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21/07/2021
Número: 0002342-39.2012.8.10.0024
Classe: APELAÇÃO CÍVEL
Órgão julgador colegiado: Presidência
Órgão julgador: Gabinete do Presidente do Tribunal de Justiça na Coordenação de Recursos
Constitucionais
Última distribuição : 01/11/2020
Valor da causa: R$ 7.640,10
Processo referência: 0002342-39.2012.8.10.0024
Assuntos: Pensão por Morte (Art. 74/9)
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
KELIANE KESSIA RAMOS DOS SANTOS (APELANTE) MARIA ZILDA LAGO OLIVEIRA (ADVOGADO)
ESTADO DO MARANHAO (APELADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
97450 19/03/2021 15:24 Embargos de declaração (1689) Embargos de declaração (1689)
31
EXCELENTÍSSIMO DESEMBARGADOR RELATOR DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
MARANHÃO
Processo: 0002342-39.2012.8.10.0024
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
em face da decisão proferida nestes autos, pelas razões de fato e de direito adiante expostas.
Em suas manifestações nestes autos o Estado suscitou a vedação legal expressa para a
autora seja qualificada como beneficiária do RPPS, constante do art. 9º, IV da LC 73/04, in verbis:
(...)
O ACÓRDÃO (proferido por órgão fracionário) afastou a vedação legal expressa referida,
afirmando que a parte autora pode ser beneficiária do RPPS, mesmo que já sendo amparada por
aposentadoria por invalidez do RGPS, in verbis:
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UNIVERSITÁRIA. PREVALÊNCIA DA LEI FEDERAL N. 9.717/1998 SOBRE
A LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N. 72/2004. DESPROVIMENTO.
Vê-se, portanto, que a decisão aplica premissa frontalmente contrária à vedação expressa
constante da lei, a qual veda expressamente a acumulação concedida, restringindo a condição de
beneficiário a quem já não receba aposentadoria por invalidez.
Entretanto, apesar de afastar a incidência da previsão legal expressa por decisão de órgão
fracionário, se omitiu acerca da reserva de plenário (prevista no art. 97, CF, cujo sentido e alcance resta
há muito pacificada na Súmula Vinculante n. 10 para abranger inclusive as situações em que o
afastamento do dispositivo legal não vem acompanhado da declaração expressa de inconstitucionalidade),
não a enfrentando nem mesmo para rechaça-la :
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juiz de ofício ou a requerimento;
O fundamento precípuo da decisão embargada é o que consta do art. 5º, Lei Federal n°
9.717/98, cuja aplicação importaria no afastamento da idade limite prevista na lei estadual para aplicação
da idade limite prevista na lei federal nº 8.213/91 [1]
Aplicar a norma federal para impor não só a similitude dos benefícios em espécie, mas a totalidade de
seus contornos jurídicos (ou seja, que não apenas as espécies, mas o benefício em si enquanto um
resultado do rol de beneficiários, idade limite, demais requisitos, etc não poderia ser distinto) é ferir
de morte (por relegar à total inocuidade) a competência legislativa constitucional dos Estados para
legislar sobre os respectivos Regimes Próprios de Previdência (art. 24, XII e §1º, CF), visto que se
limitariam a fazer mera cópia (e não efetivamente opções legiferantes) sobre tais regimes.
Tal aplicação do art. 5º, Lei 9.717/98, portanto, contrariaria frontalmente a Constituição Federal por
transbordar a competência da União para legislar tão somente as normas gerais na matéria (art. 24, §1º,
CF).
Acerca do tema, inclusive, o Supremo Tribunal Federal já se manifestou em diversas oportunidades,
estabelecendo que o art. 5º da Lei Federal n° 9.717/98 não derrogou nem suspendeu as normas dos
Regimes Próprios de Previdência, não impondo que sejam adotados os mesmos requisitos (inclusive
quanto ao rol de beneficiários). Inclusive, os casos paradigmáticos da Suprema Corte discutiam
exatamente a abrangência ou não do rol de beneficiários e não apenas sobre os benefícios em
espécie pelo referido dispositivo federal. Veja-se os jugados:
STF – DECISÃO: (...) Como se vê, o STF firmou a orientação de que o art. 5º da
Lei 9.717/98 não derrogou ou suspendeu a eficácia das disposições relativas
aos beneficiários das pensões por morte nos regimes próprios de previdência
dos servidores públicos. O acórdão recorrido encontra-se em consonância com
esse entendimento, razão pela qual não merece reforma (...) [STF – ARE 880.210,
Relator Min. Teori Zavaski, 02/09/2015].
STF – DECISÃO: (...) Ademais, esse Supremo Tribunal Federal já assentou que o
art. 5º da Lei nº 9.717/98, que veda a concessão de benefícios distintos daqueles
previstos no Regime Geral de Previdência Social, não derrogou ou suspendeu a
eficácia das disposições relativas aos beneficiários das pensões por morte
nos regimes próprios de previdência dos servidores públicos. Nesse sentido,
anotem-se os seguintes julgados (...) [STF – ARE 1.079.137, Relator Min. Dias
Toffoli, 02/10/2017].
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“Pensão por morte – Servidora estadual falecida A Lei Federal nº 9.717/98 proibiu a
concessão no Regime Próprio de Previdência Social – RPPS [de benefícios]
distintos dos previstos no Regime Próprio de Previdência Social – RGPS, mas não
a alteração do rol de dependentes previsto na legislação previdenciária estadual
(...)”
Ainda que assim não fosse, esta Corte já assentou que o art. 5º a Lei nº 9.717/98,
que veda a concessão de benefícios distintos daqueles previstos no Regime Geral
de Previdência Social, não derrogou ou suspendeu a eficácia das disposições
relativas aos benefícios das pensões por morte nos regimes próprios de
previdência. (...) Ante o exposto, nego seguimento ao recurso (...) [STF – ARE
1.128.234, Relator Min. Gilmar Mendes, 30/04/2018].
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da Constituição da República, como dispõe:
17. Importante realçar que esse entendimento não significa frustração ao objetivo
do constituinte reformador, tanto na Emenda Constitucional n. 20/1998 quanto na
Emenda Constitucional n. 41/2003, de aproximar, tanto o quanto possível, os
diversos regimes previdenciários e convergir para a uniformidade com relação ao
regime de previdência de servidores federais, estaduais e municipais. Impõe-se a
essa convergência observar os ditames constitucionais, notadamente as
regras de repartição de competência, concretizadoras de princípios norteadores
do Estado brasileiro, como a forma federativa e a independência e harmonia entre
os poderes. [STF – MS 31.770, Relatora Min. Cármen Lúcia, 20/11/2014]
Dessa forma, o julgado incorreu em omissão por precedente invocado pela parte, sem demonstrar a
existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento, conforme CPC:
Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial
para:
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b. O provimento dos presentes aclaratórios, a fim de que a decisão se
manifeste acerca da reserva de plenário (art. 24, §1º, CF), ainda que para
rechaça-lo;
[1]Art. 5º, Lei 9.717/98 - Os regimes próprios de previdência social dos servidores públicos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos militares dos Estados e do Distrito
Federal não poderão conceder benefícios distintos dos previstos no Regime Geral de Previdência
Social, de que trata a Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, salvo disposição em contrário da
Constituição Federal.
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