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Ribeirão Preto
2/2020
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Introdução
O Código de Processo Penal não só regulamenta os procedimentos formais
para a validade da Ação Penal em suas modalidades. Em muitos casos, antes mesmo
que a Ação Penal seja postulada, o Inquérito Policial a antecede, dependendo de que
recebe a notitia criminis. Desse modo, a fase investigativa, a partir do Inquérito Policial
se inicia, e é extremamente importante para a apuração da verdade dos fatos, não só
pelo seu caráter investigativo e informativo, mas pela ausência do princípio do
contraditório, que não se aplica no decorrer dele, já que as autoridade competentes,
dentro dos rigores da lei, podem impedir que certas ações prejudiciais sejam evitadas,
assim como determinadas provas que, sem tal rito, sejam obtidas.
O ministério Público, nos limites de suas funções, exerce o controle externo,
mas não na forma de um órgão restritivo, mas colaborador, não só para a eficácia da
investigação, mas para execução nos conformes da legalidade, impedindo o abuso de
poder, assim como reivindicando diligências, ao mesmo tempo que assegura os direitos
e garantias fundamentais do indiciado. Nesse sentido, e com tal objetivo, o presente
trabalho tem a finalidade de esclarecer o procedimento do Inquérito Policial, como
também esclarecer a função do Ministério Público na fase investigativa.
A constituição Federal, em seu art. 5º, inciso LV, determina que só existe o princípio
contraditório após o início efetivo da ação penal. A doutrina também se manifesta com
semelhante entendimento, por exemplo, segundo Reis (2014) o inquérito é um
procedimento investigatório em cujo tramitar não vigora o princípio do contraditório.
Esse entendimento leva em conta que, vigorando o princípio do contraditório, o acusado
tomaria conhecimento das diligências de antemão, evitando que as provas possam ser
obtidas ou, até mesmo, destruindo-as, impedindo que a investigação prossiga pela
ausência de elementos probatórios.
As características fundamentais do inquérito policial são: discricionariedade,
sigilo, inquisitivo, obrigatoriedade, é escrito e pode ser dispensável. Vejamos cada um
desses aspectos.
A Polícia Judiciária, seja a Civil ou a Federal tem a faculdade de operar ou
deixar de operar dentro de um campo limitado pelo direito. A autoridade policial tem a
presidência do inquérito, podendo deferir ou indeferir qualquer pedido de prova feito
pelo indiciado ou pelo ofendido, nos termos do art. 14, do CPP “O ofendido, ou seu
representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será
realizada, ou não, a juízo da autoridade”, não estando sujeita a autoridade policial à
suspeição, como disciplina o art. 107 do CPP “Não se poderá opor suspeição às
autoridades policiais nos atos do inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas,
quando ocorrer motivo legal”. O ato de polícia é autoexecutável, pois independe de
prévia autorização do Poder Judiciário para a sua concretização jurídico material.
O inquérito deve ser escrito, visto que é destinado ao fornecimento de
elementos ao titular da ação penal. O art. 9º do CPP “Todas as peças do inquérito
policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso,
rubricadas pela autoridade”.
O inquérito tem caráter sigiloso, pois só assim a autoridade policial pode
providenciar as diligências necessárias para a completa elucidação do fato sem que lhe
seja postos empecilhos para impedir ou dificultar a colheita de informações, com
ocultação ou destruição de provas, influência sobre testemunhas e não se aplica o
princípio do contraditório. Nesse sentido dispõe o art. 20 do CPP que "a autoridade
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estabelece que o Delegado pode receber a notitia criminis de várias maneiras, de modo
que classificam da seguinte forma, como sustenta Alexandre Reis:
de cognição imediata, quando a autoridade fica sabendo da infração penal em razão
do desempenho das suas atividades regulares; de cognição mediata, quando toma
conhecimento por intermédio de terceiros (requerimento do ofendido, requisição do
juiz ou do Ministério Público delatio criminis, etc.); de cognição coercitiva, quando
decorre de prisão em flagrante (REIS, 2014, p. 55).
depende de representação, o inquérito não pode ser iniciado sem ela. A representação é
um pedido autorização em que o interessado manifesta o desejo de que seja proposta a
ação penal pública e, portanto, como medida preliminar, o inquérito policial. Nos
termos do art. 100, § 1º, do CP e 24 do CPP, podem oferecer representação o ofendido
ou seu representante legal, e, por força do art. 39, o procurador com poderes especiais.
A representação denominada na doutrina de delatio criminis postulatória,
pode ser dirigida à autoridade policial, ao juiz ou ao órgão do Ministério Público. O
magistrado e o membro do MP, se não tiverem elementos para o oferecimento da
denúncia, deverão encaminhá-los à autoridade policial, requisitando a instauração do
procedimento inquisitorial. Ela pode ser escrita ou oral, e deve conter as informações
necessárias para apuração do fato e da autoria, esse procedimento está previsto nos arts.
5º, § 1º, e 39, § 1º do referido diploma.
A representação oral ou sem assinatura autenticada deve ser reduzida a
termo art. 39, § 1º, do CPP. O direito de representação está sujeito à decadência,
extinguindo-se a punibilidade do crime se não for ela oferecida no prazo legal. Há casos
em que a instauração depende de requisição do Ministro da Justiça. Neste caso, a
representação não está sujeita à decadência.
A instauração de inquérito no caso de ação penal privada, por sua vez,
decorre quando a lei prevê que determinado crime só pode ser instaurado mediante
queixa, trata-se de crime de ação penal privada. Nessas hipóteses, o inquérito policial
também só pode ser instaurado mediante iniciativa do ofendido ou seu representante
legal, nos termos do art. 5º, §3º, do CPP. Em caso de morte ou ausência judicialmente
declarada do titular, o direito de queixa passa a ser do cônjuge, ascendente, descendente
ou irmã, tal como disciplina o art. 31 do CPP.
Na hipótese de prisão em flagrante por crime de ação privada, o auto
respectivo e a instauração do inquérito policial só poderão ser lavrados quando
requeridos, por escrito ou oralmente, pela vítima ou outra pessoa qualificada para a
propositura da ação (art. 5º, §5º, do CPP).
Caso decorrido o prazo de decadência da ação privada (6 meses de acordo
com o art. 38 do CPP), o inquérito policial não pode ser instaurado por conta da
extinção da punibilidade. A instauração do inquérito policial não interrompe o prazo
decadencial, devendo a queixa ser proposta antes de seu término.
Encerrado o inquérito policial, os autos poderão ser entregues ao requerente,
se o pedir, mediante o traslado, ou, se não o fizer, deverão ser remetidos ao juízo
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Dentre as funções do MP, destaca-se que cabe ao Ministério Público oferecer denúncia,
havendo justa causa, por procedimento ordinário. O MP possui também a função de
requisitar novas diligências, desde que especificadas, assim como solicitar
arquivamento da demanda. Ocorrendo entendimento do MP de que não possui
atribuição para atuar em determinado caso, é seu dever notificar a não competência,
cabendo ao juiz acatar ou não.
O art. 144 da Constituição Federal, atribui às Polícias Federal e Civil a
apuração de infrações penais, e ao MP a função de exercer controle externo à atividade
policial, tendo como consequência de que não seria constitucional a função de Promotor
Investigador, já que tal tarefa não cabe ao MP.
A linha limítrofe da investigação direta do MP pode ser organizada da
seguinte forma: excepcionalidade e subsidiariedade da apuração do MP; prevalência da
requisição da instauração de inquérito sobre a deflagração de investigação ministerial;
condução da investigação sob sua direção e até sua conclusão; impossibilidade de bis in
idem; observância de princípios e regras que orientam o inquérito policial; respeito ao
marco legal da investigação criminal no Brasil.
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Considerações Finais
O Inquérito Policial segue formalidades para ser instaurado, dependendo de
cada tipo de Ação Penal que será consequente dele. No entanto, em todas elas, o
princípio do contraditório não vigora em sua tramitação. Por mais que tal aspecto possa
ser, superficialmente, um desvio do legítimo processo legal, se faz necessário ressaltar
que ainda não se trata de processo, mas de procedimento administrativo, investigativo,
informativo e, dessa maneira, para sua eficácia, não só legal, mas real, o respeito a tal
princípio poderia comprometer a verdade dos fatos.
Cero é que nem sempre o Inquérito Policial antecede a Ação Penal, mas isso
não quer dizer que a falta deste demonstra a sua irrelevância. Na verdade, o que ocorre é
que, em determinados casos, a Ação Penal pode ser protelada sem tal procedimento,
mas a prévia investigação, antes mesmo que esta seja importante para a formação do
livre convencimento do juiz, cabe destacar que muitas provas, se não forem obtidas por
meio do inquérito, poderão ser comprometidas, destruídas ou rejeitadas.
O Ministério Público, mesmo exercendo a função de controle externo das
diligências necessárias ao Inquérito, não pode ser tomada como sinônimo de uma
conduta impeditiva do levantamento da verdade dos fatos, mas sim do abuso de
autoridade.
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Referências
Brasil. Constituição Federal. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm