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INQUERITO POLICIAL

Inquérito Policial

I – Conceito

O inquérito policial é o instrumento administrativo, de caráter investigatório e meramente


informativo, previsto no código de processo penal, que visa reunir provas e materialidade do crime,
cuja finalidade é fornecer ao órgão da acusação, fundamentos para propor a ação penal, mas vale
ressaltar que a ação penal pode ser proposta independentemente do inquérito policial.

É realizado pela policia judiciária brasileira, que se divide em policia federal e policia civil. O
inquérito destina-se ao Ministério Público, no caso da ação penal pública ou ao titular do direito de
queixa, no caso da ação penal privada. E tem como finalidade a apuração de fa to que configure
infração penal e a respectiva autoria para servir de base à ação penal ou às providências
cautelares

II – Destinatários Do Inquérito Policial

O inquérito policial destina-se de forma imediata ao Ministério Público, nos casos de ação penal
pública, e ao titular do direito de queixa, nos casos de ação penal privada. Destina -se ainda, mas
de forma mediata, ao magistrado, que utiliza o seu conteúdo para decidir sobre o recebimento ou
rejeição da denúncia ou queixa, ou ainda, para verificar a viabilidade de decretação de medidas
cautelares, tais como: prisão temporária, prisão preventiva, interceptação telefônica entre outras.

III – Características Do Inquérito Policial

Para melhor compreensão da essência do inquérito policial, faz-se necessária a análise de suas
principais características. São elas:

1) Forma Inquisitorial

A doutrina majoritária afirma que o inquérito possui caráter inquisitivo, pois tudo está concentrado
nas mãos do delegado, e por este motivo não possui contraditório ou ampla de fesa.

No inquérito, a discricionariedade do delegado, ou seja, a liberdade dada a ele para agir, dentro
dos limites da lei, está prevista no artigo 6º do Código Processo Penal, que apesar de trazer alguns
cuidados, não exclui a discricionariedade. Neste artigo, está presente tudo o que o delegado deve
fazer, ressaltando que, caso ele faça algo que não é lícito ao seu cargo, responderá pelo crime de
prevaricação, artigo 319 do Código Penal.

O juiz e o ministério público podem requerer algumas diligências e isso de maneira alguma diminui
o poder de discricionariedade do delegado, aja vista que tudo é uma imposição legal, devendo ser
respeitada.

2) Sigilo

O inquérito policial deve ser também sigiloso, com fundamento no artigo 20do Código de Processo
Penal, que diz: “A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou
exigido pelo interesse da sociedade” e deve ser assim, pois só desse modo garantirá a eficiência
da investigação, além de guardar a imagem do investigado.

Não é necessária uma declaração de sigilo. Mas, este sigilo não é absoluto, e sim relativo, pois
autoridades como o Juiz, o Promotor e o advogado de defesa poderão ter acesso ao inquérito.
Esse poder dado ao advogado está previsto do Estatuto da OAB, mas é correto afirm ar que ele
funciona muito bem na teoria, porém não é assim na prática.

Por este motivo, foi editada a súmula vinculante nº 14 do STF: “É direito do defensor, no interesse
do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova, que já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam
respeito ao exercício do direito de defesa”. Mas esta súmula não determina que o advogado deva
participar das diligências e sim, ter acesso a estas.

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O sigilo ele pode ser interno e externo. O primeiro pode ser positivo ou negativo. O positivo é sobre
a possibilidade do Ministério Público e do juiz acessarem o inquérito. O negativo é sobre a
possibilidade do advogado de defesa ou até mesmo do investigado não acessar o in quérito. O
segundo, diz respeito à restrição em relação às pessoas do povo.

3) Forma Escrita

Tudo o que for dito, deve ser reduzido a termo, conforme especifica o artigo 9º do Código de
Processo: “Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou
datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade”, o que significa dizer que tudo deve ser
documentado.

O termo que a lei cita, “eventualmente datilografado” deve ser interpretado analogicamente, como
“digitado”. Foi autorizada a captação e documentação de elementos informativos através de
dispositivos de armazenamento (imagem e som) a partir de 2009, com a lei 11.900/09.

4) Indisponibilidade

O inquérito é também indisponível, pois o delegado não pode arquivar o inquérito policial, conforme
o artigo 17 do Código de Processo Penal: “A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos
de inquérito”. Isto quer dizer que, mesmo nada seja apurado de consistente, não cabe ao Delegado
de polícia promover o arquivamento da peça; deve ele encerrá-lo formalmente, nos termos da lei.

Assim encerradas as investigações, frutíferas ou infrutíferas, deve a autoridade policial promover o


encaminhamento dos autos ao juiz competente, que abrirá vistas ao titular a ação penal para
promovê-la ou não, de acordo com o que foi apurado.

O que cabe ao delegado é não instaurar o inquérito, em situações de atipicidade material, portanto
não vale para o principio da insignificância, que é uma atipicidade formal. Ele pode não instaurar
também caso não tenha ocorrido o fato, ou em situações que extinguem a punibilidade, situações
estas previstas no artigo 107 do Código Penal.

Em situações como excludente de ilicitude, há divergências. De um lado, entende -se que o


delegado não deve arquivar o inquérito, pelo motivo de excludente de ilicitude, previstas no
artigo 23 do Código Penal, considerando que isto seria uma defesa.

Outra parte, como Mirabette, entende que as excludentes de ilicitude servem como base para o
arquivamento, pois faltaria base para a denúncia.

Há os intermediários que acreditam que não é cabível afirmar que somente a excludente de ilicitude
arquivará o inquérito, é preciso mais. É necessário provar que a excludente é límpida, inconfundível
e incontestável. Para corrente majoritária, o delegado deve instaurar o inquérito, pois ele deve
incluir o fato a norma.

Como visto acima, a ação penal pode ser instaurada independente do inquérito policial, mas há
situações que a ação penal depende do inquérito, e estas situações estão previstas em lei, no
artigo 12 do CPP, ao mostrar que sempre que o inquérito policial acompanha a denúncia ou a
queixa queservirá de base, portanto será indispensável.

5) Dispensabilidade

O inquérito policial poderá ser dispensável, pois ele não é obrigatório para propor a ação penal.
Apesar disto ser raro ocorrer, é possível.

6) Oficialidade

O inquérito policial é uma atividade investigatória feita por órgãos oficiais, não podendo ficar a
cargo do particular, ainda que a titularidade da ação penal seja atribuída ao ofendido .

7) Oficiosidade

Parte do princípio da legalidade ou obrigatoriedade da ação penal pública. Significa que a atividade
das autoridades policiais independe de qualquer espécie de provocação, sendo a instauração do

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inquérito obrigatória diante da notícia de uma infração penal, ressalvados os casos de ação penal
pública condicionada e de ação penal privada.

8) Autoritariedade

Segundo a Constituição Federal em seu artigo 144, § 4º, o inquérito policial é presidido por uma
autoridade pública, no caso, a autoridade policial. (delegado de polícia de carreira).

IV – Indiciamento

Entende-se por indiciamento a imputação a alguém, no inquérito policial, da prática do ilícito penal,
sempre que houver razoáveis indícios de sua autoria. É a declaração do, até então, mero suspeito
como sendo o provável autor do fato infringente da norma penal.

Com o indiciamento, todas as investigações passam a se concentrar sobre a pessoa do indiciado.


Este deve ser interrogado pela autoridade policial, que poderá, para tanto, conduzi -lo
coercitivamente à sua presença, no caso de descumprimento injustificado de intimação.

Deverão ser observados, no interrogatório policial, os mesmo preceitos norteadores do


interrogatório a ser realizado em juízo de acordo com os artigos 185 e 196 do Código de Processo
Penal, anotando-se que o indiciado não está obrigado a responder às perguntas que lhe forem
feitas, pois, tem o direito de permanecer calado, direito este que está garantido pela Constituição
Federal em seu artigo 5º, inciso LXIII, sem que dessa opção se possa extrair qualquer presunção
que o desfavoreça.

O termo de interrogatório deverá ser assinado pela autoridade policial, pelo escrivão, pelo
interrogado e por duas testemunhas que hajam presenciado a leitura. Se o interrogado ao quiser,
não puder ou não souber assinar, tal circunstância deverá ser consignada no termo, é o que prevê
o artigo 195, parágrafo único do Código de Processo Penal.

V - Vícios Do Inquérito

Os vícios que ocorrerem nesta fase, não atingirá a próxima, que é a ação penal. T ais vícios são
irregularidades que geram sanções, mas não geram a nulidade do inquérito, visto que ele é um ato
informativo.

1) Vício na lavratura do auto de prisão em flagrante: se dá quando a autoridade policial não


observe as formalidades previstas nos artigos 304 a 306 do Código Processo Penal, a
consequência será a ilegalidade da prisão efetivada e, então deverá ser relaxada a prisão em
flagrante.

2) Vício na realização da prova pericial: caso não se observe alguma regra técnica da perícia, a
consequência é que esta prova será imprestável como fundamento para a propositura da ação
penal e ainda mais para condenação futura do acusado.

3) Vício na realização do reconhecimento: se não é observado o procedimento previsto no


artigo 226 do Código de Processo Penal, quanto ao reconhecimento, o vício faz com não haja força
probatória no ato.

Dessa forma a ação penal proposta com alicerce apenas ou principalmente nesse prova carecerá
justa causa.

VI - Início Do Inquérito

A maneira que se instaura o inquérito varia de acordo com a natureza do crime. Os crimes podem
ser de ação penal pública incondicionada, sendo assim o inquérito será instaurado pelo delegado
de polícia através do instrumento denominado portaria, por requisição do Ministério Público ou juiz
ou então por auto de prisão de em flagrante.

Se a ação for pública condicionada à representação, neste caso o inquérito será instaurado por
representação do ofendido ou do seu representante legal. Por fim, a se ação for privada, também
será mediante representação do ofendido ou do seu representante legal.

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Agora, verificar-se-á de maneira mais detalhada a instauração do inquérito policial de acordo com a
natureza do crime.

1) Crime De Ação Penal Pública Incondicionada

1.1) De Ofício

Quando o delegado recebe a notícia do crime, desde que haja indícios de autoria e materialidade
delitiva. Assim, denomina-se Portaria quando o delegado baixa tal ato devido ao conhecimento do
fato. Este ato via de regra, se inicia, quando a Autoridade venha a ter conhecimento, de que em
certo tempo e lugar foi cometido um delito penalmente punível, ou mesmo, pela denúncia.

É importante mencionar que a existência da notitia criminis pode chegar por diversas formas,
como um boletim de ocorrência, informação prestada por conhecidos, ou mesmo por comunicação
policial.

Nessas hipóteses, a autoridade tem a obrigação de instaurar o inquérito policial, independente de


provocação, sempre que tomar conhecimento imediato e direto do fato.

1.2) Por Requisição Da Autoridade Judiciária Ou Ministério Público

Quando o juiz ou promotor público, no exercício de suas funções, requisitam a instauração do


inquérito policial, no qual será obrigado o delegado iniciar as investigações, pois a requisição tem
natureza de determinação, de ordem, muito embora inexista subordinação hierárquica.

1.3) Por Auto De Prisão Em Flagrante:

Quando uma pessoa é presa em fragrante é lavrado na delegacia de policia o auto de prisão em
que consta qual o motivo da prisão e seu delito, assim, lavrado o ato, o inquérito será instaurado .

2) Crime De Ação Penal Pública Condicionada:

2.1) Mediante Razão De Requerimento Do Ofendido Ou Seu Representante Legal:

Quando a vitima do delito endereça uma petição inicial à autoridade solicitando por via escrita
(formalmente) para que sejam iniciadas as investigações.

De acordo com o artigo 5º, § 4º, do Código e Processo Penal, se o crime for de ação penal pública,
mas condicionada à representação do ofendido ou de seu representante legal, o inquérito não
poderá ser instaurado senão com o oferecimento desta.

Havendo indeferimento da petição pela autoridade policial, do despacho de indeferimento, cabe


recurso para o chefe de policia como o delegado-geral ou secretário de segurança pública.

2.2) Mediante Requisição Do Ministro Da Justiça:

Ocorre no caso de crime cometido por estrangeiro contra brasileiro, fora do Brasil; no caso de
crimes cometidos contra a honra, pouco impostando se cometidos ou não publicamente, contra
chefe de governo estrangeiro; no caso de crime contra a honra em que o ofend ido seja o presidente
da República.

A requisição deve ser encaminhada ao chefe do Ministério Público, o qual poderá, desde logo,
oferecer a denúncia ou requisitar diligências à polícia.

3) Crime De Ação Penal Privada

Conforme dispõe o artigo 5º, § 5º, do Código de Processo Penal, tratando-se de crime de iniciativa
privada, a instauração do inquérito policial pela autoridade pública depende de requerimento escrito
ou verbal, reduzido a termo neste último caso, do ofendido ou de seu representante legal, isto é, da
pessoa que detenha a titularidade da respectiva ação penal.

VII – Prazos Para Encerramento Do Inquérito Policial

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Segundo o artigo 798, § 1º do Código Processo Penal, já que se trata de prazo processual, Assim,
conta-se o prazo desprezando o dia inicial e incluindo o dia final. Despreza-se a observância dos
dias uteis, já que na policia judiciária há expediente aos sábados, domingos e feriados.

A regra geral, com relação ao prazo para encerramento do inquérito policial, encontra -se no
artigo 10, caput, do Código de Processo Penal, variando o status libertatis do indiciado. Vejamos:

1) Indiciado preso: 10 dias, contados da data da prisão em flagrante, ou efetivação da prisão


preventiva, sendo improrrogável;

2) Indiciado solto: 30 dias, contados do dia em que foi instaurado o inquérito policial. Esse prazo
é prorrogável, a pedido fundamentado da autoridade policial.

Há exceções à regra acima mencionada, vejamos:

3) Pela lei de drogas (Lei 11.343/2006): nesse caso o prazo para encerramento do inquérito
policial é de 30 dias, se preso o indiciado, e 90 dias, se solto. A lei prevê possibilidade de
prorrogação nas duas hipóteses em seu artigo 51.

4) Crimes de competência da justiça federal (Lei 5.010/1966): quando o indiciado estiver preso o
prazo é de 15 dias, prorrogável por igual período, se a polícia apresentar ao juiz o indiciado preso,
em ser artigo 66.

5) Nos crimes contra a Economia Popular (Lei nº 1.521/51)– 10 dias para indiciado solto ou
prezo

Caso ocorra excesso de prazo para o encerramento do inquérito policial, no caso de indiciado
preso, torna-se a prisão ilegal e passível de relaxamento. Veja que, a prisão inicia-se legal e, com o
excesso do prazo de duração do inquérito policial, torna-se ilegal e assim, deve ser relaxada.

VIII – Encerramento

Concluídas as investigações, a autoridade policial deve fazer minuciosamente relatório do que tiver
sido apurado no inquérito policial nos termos do artigo 10 do Código de Processo Penal, sem,
contudo, expender opiniões, julgamento ou qualquer juízo de valor, devendo ainda, indicar
testemunhas que não foram ouvidas, segundo o § 2º do referido artigo: ” no relatório poderá a
autoridade indicar testemunha que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam
ser encontradas”, bem como as diligências não realizadas.

Encerrado inquérito e feito o relatório, os autos serão remetidos ao juiz competente, acompanhados
dos instrumentos do crime dos objetos que interessam à prova.

Do juízo, os autos devem ser remetidos ao órgão do Ministério Público, para que e ste adote as
medidas cabíveis, como por exemplo, no caso de ação penal pública, o promotor poderá oferecer
denúncia, requerer novas diligências imprescindíveis ao oferecimento da denúncia ou requerer o
arquivamento.

IX – Arquivamento

Tal providência só cabe ao juiz, a requerimento do Ministério Público, que é o exclusivo titular da
ação penal pública, pois à autoridade policial é incumbida apenas de colher os elementos para a
formação do convencimento do titular da ação penal, portanto não pode arquivar os autos de
inquérito, pois o ato envolve, necessariamente, a valoração do que foi colhido.

Faltando a justa causa, a autoridade policial deve deixar de instaurar o inquérito, mas, uma vez
feito, o arquivamento só se dá mediante decisão judicial, provocada pelo Ministério Público, e de
forma fundamentada, em face o princípio da obrigatoriedade da ação penal.

O juiz jamais poderá determinar o arquivamento do inquérito, sem prévia manifestação do


Ministério Público, segundo o artigo 129, inciso I da (Dec-lei 3/69, artigos 93 a 96).

Nestas situações, enquanto não extinta a punibilidade, pode haver o desarquivamento caso haja
novas provas, conforme dispõe o artigo 18 do Código de Processo Penal e a Súmula 524 do STF.

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Novas provas são aquelas materialmente ou substancialmente novas, ou seja, as provas que
trazem dado novo para o feito. Não basta que a prova não tenha sido acolhida anteriormente, é
preciso que ela traga elemento que não estivesse contido na investigação anterior.

X – Trancamento

Entende-se que a existência de um inquérito policial, de per si, implica um constrangimento ao


investigado ou indiciado, de maneira que sua instauração exige duas circunstâncias mínimas: o fato
revestir-se de tipicidade e não estar extinta a punibilidade.

Para a instauração de um inquérito policial prevalece o entendimento de que são consideradas a


tipicidade do fato objeto da investigação e, a par disso não estar extinta a punibilidade, sob pena de
a existência desse procedimento administrativo consubstanciar uma coação ilega l ao investigado.
Para acabar com constrangimentos ilegais, a jurisprudência criou o mecanismo do trancamento do
inquérito policial a ser pleiteado pela via de ação de habeas corpus.

Quando julgados procedentes os pedidos deve, o juiz ou tribunal, determin ar a imediata paralisação
das investigações, encerrando o inquérito policial indevidamente instaurado.

XI – Conclusão Do Inquérito

O inquérito policial encerra-se com o relatório da autoridade policial. Nele o delgado deve descrever
as providências adotadas durante o curso do procedimento, declarando formalmente o fim da fase
investigatória. Vimos que o delegado de polícia não deve manifestar - e a respeito do mérito das
provas colhidas e nenhuma opinião a respeito do fato deve ser expressa por ele.

Relatado, o inquérito policial é enviado ao Juízo competente. Se for caso de ação penal pública, o
magistrado abrirá vista ao Ministério Público, que pode:

a) oferecer denúncia;

b) requerer o retorno dos autos de inquérito à delegacia para novas diligências;

c) requerer o arquivamento.

Na hipótese do Ministério Público requerer o arquivamento e o juiz determiná -lo, o artigo 18 do


Código estabelece que, se tiver notícias de novas provas, a autoridade policial poderá retomar as
investigações. Essa retomada só é cabível quando surgir novas provas, é o que diz a Súmula 524
do STF: ”Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de
justiça, não pode a ação penal ser iniciada sem novas provas”

O despacho de arquivamento é irrecorrível, salvo nos crimes contra a economia popular, em que
cabe recurso de ofício, segundo o artigo 7º da Lei 1.521/51.

XI – Conclusão

Diante do exposto, podemos verificar a importância do inquérito nas investigações, evitando que
uma pessoa seja condenada sem que de fato tenha cometido o crime. É uma fase pré-processual,
visando justamente evitar erros, mas devemos ter em mente que muitas vezes os erros podem
ocorrer, pois somos limitados. Vale ressaltar que o inquérito policial deve seguir o que diz a lei, não
devendo desrespeitá-la.

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EXAME DE CORPO DE DELITO

Exame de Corpo de Delito

É um exame preparado por pessoa competente dotada de conhecimentos técnicos, científicos, artísti-
cos ou práticos, a cerca de determinados assuntos, que o magistrado desconhece profissionalmente,
a fim de comprová-los. É considerada como um meio de prova onde o juiz poderá aceitar o laudo, bem
como recusá-lo no todo ou em parte, desde que devidamente fundamentado.

O perito é um assessor do juiz que tem como função fornecer dados técnicos para que seja demons-
trada a veracidade dos fatos ocorridos, sendo considerado deste modo, um auxiliar da justiça (Art. 139,
CPC), estranho às partes, sem impedimentos e incompatibilidades, estando sujeito à disciplina judiciá-
ria como estabelece o Art. 275, do Código Processo Penal, não podendo as partes interferir na sua
nomeação (Art. 276, CPP).

Existem duas espécies de peritos: os oficiais, que são aqueles aprovados em concursos de provas e
de títulos, e são investidos do cargo prestando o compromisso de exercer aquela função; e os não
oficiais, que são aqueles que não são funcionários do Estado, porém possuem qualificação especiali-
zada e são nomeados pelo juiz, podendo recusar justificadamente (Art. 277, CPP).

Segundo o artigo 159, CPP, a perícia deverá ser realizada por perito oficial que possua diploma de
curso superior, sendo pessoa apta diante de suas profissões possuindo experiência para que possa
fornecer informações conclusivas que comprovem o fato punível no domínio de sua especialidade.

Porém nada impede a nomeação de dois peritos particulares na falta dos oficiais, como estabelece a
Súmula 361 do STF que dispõe que: "No Processo Penal, é nulo o exame realizado por um só perito,
considerando-se impedido o que tiver funcionando, anteriormente, na diligência de apreensão", ficando
desta forma, sujeito a nulidade relativa o laudo apresentado por apenas um perito não oficial, haja vista
que sendo oficial a perícia o exame poderia ser concretizado por apenas um perito não se aplicando a
súmula citada (neste sentido: STF, 1° T., HC 75.793-8/RS, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJU, 8 maio
1998, p.3).

As perícias podem ser determinadas por autoridade policial (Art. 6°VII, CPP) assim que tomar conhe-
cimento da infração penal ou até a conclusão do inquérito, e durante a instrução a requerimento do
magistrado de ofício ou por solicitação das partes no momento do oferecimento da denuncia ou queixa
e até mesmo no prazo para a defesa prévia.

Concluído o exame, caberão as partes, a autoridade policial ou judiciária formular quesitos conexos
que versem pontos a serem esclarecidos até o momento da diligência e ainda a possibilidade de indicar
assistente técnico, bem como solicitar a oitiva dos peritos para que estes esclareçam a prova e res-
ponda os quesitos devendo estes serem intimados com antecedência mínima de dez dias, podendo
estes responder as questões através de laudo complementar (Art. 159, §5° I, CPP).

Nos casos onde seja necessária a realização de exame complementar para especificar o crime (Art.
129, §1°, I, CP), este deverá ser realizado trinta dias após a data do crime (Art. 168,§2°, CPP), porem
a se este for realizado após o prazo estabelecido, não será invalidado (STF, 1° T., HC 73.444-8/RJ, rel.
Min. Moreira Alves, DJU, 11 out. 1996, p.38499). Caso não seja possível a realização deste exame, o
mesmo poderá ser substituído por prova testemunhal, como estabelece o artigo 168, § 3° do Código
de Processo Penal.

O laudo pericial será composto por quatro partes: preâmbulo ? constará o nome dos peritos, seus
certificados e o objeto da perícia; exposição ? os métodos a serem adotados narrando cada observa-
ção; discussão ? refere-se à argumentação dos fatos analisados a qual levou o perito a informar o
parecer; e a conclusão ? momento onde é respondido os quesitos formulados pelas partes e autorida-
des. O juiz não pode deixar de aceitar o laudo, porem possui a liberdade de livre apreciação podendo
aceita-lo ou rejeitá-lo no todo ou em parte (art. 182, CPP).

Corpo De Delito

Corpo de delito é o conjunto de resquícios materiais deixados pela violação penal, a materialidade do
crime, que em suma, pode ser examinado através dos sentidos humanos. Algumas infrações deixam
vestígios materiais tais como os crimes de homicídio, lesões corporais, falsificação, estupro etc. Exis-
tem outros, porém, que não deixam estes sinais tais como os crimes de calúnia, difamação, injúria e
ameaças orais, violação de domicílio, desacato etc.

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EXAME DE CORPO DE DELITO

Verificando a existência de vestígios torna-se necessária uma comprovação dos resquícios materiais
por ela deixados, ou seja, é necessário a realização do exame de corpo de delito; não se confundindo
porem com o próprio corpo de delito que é o próprio crime em sua tipicidade. Neste sentido, trata-se
da adoção excepcional do sistema de prova legal, ou seja, sempre que possível a realização da perícia,
esta deverá ser feita, sob pena de nulidade de qualquer prova que for produzida em sua substituição
(Art.564,III, b, CPP). Só será aplicado o disposto no artigo 167 do CPP em casos onde não for possível
a realização da perícia ao tempo do descobrimento do crime.

Dispõe o art. 158, CPP que "quando a infração deixar vestígios será indispensável o exame de corpo
de delito direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado".

O exame de corpo de delito direto é feito sobre o próprio corpo de delito, devendo ser realizado logo
em que a autoridade judicial tomar conhecimento para que não desapareça os vestígios ou que este
seja alterado, devendo assim ser efetuado a qualquer dia e a qualquer hora (Art.161, CPP). Já o exame
de corpo de delito indireto é quando o exame direto não é possível, pois não foram encontrados os
vestígios e se fará por meio de um raciocínio dedutivo sobre o fato narrado, em regra por testemunhas
(Art. 167, CPP). Entretanto não é absoluta a regra de indispensabilidade de exame de corpo de delito
direto.

Existe uma tendência da jurisprudência nos tribunais que defende a idéia de que se as provas produ-
zidas não forem ilícitas estas poderão ser valoradas pelos juízes como admissíveis (no mesmo sentido
1°T., HC 76.265-3/RS, rel. Min. Ilmar Galvão, DJU, 18 out. 1996, p. 39847).

O Código de Processo Penal determina regras para a realização de certos exames referidos ao corpo
de delito, devendo ser obedecidas, mas caso existam lacunas estas poderão ser complementadas a
qualquer tempo através de laudo complementar feito pelos peritos, na falta da regra especial deve-se
observar a regra geral sobre perícia onde os peritos utilizar-se-ão de seus conhecimentos técnicos e
experiências.

O exame pericial realizado no cadáver para descobrir a causa de sua morte é denominado laudo ne-
croscópico, e só poderá ser realizado no cadáver seis horas após a sua morte, sendo dispensado no
caso de morte natural ou violenta (Art.162, CPP).

Estabelece o STF, no HC 72.376/SP, rel. Min. Sydney Sanches, que:

EMENTA: - Direito Penal e Processual Penal. Atentado violento ao pudor, praticado contra menores de
14 anos e mediante uso de arma (arts. 214 e 224, "a", do C. Penal). Ação penal pública.

Representação. Miserabilidade. Decadência. Laudo pericial. "Habeas Corpus". Alegações: 1.) - de falta
de representação (art. 225, par.2., do C.P.); 2.) - de falta de prova de miserabilidade (art. 225, par. 1.,
inciso I); 3.) - de decadência do direito de queixa ou representação (art. 103); 4.) - de fragilidade do
conjunto probatório, apoiado em laudos periciais imprestáveis. Alegações repelidas. 1. A representa-
ção, a que se refere o art. 225, par. 2., do C. Penal, não depende de forma especial, bastando que o
representante se dirija a autoridade competente para noticiar o delito, pois e de se presumir que, com
essa atitude, pretenda a adoção das providencias cabíveis. 2. A prova da miserabilidade (art. 225, par.
1., inciso I) não se faz apenas mediante atestado assinado por autoridade, mas por qualquer meio em
direito permitido, podendo resultar da notória condição econômica da vítima ou de seu representante.
3. Não ocorre a decadência do direito de queixa ou representação, se, dentro do prazo previsto no art.
103 do C. Penal, o representante da vítima noticia o fato à autoridade competente para as devidas
providencias. 4. Não e o laudo pericial imprescindível, para comprovação do crime de atentado violento
ao pudor, podendo a demonstração ocorrer por outros meios. 5. Baseando-se a condenação em todo
o conjunto probatório e não apenas em laudos periciais, torna-se irrelevante a alegação da imprestabi-
lidade destes. "H.C." indeferido.

Segundo Fernando Capez, com a falta do exame de corpo de delito, outros meios de prova admitidos
pelo direito, poderão provar a ocorrência do crime de estupro e de atentado violento ao pudor.

Exame de corpo de delito e outras perícias

Conceito de perícia

Latim peritia, que significa habilidade especial

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EXAME DE CORPO DE DELITO

Meio de prova consistente em exame feito por uma pessoa que tem conhecimento especial

“exame procedido por pessoa que tenha determinados conhecimentos técnicos, científicos, artísticos
ou práticos acerca de fatos, circunstâncias objetivas ou condições pessoais inerentes ao fato punível,
a fim de comprová-los.”

Natureza jurídica

Meio de prova

Valor especial, pois, em tese, possui maior valor que os demais meios

Quando se fala que a prova pericial tem maior valor, não significa que ela tenha valor absoluto, nem
que esse maior valor seja estabelecido pela lei. Tampouco significa que elas não podem ser objetadas
e contestadas através do contraditório. Ao contrário, com exceção da prova de exame de corpo de
delito, as provas valem de acordo com o seu grau de convencimento. Por outro lado, tratando-se de
prova técnica, seu valor tende a ser maior, pois está menos sujeito às influências de natureza pessoal
(como a prova testemunhal, p.ex.).

Requisitos

Um perito oficial – art. 159, caput

Portador de curso de diploma superior

Considerados auxiliares da justiça – art. 275, CPP

Na falta

Duas pessoas idôneas – perito não-oficial – art. 159, § 1º

Prestam compromisso – art. 159, § 2º

Perícia complexa – mais de uma área

Nomeação de dois peritos – 159, § 7º

Médico-legista

especializado em medicina legal

morte/lesões corporais

Laudo pericial

Materialização da perícia

Peça escrito – opinião de perito

Descrição minuciosa

Respostas aos quesitos formulados

Fotografias, desenhos etc

Espécies

Percipiendi

Mera percepção dos fatos, na qual há descrição sem valoração

Por exemplo, perícia realizada para indicar o nível de poluição sonora do ambiente (Badaró, 2016, p.
439)

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EXAME DE CORPO DE DELITO

Deducendi

Interpretação, o perito faz uma apreciação científica do fato

É a hipótese em que o perito atesta se o projétil foi disparado da arma periciada

Intrínseca

Elementos – materialidade do crime

Necropsia

Lesões corporais

Extrínseca

Elementos externos ao delito

Móveis destruídos no homicídio

Exame residuográfico

Exame grafotécnico de documentos encontrados na casa do acusado

Formulação de Quesitos

MP/assistente de acusação/defesa

Formulação de quesitos

Requerimento de peritos para oitiva

Esclarecerem

Responderem – quesitos

Mandado de intimação

Quesitos

Antecedência mínima de 10 dias (§ 5º)

Exame de corpo de delito

Corpo de delito é o conjunto de vestígios materiais do crime, são os vestígios que demonstram a ma-
terialidade do delito

Por exemplo, para matar o agressor entra em luta corporal com a vítima, derrubando e quebrando
objetos. Formam o corpo do delito:

Garrafa e dois copos quebrados

faca

cadeira danificada

parede com sangue

vários exames – peritos diferentes

local do fato

exame de local de morte violenta

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EXAME DE CORPO DE DELITO

cadáver da vítima

exame cadavérico

Delicta facti permanentis

fatos permanentes: “aqueles de que sobram marcas indeléveis, temporária ou permanentemente, como
os de lesões corporais leves ou graves, estupro, etc” (Rogério Lauria Tucci)

Há crimes que sempre deixam vestígios

homicídio

lesão corporal

moeda falsa

falsidade material

Delicta facti transeuntis

Fatos transitórios, os que possuem vida “efêmera, embora determinados, momentaneamente que seja,
ao tempo do evento delitivo, de elementos físicos, próprios e inconfundíveis” (Rogério Lauria Tucci).

Traseunte significa transitório, são crimes que não deixam vestígios

crimes contra a honra cometidos verbalmentecontra a honra – verbal

ameaça verbal

contravenção de importunação ofensiva ao pudor

Grande parte dos crimes podem ser, permanentes ou transeutes, conforme o caso, como a violação
de domicílio, furto, apropriação indébita etc

Estupro: o crime de estupro (art. 213, CP) e o de estupro de vulnerável (art. 217-A, CP) são crimes que
sempre são permanentes? Tais crimes com frequência são transeuntes. Não se deve esquecer que os
crimes se caracterizam tanto com a conjunção carnal, como com a prática de outros atos libidinosos,
que podem ser praticados sem penetração. Em casos de toques sexuais e sexo oral, não há vestígio.
Ademais, o crime do art. 217-A não tem como meio a violência ou grave ameaça, e o art. 213 pode ser
cometido com ameaça, o que significa que os dois crimes podem ser cometidos sem que cause o
vestígio decorrente do ato sexual e da violência.

Exame De Corpo De Delito Direto E Indireto

O art. 158 trata das duas espécies de exame de corpo de delito

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Direto é o exame que recai no próprio vestígio do crime, como o cadáver, lesões, porta arrom-
bada, obstáculo rompido, coisa danificada, cédula falsa, documento materialmente falso.

Em relação ao exame de corpo de delito indireto, em razão do art. 167, há certa controvérsia.

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a
prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Em razão disso, há quem sustente que o exame de corpo de delito indireto é a prova testemunhal, que
supre a falta do exame de corpo de delito que não pode ser feito pelo desaparecimento dos vestígios.

Contudo, é mais acertado o entendimento de que o indireto é o exame feito por peritos que não re-
cai diretamente nos vestígios, mas em “depoimentos, filmes, fotografias, objetos encontrados” (Badaró,
2016, p. 442), no prontuário médico, atestados ou receitas médicas

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EXAME DE CORPO DE DELITO

Na impossibilidade de exame de corpo de delito direto ou indireto, aí é admissível a prova testemunhal


substituindo o exame de corpo de delito (art. 167).

Há, pois, uma hierarquia de prioridades:

1º exame de corpo de delito direto, é o exame prioritário, a perícia que recai nos vestígios do crime.

2º exame de corpo de delito indireto, que será feito, na impossibilidade de realização do direto, por
perito, com base em vestígios indiretos do crime ou até em depoimentos;

3º na impossibilidade de realização de exame de corpo de delito direto e indireto, o depoimento de


testemunha suprirá a ausência da prova pericial. Trata-se de prova oral (não sendo apropriado chamar
de exame de corpo de delito indireto).

Confissão e falta de corpo de delito

A confissão não supre o exame de corpo de delito, direto ou indireto (art. 158, parte final), o que significa
se a acusação for de um crime que deixa vestígio, mas em relação ao qual não se pode realizar o
exame de corpo de delito, direto nem indireto, tampouco tem prova testemunhal, a mera confissão do
acusado não será suficiente para sua condenação.

“se o cadáver, no caso de homicídio, desapareceu, ainda que o réu confesse ter matado a vítima, não
havendo exame de corpo de delito, nem tampouco prova testemunhal, não se pode punir o autor. A
confissão isolada não presta para comprovar a existência das infrações que deixam vestígios materi-
ais.” (Nucci)

“Diante da clareza da lei, exemplificando, ainda que alguém se apresente à polícia, admitindo ter ma-
tado determinada vítima e narrando com riqueza de detalhes o ocorrido, nada se poderá fazer em
matéria de comprovação da existência da infração penal, caso outras provas não sejam obtidas. A
confissão não se presta, em hipótese alguma, a suprir a materialidade do delito.” (Nucci, 2009, p. 48)

“em nenhuma hipótese, a prova da materialidade delitiva poderá ser feita por meio da confissão.” (Ba-
daró, 2016, p. 442)

Outra questão relevante é que há entendimento de que quando a lei fala em desaparecimento de ves-
tígios, deve-se entender que apenas o desaparecimento natural dos vestígios, ou em razão de ação do
autor, poderá ser a ausência do exame ser suprida por prova testemunhal. Se o desaparecimento for
em “virtude da inércia, inclusive burocrática, dos órgãos policiais ou judiciais, a menor segurança da
prova testemunhal não poderá ser carreada ao acusado.” (Greco Filho)

Procedimentos probatórios

Não cabe às partes a escolha dos peritos

A maioria das perícias são realizadas na fase do inquérito policial.

Na perícia judicial, o juiz nomeará o perito, determinará prazo e as partes poderão apresentar quesitos.

Quesitos podem ser legais ou facultativos. Legais são os estabelecidos pela lei, como os que constam
nos arts. 171 (rompimento de obstáculo) e 173 (incêndio), CPP.

A perícia se concretiza no laudo pericial, que é dividido em quatro partes: (1) preâmbulo, (2) exposição,
(3) discussão e (4) conclusão.

Perícias específicas

autópsia (art. 162, CPP)

lesões corporais (art. 168, CPP)

exame do local do crime (art. 169, CPP)

rompimento de obstáculo ou escalada (art. 171 e 172, CPP)

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EXAME DE CORPO DE DELITO

incêndio (art. 173, CPP)

exame reconhecimento de escritos (art. 174, CPP)

instrumento do crime (art. 175, CPP)

exame de identidade de pessoas (art. , CPP)

idade do acusado

sanidade mental

inimputabilidade

Assistente técnico

Figura introduzida com a reforma de 2008, as partes poderão nomear assistente técnico (art. 159, § 3º,
CPP), que irá emitir um parecer técnico. Frequentemente o papel do assistente será demonstrar a
fragilidade do laudo elaborado pelo perito.

Indeferimento da perícia

O juiz poderá, exceto no caso de exame de corpo de delito, indeferir a perícia sem relevância (art. 184,
CPP).

Valor probatório

No Brasil, não há o sistema vinculatório, no qual o juiz é obrigado a seguir as conclusões do perito. Ao
contrário, dispõe o art. 182, CPP, que o juiz é livre para apreciar a prova pericial. Trata-se do sistema
liberatório: iudex peritus peritorum. Contudo, para rejeitar o laudo, é imprescindível que o juiz funda-
mente adequadamente os motivos que o levaram a não seguir o laudo, não podendo “ser o resultado
de um ato caprichoso ou imotivado”. (Badaró, 2016, p. 446).

Corpo de delito

Conjunto de elementos materiais ou vestígios que indicam a existência de um crime. O exame de corpo
de delito é uma importante prova pericial, sua ausência em caso de crimes que deixam vestígios gera
a nulidade do processo. O exame de corpo de delito pode ser direto, quando os peritos o realizam
diretamente sobre a pessoa ou objeto da ação delituosa, ou indireto, quando não é propriamente um
exame, uma vez que os peritos se baseiam nos depoimentos das testemunhas em razão do desapa-
recimento dos vestígios, nessa hipótese, o exame pode ser suprimido pela prova testemunhal.

Partindo das palavras “corpo” e “delito”, chegamos a alguns conceitos destinados à expressão “corpo
de delito”, no contexto pericial.

Segundo o dicionário, dentre muitos significados, a palavra corpo, sm (lat corpu), quer dizer: tudo o que
tem extensão e forma […]. Já a palavra delito sm (lat delictu) gnifica: fato ofensivo das leis ou dos pre-
ceitos do direito e da moral; crime, culpa, falta. Infração de preceito ou regra estabelecida.

Embora seja bastante comum, o termo “Corpo de delito“ ser usado quase exclusivamente para os ca-
sos em que exista lesão corporal, assim como outros que deixam marcas no organismo, tais como o
estupro, aborto, etc. entende-se de corpo de delito como sendo o conjunto de todos os vestígios mate-
riais diretamente relacionados com o fato delituoso, e seu exame compreende o próprio levantamento
do local de crime, pelo perito criminal.

Certamente, o conceito de corpo de delito, como originalmente aparece no Código de Processo Penal,
refere-se, apenas ao corpo humano. Todavia, do ponto de vista técnico-pericial atual, corpo de delito é
“qualquer coisa material relacionada a um crime passível de um exame pericial.” “É o delito em sua
corporação física.”O corpo de delito representa o ato judicial que demonstra, ou comprova, a existência
de fato ou ato imputado criminoso. Registro do conjunto de elementos materiais, com todas as suas
circunstâncias, que resultam da prática de um crime.O corpo de delito constitui-se no elemento principal
de um local de crime, em torno do qual gravitam os vestígios e para o qual convergem as evidências.

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EXAME DE CORPO DE DELITO

É o elemento desencadeador da perícia e o motivo e a razão última de sua implementação.Como vi-


mos, o corpo de delito é, em essência, o próprio fato criminal, sobre cuja análise é realizada a perícia
a fim de determinar fatores como autoria, temporalidade, extensão de danos, etc., através do exame
de corpo de delito.

Para exemplificar, consideraremos um local em que ocorreu um homicídio, o corpo de delito será, na-
turalmente, o cadáver da vítima. Já se tratando de um local de tiro de arma de fogo, no qual uma vidraça
fora atingida por um projétil de origem desconhecida, o corpo de delito será a vidraça e, por extensão,
o prédio em que esta se localizava. Nas perícias internas, efetuadas nos diversos laboratórios, o corpo
de delito poderá se constituir em uma fita de videocassete, uma fita k-7, um cd-rom, em uma pessoa
vítima de lesões corporais, em elementos de munição, armas, documentos, etc, dependendo do tipo
de perícia solicitada e os propósitos a que se destina.

É importante dizer que o corpo de delito pode ser compreendido em duas categorias, conforme sua
durabilidade:

Permanente – quando os vestígios têm durabilidade extensa ou perene (ex.: perfuração de projetil de
arma de foto);

Transeunte – quando estes vestígios são efêmeros, ou seja, passageiros, que duram pouco tempo (p.
ex.: equimoses);

Quanto à forma de sua verificação, o corpo de delito pode ser:

Direto: quando é feito diretamente no conjunto de vestígios deixados pelo fato criminoso. São os ele-
mentos materiais, perceptíveis pelos nossos sentidos, resultante da infração penal. Esses elementos
sensíveis, objetivos, devem ser objeto de prova, obtida pelos meios que o direito fornece. Os técnicos
dirão da sua natureza, estabelecerão o nexo entre eles e o ato ou omissão, por que se incrimina o
acusado.

Indireto: quando é feito indiretamente, ou seja, nos casos em que o corpo de delito se torna impossível,
admite-se a prova testemunhal, por haverem desaparecido os vestígios da infração. O corpo de delito
indireto pode também ser feito sobre imagens, fotos, vídeos, etc.

Do ponto de vista técnico-pericial, essa substituição do exame objetivo pela prova testemunhal, subje-
tiva, é indevida, pois embora haja o delito, não existe corpo.

Exame De Corpo De Delito E Perícias Em Geral

Art. 158, CPP: “Quando a infração deixar vestígios será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”.

Vestígio: é o rastro, a pista ou o indício deixado por algo ou alguém.

Material: são os vestígios que os sentidos acusam (ex.: a constatação do aborto pela visualização do
feto expulso e morto).

Imaterial: o rastro do crime que se perde tão logo a conduta criminosa finde, pois não mais captáveis,
nem passíveis de registro pelos sentidos humanos (ex.: a injúria verbal proferida).

Preocupa-se a lei com os crimes que deixam rastros passíveis de constatação e registro, obrigando-
se, no campo das provas, à realização do exame de corpo de delito.

Corpo de Delito: materialidade do crime, isto é, a prova da sua existência. Corresponde ao conjunto de
elementos físicos e materiais, contidos, explicitamente, na definição do crime, isto é, no modelo legal.
É próprio afirmar que toda infração penal possui corpo de delito, isto é, prova da sua existência, pois
se exige materialidade para condenar qualquer pessoa, embora nem todas fixem o corpo de delito por
vestígios materiais.

Exame de corpo de delito: é a verificação da prova da existência do crime, feita por peritos, diretamente,
ou por intermédio de outras evidências, quando os vestígios, ainda que materiais, desapareceram.
Trata-se de uma prova imposta por lei (prova tarifada), de modo que não obedece à regra da ampla

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EXAME DE CORPO DE DELITO

liberdade na produção das provas no processo criminal. Preferencialmente, os peritos devem analisar
o rastro deixado pessoalmente.

Exame direto: os peritos analisam pessoalmente os rastros deixados.

Exame indireto: em caráter excepcional admite-se que seja feito por outros meios de prova em direito
admitidos, tais como o exame da ficha clínica do hospital que atendeu a vítima, fotografias, filmes,
atestados de outros médicos, entre outros. Essa situação pode ser necessária quando, por exemplo, o
cadáver desaparece, mas foi fotografado ou filmado por alguém, exigindo-se, ainda, o registro do aten-
dimento feito por outros médicos.

A confissão do réu não pode suprir o exame de corpo de delito, direto ou indireto. A única fórmula legal
válida para preencher a sua falta é a colheita de depoimentos de testemunhas (art. 167, CPP).

Perícias em geral: é o exame de algo ou alguém realizado por técnicos ou especialistas em determina-
dos assuntos, podendo fazer afirmações ou extrair conclusões pertinentes ao processo penal. Trata-se
de um meio de prova. Quando ocorre uma infração penal que deixa vestígios materiais, deve a autori-
dade policial, tão logo tenha conhecimento da sua prática, determinar a realização do exame de corpo
de delito (art. 6.º, VII, CPP). Não sendo feito, por qualquer razão, nessa fase, pode ser ordenado pelo
juiz (art. 156, CPP).

Perito (arts. 275 a 281, CPP): é o especialista em determinado assunto. É considerado oficial quando
investido na função por lei e não pela nomeação feita pelo juiz. Normalmente, é pessoa que exerce a
atividade por profissão e pertence a órgão especial do Estado, destinado exclusivamente a produzir
perícias.

Perito desempatador: a anterior redação do art. 159 exigia a realização da perícia por dois profissionais,
considerados, para todos os efeitos, auxiliares da justiça (art. 275, CPP), submetendo-se às mesmas
causas de suspeição dos magistrados. O segundo perito, no entanto, somente assinava o laudo que o
primeiro elaborava. Por isso, passa-se a permitir que o exame seja feito por um só perito oficial, aliás,
o que, na prática, sempre se deu, em face da carência do número de profissionais em atividade e o
excessivo volume de exames a realizar tornaram praxe essa conduta.

Substitutos dos peritos: admite a lei que pessoas idôneas (aquelas que sejam adequadas e tenham
condições para realizar determinadas atividades) possam suprir a falta de perito oficial. Exige-se, no
entanto, que tais indivíduos tenham diploma de curso superior – o que é um imperativo legal – e sejam
escolhidos pelo juiz dentre aqueles que possuírem aptidão e conhecimentos específicos a respeito do
assunto sobre o qual deverão emitir o laudo (ex.: nomear um químico para o laudo toxicológico).

Assistente técnico: é o perito indicado pelas partes. Sua atuação dar-se-á após a conclusão do trabalho
do perito oficial. Logo, admitidos pelo magistrado os assistentes indicados pelos interessados, devem
aguardar o término do exame feito pelo perito oficial para, então, poderem atuar. Serão, para tanto,
intimados. Se houver muitos, cabe ao juiz disciplinar a atuação de cada um, conferindo período razoável
para a consulta ao laudo oficial e ao processo. Não haverá exame conjunto, nem tem o perito oficial a
obrigação de marcar data específica para que todos acompanhem o seu trabalho.

Momento da perícia (art. 161, CPP): o exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a
qualquer hora. É possível, por exemplo, que uma necropsia precise ser feita durante um feriado ou na
madrugada para que o cadáver possa ser logo liberado para as cerimônias funerais, incomodando o
mínimo possível a família da vítima.

Natureza jurídica da perícia: a perícia tem valor, no processo, de prova especial.

Laudo pericial: é a conclusão a que chegaram os peritos, exposta na forma escrita, devidamente fun-
damentada, constando todas as observações pertinentes ao que foi verificado e contendo as respostas
aos quesitos formulados pelas partes.

Prova testemunhal (art. 167): quando o cadáver é perdido por qualquer causa, ou é destruído pelo
agente, quando as lesões leves, uma vez curadas, desaparecem, quando a vítima troca a porta arrom-
bada, desfazendo-se de vez da anterior, enfim, inexistindo possibilidade dos peritos terem acesso,
ainda que indireto ao objeto a ser analisado, pode-se suprir o exame de corpo de delito por testemu-
nhas.

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EXAME DE CORPO DE DELITO

Pessoas podem narrar ao juiz que viram, o momento em que o agente praticou o fato típico. Baseado
nisso, forma-se a materialidade do homicídio, permitindo, então, a punição do réu.

STJ: “O exame de corpo de delito direto, por expressa determinação legal, é indispensável nas infra-
ções que deixam vestígios, podendo apenas supletivamente ser suprido pela prova testemunhal
quando os vestígios tenham desaparecido. Portanto, se era possível sua realização, e esta não ocorreu
de acordo com as normas pertinentes (art. 159 do CPP), a prova testemunhal não supre sua ausência”.

Não é válida a formação de corpo de delito indireto (por testemunhas), quando a responsabilidade pelo
sumiço dos rastros deve-se, exclusivamente, à desídia (ou outra causa similar) dos agentes do Estado.
Portanto, se o objeto da análise pericial deixou de existir porque não houve efetivação da perícia a
tempo, em virtude de descaso estatal, a prova testemunhal é imprestável.

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