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INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
1. Introdução
A lei penal dispõe que, cometido um crime, quem para ele concorreu incide
nas penas respectivas, na medida de sua culpabilidade (CP, art. 29). Em outras
palavras, a todos os autores, coautores, partícipes e mandantes de um crime devem
ser aplicada uma pena, que será medida pela contribuição e culpabilidade de cada
um no evento. Como corolário dessa regra, quem não concorreu para o crime não
deve sofrer pena alguma e, se souber disso antes da instauração do processo penal
condenatório, não deve sequer ser acusado. Pode-se dizer que essa regra funciona
perfeitamente bem no plano lógico-abstrato do Direito Penal, ainda que temperada
por inúmeros institutos penais descriminalizadores e despenalizadores, como o
princípio da insignificância, por exemplo.
No plano do Processo Penal, porém, esse dogma implica em que, noticiado um
fato criminoso, surge para o Estado a obrigação de esclarecê-lo e envidar esforços
para que a lei penal seja aplicada em relação a todos os que merecerem censura
penal. Ocorre que nem sempre todos os participantes de um crime são apanhados
em flagrante, com provas claras e sobejas de sua participação e culpabilidade. E
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mesmo quando o são, nem sempre está claro desde o princípio se todos os
participantes no crime foram, de fato, apanhados.
Por outro lado, a lei processual penal dispõe que a peça inicial de acusação pela
prática de um crime, seja ela uma denúncia ou uma queixa, “conterá a exposição
do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou
esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e,
quando, necessário, o rol de testemunhas” (CPP, art. 41). Isso significa que o
processo penal condenatório já se deve iniciar com todas essas informações. Por
mais clara que esteja a cena do crime, por mais didáticas que sejam as provas,
elaborar uma imputação completa, qualificar todos os acusados, classificar o crime
e apresentar as testemunhas exige um mínimo de pesquisa e reflexão. Não há
tempo nem lugar, durante o processo penal condenatório, para o esclarecimento
da acusação.
Por tal razão, andou bem o legislador de 1941 ao manter a investigação prévia
ao processo penal condenatório. Ao justificar o instituto do inquérito policial,
justificou sua decisão com a necessidade de não expor a Justiça Criminal aos “azares
do detetivismo, às marchas e contramarchas de uma instrução imediata e única”.
Concluiu afirmando que o sistema com um inquérito preparatório “assegura uma
justiça menos aleatória, mais prudente e serena” (IV – A conservação do inquérito
policial).
De fato, a experiência demonstra que a perda de algum tempo antes do início
do processo penal condenatório, desde que seja estratégica e voltada ao
esclarecimento do crime e à conservação das provas, é benéfica ao funcionamento
da Justiça Criminal.
Daí a importância da investigação criminal e dessa apenas aparente perda de
tempo antes da propositura da acusação.
Entretanto, esse tempo prévio não é perdido e costuma ser relevante para a
utilidade e eficiência da investigação, bem como para os interesses dos envolvidos.
Assim tudo o que diz respeito às investigações criminais costuma ser importante.
Afinal, a investigação versa sobre uma das mais graves condutas humanas. Assim,
nos tempos atuais, qualquer detalhe de uma investigação é, por definição, relevante.
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administrativo disciplinar e, não raro, se o ilícito for tipificado em lei penal, outra
investigação por parte da polícia ou do Ministério Público. Também a sindicância
deve ser instaurada imediatamente após ter a autoridade administrativa notícia da
ocorrência de fatos ilícitos.
Incluem-se nessa categoria as investigações levadas a efeito pelos órgãos
administrativos de fiscalização, como a Receita Federal, o Banco Central, a
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (COAF), os tribunais de contas etc.
Em seguida, pode ser citada a investigação parlamentar.
Trata-se de uma forma tradicional de investigar, reconhecida como essencial ao
próprio exercício político das casas legislativas. O Supremo Tribunal Federal já
decidiu que “o poder investigatório é auxiliar necessário do poder de legislar;
conditio sine qua non de seu exercício regular. Podem ser objeto de investigação
todos os assuntos que estejam na competência legislativa ou fiscalizatória do
Congresso”.1
As assim chamadas comissões parlamentares de inquérito, no âmbito federal,
são previstas pela Constituição, com os seguintes caracteres: poderes de
investigação próprios de autoridade judicial, além daqueles atribuídos pelos
regimentos internos das respectivas casas legislativas, atribuições para investigar fato
determinado, relacionado com as atribuições legislativas respectivas, prazo certo
para serem concluídas e dever de encaminhar ao Ministério Público os elementos
de prova que apontarem para responsabilidade civil ou criminal de eventuais
infratores (Constituição, art. 58, § 3º). A lei que as regula também fala em “ampla
ação para investigar” (Lei 1579, art. 1º). As constituições estaduais também podem
prevê-las. Ainda que a Constituição atribua à comissão parlamentar de inquérito
poderes próprios de autoridade judicial, algumas diligências reservadas à
apreciação judicial, como a busca domiciliar (Constituição, art. 5º, XI), a
interceptação da correspondência, da comunicação telegráfica, de dados e
1
Habeas corpus n. 71039-RJ – STF – Pleno – Rel. Min. Paulo Brossard – julgado em 7.abr.1994 – ordem
deferida, para cassar o decreto de prisão preventiva expedido pela CPI do INSS – votação unânime –
DJU, 6.dez.1996, p. 48708.
6
telefônica (Constituição, art. 5º, XII) e a decretação da prisão, fora dos casos de
flagrância (Constituição, art. 5º, LXI) não podem ser determinadas por uma
comissão parlamentar de inquérito.2
No âmbito do Congresso Nacional, as comissões parlamentares podem ser
instaladas nele, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. As primeiras são
denominadas de comissões parlamentares mistas, pois integram membros das duas
casas. Segundo a Constituição, serão instaladas mediante requerimento de um terço
dos membros das respectivas casas legislativas (art. 58, § 3º).
Decidiu o Supremo que “a comissão parlamentar de inquérito, destinada a
investigar fatos relacionados com as atribuições congressuais, tem poderes
imanentes ao natural exercício de suas atribuições, como de colher depoimentos,
ouvir indiciados, inquirir testemunhas, notificando-as a comparecer perante ela e a
depor; a este poder corresponde o dever de, comparecendo a pessoa perante a
comissão, prestar-lhe depoimento, não podendo calar a verdade. Comete crime a
testemunha que o fizer. (...) Também pode requisitar documentos e buscar todos
os meios de provas legalmente admitidos. Ao poder de investigar corresponde,
necessariamente, a posse dos meios coercitivos adequados para o bom
desempenho de suas finalidades; eles são diretos, até onde se revelam eficazes, e
indiretos, quando falharem aqueles, caso em que se servirá da colaboração do
aparelho judiciário. Os poderes congressuais, de legislar e fiscalizar, hão de estar
investidos dos meios apropriados e eficazes ao seu normal desempenho”.3
As comissões parlamentares de inquérito deverão refletir, obviamente, as forças
políticas das casas legislativas, seja por partido, seja por bloco parlamentar.4
2
Mandado de segurança n. 23652-DF – STF – Pleno – Rel. Min. Celso de Mello – julgado em
22.nov.2000 – ordem indeferida – votação majoritária – DJU, 16.fev.2001, p. 92.
3
Habeas corpus n. 71039-RJ – STF – Pleno – Rel. Min. Paulo Brossard – julgado em 7.abr.1994 – ordem
deferida, para cassar o decreto de prisão preventiva expedido pela CPI do INSS – votação unânime –
DJU, 6.dez.1996, p. 48708.
4
Medida cautelar na ação de descumprimento de preceito fundamental n. 378-DF – STF – Pleno – Rel.
Min. Edson Fachin – Rel. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso – julgada em 17.dez.2015 – medida cautelar
convertida em julgamento de mérito, ação julgada procedente – votação majoritária – DJe n. 43,
8.mar.2016.
7
5
Habeas corpus n. 71039-RJ – STF – Pleno – Rel. Min. Paulo Brossard – julgado em 7.abr.1994 – ordem
deferida, para cassar o decreto de prisão preventiva expedido pela CPI do INSS – votação unânime –
DJU, 6.dez.1996, p. 48708.
6
Habeas corpus n. 71261-RJ – STF – Pleno – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – julgado em 11.mai.1994 –
ordem indeferida – votação unânime – DJU, 24.jun.1994, p. 16651.
8
3. A investigação policial
7
ALMEIDA, Joaquim Canuto Mendes de. Processo Penal, ação e jurisdição, São Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, 1975, p. 12.
8
Cf. MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, 2ª ed., Rio de Janeiro-São
Paulo: Ed. Forense, 1965, v. 1, n. 70, p. 135.
10
9
Cf., acerca da constitucionalidade da Lei n. 9299, Ação direta de inconstitucionalidade (medida liminar)
n. 1494-DF – STF – Pleno – Rel. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio (Rel. orig. Min. Celso de Mello) –
julgada em 9.abr.1997 – indeferida a liminar – votação majoritária, vencidos os ministros Celso de Mello,
relator, Maurício Correa, Ilmar Galvão e Sepúlveda Pertence – Informativo STF n. 66.
13
356), na Lei 7492 (art. 29). A Lei 9613, por sua vez, dá ao Ministério Público
poderes investigatórios equivalentes aos da Polícia (art. 17-B).
O fato é que essa possibilidade, que sempre existiu, sempre foi utilizada
timidamente pelo Ministério Público. Nos últimos anos, porém, passou a ser cada
vez mais acionada. Diversos fatores explicam essa tendência. Fala-se, por exemplo,
que a Polícia seria cronicamente ineficiente para investigar certos crimes. Também
há os temores de que em certos casos não haveria a possibilidade ou mesmo o
interesse da polícia em investigar com rigor, como no caso dos crimes cometidos
por policiais. Este não é o momento nem o lugar de discutir esses argumentos.
Seja como for, o que com certeza exerceu uma influência definitiva no avanço
das pretensões investigatórias criminais por parte do Ministério Público foi a
promulgação da Lei 7347, que disciplina a ação civil pública. Ela dispôs que o
Ministério Público, quando fosse necessário investigar a ocorrência de danos
causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico, poderia instaurar e dirigir inquérito civil
ou requisitar diretamente a qualquer organismo público ou particular, certidões,
informações, exames ou perícias que pudessem comprovar o dano e apontar
responsáveis (art. 8º, § 1º). Ou seja: além do poder requisitório que já era
tradicional, aquela lei criou um instrumento investigatório completamente novo,
nomeando-o como o instrumento investigatório criminal da polícia de investigação.
Com o surgimento do inquérito civil, que passou a ser instaurado com vigor
pelo Ministério Público atuante na área da chamada tutela coletiva, passou a ser
questão de tempo o surgimento de um instrumento para a investigação criminal
direta pelo Ministério Público.
Essa possibilidade foi aberta pela Lei 8625 e pela Lei Complementar 75.
Conforme se sabe, aquela tratou da organização dos Ministérios Públicos dos
Estados e esta tratou do estatuto do Ministério Público da União. Ambas, com
diferenças mínimas, previram a possibilidade do agente do Ministério Público
realizar “diligências investigatórias” (Lei 8625, art. 26, I, c; LC 75, art. 8º, V). A
disciplina dessas diligências, porém, continuava sem definição.
Em 2004, com a criação do Conselho Nacional do Ministério Público, surgiu a
15
10
A norma editada na época foi a Resolução CNMP n. 13, de dois de outubro de 2006, que vigorou até
2017.
11
Trata-se da Resolução CNMP n. 181, de sete de agosto de 2017. Ela foi parcialmente modificada pela
Resolução n. 183, de 24 de janeiro de 2018.
16
de caráter permanente. Nesse caso, elas serão encaminhadas e levadas a efeito pelo
procurador-geral da República ou outro órgão do Ministério Público a quem essa
atribuição seja delegada (art. 7º, § 6º). Se o destinatário for governador de Estado,
membro do Poder Legislativo estadual ou desembargadores, elas serão
encaminhadas pelo procurador-geral de Justiça (art. 7º, § 7º). Se quaisquer delas
tiver de ser ouvida no bojo do procedimento, poderão fixar data, hora e local (art.
7º, § 8º).
O condutor do procedimento investigatório criminal será responsável pelo uso
indevido das informações e documentos que requisitar, inclusive nas hipóteses de
sigilo (art. 7º, § 9º).
O defensor do investigado poderá acompanhar as investigações (art. 9º, § 1º).
Se ainda não lhe tiver sido conferida procuração, poderá apenas examinar autos de
procedimento investigatório criminal, findos ou em andamento, podendo copiar
peças e fazer anotações, em meio físico ou digital, salvo se houver sido decretado
o sigilo das investigações, caso em que a exibição do instrumento de procuração
será exigida (art. 9º, §§ 1º e 2º). Em qualquer caso, o membro do Ministério
Público que preside o procedimento poderá delimitar o acesso do defensor aos
elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda não
documentados nos autos, quando houver risco de comprometimento da eficiência,
da eficácia ou da finalidade das diligências (art. 9º, §§ 4º).
No interrogatório e em todos os compromissos que requeiram a presença do
investigado, esse poderá ser acompanhado por defensor. Aqui uma impropriedade:
diz a resolução que essa assistência visa a “evitar a alegação de nulidade do
interrogatório e, subsequentemente, de todos os elementos probatórios dele
decorrentes ou derivados, nos termos da Lei n. 8906, de 4 de julho de 1994” (art.
9º, § 3º). Obviamente não se trata de evitar a “alegação de nulidade”, mas a
nulidade propriamente dita, que pode ocorrer por cerceamento (Lei 8906, art. 7º,
XXI).
Recebidos uma representação, um requerimento ou peças de informação
noticiando uma infração penal, o membro do Ministério Público terá trinta dias
para formar o juízo de valor e iniciar a investigação. Caso sejam necessárias
diligências preliminares, esse prazo poderá ser fundamentadamente prorrogado
18
12
PRADO, Luiz Regis. Comentários ao Código Penal, 4ª ed., São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2007,
p. 982-983.
23
das autoridades.
Também pode ser que esses objetos sejam úteis durante o processo e o
julgamento da causa. A arma do crime, bem assim a roupa usada pela vítima ou
pelo acusado quando do cometimento do crime, por exemplo, podem ter de ser
manipuladas pelo juiz ou pelos jurados durante um julgamento.
Os instrumentos do crime estão entre as coisas que devem ser apreendidas
sempre. Se forem objetos de per se lícitos, como uma faca de cozinha ou um
computador, ficarão à disposição do processo enquanto puderem ser úteis ao
esclarecimento do ilícito penal. Depois do final do processo penal ou quando já
não tiverem utilidade provável para as partes ou para o juiz, podem ser devolvidas
ao legítimo proprietário. Se forem objetos ilícitos, como uma arma sem registro ou
de uso restrito ou proibido no território nacional, ou como um automóvel
adulterado para o transporte oculto de mercadorias, poderão ser objeto de
perdimento, como um efeito genérico da condenação (CP, art. 91, II, a; CPP, art.
119).
Considere-se a hipótese de ter sido apreendido o instrumento do crime, uma
coisa cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito e, ao final
do processo penal condenatório, ser absolutória a sentença proferida. Em um
primeiro momento, não cabe perdimento, até porque a sentença foi absolutória.
Por outro lado, a coisa muito provavelmente não poderá ser devolvida para
ninguém, nem mesmo o lesado ou o terceiro de boa-fé. Nesse caso, deve-se aplicar
por analogia a regra que determina que o juiz aguarde noventa dias para decretar a
perda, em favor da união, desses objetos ilícitos (CPP, art. 122, caput).
Também tem importância a apreensão dos produtos do crime, uma vez
encontrados no seu local. A autoridade deve apreendê-los porque esses produtos
serão provavelmente objeto de perdimento em favor da União, ressalvado o direito
do lesado ou do terceiro de boa-fé (CP, art. 91, II, b). Um exemplo é o automóvel
que tenha sido objeto de crime patrimonial. É produto do crime e será perdido em
favor da União ou devolvido ao lesado, uma vez que transite em julgado a sentença
ou que não seja mais útil ao processo penal condenatório.
No caso dos proveitos do crime, isto é, daqueles objetos que não foram
25
produtos diretos do crime, mas que foram adquiridos pelo criminoso com a
comercialização dos produtos do crime, a lei processual penal não autoriza sua
apreensão diretamente pela autoridade policial, dês que não tem relação direta com
o fato (CPP, art. 6º, II, a contrario sensu). Sabedora de sua existência, a autoridade
policial poderá representar pela busca e apreensão desses bens (CPP, arts. 240-
250) ou mesmo pelo seu sequestro (CPP, art. 132).
No caso de crime tipificado na lei de drogas, além da apreensão e de outras
medidas assecuratórias patrimoniais dos objetos que constituam produto do crime
ou proveito auferido pela prática criminosa (Lei 11343, art. 60), o juiz poderá
autorizar a utilização desses objetos pelos órgãos da repressão ou por entidades que
atuam na prevenção do uso indevido, na atenção e reinserção social de usuários e
dependentes de drogas e na repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito
de drogas, exclusivamente no interesse dessas atividades (Lei 11343, arts. 61 e 62).
diligências que pretendem reconstituir a dinâmica dos fatos. Com essa oitiva a
autoridade procura estabelecer a relevância do fato, sua repercussão, suas
consequências para a pessoa do ofendido, sua conduta antes e depois dos fatos. É
uma espécie de ponto de partida para a reconstituição da sequência dos
acontecimentos.
Ouvido o ofendido, a autoridade policial deve ouvir as testemunhas do fato que
haja identificado logo que chegou ao local do crime, as que surgiram com as
investigações e as que se apresentaram depois. O conjunto desses depoimentos
ajudará a autoridade policial a formar uma imagem em movimento do crime.
A documentação desses depoimentos tem uma função acauteladora. Serve para
auxiliar o ofendido e as testemunhas a se lembrarem dos fatos e de todas as suas
circunstâncias. Serve para a autoridade policial manter registrada a sequência dos
acontecimentos. A documentação cristaliza, por assim dizer, as versões desses
personagens.
Em seguida a autoridade policial deve ouvir o indiciado. Segundo a dicção da
lei processual penal, o indiciado exsurge das provas e não de uma decisão da
autoridade policial. Afinal, a autoridade policial deve ouvir o indiciado logo que
tiver conhecimento da infração penal (CPP, art. 6º, V). Isso significa que, segundo
o sistema do Código de Processo Penal o indiciado preexiste à própria instauração
formal das investigações. Em outras palavras, o indiciamento não existe enquanto
um ato jurídico formal.
Entretanto, uma lei de 2013 deu ao delegado de Polícia a atribuição de decidir
pelo indiciamento, por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato
que deverá indicar a autoria, a materialidade e as circunstâncias do crime (Lei
12830, art. 2º, § 6º). O caso é peculiar, pois essa lei atribuiu ao delegado a
competência para decidir pela prática de um ato que não existe, rigorosamente,
como entidade jurídica; um ato que não tem senão consequências morais negativas
em relação à pessoa do imputado. É ainda mais peculiar porque representa uma
evolução relativa à situação anterior, em que o mesmo ato, sem existência jurídica,
era praticado pelos delegados sem qualquer espécie de manifestação. Se a lei tivesse
criado o indiciamento, dando certas consequências jurídicas para ele, seria ainda
mais estranho, pois o delegado de Polícia teria incorporado certas competências
27
13
No original: “Die Freiheit der Willensentschließung und der Willensbetätigung des Beschuldigten darf
nicht beeinträchtigt werden durch Mißhandlung, durch Ermüdung, durch körperlichen Eingriff, durch
Verabreichung von Mitteln, durch Quälerei, durch Täuschung oder durch Hypnose”.
14
White v. Texas, 310 U.S. 530 (1940); Vernon v. Alabama, 313 U.S. 547 (1941); Ward v. Texas, 316
U.S. 547 (1942).
15
Lomax v. Texas, 313 U.S. 544 (1941).
16
Spano v. New York, 360 U.S. 315 (1959).
17
Chambers v. Florida, 309 U.S. 227 (1940).
18
Mallory v. United States, 354 U.S. 449 (1957).
28
19
Miranda v. Arizona, 384 U.S. 436 (1966).
20
Harris v. New York, 421 U.S. 222 (1971).
21
Michigan v. Tucker, 417 U.S. 433 (1974).
22
Rhode Island v. Innis, 446 U.S. 291 (1980).
23
New York v. Quarles, 467 U.S. 649 (1984).
24
Moran v. Burbine, 475 U.S. 412 (1986).
25
Colorado v. Connelly, 479 U.S. 157 (1986).
29
26
Constituição de 1824, art. 179, XXVII; Constituição de 1890, art. 72, § 18; Constituição de 1934, art.
113, 8; Constituição de 1937, art. 122, 6º; Constituição de 1946, art. 141, 6º; Constituição de 1967, art.
150, § 9º; Constituição de 1969, art. 153, § 9º.
30
judicial.27
Por outro lado, também é certo que embora haja expectativa de privacidade,
não há legitimidade nessa expectativa quando o indivíduo se vale dos sigilos
constitucionalmente garantidos para cometer crimes ou para garantir a ocultação
de outros crimes.
Daí que o Supremo Tribunal Federal decidiu que a legitimidade da quebra de
sigilos constitucionalmente garantidos prende-se à existência de um fato concreto e
de uma causa provável e não em meras conjecturas e em “generalidades
insuficientes para ensejar a ruptura da intimidade das pessoas”.28 E deve revestir-se
de razoabilidade quanto às hipóteses de violação.29
Somente quando a autoridade estatal – policial ou judicial – demonstrar que o
imputado muito provavelmente fez ou faz uso de qualquer dos sigilos protegidos
como ferramentas da prática de crimes passa a ser constitucionalmente legítima sua
quebra.
Além disso, a quebra do sigilo deve ser imprescindível ao progresso das
investigações. É o que a Constituição da República quis dizer com a expressão “no
último caso” (melhor seria que houvesse escrito “em último caso”), ao se referir à
necessidade das diligências para a investigação (art. 5º, XII).30
Embora haja uma identidade de razões, como bem ponderou o Superior
Tribunal de Justiça anos atrás,31 a verdade é que os meros dados cadastrais de
alguém junto a uma companhia telefônica ou a um órgão público não são cobertos
27
Recurso ordinário em habeas corpus n. 115983-RJ – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Ricardo Lewandowski
– julgado em 6.abr.2013 – desprovido – votação unânime – DJe n. 172, 3.set.2013.
28
Mandado de segurança n. 23960-DF – STF – Pleno – Rel. Min. Maurício Corrêa – julgado em
20.set.2001 – segurança concedida – votação unânime – DJU, 16.nov.2001.
29
Recurso extraordinário n. 219780-PE – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Carlos Velloso – julgado em
13.abr.1999 – não conhecido – votação unânime – DJU, 10.set.1999, p. 23 – RTJ n. 172, p. 302.
30
Recurso ordinário em habeas corpus n. 52209-RS – STJ – 5ª Turma – Rel. Min. Jorge Mussi – julgado
em 10.nov.2014 – desprovido – votação unânime – DJe, de 27.nov.2014.
31
Recurso ordinário em habeas corpus n. 8493-SP – STJ – 6ª Turma – Rel. Min. Luiz Vicente
Cernicchiaro – julgado em 20.mai.1999 – provido – votação unânime – DJU, 2.ago.1999, p. 224.
31
32
Embargos de declaração no recurso ordinário em mandado de segurança n. 25375-PA – STJ – 5ª Turma
– Rel. Min. Felix Fischer – julgados em 18.nov.2008 – acolhidos parcialmente – votação unânime – DJe
2.fev.2009.
33
Mandado de segurança n. 24817-DF – STF – Pleno – Rel. Min. Celso de Mello – julgado em 3.fev.2005
– segurança indeferida – votação unânime – DJe 208, de 6.nov.2009.
32
introduzir um informante, a fim de obter mais provas e prender mais pessoas. Esse
informante acabaria sendo uma das principais testemunhas para incriminar Hoffa,
dessa vez por tentativa de suborno de jurados num dos diversos processos a que
respondeu. Depois de preso e condenado por crimes cometidos quando já era
observado pela polícia, Hoffa contestou a condenação. Entre outras coisas,
sustentou que os agentes do FBI não poderiam ter esperado para prendê-lo; que
deveriam tê-lo feito na primeira oportunidade em que tiveram uma causa provável.
O caso chegou à Suprema Corte estadunidense para a análise das provas
testemunhais produzidas pelo informante e pelo próprio Hoffa, já que muita coisa
foi oriunda de gravações produzidas por esse informante. Por ocasião da decisão,
a Suprema Corte afirmou que o “governo não era obrigado a prender Hoffa
quando ele pela primeira vez teve uma causa provável para fazê-lo”,34 reconhecendo
a legitimidade constitucional da ação controlada. O juiz associado POTTER
STEWART, que escreveu a decisão majoritária tomada pela Suprema Corte, chegou
a afirmar, com indisfarçável ironia, que “não existe um direito constitucional a ser
preso”.35
34
Hoffa v. United States, 385 U.S. 293, 294 (1966).
35
Hoffa v. United States, 385 U.S. 293, 310 (1966).
34
trama delituosa, terá sua pena reduzida de um a dois terços (Lei 7492, art. 25, §
2º).
Disposição semelhante foi repetida pela lei de 1990 que definiu uma série de
crimes econômicos. Nesse diploma ficou definido que, nos crimes cometidos nele
previstos e que houvessem sido cometidos por quadrilha ou em coautoria, o
coautor ou partícipe que espontaneamente revelasse à autoridade policial ou
judicial a trama delituosa teria sua pena reduzida de um a dois terços (Lei 8137, art.
16, parágrafo único).
A vantagem foi reiterada pela lei que criou o programa de proteção a vítimas e
testemunhas ameaçadas. Essa lei previu, pela primeira vez no Brasil, a possibilidade
de dar ao réu colaborador o perdão judicial, com a consequente extinção da
punibilidade (CP, arts. 107, IX e 120) ao imputado que tenha colaborado,
voluntaria e eficazmente, com a investigação e o processo criminal, desde que dessa
colaboração resulte a identificação dos demais coautores ou partícipes da ação
criminosa (Lei 9807, art. 13, I), a localização da vítima com a sua integridade física
preservada (Lei 9807, art. 13, II) e a recuperação total ou parcial do produto do
crime (Lei 9807, art. 13, III).
Nos dias atuais, a colaboração premiada consiste no auxílio, voluntário e efetivo,
prestado pelo imputado em favor da investigação ou do processo penal
condenatório, desde que desse auxílio tenha resultado um ou mais dos seguintes
objetivos: a identificação dos demais coautores e partícipes da organização
criminosa e das infrações penais por eles praticadas (Lei 12850, art. 4º, I), a
revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa
(Lei 12850, art. 4º, II) a prevenção de futuras infrações penais decorrentes das
atividades da organização criminosa (Lei 12850, art. 4º, III), a recuperação total ou
parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização
criminosa (Lei 12850, art. 4º, IV) e a localização de eventual vítima com a sua
integridade física preservada (Lei 12850, art. 4º, V). Em retribuição a esse auxílio e
consideradas a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a
gravidade e a repercussão social do crime e a eficácia da colaboração (Lei 12850,
art. 4º, § 1º), será concedido ao réu colaborador o perdão judicial (CP, arts. 107,
IX e 120), a redução da pena privativa de liberdade em até dois terços ou sua
35
participar das audiência sem contato visual com os demais acusados (Lei 12850,
art. 5º, IV), o de cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos demais
acusados ou condenados (Lei 12850, art. 5º, VI) e, talvez o principal deles, o de ser
acompanhado por seu advogado em todos os atos de negociação, confirmação e
execução da colaboração, o colaborador deverá estar assistido por defensor (Lei
12850, art. 4º, § 15).
A fim de reunir mais elementos sobre a viabilidade de homologar o acordo, o
juiz poderá ouvir o colaborador na presença apenas de seu defensor advogado (Lei
12850, art. 4º, § 7º).
Em uma clara aplicação do princípio geral de Direito que proíbe alguém de se
beneficiar da própria torpeza, a lei prevê que se as partes se retratarem da proposta
de acordo, as eventuais provas autoincriminatórias produzidas pelo colaborador
não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu desfavor (Lei 12850, art. 4º, §
10).
O termo de acordo deverá conter, por escrito, o relato da colaboração e seus
possíveis resultados (Lei 12850, art. 6º, I), as condições da proposta do Ministério
Público ou do delegado de Polícia (Lei 12850, art. 6º, II), a declaração de aceitação
do colaborador e de seu defensor (Lei 12850, art. 6º, III) e as assinaturas das partes
envolvidas (Lei 12850, art. 6º, IV) e, finalmente, a especificação das medidas de
proteção ao colaborador e à sua família, quando necessário (Lei 12850, art. 6º, V).
A tramitação do pedido de homologação do acordo é inteiramente sigilosa e esse
sigilo somente será levantado depois do recebimento da denúncia (Lei 12850, art.
7º). A lei prevê, antes disso, inclusive, grande dose de sigilo em relação ao próprio
defensor do colaborador, na medida em que não terá acesso aos autos, nem às
diligências em andamento e só terá acesso aos elementos de convicção relativos ao
acordo mediante autorização judicial (Lei 12850, art. 7º, § 2º). O STF, analisando
caso sob o paradigma de legislação anterior, atenuou esse sigilo.36
36
Habeas corpus n. 90688-PR – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Ricardo Lewandowski – julgado em
12.fev.2008 – conhecido parcialmente e deferido parcialmente – votação unânime quanto ao
conhecimento parcial da impetração e majoritária quanto ao seu deferimento particial, vencidos o ministro
Marco Aurélio, que a concedia em maior extensão e o ministro Menezes direito, que a indeferia – DJe
74, de 25.abr.2008 – RTJ 205/263 – Ementário 2316/756 – LexSTF n. 358 (2008), p. 389-414.
37
37
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Jurisprudência criminal, 4ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1982, v. 1, n.
448, p. 518.
39
quando haja fundada suspeita do uso desses instrumentos para a prática de crime.
Por essa razão, essa diligência é constitucionalmente autorizada em caráter
excepcional, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para
fins de investigação criminal ou de instrução processual penal (Constituição, art. 5º,
XII).
Como se trata de um sigilo constitucionalmente garantido, ela só pode ser
determinada pela autoridade judiciária competente nas hipóteses previstas (Lei
9296, art. 3º). Não será admitida a interceptação quando não houverem indícios
razoáveis da autoria ou da participação em infração penal, quando não for
indispensável ou quando o crime investigado for punido, em grau máximo, com
pena de detenção (Lei 9296, art. 2º). Por tratar-se de um instrumento eficaz para a
investigação das atividades de organizações criminosas, é prevista como
instrumento de investigação nesses casos (Lei 12850, art. 3º, IV e V).
A medida poderá ser determinada de ofício pelo juiz competente para o
julgamento da futura ação penal, sob segredo de justiça (Lei 9296, art. 1º), em
resposta a um requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público. Em
qualquer caso, o objeto da investigação deve ser descrito com clareza, bem como
devem ser indicados e qualificados os suspeitos, salvo se a impossibilidade de
fornecer esses dados for manifesta (Lei 9296, art. 2º, parágrafo único).
A autoridade que a requerer deverá demonstrar a necessidade da diligência,
com a indicação dos meios a serem empregados, isto é, deverá demonstrar também
estar apto a realizá-la (Lei 9296, art. 4º, caput). O requerimento deverá ser escrito;
todavia, em casos excepcionalíssimos, admitir-se-á que o faça oralmente (Lei 9296,
art. 4º, § 1º).
A lei dispõe que a interceptação pode ser determinada pelo juiz, de ofício (Lei
9296, art. 3º, caput), ou a requerimento da autoridade policial, durante a
investigação criminal (Lei 9296, art. 3º, I), ou a requerimento do Ministério
Público, durante a investigação e durante a fase instrutória do processo penal
condenatório (Lei 9296, art. 3º, II).
Há um prazo para a execução da interceptação; é de quinze dias, renováveis
por igual período, uma vez comprovada a indispensabilidade da prova (Lei 9296,
40
art. 5º). Não há limite, porém, para as renovações, desde que se observem os prazos
de quinze dias.38
Com a interceptação da comunicação telefônica a autoridade policial recolhe,
normalmente, vasto material fonográfico, que deve ser transcrito. Surge a questão
de definir quanto, do material gravado, deve ser transcrito pela autoridade. Muitos
entendem que a autoridade investigante deve transcrever todas as conversas,
mesmo aquelas irrelevantes. E, quanto às partes relevantes, consideram que devem
ser transcritas na integralidade, sem quaisquer cortes. A transcrição parcial dos
trechos relevantes poderia excluir partes que contextualizam outras partes, em
prejuízo do imputado. Outros já entendem que cabe à autoridade policial
transcrever aquelas partes que considerar relevantes, conservadas as gravações para
contestações por parte da defesa.
Quanto ao tema, o Supremo Tribunal Federal já decidiu essa questão nos dois
sentidos, isto é, concluiu que é necessária a transcrição completa das comunicações
telefônicas do imputado e que esse dever recai sobre a autoridade que solicitou e
realizou a interceptação.39 Também decidiu que não é necessária a transcrição
completa, mas apenas das partes que a autoridade considerar relevantes para a
investigação. Contudo, a fim de garantir o contraditório e a ampla defesa, a
autoridade deverá conservar as gravações para o caso da defesa considerar
relevantes outras partes e pretender transcrevê-las.40
38
Habeas corpus n. 83151-RS – STF – Pleno – Rel. Min. Nelson Jobim – julgado em 16.set.2004 – ordem
denegada – votação majoritária, vencido o Min. Marco Aurélio – DJU, de 4.mar.2005, p. 11 – RTJ n.
193, p. 609; Inquérito n. 2725-SP – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Teori Zavascki – julgado em 8.set.2015
– denúncia recebida – votação unânime – DJe 195, de 30.set.2015.
39
Agravo regimental no recurso ordinário em habeas corpus n. 122812-RJ – STF – 1ª Turma – Rel. Min.
Roberto Barroso – julgado em 9.jun.2015 – desprovido – votação majoritária, vencido o Min. Marco
Aurélio – DJe 128, de 1º.jul.2015.
40
Medida cautelar no habeas corpus n. 91207-RJ – STF – Pleno – Rel. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia
– julgado em 11.jun.2007 – liminar indeferida – votação majoritária, vencido o Min. Marco Aurélio – DJe
106, de 1º.set.2007; Agravo regimental no recurso ordinário em habeas corpus n. 118621-ES – STF – 1ª
Turma – Rel. Min. Roberto Barroso – julgado em 4.ago.2015 – desprovido – votação majoritária, vencido
o Min. Marco Aurélio – DJe 171, de 1º.set.2015; Inquérito n. 2725-SP – STF – 2ª Turma – Rel. Min.
Teori Zavascki – julgado em 8.set.2015 – denúncia recebida – votação unânime – DJe 195, de 30.set.2015.
41
41
Habeas corpus n. 74678 – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Moreira Alves – julgado em 10.jun.1997 –
ordem indeferida – votação unânime – DJU, 15.ago.1997, p. 37036; Habeas corpus n. 75261-MG – STF
– 1ª Turma – Rel. Min. Octavio Gallotti – julgado em 24.jun.1997 – ordem parcialmente deferida –
votação unânime – DJU, 22.ago.1997, p. 38764; Habeas corpus n. 75338-RJ – STF – Pleno – Rel. Min.
Nelson Jobim – julgado em 11.mar.1998 –ordem indeferida – votação majoritária, vencidos os ministros
Marco Aurélio e Celso de Mello – DJU, 25.set.1998, p. 11.
42
Inquérito n. 2424-RJ – STF – Pleno – Rel. Min. Cezar Peluso – julgado em 26.nov.2008 – rejeitadas as
preliminares, negado provimento ao agravo regimental, recebida a denúncia quanto a todos os demais
denunciados, exceto quanto ao crime previsto no art. 288 do CP, quanto a um dos denunciados – votação
majoritária – DJe 55, de 26.mar.2010.
43
Repercussão geral na questão de ordem no recurso extraordinário n. 583937-RJ – STF – Pleno – Rel.
Min. Cezar Peluso – julgado em 19.nov.2009 – reconhecida a existência da repercussão geral, reafirmada
a admissibilidade da gravação e anulado o processo desde o indeferimento da prova admissível e ora
admitida – votação majoritária, vencido o Min. Marco Aurélio – DJe 55, de 26.mar.2010.
42
44
Recurso extraordinário n. 212081-RO – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Octavio Gallotti – julgado em
5.dez.1997 – não conhecido – votação unânime – DJU, 27.mar.1998, p. 23.
45
Habeas corpus n. 80949 – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – julgado em 30.out.2001
– ordem parcialmente deferida – votação unânime – DJU, 14.dez.2001, p. 26 – RTJ n. 180, p. 1001.
46
Leyra v. Denno, 347 U.S. 556 (1954); Massiah v. United States, 377 U.S. 201 (1964); McCleskey v.
Zant, 499 U.S.467 (1991).
43
(Lei 12850, art. 13, caput). Se praticar crimes desconexos com a investigação,
responderá normalmente por esses fatos.
Embora o trabalho do agente policial seja parte de suas atribuições normais,
como qualquer outra investigação, a lei reconhece que há certas particularidades.
Afinal, trata-se de um agente policial que engana, por períodos de tempo longos ou
relativamente longos, membros de uma organização criminosa. Não é preciso
sublinhar o perigo existente para a vida ou para a integridade corporal desse
indivíduo.
Daí que a lei lhe dá o direito de recusar ou de fazer cessar a infiltração, sem
mesmo apresentar motivo (Lei 12850, art. 14, I), de ter sua identidade alterada (Lei
12850, art. 14, II, primeira parte), de usufruir das medidas de proteção a
testemunhas (Lei 12850, art. 14, II, segunda parte), de ter seu nome, sua
qualificação, sua imagem, sua voz e demais informações pessoais preservadas
durante a investigação e o consequente processo penal condenatório, salvo se o juiz
decidir em contrário (Lei 12850, art. 14, III) e, finalmente, não ter sua identidade
revelada, nem ser fotografado ou filmado pelos meios de comunicação, sem sua
prévia autorização por escrito (Lei 12850, art. 14, IV).
RAMOS, João Gualberto Garcez. A tutela de urgência no Processo Penal brasileiro, Belo Horizonte:
47
A respeito, escrevi que essa ideia se choca com uma “realidade prática da qual
não se pode fugir. Por vezes, o arquivamento se dá pela falta de tipicidade aparente
— ou, ainda, pela atipicidade evidente — mas, posteriormente, surgem provas de
que o fato narrado no inquérito policial não ocorreu daquela maneira, mas de
outra, penalmente típica. Nesse caso, a rigor, o desarquivamento não pode ser
negado, até porque o fato investigado pelo inquérito, até o seu arquivamento, não
era precisamente o que ocorrera: as provas surgidas evidenciam a prática de uma
verdadeira infração penal. Conforme se vê, o arquivamento do inquérito policial
decidido por falta de tipicidade aparente do fato, pode ser modificado com outro
fundamento, até porque a falta de tipicidade aparente sempre se resolve com base
nas provas produzidas. Assim, no arquivamento decidido com esse fundamento,
somente se pode falar em coisa julgada material em termos, por assim dizer,
‘laboratoriais’, já que, na prática, o surgimento de provas substancialmente novas
poderá modificar, inclusive, essa decisão de arquivamento”.49
Além disso, a Súmula 524, que foi concebida como um instrumento de garantia
do cidadão contra eventuais arbítrios do Estado, não faz qualquer diferenciação: o
inquérito pode sempre ser desarquivado, desde que surgidas novas e substanciais
provas, independentemente dos fundamentos utilizados para arquivá-lo.
7. Referências bibliográficas
ALMEIDA, Joaquim Canuto Mendes de. Processo Penal, ação e jurisdição, São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1975
COUTINHO, Jacinto N. de Miranda. “A natureza cautelar da decisão de
arquivamento do inquérito policial”, em Revista de Processo, n. 70 (1993)
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Jurisprudência criminal, 4ª ed., Rio de Janeiro:
Forense, 1982
JARDIM, Afranio Silva. “Arquivamento e desarquivamento do inquérito
policial”, em RDPenCrim, n. 35 (jan-jun/1983) e em Direito Processual Penal:
estudos e pareceres, Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1995
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, 2ª ed., Rio
de Janeiro-São Paulo: Ed. Forense, 1965, v. 1
PRADO, Luiz Regis. Comentários ao Código Penal, 4ª ed., São Paulo: Ed.
Revista dos Tribunais, 2007
RAMOS, João Gualberto Garcez. A tutela de urgência no Processo Penal
brasileiro, Belo Horizonte: Ed. Del Rey, 1998