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PROCESSO PENAL elementos probatórios poderão ser

fornecidos por ele, desde que resultantes


- PACELLI de atividades lícitas. Se houver ilicitude na
respectiva obtenção, a regra é a
inadmissibilidade da prova.Por fim, vale
A FASE PRÉ PROCESSUAL: destacar que existe a possibilidade de
A INVESTIGAÇÃO “investigação defensiva”, o que sempre
esteve à disposição dos réus e também
CRIMINAL das vítimas (ainda que à margem de
Prevê a Lei nº 12.830/13 (LEI DE previsão expressa). Tais provas serão
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL) que a denominadas como peças de informação.
função de investigação é essencial e Como se observa, o inquérito é
privativa do Estado (art. 2º). O nosso CPP, dispensável à propositura de ação penal,
então, defere a determinados órgãos, podendo a acusação formar o seu
responsáveis pela segurança pública, a convencimento a partir de quaisquer
competência para a investigação da outros elementos informativos.
existência dos crimes comuns, o que O juiz, nessa fase, deve
ocorre pela polícia judiciária,termo que diz permanecer absolutamente alheio à
respeito às policiais comuns e que não qualidade da prova em curso, somente
deve ser motivo de confusão com a ação intervindo para tutelar violações ou
do Juiz, isso pois Juiz não investiga e nem ameaça de lesões a direitos e garantias
aproveita o material colhido pela polícia individuais das partes, ou para, mediante
para o exercício de sua função provocação, resguardar a efetividade da
jurisdicional. O órgão que cumpre essa função jurisdicional, quando, então,
função é o Ministério Público. exercerá atos de natureza jurisdicional.
Embora a citada legislação (Lei nº
Em relação a aplicação de
12.830/13) se utilize da expressão
princípios como o contraditório, tem-se
privativa ao se referir à atividade de
que este não é exigido na fase de
investigação, reservando-a à Polícia,
inquérito, mesmo com as alterações
impende observar que outras autoridades
trazidas com a Lei nº 11.690/08,
administrativas também detêm poderes de
instituindo a possibilidade de o acusado
investigação, quando especificamente
indicar assistente técnico para a
dirigidos para a apuração de outras
apreciação da perícia oficial,
ilicitudes, situadas no âmbito do
permitindo-lhe inclusive a apresentação
respectivo poder administrativo.
de pareceres (art. 159, § 5º, CPP) e
esclarecimentos orais. Isso pois o que se
Art. 4º CPP A polícia judiciária será
exercida pelas autoridades policiais no
garante é o direito do defensor técnico,
território de suas respectivas mas não a garantia do conhecimento
circunscrições e terá por fim a apuração prévio e imediato da investigação em
das infrações penais e da sua autoria. curso, ou seja, o direito existe, mas ele
Parágrafo único. A competência definida não é uma exigência obrigatória, assim,
neste artigo não excluirá a de autoridades requisitando-se será atendido.
administrativas, a quem por lei seja
cometida a mesma função. Daí por que correta a decisão da
6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça,
Ainda, em relação ao particular, no julgamento do HC nº 69.405-SP, Rel.
este pode apresentar eventuais Min. Nilson Naves, em 23.10.2007, ao
2

determinar a realização de diligências informações ou provas que sabe serem


requeridas pela defesa, ao tempo que falsas. Nesse caso, poderá configurar a
assinalava que, naquele caso concreto, a hipóteses de denunciação caluniosa (art.
medida não implicaria nenhum prejuízo ao 339, CP), comunicação falsa de crime ou
procedimento investigatório. contravenção (art. 340, CP) e/ou crimes
contra a honra de terceiros (arts. 138 e
A Lei 13.964/19, por sua vez, ao
seguintes, CP).
criar o art. 14-A no CPP, inovou ao
A lei excepciona a possibilidade de
determinar a citação obrigatória do
revelação da identidade quando presente
investigado quando se tratar de apuração
“relevante interesse público ou interesse
de uso de força letal praticado por agente
concreto para a apuração dos fatos” (art.
de segurança pública (o que inclui
4º-B), mas impõe uma condicionante: a
bombeiros militares, além de policiais
revelação somente poderá ser feita com a
civis, federais, rodoviários, ferroviários e
concordância prévia do denunciante
militares, e, ainda, os integrantes das
(parágrafo único do art. 4º-B).
Forças Armadas que estejam em missões
Ainda, deve-se observar que a
para garantia da lei e da ordem) no
partir da cláusula constitucional da
exercício da função, bem como a garantia
vedação do anonimato (art. 5º, IV, in fine),
de designação de defensor a ele. O que
a Suprema Corte teve oportunidade de
não constitui desigualdade no curso da
ressaltar a impossibilidade de instauração
investigação, mas meio de garantir os
de persecução criminal – leia-se, inquérito
interesses da Administração Pública.
policial ou procedimento investigatório –
INQUÉRITO POLICIAL1 com base unicamente em notitia criminis
Quem preside e conduz o inquérito apócrifa, salvo quando o documento em
policial é o Delegado de Polícia ou o questão tiver sido produzido pelo acusado
Delegado de Polícia Federal2. Apenas (segundo a acusação), ou constituir o
eles, como se sabe e vem garantido em próprio corpo de delito. STJ: “Inexiste
Lei (12.830/13 – art. 2º, § 1º), não ilegalidade na instauração de inquérito
cabendo ao MP. Assim, frente a uma ação com base em investigações iniciadas por
penal pública, a autoridade policial pode notícia anônima, eis que a autoridade
instaurar o inquérito de ofício. policial tem o dever de apurar a
A tomada de conhecimento dos veracidade dos fatos alegados.
fatos pode ocorrer por uma das partes (Inteligência do artigo 4º, § 3º, CPP)” (HC
envolvidas no processo por meio de nº 106040/SP, Rel. Min. Jane Silva –
queixas, mas também por terceiros, que Desemb. Convocada do TJ/MG, 6ª Turma,
possui direito de proteção integral ao DJ de 8.9.2008).
denunciante contra retaliações e isenção No que respeita à fase
de responsabilidade civil ou penal quanto investigatória, entretanto, observa-se que,
ao teor do relato, salvo, por evidente, se o diante da gravidade do fato noticiado e da
denunciante apresentar, dolosamente, verossimilhança da informação, a
autoridade policial deve encetar
1
Procedimento administrativo e preparatório da diligências informais, isto é, ainda no
ação penal, conduzido pela polícia judiciária que
tem como finalidade colher elementos de autoria e
plano da apuração da existência do fato –
materialidade e não da autoria – para comprovação da
idoneidade da notícia.
2
Lei nº 12.830/13 diz respeito à impossibilidade de Quanto à instauração do inquérito,
remoção arbitrária do Delegado de Polícia, o que
confere maior transparência e segurança à atividade quando cuidar-se de ação pública
de investigação. condicionada à manifestação
3

(representação) do interessado (ofendido ostentar contornos de criminalidade, isto


ou alguém com qualidade para é, faltar a ele quaisquer dos elementos
representá-lo), ou, ainda, de requisição do constitutivos do crime. Em tais hipóteses,
Ministro da Justiça, o inquérito policial caberá recurso ao órgão competente.
somente poderá ser instaurado a partir de Todavia, tratando-se de requisição do MP
requerimento ou requisição do respectivo o, a autoridade policial está obrigada à
interessado (isto é, aquele que, na ação adoção das providências requisitadas.
pública condicionada, detém poderes de
Vale ainda uma observação ao
representação), conforme previsto no § 4º
referido artigo, em seu inciso II, isso pois,
do art. 5º do CPP. Igual procedimento
atualmente, tendo o juiz tomando
será observado no caso de ação penal
conhecimento da possível existência de
privada, cuja legitimação para a
fato delituoso, deverá encaminhar as
instauração pertence ao particular, ou
peças ao órgão do Ministério Público, tal
legitimado (art. 5º, § 5º, CPP).
como se encontra disposto no art. 40 do
CP.
Art. 5o Nos crimes de ação pública o
inquérito policial será iniciado:
PROCEDIMENTO

I - de ofício;3 (ação penal pública


incondicionada) O inquérito policial tem prazo certo
para a conclusão das investigações,
II - mediante requisição da autoridade
devendo encerrar-se, em regra, em 10
judiciária ou do Ministério Público, ou a
dias, quando preso o indiciado, ou em 30,
requerimento do ofendido ou de quem tiver
qualidade para representá-lo.
quando solto. Na Justiça Federal, o prazo
é de 15 dias, estando preso o acusado,
§ 3o Qualquer pessoa do povo que tiver podendo, todavia, ser prorrogado por
conhecimento da existência de infração
mais 15, chegando, então, a 30, nos
penal em que caiba ação pública poderá,
termos do art. 66 da Lei nº 5.010/66. Se
verbalmente ou por escrito, comunicá-la à
autoridade policial, e esta, verificada a estiver solto, o prazo segue a regra
procedência das informações, mandará comum, ou seja, será de 30 dias.
instaurar inquérito. De outro lado, a Lei nº 11.343/06,
que, revogando expressamente as
§ 4o O inquérito, nos crimes em que a ação
pública depender de representação, não
anteriores, Lei nº 6.368/76 e Lei nº
poderá sem ela ser iniciado. 10.409, de 11 de janeiro de 2002, cuida
do procedimento em matéria processual
§ 5o Nos crimes de ação privada, a
relativa aos chamados crimes de tóxicos,
autoridade policial somente poderá
prevê o prazo de 30 dias para o
proceder a inquérito a requerimento de
quem tenha qualidade para intentá-la. encerramento do inquérito, quando preso
o indiciado, ou de 90, quando solto,
O Código de Processo Penal conforme disposto em seu art. 51.
permite à autoridade policial a recusa de Segundo o parágrafo único do aludido
instauração de inquérito quando o dispositivo, esse prazo poderá ser
requerimento do ofendido ou seu duplicado pelo juiz, mediante
representante não apresentar conjunto representação da autoridade policial (ou
indiciário mínimo à abertura das requerimento do Ministério Público,
investigações, ou quando o fato não acrescentaríamos nós), sempre
3
A atual doutrina entende que existem limitações
justificada.
que são incompatíveis com o ordenamento atual,
assim, exige-se notitia criminis (cognição imediata)
4

Nos crimes contra a economia Após as considerações gerais, é


popular (Lei nº 1.521/51) é previsto o importante ressaltar que as providências
prazo de 10 dias para a conclusão do que devem ser adotadas pelos oficiais de
inquérito, estando preso ou não o polícia se encontram nos artigos 6º a 23
indiciado/acusado (art. 10, § 1º). do CPP e m apontadas na Lei nº
Vale ressaltar que segundo 12.830/13 (art. 2º, § 2º).
disposições da Lei nº 12.483, o inquérito No entanto, a adoção de quaisquer
em que o indiciado, vítima ou acusado providências que estejam protegidas
estiver sobre proteção à Lei nº 9.807/99 pelas cláusulas da reserva da jurisdição,
(Lei de proteção à vítimas e testemunhas) isto é, que digam respeito ao
deve ter prioridade tangenciamento dos direitos fundamentais
Deve-se também observar que é das pessoas, deverá vir precedida de
inadmissível e inconstitucional, por ordem judicial. Com isso, mandados de
violação ao princípio acusatório, a regra busca e apreensão de coisas e/ou
trazida com a Lei nº 11.690/08, que, pessoas, interceptações telefônicas e/ou
dando nova redação ao art. 156 do CPP, de dados, gravações ambientais, e,
prevê a possibilidade de o juiz determinar, assim, qualquer invasão das
de ofício, diligências probatórias no curso inviolabilidades constitucionais (direito à
da investigação criminal (art. 156, I, CPP). honra, à imagem, à privacidade, à
No que diz respeito ao acesso dos intimidade etc., art. 5º, X, XI e XII)
advogados aos autos do inquérito, como dependem de ordem judicial.
regra, este tem acesso aos autos. Mas, vale a ressalva do artigo 13 A
Existindo ainda Súmula Vinculante 144 do do CPP:
Supremo Tribunal Federal, que tem o Art. 13-A. Nos crimes previstos nos
seguinte texto: “É direito do defensor, no arts. 148 (sequestro), 149 (trabalho analogo
interesse do representado, ter acesso a escravidão) e 149-A (crime a liberdade
amplo aos elementos de prova que, já individual), no § 3º do art. 158 (constragem
liberdade para obter fins economicos) e no
documentados em procedimento
art. 159 (sequestro com fins economicos)
investigatório realizado por órgão com
do Código Penal, e no art. 239 da Lei no
competência de polícia judiciária, digam 8.069 (Estatuto da Criança e do
respeito ao exercício do direito de Adolescente), o membro do Ministério
defesa.” O fato é que, se a investigação Público ou o delegado de polícia poderá
assim o exigir, será perfeitamente requisitar, de quaisquer órgãos do poder
aceitável a restrição ao aludido acesso, público ou de empresas da iniciativa
quando for a hipótese de realização privada, dados e informações cadastrais
(representação à autoridade judicial) de da vítima ou de suspeitos. (Incluído pela
provas de natureza cautelar e, por isso, Lei nº 13.344, de 2016)
urgentes (RMS – 12.754 – STJ – Outra regra agora inserida no
24.3.2003), NO STF (HC nº 65303/PR, Código de Processo Penal, através do art.
Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 5ª Turma, 13-B, afirma que, nos crimes associados
DJ de 20.5.2008). Afinal, não se exige o ao tráfico de pessoas, o membro do
contraditório na investigação. Ministério Público ou o delegado de
polícia poderão requisitar, mediante
4
AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1998980 - autorização judicial, às empresas
GO: É cabível o acesso aos elementos de prova já prestadoras de serviço de
documentados nos autos de inquérito policial aos telecomunicação e/ou telemática que
familiares das vítimas, por meio de seus advogados
ou defensores públicos, em observância aos limites disponibilizem imediatamente os meios
estabelecidos pela Súmula Vinculante n. 14. técnicos adequados – como sinais,
5

informações e outros – que permitam a pertinência ou oportunidade por parte da


localização da vítima ou dos suspeitos do autoridade policial, que deverá cumpri-las
delito em curso. tais como requisitada.
Ainda no que diz respeito a
ARQUIVAMENTO67
necessidade de autorização judicial,
tem-se a necessidade de ordem escrita e Encerradas as investigações, não
fundamentada de autoridade judicial para podendo a polícia judiciária emitir
a imposição de medida cautelar pessoal qualquer juízo de valor – a não ser aquele
de suspensão do exercício de função meramente opinativo, constante do
pública, quando absolutamente relatório de encerramento do
necessário às finalidades de proteção da procedimento (art. 10, §§ 1º e 2º, CPP), o
investigação ou do processo (art. 319, VI, que será enviado ao MP, , que poderá
CPP). adotar as seguintes providências:
1. Oferecimento, desde logo, da
Cumpridas as diligências
denúncia; 2.devolução à autoridade
investigativas, poderá a autoridade policial
policial, para a realização de novas
promover o indiciamento5 daquele que
diligências, indispensáveis, a seu juízo, ao
entender autor ou partícipe do crime. A
ajuizamento da ação penal;
medida, que implica juízo de valor do
3. O requerimento de arquivamento do
Delegado de Polícia, será devidamente
inquérito, seja por entender inexistente o
fundamentada, segundo o disposto no art.
crime (tipicidade, ilicitude e culpabilidade),
2º, § 6º, da Lei nº 12.830/13, não
seja por acreditar insuficiente o material
vinculando, obviamente, o responsável
probatório disponível.
pelo juízo acusatório.
No terceiro caso, tem-se duas
PODER DE POLÍCIA E hipóteses de ação do juiz, sejam elas:
REPRESENTAÇÃO AO JUIZ: Concordando com o pedido
CAPACIDADE POSTULATÓRIA formulado pelo órgão do Ministério
Público, será determinado o arquivamento
dos autos, somente podendo ser
Tendo o conceito de capacidade
reabertas as investigações a partir do
postulatória como aquele de fazer valer e
surgimento de novas provas, o que
defender as próprias pretensões ou as de
configura como decisão, dado que a
outrem em juízo (propor a ação),
providência poderia ser diversa. Ainda,
entendemos que a ação da polícia penal é
nesses casos, o efeito do arquivamento é
autônoma daquela exercida pelo MP e
de coisa julgada material. (isso pois atua
que no processo penal não se exige
como hipóteses de absolvição sumária do
pressupostos como parte legítima,
art. 397, III e IV, CPP).
capacidade postulatória e outros. Assim, a
Problema prático relativo à decisão
atividade da autoridade policial possui
de arquivamento: caberia recurso da
capacidade postulatória.
decisão de arquivamento por parte de
Todavia, uma vez encerradas as
investigações, poderá o parquet requisitar
6
a adoção de outras diligências que lhe Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar
arquivar autos de inquérito.
pareçam necessárias à formação de sua
opinio delicti. E essas diligências não se 7
Súmula 524 STF: Arquivado o inquérito policial,
submeterão também a qualquer juízo de por despacho do juiz, a requerimento do promotor
de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem
5
Ato privativo da autoridade policial. Que pode ser novas provas.
desfeito caso ocorra desconvencimento.
6

outro membro do mesmo parquet? Pacelli conclusão é a mesma: o Supremo


entende que essa possibilidade não deve Tribunal Federal estará compelido a
ocorrer, pois a oposição ao arquivamento determinar a providência assim
pode partir apenas de outro juízo encaminhada (Pet. 2.509, AgR/MG e Pet.
competente. 2.820 Agr/RN, Rel. Min. Celso de Mello,
Observe-se, ainda, que a decisão em 18.2.2004).
de arquivamento do inquérito ou das
peças de informação deve ser sempre ARQUIVAMENTO INDIRETO
explícita, para tornar indiscutível a matéria
(Nesse sentido, decisão da Suprema Também merece registro a
Corte: RHC 95141/RJ, Rel. Min. Ricardo hipótese em que o órgão do Ministério
Lewandowski, 6.10.2009). Público, em vez de requerer o
Se o juiz discordar da arquivamento ou o retorno dos autos à
manifestação ministerial, recusando-se a polícia para novas diligências, ou, ainda,
promover o arquivamento dos autos, de não oferecer a denúncia, manifesta-se
estes devem ser encaminhados à chefia no sentido da incompetência do juízo
da instituição, nos termos do art. 28 do perante o qual oficia, recusando, por isso,
CPP. atribuição para a apreciação do fato
investigado.
Art. 28. Qualquer pessoa do povo poderá
É o que ocorrerá, por exemplo, no
provocar a iniciativa do Ministério Público,
âmbito da Justiça Federal, quando o
nos casos em que caiba a ação pública,
fornecendo-lhe, por escrito, informações Procurador da República entender que o
sobre o fato e a autoria e indicando o crime acaso existente não se inclui entre
tempo, o lugar e os elementos de aqueles para os quais ele tem atribuição,
convicção. ou seja, que a hipótese não configura, em
tese, crime federal, e sim estadual. Em
É possível também que lhe pareça tais circunstâncias, ele deverá recusar
conveniente o retorno dos autos à atribuição para o juízo de valoração
autoridade policial para nova colheita de jurídico-penal do fato, requerendo ao juiz
provas, deixando de opinar que seja declinada a competência para a
conclusivamente sobre a matéria. Mesmo Justiça Estadual.
nesta hipótese, deverá ser designado
novo membro do parquet, preservando-se TRANCAMENTO DE INQUÉRITO VIA
a independência funcional do primeiro. HABEAS CORPUS
De outro lado, se o
Está diretamente relacionado a
Procurador-Geral aderir à manifestação
teratologia, ou seja, abuso. Aqui o ato que
feita pelo órgão do parquet de primeira
deu origem ao inquérito é manifestamente
instância, o juiz é então obrigado a
atípico, ou quando ocorre extinção da
determinar o arquivamento do inquérito.
punibilidade e por fim quando inexiste
De todo o exposto, conclui-se que,
justa causa para se instaurar inquérito.
em matéria penal, cabe ao Ministério
Utiliza-se o HC em virtude da
Público dizer definitivamente acerca do
celeridade, dado a ameaça de
não ajuizamento de ação penal, isto é, em
cerceamento da liberdade de locomoção.
relação ao arquivamento de inquéritos
policiais ou de peças de informação. Até
mesmo perante a Suprema Corte, uma
vez requerido o arquivamento, a
7

CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES NO De outro lado, a Lei nº 9.964, de


ÂMBITO DO MINISTÉRIO PÚBLICO 10 de abril de 2000, criou a inacreditável
figura da suspensão da pretensão punitiva
(desde que a adesão ao parcelamento se
Quando o conflito de atribuição se
dê antes do recebimento da denúncia,
estabelece entre órgãos do Ministério
conforme dispõe o art. 15), para todos os
Público do mesmo Estado, não há
delitos de ordem tributária – como se o
qualquer problema para a sua solução.
juízo de reprovação que alimenta o
Caberá ao respectivo Procurador-Geral de
desvalor da conduta e do resultado do
Justiça, ou mesmo a outro órgão
tipo penal pudessem ser temporariamente
colegiado que integra a hierarquia
adiados.
superior da instituição, resolver a questão.
A suspensão da pretensão punitiva
(art. 15, Lei nº 9.964/00) ocorrerá
INQUÉRITO POLICIAL E EXTINÇÃO
enquanto a pessoa jurídica (ou física,
DA PUNIBILIDADE
acrescentaríamos nós) relacionada com o
A) quando o Ministério Público entender já agente estiver incluída no Refis (Plano de
prescrito o fato, ou, de qualquer modo, Recuperação Fiscal), isto é, enquanto
extinta a punibilidade8, deverá ele estiver submetida ao programa e
requerer o arquivamento do inquérito enquanto estiver cumprindo regularmente
policial ou das peças de informação, sob o parcelamento do débito tributário e/ou
tal fundamentação; previdenciário concedido à empresa em
B) quando houver o oferecimento de cuja administração e gerência realizou-se
denúncia e, posteriormente, se o ilícito. Ao final deste (parcelamento),
reconhecer qualquer causa de extinção decretar-se-á extinta a punibilidade pelo
da punibilidade, a solução será aquela pagamento integral do crédito fiscal.
preconizada no art. 396 e no art. 397, com Mas esclareça-se: a questão da
a citação, defesa e absolvição sumária, condição de punibilidade se refere aos
passível de recurso de apelação (art. 416, crimes materiais (Lei nº 8.137/90, art. 1º)
CPP) e não àqueles de natureza formal, como
Ainda sobre o tema da extinção da ocorre com os delitos de não repasse, no
punibilidade, é importante lembrar que a prazo legal, de tributo ou contribuições
vigente Lei nº 9.249/95 prevê, em seu art. descontadas do contribuinte.9
34, a extinção de punibilidade dos crimes De outra parte, mas com
contra a ordem tributária quando o propósitos semelhantes, registre-se
pagamento do débito ocorrer antes do também o disposto no art. 86 e art. 87 da
recebimento da denúncia. Aos olhos do Lei nº 12.529. Ali se mantém a regra
Superior Tribunal de Justiça, pouco resultante do acordo de leniência,
importa se o pagamento foi total ou celebrado por pessoas físicas e jurídicas
parcial (parcelamento, por exemplo), para que tenham praticado infrações contra a
que haja a extinção da punibilidade:(STJ, ordem econômica.
AgRg no REsp 765.499/RS, Rel. Jane A citada legislação prevê que,
Silva (Desembargadora convocada do quando as aludidas pessoas colaborarem
TJ/MG), 6ª Turma, julgado em 20.5.2008, para as investigações, com resultado útil,
DJe 9.6.2008). o acordo de leniência suspenderá o curso
9
Súmula Vinculante 24: Não se tipifica crime
material contra a ordem tributária, previsto no art.
8
A extinção de punibilidade ocasiona efeito de 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/90, antes do
coisa julgada, exceto se houver fraudes. lançamento definitivo do tributo.”
8

do prazo prescricional e impedirá o diligências cujo empreendimento está


oferecimento de denúncia nos delitos acobertado pela exigência de autorização
contra a ordem econômica, ao final do judicial, a ela se reportará o Ministério
acordo, restará extinta a punibilidade. Público, tal como ocorre em relação à
polícia investigativa.
INQUÉRITO POLICIAL E → No que diz respeito à irregularidade
EXCLUDENTE DE ILICITUDE das provas , não se poderá falar em prova
obtida ilicitamente, ou na consequência
Tanto a doutrina como as cortes
da ilicitude da prova (cujo objetivo é a
superiores possuem divergências acerca
tutela de direitos fundamentais), e, assim,
das consequências das excludentes de
na contaminação das etapas
ilicitude no processo inquisitorial.
investigatórias seguintes. No julgamento
Isso pois o STF entende que
do HC nº 83.157/MT, 2ª Turma, Rel. Min.
quando sobrevier excludente de ilicitude o
Marco Aurélio, julgado em 1.7.2003, os
inquérito será trancado, mas poderá,
eminentes Mins. Joaquim Barbosa, Carlos
eventualmente, ser reaberto.
Britto, Carlos Velloso e Sepúlveda
Todavia, o STJ entende que cabe
Pertence, contrariando o entendimento do
o incidente de coisa julgada, ou seja, a
Relator, deixaram expressamente
impossibilidade de reabrir o inquérito
consignado que os depoimentos de
testemunhas prestados perante o
INVESTIGAÇÕES ADMINISTRATIVAS
Ministério Público não eram ilegais, nem
Embora a Constituição Federal ilícitos, portanto. Em suma, não se pode
(art. 144) e a Lei nº 12.850/13 assegurem aplicar a teoria dos frutos da árvore
caber às polícias judiciárias a investigação envenenada (art. 157, § 1º, CPP) em tais
das infrações penais (art. 144), é bem de situações.
ver que outras autoridades
10
administrativas terminam por investigar LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE
fatos que também constituem crimes,
A referida lei exige a finalidade
desde que orientadas pelas finalidades e
específica de prejudicar outrem ou
atribuições a elas deferidas em Lei.
beneficiar a si mesmo (ou terceiro), ou,
A menos que se considere
ainda, que a conduta tenha sido tomada
ressalvado o poder de requisição de
por mero capricho ou satisfação pessoal.
providências e de diligências por parte do
Ministério Público.

Observações sobre a ação do MP


DA AÇÃO PENAL11
O processo penal não deve ser
→Quando se tratar de réu preso, o entendido como um campo onde direitos
Ministério Público jamais poderá serão disputados, isso pois não existe
empreender investigação paralela, diante igualdade entre as partes e seus
das consequências inexoráveis da interesses. De um lado existe o Estado
indispensável instauração do inquérito coercitivo, o qual pretende aplicar uma
policial, exigida pelo fato da prisão. Do
mesmo modo, quando se tratar de
11
Peça inaugural da fase processual que materializa
10
Declaração da IX Conferência Nacional dos o direito público subjetivo de exigir prestação
Direitos Humanos (art. 22), incentiva os poderes jurisdicional na aplicação do direito objetivo. Pode
investigatórios do Ministério Público, para o fim de ser caracterizada como subjetiva, autônoma,
uma proteção mais adequada aos direitos humanos. abstrata e determinável.
9

pena pública e do outro um indivíduo que pública e o interesse individual da


pretende resguardar seus direitos. liberdade pode ser tanto verdadeiro
Assim, deve ocorrer a quanto falso, dependendo do ângulo sob
estruturação dialética do processo penal, o qual se examina a questão. De modo
de tal modo que se possa exigir, sempre, mais centrado no conteúdo, tem-se que
a efetiva participação defensiva (que deve no processo com a prisão do réu ou
ser comprometida com limites do caso outras sanções pode até provocar
concreto), necessariamente contrária à satisfação pessoal do ofendido, mas
tese acusatória, permitindo ao juiz o certamente não reverterá em seu favor,
amplo conhecimento da causa, a fim de se, por exemplo, a coisa furtada não for
se atingir e de se chegar a uma decisão devolvida. E, sendo devolvida, a
participada, proferida após o esgotamento satisfação do interesse terá natureza
das possibilidades de refutação da irremediavelmente patrimonial, ou seja,
denúncia ou da queixa. não penal. No mais, ainda é impossível
Esclareçamos: por dialética, aqui, se falar em resistência a solução do
entendemos o método para a conflito por uma mera defesa técnica,
compreensão acerca de determinado seria necessário a oposição pessoal do
conhecimento humano. Parte-se de uma acusado.
afirmação de algo (a tese); em seguida, No processo penal, trabalha-se
nega-se tal afirmação, opondo-lhe o com o que se convencionou chamar de
contrário (antítese). Feito isso, renova-se pretensão punitiva, que significa a
a negação (já, agora, da negação), pretensão condenatória de imposição da
logrando-se alcançar uma síntese, que sanção penal ao autor do fato tido por
poderá se aproximar da primeira delituoso.
afirmação (tese). Trata-se, então, de um
movimento de afirmações e negações, de CONDIÇÕES DE AGIR
modo a expandir as possibilidades do Estas atuariam, então, como uma
entendimento sobre aquele algo a ser necessária mitigação do direito,
conhecido. abstratamente assegurado a todos, à
Ao concluir, entende-se que o provocação da jurisdição,
processo penal não é mero meio de independentemente da obtenção de
aplicação do direito penal, indo muito qualquer resultado favorável (teorias do
além disso, uma vez que se trata aqui direito abstrato de ação). Dentre as quais
com partes extremamente desiguais, que, se deve observar A) a existência de um
por vezes, sequer podem ser chamadas fato (materialidade); B) ser este fato
de parte. imputável ao acusado (autoria); C)
constituir este fato uma ação típica, ilícita
PRETENSÃO E LIDE e culpável (a materialidade normativa, ou,
em uma palavra, o crime, na sua definição
Não há quem, já iniciado nos dogmática [conceito analítico]); D) não se
estudos do processo, não conheça a encontrar extinta a punibilidade.
clássica concepção de Carnelutti,
segundo a qual a lide seria um conflito de →INTERESSE DE AGIR: o processo
interesses qualificado por uma pretensão deve mostrar-se, desde a sua
resistida. instauração, apto a realizar os diversos
Dizer que existe um conflito entre escopos da jurisdição, isto é, revelar-se
o interesse público ligado à segurança útil. Por isso, fala-se em
10

interesse-utilidade. Ainda, quando não apresente ao juízo criminal o pedido de


presente tal interesse, entendemos condenação do acusado, pouco
perfeitamente possível o requerimento de importando o eventual descompasso
arquivamento do inquérito ou peças de entre a sanção pretendida e aquela
investigação. cominada no tipo penal previsto para o
Mas, aqui vale ressaltar o fato imputado.
entendimento do STF da Súmula 438: “É Ainda manifesta a pretensão
inadmissível a extinção da punibilidade punitiva, o juiz, pode realizar a adequação
pela prescrição da pretensão punitiva com do fato à norma, impondo a solução de
fundamento em pena hipotética, direito que lhe parecer aplicável,
independentemente da existência ou sorte igualmente por força da emendatio libelli13
do processo penal”. prevista no art. 383 do CPP.
Questão diversa, e mais complexa,
→LEGITIMIDADE: À exceção do diz respeito às hipóteses de atipicidade
habeas corpus e da revisão criminal, o dos fatos imputados ao acusado, quando,
processo penal brasileiro impõe, como então, não mais propriamente do pedido
regra, a exigência de que somente se cuida, mas da causa dele. Ainda aqui
determinadas pessoas possam promover não se deixa de apresentar a ação,pois se
a ação penal. Impõe, pois, a exigência de trata de uma questão de mérito.
legitimidade ativa para a promoção e o
desenvolvimento de atividade →CONDIÇÕES DE PROCEDIBILIDADE:
persecutória. No processo penal, em determinadas
Como regra12, tal atividade é situações, a lei exige o preenchimento de
privativa do Estado, por meio do Ministério determinadas e específicas condições
Público (art. 129, CF), reservando-se a para o exercício da ação penal. Assim,
determinadas pessoas, em situações por exemplo, nas ações penais públicas
específicas, o direito à atividade condicionadas, o Ministério Público
subsidiária, em caso de inércia estatal, e à somente poderá ingressar com a ação se
iniciativa exclusiva do particular, em já oferecida a representação (autorização
atenção às peculiaridades de algumas ou consentimento do ofendido ou outro a
infrações penais e das consequências tanto legitimado) ou requisição do Ministro
específicas que delas resultam. da Justiça. (essa representação pode ser
Ainda, deve-se observar que também causa de prosseguibilidade)
existem distintas competências internas
ao próprio MP que devem ser respeitadas. →A JUSTA CAUSA (art. 395, III, CPP). : a
peça acusatória deveria vir acompanhada
→POSSIBILIDADE JURÍDICA DO de suporte mínimo de prova, sem os quais
PEDIDO: A observação que se impõe, é a acusação careceria de admissibilidade.
que, em tema de pedido, na ação penal A questão não poderia se reduzir a uma
condenatória, a exigência de disputa entre interesses de absolvição,
previsibilidade abstrata da providência pela manifesta ausência de provas, e
requerida não constitui óbice à interesses de acusação, no sentido mais
admissibilidade da ação e ao específico de parte (acusadora), dado que
conhecimento da pretensão. E assim é a mera acusação já causa no indivíduo
também porque a regra é que se
13
Emendatio libelli: mera correção da tipificação
atribuída aos fatos descritos na peça acusatória,
12
Exceção se faz na ação privada ou privada desde que não se aplique pena mais grave quando o
subsidiária da pública recurso for somente do réu.
11

uma série de efeitos negativos, no que se


refere a sua sociabilidade.
É de se ver importante decisão do b) Quanto às partes:
Supremo Tribunal Federal nesse sentido, 1. A capacidade processual ou
na qual se deferiu habeas corpus para legitimatio ad processum, isto é, a
trancar ação penal por ausência de capacidade de estar em juízo
suporte mínimo de prova (STF – HC nº (exemplificativamente, relembre-se
81.324/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Nelson do caso do ofendido menor de 18
Jobim,DJ 23.8.2002). anos que somente pode exercer o
direito de ação por meio de seu
REQUISITOS PROCESSUAIS representante legal, conforme art.
→EXISTÊNCIA: seria suficiente a 30, CPP). Note-se, ainda, que o
existência de órgão investido de jurisdição menor de 18 anos também não
(juiz, que não precisa aqui ser tem capacidade para integrar a
competente14) e de demanda (ato de relação processual nem mesmo
pedir), veiculando a pretensão. como réu (além da
Na questão da competência do inimputabilidade penal, de
juízo que se tem na verdade é causa de natureza material);
nulidade absoluta, e não de inexistência 2. A capacidade postulatória, devendo
do processo, é de se ver decisão do a parte, se não for habilitada, ser
Pleno da Suprema Corte (HC nº representada por advogado
80.263-0/SP, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ regularmente habilitado nos
27.6.2003). quadros da Ordem dos Advogados
do Brasil, à exceção da ação de
→VALIDADE: podem dizer respeito ora habeas corpus (art. 654, CPP),
ao juiz e às partes – e, por isso, são ação de revisão criminal (art. 623,
denominados subjetivos – ora ao próprio CPP), recursos (art. 577, CPP), e
objeto da ação penal (pretensão) – caso incidentes de execução, tais como
em que se fala em requisitos objetivos. pedido de reconhecimento de
anistia ou indulto (art. 187, Lei de
a) Quanto ao juiz: Execução Penal) e de reabilitação
1. a competência e a imparcialidade, (art. 743, CPP).
ou seja, a ausência de hipóteses
de suspeição, impedimento ou AÇÃO PENAL PÚBLICA
incompatibilidade, ainda que o art. INCONDICIONADA
564, I, do CPP, refira-se apenas à Aqui vale o princípio da
suspeição e ao suborno do obrigatoriedade, ou seja, quando o MP se
magistrado. Como vimos, a ver frente a um ato que configure um
imparcialidade do juiz é regra ilícito penal, ele tem de propor a ação.
imanente do sistema processual A partir disso, entende-se que
constitucional. ocorrendo a verificação de causas de
excludente de ilicitude, tipicidade e
14
Ninguém será processado pelo mesmo fato, de culpabilidade, fica o parquet
que já tenha sido absolvido em outro processo disponibilizado à arquivar a ação. Tal
(vedação da revisão pro societate), ainda que
desenvolvido com violação à regra do juiz natural somente será possível quando a prova da
(art. 8º, 4, do Pacto de San José da Costa Rica, existência das excludentes se apresentar
vigente por força de tratado internacional ao qual o de modo indiscutível e incontestável, a
Brasil aderiu, conforme Decreto nº 678/92).
12

senso comum, isto é, estreme de qualquer competente. Aponte-se ainda que o § 12


dúvida razoável. determina que a celebração e
cumprimento do acordo de não
→ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO persecução penal não constarão em
PENAL: dispõe o art. 28-A do Código de certidão de antecedentes criminais (salvo
Processo Penal, que o acordo de não registro para evitar que o mesmo agente
persecução penal se restringe aos crimes seja beneficiado novamente pelo instituto
cometidos sem violência ou grave em um prazo inferior a 5 anos).
ameaça, com pena mínima inferior a 4 Na hipótese de descumprimento
(quatro) anos, sendo vedado para do acordo, o Ministério Público deverá
aqueles com conduta criminosa comunicar o fato ao juízo, para fins de
profissional, reincidentes e crimes de rescisão e posterior oferecimento de
violência doméstica (art. 28-A, § 2º, II, denúncia (§ 8º).
CPP).
A proposta deverá ser aplicada no AÇÃO PENAL PÚBLICA
caso do Ministério Público entender ser CONDICIONADA
necessário e suficiente para a reprovação
Aqui, em virtude da possibilidade
e prevenção do crime.
de produção de novos danos em seu
Ainda, pode-se observar que o
patrimônio – moral, social, psicológico etc,
juízo de garantias pode negar o acordo
reserva-se à vítima a conveniência da
quando considerar inadequadas,
ação penal, o que gerará a possibilidade
insuficientes ou abusivas as condições
de representação.
impostas no ajuste. Pode ainda o acusado
Pode ser oferecida sem mais
submeter o acordo à revisão do órgão
formalidades, verbalmente ou por escrito,
revisional do próprio MP (art. 28-A, § 14,
bastando a demonstração clara do
CPP).
interesse do ofendido em ver apuradas a
Em caso de aprovação, o
autoria e a materialidade do fato, dele
investigado deverá reparar o dano ou
exigindo-se, apenas, e se for possível, “a
restituir a coisa à vítima, quando possível; narração do fato, com todas as
renunciar a bens e direitos indicados pelo circunstâncias; a individualização do
Ministério Público como instrumento, indiciado ou seus sinais característicos e
produto ou proveito de crime; prestar as razões de convicção ou de presunção
serviços à comunidade ou entidades de ser ele o autor da infração, ou os
públicas por período correspondente à motivos de impossibilidade de o fazer”
pena mínima do delito, diminuída de um a (art. 5º, § 1º, a, b, CPP). e (HC 130.000,
dois terços; pagar prestação pecuniária a Rel. Laurita Vaz, setembro de 2009).
entidade pública ou de interesse social No que tange respeito a
que tenha preferencialmente como função capacidade de legitimação, tem de ser
proteger bens jurídicos iguais ou pessoa capaz e maior de 18 anos.
semelhantes aos aparentemente lesados (menores serão representados legalmente
pelo delito; ou cumprir por prazo ou curatelados). No caso de morte ou
determinado outra condição indicada pelo ausência, judicialmente reconhecida, do
Ministério Público, desde que compatível ofendido, o direito de representação
e proporcional ao crime praticado (art. passará ao cônjuge, ascendente,
28-A, I, II, III, IV e V). descendente ou irmão, nesta ordem (art.
Após o cumprimento integral dos 24, § 1º, e art. 36, por interpretação
termos do acordo, será declarada a analógica, ambos do CPP).
extinção da punibilidade pelo juízo
13

O Código de Processo Penal sobre apenas um par dos acusados.


dispõe que a representação será (caso contrário permite rejeição)
irretratável após o oferecimento da Pacelli entende que essa
denúncia (art. 25, CPP), pois a partir modalidade de ação possui uma
desse momento o fato delituoso seria de problemática que seria o interesse não
conhecimento geral. penal do ofendido. Ou seja, o autor
Vale ainda a observação de que entende que sendo o direito ultima ratio,
parte da doutrina entende como quando o agente se dispõe a enfrentar a
impossível a retratação por parte de problemática pelo âmbito jurídico ele tem,
funcionários públicos15 que sofreram necessariamente, que enfrentar esse
qualquer dano no exercício de suas problema de forma pública, visto que
funções, visto haver um interesse da qualquer que seja o crime existe interesse
administração pública. Todavia, Pacelli penal.
entende em sentido contrário. Pelas razões já expostas é que se
No mais, a representação não afirma a existência de um poder
exige qualquer tipo de formalismo, discricionário do ofendido ou dos demais
bastando, em alguns casos, o mero legitimados (art. 31, CPP), únicos árbitros
estabelecimento de boletim de ocorrência. da conveniência e da oportunidade de se
O prazo é entendido como decadência de instaurar a ação penal nos crimes cuja
6 meses, contando a partir do persecução seja de iniciativa privada.
conhecimento da autoria. Assim, o ofendido fica possibilitado a
Ainda, parte da doutrina entende apresentar renúncia, que pode ser
que existe uma eficácia objetiva da expressa ou mesmo tácita.
representação, onde não seria necessário Do mesmo modo que ocorre em
que a vítima apontasse os acusados, mas relação à renúncia, o querelante pode
apenas o fato ilícito, o que possibilitaria ao também recusar ou abdicar do direito à
MP denunciar qualquer suspeito, mesmo ação penal já instaurada, manifestando,
sem conhecimento por parte da vítima. por diversas maneiras, o desinteresse em
seu prosseguimento, independentemente
DA AÇÃO PRIVADA de qualquer justificativa. A perempção é,
Ocorre para reservar inteiramente pois, a perda do direito de prosseguir na
ao seu respectivo titular – ofendido e/ou ação penal já instaurada, cujo efeito é a
legitimados para o processo – não só o extinção da punibilidade, consoante o
juízo de conveniência e oportunidade da disposto no art. 107, IV, do CP.
ação, mas, sobretudo, para permitir que o Essa renúncia pode ocorrer por
ofendido manifeste livremente a sua força de lei, em caso do agente deixar de
convicção – opinio delicti – acerca da dar andamento no processo por mais de
existência do crime e da suficiência da dias seguidos. Configura também causa
prova para a instauração da ação penal, de perempção o fato de deixar o autor
que é indivisível, ou seja, não pode recair (querelante) de comparecer, sem motivo
justificado, a qualquer ato do processo a
15
que deva estar presente, ou, ainda, deixar
STF Súmula 714: “É concorrente a legitimidade
do ofendido, mediante queixa, e do Ministério
de formular o pedido de condenação nas
Público, condicionada à representação do ofendido, alegações finais (art. 60, III, CPP). É
para a ação penal por crime contra a honra de causa de perempção, ainda, a morte do
servidor público em razão do exercício de suas querelante sem sucessores, ou quando,
funções.” Deve ser entendida como alternativa,
pois o MP não pode agir de ofício, mas o havendo sucessores, estes não se
funcionário pode deixar a cargo do MP. habilitarem a prosseguir na ação no prazo
14

de 60 dias. (SÃO CAUSAS DE estabelece que o prazo prescricional nos


EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE) crimes contra a dignidade sexual de
Ainda, pode ocorrer o perdão, o crianças e adolescentes somente terá
que gera extinção de punibilidade, mas início na data em que a vítima completar
não quer dizer que o réu ao aceitar se 18 (dezoito anos). Fez-se ali ressalva,
declara culpado, isso pois não implica quando já proposta a ação penal, ao
assunção de culpa e responsabilidade entendimento de que não mais se poderia
civil.Vale dizer que a aceitação do perdão falar na prescrição.
pode ocorrer de forma tácita ou expressa,
dentro ou fora do processo. AÇÃO PRIVADA PERSONALÍSSIMA
Deve-se observar que em caso de Ainda na linha da
ocorrer o perdão ou renúncia a ação deve discricionariedade, a nossa legislação,
recair sobre todos os acusados, pois a para determinados delitos, reserva
ação penal é indivisível. Essas situações exclusivamente ao ofendido o juízo de
devem ser garantidas pelo próprio MP(art. conveniência acerca da propositura da
48 do CPP). Essa ação de ação penal, não sendo facultada a
supervisionamento da indivisibilidade ninguém a substituição processual em
deve ocorrer também para o oferecimento caso de morte ou ausência do
da queixa, ou seja, caso o MP perceba interessado. É o que ocorre na hipótese
que um possível autor do delito não tenha do crime contra o casamento definido no
sido denunciado, cabe a ele realizar essa art. 236 do CP.
ação16. Mas, deve-se observar que a
possibilidade de aditação pelo MP apenas AÇÃO PENAL SUBSIDIÁRIA DA
pode ocorrer após a propositura da ação
PÚBLICA
por parte do ofendido e, ainda, deve
respeitar os limites da ação privada, ou Prevê a Constituição Federal, em
seja, não pode realizar ação que é seu art. 5º, LIX, que “será admitida ação
exclusiva ao ofendido. privada nos crimes de ação pública, se
No que diz respeito ao ofendido, esta não for intentada no prazo legal”.
este não é obrigado a dar continuidade a Aqui se deve entender que não se trata
ação, podendo perdoar todos Por fim, em da demora no curso processual, mas sim
virtude da característica célere da ação o a inexistência de qualquer ação por parte
prazo é entendido como decadencial do MP (STF 2.12.2010, HC 175.141/MT,
Informativo STJ, dez. 2010).
→CRIMES CONTRA A DIGNIDADE Ainda, deve-se observar que aqui
SEXUAL: A Lei nº 13.718/18 em boa cabe ao ofendido a mera propositura da
hora alterou o art. 225 do Código Penal, ação e não a continuidade ( (art. 29,
e, assim, a configuração das ações CPP). Nesse sentido, o MP pode inclusive
penais relativas a esses crimes, propor outra denúncia que seja ainda
tornando-as, enfim, públicas mais abrangente que a queixa, mas o MP
incondicionadas. não pode alterar a imputação inicial ou
Observe-se que a Lei nº sequer reduzi-la.
12.650/12, alterando o art. 111, V, CP, Vale ainda dizer que o prazo da
propositura corre decadencialmente e não
16
Mirabete (2001, p. 204), para quem o Ministério prescritivo.
Público tem poderes para aditar a queixa, inclusive
para nela incluir coautor ou partícipe cuja autoria LITISCONSÓRCIO
ou participação não tenha sido constatada pelo
querelante.
15

Entendido como o fenômeno ou seja, a correção e adequação da


processual que ocorre quando há uma classificação do crime a ser feita pelo juiz
pluralidade de partes na mesma ação. A da causa, no momento da sentença (art.
partir disso, não existe nenhuma forma de 383, caput, CPP: 5.10.7 “o juiz, sem
proibição do instituto entre as ações modificar a descrição do fato contida na
públicas e as privadas, devendo haver denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe
apenas a descrição da correlação dos definição jurídica diversa, ainda que, em
eventos e o respeito aos limites. consequência, tenha de aplicar pena mais
Vale dizer ainda que mesmo grave”). A ausência de qualquer
havendo pluralidade de processos, seria capitulação dos fatos, todavia, pode
favorável que estes correrem sobre o justificar a sua rejeição, por inépcia (art.
mesmo juiz. 395, I, CPP)

DISPOSIÇÕES COMUNS →REJEIÇÃO: Nos termos do art. 395 do


CPP, a denúncia ou queixa será rejeitada
→PRAZOS: Em regra, o prazo para o quando “for manifestamente inepta (I),
oferecimento da denúncia ou queixa é de faltar pressuposto processual ou condição
15 dias, estando solto o acusado, ou de 5 para o efetivo exercício da ação penal (II),
dias, quando se tratar de réu preso (art. oufaltar justa causa para o exercício da
46, CPP). Atente-se, ainda, para o ação penal (III)”
disposto no art. 530, CPP, que prevê o Se aceita, o atual art. 397 do CPP,
prazo de 8 (oito) dias para o oferecimento com a redação dada pela citada Lei nº
de denúncia, em caso de réu preso, nos 11.719/08, prevê a sentença de
crimes contra a propriedade imaterial, se absolvição sumária, quando o fato
houver prisão em flagrante. O prazo é de narrado não constituir crime (III), estiver
natureza processual, excluindo-se o dia extinta a punibilidade (IV), e, ainda,
do início e incluindo-se o do seu término. estiver presente causa excludente da
Começa a correr da data em que o órgão ilicitude (I) e causa excludente da
da acusação recebe os autos do inquérito culpabilidade, salvo inimputabilidade (II).
ou peças de informação devidamente Quanto à rejeição da denúncia por
concluídos. ilegitimidade de parte ou pela ausência de
qualquer outra condição exigida pela lei
→CAPITULAÇÃO: Embora se saiba que (as chamadas condições de
o acusado se defende dos fatos, e não da procedibilidade), impende ressaltar que,
classificação que faz dele o órgão da ainda que equivocadamente recebida a
acusação, o Código de Processo Penal peça acusatória, poderá o juiz
inclui entre os requisitos da denúncia ou posteriormente extinguir o processo sem o
queixa a classificação do crime, isto é, a julgamento do mérito, na forma do
menção feita ao tipo penal em que o fato disposto no art. 485, IV, do CPC/2015,
se enquadraria (art. 41, CPP), como forma perfeitamente aplicável à espécie, por
de permitir uma maior defesa. Mas, analogia.
deve-se ressaltar que essa capitulação Outra questão relevantíssima
pode ser alterada pelo juizo. sobre o tema diz respeito ao chamado
Seja como for, o equívoco, e não a controle judicial do recebimento da
ausência, na capitulação ou tipificação, denúncia. Embora a classificação dada ao
não é causa de inépcia da denúncia ou fato na denúncia ou queixa não implique a
queixa, precisamente em razão de a lei vinculação do juiz a ela, casos ocorrerão
prever a possibilidade da emendatio libelli, em que, da simples narrativa da
16

imputação, poder-se-á perceber o erro na dada pela Lei nº 11.719/08.. Podendo


classificação, daí resultando alterações ocorrer por distintos fatores, dentre quais:
significativas no processo. Nos casos, por
1. DECADÊNCIA: Art. 38. Salvo
exemplo, em que é vedada (de modo disposição em contrário, o
inconstitucional, como veremos) a ofendido, ou seu representante
aplicação de liberdade provisória, com ou legal, decairá no direito de queixa
sem fiança, nada impede o juiz de, ou de representação, se não o
provisoriamente, alterar a tipificação dada, exercer dentro do prazo de seis
para ampliar a tutela de direito meses (Para os crimes privados é
fundamental (a liberdade). para a propositura da ação, já para
No caso de rejeição da peça os públicos é para a
acusatória, tendo sido interposto recurso representação), contado do dia em
em sentido estrito17 (art. 581, I, CPP), que vier a saber quem é o autor do
deve-se intimar o réu para a apresentação crime, ou, no caso do art. 29, do dia
de contrarrazões ao recurso, conforme em que se esgotar o prazo para o
oferecimento da denúncia.
jurisprudência sumulada na Suprema
Corte (Súmula 707: “Constitui nulidade a Parágrafo único. Verificar-se-á a
falta de intimação do denunciado para decadência do direito de queixa ou
oferecer contrarrazões ao recurso representação, dentro do mesmo
interposto da rejeição da denúncia, não a prazo, nos casos dos arts. 24,
parágrafo único, e 31.
suprindo a nomeação de defensor dativo”)

Por fim, no que tange respeito ao 2. RENÚNCIA: Art. 49. A renúncia ao


recebimento da ação, é importante saber exercício do direito de queixa, em
que existe uma distinção entre a citação relação a um dos autores do crime,
a todos se estenderá.
do réu é prevista para o recebimento da
3. Art. 50. A renúncia18 expressa
inicial (art. 396, CPP). Assim, e como a
(pode ser tácita) constará de
intimação é o meio pelo qual ocorre
declaração assinada pelo ofendido,
conhecimento ao acusado acerca da por seu representante legal ou
existência e da prática de qualquer ato do procurador com poderes especiais.
processo (art. 370, CPP)
Parágrafo único. A renúncia do
representante legal do menor que
→OMISSÕES: Nos termos do disposto no
houver completado 18 (dezoito)
art. 569 do CPP, as omissões da anos não privará este do direito de
denúncia, queixa ou da representação queixa, nem a renúncia do último
poderão ser supridas a qualquer tempo, excluirá o direito do primeiro.
antes da sentença final.
4. PERDÃO: Art. 51. O perdão
→EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE: a
concedido a um dos querelados
decisão relativa à extinção da punibilidade aproveitará a todos, sem que
será de absolvição sumária, nos termos produza, todavia, efeito em relação
do art. 397, IV, do CPP, com redação ao que o recusar.

17
É recurso que, em regra, visa impugnar decisões 5. PEREMPÇÃO: Art. 60. Nos casos
de natureza interlocutória, ou seja, decisões que em que somente se procede
não tenham caráter definitivo ou terminativo.
Contudo, excepcionalmente, há hipóteses legais de
18
cabimento desse recurso para atacar decisões que Recebimento de indenização cível não gera
encerram o processo renúncia
17

mediante queixa, considerar-se-á passa a ser exigida não só a garantia de


perempta a ação penal: participação, mas a efetiva participação,
I - quando, iniciada esta, o assegurando que o réu tenha uma efetiva
querelante deixar de promover o contribuição no resultado final do
andamento do processo durante 30 processo. O que prevê diminuir a
dias seguidos; disparidade de forças entre o Estado e o
II - quando, falecendo o querelante, agente.
ou sobrevindo sua incapacidade, Daí que a ampla defesa abranja a
não comparecer em juízo, para defesa técnica, com a exigência de
prosseguir no processo, dentro do defensor devidamente habilitado nos
prazo de 60 (sessenta) dias, quadros da OAB para todos os atos do
qualquer das pessoas a quem processo, incluindo o interrogatório (art.
couber fazê-lo, ressalvado o 185); a autodefesa, manifestada
disposto no art. 36;
sobretudo neste último ato processual
III - quando o querelante deixar de (interrogatório), mas abarcando toda a
comparecer, sem motivo atividade desenvolvida em prol dos
justificado, a qualquer ato do interesses defensivos.
processo a que deva estar
E, por fim, é de se registrar, mais
presente, ou deixar de formular o
uma vez, que a ampla defesa autoriza até
pedido de condenação nas
alegações finais;
mesmo o ingresso de provas obtidas
ilicitamente, desde que, é claro, favoráveis
IV - quando, sendo o querelante à defesa, seja pelo acusado ou por
pessoa jurídica, esta se extinguir
terceiro. E nem poderia ser de outro
sem deixar sucessor.
modo. E assim é porque o seu não
aproveitamento, fundado na ilicitude, ou
DA PROVA seja, com a finalidade de proteção do
direito, constituiria um insuperável
A prova judiciária tem um objetivo paradoxo: a condenação de quem se
claramente definido: a reconstrução dos sabe e se julga inocente, pela qualidade
fatos investigados no processo, buscando probatória da prova obtida ilicitamente,
a maior coincidência possível com a seria, sob quaisquer aspectos, uma
realidade histórica, isto é, com a verdade violação abominável ao Direito, ainda que
dos fatos, tal como efetivamente justificada pela finalidade originária de sua
ocorridos no espaço e no tempo..O proteção (do Direito).
processo, portanto, produzirá uma certeza Isso pois a inadmissibilidade da
do tipo jurídica, que pode ou não prova ilícita é dirigida ao Estado (produtor
corresponder à verdade da realidade da prova, como regra) exatamente para a
histórica (da qual, aliás, em regra, jamais proteção dos direitos individuais de quem
se saberá), mas cuja pretensão é a de pode, em tese, ser atingido pela atividade
estabilização das situações. Trata-se investigatória
então de uma verdade material e não real.
PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA
CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA DO JUÍZ
“o juiz que presidiu a instrução
Com a ampla defesa, a deverá proferir a sentença” (art. 399, § 2º,
participação do acusado no processo CPP). Dado que estará mais bem
penal completa-se (e agiganta-se), pois instrumentalizado para julgar aquele que
18

participou ou que acompanhou a O que caberá ao órgão acusatório


produção da prova pelas partes. é a coleta de provas que permitam a
Todavia, esse princípio possui indução/dedução desses elementos, ou
certa flexibilidade, pois o afastamento, seja, cabe ao MP demonstrar a
aposentadoria, transferência, morte ou materialidade e a autoria. Por isso, é
promoção do juízo não pode fazer com perfeitamente aceitável a disposição do
que o processo se atrase ou fique para art. 156 do CPP, segundo a qual “a prova
sempre inerte. Dessa forma, caberá ao da alegação incumbirá a quem a fizer”.
magistrado substituto dar continuidade ao No mais, o juiz não tutela e nem
processo, podendo realizar a renovação deve tutelar a investigação. A rigor, a
da prova, para a formação do seu jurisdição criminal somente se inicia com
convencimento. a apreciação da peça acusatória (arts.
395 e 396, CPP). Por isso, nenhuma
A DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA providência deve ser tomada de ofício
PROVA E A INICIATIVA PROBATÓRIA pelo magistrado, para fins de preservação
DO JUIZ de material a ser colhido em fase de
investigação criminal. Nem prisão de
O nosso processo penal, por
ofício, nem qualquer outra medida
qualquer ângulo que se lhe examine, deve
acautelatória, até porque o que deve ser
estar atento à exigência constitucional da
acautelado, em tais situações, é a
inocência do réu, como valor fundante do
investigação e dela não há de cuidar e
sistema de provas.
nem por ela responder o órgão da
Afirmar que ninguém poderá ser
jurisdição.
considerado culpado senão após o
Vale destacar ainda, que o juiz não
trânsito em julgado da sentença penal
deve basear sua sentença por meio de
condenatória implica e deve implicar a
provas colhidas no inquérito, mas sim dar
transferência de todo o ônus probatório ao
maior atenção para aquelas oriundas do
órgão da acusação. A este caberá provar
contraditório:
a existência de um crime, bem como a
sua autoria. Art. 155. O juiz formará sua convicção pela
Isso não quer dizer que cabe ao livre apreciação da prova produzida em
MP provas a ilicitude e a tipicidade, pois contraditório judicial, não podendo
se trata de presunções penais. No mesmo fundamentar sua decisão exclusivamente
sentido, quando tratamos do dolo, nos elementos informativos colhidos na
sobretudo aquele específico, por se tratar investigação, ressalvadas as provas
de instituto subjetivo, ocorre de forma cautelares, não repetíveis e antecipadas.
dedutiva por parte do julgador. A única possibilidade de
Quanto à culpabilidade e, mais interferência judicial na fase de inquérito
particularmente, em relação à ocorre por meio do art. 156, II, com
imputabilidade do agente, isto é, de sua redação dada pela Lei nº 11.690/08, que
responsabilidade penal, a questão pode poderá o juiz, de ofício, “determinar, no
curso da instrução, ou antes de proferir
até exigir prova, qual seja, a de
sentença, a realização de diligências para
maioridade penal (18 anos), ou da
dirimir dúvida sobre ponto relevante”, o
capacidade mental do autor do fato.
que ainda assim exige uma gama de
Entretanto, não se exige que a acusação,
limitações.
em todas as ações penais, faça prova de
Essas limitações ocorrem, vez que
se tratar de acusado capaz e
o juiz não pode atuar em substituição ao
mentalmente são.
Ministério Público, ou seja, se o MP
19

deixou de realizar ou requerer um de convencimento resultante do meio de


exame/laudo indispensável para a prova utilizado.
condenação, o juiz não pode requerer de Quanto às primeiras, existe norma
ofício. Se pode concluir então que a constitucional expressa vedando a
dúvida somente instala-se no campo admissibilidade de provas obtidas
probatório, ou seja, ela ocorreria a partir ilicitamente. Norma essa reproduzida no
de possíveis conclusões diversas acerca art. 157, CPP. Já na relação de
do material probatório então produzido, e especificidade se pode citar que a
não sobre o não produzido. disposição do art. 564, III,b, do CPP,
Todavia, devemos observar que a estabelece uma hipótese de
limitação do juízo ocorrer apenas quando especificidade de prova, no que concerne
tentar interferir no campo da acusação. ao exame de corpo de delito, quando a
Assim sendo, será possível manifestações infração deixar vestígios e não tiverem
de ofício quando benéficas ao ofendido. esses desaparecido.
Lidas nesse contexto, as
O LIVRE CONVENCIMENTO apontadas restrições ou especificidades
MOTIVADO E ÍNTIMA CONVICÇÃO funcionariam como verdadeiras garantias
do acusado, na medida em que
Por tal sistema, o juiz é livre na
estabelecem critérios específicos quanto
formação de seu convencimento, não
ao grau de convencimento e de certeza a
estando comprometido por qualquer
ser obtido em relação a determinadas
critério de valoração prévia da prova,
infrações penais.
podendo optar livremente por aquela que
No caso da regra da
lhe parecer mais convincente. Um único
especificidade, não haverá hierarquia, por
testemunho, por exemplo, poderá ser
exemplo, entre a prova pericial e a prova
levado em consideração pelo juiz, ainda
testemunhal. O que ocorrerá é que,
que em sentido contrário a dois ou mais
tratando-se de questão eminentemente
testemunhos, desde que em consonância
técnica, e ainda estando presentes os
com outras provas.
vestígios da infração, a prova testemunhal
não será admitida como suficiente, por si
HIERARQUIA E ESPECIFICIDADE DE
só, para demonstrar a verdade dos fatos.
PROVAS
Aqui se deve entender que não DIREITO E RESTRIÇÕES À PROVA
existe uma hierarquia em relação às
provas, mas sim a existência de
Ambas as partes possuem direito
especificidade em relação a certos delitos
à prova, que se estenderá a todas as
ou questões levantadas, o que permite
suas fases, é dizer: a da obtenção, a da
restrições a determinadas provas.
introdução e produção no processo e, por
É preciso estar atento ao fato de
fim, a da valoração da prova, na fase
que toda restrição a determinados meios
decisória.
de prova deve estar atrelada (e, assim,
Consequência ainda do direito à
ser justificada) à proteção de valores
prova, ou o seu reverso, porquanto
reconhecidos pela e positivados na ordem
dirigido ao mau exercício por parte dos
jurídica. As restrições podem ocorrer tanto
órgãos da persecução penal, seria o de
em relação ao meio da obtenção da
exclusão das provas obtidas ilicitamente,
prova, no ponto em que esse (meio)
sobretudo quando se tratar de
implicaria a violação de direitos e
procedimentos do Tribunal do Júri. É que
garantias, quanto em referência ao grau
20

ali vigora a regra da íntima convicção, não esclarecendo o § 3º do aludido dispositivo


se exigindo a motivação das decisões. legal que a decisão de desentranhamento
Com isso, o contato com material estará sujeita à preclusão19.
probatório ilícito poderia trazer graves No que tange respeito a
consequências na formação do possibilidade de recorrer acerca das
convencimento do jurado. Assim, tais provas ilícitas, tem-se que quando se
provas deverão ser desentranhadas tratar de exame e decisão de
quanto antes dos autos, antes do ingresso desentranhamento antes da audiência, o
na fase da valoração, nos termos do art. recurso cabível será o de recurso em
157, CPP (Lei nº 11.690/08). sentido estrito; durante a audiência, o
Quanto à fase de produção da recurso será de apelação se, e somente
prova, a regra do processo penal é que as se, a sentença for proferida em audiência.
provas podem ser produzidas a qualquer Ainda, a decisão que não
tempo, incluindo a fase recursal, e até reconhece a ilicitude da prova é
mesmo em segunda instância (quando irrecorrível, o que não impede seja
dependerão de iniciativa judicial – art. reapreciada a matéria por ocasião de
616, CPP), desde que respeitado, eventual recurso de apelação ou por meio
sempre, o contraditório. de ações autônomas de impugnação, a
exemplo do habeas corpus. (ou seja, não
A INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS pode recorrer novamente em recurso
ILÍCITAS unicamente feito pela questão da prova,
mas o tema pode ser levantado
novamente na análise do mérito em grau
Nos termos do art. 5º, LVI, da CF,
“são inadmissíveis, no processo, as
superior de jurisdição).
provas obtidas por meios ilícitos”.
Também o art. 157, caput, CPP, com a AS GRAVAÇÕES
redação que lhe deu a Lei nº 11.690/08, Os métodos e meios de prova que
reproduz a mesma vedação. frequentemente podem ser questionados
Em relação aos direitos quanto à sua licitude atingem o direito à
individuais, a vedação das provas ilícitas intimidade e/ou à privacidade (art. 5º, X,
tem por destinatário imediato a proteção CF) do acusado ou de terceiros.
do direito à intimidade, à privacidade, à Chama-se de gravação ambiental
imagem (art. 5º, X), à inviolabilidade do aquela realizada no meio ambiente,
domicílio (art. 5º, XI), normalmente os podendo ser clandestina, quando
mais atingidos durante as diligências desconhecida por um ou por todos os
investigatórias. interlocutores, ou autorizada, quando com
Em tema de prova, mesmo a ciência e concordância destes ou
quando não houver vedação expressa quando decorrente de ordem judicial.
quanto ao meio, será preciso indagar As gravações clandestinas, em
ainda acerca do resultado da prova, isto princípio, são ilegais, na medida e quando
é, se os resultados obtidos configuram ou violarem o direito à privacidade e/ou à
não violação de direitos. E se intimidade dos interlocutores, razão pela
configurarem, se a violação foi e se
poderia ter sido autorizada.
19
E mais. Nos termos do art. 157, Diz-se lógica a preclusão quando um ato não
mais pode ser praticado, pelo fato de se ter
caput, CPP, as provas obtidas ilicitamente praticado outro ato que, pela lei, é definido como
deverão ser desentranhadas dos autos, incompatível com o já realizado, ou que esta
circunstância deflui inequivocamente do sistema.
21

qual, como regra, configuram provas AS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS


obtidas ilicitamente. E DE DADOS
Deve-se entender que aqui a
No inciso XII do art. 5 da CF,
ilicitude ocorre quando o conteúdo da
ocorre a referência à proteção da
gravação vem a público e não a sua mera
intimidade e da privacidade, dispondo ser
existência.
inviolável o sigilo da correspondência e
Então, para que seja válida a
das comunicações telegráficas, de dados
revelação da gravação feita por um dos
e das comunicações telefônicas, “salvo,
interlocutores, sem o conhecimento do
no último caso, por ordem judicial, nas
outro, é necessário que esteja presente hipóteses e na forma que a lei estabelecer
situação de relevância jurídica a que para fins de investigação criminal ou
poderíamos chamar de justa causa, instrução processual penal”.
conforme se vê, por exemplo, no art. 153 23
Dessa forma, entende-se que os
do CP, no qual se estabelece ser crime a direitos à intimidade, podem e poderão
divulgação de conteúdo de documento ser limitados, sempre que o respectivo
particular ou de correspondência exercício puder atingir outros valores
confidencial, de que é destinatário ou igualmente protegidos na Constituição, e
detentor, sem justa causa (relevante para desde que haja previsão expressa na lei.
a defesa).20 Exige-se, ainda, que haja indícios
CPP – art. 233. As cartas razoáveis da autoria ou participação em
particulares, interceptadas ou obtidas por infração penal punida com pena de
meios criminosos, não serão admitidas em reclusão, bem como que a prova do crime
juízo. Parágrafo único. As cartas poderão
não possa ser feita por outros meios (art.
ser exibidas em juízo pelo respectivo
2º).
destinatário, para a defesa de seu direito,
ainda que não haja consentimento do O prazo máximo da interceptação
signatário. será de 15 dias, prorrogáveis por mais 15
De outro lado, se não afastada a (art. 5º), devendo as diligências ser
ilicitude, haverá que se examinar eventual registradas em autos apartados,
possibilidade de seu aproveitamento, já preservando-se o sigilo de todo o
então pelos critérios hermenêuticos da procedimento (art. 8º). O Supremo
proporcionalidade (vedação de excesso e Tribunal Federal, no julgamento do HC nº
máxima efetividade da proteção)21 83.515/RS, Rel. Min. Nelson Jobim, em
Note-se, ainda, que a gravação de 16.9.2004. (informativo STF nº 361,
conversa sem o conhecimento de um dos 22.9.2004), fixou entendimento no sentido
interlocutores, e na qual se obtenha a de ser possível a renovação do prazo de
confissão da prática de um crime, é 15 dias por mais de uma vez, quando
evidentemente inadmissível no processo, complexa a investigação, desde que
até pela violação do direito ao silêncio que comprovada a indispensabilidade do
se reconhece a todos os que, potencial ou procedimento.
efetivamente, estejam ou venham a ser A possibilidade de autorização
submetidos a processo penal.22 judicial também para a interceptação do
fluxo de comunicações em sistema de
informática e telemática, como ali previsto,
20
Supremo Tribunal Federal segue a mesma trilha: é perfeitamente constitucional, e vem
STF – RE nº 402.717-8/PA e RE nº 583.937/RJ completar o rol de proteção do inc. XII do
21
STJ – HC nº 4.654/RS; RHC nº 5.944/PR
22
STF – HC nº 69.818, Rel. Min. Sepúlveda
23
Pertence, DJ 3.11.1992. STF: Recurso Extraordinário nº RE 418416/SC e
STJ: Recurso Especial nº 625.214-SP
22

art. 5º da CF, estabelecendo que, em judicial, entende-se não haver qualquer


todas as hipóteses ali mencionadas, a tipo de irregularidade.
quebra do sigilo exigirá autorização Assim, a Lei nº 105/2001, dispõe
judicial fundamentada. sobre o sigilo das operações de
Ainda, deve-se observar a instituições financeiras, autorizando as
novidade trazida pela Lei 13.964/19 para autoridades fazendárias a examinar seus
dispor, inicialmente no (novo) art. 8º-A documentos, livros e registros, inclusive
que, para a investigação ou instrução os referentes à conta de depósitos e
criminal, mediante requerimento policial aplicações financeiras, desde que haja
ou do Ministério Público, poderá ser processo administrativo regularmente
autorizada pelo juiz a captação ambiental instaurado ou procedimento fiscal em
de sinais eletromagnéticos, ópticos ou curso, e desde que tais exames sejam
acústicos, desde que preenchidos considerados indispensáveis pela
(cumulativamente) os seguintes autoridade administrativa competente (art.
requisitos: I – a prova não puder ser feita 6º).
por outros meios disponíveis e igualmente Autoriza também a troca de
eficazes; e II – houver elementos informações sigilosas entre as instituições
probatórios razoáveis de autoria e financeiras e o Banco Central, inclusive
participação em infrações criminais cujas sobre contas de depósitos e
penas máximas sejam superiores a 4
investimentos (art. 2º, § 1º), e a quebra do
(quatro) anos ou em infrações penais
sigilo bancário quando as informações
conexas.
Tal qual a interceptação telefônica, forem requeridas pelo Poder Legislativo
a captação ambiental não poderá exceder Federal e pelas Comissões Parlamentares
o prazo de 15 dias, sendo possível sua de Inquérito, desde que aprovada a
renovação (sempre com prévia medida pelo Plenário da Câmara e do
autorização judicial), por iguais períodos, Senado, ou pelo Plenário das respectivas
se igualmente comprovada a Comissões Parlamentares (art. 4º).24
indispensabilidade da prova e quando Vele observar ainda que “nenhuma
autoridade poderá opor ao Ministério
presente atividade criminal permanente,
Público, sob qualquer pretexto, à exceção
habitual ou continuada (nos termos do §
de sigilo, sem prejuízo da subsistência do
3º do art. 8º-A). caráter sigiloso da informação, do registro,
Por último, também a quebra do do dado ou do documento que lhe seja
sigilo dos dados telefônicos, ou seja, dos fornecido (art. 8º, §2º, Lei nº 75/93.).
registros dos telefonemas dados e Por fim, importante alteração
recebidos por determinado aparelho (que legislativa veio com o art. 17-B da Lei nº
não configura hipótese de interceptação), 12.683/12, que promoveu sensíveis
reclama autorização judicial, posto que modificações na Lei nº 9.613/98 (lavagem
tais informações se inserem no contexto de dinheiro e capitais), introduzindo o art.
da intimidade e da privacidade do 17-B. Estabelece referido dispositivo o
interessado. acesso ao Ministério Público e à
autoridade judicial, sem a necessidade de
SIGILO BANCÁRIO ordem judicial, aos dados atinentes à
qualificação pessoal, filiação e endereço,
Diante das peculiaridades de daquele que se encontrar sob
algumas legislações, que autorizam a investigação, junto às instituições
quebra do sigilo bancário a determinadas 24
STF: ADI nº 2.390/DF e RE 1055941/SP, Rel.
autoridades públicas sem a autorização
Min. Dias Toffoli, Tema 990 da Repercussão Geral.
23

financeiras, às empresas de telefonia, aos descoberta por meios lícitos no curso


provedores de Internet, às normal da investigação. A outra é a da
administradoras de cartões de crédito e à fonte independente, para a qual a prova
Justiça Eleitoral. derivada de uma ilícita não deve ser
descartada se tiver também uma origem
A TEORIA DOS FRUTOS DA ÁRVORE lícita, sem relação com a primeira.
ENVENENADA Todavia, o entendimento da
situação inevitável, deve ser limitado e
Se os agentes produtores da prova
bem fundamentado, ou seja, "não basta
ilícita pudessem dela se valer para a
que se faça um raciocínio vago e abstrato
obtenção de novas provas, a cuja
de mera possibilidade de descoberta da
existência somente se teria chegado a prova por outro meio". ministro Rogerio
partir daquela (ilícita), a ilicitude da Schietti Cruz,
conduta seria facilmente contornável.
Assim, a teoria da ilicitude por derivação é A TEORIA DO ENCONTRO FORTUITO
uma imposição da aplicação do princípio DE PROVAS
da inadmissibilidade das provas obtidas
ilicitamente. Fala-se em encontro fortuito
Diz o art. 157 do CPP, § 1º: “são quando a prova de determinada infração
também inadmissíveis as provas derivadas penal é obtida a partir da busca
das ilícitas, salvo quando não evidenciado regularmente autorizada para a
o nexo de causalidade entre umas e outras, investigação de outro crime. A Lei nº
ou quando as derivadas puderem ser 11.690/08.
obtidas por uma fonte independente das A essa teoria devem ser feitas
primeiras, ou seja, por si só, seguindo os algumas ressalvas, ou seja, não existe
trâmites típicos e de praxe, próprios da uma vedação de que se inicie um outro
investigação ou instrução criminal, seria processo investigativo por meio de provas
capaz de conduzir ao fato objeto da prova”.
oriundas de meio lícito que foram
. A dificuldade a que ora nos
encontradas por meio de outra
referimos em relação à definição da
investigação.
palavra derivação não é, evidentemente,
de origem semântica. Ela se fará presente
A PROVA ILEGÍTIMA: A PROVA
na identificação concreta de se tratar de
EMPRESTADA
prova efetivamente derivada da ilícita.
Com isso, nem sempre que Aqui não se trata de prova ilícita,
estivermos diante de uma prova obtida mas sim de competência processual da
ilicitamente teremos como consequência a prova. Como exemplo, em ação penal
inadmissibilidade de todas aquelas outras instaurada contra determinados réus, é
provas a ela subsequentes. Será preciso, possível, por exemplo, que, no caso de
no exame cuidadoso de cada situação morte de uma testemunha, a acusação
concreta, avaliar a eventual derivação da obtenha uma certidão de inteiro teor do
ilicitude, o que ocorreria pelo princípio da depoimento por ela prestado em outra
adequabilidade. ação penal, envolvendo os mesmos fatos
Esse entendimento ocorre de e outros acusados. Essa prova, assim
outras duas teorias, uma é a da obtida, seria denominada emprestada,
descoberta inevitável, segundo a qual é porque produzida efetivamente em outro
possível a utilização de uma prova ilícita processo.
por derivação, caso fique demonstrado Como se percebe, a sua obtenção
que ela seria, de qualquer modo, seria inteiramente lícita, não se podendo
24

falar, ainda, em inadmissibilidade da deverão eles responder criminalmente por


prova. Todavia, entende-se que essa suas ações.26
prova não pode vir a ser utilizada, pois Diferentemente, iremos encontrar,
afetará o contraditório.25 fora dos exemplos relativos à
inviolabilidade de domicílio, inúmeras
O APROVEITAMENTO DA PROVA outras situações em que a prova do delito
COM EXCLUSÃO DA ILICITUDE seja obtida durante a prática do crime.
Isso ocorrerá por ocasião das chamadas
O que é inadmissível é a prova
gravações ambientais, ou seja, realizadas
ilícita. Havendo situações reconhecidas
no meio ambiente, por meio de gravador,
pelo Direito como suficientes a afastar a
durante a ocorrência do delito.
ilicitude, as provas, assim produzidas,
Nessas situações, a prova do
serão validamente aproveitadas no
crime deve ser tranquilamente admitida no
processo penal.
processo, porque obtidas durante a
prática do delito, situação em que os seus
→EXCLUSÃO DE ILICITUDE: Quando o
autores jamais poderão alegar violação a
agente, atuando movido por algumas
qualquer de seus direitos.
causas de justificação, atinge
determinada inviolabilidade alheia para o
fim de obter prova da inocência, sua ou
O APROVEITAMENTO DA PROVA
de terceiros, estará afastada a ilicitude da ILÍCITA: PROPORCIONALIDADE
ação. Em consequência, estará também
afastada a ilicitude da obtenção da prova. Basta a simples consideração de
que os direitos fundamentais têm por
→O FLAGRANTE DELITO: Aqui se deve destinatário toda a coletividade, para se
entender que a inviolabilidade existe e saber que casos haverá em que a
somente existirá na medida e nos limites proteção de um implicará a não tutela de
em que o seu titular estiver no exercício outro.
de seu legítimo direito. Ou seja, em Esse conceito permite entender
situação de flagrante delito, entende-se como possível o uso de provas ilícitas,
que a intervenção, de qualquer tipo que mas apenas em casos excepcionais, que
seja, sem maiores abusos, está se iniciam quando demonstrado que não
plenamente justificada. houve estímulo da prática de ilegalidade
Por isso, é de se exigir, sempre, pelos agentes produtores da prova. Para
que toda ação policial ou de terceiros tanto, seria necessário que um terceiro
demonstre a idoneidade de sua conduta, produzisse as provas.27
a plausibilidade fática e a existência de Além disso, não se pode falar que
indícios veementes da ocorrência do existe um estímulo na produção de provas
crime, para o fim de se justificar a atuação ilícitas por terceiros, pois essas ações
em uma situação de flagrante delito. Do devem estar justificadas com o restante
contrário, não havendo crime em curso, do conjunto probatório.

25 26
STJ – Corte Especial. EREsp nº 617.428/SP, Rel. REsp 1.574.681/RS, RHC 89.853-SP, HC
Min. Nancy Andrighi,julgado em 4.6.2014 180709/SP, HC nº 75.338-8/RJ,DJU de 25.9.1998,
[Informativo nº 543]; STF – Inq. nº 4.023, Rel. RHC nº 12.266/SP
27
Min. Cármen Lúcia, Segunda Turma, julgado em RCL nº 2.040/DF, Rel. Min. Néri da Silveira, em
23.8.2016, Acórdão Eletrônico, DJe nº 185 de 21.2.2002 –Informativo STF nº 257, 18 a 22 de
1.9.2016 fevereiro de 2002).
25

DO INTERROGATÓRIO direito de entrevista reservada do


O interrogatório é o último ato da acusado com seu defensor (art. 185, §
audiência de instrução, cabendo ao 5º).
acusado escolher a estratégia de Já quanto ao descumprimento da
autodefesa que melhor consulte aos seus entrevista reservada com o advogado,
interesses, como dispõe o art. 400 do observa-se que com o novo rito
CPP. implementado pela Lei nº 11.719/08 os
Em sentido contrário, a Lei nº riscos à defesa são praticamente
11.343/06, a cuidar dos crimes de tráfico inexistentes. Mas, se a tanto se chegar, a
ilícito de drogas, prevê, contudo, que o nulidade, em princípio, será absoluta.
interrogatório seria ainda o primeiro ato de Por último, a concepção do
inquirição (art. 57), o que o STJ entende interrogatório como essencialmente um
por não ser nenhuma ilegalidade.28 meio de defesa, com o reconhecimento
Nesse sentido, vale destacar que do direito ao silêncio, tem por
apesar de possuir amplo valor probatório, consequência a conclusão no sentido de
o interrogatório é, sobretudo, um direito à que o não comparecimento do réu ao
ampla defesa. E é por isso que não se referido ato não poderá implicar a
pode mais falar em condução coercitiva aplicação de quaisquer sanções
do réu, para fins de interrogatório. No processuais.
mais, apenas a confissão do acusado
também não seria suficiente para o Direito ao silêncio e não
decreto condenatório, sendo necessário autoincriminação
outras provas.
Por isso, se realizado sem que se Com a Constituição de 1988 (art.
desse ao réu a oportunidade de se 5º, LXIII) e com o art. 8º, 1, do Pacto de
submeter ao interrogatório, a nulidade San José da Costa Rica (Decreto nº
absoluta é medida que se impõe. Haveria, 678/92), há regra expressa assegurando
no caso, manifesta violação da ampla ao preso e ao acusado, em todas as fases
defesa do processo, o direito a permanecer
É de se ter em vista que uma coisa calado. Embora não haja previsão
é o direito à oportunidade do expressa do direito à não
interrogatório, e outra é o direito à sua autoincriminação, pode-se, contudo,
realização obrigatória. De fato, se, uma extrair o princípio do sistema de garantias
vez intimado o réu (art. 399, CPP), constitucionais.
regularmente, ele não comparece à No mais, deve ocorrer o
audiência (art. 400, CPP), não se pode questionamento da possibilidade do
mais falar em um direito futuro à repetição silêncio parcial. O art. 186 do CPP afirma
do interrogatório, tendo em vista a já o direito ao silêncio e o de não responder
superação da etapa procedimental as perguntas que lhe forem formuladas,
prevista para o exercício da autodefesa. ou seja, não existindo clareza acerca da
Deve-se observar ainda que a totalidade ou parcialidade que abrange as
garantia da participação da defesa técnica perguntas, entende-se que o direito ao
alcançou, o status de garantia individual silêncio pode ser também parcial.
fundamental, assegurando-se também o Todavia, como não existe também
uma obrigação legal à aceitação da
28
HC nº 152776/RS, Rel. Jorge Mussi, em veracidade do depoimento do acusado, o
8.11.2011). juiz poderá livremente desconsiderar a
26

idoneidade probatória de uma versão efeito de convencimento judicial, embora,


defensiva que se mostre desconectada de é claro, não possa ser recebida como
sentido ou de lógica argumentativa, o que valor absoluto.
fatalmente ocorrerá quando o réu passar Frisa-se, novamente, que com a
a escolher as perguntas de sua exigência do contraditório e da ampla
preferência. Nesse caso, não se cuidará defesa, as provas produzidas na fase
de valoração do silêncio, mas de pré-processual destinam-se ao
reconhecimento da inconsistência do convencimento do Ministério Público, e
conjunto da autodefesa. não do juiz. Por isso, devem ser repetidas
Ainda se deve observar que o na fase instrutória da ação penal. Dessa
procedimento de acareação (arts. 229 e forma, eventuais confissões em delegacia
seguintes, CPP), cujo objetivo é de polícia apenas possuem valor
demonstrar e esclarecer eventuais probatório se reafirmadas em juízo.
contradições entre versões apresentadas Por fim, a confissão é também
sobre um mesmo fenômeno da realidade, retratável e divisível, o que significa que o
com o objetivo de apontar aquela mais acusado poderá arrepender-se dela, se
próxima da verdade, não pode ocorrer ainda em tempo, e que o juiz, dentro de
entre teses defensivas e acusatórias. seu livre convencimento, poderá valer-se
Pelo exposto, entende-se que não apenas de parte da confissão.
apresentado ao réu o direito ao silêncio,
tem-se caso de nulidade absoluta, mesmo DA PROVA TESTEMUNHAL30
ocorrendo eventual confissão por parte do
acusado.29 Caracteriza-se por prova de
grande importância no processo penal,
A correlação entre o depoimento mas que deve estar submetida a uma
prestado em sede de polícia e o análise cautelosa por parte do
prestado em juízo magistrado, isso decorre do fato de que,
por vezes, as provas estão submetidas a
Como regra geral, no processo compreensões e emoções do depoente.
brasileiro, entende-se que mesmo em Nesse sentido, importante que a
sede de polícia tendo o acusado sido
30
informado sobre seu direito ao silêncio, o Embora não haja qualquer previsão em lei, é
comum ouvir-se, na prática forense e mesmo em
depoimento prestado em DEPOL, se não sede de doutrina, expressões como informante, ou
confirmado em juízo, não poderá, como declarante, em relação às pessoas que estariam
regra, ser utilizado como meio de prova dispensadas de prestar o compromisso legal do art.
pelo magistrado. Mesmo que existindo 203 do CPP. A leitura do nosso Código de Processo
Penal, entretanto, não permite tais conclusões. Mas,
confissão. isso não quer dizer que estas nomenclaturas não
podem ser utilizadas.
Da confissão Assim sendo, os declarantes seriam, pelo
art. 203 do CPP “[...] não se deferirá o
compromisso a que alude o art. 203 aos doentes
A confissão do réu, que também e deficientes mentais e aos menores de 14 anos,
pode ser feita fora do interrogatório, nem às pessoas a que se refere o art. 206” -
ascendente ou descendente, o afim em linha reta,
quando será tomada por termo nos autos,
o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai,
segundo o art. 199 do CPP, constitui uma a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo
das modalidades de prova com maior quando não for possível, por outro modo,
obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas
29
STF – HC nº 78.708-1/SP, Rel. Min. Sepúlveda circunstâncias.
Pertence, DJ 16.4.1999.
27

testemunha tenha conhecimento direto estão dispensadas de depor, o que ocorre


dos fatos, ou seja, mesmo que não do dever profissional, como dispõe o art.
vedado às testemunhas que tem seu 207 do CPP, o que ocorre com líderes
depoimento oriundo de “ouvi dizer”, sua religiosos que recebem confissões e
apreciação tem pouco a acrescentar na advogados interessados na causa em
decisão do juízo31. Entendimento este que questão. O que abrange ainda curadores,
rechaçou a decisão de pronúncia baseada tutores, diretores de empresas e
exclusivamente nesse tipo de prova. psicólogos, por exemplo.
Vale dizer ainda, que qualquer Tais pessoas, quando autorizadas
pessoa possui capacidade para depor em pela parte interessada, poderão prestar o
processo penal, independente de depoimento, se assim quiserem, não
incapacidade relativa ou legal. sendo a tanto obrigadas (art. 207, CPP).
Mas, o que se exige da
testemunha é o que dispõe A primeira
parte do art. 206 do CPP assevera que “a Proteção à testemunha: Lei nº 9.807/99
testemunha não poderá eximir-se da
obrigação de depor”. Já no art. 203, A referida legislação prevê, entre
encontra-se a referência feita diretamente outras medidas, a alteração de nome e
ao compromisso de dizer a verdade, registros da pessoa protegida (art. 9º); a
nestes termos: “a testemunha fará, sob segurança na residência, incluindo o
palavra de honra, a promessa de dizer a controle de telecomunicações; a
verdade do que souber e lhe for suspensão temporária das atividades
perguntado [...]”. O que atua como regra
funcionais, sem prejuízo dos respectivos
de direito e não da moral, motivo pelo vencimentos ou vantagens, quando
qual é imprescindível. servidor público ou militar; o sigilo em
Em atenção aos laços afetivos relação aos atos praticados em virtude da
decorrentes de relações de parentesco proteção concedida (art. 7º) etc.
entre determinadas pessoas, o art. 206 do A proteção oferecida terá a
CPP prevê que poderão se recusar a duração de dois anos, podendo,
depor ou não falar a verdade “o excepcionalmente, ser prorrogada (art.
ascendente ou descendente, o afim em
11). Tal proteção levará em conta a
linha reta, o cônjuge, ainda que separado
gravidade da coação ou da ameaça à
ou divorciado, o irmão e o pai, a mãe, ou o
filho adotivo do acusado”.
integridade física ou psicológica, a
Entretanto, quando o único meio dificuldade de preveni-las ou reprimilas
de obter a prova, ou de integrá-la, pelos meios convencionais e a sua
depender do depoimento de quem tenha importância para produção da prova (art.
presenciado os fatos, e quando se tratar 2º).
de infrações graves (estupro, homicídio É prevista também, ainda em
etc.), estará justificada a exceção à regra relação ao réu colaborador, a redução da
da dispensa, caso em que a testemunha pena, de um terço a dois terços, quando
terá o dever de depor, bem como o dever atingidas as finalidades processuais(art.
de dizer a verdade. Nesse caso o 14), ou seja, efetiva colaboração e na
informante assume papel de testemunha. hipótese de sentença condenatória.
Por fim, torna-se interessante o A medida, como se vê, há de ser
entendimento no qual algumas pessoas excepcional, bem observadas as
características e a gravidade de cada
31
Voto do Min. Rogério Schietti Cruz no REsp
caso concreto, e dependerá, por
1.373.356/ BA, 28.4.2017. exigência constitucional, da efetiva
28

participação da defesa (técnica e Nesse sentido, tem-se que a


autodefesa) na inquirição das perícia consiste em prova específica, que
testemunhas, para que, somente assim, segue o rito do art. 158 do CPP, ou seja,
se possa afirmar a ausência de prejuízo será realizada quando a infração deixar
aos acusados vestígios. Mas, entende-se também que
esse dispositivo deve ser interpretado
INTERVENÇÕES CORPORAIS conforme os direitos constitucionais.
DURANTE AS INVESTIGAÇÕES Assim, no caso de estupro, mesmo
ocorrendo conjunção carnal a perícia será
Trata-se de questões que
dispensava se houver testemunhas que
envolvem a perícia técnica, o que exige
atestem os fatos, como forma de
expressa previsão em lei e demonstração
resguardar a vítima.
de necessidade no caso concreto, como
ocorre pela complexidade do crime.
O que se deve observar aqui é a
A CADEIA DE CUSTÓDIA
inaceitabilidade de situações que Para além da conceituação jurídica
ameacem a integridade física e mental do agora incorporada ao ordenamento, a
acusado, bem como a sua capacidade de doutrina e a jurisprudência há muito
autodeterminação. Assim, em casos onde tratavam do que se denomina cadeia de
intervenções corporais, desde que custódia, que nada mais é do que a
previstas em lei, necessário e que não preservação e registro do caminho da
maculem a integridade do agente, devem prova, desde sua coleta até a apreciação
ser realizadas, isso pois nenhum direito é pelo Poder Judiciário.
absoluto frente às necessidades do caso No que tange respeito a forma da
concreto.32 coleta, que é denominada de
Assim sendo, estão autorizados, acondicionamento (inciso V do art. 158-B
desde que cumpridos os requisitos legais do CPP), que nada mais é do que o meio
e do caso concretos, exames de corpo de pelo qual se dá com a separação e
delito, de sangue, datiloscópico, embalagem do vestígio coletado. A lei
papiloscópico, bafômetro e fotografias. impõe que deverá ser feita a anotação da
data, hora e nome de quem realizou a
DA PROVA PERICIAL coleta e o acondicionamento do vestígio.
O artigo 158-D traz alguns procedimentos
A prova pericial, antes de qualquer
específicos dessa fase.
outra consideração, é uma prova técnica,
Entretanto, nem sempre a
na medida em que pretende certificar a
inobservância da produção da prova
existência de fatos cuja certeza, segundo
ensejará, automaticamente, a invalidade
a lei, somente seria possível a partir de
das provas subsequentes ou do próprio
conhecimentos específicos. Por isso,
processo criminal. Nunca é demais
deverá ser produzida por pessoas
relembrar que a nulidade de um ato nem
devidamente habilitadas, sendo o
sempre acarretará a nulidade das provas
reconhecimento desta habilitação feito
e/ou do processo. Isso, pois eventual
normalmente na própria lei.
ausência de uma parte desse
procedimento não necessariamente
32
invalidará a prova coletada, que poderá
Frisa-se que o STF vem adotando entendimento
ser analisada no contexto com as demais
diverso, onde o acusado não pode vir a ser obrigado
a se submeter a qualquer tipo de intervenção partes do procedimento de sua produção.
corporal, mesmo aquelas que não representem
mácula a sua dignidade.
29

O EXAME DE CORPO DE DELITO esclarecimento de questões igualmente


Se deixar vestígios a infração, a relevantes.
materialidade do delito e/ou a extensão de Essas são as perícias realizadas
suas consequências deverão ser objeto para a demonstração de circunstâncias do
de prova pericial, a ser realizada crime (modo, tempo de execução etc.),
diretamente sobre o objeto material do que, inclusive, poderão ser úteis na
crime33, o corpo de delito, ou, não mais identificação da autoria, como ocorre com
podendo sê-lo, pelo desaparecimento o exame de balística, bem como de todos
inevitável do vestígio, de modo indireto. aqueles realizados sobre o instrumento do
O exame indireto será feito delito, como a autópsia (art. 162), a
também por perito oficial, só que a partir perícia realizada no local do crime (em
de informações prestadas por caso de incêndio, por exemplo) e, por fim,
testemunhas ou pelo exame de com os exames laboratoriais (art. 170)
documentos relativos aos fatos cuja Prova pericial e contraditório
existência se quiser provar, quando,
então, se exercerá e se obterá apenas um Por isso, em razão da natureza
conhecimento técnico por dedução. cautelar que informa tais provas, não será
O que é distinto da substituição do possível (e nem há previsão legal) a
exame (direto ou indireto) pela prova participação da defesa na produção da
testemunhal, o que ocorrerá em último prova pericial. E mais: a prova também
caso. não será produzida diante do juiz, porque
Frisa-se que a parte ofendida ainda não provocada a jurisdição.
poderá diretamente ou por nomeação de
assistente técnico, fazer-se presente na DO RECONHECIMENTO DE PESSOAS
produção dos laudos quando não causar E COISAS
nenhum tipo de prejuízo à defesa.
O procedimento previsto no art.
Por fim, observa-se que o juiz,
226, III, do CPP, é feito de modo sigiloso,
dentro de seu livre convencimento, não
Em razão disso, a própria legislação
estará adstrito ao laudo apresentado,
estabelece não ser possível tal
podendo rejeitá-lo, no todo ou em parte
procedimento em juízo (art. 226,
(art. 182). Nesse caso, tratando-se de
parágrafo único), em obediência às
infração que deixa vestígios e estando
exigências da ampla defesa.
estes ainda presentes, o juiz deverá
O reconhecimento fotográfico não
nomear novo perito, se de prova
poderá, jamais, ter o mesmo valor
exclusivamente técnica se cuidar (art.
probatório do reconhecimento de pessoa,
181).
tendo em vista as dificuldades notórias de
Outras perícias correspondência entre uma (fotografia) e
outra (pessoa), devendo ser utilizado este
Além da prova pericial realizada, procedimento somente em casos
direta ou indiretamente, sobre o corpo de excepcionais, quando puder servir como
delito, como ocorre para a comprovação elemento de confirmação das demais
do óbito, da falsidade documental, que provas. Há decisões na Suprema Corte
demonstram a existência da materialidade admitindo o reconhecimento fotográfico
do delito, há outras que também se (RT nº 739/546).
revelam necessárias para o Já o reconhecimento de pessoa
por meio de fitas de vídeo deve merecer
33
Património, pessoa humana, documentos… maior força de evidência probatória,
30

diante da possibilidade concreta de investigação como no curso da ação


reconhecimento da imagem da pessoa, penal.
em posições diferentes, tudo a depender, Assim, são indispensáveis para a
porém, do caso concreto. execução da medida busca domiciliar: A)
ordem judicial escrita e fundamentada,
DA ACAREAÇÃO como qualquer medida cautelar restritiva
A acareação é um procedimento de direitos (art. 5º, XI, CF); B) indicação
previsto tanto no Código de Processo Civil precisa do local, dos motivos e da
quanto no Código de Processo Penal, finalidade da diligência (art. 243, CPP); C)
cuja finalidade é a apuração da verdade, cumprimento da diligência durante o dia,
por meio do confronto entre partes, salvo se consentida à noite, pelo morador;
testemunhas ou outros participantes de D) o uso de força e o arrombamento
processo judicial, que prestaram somente serão possíveis em caso de
informações prévias divergentes. desobediência, ou em caso de ausência
O procedimento está previsto no do morador ou de qualquer pessoa no
artigo 229 do Código de Processo Penal, local (art. 245, §§ 3º e 4º).
que permite a realização da acareação Já a busca pessoal, a nosso aviso,
quando houver divergência nas não depende de autorização judicial,
declarações entre acusados, ofendidos e ainda que se possa constatar, em certa
testemunhas. medida, uma violação à intangibilidade do
direito à intimidade e à privacidade,
DA BUSCA E APREENSÃO previstos no art. 5º, X, da CF. Sob tais
considerações, acreditamos perfeitamente
Desde o seu início, em possível a realização de busca pessoal
contraditório, com a participação de sem autorização judicial, desde que, uma
ambas as partes, a busca e apreensão vez prevista em lei, existam e estejam
segue procedimento diverso, em atenção presentes razões de natureza cautelar e,
às peculiaridades da medida. por isso, urgentes. Aqui deve ser posto
Trata-se, por certo, de medida de uma justificativa plausível e bem
natureza eminentemente cautelar, para detalhada, caso contrário, acarretará em
acautelamento de material probatório, de nulidade por ausência de
coisa, de animais e até de pessoas, que fundamentação. 34

não estejam ao alcance, espontâneo, da O art. 244 do CPP atende às


Justiça. exigências para a execução da medida,
A medida, cautelar no que se porque somente possível “quando houver
refere à questão probatória e à segurança fundada suspeita de que a pessoa esteja
de pessoas, também é excepcional por na posse de arma proibida ou de objetos
implicar a quebra da inviolabilidade do
acusado ou de terceiros, tanto no que se 34
A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça
refere à inviolabilidade do domicílio (STJ) considerou ilegal a busca pessoal ou veicular,
sem mandado judicial, motivada apenas pela
quanto no que diz respeito à impressão subjetiva da polícia sobre a aparência ou
inviolabilidade pessoal. atitude suspeita do indivíduo. No julgamento, o
Por isso, somente quando colegiado concedeu habeas corpus para trancar a
fundadas razões, quanto à urgência e à ação penal contra um réu acusado de tráfico de
drogas. Os policiais que o abordaram, e que
necessidade da medida, estiverem disseram ter encontrado drogas na revista pessoal,
presentes, é que se poderá conceder a afirmaram que ele estava em "atitude suspeita",
busca e apreensão, tanto na fase de sem apresentar nenhuma outra justificativa para o
procedimento. (RHC nº 158580 / BA
(2021/0403609-0) julgado em: 16/12/2021)
31

ou papéis que constituam corpo de delito, permanecendo os autos em juízo, e os


ou quando a medida for determinada no casos de urgência ou de perigo deverão
curso de busca domiciliar”. ser justificados e fundamentados em
decisão que contenha elementos do caso
concreto que justifiquem essa medida
excepcional.
DA PRISÃO, DAS MEDIDAS § 4º No caso de descumprimento de
CAUTELARES E DA qualquer das obrigações impostas, o juiz,
mediante requerimento do Ministério
LIBERDADE PROVISÓRIA Público, de seu assistente ou do
querelante, poderá substituir a medida,
impor outra em cumulação, ou, em último
caso, decretar a prisão preventiva, nos
A LEI nº 12.403 termos do parágrafo único do art. 312
A referida legislação transformou deste Código.
em cautelar toda prisão antes do trânsito § 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido
em julgado, além disso, instituiu diversas das partes, revogar a medida cautelar ou
outras modalidades de medidas substituí-la quando verificar a falta de
cautelares. Assim, deve-se levar em motivo para que subsista, bem como voltar
consideração que todo tipo de prisão será a decretá-la, se sobrevierem razões que a
provisória. Desse modo, algumas justifiquem.
considerações isoladas podem ser feitas: § 6º A prisão preventiva somente será
determinada quando não for cabível a sua
Art. 282. As medidas cautelares previstas
substituição por outra medida cautelar,
neste Título deverão ser aplicadas
observado o art. 319 deste Código, e o não
observando-se a: (Redação dada pela Lei nº
cabimento da substituição por outra
12.403, de 2011).
medida cautelar deverá ser justificado de
I - necessidade para aplicação da lei penal, forma fundamentada nos elementos
para a investigação ou a instrução criminal e, presentes do caso concreto, de forma
nos casos expressamente previstos, para individualizada.
evitar a prática de infrações penais;
Resumo
II - adequação da medida à gravidade do →as medidas cautelares, quando diversas
crime, circunstâncias do fato e condições da prisão, podem ser impostas
pessoais do indiciado ou acusado. independentemente de prévia prisão em
flagrante (art. 282, § 2º, CPP)
§ 1o As medidas cautelares poderão ser
aplicadas isolada ou cumulativamente.
→as referidas medidas cautelares,
§ 2º As medidas cautelares serão diversas da prisão, poderão também
decretadas pelo juiz a requerimento das substituir a prisão em flagrante (art. 310, II,
partes ou, quando no curso da e art. 321, CPP), quando não for cabível
investigação criminal, por representação e/ou adequada a prisão preventiva (art.
da autoridade policial ou mediante 310, II, CPP);
requerimento do Ministério Público.
§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou →a prisão preventiva tanto poderá ser
de perigo de ineficácia da medida, o juiz, decretada independentemente da anterior
ao receber o pedido de medida cautelar, imposição de alguma medida cautelar (art.
determinará a intimação da parte contrária, 282, § 6º, arts. 311, 312 e 313, CPP), quanto
para se manifestar no prazo de 5 (cinco) em substituição àquelas (cautelares)
dias, acompanhada de cópia do previamente impostas e eventualmente
requerimento e das peças necessárias,
32

descumpridas (art. 282, § 4º, art. 312, § 1º,


CPP); Esse entendimento deve ser pilar,
pois qualquer prisão antes do trânsito em
→poderá, do mesmo modo, ser decretada julgado da condenação deverá se fundar
como conversão da prisão em flagrante em ordem escrita e fundamentada da
quando presentes os seus requisitos (art.
autoridade judiciária competente, o que se
310, II, CPP), e forem insuficientes as
contrapõe à construção de 1940, onde as
demais cautelares; nesse caso, impõe-se a
observância do teto/limite de pena contido prisões eram fundadas apenas na
no art. 313, I, CPP (pena superior a quatro culpabilidade.
anos), ressalvadas as hipóteses do mesmo O que estamos a afirmar é que,
art. 313 e do art. 20 da Lei Maria da Penha quando houver risco, concreto e efetivo,
(Lei nº 11.340/06). ao regular andamento do processo, a
ordem pública e econômica, por ato
→a prisão preventiva poderá também ser imputável ao acusado, o Estado poderá
substituída por medida cautelar menos adotar medidas tendentes a superar tais
gravosa, quando esta se revelar mais
obstáculos, ainda que com o recurso à
adequada e suficiente para a efetividade do
sua inerente coercibilidade.
processo (art. 282, § 5º, CPP)
Nesse sentido, por exemplo, a
→quando decretada autonomamente, ou atual redação do art. 283, CPP, trazida
seja, como medida independente do com a Lei nº 13.694/19 (e, desde antes,
flagrante, ou, ainda, como conversão pela 12.403/11), parece afastar
deste, a prisão preventiva submete-se às expressamente a execução provisória35
exigências dos arts. 312 e 313, I, ambos do da condenação criminal36.
CPP; quando, porém, for decretada
subsidiariamente, isto é, como substitutiva “Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão
de outra cautelar descumprida, não se em flagrante delito ou por ordem escrita e
exigirá a presença das situações do art. fundamentada da autoridade judiciária
313, CPP; competente, em decorrência de prisão
cautelar ou em virtude de condenação
→no caso de concurso de crimes, criminal transitada em julgado.”
sobretudo quando presente a conexão ou
continência entre eles, quando a somatória
Desse modo, com a Lei nº
das penas dos delitos superar quatro anos,
12.403/11, o art. 311 passa a dispor que a
será cabível a decretação da prisão
preventiva de modo autônomo. decretação da prisão preventiva pode vir
a ocorrer em qualquer fase do processo,
mas, como já observado, sempre
AS DETERMINAÇÕES acompanhado de devida fundamentação.
Entendimento que ocorrer também nos
CONSTITUCIONAIS DA NÃO
procedimentos do Tribunal do Júri, que
CULPABILIDADE
permite a prisão inclusive após a decisão
“Art. 5º: CF [...] LVII – ninguém será de pronúncia.
considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória;
35
[...] LXI – ninguém será preso senão em Esclareça-se, ao propósito, que a prisão
temporária, ao contrário da preventiva, somente é
flagrante delito ou por ordem escrita e
cabível na fase de investigação, já que instituída
fundamentada de autoridade judiciária para o fim de melhor tutelar o inquérito policial,
competente, salvo nos casos de nos termos da Lei nº 7.960/89.
transgressão militar ou crime propriamente 36
Assim reconheceu o Supremo Tribunal Federal,
militar, definidos em lei” no julgamento das ADCs 43, 44 e 54/DF, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 07.11.19
33

Em suma, a prisão cautelar: (a) forma de se visar a proibição de excessos


depende de ordem judicial fundamentada; e, simultaneamente, a máxima efetividade
(b) pode ser decretada até a sentença de direitos fundamentais.
condenatória; e (c) fundamenta-se nas Após tais considerações, têm-se
razões da prisão preventiva. prudência e proporção na vedação de
imposição de quaisquer medidas
cautelares – incluindo a prisão preventiva
O POSTULADO DA – para as infrações às quais não seja
PROPORCIONALIDADE prevista pena privativa da liberdade (art.
283, § 1º, CPP). Como regra, nenhuma
Inicialmente, torna-se necessário o
providência cautelar pode ser superior ao
conhecimento de que a capacidade
resultado final do processo a que se
postulatória de medidas cautelares pode
destina tutelar.
decorrer por determinação do juiz, por
Há também manifesta
requerimento do MP e também da polícia
proporcionalidade em relação aos crimes
penal, desde que no limite de suas
culposos, para os quais permanece
atribuições, ou seja, a fase investigativa.
vedada a prisão preventiva, ressalvada a
A partir disso, levando em
hipótese do art. 313, parágrafo único,
consideração a existência da
CPP, limitada a prisão para e até a
possibilidade de se impor a prisão e
identificação do acusado. Isso, como
medidas cautelares, o juízo deverá
regra, é claro. Excepcionalmente, e
sempre preferir pela última, como dispõe
sempre excepcionalmente, quando o
o § 6º do art. 282 do CPP. Dado que a
acusado for reincidente em condutas
prisão preventiva se reserva para casos
lesivas a terceiros, mesmo culposas, não
de maior gravidade, cujas circunstâncias
vemos razões para impedir a imposição
sejam indicativas de maior risco à
de penas privativas de liberdade.
efetividade do processo ou de reiteração
Por fim, pensamos que, para as
criminosa.
infrações penais para as quais sejam
Isso decorre do fato de que o
cabíveis e (desde que) aceitas as
magistrado, levará em conta a
hipóteses de suspensão condicional do
necessidade e a adequação da medida, a
processo37, tais como 11.4 previstas no
serem aferidas a partir da garantia da
aplicação da lei penal e conveniência da
art. 89 da Lei nº 9.099/95, não se poderá
investigação ou da instrução criminal. recorrer às medidas cautelares. E isso
E não só isso: a referência feita à porque a suspensão do processo, em si,
adequação da providência (art. 282, II, já determina a ausência de necessidade
CPP), levará em vista a gravidade e de preservação da efetividade do
demais circunstâncias do fato, bem como processo. Não nos parece, contudo, que
as condições pessoais do indiciado ou do semelhante raciocínio possa ser aplicado
acusado. Aliás, a circunstância de uma aos crimes passíveis de acordo de não
anterior prisão em flagrante poderá se
juntar aos demais requisitos, justificando a 37
A suspensão condicional do processo é cabível
aplicação, por conversão (art. 310, II, para crimes com pena igual ou inferior a 1 ano,
CPP), da preventiva. para agentes que não responder a outro processo ou
Assim sendo, os requisitos não ter sido condenado, e preencher os requisitos
elencados anteriormente devem ser da suspensão condicional da pena ( artigo 77 do CP
- não ser reincidente em crime doloso, bons
sopesados em conformidade com o antecedentes e conduta social e não caber a
princípio da proporcionalidade, como substituição por pena alternativa.). artigo 89 da Lei
9.099/95.
34

persecução penal38 (art. 28-A do CPP). O VIII – fiança, nas infrações que a admitem,
limite de pena escolhido pelo legislador para assegurar o comparecimento a atos
para este instituto é demasiadamente do processo, evitar a obstrução do seu
amplo. andamento ou em caso de resistência
injustificada à ordem judicial;
IX – monitoração eletrônica.
MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS X – Por fim, embora não se encontre
DA PRISÃO arrolada entre as hipóteses do art. 319,
“Art. 319. São medidas cautelares diversas MAS introduzida pela Lei nº 12.403/11.
da prisão: Trata-se da proibição de se ausentar do
I – comparecimento periódico em juízo país.
(taxativo), no prazo e nas condições
fixadas pelo juiz, para informar e justificar REGRAS GERAIS DA APLICAÇÃO
atividades;
No que toca ao regramento geral
II – proibição de acesso ou frequência a
de aplicação das medidas cautelares,
determinados lugares quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o alerta-se, à saída, para o fato de que a
indiciado ou acusado permanecer distante imposição de qualquer uma delas deve se
desses locais para evitar o risco de novas reportar à respectiva fundamentação, tal
infrações; como se encontra no art. 282, CPP.
III – proibição de manter contato com Há, porém, hipótese em que não
pessoa determinada, quando, por se admitirá a imposição de qualquer
circunstância relacionada ao fato, deva o medida cautelar, independentemente de
indiciado ou acusado dela permanecer se mostrar necessária a providência.
distante;
Trata-se da proibição de sua imposição
IV – proibição de ausentar-se da Comarca39
nos casos em que não for cominada pena
quando a permanência seja conveniente ou
necessária para a investigação ou privativa da liberdade para a infração
instrução; penal em apuração ou já sob processo
V – recolhimento domiciliar no período (art. 283, § 1º, CPP). O legislador, no
noturno e nos dias de folga quando o caso, foi prudente, evitando a aplicação
investigado ou acusado tenha residência e de medidas cautelares superiores aos
trabalho fixos; resultados finais do processo, na hipótese
VI – suspensão do exercício de função de condenação, orientando-se, pois, pela
pública ou de atividade de natureza proporcionalidade nas restrições de
econômica ou financeira quando houver
direitos.
justo receio de sua utilização para a prática
Do mesmo modo, como já
de infrações penais;
VII – internação provisória do acusado nas dissemos linhas atrás, julgamos
hipóteses de crimes praticados com inadequadas e desnecessárias as
violência ou grave ameaça, quando os medidas cautelares para as infrações de
peritos concluírem ser inimputável ou menor potencial ofensivo, para as quais é
semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e previsto o processo conciliatório da
houver risco de reiteração; transação penal, e também para os casos
de proposta e aceitação da suspensão
38
O acordo de não persecução penal ocorre em condicional do processo, nos termos do
casos de delitos cuja pena mínima seja inferior a 4 art. 89 da Lei nº 9.099/95. As exigências
(quatro) anos, o crime não tenha sido cometido para a suspensão do processo já
com violência ou grave ameaça a pessoa, ter o
implicam providências de natureza
investigado confessado o crime, não ser reincidente
e ter bons antecedentes. acautelatórias. Por razões semelhantes,
39
juíz pode determinar a proibição de saída do
município
35

mostram-se inadequadas, em princípio, grau teria em sua mão um poder de


aos crimes culposos. escolha que dificultaria ainda mais a
Nesse ponto, poder-se-ia objetar: revisão da proporcionalidade. Mas, isso
o fato de, em tese, não ser cabível a não quer dizer que tais cautelas não
decretação autônoma da prisão podem ser aplicadas em hipótese alguma,
preventiva não significaria a pelo contrário, há de se frisar que o direito
impossibilidade de se impor qualquer penal deve se adequar aos casos
outra medida cautelar. É fato que a lei concretos, de modo que o poder geral de
nada dispõe sobre essa proibição para as cautela poderá incidir em casos
cautelares. extremamente excepcionais, as exceções
Há que se ponderar, todavia, que, das exceções.
como em todo o Direito – e já fizemos
essa observação antes – há que se deixar A FIANÇA E SEU CABIMENTO
em aberto a possibilidade da ocorrência Por último, e embora se encontre
de casos excepcionais. na penúltima posição dentre as várias
As medidas cautelares, tal como alternativas à prisão elencadas no art.
ocorre com a prisão preventiva, podem 319, CPP, a fiança parece ser aquela que
ser impostas de modo autônomo ou em reclamará as maiores atenções na práxis
substituição à prisão em flagrante. judiciária. E não só pela indevida
Poderão até substituir a prisão preventiva, manutenção das expressões liberdade
quando esta não mais se mostrar provisória com fiança e liberdade
necessária. Sempre a serem definidas por provisória sem fiança, a insinuar apenas
uma análise ao caso concreto, podendo uma dualidade de regimes cautelares.
ser aplicadas mesmo quando a Mas, sobretudo, porque a sua imposição
disposição legal não prever sua não é obrigatória.
ocorrência no caso em tela. Entendimento No ponto, é bom lembrar que o art.
que acaba por ser mais favorável do que 282, § 1º, CPP dispõe queas medidas
a decretação da preventiva. cautelares poderão ser aplicadas isolada
ou cumulativamente, o que permite
PODER GERAL DE CAUTELA? concluir não se exigir do juiz a imposição
Há quem sustente a possibilidade de fiança para todos os casos em que a
de o juiz criminal, tal como ocorre no cível, sua aplicação não seja proibida.
socorrer-se do poder geral de cautela, No entanto, é exatamente o fato
para, superando as limitações legislativas, de se ter vedado a fiança para
impor medidas e restrições não contidas determinados crimes, por força de
na legislação. Em princípio, somos manifesto equívoco constitucional (crimes
contrários a essa alternativa. de racismo, crimes hediondos, tortura,
Quando, linhas antes, admitimos a drogas etc.), sem qualquer contrapartida,
possibilidade da utilização de medidas ou seja, sem o estabelecimento de
cautelares legais para finalidades diversas medidas cautelares mais rigorosas para
daquelas ali contidas, justificamos o tais crimes, é que a tendência parece ser
posicionamento em dupla fundamentação, no sentido de: (a) se recorrer à fiança,
a saber: (a) a medida cautelar estaria isoladamente, para a generalidade dos
prevista em lei, e (b) também a finalidade delitos, e (b) ao conjunto de outras
estaria prevista em lei, ainda que não cautelares, cumulativamente, para os
vinculada aos motivos de sua imposição. crimes em que seja vedada a fiança.
Isso pois o magistrado de primeiro
36

Assim sendo, Pacelli entende que Vale dizer ainda que a expressão
a imposição de fiança há que ser “em último caso”, relativa à decretação da
reservada as hipóteses de prisão em preventiva, em substituição a outra
flagrante40. Não, por força da tradição de cautelar imposta e descumprida, não
nosso direito, mas diante da gravidade de significa dever o juiz aplicar todas as
suas consequências. Veja-se bem: não se cautelares possíveis antes de se recorrer
sustenta aqui a impossibilidade de sua a ela. Significa apenas que a preferência
imposição fora do flagrante, mas a sua deve ser sempre pelo agravamento das
eventual inadequação. Como alternativa a medidas cautelares diversas da prisão. A
uma prisão preventiva que esteja em lógica da ordem atual é a evitação do
condições (adequação e proporção) de cárcere, sempre que possível.
ser decretada, a fiança seria Frisa-se que a prisão preventiva
perfeitamente válida. não só substitui outra cautelar, mas pode
também ser substituída por uma delas,
PROCEDIMENTO DAS CAUTELARES quando estas se mostrarem adequadas e
Deve-se observar que no direito suficientes (art. 282, § 5º, CPP).
processual penal brasileiro não existe Em continuidade, cumpre pontuar
uma fase processual para as cautelares, que o contraditório pode ser aplicado
dado que a fase investigativa tem antes da decretação das cautelares, como
natureza administrativa. Nesse sentido, no caso do inciso I (comparecimento
vale dizer que tal fase admite uma série periódico em juízo), do inciso II (proibição
de cautelares, algumas dependentes de de frequência determinados locais), do
autorização judicial mediante inciso IV (proibição de ausência da
representação da autoridade policial e do comarca), do inciso V (recolhimento
MP41. domiciliar), do inciso IX (monitoramento
eletrônico) e do inciso VIII (a fiança).
“Art. 282 do CPP [...] § 2º As medidas Mas, quando a análise do caso
cautelares serão decretadas pelo juiz a concreto exigir a decretação sem
requerimento das partes ou, quando no comunicação a defesa não existe
curso de investigação criminal, por qualquer irregularidade, pois o que se visa
representação da autoridade policial ou é a asseguração de uma fase processual
mediante requerimento do Ministério que use os elementos colhidos na fase
Público.” administrativa.
Prosseguindo, as cautelares No que tange respeito, a Lei nº
podem ser aplicadas isolada ou 12.403/11, como se percebe, nada dispôs
cumulativamente, nos exatos termos do nesse sentido, assim, a durabilidade de
art. 282, § 1º, CPP. O parâmetro para a uma medida cautelar estará condicionada
cumulação de medidas é dado pela apenas à sua necessidade, podendo
necessidade e adequação ou a permanecer no tempo enquanto durar o
modalidade das cautelares, na processo, desde que, evidentemente,
perspectiva de sua compatibilidade. repita-se, se mantenham presentes os
40
requisitos do art. 282, I e II, do CPP.
Isso pois no que tange respeito aos delitos do art.
5º, XLII, XLIII e XLV, da CF é inconsistente dado
Mas, pela Lei 13.964/19, o
que ninguém será preso senão por ordem 11.4.2 parágrafo único do art. 316 do CPP,
escrita e fundamentada da autoridade judicial dispõe que uma vez ordenada a prisão
(salvo o flagrante) ou seja, impossível a mera preventiva, o próprio órgão emissor da
prisão for abstração legal.
41
I – na fase de investigação: ao Ministério prisão deverá, a cada 90 dias, avaliar,
Público; à autoridade policial. fundamentadamente, se é necessária a
37

manutenção da prisão, sob pena dela se Art. 302. Considera-se em flagrante delito
tornar ilegal. quem:
No caso de sentença absolutória, I - está cometendo a infração penal;
deverá o juiz revogar toda medida (FLAGRANTE PRÓPRIO)
cautelar imposta (art. 386, parágrafo
II - acaba de cometê-la;(FLAGRANTE
único, II, CPP). Pelas mesmas razões, PRÓPRIO)
quaisquer decisões judiciais/inquérito que
III - é perseguido, logo após, pela
ponham termo ao processo/investigação
autoridade, pelo ofendido ou por qualquer
(rejeição da peça acusatória, absolvição
pessoa, em situação que faça presumir ser
sumária, extinção da punibilidade) sem a autor da infração;(FLAGRANTE
condenação do acusado terão como IMPRÓPRIO)
efeito a cessação imediata das cautelares
eventualmente impostas. Não há um critério legal objetivo
Por fim, com base no o no art. 581, para definir o que seja o logo após
V, CPP mencionado no art. 302, devendo a
Art. 581. Caberá recurso, no sentido questão ser examinada sempre a partir do
estrito, da decisão, despacho ou sentença: caso concreto, pelo sopesamento das
V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou circunstâncias do crime, das informações
julgar inidônea a fiança, indeferir acerca da fuga e da presteza da diligência
requerimento de prisão preventiva ou persecutória
revogá-la, conceder liberdade provisória
IV - é encontrado, logo depois, com
ou relaxar a prisão em flagrante.
instrumentos, armas, objetos ou papéis
Via de regra é aceito HC42 para
que façam presumir ser ele autor da
recorrer, entretanto, Pacelli entende que o infração. (FLAGRANTE PRESUMIDO)
recurso realmente cabível seria o recurso Observa-se que a única distinção do
em sentido estrito43. Completa dizendo impróprio para o presumido é a forma em
que apenas em relação ao recolhimento que se deu a abordagem do acusado, no
domiciliar é que entendemos cabível a primeiro, ela decorre de uma perseguição
impetração do HC, diante da natureza e no segundo de um encontro fortuito.
extremamente restritiva da liberdade que
se contém na medida FLAGRANTE ESPERADO E FLAGRANTE
PREPARADO (PROVOCADO)

A PRISÃO EM FLAGRANTE A principal diferença entre ambos,


segundo se verifica na doutrina e ainda na
Embora por flagrante se deva jurisprudência, é que a primeira situação,
entender a relação de imediatidade entre a do flagrante esperado, é considerada
o fato ou evento e sua captação ou plenamente válida, enquanto a segunda,
conhecimento pelo homem, o art. 302 do flagrante preparado (ou provocado),
contempla também situações em que não não.
é mais possível falar-se em ardência, O exemplo apresentado para fins
crepitação ou flagrância. de caracterização do flagrante preparado
ou provocado parte da suspeita existente
acerca da autoria de delitos anteriores, de
42
O STF ora aceita tal possibilidade (HC tal maneira que um terceiro, denominado
121.089/AP, noticiado no Informativo de agente provocador, atuaria com a
Jurisprudência nº 772), ora rejeita-a (HC 114.490,
RHC 118.015).
finalidade específica de proporcionar uma
43
Por que então se dar preferência àqueles que situação de realidade na qual o suspeito
impetraram o habeas, quando não há ninguém se veria compelido a repetir (já que ele é o
preso???
38

suspeito) a infração. No momento em que Nesse caso, a ação policial seria de


ele assim atuasse, a polícia, já espera, e não de provocação.
previamente colocada em posição
estratégica, efetuaria a prisão em FLAGRANTE DIFERIDO (CONTROLADO)
flagrante delito. A Lei nº 12.850/13, que, no ponto,
A rejeição ao flagrante dito revogou a antiga Lei nº 9.045/95, prevê
preparado ocorre geralmente por dupla uma espécie diferente de flagrante em
fundamentação, a saber: a primeira relação às ações praticadas por
ocorre, porque haveria, na hipótese, a organizações criminosas. Trata-se da
intervenção decisiva de um terceiro44 a chamada ação controlada.
preparar ou a provocar a prática da ação Diante da complexidade que
criminosa e, assim, do próprio flagrante; a acompanha as ações criminosas
segunda, porque dessa preparação, por praticadas por grupos organizados, a lei
parte das autoridades e agentes policiais, prevê a possibilidade de retardamento da
resultaria uma situação de impossibilidade ação policial, para observação e
de consumação da infração de tal acompanhamento das condutas tidas
maneira que a hipótese se aproximaria do como integrantes de ações organizadas.
conhecido crime impossível. Em tal situação, a ação policial, ou seja, a
Semelhante entendimento veio a prisão em flagrante, será diferida, isto é,
ser sumulado na Suprema Corte (Súmula adiada, para que a medida final se
145), que tem os seguintes termos: “Não concretize no momento mais eficaz, do
há crime, quando a preparação do ponto de vista da formação da prova e
flagrante pela polícia torna impossível a fornecimento de informações (art. 8º).
sua consumação”45.
Na mesma linha, a Lei nº 11.343,
Já no flagrante esperado, não há de agosto de 2006, a Lei de Tóxicos,
intervenção de terceiros na prática do prevê a possibilidade de infiltração por
crime, mas informação de sua existência. agentes de polícia, em tarefas de
Ocorreria, por exemplo, quando alguém, investigação, constituída pelos órgãos
que por qualquer motivo tivesse especializados pertinentes (art. 53, I),com
conhecimento da prática futura de um finalidade de punir o maior números de
crime, transmitisse tal informação às agentes possíveis.
autoridades policiais, que então se Mais recentemente, a Lei nº
deslocariam para o local da infração, 13.441/17 introduziu nova modalidade de
postando-se de prontidão para evitar a infiltração policial na internet, quando se
sua consumação ou o seu exaurimento. tratar de crimes de natureza sexual
envolvendo menores de idade a medida
44
Pacelli entende que esta teoria não faz sentido, exige autorização judicial (art. 190-A, I)
pois o direito penal brasileiro pune tanto o partícipe que estabeleça expressamente os limites
quanto o autor (na medida de sua culpabilidade, art.
29 do CP), independentemente se o partícipe fez da infiltração para a obtenção de prova. O
nascer a vontade do autor ou apenas contribuiu para próprio requerimento de infiltração deverá
que ela aumenta-se conter o alcance das tarefas dos policiais,
45
além da especificação dos investigados
Pacelli entende em sentido contrário, ao
argumento de que o delito ali em questão é tão (art. 190-A, II). Mais: possui prazo máximo
impossível (na verdade,acredita que não é (inciso III do mesmo dispositivo), e tanto a
impossível, mas trata dessa forma por conta da autoridade judicial quanto o Ministério
doutrina) quanto o do flagrante esperado, pois não
Público poderão pedir relatórios parciais
irá,se realizar da mesma forma e, assim sendo, não
existe compatibilidade em aceitar um e negar o antes do término do referido prazo. Por
outro. fim, não se admite a infiltração se a prova
39

puder ser obtida de outra maneira (§ 3º), e pena de nulidade do processo. Após as
há também previsão de sigilo dos autos, oitivas, se efetivamente demonstrado
naturalmente, além de responsabilização indícios de autoria, é lavrado o APFD e é
pelos excessos praticados. entregue ao acusado sua nota de culpa e
ciências constitucionais. (se ele não
FLAGRANTE FORJADO aceitar, outras duas pessoas assinam por
Aqui o acusado não comete ele, mantendo a validade do ato).46
qualquer ato ilícito, pois terceiros Se for cabível a fiança, o delegado
constroem uma situação em que pela de polícia irá oferecê-la e o acusado será
aparência se conclui que ele realizou o liberado. Caso contrário, o rito continua e
delito. Assim, não existe possibilidade de o APFD deve ser encaminhado ao juiz de
que as provas aqui colhidas deem origem garantias e, no caso do acusado não
a um processo. E mais, essa conduta é possuir advogado, deverá ser remetida
considerada irregular e os terceiros cópia a Defensoria. Frisa-se que todo o
devem ser punidos procedimento deve ocorrer em até 24
horas.
FUNÇÕES DA PRISÃO EM FLAGRANTE
Por fim, vale ressaltar que se o
Pretende-se, com a prisão em agente foi conduzido para a delegacia em
flagrante, impedir a consumação do delito, virtude de crimes de baixo potencial lesivo
seu exaurimento e que seus efeitos sejam (pena em abstrato de até 02 anos) ou
ainda mais nefastos. Não é por outra contravenção penal, não ocorre APDF,
razão que o Código de Processo Penal mas sim termo circunstanciado, onde o
autoriza qualquer pessoa do povo a agente se compromete a acompanhar o
realizar a prisão em flagrante. E não é só: processo.
também não é por outra razão que a
Constituição Federal autoriza a violação A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
do domicílio, sem mandado judicial e
mesmo à noite, quando presente situação
de flagrante delito (art. 5º, XI, CF).
De outro lado, já mais conectada
aos interesses da persecução penal, a
prisão em flagrante revela-se
extremamente útil e proveitosa no que se
refere à qualidade e à idoneidade da
prova colhida imediatamente após a
prática do delito.

PROCEDIMENTO
A primeira etapa é a prisão
captura, que pode ser realizada por
qualquer pessoa. Posteriormente, o
agente é conduzido até a delegacia de
polícia, onde ocorre a audiência de Foi implementado no Brasil com a
flagrante, aqui será ouvido o condutor, ao ratificação do Pacto de San José da
menos 02 testemunhas, a vítima e, por Costa rica e, mais tarde, explicitada pelo
último o acusado.
46
No delito de tráfico de droga, apenas é possível a
Em relação a este, deve ele ser
lavratura do APFD com a existência de laudo
informado de todos seus direitos, sob preliminar de drogas
40

CNJ (Resolução 213), ou seja, tal § 2º Se o juiz verificar que o agente é


procedimento careceu de disposição legal reincidente ou que integra organização
durante um longo período, até que a Lei criminosa armada ou milícia, ou que porta
nº 13.964/19, alterou a redação do art. arma de fogo de uso restrito, deverá
denegar a liberdade provisória, com ou
310 do CPP, estabelecendo enfim alguns
sem medidas cautelares.
parâmetros atinentes à audiência de
custódia e também dirimindo as dúvidas
Novidade digna de nota é a
quanto à legalidade estrita deste ato.
criação do § 4º de outra hipótese de
Neste dispositivo, o juízo de
ilegalidade da prisão: se não realizada a
garantias deveria estabelecer prisão em
audiência de custódia no prazo de 24
flagrante em até 24 horas do recebimento
horas – sem motivação suficiente para ter
do flagrante, como regra – com a
sido ultrapassado referido prazo – restará
presença do acusado, seu advogado
configurada automaticamente a
constituído ou membro da Defensoria
ilegalidade da prisão (em flagrante). E o §
Pública e o Ministério Público, sendo que,
3º acrescido ao art. 310 pela Lei nº
nesse momento deverá
13.964/19 trouxe uma penalidade para
fundamentadamente decidir sobre a
além dos efeitos da revogação da prisão
aplicação dos incisos I, II ou III do art. 310
quem der causa à não realização da
do CPP.
audiência de custódia no prazo de 24
horas, responderá administrativa, civil e
Art. 310. Após receber o auto de prisão em
penalmente pela omissão.47
flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte
e quatro) horas após a realização da Quanto ao procedimento, deve-se
prisão, o juiz deverá promover audiência atentar para o seguinte: não se trata de
de custódia com a presença do acusado, uma antecipação de interrogatório. Mais
seu advogado constituído ou membro da ainda: não se está abrindo a oportunidade
Defensoria Pública e o membro do para o avanço acerca das circunstâncias
Ministério Público, e, nessa audiência, o e elementares do delito posto então sob
juiz deverá, fundamentadamente: suspeita. A audiência destina-se tão
I - relaxar a prisão ilegal; somente ao exame da necessidade de se
manter a custódia prisional, o que significa
II - converter a prisão em flagrante em
preventiva, quando presentes os requisitos que o magistrado deve conduzir a
constantes do art. 312 deste Código, e se entrevista sob tal e exclusiva perspectiva.
revelarem inadequadas ou insuficientes as Assim, mesmo que ocorra
medidas cautelares diversas da prisão; confissão do crime por parte do acusado
III - conceder liberdade provisória, com ou
nesta etapa não há que se falar em
sem fiança.
§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão
em flagrante, que o agente praticou o fato
em qualquer das condições constantes 47
§§ 1º e 2º do art. 1º da Lei nº 13.869/19: “§ 1º
dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do As condutas descritas nesta Lei constituem crime
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de de abuso de autoridade quando praticadas pelo
1940 (Código Penal), poderá, agente com a finalidade específica de prejudicar
fundamentadamente, conceder ao acusado outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou,
liberdade provisória, mediante termo de ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal”; e
“§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na
comparecimento obrigatório a todos os
avaliação de fatos e provas não configura abuso de
atos processuais, sob pena de revogação. autoridade”. Frisa-se, ainda, que não configurará de
imediato o abuso de autoridade, pois pode ocorrer
de modo culposo.
41

condenação e, muito menos, na produção a sua absoluta necessidade (art. 2º, § 4º,
de coisa julgada.48 da Lei nº 8.072/90).49
No mais, outro aspecto digno de O art. 1º desta lei elenca que a
nota desta audiência é que ela deverá ser prisão temporária apenas caberá em 3
sempre presencial, como decidiu o STJ no situações:/
CC 168.522-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, No inciso I (facultativo se houver o
publicado em 17.12.2019, vedando-se a II), afirma-se que caberá a prisão
sua realização por videoconferência. temporária “quando imprescindível para as
investigações do inquérito policial”. No
PRISÃO TEMPORÁRIA inciso II (facultativo se houver o I), a
referência é feita a “quando o indiciado não
Dissemos, logo no início da tiver residência fixa ou não fornecer
abordagem do tema relativo às prisões, elementos necessários ao esclarecimento
que toda prisão, antes do trânsito em de sua identidade”. E, finalmente, no inciso
julgado, será sempre cautelar e também III (imprescindível e taxativo), caberá a
provisória. A prisão temporária não temporária “quando houver fundadas
poderia fugir à regra. razões, de acordo com qualquer prova
Trata-se de prisão cuja finalidade é admitida na legislação penal, de autoria ou
a de acautelamento das investigações do participação do indiciado nos seguintes
inquérito policial ou aquele conduzido pelo crimes”: arrolando, a seguir, inúmeras
MP (não podendo ser aplicada na fase da infrações penais, tendo por característica
ação penal), consoante se extrai do art. comum o fato de serem infrações mais
1º, I, da Lei nº 7.960/89, no que cumpriria gravemente apenadas, muitas das quais
a função de instrumentalidade, isso é, de incluídas entre os crimes hediondos ou
cautela. E será ainda provisória, porque equiparados50.
tem a sua duração expressamente fixada Em continuidade, vale dizer que
em lei, como se observa de seu art. 2º e findo o prazo estipulado em lei, o agente
também do disposto no art. 2º, § 4º, da tem de ser posto em liberdade sem
Lei nº 8.072/90 (Lei dos Crimes necessidade de alvará, salvo quando
Hediondos). decretado sua prisão preventiva como
Nesses termos, a prisão uma necessidade do caso concreto. Com
temporária não pode ser decretada ex isso, o prazo para encerramento do
officio, devendo ser representada pela inquérito, de dez dias estando preso o
autoridade policial ou a requerimento do acusado (e de 15 dias, prorrogáveis, na
MP. Justiça Federal), somente teria início a
O prazo máximo previsto na lei é partir da decretação da preventiva, não
de cinco dias (dentre os quais se inclui o
dia do cumprimento do mandado, 49
Esse último prazo deve ser observado com
conforme § 8º do art. 2º), prorrogáveis cautela, pois permite que os policiais tenham mais
uma única vez, se demonstrada a sua tempo durante o curso da investigação, dado que o
extrema necessidade. Tratando-se, prazo do curso da investigação é, normalmente, de
porém, de crime considerado hediondo ou 10 dias para o réu preso (prorrogado por mais 10).
Ou seja, deve-se analisar ao caso concreto qual
equiparado, conforme previsão na Lei nº prisão é mais benéfica)
8.072/90, o prazo será de 30 dias, Entendimento que apenas não se aplica ao tráfico
prorrogáveis por mais 30, se demonstrada de drogas, que normalmente tem tempo de 30 dias
50
Aqui torna-se interessante que por se tratar de
um dispositivo taxativo, a prisão temporária é
cabível para associação criminosa, mas não é para
48
HC nº 157.306/SP (Rel. Min. Luiz Fux, julgado organização criminosa, salvo se esta estiver
em 25.09.2018 realizando os delitos considerados no roll.
42

incluindo, portanto, o prazo da prisão utilização de conceitos jurídicos


temporária. indeterminados, sem explicar o motivo
Frise-se ademais que esta concreto de sua incidência ao caso.
modalidade de cautelar pode ser aplicada Terceira (incisos III, V e VI): Com
de forma autônoma. efeito, e em primeiro lugar, também
passou a não se considerar como
PRISÃO PREVENTIVA suficiente a invocação de motivos que se
prestaram a justificar qualquer outra
decisão, bem assim a invocação de
precedente ou enunciado de súmula, sem
identificar os fundamentos essenciais e
determinantes e nem demonstrar que o
caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos.
Dessa forma, o que se entende é
que já é sedimentado, especialmente no
STF e no STJ, que a fundamentação apta
é aquela que for declinada pelo julgador e
suficiente para embasar o
pronunciamento jurisdicional. Com efeito,
não há direito subjetivo das partes de que
sejam enfrentados todos os argumentos e
teses que declinem em processo judicial,
Se a prisão em flagrante busca salvo aquelas que tenham possibilidade
sua justificativa e fundamentação, de infirmar a conclusão a que chegou a
primeiro, na proteção do ofendido, e, decisão atacada.
depois, na garantia da qualidade Além disso, apesar de a lei não o
probatória, a prisão preventiva revela a dizer, entendemos que a parte
sua cautelaridade na tutela da persecução interessada na discussão acerca da
penal, objetivando impedir que eventuais ausência de fundamento deverá indicar,
condutas praticadas pelo alegado autor objetivamente, onde se encontra na
e/ou por terceiros possam colocar em decisão objurgada a falha que contrasta
risco a efetividade da fase de investigação com a tese por ela desenvolvida.
e do processo. Mas, como já salientado, toda
Em razão da sua gravidade, e decisão deve conter dispositivo
como decorrência do sistema de garantias previamente estabelecido em lei, ou seja,
individuais constitucionais, somente se não bastará a mera justificação se não
decretará a prisão preventiva “por ordem houver dispositivo legal que permita tal
escrita e fundamentada da autoridade ação.
judiciária competente”, conforme se A prisão preventiva, então, passa
observa com todas as letras no art. 5º, a apresentar duas características bem
LXI, da Carta de 1988. definidas, a saber: (a) ela será autônoma,
Primeira (inciso I): não se podendo ser decretada
considera fundamentada a decisão que se independentemente de qualquer outra
limitar a indicar, reproduzir ou fizer providência cautelar anterior; e (b) ela
paráfrase de ato normativo, sem explicar será subsidiária, a ser decretada em
a relação com a causa ou a questão razão do descumprimento de medida
decidida. Segunda (inciso II): vedação de cautelar anteriormente imposta. E mais.
43

Há três situações claras em que poderá Vale ainda a ressalva de que a


ser imposta a prisão preventiva: manutenção da prisão é sim possível se
1. A qualquer momento da os motivos que a ensejaram ainda
fase de investigação ou do permanecem, mas desde que as suas
processo, de modo características sejam adaptadas para se
autônomo e independente enquadrarem no regime semiaberto51.
(arts. 311, 312 e 313, Mas, para tanto, é necessário também
CPP); que se trate de um caso excepcional
2. Como conversão da prisão
em flagrante, quando REQUISITOS FÁTICOS
insuficientes ou “Art. 312.52 A prisão preventiva poderá ser
inadequadas outras decretada como garantia da ordem pública,
medidas cautelares (art. da ordem econômica53, por conveniência
310, II, CPP); da instrução criminal54 ou para assegurar a
3. e em substituição à medida aplicação da lei penal55, quando houver
prova da existência do crime e indício
cautelar eventualmente
suficiente de autoria e de perigo gerado
descumprida (art. 282, § 4º,
pelo estado de liberdade do imputado.
CPP). § 1º A prisão preventiva também poderá
De outro lado, não será cabível a ser decretada em caso de descumprimento
preventiva: (a) para os crimes culposos, e de qualquer das obrigações impostas por
(b) quando não for prevista pena privativa força de outras medidas cautelares (art.
da liberdade para o delito (art. 283, § 1º, 282, § 4º).
CPP). § 2º A decisão que decretar a prisão
No primeiro caso, dos crimes preventiva deve ser motivada e
culposos, a vedação da preventiva fundamentada em receio de perigo e
existência concreta de fatos novos ou
decorre do postulado da
contemporâneos que justifiquem a
proporcionalidade, na perspectiva da
aplicação da medida adotada.”
proibição do excesso, a impedir que uma Por essa razão, e como regra,
medida cautelar seja mais grave e quando o juiz, pelas provas constantes
onerosa que o resultado final do processo dos autos, constatar ter o agente
condenatório. No segundo caso, por praticado o fato em legítima defesa, ou
expressa impossibilidade legal de estado de necessidade ou qualquer outra
imposição de cautelares. excludente de ilicitude (art. 23, CP), não
De outro lado, a prisão preventiva, será decretada a prisão preventiva, nos
diferentemente da prisão temporária, termos do art. 314 do CPP. O que poderia
presta-se a tutelar tanto a fase de ocorrer é a decretação de liberdade
investigação quanto a fase de processo, vinculada, onde o agente teria de se
podendo ser decretada a qualquer tempo comprometer a comparecer nos atos
(art. 311, CPP). Tomem-se os exemplos processuais, sob pena de decretação da
das prisões decretadas por ocasião da
decisão de pronúncia (art. 413, § 3º, CPP)
51
e da sentença condenatória (art. 387, (RHC 53.828/ES, Rel. Min. Jorge Mussi,
24.04.2015).
parágrafo único, e art. 492, I, e, CPP). E, 52
fumus comissi delicti e periculum libertatis
como as demais medidas cautelares, está 53
Jurisprudência entende como risco de reiteração
submetida a cláusula de imprevisão, ou delitiva, o que por vezes, é analisado pelos
seja, durará enquanto as razões que antecedentes
54
Evitar que o agente perturbe a produção de
justificaram sua aplicação ainda provas
sobrevierem. 55
Risco de aplicação de uma futura reprimenda
44

preventiva. Porém, isso apenas ocorreria observa-se que, para a sua efetiva
quando em situação de flagrante delito, aferição, o julgador deverá levar em
caso contrário seria tido como impossível. consideração os deletérios efeitos da
Em continuidade, Pacelli entende manipulação da opinião pública.
como infeliz a manutenção do referido
diploma “manutenção da ordem REQUISITOS NORMATIVOS
econômica”, pois, evidencia-se tratar de Art. 313. Nos termos do art. 312 deste
cautela voltada para crimes económicos Código, será admitida a decretação da
abrangidos pela lei do colarinho branco, prisão preventiva:
onde se entende que a melhor cautela I - nos crimes dolosos57 punidos com pena
para esses casos seria o sequestro bens, privativa de liberdade máxima superior
salvo casos excepcionais. (não igual) a 4 (quatro) anos58;
O autor ainda tece críticas a
II - se tiver sido condenado por outro crime
manutenção do termo “ordem pública”, doloso, em sentença transitada em
isso pois se trata de uma terminologia julgado59, ressalvado o disposto no inciso I
demasiadamente ampla e que ainda não do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848,
foi pacificada na jurisprudência. O autor de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;
ainda entende que tal dispositivo fere a
III - se o crime envolver violência
presunção de inocência, pois atua de doméstica e familiar (sempre doloso)
forma a adiantar a culpabilidade do contra a mulher, criança, adolescente,
agente, como se estivesse prevendo que idoso, enfermo ou pessoa com deficiência,
ele acabaria por delinquir novamente, o para garantir a execução das medidas
que apenas poderia ocorrer em virtude de protetivas de urgência;
necessidades do caso concreto. § 2º Não será admitida a decretação da
A Suprema Corte, no julgamento prisão preventiva com a finalidade de
do HC nº 84.498/BA, Rel. o Min. Joaquim antecipação de cumprimento de pena ou
Barbosa, em 14.12.2004, reconheceu a como decorrência imediata de investigação
possibilidade de decretação da prisão criminal ou da apresentação ou
preventiva para garantia da ordem recebimento de denúncia.
pública, em razão da “enorme
repercussão em comunidade interiorana, Não basta, porém, a presença dos
além de restarem demonstradas a chamados requisitos fáticos para a
periculosidade da paciente e a decretação da prisão preventiva. Por isso,
possibilidade de continuação da prática dispõe o art. 313 do CPP que a regra
criminosa”. Tratava-se de apuração de geral é a permissão da prisão preventiva
homicídio qualificado, praticado contra o para os crimes dolosos e cuja pena
cônjuge. Na oportunidade, ficou vencida a máxima, privativa da liberdade, seja
Min. Ellen Gracie (Informativo STF nº 374, superior a quatro anos (I). Afasta-se,
2.2.2005)56. então, de plano e como regra, a prisão
Mas, frisa-se que o clamor público preventiva autônoma para os crimes
não seria suficiente para a decretação da culposos e para as contravenções penais.
prisão cautelar, mas apenas um
57
referencial a mais para o seu exame, Não cabe prisão preventiva em crime doloso
com pena maior de 4 anos, em crime culposo e em
contravenções.
56 58
STF – HC nº 89.525-5/GO, 2ª Turma, Rel. Min. Não cabe aqui as agravantes e atenuantes
Gilmar Mendes,DJ 9.3.2007; e, ainda, HC nº genéricas do art. 61. Mas, cabe por qualificadoras,
92.735/CE, 2ª Turma, Rel. Cezar Peluso, julgado causas de aumento e concurso de crimes.
59
em 8.9.2009) e QO em HC nº 85.298-SP, Rel. para Não leva em conta o quantitativo de pena
o acórdão, Min. Carlos Britto máxima.
45

Para os demais crimes dolosos, E a terceira exceção, que, aliás, já


com pena igual ou inferior a quatro anos, antecipamos no item anterior, diz respeito
a prisão somente será possível se, ao disposto no art. 20 da chamada Lei
presentes também as situações do art. Maria da Penha, Lei nº 11.340/06, que
312, for reincidente (art. 64, I, CP) o cuida das medidas protetivas de urgência
aprisionado, por condenação passada em em favor da mulher nas infrações que
julgado pela prática de outro crime doloso configurem violência doméstica,
(art. 313, CPP). sobretudo quando houver o risco de
Nos casos em que houver dúvida reiteração da conduta60
quanto à identidade civil do acusado (ou
indiciado), pela ausência de elementos REVOGAÇÃO DA PREVENTIVA
idôneos para o respectivo esclarecimento, Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a
a prisão preventiva também poderá ser pedido das partes, revogar a prisão
decretada, para quaisquer crimes dolosos, preventiva se, no correr da investigação ou
devendo o preso ser colocado em do processo, verificar a falta de motivo
liberdade tão logo seja esclarecida a para que ela subsista, bem como
questão, sem prejuízo da imposição de novamente decretá-la, se sobrevierem
razões que a justifiquem.
alguma outra medida cautelar (art. 313,
parágrafo único, CPP), que atenda os Parágrafo único. Decretada a prisão
requisitos do art. 282, I e II, CPP. preventiva, deverá o órgão emissor da
A Lei nº 11.340/06, que cuida do decisão revisar a necessidade de sua
sistema de proteção à mulher contra a manutenção a cada 90 (noventa) dias,
mediante decisão fundamentada, de ofício,
Violência Doméstica e Familiar, já havia
sob pena de tornar a prisão ilegal.61
incluído modalidade de autorização para a
preventiva, quando o crime envolvesse
Frisa-se ainda que a decretação da
violência doméstica e familiar contra a
preventiva não pode mais ocorrer de
mulher, nos termos da lei específica, para
ofício pelo juiz no decorrer da ação
garantir a execução das medidas
penal62, o que decorre da Lei 13.964/19,
protetivas de urgência (art. 42). A Lei nº
que exige a comunicação ao MP. Mas,
12.403/11 manteve a aludida modalidade
também é permitido que o juiz – de ofício
de prisão preventiva, ampliando-a para a
(!) – em desaparecendo os motivos da
proteção da criança, do adolescente e do
decretação, revogue a preventiva (ou as
idoso, enfermo ou pessoa com
medidas cautelares impostas) ou
deficiência, de modo a garantir a
substitua-a por outra cautelar menos
execução das medidas protetivas
gravosa, segundo a lógica do art. 282, §
previstas em leis (art. 313, III, CPP).
5º, do CPP. Curiosamente, é permitido
EXCEÇÕES AO ART. 313 que o magistrado volte a decretar de
ofício a custódia preventiva (ou medidas
Tais exceções tem início com o
delito de associação criminosa, não só por
suas características particulares e efeitos
60
nocivos, mas também, por que, via de STJ – HC 170.443-DF, Rel. Min. Laurita Vaz,
DJE, 8.9.2011.
regra, tal tipo vem acompanhado de 61
A inobservância da reavaliação[...], após o prazo
outros delitos. E, dessa forma, quando a legal de 90 dias, não implica a revogação
somatória, em abstrato, das penas automática da prisão preventiva, devendo o juízo
competente ser instado a reavaliar a legalidade e a
cominadas (concursos de crimes) aos
atualidade de seus fundamentos. Liminar n° 1.395.
delitos atingir o limite do citado art. 313, I 62
II – na fase de processo: ao Ministério Público e
(superior a quatro anos). ao querelante; ao assistente habilitado;
46

cautelares), se sobrevierem razões que a estaria a ensejar o habeas corpus, com


justifiquem (art. 316 e art. 282, § 5º). fundamento no art. 648, II, do CPP, cujo
Ou seja, quando se tratar de comando considera ilegal a coação
imposição autônoma, o juiz não poderá “quando alguém estiver preso por mais
decretar ofício (salvo a situação em tempo do que determina a lei”
flagrante63), mas deverá o magistrado Então, do somatório dos prazos
revogar a preventiva ou aplicar uma para o estabelecimento do que seria o
menos gravosa de ofício. E, ainda, poderá prazo legal para o encerramento da ação
voltar atrás e decretar a cautelar penal, alcançou-se o total de 81 dias (de
novamente,quando sobrevierem razões 101 dias, se prorrogado o prazo de 15
que a justificassem, pois já terá ocorrido, dias para a conclusão do inquérito, no
em momento anterior, a provocação do âmbito da Justiça Federal). Vale ressalvar
parquet ou situação de flagrante. ainda que o STJ em sua súmula 52,
dispõe que: “Encerrada a instrução
criminal, fica superada a alegação de
PRAZO: A CONSTRUÇÃO JUDICIAL constrangimento por excesso de prazo.”64
Ao contrário de algumas Excedido que seja o prazo na
legislações, o Código de Processo Penal prisão cautelar, impor-se-á o seu
não prevê prazo expresso para a duração relaxamento, seja pela via do habeas
da prisão preventiva e nem das demais corpus, seja ex officio, pelo tribunal, na
cautelares, embora determine que o juízo apreciação de eventual recurso. E isso,
reveja sua decisão a cada 90 dias, seja independentemente da natureza do crime
para mantê-la ou revogá-la (art. 316, em apuração.
parágrafo único). A única exceção em
VEDAÇÃO LEGAL À PRISÃO
nossa legislação encontra-se na Lei nº
PREVENTIVA
12.850/13, que cuida das ações
praticadas por organizações criminosas, Tema dos mais esquecidos é o
cujo art. 22 estabelece o prazo de 120 que diz respeito à vedação de prisão
dias, prorrogáveis por igual período, para cautelar – ressalvado o flagrante delito –
o encerramento da instrução, quando em período eleitoral. Nos termos do
preso o acusado. disposto no caput do art. 236 do Código
Entendendo que a ausência, no Eleitoral (Lei nº 4.737/65), é vedada a
CPP, de fixação de prazo certo para a prisão ou detenção de qualquer eleitor, no
duração da prisão preventiva deixava o período de cinco dias antes e 48 horas
acusado inteiramente à mercê do Estado, depois do encerramento das eleições,
nossa jurisprudência elaborou salvo em flagrante delito, em virtude de
entendimento segundo o qual, sentença penal condenatória por crime
cuidando-se de réu preso provisoriamente inafiançável, ou, ainda, por desrespeito a
no curso da ação penal, esta deveria salvo-conduto.
estar concluída nos prazos previstos em
lei, sob pena de caracterização de PRISÃO DOMICILIAR
constrangimento ilegal. A hipótese, então, Atua como uma modalidade
substitutiva da prisão preventiva, o que
63
As medidas cautelares são autônomas, como
64
regra, não dependendo de anterior prisão em Entretanto, deve-se lembrar que é sempre
flagrante para a sua imposição, embora possam necessária uma análise ao caso concreto, ou seja,
também ser aplicadas como substitutivas dessa, pode haver casos em que a sentença demore
quando não for cabível a prisão preventiva (art. demasiadamente para ser publicada e se verifique
321, CPP). constrangimento ilegal.
47

exige alguns requisitos legais arrolados O ATO PRISIONAL: GENERALIDADES


no art. 318 do CPP (que devem ser Observe-se, por primeiro, que, em
comprovados por laudos e atestados): toda prisão, o preso será informado de
seus direitos, nos termos do inciso LXIII
“I – maior de 80 (oitenta) anos; II –
do art. 5º da Constituição Federal (o
extremamente debilitado por motivo de
direito a permanecer em silêncio, de
doença grave; III – imprescindível aos
cuidados especiais de pessoa menor de 6 comunicação de sua prisão aos familiares,
(seis) anos ou com deficiência; IV – de constituir advogado imediatamente,
gestante; V – mulher com filho de até 12 dos motivos de sua prisão e o nome de
(doze) anos de idade incompletos; VI – seus executores).
homem, caso seja o único responsável Feito isso, a autoridade policial
pelos cuidados do filho de até 12 (doze) deverá encaminhar o auto de prisão em
anos de idade incompletos.” flagrante ao juiz competente, em vinte e
Pacelli realiza uma crítica em quatro horas. Se o aprisionado não tiver
relação a maternidade e a paternidade, indicado o nome de seu advogado, cópias
isso pois mesmo que a mulher more em do auto de prisão serão encaminhadas
outro estado da federação, ou tenha sido também à Defensoria Pública (art. 306, §
destituída do poder familiar em relação ao 1º). Na mesma ocasião, se entregará ao
filho, poderá ainda assim se beneficiar da preso, mediante recibo, a nota de culpa,
substituição da prisão. Igual regramento da qual deverão constar: (a) o motivo da
não se estende ao pai, mesmo que ele prisão; (b) o nome do condutor e das
conviva diariamente com o filho, testemunhas do ato; (c) a assinatura da
coabitando a residência e participando autoridade (art. 306, § 2º).
ativamente de sua criação e Em relação ao momento da prisão,
desenvolvimento pessoal, salvo se for o deve-se observar que:
único responsável. a) a prisão, por e com mandado
No mais, vale a ressalva de só é judicial, somente poderá ser
cabível tal modalidade para as mulheres realizada de dia, isto é, até as 18
mães quando se tratar de crime cometido horas (quando se pode considerar,
sem violência e que não foi praticado como regra, o final do expediente
contra o filho ou dependente. de trabalho e, assim, o horário
Recentemente o Superior Tribunal noturno, reservado ao descanso e
de Justiça operou relevanteadendo às sossego do morador);
novas regras, ao julgar (HC nº b) à noite, se não o consentir o
487.763/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares morador, a prisão somente poderá
da Fonseca, 5ª Turma, por unanimidade, ser realizada em situação de
julgado em 02.04.2019) que, na hipótese flagrante delito em curso, naquele
específica do inciso V, a prisão domiciliar momento, no interior da
pode ser aplicada inclusive na fase de residência. Do contrário, se à
execução da pena, ou seja, mesmo em se noite, não sendo a hipótese de
tratando de presa definitiva. flagrante e, sim, de prisão por
Entretanto, vale dizer que existem mandado judicial, o executor do
exceções mesmo quando se tratar de mandado deverá guardar todas as
pessoa que cumpre os requisitos saídas do local, e, tão logo
elencados. Isso ocorre em casos onde o amanheça o dia, o que se pode
agente que poderia receber a prisão considerar a partir das 6 horas,
domiciliar é líder (comprovado) de arrombar as portas da casa, na
organização ou associação criminosa.
48

presença de duas testemunhas, alheia, por parte do preso ou de terceiros,


se, intimado o morador (seja ele justificada a excepcionalidade por escrito,
ou não a pessoa a ser sob pena de responsabilidade disciplinar,
aprisionada), este não autorizar o civil e penal do agente ou da autoridade e
de nulidade da prisão ou do ato processual
seu ingresso (art. 293, CPP).
a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado.”
Ressalta-se que o art. 287, CPP
Entretanto, deve-se obsevrar que
elenca que tratando-se de crime
o uso de violência ou algemas não leva a
inafiançável, a falta de exibição do
nulidade processual e sequer a nulidade
mandado não obstará à prisão, e o preso,
da prisão. Nesse sentido, pode (deve) o
em tal caso, será imediatamente
ato ser realizado novamente sem
apresentado ao juiz que tiver expedido o
exacerbada violência.66
mandado, para realização de audiência
Por fim, no caso de haver
de custódia.65
perseguição, seja em flagrante delito, seja
Frisa-se que o CNJ possui um
em cumprimento de mandado judicial, o
banco de dados acessíveis a todos os
agente de polícia poderá efetuar a prisão
agentes que cumprem mandados de
em qualquer lugar em que for alcançado o
prisão, o que ocorre em casos de o réu
perseguido, devendo, então, apresentar o
estar ausente da comarca em que atua o
preso à autoridade local, que lavrará o
juiz que determinou a prisão.
auto de prisão (se de flagrante se tratar).
As prisões, seja em flagrante, seja
Em relação a perseguição, ainda
por mandado judicial, serão efetuadas
vale destacar que mesmo que o policial
sem o emprego de força, salvo a
perca de vista o agente, mas tenha
indispensável para vencer eventual
informações de sua localidade, ainda
resistência ou eventual tentativa de fuga
restará comprovado a perseguição.
(art. 284), ainda que a resistência seja
produzida por terceiros, quando, então,
PRISÃO ESPECIAL
será lavrado o respectivo auto (de
resistência), na presença de duas O art. 295 do CPP cuida das
testemunhas (art. 292). Nesse campo, o chamadas prisões especiais, cabíveis
emprego de armas exclusivamente para para determinadas pessoas, em razão
evitar a fuga não pode ser aceito como das funções públicas por elas exercidas,
meio indispensável para vencer a da formação escolar por elas alcançada e,
resistência, podendo constituir, isso sim, finalmente, em razão do exercício de
dependendo do caso concreto, crime atividades religiosas. Mas que apenas
doloso contra a vida. valem durante as prisões provisórias
No momento da prisão, ainda À exceção de uma ou outra
deverão ser cumpridas uma série de situação, sobretudo quando fundada no
cautelas, dentre elas, menciona-se a exercício de determinadas funções
Súmula Vinculante 11, do Supremo públicas, ligadas à própria persecução
Tribunal Federal, nos seguintes termos: penal, parece-nos absurdamente desigual
“Só é lícito o uso de algemas em casos de o tratamento reservado a algumas
resistência e de fundado receio de fuga ou pessoas, especialmente quando baseado
de perigo à integridade física própria ou no grau de escolaridade dos que são
portadoras (art. 295, VII, CPP).67
65
Pacelli entende que esse dispositivo é
66
inconstitucional, pois vai na contra-mão de todo o Decreto nº 8.858/2016
67
sistema de garantias. Entendimento já alterado pelo STF, na ADPF
334 - todas as pessoas que forem presas
49

No mais, estabelece o art. 300 do dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do


CPP que sempre que possível os presos CP, poderá, fundamentadamente, conceder
provisórios, isto é, aqueles submetidos às ao acusado liberdade provisória, mediante
prisões cautelares, ficarão separados das termo de comparecimento obrigatório a
todos os atos processuais, sob pena de
pessoas que já estiverem definitivamente
revogação.
condenadas. E diz mais: que o militar
Mas, aqui vale dizer que não é
preso em flagrante delito, após a lavratura
porque o crime é inafiançável que o
dos procedimentos legais, será recolhido
agente terá de ficar preso, como já
a quartel da instituição a que pertencer,
apresentado anteriormente, isso apenas
onde ficará à disposição das autoridades
significa que ele não terá sua liberdade
competentes, sejam civis (Justiça
provisória por pagamento de fiança.
Comum) seja militar. A regra, entretanto, é
Entendimento que foi reafirmado pelo
diariamente contrariada pela nossa
STF68
realidade prisional, havendo inúmeros
Nem poderia ser de outro modo:
presos em cadeias e delegacias públicas,
ninguém será preso ou mantido preso,
já definitivamente condenados, senão por ordem escrita e fundamentada
aguardando vagas em penitenciárias. da autoridade judicial competente (art. 5º,
Não obstante, o legislador LXI).
recentemente editou a Lei nº 13.167/15,
que alterou a Lei de Execuções Penais RELAXAMENTO DA PRISÃO
para criar novos critérios de separação
Nos termos do art. 5º, LXV, da CF,
entre os presos, determinando que haja
a “prisão ilegal será imediatamente
segregação entre aqueles que cometeram
relaxada pela autoridade judiciária”. A
crimes hediondos ou equiparados, os que
palavra relaxamento significa unicamente
cometeram crimes com violência ou grave
uma via de controle da legalidade da
ameaça, e, por fim, os que cometeram
prisão, independentemente da
delitos de outra espécie.
modalidade, não se restringindo à
hipótese de flagrante delito, embora a sua
A LIBERDADE PROVISÓRIA COM E aplicação prática, em regra, ocorra em
SEM FIANÇA relação a essa.
A liberdade provisória passa a ser É o que se encontra no art. 649 do
apenas a explicitação de diferentes CPP, que autoriza a concessão ex officio
maneiras da restituição da liberdade do habeas corpus, com fundamento na
daquele que tenha sido preso em ilegalidade da coação, cujas hipóteses, ou
flagrante, ou preventivamente. melhor, em que algumas delas,
Art. 310. Ao receber o auto de encontram-se explicitadas também no art.
prisão em flagrante, o juiz deverá 648.
fundamentadamente: [...] III – conceder Esclareça-se que o instituto em
liberdade provisória, com ou sem fiança. § tela se diferencia da revogação, que
1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão
ocorre quando o juiz entende que os
em flagrante, que o agente praticou o fato
motivos que levaram a decretação da
em qualquer das condições constantes
prisão chegaram ao fim.
provisoriamente devem cumprir a pena em Como se trata de controle judicial
estabelecimentos prisionais comuns (com as da ilegalidade na imposição de restrição
ressalvas para advogados, membros do judiciário e
do MP, o que não é um privilégio, mas sim uma da liberdade individual, o relaxamento
garantia de que a profissão não será alvo de será cabível, como é óbvio, em qualquer
perseguição em caso de investigação, afirma o
68
presidente da OAB, Beto Simonetti. HC nº 104.339/SP, e RE 1.038.925-SP
50

procedimento e para quaisquer crimes, é que ela poderá ser arbitrada


quando houver excesso de prazo ou outra imediatamente pela autoridade policial,
irregularidade na constrição da liberdade69 nos casos de infração penal cuja pena
máxima não seja superior a quatro anos
LIBERDADE PROVISÓRIA COM (art. 322).
FIANÇA Se a autoridade policial recusar
ou retardar a restituição da liberdade
A liberdade provisória com fiança,
mediante fiança, o preso, ou qualquer
portanto, se distinguirá das outras, sem
pessoa em seu nome, poderá prestá-la,
fiança, ou vinculada, pela simples
por simples petição ao juiz, que decidirá
imposição da fiança, que poderá, ou não,
no prazo de 48, nos termos do art. 335.
vir acompanhada de outra cautelar (art.
O que se tem, então, é que a
282, § 1º, e art. 319, § 4º, CPP). A
fiança não é um benefício, mas sim uma
imposição de fiança será cabível para
medida a ser imposta, inclusive de ofício,
todos os crimes, à exceção:
quando necessária.
a) dos crimes aos quais não seja imposta
De outro lado, para a
pena privativa da liberdade (art. 283, §
determinação do valor da fiança, deverão
1º);
ser considerados: (a) a natureza da
B) no caso em que for cabível a transação
infração; (b) as condições pessoais do
penal, e, ainda, na hipótese de efetiva
preso; (c) o custo geral das despesas
(proposta e aceita) suspensão condicional
processuais (art. 326, CPP). A vantagem
do processo (art. 76 e art. 89, da Lei nº
das atuais regras é que a medida da
9.099/95);
fiança recebeu um referencial mais
C) nos crimes culposos, salvo situação
estável: o salário mínimo.
excepcional, em que seja possível a
No caso de descumprimento das
aplicação da pena privativa da liberdade
obrigações resultantes da fiança (art. 327
ao final do processo, em razão das
e 328 do CPP70), dispõe o art. 343, CPP,
condições pessoais do agente;
que poderá o juiz determinar o seu
D) dos crimes para os quais é vedada a
quebramento, com perda de metade de
fiança, expressamente, conforme art. 323
seu valor, e, se necessário, impor
e art. 324;
algumas das cautelares pessoais,
E) na hipótese do § 2º do art. 310, regra
incluindo a preventiva. Nada que não
esta que reputamos escancaradamente
tenha sido já previsto anteriormente (art.
inconstitucional.
282, § 4º).
Vale ainda dizer que o
PROCEDIMENTO DA FIANÇA
cometimento de novo crime doloso leva
Primeiramente, anote-se que ela ao quebramento da fiança, mas isso não
segue servindo ao pagamento das custas, inclui a reincidência, ou seja, o
da indenização do dano e de multa, em quebramento aqui exige que a conduta
caso de condenação do acusado (art. tenha sido realizada durante o
336, CPP). cumprimento da fiança.
A segunda observação, e que Quando o aprisionado for pobre ou
constitui uma vantagem prática da fiança, não tiver condições financeiras e nem
econômicas para se submeter à fiança, o
69
Súmula 697, STF - A PROIBIÇÃO DE
LIBERDADE PROVISÓRIA NOS PROCESSOS
70
POR CRIMES HEDIONDOS NÃO VEDA O exige que o afiançado acompanhe regularmente a
RELAXAMENTO DA PRISÃO PROCESSUAL tramitação do processo, devendo comparecer
POR EXCESSO DE PRAZO. sempre que a tanto intimado.
51

juiz poderá impor, com fundamento no art. execução provisória da pena, o tema
350, CPP, além de outras cautelares que ainda é da maior importância
entender pertinentes, as obrigações
constantes dos arts. 327 e 328, sob pena
de seu quebramento (da fiança).
Cumpre esclarecer: qualquer que
seja a decisão judicial que deixe de
condenar o acusado, a fiança deverá ser
devolvida em sua integralidade.
Incluem-se, então, rejeição da peça
acusatória (art. 395, CPP), absolvição
sumária (art. 397, CPP); absolvição
definitiva (art. 386, parágrafo único, II,
CPP) e qualquer modalidade da extinção
da punibilidade (art. 107, CP), ressalvada,
unicamente, a prescrição da pretensão
executória, que, repita-se, pressupõe
sentença condenatória passada em
julgado; da mesma maneira, as decisões
de arquivamento do inquérito ou das
peças de investigação terão o mesmo
efeito: a devolução integral da fiança
eventualmente prestada.

A RESTITUIÇÃO DA LIBERDADE DO
ART. 283 §1º DO CPP
A prisão poderá ser efetuada em
qualquer dia e a qualquer hora, respeitadas
as restrições relativas à inviolabilidade do
domicílio. § 1o As medidas cautelares
previstas neste Título não se aplicam à
infração a que não for isolada, cumulativa
ou alternativamente cominada pena
privativa de liberdade.

Assim, lavrado o auto de prisão


em flagrante, a autoridade policial deverá
restituir incontinenti a liberdade ao
aprisionado, que passaria, então, a dela
usufruir como se, para efeitos práticos,
não tivesse sido preso.

EXECUÇÃO PROVISÓRIA
Apesar de o Plenário do Supremo
Tribunal Federal ter decidido (ADCs 43,
44 e 54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 07.11.19) que o art. 283 do
Código de Processo Penal impede a

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