Você está na página 1de 27

A POSSIBILIDADE DE ACUMULAÇÃO DE ADICIONAL DE PERICULOSIDADE E

INSALUBRIDADE

THE POSSIBILITY OF ACCUMULATING ADDITIONAL FOR HAZARDOUS AND


UNHEALTHY WORK

Clara Rabelo Teodoro¹

RESUMO: Os adicionais de insalubridade e periculosidade são regrados pelo art. 189


e seguintes da Consolidação das Leis do Trabalho – legislação que em seu art. 193
contém expressa vedação ao recebimento simultâneo dos adicionais comentados
pelo trabalhador. De outro turno, a Organização Internacional do Trabalho já elaborou
Convenções Internacionais que colidem com o texto da CLT, indicando a necessidade
de pagamento cumulado de adicionais na ocorrência de desenvolvimento de trabalho
insalubre e perigoso pelo trabalhador – normas que restaram ratificadas pelo Brasil,
portanto, possuem aplicabilidade em território nacional. No mesmo sentido, a
Constituição Federal de 1988, norma posterior à CLT, prevê em seu art. 7º a existência
de adicionais de insalubridade, periculosidade não impondo qualquer restrição relativa
a cumulação – norma posterior e hierarquicamente superior à Consolidação da Leis
do Trabalho, que deve sobre ela se sobrepor. Sendo assim, necessário se fez
conceituar, fundamentar e distinguir os adicionais de periculosidade e insalubridade,
bem como, verificar quais princípios, normas e tratados internacionais servem de
amparo à viabilização da cumulação dos adicionais.

PALAVRAS-CHAVE: Adicional de Insalubridade. Adicional de Periculosidade.


Cumulação dos adicionais. Proteção jurídica do trabalhador. Saúde e segurança do
trabalhador. CLT.

Abstract: The unhealthy and dangerous premiums are regulated by art. 189 and
following of the Consolidation of Labor Laws - legislation that in its art. 193 expressly
prohibits the simultaneous receipt of additional comments commented by the worker.

Acadêmica do curso de Direito da Instituição de Ensino Superior (IES) da rede Ânima Educação. E-
mail: clara.rteodoro@hotmail.com. Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do
curso de Graduação em Direito do Centro Universitário UNA, campus de Bom Despacho, da rede
Ânima Educação. 2022. Orientador: Daniel Carlos Dirino, Graduado em Direito pela Faculdade de
Estudos Administrativos de Minas Gerais, especialista em Direito Processual Civil pela UNA,
advogado, professor universitário e de preparatórios para concursos públicos.
On the other hand, the International Labor Organization has already prepared
International Conventions that conflict with the text of the CLT, indicating the need for
cumulative payment of additionals in the event of the development of unhealthy and
dangerous work by the worker - rules that have been ratified by Brazil, therefore, have
applicability in national territory. In the same sense, the Federal Constitution of 1988,
a rule subsequent to the CLT, provides in its art. 7th the existence of unhealthy work
additionals, hazardous work without imposing any restriction related to cumulation - a
later and hierarchically superior norm to the Consolidation of Labor Laws, which must
overlap. Therefore, it was necessary to conceptualize, substantiate and distinguish the
hazardous and unhealthy extras, as well as to verify which international principles,
standards and treaties support the feasibility of cumulating the extras.

Keywords: Hazard pay. Additional Danger. Cumulation of additionals. Legal protection


of the worker. Worker's health and safety. CLT

1 INTRODUÇÃO

Os direitos trabalhistas foram baseados nos direitos fundamentais previstos na


Constituição Federal, e conquistados depois de anos ao longo da história sob a égide
de muitos conflitos travados entre as classes de empregadores e empregados.
Todavia, é possível afirmar que o Direito do Trabalho é disciplina que se
encontra em constante adaptação, procurando adequar-se à realidade dos
trabalhadores de forma a garantir a melhor concretização de seus direitos.
O presente artigo visa a discutir a defesa da possibilidade de acumulação dos
adicionais de periculosidade e insalubridade, adicionais que foram conquistados pelos
trabalhadores, visto que, apesar da evidente diferença entre os dois, o ordenamento
proíbe, de forma explícita, que o trabalhador receba os dois adicionais de forma
cumulativa, mesmo trabalhando exposto a agentes insalubres e perigosos
simultaneamente. Dessa forma, discute- se a possibilidade de cumulação desses
adicionais, uma vez que, a proteção da saúde e da segurança do trabalhador é
preceito fundamental a ser visado.
O estudo em questão abordará a possibilidade ou não de cumulação dos
adicionais de insalubridade e periculosidade e a influência que esta hipótese acarreta
no sistema jurídico pátrio justifica-se diante da inegável relevância e grande
repercussão que a questão discutida possui. Visto que, qualquer decisão que
disponha sobre o tema, afeta de forma direta o empregado, que é a parte
hipossuficiente na relação jurídica em face à altivez do empregador e, dessa forma,
dispõe de proteção, sendo a proteção ao trabalhador princípio que norteia todo o
sentido da criação do direito do trabalho.
Para o desenvolvimento deste trabalho, será utilizado o método de pesquisa
dedutivo, dividindo-o em capítulos subdivididos. O presente trabalho contará com
respaldo doutrinário, jurisprudencial e, também, com a análise da legislação, Súmulas
e Normas Regulamentadoras.

2 DA SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO NO DIREITO DO TRABALHO

2.1 Saúde e segurança do trabalhador

Desde os primórdios da época da escravidão, no qual o trabalho era exercido


por escravos sendo totalmente desumano e onde não existiam nem hipóteses de bem
estar e conforto do trabalhador, percebe-se que os direitos trabalhistas hoje adquiridos
visam ao Princípio da proteção do trabalhador que foram conquistados ao longo dos
anos.
A primeira preocupação com a saúde dos trabalhadores ocorreu em torno da
mineração em meados do ano 1556, aos problemas ligados à extração do ouro e da
prata, em respeito ao adoecimento dos mineiros, inclusive em relação aos acidentes
do trabalho e as doenças mais comuns para esta categoria de trabalhadores (SAAD,
2015).
Entretanto no período pós Revolução Industrial em decorrência da introdução
da modernização aos meios de trabalho e do surgimento das máquinas, doenças e
acidentes decorrentes da atividade laboral passaram a ocorrer em maior e notáveis
quantidades.
Começou-se então a ser discutido, a necessidade de assegurar melhores
condições de trabalho, por meio de normas que visam a segurança e a saúde dos
trabalhadores, surgindo assim leis protecionistas em nível nacional e internacional
estabelecendo garantias aos trabalhadores.
A respeito desta questão, dispõe Vicente Paulo:
[...] logo após a Revolução Industrial tornou-se patente estar o mundo diante
de uma realidade inteiramente nova no que respeita aos riscos de danos à
saúde decorrentes do trabalho. Com novos processos industriais, a
mecanização dos procedimentos, a substituição do homem pela máquina,
cresceram exponencialmente os acidentes profissionais, a maioria mutilante
ou incapacitante, com severas consequências para o trabalhador, sua família
e a sociedade como um todo. Além disso, as novas condições do trabalho,
mesmo que escapasse o trabalhador aos acidentes ou as suas sequelas,
eram notoriamente insalubres, fazendo aumentar a quantidade e a variedade
de moléstias profissionais. (PAULO; ALEXANDRINO, 2012. p. 297).

A criação do Organização Internacional do Trabalho mostrou-se como fator


de grande relevância para o desenvolvimento da Medicina e Segurança do
Trabalho. No mesmo ano de sua criação, já “foram adotadas seis convenções, com
visível propósito de proteção à saúde e integridade física dos trabalhadores”, uma
vez que, estas tratavam de temas como: limitação de jornada, trabalho noturno das
mulheres e dos menores, idade mínima para que ocorra a admissão de crianças e
proteção à maternidade (OLIVEIRA, 2016, p. 65).
Regina Buck disciplina que:

As manifestações dos operários e as reivindicações estabelecidas em


diversos congressos de trabalhadores, durante a Primeira Grande Guerra,
levaram a Conferência da Paz, de 1919, a criar a Organização Internacional
do Trabalho – OIT, através do Tratado de Versalhes, com o propósito de dar
às questões trabalhistas um tratamento uniformizado, com fundamento na
justiça social, ou seja, uma organização permanente para a proteção e
melhoria das condições de vida do trabalhador. (BUCK, 2001, p. 39).

Seguindo a Evolução Historica em 1948 foi assinada a Declaração Universal


dos Direitos Humanos que trouxe em seus princípios não apenas o direito à vida, à
liberdade e à dignidade, mas também trouxe garantias trabalhistas como o direito ao
trabalho, a condições justas e favoráveis de trabalho, direitos às férias, ao lazer e
direito a uma jornada de trabalho razoável (OLIVEIRA, 2016, p. 69).
Por conseguinte houve uma mudança extremamente significativa na forma de
olhar o trabalhador, visto que , em um primeiro momento, estes não tinham garantias
trabalhistas, eram menosprezados, e, ja em um enfoque atual, nota-se crescente
preocupação com a questão que envolve a saúde e segurança do trabalhador. Surge
também uma preocupação em assegurar que este esteja inserido em um ambiente de
trabalho adequado para cumprir suas funções, uma vez que, o ambiente de trabalho
relaciona-se diretamente com até mesmo a saúde mental dos trabalhadores.
No Brasil houve uma evolução da legislação pertinente à Medicina e Segurança
do Trabalho no qual foi perceptível que o cuidado com a vida e o bem estar dos
trabalhadores tornou-se cada vez mais eloquente, restando evidente tal preocupação
com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, onde há
referência em seu artigo 225 ao “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida” (BRASIL, 1988)
assim como traz o dever de “ colaborar na proteção do meio ambiente, nele
compreendido o do trabalho” (OLIVEIRA, 2016, p. 80)
Ainda em seu artigo 7º, XXII , trouxe o direito fundamental dos trabalhadores
urbanos e rurais a redução dos riscos que são inerentes ao trabalho, onde dispõe que
esta redução se dará por meio de normas de higiene saúde e segurança (BRASIL,
1988).

2.2 Regras Gerais da Segurança e Medicina do Trabalho

O meio ambiente de trabalho faz engloba não só o trabalhador, mas todo o ser
humano, por este motivo a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225, caput,
estabelece:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações. (BRASIL, 1988).

Sendo assim, o meio de ambiente do trabalho possui diversos riscos a vida do


trabalhador, logo Sebastião Ivone Vieira preconiza que os agentes ambientais que
podem oferecer riscos à saúde do trabalhador são de natureza diversas, sendo
classificados em: físicos, químicos, biológicos e ergonômicos (VIEIRA, 2005, p. 66).
A Norma Regulamentadora n. 09 do Ministério do Trabalho e Emprego
classifica os agentes ambientais que representam risco à saúde dos trabalhadores
(BRASIL,1978). Como se verifica no quadro abaixo, que delimita os riscos físicos,
químicos, biológicos e ergonômicos, que em função da natureza, intensidade, tempo
e concentração, podem causar danos à saúde do trabalhador:
Quadro 1 – Classificação de agentes ambientais
FONTE: (BRASIL, 1978).

Portanto, devido a busca por uma melhora em todo ambiente que engloba o
trabalhador, a medicina do trabalho é o resultado de um grande processo de
humanização no mundo do trabalho, juntamente com o Direito do Trabalho visam uma
maior preocupação buscando oferecer condições mais dignas para os trabalhadores,
e assim garantir a saúde e a integridade física e psicológica dos mesmos.
Deste modo, a medicina do trabalho, busca em primeiro lugar prevenir
acidentes e doenças ocupacionais. Destarte, ela também assume um compromisso
com a qualidade e a manutenção da saúde dos trabalhadores. Tendo como objetivo,
que as atividades rotineiras desses profissionais não representem nenhum tipo de
prejuízo para a saúde e bem estar.
Conforme é previsto no artigo 156 da Consolidação das Leis do Trabalho, a
fiscalização do cumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho nas
empresas será promovida pelas Delegacias Regionais do Trabalho – DRT.
Atualmente, em consequência de alteração legislativa, as DRTs transformaram-se em
Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego, as SRTEs.
Já em relação aos trabalhadores, Vicente Paulo (2010), alega que os mesmos
não possuem só direitos, há também deveres no qual são obrigados, de acordo com
o artigo 158 da CLT a cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho,
inclusive as instruções ou ordens da empresa e colaborar com as empresas na
aplicação das normas de medicina e segurança do trabalho (BRASIL, 1943).
Ademais, o artigo 160 da CLT trata sobre a necessidade da inspeção prévia no
estabelecimento de trabalho, anterior às iniciações ao trabalho:

Art. 160. Nenhum estabelecimento poderá iniciar suas atividades sem prévia
inspeção e aprovação das respectivas instalações pela autoridade regional
competente em matéria de segurança e medicina do trabalho.
§ 1º Nova inspeção deverá ser feita quando ocorrer modificação substancial
nas instalações, inclusive equipamentos, que a empresa fica obrigada a
comunicar, prontamente, à Delegacia Regional do Trabalho.
§ 2º É facultado às empresas solicitar prévia aprovação, pela Delegacia
Regional do Trabalho, dos projetos de construção e respectivas instalações.
(BRASIL, 1943).

Logo em seguida, o artigo 161 da CLT (BRASIL, 1943) demonstra dos poderes
que o Superintendente, para vista de laudo técnico que demonstre grave e iminente
risco para o trabalhador, de interditar o estabelecimento, setor de serviço, máquina ou
equipamento, ou de embragar obra, indicando quais as providências a serem tomadas
para a prevenção de infortúnios do trabalho.

3 ADICIONAIS

3.1 Conceitos e disposições gerais do adicional de insalubridade

O adicional de insalubridade é um direito previsto pela legislação trabalhista


para todos os trabalhadores que exercem atividades laborais que os expõem a
agentes que causam danos à saúde. Segurança e qualidade no ambiente de trabalho
são dois direitos sociais garantidos a todos os trabalhadores pela Constituição Federal
e Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
O conceito legal de insalubridade é dado pelo referido artigo 189, da CLT, nos
seguintes termos:

Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua


natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a
agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão
da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus
efeitos. (BRASIL, 1943).

Assim como a Constituição Federal em seu artigo 7º, afirma que: São direitos
dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social: “XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas,
insalubres ou perigosas, na forma da lei; [...]” (BRASIL, 1988).
Cabe ressaltar que na Constituição Federal o artigo 7°, inciso XXIII, está dentro
do “Capítulo II – Dos Direitos Sociais”, que compreendem o “Título II - Dos Direitos e
Garantias Fundamentais”, considerados inalienáveis, por compreensão de ser o
mínimo essencial para o exercício da vida humana (BRASIL, 1988). Estes abarcam
os direitos de terceira geração conforme Bedin:

Esta terceira geração de direitos compreende os chamados direitos de


créditos, ou seja, os direitos que tornam o Estado devedor dos indivíduos,
particularmente dos indivíduos trabalhadores e dos marginalizados, no que
se refere à obrigação de realizar ações concretas, visando a garantir-lhes um
mínimo de igualdade e de bem-estar social. Estes direitos, portanto, não são
direitos estabelecidos “contra o Estado” ou direitos de “participar do Estado”,
mas sim direitos garantidos “através ou por meio do Estado. (BEDIN, 2012,
p. 62).

Saad esclarece que no Brasil, a proteção da saúde do trabalhador no interior


das empresas considera tais fatores:

a) físicos: temperatura excessiva, seja calor ou frio, umidade, pressão,


radiação, vibrações, inclusive as ultrassónicas, cargas anormais, entre
outras;
2) químicos: sólidos, gasosos ou líquidos, poeira, névoa, vapores e similares;
3) biológicos: agentes infecciosos, fungos, bactérias;
4) de ordem psicológica: condições psicológicas improprias para o trabalho
ou tensão emocional. (SAAD, 2014, p. 245).

Assim, sempre serão consideradas insalubres as atividades que por sua


natureza expõe os trabalhadores à agentes nocivos a saúde, diante a esses fatores.

3.2 Eliminação ou neutralização da condição insalubre

O artigo 195 da CLT há fim de caracterizar e classificar a Insalubridade,


determinou que deverão ser realizadas perícias por profissionais qualificados como o
Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, com registro no Ministério do
Trabalho:

Art. 195 - A caracterização e a classificação da insalubridade e da


periculosidade, segundo as normas do Ministério do Trabalho, far-se-ão
através de perícia a cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho,
registrados no Ministério do Trabalho. (BRASIL, 1943).

Nos dias de hoje o adicional de insalubridade é devido em razão de 10% (grau


mínimo), 20% (grau médio) ou 40% (grau máximo), mediante realização de perícia
técnica.
Sobre os percentuais de percepção do adicional de insalubridade, é a redação
do artigo 192 da norma consolidada:

Art. 192. O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites


de tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura a
percepção de adicional respectivamente 40% (quarenta por cento), 20%
(vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salário mínimo da região, segundo
se classifiquem nos graus máximos, médio e mínimo. (MARTINS, 2014, p.
278).

A NR 15, traz em seu item 15.3, havendo "incidência de mais de um fator de


insalubridade, será apenas considerado o de grau mais elevado, para efeito de
acréscimo salarial, sendo vedada a percepção cumulativa." (BRASIL, 1978).
A legislação prevê que é incumbência do empregador suprimir os agentes
insalubres em que o empregado estiver exposto. Caso não seja possível o suprimento,
o agente prejudicial deverá ser neutralizado.
De acordo com o artigo 194 da CLT, se ocorrer a eliminação da insalubridade,
o empregador fica isento a pagar o aludido adicional, ou seja, com a eliminação do
agente insalubre, o direito do empregado ao adicional é cancelado: “Art.194 - O direito
do empregado ao adicional de insalubridade ou de periculosidade cessará com a
eliminação do risco à sua saúde ou integridade física, nos termos desta Seção e das
normas expedidas pelo Ministério do Trabalho.” (BRASIL, 1943).
Além disso, vale salientar que, havendo a remoção do operário do local ou setor
insalubre, este também não fará jus ao respectivo adicional. Ao se falar em
neutralização da insalubridade, o agente insalubre não é extinto, mas sim atenuado,
diminuído.
Uma das medidas mais comuns que visam a neutralização da insalubridade
nas empresas ocorre através do fornecimento de Equipamento de Proteção Individual
(EPI) pelo empregado, contudo, o empregador precisa ficar atento ao fato de que o
simples fornecimento de EPI, sem que acarrete a eliminação ou neutralização do
agente insalubre, não o desobriga do pagamento do adicional de insalubridade
(BRASIL, 2003).
Arnaldo Sussekind (2010), alega que conforme o artigo 167, CLT o EPI só
poderá ser posto à venda ou utilizado com a indicação do Certificado de Aprovação
do Ministério do Trabalho (BRASIL, 1943).
Visto que muitas turmas dos Tribunais superiores assim entendem:

RECURSO DE REVISTA. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE - EPI SEM


CERTIFICADO DE APROVAÇÃO. O e. TRT concluiu que a autora estava
exposta a ruídos além do limite de tolerância e deferiu o pagamento do
adicional de insalubridade em grau médio. Constou do laudo pericial que a
empresa fornecia protetores auriculares à autora, os quais eram
periodicamente substituídos. Todavia, tais equipamentos não possuíam
certificado de aprovação (CA), conforme exigência prevista na NR-06, itens
6.2 e 661, e os considerou inaptos a afastar os níveis de ruídos do ambiente
de trabalho. Decisão que reconhece o direito ao adicional de insalubridade
em conformidade com a Súmula nº 80 do TST. Recurso de revista conhecido
por divergência jurisprudencial e desprovido (BRASIL, 2015).

Assim, mesmo sendo possível o controle do perigo ao trabalhador com o EPI,


este não retira da empresa o dever de pagar a insalubridade ao funcionário, que deve
ser treinado para usar o equipamento e ter garantia de sua certificação.

3.3 Da base de incidência do adicional de insalubridade

Há diversas vertentes doutrinárias e jurisprudenciais acerca da base de cálculo


do adicional de insalubridade.
Sobre o assunto, Sergio Pinto Martins (2012) ensina que a vedação do inciso
IV do artigo 7º da CRFB, objetiva o constituinte que o salário mínimo não seja um
indexador para reajustes de preços. Sendo a vinculação do salário mínimo apenas
para alimentação, moradia, saúde, vestuário, educação, lazer, higiene, transporte e
previdência social. Não pode, portanto, haver a vinculação do salário mínimo para
qualquer outro fim, dos previstos na própria Lei Ápice.
O problema referente ao adicional de insalubridade se dá devido ao fato de que
a Consolidação das Leis Trabalhistas, em seu artigo 192, estipula a utilização do
salário mínimo como base de cálculo para a percepção do adicional ao dispor que o
trabalhador exposto à insalubridade terá direito à “[...] percepção de adicional
respectivamente de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por
cento) do salário-mínimo da região, segundo se classifiquem nos graus máximo,
médio e mínimo” (BRASIL, 1943).
Enquanto percebido, o adicional de insalubridade, integra a remuneração do
empregado para todos os efeitos legais, (Súmula nº 139 do TST) exceto para cálculo
de repouso semanal e em feriados, pois esse adicional é calculado sobre a
importância fixa que já remunera os dias de repouso semanal e em feriados
(Orientação Jurisprudencial n° 103 da SDI-1 do TST).
Conforme Jorge Neto e Cavalcante (2018, p. 139) tal discussão é de suma
importância, pois o valor percebido referente ao adicional de insalubridade “repercute
em outras verbas, como, por exemplo: horas extras (OJ nº 47, SDI-119), 13º salário,
férias, aviso prévio etc. (Súmula nº 139, TST)”.
Nesse mesmo sentido, afirma-se que o adicional de insalubridade é uma
prestação com caráter salarial, a vinculação do valor deste ao salário mínimo não tem
efeito inflacionário, não figurando como uma forma de indexar a economia.
(CARVALHO, 2016, p. 242).
Já houve entendimento do STF, e os argumentos utilizados declararam
inconstitucionalidade acerca do uso do salário mínimo como base de cálculo:

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO


RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE.
BASE DE CÁLCULO. VINCULAÇÃO AO SALÁRIO MÍNIMO.
IMPOSSIBILIDADE. PREDECENTES. 1. O Supremo Tribunal Federal, no
julgamento do RE 565.714, Rel. ª Min. ª Cármen Lúcia, sob a sistemática da
repercussão geral, assentou a inconstitucionalidade da utilização do salário
mínimo como base de cálculo de adicional de insalubridade, nos termos do
art. 7º, IV, da Constituição. Por outro lado, ficou assentado que, diante da
impossibilidade de o Poder Judiciário atuar como legislador positivo, as leis
que utilizam o salário mínimo como indexador devem ser mantidas, até que
nova lei seja editada disciplinando a matéria. Precedentes. 2. O Tribunal de
origem não julgou válida lei ou ato de governo local contestados em face da
Constituição Federal, o que inviabiliza o recurso extraordinário pela alínea c
21 do inciso III do art. 102 da Constituição. 3. Embargos de declaração
recebidos como agravo regimental a que se nega provimento. (BRASIL,
2008).

Todavia, com a finalidade de não causar prejuízos e considerando o fato de


que há impossibilidade de ocorrer a alteração da base de cálculo do adicional de
insalubridade por meio de interpretação jurídica, uma vez que não pode ser
substituído por decisão judicial, mas apenas por lei ordinária, o salário mínimo
continua sendo utilizado como base de cálculo (GARCIA, 2014, p. 191).

3.4 Conceitos e disposições gerais do adicional de periculosidade

A definição de “periculosidade em saúde e segurança do trabalho é a


caracterização de um risco imediato, procedente de atividade ou operações, onde a
natureza ou os seus métodos de trabalhos configurem um contato permanente, ou
risco acentuado.” (BRASIL, 1978).

Aos que desempenharem atividades classificadas como perigosas, conforme


dispõe o artigo 7º, caput e incisos XXIII da Constituição Federal de 1988 e o artigo
193 da CLT.
Artigo 7º [...] XXIII - Adicional de remuneração para as atividades penosas,
insalubres ou perigosas, na forma da lei; [...] (BRASIL, 1988)

Art. 193 - São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da


regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho, aquelas que, por sua
natureza ou métodos de trabalho, impliquem o contato permanente com
inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado.
§ 1º - O trabalho em condições de Periculosidade assegura ao empregado
um Adicional de 30% (trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos
resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa.
§ 2º - O empregado poderá optar pelo Adicional de insalubridade que
porventura lhe seja devido. (BRASIL, 1943).

A periculosidade não resulta em fator contínuo de exposição do trabalhador,


mas apenas um risco, que não age biologicamente contra seu organismo, mas que,
na configuração do sinistro, pode dizimar a vida do trabalhador ou mutilá-lo.
O TST, em relação ao adicional de periculosidade, por meio das Súmulas 132,
361 e 364, esclarece que:

132/TST - Adicional de periculosidade. Integração.


I - O adicional de periculosidade, pago em caráter permanente, integra o
cálculo de indenização e de horas extras.
II - Durante as horas de sobreaviso, o empregado não se encontra em
condições de risco, razão pela qual é incabível a integração do adicional de
periculosidade sobre as mencionadas horas.
361/TST - Adicional de periculosidade - Eletricitários - Exposição intermitente.
O trabalho exercido em condições perigosas, embora de forma intermitente,
dá direito ao empregado a receber o adicional de periculosidade de forma
integral, porque a Lei 7.369, de 20.09.1985, não estabeleceu nenhuma
proporcionalidade em relação ao seu pagamento
364/TST - Adicional de periculosidade. Exposição eventual, permanente e
intermitente.
I - Faz jus ao adicional de periculosidade o empregado exposto
permanentemente ou que, de forma intermitente, sujeita-se a condições de
risco. Indevido, apenas, quando o contato se dá de forma eventual, assim
considerado o fortuito, ou o que, sendo habitual, dá-se por tempo
extremamente reduzido.
II - A fixação do adicional de periculosidade, em percentual inferior ao legal e
proporcional ao tempo de exposição ao risco, deve ser respeitada, desde que
pactuada em acordos ou convenções coletivas.
Nessa perspectiva, se a exposição à atividade perigosa é permanente ou
intermitente (não diária, mas que ocorra com certa regularidade), o
trabalhador fará jus ao adicional de periculosidade. Entretanto, se a
exposição for eventual ou ocasional (esporádica, em raras situações ou por
tempo extremamente reduzido), o obreiro não fará jus ao respectivo adicional
de periculosidade. (BRASIL, 2016).

A Norma Regulamentadora n. 16 da Portaria n. 3.214/78 é que regulamenta


as atividades e operações perigosas, que diz quais atividades e locais onde
as operações podem ser consideradas perigosas e para as quais é atribuído
o pagamento do adicional de periculosidade (BRASIL, 1978).

Desse modo, diferenciam-se as atividades perigosas em quatro naturezas: são


perigosas as que expõem o trabalhador ao risco acentuado; em contato com
explosivos ou inflamáveis; as atividades desenvolvidas no setor de energia elétrica,
conforme dispõe o Decreto nº 93.412/1986 (BRASIL, 1986) e por fim; são ainda
consideradas atividades perigosas aquelas que exponham o trabalhador ao contato
com radiações ionizantes ou substâncias radioativas.
Aos empregados que trabalham com explosivos ou inflamáveis nas condições
regulamentadas pela NR-16184 é asseverado um adicional de 30% do valor do salário
contratual básico, sem o acréscimo resultante de gratificações, prêmios ou
participação nos lucros, conforme o art. 193, § 1° da CLT (BRASIL, 1943).
Além disso, a natureza do adicional de periculosidade é de salário, pois,
remunera o trabalho em condições perigosas e não de indenização, pois não tem o
objetivo de reparar dano.

3.5 Da eliminação ou neutralização da condição perigosa

A Consolidação das Leis do Trabalho em seu artigo 194 prevê:

Art.194 - O direito do empregado ao adicional de insalubridade ou de


periculosidade cessará com a eliminação do risco à sua saúde ou integridade
física, nos termos desta Seção e das normas expedidas pelo Ministério do
Trabalho.
Em análise do dispositivo legal citado, Luciano Martinez ensina que para o
adicional de periculosidade não ser devido, o risco deverá ser totalmente
eliminado e não neutralizado. Logo, enquanto não for eliminado o risco
resultante da atividade do trabalhador em condições de periculosidade, o
adicional é devido. (BRASIL, 1943)

A necessidade da produção em juízo da prova pericial ainda é questão


controvertida na doutrina e na jurisprudência, ante o dispositivo no art. 195 § 2°, da
CLT (BRASIL, 1943).
Alguns estudiosos que se trata de uma prova tarifada, ou seja, é obrigatória,
como também acontece em alguns casos do processo civil. Desta forma,
indispensável seria a realização da prova técnica, não podendo ser substituída pela
confissão do empregador, por prova testemunhal ou documental em nenhuma
hipótese. Nesse sentido a Orientação Jurisprudencial nº 278 da SDI-I do TST
(Orientação Jurisprudencial 278/TST-SDI-I - 11/08/2003.).
Há também corrente que defende que a prova pericial é a ideal, mas não é a
única capaz de provar o fato. Admitem qualquer prova idônea capaz de provar o fato
técnico inclusive a confissão ficta, real ou pagamento espontâneo e habitual – OJ nº
406 da SDI-I do TST (Orientação Jurisprudencial 406/TST-SDI-I - 26/10/2010). Isto
porque parte da premissa que o art. 195 § 2° da CLT não criou uma prova impositiva,
obrigatória, mas apenas recomendou um meio de prova (BRASIL, 1943).
Desta forma entende-se que é necessária a regulamentação do MTE sobre a
atividade perigosa, assim a classificando, para que possa ela existir no plano jurídico.

3.6 Da base de incidência do adicional de periculosidade

De acordo com o artigo 193 da CLT a base de cálculo do adicional de


periculosidade é 30% do salário-base do obreiro (BRASIL, 1943). E a Súmula 191 do
Tribunal Superior do Trabalho esclarece que o adicional de periculosidade incide
apenas sobre o salário básico e não sobre este acrescido de outros adicionais. A regra
é excetuada, entretanto, para os eletricitários, os quais receberão o referido adicional
calculado sobre a integralidade das verbas de natureza salarial (BRASIL, 2016). É a
redação da súmula comentada acima:
ADICIONAL. PERICULOSIDADE. INCIDÊNCIA (nova redação) - Res.
121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003. O adicional de periculosidade incide
apenas sobre o salário básico e não sobre este acrescido de outros
adicionais. Em relação aos eletricitários, o cálculo do adicional de
periculosidade deverá ser efetuado sobre a totalidade das parcelas de
natureza salarial. (BRASIL, 2016).

É o que salienta Luciano Martinez, ao asseverar que, excepcionalmente, aos


trabalhadores eletricitários, nos moldes da Lei n. 7.369/85, a remuneração adicional
pela condição de periculosidade deverá ser calculada no percentual de 30% (trinta por
cento) do valor das parcelas salariais que o empregado receber (BRASIL, 1985).
Este entendimento, aliás, já estava pacificado pela OJ nº 279 da SDI-1 do TST,
concebida nesses termos:

ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. ELETRICITÁRIOS. BASE DE


CÁLCULO. LEI Nº 7.369/85, ART. 1º. INTERPRETAÇÃO (DJ 11.08.2003) O
adicional de periculosidade dos eletricitários deverá ser calculado sobre o
conjunto de parcelas de natureza salarial. (Orientação Jurisprudencial
279/TST-SDI-I - 11/08/2003).

Os 30% a mais devem começar a ser pagos desde o início da atividade


perigosa. Ou seja, você deve receber o valor desde o primeiro salário e no décimo
terceiro você recebe os 30% da mesma forma, uma vez que este é tratado como um
salário normal.

4 ENTENDIMENTO DO JUDICIÁRIO TRABALHISTA ACERCA CUMULAÇÃO DE


ADICIONAIS DE PERICULOSIDADE E INSALUBRIDADADE

Os trabalhadores passam por diversos desafios na rotina e ainda se encontram


expostos a inúmeros fatores que acarretam de forma direta ou indireta, o
acometimento de enfermidades e exposição a situações de riscos.
Por toda essa situação desgastante e nociva enfrentada pelos trabalhadores a
CLT prevê uma maneira de compensação para o trabalhador, por meio dos adicionais
de insalubridade e periculosidade.
Tocante aos adicionais de insalubridade e periculosidade, após exposição de
suas características e peculiaridades, percebe-se importante disposição sobre estes
no que diz respeito a sua cumulação. É sabido que a cumulação de adicionais é
plenamente aceita no ordenamento jurídico brasileiro, mas referente aos adicionais
de insalubridade e periculosidade essa cumulação é vedada.
4.1 Normas Internacionais como fundamento para cumulação

Ainda nos dias de hoje a posição predominante dos tribunais é pela não
viabilização da cumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade.
Entretanto, normais internacionais têm sido utilizadas como fundamento para
justificação da possibilidade de cumulação. Deste modo, faz-se necessário analisar
as bases para a percepção cumulativa desses adicionais como as fontes do direito do
trabalho e os dispositivos do direito internacional do trabalho.
Ao questionar sobre a viabilização ou não da percepção cumulativa dos
adicionais de insalubridade e periculosidade, se não bastassem os argumentos
extraídos do direito interno brasileiro, outro fator sustenta a inaplicabilidade do artigo
193, §2 da CLT, como: as normas internacionais trabalhistas – fontes do direito do
trabalho -, e/ou por meio das convenções internacionais da Organização Internacional
do Trabalho (BRASIL, 1943).
Valério de Oliveira Mazzuoli traz em sua obra, que o Direito Internacional do
Trabalho possui vários objetivos que visam:

a) universalizar os princípios e as normas trabalhistas, a fim de garantir a maior


uniformidade em sua aplicação;
b) difundir em âmbito global as regras de justiça social, fomentando a
justiça e a paz nas relações de trabalho;
c) impedir que razões econômicas impeçam os Estados de aplicar as
normas internacionais de proteção ao trabalhador previstas nas convenções
da OIT;
d) estabelecer regras claras de reciprocidade dos Estados na aplicação
das regras de trabalho entre os cidadãos; e
e) proteger os direitos dos trabalhadores imigrantes, inclusive no que
tange à conservação das garantias trabalhistas adquiridas no país de origem,
relativamente aos seguros sociais. (MAZZUOLI, 2014, p. 1095).

Os objetivos citados objetivam proteção ao trabalhador, garantindo a sua


dignidade e o bem estar social, em busca de perpetuar esses objetivos, o Direito
Internacional do Trabalho utiliza instrumentos normativos, como: os tratados
internacionais (intitulado pela OIT e as convenções) e as declarações,
recomendações ou, ainda, resoluções (MAZZUOLI, 2014, p. 1096).
Essas normas internacionais são apontadas como fontes do Direito do Trabalho
no ordenamento jurídico brasileiro. Para Alice Monteiro de Barros (2016, p. 81):
De início cumpre verificar qual é o conceito de fonte. Na linguagem popular,
fonte é origem, é tudo aquilo de onde provém alguma coisa. Já sob o prisma
jurídico, fonte é vista como origem do direito, incluídos os fatores sociais,
econômicos e históricos. Como fundamento de validade da norma jurídica, a
fonte pressupõe um conjunto de normas, em que as de maior hierarquia
constituem fonte das de hierarquia inferior. Finalmente, por fonte entende-se,
ainda, a exteriorização do direito, os modos pelos quais se manifesta a norma
jurídica. (BARROS, 2016, p. 81).

A maior parte dessas normas internacionais de Direito do Trabalho foram


editadas pela Organização Internacional do Trabalho, sendo que, a maioria foram
ratificadas pelo Brasil e possuem conteúdo relevante para o direito trabalhista (SAAD,
2004, p. 68).
A OIT é uma organização internacional com personalidade jurídica de Direito
Internacional Público, tem caráter permanente e está vinculada às Nações Unidas.
Pode-se afirmar, ademais, que é constituída unicamente por Estados, sendo que,
serão considerados membros natos aqueles que já pertenciam à organização em 1º
de novembro de 1954 (MAZZUOLI, 2014, p. 1104-1105).
“O Brasil, além de membro nato da organização, por dela fazer parte desde 1º
de novembro de 1945 (nos termos do §1 do art. 1º da Constituição da OIT), também
foi um dos membros fundadores da instituição em 1919” (MAZZUOLI, 2014, p. 1106).
Em um de seus livros Jorge Miranda afirma que as disposições da OIT são
consideradas “uma verdadeira declaração de direitos dos trabalhadores, assente na
ideia de que não pode haver paz, universal e duradoura, senão na base da justiça
social” (MIRANDA, 2009, p. 282-283).
Ademais, o citado autor faz referência aos fins e às ideias que servem de base
para a OIT:

Aí se fala na fixação de um limite máximo da jornada e da semana de


trabalho, na luta contra o desemprego, na garantia de um salário que
assegure condições de existência condignas, na proteção dos trabalhadores
em caso de doença profissional ou de acidente, na proteção das crianças,
dos adolescentes e das mulheres, nas pensões de velhice e de invalidez, na
defesa dos trabalhadores emigrantes, no princípio de “a trabalho igual, salário
igual”, no princípio da liberdade sindical, no ensino profissional e técnico
(MIRANDA, 2009, p. 283).

Dessa forma, após decisões do STF, ficou definido que os pactos internacionais
terão hierarquia supralegal, a não ser que passem pelo procedimento referido no §3
do artigo 5º da Constituição Federal quando, então, terão natureza constitucional
(VECCHI, 2014, p. 154).
Após esta análise do Direito Internacional do Trabalho e da importância e
hierarquia das convenções internacionais, duas dessas convenções internacionais
mostram-se de grande relevância para a problemática desta monografia, ambas
ratificadas pelo Brasil e analisadas no tópico subsequente.

4.2 As Convenções nº 148 e nº 155 da OIT

As Convenções internacionais nº 148 e nº 155 da OIT, são normas


internacionais que foram incorporadas no ordenamento jurídico brasileiro e são
utilizadas como importante fundamento para a cumulação dos adicionais de
insalubridade e periculosidade. Cabe, dessa forma, analisar o teor de cada uma delas.
Primeiramente, a Convenção nº 148 da OIT, que foi ratificada pelo Brasil,
promulgada pelo Decreto nº 93.413, em 15 de outubro de 1986, dispõe sobre a
proteção dos trabalhadores contra os riscos acarretados pela contaminação do ar,
ruído e às vibrações no local de trabalho. A referida Convenção estabelece no seu
artigo 8º, tópico 3º, que:

Os critérios e limites de exposição deverão ser fixados, completados e


revisados a intervalos regulares, de conformidade com os novos
conhecimentos e dados nacionais e internacionais, e tendo em conta, na
medida do possível, qualquer aumento dos riscos profissionais resultantes da
exposição simultânea a vários fatores nocivos no local de trabalho. (BRASIL,
1986).

Ademais, deve ser observada a Convenção 155 da OIT, que foi ratificada pelo
Brasil, a promulgada pelo Decreto nº 1.254, em 29 de Setembro de 1994, na qual
aplica-se a todas as áreas de atividades econômicas, dispõe sobre a saúde e
segurança do trabalhador, dando-se ênfase ao artigo 11, alínea “b” que dispõe:

Artigo 11 - Com a finalidade de tornar efetiva a política referida no artigo 4 da


presente Convenção, a autoridade ou as autoridades competentes deverão
garantir a realização das seguintes tarefas: [...]
b) a determinação das operações e processos que serão proibidos, limitados
ou sujeitos à autorização ou ao controle da autoridade ou autoridades
competentes, assim como a determinação das substâncias e agentes aos
quais estará proibida a exposição no trabalho, ou bem limitada ou sujeita à
autorização ou ao controle da autoridade ou autoridades competentes;
deverão ser levados em consideração os riscos para a saúde decorrentes da
exploração simultânea a diversas substâncias ou agentes. (BRASIL, 1994).

As convenções acima citadas são de grande valia uma vez que versam sobre
do resguardo ao trabalhador e servem de substrato para a possibilidade da cumulação
dos adicionais de insalubridade e periculosidade.
Afinal, as mencionadas convenções afirmam que qualquer aumento dos riscos
profissionais deve ser considerado, visto que, se o trabalhador estiver exposto
simultaneamente a mais de um fator nocivo à sua saúde deve-se observar isso como
critério de sua remuneração aspirando sempre a saúde e a segurança do trabalhador.
Baseado nisso, os adicionais de periculosidade e insalubridade visam
compensar o trabalhador de forma particularizada por cada agente nocivo que este
está exposto. Se o trabalhador estiver exposto a agentes nocivos a que são
enquadrados, simultaneamente, na possibilidade de percepção tanto do adicional de
insalubridade, quanto no adicional de periculosidade, a regra internacional preza pelo
direito do trabalhador receber o pagamento dos dois adicionais de forma cumulada.

5 DA POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE


E PERICULOSIDADE

Entende-se de que os fatos gerados de ambos adicionais são distintos, uma


vez que o adicional de insalubridade, nos termos do art. 189 da CLT, visa compensar
o empregado que realiza suas atividades em contato a agente nocivos a sua saúde e
o adicional de periculosidade, com fundamento no art.193 da CLT, é aquele que o
trabalhador desenvolve uma atividade perigosa e está causa risco a sua vida ou a sua
integridade física (BRASIL, 1943). Quando o trabalhador se sujeita, de forma
simultânea aos agentes insalubres como às condições perigosas (assim definidas na
Consolidação das Leis Trabalhistas e na regulamentação do Ministério do Trabalho),
fere a saúde do trabalhador admitir-se que esteja ele obrigado a laborar em tal
condição e receba em contrapartida apenas um dos adicionais. É o que ressalta
Fernando Formolo em seu artigo:

No caso, se optar pelo adicional de periculosidade, estará trabalhando em


condições insalubres “de graça”, ou seja, sem nenhuma compensação
pecuniária, e vice-versa no caso de optar pelo adicional de insalubridade
(caso em que o labor em condições perigosas será prestado sem nenhuma
compensação pecuniária), ao arrepio da Constituição e sujeitando-se a
manifesto desequilíbrio e desvantagens na relação contratual, comprometida
que fica, em rigor, a equivalência das prestações dos sujeitos contratantes.
(FORMOLO,2006).

Em outubro de 2014, foi publicado acórdão com decisão inédita autorizando a


cumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade:

EMENTA: RECURSO DE REVISTA. CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS DE


INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE. POSSIBILIDADE.
PREVALÊNCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS E SUPRALEGAIS
SOBRE A CLT. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DO STF QUANTO AO
EFEITO PARALISANTE DAS NORMAS INTERNAS EM DESCOMPASSO
COM OS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS.
INCOMPATIBILIDADE MATERIAL. CONVENÇÕES NOS 148 E 155 DA
OIT. NORMAS DE DIREITO SOCIAL. CONTROLE DE
CONVENCIONALIDADE. NOVA FORMA DE VERIFICAÇÃO DE
COMPATIBILIDADE DAS NORMAS INTEGRANTES DO ORDENAMENTO
JURÍDICO. A previsão contida no artigo 193, § 2º, da CLT não foi
recepcionada pela Constituição Federal de 1988, que, em seu artigo 7º, XXIII,
garantiu de forma plena o direito ao recebimento dos adicionais de
penosidade, insalubridade e periculosidade, sem qualquer ressalva no que
tange à cumulação, ainda que tenha remetido sua regulação à lei ordinária.
A possibilidade da aludida cumulação se justifica em virtude de os fatos
geradores dos direitos serem diversos. Não se há de falar em bis in idem. No
caso da insalubridade, o bem tutelado é a saúde do obreiro, haja vista as
condições nocivas presentes no meio ambiente de trabalho; já a
periculosidade traduz situação de perigo iminente que, uma vez ocorrida,
pode ceifar a vida do trabalhador, sendo este o bem a que se visa proteger.
A regulamentação complementar prevista no citado preceito da Lei Maior
deve se pautar pelos princípios e valores insculpidos no texto constitucional,
como forma de alcançar, efetivamente, a finalidade da norma. Outro fator que
sustenta a inaplicabilidade do preceito celetista é a introdução no sistema
jurídico interno das Convenções Internacionais nos 148 e 155, com status de
norma materialmente constitucional ou, pelo menos, supralegal, como
decidido pelo STF. A primeira consagra a necessidade de atualização
constante da legislação sobre as condições nocivas de trabalho e a segunda
determina que sejam levados em conta os -riscos para a saúde decorrentes
da exposição simultânea a diversas substâncias ou agentes-. Nesse
contexto, não há mais espaço para a aplicação do artigo 193, § 2º, da CLT.
Recurso de revista de que se conhece e a que se nega provimento (BRASIL,
2014).

Por fim, afirma-se, que negar a possibilidade do recebimento dessas verbas vai
de encontro aos princípios basilares do direito, princípios estes que visam à vida,
saúde e segurança do trabalhador acima de qualquer aspecto financeiro ou
econômico. Nesse diapasão, percebe-se a importância da discussão do tema como
forma de dar mais garantias aos trabalhadores e influenciar o empregador a investir
em melhores condições de trabalho, eliminando ou neutralizando agentes que causem
danos aos seus empregados e, por derradeiro, atingindo níveis mais satisfatórios de
proteção a parte mais frágil na relação trabalhista, seguindo o teor das Convenções
148 e 155 da Organização Internacional do Trabalho uma vez que foi introduzido no
sistema jurídico brasileiro (MARTINS, 2019, p. 189).

6 DA IMPOSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DO ADICIONAL PERICULOSIDADE E


INSALUBRIDADE

6.1 O §2º do artigo 193 da Consolidação das Leis Trabalhistas

A doutrina e a jurisprudência brasileira, na sua maioria, defendem a


impossibilidade de cumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade. Se
baseiam pelo art. 193, §2 da CLT e na Portaria n. 3.214-1978 do MTE, no item 15.3
da NR - 15:

Art. 193. São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da


regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas
que, por 44 sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado
em virtude de exposição permanente do trabalhador a: [...] § 2º - O
empregado poderá optar pelo adicional de insalubridade que porventura lhe
seja devido. NR- 15. Item 15.3. No caso de incidência de mais de um fator de
insalubridade, será apenas considerado o de grau mais elevado, para efeito
de acréscimo salarial, sendo vedada a percepção cumulativa.
(BRASIL,1943).

A interpretação destes dispositivos na jurisprudência brasileira:

Apesar de o referido texto legislativo não dispor claramente sobre o assunto


“ cumulação de adicionais”, a interpretação mais frequentemente encontrada
na jurisprudência aponta no sentido de que, uma vez certificado o direito à
percepção do adicional de periculosidade, o empregado poderia, abrindo mão
deste, optar pelo adicional de insalubridade, caso este também lhe fosse
devido (MARTINEZ, 2018, p. 590).

Deste modo, entende-se que a interpretação da jurisprudência brasileira é de


que o empregado deve optar pelo adicional que lhe for mais favorável, mesmo que
esteja exercendo concomitantemente uma atividade que prejudique a sua saúde e
correndo risco a sua vida ou integridade física. Corroborando com este entendimento
jurisprudencial há várias decisões contrárias cumulação dos referidos adicionais:

INCIDENTE DE RECURSOS REPETITIVOS. ADICIONAIS DE


PERICULOSIDADE E DE INSALUBRIDADE. IMPOSSIBILIDADE DE
CUMULAÇÃO, AINDA QUE AMPARADOS EM FATOS GERADORES
DISTINTOS E AUTÔNOMOS. INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA DO
ORDENAMENTO JURÍDICO. RECEPÇÃO DO ART. 193, § 2º, DA CLT,
PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 2. ADICIONAIS DE PERICULOSIDADE
E INSALUBRIDADE. CUMULAÇÃO. Preceitua o art. 192 da CLT que 'o
exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites de
tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura a percepção
de adicional respectivamente de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por
cento) e 10% (dez por cento) do salário-mínimo da região, segundo se
classifiquem nos graus máximo, médio e mínimo'. O art. 193, § 1º, da CLT,
por sua vez, versa que 'o trabalho em condições de periculosidade assegura
ao empregado um adicional de 30% (trinta por cento) sobre o salário sem os
acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos lucros
da empresa'. Já o § 2º do último dispositivo consolidado indicado estabelece
que 'o empregado poderá optar pelo adicional de insalubridade que
porventura lhe seja devido'. Tem-se, assim, que o legislador, ao possibilitar
ao empregado a opção pelo recebimento do adicional porventura devido, por
certo, vedou o pagamento cumulado dos dois títulos. (BRASIL, 2015)

INCIDENTE DE RECURSOS REPETITIVOS. ADICIONAIS DE


PERICULOSIDADE E DE INSALUBRIDADE. IMPOSSIBILIDADE DE
CUMULAÇÃO, AINDA QUE AMPARADOS EM FATOS GERADORES
DISTINTOS E AUTÔNOMOS. INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA DO
ORDENAMENTO JURÍDICO. RECEPÇÃO DO ART. 193, § 2º, DA CLT,
PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. A SDI-1, por meio do recente julgamento
do IRR - 239-55.2011.5.02.0319, em 26/09/2019, ainda pendente de
publicação, fixou a tese jurídica de que " o art. 193, § 2º, da CLT foi
recepcionado pela Constituição Federal e veda a cumulação dos adicionais
de insalubridade e de periculosidade, ainda que decorrentes de fatos
geradores distintos e autônomos ". Desse modo, é indevida a cumulação dos
adicionais de insalubridade e periculosidade. Recurso de revista não
conhecido. (BRASIL, 2019).

Outro argumento utilizado por alguns juristas, conceder o pagamento de ambos


os adicionais resultaria em um enriquecimento ilícito ao empregado, visto que ele já
possui o direito de escolher o adicional mais vantajoso.
Portanto, o §2 do art. 193 da CLT não pode ser considerado recepcionado pela
CRFB/88, nesse sentido o Douto magistrado Mauricio Godinho Delgado, da 3º Turma
do Tribunal superior do Trabalho, comenta em sua decisão, “Não obstante a previsão
contida no § 2º do art. 193 da CLT, não se pode considerá-lo recepcionado pela
Constituição Federal de 1988, na medida em que o seu art. 7º, XXII, assegurou aos
trabalhadores a redução dos riscos inerentes ao trabalho” (DELGADO, 2014, p. 789-
790).
O Douto magistrado Mauricio Godinho Delgado complementa:

A legislação infraconstitucional, consequentemente, não pode restringir o


alcance da regra constitucional mencionada, porque isso prejudicaria sua
máxima efetividade. Vale lembrar que, consoante o inc. III do art. 1º da
Constituição Federal, a dignidade da pessoa humana é um dos princípios da
República Federativa do Brasil. Logo, a atuação da legislação
infraconstitucional deve prezar pela maximização da proteção da saúde e
segurança do trabalhador. (DELGADO, 2019, p. 106-107).

Diante o exposto, é notável que a Constituição Federal de 1988, não


recepcionou o §2 do art. 193 da CLT (BRASIL, 1943). Portanto não é cabível
argumentar pela não cumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade,
utilizando-se do §2º do art. 193 da CLT (BRASIL, 1943).

7 CONCLUSÃO

Em face de todo o exposto, o presente trabalho visou analisar, através de


jurisprudência e entendimentos doutrinário, a cumulação dos adicionais de
periculosidade e insalubridade. Apesar de entender que a doutrina atualmente
majoritária e predominante sobre este tema, é vigoroso o entendimento da
impossibilidade de cumulação destes adicionais.
A questão da possibilidade ou não da cumulação dos adicionais de
insalubridade e periculosidade é de exacerbada importância para o Direito e a
sociedade. Desde o surgimento do Direito do Trabalho, com a Revolução Industrial,
buscou-se a proteção do trabalhador frente aos agentes nocivos que o trabalho
acarreta. Esses agentes nocivos afetam a saúde do trabalhador, podendo acarretar
enfermidades devido a forma que o trabalho é realizado ou ao meio ambiente de
trabalho que o empregado está exposto, afetam a segurança do trabalhador que,
muitas vezes, encontra-se exposto a situações passíveis de acidentes de trabalho
ou outras situações que coloquem em risco sua vida.
A parte mais petulante deste entendimento, é de que mesmo com fatos
geradores distintos (não há o que se falar em enriquecimento ilícito do empregado), o
empregado deve optar pelo mais vantajoso, ou seja, deve escolher entre os dois
adicionais e como consequência renunciar ao outro, posicionamento este totalmente
contrário ao princípio da irrenunciabilidade de direitos.
As normas trabalhistas devem ser interpretadas, dessa forma, no sentido de
efetivar os direitos e garantias estabelecidas na Constituição Federal (BRASIL,
1988) e nas Normas internacionais que intentam à proteção e à dignidade do
trabalhador. Importante ressaltar, ademais, a força hierárquica dessas normas
previstas tanto na Constituição Federal quanto no Direito Internacional, na medida
que prevalecem sobre a Consolidação das Leis Trabalhistas, e nada consta nessas
normas sobre a impossibilidade de cumulação dos adicionais de insalubridade e
periculosidade.
Por isso, o artigo 193, §2º da Consolidação das Leis Trabalhistas deve ser
reinterpretado (BRASIL, 1943). O Direito do Trabalho é disciplina que se encontra
em constante modificação, visando sempre se adequar à realidade dos
trabalhadores de forma a garantir a melhor concretização de seus direitos e, sendo
assim, a questão da cumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade
deve ser revisada buscando adequar-se aos princípios e normas hierarquicamente
superiores que visam à proteção do trabalhador.
O entendimento doutrinário e jurisprudencial majoritário a respeito da possibilidade da
cumulação dos adicionais de insalubridade e periculosidade deve ser considerado
inconstitucional, de maneira que, essa cumulação seja apreciada, com o intuito da
maior proteção e prevenção do meio ambiente de trabalho, da vida e a saúde
(integridade física e mental) dos seres humanos.
REFERÊNCIAS

BOMFIM, Vólia. Direito do Trabalho. 5. ed. Rio de Janeiro, 2011.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Nós,


representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte
para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos
sociais [...]. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, ano 126, n. 191-A, 5 out.
1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/DOUconstituicao88.pdf. Acesso em:
05 jan. 2020.

BRASIL. Decreto nº 1.254, de 29 de setembro de 1994. Promulga a Convenção n.


155, da Organização Internacional do Trabalho, sobre Segurança e Saúde dos
Trabalhadores e o Meio Ambiente de Trabalho, concluída em Genebra, em 22 de
junho de 1981. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, p. 14819, 30 set. 1994.

BRASIL. Decreto nº 93.412, de 14 de outubro de 1986. Revoga o Decreto nº 92.212,


de 26 de dezembro de 1985, regulamenta a Lei nº 7.369, de 20 de setembro de
1985, que institui salário adicional para empregados do setor de energia elétrica, em
condições de periculosidade, e dá outras providências. Diário Oficial da União:
seção 1, Brasília, p. 15507, 15 out. 1986.

BRASIL. Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das


Leis do Trabalho. Diário Oficial da União: seção 1, Rio de Janeiro, p. 11937, 09
ago. 1943.

BRASIL. Lei nº 7.369, de 20 de setembro de 1985. Institui salário adicional para os


empregados no setor de energia elétrica, em condições de periculosidade. Diário
Oficial da União: seção 1, Brasília, p. 13809, 23 set. 1985.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora nº 16.


Atividades e Operações Perigosas. [S.l.], 1978. Disponível em:
http://www.mte.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR16.pdf. Acesso em: 13 jan.
2020.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora nº l5. [S.l.],


1978. Disponível em: http://www.mte.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR15.pdf.
Acesso em: 13 jan. 2020.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora nº 9. [S.l.],


1978. Disponível em:
https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-09-atualizada-
2020.pdf. Acesso em: 05 jan. 2020.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 565.714-1/SP.


Constitucional. Art. 7º, inc. IV, da Constituição da República. Não recepção do art.
3º, § 1º, da Lei Complementar paulista nº 432/1985 pela Constituição de 1988.
Inconstitucionalidade de vinculação do adicional de insalubridade ao salário mínimo:
precedentes. Impossibilidade da modificação da base de cálculo do benefício por
decisão judicial. Recurso Extraordinário ao qual se nega provimento. Recorrente:
Carlos Eduardo Junqueira e outro(a/s). Recorrido: Estado de São Paulo. Relatora:
Min. Cármen Lúcia, 30 abr. 2008. Brasília: STF, [2008]. Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=560067. Acesso
em: 01 mar. 2020

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho (TST). Súmulas, Orientações


Jurisprudenciais (Tribunal Pleno/Órgão Especial, SBDI-I, SBDI-I Transitória,
SBDI-II e SDC), Precedentes Normativos. Brasília: Coordenação de Serviços
Gráficos, 2016. Disponível em: http://www.tst.jus.br/documents/10157/63003/Livro-
Internet.pdf. Acesso em: 07 mar. 2020.

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. IRR - 239-55.2011.5.02.0319. Incidente de


recursos repetitivos. Adicionais de periculosidade e de insalubridade.
Impossibilidade de cumulação, ainda que amparados em fatos geradores distintos e
autônomos. Interpretação sistemática do ordenamento jurídico. Recepção do art.
193, § 2º, da CLT, pela Constituição Federal. 1. Incidente de recursos repetitivos,
instaurado perante a SBDI-1, para decidir-se, sob as perspectivas dos controles de
constitucionalidade e de convencionalidade, acerca da possibilidade de cumulação
dos adicionais de periculosidade e de insalubridade, quando amparados em fatos
geradores distintos e autônomos, diante de eventual ausência de recepção da regra
do art. 193, § 2º, da CLT, pela Constituição Federal. [...]. Relator: Min. Alberto
Bresciani, 26 set. 2019. Brasília: Tribunal Superior do Trabalho, [2019]. Disponível
em:
http://aplicacao4.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?consulta=C
onsultar&conscsjt=&numeroTst=239&digitoTst=55&anoTst=2011&orgaoTst=5&tribun
alTst=02&varaTst=0319&submit=Consultar. Acesso em: 07 mar. 2020.

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista 7734720125040015.


Recurso de Revista em face de decisão publicada antes da vigência da Lei nº
13.015/2014. Adicional de insalubridade. Contato com mercúrio. Relator: Min.
Cláudio Mascarenhas Brandão, 22 abr. 2015. Brasília: TST, [2015]. Disponível em:
https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/185396466/recurso-de-revista-rr-
7734720125040015/inteiro-teor-185396489?ref=juris-tabs. Acesso em: 01 mar. 2020

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista 7761220115040411.


Recurso de Revista da Reclamada – Cumulação do adicional de insalubridade e do
adicional de periculosidade – Possibilidade – Prevalência das normas constitucionais
e supralegais sobre a CLT – Jurisprudência do STF – Observância das Convenções
nºs 148 e 155 da OIT. Relator: Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 20 maio
2015. Brasília: TST, [2015]. Disponível em:
https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/190543608/recurso-de-revista-rr-
7761220115040411/inteiro-teor-190543647. Acesso em: 01 mar. 2020.

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho - RECURSO DE REVISTA : RR 1015-


56.2013.5.12.0012. Recurso de Revista da Reclamada – Cumulação do adicional de
insalubridade e do adicional de periculosidade – Possibilidade – Prevalência das
normas constitucionais e supralegais sobre a CLT – Jurisprudência do STF –
Observância das Convenções nºs 148 e 155 da OIT. Relator: Min. Luiz Philippe
Vieira de Mello Filho, 20 maio 2015. Brasília: TST, [2015]. Disponível em:
https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/190543608/recurso-de-revista-rr-
7761220115040411/inteiro-teor-190543647. Acesso em: 01 mar. 2020

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 132. Adicional de periculosidade.


Integração. I - O adicional de periculosidade, pago em caráter permanente, integra o
cálculo de indenização e de horas extras (ex-Prejulgado nº 3). (ex-Súmula nº 132 -
RA 102/1982, DJ 11.10.1982/ DJ 15.10.1982 - e ex-OJ nº 267 da SBDI-1 - inserida
em 27.09.2002). II - Durante as horas de sobreaviso, o empregado não se encontra
em condições de risco, razão pela qual é incabível a integração do adicional de
periculosidade sobre as mencionadas horas. Brasília, DF: Tribunal Superior do
Trabalho, [2005]a. Disponível em:
http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_101_150.ht
ml#SUM-132. Acesso em: 08 fev. 2020.

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 139. Adicional de Insalubridade


Enquanto percebido, o adicional de insalubridade integra a remuneração para todos
os efeitos legais. Brasília, DF: Tribunal Superior do Trabalho, [2005]b. Disponível
em:
http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_101_150.ht
ml#SUM-139. Acesso em: 08 fev. 2020.

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 191. Adicional de periculosidade.


Incidência. Base de cálculo (cancelada a parte final da antiga redação e inseridos os
itens II e III) - I – O adicional de periculosidade incide apenas sobre o salário básico
e não sobre este acrescido de outros adicionais. II – O adicional de periculosidade
do empregado eletricitário, contratado sob a égide da Lei nº 7.369/1985, deve ser
calculado sobre a totalidade das parcelas de natureza salarial. Não é válida norma
coletiva mediante a qual se determina a incidência do referido adicional sobre o
salário básico. III - A alteração da base de cálculo do adicional de periculosidade do
eletricitário promovida pela Lei nº 12.740/2012 atinge somente contrato de trabalho
firmado a partir de sua vigência, de modo que, nesse caso, o cálculo será realizado
exclusivamente sobre o salário básico, conforme determin o § 1º do art. 193 da CLT.
Brasília, DF: Tribunal Superior do Trabalho, [2016]a. Disponível em:
http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_151_200.ht
ml#SUM-191. Acesso em: 08 fev. 2020.

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 289. Insalubridade. Adicional.


Fornecimento do aparelho de proteção. Efeito (mantida). O simples fornecimento do
aparelho de proteção pelo empregador não o exime do pagamento do adicional de
insalubridade. Cabe-lhe tomar as medidas que conduzam à diminuição ou
eliminação da nocividade, entre as quais as relativas ao uso efetivo do equipamento
pelo empregado. Brasília, DF: Tribunal Superior do Trabalho, [2003]a. Disponível
em: http://www3.tst.jus.

Você também pode gostar