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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TURMAS RECURSAIS

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
LBMF
Nº 71009963281 (Nº CNJ: 0012878-29.2021.8.21.9000)
2021/CÍVEL

RECURSO INOMINADO. AGENTE POLÍTICO.


MUNICÍPIO DE PASSO DO SOBRADO.
SECRETÁRIO MUNICIPAL. GRATIFICAÇÃO
NATALINA. INDENIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
REMUNERAÇÃO NA FORMA DE SUBSÍDIO.
INEXISTÊNCIA DE LEI ESPECÍFICA
AUTORIZANDO O PAGAMENTO. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA MANTIDA.
A Constituição Federal estabelece em seu art. 39, § 4º, que
os Secretários Municipais serão remunerados,
exclusivamente, por subsídio fixado em parcela única, sendo
vedado o pagamento de qualquer outra vantagem
remuneratória.
Inobstante, o Supremo Tribunal Federal, quando do
julgamento do RE n. 650.898/RS (Tema 484), firmou o
entendimento de que “o art. 39, § 4º, da Constituição
Federal não é incompatível com o pagamento de terço de
férias e décimo terceiro salário”.
Complementando esse entendimento, o Superior Tribunal de
Justiça, por ocasião do julgamento do REsp n. 837.188/DF,
pacificou o entendimento de que a aplicabilidade dos
direitos sociais aos agentes políticos, como férias
remuneradas e gratificação natalina, somente é possível se
expressamente autorizada por lei, em observância ao
princípio da legalidade, previsto no art. 37, caput, da CF.
No caso concreto, a pretensão da parte autora não encontra
amparo legal, já que inexiste lei municipal autorizando
expressamente o pagamento do décimo terceiro salário aos
ocupantes do cargo de Secretário Municipal, devendo,
portanto, ser mantida a sentença de improcedência do
pedido.
RECURSO INOMINADO DESPROVIDO. UNÂNIME.

RECURSO INOMINADO TERCEIRA TURMA RECURSAL DA


FAZENDA PÚBLICA
Nº 71009963281 (Nº CNJ: 0012878- COMARCA DE SANTA CRUZ DO SUL
29.2021.8.21.9000)

EDEMAR DE AZEREDO RECORRENTE

MUNICIPIO DE PASSO DO SOBRADO RECORRIDO

MP/RS - MINISTERIO PUBLICO DO INTERESSADO


ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TURMAS RECURSAIS

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
LBMF
Nº 71009963281 (Nº CNJ: 0012878-29.2021.8.21.9000)
2021/CÍVEL

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Juízes de Direito integrantes da Terceira Turma Recursal da


Fazenda Pública dos Juizados Especiais Cíveis do Estado do Rio Grande do Sul, à
unanimidade, em desprover o Recurso Inominado.
Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes Senhores DR.
SYLVIO JOSÉ COSTA DA SILVA TAVARES (PRESIDENTE) E DR. ALAN TADEU
SOARES DELABARY JUNIOR.

Porto Alegre, 23 de setembro de 2021.

DR.ª LAURA DE BORBA MACIEL FLECK,


Relatora.

RELATÓRIO

Dispensado o relatório, nos termos do art. 38 da Lei n. 9.099/95 c/c art. 27


da Lei n. 12.153/2009.

VOTOS

DR.ª LAURA DE BORBA MACIEL FLECK (RELATORA)

Conheço do Recurso Inominado, pois preenchidos os pressupostos de


admissibilidade.

Trata-se de demanda proposta contra o Município de Passo do Sobrado, por


meio da qual a parte autora, ocupante do cargo de Secretário Municipal da Agricultura,
objetiva o pagamento da gratificação natalina.

A parte autora recorre da sentença, que julgou improcedente o pedido.

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Adianto, porém, que estou desprovendo a pretensão recursal do demandante.

Com efeito, a Constituição Federal prevê em seu art. 39, § 3º, a aplicação de
alguns dos direitos sociais estabelecidos no art. 7º, tais como férias remuneradas e décimo
terceiro salário, aos servidores públicos, com vínculo permanente com a Administração
Pública.

Já o art. 39, § 4º, da CF, prevê a forma de pagamento da remuneração dos


agentes políticos, estabelecendo que os “Secretários Estaduais e Municipais serão
remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de
qualquer gratificação adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie
remuneratória”.

Inobstante, o Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento do RE n.


650.898/RS (Tema 484), firmou o entendimento de que “o art. 39, § 4º, da Constituição
Federal não é incompatível com o pagamento de terço de férias e décimo terceiro salário” a
agente remunerado por subsídio:

Recurso Extraordinário. Repercussão Geral. Ação direta de


inconstitucionalidade estadual. Parâmetro de controle. Regime de
subsídio. Verba de representação, 13º salário e terço
constitucional de férias. 1. Tribunais de Justiça podem exercer
controle abstrato de constitucionalidade de leis municipais
utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal,
desde que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos
Estados. Precedentes. 2. O regime de subsídio é incompatível com
outras parcelas remuneratórias de natureza mensal, o que não é o
caso do décimo terceiro salário e do terço constitucional de
férias, pagos a todos os trabalhadores e servidores com
periodicidade anual. 3. A “verba de representação” impugnada
tem natureza remuneratória, independentemente de a lei
municipal atribuir-lhe nominalmente natureza indenizatória.
Como consequência, não é compatível com o regime
constitucional de subsídio. 4. Recurso parcialmente provido. (RE
650898, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado
em 01/02/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-187 DIVULG 23-08-2017 PUBLIC 24-08-
2017. Grifei)

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Nº 71009963281 (Nº CNJ: 0012878-29.2021.8.21.9000)
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Complementando esse entendimento, o Superior Tribunal de Justiça, por


ocasião do julgamento do REsp n. 837.188/DF, pacificou o entendimento de que a
aplicabilidade dos direitos sociais aos agentes políticos, como férias remuneradas e
gratificação natalina, somente é possível se expressamente autorizada por lei, em
observância ao princípio da legalidade, previsto no art. 37, caput, da CF/88.

No caso concreto, a pretensão da autora não encontra amparo legal, já que


inexiste lei municipal autorizando expressamente o pagamento do décimo terceiro salário aos
ocupantes do cargo de Secretário Municipal, devendo, portanto, ser mantida a sentença de
improcedência do pedido.

Nesse sentido, colaciono precedente das Turmas Recursais da Fazenda


Pública:

RECURSO INOMINADO. AGENTE POLÍTICO. SECRETÁRIO


MUNICIPAL. MUNICÍPIO DE MANOEL VIANA.
GRATIFICAÇÃO NATALINA E TERÇO DE FÉRIAS.
REMUNERAÇÃO NA FORMA DE SUBSÍDIO. AUSÊNCIA DE
LEI ESPECÍFICA. IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. Aos agentes
políticos não se aplica o disposto no § 3º do artigo 39 da
Constituição Federal, visto não se tratar de servidor público com
vínculo permanente com a Administração Pública. A essa
categoria é aplicável o Regime Jurídico Único (art. 39, §4º, da
CF). Conforme entendimento atual do Supremo Tribunal Federal,
pacificado em regime de Repercussão Geral, o décimo terceiro
salário e o terço de férias não são incompatíveis aos agentes
políticos (Recurso Extraordinário nº 650898). Por outro lado, em
complementação a esse entendimento, o Superior Tribunal de
Justiça no julgamento do REsp 837.188/DF, já decidiu que a
aplicabilidade dos direitos sociais, como o direito a férias e
gratificação natalina, aos agentes políticos, somente é cabível se
expressamente autorizada por lei. Desse modo, tendo em vista não
há na Lei Municipal de Manoel Viana qualquer regulamentação
acerca do benefício ora pleiteado, inviável o pagamento
(consagração do Princípio da Legalidade). RECURSO
DESPROVIDO. UNÂNIME.(Recurso Cível, Nº 71008504698,
Segunda Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais,
Relator: Mauro Caum Gonçalves, Julgado em: 26-06-2019)

RECURSO INOMINADO. AGENTE POLÍTICO. SECRETÁRIO


MUNICIPAL. MUNICÍPIO DE PALMARES DO SUL.
PRETENSÃO AO PAGAMENTO DE GRATIFICAÇÃO
NATALINA. REMUNERAÇÃO NA FORMA DE SUBSÍDIO.
INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO EM LEI MUNICIPAL. A
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Constituição Federal de 1988, em seu art. 39, § 3º, prevê a


aplicação de alguns dos direitos sociais do art. 7º, tais como férias
remuneradas, salário mínimo e décimo terceiro salário, aos
servidores públicos. Tais direitos são extensíveis somente aos
servidores com vínculo permanente com a Administração Pública,
sujeitos a Regime Jurídico Único. A despeito disso, o Supremo
Tribunal Federal, quando do julgamento do RE nº 650.898/RS
(Tema 484), firmou o entendimento de que “o art. 39, § 4º, da
Constituição Federal não é incompatível com o pagamento de
terço de férias e décimo terceiro salário” a agente remunerado
por subsídio. No entanto, em face do princípio da legalidade (art.
37, caput, da CF/88), necessária a existência de previsão legal
específica para pagamento de 13º salário aos agentes políticos.
No caso em comento, inexiste lei municipal que contenha previsão
expressa de pagamento de gratificação natalina a Secretários
Municipais, cargo ocupado pelo autor no ano de 2016.
Contrariamente, há lei municipal que veda, expressamente, o
pagamento de tal vantagem ao Secretariado (art. 4º da Lei nº
1.897/12), razão pela qual não prospera a pretensão do
demandante. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA REFORMADA.
RECURSO INOMINADO PROVIDO.(Recurso Cível, Nº
71008254641, Segunda Turma Recursal da Fazenda Pública,
Turmas Recursais, Relator: Rosane Ramos de Oliveira Michels,
Julgado em: 27-02-2019)

Diante do exposto, voto pelo DESPROVIMENTO do Recurso


Inominado, confirmando a sentença por seus próprios fundamentos, nos termos do art.
46 da Lei n. 9.099/95.

Em decorrência do resultado do julgamento, condeno a parte recorrente,


vencida, ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, que fixo em
15% sobre o valor atualizado da causa, cuja exigibilidade fica suspensa, em razão da
concessão do benefício da gratuidade judiciária, que ora lhe defiro.

DR. ALAN TADEU SOARES DELABARY JUNIOR - De acordo com o(a) Relator(a).

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2021/CÍVEL

DR. SYLVIO JOSÉ COSTA DA SILVA TAVARES (PRESIDENTE) - De acordo com


o(a) Relator(a).

DR. SYLVIO JOSÉ COSTA DA SILVA TAVARES - Presidente - Recurso Inominado nº


71009963281, Comarca de Santa Cruz do Sul: "À UNANIMIDADE, DESPROVERAM O
RECURSO INOMINADO."

Juízo de Origem: JUIZADO ESPECIAL FAZENDA PUBLICA ADJUNTO SANTA CRUZ


DO SUL - Comarca de Santa Cruz do Sul

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