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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

ARTS. 338 A 359

O ramo da Administração Pública que se protege é o Poder Judiciário ou a


atividade inerente que vai desaguar no Poder Judiciário. Portanto, protege-se a dignidade e a honra das
funções jurisdicionais, ou seja, a efetividade e o respeito que se deve ter à decisão da Justiça.

Há, assim, uma especialização no que toca ao bem jurídico tutelado. Por isso é
que há condutas descritas nesse capítulo que encontram paradigmas em outros tipos penais, como
acontece no crime do art. 357 – exploração de prestígio – que encontra paradigma no art. 332 – tráfico
de influência – sendo certo que o art. 357 prevalece pela especialidade, como também o art. 356 que é
especial ao art. 314.

ART. 339 – DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

O crime do art. 339 foi alterado pela lei 14.110/20. Consiste numa causação de
instauração de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de
processo administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra
alguém, imputando-lhe crime, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: Pena.
Reclusão, de dois a oito anos, e multa.

“Inquérito policial é o procedimento inquisitivo instaurado pela polícia Judiciária para apuração de
infrações penais. Não há necessidade da instauração formal do procedimento, bastando que ocorra o
início de uma investigação, como quando são ordenadas diligências para apuração preliminar sobre a
existência de determinado fato.
Procedimento investigatório criminal, mais conhecido como PIC, é a investigação criminal realizada no
âmbito do Ministério Público para a apuração de infração penal de natureza pública.
Antes do advento da Lei 10.028/2000, que inseriu no tipo a investigação administrativa, o inquérito
civil e a ação por ato de improbidade administrativa, pacífico se mostrava o entendimento de que o
processo judicial a que alude a norma era apenas o de natureza penal. Atualmente, também está
abrangido o processo civil decorrente da propositura de ação civil pela prática de ato de improbidade
administrativa. Como a simples instauração do inquérito civil já é ato configurador do delito, com muito
mais razão também deve ser o processo decorrente da propositura de uma ação de improbidade
administrativa.
Processo administrativo é aquele que tramita perante a administração pública para apuração de uma
infração ético-disciplinar. A nova redação do dispositivo não mais contempla a mera sindicância
administrativa ou procedimento similar, que normalmente antecedem a instauração do processo
administrativo disciplinar e servem para angariar indícios da prática da infração administrativa.
Inquérito civil é o procedimento administrativo e inquisitivo instaurado no âmbito do Ministério Público
para apuração de fatos que importem violação a interesses coletivos, difusos e individuais homogêneos.
Geralmente, ele antecede a propositura de uma ação civil pública que é movida para a tutela desses
interesses. No caso, o inquérito civil deve ter sido instaurado para a apuração da prática de ato de
improbidade administrativa, como deixa claro a parte final do tipo penal.
Ação de improbidade administrativa é a movida para o reconhecimento de infração de natureza civil
descrita na Lei 8.429/1992, que pode ensejar ao funcionário público a perda dos bens ou valores
acrescidos ilicitamente ao seu patrimônio, reparação integral do dano, quando houver, a perda da função
pública, a suspensão dos direitos políticos, a proibição de contratar com o Poder Público por

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determinado tempo e o pagamento de multa. Também pode atingir o particular, inclusive empresa, que
age em concurso com o funcionário público ou do ato ímprobo se beneficie direta ou indiretamente.” 1

É uma dolosa provocação de instauração de persecutório criminal,


administrativo e, também, de ação de improbidade administrativa visando a apurar fato delituoso
praticado por alguém com o conhecimento pleno, pelo agente, de que esta pessoa é inocente.

O crime do art. 339 gera a movimentação desnecessária, despicienda do


aparelho de repressão penal ou do Poder Judiciário no plano civil, bem como do próprio Ministério
Público.

Como acontece da calúnia simples, deve-se, no dolo, exigir o conhecimento da


inocência do sujeito que será investigado por conta da denúncia.

O crime se consuma com a efetiva instauração do inquérito ou com a


deflagração da ação penal ou com o início de um eventual inquérito administrativo ou civil ou com o
ajuizamento da ação de improbidade. Ou seja, o crime se consuma com o início dos procedimentos
oficiais descritos no tipo penal.

Se o sujeito denuncia na Delegacia, representa no Ministério Público ou ajuíza


da ação de improbidade, mas o inquérito não é instaurado ou a petição inicial da ação é indeferida,
estará configurada a TENTATIVA, pois caracterizado o início do ato executório, que é qualquer ato do
agente que dê conhecimento à autoridade da suposta situação criminosa que sabe que não foi praticada
pela pessoa a quem o agente imputa o crime.

Não se reclama no tipo penal algo além da instauração do procedimento, isto


basta para a consumação do crime do art. 339.

É absolutamente indispensável, para a caracterização do tipo penal, que o sujeito


impute a alguém a conduta criminosa, sabendo que a pessoa é inocente.

Se o sujeito apenas narra um acontecimento, não há o crime de denunciação


caluniosa, pois a calúnia exige a imputação de fato preciso, determinado, certo. Nessa hipótese, podem
se materializar duas situações: (1) o agente imputa a ninguém e narra um acontecimento de forma
genérica que acredita tenha acontecido. Nesse caso, não há tipicidade na conduta, pois o sujeito estará
apenas solicitando, como cidadão, a apuração de um fato; (2) O sujeito comunica o fato criminoso que
sabe que não existiu. A hipótese será do art. 340 – comunicação falsa de crime.

Verifica-se, assim, que o nome de “denunciação criminosa” não reflete,


adequadamente, o que o tipo abrange porque enquanto a calúnia consiste na representação falsa de
crime, a denunciação caluniosa consiste na provocação de procedimento e consequente instauração
persecutório que nem sempre desandará na imputação de um crime, porque nas duas situações de
processo administrativo e ação de improbidade não se extrairá a prática de um crime, mas sim de um
ilícito administrativo ou civil.

Assim, enquanto a calúnia consiste na imputação dolosa e falsa de crime a


alguém que sabe ser inocente, a denunciação caluniosa nem sempre resultará em uma imputação falsa
de crime, até porque o bem jurídico tutelado não é a honra individual de alguém, mas sim a
administração da justiça. A Justiça “lato sensu” é que é induzida a erro e a trabalho desnecessário
quando ocorre uma situação dessa.

É fundamental para a configuração de crime de denunciação caluniosa que não


haja uma mera notificação de um ato irregular. O fato irregular deve ser imputado a alguém, deve estar
discriminada a autoria da conduta tida como irregular.
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https://www.conjur.com.br/2020-dez-25/cesar-silva-novos-elementos-tipo-penal-denunciacao-caluniosa
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Quando não há a imputação de fato não existirá denunciação caluniosa, podendo
existir o crime de acusação falsa do art. 340.

Quando se imputa a alguém a prática não de um crime, mas de uma mera


contravenção penal, a hipótese será a do parágrafo segundo – causa especial de diminuição de pena –
porque as consequências serão menores. No §1º, há um desvalor de conduta maior por conta do
anonimato ou do nome suposto, daí porque haverá um aumento de pena.

ART. 340 – COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO

“Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe


a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe
não se Ter verificado:
Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou
multa.”

A descrição de fatos sem imputação quando se sabe que o fato não existiu gera o
crime do art. 340

Nessa hipótese, o que acontece é uma provocação de uma autoridade, que no


caso será policial, judicial ou do Ministério Público, ou seja, aquelas que têm a atribuição de atuar no
âmbito da persecução criminal, narrando-se um acontecimento de um fato que caracteriza crime ou
contravenção, que, na realidade, sabe-se não ter ocorrido.

É imprescindível para a caracterização do crime menos grave do art. 340 que a


prática do fato não tenha sido imputada a alguém. Isso, aliás, é o que distingue o crime do art. 340 do
art. 339 (denunciação caluniosa).

De qualquer maneira, haverá um dano à administração da justiça, pois será


instaurado um procedimento para averiguação de um fato inexistente, em desprestígio da justiça

O dolo, nesse caso, é o DOLO DIRETO. O sujeito sabe que a situação não
ocorreu.

Outro fato que distingue o crime do art. 340 da denunciação caluniosa é que
nesta pode acontecer de o sujeito narrar um fato que não aconteceu, imputando-o a determinada pessoa,
como também pode narrar um fato que ocorreu, imputando-o a pessoa que sabe ser inocente. Assim, a
denunciação caluniosa pode se dar através dessas duas condutas distintas. Já a comunicação falsa
exige-se que o crime narrado não tenha ocorrido. A comunicação falsa do crime é fulcrada na
inexistência do crime, enquanto na denunciação caluniosa tem fulcro na imputação falsa a alguém.

Além disso, na denunciação caluniosa se reclama a instauração por parte da


autoridade do procedimento necessário para apuração do ilícito atribuído a alguém, a comunicação falsa
reclama única e exclusivamente uma ação da autoridade, não definindo o tipo penal do art. 340 a
natureza dessa ação.

Logo, qualquer tipo de medida da autoridade que visa a apurar o acontecimento


falso a ela narrado pelo agente do delito é bastante para consumar o crime do art. 340, ainda que a
autoridade não tenha chegado a instaurar formalmente o procedimento, o que aí difere da denunciação
caluniosa.
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Esses crimes, além do tipo do art. 341, têm a potencialidade de fazer com que a
Justiça profira decisões injustas, equivocadas, estando aí configura a lesão ao bem jurídico tutelado.

No crime do art. 340, não se admite o fracionamento da conduta, daí porque não
há a possibilidade de tentativa.

ART. 341 – AUTO-ACUSAÇÃO FALSA

“Acusar-se, perant e a autoridade, de crime


inexistente ou praticado por outrem:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos,
ou multa.”

O crime de autoacusação falsa também pode gerar dano à administração da


Justiça, pois esta poderá proferir decisões equivocadas.

O crime ou será inexistente ou terá sido praticado por pessoa diversa da que se
auto-acusa.

O crime é bastante frequente na segunda hipótese – autoacusação falsa de crime


praticado por outrem – seja porque se quer proteger o verdadeiro autor do crime, seja porque é feita
mediante paga, ou porque se quer inviabilizar a persecução criminal (ex. sujeito de mais de 70 anos se
auto-acusa falsamente de crime, o que acarretará em relevante redução de pena ou extinção da
punibilidade).

O fato é que, neste crime, também não haverá lugar para tentativa. Ou o sujeito
se acusa ou não se acusa. Não há a necessidade de que se instaure os procedimentos para a investigação
do crime. Basta, para caracterizar a consumação, que a autoridade tome conhecimento da autoacusação.
Aliás, só há a possibilidade da tentativa se a confissão se der por escrito e esse documento se extravie.

Quando a autoacusação for praticada quando o sujeito está prestando


depoimento na condição de testemunha, não existirá o crime de autoacusação, porque será subsidiário.
Na realidade, estará configurado o crime de falso testemunho, previsto no art. 342 do CP.

Se o sujeito comparece como testemunha perante uma ação penal e ele


falsamente atribui a si mesmo a prática do crime, isto irá gerar, muito provavelmente, a absolvição do
verdadeiro culpado e caracterizar o crime do art. 342.

ART. 342 – FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA

“Fazer afirmação falsa, ou negar, ou calar a


verdade, como testemunha, perito, contador,
tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo
arbitral:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e
multa.
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§1º As penas aumentam-se de um sexto a um
terço, se o crime é praticado mediante suborno ou
se cometido com o fim de obter prova destinada a
produzir efeito em processo penal, ou em processo
civil em que for parte entidade da administração
pública direta ou indireta.
§2º O fato deixa de ser punível se, antes da
sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o
agente se retrata ou declara a verdade.”

O crime de falso testemunho consiste na conduta de fazer afirmação falsa ou


negar ou calar a verdade.

Primeira coisa a se observar nesse crime: falso testemunho é CRIME DE MÃO


PRÓPRIA, porque a conduta só pode ser praticada pelo contador, perito, testemunha, intérprete ou
tradutor, ninguém pode auxiliá-la nesse tipo de conduta.

Justamente por ser crime de mão própria é que se discute se admite concurso de
agente. Uma coisa é certa: por ser de mão própria o crime não admite a coautoria. A dúvida reside na
possibilidade de existir participação ou não no crime.

Questão: Horas antes de um testemunho, o advogado da causa instrui a testemunha para


fazer uma afirmação falsa e essa testemunha presta, então, o depoimento falso. O
advogado também responderia pelo crime de falso testemunho?

Resposta: A tese do STF é de que o advogado pode ser enquadrado na condição de


partícipe do crime de falso testemunho. O crime é de mão própria mas admite a participação
sob a modalidade de instigação.

O tipo admite o dolo eventual. Dessa forma, se existir dúvida, ela deve ser explicitada para que se dê o
valor devido ao depoimento.

A expressão falsa é elemento normativo do crime, assim, se o sujeito faz uma


afirmação objetivamente falsa mas que acha que é verdadeira, estará caracterizado o erro de tipo, que
exclui o dolo.

Também não será qualquer afirmação falsa que fará nascer o crime de falso
testemunho, porque a afirmação que não reflete a realidade, mas não tem qualquer potencialidade de
causar algum tipo de dano à administração da justiça, será atípica por ausência de potencialidade lesiva.

Assim, se o sujeito fizer uma afirmação inidônea, mas essa afirmação não é
capaz de interferir na decisão que será proferida no bojo do procedimento onde foi feita a afirmação,
não haverá crime algum.

Ex. testemunha que presta afirmação verdadeira quanto ao cometimento


do crime, mas falsa quanto à vestimenta do criminoso, não estará
cometendo o crime de falso testemunho, porque a afirmação inidônea não
tem potencial de interferir na decisão quanto à autoria do crime.

Nesse caso, a Administração da Justiça não chegará a ser ofendida, havendo


absoluta ausência de potencialidade lesiva.

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Para que a Administração da Justiça possa ser lesionada com a prática do crime
de falso testemunho, por conta de uma decisão equivocada, o falso deve versar sobre uma situação
jurídica ou de fato que tenha efetivamente a possibilidade de interferir no futuro, no destino da decisão.

Há pessoas que o Código de Processo Penal proíbe de depor (advogado sobre


seus clientes, padre por segredos revelados por confissão etc.). Essas pessoas não poderão ser o sujeito
ativo do crime porque o Juiz não deve permitir seus depoimentos.

Mas se Juiz admitir o depoimento de qualquer uma dessas pessoas e ela mentir,
prestando um depoimento falso, estará caracterizado o crime porque a vedação do CPP quanto ao
depoimento é sobre fatos verdadeiros. Se a pessoa prestar um depoimento falso, não estará
caracterizada a situação proibitiva do Código de Processo Penal, pois ela não estará se pronunciando
sobre fatos verdadeiros, mas sim falsos, o que importa na prática do crime do art. 343.

O crime de falso testemunho se consuma no exato momento em que o sujeito


presta o depoimento, independentemente de esse depoimento falso ter gerado dano, ter sido considerado
na sentença. O crime é de PERIGO, ou seja, ainda que o juiz tenha desprezado o depoimento falso, que
tinha potencialidade de repercutir da sentença, estará caracterizado o crime de falso testemunho, mesmo
que tenha sido descartado pelo juiz.

Mas o crime de falso admite, no §2º, uma escusa, ou seja, o fato deixará de ser
punível se o agente se retratar ou declarar a verdade, desde que isso ocorra antes da sentença a ser
proferida no processo em que foi prestado o depoimento falso.

O tipo prevê, assim, uma retratação que surtirá efeito no plano da culpabilidade,
retratação essa vinculada ao momento de proferimento da sentença onde o ilícito do falso testemunho
ocorreu.

A retratação – condição objetiva de punibilidade - visa a que a sentença que vier


a ser proferida no processo em que se prestou o depoimento falso não possa ser afetada por essa
falsidade.

No §1º, há causa especial de aumento de pena, pois estará caracterizada uma


maior potencialidade lesiva do crime de falso.

ART. 348 – FAVORECIMENTO PESSOAL

“Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade


pública autor de crime a que é cominada pena de
reclusão:

Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e


multa.

§1º. Se ao crime não é cominada pena de reclusão:

Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 3 (três)


meses, e multa.

§2º Se quem presta o auxílio é ascendente,


descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica
isento de pena.”
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ART. 349 – FAVORECIMENTO REAL

“Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria


ou de receptação, auxílio destinado a tornar
seguro o proveito do crime:

Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e


multa.”

Qualquer colaboração dada após a consumação não é suficiente para atribuir ao


autor da colaboração “status” de concorrente do crime.

Mas, em contrapartida, quem auxilia de qualquer maneira a prática do crime,


ainda que o auxílio ocorra após a prática do crime, também estará praticando uma conduta tipificada no
âmbito penal, que pode ser a prevista no art. 348; no art. 349 ou no art. 180, que são os chamados
delitos de fusão.

Os delitos de fusão necessariamente derivam de um crime praticado por alguém


em que a ação típica consiste em um auxílio ao crime iniciado após a sua consumação.

Os crimes de fusão são aqueles em que a ação criminosa neles prevista é


iniciada após a consumação do crime antecedente. Só é autor dos crimes de fusão quem não é autor,
coautor ou partícipe do crime antecedente.

Ex. Quem pratica o crime de receptação não pode ter praticado o crime
de furto a ele antecedente. Quem pratica o homicídio não pode praticar
o crime de favorecimento pessoal.

O favorecimento pessoal (art. 348) consiste no auxílio a subtração à ação de


autoridade do autor de crime ao qual é cominada a pena de reclusão. Pune-se, também, o auxílio dado a
autor de crime punido com detenção, mas com uma pena inferior, configurando um privilégio.

O tipo fala em auxílio prestado a autor de crime, o que abrange o auxílio


prestado a coautor e a partícipe de crime.

Ex. W empresta ferramenta para X para que ele arrombe uma casa e
cometa furto, sendo assim partícipe do crime. Após o cometimento do
crime, esse sujeito foge e pede auxílio a Y, que o esconde em casa. Y
responderá pelo crime do art. 348.

O fundamental para configurar o crime de favorecimento pessoal é que por parte


do sujeito que auxilia a subtração exista um conhecimento de que aquela pessoa está sendo procurada,
pois só assim estará caracterizado o auxílio à subtração.

Logo, se o sujeito não estiver sendo procurado, não estará caracterizado crime
algum, não havendo tipicidade na conduta do agente que hospedar esse sujeito em casa. O tipo
demanda que o autor do crime seja procurado pela autoridade pública pois só assim o auxílio à
subtração poderá estar configurado. A subtração é sinônimo de fuga.

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O tipo de favorecimento pessoal refere-se ao autor de CRIME, logo, o auxílio
dado a autor, coautor, ou partícipe de CONTRAVENÇÃO PENAL não caracterizará o crime do art.
348.

Quem auxiliar a fuga de agente de crime apenado com pena de reclusão terá
uma pena cominada mais grave. Se o agente cometeu uma contravenção, não haverá tipicidade na
conduta e se o agente cometeu crime em que é cominada pena de detenção estará configurada a hipótese
de privilégio - §1º.

O dolo do sujeito deve abarcar o conhecimento da procura do autor do outro


crime. Assim, se o sujeito não souber que a outra pessoa está sendo procurada, estará caracterizado
ERRO DE TIPO, o que afasta o dolo.

O tipo não pune a conduta do pai, filho, cônjuge que ajuda o outro a fugir, pois o
direito penal sempre dá destaque à manutenção da união familiar, configurando, assim, PERDÃO
JUDICIAL.

O companheiro ou companheira também se valerão do perdão judicial, por


analogia “in bonam partem”.

O problema maior reside nos crimes de favorecimento real e no crime de


receptação.

O crime de favorecimento real configura-se pela conduta de prestar ao


criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do
crime.

O crime de receptação prevê um núcleo verbal que pode trazer confusão com o
crime de favorecimento real que é o RECEBER. O próprio tipo do favorecimento real estabelece que
somente será sujeito do crime aquele que, fora dos casos de coautoria (leia-se também participação) e
receptação, auxiliar o criminoso.

A distinção entre as duas figuras – receptação e favorecimento real – se dará


através do DOLO.

Primeiro, deve-se lembrar que o coautor ou partícipe do crime antecedente não


poderá, por lógica, cometer qualquer uma dessas condutas de delito de fusão.

O sujeito responderá pelo crime de receptação, quando receber a coisa, sabendo


que é produto do crime, com o intuito econômico, ou com o intuito de obter alguma vantagem. O dolo,
no crime de receptação, abrange a intenção de lucrar com o recebimento do produto do crime.

Já no favorecimento real, o sujeito recebe a coisa, sabendo que é produto de


crime, com o intuito de AUXILIAR o autor do crime, sem “animus lucrandi”, daí porque a pena do
favorecimento real – que tem um desvalor de conduta menor – é inferior à pena de receptação.

Se o sujeito desconhecer que a coisa recebida é produto do crime, não haverá o


dolo, caracterizando erro de tipo.

Caso concreto:
A questão versa sobre a tipificação da conduta de Paulo Victor como incursa no delito de favorecimento
real, previsto no art.349, do Código Penal, uma vez que ele prestou auxílio ao irmão a tornar seguro o
proveito do crime de roubo anteriormente praticado. Não há que se falar em participação no delito de
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roubo, pois ele somente teve conhecimento de sua prática após a consumação do delito. Ainda, o fato de
ser irmão do autor do crime antecedente não pode ser utilizada como tese defensiva para fins de isenção
de pena, pois a escusa absolutória, por expressa previsão legal, somente se aplica ao delito de
favorecimento pessoal, conforme estabelece o §2º, do art.348, do Código Penal.

Letra d

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