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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA PRIMEIRA VARA DE DELITOS DE

TRÂNSITO DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE BRASILIA/DF

Autos no.

Fulana de tal, devidamente qualificada nos autos do processo em epígrafe, vem


à presença de Vossa Excelência, por meio de sua advogada, conforme instrumento
procuratório de fls. 95, com fundamento nos artigos 396 e 396-A do Código de
Processo Penal, apresentar sua

RESPOSTA À ACUSAÇÃO

Pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas:

1. DA PRELIMINAR – INÉPCIA DA DENÚNCIA


Inicialmente, há que se ressaltar que desde a leitura da inicial acusatória
verifica-se sua inépcia, devendo, portanto, ser ela rejeitada, por violação ao que
preceitua o artigo 41 do Código de Processo Penal, senão veja-se.
Estabelece o artigo 41 do CPP, já citado:

Art.  41.  A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato


criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do
acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das
testemunhas. (sem grifo no original)

Pois bem, o que se percebe da denúncia é que o fato criminoso imputado NÃO
foi descrito em todas as suas circunstâncias. Na verdade ocorreu o oposto, de forma
que impossibilita totalmente a defesa da ré, uma vez que ao mesmo tempo que a
representante do Parquet afirma que a ora acusada teria agido de forma “imprudente”
não demonstra qual teria sido o cuidado objetivo que não foi observado, ao contrário,
afirma que o acidente ocorreu por motivos que não se soube precisar.

Ora, Excelência, a falta de motivo não caracteriza o elemento imprudência. É


certo que a imprudência somente se caracteriza quando o sujeito age com
precipitação, sem consideração, afoitamente e sem cautelas. O que não ocorreu no
caso dos autos, nem sequer foi demonstrado. Para que se aceitasse a imputação dessa
modalidade de culpa stricto sensu necessária seria a indicação do ato que a
caracterizaria. O que não houve, pois não há no Inquerito Policial nenhum elemento
que a demonstre.

Ademais, a falta de descrição das circunstâncias do fato impossibilita, até, que a


ré possa desenvolver tese que ensejaria sua absolvição sumária, nos moldes do que
preceitua o artigo 397 do CPP.

A doutrina é pacífica ao determinar a necessidade do requisito supracitado. Na


clássica lição de João Mendes Júnior (O processo criminal brasileiro, 1959), a peça
acusatória deve conter “não só a ação transitiva, como a pessoa que a praticou (quis),
os meios que empregou (quibus auxiliis), o malefício que produziu (quid), os motivos
que a determinaram a isso (cur), a maneira por que a praticou (quomodo), o lugar onde
a praticou (ubi), o tempo (quando).

No mesmo sentido, já recentemente, há o entendimento de Ada Grinover,


Gomes Filho e Scarance, em sua obra As Nulidades no Processo Penal, 12a. edição,
editora RT:

“… a narração deficiente ou omissa, que impeça ou dificulte o


exercício da defesa, é causa de nulidade absoluta, não podendo
ser sanada porque infringe os princípios Constitucionais do
contraditório e da ampla defesa.

Da mesma forma, se manifesta Reinaldo Rossano, ao afirmar que:

“… deve o membro ministerial expor, na denúncia, o fato


criminoso, com todas as suas circunstâncias. Trata-se de
requisito imprescindível à regularidade processual, tendo em
vista que o acusado se defende dos fatos, os quais devem estar
perfeitamente delineados na denúncia (ou queixa), a exigencia
tem dois objetivos: por um lado, permite a correto subsunção
do fato narrado à norma jurídica e, por outro, o exercício da
ampla defesa e do contraditírio”. (Direito Processual Penal, 8a.
edição, editora Impetus, 2013).

Há, ainda, o entendimento de Norberto Avena (Processo Penal, 5a. edição,


editora Método, 2013), ao afirmar que a descrição do fato criminoso com todas as
circunstâncias “trata-se de elemento essencial, pois é o fato descrito que o réu se
defende e, por isso mesmo, será em relação a esse fato qiue deverá estar relacionada a
sentença (princípio da correlação).

Não há dúvidas, portanto, que existe a necessidade da descrição dos fatos em


sua compleitude para que a inicial acusatória ministerial seja recebida.

No caso ora analisado a ausência de descrição das circunstâncias, em especial


do cuidado objetivo que a acusada deveria ter observado de acordo com o Ministério
Público, era essencial a viabilizar uma efetiva defesa que, de acordo com as alterações
trazidas pela lei 11.719/08, já se inicia na fase de Resposta à Acusação, uma vez que
viável o desenvolvimento de tese de absolvição sumária fundada no artigo 397 do CPP.

A denúncia apresentada que afirma que o acidente lá informado teria ocorrido


“por motivos que não se soube precisar” e que ao final alega que a acusada teria agido
de forma imprudente sem, contudo, informar qual elemento teria levado o Parquet a
essa convicção impossibilita de plano a defesa da ré, violando, assim, o devido processo
legal e os princípios que lhe são decorrentes, quais sejam ampla defesa e contraditório.

Por tais motivos a inicial acusatória deve ser rejeitadas por não preencher
requisito formal e essencial do artigo 41 do CPP.

Assim sendo, requer o acolhimento da preliminar arguida a fim de se rejeitar a


denúncia nos moldes do artigo 395, inciso I, do Código de Processo Penal.

2. DO MÉRITO DA ACUSAÇÃO
Reserva-se ao direito de adentrar no mérito, em momento processual posterior,
até mesmo porque, conforme ditto na preliminar supra, a falta de clareza na inicial
acusatória do Parquet impede, inclusive, uma regular e efetiva apreciação dos fatos,
bem como a motivação pela qual é imputada a imprudência à acusada.
3. DAS DILIGÊNCIAS
Caso não seja acolhida a preliminar acima, a título de diligências requer as
diligências abaixo descritas e justificadas.

3.1. DOS QUESITOS COMPLEMENTARES À PERÍCIA


Analisando os autos, verifica-se que foi juntado Laudo de Perícia Criminal às fls.
76 a 83. Ocorre, entretanto, que da sua leitura verifica-se a clara necessidade de que
sejam encaminhados quesitos complementares aos peritos que confeccionaram o
referido documento pericial, para que esclareçam importantes circunstâncias do fato,
essenciais à defesa.

A necessidade se torna clara, em especial, pelo fato de que os peritos, no item


“Conclusão” informaram que não foi possível precisar por quais motivos o carro da ora
acusada teria derivado à esquerda e entrada na via de sentido contrário.

Tendo em vista as diversas possibilidades e os diversos fatores não abordados


no Laudo inicialmente apresentado, que dizem diretamente ao direito do contraditório
e da ampla defesa, há a necessidade de se encaminhar os quesitos complementares
abaixo aos peritos acima citados, sob pena de cerceamento de defesa.

Assim sendo, a defesa requer que sejam enviados os seguintes quesitos


complementares a serem respondidos pelos peritos do IC – Instituto de Criminalística:

1) Há a possibilidade de que tenha havido colisão traseira no C4 que não


resultasse em sinais aparentes de colisão?
2) A manobra de derivação à direita que resultou em choque com o meio fio
direito da via, anterior à derivação à esquerda foi objeto de perícia?

3) Foram identificados sinais de frenagem no solo anteriores à manobra de


derivação à esquerda?

4) O cenário anterior à manobra de derivação à esquerda seria relevante para


concluir a causa de tal derivação?

5) O desenvolvimento de velocidade inferior à verificada impediria a ocorrência


do resultado?

Ressalte-se por fim que os questionamentos deverão ser respondidos por um


dos peritos que confeccionaram o Laudo citado, quais sejam os Peritos Criminais
Eng. Luiz Alberto Martins de Oliveira ou Perito Celso Mizuno.

Da mesma forma, é imprescindível que os quesitos sejam analisados e


respondidos antes da audiência de Instrução e Julgamento a ser designada por este
Juízo posto que imprescindíveis para balisar os questionamentos que serão
realizados no momento da produção das provas testemunhais.

3.2. DO REGISTRO DE OCORRÊNCIA DO CBMDF


Requer seja oficiado o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal, na
pessoa do Comandante do 15o. Grupamento de Bombeiro Militar/Asa Sul, para que
envie cópia do Registro de Ocorrência e da Guia de Atendimento de Ocorrência
realizados pelo CBMDF, relacionados ao atendimento e encaminhamento da ora
acusada, bem como da vítima ao Hospital de Base por UTE daquela Corporação Militar.
A juntada da documentação é relevante pois o primeiro atendimento foi
realizado por aqueles militares e contém informações relevantes a respeito do local e
do estado de acusada e vítima imediatamente após a ocorrência dos fatos.

4. DAS TESTEMUNHAS
Arrola como suas as mesmas testemunhas elencadas pelo Ministério Público, às
fls. 03, sob Cláusula de imprescindibilidade e protestanto por eventual substituição.

5. DA COLOCAÇÃO DO FEITO SOB SIGILO


Requer, ainda, a este juízo, que em homenagem ao artigo 93, inciso IX da
Constituição Federal, que o feito seja colocado sob sigilo, restringindo-se assim a
publicidade externa do feito.

Não há dúvidas, Excelência, que como regra o os feitos da presente espécie


possuem ampla publicidade, ocorre entretanto, que em razão da atividade
desenvolvida pela acusada, encontra-se em risco de ter sua intimidade e imagem
expostas.

Esse é um dos casos em que o sigilo é relevante para resguardar-lhe aspectos


muito importantes, nos quais a publicidade poderá ferir sua intimidade. O segredo de
Justiça é decretado justamente nessas situações, em que o interesse de possibilitar
informações a todos cede diante de um interesse público maior ou privado, em
circunstâncias excepcionais.

Nesse sentido, em seu artigo 201, parágrafo 6º, o Código de Processo Penal
permite que o juiz tome “as providências necessárias à preservação da intimidade, vida
privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de
justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos
a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação”.

Enquanto o feito estiver em andamento aplica-se o Princípio da não-


culpabilidade, sendo certo que há possibilidade de a ré vir a ser absolvida ao final do
processo. A possibilidade de que o feito se torne de conhecimento e possa a acusada
ser prejudicada em sua atividade profissional é inquestionável.

Assim, já que permitido por preceito constitucional e infraconstitucional já


mencionados, requer a esse Juízo coloque o feito sob Segredo de Justiça para que
conste nas publicações e nos andamentos somente as iniciais do nome da acusada.

6. DAS PUBLICAÇÕES
Por fim, requer que sejam feitas as devidas anotações na capa dos autos a fim
de que se insira o nome dessa causídica como patrona dos interesses da acusada, em
nome da qual deverão ser feitas as publicações, excluindo-se o nome da advogada
anterior.

Nestes termos, requer deferimento.

Brasília/DF, 29 de julho de 2015.

Cristina Alves Tubino


OAB/DF 16.307

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