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Introdução ao

direito constitucional
e ao controle de
constitucionalidade
Rodrigo Canalli
sumário
Aula 4
Jurisdição constitucional.
Controle concentrado de
constitucionalidade

Parte I

1. Introdução — o controle concentrado de


constitucionalidade.....................................................................3

2. Ação direta de inconstitucionalidade (ADI)..........................5

2.1 Estudo de caso.......................................................................6

2.2 Competência.............................................................................8

2.3 Objeto.........................................................................................8

2.4 Parâmetro de c ontrole........................................................11

2.5 Legitimidade ativa.................................................................12

2.6 Pertinência temática..............................................................12

2.7 Como se dá o processamento da ação direta de


inconstitucionalidade......................................................... 13

2.8 Amicus curiae........................................................................13

2.9 Decisão....................................................................................14

2.10 Efeitos da decisão declaratória de


inconstitucionalidade..........................................................16

2.11 Quórum....................................................................................16

2.12 Recorribilidade.....................................................................16

2.13 Modulação dos efeitos.......................................................17

3. Palavras finais.................................................................................18

Glossário...............................................................................................19
3 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Introdução ao direito constitucional


e ao controle de constitucionalidade

Aula 4 — Jurisdição constitucional. Controle concentrado de


constitucionalidade — Parte I

1. Introdução— o controle concentrado de constitucionalidade

Chegamos à quarta aula do curso Introdução ao direito constitucional e ao controle


de constitucionalidade!

Na aula anterior, aprendemos sobre um dos principais conteúdos da Constituição, os


direitos fundamentais, e os limites que representam à atuação do Estado.

Agora vamos nos deter sobre um importante mecanismo para fazer valer esses direitos:
a jurisdição constitucional e, em particular, o que chamamos de controle concentrado de
constitucionalidade.

Como já afirmamos na aula inaugural do curso, a jurisdição constitucional, ou controle


de constitucionalidade, é a atividade exercida pelo Poder Judiciário, mediante a qual se afere
a compatibilidade de uma lei, ou da sua aplicação em determinado caso, com o que diz a
Constituição.

Antes de prosseguirmos no exame do controle concentrado de constitucionalidade,


vamos relembrar o que o caracteriza. Já vimos que a teoria constitucional tradicionalmente
classifica os modelos de controle de constitucionalidade existentes conforme algumas de
suas principais características. Desse modo, com base nessas características, o controle de
constitucionalidade pode ser classificado como difuso ou concentrado.

O controle de constitucionalidade é difuso quando o poder para fiscalizar a


constitucionalidade da lei, ou da sua aplicação a uma situação em particular, é conferido
a todos os órgãos do Poder Judiciário, dentro das respectivas competências. Assim, o juiz
eleitoral, por exemplo, pode deixar de aplicar uma lei eleitoral se verificar que sua aplicação
no caso sob seu exame contraria alguma regra da Constituição. Da mesma forma, os Tribunais

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4 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Regionais do Trabalho, ao entenderem que a aplicação de uma lei a determinadas situações


entra em conflito com os direitos assegurados na Constituição aos trabalhadores, podem
não as aplicar em tais circunstâncias.

O controle de constitucionalidade concentrado, em contrapartida, como o próprio


nome indica, concentra-se em um órgão específico. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal é
o órgão competente para exercer o controle concentrado de constitucionalidade das normas
em relação à Constituição Federal.

Enquanto o controle de constitucionalidade difuso também é chamado de concreto,


porque pressupõe a existência de um caso particular no qual a aplicação de determinada
norma tenha gerado uma controvérsia sobre a sua compatibilidade com a Constituição,
o controle de constitucionalidade concentrado é identificado com o que se chama de
jurisdição abstrata. Isso porque o que se discute no controle concentrado, em geral, é a
constitucionalidade de uma lei em tese, do próprio texto da lei, independentemente da sua
aplicação em um caso concreto.

Em razão dessas particularidades, o controle concentrado (ou abstrato) de


constitucionalidade é efetuado mediante um processo próprio, chamado de processo
objetivo. Esse processo se diferencia do típico processo judicial, que contrapõe, em lados
opostos, sujeitos com direitos ou interesses conflitantes e é chamado de processo subjetivo.

Como você já deve ter percebido, o objetivo do processo no qual se exerce o controle difuso
não é discutir a constitucionalidade de uma lei. No processo subjetivo, o questionamento
sobre a constitucionalidade da lei surge eventualmente, quando o juiz ou o Tribunal se
vê diante da possibilidade de a aplicação de uma lei, no caso sob seu exame, se mostrar
incompatível com a Constituição. Desde uma demanda trabalhista entre empregado e
empregador a uma ação de indenização entre consumidor e fornecedor de um serviço,
passando pelas ações penais em que o Ministério Público acusa alguém da prática de crime,
o que se discute nesses processos são os direitos dos sujeitos que procuram a Justiça ou são
nela demandados. Esses direitos podem ou não estar ligados com a validade de uma norma,
que pode ou não vir a ser considerada inconstitucional.

Diferentemente, no processo objetivo, em que se realiza o controle concentrado de


constitucionalidade, não existe uma disputa entre dois sujeitos (autor e réu). O escopo desse
processo é formalizar o procedimento pelo qual o Supremo Tribunal Federal aprecia e julga
a constitucionalidade de uma lei ou ato normativo. A questão relativa à constitucionalidade
da lei não é, nesse processo, apenas uma referência para decidir quem tem razão em uma
disputa judicial, mas é a grande questão a ser decidida. O resultado dessa decisão será a
exclusão ou permanência da lei na ordem jurídica.

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Abstrato

Concentrado Processo objetivo

Supremo Tribunal
Federal
Controle de

constitucionalidade
Concreto

Difuso Processo subjetivo

Todos os órgãos do
Poder Judiciário

Nesta aula, vamos estudar os mecanismos dos controles de constitucionalidade


concentrado e abstrato. Em suma, o processo objetivo, que compreende os seguintes
instrumentos:

a a ação direta de inconstitucionalidade (ADI);

b a ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO);

c a ação declaratória de constitucionalidade (ADC); e

d a arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF).

2. Ação direta de inconstitucionalidade (ADI)

Podemos dizer, com segurança, que a ação direta de inconstitucionalidade, no sistema


político-jurídico brasileiro, é o instrumento da jurisdição constitucional por excelência,
diretamente relacionado à função do Supremo Tribunal Federal de guarda da Constituição.

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6 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Está prevista no art. 102, I, a, da Constituição:

Art. 102.

Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:

I — processar e julgar, originariamente:

a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou


estadual (...);

(...)

p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade;

Como lhe é próprio, a Constituição não regula todos os aspectos da ação direta de
inconstitucionalidade, limitando-se a prever a existência do instrumento e definir apenas
as características procedimentais imprescindíveis para a preservação da sua essência.

Assim, na própria Constituição estão expressamente previstos a possibilidade de


concessão de medida cautelar na ADI (art. 102, I, p), a extensão dos efeitos das decisões do
Supremo Tribunal nessa ação (art. 102, § 2º) e os legitimados para propô-la (art. 103). As demais
regras processuais e procedimentais que disciplinam a ação direta de inconstitucionalidade
foram definidas na Lei 9.868/1999.

Com base nas cláusulas constitucionais pertinentes e na Lei 9.868/1999, vamos analisar
os principais aspectos da ação direta de inconstitucionalidade a partir do julgamento de
um caso real: a polêmica ADI 3.510, sobre a constitucionalidade das pesquisas com células-
-tronco embrionárias humanas.

2.1 Estudo de caso

Em 28 de março de 2005, entrou em vigor no Brasil a Lei 11.105, que estabelece


normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades envolvendo organismos
geneticamente modificados. Essa lei ficou conhecida como Lei de Biossegurança. O artigo
5º dessa lei autoriza a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões
humanos produzidos por fertilização in vitro, para fins de pesquisa e terapia, desde que
sejam observadas certas condições, entre elas que sejam embriões inviáveis ou, se viáveis,
que estejam congelados há mais de três anos.

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7 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

O então Procurador-Geral da República, por entender que a autorização de


pesquisas com células-tronco embrionárias humanas seria uma violação dos direitos à
vida e à dignidade da pessoa humana assegurados na Constituição, ajuizou ação direta de
inconstitucionalidade (ADI) com o objetivo de ver reconhecida a incompatibilidade do artigo
5º da Lei de Biossegurança com a Constituição Federal. Em outras palavras, pretendeu-se
obter do Supremo Tribunal Federal a declaração de inconstitucionalidade desse dispositivo
de lei.

Ao apreciar a ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Procurador-Geral da


República, que foi autuada como ADI 3.510, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, por
maioria de seis votos a cinco, julgou-a improcedente. Prevaleceu o entendimento de que
as condições e limitações apresentadas pela lei à realização desse tipo de pesquisa são
suficientes para assegurar que ela não viola direitos garantidos pela Constituição, como o
direito à vida e a dignidade da pessoa humana, entre outros. Por essa razão, o artigo 5º da Lei
de Biossegurança foi considerado constitucional.

Se o objetivo da aula passada foi atendido, você já deve reconhecer que, pela sua
própria natureza, questões envolvendo direitos fundamentais são quase sempre espinhosas
e dividem opiniões, pois muitas vezes tocam crenças, tradições, visões de mundo e valores
que nos são caros. Quando observamos que o inteiro teor do acórdão proferido ao julgamento
da ADI 3.510 contém, entre relatório do caso, votos e registros dos debates entre os Ministros,
nada menos do que 526 páginas, fica fácil perceber a delicadeza e a relevância da questão
sob o ponto de vista dos direitos fundamentais.

Felizmente, você não precisará


ler todas as páginas desse acórdão
para concluir este curso. Contudo,
recomendo fortemente a leitura das
suas teses centrais, que estão muito bem
resumidas na ementa da decisão. Para
isso, basta clicar na figura ao lado.

Passemos à análise do caso,


considerando o nosso objeto de estudo
presente, que são os elementos da ação
direta de inconstitucionalidade.

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8 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

2.2 Competência

Visando questionar, em caráter abstrato, a compatibilidade do artigo 5º da Lei de


Biossegurança com a Constituição, o Procurador-Geral da República dirigiu-se ao Supremo
Tribunal Federal, que, como acabamos de ver, é, segundo o artigo 102, I, a, da Constituição, o
órgão competente para julgar esse pedido.

Se o pedido tivesse sido levado a outro Tribunal, este deveria declarar-se incompetente
para julgar a questão e, se não o fizesse, o julgamento não seria válido, por invadir atribuição
exclusiva do Supremo Tribunal Federal.

o
nçã
e
At

A competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal é para julgar a lei em


caráter abstrato. A constitucionalidade do artigo 5º da Lei de Biossegurança
poderia ser apreciada por qualquer juiz ou tribunal se da sua aplicação
dependesse a solução de um caso concreto sob seu exame. Para decidir
se aplicaria ou não a lei, o juiz ou tribunal teria de formar sua convicção
a respeito da constitucionalidade ou inconstitucionalidade dessa lei. A
decisão, no entanto, valeria somente para aquele caso específico.

No Supremo Tribunal Federal, é exclusivamente do Plenário, órgão que reúne todos


os onze Ministros integrantes da Corte, a competência para julgamento da ação direta de
inconstitucionalidade. Por isso, essa ação não pode ser julgada pelas Turmas — órgãos
fracionários, compostas por cinco Ministros cada uma.

2.3 Objeto

Que espécies de normas podem ser objeto da ação direta de inconstitucionalidade?


Segundo o artigo 102, I, a, da Constituição Federal, a ADI pode ter como objeto a declaração
de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual.

A ADI 3.510 foi ajuizada contra uma lei, mais precisamente, contra o artigo 5º da Lei
11.105/2005 (Lei de Biossegurança).

Já sabemos o que são leis, certo? Se não se recorda, basta voltar ao material da Aula 2
para relembrar. Podem ser objeto de ações diretas de inconstitucionalidade as leis ordinárias,
leis complementares, leis delegadas e medidas provisórias.

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9 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Agora, o que são atos normativos? Embora a questão não seja livre de controvérsias,
podemos dizer, em linhas gerais, que atos normativos, para os fins da ação direta de
inconstitucionalidade, são normas produzidas, com força de lei, por outros entes do Estado,
que não o Poder Legislativo, para regular determinada situação em caráter geral e abstrato.
Podem ser Resoluções, Decretos, Instruções Normativas, Normas Regulamentadoras etc. O
Tribunal Superior Eleitoral, por exemplo, edita normas gerais, com força de lei, para regular
as eleições. Agências reguladoras, como a ANATEL e a ANVISA, editam normas nas áreas de
sua competência, mas nem todas as normas que editam podem ser objeto de ação direta de
inconstitucionalidade.

Os critérios utilizados pelo STF para decidir se determinado ato normativo pode ser
alvo de ação direta de inconstitucionalidade são a generalidade e a abstração. É geral e
abstrato um texto normativo que prevê uma hipótese geral para regular os fatos que nela se
enquadrem, assim como faz uma lei.

É um ato normativo passível de ataque por meio de ação direta de inconstitucionalidade,


por exemplo, uma Resolução da ANVISA estabelecendo regras sobre as informações
que devem constar em embalagens de medicamentos, a serem observadas por todos os
fabricantes e distribuidores desses produtos.

Não pode ser alvo de ação direta de inconstitucionalidade, contudo, uma Resolução da
ANVISA que proíba as drogarias de comercializarem determinado lote de medicamentos que
deixou de cumprir alguma regra (não importa se uma regra editada pela própria ANVISA ou
uma lei federal). Nesse caso, o ato, ainda que formalmente seja normativo, não é considerado
suficientemente geral e abstrato.

Vejamos dois exemplos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Ao apreciar a


ADI 4.965, o STF entendeu cabível a ação direta de inconstitucionalidade para questionar a
Resolução 23.389/2013 do Tribunal Superior Eleitoral:

Segundo a jurisprudência desta Suprema Corte, viável o controle abstrato


da constitucionalidade de ato do Tribunal Superior Eleitoral de conteúdo
jurídico-normativo essencialmente primário. A Resolução nº 23.389/2013 do
TSE, ao inaugurar conteúdo normativo primário com abstração, generalidade
e autonomia não veiculado na Lei Complementar nº 78/1993 nem passível
de ser dela deduzido, em afronta ao texto constitucional a que remete — o
art. 45, caput e § 1º, da Constituição Federal —, expõe-se ao controle de
constitucionalidade concentrado. Precedentes (...).

(ADI 4.965/PB, Relatora Ministra Rosa Weber, Tribunal Pleno, julgamento em


1º-7-2014, DJe de 30-10-2014)

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10 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Entretanto, o Tribunal entendeu ausentes os requisitos de generalidade e abstração no


Decreto 6.161/2007, ato normativo objeto da ADI 4.040:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DECRETO N. 6.161/2007,


ALTERADO PELO DECRETO N. 6.267/2007, QUE “DISPÕE SOBRE A INCLUSÃO
E EXCLUSÃO, NO PROGRAMA NACIONAL DE DESESTATIZAÇÃO — PND, DE
EMPREENDIMENTOS DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA INTEGRANTES
DA REDE BÁSICA DO SISTEMA ELÉTRICO INTERLIGADO NACIONAL — SIN,
DETERMINA À AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA — ANEEL
PROMOÇÃO E O ACOMPANHAMENTO DOS PROCESSOS DE LICITAÇÃO DAS
RESPECTIVAS CONCESSÕES”. (...) Impossibilidade de ajuizamento de ação
direta de inconstitucionalidade contra ato normativo de efeito concreto. O
Decreto n. 6.161/2007, alterado pelo Decreto n. 6.267/2007 não se dota das
características de abstração e generalidade para ser processado e julgado pela
via eleita. 3. Ação direta de inconstitucionalidade não conhecida.

(ADI 4.040/DF, Relatora Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgamento


em 19-6-2013, DJe 1º-7-2013)

O Supremo Tribunal Federal também admite a propositura da ação direta de


inconstitucionalidade para impugnar a validade de uma emenda constitucional, que é um
ato do Congresso Nacional pelo qual se altera uma norma da própria Constituição, porque o
processo de aprovação de emendas à Constituição integra o processo legislativo.

A ADI pode atacar uma lei ou ato normativo na íntegra (a lei inteira ou o ato normativo
inteiro) ou apenas parte dos seus dispositivos, como fez o Procurador-Geral da República
ao se insurgir apenas quanto ao artigo 5º da Lei de Biossegurança. Nesse caso, se o Tribunal
tivesse declarado a inconstitucionalidade do artigo 5º da Lei de Biossegurança, apenas esse
dispositivo deixaria de ter validade, permanecendo em vigor o restante da lei.

A ação direta de inconstitucionalidade somente pode ser ajuizada contra lei ou ato
normativo vigente. Se a lei tiver sido revogada por outra lei que trate diferentemente da
mesma matéria, como não está mais em vigor, não pode mais ser alvo da ação direta de
inconstitucionalidade. O mesmo vale após expirarem os efeitos de uma lei destinada a reger
uma situação particularizada no tempo.

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11 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

2.4 Parâmetro de controle

O autor da ação direta de inconstitucionalidade deve indicar, na petição inicial, o


dispositivo da Constituição que entende ter sido contrariado pela lei questionada. No caso,
o Procurador-Geral da República apontou que o artigo 5º da Lei de Biossegurança seria
contrário aos conteúdos dos artigos 1º, III, e 5º, caput, da Constituição Federal, que consagram,
respectivamente, “a dignidade da pessoa humana” e “a inviolabilidade do direito à vida”.

Se o Supremo Tribunal Federal tivesse acatado a argumentação do Procurador-Geral


da República nesse caso, estaríamos diante de uma declaração de inconstitucionalidade
material: quando o conteúdo de uma lei é incompatível com o conteúdo da Constituição.

Ao lado da material, há, também, a inconstitucionalidade formal: quando a


inconstitucionalidade não está no conteúdo da lei, mas na forma como esse conteúdo foi
veiculado. Como estudamos na Aula 2, a Constituição estabelece as regras do processo
legislativo. Há, por exemplo, matérias que só podem ser objeto de lei complementar. A edição
de lei ordinária sobre essas matérias é uma hipótese de inconstitucionalidade formal. Como
o problema, aí, não é o conteúdo, mas a forma, os mesmos preceitos podem voltar a ser
editados, desde que respeitadas as regras do processo legislativo.

O desrespeito à reserva de iniciativa (Aula 2, seção 2.1.2) e a edição de medida


provisória sobre matéria vedada a essa espécie normativa são outras hipóteses de
inconstitucionalidade formal.

Por fim, não se pode deixar de dizer que uma das causas mais frequentes de declaração
de inconstitucionalidade formal pelo Supremo Tribunal Federal é o desrespeito às regras
de distribuição de competência legislativa entre os entes federados previstas nos artigos
22 a 24 da Constituição. Em outras palavras, quando União, Estados, Distrito Federal e
Municípios elaboram leis para tratar de matérias reservadas aos outros — por exemplo, uma
lei estadual versando sobre telecomunicações, matéria de competência legislativa exclusiva
da União, como no precedente a seguir.

Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 9.450, de 31 de janeiro de 2011,


do Estado do Rio Grande do Norte, a qual veda a cobrança, no âmbito daquele
Estado, das tarifas de assinatura básica pelas concessionárias prestadoras
de serviços de telefonia fixa e móvel. Competência privativa da União para
legislar sobre telecomunicações. Violação do art. 22, IV, da Constituição
Federal. Precedentes. Inconstitucionalidade formal. Procedência da ação.

(ADI 4.603/RN, Relator Ministro Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgamento em


1º-7-2016, DJe 12-8-2016)

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12 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

2.5 Legitimidade ativa

Como regra geral, nos processos subjetivos, é do próprio interessado, o titular dos
direitos em jogo, a legitimidade para iniciar o processo. Mas, se o processo iniciado com
o ajuizamento de uma ação direta de inconstitucionalidade é um processo objetivo,
que não tem a finalidade de decidir a respeito da titularidade de direitos subjetivos (do
sujeito) daquele que faz uso do instrumento, quem é que pode propor a ação direta de
inconstitucionalidade? Quem é que pode provocar o Supremo Tribunal Federal para decidir
sobre a validade de uma lei em face da Constituição?

A Constituição restringe a propositura da ação direta de inconstitucionalidade —


legitimidade processual ativa — a determinados agentes políticos e sociais cujas atividades
estão ligadas à preservação da constitucionalidade das normas. Assim, podem propor a ação
direta de inconstitucionalidade, segundo o artigo 103 da Constituição:

I — o Presidente da República;

II — a Mesa do Senado Federal;

III — a Mesa da Câmara dos Deputados;

IV — a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;

V — o Governador de Estado ou do Distrito Federal;

VI — o Procurador-Geral da República;

VII — o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;

VIII — partido político com representação no Congresso Nacional;

IX — confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

2.6 Pertinência temática

O Supremo Tribunal Federal tem o entendimento de que nem todos os legitimados do


artigo 103 da CF podem propor ação direta de inconstitucionalidade para impugnar qualquer
lei ou ato normativo.

Destes, o Presidente da República, a Mesa do Senado Federal, a Mesa da Câmara dos


Deputados, o Procurador-Geral da República, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil e os partidos políticos com representação no Congresso Nacional são chamados de
legitimados universais. Podem impugnar, pela via da ação direta de inconstitucionalidade,
qualquer lei ou ato normativo, federal ou estadual.

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13 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Já o Governador de Estado, a Mesa de Assembleia Legislativa, o Governador do Distrito


Federal e a Câmara Legislativa do Distrito Federal somente podem ajuizar ação direta de
inconstitucionalidade contra leis e atos normativos da sua própria unidade da Federação.
Para se insurgirem contra leis federais ou de outra unidade federativa, precisam demonstrar
que aquela lei ou ato normativo afeta o seu Estado.

Por sua vez, as confederações sindicais e as entidades de classe precisam demonstrar


que a lei ou ato normativo contra o qual se insurgem dizem respeito às suas finalidades
institucionais. Assim, uma confederação de empregados na indústria, em princípio, não
teria interesse para impugnar uma lei sobre direito eleitoral. Já uma associação nacional de
proteção dos consumidores, em princípio, teria interesse em discutir a constitucionalidade
de uma lei que flexibilizasse critérios de qualidade da produção de determinados produtos.

Uma vez provocado à atuação o Supremo Tribunal Federal, com a propositura da ADI,
não pode o autor desistir da ação. Entende-se que a tutela do direito objetivo é mais relevante
do que eventual flutuação no interesse subjetivo da parte que possa motivá-la a desistir. É a
regra do artigo 5º da Lei 9.868/1999.

2.7 Como se dá o processamento da ação direta de inconstitucionalidade

Proposta a ação direta de inconstitucionalidade, ela é distribuída por sorteio a um dos


Ministros do Supremo Tribunal Federal, que será o seu Relator — à exceção do Presidente,
que não assume relatoria de processos.

O Relator será o responsável por cuidar do andamento do processo até que ele esteja
pronto para julgamento e, como o nome diz, prepara o relatório para dar conhecimento
do processo aos demais Ministros. Ele também avalia se há pedido de medida cautelar e
a urgência na sua concessão. Isso vai determinar os próximos passos e os prazos a serem
concedidos para as manifestações das autoridades envolvidas.

2.8 Amicus curiae

Em qualquer momento, antes da inclusão do processo na pauta do Plenário, com a


liberação do relatório para os demais Ministros, pode o Ministro Relator admitir a participação
de órgãos ou entidades que tenham informações técnicas para contribuir com o Tribunal.
Esses participantes são conhecidos pela expressão latina amicus curiae, que significa amigo
da Corte. A admissão do amicus curiae visa a aproximar o Supremo Tribunal dos diferentes
pontos de vista existentes na sociedade, tornando a sua atuação mais democrática e mais
embasada.

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14 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Em razão da sua repercussão social, a ADI 3.510 contou com a participação, como
amigos da Corte, de organizações ligadas à proteção e à promoção dos direitos humanos
— Conectas Direitos Humanos; Centro de Direitos Humanos (CDH); Movimento em Prol da
Vida (MOVITAE); Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (ANIS) — e religiosas —
Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Essas entidades auxiliaram a Corte com
a apresentação de argumentos, informações técnicas e pontos de vista diferenciados.

2.9 Decisão

Por fim, decorridos os prazos para as manifestações, o Relator lança o relatório e solicita
ao Presidente do Tribunal a inclusão do processo na pauta do Plenário.

Na sessão de julgamento da ação direta de inconstitucionalidade, após a leitura do


relatório, a cargo do Ministro que foi sorteado como Relator, é concedida a palavra para que
o autor da ação, as autoridades responsáveis pela edição do ato impugnado, o Advogado-
-Geral da União, o Procurador-Geral da República e, se for o caso, os amici curiae apresentem
suas razões. Em seguida, os Ministros passam a expor seus votos.

No julgamento da ação direta de inconstitucionalidade, o Supremo Tribunal Federal


pode decidir das seguintes formas.

a Declarar a lei inconstitucional:

O Tribunal entende que o texto da lei é incompatível com a Constituição. A ação direta
de inconstitucionalidade é julgada procedente.

b Declarar a lei constitucional:

O Tribunal entende que o texto da lei é compatível com a Constituição e julga a ação
direta de inconstitucionalidade improcedente. É o que fez o Supremo Tribunal Federal
na ADI 3.510 — julgou-a improcedente, pelo entendimento de que o artigo 5º da Lei de
Biossegurança é constitucional.

c Dar à lei interpretação conforme à Constituição:

O Tribunal fixa a interpretação do texto da lei compatível com a Constituição, afastando


as demais interpretações possíveis. A ação direta de inconstitucionalidade é julgada total ou
parcialmente procedente, a depender da extensão do pedido.

Essa técnica foi empregada no julgamento da ADI 4.815, em que se discutiu a


constitucionalidade das biografias não autorizadas. Na ação, foi pedida a interpretação
conforme à Constituição dos artigos 20 e 21 do Código Civil, que tratam, respectivamente,
do direito à imagem e à vida privada. O Supremo Tribunal Federal julgou a ação procedente
para conferir a esses preceitos interpretação conforme os direitos fundamentais à liberdade

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15 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

de pensamento e de sua expressão, de criação artística e produção científica. Com isso,


declarou que não se exige o consentimento da pessoa biografada ou das pessoas retratadas
como coadjuvantes (ou de seus familiares no caso de pessoas falecidas) para a publicação ou
veiculação de obras de cunho biográfico.

d Declarar a nulidade parcial da lei sem redução de texto:

O Tribunal preserva a constitucionalidade do texto da lei, mas exclui a sua aplicação


a determinadas situações. A ação direta de inconstitucionalidade é julgada total ou
parcialmente procedente, a depender da extensão do pedido.

Isso pode acontecer, por exemplo, no caso de uma lei que tenha alterado a forma de
cálculo de determinado imposto, majorando-o, sem especificar quando ele passará a ser
cobrado segundo o novo critério. O artigo 150, III, b, da Constituição da República prevê
o chamado princípio da anterioridade tributária, segundo o qual, uma vez criado ou
aumentado um tributo, ele só pode ser cobrado a partir do exercício financeiro seguinte
(correspondendo ao ano civil). Assim, um tributo sujeito a essa regra, criado em 2015, só
pode ser cobrado a partir de 2016.

Havendo dúvida, por algum motivo, quanto à sujeição da alteração trazida pela
nova lei ao princípio da anterioridade, pode ela ser questionada via ação direta de
inconstitucionalidade. Mesmo considerando a alteração, em si, constitucional, o Supremo
Tribunal Federal pode, se entender aplicável ao caso o princípio da anterioridade, declarar
a nulidade parcial da lei para afastar a sua cobrança no mesmo exercício financeiro em que
publicada. O texto da lei é inteiramente preservado, mas a sua aplicação a determinada
hipótese (no caso, a determinado exercício financeiro) é declarada nula.

A lei é Declaração de ADI julgada


inconstitucional inconstitucionalidade procedente

A lei é Declaração de ADI julgada


constitucional constitucionalidade improcedente

A lei pode ser ADI julgada total


Fixação da interpretação
interpretada de modo ou parcialmente
conforme à Constituição
constitucional procedente

A lei é inconstitucional Declaração de ADI julgada total


quando aplicada a nulidade parcial sem ou parcialmente
determinadas hipóteses redução de texto procedente

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16 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

2.10 Efeitos da decisão declaratória de inconstitucionalidade

A decisão do Supremo Tribunal Federal que, no julgamento da ação direta de


inconstitucionalidade, declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de uma lei
ou ato normativo, inclusive a interpretação conforme à Constituição e a declaração parcial
de inconstitucionalidade sem redução de texto, tem duas características especialmente
importantes: eficácia contra todos e efeito vinculante.

Eficácia contra todos significa que os efeitos da decisão valem para todo mundo.
Assim como a lei constitucional vale para todos, a lei declarada inconstitucional não vale
para ninguém. Todas as relações jurídicas que seriam regidas por ela deixam de sê-lo.

Efeito vinculante quer dizer que, uma vez declarada a constitucionalidade ou


inconstitucionalidade da lei, os demais juízes e Tribunais, bem como a administração
pública, ficam obrigados a segui-la. Após o julgamento da ADI 3.510, a pesquisa com células-
-tronco embrionárias não pode mais ser desautorizada, seja pelos órgãos administrativos
competentes, seja pelo Poder Judiciário, sob o argumento da inconstitucionalidade da lei
que a prevê.

2.11 Quórum

Devido ao impacto de uma decisão que declara a inconstitucionalidade de lei ou ato


normativo, a Lei 9.868/1999 teve o cuidado de exigir que a ação direta de inconstitucionalidade
somente possa ser julgada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros. Além disso, é
necessário alcançar pelo menos seis votos para que o Tribunal declare a constitucionalidade
ou inconstitucionalidade de um dispositivo. Se isso não ocorrer, o julgamento é suspenso
para se aguardar o voto dos Ministros ausentes.

Na ADI 3.510, foi atingido o quórum mínimo para a declaração da constitucionalidade


do artigo 5º da Lei de Biossegurança, com o voto de seis dos onze Ministros do Supremo
Tribunal Federal.

2.12 Recorribilidade

Contra a decisão do Plenário do Supremo Tribunal Federal que julga a ação direta de
inconstitucionalidade não cabe recurso, salvo a oposição de embargos de declaração, cuja
finalidade é apenas esclarecer eventual ponto que tenha ficado omisso, contraditório ou
obscuro no julgamento.

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17 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

2.13 Modulação dos efeitos

Se uma lei é inconstitucional, ela não pode, em regra, produzir efeitos. Não pode afetar
a vida das pessoas.

Na prática, porém, ocorre de leis terem a sua inconstitucionalidade declarada pelo


Supremo Tribunal Federal após um tempo considerável desde que foram editadas. Nesse
intervalo, elas podem ter sido aplicadas para reger inúmeras relações jurídicas, e a declaração
de inconstitucionalidade pode acabar gerando insegurança. O que fazer com todas as
situações que se concretizaram, os negócios que foram realizados e as expectativas que
foram geradas enquanto a lei estava em vigor e produzindo seus efeitos? Para esses casos,
a lei permite ao Supremo Tribunal Federal, tendo em vista razões de segurança jurídica ou
de excepcional interesse social, restringir os efeitos da decisão ou decidir que ela só tenha
efeitos no futuro. Entretanto, para isso, são necessários pelo menos oito votos. É o que diz o
artigo 27 da Lei 9.868/1999:

Art. 27.

Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo,


e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de
excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal
Federal, por maioria de dois terços de seus membros,
restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela
só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de
outro momento que venha a ser fixado.

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18 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

3. Palavras finais

Com mais de cinco mil ações diretas de inconstitucionalidade ajuizadas perante o


Supremo Tribunal Federal desde a promulgação da Constituição, em 1988, a ação direta de
inconstitucionalidade é o mecanismo mais empregado para provocar a manifestação do
Supremo Tribunal Federal no âmbito do controle concentrado de constitucionalidade.

A Aula 4 fica por aqui!

Na próxima aula, vamos dar continuidade ao estudo dos instrumentos de controle


concentrado de constitucionalidade.

Até mais!

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19 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

Glossário

Competência — Regra definidora da autoridade judicial ou administrativa responsável


por apreciar determinado processo ou realizar determinado procedimento. Diz-se que um
órgão tem competência originária sobre uma questão quando a ele cabe apreciá-la e decidi-
-la direta e primeiramente, e recursal quando a ele cabe revisar a decisão de outro órgão.

Ordem jurídica — Conjunto dos elementos que formam o direito vigente em uma
determinada unidade política, abrangendo suas normas, práticas e instituições. Exemplo:
ordem jurídica brasileira, ordem jurídica internacional.

Vigência — Diz-se que uma norma tem vigência ou está em vigor no intervalo de tempo
em que ela é válida e exigível, isto é, o seu descumprimento caracteriza um ato contrário ao
direito (ilegalidade).

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20 Introdução ao Direito Constitucional e ao Controle de Constitucionalidade

EaD SGP - Educação a Distância

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