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Denúncia conduta realizada de modo uniforme por

todos.
A denúncia é a peça acusatória iniciadora
da ação penal pública (condicionada ou 1. Qualificação do acusado ou
incondicionada). Consiste na explanação de fornecimento de dados que
fatos, com a devida indicação de provas, possibilitem sua identificação:
que constituem, em tese, ilícito penal, junto Capez[1] infere que qualificar consiste
à manifestação expressa da vontade de que em “apontar o conjunto de
seja aplicada a lei penal a quem é qualidades pelas quais se possa
presumivelmente o autor da conduta, a identificar o acusado, distinguindo-o
quem se firma a pretensão punitiva.[1] das demais pessoas”. Acerca deste
requisito, o artigo 259 do Código de
Requisitos Processo Penal apresenta:
O artigo 41 do Código de Processo Penal Art. 259. A impossibilidade de identificação
apresenta que: do acusado com o seu verdadeiro nome ou
outros qualificativos não retardará a ação
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a penal, quando certa a identidade física. A
exposição do fato criminoso, com todas as qualquer tempo, no curso do processo, do
suas circunstâncias, a qualificação do julgamento ou da execução da sentença, se
acusado ou esclarecimentos pelos quais se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a
possa identificá-lo, a classificação do crime retificação, por termo, nos autos, sem
e, quando necessário, o rol das prejuízo da validade dos atos precedentes.
testemunhas.
Do que se extrai do supracitado artigo, é
A respeito desses requisitos, vejamos possível perceber que, desde que seja
então: possível obter-se a identidade física do
acusado, com traços característicos, por
1. Descrição do fato em todas as suas exemplo, a qualificação se torna
circunstâncias: a descrição deve ser prescindível.
precisa. O autor deve incluir todas as
circunstâncias que cercaram o fato, 1. Classificação jurídica do fato:
sejam elementares ou até mesmo Fernando Capez[4] explica que “a
acidentais, que de alguma forma correta classificação do fato
possam influenciar na apreciação do imputado não é requisito essencial
crime a no estabelecimento da pena. da denúncia, pois não vincula o juiz,
Possível deficiência na narrativa, que poderá dar àquele definição
desde que não impeça a jurídica diversa”. O demandado,
compreensão da acusação, e inclusive, se defende dos fatos a ele
possível omissão de alguma imputados, e não da tipificação legal
circunstância acidental, não que em tese se encaixa sua conduta.
invalidam a denúncia, podendo a O jurista Aury Lopes Jr., entretanto,
falha ser corrigida até sentença.[1] As é claro em adotar outro
exigências relativas a este requisito entendimento, vejamos então:
atendem à necessidade de se Quanto à classificação do crime,
permitir, desde cedo, o exercício da pensamos ser um dado muito
ampla defesa.[2] Em casos de crimes relevante, pois de pois define os
coletivos, Eugênio Pacelli[3] ensina contornos jurídicos da acusação e
que: pauta o trabalho da defesa. Isso
Na hipótese de crimes praticados por mais porque não podemos mais a essa
de um agente, o membro do Ministério altura da complexidade que envolve
Público ou o querelante deverão atentar a vida social, o ritual judiciário e a
para a necessidade de se individualizar o própria Administração da Justiça
máximo possível as ações atribuídas aos seguir com a ingênua crença de que
acusados, quando não for o caso de “o réu se defende dos fatos narrados
e não da tipificação legal”. (...) portaria ou do auto de prisão em flagrante,
Assim, entendemos que a denúncia poderão ser supridas a todo o tempo, antes
ou queixa não deve ser recebida da sentença final.
quando não contiver a classificação
do crime ou, ainda, quando o Pacelli[9] ressalta, porém, que, “por
contexto fático destoar omissões, devem-se entender aqueles
completamente da tipificação feita dados que não são essenciais não
pelo acusador.[5] constantes na denúncia ou queixa,
passíveis apenas de esclarecimentos
Fernando Capez conclui ainda que quanto à matéria de fato e de direito (...)”.
“a classificação jurídica da conduta
pode ser alterada até a sentença, Prazo para denúncia
quer por aditamento da peça inicial Em regra, conforme trás o Código de
(CPP, art. 569), quer por ato do juiz Processo Penal, em seu artigo 46, o prazo
(CPP, art. 383) ou do Ministério para denúncia é de quinze dias, se o
Público (CPP, art. 384)”.[6] indiciado estiver solto, e de cinco dias, se
estiver preso. Capez (2012, p. 201)
2. Rol de testemunhas (se houver): o [10]
porém, corrobora que “o excesso de
arrolamento de testemunhas, prazo não invalida a denúncia, só
conforme o que dispõe o Código de provocando o relaxamento da prisão, no
Processo Penal, é facultativo, caso do indiciado preso, bem como
entretanto, o momento adequado imposição de sanção administrativa ao
para tal feito, conforme dispõe o art. promotor desidioso (...)”. Ademais, o autor
41, é na propositura da ação penal, completa que o prazo será “de dez dias no
não podendo essa omissão ser caso de crime eleitoral, dois dias para crime
suprida depois, por ter incidido em contra a economia popular, quarenta e oito
preclusão.[6] horas para abuso de autoridade, e dez dias
3. Pedido de condenação: para crime previsto na Lei de Drogas (cf.
Capez[6] ensina que este pedido “não art. 54 da Lei n. 11.343/2006)”.
precisa ser expresso, bastando que
esteja implícito na peça”. Rejeição da denúncia
4. O endereçamento da petição: O art. 395 do Código de Processo Penal,
sendo que o endereçamento com redação determinada pela Lei nº 11.
enganado não impede o recebimento 719/2008, elenca três situações em que a
da denúncia, sendo uma denúncia deverá ser rejeitada, quais sejam:
irregularidade sanável com a “I – for manifestamente inepta; II – faltar
remessa ou recebimento dos autos pressuposto processual ou condição para o
pelo juízo (STF, RHC 60.126, DJU, exercício da ação penal; ou III – faltar justa
24 set. 1982, p. 9444).[7] causa para o exercício da ação penal”.
5. O nome, o cargo e a posição
funcional do denunciante. Por inépcia da denúncia, se compreende a
6. A assinatura do denunciante: a ausência de um dos requisitos do
ausência também não invalida a supracitado artigo 41 do Código de
peça, desde que esteja clara a sua Processo Penal.[11]
autenticidade.[8]
Por ausência de condição para o exercício
Omissões da ação penal, Capez[12] explica que seria a
ausência de um dos requisitos que
Eventuais omissões podem ser supridas até
subordinam o exercício do direito de ação,
o momento da sentença, consoante o artigo
quais sejam: a possibilidade jurídica do
569 do Código de Processo Penal:
pedido; o interesse de agir; e a legitimidade
Art. 569. As omissões da denúncia ou da para agir.
queixa, da representação, ou, nos
processos das contravenções penais, da
E por ausência de justa causa para o
exercício da ação penal, se entende que
consiste na falta de qualquer elemento
indiciário da existência do crime ou de sua
autoria, ou seja, a justa causa é o interesse
de agir, de forma que para ser recebida, a
mesma deve vir acompanhada de um
suporte probatório que demonstre a
verossimilhança da acusação.[13] Nesta
decisão de rejeição, Aury Lopes Jr. (2014,
p. 296)[14] influi que “caberá o recurso em
sentido estrito (...)”.

Ademais, Aury Lopes Jr.[15] ensina


ainda que “da decisão que recebe a
denúncia ou queixa, como regra não cabe
recurso algum”, e que “na falta de previsão
legal de recurso, o imputado poderá
ajuizar habeas corpus (que não é recurso,
senão uma ação) para o trancamento do
processo (...)”.

Recebimento da denúncia
A jurisprudência e a doutrina divergem
acerca da necessidade ou não de
fundamentação da decisão de recebimento
ou não da denúncia.

Capez entende que “o recebimento da


denúncia ou queixa implica escolha judicial
entre a aceitação e a recusa da acusação,
tendo, por essa razão, conteúdo decisório, a
merecer adequada fundamentação”.[13]

A jurisprudência, entretanto, conforme os


extraídos da obra de Fernando
Capez[16] tem entendido que a denúncia não
possui carga decisória, de modo que não
precisa ser fundamentada até porque
implicaria em uma antecipação do exame
do mérito.[17]

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