a liberdade jurídica parte da ideia liberal de liberdade negativa,
ou seja, que os indivíduos teriam a sua liberdade assegurada por um conjunto de direitos
subjetivos reconhecidos pelo Estado, constituindo-se a partir daí uma esfera privada de ação e
autorreflexão.
Nas sociedades modernas e liberais prevalece, desde seus primórdios, uma unidade altamente
abrangente, pois os indivíduos só podem se compreender como pessoas independentes dotadas
de uma vontade própria se contarem com direitos subjetivos que lhes concedam uma margem de

10
FERNANDES, Paulo, Cezar, O Direito Como Garantia Externa Da Liberdade – Uma Fundamentação Para Os
Direitos Humanos, P.92.
12

ação que, protegida do Estado, lhes possibilite uma prospecção de suas propensões, preferências
e intenções.11
Nesse momento é possível perceber que Kant, na definição mesma de liberdade jurídica, liga
à obrigatoriedade da lei a concepção “republicana” de liberdade como o possível assentimento
geral dos envolvidos em uma dada comunidade
jurídica, todos eles detendo, agora segundo a concepção “liberal” de liberdade, direitos
inalienáveis que precisam ser salvaguardados coercitivamente das ingerências alheias.12
Chama-se Liberdade Jurídica a prorrogativa de ser humana, enquanto racional livre, não só
poupada pela lei, se e enquanto esta não a restringe, mas também enquanto tutelada,
especificamente pelo processo judiciário.13
3.2. A liberdade de dispor de objetos externos
é lesada quando meu uso externo legítimo do arbítrio é impedido por outrem. Nessa medida,
assim como um corpo que age sobre outro, obstruindo-o em sua trajetória, um sujeito que age
contrariamente ao direito erige um obstáculo ao livre exercício do meu arbítrio. O impedimento
ao impedimento ilegítimo do uso da minha liberdade externa é, segundo Kant, legítimo – em
outras palavras, aquele que (de modo livre e, assim, imputável) me obstrui a liberdade comete
um ato contrário ao direito, e neste caso a coerção externa (isto é, a suspensão coagida deste
impedimento ilegítimo) é permitida e justa por reestabelecer a liberdade anterior que fora lesada.
3.3. Liberdade Negativa e Liberdade Positiva – o Direito Da Humanidade Como Ponto
De Confluência.
Neste momento surge uma pergunta crucial para nossos propósitos: seria possível reduzir a
liberdade jurídica kantiana a um mero não impedimento ao livre agir do arbítrio? Estaria Kant
defendendo tão somente uma compreensão liberal da liberdade, que afirma que livre é o
sujeito que não encontra obstáculos externos em sua ação? Em outras palavras, um conceito
puramente negativo de liberdade como ausência de impedimentos externos?
Embora a exposição acima pareça sugerir esta conclusão, um olhar mais amplo sobre os
escritos políticos e jurídicos de Kant lança sérias dúvidas sobre tal diagnóstico. Kant caracteriza
a liberdade externa implicada no conceito de direito não apenas como a liberdade negativa ou
“liberal” de não estar sujeito ao arbítrio constritivo de outrem, mas também como a liberdade
11
SILVA, MARCOS LUIZ DA , A Liberdade Jurídica e suas Patologias Sociais Segundo Honneth, 290.
12
TREVISAN, Diego Kosbiau,Dimensões Da Liberdade Na Filosofia Político-Jurídica De Kant, P.213.
13
www.cleinaldosiomes.com, liberdade juridica de joaquim almeita. Acessado: 28 de setembro de 2023.
13

positiva ou“republicana” de auto-legislação de um sujeito em determinada comunidade política,


justamente o que, a rigor, está implicado na noção de autonomia jurídica.
Dito em termos mais-kantianos, o livre-arbítrio individual em uma determinada comunidade
com os outros homens exige um conceito tanto negativo (não impedimento) quanto positivo
(conforme a uma lei autónoma) de liberdade para que as relações jurídicas sejam reguladas e,
mais importante, legitimadas. Nesta perspectiva, a capacidade auto-determinada e espontânea do
arbítrio de propor-se e perseguir seus fins sem obstruções alheias indevidas, como reflexo do
conceito negativo de liberdade, apenas pode ser legítima, segura e livremente exercida numa
relação de reciprocidade e intersubjetividade com outros seres propositivos igualmente
detentores de dignidade e participantes efetivos de uma comunidade política e jurídica regida por
leis às quais todos devem poder dar seu assentimento, ou seja, segundo um conceito positivo de
liberdade.14

3.4. O Uso Externo Da Liberdade Segundo Kant


No contexto da filosofia prática kantiana a liberdade deve realizar-se no âmbito interno
(moralidade) e no âmbito externo (legalidade), mas o modo como ela ocorre nos dois diferentes
âmbitos é diferente, ou seja, é preciso fixar a diferença entre os dois âmbitos de realização da
liberdade. No contexto da liberdade prática ocorre que: da determinação da liberdade pela lei
moral seguem-se os efeitos resultantes dessa determinação na esfera sensível, o que possibilita
afirmar que a ação moral mesmo não considerando a esfera sensível na sua fundamentação
possui um componente empírico, ou seja, a sua realizabilidade se dá no mundo fenoménico.
Por outro lado, a liberdade externa é descrita por Kant como “a faculdade de não obedecer a
quaisquer leis externas senão enquanto lhes puder dar o meu consentimento” (PP, VIII, 352).
Nesse sentido, a ação externa da liberdade pode ser concebida como uma adoção da máxima
moral, ou seja, “tanto o direito como a moral e a política têm a mesma raiz, todos encontram a
sua justificação radical no conceito de liberdade, sem o qual nada de ético é possível” .15

14
Iden, 211.
15
CALOVI ,Gustavo Ellwanger, O conflito entre liberdades e a fundação de um corpo jurídico comum no
pensamento político de Kant, P, 117.
14

3.5. Liberdade Natural


O estado de natureza é uma estratégia metodológica que se processa através do exercício
reflexivo que se dobra sobre a natureza do homem, possibilitando estabelecer um distanciamento
crítico para definir as faculdades e paixões pertencentes ao homem de “qualquer tempo e lugar”,
as quais não são modificadas por aquilo que o homem incorporou na relação com a natureza,
com os outros homens e consigo próprio no linear de sua vida social. Por isso, o conjunto das
relações sociais, não permite o acesso direto às qualidades distintivas do homem, que embora
desfiguradas ou abafadas em função da depravação dos costumes, dos princípios morais, não
estão, contudo, anuladas. Pelo contrato, o homem “substitui” a liberdade natural (limitada apenas
pela força dos indivíduos) pela liberdade civil, cuja ativação obedeça às fronteiras subjacentes a
vontade geral. A primeira se estabelece pela exteriorização imediata dos impulsos e apetites
naturais.
Já, no âmbito da sociabilidade, o agir humano está pautado por valores e princípios ético
morais calcados na idéia de justiça, engendrado pelo exercício da razão. A liberdade civil e a
moralidade estão intimamente interligadas. Por isso, o exercício do governo deve estar em
conformidade com os princípios do pacto social.
O contrato social proposto por Rousseau é a condição necessária para a instituição de um
povo e a base de toda sociedade civil. É criado através do consentimento mutuo dos contratantes,
cuja finalidade é “Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens
de cada associado, com toda força comum e pela qual cada um, unindo-se a todos só obedece,
contudo, a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes” . Igualmente, o poder político
estabelecido pelo ato do pacto social, não deriva da natureza, da força, da violência ou por
extensão do pátrio poder familiar, mas sim, surge de convenções deliberadas pelos homens. 16

3.6. A Fundação De Um Corpo Jurídico Comum


Para a solução do problema da relação entre as liberdades, Kant afirma a necessidade de que
elas estejam submetidas à lei universal da liberdade. Disso segue-se que todos os homens têm “o
direito de coexistir com os outros segundo uma lei universal. E no que se refere às ações externas,
todo livre-arbítrio pode entrar em relação com os outros à medida que todos se submetem a uma
lei universal da liberdade” (Herrero, 1991, p. 113). Nessa medida, surge a necessidade de
16
GARCIA, Claudio Boeira, LIBERDADE NATURAL E LIBERDADE CIVIL EM ROUSSEAU, P. 02.
15

apresentar de que forma Kant descreve o conceito de direito na medida em que ele vai
administrar o conflito entre as vontades.
No entender de Kant o direito tem sua origem de princípios exteriores de determinação para o
arbítrio e somente tendo como objeto os atos exteriores. Assim, o direito ocorre porque é
necessário compatibilizar o uso externo da liberdade de todos os indivíduos através de leis
universais. Na Metafísica dos Costumes, Kant apresenta o conceito de direito como “a soma das
condições sob as quais a escolha de alguém pode ser unida à escolha de outrem de acordo com
uma lei universal de liberdade” .17

17
IDEN, P. 118
16

Conclusão
Para concluir o nosso trabalho, A ideia de segurança jurídica aparece, à primeira vista, como
referência a um conteúdo de natureza meramente principio lógico.
No intuito de buscar a essência da segurança jurídica, parcela da doutrina vem atentando para
indispensável garantia de um Direito estável e previsível. Trata-se de meio de proteção dos cidadãos
contra as incoerências e mudanças frequentes nas normas jurídicas, impedindo que o jurisdicional saiba
como deva agir.
Na atual sociedade complexa e pluralista há a presença constante do risco, e não é possível prever as
consequências das decisões tomadas, de modo que é preciso admitir a contingência inerente à
sociedade contemporânea, posto que a única certeza possível é a imprevisibilidade do futuro e a
inafastabilidade do risco. Na teoria dos sistemas não existe segurança jurídica, e sim a ideia de risco.
A incompletude e o risco são características da sociedade moderna, e a aceitação dessa falta de
segurança e certeza é requisito essencial para lidar com as contingências contemporâneas. O problema
do risco é produto de uma relação de incerteza e indeterminabilidade. O risco é uma forma específica
de relação com o futuro, e é inafastável: pode apenas ser controlado, mas não eliminado.
Em O direito da liberdade (2015) Honneth retoma o caminho já iniciado em Sofrimento de
indeterminação e volta a obra hegeliana Filosofia do direito1, com o escopo de reformular alguns
conceitos e ideias que engendrara nas obras antecedentes, sendo, portanto, uma obra de sistematização
do seu pensamento.
Assim, o autor empreende um esforço teórico que tem como escopo sustentar a ideia de que os
valores morais e princípios normativos que regem a vida em sociedade seriam deduzidos das próprias
práticas e relações que se estabelecem nas instituições sociais, promovendo uma modernização do
conceito de espírito objetivo.
17

Referências Bibliograficas
 NUNES, Jorge Amaury Maia , Segurança Juridica;
 Gomes, Daniela Vasconcellos, segurança juridica;
 Gomes, Daniela Vasconcellos, A Questão da (In)Segurança Jurídica na Sociedade Contemporânea;
 COSTA, Rafael de Oliveira, SEGURANÇA JURÍDICA E (IM)PREVISIBILIDADE DO
DIREITO;
 https://www.migalhas.com.br/depeso/302189/o-stj-e-o-principio-da-seguranca-juridica, acessado:
28 de set de 2013;
 https://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/seguranca-juridica/, Acessado 15.10.2023, ;
 SEGER, Giovana Abreu da Silva,Princípio da segurança jurídica;
 FERNANDES, Paulo, Cezar, O Direito Como Garantia Externa Da Liberdade – Uma
Fundamentação Para Os Direitos Humanos;
 SILVA, MARCOS LUIZ DA , A Liberdade Jurídica e suas Patologias Sociais Segundo Honneth;
TREVISAN, Diego Kosbiau,Dimensões Da Liberdade Na Filosofia Político-Jurídica De Kant;
 www.cleinaldosiomes.com, liberdade juridica de joaquim almeita. Acessado: 28 de setembro de
2023;
 CALOVI ,Gustavo Ellwanger, O conflito entre liberdades e a fundação de um corpo jurídico
comum no pensamento político de Kant;
18

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