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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS – TJDFT

“A Constituição é mais que um documento


legal. É um documento com intenso
significado simbólico e ideológico –
refletindo tanto o que nós somos enquanto
sociedade, como o que nós queremos ser”.
Martha Jackman

Referência Autos no. 2013.07.1.132297-9APJ

FRANCISCO FIDELMAN ALVES DE LIMA, GILMÁRIO SANTOS


RAMOS e VANDERLEI FERREIRA DUTRA, todos devidamente qualificados
nos autos do processo em epígrafe, vêm perante Vossa Excelência, por
intermédio de seus advogados in fine subscritos, irresignado com o v. acó rdã o
disponibilizado no DJ-e em 07/10/2014 que violou os arts. 5º, caput, XXXVII,
XLVI, XLV LIV, LV da CF/88, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, no prazo legal, interpor

RECURSO EXTRAORDINÁRIO

com fulcro no art. 102, III, “a”, da Constituiçã o Federal de 1988 e art. 26 e
seguintes da Lei n° 8.038/90 cumulado com art. 321 e seguintes do RISTF.
Requer que seja dado seguimento ao presente recurso, para que
seja processado com a posterior remessa das inclusas razõ es ao Excelso
Supremo Tribunal Federal – STF.

Rendendo as homenagens de estilo, pede deferimento.

Brasília/DF, 13 de junho de 2016.

Asdrubal Nascimento Lima Neto Cristina Alves Tubino


OAB/DF 31.401 OAB/DF 16.307

Benedito Dias dos Santos Andréia Limeira Lima


OAB/DF 8.343 OAB/DF 45.090

Maria Sylvia Saunders


OAB/DF 50.149
EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Autos n. 2013.07.1.132297-9APJ
Recorrentes: FRANCISCO FIDELMAN ALVES DE LIMA, GILMÁRIO SANTOS
RAMOS e VANDERLEI FERREIRA DUTRA
Recorrido: Acórdão da Primeira Turma Recursal do TJDFT

RAZÕES DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO

I- PRELIMINAR FORMAL E FUNDAMENTADA DE REPERCUSSÃO


GERAL (ART. 102, §3º e ART. 327, RISTF)

In casu, coloca-se quatro questõ es para exame de


repercussã o geral deste excelso pretó rio, quais sejam: a) violaçã o dos
preceitos do contraditó rio e da ampla defesa; b) violaçã o ao princípio da
congruência ou correlaçã o no decisum do julgador c) Violaçã o da
garantia constitucional da individualizaçã o da pena do individuo de
acordo com suas circunstâ ncia pessoais; d) Condiçã o de policial civil
como causa que enseja juízo depreciativo da culpabilidade.

Como já vaticinava Montesquieu: “a cada forma de Governo


corresponde um princípio inspirador. De acordo com esse princípio é
que o Governo organiza e dirige o Estado. Por ele o Governo modela toda
a legislaçã o, porque assim está -se realizando”.

As duas primeiras questõ es que se colocam para aná lise da


repercussã o geral derivam do princípio inspirador da forma de governo
democracia. Que vã o encontrar no processo penal o sistema acusató rio
como modelo de processo a ser seguido. Daí é que, o respeito as regras
do jogo é um imperativo do regime democrá tico a do sistema acusató rio.

Parodiando Aury Lopes Jú nior: existe injustiça


maior do que se ver condenado sem respeito à s regras do jogo
constitucional e processual?

O processo para alé m da visã o clá ssica de caminho


necessá rio para se impor uma pena é també m um instrumento
para que as garantias constitucionais do imputado sejam
preservadas e in casu como se observar á tais garantias nã o
foram preservadas ao rev é s foram violadas, por meio de
esforços hermenê uticos.

II - BREVE RESUMO DOS FATOS


Os recorrentes foram denunciados pelo membro do Ministério Pú blico
junto ao Primeiro Juizado Criminal da Circunscriçã o Judiciá ria de Taguatinga
por, em tese, terem cometido crime descrito no artigo 3 o., alínea “a”, da Lei
4898/65, porque, segundo a denú ncia, no dia 29 de maio de 2013, teriam tido
a seguinte conduta:

“... os denunciados compareceram na residência da vítima e


efetuaram sua prisão quando essa saía do elevador do
prédio, tendo inclusive algemado o ofendido sem que
houvesse qualquer situação de flagrante delito ou mesmo
mandado de prisão expedido.
Ademais, os denunciados conduziram a vítima até o
apartamento onde efetuaram uma busca a apreenderam
pertences do ofendido, sem que houvesse fundamento legal
para tal conduta ou tivessem amparados por qualquer
mandado judicial.
Ressalte-se que após esse fato ainda conduziram a vítima
para Vicente Pires, passando por vários locais e somente
liberando o ofendido em sua residência após cerca de sete
horas de restrição de sua liberdade.
Dessa forma, os denunciados, sob o comando do autor
FRANCISCO FIDELMAN, sob pretexto de estarem apurando
uma quadrilha envolvida em crimes de furto mediante
fraude e estelionato, restringiram a liberdade de locomoção
da vítima por várias horas, deslocando três equipes da DOE
para essa operação ilegal (...)”.

A denú ncia foi recebida e o magistrado determinou o prosseguimento do


feito, conforme fls. 118. Este correu com a oitiva das testemunhas, interrogató rios
de todos os acusados no feito. Apó s Alegaçõ es Finais, os embargantes e demais
acusados, foram ABSOLVIDOS, com fundamento no artigo 386, inciso VII do Có digo
de Processo Penal.

Irresignado quanto à condenaçã o dos ora recorrentes, o Ministério Pú blico,


recorreu para a Turma Recursal do TJDFT, a qual entendeu, por bem condenar os
réus nos seguintes moldes:

“(...) Ante o exposto, DOU PROVIMENTO AO APELO, para


reformar a sentença e condenar FRANCISCO FIDELMAN ALVES
DE LIMA, GILMÁRIO SANTOS RAMOS e VANDERLEI FERREIRA
DUTRA como incursos nas penas do art. 3 o., alíneas “a’ e ‘b’, c/c
art. 6o., parágrafo 3o., da Lei 4898/65.
Passo à individualização da pena.
FRANCISCO FIDELMAN ALVES DA LIMA
(...)
As demais condições judiciais são favoráveis, uma vez que o réu é
primário, não ostenta antecedentes penais e inexistem balizas
para avaliar sua conduta social. O comportamento da vítima foi
irrelevante.
Deixo de aplicar a pena pecuniária, porque não se mostraria
adequada e suficiente à reprovação e prevenção do crime.
Fixo a pena-base em 04 (quatro meses) de detenção.
Embora o réu não tenha propriamente o fato, admitiu em boa
parte, seu comportamento, embora sempre justificando sua
licitude.
Nesse passo, tenho que deve ser beneficiado pela atenuante da
confissão.
Por outro lado, na condição de chefe da equipe de plantão era o
responsável por dirigir a ação dos outros policiais, razão pela
qual sua expiação deve ser agravada, na forma do art. 62, I, do
CP.
Diante do concurso da agravante e da atenuante, deixo
inalterada a pena.
Não existem outras causas gerais ou especiais de modificação da
reprimenda, razão pela qual torno definitiva a pena corporal em
04 (quatro) meses de detenção.
Fixo o regime inicial aberto para cumprimento da pena, em
conformidade com o art. 33, parágrafo 2 o., alínea “c”, do Código
Penal.
Na forma do artigo 44 do Código Penal, substituo a pena
corporal por uma restritiva de direito, por igual período, cujas
condições serão estabelecidas pela VEPEMA.
Considerando que, pelas diretrizes do artigo 59 do Código Penal,
em particular o fato da escolha da pena resultar da análise das
condições judiciais que deverá ser o suficiente e o necessário à
reprovação e prevenção crime;
Tendo em vista que o artigo 6 o. Parágrafo 3o., da Lei 4868/65,
comina as sanções penais aplicáveis, que poderão ser aplicadas
isolada ou conjuntamente;
Considerando que o sentenciado agiu com total menosprezo aos
direitos fundamentais, servindo sua posição de chefe, como mais
exemplo a ser expungido na sua atividade. Agiu com total
menosprezo aos direitos e garantias que tinha, por força de lei,
dever de proteger;
Determino, conjuntamente com a pena corporal, a perda do
cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função
por 01 (um) ano.

GILMARIO SANTOS RAMOS


O réu é primário e de bons antecedentes, as circunstâncias do
crime, suas consequências e o modo de execução são
desfavoráveis.
(...)
As demais condições judiciais são favoráveis.
Deixo de adotar a aplicação da pena de multa porque, as
condições judiciais não são integralmente favoráveis e os fatos
que deram sustentação ao tipo penal se revelaram
extremamente graves. Logo, a pena pecuniária não se mostraria
suficiente para a reprovação e prevenção do crime.
Atendo as diretrizes do art, 59 do CP, fixo a pena base em 03
(três) meses de detenção.
Reconheço, igualmente, a atenuante da confissão, uma vez que
não negou o fato, embora tenha pretendido conferir-lhe outra
definição jurídica. Reduzo sua expiação em 15 (quinze) dias.
Finalmente, torno definitiva a reprimenda 02 (dois) meses e 15
(quinze) dias de detenção.
Por força do art. 33 do CP, fixo o regime inicial aberto para o
cumprimento da pena.
Na forma do artigo 44 do Código Penal, substituo a pena
corporal por uma restritiva de direito, por igual período, cujas
condições serão estabelecidas pela VEPEMA.
Considerando que o art. 6o., parágrafo 3o. Da Lei no. 4898/65,
que possibilita a aplicação autônoma ou cumulativamente da
pena corporal com as demais previstas no tipo penal;
Tendo em vista que o comportamento do acusado se mostrou
totalmente incompatível com a profissão que exerce, por
comungar de valores e conceitos que fogem ao regramento da
atividade policial, principalmente no que se refere à proteção e
respeito aos direitos e garantias individuais;
Determino a perda do cargo público de agente de polícia e sua
inabilitação para o exercício de cargo idêntico ou semelhante
pelo prazo de 01 (um) ano (art. 6 o., par. 3o. Alínea “c”, Lei no.
4868/65).

VANDERLEI FERREIRA DUTRA


O réu é primário e de bons antecedentes, as circunstâncias do
crime, suas consequências e o modo de execução são
desfavoráveis.
(...)
As demais condições judiciais são favoráveis.
Deixo de adotar a aplicação da pena de multa porque, as
condições judiciais não são integralmente favoráveis e os fatos
que deram sustentação ao tipo penal se revelaram
extremamente graves. Logo, a pena pecuniária não se mostraria
suficiente para a reprovação e prevenção do crime.
Atendo as diretrizes do art. 59 do CP, fixo a pena base em 03
(três) meses de detenção.
Reconheço, igualmente, a atenuante da confissão, uma vez que
não negou o fato, embora tenha pretendido conferir-lhe outra
definição jurídica. Reduzo sua expiação em 15 (quinze) dias.
Finalmente, torno definitiva a reprimenda 02 (dois) meses e 15
(quinze) dias de detenção.
Por força do art.33 do CP, fixo o regime inicial aberto para o
cumprimento da pena.
Na forma do artigo 44 do Código Penal, substituo a pena
corporal por uma restritiva de direito, por igual período, cujas
condições serão estabelecidas pela VEPEMA.
Considerando que o art. 6o., parágrafo 3o. Da Lei no. 4898/65,
que possibilita a aplicação autônoma ou cumulativamente da
pena corporal com as demais previstas no tipo penal;
Tendo em vista que o comportamento do acusado se mostrou
totalmente incompatível com a profissão que exerce, por
comungar de valores e conceitos que fogem ao regramento da
atividade policial, principalmente no que se refere à proteção e
respeito aos direitos e garantias individuais;
Determino a perda do cargo publico de agente de policia e sua
inabilitação para o exercício de cargo idêntico ou semelhante
pelo prazo de 01 (um) ano (art. 6 o., par. 3o. Alínea “c”, Lei no.
4868/65).
(...)

Apó s aná lise de todo o teor do acó rdã o publicado, verificando-se


contradiçõ es, omissõ es e dú vidas, as quais deveriam ser sanadas, tendo em vista
que prejudicavam a compreensã o do julgado, foram opostos Embargos de
Declaraçã o, os quais nã o foram providos pelo Relator do recurso.

A extensã o do acó rdã o proferido pelo Juízo a quo, quais sejam, 69


pá ginas, juntamente com seu abarroto de informaçã o, trouxeram a certeza da
proficiência quanto a aná lise dos elementos que compõ e o referido julgado,
mas também invocaram questionamentos que, se traduziram em
incalculá veis prejuízos ao exercício da defesa dos acusados, em especial, o de
exercerem seu direito de perseguirem sua pretensã o absolutó ria, ainda mais
diante do grande peso da decisã o ali proferida, em especial a perda do cargo
pú blico por homens a mais de meia vida, vida esta dedicada exaustivamente
ao cumprimento de suas obrigaçõ es de forma límpida, conforme se decota de
em suas transparentes anotaçõ es administrativas e judiciais, situaçã o rara
quando estamos diante de homens que atuam na “linha de frente” da proteçã o
Ademais, serviram os Embargos de Declaraçã o opostos, para
prequestionar matéria de competência das cortes superiores, promovendo
assim, de forma ampla e inconteste, um dos elementos necessá rios para o
conhecimento do presente recurso extraordiná rio.

DA VIOLAÇÃO CONSTITUCIONAL DO ACORDÃO FACE AOS LIMITES DA


ACUSAÇÃO – consequente violação aos princípios do contraditório, da
ampla defesa e ao princípio da congruência (ou correlação)

Inicialmente, a decisã o proferida pela colenda Primeira Turma Recursal


do TJDFT dissociou-se totalmente dos limites da denú ncia oferecida pelo
Ministério Pú blico.

Conforme consta da exordial do Parquet já transcrita, apenas foi


imputada aos recorrentes (fls. 2/5):

“... os denunciados compareceram na residência da vítima e


efetuaram sua prisão quando essa saía do elevador do
prédio, tendo inclusive algemado o ofendido sem que
houvesse qualquer situação de flagrante delito ou mesmo
mandado de prisão expedido.
Ademais, os denunciados conduziram a vítima até o
apartamento onde efetuaram uma busca a apreenderam
pertences do ofendido, sem que houvesse fundamento legal
para tal conduta ou tivessem amparados por qualquer
mandado judicial.
Ressalte-se que após esse fato ainda conduziram a vítima
para Vicente Pires, passando por vários locais e somente
liberando o ofendido em sua residência após cerca de sete
horas de restrição de sua liberdade.
Dessa forma, os denunciados, sob o comando do autor
FRANCISCO FIDELMAN, sob pretexto de estarem apurando
uma quadrilha envolvida em crimes de furto mediante
fraude e estelionato, restringiram a liberdade de locomoção
da vítima por várias horas, deslocando três equipes da DOE
para essa operação ilegal.
Ante o exposto, por terem os denunciados incorrido no
artigo 3o., alínea “a”, da Lei no. 4898/65, deverão ser
processados na forma da Lei, para que ao final sejam
condenados nas sanções e demais cominações legais.
(...)”.

A denú ncia tem como fim precípuo a delimitaçã o da res in judicium


deducta, ou seja, a delimitaçã o da matéria a ser conhecida pelo juízo, bem
como a individualizaçã o do pedido, permitindo ao magistrado prolatar sua
sentença em observâ ncia ao princípio da correlaçã o, ou adstriçã o, pois já
delimitado o conteú do e a amplitude da prestaçã o jurisdicional.

Posteriormente, no mesmo sentido foram redigidas as Alegaçõ es finais


da acusaçã o em que, à s fls. 413, requereu a condenaçã o dos recorrentes nas
penas do artigo 3o., alínea “a”, da Lei no. 4898/65.

Já as razõ es de recurso de apelaçã o interposto pelo MPDFT, fls.


492/515, ao requerer a reforma da sentença absolutó ria para condenar os
recorrentes apenas nas penas do artigo 3o., alínea “a”, da Lei no. 4898/65.

Ou seja,

A pretensã o punitiva do Ministério Pú blico, durante todo o processo,


bem como toda sua acusaçã o, deu-se limitada à conduta descrita no tipo penal
supramencionado, bem como a narrativa de fatos a ela vinculada.
De forma contraditó ria, o acó rdã o proferido determinou a condenaçã o
dos recorrentes nas penas do artigo 3º, alíneas “a” e “b” c/c art. 6 º, par. 3º, da
Lei no. 4898/65.

Assim, fica claro que a decisão proferida violou texto


constitucional na medida em que ultrapassa os limites que foram
impostos pela acusação.

Nã o pode o julgador imputar crimes e, consequentemente, uma


condenaçã o por tipos penais que nã o foram abarcados na peça do titular da
açã o penal, sob pena de violar o princípio da correlaçã o (ou da congruência).

Nã o se trata aqui de discussã o de aplicaçã o ou nã o do artigo 385 do


CPP, o qual nã o foi recepcionado ao nosso ver pela Constituiçã o Federal de
1988, tendo em vista que nã o se questiona a aplicaçã o de agravantes na
decisã o. Nem se fala do artigo 383 do mesmo texto legal.

A violaçã o é muito maior, na medida em que o relator do acó rdã o


entendeu por condenar os embargantes em tipos penais e por condutas que
nunca foram imputados aos recorrentes, ou seja, sobre os quais nunca
foi dada possibilidade de defesa.

O magistrado deve, em sua decisã o, vincular-se e manter-se congruente


à acusaçã o, posto que

“o exercício da pretensão executória (com todos os


seus elementos) é a acusação, fundamental para se
aferir se é a sentença (in)congruente no processo
penal, pois é ela quem demarca os limites da
decisão judicial”. (LOPES JR, AURY. Direito Processual
Penal, editora Saraiva, 2016.)

Desta forma, o acó rdã o julgou extra petita, posto que proferida fora dos
pedidos da acusaçã o, ou seja, concedeu algo além do rol postulado, violando o
Princípio da Congruência, que se refere à necessidade do magistrado decidir a
lide dentro dos limites objetivados pelo MP.

Ressalte-se que o magistrado a quo, por exemplo, sequer apreciou


argumentos relacionados com um suposto celular da vítima, fatos imputados
no acó rdã o ora embargado, veja-se à s fls. 460 dos autos:

“…6. Nas alegações finais, o Ministério Público entende


que restou provado que os réus manipularam e extraíram
do celular da vítima o conteúdo de alguns diálogos
travados com Juliano, sem qualquer obediência ao sigilo
telefônico garantido constitucionalmente. Pois bem.
Em relação aos fatos descritos acima no item 6, deixo de
apreciá-los, tendo em vista que tal conduta não
integra a peça inicial, o que implica reconhecer que os
réus não tiveram oportunidade de se defender desta
acusação. Há que se aplicar, aqui, o princípio da
congruência, pelo qual o Juiz deve julgar a lide nos
limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso
conhecer de questões não suscitadas. Fatos novos que
eventualmente surjam ao longo da produção
probatória somente poderão ser apreciados pelo
juízo, na sentence, se houver aditamento à denúncia, o
que não ocorreu no presente feito(…)” (grifos nossos)
Ora Excelências, uma vez que nã o foi dada possibilidade de defesa
sobre tais fatos durante a instruçã o processual, nã o pode ser proferida
decisã o condenató ria pelo julgador.

Este princípio, da correlaçã o ou congruência, encontra-se previsto,


inclusive no NCPC, em seu dispositivo 492 ao determinar que é vedado ao juiz
proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em
quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.

De fato, da mera leitura da denú ncia oferecida, verifica-se que os fatos


considerados pelo acó rdã o para a imputaçã o da condenaçã o sequer foram
abordados pelo Ministério Pú blico.

Ora Excelência, como condenar os recorrentes por fatos para os quais


sequer foi dada oportunidade de defesa?

Nã o é admissível, sequer, argumento de que “o acusado se defende dos


fatos e nã o da imputaçã o penal, na medida em que as condutas elencadas no
artigo 3º. da Lei de Abuso de Autoridade devem ser interpretadas de forma
restritiva, conforme entendimento de NUCCI, com a finalidade de
contrabalancear a ausência de descriçã o detalhada do tipo incriminador.

Bem registra, ainda, NUCCI:

(...) tal concepção - de que o acusado se defende apenas dos


fatos imputados - não é de todo correta. Situações existem
em que o erro da classificação do delito entranhado na
denúncia ou queixa, pode provocar prejuízos à defesa e,
consequentemente, a nulidade absoluta da sentença penal.
(NUCCI, Guilherme, Manual de processo penal e execuçã o
penal.Sã o Paulo: RT, 2015)

No mesmo sentido a liçã o de Gustavo Badaró que, ao prestigiar a ampla


defesa e o contraditó rio, argumenta que seria necessá rio ao juiz, quando
promovesse alteraçã o na classificaçã o do delito, submeter à s partes o
contraditó rio a fim de se manifestar sobre a nova classificaçã o, evitando
surpresas com a prolaçã o da sentença. (BADARÓ , Gustavo Henrique Righi
Ivahy. Correlaçã o entre acusaçã o e sentença. Sã o Paulo: RT, 2000. p. 162.).

O legislador, a fim de conferir a má xima efetividade ao princípio da


congruência entre o pedido e a sentença, ao editar a Lei n° 11.719/08, alterou
substancialmente o art. 384 do Có digo de Processo Penal que passa a
determinar que o Ministério Pú blico, apó s o encerramento da instruçã o
probató ria, se entender cabível nova definiçã o jurídica do fato, em
consequência de provas existentes nos autos de elementos ou circunstâ ncias
da infraçã o penal nã o contidas na acusaçã o, adite a denú ncia ou queixa, no
prazo de cinco dias, se, em virtude desta, houver sido instaurado o processo
em crime de açã o pú blica, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito
oralmente.

A reforma processual corrigiu uma grave falha no art. 384, pois cabia ao
juiz provocar o Ministério Pú blico a fim de que fosse aditada a denú ncia, o que
configurava verdadeira violaçã o ao princípio da correlaçã o, pois o Ministério
Pú blico é quem detém a titularidade da açã o penal.

Feito o aditamento, cada parte poderá arrolar até três testemunhas, no


prazo de cinco dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do
aditamento, conforme disposto no §4º, do art. 384 do CPP.
Pelos primados da ampla defesa e do contraditó rio é necessá rio que o
Juiz oportunize a defesa prazo para que se manifeste acerca do fato
apresentado e possa produzir, se entender necessá rio, novas provas, inclusive
testemunhal, a fim de elucidar a questã o.

Assim, o § 2º estabelece que ouvida a defesa no prazo de cinco dias e


admitido o aditamento, o juiz, a requerimento das partes, designará dia e hora
para continuaçã o da audiência, com inquiriçã o de testemunhas, novo
interrogató rio do acusado, realizaçã o de debates e julgamento, sendo certo
que as disposiçõ es dos §§ 1o e 2o do art. 383 sã o aplicá veis na mutatio libelli,
como determina o §3º do art. 384.

Isto porque, por uma aná lise mais acurada do instituto, permite-se a
conclusã o de que qualquer modalidade de aditamento provocado pelo Juiz
deve ser tida por inconstitucional, eis que o exercício do direito de açã o é
privativo do Ministério Pú blico, nã o cabendo ao Julgador a quo ou da Turma
Recursal interferir na opiniã o do ó rgã o acusató rio.

No caso dos autos, a decisã o do Tribunal mostra-se, portanto,


inconstitucional, devendo ser reparada a fim de se adequar à denuncia
oferecida ou determinar o envio ao juízo a quo para que o ó rgã o acusató rio
faça o devido aditamento, uma vez que no acó rdã o nã o foi feita classificaçã o
diversa, mas houve a imputaçã o de novas condutas aos embargantes.

Assim, além da contrariedade do acó rdã o, verifica-se a violaçã o


inquestioná vel aos preceitos constitucionais do contraditó rio e da ampla
defesa, posto que nã o lhes foi dada possibilidade de questionamento.
O principio do contraditó rio pressupõ e o binô mio informaçã o e reaçã o
da parte. Assim, é fundamental a ciência dos atos do processo de forma
abrangente, possibilitando a oposiçã o a tais atos. Por mais que se entenda
haver posiçã o de desigualdade entre parquet e réu e que possa parecer
benéfico a este a ausência de manifestaçã o daquele em um ou outro momento
processual, essa impressã o é equivocada, como será demonstrado ao longo do
estudo.

Ademais, há o princípio da ampla defesa, pelo qual toda a matéria que
está sob apreciaçã o deve ser submetida à aná lise da parte defensiva, com o
escopo de atuar com todos os meios a ela inerentes. Para tanto, em princípio, o
conteú do da denú ncia deve se manter delimitado da mesma maneira durante
todo o curso do feito, de forma que a decisã o condenató ria deve se vincular a
ela.

DA VIOLAÇÃO AO DEVIDO PROCESSO LEGAL, FACE À OMISSÃO QUANTO


AO OFERECIMENTO DO BENEFÍCIO DO ARTIGO 89 DA LEI 9.099/95

Da mesma forma, violou-se o princípio do devido processo legal, na


medida em que o acó rdã o nã o ofereceu o benefício da Suspensã o Condicional
do Processo, conforme determina o artigo 89 da lei 9099/95.

Na medida em que a Turma Recursal entendeu pelo cometimento de


conduta criminosa prevista na lei 4898/65; que a legislaçã o prevê pena
má xima inferior a dois anos e que as circunstâ ncias pessoais dos embargantes
foram consideradas favorá veis pelo relator, deveria ter sido oferecido o
benefício processual supramencionado, posto que preenchidos os requisitos
previstos em lei.
Ademais, o oferecimento da Suspensã o Condicional do Processo é
Direito Subjetivo dos recorrentes, uma vez que preenchem tais requisitos e
pressupostos. O Estado nã o deve agir com arbitrariedade; os seus agentes
devem observar a lei, o Direito.

Ao se verificar que os Embargantes preenchem os requisitos legais, o


Promotor de Justiça tem o dever de apresentar a proposta, porquanto direito
subjetivo do acusado. Isso é algo tã o evidente que desmerece qualquer
reflexã o. Por tais motivos, de fato, se o Ministério Pú blico se recusa a propor
os benefícios da Lei 9.099/95, deve fundamentar adequadamente tal decisã o.
O que nã o foi feito no caso do presente processo.

Ada Pellegrini Grinover teceu importantes consideraçõ es acerca da


obrigatoriedade da manifestaçã o do Parquet, verbis:

“Em razão da natureza da proposta de suspensão do


processo, que não significa arbítrio, senão um poder-dever
do Ministério-Público, uma conseqüência a mais pode ser
lembrada: sempre que uma denúncia versar sobre crime
cuja pena mínima não exceda um ano, tem a obrigação de
pronunciar sobre a suspensão: em sentido positivo ou
negativo, fundamentadamente.” (in “Juizados Especiais
Criminais, Comentários à Lei no 9.099, de 26.09.1995”, 2a
edição, São Paulo, RT, 1.997, p. 274).

Nas fls. 116 dos autos, o membro do Parquet deixou de oferecer o


benefício equivocadamente, posto que adentrou no mérito da acusaçã o sem
que a instruçã o tivesse sido realizada. Ademais, nã o analisou os requisitos
objetivos e subjetivos para o oferecimento do benefício.
No acó rdã o proferido os julgadores reconheceram que os recorrentes
sã o primá rios, com bons antecedentes e com todas as outras circunstâ ncias
judiciá rias favorá veis, assim, deve ser oferecido o benefício retromencionado.

Uma vez que presentes os pressupostos legais, nã o pode deixar de ser


oferecida a benesse. Conforme GIACOMOLLI:

“(...) presentes os pressupostos legais, a previsão


abstrata se converte numa obrigatoriedade. E ainda
que presentes os requisitos legais, o acusador está
obrigado a negociar a suspensão condicional do
processo, devendo, nas infrações de médio potencial
ofensivo, motivar sua negativa(...)”. (GIACOMOLLI,
Nereu. Juizados Especiais Criminais, 2 edição, editora
Livraria do Advogado, 2002, p.45)

Assim, o julgador deveria, na decisã o que reformou a sentença de


primeiro grau, ter oferecido o benefício. É esse o entendimento de AURY
LOPES JÚ NIOR:

“(...) Tendo o réu sido absolvido em primeiro grau


e, diante do recurso do Ministério Público, o
tribunal vislumbra possibilidade de acolhimento,
deverá proceder a definição do tipo penal cabível.
Se o juízo de tipicidade provável apontar um crime
em que a suspensão condicional do processo é
viável, deverá o tribunal determinar a remessa dos
autos à origem (juízo a quo) para que lá seja
oportunizada a suspensão. Se não aceita, os autos
deverão retornar ao tribunal, para que continue o
julgamento do recurso analisando então o mérito.
(...)”. (LOPES JR, AURY. Direito Processual Penal,
editora Saraiva, 2016) (Grifos Nossos).

E mais:

“(...) Sobrevindo sentença condenatória, deverá o


tribunal, recebendo o recurso, anular a sentença
por manifesto cerceamento de defesa, devolvendo
os autos à comarca de origem para que seja
ofertada suspensão. Se aceitar, irá gerar seus
efeitos. Caso o réu não aceite, nova decisão deverá
ser proferida. Essa duplicidade é perfeitamente
compreensível, pois o que não se pode tolerar é o
desrespeito às regras do devido processo.(...)
(LOPES JR, AURY. Direito Processual Penal, editora
Saraiva, 2016).

Ao nã o se manifestar a respeito do sursis processual, o acó rdã o violou o


correto caminho que deveria seguir o processo, conforme determinaçã o
constitucional, de forma que se nã o sanada tal violaçã o, haverá insaná vel vicio
no processo.

DA VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA,


PREVISTO NO ARTIGO 5O, INCISO XLVI

Outra violaçã o a preceito constitucional, que vicia o decisum diz


respeito a equívoco quando da aplicaçã o da sançã o penal, posto que ao mesmo
tempo em que foi imposta pena corporal abaixo do má ximo legal, com a
fundamentaçã o de que as circunstâ ncias judiciais pessoais dos recorrentes
lhes era favorá vel, foi aplicada a sançã o má xima de perda do cargo e de
inabilitaçã o pelo prazo de 1 (um) ano, nos seguintes termos:

FRANCISCO FIDELMAN ALVES DE LIMA


[...]
“Considerando que o sentenciado agiu com total
menosprezo aos direitos fundamentais, servindo sua
posição de chefe, como o mau exemplo a ser expungido da
sua atividade. Agiu com total menosprezo aos direitos e
garantias que tinha, por força de lei, dever de proteger;
Determino, conjuntamente com a pena corporal, a perda
do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer
outra função pública por 01 (um) ano.”1

GILMÁRIO SANTOS RAMOS


[...]
“Tendo em vista que o comportamento do acusado se
mostrou totalmente incompatível com a profissão que
exerce, por comungar de valores e conceitos que fogem o
regramento da atividade policial, principalmente no que
se refere à proteção e respeito aos direitos e garantias
individuais;
Determino a perda do cargo público de agente de
polícia e sua inabilitação para o exercício de cargo
idêntico ou semelhante pelo prazo de 01 (um) ano
(art. 6º, §3º, alínea “c”, Lei no. 4.898/65)”. 2

VANDERLEI FERREIRA DUTRA


[...]

1
Pá gina 65 do acó rdão n. 943.027
2
Pá gina 66/67 do acó rdã o n. 943.027
“Tendo em vista que o comportamento do acusado se
mostrou totalmente incompatível com a profissão que
exerce, por comungar de valores e conceitos que fogem o
regramento da atividade policial, principalmente no que
se refere à proteção e respeito aos direitos e garantias
individuais;
Determino a perda do cargo público de agente de
polícia e sua inabilitação para o exercício de cargo
idêntico ou semelhante pelo prazo de 01 (um) ano
(art. 6º, §3º, alínea “c”, Lei no. 4.898/65).” 3

Inicialmente, foi contraditó ria a decisã o, posto que desobedeceu os


ditames do dispositivo 92 do Có digo Penal, qual seja:

Art. 92 - São também efeitos da condenação: (Redação


dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I  - a perda de cargo, função pública ou mandato
eletivo: (Redação dada pela Lei nº 9.268, de
1º.4.1996) 
a)  quando aplicada pena privativa de liberdade por
tempo igual ou superior a um ano, nos crimes
praticados com abuso de poder ou violação de dever
para com a Administração Pública; (Incluído pela Lei
nº 9.268, de 1º.4.1996) 
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por
tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.
(Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) 

(…) (grifos nossos).

3
Pá gina 68 do acó rdão n. 943.027
Desta forma, com a aplicaçã o de pena aos recorrentes de 4 meses
(Francisco) e 2 meses e 15 dias (Gilmá rio e Vanderlei) inaceitável a perda de
cargo dos servidores públicos.

O art. 5º, XLVI, da Constituição Federal determinou que lei regulará a


individualização da pena e previu as penas a serem aplicadas, num rol
exemplificativo, que não fez menção à perda do cargo público como pena
principal, o que não excluiu a possibilidade de vir a ser definida como tal por
lei ordinária.

Todavia, aproveitando-se dessa lacuna, o legislador ordiná rio, no Có digo


Penal, art. 92, I, alterado pela Lei no. 9.268/96, portanto, posterior à Lei
Fundamental vigente, optou por enquadrar a perda do cargo como um efeito
secundá rio da sentença penal condenató ria, nã o mais como uma pena principal, ao
contrá rio do que restou estabelecido no art. 6º, §4º, da Lei n. 4.898/65.

Ora, se a Constituiçã o Federal determinou que a lei regulará a


individualizaçã o da pena, trazendo um rol exemplificativo de penas principais, que
nã o fez mençã o à perda do cargo pú blico, e vindo o legislador ordiná rio,
posteriormente, a promulgar uma norma regulando essa matéria e determinando
que a perda do cargo pú blico é um efeito secundá rio específico da condenaçã o, resta
claro que deve ser aplicada a norma posterior prevista no Có digo Penal, pois está em
total harmonia com o texto constitucional.

Ademais, a norma posterior, prevista no Có digo Penal, estipulou os requisitos


necessá rios para que seja declarada a perda do cargo pú blico: a) quando aplicada
pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes
praticados com abuso de poder ou violaçã o de dever para com a administraçã o
pú blica; b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a
quatro anos nos demais casos (letras “a” e “b”).
Da aná lise dos autos, verifica-se que os recorrentes se enquadram na letra “a”
do art. 92, I, CPB, exigindo que a sentença tenha fixado a condenaçã o acima de 01
(um) ano, o que nã o se verificou nestes autos, pois os Réus foram condenados a pena
menor que 1 ano de detençã o.

Logo, nã o preencheram os recorrentes os requisitos necessá rios para a perda


do cargo pú blico.

Além disso, inegá vel que o efeito principal da condenaçã o é a imposiçã o da


pena privativa de liberdade, que no caso dos autos é de detençã o, pena menos
rigorosa do que a reclusã o.

Nesse passo, inquestioná vel que o efeito secundá rio da condenaçã o nã o pode
se apresentar mais rigoroso do que o efeito principal da condenaçã o. Considerando a
recessã o pela qual atravessa o país, inegá vel que a perda do cargo constitui uma
inversã o, posto atribuir para os efeitos secundá rios conseqü ências mais graves do
que os efeitos principais.

Por outro turno, a pena não pode passar da pessoa do condenado (art.
5º, XLV, CF/88) e é certo que a perda do cargo atingirá não somente os
apenados, mas também a todos de quem dele dependem.

Também, é preciso destacar que segundo o art. 92, pará grafo ú nico, CPB, os
efeitos secundá rios específicos da condenaçã o nã o operam “ope legis”, devendo o
Juiz fundamentar a perda do cargo pú blico, o que torna mais robusta a tese de se
tratar de efeito secundá rio da condenaçã o.4

Esse é o mesmo entendimento dos Tribunais Pá trios, vejamos:

4
As citaçõ es deste ponto foram estraidas do majestoso voto do Eminente Relator dos ALFEU MACHADO do
acó rdão n. 212.977
PENAL. ABUSO DE AUTORIDADE. PENA APLICADA.
DETENÇÃO. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
PLEITEANDO A PERDA DO CARGO PÚBLICO.
IMPOSSIBILIDADE. PERDA DO CARGO PÚBLICO. EFEITO
SECUNDÁRIO DA CONDENAÇÃO E NÃO PENA PRINCIPAL.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL ART. 5º, XLVI. ART. 92, I, CPB.
ART. 6º, §4º, DA LEI N. 4.898/65. PERDA DO CARGO
PÚBLICO. REQUISITOS. AUSÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE
DECLARAÇÃO. RECURSO IMPROVIDO. 1. A perda do cargo
público é um efeito secundário da condenação e não pena
principal. Inteligência do art. 92, I, CPB, harmonizado com
o art. 5º, XLVI, CF/88. 2. O efeito secundário da
condenação, perda do cargo público, deve atender aos
requisitos previstos nas letras "a" e "b" do inciso I, do
art. 92, CPB. 3. Ausentes os requisitos previstos na lei, não
deve ser declarado o efeito secundário específico de perda
do cargo público. Precedentes. CONHECIDO. IMPROVIDO.
UNÂNIME.
(TJDFT, Acórdão n. 212977, 20010310123573APJ, Relator:
ALFEU MACHADO, 2ª Turma Recursal dos Juizados
Especiais do Distrito Federal, Data de Julgamento:
06/04/2005, Publicado no DJU SEÇÃO 3: 17/05/2005.
Pág.: 160)

Portanto, há violaçã o, por parte do juízo a quo, quanto a aplicaçã o da


norma supracitada acerca da aplicaçã o da pena secundá ria de perda de cago.

DA VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E


PROPORCIONALIDADE NA APLICAÇÃO DA PENA
Conforme já tratado, o r. acó rdã o deve ser refornado quanto ao
fundamento acerca a imposiçã o da penalidade secundá ria de perda de cargo
pú blico, contudo, outro ponto nã o foi objeto de aná lise do referido acó rdã o,
qual seja, a razoabilidade e a proporcionalidade da aplicaçã o da reprimenda
administrativa mais severa.

A Lei nº. 4.898/65 ao disciplinar prevendo a perda do cargo como uma


hipó tese de sançã o de cunho administrativo, a trouxe em um rol progressivo
de sançã o, ou seja, quando da aplicaçã o das sançõ es acessó rias, a perda do
cargo é a mais gravosa, logo, sua aplicabilidade depende necessariamente da
aplicaçã o dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, aná lise esta
que nã o se encontra demonstrada no referido acó rdã o, surgindo, neste
momento, a omissã o que se pretende sanar por meio do presente
instrumento.

Sobre o tema, trazemos à colaçã o trecho do substancioso voto proferido


pelo e. Ministro Gilmar Mendes, na Intervençã o Federal 2.915/SP, in verbis:

“O princípio da proporcionalidade, também


denominado princípio do devido processo legal em
sentido substantivo, ou ainda, princípio da proibição
do excesso, constitui uma exigência positiva e
material relacionada ao conteúdo de atos restritivos
de direitos fundamentais, de modo a estabelecer um
“limite do limite” ou uma “proibição de excesso” na
restrição de tais direitos. A máxima da
proporcionalidade, na expressão de Alexy, coincide
igualmente com o chamado núcleo essencial dos
direitos fundamentais concebido de modo relativo –
tal como o defende o próprio Alexy. Nesse sentido, o
princípio ou máxima da proporcionalidade determina
o limite último da possibilidade de restrição legítima
de determinado direito fundamental.

Em síntese, a aplicação do princípio da


proporcionalidade se dá quando verificada restrição
a determinado direito fundamental ou um conflito
entre distintos princípios constitucionais de modo a
exigir que se estabeleça o peso relativo de cada um
dos direitos por meio da aplicação das máximas que
integram o mencionado princípio da
proporcionalidade. São três as máximas parciais
do princípio da proporcionalidade: a adequação,
a necessidade e a proporcionalidade em sentido
estrito. Tal como já sustentei em estudo sobre a
proporcionalidade na jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal (“A Proporcionalidade na
Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal”, in
Direitos Fundamentais e Controle de
Constitucionalidade: Estudos de Direito
Constitucional , 2a ed., Celso Bastos Editor: IBDC, São
Paulo, 1999 , p. 72), há de perquirir-se, na aplicação
do princípio da proporcionalidade, se em face do
conflito entre dois bens constitucionais contrapostos,
o ato impugnado afigura-se adequado (isto é, apto
para produzir o resultado desejado), necessário (isto
é, insubstituível por outro meio menos gravoso e
igualmente eficaz) e proporcional em sentido estrito
(ou seja, se estabelece uma relação ponderada entre o
grau de restrição de um princípio e o grau de
realização do princípio contraposto).

Registre-se, por oportuno, que o princípio da


proporcionalidade aplica-se a todas as espécies
de atos dos poderes públicos, de modo que vincula
o legislador, a administração e o judiciário, tal
como lembra Canotilho (Direito Constitucional e
Teoria da Constituição, Coimbra, Almedina, 2a ed., p.
264).“5.

A concepçã o estrutural do princípio da proporcionalidade pressupõ e a


incidência de três subprincípios:

i) adequaçã o ou conformidade;

ii) necessidade ou exigibilidade;

iii) proporcionalidade em sentido estrito.

Assim, observa-se a adequaçã o ou conformidade da medida quando


houver a congruência entre a providência adotada e a finalidade da norma. Na
observaçã o do subprincípio da necessidade, a decisã o tomada é considerada
necessá ria quando nenhum outro meio, igualmente efetivo, possa ser adotado.
A necessidade deve ser avaliada de forma quantitativa e qualitativa,
traduzindo a má xima “dos males o menor”. E, por ú ltimo, à luz do subprincípio
da proporcionalidade em sentido estrito, a medida deve ser avaliada em face
da relaçã o custo-benefício da restriçã o.

5
IF 2915, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acó rdã o: Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, DJ 28.11.2003
No caso sob exame, a perda do cargo imposta, afronta a
proporcionalidade como integrante do nú cleo da razoabilidade. Percebe-se
que o benefício nã o foi superior ao ô nus, conforme determina o subprincípio
da proporcionalidade em sentido estrito.

Ressalto que estamos a tratar de três policiais que NUNCA tiveram sua
honra questionada, seja em manto da atividade administrativa, seja no â mbito
da justiça criminal.

Os aplicadores da justiça devem ter o princípio da razoabilidade como


parâ metro de valoraçã o dos atos do Poder Jurisdicional, com a finalidade de
aferir se eles estã o informados pelo valor superior inerente a todo
ordenamento jurídico: a justiça. Essa medida visa à neutralizaçã o do abuso do
Poder Pú blico no exercício das funçõ es que lhe sã o inerentes.

Na hipó tese dos autos, percebesse que a pró pria vítima nã o aponta em
seus depoimentos nenhuma situaçã o que se afaste das violaçõ es MÍNIMAS
entranhadas no pró prio tipo imputado aos réus, tanto é que o acó rdã o reduz a
importâ ncia do depoimento da vítima e enaltece o do porteiro, a quem
presenciou apenas algumas fraçõ es da conduta, como a famosa pará bola
Hindu – Os cegos e o Elefante, a qual conclui “É assim que os homens se
comportam perante a verdade. Pegam apenas numa parte, pensam que é
o todo, e continuam tolos!”6

Assim, constata-se, portanto, que a penalidade de perda do cago pú blico


foge da razoabilidade e da proporcionalidade.

6
Trecho da pará bola Hindu extraída do sitio https://coachingsp.wordpress.com/2009/08/12/parabola-hindu-
os-cegos-e-o-elefante/
Ao tecer as razõ es acerca da dosimetria da pena, o r. acó rdã o aponta
como forma de punir mais severamente o recorremte Francisco Fidelman,
utilizou como razã o o fato do acusado ser o chefe da equipe e o mais antigo
dos policiais, contudo, tal condiçã o foi avaliada em três momentos distintos,
sendo eles:
- Momento 1
“Embora na sua condição de chefe e ser um dos
mais antigos dos policiais, situação que impunha o
dever e adotar comportamento conforme ao direito e
que servisse de exemplo para os mais novos, relegou
seu papel de censor, para coibir abusos ou ilegalidade.
Agiu no sentido diametralmente oposto, ensinando o
ilícito e o que é repugnante à luz dos valores sociais” 7

- Momento 2

“Por outro lado, na condição de chefe da equipe de


plantão, era o responsável por dirigir a ação dos
outros policiais, razão pela sua expiação deve ser
agravada, na forma do art. 62, I, CP. “8

- Momento 3

“Considerando que o sentenciado agiu com total


menosprezo aos direitos fundamentais, servindo sua
posição de chefe, como o mau exemplo a ser
expungido da sua atividade. Agiu com total

7
Pá gina 63 do acó rdão n. 943.027
8
Pá gina 64 do acó rdão n. 943.027
menosprezo aos direitos e garantias que tinha, por
força de lei, dever de proteger;”9

A construçã o da pena imposta ao recorrente Francisco Fidelman


merece ser esclarecida, porquanto, conforme demonstrado, traz em seu bojo a
mesma causa em três diferentes aná lises penalizadoras.

A manutençã o de tal circunstâ ncia importa na violaçã o do princípio


denominado de Violação do Ne Bis In Idem.

O princípio em comento estabelece, em primeiro plano, que ninguém


poderá ser punido mais de uma vez por uma mesma infraçã o penal. Mas nã o é
só . A partir de uma compreensã o mais ampla deste princípio, desenvolveu-se
o gradativo aumento da sua importâ ncia. Hodiernamente, uma das suas mais
relevantes funçõ es é a de balizar a operaçã o de dosimetria (cá lculo) da pena,
realizada pelo magistrado, justamente o que se espera no presente caso.

Temos que observar que se consolidou o entendimento de que uma


mesma circunstâ ncia nã o deverá ser valorada em mais de um momento ou em
mais de uma das fases que compõ em o sistema trifá sico estabelecido pelo art.
68 do Có digo Penal.

O ne bis in idem, em sua vertente criminal, situa-se na esfera dos


direitos fundamentais aná logos, em razã o de sua inegá vel essencialidade. Com
efeito, sua presença é indispensá vel em um estado democrá tico de direito,
fundado na dignidade da pessoa humana.

9
Pá gina 64 do acó rdão n. 943.027
DA VIOLAÇÃO À NORMA PREVISTA NO ART. 5º LXIII, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL E ART. 186, § ÚNICO DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Na lavratura do r. voto, o eminente relator trouxe ao cená rio jurídico


utilizando, inclusive para motivar e fundamentar sua conclusã o condenató ria
final, o seguinte ponto:

“Chamou igualmente à atenção, o acerto entre os réus


para se lembrarem apenas dos fatos que pudessem
endossar suspeitas sobre acerca da idoneidade da vítima,
ou revelassem uma situação de possível flagrante delito ou
mesmo conferissem raias de legalidade à ação policial.
Curiosamente, ninguém se lembrou das
circunstâncias que demonstrariam o abuso de poder,
como a colocação de algema, a retirada do telefone da
posse da vítima, a forma como ela era conduzida, etc..

Essa atitude apenas comprovou o que já era


de se esperar, tratam-se de réus
comprometidos com o ilícito que cometem e
não a verdade.

Veja que essa atitude afasta, por completo, qualquer


possibilidade de reflexão, no sentido de que os
agentes agiram sob a falsa percepção dos fatos ou
juridicidade de suas ações. Pelo contrário, não só
sabiam do abuso que cometiam, como depois
tentaram, a todo custo, ocultar ou impedir que a
verdade se revelasse.”10

10
Pá gina 60 do acó rdã o n. 943.027
Ao que parece, e ai está a violaçã o, a conclusã o do julgador afronta de
forma flagrante a norma constitucional prevista no art. 5º LXIII, da Carta
Maior, o qual corrobora o art. 186, § ú nico do Có digo de Processo Penal, senã o
vejamos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção


de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre
os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado;

Art. 186. Depois de devidamente qualificado e


cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado
será informado pelo juiz, antes de iniciar o
interrogatório, do seu direito de permanecer calado e
de não responder perguntas que lhe forem
formuladas.

Parágrafo único. O silêncio, que não importará em


confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da
defesa.

Conforme sabido até mesmo pelo mais novel acadêmico, o silêncio, sob
a perspectiva processual penal, nã o deve ser interpretado como “quem cala
consen- te”, muito menos, como confissã o ou admissibilidade de culpa, ou
como explicitado no r. accó rdã o sobre os acuados nã o se recordrem de certos
fatos “que essa atitude afasta, por completo, qualquer possibilidade de
reflexão, no sentido de que os agentes agiram sob a falsa percepção dos
fatos ou juridicidade de suas ações.”

O direito ao silêncio, enquanto poder jurídico reconhecido a qualquer


pessoa, relativamente a perguntas cujas respostas possam incriminá -la (nemo
tenetur se detegere) - impede, quando concretamente exercido, que aquele que
o invocou venha, por tal específica razã o, a ser preso, ou ameaçado de prisã o,
pelos agentes ou pelas autoridades do Estado.

Silenciar-se significa que o indivíduo a ser julgado optou por fazer uso
de um direito constitucional a ele garantido, por motivos mú ltiplos, que dizem
respeito à sua pessoa. No caso em tela, a situaçã o fá tica é ainda mais
conservadora, pois TODOS os acusados falaram, e falaram muito, narraram
detalhes preciosos acerca do ocorrido, contudo, devido ao passar dos anos,
nã o se recordam da plenitude fá tica.

Ademais, caso houvesse silêncio parcial de informaçõ es, o que nã o


ocorreu, contudo se aventa em amor ao debate, este deve ser reconhecido
como voluntá ria “improduçã o” de prova, muita vez a significar o exercício da
autodefesa ou a atuaçã o estratégica da defesa técnica. Isto porque o
interrogató rio é meio e oportunidade de defesa, podendo o acusado escolher
os melhores meios e modos de exercer seu direito ao contraditó rio, sem que
nenhuma presunção, quanto mais de culpabilidade, advenha do silêncio.

Nã o obstante, cabe reafirmar ser direito do investigado, ou do acusado,


de ser advertido de que nã o pode ser obrigado a produzir prova contra si,
inclusive positivado pela Constituiçã o da Repú blica no rol petrificado dos
direitos e garantias individuais (art. 5.o, inciso LXIII). É essa a norma que
garante status constitucional ao princípio do Nemo tenetur se detegere (STF,
HC 80.949/RJ, Relator Ministro SEPÚ LVEDA PERTENCE, 1.a Turma, DJ de
14/12/2001), segundo o qual ninguém é obrigado a produzir quaisquer
provas contra si.

Dessa forma, ao direito ao silêncio, como respeito à personalidade


humana, nã o pode corresponder ao dever de contribuir positivamente na
busca da verdade real, sancionando-se com o potencial prejuízo à defesa, pois,
o direito ao silêncio veio para de uma vez por todas sepultar a presunçã o de
culpabilidade que ocorria anteriormente, quando o réu permanecia silente no
interrogató rio. Vejamos:

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO


QUALIFICADO, NA FORMATENTADA. ALEGAÇÃO DE
QUE O TRIBUNAL BASEOU-SE EM PROVAS INDICIÁ-
RIAS E NO SILÊNCIO DO ACUSADO PARA MANTER A
CONDENAÇÃO. PRIMEIRA TESE QUE NÃO ENCONTRA
FUNDAMENTOS NOS AUTOS. SEGUNDA QUE NÃO IN-
FLUI NA SOLUÇÃO DA CONTROVÉRSIA.
ADVERTÊNCIA, ENTRETANTO, QUE CABE FAZER, NA
HIPÓTESE, QUAN- TO AO "PRIVILÉGIO
CONSTITUCIONAL CONTRA A AU- TO-
INCRIMINAÇÃO: GARANTIA BÁSICA QUE ASSISTE À
GENERALIDADE DAS PESSOAS. A PESSOA SOB IN-
VESTIGAÇÃO (PARLAMENTAR, POLICIAL OU
JUDICIAL) NÃO SE DESPOJA DOS DIREITOS E
GARANTIAS ASSE- GURADOS" (STF,HC 94.082-MC/RS,
REL. MIN. CELSO DE MELLO, DJ DE
25/03/2008).PRINCÍPIO "NEMO TE- NETUR SE
DETEGERE". POSITIVAÇÃO NO ROL PETRI-
FICADODOS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS
(ART. 5.o, INCISO LXIII, DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA): OPÇÃO DO CONSTITUINTE ORIGINÁRIO
BRASILEIRO DE CONSAGRAR, NA CARTA DA
REPUBLICA DE 1988, "DIRETRIZ FUNDAMENTAL
PROCLAMADA, DESDE 1791, PELA QUINTA EMENDA
[À CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DA
AMÉRICA], QUE COMPÕE O"BILL OFRI- GHTS""
NORTE-AMERICANO (STF, HC 94.082-MC/RS, REL.
MIN. CELSO DEMELLO, DJ DE 25/03/2008). PRECE-
DENTES CITADOS DA SUPREMA CORTE DOSESTADOS
UNIDOS: ESCOBEDO V. ILLINOIS (378 U.S. 478, 1964);
MIRANDAV. ARIZONA (384 U.S. 436, 1966),
DICKERSON V. UNITED STATES (530U.S. 428, 2000).
CASO MIRANDA V. ARIZONA: FIXAÇÃO DAS
DIRETRIZESCONHECIDAS POR "MIRANDA
WARNINGS", "MIRANDA RULES" OU
"MIRANDARIGHTS". DIREITO DE QUALQUER
INVESTI- GADO OU ACUSADO A SER ADVERTIDO DE
QUE PODE PERMANECER EM SILÊNCIO PERANTE A
AUTORIDADE ADMINISTRATIVA, POLICIAL OU
JUDICIÁRIA.11

DA VIOLAÇÃO À GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

Ao interpretar o “silêncio” dos recorrentes de forma negativa,


utilizando, inclusive, como fundamento para suporte à condenaçã o, o r.

11
STF - HC: 125506 SP 2008/0287148-0, Relator: Joaquim Barbosa, Data de Julgamento: 31/05/2011, Data de
Publicaçã o: DJe 22/06/2011
acó rdã o também se torna obscuro quanto ao cumprimento da garantia
constitucional do devido processo legal.

A garantia do devido processo legal está consagrado, na


Constituição Federal, em seu artigo 5º, incisos LIV e LV, ao estabelecer
que ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal e ao garantir a qualquer acusado em processo judicial o
contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

Além dos referidos incisos há outras garantias judiciais estabelecidas na


Carta Magna, a saber: "ninguém será submetido à tortura nem a tratamento
desumano ou degradante", "inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da
honra, da casa, da correspondência, das comunicaçõ es telegrá ficas, de dados e
das comunicaçõ es telefô nicas e da imagem das pessoas", "nã o haverá juízo ou
tribunal de exceçã o", "nã o há crime sem lei anterior que o defina, nem pena
sem prévia cominaçã o legal", "a lei penal nã o retroagirá , salvo para beneficiar
o réu", "nenhuma pena passará da pessoa do acusado", "individualizaçã o da
pena", "ninguém será processado nem sentenciado senã o pela autoridade
competente", "inadmissibilidade, no processo, das provas obtidas por meio
ilícitos", "nã o culpabilidade até o trâ nsito em julgado de sentença penal
condenató ria", "publicidade dos atos processuais", e também, ao ora debatido
"direito ao silêncio".

Assim, do ponto de vista da Constituiçã o Federal, o devido processo


legal pressupõ e o contraditó rio, a garantia da ampla defesa (defesa técnica e
autodefesa), o direito ao silêncio, o duplo grau de jurisdiçã o, a proibiçã o das
provas ilícitas, a presunçã o de inocência, dentre outros.

QUANTO À GARANTIA DA AMPLA DEFESA


O direito ao silêncio também deve ser interpretado como inserido nas
regras do devido exercício da ampla defesa e do contraditó rio real.

Inserido no conceito de ampla defesa, a luz da Constituiçã o Federal,


tem-se a defesa técnica e a autodefesa (possibilidade do acusado defender-se
por si mesmo, ativamente, quando da realizaçã o do seu interrogató rio, por
exemplo, ou de forma passiva, permanecendo em silêncio).

Há de saber que, o acusado, exercita, ao longo do processo (quando, por


exemplo, é interrogado), a denominada autodefesa ou defesa material ou
genérica. Ambas compõ em a ampla defesa.

Nesse sentido,

EMENTA: Informação do direito ao silêncio (Const.,


art. 5º, LXIII): relevância, momento de exigibilidade,
conseqüências da omissão: elisão, no caso, pelo
comportamento processual do acusado. I. O direito à
informação da faculdade de manter-se silente ganhou
dignidade constitucional, porque instrumento
insubstituível da eficácia real da vetusta garantia
contra a auto- incriminação que a persistência
planetária dos abusos policiais não deixa perder
atualidade. II. Em princípio, ao invés de constituir
desprezível irregularidade, a omissão do dever de
informação ao preso dos seus direitos, no momento
adequado, gera efetivamente a nulidade e impõe a
desconsideração de todas as informações
incriminatórias dele anteriormente obtidas, assim
como das provas delas derivadas. III. Mas, em matéria
de direito ao silêncio e à informação oportuna dele, a
apuração do gravame há de fazer-se a partir do
comportamento do réu e da orientação de sua defesa
no processo: o direito à informação oportuna da
faculdade de permanecer calado visa a assegurar ao
acusado a livre opção entre o silêncio - que faz recair
sobre a acusação todo o ônus da prova do crime e de
sua responsabilidade - e a intervenção ativa, quando
oferece versão dos fatos e se propõe a prová-la: a
opção pela intervenção ativa implica abdicação do
direito a manter-se calado e das conseqüências da
falta de informação oportuna a respeito.12

Portanto, a garantia do devido processo legal, cifrado na ampla defesa,


expressa-se igualmente no direito de calar.

ESCLARECIMENTOS DE CUNHO PROBATÓRIO

Neste ponto, há de esclarecer que nã o se pretende rediscutir mérito ou


valoraçã o de prova, apenas se faz imperioso corrigir ou esclarecer, afirmaçõ es
contidas no r. acó rdã o que estã o em flagrante desacordo com informaçõ es e
documentos contidos nos autos.

Portanto, servem os presentes embargos, neste ponto, a revelar a


necessidade de esclarecimento acerca dos abaixo citados pontos obscuros.

DAS CONTRADIÇÕES QUANTO A ANÁLISE DOS ELEMENTOS DE PROVA

12
HC 78708, Relator(a):  Min. SEPÚ LVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 09/03/1999, DJ 16-04-1999
PP-00008 EMENT VOL-01946-05 PP-00874 RTJ VOL-00168-03 PP-00977
Toda edificaçã o do raciocínio contido no acó rdã o advém, naturalmente,
dos elementos probató rios contidos na presente persecuçã o penal. Contudo,
as razõ es que fundamentam a conclusã o do r. acó rdã o trazem dú vidas acerca
da consistência dos argumentos ali lançados e em conjunto com os
documentos enxertados no presente feito. Passamos assim a demonstrar.

QUADRO DA CONTRADIÇÃO
Fundamento utilizado no acórdão Demonstração da contradição
“A defesa optou por navegar por á guas (Marcio) “E quanto ao carregador da
turvas, o caminho da e arma encontrado em seu apartamento,
incerteza
beirando à imaginaçã o, na medida em nã o foi apreendido, porque tinha o
17
que não existe qualquer indício ou registro”.
prova factíveis de que MÁRCIO Às folhas 53 dos autos contém o
possuísse uma arma ou houvesse registro da arma de fogo em nome da
algum apetrecho dessa natureza no vítima Marcio
apartamento.”

“A partir de tudo que foi apurado e


consta no bojo deste processo, nenhum
indício ou prova séria legitimaria
afirmar que MÁRCIO possuiu uma
arma de fogo ou o pente de uma
pistola”13

“A falta de veracidade dessa versã o


assume concretude, quando sequer
houve interesse ou preocupaçã o em
trazer para o processo, prova da
emissão de um registro de arma em
nome de MÁRCIO, conforme teriam
afirmado os denunciados, de que o

13
Pá gina 49 do acó rdã o n. 943.027
encontraram e por isso devolveram o
objeto do crime para a vítima”.14

“Nã o bastasse, tentou forjar uma


situaçã o de flagrante delito e sob o pá lio
de que a vítima estaria na posse de um
apetrecho de arma de fogo, sem que
exista no processo a menor chance
que fosse verdade”15
“No caso, um motoqueiro fora visto
armado e a partir daí se concluiu que
seria MÁ RCIO ou seu comparsa,
conforme disseram os policiais. Acontece
que, com o primeiro, nada foi
encontrado, nenhuma arma ou
instrumento para a prática de
crime”.16

O quadro acima demonstra a contradiçã o existente entre os trechos do


acó rdã o onde em suma faz afirmaçã o que nã o há qualquer prova de registro
de arma de fogo de propriedade da vítima Má rcio.

Contudo, conforme se observa também no quadro acima, Má rcio


confirma a existência da arma, a, à s fls. 53 dos autos, consta PROVA DA
EXISTÊ NCIA DA ARMA, qual seja, o registro do armamento em nome de
Má rcio.

14
Pá gina 50 do acó rdã o n. 943.027
15
Pá gina 63 do acó rdã o n. 943.027
16
Pá gina 47 do acó rdã o n. 943.027
17
Pá gina 14 do acó rdã o n. 943.027 / Depoimento da vítima Marcio fls. 231/232
Portanto, há flagrante contradiçã o entre o acó rdã o e os documentos
constantes no processo, contradiçã o esta que merece ser reparada.

QUADRO DA CONTRADIÇÃO
Fundamento utilizado no acórdão Demonstração da contradição
“Conclusã o, nã o só a lisura da açã o “Nessa mesma fase policial, nenhum dos
policial restou gravemente investigados negou o comportamento à
comprometida, como a verdadeira Corregedoria de Polícia”.19
intenção para sua promoção. Tudo
ficou sob suspeiçã o”18. “Portanto, restaram incontroversos os
fatos imputados e descritos na peça
acusató ria. Mas como já fora dito, os
réus insistem em refutar qualquer
ilegalidade em suas condutas, porque
entendem que agiram no exercício do
dever legal”.20

“Embora o réu nã o tenha confessado


propriamente o fato, admitiu, em boa
parte, seu comportamento, embora
sempre justificando sua licitude. Nesse
passo, tenho que deve ser beneficiado
pela atenuante da confissã o”21

Neste ponto, há uma interessante contradiçã o entre a conclusã o contida


no acó rdã o e os trechos por ele destacados.

18
Pá gina 60 do acó rdã o n. 943.027
19
Pá gina 9 do acó rdã o n. 943.027
20
Pá gina 37 do acó rdã o n. 943.027
21
Pá gina 64 do acó rdã o n. 943.027
Perceba que, de um lado de coluna, esquerdo, se extrai da conclusã o
que a conduta dos policiais foi praticada de forma dolosa, ou seja, com a
intençã o de causar mal injusto à vítima.

Contudo, ao longo do mesmo acó rdã o (alguns pontos destacados à


direita da coluna acima) vá rios trechos apontam que a intençã o, vontade e
percepçã o dos agentes ao praticarem a conduta era que estariam a luz da
legalidade, logo, sendo esse o estrato subjetivo da açã o, tem-se, entã o, que os
réus agiram por culpa e nã o por dolo como se aponta a conclusã o final.

Assim, há contradiçã o entre as conclusõ es e afirmaçõ es apresentadas


no referido acó rdã o.

QUADRO DA CONTRADIÇÃO
Fundamento utilizado no acórdão Demonstração da contradição
“Por conta de sua atitude e o (Má rcio) “Os documentos apreendidos
desaparecimento da mochila, levada foram acomodados numa mochila sua e
da casa da vítima, jamais se saberá o não sentiu falta de qualquer objeto.
que exatamente foi encontrado e Negou que possuísse um VW/Saveiro”23
levado por ele e sua equipe”.22

Como lastreio para a reforma da sentença, também foi utilizada a


informaçã o contida à esquerda do quadro acima, qual seja, a suposta
subtraçã o de objetos da vítima.

Ocorre que, o mesmo acó rdã o, em trecho seguinte, traz a informaçã o, da


pró pria vítima, que NADA lhe foi retirado.

22
Pá gina 63 do acó rdã o n. 943.027
23
Pá gina 14 do acó rdã o n. 943.027 / Depoimento da vítima Marcio fls. 231/232
Portanto, a manutençã o dessa contradiçã o traz evidentes prejuízos ao
feito na medida que põ e em dú vida nã o só a operaçã o realizada, mas sim, a
honra dos agentes que ali estavam.

Frise que, acerca da infundada suspeita de extorsã o ou subtraçã o de


objetos de vítima, foi rechaçada por todas as investigaçõ es decorrentes desse
caso. Trazer tal questionamento em sede recursal, fato que sequer foi objeto
de recurso ou aná lise em instâ ncia exordial, figura-se como um verdadeiro
atentado a boa ordem processual.

Assim, a contradiçã o apresentada, deve ser reparada.

QUADRO DA CONTRADIÇÃO
Fundamento utilizado no acórdão Demonstração da contradição
“E exceto pela mera alegaçã o, não há (Marcio) “Afirmou que havia saído de
qualquer indício sério ou prova no moto e na companhia de JULIANO,
processo que conferisse alguma poucos antes de ser abordado pelos
credibilidade a essa afirmação dos policiais”29
policiais. Pelo contrário, todo “LEANDRO visualizou dois motoqueiros,
contexto dos fatos repele até então a sendo que um deles estaria armado.
existência de um comparsa ou que os Apesar de usarem capacetes, suas
policiais soubessem quem seria”24 características físicas se pareciam com as
dos suspeitos, assim como as motos se
“A conclusã o que se tem, é que a alusã o à assemelhavam com aquelas usadas por
existência de um segundo suspeito MÁ RCIO e seu comparsa”.30
não passaria de pura fantasia – ou pelo
menos nã o se poderia tirar outra
conclusã o – a partir dos ú nicos
elementos concretos de convencimento

24
Pá gina 42 do acó rdã o n. 943.027
produzidos no curso deste processo e da
pró pria investigaçã o”25

“E nesse sentido, o depoimento do


porteiro em juízo:

“que durante o expediente do


depoente, a vítima não saiu de moto
antes da chegada dos policiais” (fl.
273v, APJ)”.26

“A referência a um terceiro ou outras


pessoas envolvidas com o suspeito e
que agiriam em concerto naquele
exato momento, não tem amparo em
qualquer indício, tampouco havia
alguma evidência concreta de que fosse
verdade”.27

Há razõ es de sobra para prevalecer a


histó ria do porteiro, na medida em que, a
partir das consideraçõ es supracitadas,
em nenhum momento os policiais
obtiveram qualquer evidência de que
haveria uma terceira pessoa na
companhia de MÁ RCIO, como também
nã o produziram neste processo qualquer
elemento de convencimento que
corroborasse com a assertiva

25
Pá gina 43 do acó rdã o n. 943.027
26
Pá gina 44 do acó rdã o n. 943.027
27
Pá gina 43 do acó rdã o n. 943.027
29
Pá gina 14 do acó rdã o n. 943.027 / Depoimento da vítima Marcio fls. 231/232
30
Pá gina 43 do acó rdã o n. 943.027
apresentada. Sequer há registro ou
informaçã o das placas das motocicletas,
embora os policiais informassem que
foram anotadas.” 28

Aqui também há contradiçõ es inseridas no bojo do pró prio acó rdã o. Ao


lado esquerdo da coluna, tem-se exemplos onde se afirma que nã o haveria
nenhum amparo legal que sustentasse a existência de um terceiro.

Contudo, como demonstrado, além da afirmaçã o do policial Leandro,


onde aponta que avistou o suspeito e seu comparsa saindo de moto e armado,
a pró pria vítima CONFESSA que havia saído de moto com o outro suspeito.

Ora, ao contrá rio do afirmado na conclusã o do acó rdã o, a vítima e o


policial afirmam a existência da terceira pessoa.

Ignorar as afirmaçõ es de vítima e do policial ABSOLVIDO, dando


credibilidade somente a versã o do porteiro, que como já dito, trata-se de uma
versã o fragmentada como a pará bola Hindu – Os cegos e o elefante, e
contraditó ria e merece ser melhor esclarecida.

A conclusã o que a vítima estaria transmitindo apenas informaçõ es


“pontuais naquilo que pudesse comprometer sua integridade e o status libertatis dos
seus algozes” e admitir o princípio do In Dubio Pro Porteiro, ou seja, seleciona-
se as informaçõ es da vítima que sustentem a acusaçã o, as demais, ditas
duvidosas, passa-se a acreditar somente no porteiro, ou seja, na duvida pro
porteiro.

28
Pá gina 45 do acó rdã o n. 943.027
QUADRO DA CONTRADIÇÃO
Fundamento utilizado no acórdão Demonstração da contradição
“E mesmo que se desconsiderasse essa “O contexto da abordagem foi

“acusaçã o” unilateral, há elementos de perfeitamente declinado pelo


33
sobra para afastar a versã o da vítima, depoimento da vítima”
pessoa comprometida com a senda “Das narrativas da vítima e das

criminosa, em especial a prá tica de testemunhas, resta inequívoca a prisã o


de MÁ RCIO no hall do elevador e sem
estelionato”31
que houvesse ordem judicial ou ele
“Quanto à s declaraçõ es da vítima, de que
estivesse em situaçã o de flagrante
possuiria um parceiro e que seria a
delito”34
mesma pessoa procurada pelos policiais,
deve ser acolhida a granus salis,
primeiro, porque suas informaçõ es
primaram por contradiçõ es e segundo,
seus esquecimentos foram pontuais
naquilo que pudesse comprometer sua
integridade e o status libertatis dos seus
algozes.”

“Somado a isso, MÁ RCIO tinha total


interesse em afastar de si a
responsabilidade pela autoria ou a
prá tica dos diversos ilícitos que
supostamente lhe eram atribuídos, até
porque foi preso numa segunda operaçã o
policial e encontra-se detido
preventivamente.”

“Como MÁ RCIO é apontado como

31
Pá gina 45 do acó rdã o n. 943.027
33
Pá gina 38 do acó rdã o n. 943.027
34
Pá gina 42 do acó rdã o n. 943.027
envolvido com a prá tica de crime de
estelionato, suas declaraçõ es e açõ es
também recomendariam seu
acolhimento com extrema cautela,
porque comprometido com a prá tica de
crime intelectual, ou seja, pela arte de
enganar, seus propó sitos aparentes nem
sempre sã o claros, lícitos ou morais”.32

O quadra acima aponta mais uma contradiçã o no r. julgado. Os trechos


destacados à direita apontam que o as declaraçõ es da vítima nã o devem ser
levadas a efeito, contudo, à esquerda a palavra da vítima é utilizada como
fundamento para extrair a conduta dos réus.

Assim, o uso seletivo das informaçõ es trazidas pela vítima gera


flagrante contradiçã o no acó rdã o, a qual merece ser esclarecida.

QUADRO DA CONTRADIÇÃO
Fundamento utilizado no acórdão Demonstração da contradição
“De mais a mais, pró prios “que nesta varredura da garagem a
os
depoimentos dos policiais colocam em equipe constatou o GOLF preto, o Golf
dú vida a versã o por eles apresentadas, vermelho e uma das motos que havia sido
na medida em que, se dois motoqueiros vista pela equipe de policiais enquanto
37
saíram da garagem e conduziam suas estavam na padaria”
motos, sendo que um deles seria “que em nenhum momento viu o GOLF
38
MÁ RCIO, porque o suspeito teria sido vermelho entrando ou saindo do prédio”
“e que não se recorda do trecho que lhe foi
visto voltando de carro e nã o de moto?
lido nesta audiência em que o
E como explicar que os dois VW/Golf e a
interrogando disse na Corregedoria á fl.
moto de MÁ RCIO estavam na garagem,
61 de que Fidelman disse que viu um Golf
32
Pá gina 43 do acó rdã o n. 943.027
no momento em que os agentes vermelho entrando na garagem e que esse
Golf seria de Márcio e que essa seria a
invadiram o prédio?”35
motivação para entrada no edifício”39
“Portanto, reitera-se, como poderia
MÁ RCIO sair de moto e voltar num dos
VW/Golf, e sua moto estar na garagem?36

Os questionamentos acima, também sã o contraditó rios na medida que


fazem referência a algo já esclarecido. Conforme se decota dos depoimentos,
ninguém viu o golf vermelho entrar ou a motocicleta retornar, o que ocorreu é
que duas motocicletas, com as mesmas características da denú ncia, formam
vistas saindo do prédio, sendo que um motociclista estava armado, e ninguém
presenciou o retorno de Má rcio pois estavam em outro local fazendo o
briefing da operaçã o, e quando retornaram, apó s o briefing, Má rcio já havia
voltado e estacionado a moto na garagem.

Os carros e as motos somente foram vistos na garagem apó s o retorno


de Má rcio, na primeira oportunidade os policiais nã o entraram na garagem,
conforme se extrai dos documentos.

Portanto, há contradiçã o no referido trecho.

QUADRO DA CONTRADIÇÃO
Fundamento utilizado no acó rdã o Demonstraçã o da contradiçã o
“Finalmente, nã o poderia passar (Marcelo Fernandes) “que em meados
desapercebido, que toda a açã o policial de 2013 era diretor do Departamento

35
Pá gina 44 do acó rdã o n. 943.027
36
Pá gina 45 do acó rdã o n. 943.027
37
Pá gina 18 do acó rdã o n. 943.027
38
Pá gina 19 do acó rdã o n. 943.027
39
Pá gina 29 do acó rdã o n. 943.027
sequer estava compreendida nas de Atividades Especiais” …“que os
atribuiçõ es da Divisã o de Operaçõ es chefes das seçõ es, vinculados a DOE
Especiais. Trata-se de uma unidade tinha autonomia para estartar
policial criada para prestar apoio tá tico operações de investigação relativa
à s outras delegacias e ó rgã os da polícia a denúncias recebidas naquela
civil. Não estava em seu mister unidade; que diante de situaçõ es de
investigar, produzir inquérito, realizar flagrante nã o é incomum, a depender
apreensõ es, etc”.40
da situaçã o, que as diligências sejam
estendidas ou complementadas” 41

O depoimento prestado pela testemunha Marcelo Fernandes, Delegado


de polícia, e, há época chefe da DOE, esclarece que os réus estavam sim
autorizados a realizar procedimentos de investigaçã o.

Portanto, o suposto desvio de funçã o apresentado no acó rdã o, nã o


possui qualquer lastro probató rio, ao contrá rio, o que se foi colhido enfrenta
de forma direta tal informaçã o, logo, flagrante é a contradiçã o.

DOS PEDIDOS
“A justiça não consiste em ser neutro
entre o certo e o errado, mas em
descobrir o certo e sustentá-lo, onde
quer que ele se encontre, contra o
errado.”42

40
Pá gina 59 do acó rdã o n. 943.027
41
Depoimento da testemunha Marcelo Fernandes fls. 322 dos autos
42
Theodore Roosevelt
Por todo o exposto, requer o CONHECIMENTO e o PROVIMENTO do
presente Recurso Extraordiná rio a fim de cassar o r. acó rdã o da Primeira
Turma Recursal do TJDFT, restaurando-se a decisã o de primeira instâ ncia.

Nestes termos, requer deferimento.

Brasília/DF, 13 de junho de 2016.

Cristina Alves Tubino


OAB/DF 16.307

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