APELANTES: ESTADO DO RIO DE JANEIRO e FUNDO UNICO DE PREVIDENCIA SOCIAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - RIOPREVIDENCIA APELADA: NILMA AMARAL ROCHA ORIGEM: 2ª VARA DA COMARCA DE SÃO FIDELIS RELATOR: DESEMBARGADOR JEAN ALBERT DE SOUZA SAADI
APELAÇÃO CÍVEL. Direito Administrativo. Professora do Estado
do Rio de Janeiro. Pretensão de revisão de vencimentos de acordo com o piso salarial nacional da categoria fixado pela Lei Federal n.º 11.738/2008. Procedência do pedido. Recurso dos réus. Afastada a preliminar de anulação da sentença. IAC 0059333-48.2018.81.19.0000 instaurado com o objetivo de uniformizar a forma de aplicação da Lei n.° 11738/08, somente em relação aos Municípios. Também afastada a preliminar de incompetência da Justiça Estadual. Inexistência de litisconsórcio passivo necessário com a União. Suspensão do processo. Impossibilidade. Ação Civil Pública que não induz a litispendência. Lei n.º 11.738/2008 declarada constitucional pelo STF. Tema 911 do STJ. Autora que faz jus à implementação do piso nacional concedido pelo MEC desde o nível 1, observado o interstício de 12% (doze por cento) entre as referências, na forma do artigo 3º da Lei Estadual n.º 5.539/2009, além das diferenças remuneratórias decorrentes. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO.
ACÓRDÃO
VISTOS, relatados e discutidos estes autos da APELAÇÃO CÍVEL n.º
0000325-84.2018.8.19.0051, em que figuram como apelantes ESTADO DO RIO DE JANEIRO e FUNDO UNICO DE PREVIDENCIA SOCIAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – RIOPREVIDENCIA e apelada NILMA AMARAL ROCHA A C O R D A M os Desembargadores que integram a Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, nos termos do voto do Relator.
Rio de Janeiro, na data da assinatura digital.
JEAN ALBERT DE SOUZA SAADI
Desembargador Relator
- Apelação Cível n.º 0000325-84.2018.8.19.0051 -
(RMCD) Assinado 1 em 13/02/2023 12:10:03 JEAN ALBERT DE SOUZA SAADI:16588 Local: GAB. DES. JEAN ALBERT DE SOUZA SAADI 420
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Sexta Câmara Cível
APELAÇÃO CÍVEL n.º 0000325-84.2018.8.19.0051
APELANTES: ESTADO DO RIO DE JANEIRO e FUNDO UNICO DE PREVIDENCIA SOCIAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - RIOPREVIDENCIA APELADA: NILMA AMARAL ROCHA ORIGEM: 2ª VARA DA COMARCA DE SÃO FIDELIS RELATOR: DESEMBARGADOR JEAN ALBERT DE SOUZA SAADI
VOTO
Observo, inicialmente, que se encontram presentes os requisitos de
admissibilidade do recurso, o qual merece ser conhecido.
Trata-se de Apelação interposta pelo ESTADO DO RIO DE JANEIRO e
pelo FUNDO UNICO DE PREVIDENCIA SOCIAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - RIOPREVIDENCIA contra sentença que julgou procedente o pedido formulado por NILMA AMARAL ROCHA e condenou os réus a atualizar o piso salarial da autora, que deverá ser calculado de acordo com a sua jornada de trabalho, tendo por base o piso nacional dos professores, instituído pela Lei Federal n.° 11.738/2008, devidamente atualizado, aplicando-se os reajustes concedidos pelo MEC desde o nível 1, observando-se o interstício de 12% (doze por cento) entre referências, na forma do artigo 3º da Lei Estadual n.° 5.539/2009 e a pagar à autora as diferenças devidas, relativas aos anos de 2014, 2015 e 2018.
Feitos estes registros, revelo que não assiste razão aos apelantes.
Afasto, preliminarmente, o requerimento de anulação da sentença em
razão da existência do Incidente de Assunção de Competência n.º 0059333- 48.2018.81.19.0000 em que se discute a forma de aplicação do art. 2º, §§ 3º e 4º, da Lei n.º 11.738/08.
Isto porque a decisão que admitiu o referido IAC, dispõe
expressamente que o incidente foi instaurado com o objetivo de uniformizar a forma de aplicação dos dispositivos mencionados somente em relação ao Municípios.
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Nesse passo, tratando-se a autora de professora estadual, inexiste
razão para anulação da sentença e sobrestamento do processo, como pretendem os apelantes.
Rejeito também a preliminar de incompetência absoluta da Justiça
Estadual suscitada pelos réus.
A controvérsia se limita à revisão de remuneração percebida por
servidor estadual em razão da aplicação da Lei n.º 11.738/2008, em caráter nacional, competindo ao ESTADO DO RIO DE JANEIRO o seu pagamento, do que resulta a sua legitimidade exclusiva para figurar no polo passivo da demanda. Não havendo que se falar em intervenção da União Federal, por absoluta ausência de interesse jurídico.
Consigno, ademais, que o ajuizamento da Ação Civil Pública (Proc. n.º
0228901-59.2018.8.19.0001) não induz litispendência entre a ação individual, sendo certo que a parte pode optar por ingressar individualmente a fim de buscar sua pretensão, não podendo, contudo, se beneficiar da demanda coletiva, caso não requeira a suspensão da individual antes do julgamento final da coletiva, na forma do art. 104 do CDC.
No mérito, melhor sorte não assiste aos apelantes.
Sinalizo, neste momento, que a pretensão autoral inicial encontra
amparo na Lei Federal n.º 11.738/2008 que instituiu o piso nacional para os professores do magistério público da educação básica.
Revelo, então, que NILMA AMARAL ROCHA é servidora pública
estadual aposentada, tendo ocupado o cargo de PROFESSOR DOCENTE II, referência B07, conforme Comprovantes de Pagamento no índice 000025, com carga horária de 22 (vinte e duas) horas semanais, destacando que os apelados não observam o piso nacional do magistério previsto na Lei Federal n.º 11.738/2008.
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Esclareço, por oportuno, que o Colendo Supremo Tribunal Federal já
decidiu que a Lei Federal n.º 11.738/2008 é constitucional e não ofende o pacto federativo, tanto no que se refere à fixação do piso salarial do vencimento base quanto à forma de sua atualização:
“Direito Constitucional. Ação direta de inconstitucionalidade. pacto
federativo e repartição de competência. Atualização do piso nacional para os professores da educação básica. Art. 5º, parágrafo único, da Lei 11.738/2008. Improcedência. 1. Ação direta de inconstitucionalidade que tem como objeto o art. 5º, parágrafo único, da Lei 11.738/2008, prevendo a atualização do piso nacional do magistério da educação básica calculada com base no mesmo percentual de crescimento do valor anual mínimo por aluno referente aos anos iniciais do ensino fundamental urbano. 2. Objeto diverso do apreciado na ADI 4.167, em que foram questionados os art. 2º, §§ 1º e 4º; 3º, caput, II e III; e 8º, todos da Lei 11.738/2008, e decidiu se no sentido da constitucionalidade do piso salarial nacional dos professores da rede pública de ensino. Na presente ação direta, questiona-se a inconstitucionalidade da forma de atualização do piso nacional. Preliminares rejeitadas. 3. A previsão de mecanismos de atualização é uma consequência direta da existência do próprio piso. A edição de atos normativos pelo Ministério da Educação, nacionalmente aplicáveis, objetiva uniformizar a atualização do piso nacional do magistério em todos os níveis federativos e cumprir os objetivos previstos no art. 3º, III, da Constituição Federal. Ausência de violação aos princípios da separação do Poderes e da legalidade. 4. A Lei nº 11.738/2008 prevê complementação pela União de recursos aos entes federativos que não tenham disponibilidade orçamentária para cumprir os valores referentes ao piso nacional. Compatibilidade com os princípios orçamentários da Constituição e ausência de ingerência federal indevida nas finanças dos Estados. 5. Ausente violação ao art. 37, XIII, da Constituição. A União, por meio da Lei 11.738/2008, prevê uma política pública essencial ao Estado Democrático de Direito, com a previsão de parâmetros remuneratórios mínimos que valorizem o profissional do magistério na educação básica. 6. Pedido na Ação Direita de Inconstitucionalidade julgado improcedente, com a fixação da seguinte tese: “É constitucional a norma federal que prevê a forma de atualização do piso nacional do magistério da educação básica”. (ADI 4848. Órgão julgador: Tribunal Pleno. Relator: Min. ROBERTO BARROSO. Julgamento: 01/03/2021. Publicação: 05/05/2021.)
“CONSTITUCIONAL. FINANCEIRO. PACTO FEDERATIVO E
REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIA. PISO NACIONAL PARA OS
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PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA. CONCEITO DE PISO:
VENCIMENTO OU REMUNERAÇÃO GLOBAL. RISCOS FINANCEIRO E ORÇAMENTÁRIO. JORNADA DE TRABALHO: FIXAÇÃO DO TEMPO MÍNIMO PARA DEDICAÇÃO A ATIVIDADES EXTRACLASSE EM 1/3 DA JORNADA. ARTS. 2º, §§ 1º E 4º, 3º, CAPUT, II E III E 8º, TODOS DA LEI 11.738/2008. CONSTITUCIONALIDADE. PERDA PARCIAL DE OBJETO. 1. Perda parcial do objeto desta ação direta de inconstitucionalidade, na medida em que o cronograma de aplicação escalonada do piso de vencimento dos professores da educação básica se exauriu (arts. 3º e 8º da Lei 11.738/2008). 2. É constitucional a norma geral federal que fixou o piso salarial dos professores do ensino médio com base no vencimento, e não na remuneração global. Competência da União para dispor sobre normas gerais relativas ao piso de vencimento dos professores da educação básica, de modo a utilizá-lo como mecanismo de fomento ao sistema educacional e de valorização profissional, e não apenas como instrumento de proteção mínima ao trabalhador. 3. É constitucional a norma geral federal que reserva o percentual mínimo de 1/3 da carga horária dos docentes da educação básica para dedicação às atividades extraclasse. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. Perda de objeto declarada em relação aos arts. 3º e 8º da Lei 11.738/2008”. (ADI 4167. Órgão julgador: Tribunal Pleno. Relator: Min. JOAQUIM BARBOSA. Julgamento: 27/04/2011. Publicação: 24/08/2011.)
Registro, ademais, que o Colendo Superior Tribunal de Justiça no
julgamento do REsp 1.426.210/RS, em sede de Recurso Repetitivo (Tema 911), consolidou a matéria:
“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. PISO SALARIAL
NACIONAL PARA OS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC/1973. INOCORRÊNCIA. VENCIMENTO BÁSICO. REFLEXO SOBRE GRATIFICAÇÕES E DEMAIS VANTAGENS. INCIDÊNCIA SOBRE TODA A CARREIRA. TEMAS A SEREM DISCIPLINADOS NA LEGISLAÇÃO LOCAL. MATÉRIAS CONSTITUCIONAIS. ANÁLISE EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL. IMPOSSIBILIDADE. 1. Não viola o art. 535 do CPC/1973 o acórdão que contém fundamentação suficiente para responder às teses defendidas pelas partes, pois não há como confundir o resultado desfavorável ao litigante com a falta de fundamentação. 2. A Lei n. 11.738/2008, regulamentando um dos princípios de ensino no País, estabelecido no art. 206, VIII, da Constituição Federal e no art. 60, III, "e", do ADCT, estabeleceu o piso salarial profissional nacional para o magistério público da educação básica, sendo esse o valor mínimo a ser observado pela União,
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pelos Estados, o Distrito Federal e os Municípios quando da
fixação do vencimento inicial das carreiras. 3. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 4167/DF, declarou que os dispositivos da Lei n. 11.738/2008 questionados estavam em conformidade com a Constituição Federal, registrando que a expressão "piso" não poderia ser interpretada como "remuneração global", mas como "vencimento básico inicial", não compreendendo vantagens pecuniárias pagas a qualquer outro título. Consignou, ainda, a Suprema Corte que o pagamento do referido piso como vencimento básico inicial da carreira passaria a ser aplicável a partir de 27/04/2011, data do julgamento do mérito da ação. 4. Não há que se falar em reflexo imediato sobre as vantagens temporais, adicionais e gratificações ou em reajuste geral para toda a carreira do magistério, visto que não há nenhuma determinação na Lei Federal de incidência escalonada com aplicação dos mesmos índices utilizados para a classe inicial da carreira. 5. Nos termos da Súmula 280 do STF, é defesa a análise de lei local em sede de recurso especial, de modo que, uma vez determinado pela Lei n. 11.738/2008 que os entes federados devem fixar o vencimento básico das carreiras no mesmo valor do piso salarial profissional, compete exclusivamente aos Tribunais de origem, mediante a análise das legislações locais, verificar a ocorrência de eventuais reflexos nas gratificações e demais vantagens, bem como na carreira do magistério. 6. Hipótese em que o Tribunal de Justiça estadual limitou-se a consignar que a determinação constante na Lei n. 11.738/2008 repercute nas vantagens, gratificações e no plano de carreira, olvidando-se de analisar especificamente a situação dos profissionais do magistério do Estado do Rio Grande do Sul. 7. Considerações acerca dos limites impostos pela Constituição Federal - autonomia legislativa dos entes federados, iniciativa de cada chefe do poder executivo para propor leis sobre organização das carreiras e aumento de remuneração de servidores, e necessidade de prévia previsão orçamentária -, bem como sobre a necessidade de edição de lei específica, nos moldes do art. 37, X, da Constituição Federal, além de já terem sido analisadas pelo STF no julgamento da ADI, refogem dos limites do recurso especial. 8. Para o fim preconizado no art. 1.039 do CPC/2015, firma-se a seguinte tese: "A Lei n. 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, ordena que o vencimento inicial das carreiras do magistério público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional nacional, sendo vedada a fixação do vencimento básico em valor inferior, não havendo determinação de incidência automática em toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e gratificações, o que somente ocorrerá se estas determinações estiverem previstas nas legislações locais." 9. Recurso especial parcialmente provido para cassar o acórdão a quo e determinar o retorno dos autos ao Tribunal de origem, a fim
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de que reaprecie as questões referentes à incidência automática
da adoção do piso salarial profissional nacional em toda a carreira do magistério e ao reflexo imediato sobre as demais vantagens e gratificações, de acordo com o determinado pela lei local. Julgamento proferido pelo rito dos recursos repetitivos (art. 1.039 do CPC/2015) (REsp n. 1.426.210/RS, relator Ministro Gurgel de Faria, Primeira Seção, julgado em 23/11/2016, DJe de 9/12/2016.)
O piso nacional do magistério previsto na Lei Federal n.º 11.738/2008
pode, destarte, ser exigido a partir de 27/04/2011, devendo ser observada a incidência do patamar mínimo sobre o vencimento básico da carreira, com reflexos nas demais vantagens quando previsto na legislação local.
Constato que, no caso do ESTADO DO RIO DE JANEIRO, a Lei
Estadual nº 5.539/2009, estabelece o escalonamento de 12% (doze por cento) entre as referências da carreira do magistério estadual, assim dispondo o seu art. 3º:
Art. 3º. “O vencimento-base dos cargos a que se refere a Lei nº
1614, de 24 de janeiro de 1990, guardará o interstício de 12% (doze por cento) entre referências".
Dessa forma, ao contrário do que entendem os réus, além de estar
obrigado a considerar o piso nacional do magistério previsto na Lei n.º 11.738/2008, o Poder Público também deve observar o escalonamento estabelecido pela Lei Estadual n.º 5.539/2009.
Repriso que a autora ocupou o cargo de PROFESSOR DOCENTE II,
referência B07, fazendo, portanto, jus ao piso salarial proporcional às 40 (quarenta) horas semanais, na forma do art. 2º, §3º, da Lei Federal n.º 11.738/08:
Art. 2º. “O piso salarial profissional nacional para os profissionais
do magistério público da educação básica será de R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais) mensais, para a formação em nível médio, na modalidade Normal, prevista no art. 62 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. §1º O piso salarial profissional nacional é o valor abaixo do qual a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão fixar o vencimento inicial das Carreiras do magistério público da educação básica, para a jornada de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais.
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§2º Por profissionais do magistério público da educação básica
entendem-se aqueles que desempenham as atividades de docência ou as de suporte pedagógico à docência, isto é, direção ou administração, planejamento, inspeção, supervisão, orientação e coordenação educacionais, exercidas no âmbito das unidades escolares de educação básica, em suas diversas etapas e modalidades, com a formação mínima determinada pela legislação federal de diretrizes e bases da educação nacional. §3º Os vencimentos iniciais referentes às demais jornadas de trabalho serão, no mínimo, proporcionais ao valor mencionado no caput deste artigo.”
Explicito, agora, que o piso nacional do magistério para o ano de 2018
é de R$ 2.455,00 (dois mil, quatrocentos e cinquenta e cinco reais), conforme consulta ao sítio do Ministério da Educação - MEC “http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/piso-salarial-do-professor”, valor que não foi observado pelo ESTADO DO RIO DE JANEIRO na fixação do vencimento inicial das carreiras do magistério estadual de forma proporcional ao cargo de 22 (vinte e duas) horas semanais.
Verifico, nesta altura, analisando o comprovante de pagamento
referente ao mês de janeiro de 2018 (índex 000025 - fls. 81), que o provento base da autora naquele mês era de R$ 1.855,71 (um mil, oitocentos e cinquenta e cinco reais e setenta e um centavos) para o cargo de PROFESSOR DOCENTE II, referência 07.
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Concluo, pois, que a autora faz jus a implementação do piso nacional
do magistério instituído pela Lei Federal n.º 11.738/2008, desde o nível 1, observando- se o interstício de 12% (doze por cento) entre as referências, na forma do art. 3º da Lei Estadual n.º 5.539/2009, bem como às diferenças de remuneração decorrentes.
Dessa forma, a sentença não merece qualquer reparo.
Trago a lume, por oportuno, recentes julgados deste Tribunal de
Justiça que versam sobre questão semelhante a dos presentes autos:
Vencimento-base. ADI 4.167/DF. Escalonamento. Possibilidade, mediada por legislação local. Tese repetitiva (Tema nº 911-STJ). Jurisprudência pacífica desta Corte. 1. Consoante o art. 2º, caput e §§ 1º e 3º, c/c art. 3º, ambos da Lei Federal nº 11.738/2008, declarados constitucionais pelo STF na ADI 4.167/DF, o piso nacional do magistério constitui valor mínimo do vencimento-base dos professores públicos, e não da remuneração global. 2. Essa lei federal não implica, para Estados e Municípios, automático efeito cascata sobre outras rubricas remuneratórias ou classes de carreira que tenham por base de cálculo o vencimento inicial. Mas nada impede que tal efeito decorra da própria legislação local (Tema nº 911-STJ). Neste Estado, a Lei nº 5.539/2009, que prevê o escalonamento entre padrões do
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magistério a partir do vencimento inicial da carreira, é posterior à
instituição do piso nacional, não havendo, pois, falar em concessão heterônoma de reajustes. 3. A pretensão inicial observa a proporcionalidade do regime de carga horária da apelante (22 horas) com o padrão do piso nacional (40 horas), e baseia-se, ainda, num escalonamento de vencimentos-base, determinado pela legislação estadual, de 12% entre cada referência remuneratória da carreira. 5. Provimento do recurso.” (0012164-16.2020.8.19.0026 - APELAÇÃO. Des(a). MARCOS ALCINO DE AZEVEDO TORRES - Julgamento: 17/11/2022 - VIGÉSIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL)
“APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CONSTITUCIONAL E
ADMINISTRATIVO. TUTELA DE EVIDÊNCIA. LEI FEDERAL Nº 11.738/08. PISO SALARIAL DO MAGISTÉRIO. REAJUSTE. ENTENDIMENTO CONSOLIDADO NOS TRIBUNAIS SUPERIORES. 1. Professora estadual aposentada que busca o reajuste de seus proventos com a implementação do piso salarial estabelecido na Lei Federal 11.738/2008 e consequente cobranças dos valores pagos a menor. 2. Sentença que condenou os réus a adequarem os vencimentos da autora e ao pagamento das diferenças devidas, indeferiu a antecipação de tutela e julgou improcedente o pedido de indenização por dano moral. Recurso de ambas as partes. 3. Desnecessidade de inclusão da União Federal no polo passivo, pois o plano de recuperação fiscal formalizado entre os entes federativos não atribui à União o encargo de responder pelo passivo do Estado, sendo certo que a responsabilidade pela implementação do piso nacional do magistério é do ente estadual, consoante entendimento do STJ, no julgamento do REsp no 1.559.965/RS, sob a sistemática dos recursos repetitivos. 4. Incidente de Assunção de Competência nº 0059333- 48.2018.8.19.0000 que objetiva definir a interpretação da jornada de trabalho estabelecida para os professores municipais, não se relacionando ao caso sub judice, razão pela qual não merece prosperar o pleito recursal de suspensão da ação. 5. A existência da ação coletiva 0228901-59.2018.8.19.0001, na qual já foi proferida sentença favorável ao Sindicato dos Professores, não representa óbice para defesa do direito individual postulado pela autora. 6. STF que, no julgamento da ADI 4267/DF entendeu pela constitucionalidade da Lei Federal 11.738/2008, que instituiu o valor mínimo remuneratório para todos os professores públicos, rechaçando a tese de violação à autonomia federativa. 7. STJ que, no julgamento do Tema 911, submetido ao regime de recursos repetitivos, por meio do Resp 1426210/RS, fixou a seguinte tese: "A lei n. 11.738/2008, em seu art. 2º, § 1º, ordena que o vencimento inicial das carreiras do magistério público da educação básica deve corresponder ao piso salarial profissional nacional, sendo vedada a fixação do vencimento básico em valor inferior, não havendo determinação de incidência automática em toda a carreira e reflexo imediato sobre as demais vantagens e - Apelação Cível n.º 0000325-84.2018.8.19.0051 - (RMCD) 10 429
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gratificações, o que somente ocorrerá se estas determinações
estiverem previstas nas legislações locais." 8. No caso do Estado do Rio de Janeiro, a Lei Estadual 1614/1990 dispõe sobre o plano de carreira do magistério público estadual, estando previsto no artigo 3º da lei estadual 5539/2009 que "o vencimento-base dos cargos a que se refere a lei nº 1614, de 24 de janeiro de 1990, guardará o interstício de 12% (doze por cento) entre referências." 9. Recurso da parte autora que busca a concessão da tutela de evidência que merece provimento, pois a matéria referente ao piso salarial nacional do magistério bem como os seus reflexos já foi julgada tanto pelo STF quanto pelo STJ. Inteligência do art. 311 do CPC. 10. Conhecimento e desprovimento do recurso dos réus e provimento do recurso da parte autora para conceder a tutela de evidência, a fim de ser aplicado o reajuste conforme determinado na sentença, no prazo de 30 dias, sob pena de multa a ser fixada em caso de descumprimento da medida.” (0001637- 90.2021.8.19.0051 - APELAÇÃO. Des(a). RICARDO ALBERTO PEREIRA - Julgamento: 03/08/2022 - VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL)
Diante do exposto, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO AO
RECURSO interposto pelos réus e MAJORAR os honorários advocatícios para 12% (doze por cento) do valor da condenação, na forma do art. 85, § 11, do CPC, mantida, nos demais termos, a sentença recorrida.