Você está na página 1de 5

AULA 07

Inquérito Policial
1. CONCEITO
O Inquérito Policial é um conjunto de diligências realizadas pela polícia
investigativa objetivando a identificação das fontes de prova e a colheita de
elementos de informação quanto à autoria e materialidade da infração penal, a
fim de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.

2. NATUREZA JURÍDICA
Trata-se de procedimento de natureza administrativa. Não se trata, pois, de
processo judicial, nem tampouco de processo administrativo, porquanto dele não
resulta a imposição direta de nenhuma sanção.
Importante! Como o inquérito policial é mera peça informativa, eventuais vícios
dele constantes não têm o condão de contaminar o processo penal a que der
origem. Havendo, assim, eventual irregularidade em ato praticado no curso do
inquérito, mostra-se inviável a anulação do processo penal subsequente

3. FINALIDADE
A partir do momento em que determinado delito é praticado, surge para o Estado
o poder-dever de punir o suposto autor do ilícito. Para que o Estado possa
deflagrar a persecução criminal em juízo, é indispensável a presença de elementos
de informação.
Portanto, a finalidade precípua do inquérito policial é a colheita de elementos de
informação quanto à autoria e materialidade do delito.

4. VALOR PROBATÓRIO
Tendo em conta que esses elementos de informação não são colhidos sob a égide
do contraditório e da ampla defesa, deduz-se que o inquérito policial tem valor
probatório relativo.
De fato, pudesse um decreto condenatório estar lastreado única e
exclusivamente em elementos informativos colhidos na fase investigatória, sem a
necessária observância do contraditório e da ampla defesa, haveria flagrante
desrespeito ao preceito do art. 5º, LV, da Carta Magna.
No entanto, tais elementos podem ser usados de maneira subsidiária,
complementando a prova produzida em juízo sob o crivo do contraditório. Como já
se manifestou o Supremo, “os elementos do inquérito podem influir na formação
do livre convencimento do juiz para a decisão da causa quando complementam
outros indícios e provas que passam pelo crivo do contraditório em juízo”.
5. ATRIBUIÇÃO PARA A PRESIDÊNCIA DO INQUÉRITO POLICIAL
• Polícia Administrativa: trata-se de atividade de cunho preventivo, ligada à
segurança, visando impedir a prática de atos lesivos à sociedade;
X
• Polícia Judiciária: cuida-se de função de caráter repressivo, auxiliando o Poder
Judiciário. Sua atuação ocorre depois da prática de uma infração penal e tem
como objetivo precípuo colher elementos de informação relativos à
materialidade e à autoria do delito, propiciando que o titular da ação penal
possa dar início à persecução penal em juízo. Nessa linha, dispõe o art. 4º,
caput, do CPP, que a polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais
no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das
infrações penais e da sua autoria.

6. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL


a) Procedimento Escrito: Art. 9º CPP. Todas as peças do inquérito policial serão,
num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso,
rubricadas pela autoridade.
b) Procedimento Dispensável: Se o titular da ação penal (Ministério Público ou
ofendido) já tenha o substrato mínimo necessário para o oferecimento da peça
acusatória, o inquérito policial poderá ser perfeitamente dispensável. De
acordo com o art. 12 do CPP, “o inquérito policial acompanhará a denúncia ou
queixa, sempre que servir de base a uma ou outra”. A contrario sensu, se o
inquérito policial não servir de base à denúncia ou queixa, não há necessidade
de a peça acusatória ser acompanhada dos autos do procedimento
investigatório. Obs: ver também arts. 27 e 39 §5º, ambos do CPP.
c) Procedimento Sigiloso: Art. 20 do CPP. Segundo o art. 5º, LX da CF, a lei só
poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem.
d) Procedimento Discricionário: Se na fase judicial há um rigor procedimental a
ser observado, na fase preliminar (IP) há discricionariedade pela autoridade
policial, que deve determinar o rumo das diligências de acordo com as
peculiaridades do caso concreto. Este princípio está bem representado nos
artigos 6º e 7º do CPP. Enumeram várias diligências que podem ser
determinadas pela autoridade policial, caso o Delegado entenda que sejam
necessárias. Obs.: O exame de corpo de delito é a exceção – ele é obrigatório
(art. 184 do CPP)
e) Procedimento Oficial e Oficioso:
Oficial: Incumbe ao Delegado de Polícia (civil ou federal) a presidência do
inquérito policial. Vê-se, pois, que o inquérito policial fica a cargo de órgão
oficial do Estado, nos termos do art. 144, § 1º, I, c/c art. 144, § 4º, da
Constituição Federal.
Oficioso: aos crimes de ação penal pública incondicionada a autoridade policial
é obrigada a agir de oficio (art. 5º, I, do CPP).
f) Procedimento Indisponível: De acordo com o art. 17 do CPP, a autoridade
policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito policial. Uma vez
determinada a instauração do inquérito policial, o arquivamento dos autos
somente será possível a partir de pedido formulado pelo titular da ação penal,
com ulterior apreciação pela autoridade judiciária competente. Logo, uma vez
instaurado o inquérito policial, mesmo que a autoridade policial conclua pela
atipicidade da conduta investigada, não poderá determinar o arquivamento do
inquérito policial.
g) Procedimento temporário: Diz o Código de Processo Penal, em seu art. 10, §
3º, que, quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a
autoridade policial poderá enviar ao juiz os autos para o início do processo e,
posteriormente, requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores
diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

7. FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL


AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA
a) de ofício: Caso a autoridade policial tome conhecimento do fato delituoso a
partir de suas atividades rotineiras, deve instaurar o inquérito policial de ofício.
Nesse caso, a peça inaugural do inquérito policial será uma portaria, que deve
ser subscrita pelo Delegado. Art. 5º, I (CPP).
b) requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público: Art. 5º, II.
c) requerimento do ofendido ou de seu representante legal: também é possível
a instauração de inquérito policial a partir de requerimento do ofendido ou de
quem tenha qualidade para representá-lo. Art. 5º, § 1º.
d) notícia oferecida por qualquer do povo: de acordo com o art. 5º, § 3º, do CPP,
qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração
penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito,
comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das
informações, mandará instaurar inquérito. Cuida-se da chamada delatio
criminis simples, comumente realizada através de uma ocorrência policial. Mais
uma vez, verificada a procedência e veracidade das informações, deve o
delegado determinar a cpolicial.
e) auto de prisão em flagrante delito: a despeito de não constar expressamente
do art. 5º do CPP, o auto de prisão em flagrante é, sim, uma das formas de
instauração do inquérito policial, funcionando o próprio auto como a peça
inaugural da investigação.

AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA


Nos crimes de ação penal pública condicionada, a deflagração da persecutio
criminis está subordinada à representação do ofendido ou à requisição do
Ministro da Justiça (CPP, art. 5º, § 4º). Por representação, também denominada
de delatio criminis postulatória, entende-se a manifestação da vítima ou de seu
representante legal no sentido de que possuem interesse na persecução penal,
não havendo necessidade de qualquer formalismo.
REPRESENTAÇÃO > ofendido
REQUISIÇÃO > Ministro da Justiça

AÇÃO PENAL PRIVADA


O Estado fica condicionado ao requerimento do ofendido ou de seu
representante legal.
Esse requerimento é condição de procedibilidade do próprio inquérito policial,
sem o qual a investigação sequer poderá ter início.
Prazo DECADENCIAL  deve ser formulado pelo ofendido dentro de 6
(seis) meses, contado, em regra, do dia em que vier a saber quem é o autor do
crime. O fim do prazo sem representação é causa de extinção de punibilidade.
(CP, art. 107, IV)

8. NOTITIA CRIMINIS
Notitia criminis é o conhecimento, espontâneo ou provocado, por parte da
autoridade policial, acerca de um fato delituoso. Subdivide-se em:
a) notitia criminis de cognição imediata (ou espontânea): ocorre quando a
autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso por meio de suas
atividades rotineiras.
b) notitia criminis de cognição mediata (ou provocada): ocorre quando a
autoridade policial toma conhecimento da infração penal através de um
expediente escrito. É o que acontece, por exemplo, nas hipóteses de requisição
do Ministério Público, representação do ofendido, etc.
c) notitia criminis de cognição coercitiva: ocorre quando a autoridade policial
toma conhecimento do fato delituoso através da apresentação do indivíduo
preso em flagrante.

Você também pode gostar