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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA 2ª VARA DO TRABALHO DE RIBEIRÃO

PRETO - SP

Processo nº ____________________

_______________________________, médico perito nomeado por esse Juízo


nos autos da presente ação reclamatória trabalhista proposta por
_____________________________ em face de _____________________________,
em cumprimento à honrosa missão que lhe foi confiada, vem, respeitosamente,
apresentar o resultado de seu trabalho, relatado em laudo anexo.

Em 10 de julho de 2018.

______________________

CRM-SP: __________________

1) Histórico

Reclamante: ___________________________.

Idade: _______________________.

Escolaridade: ___________________.

Período de trabalho: de _____________ a ______________________.

Cargo ou função: _______________.

Descrição das atividades: a reclamante relatou que trabalhava na esteira separando


materiais de construção descartados para a reciclagem. Também trabalhava no pátio
com carriolas. A atividade de virar as carriolas era executada por 2 pessoas. A
reclamante relatou que trabalhava das 7h às 17h30, com intervalo de 1 hora de
almoço.

Quadro clínico relatado pela reclamante:

A reclamante relatou que já possuía alterações nos membros superiores antes da


admissão, entretanto não apresentava sintomas e conseguia trabalhar. Entretanto,
após pouco mais de 6 meses da admissão na reclamada, passou a apresentar dores
nos punhos e procurou atendimento médico. Foram feitos exames radiológicos. A
reclamante relatou que houve agravamento das lesões em decorrência das atividades
executadas na reclamada e foi afastada após 1 ano da admissão. Relatou que ficou
afastada pelo INSS por quase 3 anos. Relatou que não houve piora do quadro durante
o afastamento pelo INSS. Recebeu alta do INSS, trabalhou por 16 dias com muita
dificuldade e foi demitida.

Tratamentos:

Cirurgia no indicador direito (retirada de cisto em janeiro de 2018).

Antecedentes pessoais:

Hipertensão arterial sistêmica, em uso de Losartana.

Hipertrigliceridemia, em uso de Ciprofibrato.

Trabalhos anteriores:

Não apresentou CTPS antiga.

Relatou que trabalhou por 2 anos como cozinheira (em lanchonete).

Relatou que trabalhou como lavradora na safra de laranja.

Trabalhos posteriores:

Negou.

2) Benefícios previdenciários

Benefício nº __________________

Espécie 31 - Auxílio-Doença Previdenciário

Início: ________________

Término: ______________

CID: Q74.0

Em 24/03/2016 não foi reconhecida a incapacidade para o trabalho.

3) Documentos médicos
Anexos aos autos.

4) Exames complementares

29/01/2013 - Radiografia dos punhos

Deformidade anatômica da articulação radiocarpal com desvio posterior da ulna.

Alteração congênita do tipo Deformidade de Madelung.

11/10/2013 - Radiografia dos punhos

Deformidade de Madelung com proeminência da ulna e subluxação rádio-ulnar,


bilateralmente (congênito).

Desorganização da primeira fileira de ossos dos carpos bilateralmente (lesão


ligamentar?).

Incipientes alterações degenerativas.

03/03/2016 - Radiografia dos punhos

Textura óssea normal.

Deformidades (congênitas?) do rádio e da ulna distalmente com proeminência da ulna


e subluxações.

Quadro radiológico compatível com Deformidade de Madelung.

26/06/2018 - Radiografia dos punhos

Osteopenia difusa.

Deformidade das porções distais do rádio e ulna com proeminência e luxação da


ulna bilateralmente, compatível com Doença de Madelung.

5) Atestados de saúde ocupacional


Anexos aos autos.

25/05/2012 - ASO Admissional: apta.

19/04/2016 - ASO Retorno ao trabalho: apta.

30/05/2016 - ASO Demissional: apta.

6) Exame físico realizado em 10/07/2018

Peso: 90 kg.

Estatura: 1,68 m.

Dominância: destra.

Exame do aparelho osteomuscular:

Inspeção:

Deformidade dos punhos, mais acentuada à esquerda, com proeminência e desvio


medial da ulna.

Hipotrofia da região hipotenar esquerda.

Palpação:

Ausência de dor à palpação em repouso dos punhos.

Movimentação:

Limitação dos movimentos ativos de flexão e extensão dos punhos, principalmente à


esquerda. Movimentação passiva preservada. A reclamante relatou a presença de dor
à realização dos movimentos.

Mão esquerda - não consegue fletir e estender o punho. Só com auxílio. Força
muscular global da mão grau 3.

Mão direita - consegue. Força muscular grau 4.

Exame neurológico:

Força muscular global na mão esquerda: grau 3 (de 0 a 5).


Força muscular global na mão direita: grau 4 (de 0 a 5)

7) Quesitos da reclamante

A reclamante não apresentou quesitos médicos.

8) Quesitos da reclamada

1- Queira por gentileza o Senhor Perito informar, caso presentes, as doenças de que
a reclamante padecia ao firmar e ao findar o contrato de trabalho com a reclamada.

Deformidade de Madelung.

2- O que é deformidade de Madelug? Qual a sua etiologia?

(Ver item 9) Conclusões. A Deformidade é de origem congênita.

3- No laudo do RX de 11/10/2013, qual a origem que o radiologista atribuiu a esta


deformidade?

A Deformidade é de origem congênita.

4- A reclamante realizou algum tratamento? Já houve término do mesmo ou ainda


está em curso?

Não houve tratamento.

5- A reclamante realizou cirurgia?

A cirurgia realizada pela reclamante para retirada de cisto no dedo indicador direito
não tem relação com a Deformidade de Madelung.

6- A reclamante pratica esporte?

Não.

7- A reclamante gozou de algum benefício previdenciário?

Sim. Ver item 2) Benefícios previdenciários.

8- Há perda ou redução de capacidade laborativa atualmente?


Sim. Há incapacidade total e definitiva para o trabalho.

9- A reclamante recebeu os devidos equipamentos de proteção individual bem


como as instruções de uso e de manutenção dos mesmos?

O inquirido depende de provas documentais e testemunhais.

10- A reclamante encontra-se empregada no momento?

A reclamante negou.

9) Conclusões

Diagnóstico:

Deformidade de Madelung bilateral.

A Deformidade de Madelung é um conjunto de alterações ósseas congênitas dos


membros superiores. Há déficit de crescimento da porção ântero-medial da fise de
crescimento do terço distal do rádio. Há encurtamento e curvatura do rádio,
alargamento da articulação rádio-ulnar distal, subluxação dorsal da ulna e deformidade
triangular do carpo. Geralmente as alterações são bilaterais. Há maior incidência da
deformidade em mulheres.

As deformidades não são notadas até a adolescência.

Para pacientes assintomáticos, com deformidades leves, nenhum tratamento é


necessário. Nos casos de dor intratável e limitações funcionais a cirurgia está indicada.
O tratamento cirúrgico é realizado com osteotomias (ressecções ósseas).

Entretanto, na faixa etária da reclamante, com exames radiológicos já demonstrando a


presença de osteopenia (diminuição da massa óssea / ossos frágeis), a cirurgia pode
não apresentar resultados favoráveis.

Há incapacidade total e definitiva para o trabalho. A reclamante apresenta graves


limitações de movimentos nos punhos.
Esse perito desconhece o motivo pelo qual não há registro da Deformidade de
Madelung (facilmente visível) nos exames ocupacionais da reclamante: 25/05/2012
(exame admissional), 19/04/2016 (retorno ao trabalho) e 30/05/2016 (demissional).

Há diversos equívocos em cadeia:

A reclamante não deveria ter sido admitida para a atividade na reclamada, que exige
movimentação frequente dos punhos, pois havia o risco de agravamento das lesões
congênitas, o que de fato ocorreu. Um ano após a admissão a reclamante foi afastada
pelo INSS (ficou afastada por quase 3 anos). Após quase 3 anos de afastamento pelo
INSS, e sem modificação do quadro, a reclamante recebeu alta (inexplicavelmente,
portanto).

A reclamante foi considerada apta no exame de retorno ao trabalho, sendo portadora


de graves alterações nos punhos, para uma atividade manual com exigência de
movimentação frequente dos punhos. Não há sequer registro da doença da
reclamante no exame de retorno ao trabalho. A reclamante foi demitida poucos dias
após.

Desta forma conclui-se que não há nexo causal entre a Deformidade de Madelung e as
atividades executadas na reclamada, tendo em vista que as alterações são de origem
congênita. Houve evidente agravamento (concausa) em decorrência das atividades
executadas pela reclamante na reclamada.

_______________________

CRM-SP: ___________________

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