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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Faculdade Mineira de Direito


Direito Processual Penal II
Professor: Dr. José Boanerges Meira

Alunos: Guilherme Chagas Castro Cordeiro; Jéssica Evangelista Pizani; Júlia de Ávila
Vitória Souto; Stela Santos e Santos; Thaís Pimenta Madeira Santos.

1. Por ocasião do recebimento da denúncia o juiz poderá aplicar o artigo 383, CPP?
Explique.

Sim, poderá o juiz modificar a classificação delitiva de ofício ou a requerimento da parte.


Cumprindo com a redação do artigo 383 o que compreende esta manifestação de
vontade pela parte do Magistrado de proferir definição jurídica diversa da que foi posta
pela parte acusatória, com intuito de emendar- reparar ou consertar o dispositivo jurídico
que foi posto na petição Inicial. Desde que não seja modificada a descrição dos fatos
narrados na denúncia ou queixa, fazendo-se assim a execução do instituto “emendatio
libelli”. In verbis:

Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa,
poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de
aplicar pena mais grave. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

§ 1o Se, em conseqüência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de


proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o
disposto na lei. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

§ 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão


encaminhados os autos. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

2. Dê dois exemplos das seguintes sentenças no Processo Penal: declaratórias;


condenatórias; mandamentais e executivas.

a) Sentença Declaratória: é aquela que absolve ou julga extinta a punibilidade do


acusado. A sentença é considerada declaratória pois apenas declara o estado de
inocência do réu (se for absolutória). Do mesmo modo, a sentença que julga extinta a
punibilidade do acusado apenas declara a existência de tal fato. Exemplos:

- A causa de extinção de punibilidade para o crime de peculato culposo, caso o agente


repare o dano antes da sentença;
- A causa de extinção de punibilidade para caso uma nova lei deixe de considerar o fato
como crime.
b) Sentença Condenatória: é aquela que julga procedente a pretensão punitiva estatal e
aplica uma pena ao acusado. Exemplos:

- Condenação do réu ao cumprimento em primeiro grau a cinco anos e dez meses de


reclusão, em regime inicial semiaberto, pelo crime de tráfico de drogas;
- Condenação do réu ao cumprimento de prestação de serviços à comunidade ou a
entidades públicas.

c) Sentença Mandamental: é aquela que contém uma ordem judicial, ou seja, além de
declaração, ela contém uma ordem. Na sentença o juiz não condena, ele ordena. Tem
como principal escopo coagir o réu. Exemplos:

- Expedição de alvará de soltura do acusado, em sede de Habeas Corpus, sob pena de


desobediência daqueles que estão responsáveis pelo cumprimento da ordem;
- Mandado de reintegração de posse de funcionário público no seu cargo, por força de
Mandado de Segurança, e ordem para expedição de certidão.

d) Sentença Executiva: é a sentença que possui, em seu conteúdo, eficácia executiva da


decisão. A sentença executiva é aquela que se realiza através dos meios de execução
direitos e adequados à tutela específica. Exemplos:

- Execução definitiva de despejo;


- Sentença que determina o sequestro de bens do acusado.

3. O acusado Totonho Cinfuegos encontrava-se preso durante o curso do


processo. Por ocasião da prolação da sentença condenatória, Dr. MM. Juiz de
Direito, Sétimus Oitavus, determinou ao Escrivão Judicial que procedesse a
intimação do réu via edital da sentença condenatória. Assim foi feito. O ato é
válido? Explique.

É nula a intimação por edital de réu preso. A intimação, nesse caso, deve ser feita
pessoalmente. Isso pode ser explicado pelo inciso I do artigo 392 do Código de Processo
Penal, que determina:

Art. 392. A intimação da sentença será feita:

I – ao réu, pessoalmente, se estiver preso;

Também existem diversas jurisprudências que tratam essa situação, como o RHC
45.584, cuja ementa:

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. SENTENÇA.


INTIMAÇÃO PELA VIA EDITALÍCIA. NULIDADE. DILIGÊNCIAS NÃO
REALIZADAS. RÉU PRESO DURANTE O PRAZO DE INTIMAÇÃO DO EDITAL.
RECURSO ORDINÁRIO PROVIDO. ORDEM CONCEDIDA.

1 - Imperioso o reconhecimento da nulidade da intimação do acusado acerca da


sentença condenatória, porquanto não realizadas diligências para sua
localização, além de que, restando posteriormente custodiado, necessária seria
a sua intimação pessoal acerca do resultado da ação penal em andamento, em
observância ao art. 5º, LV, da Constituição Federal.
2 - A doutrina se orienta no entendimento de que, preso o réu durante o prazo do
edital, deverá ser intimado pessoalmente do r.decreto condenatório, na forma do
art. 392, inciso I, CPP, restando prejudicada a intimação editalícia, conforme
leciona JÚLIO FABBRINI MIRABETE (in "Processo Penal, 10ª ed., Atlas, fls. 470)
(HC 15.481/SP, Rel. Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, DJ 10/09/2001).

3 - Recurso ordinário provido, para declarar a nulidade da ação penal, desde a


intimação do acusado da sentença condenatória.

4. Suponhamos que alguém seja condenado por furto continuado, por subtrair
veículos, na mesma cidade, nos meses de janeiro, fevereiro, abril e junho de 2021.
Após o trânsito em julgado da decisão, é oferecida denúncia referente a furto de
veículos nos meses março e maio de 2021 (o fato é o mesmo)". Uma nova denúncia
poderiam incluir os crimes dos meses de março e maio de 2021, sem incidir em
coisa julgada? Explique.

A possibilidade de nova denúncia com crimes que fazem parte de um crime continuado
já transitado em julgado não é uníssona na doutrina.

A coisa julgada tem limites objetivos que consideram o fato natural e os acontecimentos
que foram descritos e os limites subjetivos que se relacionam com a identidade do
acusado. Considerando-se os limites da coisa julgada objetiva seria impossível, mas
considerando a coisa julgada subjetiva seria possível.

Para que se possa entender os motivos faz-se necessário compreender o que é o crime
continuado. Note o artigo 71 do Código Penal:

Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica 2
(dois) ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar,
maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos
como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de 1/6
(um sexto) a 2/3 (dois terços).

Para o ministro Eloy da Rocha:

“...Cada um dos crimes se deve configurar com todos os elementos,


inclusive, o elemento subjetivo. Ainda que o elemento objetivo fosse
idêntico, a diversidade do elemento subjetivo poderia descaracterizar, em
qualquer dos fatos a infração penal.”

A caracterização do crime continuado tem apenas como consequência a atenuação da


penalidade decorrente da continuidade.

Para os doutrinadores que entendem não ser possível a abertura de novo inquérito, teoria
a qual me coaduno, o crime continuado tem caráter unitário. É para todos os efeitos de
direito, um crime único. É, pois:

“uma ficção normativa, considerando-as ou regulando-as como uma


mesma ação a ser punida com a pena agravada de um dos crimes”
(PACELLI, Eugênio. Manual de Direito Penal. 5ª. ed. São Paulo: Atlas,
2019. p. 414).
Portanto, a unidade do crime continuado torna preclusa a ação penal por fatos inseridos
no mesmo, após transitar em julgado a sentença que decidiu sobre outros fatos
integrantes da série. Segundo MAURACH, AT, 634:

“...os atos parciais, não compreendidos na sentença, e inclusive nem


mesmo descobertos ao tempo de sua publicação, anteriores a notificação
da sentença pelo último juiz da instância, serão absorvidos pela sentença
como compreendidos na série continuada”.

5. Quais são os requisitos para que a citação e intimação via WhatsApp seja
considerada válida no Processo Penal? Explique.

A 5ª Turma do STJ entende que a citação válida deve conter três elementos da
autenticidade do citando: o número de telefone, confirmação escrita e foto individual.

O relator, ministro Ribeiro Dantas, não conheceu do Habeas Corpus, mas conheceu de
ofício para anular a citação via WhatsApp que, neste caso, não havia comprovante quanto
à autenticidade da identidade do citando. O magistrado anulou a situação acima, mas
admitiu a possibilidade de citação por WhatsApp. HC 641.877 – DF | 29/01/2021.1

Atualmente, a 3ª Turma do STJ considera que a citação via aplicativo de mensagem pode
ser válida se der ciência inequívoca da ação judicial. Ou seja, ante a ausência de previsão
legal de citação via aplicativos, a citação pode ser válida desde que cumpra a finalidade,
que é a ciência sobre a ação judicial proposta em face do citando. 2

A 3ª Turma anulou a citação realizada via WhatsApp pois, no caso concreto, o Oficial de
Justiça enviou o mandado citatório e a contrafé à filha da ré, não havendo certificação da
identidade do destinatário – a ré.

Conforme a relatora Nancy Andrighi, a citação/intimação via aplicativos de mensagens


ou redes sociais foi possível após o CNJ, no ano de 2017, ter aprovado o uso de
ferramentas para a comunicação dos atos processuais, e editado, durante a pandemia
da Covid-19, a Resolução 354/2020.3

1https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?src=1.1.2&aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPes

quisaGenerica&num_registro=202100246127
2https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/2023/22082023-Citacao-por-aplicativo-

de-mensagem-pode-ser-valida-se-der-ciencia-inequivoca-da-acao-judicial.aspx
3 https://atos.cnj.jus.br/files/compilado12253720230627649ad5415eeac.pdf

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