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SUA PETIÇÃO
DIREITO
PENAL
Seção 2
DIREITO PENAL
Sua causa!
Avante! Na linha da narrativa, o acusado João das Couves foi flagrado dentro de sua residência
praticando atos sexuais com Luluzinha, sua namorada, que à época dos fatos tinha 13 anos de idade.
Destaca-se que os policiais ingressaram na casa do acusado sem mandado judicial, sem filmar o
seu consentimento e praticaram atos de agressões contra ele.
Com sua prisão em flagrante, João das Couves fora encaminhado para audiência de custódia, que
fora realizada 72 horas após os fatos, pelo juiz de direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de São
Paulo/SP. Nessa assentada, você, como defensor do acusado, requereu o relaxamento da prisão
ilegal, tendo o Ministério Público requerido a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva,
uma vez que o fato é considerado hediondo e praticado contra uma pessoa menor de 14 anos.
Todavia, o magistrado com atuação na audiência de custódia, entendeu por bem decretar a prisão
preventiva com base nos seguintes fundamentos: “Entendo que o prazo legal de 24 horas para a
realização da audiência de custódia é impróprio e não merece ser cumprido à risca; a invasão de
domicílio feita pelos policiais é justificável, pois estava ali sendo praticado um crime hediondo,
constituindo a ausência de consentimento mera irregularidade; eventuais abusos cometidos contra
o acusado devem ser resolvidos na via própria”.
Dessa forma, o réu, neste momento, encontra-se preso preventivamente na cidade de São Paulo/SP,
mais precisamente por ordem da 1ª Vara Criminal da Capital. Cumpre ressaltar que até o presente
momento não houve indiciamento, já se ultimando 120 dias de investigação, sem qualquer análise
posterior da necessidade de manutenção da prisão preventiva.
Além disso, até o presente momento, o laudo pericial acerca da perda ou não da virgindade de
Luluzinha ainda não ficou pronto, inexistindo nos autos qualquer materialidade acerca dos eventuais
atos sexuais perpetrados.
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Você, como advogado (a) de Fulano de tal, deverá propor a peça cabível para a restituição da
liberdade de seu cliente, diante dos fundamentos apresentados pelo magistrado, bem como pelo fato
de já estar recolhido há bastante tempo e sem qualquer diligência policial prestes a ser cumprida.
Fundamentando!
Primeiramente, deve ser lembrado o que consta da Constituição Federal, em seu artigo 5°, LVII, que
diz que todos são considerados inocentes até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Destaca-se o princípio da presunção de inocência ou não culpabilidade. Nestes termos:
Por essa linha de fundamentação, a prisão preventiva de alguém somente pode ser decretada
quando preenchidos todos os requisitos legais, uma vez que a liberdade de qualquer indivíduo é a
regra, remanescendo a sua perda como algo excepcionalíssimo.
Foi com esse pensamento que a doutrina atesta a natureza cautelar desse instrumento, pressupondo
a existência de periculum libertatis e fumus comissi delicti, como bem ensina o professor Avena, in
verbis:
O art. 312 do CPP demonstra os requisitos necessários para a realização da prisão preventiva,
nestes termos:
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública,
da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
Na sistemática do Código de Processo Penal, faz-se mister a conjugação clara de seus pressupostos
legais (prova da existência do crime, indícios suficientes de autoria e perigo gerado pelo estado de
liberdade do acusado) e de um dos requisitos também inseridos no citado artigo 312, CPP, tais como
garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para
assegurar a aplicação da lei penal.
Como novidade inserida pelo pacote anticrime, tem-se a expressão “perigo gerado pelo estado de
liberdade do acusado”. Esse pressuposto denota que a liberdade do acusado possa comprometer a
segurança da sociedade, o que ocorre em casos de pessoas com alto grau de periculosidade, por
exemplo, líderes de facções criminosas. Tal situação deve ser cabalmente comprovada com
elementos concretos dos autos, não bastando a simples alegação de que ele é perigoso e por isso
deve ficar recolhido.
Dentro dos requisitos para a decretação da prisão preventiva, atendendo à ordem legal, inicia-se pela
garantia da ordem pública. A doutrina majoritária critica esse requisito autorizador da medida
cautelar, uma vez que sua conceituação é bastante ampla. Na esteira da melhor doutrina, o professor
Leonardo Barreto ensina que “violam a ordem pública: aqueles que afetam a credibilidade do
judiciário; os que contam com a divulgação pela mídia (não confundir com sensacionalismo, clamor
público); os crimes cometidos com violência ou grave ameaça ou com outra forma de execução cruel;
se o agente delitivo possui longa ficha de antecedentes etc.” (ALVES, L. B. M., 2019).
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende que a prisão preventiva decretada para
garantir a ordem pública não pode basear-se em dados abstratos, como, a título de exemplificação,
estar o indivíduo submetido a processo criminal ou já ter sido condenado por outro crime. Exige-se
mais para que o acusado seja submetido ao cárcere, uma vez que está em jogo o bem caro da
liberdade de alguém.
Por isso a fundamentação deve ser feita no caso concreto, demonstrando-se, exaustivamente, que
a liberdade do indivíduo coloca a ordem pública em perigo, não bastando imputação de elementos
abstratos. Nesses termos, é o pensamento do Superior Tribunal de Justiça:
EMENTA
3. No caso, embora haja um aparente risco de reiteração delitiva, por se tratar de réu
que já responde a processo por delito da mesma natureza, não há registro de
excepcionalidades para justificar a medida extrema. Além disso, a quantidade de
droga apreendida não se mostra expressiva (2g de crack em 25 pedras e 2g de
cocaína em 5 trouxinhas) e não há qualquer dado indicativo de que o acusado, que
é primário, integre organização criminosa ou esteja envolvido de forma profunda com
a criminalidade, contexto que evidencia a possibilidade de aplicação de outras
medidas cautelares mais brandas. Constrangimento ilegal configurado. Precedentes.
O segundo requisito é para garantir a ordem econômica. In casu, deve ficar comprovado que a
liberdade do acusado possa gerar um grave abalo à ordem econômica. Todavia, essa forma de prisão
cautelar é totalmente genérica e de difícil constatação no caso concreto, muito em razão de ser bem
parecida com a garantia da ordem pública.
A par de ilustrar, citam-se os crimes de sonegação fiscal com cifras exponenciais, lavagem de
capitais praticada por meio de uma avançada engenharia econômica de forma a ocultar valores
estratosféricos desviados de empresas públicas ou graves fraudes em licitações públicas que
possam comprometer toda a estabilidade social local.
No sentido da inocuidade do requisito, Nestor Távora e Osmar Rodrigues prelecionam: “ (...) afinal,
havendo temor da prática de novas infrações, afetando ou não a ordem econômica, já haveria o
enquadramento na expressão maior, que é a garantia da ordem pública (TÁVORA; ALENCAR, 2019
p. 984).
O terceiro requisito consiste na garantia da instrução criminal. Nesse ponto, a lei prevê a possibilidade
de prisão preventiva de alguém que esteja desafiando a produção probatória, ameaçando
testemunhas ou destruindo provas. Mais uma vez, é bom lembrar que tais situações devem ser
concretamente comprovadas nos autos.
Como último requisito, a prisão pode ser decretada para garantia da aplicação da lei penal. In casu,
a possibilidade de prisão preventiva diz respeito àquela situação em que o agente evade e fica difícil
o cumprimento da penalidade a ele imposta no final do processo.
Logo, a invocação da gravidade em abstrato do crime não constitui motivo suficiente para a
decretação dessa medida extrema.
Por outro lado, inovando-se no Código de Processo Penal, o pacote anticrime estabeleceu ser a
prisão cautelar medida extrema, ou seja, antes de decretar o encarceramento do indivíduo, cumpre
ao magistrado estudar a possibilidade de decretar medidas cautelares diversas da prisão, caso sejam
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suficientes para proteger o bem jurídico protegido e o resguardo do devido processo legal, sendo
que essas cautelares estão dispostas no art. 319, CPP:
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos
do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência
injustificada à ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.
Outra observação relevante para fins de análise da prisão preventiva é a regra inscrita no artigo 316,
CPP, determinando-se ao juiz a necessidade de revisão da prisão preventiva decretada após o
decurso do prazo de 90 dias, sob pena de ela ser classificada como ilegal, nestes termos:
Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva
se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela
subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a
justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Trata-se de regra importante para que não persistam as famigeradas prisões sem prazo, em que o
acusado permanecia preso a totalidade da persecução penal sem qualquer fundamentação robusta,
não havendo, ainda, nenhuma revisão do decreto prisional. Com a novel modificação legal, o juiz
que decretou a prisão preventiva deverá atentar-se, após o prazo de 90 dias, para a necessidade ou
não de sua manutenção, conforme vem decidindo o Supremo Tribunal Federal, in verbis:
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EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. ORGANIZAÇÃO
CRIMINOSA ARMADA, TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O
TRÁFICO. PRISÃO CAUTELAR. PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. OFENSA.
INEXISTÊNCIA. RAZÕES RECURSAIS. DIALETICIDADE. AUSÊNCIA.
INCOGNOSCIBILIDADE DO WRIT. INSTRUÇÃO DEFICITÁRIA. SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. EMENDA À INICIAL. INVIABILIDADE. EXCESSO DE PRAZO E
REVISÃO PERIÓDICA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIAS. TERATOLOGIA OU
FLAGRANTE ILEGALIDADE. INEXISTÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO.
1. Nos termos do Regimento Interno desta Suprema Corte, está o Relator autorizado
a decidir monocraticamente o habeas corpus quando, como in casu, patente a
ausência de teratologia ou flagrante ilegalidade, não havendo que se falar em ofensa
ao princípio da colegialidade ou em cerceamento de defesa.
3. Esta Suprema Corte, ao julgar o mérito das ações de controle concentrado nº 43,
44 e 54, muito embora haja declarado a constitucionalidade do art. 283 do Código de
Processo Penal – de maneira a obstar o início da execução da pena tão logo
esgotadas as instâncias ordinárias – reservou o recolhimento prisional aos casos
verdadeiramente enquadráveis no artigo 312 do mencionado diploma processual,
conforme cada situação específica e identificável pelo juízo natural da causa.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
I - violência doméstica e familiar contra mulher; (Incluído dada pela Lei nº 13.721,
de 2018)
Pelo que se observa, nos crimes que deixam vestígios, a necessidade do laudo pericial é
fundamental, de forma a comprovar a existência da materialidade do crime contra a dignidade sexual,
notadamente naqueles em que se apuram a prática de atos sexuais.
PONTO DE ATENÇÃO
Com as novas disposições inseridas pelo pacote anticrime, devem ser
observados os comandos legais que orientam para os pressupostos e
requisitos da prisão preventiva, bem como para a necessidade de
reavaliação dos fundamentos que a decretaram.
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Vamos peticionar!
Para elaborarmos uma peça prático-profissional que visa à liberdade de alguém, cumpre ressaltar
as seguintes indagações.
1 – Já tendo sido decretada a prisão preventiva, qual medida poderia ser utilizada antes da instrução
criminal?
3 – Existe alguma medida diferente do habeas corpus hábil a resolver a questão e restituir a
liberdade?
4 – Há algum dispositivo novo inserido pelo pacote anticrime e que merece análise concreta?
5 – Existe disposição específica prevista em legislação extravagante que merece ser abordada?
4 – Não podemos deixar de utilizar uma jurisprudência atual acerca do assunto debatido. Deve-se
preferir jurisprudência de tribunais superiores, como Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal
Federal.
Atenção: Jurisprudência são decisões reiteradas dos tribunais, decisões isoladas devem ser
evitadas.
Após o endereçamento, faz-se um preâmbulo. Nele colocaremos todos os dados das partes. Nunca
se deve inventar dados nas peças práticas da OAB, pois isso identifica a sua prova, gerando a
desclassificação.
Após o preâmbulo, iniciaremos os fatos, que nada mais são que a história contada pelo examinador.
Após a narrativa dos fatos, iniciaremos os fundamentos jurídicos. É nesse ponto que você demonstra
seu conhecimento. Portanto, faça com muita atenção e demonstre para o seu examinador que você
conhece o assunto.
Após a fundamentação, é hora de fazer os pedidos. Cuidado! Você só pode pedir o que fundamentou.
Essas são as chamadas dicas de ouro e temos certeza de que com esse roteiro mental será fácil
compreender e colocar em prática todos os seus poderes para uma escorreita peça prático-
profissional. Vamos peticionar?
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