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UNIVERSIDADE REGIONAL

INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES

PRÓ-REITORIA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO


CÂMPUS DE SANTIAGO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


CURSO DE DIREITO

O DIREITO TRABALHISTA NO BRASIL E NO MUNDO:


DEVERES JURÍDICOS DO EMPREGADOR.

Thais da Silva Abbadie 1


Fabiana Barcelos da Silva Cardoso 2

RESUMO: O presente artigo vem falar sobre Consolidação das Leis do


Trabalho (CLT) que foi criada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943
para regular as relações de trabalho no Brasil. É na legislação trabalhista que
são estabelecidos os direitos e deveres de empregados e empregadores como,
por exemplo, jornada de trabalho, remuneração, férias, aviso prévio, licenças,
rescisão de contrato de trabalho. O Legislador não esgotou o tema, o que fez
surgir várias dúvidas no tocante à deficiência axiológica do Capítulo II-A da
CLT, em especial, no que tange à norma de proteção e prevenção de doenças
e acidentes de trabalho. Esse estudo visa elucidar os deveres jurídicos do
empregador quanto à saúde e segurança do trabalhador. Dessa forma, a
pesquisa será conduzida tendo como base a Constituição Federal e as normas
da Organização Internacional do Trabalho, além das instruções normativas
quanto à saúde e segurança no trabalho.

Palavras-chaves: Direito do Trabalho. Reforma Trabalhista. Responsabilidade


Civil do Empregador. Saúde e Segurança do Trabalhador.
INTRODUÇÃO: A Lei nº 13.467 de 2017 alterou a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), uma legislação que, dentre outras coisas. O tema abordará a
discussão concernente aos deveres jurídicos que o empregador tem em
relação à saúde e segurança do trabalhador, tendo em vista a omissão
legislativa e a diminuição no âmbito das obrigações patronais perante essa
modalidade de trabalho. Antes da Reforma Trabalhista, não havia que se falar
em uma norma jurídica que disciplinasse a matéria referente ao trabalhador. A
rigor, o artigo 6º da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo
Decreto-Lei nº. 5.452 de 1943.

A modernização das leis trabalhistas teve como principal objetivo tornar a


legislação brasileira mais compatível com o mundo do trabalho e as formas de
produção do século 21. Ao fomentar o diálogo, a nova lei contribui para o
aumento da produtividade do trabalho, o desenvolvimento da economia e, por
consequência, aumento de emprego e renda para o trabalhador. As regras que
estabelecem as relações entre trabalhadores e empregadores são
determinantes para o bom funcionamento do mercado de trabalho. Elas servem
para regulamentar a relação contratual entre empresa e empregado,
estabelecendo direitos e deveres para as partes, bem como normas de
procedimento e normas de conduta. A legislação trabalhista também pode
agregar outras regulamentações atinentes ao trabalho, como direito coletivo,
regulamentação de profissões, regulamentação de contratos interempresariais
(terceirização).

Essas relações precisam se adequar às necessidades da sociedade e da


economia, adaptadas às demandas criadas por novas tecnologias, pela
mudança do perfil da população e pela necessidade de mobilidade e
flexibilidade. Elas devem ser claras e de fácil compreensão para que as
empresas e os trabalhadores saibam com segurança os seus direitos e
deveres na relação trabalhista. Além disso, as normas podem ser modernas e
flexíveis, passíveis de negociação entre empresas e empregados, regras que
atendam a esses critérios reduzem conflitos e aumentam a segurança jurídica
de empresas e trabalhadores e, por consequência, ajudam a melhorar o
ambiente de negócios do país, a principal inovação trazida pela reforma
trabalhista foi a valorização da negociação coletiva. Trata-se da forma como
empresas e trabalhadores pactuam rotinas e condições de trabalho, como
ajustes de jornada, troca de dias de feriado, duração de intervalos, pacotes de
benefícios, aumentos salariais, entre outros.

O surgimento da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) é o resultado de 13


anos de trabalho, desde o início do Estado Novo até 1943 de juristas que se
empenharam em criar uma lei que atendesse, na visão da época, à
necessidade de proteção do trabalhador, dentro de um contexto de estado
regulamentador. A CLT foi criada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de
1943, e sancionada pelo presidente Getúlio Vargas, durante o período do
Estado Novo, a consolidação das leis unificou toda a legislação trabalhista
então existente no país e inseriu de forma definitiva os direitos trabalhistas na
legislação brasileira, o objetivo principal é regulamentar as relações individuais
e coletivas do trabalho, nela previstas. Ela surgiu como uma necessidade
constitucional, após a criação da Justiça do Trabalho.

Durante essas reformas começou a nova relação do trabalho juntamente com


suas modernizações onde foi desenvolvido a adoção de arranjos
aparentemente corriqueiros, como o home office e jornadas de trabalho mais
flexíveis, que antes esbarravam na rigidez da lei, se tornaram mais comuns, a
reforma trabalhista prestigiou a negociação coletiva, consagrada na
Constituição de 1988, como principal instrumento para ajustes e soluções
pactuadas entre empregadores e trabalhadores nas relações do trabalho, ao
permitir, expressamente, a negociação de uma ampla lista de rotinas que
poderão ser negociadas – ao mesmo tempo em que reforçou a proteção aos
direitos constitucionais, a Lei n o 13.467/17 buscou atender aos anseios do
próprio trabalhador, pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) de
2017 nesse sentido já havia mostrado que a possibilidade de trabalhar em casa
ou em locais alternativos à empresa, conforme a necessidade, era desejo de 8
em cada 10 brasileiros. A nova lei avançou ao estabelecer limites claros para
que o negociado prevaleça ao legislado, dando menos margem a
interpretações subjetivas e preservando, explicitamente, a negociação dos
direitos consagrados na Constituição.

DESENVOLVIMENTO:

O direito à saúde, ao trabalho, à segurança e à previdência social está


previsto no artigo 6º da Constituição da República, dentre os vários direitos
sociais previstos constitucionalmente encontra-se no artigo 196 e seguintes à
saúde, direito fundamental que obriga o Estado na execução de prestações
positivas e na formulação de políticas públicas e econômicas essenciais à sua
promoção. A saúde, como direito universal e igualitário, está vinculada
diretamente ao direito à vida e a proteção à dignidade da pessoa humana.
Sobre o tema, a Lei Orgânica da Saúde (Lei n. 8.080 de 19 de setembro de
1990, discorre que a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo
o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. A
Organização Mundial de Saúde (OMS), organismo sanitário internacional
integrante da Organização das Nações Unidas (ONU), fundada em 07 de abril
de 1948, conceitua a saúde como um estado de completo bem-estar físico,
mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de
enfermidade. Com o passar do tempo, por obvio, tal definição mostrou-se
incompleta, onde o conceito de saúde deveria se afastar do individual e ser
visto em sentido coletivo, ao meio ambiente e às interações sociais, onde a
partir do século XX o direito à saúde se torna reconhecido como fundamental
para os seres humanos. Nesse sentido, o artigo 3º da Lei n. 8.080/90 com
redação dada pela Lei n. 12.864 de 24 de setembro de 2013, define a saúde
em toda sua amplitude, através do conceito supra, evidencia-se uma
correlação entre o direito à saúde e outros direitos fundamentais juridicamente
protegidos, entre eles, o direito ao meio ambiente do trabalho em condições
salubres, entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto
de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e
vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim
como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores
submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, a
definição de saúde do trabalhador, insculpida no artigo 6º, §3º da Lei Orgânica
da Saúde (Lei n. 8.080/90).

A Constituição Federal, artigo 7º, inciso XXII, estipula como direito social
fundamental dos trabalhadores um meio ambiente sadio e seguro, que vise à
melhoria de sua condição social, redução dos riscos inerentes ao trabalho, por
meio de saúde, higiene e segurança. Além disso, a Carta Magna através do
artigo 200, inciso II e VIII, estabelece o dever do Sistema Único de Saúde –
SUS – de executar as ações relativas à saúde do trabalhador e de colaborar na
proteção do meio ambiente do trabalho, diante desse prisma, o meio ambiente
do trabalho adequado e seguro não é simplesmente uma garantia do
trabalhador, e sim um direito fundamental, já que é impossível alcançar
qualidade de vida sem ter qualidade no trabalho. O ambiente laboral é local
onde o indivíduo passa a maior parte de seu tempo e, portanto, influenciará
diretamente em sua qualidade de vida. Assim, para a efetivação de um meio
ambiente saudável e seguro, a legislação infraconstitucional disciplinou várias
normas de prevenção à saúde do trabalhador. A Consolidação das Leis do
Trabalho recepcionada pela Constituição Federal de 1988 trata no Capítulo V
da Segurança e Medicina do Trabalho, dentre os dispositivos legais insertos,
destacam-se a fiscalização e aplicação das penalidades pelas Delegacias
Regionais do Trabalho (art. 156) obrigação das empresas de cumprir as
normas de segurança e medicina do trabalho (art. 157) obrigação dos
empregados de cumprimento as normas ambientais laborais, obrigação da
inspeção do estabelecimento antes de seu funcionamento (art. 158) interdição
do estabelecimento, setor de serviço, máquina ou equipamento ou ainda
embargo da obra diante da existência de risco grave e iminente ao trabalhador,
o que representa uma das mais efetivas formas de prevenção ao meio
ambiente do trabalho e da saúde do trabalhador.

Entende-se por Normas Regulamentadoras a regulação das relações


individuais e coletivas de trabalho onde são elaboradas ou modificadas por
comissões tripartites específicas compostas por representantes do governo,
empregadores e trabalhadores, sendo de observância obrigatória por todas as
empresas brasileiras regidas pela CLT. Dispostas em trinta e seis regras que
tratam da Medicina e Segurança do Trabalho, destaca-se à NR-6 que obriga o
empregador ao fornecimento dos Equipamentos de Proteção Individual
destinados a proteção contra os riscos capazes de ameaçar a segurança e a
saúde do trabalhador. Já no plano internacional, a Organização Internacional
do Trabalho (OIT), fundada em 1919, é a única agência das Nações Unidas
com estrutura tripartite, representada pelo governo, organizações de
empregadores e de trabalhadores dos 187 Estados-membros, tendo como
objetivo promover oportunidades para que homens e mulheres tenham acesso
a um trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade,
segurança e dignidade, as principais Convenções da OIT que tratam sobre a
proteção da saúde e do meio ambiente do trabalho são: Convenção n. 148,
acerca da proteção dos trabalhadores contra os riscos devidos à contaminação
do ar, ao ruído e às vibrações no local de trabalho, ratificada pelo Brasil pelo
Decreto nº 93.413/86; Convenção n. 155, a respeito da segurança e saúde dos
trabalhadores e meio ambiente de trabalho ratificada pelo Brasil pelo Decreto
n° 1.254/94; e Convenção n. 161, relativa aos serviços de saúde do trabalho,
em vigor no Brasil desde 18 de maio de 91, pelo Decreto n. 127/91.

A previsão da responsabilidade objetiva deu origem a várias teorias para


explicar o que seria atividade de risco. Entre as principais, a doutrina adotou
algumas concepções, citam-se as teorias do risco-proveito, do risco-criado e do
risco da atividade, a saber:

 Teoria do risco-proveito: a atividade econômica desenvolvida deve gerar


riqueza ao empregador devendo ser responsabilizado pelos danos causados
relativos à exploração da atividade, independente da culpa ou dolo.

 Teoria do risco-criado: qualquer atividade ou ato humano que possa gerar


danos aos demais, independe do aspecto econômico ou profissional surge a
obrigação de indenizar, necessitando o trabalhador apenas provar o dano e o
nexo de causalidade com a atividade, sendo uma perspectiva mais favorável
ao trabalhador na sua qualidade de hipossuficiente face o empregador.

 Teoria do risco da atividade: a atividade profissional desempenhada pelo


agente causador do dano cria riscos diretos a terceiros, 10 independentemente
da sua culpabilidade (vontade ou não de lesar a outrem). Deste modo, a teoria
do risco baseia-se no dever de indenizar decorrente do prejuízo ocasionado no
desempenho das atividades laborativas, independentemente da comprovação
do dolo ou culpa.
CONCLUSÃO:

Por fim, para chegar ao debate da Reforma Trabalhista no âmbito do


trabalhador, fez-se uma análise do art. 6º, caput e parágrafo único, da CLT,
com redação conferida pela Lei nº 12.551/2011, cuja previsão já possibilitava
atribuir subordinação jurídica ao trabalho realizado através de meios
telemáticos e informatizados, já no meio ambiente de trabalho, integrante do
sistema de proteção ambiental da Constituição da República é caracterizado
como o conjunto de fatores e bens materiais e imateriais, físicos e psicológicos
que envolvem o contrato laboral, o empregador possui a obrigação natural,
decorrente do próprio contrato de trabalho, de oferecer condições mínimas de
trabalho aos seus empregados e zelar para que as mesmas sejam mantidas.
Como a proteção do meio ambiente do trabalho é um direito humano
fundamental, o seu descumprimento e os danos causados à saúde do
trabalhador, deve o empregador responder civilmente por danos materiais,
morais e estéticos, tais considerações apontam para os riscos do
empreendimento, que pertencem exclusivamente ao empregador e, se este
viola o meio ambiente do trabalho e expõe a risco seu empregado, deve ser
responsabilizado, por se tratar de um dever inerente à própria atividade
desenvolvida, não podendo esquivar-se mesmo quando não agir de forma
culposa. Com vistas aos argumentos apresentados, independentemente da
teoria a ser escolhida pelo aplicador do Direito para responsabilizar o
empregador, deve prevalecer a intenção da norma em proteger os direitos
fundamentais à vida e a saúde do trabalhador, na busca de efetivar os fins
sociais previstos pela Constituição da República Federativa do Brasil.

REFERÊNCIAS:

BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição: fundamentos de


uma dogmática constitucional transformadora. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em: Acesso em 26 nov. 2018.

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em: . Acesso em 26 nov. 2018.

SCHWARTZ, G. Direito à saúde: efetivação em uma perspectiva sistêmica. Livraria do


Advogado, 2001

SOUZA JÚNIOR, A. U. S. et al. Reforma Trabalhista: análise comparativa e crítica da


Lei nº 13.467/2017. São Paulo: Riddel, 2017.

ESTEVES, Juliana Teixeira; CONSENTINO FILHO. O teletrabalho na lei n. 13.467/17


(reforma trabalhista): uma regulamentação em desacordo com as evidências empíricas.
In: Rocha, Cláudio Jannotti; MELO, Raimundo Simão (Orgs.). Constitucionalismo,
trabalho, seguridade social e as reformas trabalhista e previdenciária. São Paulo: LTr,
2017.

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