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Representação de Inconstitucionalidade nº 0060087-68.2010.8.19.0000

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ÓRGÃO ESPECIAL
RELATOR

PROC. N.° : 0060087-68.2010.8.19.0000 - ÓRGÃO ESPECIAL


REPTE : EXMO. SR. PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
REPDO-1 : EXMO. SR. GOVERNADOR DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO
REPDO-2 : EXMO. SR. PRESIDENTE DA ASSEMBLÉIA
LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
LEGISL. : LEI ESTADUAL Nº 5373/2009
RELATOR : DES. REINALDO PINTO ALBERTO FILHO

ACÓRDÃO

E M E N T A: Representação de
Inconstitucionalidade. Lei Estadual nº 5373/2009. Preliminares
de incompetência deste Egrégio Tribunal de Justiça e de falta de
interesse de processual.
I - Alegação de violação dos
preceitos inscritos nos artigos 72, caput e 98, caput da
Constituição do Estado do Rio de Janeiro. Competência deste
Colendo Sodalício para, perante este E. Órgão Especial, apreciar
a matéria deduzida no caso em comento, na forma dos artigos
161, inciso IV alínea “a” CERJ e 125, § 2º da CRFB/88.
II - Ausência de interesse de agir.
Ajuizada a presente Representação com o intuito de obstar Lei
Estadual, tornando impositivo o protesto, suprimindo o Juízo de
valoração realizado pelo Registrador dos títulos indicados, sem
essa previsão na legislação federal, há evidente necessidade e
utilidade no provimento jurisdicional visado. Preliminares que
não merecem prosperar.
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Representação de Inconstitucionalidade nº 0060087-68.2010.8.19.0000

III - Lei estadual impugnada que


obriga os Tabelionatos de Protestos de Títulos a aceitar, para
protesto comum ou falimentar, certidões da dívida ativa e crédito
decorrente de cotas de condomínio edilício, enquadrando-os
como títulos e outros documentos de dívida.
IV - Protesto de certidão da dívida
ativa já objeto da Lei Estadual nº 5.351/2008 com
inconstitucionalidade rechaçada por este E. Órgão Especial em
sessão de julgamento ocorrida em 31/01/2011.
V - Matéria relativa a registros
públicos de competência privativa da União Federal, nos termos
do artigo 22, inciso XXV da Carta Magna, motivo pelo qual
restaria evidenciado o vício de iniciativa do ato normativo
atacado.
VI - Cobrança judicial da Dívida
Ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios que possui regulamento próprio na Lei nº 6830/1980
e, subsidiariamente, no Estatuto Processual Civil.
VII - Autorização para o protesto
constituindo mero meio de constituição em mora do contribuinte
devedor, constrangendo-o ao pagamento sem possibilidade de
discussão administrativa ou judicial. Sanção política,
reiteradamente repudiada pela Suprema Corte. Diversos
precedentes conforme transcritos na fundamentação.
VIII - Protesto de débito referente às
cotas do condomínio edilício. Constrangimento do devedor sem
autorizar não o ajuizamento da ação executiva. Inteligência do
artigo 585, C.P.C. Situação esdrúxula de cobrança direta de
qualquer condômino, sem a garantia da observância do
contraditório e da ampla defesa. Ausência de critérios para
constituição do aludido “crédito de cota condominial”.
IX - Inocuidade da Lei Impugnada,
em face da Lei Federal de Protesto (Lei Federal nº 9.492/97),
igualmente quanto à previsão por dispensa dos emolumentos no
protesto de certidão da dívida pública, em decorrência da Lei
Estadual nº 3.350/99, alterada pela Lei ora impugnada.
X - Medida Cautelar. Faculdade
de análise do mérito, na forma do artigo 105, § 6º in fine do
Regimento Interno deste E. Tribunal de Justiça.

XI - Procedência da representação
para declarar a inconstitucionalidade da Lei Estadual nº
5373/2009, por violação aos artigos 72, caput e 98, caput da
Constituição do Estado do Rio de Janeiro.
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Representação de Inconstitucionalidade nº 0060087-68.2010.8.19.0000

Vistos, relatados e discutidos estes autos da


Representação de Inconstitucionalidade nº 0060087-68.2010.8.19.0000,
em que é Representante EXMO. SR. PROCURADOR GERAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO e como
Representados EXMO. SR. GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO e EXMO. SR. PRESIDENTE DA ASSEMBLÉIA
LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
A C Ó R D A M os Desembargadores que
integram o ÓRGÃO ESPECIAL DO E. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO, à unanimidade de votos, em JULGAR
PROCEDENTE A REPRESENTAÇÃO, DECLARANDO A
INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1º DA LEI ESTADUAL
Nº 5373/2009.

DECIDEM, assim, pelo seguinte.

EXMO. SR. PROCURADOR GERAL DE


JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO apresenta
Representação de Inconstitucionalidade impugnando as notas 1 e 2 do
artigo 1º da Lei Estadual nº 5373/2009, sob alegação de violação dos
preceitos inscritos nos artigos 72, caput e 98, caput da Constituição do
Estado do Rio de Janeiro, bem como agressão aos artigos 22, inciso XXV,
23 e 24 da Carta Magna.
R. Decisão desta Relatoria, às fls. 22/24, adotando o
rito previsto no parágrafo 6º do artigo 105 do Regimento Interno deste E.
Tribunal de Justiça, solicitando as manifestações dos Representados, bem
como das Doutas Procuradorias do Estado e de Justiça.
Informações do Excelentíssimo Presidente da
Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, às fls. 30/44, argüindo
preliminares de incompetência deste Egrégio Tribunal de Justiça e de
falta de interesse de agir e, no mérito, sustentando, em suma, que o Ato
Impugnado apenas explicitou na legislação estadual, as inovações
verificada na Lei Federal nº 9.492/97 sobre Protestos de Títulos,
ampliando as possibilidades, quando em seu art. 1º utiliza a expressão
“outros documentos de dívida”, ressaltando estar à dispensa de
pagamentos prévio de emolumentos, inserido no âmbito de sua
competência normativa, rechaçando, por fim, o pedido de medida liminar.
Informações do Excelentíssimo Governador do Rio
de Janeiro às fls. 46/52, repisando, em resumo, os argumentos
apresentados pelo Chefe do Poder Legislativo Estadual, destacando a
competência concorrente entre o Estado e a União, quanto à matéria em
discussão, inovando ao alegar a impossibilidade de argüição reflexa da
constitucionalidade do Diploma Normativo Infraconstitucional Federal
(Lei nº 9.492/97) e sua interpretação.
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Representação de Inconstitucionalidade nº 0060087-68.2010.8.19.0000

Ausente a manifestação da Procuradoria Geral do


Estado, embora tenha sido facultada vista, conforme Certidão de fl. 53.
Parecer do Douto Órgão do Ministério Público
(fls.55/63) no sentido de rejeição as preliminares suscitadas, pois a
exordial aponta contrariedade a dispositivos da Constituição Estadual,
importando no reconhecimento da competência deste E. Órgão Especial
para apreciar a Representação, além de restar demonstrado o interesse
processual com a presente medida e, no mérito, reitera as razões
constantes da peça vestibular, pugnando pelo acolhimento do pedido e,
conseqüentemente, a declaração de inconstitucionalidade da Lei nº 5.373
de 15 de janeiro de 2009 do Estado do Rio de Janeiro.

É o RELATÓRIO.

FUNDAMENTA-SE E

D E C I D E - SE

Cuida-se de Representação de
Inconstitucionalidade, com pedido de concessão de Medida Cautelar,
ajuizada pelo Excelentíssimo Procurador-Geral de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro, impugnando as notas 1 e 2 do artigo 1º da Lei Estadual nº
5373/2009, sob alegação de violação dos preceitos inscritos nos artigos
72, caput e 98, caput da Constituição do Estado do Rio de Janeiro.
Analisem-se, inicialmente, as preliminares argüidas
pelo Excelentíssimo Presidente da Assembléia Legislativa do Rio de
Janeiro de incompetência deste Colendo Órgão Especial para apreciar a
presente Representação de Inconstitucionalidade, sob a alegação de terem
sido invocadas supostas agressões ao texto da Carta Magna, limitando-se
sua atuação ao controle abstrato de constitucionalidade de leis e atos
normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual e,
de falta de interesse de agir, em razão do ato normativo impugnado, se
tratam de mera repetição do previsto na Lei Federal nº 9.492/97.
Com efeito, a preliminar de incompetência deste E.
Órgão Especial não merece prosperar, haja vista que, ao contrário do
sustentado pelo Chefe do Poder Legislativo Estadual, a presente
Representação de Inconstitucionalidade se funda na violação dos
preceitos inscritos nos artigos 72, caput e 98, caput da Constituição do
Estado do Rio de Janeiro.
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Representação de Inconstitucionalidade nº 0060087-68.2010.8.19.0000

Assim, resta evidenciada a competência deste


Colendo Sodalício para, perante este E. Órgão Especial, apreciar a
matéria deduzida no caso em comento, na forma dos artigos 161, inciso
IV alínea “a” CERJ e 125, § 2º da CRFB/88.
No concernente a alegada ausência de interesse de
agir, nenhuma razão, também, assiste ao Segundo Representado.
Cumpre verificar que ajuizada a presente
Representação com o intuito de obstar Lei Estadual, tornando impositivo
o protesto, suprimindo o Juízo de valoração realizado pelo Registrador
dos títulos indicados, sem essa previsão na legislação federal, há evidente
necessidade e utilidade no provimento jurisdicional visado, razão pela
qual não se pode falar em falta de interesse de agir.
No que tange ao mérito, sustenta o Representante,
em suma, vício de iniciativa, por tratar a lei de matéria referente a registro
público, de competência privativa da União (artigo 22, inciso XXV da
Constituição Federal), e a existência de Parecer do Excelentíssimo Juiz de
Direito Auxiliar da Corregedoria-Geral da Justiça, manifestando-se
contrariamente ao Projeto de Lei do qual se originou o ato normativo
impugnado (nº 1721/2008), acolhido pelo Corregedor-Geral de Justiça à
época, Excelentíssimo Desembargador Luiz Zveiter.
Desse modo, cumpre observar que o Projeto de Lei
nº 1721/2008, de autoria do Deputado Luiz Paulo, foi aprovado pela
Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, resultando na Lei
Estadual nº 5373/2009, que acrescentou as notas 1 e 2 à Tabela 24 da Lei
nº 3350/1999 (Emolumentos dos Tabelionatos de Protestos e Títulos).
Assim dispõe a Lei nº 5373/2009, in verbis:

“LEI Nº 5373, DE 15 DE JANEIRO DE


2009.
ALTERA A LEI Nº 3350, DE 29 DE
DEZEMBRO DE 1999, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.

O GOVERNADOR DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO
Faço saber que a Assembléia Legislativa
do Estado do Rio de Janeiro decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º A Tabela 24 – EMOLUMENTOS


DOS TABELIONATOS DE PROTESTO DE TÍTULOS – da Lei nº.
3350, de 29 de dezembro de 1999, passa a vigorar com as Notas
Integrantes que têm a seguinte redação:
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Representação de Inconstitucionalidade nº 0060087-68.2010.8.19.0000

1. Havendo interesse da administração


pública Federal, Estadual ou Municipal, os tabelionatos de
protestos de títulos e de outros documentos de dívida ficam
obrigados a recepcionar para protesto comum ou falimentar, as
certidões de dívida ativa, devidamente inscrita, independente de
prévio depósito dos emolumentos, custas, contribuições e de
qualquer outra despesa; bem como, o crédito decorrente de cotas
de condomínio edilício, decorrente das quotas de rateio de
despesas e da aplicação de multas, na forma da lei ou convenção
de condomínio edilício, devidos pelo condômino ou possuidor da
unidade. (NR)
2. Compreendem-se como títulos e outros
documentos de dívidas, sujeitos a protesto comum ou falimentar,
os títulos de crédito, como tal definidos em lei, e os documentos
considerados como títulos executivos judiciais e extrajudiciais
pela legislação processual, inclusive as certidões da dívida ativa
inscritas de interesse da União, dos Estados e dos Municípios, em
relação aos quais a apresentação a protesto independe de prévio
depósito dos emolumentos, custas, contribuições e de qualquer
outra despesa, cujos valores serão pagos pelos respectivos
interessados no ato elisivo do protesto ou, quando protestado o
título ou documento, no ato do pedido do cancelamento de seu
registro observados os valores dos emolumentos e das despesas
vigentes na data da protocolização do título ou documento, nos
casos de aceite, devolução, pagamento ou desistência do protesto
ou, da data do cancelamento do protesto observando-se neste caso
no cálculo, a faixa de referência do título ou documento na data
de sua protocolização. As cotas de condomínios edilícios e
documentos demonstrativos da dívida poderão ser apresentados
por meio de cópia autenticada, não estando indicado no título ou
no documento de dívida o valor exato do crédito, ou quando esse
se referir à parcela vencida, o apresentante, sob sua inteira
responsabilidade, deverá juntar demonstrativo de seu valor. (NR)
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data
de sua publicação.
Rio de Janeiro, em 15 de janeiro de
2009.
SÉRGIO CABRAL
Governador”.
Desse modo, impende verificar que a lei estadual
impugnada obriga os Tabelionatos de Protestos de Títulos a aceitar, para
protesto comum ou falimentar, certidões da dívida ativa e crédito
decorrente de cotas de condomínio edilício, enquadrando-os como títulos
e outros documentos de dívida.
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Representação de Inconstitucionalidade nº 0060087-68.2010.8.19.0000

Ab initio, avulta destacar que a matéria relativa a


registros públicos é de competência privativa da União Federal, nos
termos do artigo 22, inciso XXV da Carta Magna, motivo pelo qual
restaria evidenciado o vício de iniciativa do ato normativo atacado.
De igual sorte, cumpre destacar que a questão
atinente a possibilidade de apresentação para protesto de certidão de
dívida ativa já se encontra superada, ante o disposto na Lei Estadual nº
5.351/2008 que em seu art. 3º, I autoriza o Poder Executivo a efetuar o
protesto extrajudicial dos créditos inscritos em dívida ativa, cuja
inconstitucionalidade suscitada nas Representações por
Inconstitucionalidade nº 20/2009 e nº 55/2009 foi rechaçada por este E.
Órgão Especial, no julgamento realizado na recente sessão de julgamento
ocorrida em 31/01/2011.
No mais, cabe constatar que a cobrança judicial da
Dívida Ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
tem regulamento próprio na Lei nº 6830/1980 e, subsidiariamente, no
Estatuto Processual Civil.
Desta forma, forçoso perceber que a autorização
para o protesto de Certidões da Dívida Ativa constitui mero meio de
constituição em mora do contribuinte devedor, constrangendo-o ao
pagamento sem possibilidade de discussão administrativa ou judicial, o
que certamente configura sanção política, reiteradamente repudiada pela
Suprema Corte.
Corroborando o acima exposto está a Jurisprudência
do E. Suprema Corte e deste Colendo Sodalício, inter plures:

Tributário e processual - certidão de


dívida ativa - protesto prévio - desnecessidade - presunção de
certeza e liquidez - ausência de dano moral - deficiência de
fundamentação – súmula 284/STF. 1. Não demonstrada objetiva,
clara e especificamente pelo recorrente a violação a dispositivo de
lei federal, não há como se conhecer do recurso especial
interposto pela alínea "a" do permissivo constitucional, a teor do
disposto na Súmula 284/STF. 2. A Certidão de Dívida Ativa além
da presunção de certeza e liquidez é também ato que torna público
o conteúdo do título, não havendo interesse de ser protestado,
medida cujo efeito é a só publicidade. 3. É desnecessário e inócuo
o protesto prévio da Certidão de Dívida Ativa. Eventual protesto
não gera dano moral in re ipsa. 4. Recurso especial do Banco do
Brasil S/A conhecido parcialmente e, nessa parte, provido. 5.
Prejudicado recurso especial do Município de Duque de Caxias.
(REsp 1093601/RJ, Rel. Ministra Eliana Calmon – Segunda Turma
- julgado em 18/11/2008 - DJe 15/12/2008 - RDDT vol. 162 p.
109).
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Mandado de Segurança originário.


Direito líquido e certo, invocado pela empresa contribuinte,
irresignada com o protesto de certidão da dívida ativa. Liminar
concedida pela Relatoria, ratificada pelo Colegiado por ocasião
do julgamento do Agravo Interno ofertado pela Municipalidade.
Parcelamento do débito gerado pela ausência de recolhimento do
ICMS, não honrado pela empresa. Cabimento do Mandado de
Segurança para evitar lesão aos interesses de quem a alega.
Protesto que acaba por violar direito líquido e certo da empresa,
à medida que representa ato coercitivo exacerbado e
desnecessário, já que a Fazenda pode se valer tão somente dos
efeitos gerados pela própria CDA, assim como da Execução
Fiscal. Desvio de finalidade que resta evidenciado. Meio
coercitivo para pagamento do valor devido sem previsão legal.
Precedentes no STJ e TJRJ. CONCESSÃO DA SEGURANÇA,
restando confirmada a liminar anteriormente concedida. Sem
custas e honorários, tendo em vista a isenção legal. (0034742-
37.2009.8.19.0000 - MANDADO DE SEGURANÇA - 2ª Ementa
DES. SIRLEY ABREU BIONDI - Julgamento: 22/09/2010 -
DÉCIMA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL).

CERTIDÃO DA DIVIDA ATIVA.


PROTESTO. IMPOSSIBILIDADE DE COBRANÇA. DESVIO DE
FINALIDADE. FAZENDA PÚBLICA. PROCEDIMENTO
ESPECIAL DE COBRANÇA. MANDADO DE SEGURANÇA
PREVENTIVO - EXECUÇÃO FISCAL - PROTESTO DE
CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA RISCO DE DANO DE DIFÍCIL
REPARAÇÃO TENDO EM VISTA ANTERIOR PROTESTO DE
OUTRA CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA DE
RESPONSABILIDADE DA IMPETRANTE - CONCESSÃO DA
LIMINAR - CONTROLE DE LEGALIDADE (art. 5º, II e 37 da
CRFB): lei nacional que estabelece as normas gerais para a
execução fiscal, não sendo autorizado o uso da competência
legislativa residual para estabelecer outra forma de cobrança da
dívida ativa. (art. 24§3º da CRFB) - REGIME JURÍDICO
ESPECIAL DA EXECUÇÃO FISCAL QUE TORNA
DESNECESSÁRIO O PROTESTO DA CERTIDÃO DE DÍVIDA
ATIVA - MAJORAÇÃO INDEVIDA DO CRÉDITO
TRIBUTÁRIO - DESVIO DE FINALIDADE - CONFIRMAÇÃO
DA LIMINAR - DESPROVIMENTO DO AGRAVO REGIMENTAL
- CONCESSÃO DO MANDADO DE SEGURANÇA. Ementário:
11/2010 - N. 3 - 18/03/2010. Precedente Citado: STJ REsp
1093601/RJ, Rel.Min. Eliana Calmon, julgado em 18/11/2008 e
REsp287824/MG, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado
em20/10/2005. TJRJ AC 2008.001.07619, Rel. Des. Edson
Vasconcelos, julgada em 19/03/2008 e AC2005.001.35811, Rel.
Des. Conceição Mousnier, julgada em 01/09/2006.
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Representação de Inconstitucionalidade nº 0060087-68.2010.8.19.0000

MANDADO DE SEGURANÇA - 1ª
Ementa - 0035331-29.2009.8.19.0000. DES. CLAUDIO DELL
ORTO - Julgamento: 17/11/2009 - DÉCIMA OITAVA CÂMARA
CÍVEL). (Grifo Nosso).

CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA -


PROTESTO IMPOSSIBILIDADE – CADASTRO PÚBLICO DE
INADIMPLENTES - DANO MORAL - AUSÊNCIA DE
RESPONSABILIDADE PELO CRÉDITO TRIBUTÁRIO - A
documentação acostada aos autos demonstra protesto de certidão
de dívida ativa, gerando inclusão do nome do falecido marido e
genitor dos autores no cadastro restritivo de crédito. O protesto de
certidão da dívida ativa configura procedimento incompatível
com cobrança do crédito tributário, em razão de possuir a
Fazenda Pública procedimento próprio previsto na Lei nº.
6.830/80. Não obstante referido óbice procedimental, verifica-se
da certidão de dívida ativada ausência de similitude entre a
titularidade do imóvel devedor de IPTU e a pessoa indicada como
responsável pelo pagamento do referido imposto. Improvimento do
recurso. (0000732-13.2005.8.19.0030 – APELAÇÃO - 1ª Ementa
DES. EDSON VASCONCELOS - Julgamento: 19/03/2008 -
DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL). (Grifo Nosso).

A autorização para protesto de débito referente às


cotas do condomínio edilício também encontra, por sua vez, diversos
obstáculos.
Isso porque, o protesto de crédito decorrente do
atraso no pagamento das cotas condominiais de rateio de despesas
permite o constrangimento do devedor, mas não autoriza o ajuizamento
da ação executiva (artigo 585, C.P.C.), criando situação esdrúxula de
cobrança direta de qualquer condômino, sem a garantia da observância do
contraditório e da ampla defesa.

No mais, não há na lei a definição dos documentos


necessários a constituição do aludido “crédito de cota condominial”,
possibilitando o protesto, sem critério, dos mais diversos tipos de
documentos.

Neste sentido, cumpre transcrever os principais


trechos do Parecer emitido pelo Juiz de Direito Auxiliar da Corregedoria-
Geral da Justiça, Excelentíssimo Dr. Gilberto de Mello Nogueira
Abdelhay Junior, em relação ao Projeto da Lei em exame, acolhido
integralmente pelo então Corregedor-Geral de Justiça, Excelentíssimo
Desembargador Luiz Zveiter, fls. 15/16, in litteris:
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Representação de Inconstitucionalidade nº 0060087-68.2010.8.19.0000

“Quanto a possibilidade de protesto de


cotas condominiais e de certidão de dívida ativa, já existe
manifestação desta Corregedoria Geral de Justiça nos autos dos
processos administrativos nº 2006-291569 e 2006-062726,
respectivamente, entendendo não ser conveniente a
regulamentação em questão, na medida em que pairaria
divergência jurisprudencial acerca das mesmas. (...).
Em que pese a redação do artigo 1º da
Lei 9492/97, ao se referir a “outros documentos de dívida”,
permitir o entendimento de ser possível o protesto de cota
condominial, há que se observar o fato do artigo 583 do Código de
Processo Civil não relacionar a “cota condominial” como título
executivo extrajudicial. Assim, estar-se-ia diante de um documento
de dívida sujeito a protesto, porém não passível de ação executiva.
O protesto de “cota condominial”
representa, assim, um risco para o condomínio, na medida em que
expõe o devedor sem que lhe tenha sido assegurado o direito de
discutir a dívida, o que deverá ocorrer em ação de cobrança.
Dependendo do resultado da ação de cobrança, o condomínio
poderá ser responsabilizado pelo protesto indevido. (...).
Além disso, pode haver um aumento da
demanda de processos judiciais, originária de condôminos
questionando a legalidade dos protestos realizados e demandando
reparação por danos sofridos. (...).”

Cabe consignar, na forma do artigo 105, §6º in fine


do Regimento Interno deste E. Tribunal de Justiça, a faculdade conferida
ao Órgão Especial de realizar o julgamento definitivo da Representação
de Inconstitucionalidade, o que ora se procede.
Por derradeiro, note-se que a rigor todas as
disposições da Lei Estadual impugnada (Lei nº 5.373/09) são na verdade
inócuas, isto porque em razão da Lei de Protesto (Lei Federal nº
9.492/97) ser tão ampla é possível a admissão de protesto de qualquer
obrigação inadimplida ou descumprida originada em título ou outros
documentos de dívida, pois se apresentasse rol taxativo ninguém senão a
União poderia legislar sobre a matéria já que nos termos do art. 22, XXV
da CR compete privativamente a União o fazer sobre registros públicos.
Quanto à previsão de dispensa dos emolumentos
nos protestos de certidões da dívida pública (Federal, Estadual ou
Municipal) também são inócuas, pois a própria Lei Estadual nº 3350/99
(que dispõe sobre as custas judiciais e emolumentos dos serviços notariais
e de registros no Estado do Rio de Janeiro) foi alterada pela Lei Estadual
impugnada com a inserção das notas 1 e 2 na tabela 24, já estabelecendo a
gratuidade dos atos registrais para os entes da federação conforme art. 43,
V (abaixo transcrito):
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Representação de Inconstitucionalidade nº 0060087-68.2010.8.19.0000

“Art. 43 - São gratuitos:


I - V E TA D O .
* I - os atos não taxados expressamente
nas Tabelas anexas;
* Veto derrubado pela ALERJ. D.O. -
P.II, de 29.03.2000.
II - o registro de nascimento e o assento
de óbito, bem como a primeira certidão respectiva, nos termos da
Lei;
III - os atos dos Ofícios de Registro de
Interdições e Tutelas e do Registro Civil das Pessoas Naturais
determinados pela autoridade judiciária relativamente a criança
ou adolescente em situação irregular;
IV - quaisquer atos notariais e/ou
registrais em benefício do juridicamente necessitado quando
assistido pela Defensoria Pública ou entidades assistenciais assim
reconhecidas por Lei, desde que justificado;
V – certidões, requisições, atos registrais
e autenticações requisitadas pela União, pelo Estado e pelos
Municípios, através dos seus Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário, bem como pelo Ministério Público e Procuradorias
Gerais;
* V - certidões, requisições, atos
registrais e autenticações requisitados pela União Federal, pelos
Estados e pelos Municípios, através de seus Poderes Judiciário,
Legislativo e Executivo, inclusive Ministério Público, e
Procuradorias Gerais, bem como pelas Autarquias e Fundações
integrantes da Administração Indireta do Estado do Rio de
Janeiro.
* Nova redação dada pela Lei nº
4530/2005.

* V - certidões, requisições, atos


registrais e autenticações requisitados pela União Federal, pelos
Estados e pelos Municípios, através de seus Poderes Judiciário,
Legislativo e Executivo, inclusive o Ministério Público e
Procuradorias Gerais, bem como pelas Autarquias, Fundações e
CEHAB – RJ - Companhia Estadual de Habitação do Rio de
Janeiro, integrantes da Administração Indireta do Estado do Rio
de Janeiro.
* Nova redação dada pela Lei nº
4625/2005.
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Representação de Inconstitucionalidade nº 0060087-68.2010.8.19.0000

Enfatize-se, ainda, para que fique definitivamente


esclarecido, que, consoante já entendimento do Direito Pretoriano, deve o
Julgador deixar, estreme de dúvida, a fundamentação, que importa no
conclusivo, sem que para tal seja necessário o enfrentamento de tese por
tese dos Litigantes, mormente, quando a adoção de uma delas, por si só
exclui as demais e, assim, traz o precípuo escopo de análise de todas as
sustentações em lide, sem ocorrência de omissão.

Por estas razões, este Órgão Especial julga


procedente o pedido da Representação, para declarar, com eficácia ex
tunc e erga omnes, a inconstitucionalidade da Lei Estadual nº 5373/2009,
por violação dos artigos 72, caput e 98, caput da Constituição do Estado
do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro, 02 de maio de 2011.

REINALDO PINTO ALBERTO FILHO


RELATOR

Certificado por DES. REINALDO P. ALBERTO FILHO


A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br.
Data: 02/05/2011 18:54:45Local Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: 0060087-68.2010.8.19.0000 - Tot. Pag.: 12

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