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INQUÉRITO POLICIAL

O inquérito é uma peça importante, comum, mas não imprescindível. Podem haver outras
formas de investigação que levem o titular da ação penal a propor. Pode haver propositura da
ação, instrução e condenação sem inquérito.

1. Conceito

Polícia administrativa: policiamento ostensivo, prevenção de crimes (PM, PRF, etc.).

Polícia judiciária: investigação (Polícia Civil, PF).

É um procedimento administrativo presidido necessariamente por um delegado de polícia cujo


objetivo é coletar informações preliminares sobre o crime e sua autoria.

O inquérito não objetiva a formação da culpa (quem visa isso é o processo), ele busca indícios
de autoria e comprovação da materialidade (é preliminar).

2. Características

 Inquisitividade

Não há contraditório, ampla defesa. O delegado ordena as atividades de acordo com suas
atribuições, indiferentes as garantias, contraditório, ampla defesa, etc. Em outros sistemas, é
possível pensar inquéritos acusatórios, em que a defesa participa mais (especialmente em casos
em que tem interceptação telefônica).

 Sigilo

O suspeito não sabe o que está sendo feito (para dar efetividade as diligências). Isso vem sendo
relativizado ultimamente. O delegado não tem obrigação de notificar o acusado, mas o
advogado tem o direito de acessar aos autos do inquérito e a todas as diligências findas (as em
andamento não) – Súmula 14 do STF. Além da súmula, há a lei 13245, que modificou o estatuto
da OAB, introduzindo dois incisos no art. 7º (incisos XIV e XXI). O advogado pode estar
presente no interrogatório (mas não contraditar, participar do interrogatório das outras
testemunhas, etc., ou seja, o inquérito não perdeu sua inquisitividade). Se o advogado não
estiver presente, sob pena de nulidade absoluta. Porém, pela jurisprudência, se o acusado não
solicitou pode não haver o advogado, então há inquéritos com interrogatório sem advogado que
são validados.

 Discricionariedade

Delegado pode fazer juízo de conveniência e oportunidade no inquérito, de acordo com o BO,
para instaurar ou não a investigação. Se o BO nada diz, o inquérito, de acordo com o juízo do
delegado, não vai prosperar. Havendo arbitrariedade do delegado na não instauração do
inquérito, a pessoa pode a) interpor recurso administrativo à chefia de polícia; b) impetrar
mandado de segurança; c) recorrer ao Ministério Público. E se o delegado não quiser nem
registrar o BO? As ‘soluções’ são as mesmas citadas acima.

 Indisponibilidade (Art. 17 CPP)

O inquérito, uma vez iniciado, precisa ser concluído. A autoridade policial não pode dispor,
arquivar o inquérito. Apenas o MP pode dizer se a investigação será arquivada ou prosperará
como um processo.

 Oficialidade

O inquérito é coordenado por uma autoridade oficial do Estado.


 Oficiosidade

O delegado não precisa de provocação para instaurar o inquérito. Pode instaurar de ofício.

3. Formas de instauração

- Auto de prisão em flagrante: A forma mais comum. Por si só, o auto lavrado após a prisão em
flagrante é pressuposto para instauração da investigação. Por si só ele é uma notitia criminis
(notificação do delito). Alguns autores falam em notitia criminis de cognição coercitiva, pois o
delegado, ao lavrar o auto, é obrigado a conhecer e investigar.

- Portaria: Quando a autoridade policial toma conhecimento da notitia criminis de outra forma
(documentos, alguém reporta, a vítima reporta, etc.). A cognição aqui não é coercitiva, diante do
que foi narrado ao delegado, ele decide se vai instaurar ou não. Portaria é um ato administrativo
que inicia a investigação.

- Requisição do MP e do juiz: Quando o MP ou o juiz obrigam o delegado a instaurar. Eles que


levam o conhecimento ao delegado da notitia criminis. Essa instauração também é por portaria.
Postula-se que o dispositivo que diz que o juiz pode obrigar a instauração não foi recepcionado
pela CF, pois se questiona se o juiz se obriga o inquérito é um juiz imparcial/acusatório.

Notitia criminis: tomar conhecimento da infração.

4. Diligências investigativas do inquérito policial

- Assim que o inquérito inicia, devem-se começar as diligências. As diligências são para apurar
a probabilidade, indícios de autoria e materialidade do delito. O inquérito não é para procurar
culpa, mas sim a mera probabilidade.

- E o que pode a polícia fazer, em termos de investigação, para buscar esses indícios mínimos?

Art. 6º, CPP, incisos:

I: Inciso feito pensando para os crimes materiais. Há crimes em que o delegado não precisa se
dirigir ao local do crime. Ir ao local do crime para se preservar a cena, para que não se
prejudique as provas que serão posteriormente produzidas. A preservação é importante porque a
polícia científica fará, posteriormente, o exame de local do crime (análise de todos os aspectos
da cena do delito).

II: Não precisam ser os objetos diretamente frutos do delito. Objeto que tem a ver com o crime
pode ser qualquer coisa da cena.

III: Colher todas as provas, de acordo com o que a lei permite [não precisa estritamente o que
está na lei, mas as diligências precisam ser lícitas]. Prova é diferente de elemento de
informação. Prova, por definição, é tudo produzido em contraditório. Como o inquérito é
inquisitivo, o CPP não quer dizer, no inciso, prova, mas sim, elementos de informação, os quais
são elementos úteis ao esclarecimento dos fatos, servem para subsidiar a acusação, mas nunca
para, exclusivamente (por si só), condenar [exceções: provas cautelares, antecipadas e
irrepetíveis, o que vai ser depois visto em na parte de provas]. No inquérito, onde se lê “prova”,
leia-se “elementos de informação”.

IV: Ouvir a vítima. A vítima pode ser conduzida coercitivamente, se não quiser ir? O CPP
permite.

V: Ouvir o acusado (ele não precisa estar indiciado para ser ouvido, ás vezes apenas um
suspeito é interrogado – indiciamento é o ato de imputação, pelo delegado àquele que é
suspeito). O interrogatório deve seguir as regras do procedimento judicial (Por isso, na parte do
esclarecimento dos fatos, o acusado tem direito ao silêncio, devendo a autoridade policial
advertir sobre isso. A testemunha, no entanto, não possui essa prerrogativa. O direito ao silêncio
não se estende à parte da identificação).

VI: Reconhecimento de pessoa: testemunha ou o ofendido faz de pessoas implicadas na prática


do crime [Uma parte da doutrina e a jurisprudência admitem o reconhecimento fotográfico.
Outra parte da doutrina problematiza, por conta de isso gerar, segundo pesquisas, falsas
memórias]. Reconhecimento de coisa: documento, arma, objetos. Acareação: justapor pessoas
com versões contraditórias para verificar qual é a verdadeira.

VII: Exame de corpo de delito e perícias. O delegado pede a perícia e formula os quesitos (a
parte pode REQUERER que formule quesitos também, mas não é comum).

VIII: A identificação criminal só é necessária se não houver outras formas de identificação (RG,
CNH, etc.).

IX: Atualmente, não se fala mais em periculosidade, então não cabe ao delegado averiguar isso.
Averígua-se apenas a culpabilidade, os fatos.

X: Por que saber sobre os filhos? Porque se o acusado for o único responsável pela criança
deficiente, o regime é diferenciado. Outrossim, o delegado tem que buscar informações com
intuito até mesmo de proteger a criança.

*O delegado pode fazer livremente as diligências. Entretanto, se a diligência implica qualquer


violação a direito constitucional (entrada em domicílio, interceptação telefônica, mandado de
busca e apreensão, quebra do sigilo fiscal, etc.), ela depende de prévia autorização judicial
(diligências com reserva da jurisdição). Se fizer sem a autorização é ilícito.

5. Prazo para conclusão

O CPP estabelece um prazo geral de 10 dias para réus presos e 30 dias para réus soltos. O prazo
é prorrogável e não há limite de prorrogação [o delegado pede dilação à autoridade judicial,
dando a justificativa].

Se a pessoa estiver presa preventivamente, não necessariamente ela vai ser solta após o prazo
passar e o inquérito não estar concluído. Se for prisão temporária o prazo é de 5 + 5 dias e,
terminado sem conclusão, a pessoa tem que ser solta.

Para a PF: 15 dias para presos e 30 réus soltos.

Para a lei de drogas: 30 dias para presos e 90 para soltos

Para a lei dos crimes contra a economia popular: 10 dias, independentemente da condição do
preso.

6. Indiciamento

Ato formal feito pelo delegado mediante o qual ele imputa formalmente a prática de um crime a
uma pessoa. A polícia indica alguém como provável suspeito. Indiciado não quer dizer
denunciado, indiciamento é apenas uma indicação. A opinião do delegado não importa para o
processo, pois quem denuncia é o titular da ação penal (MP/ofendido).

7. Finalização

A finalização se dá por um ato chamado relatório. Mesmo que seja para dizer que não encontrou
nada, o delegado tem que finalizar o inquérito (indisponibilidade).

Após a finalização, o inquérito vai diretamente para o Ministério Público (apesar de a redação
antiga do CPP dizer que deve passar antes pelo juiz). O MP que é o destinatário do inquérito.
8. O MP poderá (ao receber o inquérito):

a) denunciar;

- Ofertar uma PI (que se chama denúncia), o que dará início a um processo criminal. Para
denunciar, o MP não precisa de certeza, ele precisa apenas de indícios de autoria e provas da
materialidade do crime. A denuncia é baseada numa probabilidade. A certeza de autoria é
apurada no curso do processo. Indícios de autoria + prova da materialidade delitiva = justa
causa. O MP só denuncia havendo justa causa.

b) requerer novas diligências;

- Requerer, nesse caso, é obrigar o delegado exaurir mais as diligências investigativas (nesse
caso, ele acha que as diligências já produzidas são insuficientes), quantas vezes ele quiser.

c) arquivar.

- Pedir para o procedimento ser extinto naquele momento. Não há elementos para denunciar ou
não as investigações complementares não serão frutíferas.

9. Arquivamento do IP

- Hipóteses:

a) extinção da punibilidade

*O CP traz um rol de situações que, independente do mérito, o Estado não poderá criminalizar o
indivíduo (morte do agente, prescrição, abolitio criminis).

*Nesse caso, não há que se falar em desarquivamento, pois a punibilidade se extingue


permanente. A decisão faz coisa julgada formal e material.

b) fato atípico

- O fato não possui tipicidade [formal – correspondência ao tipo ou material – lesão ao bem
jurídico]. Ex.: Princípio da insignificância, erro de tipo. Não cabe desarquivamento. O juízo
sobre atipicidade é definitivo, a decisão faz coisa julgada formal e material.

c) excludente de ilicitude

- O MP está convencido que não há antijuridicidade (ele precisa, aqui, ter certeza, porque se ele
tiver dúvida, a antijuridicidade deve ser discutida no processo, então ele tem que denunciar).
Cabe desarquivamento (novas provas que induzem a observar que não há a excludente). Coisa
julgada apenas formal.

d) excludente de culpabilidade

- Imputabilidade, potencial consciência de ilicitude (erro de proibição) e inexigibilidade de


conduta diversa (obediência hierárquica / coação moral irresistível). Cabe desarquivamento
(novas provas que induzem a observar que não há a excludente). Coisa julgada apenas formal.

e) falta de justa causa

- Faltou indícios de autoria e prova da materialidade. Aqui, cabe desarquivamento, pois pode
haver indícios e provas supervenientes.

- Procedimento:
Ministério Público => Juiz: {concordar e homologar} ou {discordar e encaminhar ao PGJ –
chefe dos MP’s estaduais ou à câmara de coordenação e revisão – âmbito do MPF}. Art. 28 do
CPP. Quem dá a última palavra é o PGJ ou a câmara (ou seja, o próprio MP). Eles poderão
concordar (arquivar) ou discordar (denunciar) com o promotor originário. Se eles decidirem
pela denúncia, eles mesmos denunciam ou indicam outro membro do MP para fazê-lo (outro
que não seja esse promotor originário, por independência funcional).

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