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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO


CAMPUS RIBEIRÃO PRETO

UNIVERSIDADE DE DIREITO “LAUDO DE CAMARGO”


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

DIREITO PROCESSUAL PENAL I

Nome: Carlos Gustavo Monteiro Cherri Código: 764943

ETAPA: 7º SALA: 16B PERÍODO: Diurno

Ribeirão Preto

2/2020
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O Inquérito Policial e a Atuação do Ministério Público


Resumo
O presente artigo tem como finalidade esclarecer as características do Inquérito Policial
e a atuação do Ministério Público em tal circunstância. Nesse sentido, atrelados à
doutrina, à jurisprudência e aos dispositivos legais, a apresentação tem ciência de o
assunto não se esgota aqui, mas será de grande utilidade aos estudantes de direito e ao
público acadêmico conhecer as regras que determinam tal procedimento.

Introdução
O Código de Processo Penal não só regulamenta os procedimentos formais
para a validade da Ação Penal em suas modalidades. Em muitos casos, antes mesmo
que a Ação Penal seja postulada, o Inquérito Policial a antecede, dependendo de que
recebe a notitia criminis. Desse modo, a fase investigativa, a partir do Inquérito Policial
se inicia, e é extremamente importante para a apuração da verdade dos fatos, não só
pelo seu caráter investigativo e informativo, mas pela ausência do princípio do
contraditório, que não se aplica no decorrer dele, já que as autoridade competentes,
dentro dos rigores da lei, podem impedir que certas ações prejudiciais sejam evitadas,
assim como determinadas provas que, sem tal rito, sejam obtidas.
O ministério Público, nos limites de suas funções, exerce o controle externo,
mas não na forma de um órgão restritivo, mas colaborador, não só para a eficácia da
investigação, mas para execução nos conformes da legalidade, impedindo o abuso de
poder, assim como reivindicando diligências, ao mesmo tempo que assegura os direitos
e garantias fundamentais do indiciado. Nesse sentido, e com tal objetivo, o presente
trabalho tem a finalidade de esclarecer o procedimento do Inquérito Policial, como
também esclarecer a função do Ministério Público na fase investigativa.

O Inquérito Policial e a Atuação do Ministério Público


O inquérito policial é um procedimento administrativo informativo,
destinado a apurar a existência de infração penal e sua autoria, a fim de que o titular da
ação penal disponha de elementos suficientes para promovê-la. De acordo com a
doutrina de Reis, “é um procedimento investigatório instaurado em razão da prática de
uma investigação penal, composto por uma série de diligências, que tem como objetivo
obter elementos de prova para que o titular da ação possa propô-la contra o criminoso
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(REIS, 2014, p. 49). Sendo o inquérito mero procedimento informativo e investigativo,


os seus possíveis vícios não afetam a ação penal a que deu origem.
A desobediência às formalidades legais pode acarretar a ineficácia do ato
em si, mas não influi na ação já iniciada, com denúncia recebida. Porém, tais
irregularidades diminuem o valor dos atos a que se regulam, merecendo consideração
no exame do mérito da causa. Vejamos o seguinte julgado que aponta nulidades por
falta de formalidades previstas em lei:
RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
NULIDADE. NOTITIA CRIMINIS INQUALIFICADA. "DENÚNCIA
ANÔNIMA". POSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE INVESTIGAÇÕES
PRÉVIAS À INSTAURAÇÃO FORMAL DE INQUÉRITO POLICIAL.
PRECEDENTES. AUSÊNCIA NOS AUTOS DE NOTÍCIA DE DILIGÊNCIAS
PRÉVIAS. REQUISIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA A
INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL. RECURSO PROVIDO. 1. "A
notícia anônima sobre eventual prática criminosa, por si só, não é idônea para a
instauração de inquérito policial ou deflagração da ação penal, prestando-se,
contudo, a embasar procedimentos investigativos preliminares em busca de
indícios que corroborem as informações, os quais tornam legítima a persecução
criminal estatal (AgRg no AREsp 729.277/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Jorge
Mussi, DJe 26/8/2016). 2. A notitia criminis apócrifa, por si só, não supre a
necessidade de verificação pelos órgão públicos da mínima da plausibilidade da
imputação para a deflagração ou determinação de instauração de inquérito policial.
Recurso em habeas corpus provido para reconhecer a nulidade na Ação penal n.
0098586-10.2009.8.26.0050 (050.09.098586-9), desde a decisão que determinou a
instauração do inquérito policial com base exclusivamente em denúncia anônima e
sem a realização de nenhuma investigação prévia..(STJ - RHC: 64504 SP
2015/0252531-6, Relator: Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, Data de
Julgamento: 21/08/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe
31/08/2018).

Como instrução provisória, de caráter inquisitivo, o inquérito policial tem valor


informativo para instauração da competente ação penal. Entretanto, nele se realizam
certas provas periciais que contém maior dose de veracidade, porque são baseadas em
fatores de ordem técnica. Nessas circunstâncias têm igual valor a das provas colhidas
em juízo.
O conteúdo do inquérito tem por finalidade fornecer ao detentor do direito
de ação os elementos necessários para a propositura de ação penal, não deixa de influir
na convicção do juiz na formação de seu livre convencimento para o julgamento da
causa. Contudo, não se pode, porém, fundamentar uma decisão condenatória apoiada
exclusivamente no inquérito policial, o que contraria o princípio constitucional do
contraditório, que não existe no inquérito. Esse entendimento, além de formalizado pela
lei, já se encontra pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça:
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. INQUÉRITO
POLICIAL. AUSÊNCIA DE AMPLA DEFESA. INEXISTÊNCIA DE
GARANTIA. AGRAVO DESPROVIDO. 1. O inquérito policial é procedimento
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investigatório e meramente informativo, não se submetendo ao crivo do


contraditório, pelo que não é garantido ao indiciado o exercício da ampla defesa.
2. Agravo regimental desprovido.
(STJ - AgRg no REsp: 1552870 GO 2015/0214309-0, Relator: Ministro JOEL
ILAN PACIORNIK, Data de Julgamento: 27/11/2018, T5 - QUINTA TURMA,
Data de Publicação: DJe 07/12/2018).

A constituição Federal, em seu art. 5º, inciso LV, determina que só existe o princípio
contraditório após o início efetivo da ação penal. A doutrina também se manifesta com
semelhante entendimento, por exemplo, segundo Reis (2014) o inquérito é um
procedimento investigatório em cujo tramitar não vigora o princípio do contraditório.
Esse entendimento leva em conta que, vigorando o princípio do contraditório, o acusado
tomaria conhecimento das diligências de antemão, evitando que as provas possam ser
obtidas ou, até mesmo, destruindo-as, impedindo que a investigação prossiga pela
ausência de elementos probatórios.
As características fundamentais do inquérito policial são: discricionariedade,
sigilo, inquisitivo, obrigatoriedade, é escrito e pode ser dispensável. Vejamos cada um
desses aspectos.
A Polícia Judiciária, seja a Civil ou a Federal tem a faculdade de operar ou
deixar de operar dentro de um campo limitado pelo direito. A autoridade policial tem a
presidência do inquérito, podendo deferir ou indeferir qualquer pedido de prova feito
pelo indiciado ou pelo ofendido, nos termos do art. 14, do CPP “O ofendido, ou seu
representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será
realizada, ou não, a juízo da autoridade”, não estando sujeita a autoridade policial à
suspeição, como disciplina o art. 107 do CPP “Não se poderá opor suspeição às
autoridades policiais nos atos do inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas,
quando ocorrer motivo legal”. O ato de polícia é autoexecutável, pois independe de
prévia autorização do Poder Judiciário para a sua concretização jurídico material.
O inquérito deve ser escrito, visto que é destinado ao fornecimento de
elementos ao titular da ação penal. O art. 9º do CPP “Todas as peças do inquérito
policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso,
rubricadas pela autoridade”.
O inquérito tem caráter sigiloso, pois só assim a autoridade policial pode
providenciar as diligências necessárias para a completa elucidação do fato sem que lhe
seja postos empecilhos para impedir ou dificultar a colheita de informações, com
ocultação ou destruição de provas, influência sobre testemunhas e não se aplica o
princípio do contraditório. Nesse sentido dispõe o art. 20 do CPP que "a autoridade
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assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo


interesse da sociedade". Tal sigilo não se estende ao Ministério Público, que pode
acompanhar os atos investigatórios, nem ao Poder Judiciário.
O caráter obrigatório se deve na hipótese de crime apurável mediante ação
penal pública incondicionada, a autoridade deverá instaurá-lo de ofício, assim que tenha
notícia da prática da infração tal como dispõe o art. 5º, I, do CPP; é dispensável, já que
não é determinante para o encadeamento da ação penal.
O advogado só pode ter acesso ao inquérito policial quando possua
legimitatio ad procedimentum e, decretado o sigilo, em segredo de Justiça, não está
autorizada sua presença a atos procedimentais, diante do princípio da inquisitoriedade
que norteia o Código de Processo Penal quanto à investigação. Pode, porém, manusear e
consultar os autos findos ou em andamento de acordo com o art. 7º, XIII e XIV, do
EOAB. Diante do art. 5º, LXIII, da CF “o preso será informado de seus direitos, entre os
quais o de permanecer em silêncio, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado”, que assegura ao preso a assistência de advogado, não há dúvida que poderá
o advogado, ao menos nessa hipótese, não só consultar os autos de inquérito policial,
mas também tomar as medidas pertinentes em benefício do indiciado.
Com a edição da súmula vinculante nº 14, garantiu-se ao advogado o amplo
acesso aos elementos de prova colhidos durante o procedimento investigatório, desde
que já documentados, com o objetivo de que o seu representado possa exercer seu
direito de defesa.
O inquérito é indisponível, porque uma vez instaurado regularmente, em
qualquer hipótese, não poderá a autoridade arquivar os autos, tal como disciplina o art.
17, do CPP “A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito”.
O inquérito policial pode começar de maneiras variadas, dependendo do tipo
de ação que será instaurada. No entanto, geralmente, pode iniciar-se das seguintes
formas: de ofício, por portaria ou auto de prisão em flagrante; requisição do Ministério
Público ou do Juiz; por requerimento da vítima, mediante representação do ofendido. É
com a notitia criminis que se instaura o inquérito policial, mas a lei processual
disciplina a matéria prevendo formas específicas dessa comunicação. Geralmente, o
autor da notitia criminis é o ofendido ou seu representante legal (art. 5º, II e §§ 4º e 5º),
e o seu destinatário é a autoridade policial (art. 5º, II, §§ 3º e 5º), o MP (arts. 27, 39 e
40/CPP), ou, excepcionalmente, o juiz (art. 39/CPP). Nesse sentido, a doutrina
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estabelece que o Delegado pode receber a notitia criminis de várias maneiras, de modo
que classificam da seguinte forma, como sustenta Alexandre Reis:
de cognição imediata, quando a autoridade fica sabendo da infração penal em razão
do desempenho das suas atividades regulares; de cognição mediata, quando toma
conhecimento por intermédio de terceiros (requerimento do ofendido, requisição do
juiz ou do Ministério Público delatio criminis, etc.); de cognição coercitiva, quando
decorre de prisão em flagrante (REIS, 2014, p. 55).

Além disso, dependendo da modalidade de Ação Penal, existe uma formalidade


específica para a instauração do Inquérito policial. Vale destacar que as Ações Penais se
dividem em Ação Penal Pública Incondicionada, Ação Penal Pública Condicionada e
Ação Penal Privada.
Quando a ação penal é pública incondicionada, o inquérito policial pode ser
instaurado nas seguintes hipóteses: de ofício, pela autoridade policial, através de
Portaria (art. 5º, I). A Portaria é uma peça singela, na qual a autoridade policial consigna
haver tido ciência da prática do delito; por requisição do Ministério Público, ou,
excepcionalmente, do juiz (art. 5º, II). O art. 40 do Código de Processo Penal determina
que quando o juiz verificar a existência de crime de ação pública incondicionada, deve
remeter ao MP cópia dos documentos necessários para o oferecimento da denúncia.
Sendo insuficientes tais documentos, o MP deverá requisitar a instauração de inquérito
policial com fundamento nesses elementos, como de outros que lhe forem fornecidos
(art. 27, 39 e 40/CPP); por requerimento escrito da vítima (art. 5º, II/CPP). Tal
requerimento pode ser indeferido pela autoridade policial por entender que o fato não
constitui crime. Do indeferimento do pedido cabe recurso administrativo ao chefe de
polícia (art. 5º § 2º). Entretanto, a comunicação verbal é a mais comum, cumprindo à
autoridade policial, determinar, ad cautelam, que as declarações sejam reduzidas a
termo; pela prisão em flagrante: quando o respectivo auto será a primeira peça do
procedimento.
O inquérito não deve ser instaurado se o fato é atípico, porque já se tem
decidido que constitui constrangimento ilegal sanável pela via do habeas corpus; se a
punibilidade do agente estiver extinta; se a autoridade for incompetente; se não forem
fornecidos os elementos indispensáveis para proceder à investigação; se, no caso do
indiciado já ter sido absolvido ou condenado pelo fato, ainda que a sentença não tenha
transitado em julgado, senão há bis in idem.
A instauração do inquérito no caso de ação penal pública condicionada, diz
o art. 5º, § 4º, do Código de Processo Penal, que nos crimes em que a ação penal pública
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depende de representação, o inquérito não pode ser iniciado sem ela. A representação é
um pedido autorização em que o interessado manifesta o desejo de que seja proposta a
ação penal pública e, portanto, como medida preliminar, o inquérito policial. Nos
termos do art. 100, § 1º, do CP e 24 do CPP, podem oferecer representação o ofendido
ou seu representante legal, e, por força do art. 39, o procurador com poderes especiais.
A representação denominada na doutrina de delatio criminis postulatória,
pode ser dirigida à autoridade policial, ao juiz ou ao órgão do Ministério Público. O
magistrado e o membro do MP, se não tiverem elementos para o oferecimento da
denúncia, deverão encaminhá-los à autoridade policial, requisitando a instauração do
procedimento inquisitorial. Ela pode ser escrita ou oral, e deve conter as informações
necessárias para apuração do fato e da autoria, esse procedimento está previsto nos arts.
5º, § 1º, e 39, § 1º do referido diploma.
A representação oral ou sem assinatura autenticada deve ser reduzida a
termo art. 39, § 1º, do CPP. O direito de representação está sujeito à decadência,
extinguindo-se a punibilidade do crime se não for ela oferecida no prazo legal. Há casos
em que a instauração depende de requisição do Ministro da Justiça. Neste caso, a
representação não está sujeita à decadência.
A instauração de inquérito no caso de ação penal privada, por sua vez,
decorre quando a lei prevê que determinado crime só pode ser instaurado mediante
queixa, trata-se de crime de ação penal privada. Nessas hipóteses, o inquérito policial
também só pode ser instaurado mediante iniciativa do ofendido ou seu representante
legal, nos termos do art. 5º, §3º, do CPP. Em caso de morte ou ausência judicialmente
declarada do titular, o direito de queixa passa a ser do cônjuge, ascendente, descendente
ou irmã, tal como disciplina o art. 31 do CPP.
Na hipótese de prisão em flagrante por crime de ação privada, o auto
respectivo e a instauração do inquérito policial só poderão ser lavrados quando
requeridos, por escrito ou oralmente, pela vítima ou outra pessoa qualificada para a
propositura da ação (art. 5º, §5º, do CPP).
Caso decorrido o prazo de decadência da ação privada (6 meses de acordo
com o art. 38 do CPP), o inquérito policial não pode ser instaurado por conta da
extinção da punibilidade. A instauração do inquérito policial não interrompe o prazo
decadencial, devendo a queixa ser proposta antes de seu término.
Encerrado o inquérito policial, os autos poderão ser entregues ao requerente,
se o pedir, mediante o traslado, ou, se não o fizer, deverão ser remetidos ao juízo
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competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal,


conforme o art. 19 do CPP.
O papel do Ministério Público no Inquérito Policial
A Constituição Federal determina em seu art. 129 as diretrizes institucionais
do Ministério Público. Nesse sentido é importante observar tais diretrizes para que seja
possível compreender com maior clareza a atuação do referido órgão na instauração do
inquérito policial. Vejamos o dispositivo da carta Magna:
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I – promover,
privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; II – zelar pelo efetivo respeito
dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados
nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; III –
promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; IV –
promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção
da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição; V – defender
judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas; VI – expedir
notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando
informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar
respectiva; VII – exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei
complementar mencionada no artigo anterior; VIII – requisitar diligências
investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos
jurídicos de suas manifestações processuais; IX – exercer outras funções que lhe
forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a
representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.

Dentre as funções do MP, destaca-se que cabe ao Ministério Público oferecer denúncia,
havendo justa causa, por procedimento ordinário. O MP possui também a função de
requisitar novas diligências, desde que especificadas, assim como solicitar
arquivamento da demanda. Ocorrendo entendimento do MP de que não possui
atribuição para atuar em determinado caso, é seu dever notificar a não competência,
cabendo ao juiz acatar ou não.
O art. 144 da Constituição Federal, atribui às Polícias Federal e Civil a
apuração de infrações penais, e ao MP a função de exercer controle externo à atividade
policial, tendo como consequência de que não seria constitucional a função de Promotor
Investigador, já que tal tarefa não cabe ao MP.
A linha limítrofe da investigação direta do MP pode ser organizada da
seguinte forma: excepcionalidade e subsidiariedade da apuração do MP; prevalência da
requisição da instauração de inquérito sobre a deflagração de investigação ministerial;
condução da investigação sob sua direção e até sua conclusão; impossibilidade de bis in
idem; observância de princípios e regras que orientam o inquérito policial; respeito ao
marco legal da investigação criminal no Brasil.
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Além disso, se encontra permitido ao MP a presidência de investigações


civis, mas há silêncio a respeito do inquérito policial, no âmbito penal, numa esfera
claramente de maior relevância, em questões sobre a vida, liberdade, propriedade, entre
outros. É a investigação criminal que fornece os fatos que permitem ao Estado punir,
aplicando a sanção ao transgressor. A Presidência, como dito anteriormente, em casos
que se dão na esfera penal é da autoridade policial.

Considerações Finais
O Inquérito Policial segue formalidades para ser instaurado, dependendo de
cada tipo de Ação Penal que será consequente dele. No entanto, em todas elas, o
princípio do contraditório não vigora em sua tramitação. Por mais que tal aspecto possa
ser, superficialmente, um desvio do legítimo processo legal, se faz necessário ressaltar
que ainda não se trata de processo, mas de procedimento administrativo, investigativo,
informativo e, dessa maneira, para sua eficácia, não só legal, mas real, o respeito a tal
princípio poderia comprometer a verdade dos fatos.
Cero é que nem sempre o Inquérito Policial antecede a Ação Penal, mas isso
não quer dizer que a falta deste demonstra a sua irrelevância. Na verdade, o que ocorre é
que, em determinados casos, a Ação Penal pode ser protelada sem tal procedimento,
mas a prévia investigação, antes mesmo que esta seja importante para a formação do
livre convencimento do juiz, cabe destacar que muitas provas, se não forem obtidas por
meio do inquérito, poderão ser comprometidas, destruídas ou rejeitadas.
O Ministério Público, mesmo exercendo a função de controle externo das
diligências necessárias ao Inquérito, não pode ser tomada como sinônimo de uma
conduta impeditiva do levantamento da verdade dos fatos, mas sim do abuso de
autoridade.
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Referências
Brasil. Constituição Federal. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

Brasil.Código de Processo Penal. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm

REIS, Alexandre Cebrian Araújo. Direito processual penal esquematizado. Alexandre


Cebrian Araújo Reis, Vitor Eduardo Rios Gonçalves; coordenador Pedro Lenza. 3ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2014 (Coleção esquematizado).

STJ - RHC: 64504 SP 2015/0252531-6, Relator: Ministro JOEL ILAN PACIORNIK,


Data de Julgamento: 21/08/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe
31/08/2018.

STJ - AgRg no REsp: 1552870 GO 2015/0214309-0, Relator: Ministro JOEL ILAN


PACIORNIK, Data de Julgamento: 27/11/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 07/12/2018.

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