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INVESTIGAÇÃO PENAL:
5a => OFICIOSIDADE
O Inquérito é oficioso na medida que a autoridade policial não precisa de autorização para
dar início a um inquérito. Ao tomar ciência de um fato delitivo, poderá/deverá ser instaurado o
referido inquérito. vide art. 5o inciso I do CPP
Para tomar conhecimento é preciso uma das formas de cognição:
Notícia-crime de cognição direta (pelo comparecimento espontâneo do autor ou pelo
comparecimento da vítima)
Notícia-crime de cognição indireta (delatio criminis)
Notícia-crime coercitiva (quando há flagrante delito)
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Direito Processual Penal
Prof. Marcos Paulo
Para dar início ao inquérito, é preciso ter justa causa, lastro probatório mínimo. Vide art. 5 o
p. 3o do CPP.
Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:
I - de ofício;
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento
do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
§ 1o O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou
de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer;
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência.
§ 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o
chefe de Polícia.
§ 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal
em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade
policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.
Ou seja, é necessário ter elementos concretos que indicam a materialidade. Esse preceito foi
reforçado pela lei de abuso de autoridade. Essa lei vai ser abordada em paralelo nas aulas de
processo penal, porque teve impacto significativo no processo penal. Há que se ter em mente que
dentro das hipóteses de abuso de autoridade deve ser sempre acrescentar o especial fim de agir
contido na Lei de abuso de autoridade- Lei 13.869/19.
Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente público,
servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe
tenha sido atribuído.
§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade quando
praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo
ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.
§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não configura
abuso de autoridade.
Ou seja, é preciso ter elementos concretos para instauração do inquérito, que devem ser
verificados previamente, conforme o que preceitua o art. 5 p.3o (”...verificada a procedência das
informações”) c/c art. 27 (”...investigação preliminar sumária”) da lei de abuso de autoridade.
Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de infração penal ou
administrativa, em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito
funcional ou de infração administrativa: (Vide ADIN 6234) (Vide ADIN 6240)
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou investigação preliminar
sumária, devidamente justificada.
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Isso por consequência, implica dizer que não é possível dar início a um inquérito por meio
de notícia-crime anônima, porque não traz o lastro necessário para a devida instauração de
inquérito. Tal entendimento é reforçado pelo STF/STJ. Atente-se ao contido no art. 5 o inciso IV da
CRFB88, que veda o anonimato, e portanto, o inquérito tampouco deve ser instaurado com base
nessa única informação.
art 5o ...
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
Isso porque ao anunciar um inquérito sem justa causa poderá ensejar crime de abuso de
autoridade, e o p. único diz que não há crime quando se tratar de uma sindicância prévia.
Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de infração penal ou
administrativa, em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito
funcional ou de infração administrativa: (Vide ADIN 6234) (Vide ADIN 6240)
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou investigação preliminar
sumária, devidamente justificada.
*Neste caso, eventual ação penal desaguaria numa absolvição? SIM, de fato, a denúncia nem
deveria ter sido recebida por falta de justa causa; e no caso de ser recebida o agente deve ser
absolvida por falta de elemento probatório.
*qual o termo adequado para inquérito? Ação penal falamos justa causa, inquérito podemos
falar justa causa também? Sim, podemos falar em lastro probatório mínimo, justa causa; até porque
justa causa é gênero. Porém quando falamos em justa causa para instauração do inquérito há uma
exigência bem menor em comparação da justa causa da denúncia/ação penal. No entanto, não deve
se perder de vista que deve conter os elementos concretos ensejadores para tal, contidos no art. 5 o p.
3o do CPP.
*Vai dentro daquela ideia do Standarts probatório? Pode falar em standard probatório para
inquérito, mas isso conversa mais com o recebimento da denúncia e do oferecimento da sentença.
A mensagem dos dispositivos acima citados são claros, no sentido de que a atuação do
membro do MP e do membro da Magistratura não está sujeita à valoração pela autoridade policial.
Somente estando sujeita quando na situação de flagrante, e ainda assim de crimes inafiançáveis.
EX. plantão de delegado... com confronto armado com vítimas, supostos infratores, supostos
traficantes. Alguns disparos claramente partiram do membro do MP, outros disparos partiram de
policiais e outros de traficantes. COMO PROCEDER NO PLANTÃO? Com relação aos policiais,
havendo indicativos de legítima defesa, será lavrado o “auto de resistência”, do art. 292 do CPP. No
entanto, com relação aos disparos do MP, não será feito isso. Isso porque não se está em uma
possibilidade valorativa da autoridade policial sobre atos do MP, justamente pelo fato de não se
tratar de flagrante de crime inafiançável. Em princípio tudo indica que se trata de legítima defesa,
pode ser feito um relatório e deverá ser encaminhado ao PGJ com todos os elementos concretos.
Foi feito um novo desenho da competência por prerrogativa da função (pelo Ministro
Barroso). Hoje, o processo de infrações penais cometidas em razão da função política ORA
EXERCIDA.
A doutrina critica esse posicionamento porque mostra um ativismo judicial. Trata-se de um
afunilamento da ação penal, um estreitamento das ações penais. Trata-se de uma “jurisprudência
defensiva”, entre tantas outras decisões; que visam proteger os Tribunais da existência de muitas
ações para cada Tribunal. O texto Constitucional nunca deu margem para este entendimento:
vide art. 102 inciso I alínea “b” => infrações penais comuns
alínea “c” => e crimes de responsabilidade (os crimes de
responsabilidade do Presidente são avaliados pelo Senado após autorização da Câmara).
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,
cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual;
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação
declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 3, de 1993)
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros
do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República;
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado,
ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da
União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente ;
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado
e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os
membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão
diplomática de caráter permanente; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)
Por ser uma posição claramente ativista, começaram a aparecer vários distinguishing:
DISTINÇÕES (deste novo desenho trazido pelo Barroso para o foro por prerrogativa
de função, que vincula apenas a ação penal cometida em razão do cargo ORA EXERCIDO):
A) MANDATOS IDÊNTICOS CONSECUTIVOS, é uma hipótese na qual, mesmo em se
tratando de crime cometido em razão de mandato anterior, persiste a competência ratione personae
(STF/STJ);
Veja que foi falado “EM REGRA”, e isso é um spoiler pra próxima distinção:
b) MANDATOS CRUZADOS, ou seja, do Senado para a Câmara e vice-versa,
consecutivamente, porque jamais deixou de integrar o Congresso Nacional. STF/STJ.
Dado cronológico => Inicialmente uma turma do STF foi contrária à essa tese, afirmando
que a função é diferente. O Deputado exerce função federativa substancialmente diferente do
Senador. A segunda turma entendeu, entretanto, que se trata de continuidade, pois se trata de tratado
parlamentar federal.
Esse entendimento foi levado ao Pleno e o entendimento da continuidade foi ratificado,
sendo ampliado para o STJ.
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c) Ante o art. 27 p.1o da CRFB88, a distinção acima igualmente se aplica aos Deputados
Estaduais que migrarem para o Congresso Nacional
=
Esse posicionamento ainda não está plenamente consolidado.
O entendimento é de que a função é confiada aos Deputados Federais, deve ser extendido
aos Deputados Estaduais. E ainda por cima, deve ser colocado a perpetuação da competência do
Tribunal de origem. => Ex. no caso do Senador Flávio Bolsonaro deve se perpetuar a competência
do TJRJ, nos crimes cometidos no curso do mandato de Deputado Estadual, mesmo com a migração
dele para o Senado.
Para o professor=> se assim, o é, que fosse, então, fixada a competência do STF em
detrimento do Tribunal de origem.
Portanto, a crítica é justamente com relação aos mandatos cruzados. Para o professor isso
não procede, porque está se falando de um cenário inicial de Estado, cuja representação é
unicameral; para um cenário final de Federal cuja representação é bicameral. São níveis federativos
diversos, que não justifica o prolongamento.
Isso acaba desvirtuando inclusive o argumento utilizado no distinguishing anterior, que
falava que se tratava de função semelhante por serem ambos os mandatos consecutivos de nível
federal.
Ex. deputado envolvido supostamente em tráfico de entorpecente, nada a ver com o mandato
parlamentar. Teria que buscar o Tribunal?
É uma construção que ainda está em andamento, mas majoritariamente STF e STJ entendem
pela remessa porque o próprio Tribunal deve dizer sobre a sua própria competência.
Prof. discorda do STF/STJ, porque, se há jurisprudência divulgada...(vermelho)
INTERVALO
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*INFLUÊNCIA POLÍTICA? Não, a análise é técnica.
*mas sobre a questão do foro da magistratura, então permanece o foro dos juízes no tribunal
e dos desembargadores no STJ, ou apenas o dos desembargadores fica mantido no STJ? Se irradia à
toda a magistratura, assim como aos membros do MP.
*o motivo de invocar o juiz natural => Diz o art. 10 p.1 o do CPP, encerrados os autos,
deverão ser remetidos ao Juízo competente... Se estão inclusos pessoa com prerrogativa de foro,
deveria ser remetido de plano ao Juizo competente, sob pena de burla ao Juízo Natural.
O Tribunal decidirá sobre a inclusão ou não, bem como sobre eventual cisão da
competência.
É importante deixar claro que o STF já deixou claro um critério objetivo com relação à cisão
ou não. Em se tratando de continência => unidade persecutória. Nos demais casos, cisão. Afinal, a
competência ratione persone é excepcional, logo, de aplicação restritiva.
Observe que essa é uma outra tentativa de enxugar o seu acervo, “jurisprudência defensiva”.
Em caso de continência, não tem jeito, vai ter que manter um único processo. Porque se trata de
mesma causa de pedir (não pode separar a mesma causa de pedir), que nascem do mesmo fato de
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pedir, apesar de cada agente ser julgado na medida da sua culpabilidade...=> privilegia-se a unidade
persecutória.
O risco de haver decisões conflitantes é enorme. Por isso devem ser reunidos.
Podendo evitar é melhor.
OBS: “precedentes mais antigos”=> professor vai sempre se referir a STJ precedentes. Os
atuais, o professor se refere apenas como STJ.
Ambos julgados são da década passada e ambas foram no sentido de não se permitir a
instauração de inquérito por meio de decisão judicial.
A decisão da 2a turma foi inclusive curiosa, porque o acusado já tinha alvo em um processo
em curso sobre a mesma pessoa e sobre o mesmo fato. O Juiz requisitou à autoridade policial para
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que abrisse novo inquérito e investigação. E foi afirmado que não pode haver esse tipo de
comportamento judicial porque é incompatível com o sistema acusatório. A decisão da 5 a Turma
também foi nessa linha argumentativa.
Neste aspecto, falamos em sistema acusatório, em que pese o peso inquisitorial do inquérito.
Ou seja, a persecução à cargo do MP ou à cargo da autoridade policial, mantendo o juiz de maneira
equidistante.
Corroborado com o art. 3o do CPP. Lex anteriori derrogati lex posteriori
Este é um discurso que fortalece o MP, que ficaria eclipsado diante de um Juiz oficioso.
No entanto, o regimento interno do STF prevê ainda a possibilidade de abertura do inquérito
de ofício. O STF não reconheceu a inconstitucionalidade deste regimento neste quesito, mostrantdo
que ainda é necessário portanto muita evolução deste preceito. À reboque isso tem sido utilizado
pelos demais Tribunais, com efeito cascata, infelizmente.
Os tribunais que permitem essa instauração de ofício, alegam em sentido contrário que, por
encerrar valoração contrária e cognição sumária, inexistiria prejulgamento a comprometer a
imparcialidade e a equidistância.
É utilizado até hoje para justificar preceitos de instauração por Ministros do STF ou do STJ.
*A requisição judicial de inquérito não pode, salvo exceções do regimento, e foi por causa
do (Artigo acrescido pela Lei nº 13.964, de 24/12/2019, publicada na Edição Extra do DOU de
24/12/2019, em vigor 30 dias após a publicação) Ar 3 ª A? Primeiramente sempre com base na
legalidade, ou seja, com previsão legal. No entanto, em que pese a previsão legal em regimentos
internos dos Tribunais, é de constitucionalidade e convencionalidade duvidosas vide o artigo 8 o item
1 da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e art. 14 item 1 do Pacto Internacional de
Direitos Civis e Políticos:
Descabe portanto, expor o investigado à opinião pública, sendo que isso pode levar a um
arquivmento. Visa-se preservar direitos fundamentais do investigado, contidos nos artigos citados
acima.
Cite-se um caso de SP: da escola Base de SP, que não conseguiram se reinserir na sociedade
de forma adequada.
Portanto, a sigilosidade do inquérito tem essas duas funções. Tem o papel portanto de
neutralizar a “opressive media” (mídia opressiva).
Tem-se a recepção constitucional do art. 20, caput do CPP, pelo art. 5 o inciso XXXIII da
CRFB88. Todos tem direito à informações pessoas, com exceção.
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou
exigido pelo interesse da sociedade.
Ou seja, a interpretação a contrario sensu do contido no art. 20, faz permitir a divulgação,
desde que não interfira nas investigações.
Alcança tudo que já foi apurado (documentado) apenas, dentro da lógica da inquisitoriedade
do inquérito.
MS ou HC.
Professor não recomenda este último em termos práticos, mas no caso de haver crime de
abuso de autorridade, cabe até mesmo voz de prisão em flagrante
Teria que se dar de forma clara no caso concreto, em que a autoridade policial está negando
o acesso por mero capricho, por humilhação ao advogado.... cabe a voz de prisão em flagrante....
E nos casos em que se permite a consulta por advogado de um inquérito, não se trata de um
meio de burlar a sigilosidade do inquérito? Por ex. quando algum advogado curioso resolve pedir
acesso aos autos...
R: NÃO. Porque na realidade o advogado deve dizer em nome de quem está lá. Deve estar
em nome de um investigado, indiciado ou suspeito. Não pode estar em nome de terceiro curioso
interessado. O indiciado pode opor à vista desse advogado.
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