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EXCELENTÍSSIMO Dr(A).

JUÍZ(A) DA ___ª VARA DO TRABALHO DE JABOTICABAL – SP

PROCESSO: _____________________________
RECLAMANTE: __________________________
RECLAMADA: ___________________________

_________________________________, CRM-SP _________, perito médico judicial


nomeado para esta lide vem apresentar seu laudo.

De ____________ (SP) para _____________________ (SP), DATA


___________________

CURRICULO DO PERITO Formado pela Faculdade de Medicina de Catanduva;


Residência Médica em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina de Catanduva; Pós
Graduação em Medicina do Trabalho pela Faculdade de Medicina de São José do Rio
Preto (FAMERP); Especialista em Medicina do Trabalho pela ANAMT; Pós Graduação
em Perícia Médica pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.

PREAMBULO A perícia se realizou no dia ____________, às _________ horas, no


consultório do perito, sito a R. _________________________________. Estavam
presentes: o perito e o reclamante. Como assistente técnico da reclamada: Dr.
______________, CRM __________.
OBJETIVOS: Esta pericia objetiva avaliar: • Ocorrência de acidente de trabalho e/ou
equiparado; • Existência de agravo à saúde; • Existência de nexo causal entre o agravo
e o acidente de trabalho; • Avaliar os danos causados pelo agravo.
RESUMO DOS AUTOS DE INTERESSE MÉDICO PERICIAL Reza a inicial (pontos de
interesse médico pericial selecionados pelo perito): Diariamente, em função da
atividade desenvolvida, dos movimentos repetitivos, dispêndio de esforço físico e
penoso do corte, plantio, carpa e catação de cana a Reclamante começou a sentir
fortes dores nos braços, pulsos e coluna no início do ano de 2014, sendo constada a
doença ocupacional nos exames e relatórios médicos ora juntados, sendo afastada de
suas atividades pelo INSS através do Auxílio- Doença (NB. ____________________)
concedido em ______________. A Reclamante encontra-se totalmente incapacitada
para toda e qualquer função, não conseguindo, sequer, ter uma vida normal, haja vista
que sofre diariamente com fortes dores na coluna, braços e pulsos, fato que abala
psicologicamente a autora.

A reclamada se defende assim (pontos de interesse médico pericial selecionados pelo


perito):
Antes de qualquer impugnação aos pedidos de indenização por danos morais e
materiais (pensão alimentícia), contesta a Reclamada a alegação de que o
desempenho das atividades da Reclamante na empresa tenha dado causa, ou mesmo
agravado, sua suposta síndrome do túnel do carpo bilateral e “dores na coluna”.
No que tange as alegações da exordial de que “apesar da orientação do especialista, a
reclamada não acatou as determinações e exigiu da reclamante o labor na mesma
atividade, fato que agravou ainda mais seu estado de saúde...”, a Reclamada impugna
veementemente as mesmas, e requer a aplicação de multa por litigância de má-fé a
autora, pois, conforme os inclusos documentos “solicitação de readaptação
temporária” e “avaliação de readaptação”, a obreira foi readaptada após seu primeiro
retorno de afastamento previdenciário, que perdurou de ______________ a
______________, e passou a exercer atividades LEVES na Sede da Usina de
_______________ até o fim do pacto laboral.
Ressalte-se que a Reclamada, em _____________, protocolou impugnação a aplicação
do NTEP para concessão de benefício previdenciário a Reclamante, requerendo a
revisão da análise do requerimento de auxílio doença e alteração do benefício para a
espécie 31, tendo em vista que a Reclamante encontrava-se afastada de suas
atividades à época, em razão de sintomas de dor, decorrentes de supostas lesões no
punho e na coluna, não tendo havido qualquer ocorrência de acidente de trabalho no
curso do contrato, TAL COMO CONFESSA A PRÓPRIA AUTORA EM PEÇA INAUGURAL.
IDENTIFICAÇÃO DA RECLAMADA _____________________, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita sob o CNPJ nº __________________, empresa Situada na Fazenda
____________________, na cidade de __________________-SP

IDENTIFICAÇÃO/CARACTERÍSTICAS DO PERICIADO

Nome: ________________________
Idade: ______________ Data Nascimento: _______________________
RG:____________ SSP/SP CPF:_______________Natural: __________________
residente: ___________________ Estado Civil: _________________ Mão dominante:
_____________ Escolaridade:____________________________

Hábitos: Negou tabagismo; ex - tabagista Negou etilismo Refere atividade física: faz
caminhada Negou atividades de lazer Negou tocar instrumentos musicais Negou
andar de moto, bicicleta, cavalo Carteira Nacional de Habilitação: não tem.
ANTECEDENTES PESSOAIS/FAMILIAR Refere internação hospitalar: para cirurgias
Refere cirurgias: objeto da perícia e cesariana. Negou acidentes extra-ocupacionais.
Refere uso de medicações de uso contínuo: losartana, hidroclorotiazida, meloxicam
eventualmente, alprazolan, escitalopran. Refere estar em acompanhamento médico:
ortopedista, cardiologista. Histórico Familiar: mãe falecida de acidente vascular
encefálico; pai cardiopata, trata acidente vascular encefálico; negou patologias
semelhantes à sua na família.
ANTECEDENTES PROFISSIONAIS Trabalho informal (Bicos): negou Atual: desempregada
Aposentado: negou; recebe pensão do marido. CTPS:
Admissão Demissão Função Empregadora
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____________
ANTECEDENTES PREVIDENCIÁRIOS Refere afastamento pelo INSS: cirurgias – objeto da
perícia.

CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO NA RECLAMADA a. Horário de trabalho referido: das


07:00 as 15:35, esquema 5x1. b. Refere ter gozado de férias; c. Refere horário de
descanso de 01:00 hora; pausas de 10 minutos no período da manhã e da tarde. d.
Refere ter-se submetido a exame médico ocupacional; e. Refere ter-se submetido a
exames complementares previstos na em lei. f. Refere ter recebido treinamentos na
função. g. Refere ter recebido treinamentos de segurança do trabalho h. Refere ter
realizado ginástica laboral. i. Refere ter recebido os Equipamentos de Proteção
Individual: luva, óculos, sapato de segurança, caneleira, touca árabe. j. Recebeu
treinamento de como utilizar os EPIs. k. Refere conhecer a existência de CIPA e
técnicos de segurança do trabalho.

DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES PROFISSIONAIS Pela autora: até 2015 trabalhou como
servente lavoura, no corte manual de cana durante a safra; na entressafra, realizava
carpa, retirava colonião, corte de cana para plantio. Também realizava plantio manual
de cana.
A partir de 2015, passou a trabalhar no viveiro de muda de cana, limpava a cana,
passava numa esteira e realizava a limpeza das mudas. Tirava as mudas e coloca na
caixa.
HISTÓRIA CLÍNICA Segunda a periciada, sentia os braços dormentes, pior a noite, não
conseguia dormir, perdendo a força por volta de 2012. Como os sintomas foram
piorando, foi submetida a cirurgia para síndrome do túnel do carpo por volta de 2014
bilateralmente. Após retornar da cirurgia, retornou em serviços leves no viveiro de
mudas. Os sintomas pioraram sendo re operada em 2017 bilateralmente, sem melhora
do quadro – mantem dormência, dor latejante. Dor se inicia na coluna cervical,
trapézio e irradia até o membro superior esquerdo. No braço direito houve melhora
dos sintomas.
Refere que a coluna travou quando já estava no viveiro de mudas. Quando já estava
em serviços leves. Foram dois episódios, sendo o primeiro durante o período do corte
cana. Não chegou a ficar afastada. Acompanhou com ortopedista. Atualmente sente
dor quando fica sentada.
EXAME FÍSICO Psicológico/Comportamento: periciada colaborou com o exame,
respondendo às perguntas adequadamente, com pensamento claro, lógico, coerente,
orientada no tempo e espaço.
Ectoscopia e inspeção geral: vestida adequadamente, estado de higiene adequado.
Marcha normal, sentou e levantou da cadeira sem dificuldades. Deitou e levantou da
maca sem dificuldades.
Exame físico geral: bom estado geral, corada, hidratada, acianótica, anictérica, afebril.
Peso referido: 99 Kg
Altura referida: 1,68m
Pressão Arterial: 160x100mmHg
Frequencia cardíaca: 100 batimentos por minuto
Tórax:
Ausculta Cardíaca/Pulmonar: nada digno de nota
Exame físico dirigido:
Dorso/Coluna Vertebral:
Inspeção: sem desvios, abaulamentos ou deformidades
Palpação: referiu dor a palpação sobre a coluna lombar e paravertebral esquerda
Mobilidade: extensão limitada em grau moderado alegando dor na região lombar;
flexão de amplitude fisiológica, sem dor. Rotação lateral e flexão lateral, bilateral,
normais.
Manobras especiais: Brechterew normal, Lasegue positivo a esquerda. Elevação dos
membros inferiores, quando deitada, de amplitude fisiológica.

Membros Superiores:
Inspeção: assimetria dos braços, sendo o braço esquerdo de maior diâmetro que o
direito. Cicatrizes nos punhos bilateral.
Palpação: negou dor
Mobilidade: apresentou dificuldade na elevação dos membros superiores, pior a
esquerda.
Força: preservada
Manobras especiais: Phalen, Phalen invertido e Tinnel negativos

Membros Inferiores: nada digno de nota

DOCUMENTOS JUNTADOS AOS AUTOS DE INTERESSE MÉDICO PERICIAL

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FUNDAMENTAÇÃO De acordo com o Ministério da Previdência Social, a Comunicação
de Acidente de Trabalho (CAT) é um documento emitido para reconhecer tanto um
acidente de trabalho ou de trajeto bem como uma doença ocupacional. Acidente de
trabalho ou de trajeto: é o acidente ocorrido no exercício da atividade profissional a
serviço da empresa ou no deslocamento residência / trabalho / residência, e que
provoque lesão corporal ou perturbação funcional que cause a perda ou redução
(permanente ou temporária) da capacidade para o trabalho ou, em último caso, a
morte Doença ocupacional: é aquela produzida ou desencadeada pelo exercício do
trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada
pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social.

Dano/Prejuízo Estético corresponde à repercussão de uma seqüela estática – cicatriz,


deformações - ou dinâmica – alterações mímica, claudicação, etc., resultando numa
deterioração da auto-imagem e da imagem em relação e aos outros. Sua valoração é
feita por meio de uma escala de sete graus de gravidade crescente, tal qual o quantum
doloris (MAGALHÃES, 2003,2004) Para Sá (1992) e Rousseau e Fournier (1989), para
referenciar e qualificar o quantum doloris, utiliza-se uma escala valorativa de sete
graus, a saber: 1. Muito ligeiro; 2. Ligeiro; 3. Moderado; 4. Médio; 5. Considerável; 6.
Importante; 7. Muito importante. Uma maneira prática de graduar o dano estético,
proposto pela constituição espanhola se baseia em 7 graus, a saber: - Grau 1:
identifica-se com dificuldade apesar de olhá-la; - Grau 2: identifica-se quando se olha a
pessoa, mas não provoca desvio do olhar; - Grau 3: identifica-se com clareza, não
provoca mudança do olhar, mas uma vez vista, tende-se a fixar no aspecto exterior
alterado;
- Grau 4: provoca uma mudança no olhar, de forma que tende a voltar com a facilidade
a observar diretamente; a imagem da alteração externa do corpo é parte da lembrança
da imagem da pessoa porque protagoniza seu aspecto; - Grau 5: provoca a fixação do
olhar no defeito; protagoniza parte essencial da imagem da pessoa; induz reações
emocionais ou sentimentos que não são intensos; - Grau 6: provoca a fixação do olhar
no defeito, mas não se tende a deixar de olhar porque induz reações emocionais ou
sentimentos intensos, podendo detectar alguns elementos descritivos como
desagradáveis ou compassivos; o nível de emoções provocadas a pessoa chega a afetar
marginalmente a relação entre a pessoa com deformidade e o resto das pessoas em
sua volta. - Grau 7: provoca a tendência a deixar de olhar porque os sentimentos ou
reações emocionais que despertam são intensos, bem por compaixão, bem por
desagrado, repugnância, dentre outros; o nível de emoções provocadas a pessoa pode
chegar a afetar intensamente a relação entre a pessoa com deformidade e os resto das
pessoas a sua volta.

Para cálculo do dano permanente, pode-se utilizar a TABELA PARA CÁLCULO DA


INDENIZAÇÃO EM CASO DE INVALIDEZ PERMANENTE da SUSEP. Não ficando abolidas
por completo as funções do membro ou órgão lesado, a indenização por perda parcial
é calculada pela aplicação, à percentagem prevista na tabela para sua perda total, do
grau de redução funcional apresentado. Na falta de indicação da percentagem de
redução e, sendo informado apenas o grau dessa redução (máximo, médio ou
mínimo), a indenização será calculada, respectivamente, na base das percentagens de
75%, 50% e 25%.

Classificação de Incapacidade Laboral Proposta por Penteado Apresentada no


Seminário de Perícias Médicas Judiciais promovida pela OAB em Curitiba/2014 Tipo 0
Não há incapacidade laboral Tipo 1 Existe restrição parcial da capacidade laboral 1 a:
Implica em necessidade de esforços suplementares para realização da mesma
atividade 1 b: Pode ser reabilitado para uma atividade do mesmo nível de
complexidade ou em funções compatíveis com sua formação profissional Tipo 2 Existe
restrição total da capacidade laboral 2 a: As sequelas são impeditivas do exercício da
atividade profissional, mas podendo ser reabilitada para uma atividade de menor nível
de complexidade
2 b: As sequelas são totalmente impeditivas do exercício de qualquer atividade
profissional SUPLEMENTO TRABALHISTA 094/14. DEFICIÊNCIA FUNCIONAL X
INCAPACIDADE LABORAL. José Marcelo de Oliveira Penteado.
O Quadro a seguir resume e exemplifica os grupos das doenças relacionadas de acordo
com a classificação proposta por Schilling (1984). CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS
SEGUNDO SUA RELAÇÃO COM O TRABALHO
(Adaptado de Schilling, 1984)

GRUPO I: doenças em que o trabalho é causa necessária, tipificadas pelas doenças


profissionais, stricto sensu, e pelas intoxicações agudas de origem ocupacional.
GRUPO II: doenças em que o trabalho pode ser um fator de risco, contributivo, mas
não necessário, exemplificadas pelas doenças comuns, mais freqüentes ou mais
precoces em determinados grupos ocupacionais e para as quais o nexo causal é de
natureza eminentemente epidemiológica. A hipertensão arterial e as neoplasias
malignas (cânceres), em determinados grupos ocupacionais ou profissões, constituem
exemplo típico. GRUPO III: doenças em que o trabalho é provocador de um distúrbio
latente, ou agravador de doença já estabelecida ou preexistente, ou seja, concausa,
tipificadas pelas doenças alérgicas de pele e respiratórias e pelos distúrbios mentais,
em determinados grupos ocupacionais ou profissões.
Categoria Exemplos
I – Trabalho como causa necessária
Intoxicação por chumbo Silicose Doenças profissionais legalmente conhecidas
II – Trabalho como fator contributivo, mas não necessário
Doença coronariana Doenças do aparelho locomotor Câncer Varizes dos membros
inferiores
III – Trabalho como provocador de um distúrbio latente, ou agravador de doença já
estabelecida
Bronquite crônica Dermatite de contato alérgica Asma Doenças mentais
Entre os agravos específicos estão incluídas as doenças profissionais, para as quais se
considera que o trabalho ou as condições em que ele é realizado constituem causa
direta. A relação causal ou nexo causal é direta e imediata. A eliminação do agente
causal, por medidas de controle ou substituição, pode assegurar a prevenção, ou seja,
sua eliminação ou erradicação. Esse grupo de agravos, Schilling I, tem, também, uma
conceituação legal no âmbito do SAT da Previdência Social e sua ocorrência deve ser
notificada segundo regulamentação na esfera da Saúde, da Previdência Social e do
Trabalho. Os outros dois grupos, Schilling II e III, são formados por doenças
consideradas de etiologia múltipla, ou causadas por múltiplos fatores de risco. Nessas
doenças comuns, o trabalho poderia ser entendido como um fator de risco, ou seja,
um atributo ou uma exposição que estão associados com uma probabilidade
aumentada de ocorrência de uma doença, não necessariamente um fator causal (Last,
1995). Portanto, a caracterização etiológica ou nexo causal será essencialmente de
natureza epidemiológica, seja pela observação de um excesso de freqüência em
determinados grupos ocupacionais ou profissões, seja pela ampliação quantitativa ou
qualitativa do espectro de determinantes causais, que podem ser melhor conhecidos a
partir do estudo dos ambientes e das condições de trabalho. A eliminação desses
fatores de risco reduz a incidência ou modifica o curso evolutivo da doença ou agravo à
saúde. Como diretriz básica, a resposta positiva à maioria das questões apresentadas a
seguir auxilia no estabelecimento de relação etiológica ou nexo causal entre doença e
trabalho 1. Natureza da exposição: o agente patogênico pode ser identificado de
alguma forma? 2. Especificidade da relação causal e a força de associação causal: o
agente patogênico ou fator de risco contribuiu de forma significativa na ocorrência da
doença? 3. Tipo de relação causal com o trabalho: classificação de Schilling. 4. Grau ou
intensidade da exposição: é capaz de gerar a doença? 5. Tempo de exposição é
suficiente para gerar a doença? 6. Tempo de latência: suficiente para que a doença se
instale e manifeste? 7. Registros anteriores: existem registros quanto ao estado de
saúde anterior do trabalhador? 8. Evidencias epidemiológicas: existem evidências
epidemiológicas que reforçam a hipótese da relação com o trabalho?
O novo Manual de Acidentes de Trabalho, publicado pelo INSS em Maio de 2016,
esclarece que “concausa” é o conjunto de fatores, preexistentes ou supervenientes,
suscetíveis de modificar o curso natural do resultado de uma lesão. Trata-se da
associação de alterações anatômicas, fisiológicas ou patológicas que existiam ou
possam existir, agravando um determinado processo. O manual informa que devem
ser considerados, para estabelecimento, a presença de modificação da história natural
da doença, o fato da doença ou agravo ser, de fato, multicausal, e por fim deixa claro
que deve ser encontrado a existência real do fator de risco ocupacional e que este seja
capaz de levar ao dano; e a possibilidade ou a própria existência de atos contrários às
normas de proteção à saúde do trabalhador.

De acordo com o Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde – DOENÇAS


RELACIONADAS AO TRABALHO, do Ministério da Saúde, ciática (M54.3) e lumbago com
ciática (M54.4) caracterizam-se por dor na região lombar, que pode se irradiar para
o(s) membro(s) inferior(es) e evoluir para um quadro persistente de dor isolada em
membros inferiores. Episódios agudos de lombalgia costumam ocorrer em pacientes
em torno de 25 anos e, em 90% dos casos, a sintomatologia desaparece em 30 dias,
com ou sem tratamento medicamentoso, fisioterápico, com ou sem repouso. O risco
de recorrência é de cerca de 60% no mesmo ano ou, no máximo, em dois anos. São
fatores que contribuem para a recidiva: idade, postura ergonômica inadequada e
fadiga no trabalho. A lombalgia crônica, dor persistente durante três meses ou mais,
corresponde a 10% dos pacientes acometidos por lombalgia aguda ou recidivante. A
média de idade desses pacientes é de 45 a 50 anos. Os seguintes fatores têm sido
associados à cronicidade da lombalgia: trabalho pesado, levantamento peso, trabalho
sentado, falta de exercícios e problemas psicológicos. Os casos descritos como
ocupacionais são associados a atividades que envolvem contratura estática ou
imobilização, por tempo prolongado, de segmentos corporais, como cabeça, pescoço
ou ombros, tensão crônica, esforços excessivos, elevação e abdução dos braços acima
da altura dos ombros, empregando força, e vibrações do corpo inteiro. A dorsalgia
crônica, em especial a lombalgia crônica, em determinados grupos ocupacionais,
excluídas as causas não-ocupacionais acima mencionadas e ocorrendo condições de
trabalho com posições forçadas e gestos repetitivos e/ou ritmo de trabalho penoso
e/ou condições difíceis de trabalho, pode ser classificada como doença relacionada ao
trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, em que o trabalho pode ser
considerado fator de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia
multicausal da entidade. O trabalho pode ser considerado como concausa. Os quadros
de ciática (M54.3) e lumbago com ciática (M54.4) são caracterizados por dor
intermitente na coluna lombar, que piora com movimentos ou com aumentos de
pressão intra-abdominal (tosse, espirros, defecação) e que irradia pela face posterior
da coxa até a face lateral do tornozelo e pé. Pode evoluir para uma degeneração do
disco intervertebral, hérnia de disco, osteoartrose e/ou osteófitos da coluna e história
de traumas da coluna.

Teste de Lasegue: O teste de Lasegue é utilizado para avaliar dor lombar associada a
ciatalgia, seja compressiva ou inflamatória.
Com o paciente em decúbito dorsal, eleva-se o membro com o joelho em extensão. É
positivo quando o paciente queixa dor lombar a partir dos 30º de elevação.
Teste de Bechterew: O teste é realizado pedindo ao paciente para estender o joelho
enquanto numa posição sentada. Este levantar a perna sem dobra-la em posição
sentada novamente alonga a raiz nervosa ciática e cria dor na coluna ou na perna ou
em ambas se existir uma lesao de disco. (Dor Lombar, Mecanismo, Diagnóstico e
Tratamento. James M. Cox. Editora Manole. 6ª edição.)

SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO (G56.0)


É a síndrome caracterizada pela compressão do nervo mediano em sua passagem pelo
canal ou túnel do carpo. Está associada a tarefas que exigem alta força e/ou alta
repetitividade, observando-se que a associação de repetitividade com frio aumenta o
risco.
As exposições ocupacionais consideradas mais envolvidas com o surgimento do quadro
incluem flexão e extensão de punho repetidas principalmente se associadas com força,
compressão mecânica da palma das mãos, uso de força na base das mãos e vibrações.
Entre os profissionais mais afetados estão os que usam intensivamente os teclados de
computadores, os trabalhadores que lidam com caixas registradoras, os telegrafistas,
as costureiras, os açougueiros e os trabalhadores em abatedouros de aves ou em
linhas de montagem.
O quadro inicial caracteriza-se por queixas sensitivas: sensação de formigamento
(hipoestesia) na mão, à noite, dor e parestesia em área do nervo mediano (polegar,
indicador, médio e metade radial do anular), que podem aumentar na vigência de
exigências do trabalho semelhantes às supracitadas, desconforto que pode se irradiar
até os ombros. Os sintomas são predominantemente noturnos e podem, inclusive,
melhorar em alguns casos durante as atividades diurnas.
Alguns pacientes referem-se a dores nas mãos que irradiam para o ombro.
Os achados de exame físico incluem diminuição da sensibilidade superficial (teste de
monofilamento) e de 2 pontos no território mediano. Os testes de Phalen, Phalen
invertido, Tinel ou dígito-percussão em projeção de túnel de carpo são úteis na
caracterização clínica dos sintomas. A hipotrofia tenar é característica das
compressões crônicas. Nota-se diminuição da força de preensão e de pinça (polegar –
indicador), dificuldade de impulsionar bolinha de papel (piparote) com polegar
indicador.

DISCUSSÃO Autora admitida na reclamada em _________, demitida em _________,


registrado em CTPS, para a função de Servente de Lavoura. Alega que desenvolveu
patologias da coluna vertebral e síndrome do túnel do carpo e decorrência das
atividades laborais na reclamada. Baseado nas queixas do periciado, no exame físico,
nos documentos anexados aos autos e na literatura atual, considero: Quanto às
patologias: autora é portadora de Hipertensão Arterial; síndrome do túnel do carpo
tratado cirurgicamente bilateralmente; lombalgia esporádica; espondiloartrose da
coluna cervical, torácica e lombar. Quanto às atividades laborais: até 2015 – conforme
referiu exerceu atividades no corte manual de cana durante a safra e atividades
relacionadas a trabalhador rural durante a entressafra. Durante tais atividades, havia
risco ergonômico, com flexão e rotação da coluna, carregamento de peso, trauma na
região palmar pelo uso de facão, por exemplo. Após 2015, trabalhou no setor de
mudas (viveiro), não apresentando risco ergonômico significativo. Quanto ao nexo:
Com relação à síndrome do túnel do carpo, a literatura diz: “As exposições
ocupacionais consideradas mais envolvidas com o surgimento do quadro incluem
flexão e extensão de punho repetidas principalmente se associadas com força,
compressão mecânica da palma das mãos, uso de força na base das mãos e vibrações”.
Dessa maneira, considero que as atividades laborais apresentaram risco ergonômico
em tempo e intensidade suficientes para desencadear a patologia, sendo evidenciado
atividades com uso das mãos, trauma na região palmar (uso de facão) e flexão dos
punhos (ato e “abraçar” feixe de cana”) que estão associados ao desenvolvimento da
patologia. Por se tratar de patologia de etiologia multifatorial, excluindo as causas
extra ocupacionais, atribuo ao trabalho uma contribuição moderada (50%) – atribuição
subjetiva, no período que trabalhou no corte manual de cana.
Com relação à patologia da coluna vertebral, trata-se de patologia de etiologia
multifatorial, sendo o fator degenerativo, nesse caso, o mais evidente, pois há
acometimento de todo o segmento da coluna vertebral, além disso, a autora admitiu
que apresentou sintomas de lombalgia mesmo durante os anos que trabalhou no
viveiro de mudas. Assim, considero que a autora esteve exposta a risco ergonômico
até o ano de 2015, mas esse não foi suficiente para desencadear ou agravar a
patologia da coluna vertebral apresentada.

Quanto aos danos: Temporários: apresentou afastamentos nas seguintes datas:


29/04/2014 a 13/10/2015 e 16/03/2017 a 28/08/2017; outros atestados de poucos
dias – descritos no corpo do laudo.

Danos permanentes – alteração permanente na integridade física e psíquica:


redução definitiva do potencial físico, psico-sensorial ou intelectual resultante de uma
alteração da integridade anátomo-fisiológica: medicamente constatável e como tal
apreciável por um exame clínico apropriado, completado pelo estudo dos exames
complementares realizados; à qual se juntam os fenômenos dolorosos e as
repercussões psicológicas normalmente associadas à alteração sequelar descrita, assim
como as conseqüências na vida diária habitualmente e objetivamente associadas a
essa alteração.

A autora apresenta queixa de dores difusas, sobretudo no membro superior esquerdo,


porém, baseado no exame físico realizado no dia da perícia médica, não associo os
sintomas à síndrome do túnel do carpo, visto as manobras semiológicas realizadas
terem se apresentadas negativas. Assim, considero:

Extrapolando da Tabela SUSEP: Anquilose total de um dos punhos = 20%


Como a lesão foi mínima: 25% de 20% = 5%; como a síndrome do túnel do carpo
acometeu ambos os membros superiores, considero como dano corporal = 10%
Dano estético muito ligeiro, ou grau 1, ou 1 em 7 (1/7), pois identifica-se com
dificuldade apesar de olhá-la, em área pouco exposta.
Quanto à capacidade laborativa: as atividades laborais de formação técnica do autor
são parcialmente compatíveis com as sequelas apresentadas, ou seja, há incapacidade
laboral parcial, permanente, prova é que após os procedimentos cirúrgicos a autora
retornou em atividades sem risco ergonômico.

CONCLUSÃO

a) A periciada apresenta as seguintes patologias: síndrome do túnel do carpo bilateral,


tratada cirurgicamente; espondiloartrose coluna vertebral; lombalgia esporádica,
hipertensão arterial. b) Considero que a síndrome do túnel do carpo apresenta
concausa com as atividades laborais na reclamada até o ano de 2015; não caracterizo
nexo com as demais patologias. c) Como danos temporários: Incapacidade laboral:
29/04/2014 a 13/10/2015 e 16/03/2017 a 28/08/2017 d) Como danos permanentes:
Dano corporal: 10% Dano estético: muito ligeiro, ou grau 1, ou 1/7. e) Capacidade
laboral: Há incapacidade laboral, parcial, permanente.

RESPOSTA AOS QUESITOS Juízo:


-o enquadramento da eventual ocorrência como acidente do trabalho (artigo 19 da Lei
nº. 8.213/91) ou a este equiparado, ou seja, doença profissional ou doença do trabalho
(incisos I e II do artigo 20 da Lei nº. 8.213/91, respectivamente); há enquadramento.
-se o referido infortúnio demandava ao trabalhador, ao tempo em que vigia o liame,
afastamento de suas funções e, em caso positivo, qual o lapso necessário; 29/04/2014
a 13/10/2015 e 16/03/2017 a 28/08/2017; outros afastamentos de curto período.
-se o trabalhador se encontrava apto ou inapto para o trabalho quando da demissão e,
nesta última hipótese (inapto), qual o lapso necessário para a recuperação; Considero
que estava apta para as atividades desenvolvidas.
-a extensão do dano sofrido pelo trabalhador em razão do infortúnio, com
mensuração, em termos percentuais, da redução da capacidade laborativa para a
prestação de serviços, levando-se em consideração tanto funções compatíveis, como a
formação e o histórico profissional do trabalhador; Há incapacidade laboral parcial
permanente, sendo o dano corporal estimado em 10%.
-se a eventual redução da capacidade laborativa é permanente ou passível de
reversão, hipótese em que deverá ser esclarecido o tempo necessário à reversão, bem
como se tal reversão será parcial ou total; levando em consideração o período da
prestação de serviços, as regras da experiência técnica e da literatura médica, bem
como o histórico pessoal e profissional do periciando, informar se há nexo de
causalidade entre as condições da prestação de serviços (funções exercidas pelo
trabalhador) e a eventual incapacidade adquirida; e, em caso positivo, esclarecer em
que grau, em termos percentuais, os prejuízos ao patrimônio físico e psíquico do
trabalhador podem ser atribuídos ao empregador; Permanente; atribuo ao trabalho
uma contribuição de 50% no desenvolvimento da patologia, considerando ser
patologia multifatorial, bem como os fatores extra laborais.
-a necessidade de tratamentos de saúde em razão do infortúnio e, em caso positivo,
qual a estimativa das despesas, bem como a duração; no momento, não há
necessidade de tratamento adicional.
-a resposta aos quesitos apresentados pelas partes.
Reclamante:
1. Descrever, detalhadamente, quais as funções exercidas pela reclamante na
reclamada? No laudo.
2. A reclamante é portadora de alguma enfermidade? Caso positivo, qual(is)
enfermidade(s)? Sim, descrito no laudo.
3. A(s) enfermidade(s) indicada(s) em resposta ao quesito anterior incapacita-a ao
exercício de atividades laborais? Parcialmente.
4. Existe cura para a(s) enfermidade(s) que acomete(m) a Obreira? Para a
espondiloartrose não, visto ser degenerativa; para a síndrome do túnel do carpo, foi
submetida a cirurgia em duas ocasiões.
5. É possível atribuir nexo causal entre a doença da Reclamante e as funções ele
desempenhas na reclamada? Concausa.
6. Existe sequela fruto da Doença Ocupacional? Sim.
7. A sequela apresentada também limita a capacidade de trabalho da Autora para
outras profissões? A depender das atividades.
8. A reclamante gozou de benefício previdenciário? Quando? Sim, descrito no laudo.
9. Há perda ou redução da capacidade de trabalho da reclamante? Em caso positivo,
queira por gentileza o Perito descrever o grau de comprometimento e justificálo. Já
respondido.
Reclamada:
1. Descrever o histórico laboral do Reclamante, apontando quais eram as atividades
laborativas anteriores e posteriores ao trabalho na Reclamada, bem como os
respectivos períodos trabalhados. Descritas no laudo.
2. Atualmente, o Reclamante está em exercício de alguma atividade de trabalho? Se
sim, qual? Negou.
3. Quando trabalhou para a Reclamada, o Reclamante recebeu instruções para
realização de suas atividades laborativas, assim como EPIs e orientação de seu uso?
Participava de treinamentos e diálogos de segurança? O Reclamante realizou exames
médicos periódicos junto ao setor de Medicina do Trabalho da empresa? Referiu que
sim.
4. Analisando-se os documentos juntados com a defesa, a empresa cumpriu suas
obrigações legais relacionados à Segurança e Medicina do Trabalho? Prejudicado.
5. O Reclamante é portador de alguma lesão? Qual? Qual a sua extensão? Sim, já
respondido.
6. Em caso positivo, quando (mês e ano) se iniciaram os sintomas relatados? No laudo.
7. A lesão teve origem com as atividades laborais exercidas pelo Reclamante? Se sim,
tal conclusão foi tomada somente com base no depoimento do Reclamante?
Considero que as atividades laborais atuaram como concausa. Não.
8. Pela análise dos documentos de defesa e informações fornecidas pelo Assistente
Técnico da Reclamada, é possível dizer que o Reclamante pode ter dado causa à sua
lesão? Mesmo que não exclusivamente, o trabalhador teve sua parcela de culpa na
ocorrência da suposta lesão? Não. Não.
9. O Reclamante faz ou chegou a fazer tratamento médico relacionado à lesão em
questão? Qual? Foram esgotados todos os tipos de tratamento? Por quais razões? Sim,
cirurgias. Sim.
10. O Reclamante é portador de alguma outra patologia que pode ter ocasionado/
concorrido para a lesão apresentada? Sim.
11. O Reclamante juntou documentos (exames médicos, atestados, etc.) que
comprovassem, com segurança, sua suposta redução da capacidade para o trabalho,
bem como a SUPOSTA culpa da empresa na ocorrência da doença? A questão de culpa
é atribuição do juízo.
12. O Reclamante recebeu algum afastamento pelo INSS? Se positivo, por qual motivo?
Qual o tipo de Benefício foi concedido? Sim. No primeiro benefício, espécie 31, no
segundo, espécie 91.
13. O Reclamante encontra-se apto para o trabalho? Se não, a incapacidade é
temporária e parcial? Incapacidade laboral parcial permanente.
14. Com a verificação da lesão, o Reclamante tem restrição de exercer alguma outra
atividade laboral de menor complexidade? Se negativa a resposta, fundamentar. Não.
15. A referida patologia é doença degenerativa, preexistente ou congênita? A
patologia da coluna é, nesse caso, predominantemente degenerativa; a síndrome do
túnel do carpo é multifatorial.
16. Algum parente próximo tem problemas semelhantes? Negou.
17. Trata-se de doença de origem multifatorial, isto é, ser causada por diversos fatores
que não relacionados ao trabalho para a Reclamada, tais como, a exposição a algum
trauma, obesidade, sedentarismo, entre outros? Sim.
18. O histórico laboral do Reclamante antes de prestar serviços para a Reclamada pode
ser considerado como causa/concausa para o surgimento dos problemas alegados pelo
obreiro? Prejudicado.
19. É correto afirmar que o tipo de lesão alegada pelo Reclamante é tratado com
grande sucesso (dieta equilibrada, medicamentos, cirurgia, etc.), e permite o retorno
às atividades cotidianas, laborativas? Se negativa a resposta justificar e fundamentar.
Se positiva, qual a previsão de tempo de tratamento? Parcialmente.
20. Caso seja constada eventual perda da capacidade laborativa é o Reclamante
passível de reabilitação profissional? Ele tem restrição de exercer alguma outra
atividade laboral de menor complexidade? Se negativa a resposta, fundamentar. Sim.
Não.

TERMOS ENCERRAMENTO Na expectativa de haver cumprido fielmente o que foi


determinado por V. Exa, e, colocando-me a inteira disposição do Juízo, encerra-se o
presente laudo, assinado eletronicamente. Considerando a relevância, o vulto, a
complexidade e a dificuldade de se elaborar um laudo pericial; o tempo consumido na
realização do trabalho; o impedimento da realização de outros serviços; o zelo pela
competência e renome profissional; os gastos inerentes à elaboração do laudo, bem
como no investimento na educação continuada; a responsabilidade e peculiaridade de
tratar-se de Perito Oficial, venho, respeitosamente, requerer à V. Exa, a fixação dos
honorários periciais em 4 (quatro) salários mínimos vigentes.

De Guariba, SP, para Jaboticabal, SP, 26 de agosto de 2019


Dr. _______________________--, CRM-SP ___________________________

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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