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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

DIRETORIA DE ENSINO E CULTURA


ESCOLA SUPERIOR DE SOLDADOS
“CORONEL PM EDUARDO ASSUMPÇÃO”

CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE


POLÍCIA OSTENSIVA E PRESERVAÇÃO
DA ORDEM PÚBLICA

APOSTILA DE DIREITO
ADMINISTRATIVO

Departamento de Ensino e Administração


Divisão de Ensino e Administração
Seção Técnica e Seção Pedagógica

APOSTILA ATUALIZADA EM JUNHO DE 2014


ÍNDICE:
DESCRIÇÃO PÁG.
1. ESTADO_____________________________________________________________04
1.1. CONCEITO_________________________________________________________ 04
1.2. ELEMENTOS________________________________________________________04
1.3. PODERES DO ESTADO_______________________________________________04
2. DIREITO ADMINISTRATIVO ___________________________________________05
2.1. HISTÓRICO_________________________________________________________05
2.2. CONCEITO__________________________________________________________05
2.3. FONTES ____________________________________________________________06
3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADM. PÚBLICA______________________06
3.1. PRINCÍPIOS ACRESCIDOS PELA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL____________09
4. RESPONSABILIDADE DOS SERVIDORES PÚBLICOS______________________10
4.1. RESPONSABILIDADE CIVIL DA ADM. PÚBLICA________________________11
4.1.1. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO ________________________11
4.1.2. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO ESTADO _______________________12
4.1.3. EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO ____________________12
4.1.4. AÇÃO REGRESSIVA________________________________________________12
5. ATO ADMINISTRATIVO _______________________________________________12
5.1. CONCEITO__________________________________________________________12
5.2. ATRIBUTOS ________________________________________________________13
5.3. REQUISITOS________________________________________________________14
5.4. CLASSIFICAÇÃO____________________________________________________15
5.4.1. ATOS VINCULADOS _______________________________________________15
5.4.2. ATOS DISCRICIONÁRIOS___________________________________________16
6. POLÍCIA ADMINISTRATIVA ___________________________________________16
6.1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA _____________________________________________16
6.2. DISTINÇÃO ENTRE POLÍCIA ADMINISTRATIVA E JUDICIÁRIA __________19
7. PODER DE POLÍCIA___________________________________________________19
7.1. CONCEITO _________________________________________________________19

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7.2. RAZÃO, FUNDAMENTO, FINALIDADE E OBJETO_______________________20
7.3. ATRIBUTOS________________________________________________________21
8. PODERES E DEVERES DO ADMINISTRADOR PÚBLICO___________________21
8.1. PODER VINCULADO ________________________________________________22
8.2. PODER DISCRICIONÁRIO____________________________________________22
8.3. PODER HIERÁRQUICO ______________________________________________22
8.4. PODER DISCIPLINAR________________________________________________22
8.5. PODER REGULAMENTAR____________________________________________23
8.6 DEVERES DO ADMINISTRADOR PÚBLICO_____________________________23
8.6.1. DEVER DE EFICIÊNCIA ____________________________________________23
8.6.2. DEVER DE PROBIDADE____________________________________________23
8.6.3. DEVER DE PRESTAR CONTAS______________________________________24
9. AGENTES PÚBLICOS_________________________________________________24
9.1. AGENTES POLÍTICOS_______________________________________________24
9.2. AGENTES ADMINISTRATIVOS_______________________________________24
9.3. AGENTES HONORÍFICOS____________________________________________24
9.4. AGENTES DELEGADOS _____________________________________________24
9.5. MILITARES ESTADUAIS_____________________________________________24
10. ABUSO DE PODER___________________________________________________25
10.1. EXCESSO DE PODER_______________________________________________ 25
10.2. DESVIO DE PODER_________________________________________________25
10.3. INVALIDAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS _______________________26
11. BIBLIOGRAFIA______________________________________________________27

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1. ESTADO :
1.1. Conceito:
Estado é uma associação humana, radicada em base espacial, que vive sob o
comando de uma autoridade não sujeita a qualquer outra.
1.2. Elementos:
No tocante à sua estrutura, o Estado se compõe de três elementos:
a) povo;
b) território;
c) governo soberano.
A condição de Estado independente pressupõe a presença concomitante e
conjugada desses três elementos.
Povo: é o primeiro elemento formador do Estado. Sem a figura humana não há
a formação ou existência do Estado. É o elemento vivo do Estado, que o dinamiza e o
movimenta.
Território: é a base física, o espaço geográfico sobre o qual se assenta o Estado.
A porção do globo por ele ocupada serve de limite à sua jurisdição e lhe forma os recursos
materiais. É o patrimônio sagrado e inalienável do povo.
Governo: é o elemento condutor do Estado. Constitui-se no conjunto de funções
necessárias à manutenção da ordem jurídica e da Administração Pública.
1.3. PODERES DO ESTADO:
São poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário (art. 2º CF).
Ao Poder Legislativo compete precipuamente a elaboração das leis (função
normativa);
Ao Poder Executivo, por sua vez, cabe a execução da lei. Corresponde a
conversão da norma, em ato individual e concreto (função administrativa);
Por fim, é atribuição do Poder Judiciário a aplicação da lei, dirimindo os
conflitos de interesses postos à sua apreciação.
Autonomia político-administrativa dos entes da Federação:
O art. 18 da CF, ao disciplinar sobre a organização político-administrativa dos
Estados estabeleceu que: “a República Federativa do Brasil compreende a União, os

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Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta
Constituição.”
Todas essas entidades estatais possuem autonomia Política, Administrativa e
Financeira. À União compete assuntos de interesse nacional, aos Municípios assuntos de
interesse local e, por fim, os Estados possuem competência residual.

2. DIREITO ADMINISTRATIVO:
2.1. Histórico:
O direito Administrativo nasceu na França, após a Revolução Francesa (1789).
A tripartição das funções do Estado em executiva, legislativa e judicial, idealizada por
Montesquieu, ensejou a independência dos órgãos incumbidos na realização das atividades
do governo. Até então, o absolutismo reinante e a concentração de todos os poderes
governamentais nas mãos do Soberano não permitiam o desenvolvimento de quaisquer
teorias que viessem a reconhecer direitos aos súditos em oposição às ordens do Rei.
O caráter absolutista dos governos não era propício ao florescimento do Direito
Administrativo, pois os soberanos não se submetiam a nenhuma regra, a não ser aos
caprichos de sua própria vontade.
Coube, inicialmente, ao Parlamento o julgamento dos atos administrativos.
Posteriormente, reconheceu-se a necessidade de separar as atribuições políticas das
judiciais.
Foram criados, a partir dos Tribunais Judiciais, os Tribunais Administrativos.
Surgiu, assim, a Justiça Administrativa e, como conseqüência, a estruturação de um direito
específico. Nascia, o direito Administrativo.
Pode-se dizer que o direito administrativo é uma conquista dos regimes
republicanos e democráticos, com a sujeição não só do povo, mas também dos governos às
normas.
2.2. Conceito:
Direito Administrativo é o conjunto harmônico de princípios que regem os
órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e
imediatamente os fins desejados pelo Estado (Hely Lopes Meirelles).

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O Direito Administrativo rege a organização e o exercício de atividades do
Estado para satisfação dos interesses públicos.
Numa concepção moderna, o Direito Administrativo tem uma atuação ampla,
regendo toda atividade administrativa, seja do Poder Executivo, do Judiciário ou do
Legislativo, quando qualquer um desses poderes, por exemplo, aplicar sanção disciplinar
aos seus servidores, licitar para a aquisição de bens ou serviços ou remanejar servidores.
2.3. Fontes do Direito Administrativo
A formação do Direito Administrativo dá -se pelas seguintes fontes:

abrange a Constituição Federal, as Leis, os Regulamentos e as Portarias, todas com caráter
normativo, obrigatório, impondo limites aos indivíduos e ao Estado.

influencia na elaboração de normas administrativas, como também nas decisões
contenciosas e não contenciosas, auxiliando na formação do próprio Direito
Administrativo.

influência no Direito Administrativo, considerando a falta de codificação e sistematização
doutrinária, que nada mais é que a reiteração dos julgamentos num mesmo sentido.
 Costume: são praticas habituais da Administração Pública, as quais podem
subsidiar decisões da Administração na ausência de lei expressa. Tem pouca influência no
Direito Administrativo, por conta do princípio da legalidade, que rege a atuação do
Administrador Público.

3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA
O fim da Administração Pública se resume em um único objetivo: o bem
comum (o interesse coletivo).
O Direito Administrativo encontra-se informado por determinados princípios,
que desempenham um papel relevante na identificação das idéias centrais que o norteiam,
permitindo orientar a ação do administrador na pratica dos atos administrativos,
assegurando, ainda, os direitos dos administrados.

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A Constituição Federal, em seu artigo 37, caput, prevê que a Administração
Pública, direta ou indireta, obedecerá aos seguintes princípios:
a. Legalidade
b. Impessoalidade
c. Moralidade
d. Publicidade
e. Eficiência
Princípio da Legalidade - expressa subordinação da atividade administrativa à
Lei, significando que a Administração Pública só pode fazer o que a lei autoriza. Enquanto
o particular pode fazer tudo o que a lei não proíbe, o Administrador só pode fazer o que a
lei expressamente autoriza.
A vontade da Administração Pública é a vontade expressa na lei, sendo
irrelevante as convicções e opiniões pessoais de seus agentes.
O Administrador não pode agir, nem deixar de agir, senão de acordo com a lei,
na forma determinada. No direito administrativo, o conceito de legalidade contém em si
não só a lei mas, também, o interesse público e a moralidade administrativa.
Princípio da Impessoalidade – significa que a atuação administrativa se destina
a um fim público, não podendo beneficiar pessoas em particular. Os atos praticados são
imputados não ao funcionário que os pratica, mas ao órgão administrativo responsável.
Consiste na proibição de atos praticados sem interesse público ou conveniência
administrativa, e que vise, unicamente, o favorecimento de terceiros.
A Administração deve servir a todos, sem preferência ou aversões pessoais e
partidárias.
O mérito dos atos pertence à Administração, e não às autoridades que os
executam. A publicidade dos órgãos públicos deve ser impessoal, não podendo conter
nomes, símbolos ou imagens que caracterizam promoção pessoal. (art. 37, § 1º, CF).
Princípio da Moralidade – Torna Jurídica a exigência de atuação ética dos
agentes da Administração. A moral administrativa difere da moral comum, justamente por
ser jurídica e pela possibilidade de invalidação de atos administrativos que sejam praticados
com inobservância deste princípio. O administrador, além de agir conforme a lei, também
deve ser justo.

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O princípio da moralidade é encontrado também no art. 5º, LXXIII da CF, que
estabelece que qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando
o autor, salvo comprovada má -fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.
Princípio da Publicidade – É exigida ampla divulgação dos atos praticados pela
Administração Pública. É requisito de eficácia do ato administrativo (manifestação
unilateral de vontade da Administração Pública, criando direito e impondo obrigações aos
administrados e a si próprio). A divulgação deve ser por órgão oficial (Diário Oficial), ou
jornais contratados para essas publicações, ou na sua falta, a divulgação deve se concretizar
na afixação do ato ou da decisão na Prefeitura, porta do Fórum, mural do Quartel, ou
qualquer outro lugar que se possa dar publicidade.
A publicidade, além de assegurar os efeitos externos do ato, propicia o
conhecimento e controle pelos interessados diretos e pelo povo em geral, através dos meios
constitucionais: mandado de segurança, destinado a coibir atos ilegais da autoridade que
lesa direito subjetivo, líquido e certo (art. 5º, LXIX); direito de petição aos Poderes
Públicos, para defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder (art. 5º , XXXIV);
ação popular, instrumento de defesa dos interesses da coletividade (art. 5º, LXXIII) e
habeas data, que assegura o conhecimento de registros concernentes ao postulante e
constantes de repartições públicas ou particulares acessíveis ao público, ou para retificação
de dados pessoais (art. 5º, LXXII).
Os atos públicos devem ter divulgação oficial, como requisito de sua eficácia,
salvo as exceções previstas em lei: atos de interesse da segurança nacional, classificados
pelo Presidente da República como sigilosos (art. 5º, XXVIII da CF); certas investigações
policiais (art. 20 do CPP); processos cíveis em segredo de justiça (art. 155 do CPC).
Princípio da Eficiência – Impõe a todos os agentes públicos o dever de realizar
suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional.
É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta
em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço
público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros.

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Aproxima-se da idéia de economicidade, isto é, alcançar os objetivos da
Administração do modo mais simples, rápido e econômico.
3.1. Princípios acrescidos pela Constituição Estadual, no seu art. 111:
Princípio da Razoabilidade – É aquele que tem por fim aferir a compatibilidade
entre os meios empregados pela Administração Pública e os fins desejados por ela, de
modo a evitar restrições desnecessárias, abusivas e arbitrárias. A Administração deve agir
com bom senso, de modo razoável, adequando, sempre, a conduta do agente público com a
finalidade do ato, sem excessos.
O Administrador será razoável se aplicar critérios sem crenças pessoais ou
ideológicas, decidindo de forma equilibrada. A razoabilidade obriga a manutenção de
congruência lógica entre o fato e a decisão.
Princípio da Proporcionalidade – Chamado também de princípio da proibição
de excesso, é aquele que obriga a adequação dos meios empregados. Este princípio está
contido no princípio da razoabilidade, pois a razoabilidade sempre exige proporcionalidade.
Princípio da Finalidade – Visa impedir a prática de atos administrativos sem
interesse público ou conveniência para a administração, com o único objetivo de satisfazer
interesses privados (favoritismo ou perseguição).
A Administração deve agir com a finalidade de atender ao interesse público
visado pela lei, caso contrário dar-se-á o desvio de finalidade, que é uma forma de abuso do
poder, acarretando a nulidade do ato.
Princípio da Motivação (fundamentação) – Consiste na obrigação de o
Administrador indicar os fundamentos de fato e de direito que o conduziram à determinada
decisão. A fundamentação respalda a decisão adotada pelo Administrador, bem como
informa o Administrado, quantos as razões que o conduziram àquela decisão administrativa
(motivação de um ato punitivo, por exemplo).
Princípio da Legitimidade ou Veracidade – Permite que os atos administrativos
produzam efeitos imediatos, à medida que se presume a sua adequação à lei. No entanto, tal
presunção é relativa, pois admite prova em contrário. Equivale a dizer que a Administração
não precisa demonstrar a correção do ato, mas o particular, ao contestá-lo, deverá produzir
prova nesse sentido.

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Princípio do Interesse Público – Os atos praticados pelo Administrador deverão
primar pelo interesse da coletividade, isto é, garantir a manutenção da ordem pública, que
significa dizer a segurança e a tranqüilidade da população.
Regra básica da Administração é o atendimento ao interesse público, entendido
como o bem-estar coletivo, da sociedade como um todo (interesse público primário), que
nem sempre coincide com os interesses de órgãos estatais (interesse público secundário).
Sempre que houver um conflito entre o interesse público e o particular, deverá
prevalecer o interesse público, respeitando-se, sempre, os direitos e garantias individuais
expressos na Constituição Federal, tais como o direito ao contraditório, a ampla defesa, a
justa e prévia indenização, nos casos de desapropriação.
Princípio da Hierarquia – Obriga a Administração Pública a distribuir funções,
escalonando atribuições e estabelecendo relação de subordinação. O propósito é o de
viabilizar a prestação adequada do serviço, permitindo a identificação dos responsáveis.
A hierarquia contempla a possibilidade de dar ordens e o dever de obediência,
já o poder disciplinar permite a punição interna dos agentes públicos.

4. RESPONSABILIDADES DOS SERVIDORES PÚBLICOS:


A responsabilização dos servidores é dever genérico da Administração e
específico de todo chefe, em relação a seus subordinados.
Responsabilidade administrativa: é a que resulta da violação de normas internas
pelo servidor sujeito ao estatuto e às disposições complementares estabelecidas em lei,
decreto ou qualquer outro provimento regulamentar da função pública.
Responsabilidade civil: é a obrigação que se impõe ao servidor de reparar o
dano causado, por culpa ou dolo, no desempenho de suas funções. É essencial que o ato
culposo cause dano patrimonial ou moral, sem o qual não há que se falar em
responsabilização civil.
Responsabilidade criminal: é a que resulta do cometimento de crimes ou
contravenções definidos em lei federal. O ilícito penal sujeita o servidor a responder a
processo crime e a suportar os efeitos legais da condenação.
Dependendo do caso, o servidor pode responder, cumulativamente, nas três
esferas de responsabilidade.

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4.1. Responsabilidade Civil da Administração:
O Poder Público pode causar prejuízo a alguém e, consequentemente, advir a
obrigação de reparar o dano patrimonial provocado pela conduta de seus agentes.
Os atos que causarem danos ao administrado deverão ser reparados em
atendimento à teoria da responsabilidade objetiva, prevista no artigo 37, § 6º da CF.
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também
ao seguinte:
(...)
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§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras
de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem
a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou
culpa.
A vontade do Estado se concretiza por meio das ações de seus agentes que são
incumbidos, definitiva ou transitoriamente, do exercício de alguma função estatal, podendo
acarretar a responsabilidade do Estado pelos danos causados pelos seus agentes a terceiros,
quando no efetivo exercício da atividade pública, bem como também àqueles ocorridos,
ainda que fora do horário de serviço, mas no exercício da função.
O que importa é se sua qualidade de agente público foi determinante para a
conduta lesiva.
4.1.1. Responsabilidade objetiva do Estado
A responsabilidade civil do Estado é regida pela teoria da responsabilidade
objetiva, a qual prevê que o Poder Público causador do dano responde pelo prejuízo
causado à vítima, independente de dolo ou culpa de seus agentes. Basta que a vítima
demonstre o nexo causal entre a conduta do agente e o dano para surgir a abrigação de
indenizar, conforme o previsto no artigo 37, § 6º, da CF. O destinatário dos serviços de
segurança pública, por exemplo, caso venha a suportar algum dano, material ou moral,
causado por um policial poderá acionar o Estado por meio de uma ação judicial para que a

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Administração Pública seja obrigada a indenizar os prejuízos suportados, independente da
culpa do policial. Essa responsabilidade objetiva, independente de culpa, somente se aplica
às hipóteses de danos causados pelo Poder Público, por meio da ação de seus agentes, mas
não por omissão.
4.1.2. Responsabilidade Subjetiva do Estado:
Quando o dano se origina de uma omissão do Estado, deve-se aplicar a teoria
da responsabilidade subjetiva, que é aquela que depende da demonstração de dolo ou culpa
do Poder Público causador do dano.
4.1.3. Exclusão da responsabilidade do Estado:
a) culpa exclusiva da vítima;
b) caso fortuito ou força-maior;
c) dano causado por terceiro;
4.1.4. Ação Regressiva: Administração X Agente Público
A Constituição Federal, no mencionado § 6º, do art. 37, autoriza a ação
regressiva do Estado contra o agente público causador do dano, no caso de dolo ou culpa
deste, ao causar dano ao particular.
Portanto, o Estado indeniza a vítima, independente de dolo ou culpa da
Administração Pública (responsabilidade objetiva) e o agente ressarce a Administração,
regressivamente, se houver dolo ou culpa de sua parte (responsabilidade subjetiva).

5 - ATO ADMINISTRATIVO
5.1. Conceito:
Segundo Hely Lopes Meirelles, ato administrativo é toda manifestação
unilateral da administração pública, que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato
adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos ou impor
obrigações aos administrados ou a si própria.
Exemplo de atos administrativos no âmbito da PMESP: BO/PM, Auto de
Infração de Trânsito, Enquadramento Disciplinar, Escala de Serviço, Portaria do CmtG,
Diretriz, Ordem de Serviço, dentre outros.
Ato administrativo não se confunde com fato administrativo, pois este é a
realização material pela Administração de alguma decisão administrativa.

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Exemplo: edital de licitação e contrato com a empreiteira, para a construção de
uma ponte é ato administrativo, enquanto que a construção propriamente dita constitui fato
administrativo.
5.2. Atributos:
Consistem nos elementos que dão ao ato administrativo características próprias
e condições peculiares de atuação. São eles:
a. Presunção de Legitimidade: todo ato administrativo é legítimo (legal) até que
se prove o contrário. Esse atributo autoriza a imediata execução do ato, mesmo que
possuam vícios ou defeitos que posteriormente o invalidem, pois enquanto não sobrevier
sua anulação, o ato produz seus efeitos.
Outra conseqüência consiste na transferência do ônus da prova do vício que
macula o ato para quem o invoca, ficando assim, a prova do defeito sempre a cargo do
impugnante.
Exemplo: uma autuação de trânsito elaborada por um PM de forma errada, em
princípio deve gerar todos seus efeitos, até que o interessado prove que o erro ocorreu.
b. Imperatividade: É o atributo que impõe a coercibilidade para o seu
cumprimento ou execução . Alguns atos dispensam tal atributo, pois seus efeitos dependem
exclusivamente do interesse particular, porém os que consubstanciam uma ordem
administrativa já nascem com esse atributo, ou seja, com força impositiva, própria do Poder
Público.
Para Celso Antônio Bandeira de Mello, é a qualidade pela qual os atos
administrativos se impõem a terceiros, independente de sua concordância.
Exemplo: uma escala de serviço tem que ser cumprida, pois o não cumprimento
acarretará sanção disciplinar.
c. Auto-executoriedade: o ato administrativo pode ser posto em execução pela
própria Administração, sem necessidade de intervenção do Poder Judiciário. Consiste na
possibilidade dos atos administrativos serem executados de forma imediata e direta pela
própria Administração Pública, independentemente de ordem judicial.
Exemplo: A cobrança de multa de trânsito pelo DETRAN/SP não precisa de
ação judicial para tanto, compelindo o proprietário do veículo ao pagamento da referida
multa, sob pena de não licenciar o veículo.

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5.3. Requisitos do Ato administrativo:
São cinco os requisitos do ato administrativo que, se não estiverem presentes,
simultaneamente, o ato não terá condições de prosperar e produzir os seus efeitos:
a. Competência: É o poder atribuído ao agente da administração para o
desempenho específico de suas funções. A competência resulta de lei e por ela é delimitada.
Em regra, é intransferível e improrrogável pela vontade do interessado. Porém, em
determinados casos, pode ser delegada ou avocada. É condição de validade do ato, pois,
sendo praticado por agente incompetente o ato é nulo.
Exemplo: a competência da autoridade com poder disciplinar na PMESP está
definida no artigo 31 da Lei Complementar nº 893, de 09Mar01(R DPM), bem como está
delimitada pelo artigo 32 da mesma lei.
b. Finalidade: Consiste no objetivo a ser atingido (interesse público), pois a
Administração Pública só se justifica como realizadora de interesse coletivo. A finalidade é
indicada pela lei, implícita ou explicitamente, não podendo o Administrador realizar
alterações, indicações ou desvios que não os indicados na norma. A alteração de finalidade
gera a nulidade do ato.
Exemplo: se um PM for transferido por um problema pessoal (particular) com
seu Cmt, então, neste ato administrativo de movimentação, o requisito finalidade estará
prejudicado, pois o interesse que envolveu a questão foi particular e não de interesse
público (conveniência do serviço).
c. Forma: Consiste no revestimento do ato administrativo que, em regra, é
formal. A forma legal constitui requisito vinculado e imprescindível para a perfeição do
ato. Enquanto a vontade do particular pode manifestar-se livremente, a da Administração
Pública exige procedimentos especiais e forma legal para que se expresse validamente.
A inobservância da forma vicia substancialmente o ato, tornando-o passível de
invalidação, desde que necessária à sua perfeição e eficácia.
Exemplo 1: o Anexo III à Portaria do Cmt G nº CorregPM-004/305/01
disciplina o rito do Procedimento Disciplinar.
Exemplo 2: o policial que autua um infrator das normas de trânsito tem que
preencher o Auto de Infração, normatizado pelo DETRAN/SP, não podendo comunicar a
irregularidade por meio de documento denominado “PARTE”.

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d. Motivo: É a situação que determina ou autoriza, de fato e de direito, a
realização do ato. O motivo pode vir expresso em lei (elemento vinculado), como pode ser
deixado a critério do administrador (elemento discricionário).
Exemplo: o Cmt, ao decidir pela punição disciplinar de um PM que faltou ao
serviço, deve expor os motivos que determinam a sua decisão, ou seja, esclarecer que ficou
provado, nos autos, que o acusado não compareceu no local de trabalho, nem apresentou
qualquer causa que justificasse sua falta, nos termos do Regulamento Disciplinar.
e. Objeto: Todo ato administrativo tem por objetivo a criação, modificação ou
comprovação de situação jurídica, concernentes a pessoas, coisas ou atividades sujeitas à
ação do Poder Público.
O objeto identifica-se com o seu conteúdo, por meio do qual a administração
manifesta o seu poder, a sua vontade, ou atesta situação preexistente.
Exemplo: Acidente de trânsito, sem vítima, envolvendo Vtr. O objeto da
Sindicância que deverá ser instaurada é o acidente, a fim de apurar a responsabilidade civil
e administrativa do policial.
5.4. Classificação dos Atos Administrativos
A classificação é instrumento que facilita o estudo dos atos administrativos. A
principal classificação do ato administrativo, para o nosso estudo, é:
5.4.1. Atos vinculados: são aqueles para os quais a lei estabelece os requisitos e
condições de sua realização, sujeitando-se o poder público às indicações legais ou
regulamentares, sem delas poder se afastar, sob pena de invalidação do ato administrativo.
As imposições legais absorvem a liberdade do Administrador. Sua ação fica adstrita aos
pressupostos estabelecidos pela norma legal para a validade do ato. Nos Atos
Administrativos vinculados todos os requisitos (competência, finalidade, forma, motivo e
objeto), são vinculados.
Exemplo: noticiada a prática de infração administrativa, o Cmt de Cia não tem
escolha, pois deve apurar a conduta do policial infrator, instaurando-se o processo
adequado.
5.4.2. Atos discricionários: são aqueles que a Administração pode praticar com
liberdade de escolha de conteúdo, destinatário, conveniência, oportunidade e do modo de
sua realização. A discricionariedade se manifesta no poder de a Administração praticá-lo da

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maneira e nas condições que repute mais conveniente ao interesse público. Mesmo nos
Atos Administrativos discricionários os requisitos competência, finalidade e forma são
vinculados, sendo que a discricionariedade se manifesta nos requisitos motivo e objeto.
Exemplo: o administrador tem a liberdade de escolher entre a aplicação de pena
de advertência ou a repreensão, levando-se em conta, no caso concreto, as circunstâncias do
fato e as causas de atenuam e agravam a conduta.
Discricionariedade e arbítrio são conceitos diversos. Discricionariedade é
liberdade de ação dentro dos limites legais. Arbítrio é ação contrária ou excedente da lei.
Ato discricionário é permitido pelo Direito, portanto legal e válido. A discricionariedade
encontra fundamento nos diversos e complexos problemas enfrentados pela Administração,
não tendo as normas vigentes previsto todas as soluções. Para a prática desses atos, a lei
concede poderes ao Administrador, permitindo escolha dentre as possibilidades existentes,
de tal forma que a medida mais adequada seja implementada pela autoridade
administrativa.
Importante enaltecer que, no ato vinculado, o Administrador não tem qualquer
liberdade de escolha, pois está totalmente sujeito à minúcias da lei. Já no ato discricionário,
o Administrador possui o poder de escolha , porém dentro das possibilidades estipuladas na
lei.

6. POLÍCIA ADMINISTRATIVA
6.1. Evolução Histórica:
A Constituição Federal de 1988, pela primeira vez na história do país, inscreveu
um capítulo dedicado à Segurança Pública, dispondo sobre os órgãos encarregados de fazê-
la, determinando a competência policial de cada órgão.
A grande inovação encontra-se no caput do art. 144, ao manifestar,
expressamente, que a segurança pública, que sempre foi dever do Estado e direito de todos,
é também “responsabilidade de todos”.
Assim, Polícia e Comunidade se integram para garantir a segurança pública,
que tem por objeto a preservação da ordem pública, entendida como ausência de desordens,
de atos de violência contra as pessoas, os bens e ao próprio Estado.
O artigo 144 da Constituição Federal preceitua que:

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A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I- polícia federal;
II- polícia rodoviária federal;
III- polícia ferroviária federal;
IV- polícias civis;
V- polícias militares e corpos de bombeiros militares.
De forma expressa a Constituição Federal estabeleceu quais são os órgãos
responsáveis pela preservação da ordem pública, cujas Instituições Policiais têm como
missão proteger o livre exercício dos direitos e liberdades, e garantir a segurança do
cidadão.
À polícia federal, Instituição permanente subordinada ao Ministro da Justiça,
cabe apurar as infrações penais praticadas contra a ordem política e social ou em detrimento
de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas
públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou
internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei (art. 144, § 1º, I, da
C.F.).
Os agentes federais devem prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes
e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros
órgãos nas respectivas áreas de atuação (art. 144, § 1º, II, da C.F.).
Além de exercer com exclusividade as funções de polícia judiciária da União, a
Polícia Federal é a responsável pelas funções de polícia marítima, aeroportuária e de
fronteiras (art 144, § 1º, III, CF).
À polícia rodoviária federal, Instituição mantida pela União, foi destinada a
missão de patrulhar as rodovias federais que passam por diversos Estados da Federação,
com competência para vistoriar, aplicar multas e apreender veículos (art. 144, § 2º, da CF).
À Polícia Ferroviária Federal cabe o patrulhamento ostensivo das ferrovias
federais, visando prevenir e reprimir as infrações criminais (art. 144, § 3º, da CF).

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Quanto à Polícia Civil, cada Estado é responsável pela sua. Contudo, no
Distrito Federal, compete à União organizá-la e mantê-la, em conformidade com o disposto
no artigo 21. XIV, da CF.
A Polícia Civil tem como missão o exercício da polícia judiciária, a busca da
autoria e materialidade das infrações criminais, com o objetivo de fornecer os elementos
necessários ao Ministério Público, como titular da ação penal (art. 144, § 6º, da CF).
No tocante à Polícia Militar, o art. 144, § 5º, da CF, estabelece que às polícias
militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de
bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de
atividades de defesa civil.
O texto constitucional evidenciou que a Polícia Militar exerce a função de
Polícia Administrativa, sendo responsável pelo policiamento ostensivo preventivo, e pela
preservação da ordem pública nos diversos Estados da Federação, enquanto que os Corpos
de Bombeiros cabem a prevenção e combate a incêndios, busca, salvamento, e defesa civil.
Importante esclarecer que, em alguns Estados, como o de São Paulo por
exemplo, o Corpo de Bombeiros está integrado à Polícia Militar, como Unidade
especializada e subordinada ao Comando Geral, no combate e prevenção a incêndios, e em
outros Estados, como por exemplo Rio de Janeiro e Minas Grais, são Instituições
independentes.
As Polícias Militares e Civis estão subordinadas ao Governador, que é a mais
alta autoridade administrativa na área de Segurança Pública, em âmbito estadual (art. 144, §
6º, da CF).
A polícia militar, além de força pública da sociedade, destaca-se como força
auxiliar reserva do Exército, e nessa qualidade seus membros poderão ser requisitados a
comporem aquela força em defesa do País (caso de emergência ou de guerra, por exemplo).
A Polícia Militar também exerce o papel de polícia judiciária militar (Código
de Processo Penal Militar, artigos 7º e 8º), na apuração de crimes militares definidos no
Código Penal Militar (autoria e materialidade), por meio de inquérito policial militar
instaurado pela autoridade competente (Comandante da área dos fatos).

6.2. Distinção entre Polícia Administrativa e Judiciária

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As forças policiais são as responsáveis pela prevenção e repressão ao crime e a
preservação da ordem pública. As atividades desenvolvidas pelas Instituições Policiais
encontram-se dividas em funções de polícia administrativa (Polícia Militar) e polícia
judiciária (Polícia Civil).
A polícia administrativa é a preventiva, enquanto que a polícia judiciária é
eminentemente repressiva. Atua aquela antes e para evitar o ilícito penal, o qual, eclodido,
faz desenvolver as atividades de polícia judiciária (repressiva).
A polícia administrativa sujeita-se aos princípios e normas do Direito
Administrativo, enquanto que a polícia judiciária às normas de Direito Processual Penal .

7. PODER DE POLÍCIA
7.1. Conceito:
Segundo, Hely Lopes Meirelles, Poder de Polícia é a faculdade de que dispõe a
Administração Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens e atividades e
direitos individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado.
O conceito legal de Poder de Polícia vem disposto no art. 78 do Código
Tributário Nacional: “Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública
que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou
abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à
ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades
econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade
pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”.
Parágrafo único: Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando
desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do
processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso
ou desvio de poder.
O Poder de Polícia legitima a ação e a própria existência da Polícia (civil ou
militar).
Segundo Álvaro Lazzarini, como poder administrativo, o Poder de Polícia, que
legitima o poder da polícia e a própria razão dela existir, é um conjunto de atribuições da
Administração Pública como poder público, indelegáveis aos entes particulares, embora

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possam estar a ela ligados, tendentes ao controle dos direitos e liberdades das pessoas,
naturais ou jurídicas incidentes não só sobre elas, como também em seus bens e atividades,
tudo a ser inspirado nos ideais do bem comum.
7.2. Poder de Polícia: razão, fundamento, finalidade e objeto.
Poder de Polícia - Razão e Fundamento: A razão do poder de polícia é o
interesse social e o seu fundamento está na supremacia que o Estado exerce em seu
território sobre todas as pessoas, bens e atividades. Supremacia que se revela nos
mandamentos constitucionais e nas normas de ordem pública, que condiciona e restringe
direitos individuais em favor da coletividade. O exercício de direito individual deve atender
ao interesse público, ao bem estar social e por isso estará sujeito ao condicionamento da
administração. O fundamento, portanto, é a supremacia do interesse público sobre o
interesse particular.
Poder de Polícia - Objeto e Finalidade: o objeto do poder de polícia
administrativa é todo bem, direito ou atividade individual que possa afetar a coletividade ou
por em risco a segurança nacional, exigindo, por isso mesmo, regulamentação, controle e
contenção pelo Poder Público. Com tal propósito, a Administração pode condicionar o
exercício de direitos individuais, delimitando a execução de atividades, como
condicionando o uso de bens que afetem a coletividade ou contrariem a ordem jurídica
estabelecida, ou se oponham aos objetivos permanentes da Nação. A finalidade do Poder de
Polícia é a proteção ao interesse público.
Poder de Polícia – Extensão e Limites: a extensão do poder de polícia é muito
ampla, abrangendo desde a proteção à moral e aos bons costumes, a preservação da saúde
pública, o controle de publicações, a segurança das construções e dos transportes, até a
segurança nacional. Os limites do poder de polícia administrativa são marcados pelo
interesse social em conciliação aos direitos fundamentais do indivíduo, assegurados na
Constituição Federal (artigo 5º), através de restrições impostas às atividades do indivíduo
que afetam a coletividade (cada cidadão cede parcela mínima de seus direitos em prol da
comunidade, recebendo em troca serviços prestados pelo Estado).
7.3 Atributos
Os atributos do Poder de Polícia são: a discricionariedade, a auto-
executoriedade e a coercibilidade.

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Discricionariedade: traduz-se na livre escolha, pela Administração, da
oportunidade e conveniência de exercer o poder de polícia, bem como aplicar as sanções e
empregar os meios a atingir o fim colimado, que é a proteção do interesse público.
Auto-executoriedade: é a faculdade de a Administração decidir e executar
diretamente sua decisão por seus próprios meios, sem intervenção do Judiciário.
Coercibilidade: imposição das medidas adotadas pela Administração. Todo ato
advindo do Poder de Polícia é imperativo, admitindo até o emprego da força pública para o
seu cumprimento, quando resistido pelo administrado. Não há ato de polícia facultativo
para o particular, pois todos eles admitem a coerção estatal para torná-los efetivos.

8. PODERES E DEVERES DO ADMINISTRADOR PÚBLICO


O poder tem para o agente público o significado de dever para com a
comunidade e para com os indivíduos, no sentido de quem o detém está sempre na
obrigação de exercitá-lo; esse poder é insuscetível de renúncia pelo seu titular. Se para o
particular o poder de agir é uma faculdade, para o Administrador Público é uma obrigação
de atuar. Em conseqüência, a omissão da autoridade ou o silêncio da Administração,
quando deve agir ou manifestar -se, gera responsabilidade para o agente omisso e autoriza a
obtenção do ato omitido por via judicial.
Os poderes do Administrador Público são prerrogativas conferidas aos Agentes
Públicos para alcançar os fins públicos. Essas prerrogativas são outorgadas por lei e exigem
fiel observância dos princípios administrativos (moralidade, impessoalidade, razoabilidade,
etc.). São poderes instrumentais, diferentes dos poderes políticos – Legislativo, Executivo
e Judiciário, que são poderes estruturais que decorrem diretamente da própria Constituição
Federal.
8.1. Poder Vinculado: é o poder de que se utiliza a Administração quando
pratica atos vinculados, isto é, naquelas situações em que é mínima ou inexistente sua
liberdade de atuação. O ato administrativo que se desvie dos requisitos legais, será nulo,
podendo ser reconhecido pela própria Administração ou pelo Judiciário.
Assim, o poder é vinculado, quando a administração somente pode fazer o que
a norma estabelece. Exemplo: licença maternidade, art. 7º XVIII, da CF; licença
paternidade, art. 7º XIX, da CF.

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8.2. Poder Discricionário: é aquele conferido à Administração para a prática de
atos discricionários, ou seja, aqueles atos que a Administração dispõe de uma razoável
liberdade de atuação, sempre dentro dos limites legais. A faculdade discricionária
distingue-se da vinculada pela maior liberdade que é conferida ao Administrador. A
atividade discricionária encontra plena justificativa na impossibilidade de o legislador
catalogar, na lei, todos os atos que a prática administrativa exige.
8.3. Poder Hierárquico: é o que dispõe a Administração Pública para distribuir e
escalonar as funções de seus órgãos, ordenar e rever a atuação de seus agentes,
estabelecendo a relação de subordinação entre os servidores do seu quadro de pessoal.
O poder hierárquico tem por objetivo ordenar, coordenar, controlar e corrigir as
atividades administrativas no âmbito interno da Administração; atua como instrumento de
organização e aperfeiçoamento do serviço e age como meio de responsabilização dos
agentes administrativos, impondo-lhes o dever de obediência. Do poder hierárquico
decorrem poderes-deveres implícitos para o superior, tais como a de dar ordens e fiscalizar
o seu cumprimento; a de delegar e avocar atribuições e a de rever atos dos subordinados.
Delegação é transferência temporária de algumas atribuições do superior
hierárquico ao subordinado, revogável a qualquer tempo. A avocação, ao contrário, é a
assunção da execução de alguma atribuição do subordinado pelo superior. A avocação
também deve ser medida excepcional.
8.4. Poder Disciplinar: é o poder-dever de punir internamente as infrações
funcionais dos servidores e demais pessoas sujeitas à disciplina dos órgãos e serviços da
Administração.
O administrador, no seu prudente critério em relação ao serviço e verificando a
existência de transgressão disciplinar, aplicará a sanção que julgar cabível, oportuna e
conveniente, dentre as que estiverem enumeradas em lei. No caso dos policiais militares do
Estado de São Paulo, segue-se o disposto na Lei Complementar 893, de 09 de março de
2001 – Regulamento Disciplinar da Polícia Militar.
O Poder Disciplinar da Administração difere do Poder Punitivo do Estado, à
medida que este não é interno, sendo realizado pelo Poder Judiciário, nos casos de crime ou
contravenção.

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8.5. Poder Regulamentar: é a faculdade de que dispõem os Chefes do Executivo
de explicitar a lei para sua correta execução, ou de expedir, excepcionalmente, decretos
autônomos sobre a matéria de sua competência, em alguns casos específicos. É um poder
inerente e privativo do Chefe do Executivo, indelegável a qualquer subordinado (art. 84,
IV, CF).
O decreto de execução é aquele que explicita a lei, através de atos normativos
gerais e abstratos e impessoais, concernentes à atuação da Administração. Portanto,
pressupõe a existência de uma Lei, restringindo-se ao conteúdo e limites da Lei, detalhando
seus dispositivos.
Os decretos autônomos são medidas excepcionais, que atuam na ausência da
lei. Restringem-se, exclusivamente, à extinção de funções ou cargos públicos, quando
vagos, bem como à organização e funcionamento da administração, quando não implicar
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos.
8.6. Deveres do Administrador Público:
Os deveres do Administrador Público são todos aqueles expressos em lei, os
impostos pela moral administrativa, bem como os exigidos pelo interesse da coletividade.
8.6.1. Dever de eficiência: é o que se impõe a todo agente público no
desempenho de suas atribuições. Consubstancia-se com a presteza, perfeição e rendimento
funcional. A eficiência funcional, considerada em sentido amplo, abrange não só a
produtividade do exercente do cargo ou da função, como a perfeição do trabalho e sua
adequação técnica aos fins visados pela Administração.
8.6.2. Dever de probidade: Consiste no dever de agir em consonância com os
princípios da moralidade e honestidade. O ato administrativo praticado com lesão aos bens
e interesses públicos também fica sujeito à invalidação pela própria Administração ou pelo
Poder Judiciário.
8.6.3. Dever de prestar contas: é decorrência natural da administração, como
encargo de gestão de bens e interesses alheios. No caso do administrador público, a gestão
se refere aos bens e interesses da coletividade e assume o caráter do múnus público, isto é,
de um encargo para com a comunidade. Daí o dever indeclinável de todo administrador
público de prestar contas de sua gestão administrativa.

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9. AGENTES PÚBLICOS
Agentes públicos são todas as pessoas, vinculadas ou não ao Estado, que
prestam serviço a ele, de forma permanente ou ocasional, ainda que sem remuneração.
Classificam-se em:
9.1.
Governo, aos quais cabem as funções de orientar, dirigir e estabelecer diretrizes do Poder
Público. A competência dos agentes políticos advém da própria Constituição. Não estão
submetidos às regras comuns aos servidores públicos em geral. Possuem certas
prerrogativas, inerentes ao exercício da função. São agentes políticos os Chefes do Poder
Executivo (Presidente da República, Governadores, Prefeitos), Ministros, Secretários
Estaduais, Municipais e os membros do Poder Legislativo (Senadores, Deputados e
Vereadores), Juízes de Direito e Promotores de Justiça.
9.2. agentes administrativos: são os servidores públicos em geral. Podem ser
civis ou militares.
9.3. agentes honoríficos: são aqueles chamados para colaborarem com o Estado,
de forma transitória. Não possuem vínculo profissional com o Estado. São considerados
servidores públicos apenas para fins penais. Em regra, não são remunerados. Exemplo:
Mesários Eleitorais, Jurados, etc.
9.4. agentes delegados: são particulares incumbidos de atividade, obra ou
serviço público, sob fiscalização do poder estatal delegante. Não são servidores públicos,
apenas colaboradores do poder público. São os concessionários e permissionários de
serviço público, tradutores públicos, etc.
9.5. Militar Estadual
Art. 42 da Constituição Federal
Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares,
instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios.
Portanto, os Policiais Militares são servidores públicos militares estaduais.
Art. 141 da Constituição Estadual
À Polícia Militar, órgão permanente, incumbe, além das atribuições definidas
em lei, a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública.

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10. ABUSO DE PODER
O uso do poder é prerrogativa da autoridade, mas o poder há que ser usado
segundo as normas legais, a moral da Instituição, a finalidade do ato e as exigências do
interesse público.
O poder é confiado ao Administrador Público para ser usado em benefício da
coletividade. A utilização desproporcional do poder, o emprego arbitrário da força, a
violência contra o cidadão constituem formas abusivas do poder estatal, não tolerada pela
Lei.
O abuso de poder ocorre quando a autoridade, embora competente para praticar
o ato, ultrapassa os limites de suas atribuições ou desvia das finalidades administrativas.
O gênero abuso de poder ou abuso de autoridade se reparte em duas espécies
bem caracterizadas, ou seja, o excesso de poder e o desvio de poder ou finalidade.
10.1. Excesso de Poder: Ocorre o excesso de poder quando a autoridade, apesar
de competente para praticar o ato, vai além do permitido e exorbita no uso da faculdade
administrativa. Ex. a autoridade policial civil ou militar que ao efetuar a prisão em flagrante
delito de qualquer pessoa não lhe possibilita o direito de comunicar-se com o advogado ou
com a sua família.
10.2. Desvio de Poder ou de Finalidade:
Verifica-se quando a autoridade prática o ato por motivos ou com fins diversos
dos objetivados pela lei ou exigidos pelo interesse público. O ato praticado com desvio de
poder ou de finalidade, muitas vezes é consumado às escondidas ou se apresenta disfarçado
sob o capuz da legalidade e do interesse público.
Dentre os elementos indiciários do desvio de finalidade está a falta de motivo
ou a discordância dos motivos com o ato praticado.
10.3. Invalidação dos Atos Administrativos:
Há duas formas de controle dos atos administrativos; uma interna, da própria
Administração, outra, externa, do Poder Judiciário.
A possibilidade de desfazimento dos atos administrativos pela própria
Administração é bem mais ampla daquela concedida ao Judiciário. A Administração pode

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desfazer seus próprios atos por considerações de mérito e de ilegalidade, ao passo que o
Judiciário só os pode invalidar quando ilegais.
A anulação do ato administrativo é o desfazimento do ato por motivo de
ilegalidade. A anulação pode ser feita pela Administração Pública ou pelo Judiciário.
Porém a anulação pelo Judiciário só pode ser feita por provocação. A anulação pela
Administração Pública pode ser feita “ex officio”, quando por iniciativa própria, ou por
solicitação do interessado, através de recurso administrativo.
Os efeitos da anulação retroagem à origem “ex tunc”, invalidando as
conseqüências passadas, presentes e futuras do ato anulado.
A revogação do ato administrativo é a retirada do ordenamento jurídico de um
ato administrativo legítimo e eficaz exclusivamente pela Administração, por não mais lhe
convir sua existência. Toda revogação pressupõe um ato legal e perfeito, mas inconveniente
ao interesse público. Se o ato for ilegal ou ilegítimo não ensejará revogação, mas, sim, a
anulação.
A revogação opera “ex nunc”, ou seja, da data do ato revocatório em diante. É
dizer que os efeitos que a precederam permanecem eficazes.
Súmula 473 do STF: A Administração pode anular seus próprios atos, quando
eivados de vícios que tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los,
por motivo de conveniência ou oportunidade respeitados os direitos adquiridos, ressalvada
em todos os casos a apreciação judicial.

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BIBLIOGRAFIA:

Constituição Federal do BRASIL de 05OUT1988. SÃO PAULO Imesp;


Constituição do Estado de SÃO PAULO de 05OUT1989;
I-16-PM (Instruções do Processo Administrativo da Polícia Militar);
Lei Complementar nº 893, de 09Mar01, que instituiu o Regulamento Disciplinar da Polícia
Militar do Estado de São Paulo, publicada no BG nº 052 de 16MAR01;
MEIRELLES, HELY LOPES. Direito Administrativo Brasileiro, Malheiros Editoras, 20ª
Ed., São Paulo;

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