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direito constitucional
e ao controle de
constitucionalidade
Rodrigo Canalli
sumário
Aula 4
Jurisdição constitucional.
Controle concentrado de
constitucionalidade
Parte I
2.2 Competência.............................................................................8
2.3 Objeto.........................................................................................8
2.9 Decisão....................................................................................14
2.11 Quórum....................................................................................16
2.12 Recorribilidade.....................................................................16
3. Palavras finais.................................................................................18
Glossário...............................................................................................19
3 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade
Agora vamos nos deter sobre um importante mecanismo para fazer valer esses direitos:
a jurisdição constitucional e, em particular, o que chamamos de controle concentrado de
constitucionalidade.
Como você já deve ter percebido, o objetivo do processo no qual se exerce o controle difuso
não é discutir a constitucionalidade de uma lei. No processo subjetivo, o questionamento
sobre a constitucionalidade da lei surge eventualmente, quando o juiz ou o Tribunal se
vê diante da possibilidade de a aplicação de uma lei, no caso sob seu exame, se mostrar
incompatível com a Constituição. Desde uma demanda trabalhista entre empregado e
empregador a uma ação de indenização entre consumidor e fornecedor de um serviço,
passando pelas ações penais em que o Ministério Público acusa alguém da prática de crime,
o que se discute nesses processos são os direitos dos sujeitos que procuram a Justiça ou são
nela demandados. Esses direitos podem ou não estar ligados com a validade de uma norma,
que pode ou não vir a ser considerada inconstitucional.
Abstrato
Supremo Tribunal
Federal
Controle de
constitucionalidade
Concreto
Todos os órgãos do
Poder Judiciário
Art. 102.
(...)
Como lhe é próprio, a Constituição não regula todos os aspectos da ação direta de
inconstitucionalidade, limitando-se a prever a existência do instrumento e definir apenas
as características procedimentais imprescindíveis para a preservação da sua essência.
Com base nas cláusulas constitucionais pertinentes e na Lei 9.868/1999, vamos analisar
os principais aspectos da ação direta de inconstitucionalidade a partir do julgamento de
um caso real: a polêmica ADI 3.510, sobre a constitucionalidade das pesquisas com células-
-tronco embrionárias humanas.
Se o objetivo da aula passada foi atendido, você já deve reconhecer que, pela sua
própria natureza, questões envolvendo direitos fundamentais são quase sempre espinhosas
e dividem opiniões, pois muitas vezes tocam crenças, tradições, visões de mundo e valores
que nos são caros. Quando observamos que o inteiro teor do acórdão proferido ao julgamento
da ADI 3.510 contém, entre relatório do caso, votos e registros dos debates entre os Ministros,
nada menos do que 526 páginas, fica fácil perceber a delicadeza e a relevância da questão
sob o ponto de vista dos direitos fundamentais.
2.2 Competência
Se o pedido tivesse sido levado a outro Tribunal, este deveria declarar-se incompetente
para julgar a questão e, se não o fizesse, o julgamento não seria válido, por invadir atribuição
exclusiva do Supremo Tribunal Federal.
o
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e
At
2.3 Objeto
A ADI 3.510 foi ajuizada contra uma lei, mais precisamente, contra o artigo 5º da Lei
11.105/2005 (Lei de Biossegurança).
Já sabemos o que são leis, certo? Se não se recorda, basta voltar ao material da Aula 2
para relembrar. Podem ser objeto de ações diretas de inconstitucionalidade as leis ordinárias,
leis complementares, leis delegadas e medidas provisórias.
Agora, o que são atos normativos? Embora a questão não seja livre de controvérsias,
podemos dizer, em linhas gerais, que atos normativos, para os fins da ação direta de
inconstitucionalidade, são normas produzidas, com força de lei, por outros entes do Estado,
que não o Poder Legislativo, para regular determinada situação em caráter geral e abstrato.
Podem ser Resoluções, Decretos, Instruções Normativas, Normas Regulamentadoras etc. O
Tribunal Superior Eleitoral, por exemplo, edita normas gerais, com força de lei, para regular
as eleições. Agências reguladoras, como a ANATEL e a ANVISA, editam normas nas áreas de
sua competência, mas nem todas as normas que editam podem ser objeto de ação direta de
inconstitucionalidade.
Os critérios utilizados pelo STF para decidir se determinado ato normativo pode ser
alvo de ação direta de inconstitucionalidade são a generalidade e a abstração. É geral e
abstrato um texto normativo que prevê uma hipótese geral para regular os fatos que nela se
enquadrem, assim como faz uma lei.
Não pode ser alvo de ação direta de inconstitucionalidade, contudo, uma Resolução da
ANVISA que proíba as drogarias de comercializarem determinado lote de medicamentos que
deixou de cumprir alguma regra (não importa se uma regra editada pela própria ANVISA ou
uma lei federal). Nesse caso, o ato, ainda que formalmente seja normativo, não é considerado
suficientemente geral e abstrato.
A ADI pode atacar uma lei ou ato normativo na íntegra (a lei inteira ou o ato normativo
inteiro) ou apenas parte dos seus dispositivos, como fez o Procurador-Geral da República
ao se insurgir apenas quanto ao artigo 5º da Lei de Biossegurança. Nesse caso, se o Tribunal
tivesse declarado a inconstitucionalidade do artigo 5º da Lei de Biossegurança, apenas esse
dispositivo deixaria de ter validade, permanecendo em vigor o restante da lei.
A ação direta de inconstitucionalidade somente pode ser ajuizada contra lei ou ato
normativo vigente. Se a lei tiver sido revogada por outra lei que trate diferentemente da
mesma matéria, como não está mais em vigor, não pode mais ser alvo da ação direta de
inconstitucionalidade. O mesmo vale após expirarem os efeitos de uma lei destinada a reger
uma situação particularizada no tempo.
Por fim, não se pode deixar de dizer que uma das causas mais frequentes de declaração
de inconstitucionalidade formal pelo Supremo Tribunal Federal é o desrespeito às regras
de distribuição de competência legislativa entre os entes federados previstas nos artigos
22 a 24 da Constituição. Em outras palavras, quando União, Estados, Distrito Federal e
Municípios elaboram leis para tratar de matérias reservadas aos outros — por exemplo, uma
lei estadual versando sobre telecomunicações, matéria de competência legislativa exclusiva
da União, como no precedente a seguir.
Como regra geral, nos processos subjetivos, é do próprio interessado, o titular dos
direitos em jogo, a legitimidade para iniciar o processo. Mas, se o processo iniciado com
o ajuizamento de uma ação direta de inconstitucionalidade é um processo objetivo,
que não tem a finalidade de decidir a respeito da titularidade de direitos subjetivos (do
sujeito) daquele que faz uso do instrumento, quem é que pode propor a ação direta de
inconstitucionalidade? Quem é que pode provocar o Supremo Tribunal Federal para decidir
sobre a validade de uma lei em face da Constituição?
I — o Presidente da República;
VI — o Procurador-Geral da República;
Uma vez provocado à atuação o Supremo Tribunal Federal, com a propositura da ADI,
não pode o autor desistir da ação. Entende-se que a tutela do direito objetivo é mais relevante
do que eventual flutuação no interesse subjetivo da parte que possa motivá-la a desistir. É a
regra do artigo 5º da Lei 9.868/1999.
O Relator será o responsável por cuidar do andamento do processo até que ele esteja
pronto para julgamento e, como o nome diz, prepara o relatório para dar conhecimento
do processo aos demais Ministros. Ele também avalia se há pedido de medida cautelar e
a urgência na sua concessão. Isso vai determinar os próximos passos e os prazos a serem
concedidos para as manifestações das autoridades envolvidas.
Em razão da sua repercussão social, a ADI 3.510 contou com a participação, como
amigos da Corte, de organizações ligadas à proteção e à promoção dos direitos humanos
— Conectas Direitos Humanos; Centro de Direitos Humanos (CDH); Movimento em Prol da
Vida (MOVITAE); Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (ANIS) — e religiosas —
Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Essas entidades auxiliaram a Corte com
a apresentação de argumentos, informações técnicas e pontos de vista diferenciados.
2.9 Decisão
Por fim, decorridos os prazos para as manifestações, o Relator lança o relatório e solicita
ao Presidente do Tribunal a inclusão do processo na pauta do Plenário.
O Tribunal entende que o texto da lei é incompatível com a Constituição. A ação direta
de inconstitucionalidade é julgada procedente.
O Tribunal entende que o texto da lei é compatível com a Constituição e julga a ação
direta de inconstitucionalidade improcedente. É o que fez o Supremo Tribunal Federal
na ADI 3.510 — julgou-a improcedente, pelo entendimento de que o artigo 5º da Lei de
Biossegurança é constitucional.
Isso pode acontecer, por exemplo, no caso de uma lei que tenha alterado a forma de
cálculo de determinado imposto, majorando-o, sem especificar quando ele passará a ser
cobrado segundo o novo critério. O artigo 150, III, b, da Constituição da República prevê
o chamado princípio da anterioridade tributária, segundo o qual, uma vez criado ou
aumentado um tributo, ele só pode ser cobrado a partir do exercício financeiro seguinte
(correspondendo ao ano civil). Assim, um tributo sujeito a essa regra, criado em 2015, só
pode ser cobrado a partir de 2016.
Havendo dúvida, por algum motivo, quanto à sujeição da alteração trazida pela
nova lei ao princípio da anterioridade, pode ela ser questionada via ação direta de
inconstitucionalidade. Mesmo considerando a alteração, em si, constitucional, o Supremo
Tribunal Federal pode, se entender aplicável ao caso o princípio da anterioridade, declarar
a nulidade parcial da lei para afastar a sua cobrança no mesmo exercício financeiro em que
publicada. O texto da lei é inteiramente preservado, mas a sua aplicação a determinada
hipótese (no caso, a determinado exercício financeiro) é declarada nula.
Eficácia contra todos significa que os efeitos da decisão valem para todo mundo.
Assim como a lei constitucional vale para todos, a lei declarada inconstitucional não vale
para ninguém. Todas as relações jurídicas que seriam regidas por ela deixam de sê-lo.
2.11 Quórum
2.12 Recorribilidade
Contra a decisão do Plenário do Supremo Tribunal Federal que julga a ação direta de
inconstitucionalidade não cabe recurso, salvo a oposição de embargos de declaração, cuja
finalidade é apenas esclarecer eventual ponto que tenha ficado omisso, contraditório ou
obscuro no julgamento.
Se uma lei é inconstitucional, ela não pode, em regra, produzir efeitos. Não pode afetar
a vida das pessoas.
Art. 27.
3. Palavras finais
Até mais!
Glossário
Ordem jurídica — Conjunto dos elementos que formam o direito vigente em uma
determinada unidade política, abrangendo suas normas, práticas e instituições. Exemplo:
ordem jurídica brasileira, ordem jurídica internacional.
Vigência — Diz-se que uma norma tem vigência ou está em vigor no intervalo de tempo
em que ela é válida e exigível, isto é, o seu descumprimento caracteriza um ato contrário ao
direito (ilegalidade).