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Processo Penal

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

1. Pretensão punitiva

A pretensão punitiva consiste no poder do Estado de exigir de quem comete um delito a submissão à sanção penal.

2. Sistemas processuais

a) Sistema inquisitório

O sistema inquisitório é aquele em que todas as funções encontram-se concentradas em uma única pessoa,
que assume as vestes de um juiz acusador, chamado de JUIZ INQUISIDOR, dotado de ampla iniciativa investigatória e
probatória, tendo liberdade para determinar de ofício a colheita de provas, seja no curso das investigações, seja no
curso do processo penal, independentemente de sua proposição pela acusação ou pelo acusado. Assim, vê-se que,
nesse sistema, a gestão das provas é concentrada nas mãos do juiz.

NOTA: No sistema inquisitório admite-se o PRINCÍPIO DA VERDADE REAL (busca da verdade absoluta), portanto o
acusado é tratado como mero objeto do processo, não sendo sujeito de direitos, legitimando-se até a tortura.

b) Sistema acusatório

O sistema acusatório caracteriza-se pela presença de partes distintas, contrapondo-se acusação e defesa em
igualdade de condições, e a ambas se sobrepondo um juiz, de maneira equidistante e imparcial. Aqui, há uma
separação das funções de acusar, defender e julgar; e, consequentemente, a gestão da prova recai precipuamente
sobre as partes – o juiz, na fase investigatória e na fase processual, só deverá intervir quando provocado, e desde que
haja a real necessidade de intervenção judicial.
NOTA: No sistema acusatório, o princípio da verdade real é substituído pelo PRINCÍPIO DA BUSCA DA VERDADE
(verdade processual), portanto o acusado é sujeito de direitos e a prova deve ser sempre produzida com fiel
observância ao contraditório e à ampla defesa.

TOME NOTA! Segundo a doutrina brasileira, o sistema acusatório1 é o adotado pela CF/88, pois o art. 129, I, CF,
outorga ao Ministério Público a titularidade da ação penal pública, evidenciando a existência de divisão das funções.

PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL

1. Princípio da presunção de inocência (estado de inocência ou presunção de não culpabilidade)

a) Conceito

O princípio da presunção de inocência consiste no direito de não ser declarado culpado, senão após o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória, ao término do devido processo legal, em que o acusado tenha se utilizado
de todos os meios de prova pertinentes para a sua defesa (ampla defesa) e para a destruição da credibilidade das
provas apresentadas pela acusação (contraditório).

b) CONSTITUIÇÃO FEDERAL × CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

CONSTITUIÇÃO CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS


FEDERAL (Pacto de San José da Costa Rica)
Art. 8º, 2: Toda pessoa acusada de um delito tem direito a
Art. 5º, LVII: ninguém será considerado culpado até o
que se presuma sua inocência, enquanto não for
trânsito em julgado de sentença penal condenatória;
legalmente comprovada sua culpa.

O princípio da presunção de inocência vem previsto no art. 5º, LVII, da CF/88, e, também, no art. 8º, 2, da
Convenção Americana de Direitos Humanos. Mas, apesar de disporem sobre o mesmo princípio, há grande distinção
entre as redações dos dispositivos no que se refere à extensão da presunção da inocência do indivíduo. O texto
constitucional é mais amplo, na medida em que estende a presunção de não culpabilidade até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória. Por outro lado, a Convenção estabelece que a presunção de inocência se dá até a
COMPROVAÇÃO LEGAL DA CULPA.

1
O Pacote Anticrime (Lei 13.964/19) consolidou a ideia de adoção do sistema acusatório quando incluiu o art. 3º-A no
Código de Processo Penal que dispõe: “O processo penal terá estrutura acusatória, VEDADAS a iniciativa do juiz na fase
de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.”. Porém, cabe lembrar que o dispositivo
encontra-se com sua eficácia suspensa.
QUAL O MOMENTO DA COMPROVAÇÃO LEGAL DA CULPA?
Apesar da Convenção Americana de Direitos Humanos não estabelecer expressamente em que momento se dá a
comprovação legal da culpa, ao realizarmos uma interpretação sistemática de seu texto, é possível notar que ele prevê,
também, o duplo grau de jurisdição. Portanto, a presunção de inocência se dá até o exato momento em que o agente
exerce o duplo grau de jurisdição, ou seja, até o esgotamento dos recursos ordinários perante Tribunal de 2º Instância.

COMPROVAÇÃO LEGAL DA CULPA × TRÂNSITO EM JULGADO DE SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA


O princípio pro homine, que está inserido na Convenção de Viena (promulgada pelo ordenamento interno), assegura,
no conflito de normas, aquela que mais amplia os direitos e garantias fundamentais da pessoa humana. Assim, deve
haver a presunção de inocência até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, como estabelece a CF/88.

c) Dimensões de atuação do princípio da presunção de inocência

I. Externa ao processo

O princípio da presunção de inocência se projeta para fora do processo no momento em que se demanda uma
proteção contra a abusiva exploração midiática em torno do acusado, pois o tratam como culpado.

Perp walk2 (em inglês: "desfile do acusado") é um termo que se refere à prática policial de expor, intencionalmente, o
acusado preso de forma sensacionalista em local público, de modo que A MÍDIA POSSA GRAVAR E DIVULGAR.

II. Interna ao processo

 REGRA PROBATÓRIA

O princípio da presunção da inocência, quando da sua atuação interna ao processo, estabelece uma regra
probatória: o ônus da prova recai exclusivamente sobre a acusação. Portanto, não cabe ao acusado o ônus de provar
sua inocência, mas sim à parte acusadora o ônus de demonstrar sua culpabilidade além de qualquer dúvida razoável.

NOTA: Nesta acepção, a presunção de inocência se confunde com o in dubio pro reo, o qual, no entanto, não é uma
simples regra de apreciação de provas. Na verdade, deve ser utilizado no momento da valoração das provas: havendo
dúvida, a decisão deve favorecer o imputado. Cabe à parte acusadora afastar a presunção de não culpabilidade que
recai sobre o imputado, provando além de uma dúvida razoável que o acusado praticou a conduta delituosa.

2
O Pacote Anticrime (Lei 13.964/19) consolidou a ideia de vedação ao perp walk quando incluiu o art. 3º-F, caput, no
Código de Processo Penal que dispõe: “O juiz das garantias deverá assegurar o cumprimento das regras para o
tratamento dos presos, impedindo o ACORDO OU AJUSTE DE QUALQUER AUTORIDADE COM ÓRGÃOS DA IMPRENSA
PARA EXPLORAR A IMAGEM DA PESSOA SUBMETIDA À PRISÃO, sob pena de responsabilidade civil, administrativa e
penal.”. Porém, cabe lembrar que o dispositivo encontra-se com sua eficácia suspensa.
ATENÇÃO! Na revisão criminal, não há que se falar em in dubio pro reo, mas em in dubio contra reum, pois, nesse caso,
já HÁ SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA TRANSITADA EM JULGADO. Portanto, o ônus de provar a presença de uma das
hipóteses autorizadoras da revisão recai exclusivamente sobre o condenado. Dessa forma, em caso de dúvida, o
tribunal deverá manter a condenação.

 REGRA DE TRATAMENTO

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