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APOSTILA

O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO

Abelardo da Silva Melo Junior

João Pessoa – PB
O Ambiente e as Doenças do Trabalho - Curso de Engenharia de Segurança do Trabalho 1

CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO

1.1- História da segurança do trabalho no mundo

Dentro das perspectivas dos direitos fundamentais do trabalhador em usufruir de uma


boa e saudável qualidade de vida, na medida em que não se podem dissociar os direitos
humanos e a qualidade de vida verifica-se, gradativamente, a grande preocupação com as
condições do trabalho. A primazia dos meios de produção em detrimento da própria saúde
humana é fato que, infelizmente, vem sendo experimentado ao longo da história da sociedade
moderna. É possível conciliar economia e saúde no trabalho. As doenças aparentemente
modernas (stress, neuroses e as lesões por esforços repetitivos), já há séculos vêm sendo
diagnosticadas.
A informação mais antiga sobre a preocupação com a segurança do trabalho está
registrada num documento egípcio. O papiro Anastacius V fala da preservação da saúde e da
vida do trabalhador e descreve as condições de trabalho de um pedreiro. Também no Egito, no
ano 2360 a.C., uma insurreição geral dos trabalhadores, deflagrada nas minas de cobre,
evidenciou ao faraó a necessidade de melhorar as condições de vida dos escravos.
O Império Romano aprofundou o estudo da proteção médico-legal dos trabalhadores e
elaborou leis para sua garantia. Os pioneiros do estabelecimento de medidas de prevenção de
acidentes foram Plínio e Rotário, que pela primeira vez recomendaram o uso de máscaras para
evitar que os trabalhadores respirassem poeiras metálicas.
Os problemas relacionados com a saúde intensificam-se a partir da Revolução Industrial.
As doenças do trabalho aumentam em proporção a evolução e a potencialização dos meios de
produção, com as deploráveis condições de trabalho e da vida das cidades.
As primeiras ordenações aos fabricantes para a adoção de medidas de higiene do
trabalho datam da Idade Média. Os levantamentos das doenças profissionais, promovidos
pelas associações de trabalhadores medievais, tiveram grande influência sobre a segurança do
trabalho no Renascimento. Nesse período, destacaram-se Samuel Stockausen como pioneiro
da inspeção médica no trabalho e Bernardino Ramazzini como sistematizador de todos os
conhecimentos acumulados sobre segurança, que os transmitiu aos responsáveis pelo bem-
estar social dos trabalhadores da época na obra intitulada De morbis artificum diatriba (1760;
Sobre as doenças dos trabalhadores).
Em 1779, a Academia de Medicina da França já fazia constar em seus anais um trabalho
sobre as causas e prevenção de acidentes. Em Milão, Pietro Verri fundou, no mesmo ano, a
primeira sociedade filantrópica, visando ao bem-estar do trabalhador. A revolução industrial
criou a necessidade de preservar o potencial humano como forma de garantir a produção. A
sistematização dos procedimentos preventivos ocorreu primeiro nos Estados Unidos, no início
do século XX. Na África, Ásia, Austrália e América Latina os comitês de segurança e higiene
nasceram logo após a fundação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1919.
Nesse ano, a OIT, com o advento do Tratado de Versalhes, objetivando uniformizar as
questões trabalhistas, a superação das condições subumanas do trabalho e o desenvolvimento
econômico, adota seis convenções destinadas à proteção da saúde e à integridade física dos
trabalhadores (limitação da jornada de trabalho, proteção à maternidade, trabalho noturno para
mulheres, idade mínima para admissão de crianças e o trabalho noturno para menores). Até os
dias atuais diversas ações foram implementadas envolvendo a qualidade de vida do trabalho,
buscando intervir diretamente nas causas e não apenas nos efeitos a que estão expostos os
trabalhadores.
Em 1919, por meio do Decreto Legislativo nº 3.724, de 15 de janeiro de 1919,
implantaram-se serviços de medicina ocupacional, com a fiscalização das condições de
trabalho nas fábricas. Com o advento da Segunda Guerra Mundial despertou-se uma nova

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mentalidade humanitária, na busca de paz e estabilidade social.


Finda a Segunda Guerra Mundial, é assinada a Carta das Nações Unidas, em São
Francisco, em 26 de junho de 1945, que estabelece nova ordem na busca da preservação,
progresso social e melhores condições de vida das futuras gerações.
Em 1948, com a criação da OMS - Organização Mundial da Saúde, estabelece-se o
conceito de que a “saúde é o completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a
ausência de afecções ou enfermidades” e que “o gozo do grau máximo de saúde que se pode
alcançar é um dos direitos fundamentais de todo ser humano..”
Em 10 de dezembro de 1948, a Assembléia Geral das Nações Unidas, aprova a
Declaração Universal dos Direitos Humanos do Homem, que se constitui uma fonte de
princípios na aplicação das normas jurídicas, que assegura ao trabalhador o direito ao trabalho,
à livre escolha de emprego, as condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra
ao desemprego; o direito ao repouso e ao lazer, limitação de horas de trabalho, férias
periódicas remuneradas, além de padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde
e bem-estar.
Contudo, a reconstrução pós-guerra induz a sérios problemas de acidentes e doenças
que repercutem nas atividades empresariais, tanto no que se refere às indenizações
acidentárias, quanto ao custo pelo afastamento de empregados doentes. Impunha-se a criação
de novos métodos de intervenção das causas de doenças e dos acidentes, recorrendo se à
participação interprofissional. Em 1949, a Inglaterra pesquisa a ergonomia, que objetiva a
organização do trabalho em vista da realidade do meio ambiente laboral adequar-se ao
homem.
Em 1952, com a fundação da Comunidade Européia do Carvão e do Aço - CECA, as
questões voltaram-se para a segurança e medicina do trabalho nos setores de carvão e aço,
que até hoje estimula e financia projetos no setor.
Na década de 60 inicia-se um movimento social renovado, revigorado e redimensionado
marcado pelo questionamento do sentido da vida, o valor da liberdade, o significado do
trabalho na vida, o uso do corpo, notadamente nos países industrializados como a Alemanha,
França, Inglaterra, Estados Unidos e Itália.
Na Itália, a empresa Farmitália, iniciou um processo de conscientização dos operários
quanto à nocividade dos produtos químicos e dos técnicos para a detecção dos problemas. A
FIAT reorganiza as condições de trabalho nas fábricas, modificando as formas de participação
da classe operária.

1.2- História do prevencionismo no Brasil

A industrialização do Brasil é lenta e a passagem do artesanato à indústria é demorada.


Traçando um pequeno histórico da legislação trabalhista brasileira, destacamos:
Em 15 de janeiro de 1919 é promulgada a primeira Lei nº 3724 sobre Acidente de
trabalho, já com o conceito do risco profissional. Esta mesma Lei é alterada em 5 de março do
mesmo ano pelo Decreto 13.493 e em 10 de julho de 1934, pelo Decreto 24.637. Em 10 de
novembro de 1944, é revogada pelo Decreto Lei 7.036 que dá às autoridades do Ministério do
Trabalho a incumbência de Fiscalizar a Lei dos Acidentes do Trabalho.
Em 01 de Maio de 1943 houve a publicação do Decreto Lei 5.452 que aprovou a CLT,
Consolidação das Leis do Trabalho, cujo capítulo V refere-se a Segurança e Medicina do
Trabalho.
Em 1953 a Portaria 155 regulamenta e organiza as CIPA´s e estabelece normas para seu
funcionamento.
A Portaria 319 de 30.12.60 regulamenta a uso dos EPI´s.

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Em 28 de Fevereiro de 1967 o Decreto Lei 7036 foi revogado pelo Decreto Lei n.º 293.
A Lei 5.136 – Lei de Acidente de Trabalho – surge em 14 de Setembro de 1967.
Em 1968 a Portaria 32 fixa as condições para organização e funcionamento das CIPA´s
nas Empresas.
Em 1972 a Portaria 3.237 determina obrigatoriedade do serviço Especializado de
Segurança do Trabalho.
Em 22 de Dezembro de 1977 é aprovada a Lei 6.514 que modifica o Capítulo V da CLT.
Em 08 de Junho de 1978 a Lei 6.514 é regulamentada pela Portaria 3.214.
Em 27 de Novembro de 1985 a Lei 7.140 – dispõe sobre a Especialização de
Engenheiros e Arquitetos em Engenheiro de Segurança.
Em 17 de Março de 1985 a Portaria 05 constitui a Comissão Nacional de Representantes
de Trabalhadores para Assuntos de Segurança do Trabalho.
Em 1973 a Lei 5.889 e Portaria 3.067 de 12 de Abril de 1988 aprovam as Normas
Regulamentadoras Rurais relativas à Segurança do Trabalho.
Em 05 de Outubro de 1988 a Constituição do Brasil nas Disposições Transitórias Art. 10
item II, garante aos membros da CIPA a garantia do emprego.
No início da década de 70, o Brasil é o detentor do título de campeão mundial de
acidentes. E, em 1977, o legislador dedica no texto da CLT - Consolidação das Leis do
Trabalho, por sua reconhecida importância Social, capítulo específico à Segurança e Medicina
do Trabalho. Trata-se do Capítulo V, Título II, artigos 154 a 201, com redação da Lei nº
6.514/77.
O Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da Secretaria de Segurança e Saúde no
Trabalho, hoje denominado Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho, regulamenta os
artigos contidos na CLT por meio da Portaria nº 3.214/78, criando vinte e oito Normas
Regulamentadoras - NRs. Com a publicação da Portaria nº 3214/78 se estabelece a concepção
de saúde ocupacional.
Em 1979, a Comissão Intersindical de Saúde do Trabalhador, promove a Semana de
Saúde do Trabalhador com enorme sucesso e em 1980 essa comissão de transforma no
Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes do Trabalho.
Os eventos dos anos seguintes enfatizaram a eliminação do risco de acidentes, da
insalubridade ao lado do movimento das campanhas salariais. Os diversos Sindicatos dos
Trabalhadores, como o das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas, tiveram fundamental
importância denunciando as condições inseguras e indignas observadas no trabalho.
Com a Constituição de 1988 nasce o marco principal da etapa de saúde do trabalhador
no nosso ordenamento jurídico. Está garantida a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por
meio de normas de saúde, higiene e segurança. E, ratificadas as Convenções 155 e 161 da
OIT, que também regulamentam ações para a preservação da Saúde e dos Serviços de Saúde
do Trabalhador. As conquistas, pouco a pouco, vêm introduzindo novas mentalidades,
sedimentando bases sólidas para o pleno exercício do direito que todos devem ter à saúde e
ao trabalho protegido de riscos ou das condições perigosas e insalubres que põem em risco a
vida, a saúde física e mental do trabalhador.
A proteção à saúde do trabalhador fundamenta-se, constitucionalmente, na tutela “da
vida com dignidade”, e tem como objetivo primordial a redução do risco de doença, como
exemplifica o art. 7º, inciso XXII, e também o art. 200, inciso VIII, que protege o meio ambiente
do trabalho, além do art. 193, que determina que “a ordem social tem como base o primado do
trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais”. Posteriormente, o Ministério do
Trabalho, por meio da Portaria nº 3.067, de 12.04.88, aprovou as cinco Normas
Regulamentadoras Rurais vigentes. A Portaria SSST nº 53, de 17.12.97, aprovou a NR 29 -

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Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Portuário.


Atuando de forma tripartite o Ministério do Trabalho e Emprego, divulga para consulta
pública a Portaria SIT/ SST nº 19 de 08.08.01, publicada no DOU de 13.08.01, para a criação
da NR nº 30 - Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário.
E, em 06.11.02 foi publicada no DOU a Portaria nº 30, de 22.10.02, da Secretaria de
Inspeção do Trabalho, do MTE, divulgando para consulta pública proposta de texto de criação
da Norma Regulamentadora Nº 31 - Segurança e Saúde nos Trabalhos em Espaços
Confinados.
Os problemas referentes à segurança, à saúde, ao meio ambiente e à qualidade de vida
no trabalho vêm ganhando importância no Governo, nas entidades empresariais, nas centrais
sindicais e na sociedade como um todo. O Ministério do Trabalho e Emprego tem como meta a
redução de 40% nos números de acidentes do trabalho no País até 2003.
Propostas para construir um Brasil moderno e competitivo, com menor número de
acidentes e doenças de trabalho, com progresso social na agricultura, na indústria, no
comércio e nos serviços, devem ser apoiadas. Para isso deve haver a conjunção de esforços
de todos os setores da sociedade e a conscientização na aplicação de programas de saúde e
segurança no trabalho. Trabalhador saudável e qualificado representa produtividade no
mercado globalizado.

1.3- A Medicina do Trabalho

Medicina do trabalho ou medicina ocupacional é uma especialidade médica que se ocupa


da promoção e preservação da saúde do trabalhador. O médico do trabalho avalia a
capacidade do candidato a determinado trabalho e realiza reavaliações periódicas de sua
saúde dando ênfase aos riscos ocupacionais aos quais este trabalhador trabalha exposto.
Já segurança e saúde ocupacional é uma área multidisciplinar relacionada com a
segurança, saúde e qualidade de vida de pessoas no trabalho ou no emprego. Como efeito
secundário a segurança e saúde ocupacional também protege empregados, clientes,
fornecedores e público em geral que possam ser afetados pelo ambiente de trabalho.

1.3.1- A Medicina do Trabalho: Suas Origens e Campo de Atuação:

Apesar das relações Trabalho, Saúde e Doença dos trabalhadores serem reconhecidas
desde os primórdios da história humana registrada, estando expressa em obras de artistas
plásticos, historiadores, filósofos e escritores, é relativamente recente uma produção mais
sistemática sobre o tema.
Bernardino Ramazzini, médico italiano nascido em Módena em 1633, é considerado o
Pai da Medicina do Trabalho pela contribuição de seu livro: “As Doenças dos Trabalhadores”,
publicado em 1700 e traduzido para o português pelo Dr. Raimundo Estrêla. Nele o autor
relaciona 54 profissões e descreve os principais problemas de saúde apresentados pelos
trabalhadores, chamando a atenção para a necessidade dos médicos conhecerem a ocupação,
atual e pregressa, de seus pacientes, para fazer o diagnóstico correto e adotar os
procedimentos adequados.
A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no século XVIII desencadeando
transformações radicais na forma de produzir e de viver das pessoas e portanto de seu
adoecer e morrer, deu novo impulso à Medicina do Trabalho. Desde então, acompanhando as
mudanças e exigências dos processos produtivos, e dos movimentos sociais, suas práticas têm
se transformado, incorporando novos enfoques e instrumentos de trabalho, em uma
perspectiva interdisciplinar, delimitando o campo da Saúde Ocupacional e mais recentemente,
da Saúde dos Trabalhadores.

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A Medicina do Trabalho pode ser definida como a especialidade médica que lida com as
relações entre a saúde dos homens e mulheres trabalhadores e seu trabalho, visando não
somente a prevenção das doenças e dos acidentes do trabalho, mas a promoção da saúde e
da qualidade de vida, através de ações articuladas capazes de assegurar a saúde individual,
nas dimensões física e mental, e de propiciar uma saudável inter-relação das pessoas e destas
com seu ambiente social, particularmente, no trabalho.
O campo de atuação da Medicina do Trabalho é amplo, extrapolando o âmbito tradicional
da prática médica. De modo esquemático, pode-se dizer que o exercício da especialidade tem
como campo preferencial:
• os espaços do trabalho ou da produção - as empresas - (que na atualidade tem
contornos cada vez mais fluidos), como empregado nos Serviços Especializados de
Engenharia de Segurança e de Medicina do Trabalho (SESMT); como prestador de serviços
técnicos, elaboração do PCMSO; ou de consultoria;
• na normalização e fiscalização das condições de saúde e segurança no trabalho
desenvolvida pelo Ministério do Trabalho;
• a rede pública de serviços de saúde, no desenvolvimento das ações de saúde do
trabalhador;
• a assessoria sindical em saúde do trabalhador, nas organizações de trabalhadores e de
empregadores;
• a Perícia Médica da Previdência Social, enquanto seguradora do Acidente do Trabalho
(SAT). (Na perspectiva da privatização do SAT, este campo deverá ser ampliado);
• a atuação junto ao Sistema Judiciário, como perito judicial em processos trabalhistas,
ações cíveis e ações da Promotoria Pública;
• a atividade docente na formação e capacitação profissional;
• a atividade de investigação no campo das relações Saúde e Trabalho, nas instituições
de Pesquisa;
• consultoria privada no campo da Saúde e Segurança no Trabalho.
A descrição das possibilidades de inserção ou do exercício profissional para os Médicos
do Trabalho define, por si, as subespecialidades e as exigências diferenciadas que se colocam
nas várias inserções. Para além do substrato comum de capacitação técnica, desenham-se
distintos perfis e habilidades especificas que são requeridas dos Médicos do Trabalho,
dependendo da inserção profissional particular.
Para o exercício da Medicina do Trabalho é importante que o profissional tenha uma boa
formação em Clínica Médica e domine os conceitos e as ferramentas da Saúde Pública. Além
disto, o Médico do Trabalho deverá estar sintonizado com os acontecimentos no mundo do
trabalho”, em seus aspectos sociológicos, políticos, tecnológicos, demográficos, entre outros.

1.3.2- Descrição sumária da atividade

Realizam consultas e atendimentos médicos; tratam pacientes e clientes; implementam


ações para promoção da saúde; coordenam programas e serviços em saúde, efetuam perícias,
auditorias e sindicâncias médicas; elaboram documentos e difundem conhecimentos da área
médica.

1.3.3- Condições gerais de exercício

Os profissionais dessa família ocupacional exercem suas funções em setores cujas


atividades referem-se a saúde e serviços sociais, ensino, pesquisa e desenvolvimento. De
modo geral atuam por conta própria, na condição de autônomos; trabalham sem supervisão;
organizam-se individualmente e em equipe de trabalho; desenvolvem as atividades em
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ambientes fechados, em horários de trabalho irregulares. Podem trabalhar em posições


desconfortáveis durante longos períodos e, devido à natureza e nível de responsabilidade
próprio da função, podem estar sujeitos a estresse constante. Em algumas ocupações os
profissionais podem estar sujeitos a ação de materiais tóxicos, radioativos e biológicos.

1.3.4- Formação e experiência

Essas ocupações são exercidas por profissionais com formação superior em Medicina,
credenciados pelo Conselho Regional de Medicina (CRM). O exercício pleno das funções se dá
após o período de um a dois anos de experiência profissional.

1.3.5- Atribuições

São atribuições dos médicos que exercem a Medicina do Trabalho:

a) Conhecer os processos produtivos e ambientes de trabalho da empresa atuando com


vistas essencialmente à promoção da saúde e prevenção de doença, identificando os riscos
existentes no ambiente de trabalho (físicos, químicos, biológicos ou outros), atuando junto à
empresa para eliminar ou atenuar a nocividade dos processos de produção e organização do
trabalho.
b) Avaliar o trabalhador e a sua condição de saúde para determinadas funções e/ou
ambientes, procurando ajustar o trabalho ao trabalhador; indicando sua alocação para
trabalhos compatíveis com sua situação de saúde, orientando-o, se necessário, no referido
processo de adaptação.
c) Reconhecer que existem necessidades especiais determinadas por fatores tais como
sexo, idade,condição fisiológica, aspectos sociais, barreiras de comunicação e outros fatores,
que condicionam o potencial de trabalho.
d) Comunicar, de forma objetiva, a comunidade científica, assim como as autoridades de
Saúde e do Trabalho, sobre achados de novos riscos ocupacionais, suspeitos ou confirmados.
e) Dar conhecimento, formalmente, aos empresários, comissões de saúde e CIPAs dos
riscos existentes no ambiente de trabalho, bem como dos outros informes técnicos no interesse
da saúde do trabalhador, considerando-se que a eliminação ou atenuação de agentes
agressivos é da responsabilidade da empresa

1.3.6- A Formação do médico do trabalho: Competências

As responsabilidades da atenção à saúde dos trabalhadores são compartilhadas por


todos os profissionais de saúde que atendem os trabalhadores, que demandam os serviços de
saúde, nos diversos níveis de organização e complexidade.
Sobre isto, a recente Resolução 1.488/98 do Conselho Federal de Medicina, de 11 de
fevereiro de 1998, estabelece diretrizes para os procedimentos profissionais e éticos a serem
cumpridas por todos os médicos que atendem trabalhadores, independentemente de sua
especialidade. Para tanto os profissionais deverão ter adquirido no seu processo de formação,
na graduação médica, algumas competências mínimas que permitam entender as relações
entre o trabalho e a saúde dos trabalhadores; obter uma história da exposição ambiental /
ocupacional de seu paciente; reconhecer sinais, sintomas das doenças relacionadas ao
trabalho, aspectos da epidemiologia e as fontes de exposição relacionados com os agentes
ambientais e ocupacionais mais comuns; conhecer as fontes de informação, os recursos
clínicos e laboratoriais necessários para o esclarecimento diagnóstico e estabelecimento das
condutas médicas adequadas, bem como dos procedimentos legais e previdenciários
pertinentes.

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Para o exercício da Medicina do Trabalho, enquanto especialidade, espera-se que além


dessas competência mínimas, o profissional médico seja capaz de:
• realizar exames de avaliação da saúde dos trabalhadores (admissionais, periódicos,
demissionais), incluindo a história médica, história ocupacional, avaliação clínica e laboratorial,
avaliação das demandas profissiográficas e cumprimento dos requisitos legais vigentes
(Ministério do Trabalho (NR-7); Ministério da Saúde — SUS; Conselhos Federal/Estadual de
Medicina, etc.);
• diagnosticar e tratar as doenças e acidentes relacionados com o trabalho, incluindo as
providências para reabilitação física e profissional;
• prover atenção médica de emergência, na ocorrência de agravos à saúde não
necessariamente relacionados ao trabalho;
• identificar os principais fatores de risco presentes no ambiente de trabalho decorrentes
do processo de trabalho e das formas de organização do trabalho e as principais
conseqüências ou danos para a saúde dos trabalhadores;
• identificar as principais medidas de prevenção e controle dos fatores de risco presentes
nos ambientes e condições de trabalho, inclusive a correta indicação e limites do uso dos
equipamentos de proteção individual (EPI);
• implementar atividades educativas junto aos trabalhadores e empregadores;
• participar da inspeção e avaliação das condições de trabalho com vistas ao seu controle
e à prevenção dos danos para a saúde dos trabalhadores;
• avaliar e opinar sobre o potencial tóxico de risco ou perigo para a saúde, de produtos
químicos mal conhecidos ou insuficientemente avaliados quanto à sua toxicidade;
• interpretar e cumprir normas técnicas e os regulamentos legais, colaborando, sempre
que possível, com os órgãos governamentais, no desenvolvimento e aperfeiçoamento dessas
normas;
• planejar e implantar ações para situações de desastres ou acidentes de grandes
proporções;
• participar da implementação de programas de reabilitação de trabalhadores com
dependência química;
• gerenciar as informações estatísticas e epidemiológicas relativas à mortalidade,
morbidade, incapacidade para o trabalho, para fins da vigilância da saúde e do planejamento,
implementação e avaliação de programas de saúde;
• planejar e implementar outras atividades de promoção da saúde, priorizando o enfoque
dos fatores de risco relacionados ao trabalho.

1.3.7- O reconhecimento da Medicina do Trabalho enquanto especialidade:

Segundo estabelecido pelo Ministério do Trabalho, na Norma Regulamentadora Nº 4, da


Portaria 3.214/78, são considerados Médicos do Trabalho “os médicos portadores de
certificado de conclusão de curso de especialização em Medicina do Trabalho, em nível de
pós-graduação, ou portador de certificado de Residência Médica em área de concentração em
Saúde do Trabalhador ou denominação equivalente, reconhecida pela Comissão Nacional de
Residência Médica, do Ministério da Educação, ambos ministrados por universidade ou
faculdade que mantenha curso de graduação em Medicina”.
Esta é, portanto, a exigência de titulação a ser preenchida pelos Médicos do Trabalho
que pretendem desenvolver atividades exigidas e passíveis de serem fiscalizadas pelo
Ministério do Trabalho.

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Outra instância de reconhecimento e registro profissional é representada pelo Conselho


Regional de Medicina, que faz a anotação na Carteira de Médico, da especialidade
comprovada pelo profissional. Na atualidade, para este procedimento tem sido adotado o
mesmo critério estabelecido na Norma do Ministério do Trabalho referida acima.
A Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) é a entidade de âmbito
nacional, de caráter científico e profissional, que congrega os Médicos do Trabalho tendo como
finalidades a defesa da saúde do trabalhador, o aprimoramento e a divulgação científica e a
defesa e valorização profissional, nos termos do Código de Ética Médica. Em nível
internacional, a ANAMT está vinculada à International Commission on Occupational Health —
ICOH.
De acordo com as normas para concessão de Titulo de Especialista definidas pela
Associação Médica Brasileira, a ANAMT concede o Titulo de Especialista em Medicina do
Trabalho aos profissionais que se submetem e são aprovados no processo de certificação,
geralmente constituído por uma prova de conhecimento e julgamento de títulos, realizada por
ocasião dos Congressos da Especialidade, a cada três anos.

1.3.8- Relacionamento com outras especialidades

E bem conhecida a natureza interdisciplinar e multiprofissional da saúde dos


trabalhadores. Assim, os Médicos do Trabalho têm a necessidade de aprender a se relacionar
bem com os colegas das demais especialidades médicas que têm interfaces com a Medicina
do Trabalho (praticamente todas, mas particularmente, a Dermatologia, a Pneumologia, a
Reumatologia, a Ortopedia, a Otorrinolaringologia, a Psiquiatria). São também muito próximas
as relações e inter-faces com outros profissionais da empresa responsáveis pela Saúde e
Segurança dos trabalhadores: como os engenheiros de segurança do trabalho, enfermeiros do
trabalho, ergonomistas, higienistas ocupacionais, psicólogos, fonoaudiólogos, engenheiros de
produção, administradores de Recursos Humanos, assistentes sociais, advogados, Juizes do
Trabalho, Promotores Públicos, entre outros.
Um capitulo importante da prática da especialidade refere-se às relações
interinstitucionais. Qualquer que seja a inserção profissional do médico ele terá que se
relacionar permanentemente com as contrapartes das demais instituições.

1.3.9- Perspectivas atuais

Vivemos um momento de profundas transformações no “mundo do trabalho” que têm


conseqüências importantes para a saúde dos trabalhadores, tanto no plano individual quanto
no coletivo.
Neste contexto, cabe aos profissionais de saúde, aos Médicos do Trabalho em particular,
a tarefa indeclinável de buscar conhecer melhor esta realidade, na perspectiva de reforçar e
ampliar seus efeitos positivos e controlar ou minimizar suas conseqüências adversas para a
saúde e segurança dos trabalhadores.
Entre os desafios que se colocam, no momento, para os profissionais podem ser
destacados:
• a superação da clássica dicotomia: Medicina do Trabalho e Medicina Assistencial, na
direção de uma prática integral. A tendência que se observa é a de que o adoecimento dos
trabalhadores será cada vez menos “profissional”, ou seja, inerente a determinada profissão e
mais relacionado ao trabalho;
• a ampliação do conceito de “ambiente” e “de ambiente do trabalho” em uma perspectiva
mais abrangente, englobando não só o Meio Ambiente, mas os modelos de desenvolvimento;
• A reorientação dos enfoques da Medicina do Trabalho, particularmente nos setores

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produtivos de ponta, na perspectiva dos sistemas integrados de Gestão da Saúde, Segurança


e Meio Ambiente; dos Programas de Qualidade; e de Certificação, trazendo exigências ainda
pouco conhecidas e dominadas pelos profissionais;
• As mudanças no perfil dos trabalhadores, tanto o perfil epidemiológico, já mencionado,
quanto demográfico, com o envelhecimento da força de trabalho e de suas formas de
organização e luta, exigindo dos profissionais que se preparem para a tarefa;
• A agudização dos conflitos decorrentes das relações Capital x Trabalho, que não devem
ser subestimados pelos profissionais, mas se preparar para melhor entendê-los e lidar com
eles.
Convivendo com estes desafios de natureza técnica e ética estão problemas variados
como a fragilidade dos contratos de trabalho, a precarização do trabalho, o aviltamento dos
ganhos que levam os profissionais a assumir inúmeras atividades com evidente sobrecarga
para sua própria saúde, enquanto trabalhador, e à práticas eticamente questionáveis.

1.4- Os exames periódicos de saúde

Os exames periódicos compreendem uma avaliação do estado de saúde dos


trabalhadores de uma empresa para que sejam tomadas as medidas necessárias para a
manutenção ou a recuperação da saúde.
São exames realizados por médicos do trabalho ou por médicos que estejam
familiarizados com as patologias relacionadas ao trabalho que buscam identificar possíveis
alterações causadas pelos riscos inerentes a ocupação. Podem ser realizados bienalmente,
anualmente ou semestralmente, conforme o tipo de atividade desenvolvida pelo trabalhador.
Eles se baseiam nas informações fornecidas pelo trabalhador, no exame físico e muitas
vezes na realização de exames complementares. Em relação aos exames complementares,
eles são solicitados a partir da faixa etária ou da identificação de riscos ocupacionais
específicos. Em geral são exames de sangue, fezes e urina, mas em alguns casos podem ser
necessários também exames para avaliar a audição ou a visão.

1.4.1- Qual o seu objetivo?

O exame médico periódico tem como objetivo principal avaliar as condições gerais de
saúde do trabalhador para que ele possa desempenhar suas funções adequadamente.
Além disso ele pretende buscar, através dos meios disponíveis, a melhor adaptação do
trabalho ao homem e a eliminação ou controle dos riscos existentes no trabalho.
Durante o exame são realizadas orientações para que o servidor não se exponha aos
riscos ou para que seja protegido de forma a não sofrer sua influência. Também serve para
vigilância epidemiológica, ou seja, orienta aos que prestam assistência aos trabalhadores na
ocorrência de mudança do padrão epidemiológico esperado na população em estudo.
Como pode ser observado, o exame periódico faz parte de um conjunto de ações que
visa prevenir o surgimento de doenças ocupacionais através da promoção à saúde e
prevenção de doenças do trabalhador, diminuindo o absenteísmo por motivo de saúde e
proporcionando-lhe melhoria na qualidade de vida e aumento da produtividade.

1.5- O Engenheiro de Segurança no Trabalho

1.5.1- Descrição sumária da atividade

Controlam perdas potenciais e reais de processos, produtos e serviços ao identificar,

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determinar e analisar causas de perdas, estabelecendo plano de ações preventivas e


corretivas.
Desenvolvem, testam e supervisionam sistemas, processos e métodos industriais,
gerenciam atividades de segurança do trabalho e do meio ambiente, planejam
empreendimentos e atividades industriais e coordenam equipes, treinamentos e atividades de
trabalho. Emitem e divulgam documentos técnicos como relatórios, mapas de risco e contratos.

1.5.2- Condições gerais do exercício da profissão

O trabalho é exercido em empresas industriais, principalmente nos ramos de metalurgia,


fabricação de máquinas, equipamentos e veículos automotores, produtos alimentares e refino
de petróleo. Também está presente em empresas de serviços, como as de utilidade pública,
securitárias, dentre outras.
As instituições empregadoras são de diversos portes, públicas ou privadas. Os
profissionais trabalham em equipe, com supervisão ocasional. Eventualmente, em algumas
atividades, podem estar expostos a condições especiais de trabalho, como ruído intenso e
altas temperaturas e trabalho sob pressão.

1.5.3- Formação e experiência

As ocupações da família requerem curso de Engenharia, com registro no CREA, seguido


de cursos de especialização. Na área de processos e métodos, tempos e movimentos, é
comum a formação em engenharia de produção ou industrial. É cada vez mais freqüente a
presença de profissionais com pós-graduação. O exercício pleno da atividade se dá, em média,
após quatro anos de exercício profissional.

1.5.4- Atribuições

São atribuições dos Engenheiros de Segurança do Trabalho (Resolução nº 359 de


31/07/1991:
a - Supervisionar, coordenar e orientar tecnicamente os serviços de Engenharia de
Segurança do Trabalho;
b - Estudar as condições de segurança dos locais de trabalho e das instalações e
equipamentos, com vistas especialmente aos problemas de controle de risco, controle de
poluição, higiene do trabalho, ergonomia, proteção contra incêndio e saneamento;
c - Planejar e desenvolver a implantação de técnicas relativas a gerenciamento e controle
de riscos;
d - Vistoriar, avaliar, realizar perícias, arbitrar, emitir parecer, laudos técnicos e indicar
medidas de controle sobre grau de exposição a agentes agressivos de riscos físicos, químicos
e biológicos, tais como poluentes atmosféricos, ruídos, calor, radiação em geral e pressões
anormais, caracterizando as atividades, operações e locais insalubres e perigosos;
e - Analisar riscos, acidentes e falhas, investigando causas, propondo medidas
preventivas e corretivas e orientando trabalhos estatísticos, inclusive com respeito a custo;
f - Propor políticas, programas, normas e regulamentos de Segurança do Trabalho,
zelando pela sua observância;
g - Elaborar projetos de sistemas de segurança e assessorar a elaboração de projetos de
obras, instalação e equipamentos, opinando do ponto de vista da Engenharia de Segurança;
h - Estudar instalações, máquinas e equipamentos, identificando seus pontos de risco e
projetando dispositivos de segurança;

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i - Projetar sistemas de proteção contra incêndios, coordenar atividades de combate a


incêndio e de salvamento e elaborar planos para emergência e catástrofes;
j - Inspecionar locais de trabalho no que se relaciona com a segurança do Trabalho,
delimitando áreas de periculosidade;
k - Especificar, controlar e fiscalizar sistemas de proteção coletiva e equipamentos de
segurança, inclusive os de proteção individual e os de proteção contra incêndio, assegurando-
se de sua qualidade e eficiência;
l - Opinar e participar da especificação para aquisição de substâncias e equipamentos
cuja manipulação, armazenamento, transporte ou funcionamento possam apresentar riscos,
acompanhando o controle do recebimento e da expedição;
m - Elaborar planos destinados a criar e desenvolver a prevenção de acidentes,
promovendo a instalação de comissões e assessorando-lhes o funcionamento;
n - Orientar o treinamento específico de Segurança do Trabalho e assessorar a
elaboração de programas de treinamento geral, no que diz respeito à Segurança do Trabalho;
o - Acompanhar a execução de obras e serviços decorrentes da adoção de medidas de
segurança, quando a complexidade dos trabalhos a executar assim o exigir;
p - Colaborar na fixação de requisitos de aptidão para o exercício de funções, apontando
os riscos decorrentes desses exercícios;
q - Propor medidas preventivas no campo da Segurança do Trabalho, em face do
conhecimento da natureza e gravidade das lesões provenientes do acidente de trabalho,
incluídas as doenças do trabalho;
r - Informar aos trabalhadores e à comunidade, diretamente ou por meio de seus
representantes, as condições que possam trazer danos a sua integridade e as medidas que
eliminam ou atenuam estes riscos e que deverão ser tomadas.

CAPÍTULO 2 - AGENTES AMBIENTAIS

2.1- Introdução

Um local de trabalho seja um escritório, uma fábrica, um banco, deve ser sadio e
agradável. O homem precisa encontrar aí condições capazes de lhe proporcionar o máximo
de proteção e, ao mesmo tempo, satisfação no trabalho.
Neste sentido, o ambiente de trabalho é composto de um conjunto de fatores, que podem
ser agrupados em dois blocos, quais sejam fatores físicos e fatores organizacionais do
ambiente de trabalho. É importante salientar que, não há uma hierarquização de importância,
pois um ambiente de trabalho é, na verdade, produto da contribuição desses diversos fatores.

2.1.1- Agentes físicos

2.1.1.1- Iluminação

Na sociedade moderna as pessoas passam a maior parte do tempo em ambientes


iluminados, parcialmente por aberturas, mas predominantemente iluminado artificialmente.
Desta forma, a maior parte dos ambientes que vemos, seja de trabalho ou não, é iluminado
artificialmente.
Boa iluminação aumenta a produtividade, gera um ambiente mais prazeroso e pode
também salvar vidas. Portanto, garantir a iluminação adequada é uma das principais

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responsabilidades não só dos projetistas, mas também de administradores e autoridades.


Conforto visual, segundo Lamberts et al (1997), é entendido como a existência de um
conjunto de condições, num determinado ambiente, no qual o ser humano pode desenvolver
suas tarefas visuais com o máximo de acuidade (medida da habilidade do olho humano em
discernir detalhes) e precisão visual.

2.1.1.1.1- Fotometria

Iluminação é a aplicação da radiação visível a um objeto. A fotometria realiza medidas de


luz. Essas medidas são essenciais para o projeto e a avaliação dos postos de trabalho.
Apenas uma pequena parte desta energia radiante é percebida pelo olho humano e a
esta faixa chamamos de luz. Esta radiação visível situa-se no espectro entre 0,38 a 0,78m (10-
6 m). O sistema olho-cérebro não somente percebe a radiação dentro desta faixa, mas também
é capaz de descriminar diferentes comprimentos de onda para produzir a sensação de cor.
No que tange a iluminamento, a NR 17 remete à Norma Brasileira (NBR 5413), que trata
apenas das iluminâncias recomendadas nos ambientes de trabalho. O iluminamento adequado
não depende só da quantidade de lux que incide no plano de trabalho.
Depende também da refletância dos materiais, das dimensões do detalhe a ser
observado ou detectado, do contraste com o fundo, dentre outros fatores. Ater-se apenas aos
valores preconizados nas tabelas sem levar em conta as exigências da tarefa pode levar a
projetos de iluminamento totalmente ineficazes.
A situação mais desejada seria aquela em que, além do iluminamento geral, o
trabalhador dispusesse de fontes luminosas individuais nas quais pudesse regular a
intensidade. Iluminar um interior significa projetar e executar uma instalação de maneira que
esta possa iluminar artificialmente ambientes residenciais, comerciais e industriais.

2.1.1.1.2- Leis da iluminação

As leis da iluminação estabelecem relações matemáticas entre as seguintes grandezas


físicas, conforme apresenta a seguir, a Tabela 4: Definição das principais variáveis usadas na
iluminação.

Tabela 4: Definição das principais variáveis usadas em iluminação


Variável Unidade Definição
Luz emitida por uma fonte ou refletida em uma
(I) Intensidade luminosa Candela (cd)
superfície iluminada
(F) Fluxo luminoso Lúmen (lm) Energia luminosa que flui a partir de uma fonte
Lux (lx) Quantidade de luz que incide sobre uma
(E) Iluminamento
Lúmen/m² superfície
Candela/m² Quantidade de luz emitida por uma superfície
(L) Luminância
(cd/m²) e percebida pelo olho humano
Proporção da luz incidente refletida pela
(R) Reflectância (%)
superfície
Fonte: Iida, 2005

Alguns requisitos são necessários para a avaliação do conforto visual de um ambiente,


como:
- Iluminação suficiente;
- Boa distribuição de iluminância;

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- Ausência de ofuscamento;
- Contrastes adequados (equilíbrio de luminância).
As grandezas ou leis da iluminação são as seguintes:
a) Fluxo Radiante e Fluxo luminoso - Fluxo radiante é a potência (em watts) da radiação
eletromagnética emitida ou recebida por um corpo. O fluxo radiante pode conter frações
visíveis e não visíveis e o componente de qualquer fluxo radiante que gera uma resposta visual
é chamado de fluxo luminoso – f, cuja unidade é o Lúmen (lm)
F = E X S = I X 12,57

Onde a constante 12,57 representa a área total de uma esfera (m²) com um metro de raio
no centro da qual se situa a fonte luminosa de intensidade I.
b) Intensidade Luminosa - a luz que se propaga numa dada direção, dentro de um ângulo
sólido unitário, é chamada intensidade luminosa (I), e sua unidade é lúmen/esteradiano ou
candela (cd). O ângulo sólido (w), é uma medida do espaço tridimensional, assim como o
radiano é para o espaço bidimensional.

c) Iluminância - quando a luz emitida por uma fonte atinge uma superfície, esta superfície
será iluminada. Assim, iluminância (E), é a medida da quantidade de luz incidente numa
superfície por unidade de área. Sua unidade é lúmen/m² ou lux (lx).

A iluminância numa superfície também pode ser relacionada com a intensidade da fonte
luminosa pela equação abaixo onde I é a intensidade luminosa da fonte, d é a distância entre a
fonte e a superfície e q é o ângulo formado entre a direção da luz e a normal das superfícies:

d) Luminância - luminância pode ser considerada como uma medida de brilho de uma
superfície. Quando parte da luz incidente numa superfície é refletida, o olho humano deve
observar esta superfície como uma fonte de luz. Assim, luminância (L), é definida como a
intensidade luminosa por unidade de área aparente de uma superfície numa dada direção e
sua unidade no SI é candela/ m² (cd/ m²).

Onde A’ = A. Cos b, A é área real da superfície, b é o ângulo a normal da superfície e a


direção de observação de Ib é a intensidade luminosa na direção considerada. O olho humano
detecta luminância da faixa de um milionésimo de cd/m² até um 1.000.000 (Hum milhão) cd/m²,
um limite máximo, a partir do qual a retina é danificada. O ofuscamento, ou impedimento da
visão, ocorre a partir de 25.000 cd/ m².
e) Contraste – é definido como as diferenças de brilho (luminância) entre os objetos e as
superfícies no campo visual. Alguns autores definem as diferenças de brilho como a razão
entre as luminâncias e até adotam o termo "proporção de contraste”, assim temos:

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Onde: Lo= luminância da superfície e La= luminância do fundo.

2.1.1.1.3- Efeitos fisiológicos da iluminação

Luz é uma radiação visível que pode ser definida como sendo uma radiação
eletromagnética, capaz de produzir uma sensação visual, compreendida em uma faixa de
comprimentos de onda limitados entre 380 e 780 nanômetros. A cada comprimento de onda
entre os limites inferior e superior pode ser associada uma cor. A esta divisão damos o nome
de espectro visível (Tabela 5: Divisão do comprimento de onda do espectro de luz visível).

Tabela 5: Divisão do comprimento de onda do espectro de luz visível

Comprimento de onda Cor

de 380 a 436nm violeta


de 436 a 495nm azul
de 495 a 566nm verde
de 566 a 589nm amarelo
de 589 a 627nm laranja
de 627 a 780nm vermelho
Fonte: Apostila de Ergonomia do MTE, 2001.

O nível de iluminamento interfere diretamente no mecanismo fisiológico da visão e


também na musculatura que comanda os movimentos dos olhos. O olho humano possui dois
tipos de células fotossensíveis: os cones e os bastonetes (Figura 15: Olho humano). Possui
também musculaturas internas para promover mudanças na forma do cristalino e musculaturas
externas, para movimentar os globos oculares.

Figura 15: Olho humano

Existem muitos fatores que influem na capacidade de discriminação visual, como a faixa
etária e as diferenças individuais, mas aqui vamos considerar apenas três fatores julgados
mais importantes e controláveis em nível de projeto dos locais de trabalho, a quantidade de luz,
o tempo de exposição e contraste entre figura e fundo.
- Quantidade de luz: Por multo tempo, os sistemas de iluminação nos ambientes de
trabalho foram dimensionados de modo a poupar, ao máximo possível, a energia elétrica. Os
valores recomendados até a década de 1950 oscilavam em torno de 10 a 50 lux, muito abaixo
dos níveis atualmente utilizados. Hoje, com o desenvolvimento de lâmpadas mais eficientes e o
planejamento de luzes localizadas, as recomendações são para luzes até dez vezes mais

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intensas. A iluminação deficiente e a conseqüente fadiga visual causam 30%, de todos os


acidentes (GRANDJEAN, 1998). Uma fábrica de tratores dos EUA conseguiu reduzir em 32% o
índice de acidentes na linha de montagem, aumentando o nível geral de iluminamento de 50
para 200 lux.
O rendimento visual tende a crescer, a partir de 10 lux, com o logaritmo do iluminamento,
até cerca de 1 000 lux, enquanto a fadiga visual se reduz nessa faixa. A partir desse ponto, os
aumentos do iluminamento não provocam melhoras sensíveis do rendimento, mas a fadiga
visual começa a aumentar. Dessa forma, recomenda-se usar 2.000 lux praticamente como o
máximo. Em alguns casos excepcionais, para montagens ou inspeções de peças pequenas e
complicadas, com pouco contraste, pode-se chegar a 10.000 lux. A Figura 16: Variações da
acuidade visual e da fadiga, apresenta em forma de gráfico esse rendimento.

Figura 16: Variações da acuidade visual e da fadiga (Fonte: Iida, 2005)

- Tempo de exposição: O tempo de exposição, para que um objeto possa ser


discriminado, depende do seu tamanho, contraste e nível de iluminamento. Na maioria dos
casos, é suficiente o tempo de 1 segundo para que haja uma boa discriminação. Se os objetos
forem pequenos e o contraste for baixo, o tempo necessário poderá crescer sensivelmente. Por
exemplo, para objetos pequenos, se o contraste for reduzido de 90 para 50%, o tempo
necessário aumentará em 4 vezes. Os olhos têm dificuldade em fixar os objetos em
movimento. Por exemplo, no caso de inspeção, em que o produto se mote continuamente
numa esteira transportadora, os olhos fazem várias fixações aos "pulos”. Se a velocidade
aumentar, alguns objetos passarão despercebidos, diminuindo a eficiência da inspeção. Nesse
caso, é preferível que os objetos se movam de forma intermitente, em pequenos lotes, de
modo que as fixações visuais se processem sobre os objetos parados.
- Contraste entre figura e fundo: Contraste é a diferença de luminância entre a figura e
fundo. Se não houver esse contraste, a figura ficará camuflada e não será visível, como
acontece, por exemplo, com um urso polar na neve ártica. Numericamente, o contraste é
debando pela expressão:
C = (E1- E0)/E1

Onde: E1 = luminância da figura, E0 = luminância do fundo.


Por exemplo, se o luminância da figura for de 80 e a de fundo 20, o valor de contraste
será C = 60/80 = 0,75. Segundo essa fórmula, o contraste assume valores no intercalo de 0 a
1. O valor zero seria, por exemplo, uma página completamente branca e o valor 1 seria o preto
sobre o branco. Esses valores também podem ser apresentados em termos percentuais,
multiplicando-se a expressão por 100, assim, no exemplo dado, o contraste seria de 75%.
Portanto, o contraste é um conceito relativo e não depende apenas do iluminamento absoluto

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da figura.
0 contraste indica também a proporção adequada de luminância entre a área de trabalho
e o ambiente imediato. A proporção recomendada é de 3:1. Em relação ao ambiente geral,
essa proporção pode ser de 10:1. Dessa forma, não se recomenda o uso de revestimentos
brancos em mesas de trabalho para manipulação de papéis. É preferível usar um tom cinza ou
bege para que a folha branca possa destacar-se sobre o fundo.

2.1.1.1.4- Prevenção da fadiga visual

A fadiga visual é caracterizada pela irritação dos olhos e lacrimejamento. A freqüência do


piscar vai aumentando, a visão torna-se "borrada" e se duplica. Tudo isso diminui a eficiência
visual, Em grau mais avançado, ela provoca dores de cabeça, náuseas, depressão e
irritabilidade emocional. Em conseqüência, há quedas do rendimento e da qualidade do
trabalho.
A fadiga visual ocorre principalmente nos trabalhos que exigem grande concentração
visual, como em microscópios, monitores, inspeção de peças e revisões de texto. Alguns
fatores aumentam a fadiga visual. Incluem-se, ai, a má iluminação e fatores organizacionais,
tais como rigidez das rotinas e longos períodos de trabalho sem pausas.
A fadiga visual é provocada principalmente pelo esgotamento dos pequenos músculos
ligados ao globo ocular, responsáveis pela movimentação, fixação e localização dos olhos.
Raramente referem-se à dificuldade de percepção das células fotossensíveis.
Para evitar a fadiga visual, deve haver um cuidadoso planejamento da iluminação,
assegurando a localização do objeto a partir de uma postura confortável. A luz deve ser
planejada também para não criar sombras, ofuscamento ou reflexos indesejáveis. Além da
iluminação adequada do objeto, a iluminação do fundo deve permitir um descanso visual
durante as pausas e aliviar o mecanismo de acomodação. Recomendam-se pausas
freqüentes, mesmo que sejam de curta duração. Estas podem ser de 5 min a cada 1 hora ou
até mais curtas e mais freqüentes, de 1 min a cada 10 min de trabalho.

2.1.1.2- Temperatura

Temperatura é um parâmetro físico (uma função de estado) descritivo de um sistema que


se associa às noções de frio e calor, bem como às transferências de energia térmica, mas que
se poderia definir, sob um ponto de vista microscópico, como a medida da energia cinética
associada ao movimento (vibração) aleatório das partículas que compõem o um dado sistema
físico.
A transferência da energia térmica, ou calor, entre dois ou mais sistemas, é o que se
chama temperatura. Quando dois sistemas estão na mesma temperatura, eles estão em
equilíbrio térmico e não há transferência de calor. Quando existe uma diferença de
temperatura, o calor será transferido do sistema de temperatura maior para o sistema de
temperatura menor até atingir um novo equilíbrio térmico.
Esse parâmetro físico é um ponto que deve merecer o maior cuidado, quando se busca
criar adequadas condições ambientais de trabalho. A temperatura é diretamente proporcional à
quantidade de energia térmica ou calor num sistema. Quanto mais se junta calor num sistema,
mais a sua temperatura aumenta. Ao contrário, uma perda de calor provoca um abaixamento
da temperatura do sistema. Há temperaturas que nos dão uma sensação de conforto, enquanto
outras se tornam desagradáveis e até prejudiciais à saúde.

2.1.1.2.1- Efeitos fisiológicos do calor

Os seres humanos têm uma grande capacidade de tolerar diferenças climáticas, em

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comparação com outros primatas, devido ao seu corpo sem pelo e a alta capacidade de suas
glândulas sudoríparas. Contudo nem todas as condições climáticas são consideradas
confortáveis ou adequadas a um trabalho eficiente.
O organismo humano, para a manutenção de sua estrutura, consome uma energia
"mínima de repouso" que se traduz por uma "temperatura interna constante". A fim de manter
sua temperatura interna constante o homem, por ser um animal homeotérmico, deve então
comunicar-se com seu meio ambiente.
Sua temperatura corporal interna é mantida constante, a aproximadamente 37°C, por
meio de mecanismos termoregulatórios. Isso faz com que o corpo humano se mantenha
sempre aquecido e pronto para o trabalho, sem depender da temperatura externa, para esse
aquecimento. Em outros animais de sangue frio, como os répteis, a disposição para a atividade
varia em função da temperatura externa.
A temperatura interna do corpo pode oscilar em 37 x 2° C, ou seja, entre 36 a 39° C. Fora
dessa faixa, indica alguma anormalidade. Temperaturas abaixo de 25° C e acima de 42° C
podem tornar-se fatais. Isso é diferente da temperatura superficial da pele, que pode variar em
cada parte do corpo, e também sofrer variações maiores, em contato com a atmosfera externa.
O organismo é uma espécie de máquina térmica, que gera calor continuamente pelo
processo de combustão. Os açúcares, gorduras e proteínas são usadas como combustíveis,
que são “queimados" pelo oxigênio, liberando gás carbônico e água. O calor produzido pelos
processos metabólicos, no interior do corpo, é conservado pelos tecidos isolantes,
principalmente a gordura subcutânea. O excedente é eliminado pelos mecanismos de sudação.
Além disso; o organismo humano realiza continuas trocas de calor com o meio ambiente, pelos
processos de condução, convecção e irradiação. Assim, o organismo mantém o equilíbrio
térmico, que pode ser expresso pela seguinte equação:

S=M-E+R+C-W

- S = calor ganho ou perdido pelo organismo, em certo intervalo de tempo. Com o corpo
em equilíbrio térmico, S = 0.
- M = calor gerado pelos processos metabólicos
- E = calor dissipado pelo suor
- R = calor radiante trocado com o ambiente
- C = calor trocado por condução e convecção com o ambiente
- W = energia gasta no trabalho
As trocas de energia se realizam por:
- Condução: é a propriedade de um corpo transmitir energia calorífica a outro, com o qual
esteja em contato.
- Convecção: trocas por intermédio de um fluido (ar ou água).
- Radiação: troca de calor entre o organismo e o ambiente, que consiste na transmissão
de energia por meio de ondas eletromagnéticas.
- Evaporação: é o mecanismo mais importante do equilíbrio térmico. Quando as
condições de temperatura ambiente atingem um nível tal que a dissipação do calor do corpo,
tanto por radiação como por condução-convecção, não mais atende às necessidades do
organismo, entra em ação o processo de evaporação do suor, que resfriará a superfície do
corpo.

2.1.1.2.2- Conforto térmico

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Segundo Lamberts et al (1997), conforto térmico é um estado de espírito que reflete a


satisfação com o ambiente térmico que envolve a pessoa. Se o balanço de todas as trocas de
calor a que está submetido o corpo humano for nulo e a temperatura da pele e suor estiverem
dentro de certos limites, pode-se dizer que o homem sente conforto térmico.
A primeira condição para o conforto é o equilíbrio térmico, ou seja, a quantidade de calor
ganho pelo organismo deve ser igual à quantidade de calor cedido para o ambiente. Contudo,
ela não é suficiente para se garantir o conforto térmico. O sistema termoregulador do
organismo é capaz de fazer várias combinações entre as variáveis ambientais e individuais,
mas apenas uma estreita faixa dessas variáveis é considerada confortável.
O organismo utiliza vários mecanismos para promover o balanço térmico. Durante o frio,
o organismo pode acelerar o metabolismo para produzir mais calor. Isso ocorre com os
“tremores”, quando a musculatura atua para gerar mais calor. Se o corpo estiver em atividade,
o calor gerado pode chegar ao triplo, em relação ao repouso. Os vestuários também ajudar a
manter a temperatura corporal, conservando o ar quente próximo à pele e evitando as perdas
por convecção. As roupas também absorvem o calor radiante do corpo. Contudo, se a roupa
estiver úmida, perde grande parte do seu poder isolante.
As variáveis ambientais que influenciam este conforto são:
- temperatura do ar
- umidade do ar
- velocidade do ar
- calor radiante
Além destas variáveis, a atividade desenvolvida pelo homem e a vestimenta que ele usa,
também interagem na sensação de conforto térmico do trabalhador, em seu ambiente de
trabalho.

2.1.1.2.3- Influências climáticas no trabalho

O clima, principalmente a temperatura e a umidade ambiental, influi diretamente no


desempenho do trabalho humano. Estudos realizados em laboratórios e na indústria
comprovam essas influências, tanto sobre a produtividade como sobre os riscos de acidentes.
Segundo Laville (1977), durante o trabalho físico no calor, constata-se que a capacidade
muscular se reduz, o rendimento decai e a atividade mental se altera, apresentando
perturbação da coordenação sensório-motora. A freqüência de erros e acidentes tende a
aumentar, pois o nível de vigilância diminui, principalmente a partir de 30° C.
O trabalho físico em condições extremas de calor provoca dois tipos de demandas. De
um lado, a musculatura exige maior irrigação sanguínea, que pode chegar a até 25 L/min. De
outro, sangue deve fluir também para a superfície da pele para eliminar o calor, a um fluxo de
até 10 L/min. Contudo, a capacidade máxima do coração para o bombeamento do sangue é de
25 L/min. Portanto, esse passa a ser o fator limitante. O coração, nessas condições, é
extremamente exigido, tanto pelos músculos, como pela vasodilatação periférica. Nesses
casos, devem-se moderar as exigências para que o coração não sofra um colapso.
O Quadro 1: Limites de exposição ao calor, com períodos de descanso no local de
trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego, apresenta os limites máximos de exposição ao
calor, acima dos quais, há um risco potencial à saúde do trabalhador.

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Quadro 1: Limites de exposição ao calor, com períodos de descanso no local de trabalho

Fonte: NR-15, Anexo 3 do MTE

O trabalho pesado gera muito calor por processos metabólicos. Em ambientes quentes
(por exemplo, em fundições), o organismo recebe uma carga adicional de calor por convecção
e radiação. Por outro lado, o único mecanismo disponível para eliminar o calor corporal é pela
evaporação do suor. Qualquer desequilíbrio pode levar ao aumento da temperatura corporal,
que pode ser muito perigoso. Nessa situação, existem três tipos de medidas cabíveis.
- atuar sobre o ambiente, colocando-se uma barreira para o calor radiante, sob a forma
de superfícies refletoras ou roupas protetoras, para que elas não atinjam ao corpo;
- melhorar as condições para favorecer a evaporação do suor, com ventilações e roupas
adequadas;
- reduzir o ritmo de trabalho ou conceder pausas para que o organismo tenha tempo para
eliminar o calor excedente acumulado.
Durante essas pausas, o trabalhador deve afastar-se da zona quente, pois as diferenças
de temperatura ajudam a remover o calor acumulado. Em condições muito severas, a duração
dessas pausas deve ser igual ou até superior ao tempo em atividade. Há situações mais
severas, em que apenas 5 minutos de atividade exigem 1 hora de pausa, para se restabelecer
o equilíbrio térmico do organismo.
A Figura 17: Freqüência relativa de acidentes de trabalho X temperatura, demonstra a
relação entre o aumento proporcional entre o número de acidentes e o aumento da
temperatura no local de trabalho.

Figura 17: Freqüência relativa de acidentes X temperatura (Fonte: Iida, 2005)

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Um trabalhador pode sofrer desidratação pelo excesso de suor e reposição insuficiente


dos sais minerais. Nesse caso, a produção do suor diminui e a temperatura interna do corpo
tende a subir. Em situações extremas, o mecanismo de termoregulação começa a falhar e a
temperatura corporal pode subir até 41°C. A pressão sangüínea cai e o sangue não chega em
quantidade suficiente aos órgãos vitais como cérebro e rins. A pele torna-se rosada, quente e
seca. A pessoa, nessas condições, pode sofrer um colapso, se não for imediatamente
removida do ambiente quente e colocada em um ambiente bem ventilado, sem as roupas.
O trabalho em clima frio exige maior esforço muscular. Em um ambiente a 5°C, a tensão
muscular aumenta em 20% e acelera a fadiga. Trabalhadores em frigoríficos entre 0 a 10°C
queixam-se do frio nas mãos e dedos (89%), punho (58%), dedos dos pés (59%) e ombros
(52%). Comparados com trabalhadores que executam tarefas semelhantes em climas mais
quentes, verificou-se que se queixam mais de dores nas mãos, braços e pescoço (BRIDGER,
2003).
O resfriamento dos tecidos periféricos, principalmente das mãos e pés, provoca reduções
de força e do controle neuromuscular, com perda de destreza, tornando o trabalhador mais
vulnerável a erros e acidentes. Se a temperatura corporal interna cair para menos de 33°C, o
sistema nervoso central deixa de funcionar.
0 projeto das roupas adequadas para essas condições ambientais extremas não é um
problema fácil de resolver. As roupas isolantes para se proteger do frio e umidade também
inibem a transpiração. Após algum tempo, podem tornar-se incômodas. Aquelas para proteger
o trabalhador contra o calor radiante também podem reter o ar junto à pele. Esse ar torna-se
saturado, impedindo a evaporação do suor. Enfim, é uma questão que ainda exige mais
pesquisa e desenvolvimento.

2.1.1.3- Ruído

O som é um agente físico resultante da vibração de moléculas do ar e que se transmite


como uma onda longitudinal, se caracterizando por flutuações de pressão em um meio
compressível, e não são todas as flutuações de pressão que produzem a sensação de audição
quando atingem o ouvido humano. É, portanto, uma forma de energia mecânica (WHO, 1980).
O receptor periférico sensível a esta forma de energia, captando-a e transformando-a em
impulso elétrico nervoso é a orelha. O aparelho auditivo humano consegue detectar variações
de pressão do ar numa faixa de 0,00002 a 200 Newton/m² no limiar de audibilidade de
freqüências que é de 16 a 20.000 Hz. Portanto, nem toda onda sonora evoca a sensação
auditiva.

Figura 18: Aparelho auditivo humano

A sensação de som só ocorrerá quando a amplitude destas flutuações e a freqüência


com que elas se repetem estiverem dentro de determinadas faixas de valores, e que têm as
seguintes características:

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- Freqüência (f): é definida como o n° de repetições das flutuações de pressão ou


ciclos/segundo ou n° de ciclos/segundo (1 ciclo/segundo = 1 Hz), onde, entre 20 - 20000 Hz as
ondas sonoras podem ser audíveis;
- Amplitude : é o deslocamento máximo da posição de equilíbrio;
- Comprimento de onda (l) : é a distância entre dois picos sucessivos de ondas com
amplitudes similares.

2.1.1.3.1- Limites toleráveis de ruído

Ruído é uma palavra derivada do latim rugitu que significa estrondo. Acusticamente é
constituído por várias ondas sonoras com relação de amplitude e fase distribuídas
anarquicamente, provocando uma sensação desagradável, diferente da música.
O ruído pode ser contínuo, ou seja, não há variação do nível de pressão sonora nem do
espectro sonoro; de impacto ou impulsivo que são ruídos de alta energia e que duram menos
de 1 segundo (ISO 1973).
Russo (1993, 1997) conceituou o ruído, segundo diferentes critérios de classificação:
- Subjetivamente, o ruído é um som desagradável e indesejável.
- Objetivamente, o ruído é um “Sinal acústico aperiódico, originado da superposição de
vários movimentos de vibração com diferentes freqüências, as quais não apresentam relação
entre si” (Feldman & Grimes, 1985 apud Russo 1993, p. 123).
- Quantitativamente, o ruído é definido pelos atributos físicos indispensáveis para o
processo de determinação da sua nocividade – sua duração em tempo, espectro de freqüência
em Hertz (Hz) e intensidade sonora (nível de pressão sonora) em dB (deciBel).
- Qualitativamente, de acordo com a Norma ISO 2204/1973 (International Standard
Organization), os ruídos podem ser classificados segundo a variação de seu nível de
intensidade com o tempo em:
- contínuos: ruído com variações de níveis desprezíveis durante o período de
observação;
- intermitentes: ruído cujo nível varia continuamente de um valor apreciável durante o
período de observação;
- de impacto ou impulso: ruído que se apresenta em picos de energia acústica de
duração inferior a um segundo. O ruído de impacto é um fenômeno acústico associado a
explosões e é considerado um dos tipos de ruídos mais nocivos à audição, com intensidades,
que variam de 100 dB para o ruído de impacto e acima de 140 dB para o ruído impulsivo.
A Tabela 6: Limites toleráveis a ruídos em diversos tipos de atividades, a seguir,
apresenta uma relação de atividades, em que o nível de ruído pode interferir.

Tabela 6: Limites toleráveis a ruídos em diversos tipos de atividades


Nível de ruído
Atividades
dB(A)
A maioria considera como um ambiente silencioso, mas cerca de 25%
50 das pessoas terão dificuldade para dormir.
55 Máximo aceitável para ambientes que exigem silêncio
60 Aceitável em ambientes de trabalho durante o dia
65 Limite máximo aceitável para ambientes ruidosos
70 Inadequado para trabalho em escritórios. Conversação difícil

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75 É necessário aumentar a voz para conversação


80 Conversação muito difícil
85 Limite máximo tolerável para a jornada de trabalho
Fonte: Iida, 2005

2.1.1.3.2- Tempo de exposição

Os níveis de ruído devem ser entendidos aqui não como aqueles passíveis de provocar
lesões ao aparelho auditivo, mas como a perturbação que podem causar ao bom desempenho
da tarefa. Muitas vezes, equipamentos ruidosos são colocados em ambientes onde são
necessariamente obrigatórios.
A Portaria nº. 3.214/78, do Ministério do Trabalho e Emprego, fixa o NPS (nível de
pressão sonora) máximo permitido de 85 dB(A) para 8 horas de jornada de trabalho. Esta
portaria só é válida para ambientes industriais onde existe ruído de máquinas e processos
ruidosos, de conformidade com o item 17.5.2 da NR 17, que define os níveis de ruído
recomendados estabelecidos na NBR 10152. Para as atividades que tiverem estas
características, mas não estiverem previstas na citada NBR, o nível de ruído para efeito de
conforto será 65 dB(A).
O Quadro 2: Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente, disciplina o tempo
máximo de exposição em função do ruído existente no local de trabalho.

Quadro 2: Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente

Fonte: NR-15, Anexo 1 do MTE

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2.1.1.3.3- Surdez provocada pelo ruído

A ação do ruído sobre a audição pode ocasionar uma perda auditiva por dois
mecanismos:
- exposição aguda – conhecida como trauma acústico;
- exposição crônica – trata-se da perda auditiva induzida pelo ruído.
Os indivíduos afetados começam a ter dificuldades para perceber os sons agudos, tais
como os de telefones, apitos, tique-taque do relógio, campainhas, etc. E logo a deficiência se
faz extensiva até a área média do campo audiométrico, comprometendo freqüências da
chamada zona de conservação, e conseqüentemente afetando o reconhecimento da fala
(SELIGMAN, 1997).
A perda auditiva induzida pelo ruído pode ser classificada em três tipos:
- Trauma acústico: consiste numa perda auditiva de instalação súbita, provocada por
ruído repentino e de grande intensidade, como uma explosão ou uma detonação. Em alguns
casos, a audição pode ser recuperada total ou parcialmente com tratamento. Eventualmente, o
trauma acústico pode acompanhar-se de ruptura da membrana timpânica e/ou desarticulação
da cadeia ossicular, o que pode exigir tratamento cirúrgico.
- Perda auditiva temporária: conhecida também como mudança temporária do limiar de
audição ocorre após a exposição a ruído intenso, por um curto período de tempo. Um ruído
capaz de provocar uma perda temporária será capaz de provocar uma perda permanente, após
longa exposição. Entretanto, os mecanismos de perda são distintos nas duas situações, e as
alterações observadas no órgão de Corti são de natureza diferente.
- Perda auditiva permanente: a exposição repetida ao ruído excessivo pode levar, ao
cabo de alguns anos, a uma perda auditiva irreversível – permanente. Como sua instalação é
lente e progressiva, a pessoa só se dá conta da deficiência quando as lesões já estão
avançadas. A audiometria exibe um traçado bem característico, com um entalhe inicial em
torno de 4.000 e 6.000 Hz. Com a continuação da exposição sem proteção, o entalhe tende a
se aprofundar e a se alargar na direção das freqüências vizinhas. Na maioria das vezes, a
perda é bilateral e mais ou menos simétrica, mas isso pode não ocorrer em todos os casos.

2.1.1.3.4- Controle do ruído industrial

Para combater o ruído deve-se agir sobre:


- Prevenção no planejamento (quando da concepção da empresa)
- fábrica: colocar os postos de trabalho (escritórios) onde se desenvolve atividades
mentais afastados das fontes de ruído (máquinas);
- empresa de serviços: postos afastados de janelas que dão para ruas movimentadas.
- Atuar na fonte
- compra de equipamentos menos ruidosos (dentro do recomendado);
- manutenção constante (fixação, ajuste dos parafusos e equilíbrio dos aparelhos
rotatório);
- adaptações na tecnologia (troca de peças retas por helicoidais das engrenagens,
silenciadores nos escapamentos de ar comprimido).
- Na propagação (direta e indireta - via aérea ou sólida)
- vibrações: pés anti-vibratórios, pranchas intermediárias, fundações independentes;
- isolamento interno: usar placas de material absorvente de som no teto e nas paredes

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(escritórios);
- gabinetes que cobrem hermeticamente a fonte de ruído.
- Proteção individual do operador (menos aconselhável)
- solução paliativa;
- deve ser adequado ao trabalhador (são geralmente pouco confortáveis);
- deve ser de qualidade (não deixar passar o som);
- dificulta a comunicação entre os trabalhadores.

2.1.1.4- Vibrações

Vibração é qualquer movimento que o corpo ou parte dele executa em torno de um ponto
fixo. Esse movimento pode ser regular, do tipo senoidal ou irregular, quando não segue
nenhum padrão determinado, como no sacolejar de um carro andando em uma estrada de
terra.
O corpo humano sofre vibrações diárias nos meios de transportes como ônibus e trens.
Contudo, nem todas as vibrações são prejudiciais. Aquelas de baixa freqüência, em torno de 4
a 8 Hz são as que provocam maiores incômodos.
Existem muitas ferramentas manuais, como furadeiras, grampeadores, martelos elétricos
e pneumáticos que provocam vibrações nos braços e mãos, produzindo isquemias e dores
locais. A exposição continua pode produzir lesões irreversíveis.
A vibração é definida por três variáveis.
- Freqüência, medida em ciclos por segundo ou hertz (Hz);
- Intensidade do deslocamento (em cm ou mm) ou aceleração máxima sofrida pelo corpo,
medida em g (1g = 9,81 m.s-2);
- Direção do movimento, definida por três eixos triortogonais: x (das costas para frente), y
(da direita para esquerda) e z (dos pés à cabeça).

2.1.1.4.1- Efeitos das vibrações sobre o organismo

Os efeitos da vibração direta sobre o corpo humano podem ser extremamente graves,
podendo danificar permanentemente alguns órgãos do corpo humano. Nos últimos anos,
diversos pesquisadores têm coletado dados sobre os efeitos fisiológicos e psicológicos das
vibrações sobre o trabalhador, como perda de equilíbrio, falta de concentração e visão turva,
diminuindo a acuidade visual.
Em trabalhadores florestais que usam moto-serra, há uma degeneração gradativa do
tecido vascular e nervoso, causando perda da capacidade manipulativa e o tato nas mãos,
dificultando o controle motor. Em casos mais graves, a circulação do sangue nos dedos é
afetada, tornando-os descoloridos e provocando o fenômeno do "dedo branco”. Nessa
situação, os dedos ficam insensíveis e podem sofrer necrose.
As vibrações são particularmente danosas ao organismo nas freqüências mais baixas, de
1 a 80 Hz. Elas provocam lesões nos ossos, juntas e tendões. A primeira publicação
internacional que estabeleceu limites de exposição a vibrações nessa faixa foi a norma ISO n°
2631 de 1978, que apresenta valores máximos de vibrações suportáveis para tempos de 1
minuto a 13 horas de exposição.
As recomendações dessa norma abrangem três critérios de severidade:
- Limite de conforto, sem maior gravidade, como ocorre em veículos de transporte

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coletivo;
- Limite de fadiga, provocando redução na eficiência de trabalhadores, como em
máquinas que vibram;
- Limite máximo de exposição correspondendo ao limiar do risco à saúde.
No sentido longitudinal do corpo (eixo z, dos pés à cabeça) o corpo humano é mais
sensível na faixa de 4 a 8 Hz, enquanto no sentido transversal (eixos x e y, perpendiculares ao
eixo z) o organismo é mais sensível na faixa de 1 a 2 Hz.
As freqüências intermediárias, de 30 a 200 Hz provocam doenças cardiovasculares
mesmo com baixas amplitudes (1 mm) e, nas freqüências altas, acima de 300 Hz, o sintoma é
de dores agudas e distúrbios neurovasculares. Alguns desses sintomas são reversíveis. Após
um longo período de descanso, eles podem reduzir-se, mas retornam rapidamente se o
organismo for novamente exposto as vibrações.

2.1.1.4.2- Controle das vibrações

Uma vibração intensa, transmitida por ferramentas manuais, propaga-se pelas mãos,
braços e corpo do operador e pode causar dormência dos dedos e perda de coordenação
motora. Inúmeras máquinas usadas na indústria, como furadeiras elétricas, rebitadores,
peneiras vibratórias e moto-serras provocam enjôos, interferência na fala e confusão visual. A
exposição continuada pode levar a lesões da coluna vertebral, desordem gastrointestinal e
perda de controle muscular de partes do corpo.
Existem diversas providências que o projetista pode adotar para reduzir as
conseqüências das vibrações. Entre estas se incluem as seguintes:
- Eliminar a fonte: A providência mais importante em relação às vibrações e tentar reduzí-
Ias junto à fonte. Devem-se estudar particularmente as vibrações que provocam ressonâncias
Por exemplo, numa britadeira manual, a vibração mais prejudicial, que provoca ressonância
dos membros superiores, é de 5 Hz. As outras vibrações também são prejudiciais, mas aquela
é mais importante, detendo merecer atenção prioritária. Em outros casos, as vibrações também
podem ser eliminadas por meio de lubrificações e manutenções periódicas das máquinas e
equipamentos, ou colocando-se calços de borracha e outros materiais e mecanismos
amortecedores de vibrações.
- Isolar a fonte: Quando não for possível eliminar a fonte, esta pode ser isolada, para que
o trabalhador não entre em contato direto com ela. Esse isolamento pode ser espacial,
afastando-se a fonte, ou material, usando-se algum tipo de isolante para enclausurar a fonte de
vibrações. Uma forma parcial de isolar a fonte é conseguida evitando-se as pegas muito
apertadas, sempre que for necessário transmitir força para as ferramentas manuais.
As vibrações das ferramentas manuais podem ser reduzidas revestindo-se as pegas com
material absorvente, como borrachas ou espumas de plásticos.
- Proteger o trabalhador: Se as providências anteriores não forem suficientes, pode-se
proteger o trabalhador individual com certos equipamentos como botas e luvas, que ajudam a
absorver as vibrações. O uso desses equipamentos de proteção individual deve ser
cuidadosamente analisado, pois geralmente são incômodos e costumam ser eficientes apenas
em determinadas faixas de freqüências.
- Conceder pausas: Quando a vibração for continua, devem ser programadas pausas
(por exemplo, 10 min de descanso para cada hora de trabalho) para evitar a exposição
continua do trabalhador. A freqüência e a duração dessas pausas vão depender naturalmente
das características da vibração e demais condições de trabalho. Essas pausas se tiverem
duração adequada, permitem uma recuperação, pelo menos parcial, do organismo durante a
jornada de trabalho, interrompendo o efeito cumulativo das vibrações no organismo.
Naturalmente, a recuperação vai se processar melhor durante o período normal de descanso,

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após a jornada de trabalho.


O controle da SLV- Síndrome de Vibrações Localizadas (Mão - Braço) nos ambientes de
trabalho não irá ocorrer simplesmente pela especificação e atendimento dos limites de
exposição. O uso de:
- Ferramentas com características anti-vibratórias;
- Luvas anti-vibração;
- Práticas adequadas de trabalho que permitam manter as mãos e o corpo do
trabalhadores aquecidos, bem como o acoplamento mecânico entre o trabalhador e a
ferramenta vibratória;
- Programa de supervisão médica conscienciosamente aplicado, será necessário para
banir a SLV dos ambientes de trabalho.
A fim de amenizar os efeitos adversos da exposição a vibrações, os trabalhadores
deverão ser aconselhados a evitar a exposição contínua, pela introdução de pausas de 10
minutos por hora contínua de exposição.
O controle da vibração de corpo inteiro (VCI) pode incluir o uso de assentos com
suspensão a ar, cabinas com suspensão, manutenção dos sistemas de suspensão dos
veículos, calibragem adequada do pneu, controle remoto dos equipamentos vibratórios.
Também são úteis para o controle da vibração a utilização de bancos com descanso para os
braços, apoio lombar e ajuste do assento e do apoio para as costas.
A Tabela 7: Freqüências de ressonância de partes do corpo submetidas a vibrações no
sentido vertical, apresenta os efeitos das vibrações sobre as partes do corpo, em relação à
freqüência de ressonância existente na atividade desenvolvida pelo trabalhador.
Tabela 7: Freqüências de ressonância de partes do corpo submetidas a vibrações no
sentido vertical (KROEMER et al, 1994)
Parte do corpo Frequência de ressonância (Hz) Sintomas

Corpo inteiro 4 a 5, 10 a 14 Desconforto geral


Abaixo de 0,5 Enjôo
Cérebro
1a2 Sono
Cabeça 5 a 20
Olhos 20 a 70 Dificuldade visual
Queixo 100 a 200 Dificuldade de fala
Laringe 5 a 20 Mudança de voz
Ombros 2 a 10
Antebraço 16 a 30
Mãos 4a5
Tronco 3a7
Coração 4a6
Caixa torácica 60 Dores no peito
Estômago 3a6 Dores estomacais
Abdômen 4a8
Rins 10 a 18 Urina solta
Sistema cardiovascular 2 a 20
Fonte: Iida, 2005

2.1.1.5- Radiações

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Num sentido amplo, radiação é aquilo que irradia (sai em raios) de algum lugar. Em
física, o termo refere-se usualmente a partículas e campos que se propagam (transferindo
energia) no espaço (preenchido ou não por matéria).
Com relação à natureza, a radiação pode ser particulada (de partículas) ou ondulatória
(de ondas):
- Radiação de natureza particulada é caracterizada por sua carga, massa e velocidade:
pode ser carregada ou neutra, leve ou pesada, lenta ou rápida. Prótons, nêutrons e elétrons
ejetados de átomos ou núcleos atômicos são exemplos de radiação particulada.
- Radiação eletromagnética é constituída por campos elétricos e magnéticos variando no
espaço e no tempo. É caracterizada pela amplitude (tamanho) e pela freqüência (ou,
alternativamente, pelo comprimento de onda) da oscilação.
Quanto à capacidade de ionização, as radiações (partículas ou ondas) podem ser
ionizantes ou não ionizantes. A ionização acontece quando a energia da radiação incidente
sobre um material é suficiente para arrancar elétrons dos seus átomos. A radiação é dita não
ionizante quando sua energia não é suficiente para arrancar elétrons dos átomos. Neste caso
pode ocorrer a excitação do átomo, onde elétrons são levados a camadas mais externas do
átomo, sem serem ejetados.
- Radiação não ionizante: São radiações de baixa freqüência: luz visível, infravermelho,
microondas, freqüência de rádio, radar, ondas curtas e ultrafrequências (celular). Embora
esses tipos de radiação não alterem os átomos, alguns, como as microondas, podem causar
queimaduras e possíveis danos ao sistema reprodutor. Campos eletromagnéticos, como os
criados pela corrente elétrica alternada a 60 Hz, também produzem radiações não ionizantes.
- Radiação ionizante: São as mais perigosas e de alta freqüência: raios X, raios Gama
(emitidos por materiais radiativos) e os raios cósmicos. Ionizar significa tornar eletricamente
carregado. Quando uma substância ionizável é atingida por esses raios, ela se torna carregada
eletricamente. Quando a ionização acontece dentro de uma célula viva, sua estrutura química
pode ser modificada. A exposição à radiação ionizante pode danificar nossas células e afetar o
nosso material genético (DNA), causando doenças graves, levando até à morte.
Para a excitação de um átomo, a energia fornecida pela radiação deve ser igual à
diferença de energia entre os níveis de origem e de destino do elétron. Este fato ocorre porque
os elétrons se encontram em níveis de energia bem definidos nas camadas eletrônicas dos
átomos.
As partículas são classificadas, quanto à capacidade de emitir radiação, da seguinte
forma, conforme ilustra a Figura 20: Tipos de radiações:

Figura 20: Tipos de radiação

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- Radiação Alfa é uma partícula formada por um átomo de hélio com carga positiva. A
distância que uma partícula percorre antes de parar é chamada alcance. Num dado meio,
partículas alfa de igual energia têm o mesmo alcance. O alcance das partículas alfa é muito
pequeno, o que faz que elas sejam facilmente blindadas. Uma folha fina de alumínio barra
completamente um feixe de partículas de 5MeV. A inalação ou ingestão de partículas alfa é
muito perigosa.
- Radiação Beta é também uma partícula, de carga negativa, o elétron. Sua constituição
é feita por partículas betas que são emitidas pela maioria dos nuclídeos radioativos naturais ou
artificiais e tem maior penetração que as partículas alfa. O 32 P dá uma radiação beta até 1,7
MeV com uma penetração média de 2 a 3 mm na pele, e alcança, em pequena proporção, 8
mm. Se o emissor beta é ingerido, como acontece nos casos de diagnóstico e terapêutica, os
efeitos são muito mais extensos.
- Radiação Gama é uma onda eletromagnética. As substâncias radiativas emitem
continuamente calor e têm a capacidade de ionizar o ar e torná-lo condutor de corrente elétrica.
São penetrantes e ao atravessarem uma substância, choca-se com suas moléculas. A radiação
gama tem seu poder de penetração muito grande. Sua emissão é obtida pela maioria, não
totalidade, dos nuclídeos radioativos habitualmente empregados. Quando a fonte de material
radioativo for beta ou gama é necessária a colocação de uma barreira entre o operador e fonte.

2.1.2- Agentes químicos

A higiene industrial ou ocupacional tem sido comumente definida como o reconhecimento


a avaliação e o controle de riscos à saúde ocupacional. Esta definição foi recentemente
ampliada para incluir não meramente a prevenção de doenças em trabalhadores, mas para
todos os fatores ambientais que podem causar lesão, doença ou inaptidão, ou afetar o bem
estar dos trabalhadores e da comunidade (AIHA, 1993).
Qualquer que seja a definição que se aceite, o primeiro passo a ser tomado em um
programa de saúde ocupacional é a identificação ou reconhecimento dos possíveis riscos à
saúde. O domínio deste processo é baseado no conhecimento extensivo de materiais e
processos industriais. Sem este conhecimento é difícil para o pesquisador identificar aqueles
processos industriais que, potencialmente, podem causar doenças ocupacionais.
Segundo dados da OIT estimam-se que, ao redor de 6 milhões tipos diferentes de
produtos químicos (medicamentos, corantes, polímeros, solventes, combustíveis,
agrotóxicos,...) são descobertos a cada ano, e cerca de 100.000 são de uso comercial. A
evolução do crescimento da Indústria Química e Petroquímica vem ocorrendo de forma
acelerada, onde em 1970 ocorreu a produção de 63 milhões de toneladas e em 1990 chegou a
300 milhões toneladas de produtos químicos.
Dentre os riscos ambientais gerados em um processo industrial, ocupam lugar de grande
importância os agentes químicos, uma vez que qualquer tipo de produção envolve
transformações físicas (operações unitárias) e/ou químicas (processos unitários ou conversão
química), sendo que, em ambos os casos, dependendo de diversos fatores, poderá haver
emanação dos referidos agentes para o ambiente.

2.1.2.1- Gases e vapores

- Gases: Denominação dada às substâncias que, em condições normais de temperatura


e pressão (25°C e 760 mm Hg), estão no estado gasoso. São fluidos amorfos que podem
mudar de estado físico unicamente por uma combinação de pressão e temperatura. Exemplo
hidrogênio, oxigênio e nitrogênio.
- Vapores: Fase gasosa de uma substância que, a 25°C a 760 mm Hg, se torna líquida
ou sólida. O vapor pode passar para o estado líquido ou sólido atuando-se sobre a pressão ou

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sobre a temperatura. Exemplos: vapores de água, vapores de gasolina.


Pelo ar inalam-se gases e vapores estranhos, muitos dos quais podem ser perigosos à
saúde. Entretanto, esses efeitos variam segundo a substância. As características físicas mais
importantes para a determinação dos efeitos biológicos de um gás ou vapor são sua
concentração no ar e sua solubilidade no sangue e tecidos, que determinará a sua absorção
pelo organismo. Além disso, sua toxicidade e as vias e formas de penetração também influem
nos efeitos à saúde.
Os gases e vapores podem ser classificados, segundo a sua ação sobre o organismo
humano, em três grupos: irritantes, asfixiantes, anestésicos. Se a substância é enquadrada em
um desses grupos, isso não implica que não possa também possuir característica dos outros
grupos. Essa classificação baseia-se no efeito mais importante, isto é, mais significativa sobre
o organismo.
- Gases e vapores irritantes: São substâncias que, em contato direto com tecidos,
especialmente mucosas, tipo a conjuntiva ocular e as vias respiratórias, produzem irritação,
provocam lesão direta deste e assim desencadeiam um processo inflamatório. Em pequenas
concentrações causam desconforto com ardor ocular, rinite, rinorréia, traqueíte e bronquite com
tosse, dispnéia, desconforto respiratório e sensação de opressão torácica. Em altas
concentrações, podem levar rapidamente à morte por edema agudo de pulmão. O edema
pulmonar é inflamatório (não hemodinâmico). Como exemplos dessa categoria, temos o
dióxido de nitrogênio (NO2), fosgênio (COCI2), ácido clorídrico ou muriático, ácido sulfúrico,
amônia, soda cáustica, formaldeído e aldeído acrílico.
- Gases e vapores asfixiantes: A principal característica dessa classe de agente
químico é impedir de alguma forma que o oxigênio atinja os tecidos, podendo os asfixiantes ser
classificados em simples ou químicos. Como exemplos, podem-se citar: nitrogênio (N2), dióxido
de carbono (CO2), metano (CH4), argônio (Ar), hidrogênio (H2), hélio (He), monóxido de
carbono (CO) e gás cianídrico (HCN).
- Gases e vapores anestésicos: Agem pelo efeito narcótico ou depressivo sobre o
sistema nervoso central, fundamentalmente o cérebro. São introduzidas, em nosso organismo,
pela via respiratória, alcançando o pulmão, onde são transferidas para o sangue, que as
distribuirá para o resto do corpo. Muitas delas também podem penetrar através da pele intacta,
alcançando a corrente sangüínea. Como exemplos destacam-se hidrocarbonetos alifáticos
(butano, propano, etano, etc.), ésteres, aldeídos, cetonas, anilina, nitrito, toluidina, tolueno,
xileno, benzeno alcoóis (metílico e etílico), ésteres de ácidos orgânicos e dissulfeto de carbono.

2.1.2.2- Solventes orgânicos

Solventes são substâncias orgânicas, líquidas e voláteis, que pertencem a diversos


grupos químicos. Em geral, pertencem a funções orgânicas como: cetonas, ésteres, alcoóis,
éteres, hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos, derivados halogenados, nitro-amino-
compostos, glicóis, entre outras.
Como solventes, propriamente ditos, são utilizados para extrair, deslocar, aplicar, tratar,
dissolver outras substâncias, sem reagir com estas. São moléculas em geral apolares ou
pouco polares e voláteis. Os principais grupos encontrados na pratica de saúde ocupacional no
Brasil são os hidrocarbonetos alifáticos e os aromáticos, alcoóis, cetonas, éteres,
hidrocarbonetos alifáticos halogenados, ésteres, entre outros.
Segundo dados internacionais, cerca de 50 % dos solventes vão para a fabricação de
vernizes, tintas, colas, cosméticos, 20% para a fabricação de sapatos, 10% para indústrias de
agrotóxicos e 10% são usados na limpeza de metais, lavagem a seco, indústria têxtil e
farmacêutica. Também podem ser usados para outras finalidades, como matéria-prima da
indústria química (na fabricação de plásticos, por exemplo) e combustível. Deve-se frisar que
muitos produtos classificados e usados como solventes são também matéria-prima e podem

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ser usados como combustíveis.


Os principais solventes encontrados no meio ambiente de trabalho são:
- n-hexano: hidrocarboneto alifático de cadeia reta é muito volátil, é o principal
constituinte da mistura conhecida como benzina. Também é usado na extração de óleos
vegetais e essenciais. A principal via de absorção são os pulmões.
- Solventes clorados: É um grupo grande de substâncias, muito usadas em indústrias
quanto em laboratórios. As mais conhecidas são o clorofórmio, tricloroetileno, tetracloroetileno,
tetracloroetano, diclorometano. São usados puros em aplicações especificas, como o
desengraxe de peças metálicas antes de pintura ou cromagem, na lavagem a seco de tecidos,
e como parte de formulações para remoção de tintas e asfalto.
- Benzeno: O benzeno é usado quase exclusivamente na indústria petroquímica como
matéria-prima. É um mielotóxico potente, podendo causar hipoplasia ou displasia de medula
que, dependendo da gravidade, pode levar ou não a alterações de hemograma. Provoca,
também, aplasia medular diretamente ou como evolução de hipo/displasias crônicas, sendo
este efeito característico de exposição a doses elevadas (acima de dezenas de ppm). É
cancerígeno para o homem, causando leucemias e linfomas. Existe risco destas doenças
mesmo com exposições em nível de 1ppm de benzeno, e por isto esta substância foi banida de
uso como solvente em quase todo o mundo. Quanto maior a exposição, maior a probabilidade
da ocorrência de câncer.
- Tolueno e xileno: O tolueno ou metilbenzeno é um dos solventes mais usados tanto
puro quanto em misturas, em thinners, tintas, vernizes, gráficas, colas, etc. É absorvido através
dos pulmões (a absorção por via cutânea é desprezível), biotransformado a vários metabólitos,
sendo o principal o ácido hipúrico, que tem excreção urinária.

2.1.2.3- Aerodispersóides

Aerodispersóides são formados por uma dispersão de partículas sólidas ou liquidas no


ar, de tamanho reduzido, que pode variar entre um limite superior, não bem definido, e que
podemos fixar entre 100 a 200 µ, até um limite inferior da ordem de 0,5 µ, no caso das poeiras.
Em aerossóis formados por condensação (fumos), o tamanho da partícula varia comumente
entre 0,5 e 0,001 µ. Os aerodispersóides são classificados como:
- Poeiras: São partículas sólidas, produzidas por ruptura mecânica de sólidos. O pó está
constituído por partículas geradas mecanicamente, resultantes de operações tais como
moenda, perfuração, explosões e manuseio de minérios, limpeza abrasiva, corte de polimento
de granitos, etc. A maior porcentagem de partículas arrastadas pelo ar, em forma de pó, tem
menos de 1 µ de tamanho.
As partículas sólidas de maior risco são aquelas com menos de 5 µ, visíveis apenas ao
microscópio. Estas constituem a chamada fração respirável, já que podem ingressar, pela
inalação, até os pulmões. As partículas sólidas maiores que 5 µ são retiradas no aparelho
respiratório superior ou nos cílios da traquéia; as menores que 0,5 µ são reexaladas ao
exterior.
O pó inorgânico de maior importância do ponto de vista da Saúde Ocupacional é a Sílica
livre cristalizada, a qual se acha em grandes quantidades na crosta terrestre (60% desta)
formando parte de rochas, minérios, areias, tecidos vegetais, etc. A forma cristalizada do
quartzo é a de maior risco, causadora de uma pneumoconiose chamada de silicose.
- Fumos: São partículas sólidas, formadas em processo de combustão, produzidas por
condensação ou oxidação de vapores de substâncias que são sólidas a temperatura normal,
tais como fusão de metais e a combustão de madeira. Para a higiene industrial, os fumos de
maior interesse são os metálicos e seus compostos. Os mais importantes são o chumbo,
mercúrio, arsênico, cromo, manganês e seus compostos. Logo vêm, com menor importância, o

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que não quer dizer menor risco: o antimônio, estanho, cobre, níquel, zinco, cádmio, selênio,
ferro e seus compostos.
- Névoas: São partículas liquidas, produzidas por ruptura mecânica de líquidos.
- Neblinas: São partículas liquidas, produzidas por condensação de vapores de
substâncias que são liquidas a temperatura normal.

Figura 19: Vias aéreas do sistema respiratório

O tempo que os aerodispersóides podem permanecer no ar depende de seu tamanho,


peso específico e da velocidade de movimentação do ar. Quanto mais tempo o aerodispersóide
permanecer no ar, maior é a chance de ser inalado pelo trabalhador e de produzir nele
intoxicações.

2.1.2.4- Metais pesados

Mais da metade dos elementos presentes na tabela periódica são classificados como
metais. Todos possuem características em comum, especialmente a capacidade de participar
de ligações metálicas. Quando um metal encontra-se nesta forma, adquire o aspecto metálico
típico que se observa, por exemplo, em uma peça de ferro, alumínio, chumbo, etc. Nesta
forma, os metais têm, em geral, grande resistência mecânica e podem conduzir corrente
elétricas.
- A forma metálica (Me0), a exposição ao elemento comente pode se das através da
inalação de fumos metálicos gerados por aquecimento a altas temperaturas, ou por lixamento
enérgico da superfície metálica.
- As formas iônicas (sais e óxidos dos metais), quando manuseados industrialmente,
geram grande quantidade de poeira no ambiente de trabalho, sendo esta poeira absorvida pelo
trato respiratório e digestivo. A absorção digestiva é normalmente indireta, por contaminação
de alimentos porventura presente nos locais de trabalho, ou pelo hábito de comer, fumar, beber
com as mãos sujas da poeira de metais pesados.
- As formas orgânicas são normalmente voláteis e lipossolúveis, e, por estas
propriedades, são absorvidos pelas vias cutâneas, respiratória e digestiva. Também, graças à
lipossolubilidade, os seus efeitos geralmente são diferentes dos mesmos metais em forma
inorgânica, isto é, metálica e iônica.
Os principais metais pesados encontrados no meio ambiente de trabalho são o chumbo,
cádmio, mercúrio metálico, manganês, cromo e zinco.

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2.1.3- Agentes biológicos

2.1.3.1- Introdução

Os riscos biológicos que podem ser capitulados como doenças do trabalho, portanto
classificados como acidentes do trabalho, desde que estabelecido o respectivo nexo causal,
incluem infecções agudas e crônicas, parasitoses e reações alérgicas ou intoxicações
provocadas por plantas e animais. As infecções são causadas por bactérias, vírus, riquétsias,
clamídias e fungos. As parasitoses envolvem protozoários, helmintos e artrópodes.
Muitas das doenças ocupacionais são zoonoses, isto é, tem origem pelo contato com
animais e conseqüentemente trabalhadores agrícolas e aqueles envolvidos no manejo de
aviários, rebanhos e criação em geral podem estar sob permanente risco se medidas
preventivas apropriadas não forem aplicadas. Em geral o que acontece é que os trabalhadores
em indústrias urbanas estão mais protegidos contra os riscos do trabalho que os trabalhadores
rurais.
São considerados riscos biológicos: vírus, bactérias, parasitas, protozoários, fungos e
bacilos.
Os riscos biológicos ocorrem por meio de microorganismos que, em contato com o
homem, podem provocar inúmeras doenças. Muitas atividades profissionais favorecem o
contato com tais riscos. É o caso das indústrias de alimentação, hospitais, limpeza pública
(coleta de lixo), laboratórios, etc.
Entre as inúmeras doenças profissionais provocadas por microorganismos incluem-se:
tuberculose, brucelose, malária, febre amarela.
Para que essas doenças possam ser consideradas doenças profissionais, é preciso que
haja exposição do funcionário a estes microorganismos.
São necessárias medidas preventivas para que as condições de higiene e segurança nos
diversos setores de trabalho sejam adequadas.
Os riscos biológicos em laboratórios podem estar relacionados com a manipulação de:
 Agentes patogênicos selvagens;
 Agentes patogênicos atenuados;
 Agentes patogênicos que sofreram processo de recombinação;
 Amostras biológicas;
 Culturas e manipulações celulares (transfecção, infecção);
 Animais.
Todos os itens citados acima podem tornar-se fonte de contaminação para os
manipuladores. As principais vias envolvidas num processo de contaminação biológica são a
via cutânea ou percutânea (com ou sem lesões - por acidente com agulhas e vidraria, na
experimentação animal - arranhões e mordidas), a via respiratória (aerossóis), a via conjuntiva
e a via oral.

2.1.3.2- Classificação

Há uma classificação dos agentes patogênicos selvagens que leva em consideração os


riscos para o manipulador, para a comunidade e para o meio ambiente. Esses riscos são
avaliados em função do poder patogênico do agente infeccioso, da sua resistência no meio
ambiente, do modo de contaminação, da importância da contaminação (dose), do estado de

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imunidade do manipulador e da possibilidade de tratamento preventivo e curativo eficazes.


As classificações existentes (OMS, CEE, CDC-NIH) são bastante similares, dividindo os
agentes em quatro classes:
Classe 1 - onde se classificam os agentes que não apresentam riscos para o
manipulador, nem para a comunidade (ex.: E. coli, B. subtilis);
Classes 2 - apresentam risco moderado para o manipulador e fraco para a comunidade e
há sempre um tratamento preventivo (ex.: bactérias - Clostridium tetani, Klebsiella pneumoniae,
Staphylococcus aureus; vírus - EBV, herpes; fungos - Candida albicans; parasitas -
Plasmodium, Schistosoma);
Classe 3 - são os agentes que apresentam risco grave para o manipulador e moderado
para a comunidade, sendo que as lesões ou sinais clínicos são graves e nem sempre há
tratamento (ex.: bactérias - Bacillus anthracis, Brucella, Chlamydia psittaci, Mycobacterium
tuberculosis; vírus - hepatites B e C, HTLV 1 e 2, HIV, febre amarela, dengue; fungos -
Blastomyces dermatiolis, Histoplasma; parasitos - Echinococcus, Leishmania, Toxoplasma
gondii, Trypanosoma cruzi);
Classe 4 - os agentes desta classe apresentam risco grave para o manipulador e para a
comunidade, não existe tratamento e os riscos em caso de propagação são bastante graves
(ex.: vírus de febres hemorrágicas).
Em relação às manipulações genéticas, não existem regras pré-determinadas, mas sabe-
se que pesquisadores foram capazes de induzir a produção de anticorpos contra o vírus da
imunodeficiência simiana em macacos que foram inoculados com o DNA proviral inserido num
bacteriófago. Assim, é importante que medidas gerais de segurança sejam adotadas na
manipulação de DNA recombinante, principalmente quando se tratar de vetores virais
(adenovírus, retrovírus, vaccínia). Os plasmídeos bacterianos apresentam menor risco que os
vetores virais, embora seja importante considerar os genes inseridos nesses vetores (em
especial, quando se manipula oncogenes).

2.1.3.3- Medidas de segurança

De maneira geral, as medidas de segurança para os riscos biológicos envolvem os


seguintes aspectos:
 Conhecimento da Legislação Brasileira de Biossegurança, especialmente das Normas
de Biossegurança emitidas pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança;
 O conhecimento dos riscos pelo manipulador;
 A formação e informação das pessoas envolvidas, principalmente no que se refere à
maneira como essa contaminação pode ocorrer, o que implica no conhecimento amplo do
microrganismo ou vetor com o qual se trabalha;
 O respeito das Regras Gerais de Segurança e ainda a realização das medidas de
proteção individual;
 Uso do avental, luvas descartáveis (e/ou lavagem das mãos antes e após a
manipulação), máscara e óculos de proteção (para evitar aerossóis ou projeções nos olhos) e
demais Equipamentos de Proteção Individual necessários,
 Utilização da capela de fluxo laminar corretamente, mantendo-a limpa após o uso;
 Autoclavagem de material biológico patogênico, antes de eliminá-lo no lixo comum;
 Utilização de desinfetante apropriado para inativação de um agente específico.
Além disso, as unidades hospitalares devem estar atentas às seguintes recomendações:

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1. Os hospitais devem dispor de um serviço de vigilância e notificação de acidentes com


material biológico, habitualmente feito pelas Comissões de Controle de Infecção Hospitalar
(CCIH). Devem oferecer ao funcionário acidentado assistência imediata, instituindo as
condutas necessárias em cada caso em tempo hábil.
2. As condutas clínicas a serem tomadas dependem do tipo de acidente, tipo de
exposição, tipo de material biológico envolvido, situação sorológica e vacinal do acidentado e
situação sorológica da fonte, quando conhecida.
3. Todo acidente com fonte desconhecida deve ser tratado e isto inclui profilaxia para
hepatite B e HIV, quando recomendada.
4. Quando necessário, sorologias específicas deverão ser testadas para o paciente-fonte
e o acidentado, que deve ser acompanhado por, no mínimo, seis meses.
5. Todo acidente deve também ser notificado ao Setor de Segurança e Medicina do
Trabalho para abertura da Comunicação Interna de Acidente de Trabalho e devidas
providências legais junto aos órgãos responsáveis.

CAPÍTULO 3- FISIOLOGIA DO TRABALHO

3.1 - Introdução

A Fisiologia do Trabalho visa ao estudo das pessoas no trabalho, para, com os


conhecimentos assim obtidos, adaptar o trabalho às pessoas (por planejamento e projeto do
trabalho) como também, reciprocamente, adaptar o homem ao trabalho, através de seleção
interindividual e adaptação intra-individual com qualificação e treinamento.
Com isso, pretende alcançar uma harmonização entre as pessoas e o trabalho com o
objetivo de, por um lado, garantir que o trabalhador com seus recursos (características,
capacidades, habilidades, aptidões individuais), mas também limitações, não seja nem super
nem subsolicitado, e, por outro lado, fazer uso racional destes recursos, e assim obter maiores
benefícios do trabalho humano.
Em outras palavras, objetiva-se humanizar o trabalho, o que significa respeito às
características e limitações do trabalhador, e, ao mesmo tempo, aumentar a efetividade do
sistema de trabalho pelo uso mais racional do recurso homem.
A Fisiologia do Trabalho estuda as pessoas no trabalho sob consideração de diversas
condicionantes técnicas, econômicas, e as condicionantes do indivíduo e da sociedade. Por
isso, faz-se necessária uma abordagem complexa e abrangente para o estudo do trabalho
humano. Na literatura, há diversas propostas de abordagens (Rohmert, 1983), dentre outras
destacamos as seguintes:
- fisiológica - subdivide o trabalho em muscular e nervoso, utilizando como critério a
ativação de sistemas de órgãos;
- técnica - é orientada pelas Ciências Naturais e pela Engenharia e subdivide o trabalho
em energético e informático, tendo como critério a energia e a informação enquanto
contribuintes ao desempenho do sistema;
- filosófico-materialista – subdivide o trabalho em corporal – referindo-se ao corpo
humano como algo material e intelectual;
- filosófico-histórica – subdivide o trabalho em físico e psíquico, dependendo de o
objeto ser concreto ou abstrato..

3.2- Trabalho e condições de trabalho

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Por trabalho humano entende-se uma atividade prescrita ou voluntariamente


selecionada, de caráter obrigatório, englobando o trabalho assalariado, o trabalho produtivo
individual autônomo (artesão, agricultor, microempresário), o trabalho doméstico e o trabalho
escolar em todos os níveis. Numa definição mais restrita, trabalho seria o que acrescenta valor
e entra no circuito monetário. Nesse caso, a dona de casa e o agricultor, dono de sua terra,
não trabalham (Wisner, 1987). Na prática, as reflexões sobre o trabalho e a legislação
trabalhista focalizam mais o trabalho assalariado, por afetar um maior número de pessoas, na
maioria das sociedades.
Numa definição mais operacional, entende-se por trabalho humano, genericamente, tudo
o que a pessoa faz para manter e promover sua própria existência e/ou a existência da
sociedade, dentro dos limites estabelecidos (valores, legislação) por essa sociedade. Assim, o
conceito de trabalho fica delimitado do conceito de jogo, e também de atividades que venham a
prejudicar a sociedade (Rohmert, 1983).
O conceito de trabalho humano é mais complexo e mais abrangente que o conceito de
trabalho na Mecânica (força x distância) e na Termodinâmica (transformação de energia). Na
verdade, trabalho humano inclui trabalho nos sentidos mecânico e termodinâmico, abrangendo
desde o trabalho essencialmente muscular (geração de forças) até o trabalho essencialmente
intelectual (geração de informações), passando por suas possíveis combinações.
Assim, Fisiologia do Trabalho não é somente a Fisiologia aplicada às questões práticas
do trabalho muscular e aos processos associados na circulação e respiração, mas a
interpretação ou explicação fisiológica de todas as funções do corpo que entram em ação
durante a execução de alguma tarefa de trabalho, inclusive as funções que se processam no
sistema nervoso central, quando da execução de atividades de caráter intelectual.
Quando o homem tem participação efetiva e significativa na obtenção de um produto ou
na prestação de um serviço, ele é componente de um sistema de trabalho. Com isso, o homem
- o trabalhador - é objeto de estudos, pesquisas e reflexões da Fisiologia do Trabalho. Nela o
trabalhador é visto no seu ambiente de trabalho real, com sua tarefa prescrita ou selecionada,
durante todo o período de trabalho. A moderna Fisiologia do Trabalho também considera em
seus estudos e reflexões o conteúdo, a estrutura e a duração dos períodos de trabalho, a
freqüência de trocas, o absenteísmo, as doenças do trabalho, as férias, os afastamentos para
qualificação e reciclagem e aposentadoria.

3.3- O Sistema de trabalho

Para a análise, a avaliação e o projeto do trabalho humano, como também para


implementar melhorias de condições de trabalho, faz-se necessária uma descrição exata e
abrangente da tarefa e das suas condicionantes. E preciso considerar o que a pessoa faz,
como o faz e sob que condições o faz, para que tarefas de trabalho possam ser bem
entendidas e os efeitos do trabalho sobre as pessoas possam ser associados às condições de
trabalho (causas) reinantes. Para essa descrição precisa-se de um instrumento metodológico,
como o modelo do sistema de trabalho.
Um sistema é um todo, cujos elementos interagem com uma certa finalidade. Trata-se
de uma quantidade limitada de elementos, de objetos relacionados entre si, e possivelmente
também relacionados com o ambiente externo. Essas relações definem ou constituem a
estrutura do sistema.
Os limites do sistema podem ser definidos livremente, de acordo com os objetivos da
abordagem pretendida. As partes de um sistema constituem seus subsistemas e ele próprio é
subsistema de um sistema maior.
Ao lado dos sistemas naturais há os criados pelo homem. Nesses pode-se distinguir
entre sistemas técnicos (de máquinas), sistemas sociais (de pessoas) e sistemas sociotécnicos
(de homem-máquina). O sistema de trabalho é um sistema sociotécnico, dinâmico, cuja

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finalidade é a execução de uma tarefa predeterminada, qual seja a produção de bens e/ou a
prestação de serviços, dependendo do grau de detalhamento ou especificação da tarefa de
trabalho.
A partir do conceito técnico de sistemas, usa-se o sistema de trabalho como a variedade
de relações entre pessoa e trabalho. Independentemente dos meios de produção utilizados, o
trabalhador lida com, transforma, modifica objetos de trabalho de acordo com o objetivo
previamente definido.
Assim, o sistema de trabalho pode ser entendido como um modelo que representa as
relações entre o homem que trabalha e a sua tarefa de trabalho. E o modelo básico consiste
em pelo menos, desses dois elementos – o trabalhador e a tarefa de trabalho – conforme
ilustra a figura 1 a seguir.

3.4- Cargas e solicitações no trabalho

3.4.1- Modelo conceitual

Toda pessoa com saúde física e psicoemocional tem condições de realizar trabalho.
Para executar uma tarefa de trabalho, a pessoa interage com os meios de produção (por
exemplo, máquinas e ferramentas) e está sujeita aos fatores ambientais reinantes. Da relação
entre os elementos de um sistema de trabalho decorre que, durante a execução da tarefa, a
pessoa está sujeita a diversas influências maléficas e/ou benéficas, cujas causas estão na
tarefa de trabalho e no ambiente de trabalho. Estas influências maléficas recebem o nome de
cargas.
As cargas provenientes da tarefa de trabalho estão associadas às questões sobre o que
deve ser feito (por exemplo, exercer forças, fazer movimentos, falar, escrever, calcular,
receber, tratar e expedir informações), como deve ser feito, em que seqüência de operações,
com o uso de que recursos auxiliares (talvez materiais de manuseio perigoso), quando deve
ser feito, com que freqüência as operações se repetem, em que ritmo deve-se trabalhar, que
precisão e reprodutibilidade é requerida, que características de manuseio o objeto de trabalho
apresenta (tamanho, massa, pontos de perigo, é flexível, escorregadio), e aos riscos
decorrentes das interações com os outros elementos do sistema de trabalho.
As cargas provenientes do ambiente de trabalho, que inclui o ambiente físico, químico,
biológico e social de trabalho, bem como outros aspectos que valem para o supersistema do
sistema de trabalho, ou seja, para diversos sistemas de trabalho ou até para toda a empresa,
como o sistema de turnos, a avaliação de desempenho e o sistema de remuneração.

3.5- Formas de trabalho humano

3.5.1- Conteúdo específico de tarefas de trabalho

O trabalho humano é bastante diversificado. Em análises de tarefas de trabalho


produtivo, foi verificado que todo o espectro do trabalho humano, ou melhor, a maioria das
tarefas de trabalho pode ser classificada segundo o seu conteúdo em cinco classes básicas:
geração de forças, coordenação sensório-motora, transformação de informações em reações,
transformação de informações de entrada em informações de saída e geração de informações
(veja quadro 1).
Na verdade, em cada sistema de trabalho tem-se uma mistura desses conteúdos, sendo

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que normalmente um predomina, o que é então usado como critério. Estas formas básicas de
conteúdo de tarefas se diferenciam nitidamente umas das outras por solicitarem outros órgãos
e porque cada uma delas exige a utilização de outras capacidades, habilidades e aptidões das
pessoas.

Quadro 1: Formas básicas de trabalho humano e seu conteúdo específico (Rohmert, 1983)

Formas de Conteúdo Exemplos Órgãos, Conceito na fisiologia do


trabalho humano específico do capacidades trabalho
trabalho solicitadas

Transporte de Músculo e
Geração de forças Trabalho muscular
bens coração
Predominantemente
corporal Guiar veículos,
Cordenação Múculos e órgaõs
montagem de Trabalho sensório-motor
sensório-motora dos sentidos
peças

Transformar
Atividade de Órgãos dos
informações em
controle sentidos
reações
Trabalho predominantemente
Transformar não-corporal
Predominantemente informações de Programar, Órgãos dos
não-corporal ou entrada em traduzir, sentidos,
informacional informações de atividades Capacidades
saída administrativas mentais
Capacidades e
Geração de Redigir, criar, habilidades Trabalho intelectual
informações projetar mentais

3.5.2- Trabalho predominantemente corporal

Em muitos casos é conveniente subdividir esses conteúdos de tarefas, definidos de


forma tão abstrata. No trabalho muscular usa-se como critério de subdivisão o efeito que se
atinge com a força gerada.
No trabalho muscular, o músculo funciona como máquina geradora de forças, que
durante a contração transforma energia química em energia mecânica potencial. Em princípio,
é indiferente se a força gerada é transformada em energia cinética ou não, pois, no sentido
fisiológico, tudo o que condiciona um aumento da transformação de energia é chamado de
trabalho. Mas a transformação ou não em energia cinética/movimento - serve de critério para
subdividir o trabalho muscular em trabalho muscular estático e trabalho muscular dinâmico.
Em todo trabalho muscular são solicitados não só os músculos, mas também o coração,
os pulmões e a circulação. A restrição fisiológica ao trabalho muscular é devida ao problema do
transporte nos sistemas circulatórios do pulmão (respiração) e do corpo inteiro.
Esses sistemas transportam oxigênio, glicose e gorduras para suprir as necessidades
dos músculos. Além disso, transportam os subprodutos da queima da energia química, como o
ácido lático e o calor gerado, para serem eliminados pelos órgãos competentes.
Como há significativa diferença entre a carga de trabalho a que o músculo está sujeito
nas formas de contração estática e dinâmica, convém diferenciar entre trabalho muscular
estático e trabalho muscular dinâmico. O músculo está sujeito à carga, tanto parado quanto em
movimento.
O trabalho muscular estático se caracteriza por uma contração demorada do músculo e
não há trabalho útil mensurável, pois não há alteração do comprimento dos músculos
envolvidos. No trabalho muscular estático, a circulação no músculo é reduzida.
Ela é tanto menor quanto maior for a força gerada e, consequentemente, o suprimento de
oxigênio, glicose e gorduras no músculo é deficiente, e o ácido lático proveniente da queima
incompleta das reservas musculares e o calor gerado nesta queima não são eliminados. A

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permanência desses elementos adversos no músculo leva à fadiga, a dores musculares e à


consequente interrupção da tarefa.
O trabalho muscular dinâmico caracteriza-se por uma sequência rítmica de contração e
relaxamento da musculatura envolvida. Nesse caso, Trabalho = Força x Encolhimento ou
Distensão do Músculo. O suprimento de oxigênio, glicose e gorduras é garantido: o movimento
dos músculos (contração e relaxamento) funciona como bomba, que leva mais sangue ao
músculo do que ele recebe em estado de repouso. Aqui há um equilíbrio entre necessidade de
sangue e suprimento de sangue (veja figura 4). Isso quando o ritmo de trabalho não for muito
grande e quando o trabalho não for muito pesado. Daqui conclui-se que a fisiologia do músculo
foi feita, e é adequada para trabalho muscular dinâmico leve, no máximo moderado, e não para
trabalho muscular estático.
A divisão do trabalho muscular em estático e dinâmico deve ainda ser elementarizada
devido a problemas de medição e de avaliação. No trabalho muscular dinâmico, o critério de
elementarizacão é o tamanho dos grupos de músculos ativados.
Quando a massa muscular envolvida corresponde a mais de 1/7 da massa muscular do
corpo, ou seja, grandes grupos de músculos estão ativados (por exemplo, no trabalho com pá e
enxada ou no carregamento de massas), tem-se o trabalho muscular dinâmico, que pode ser
leve, moderado ou pesado, dependendo da carga. Nesse caso, são solicitados também o
coração, a circulação e a respiração.

Figura 4: Fluxo de sangue no músculo em diferentes situações

Quando, por outro lado, a atividade requer apenas a aplicação de pequenos grupos de
músculos isolados (como ocorre na utilização de ferramentas manuais e pequenos
equipamentos, mas também em trabalhos de montagem com ciclo curto), temos o trabalho
muscular dinâmico unilateral.
No primeiro caso, há solicitação da maior parte da musculatura do esqueleto, da
circulação e da respiração; no segundo caso, há apenas solicitação nos pequenos músculos da
mão e/ou do braço.
Para classificar um trabalho muscular dinâmico de acordo com a carga de trabalho, usa-
se a capacidade aeróbica do indivíduo como critério. Segundo Christensen, mencionado em
Couto (1995), os limites da capacidade aeróbica do trabalhador seriam:
- trabalho muito leve ou leve - até 25%;

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- trabalho moderadamente pesado-de 25 a 37,5%;


- trabalho pesado-de 37,5 a 50%;
- trabalho pesadíssimo - de 50 a 62,5%;
- trabalho extremamente pesado-acima de 62,5%.
No trabalho muscular estático, a subdivisão se orienta no efeito da força gerada. Quando
a força gerada serve apenas para segurar o corpo ou partes dele, tem-se o trabalho muscular
estático devido à postura; quando a força gerada na musculatura é utilizada para segurar uma
massa, há uma aplicação de forças num meio de trabalho ou num objeto de trabalho, e fala-se
em trabalho muscular estático propriamente dito. A ausência de movimentos dos membros é
característica comum dos dois

3.5.3- Mudanças fisiológicas no início do trabalho

3.5.3.1- Começando a trabalhar

Quando uma pessoa inicia o seu trabalho, ocorrem algumas mudanças no organismo
dela. Através de impulsos nervosos centrais iniciam-se as contrações necessárias, segundo
um modelo de movimento, que têm como conseqüência imediata mudanças na disposição de
energia no músculo. Igualmente rápidas são as mudanças que ocorrem nos batimentos
cardíacos: a primeira batida após o início de uma atividade ocorre mais depressa, num
intervalo menor do que em estado de repouso. No primeiro minuto, após o início da tarefa,
observam-se reações de mudança nas trocas gasosas e na circulação de sangue no músculo,
na atividade do coração e da respiração, bem como na composição do sangue. A
termorregulação reage com uma latência maior.
Na maioria dessas reações, verifica-se um aumento no início, mas, depois de alguns
minutos de trabalho leve com intensidade constante, é alcançado um estado de equilíbrio, em
que as variáveis correspondentes permanecem constantes num novo nível; contudo, no
trabalho muscular pesado, é característico que as reações de mudança não atinjam novo
estado de equilíbrio durante o trabalho, mas aumentem até o colapso ou a interrupção da
tarefa por parte da pessoa. As reações de mudança citadas têm influência tanto maior quanto
mais pesado for o trabalho.
Por isso, toda pessoa inicia sua tarefa com intensidade menor, e depois de alguns
minutos alcança seu rendimento pleno. Em atividades industriais comuns, esse período é de
dez a trinta minutos e, em atividades especiais, pode chegar a uma hora.
Daí a necessidade de um aquecimento ativo para aumentar a capacidade de rendimento
de uma pessoa no início da jornada de trabalho. Acrescenta-se aqui o efeito do entrar no ritmo.
Em trabalhos leves, que solicitam bastante os nervos, podem ocorrer tempos iniciais de
duração significativa, porque ao lado das trocas gasosas há também necessidade de outras
reações de mudança.
E preciso diferenciar entre as mudanças que ocorrem nas pessoas no início de cada
período de trabalho e as mudanças que ocorrem em períodos de semanas e meses, em que o
trabalhador se acostuma ao trabalho, adquire experiência e melhora o padrão de movimentos e
trabalha com menos fadiga do que no início.

3.5.3.2- Mudanças na musculatura esquelética

Trocas gasosas: Em trabalhos leves, há uma pequena fase no início em que a energia
necessária é obtida pelo processo anaeróbico, passando em seguida para o processo
aeróbico, em que há a queima de glicose, ácidos graxos e glicerina fornecidos ao músculo. No
trabalho muscular pesado, parte da energia é, constantemente, obtida por processo
anaeróbico. A transformação energética anaeróbica com geração de ácido lático entra em ação

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sempre que há circulação insuficiente, reduzido suprimento de O2 no músculo e gargalos na


respiração.
Com o início da geração do ácido láctico, sobrepuja-se um limiar: inicia-se a geração da
fadiga. Para aumentar a obtenção de energia pelo processo aeróbico no músculo do
trabalhador, no início do trabalho, o músculo precisa de um período de aquecimento em que a
energia é suprida anaerobicamente a partir das suas reservas. Para isso ele precisa das
reservas de fosfatos, que, embora pequenas em comparação com as de glicogênio, são
imprescindíveis em todo início de atividade e para momentos de pico.
Circulação no músculo: Dependendo da intensidade das trocas gasosas, a circulação
no músculo ativo aumenta até vinte vezes, no trabalho muscular pesado. Este aumento na
circulação se concretiza num período de vinte a trinta segundos.
Após este período inicial, em trabalho dinâmico leve, o suprido equivale à demanda. Mas,
em trabalho muscular dinâmico pesado, a demanda não é atendida, gerando um déficit. As
conseqüências são a formação de ácido lático e a acidose no músculo, a não-dissipaçáo do
calor gerado na transformação energética, a falta de O2, e de elementos energéticos para a
queima, e, finalmente, a fadiga.
Em trabalho com pequenos grupos de músculos (até 1/7 da massa muscular), essa
demanda adicional pode ser suprida com o aumento do volume de sangue bombeado pelo
coração, por unidade de tempo. Com o envolvimento de uma massa muscular maior e
exigências energéticas maiores (trabalho muscular pesado) o aumento do volume de sangue
bombeado não basta. A capacidade de rendimento no trabalho muscular depende do volume
máximo de sangue bombeado, por unidade de tempo.
No trabalho estático, a circulação no músculo é reduzida, quando a força de contração
ultrapassa 15% de sua força máxima. A causa da redução da circulação é o aumento da
pressão intramuscular, que fica maior que a pressão capilar em contrações isométricas fortes.
Com circulação reduzida no músculo, a transformação de energia se dá por processo
anaeróbico, com geração de ácido tático intramuscular. que gera a fadiga.

3.5.3.3- Mudanças no sistema circulatório

Intensidade da circulação: Durante a realização de trabalho, a circulação aumenta


somente nos músculos ativos e no músculo do coração. Nos outros órgãos ela permanece
constante (por exemplo, no cérebro) ou é reduzida, como acontece no sistema digestivo e nos
músculos parados. Essa economia de energia pela redução da circulação em alguns órgãos
não faz muita diferença. O aumento da circulação nos órgãos solicitados, nos músculos em
atividade é garantido, sobretudo, pelo aumento do volume de sangue bombeado por unidade
de tempo.
Freqüência cardíaca: Em trabalho leve, com rendimento constante, a frequência
cardíaca aumenta nos primeiros cinco a dez minutos até um platô, onde se estabelece um
novo estado de equilíbrio que será mantido até o final do trabalho, por horas.
Em trabalho pesado, com rendimento constante, a freqüência cardíaca não atinge um
novo equilíbrio, mas ocorre um aumento da fadiga, que aumenta até um limite máximo
individual. Este comportamento diferente da freqüência cardíaca em trabalho leve e pesado
(veja figura 5) foi comprovado em experiências com trabalhadores durante períodos de oito
horas.
Após o trabalho também há uma diferença típica: no trabalho leve a freqüência cardíaca
retorna à freqüência de repouso num período de três a cinco minutos: após trabalho pesado, o
período de recuperação para alcançar a freqüência de repouso é muito mais longo, podendo
chegar a horas. Ao número de pulsos, que na fase de recuperação estão acima da freqüência
de repouso, chama-se soma do pulso de recuperação. Também estes valores dependem da
solicitação.

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Figura 5: Comportamento da FC no trabalho leve e pesado.

Volume de bombeamento: O volume de sangue bombeado por batida, no início de uma


atividade, aumenta 20 a 30% e depois permanece mais ou menos constante; com solicitação
máxima ele decresce um pouco. Como o volume bombeado no trabalho, por uma pessoa
saudável, sô aumenta pouco, este e a freqüência cardíaca se alteram quase que
proporcionalmente. Paralelamente ao aumento da freqüência do pulso ocorre um aumento do
volume de sangue bombeado, por unidade de tempo. Quanto mais intensamente alguém
trabalha tanto maiores serão os valores do novo equilíbrio. O máximo alcançável varia com a
idade e o grau de treinamento. Na idade de 20 a 30 anos, pessoas não treinadas atingem
20litros/min, enquanto que pessoas treinadas atingem 35litros/min.
Pressão arterial: Em trabalho dinâmico, a pressão arterial se altera em dependência do
rendimento. A pressão sistólica aumenta quase que proporcionalmente ao rendimento; em
200W alcança 220mmHg. A pressão diastólica se altera pouco, freqüentemente cai um pouco.

3.5.3.4- Mudanças no volume de respiração

O volume da respiração por unidade de tempo aumenta proporcionalmente ao aumento


da captação de O2, durante o trabalho dinâmico leve, como o volume de bombeamento por
unidade de tempo. Este aumento decorre do aumento do volume respirado e/ou da freqüência
de respiração. No trabalho pesado, o volume de respiração por unidade de tempo cresce
proporcionalmente à captação de O2. O ácido lático produzido no músculo gera a acidose
metabólica do sangue, o que constitui um estímulo adicional para a respiração.

3.5.3.5- Mudanças na captação de O2

Captação de O2: A captação de O2 cresce em função da solicitação, quer dizer, de


acordo com a intensidade e o rendimento. No trabalho leve, alcança-se um platô entre o O2
necessário e o suprido, depois de três a cinco minutos, pois a circulação e as trocas gasosas
no músculo não se alteram imediatamente, precisam de tempo para adaptar-se à situação de
trabalho. No trabalho muscular pesado, também com rendimento constante, não se alcança o
estado de equilíbrio: a captação de O2 cresce semelhantemente à freqüência de pulso, até um
valor máximo (veja figura 4).

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Figura 4: Comportamento do coração e déficit de O2.

Déficit de O2: No início de um trabalho, o suprimento de O2 não corresponde à demanda,


de forma que ocorre um déficit por causa das mudanças na circulação e trocas gasosas no
músculo.
No trabalho leve, este déficit permanece constante, depois de alcançado o novo
equilíbrio; no trabalho pesado, este déficit aumenta durante todo o período de trabalho. No final
do trabalho, constata-se uma captação de O2 muito acima do verificado em estado de repouso,
antes do trabalho, especialmente nos primeiros minutos. Este valor precisa ser interpretado: a
alta captação de O2, não depende só do déficit gerado no trabalho e, portanto, a ser restituído,
mas também de outros fatores, como temperatura corporal elevada, mais respiração, alteração
do tônus da musculatura e reabastecimento do reservatório de O2 do corpo. Com isso, o O2,
restituído é maior que o déficit antes gerado. Depois de trabalho leve, o déficit de O 2 chega a
quatro litros; depois de trabalho pesado, pode chegar a vinte litros.
Captação de O2 e freqüência de pulso com rendimento crescente: Em trabalho
dinâmico, aumenta a captação de O2 e a freqüência de pulso com a intensidade de trabalho.
Quanto maior a solicitação, mais crescem os aumentos dessas variáveis. Assim, captação de
O2 e freqüência de pulso são medidas para a solicitação. Com rendimento que aumenta
constantemente e freqüência de movimentos constante, a captação de O 2 aumenta de forma
linear até um limite máximo. Depois de alcançar este máximo, a diferença entre o O2
demandado e o suprido aumenta tão rapidamente que, em poucos minutos, ocorre o colapso
agudo.

3.5.3.6- Mudanças de variáveis no sangue

Gases no sangue: Em trabalho leve, as pressões parciais de O2 e CO2 nas artérias só


se alteram pouco em pessoas saudáveis. Em trabalho pesado, a pressão arterial parcial de
CO2, diminui bastante sem que a pressão de O2, se modifique.
Acidez no sangue: Trabalho leve não altera o equilíbrio ácido-base do sangue. O CO2,
adicional gerado no trabalho é trocado com o ambiente pelos pulmões. No trabalho pesado
ocorre uma acidose metabólica devida à geração do ácido lático, que só em parte pode ser
compensada pela respiração.
Nutrientes no sangue: Na pessoa saudável, o nível de glicose no sangue se altera
pouco no trabalho. Só em trabalho pesado por um período mais longo. a concentração de
glicose diminui - um sinal da proximidade de colapso. A concentração de lactato é bastante

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variável, pois depende da quantidade produzida no músculo (solicitação e duração do trabalho)


no trabalho anaeróbico e das possibilidades da sua eliminação pelo organismo. O lactato é
reduzido ou oxidado nos músculos não ativos, no músculo do coração e nos rins, e, em
pequenas quantidades, é transformado em glicogênio no fígado. Com alimentação rica em
carboidratos, a concentração de ácidos graxos livres e de glicerol nas artérias é pouco
influenciada pelo trabalho. Com alimentação mais equilibrada, essas concentrações podem
crescer quatro vezes ou mais em trabalho pesado por um período maior.
Outras substâncias: Durante trabalho muscular aumenta a concentração de eletrólitos
no sangue (por exemplo, potássio) e de substâncias orgânicas (por exemplo, transaminas).
Essas alterações são explicadas pelo fato de a membrana do músculo ficar porosa e permitir a
passagem de elementos intracelulares para o sangue. A volta ao estado de equilíbrio inicial
pode levar dias.

3.5.3.7- Mudanças na termorregulação

O suor é tido como sinal de trabalho pesado. Mas a sudorese não depende só da
intensidade de trabalho, mas também das condições ambientais. Esta inicia quando o equilíbrio
térmico entre o corpo e o ambiente estiver perturbado. E isso se verifica quando a pessoa
realiza trabalho muscular pesado, com produção significativa de calor, num ambiente sem
condições de receber esse calor; num ambiente com temperatura alta, umidade alta, falta de
convecção, radiação de calor em excesso, como, por exemplo, em fundições; e se a pessoa
tiver ainda uma vestimenta inadequada, o corpo do trabalhador não consegue dissipar o calor
gerado no músculo, e a sudorese passa a ser intensa.
No trabalho físico, o músculo precisa da circulação mais intensa para produzir trabalho
ou transformar energia e, por outro lado, a circulação periférica deveria ser mais intensa para
dissipar o calor no ambiente. Há um conflito entre os dois mecanismos e parece que a
demanda no músculo tem a preferência. De qualquer forma, a perturbação do equilíbrio térmico
do organismo humano é uma carga significativa para as pessoas no trabalho.

3.6- Fisiologia da visão

Acompanhando a evolução dos organismos vivos e da matéria orgânica, como resposta


a luz surgem os olhos que a detectam e tomam possível a interrelação entre a matéria
altamente desenvolvida e seu contorno.
A figura 5 mostra a estrutura geral do olho, a qual assemelha-se a uma câmara
fotográfica, onde a lente da câmara seria o cristalino do olho, as pálpebras funcionariam como
o dispositivo de apertura e fechadura da lente. o diafragma seria o !ris e a retina seria a película
fotográfica ou filme. Neste conjunto é que as imagens luminosas são convertidas em impulsos
nervosos que serão enviados ao cérebro.

Figura 5: Estrutura geral do olho humano.

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Assim como acontece na câmara fotográfica, (Figura 6), a abertura da pupila (íris) pode
variar automaticamente com o objetivo de controlar a quantidade de luz que entra no olho. Esta
abertura aumenta na penumbra aproximadamente até 8 mm de diâmetro e reduz-se com a
presença da luz intensa aproximadamente até 2 mm. Por outra parte, a coróides é uma
membrana que encarrega-se de absorver os raios dispersos para obter uma imagem mais
nítida.
Figura 6: Comportamento do olho como uma câmara fotográfica.

O sistema de lente do olho está formado pela córnea e pelo cristalino. Os músculos
ciliares e os ligamentos, que mantém ao cristalino relativamente plano, regulam a forma do
cristalino de acordo com a distância a que se encontram os objetos, com o objetivo de garantir
um correto enfoque da imagem na retina. É esta elasticidade do cristalino a que permite
enfocar na retina a melhor imagem dos objetos, independentemente da distância a que estes
se encontram do olho.
É a este mecanismo que se denomina acomodação o qual vai-se perdendo com a idade,
devido ao endurecimento progressivo do cristalino (Viña, S. e E. Gregory. 1987). Aos 16 anos,
a pessoa é capaz de acomodar até 8 cm de distância, mas aos 45 anos essa distância cresce
para 25 cm e aos 60 anos chega a 100 cm. Nesse caso, há necessidade de um óculos de
lentes de convergência para corrigir essa deficiência (Iida, I, 2005).
A convergência é a capacidade dos dois olhos se moverem coordenadamente, para
focalizar o mesmo objeto. A menor distância para a convergência situa-se em torno de 10 cm e
não é muito afetada pela idade. A acomodação e convergência são processos simultâneos,
que dependem da musculatura dos olhos e têm a função de manter a imagem "única" no
foco(Iida, I, 2005).
A adaptação é a faculdade do olho para ajustar-se automaticamente a mudanças nos
níveis de iluminação; deve-se a capacidade que tem o íris para regular a abertura da pupila e
as mudanças fotoquímicas na retina. Na medida em que passa o tempo, o olho humano
adapta-se cada vez mais a situação existente. Normalmente o olho consegue adaptar-se muito
mais rápido quando a pessoa passa de um ambiente escuro para um que esteja iluminado.

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Este processo pode ser observado quando uma pessoa. por exemplo, abandona um cinema
depois de assistir a um filme. Isto se deve a que quando os raios luminosos atingem a retina,
produz-se um processo de descomposição da rodopsina, que é a substância fotossensível que
se encontra na membrana que cobre o segmento externo dos bastonetes. em outras duas
substâncias (retineno e escotopsina) e o período de ressíntese demora um determinado tempo.
O contrário é diferente, a adaptação do olho quando passa de um ambiente iluminado
para escuro, o processo acontece muito mais lento e passado um tempo, que pode ser
aproximadamente de um minuto, a pessoa começa a enxergar com maior facilidade e passado
um tempo maior, consegue perceber, com mais detalhes os objetos.
Da mesma forma, e continuando com o mesmo exemplo, a pessoa ao entrar no cinema
no consegue visualizar praticamente nenhum objeto e normalmente, de não existir uma pessoa
que o guie, permanece por um tempo parado aguardando conseguir enxergar onde se
encontram as cadeiras. Ao transcorrer um tempo, sua visão melhora consideravelmente. Este
processo pode explicar-se porque logo ao início da entrada ao cinema, os níveis de rodopsina
e das substâncias cromossensíveis dos cones diminuem notavelmente. Por outra parte, como
nos ambientes escuros existe muita pouca quantidade de energia luminosa a descomposição
da rodopsina é muito pequena. Desta forma a concentração de rodopsina aumenta
gradualmente, conseguindo a estimulação dos bastonetes com pequenas quantidades de luz,
pelo que as pessoas começam a enxergar melhor nas condições de escuro.

3.6.1- Sensibilidade do olho humano

Os processos de acomodação. adaptação, convergência, junto a acuidade visual e a


percepção das cores, constituem as características fundamentais da visão humana.
Acuidade visual. É a capacidade visual para discriminar pequenos detalhes e depende de
vários fatores sendo os mais importantes a iluminação e o tempo de exposição.
Percepção de cores. A luz pode ser percebida como uma energia física que propaga-se
através de ondas eletromagnéticas. O olho tem dois tipos de células fotossensíveis ou
fotorreceptores sensíveis a luz que são os cones e os bastonetes, que são chamados assim
pela forma deles.
Em cada olho existem aproximadamente 7 milhões de cones e 123 milhões de
bastonetes, outros autores porém, (Guyton, A.C.. 1988) mostram que existem
aproximadamente 125 milhões de cones e bastonetes e que só apenas, um milhão de fibras
parte do olho para o cérebro. Outra referência (Iida, I, 2005), coloca que existem em cada olho
cerca de 6 a 7 milhões de cones e 130 milhões de bastonetes. Os cones e os bastonetes tem
características completamente diferentes entre si.
A maior quantidade de cones encontram-se na fóvea que é uma zona localizada no fundo
da retina, já que na parte periférica da retina só existem bastonetes.
Os cones são mais sensíveis as luzes mais fortes, são encarregadas da visão das cores
e os bastonetes são acromáticos, ou seja, não distinguem cores, só vêm imagens em branco e
preto, mais apenas formas, e são mais sensíveis a baixos níveis de energia da luz e estão mais
dispersos na retina.
O olho humano é sensível a radiações eletromagnéticas de luz visível entre valores que
oscilam entre os 400 e os 750 nm, tendo um máximo de longitude de onda de 555 nm, valor
que corresponde com a cor verde-amarela para onde exista condições de luz e esteja
adaptado o olho e existe um valor de longitude de onda de 480-510 nm para baixos níveis de
iluminação que corresponde com uma cor azul-verde. Na qualidade da visão, assim como na
fotografia, a luz tem uma importância fundamental. Em condições de boa iluminação, como
acontece geralmente de dia, a visão é nítida e as cores são distinguidas com facilidade, a este
tipo de visão conhece-se com o nome de fotópica ou visão diurna, já que para níveis de
iluminação inferiores a 0,25 cd/m2 a visão de cor tende a desaparecer e a visão é mais sensível

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aos tonos azuis, conhecida como visão escotópica.


Em locais em penumbra com uma iluminação intermedia, a capacidade do olho para
distinguir as cores diminui na medida em que diminui a intensidade da luz. Assim são definidas
as curvas de sensibilidade do olho a luz, com um máximo nos 5500 °A, que coincide, como foi
dito anteriormente, com a cor verde-amarela que corresponderia a visão fotópica, já para os
baixos níveis a curva vai-se deslocando para a cor azul, na medida em que diminui a luz,
alcançando um máximo nos 5100°A, que igualmente como foi dito, coincide com uma cor azul-
verde, coincidindo com a visão escotópica. A este deslocamento do máximo da curva ao
diminuir a quantidade de luz que o olho recebe, chama-se Efeito Purkin¡e.
O conforto e desconforto dos trabalhadores, assim como seu rendimento enquanto a
produtividade estão intimamente ligados com os níveis de iluminação, tendo em conta que a
maior parte da informação que o trabalhador necessita, a obtém através da visão, desta
maneira pode-se dizer que a iluminação definitivamente é um fator importante e determinante
nos resultados produtivos, diminuição de incidentes e acidentes, grau de satisfação ou
insatisfação, etc. Por isto é que se disse que a iluminação adequada é um fator de elevado
nível econômico.

3.6.2- Visão de cores

Sabe-se que os genes para as cores estão ligados ao sexo e acontecem no cromossoma
feminino (X), como as mulheres possuem dois desses cromossomas (XX), é difícil que
apresentem a deficiência cb gene para as cores: como os homens só apresentam um
cromossoma X, um ou mais dos genes para as cores podem faltar em cerca do 8 % dos
homens.
Na retina situam-se as células fotossensíveis, que são os cones e os bastonetes. Estas
células transformam a energia luminosa em sinais neuroniais que são transmitidas até o
encéfalo. A camada pigmentar da retina contém grande quantidade de melanina cuja função é
a de absorver os raios luminosos que chegam a retina e, portanto impedir a reflexão da luz de
volta para o olho.
As pessoas albinas, incapazes de produzir melanina em qualquer parte de seu corpo,
apresentam falta total de pigmentos nessa camada da retina, o que traz como resultado que
todos os raios luminosos que atravessam a retina são refletidos em todas as direções. pois não
são "absorvidos". A visão geral do albino é três vezes menor que a de uma pessoa normal e
fica tão ofuscado pela luz solar de um dia claro, que necessita usar óculos escuros para poder
ver algo.
Os cones são seletivamente estimulados por as diferentes cores. Dentro dos cones
existem três tipos básicos de receptores cromáticos: vermelho, verde e azul e as cores
intermedias entre essas três áreas são conseguidos por meio de uma combinação de cores. O
maior número de receptores de luz corresponde aos bastonetes que são estimulados pela luz
de todos as cores, assim os cones são responsáveis pela visão das cores e os bastonetes
responsáveis pela visão em branco e preto ou claro e escuro.

3.6.3- Defeitos na percepção de cores

3.6.3.1- Acromatopsia: a visão só produz-se com o funcionamento dos bastonetes, ao não


funcionar os cones. A eficiência luminosa corresponde a visão escotópica.

3.6.3.2- Discromatopsia ou Daltonismo: Os daltônicos são pessoas que apresentam


deficiência nos cones, quando alguns de seus três pigmentos não funcionam. Sua incidência
ê maior nos homens que nas mulheres, aproximadamente em proporção de 3.5 % por 2,0
%. Em dependência do pigmento que esteja faltando o daltonismo pode ser.
3.6.3.2.1- Protanopia: ausência do vermelho:

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3.6.3.2.2- Denteranopia: ausência do verde:


3.6.3.2.3- Tritanopia: ausência do azul.
O tipo mais comum de daltônico é aquele que não consegue distinguir o vermelho e
depois seguem aqueles que não conseguem distinguir o amarelo do azul.
3.6.3.3- Trocomatopsia: consiste em o defeito da percepção da cor que para obter branco
a partir de três luzes monocromáticas (vermelho-verde-azul) necessita-se uma proporção
distinta da normal.

3.6.4- Movimento dos olhos

Os olhos se movimentam para o objeto de atenção através de três pares de músculos


oculares os quais estão ligados a cada globo ocular. É importante lembrar que estes músculos
são externos ao globo ocular e não deve confundir-se com os músculos ciliares que se situam
no interior do globo ocular e que são os responsáveis junto aos ligamentos. pela focalização do
cristalino.
Estes três pares de músculos externos (Figura 7) que controlam os movimentos.
3.6.4.1- Um par de músculos que se encontram na parte superior e inferior do globo
ocular e que tem a função de possibilitar que os olhos mexam-se para cima
e para baixo;
3.6.4.2- Um par de músculos que se encontram inseridos de forma horizontal nos dois lados
do globo ocular e que permitem o movimento lateral e medial dos olhos;
3.6.4.3- Um par de músculos que se encontram em torno do globo ocular e que permitem os
movimentos de rotação dos olhos.

Figura 7: Músculos do olho.

Os centros neuronais existentes na base do cérebro são os que controlam todas as


funções musculares do olho. Os olhos se movimentam coordenadamente e de forma
simultânea para garantir a convergência dos eixos visuais sobre o objeto fixado, desta maneira
isto pode provocar operações complicadas como seria o caso da mudança de fixação de um
ponto distante para outro ponto mais perto, isto leva a uma complicada operação de contrações
musculares que provocam contrações da pupila, acomodação do cristalino e a convergência
binocular.
Quando fixa-se a vista em um objeto acontecem movimentos voluntário e involuntários.
Os movimentos involuntários são comandados pelo cérebro e permitem que o objeto fixado
seja visto com nitidez, já que o movimento voluntário depende, como o nome indica, da
vontade da pessoa em direção do objeto que ela deseja fixar.

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3.6.5- Movimento Sacádico

Para compreender melhor este tipo de movimento pode-se tomar, por exemplo, a leitura
ou o próprio exame detalhado de um objeto, em qualquer dessas circunstâncias, o olho não se
mexe continuamente, senão em forma de "pulos" em diversas fixações sucessivas. Esse
movimento é conhecido como sacádico, no qual, primeiro acontece uma aceleração na direção
desejada, seguido de uma desaceleração e ao ficar mais perto ao ponto desejado, começam a
acontecer pequenas oscilações para conseguir um bom ajuste. Estes movimentos sacádicos
posicionam as diferentes partes da imagem na fóvea, sendo esta a de maior concentração de
cones.

3.6.6- Persistência de imagens e fusão de imagens intermitentes

Depois de um relâmpago luminoso que dure aproximadamente um milionésimo de


segundo, o olho vê uma imagem de luz que dura aproximadamente um décimo de segundo,
assim a duração da imagem é o intervalo de tempo em que a retina permanece estimulada
depois do relâmpago. Essa persistência da imagem na retina permite a fusão de imagens
intermitentes, conhecido como efeito Flicker (Guyton, A.C., 1988).
Para melhor compreensão deste fenômeno pode-se citar o exemplo de uma película
(filme) que é projetada na freqüência de 16-30 imagens por segundo e a televisão na
frequência de 60 imagens por segundo. a imagem persiste na retina durante um intervalo de
tempo compreendido entre duas imagens sucessivas o que da a impressão de estar
observando algo contínuo.
O tempo mínimo entre uma fixação e outra, varia entre 200-300 ms, pelo que pode-se
dizer que apenas realizam-se 4 fixações por segundo, portanto, quando realizam-se tarefas
como inspeção nas empresas, industrias. etc. e outras tarefas visuais, estas efetuam-se por
fixações discretas dos olhos, em sucessivos movimentos sacádicos, de forma tal que se essas
tarefas precisam inspecionar mais de 4 pontos, existirá uma tendência a aumentar os erros.

3.6.7- Anormalidades do sistema de lentes

Em condições normais, o olho focaliza os raios luminosos paralelos exatamente sobre a


retina e essa focalização normal é conhecida como emetropia. De forma esquemática, mostra-
se estas condições normais na figura 8.

Figura 8: Emetropia.

As normalidades que impedem a focalização dos raios luminosos sobre a retina são:
- Hipermetropia;
- Miopia;
- Astigmatismo.
Na hipermetropia, que pode ser conhecida como vista cansada ou visão de longe,
produz-se pela incapacidade do cristalino de desviar os raios luminosos de maneira suficiente
para atingir o ponto focal da retina. Nesta patologia, as pessoas vêm os objetos distantes com
maior nitidez que os objetos que estão mais próximos. Uma causa frequente desta patologia é

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o fato de que o globo ocular seja demasiado curto. Uma forma esquemática de representar
esta patologia mostra-se na figura 9.

Figura 9: Hipermetropia.

A miopia, que pode ser conhecida como visão de perto, e causada por um sistema de
lentes muito fortes para a distância da retina atrás do cristalino. Este processo acontece porque
o globo ocular é excessivamente cumprido todo o contrario da hipermetropia.
Os raios luminosos são focalizados antes de atingir a retina e no momento em que
atingem a esta, estão novamente dispersados. A pessoa míope pode ver os objetos de perto
de forma mais nítida que os objetos que se encontram a uma distância maior. A figura 10
mostra o processo da miopia.

Figura 10: Miopia.

O astigmatismo acontece quando o sistema de lentes é ou fica ovóide em vez de


esférico, pelo que a pessoa com olhos astigmáticos é incapaz de focalizar qualquer objeto com
nitidez independentemente da distância a que encontram-se do olho, porque quando os raios
luminosos da visão de perto estão focalizados, os da visão de longe não estão e vice-versa.

Figura 11: Exemplos.

3.6.8- Fatores que relacionam a visão e a iluminação

Em qualquer estudo de iluminação é importante conhecer os fatores que relacionam a


visão e a iluminação. Normalmente se fala só do nível de iluminação como o fator mais
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importante a considerar em um analise das condições de iluminação em uma área de trabalho,


o qual é um equívoco.
Existe um grupo de fatores determinantes da visibilidade, os quais devem ser motivo de
estudo, de conhecimento e de domínio dos especialistas que se encontram ou que desejam
realizar um estudo de iluminação, para que o mesmo seja realizado de forma correta. Tendo
em conta que a visão é o resultado da interação entre a luz e o aparelho visual, tomam-se
como fatores dessa interação:
1. Tamanho
2. Ângulo de visão;
3. Agudeza visual,
4. Brilho;
5. Contraste,
6. Deslumbramento ou ofuscamento.
7. Distribuição do brilho;
8. Difusão;
9. Cor.
Tamanho do objeto: Quanto maior tamanho do objeto a uma mesma distância de visão,
maior será o ângulo visual e mais rapidamente será observado o objeto.
Ânqulo de visão: Quanto maior o ângulo visual, maior será o tamanho da imagem na
retina. Um objeto observado a diferentes distâncias, tenderá diferentes ângulos de visão. A
natural tendência de acercar aos olhos os objetos pequenos para visualizá-lo melhor tem seu
fundamento nesta relação., ao acercar o objeto aos olhos não se faz mais que aumentar o
ângulo de visão com o qual o objeto se faz maior.
Acuidade visual: É a capacidade para distinguir os objetos em seus mínimos detalhes.
É uma medida do detalhe menor que pode ser visto. A agudeza visual de uma pessoa
expressa-se como o ângulo mínimo que devem formar dois pontos luminosos e o olho humano
para que este possa percebe-o como dois pontos separados. A agudeza visual está muito
estreitamente relacionada com o contraste e o brilho, pois os trabalhos realizam-se geralmente
com objetos não luminosos, ou seja, iluminados por reflexão. A agudeza visual decresce multo
cedo.
Pode-se constatar que a agudeza visual de uma pessoa é diretamente proporcional à
iluminação. Para evitar a fadiga existem normas que recomendam o nível de iluminação
mínimo que se precisa para um número de tarefas. A fadiga visual é provocada principalmente
pelo esgotamento dos pequenos músculos ligados ao globo ocular, responsável pela
movimentação, fixação e focalização dos olhos (Iida. I., 2005).
Brilho: O brilho de uma superfície é a intensidade luminosa que este emite (se é
luminoso) ou reflete (se é iluminado) em direção normal a linha de visão por unidade de área.
O brilho depende da intensidade de luz que incide sobre a superfície e do coeficiente de
reflexão desta. O mesmo objeto tenderia mais brilho se ilumina mais intensamente e uma
superfície branca tendera muito mais brilho que uma superfície negra, já que a primeira tem um
coeficiente de reflexão muito maior.
Contraste: O contraste é o brilho relativo entre o objeto e seu fundo. Um alto contraste
facilita a rápida visão e identificação de um objeto., agora um baixo contraste pode chegar a
torna-lo invisível,
Distribuição do brilho no campo visual: A distribuição do brilho no campo visual do
posto de trabalho e ao seu redor é um dos aspectos mais importantes, pois um constante
ajuste visual cansa a vista. Os excessivos desníveis entre os brilhos da zona do posto de

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trabalho e ao seu redor são prejudiciais para o homem, pois o trabalhador está obrigado a
realizar um constante ajuste visual dilatando e contraindo a íris segundo a zona que se
observe.
Não deve-se confundir a distribuição homogênea do trilho nas grandes zonas do campo
visual com a indesejável ausência de contraste entre o objeto e seu fundo. Para conseguir
relações de brilhos adequados deve-se ter em conta não somente as fontes de luz, senão
também os coeficientes de reflexão do teto, paredes, chão, móveis, roupas, equipamentos,
etc., pois todos eles contribuem a iluminação do posto de trabalho.
Deslumbramento: As grandes diferenças de brilhos no campo visual provocam o
deslumbramento. Isto se deve que em uma pequena superfície da retina incide uma
quantidade de luz relativamente grande a sensibilidade daquela se reduz em conjunto e em
conseqüência diminui a acuidade visual.
Tal é o caso que pode apresentar-se em um posto de trabalho onde se produzem
reflexos intensos em vidros, peças metálicas ou superfícies muito polidas ou esmaltadas ou
incluso lâmpadas mal situadas dentro do campo visual do trabalhador.
Difusão da luz: A difusão da luz geralmente oferece vantagens, pois se evitam reflexões
espetaculares e sombras fortes. A difusão se consegue com luminárias de baixo brilho e de
grande superfície. fontes luminosas radiantes indireta ou semi-diretas, etc, e paredes e
superfícies polidas. Porém deve-se ter em conta as tarefas que necessitam apreciar detalhes e,
nestes casos, a luz difusa o impede.
Cor: A cor é a sensação visual produzida pela luz no sentido da visão que permite ao
homem diferenciar os diferentes comprimentos de onda que a compõem. O olho não é
igualmente sensível a todas os comprimentos da onda que compõem a banda visível do
espectro electromagnético.

3.7- Fisiologia da audição

A função da orelha é a de converter o som em impulsos nervosos, o que é o mesmo, em


sinais elétricas, que são transmitidas ao cérebro para produzir as sensações sonoras. Da
mesma forma que muitos autores assemelham o funcionamento do olho humano com uma
câmara fotográfica, outros que comparam a orelha com o microfone.
O som é originado por uma série de ondas de compressão repetidas, que transitam pelo
ar em forma de ondas a una velocidade aproximada de 321,8 m/s e ao atingir a orelha,
produzem as sensações sonoras. Segundo Guyton o mais baixo murmúrio que podemos ouvir
possui apenas cerca de um milionésimo de energia sonora de voz falada normal; o que
demonstra a extrema sensitividade da orelha para a detecção do som (Guyton, A. C., 1988).
A orelha humana é capaz de perceber sons em um intervalo muito amplo de pressão
sonora, de tal forma que o som mais fraco que pode ouvir pessoas jovens normais tem uma
pressão sonora de 2x10-5 Pa e sons com uma pressão sonora de 2x104 Pa são suportáveis por
curtos períodos de tempo.
A estrutura anatômica da orelha humana (figura 12) divide esta em três partes:
- Orelha externa;
- Orelha média;
- Orelha interna.

Figura 12: Estrutura da orelha humana.

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Orelha externa: Está constituído pelo pavilhão auditivo (orelha) e pelo conduto auditivo
externo que finaliza na membrana timpânica. A principal função da orelha externa é a de captar
o som, transmitindo-o para a orelha média.
Orelha média: As ondas sonoras captadas pela orelha externa chegam à orelha média e
fazem vibrar a membrana timpânica, cuja pressão é mantida pelo tubo ou trompa de Eustáquio,
que é a estrutura que une a orelha média com as vias respiratórias, especialmente com a
garganta. Em casos onde acontecem aumentos súbitos de pressão, como nas explosões,
deve-se ter a boca aberta para manter o equilíbrio de pressão na membrana timpânica, já que
sem esse equilíbrio, a membrana timpânica pode-se estourar.
As vibrações do tímpano são captadas por três ossículos chamados de martelo., bigorna
e estribo, (Figura 13), os quais estão articulados entre si formando um sistema de alavanca e
são chamados assim porque suas formas lembram estes objetos. Esses ossículos podem
amplificar as vibrações em até 22 vezes. Depois dessas vibrações serem captadas por estes
ossículos, são transmitidas por eles a outra membrana fina que se encontra na janela oval que
separa a orelha média da interna.

Figura 13: Ossículos da orelha humana.

Orelha interna: É aqui onde o som é convertida em sinais neural por uma estrutura
chamada cóclea o qual tem forma de caracol. A cóclea esta formada por três túbulos situados
um do lado do outro (figura 14) que são:
- Rampa vestibular,
- Rampa timpânica;
- Rampa média.

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Figura 14: Estrutura da cóclea.

Os três tubos estão cheios de líquido coclear e são separados entre si por membranas. A
membrana que separa a rampa vestibular da rampa média é tão fina que não dificulta o passo
das ondas sonoras, sua função principal é a de separar o líquido da rampa média do líquido da
rampa vestibular, os quais têm origens diferentes e suas diferenças químicas são importantes
para o funcionamento correto das células receptoras do som (Figura 15).

Figura 15: Cóclea - esquema.

A membrana que separa a rampa média da rampa timpânica é muito mais resistente e
denomina-se membrana basilar e esta produz realmente um bloqueio das ondas sonoras.
Localizado sobre a superfície desta membrana e imerso em um líquido chamado de Endolinfa,
situa-se o órgão de Corti (Figura 16), que é a parte da cóclea que recepciona o som através
das células ciliares, aproximadamente entre 20 000 e 30 000 (células ciliares externas e
internas) que convertem as vibrações sonoras em sinais neurais.

Figura 16: Ógão de Corti.

As sinais auditivas chegam ao cérebro pelo componente coclear do oitavo par craneal,
(nervo vestibulococlear)i o qual termina nos núcleos cocleares do tronco cerebral. Os centros
auditivos do tronco cerebral tem a importante função de determinar de onde vem o som e ao

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mesmo tempo, no direcionamento da cabeça e dos olhos na mesma direção.

3.7.1- Percepção do som

Qualquer emissor de som, desde a voz humana, o alto-falante, a rádio ou qualquer coisa
que emita som, é produzido pelo mecanismo de comprimir o ar e seguidamente relaxar essa
compressão em seqüência alternativa (Figura 17).

Figura 17: Emissão sonora.

Uma corda de violino, por exemplo, ao vibrar, cria o som por seu movimento de vaivém,
de forma tal que quando a corda mexe-se para frente, comprime o ar e quando mexe-se para
atras, reduz o grau de compressão até um valor debaixo do normal. Essa compressão e
relaxamento alternados do ar, é o que produz o som

3.7.2- Características do som

As características do som são:


- Freqüência;
- Intensidade,
- Duração.
Freqüência. A freqüência de um som é o número de oscilações da pressão por segundo
que acontecem em regiões definidas da membrana basilar e é expressa em Hertz (Hz),
percebido como altura do som, teoria que se explica mais na frente.
A orelha humana é capaz de perceber som na freqüência de 16 a 20 000 Hz. O grau de
sensibilidade para cada freqüência de som varia de pessoa a pessoa e também está
relacionada com parâmetros como: tempo de exposição ao ruído, sexo, as mulheres têm a
agudeza auditivas superior ao homem porque têm o umbral de audição mais baixo.
As mulheres mais são resistentes aos ruídos do que o homem, enfermidades
concomitantes da orelha como infeções da orelha por vírus, bactérias, etc., e também varia
com a idade como é o caso da presbiacusia que é um processo degenerativo da capacidade
auditiva que se inicia., para alguns autores, aos 35 anos e para outros entre os 40 e 45 anos
aproximadamente como média, o qual favorece o efeito nocivo do ruído. A presbiacusia
precoce está associada a perda rapidamente progressiva da capacidade auditiva em aqueles
trabalhadores que estão expostos a ruídos.
Os sons de baixa freqüência (abaixo de 1000 Hz) são chamados de graves e os que se
encontram acima de 3000 Hz são chamados de agudos. Na natureza encontra-se mistura de
vibrações de diferentes freqüências. Os sons, em forma quase absoluta, estão constituídos por
componentes de muitas freqüências. A figura 10 mostra o patrão de amplitude das vibrações
da membrana basilar produzidas por sons de diferentes freqüências (Guyton, A.C. 1988).
Intensidade: A intensidade do som está em dependência da energia das oscilações e
define-se em termos de potência por unidade de área.
As diversidades do som que existe na natureza têm intensidades diferentes, sendo este
intervalo de intensidade sonoras muito amplo, o qual constituiu uma grande dificuldade para
adequar a todos eles a uma escala mais eficiente, pelo qual chegou-se ao consenso de utilizar

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uma unidade logarítmica para medi-la, chamada decibel (dB), que é uma escala linealusada
para definir uma escala de amplitude logarítmica com o qual se reduz um amplo intervalo de
valores de amplitude a um pequeno conjunto de números. Como unidade de medida o decibel
(dB) é o logaritmo da razão entre uma quantidade medida e uma de referência. Aplicada a
acústica, é a unidade prática que emprega-se para medir o nível de pressão sonora tomando
como referência a pressão acústica más débil que pode perceber a orelha média.
A orelha humana, como foi dito anteriormente, é capaz de perceber som que tenham
uma pressão sonora que variam entre um intervalo de 2x10-5 Pa para jovens normais até 2x104
Pa para curtos períodos de exposição. Como o intervalo é muito amplo., ao definir a escala em
decibéis os valores encontramse normalmente entre 0 à 120-140 dB.
Os sons a que o ser humano está submetido dia a dia, em sua casa, durante o tráfego,
em seu trabalho, etc, estão na faixa de 50 - 80 dB, e em muitos casos infelizmente, por cima de
80 dB, o que pode provocar afetações à orelha. Valores que estão por cima dos 120 dB podem
provocar sensação de dor

3.7.4- Localização do som

A espessura e rigidez da membrana basilar não são constantes. Na região mais perto da
janela oval (orifício que constituí a via de entrada do som á orelha interna) a membrana é
grossa e rígida e na medida em que fica mais perto ao vértice da cóclea, volta a ser mais fina e
flexível. Os sons graves (baixa freqüência) são os que estimulam em maior grau a parte da
membrana, que se situa perto ao ápice da cóclea, já que os sons agudos (alta freqüência)
ativam a parte da membrana basilar que situa-se perto a base da cóclea. Os pontos situados
entre esses dois extremos, são estimulados pelos sons de freqüência intermediária.
Da mesma maneira que a membrana basilar é estimulada seletivamente em suas
distintas partes de acordo a intensidade dos sons, acontece igual com a estimulação dos
neurónios no tronco cerebral e dos campos receptivos auditivos no córtex cerebral, os quais
são ativados por alturas definidas de sons, dessa forma fica claro que a forma utilizada pelo
sistema nervoso para detectar a altura do som, esta dada pela determinação da região da
membrana basilar que é mais estimulada pela altura do som: este processo conhece-se como
Princípio da localização para a altura do som. A determinação da direção de onde vem o som,
fica por conta dos centros auditivos inferiores.

3.7.5- Percepção de posição

A percepção de posição fica por conta dos receptores vestibulares situados no orelha
interno (estes receptores não têm relação com o mecanismo de audição) e estão constituídos
por três canais semicirculares e duas cavidades (utrículo e sáculo) que estão cheias de fluído
que em seu interior contêm células nervosas que têm forma de cabelos, as quais são sensíveis
as mudanças de posição. As células nervosas contidas no utrículo e no sáculo (Figura 18), são
receptores estáticos ou posicionais já que elas contém em suas extremidades, pequenos pesos
que detectam a posição da cabeça em relação à vertical.

Figura 18: Receptores vestibulares.

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Estas células nervosas são sensíveis a acelerações e desacelerações, é dizer, a


dinâmica do corpo. Os receptores vestibulares são a estrutura que lhe permite ao homem
manter sua posição ereta, mexer-se sem cair, e de sentir que seu corpo pode estar sendo
acelerado o desacelerado para alguma direção sem a ajuda dos olhos.

3.7.6- Transtornos da audição

Os transtornos auditivos afetam aproximadamente 10% da população. Em alguns casos


a perda auditiva é de causa congénita; em outros casos as pessoas adquirem perda auditiva
durante sua vida devido a enfermidades, exposição a ruídos muitos fortes ou intensos, ou pelo
próprio processo de envelhecimento, o qual é um fenômeno natural que afeta a todos em uma
determinada etapa da vida, independentemente do fenômeno que o origina.
A hipoacusia é a perda auditiva a diferentes níveis e pode ser temporária ou permanente.
As causas que produzem a hipoacusia são:
- Condução,
- Neurossensoriais (neural):
- Mistas.
Em dependência do grau de perda da audição, a hipoacusia se classifica em:
- Perda auditiva superficial;
- Perda auditiva média:

3.7.6.1- Perda auditiva profunda,

Anacusia ou surdez.
A surdez é a perda total da percepção auditiva que pode ser reversível (temporária) ou
permanente. É reversível ou temporária quando existe a possibilidade de devolver a audição à
pessoa através de algum tratamento, ou seja, a pessoa retorna ao limiar normal de audição,
conhecido por deslocamento temporário do limiar de audição. É permanente quando não é
possível devolvera audição ápessoa através de tratamentos.
A perda total da audição denomina-se cofósis ou anacusia: se for de uma só orelha
denomina-se cofósis unilateral, se é de ambas orelhas: denomina-se cofósis bilateral.
3.7.6.2- Mecanismos de produção da surdez
Surdez de condução: esta dada pela incapacidade das ondas serem conduzidas
através do sistema ossicular desde a membrana timpânica até a cóclea. Uma causa muito
freqüente de surdez de condução esta dada pelo o bloqueio da trompa de Eustáquio cuja
função é a de manter a pressão no interior da orelha média igual a pressão que existe no
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ambiente onde está a pessoa, mantendo assim, a pressão nas duas fases da membrana
timpânica. Quando esse conduto fica bloqueado por alguma causa, que pode ser resfriado,
rinitis, alergia, etc., o ar que está contido na orelha média é absorvido e será substituído por
líquido seroso; devido também a diminuição da pressão na orelha média, a membrana
timpânica será repuxada para dentro. Esse líquido seroso terá proliferação de fbroblastos o que
produzirá a formação de tecido fibroso entre os ossículos e as paredes da orelha média, o que
impedirá seu funcionamento como sistema de alavancas e, por conseguinte, a condução das
ondas sonoras.
Outra causa comum de perda de audição e que é facilmente corrigida, é a existência de
um tampão de cerume localizado no conduto auditivo que impede a passagem do som até o
tímpano e, portanto há uma perda auditiva. Outra causa da surdez está dada pela perfuração
timpânica que se pode produzir por traumas.
Surdez neural: este tipo de surdez é característica na velhice e quase todas as pessoas
com mais idade, desenvolvem alguns graus deste tipo de surdez, ainda vivendo em condições
normais. Esta surdez se faz mais notável para os sons de freqüências mais altas e deve-se
provavelmente ao próprio processo de envelhecimento que também atua sobre a cóclea.
Outras causas de surdez neural são a exposição a ruídos excessivamente altos como
acontece nas caldeiras, em vários processos produtivos ruidosos, quando as pessoas escutam
música muito alta, sobretudo, música rock ou quando acontecem explosões, entre outros.
Nestes casos acontece uma destruição do órgão de Corti devido as fortes vibrações da
membrana basilar.
Surdez mista: são as perdas de audição causadas por transtornos neurosensoriais e por
transtornos de condução.
Outro transtorno da audição é a presbiacusia que é a perda auditiva devido a idade e
geralmente se apresenta em pessoas maiores.

3.8- Sistema respiratório

O sistema respiratório humano é constituído por um par de pulmões e por vários órgãos
que conduzem o ar para dentro e para fora das cavidades pulmonares. Esses órgãos são as
fossas nasais, a boca, a faringe, a laringe, a traquéia, os brônquios, os bronquíolos e os
alvéolos, os três últimos localizados nos pulmões.

Fossas nasais: são duas cavidades paralelas


que começam nas narinas e terminam na
faringe. Elas são separadas uma da outra por
uma parede cartilaginosa denominada septo
nasal. Em seu interior há dobras chamadas
cornetos nasais, que forçam o ar a turbilhonar.
Possuem um revestimento dotado de células
produtoras de muco e células ciliadas, também
presentes nas porções inferiores das vias
aéreas, como traquéia, brônquios e porção inicial
dos bronquíolos. No teto das fossas nasais
existem células sensoriais, responsáveis pelo
sentido do olfato. Têm as funções de filtrar,
umedecer e aquecer o ar.
Faringe: é um canal comum aos sistemas
digestório e respiratório e comunica-se com a
boca e com as fossas nasais. O ar inspirado
pelas narinas ou pela boca passa
necessariamente pela faringe, antes de atingir a

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laringe.
Laringe: é um tubo sustentado por peças
de cartilagem articuladas, situado na parte
superior do pescoço, em continuação à
faringe. O pomo-de-adão, saliência que
aparece no pescoço, faz parte de uma das
peças cartilaginosas da laringe.
A entrada da laringe chama-se glote.
Acima dela existe uma espécie de
“lingüeta” de cartilagem denominada
epiglote, que funciona como válvula.
Quando nos alimentamos, a laringe sobe e
sua entrada é fechada pela epiglote. Isso
impede que o alimento ingerido penetre
nas vias respiratórias.
O epitélio que reveste a laringe apresenta
pregas, as cordas vocais, capazes de
produzir sons durante a passagem de ar.

Traquéia: é um tubo de aproximadamente 1,5 cm de diâmetro por


10-12 centímetros de comprimento, cujas paredes são reforçadas
por anéis cartilaginosos. Bifurca-se na sua região inferior,
originando os brônquios, que penetram nos pulmões. Seu epitélio
de revestimento muco-ciliar adere partículas de poeira e bactérias
presentes em suspensão no ar inalado, que são posteriormente
varridas para fora (graças ao movimento dos cílios) e engolidas ou
expelidas.

Pulmões: Os pulmões humanos


são órgãos esponjosos, com
aproximadamente 25 cm de
comprimento, sendo envolvidos
por uma membrana serosa
denominada pleura. Nos pulmões
os brônquios ramificam-se
profusamente, dando origem a
tubos cada vez mais finos, os
bronquíolos.
O conjunto altamente ramificado
de bronquíolos é a árvore
brônquica ou árvore respiratória.

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Cada bronquíolo termina em


pequenas bolsas formadas por
células epiteliais achatadas (tecido
epitelial pavimentoso) recobertas
por capilares sangüíneos,
denominadas alvéolos
pulmonares.
Diafragma: A base de cada pulmão
apóia-se no diafragma, órgão
músculo-membranoso que separa o
tórax do abdômen, presente
apenas em mamíferos,
promovendo, juntamente com os
músculos intercostais, os
movimentos
respiratórios. Localizado logo
acima do estômago, o nervo frênico
controla os movimentos do
diafragma.
Imagem: SÉRIE ATLAS VISUAIS. O corpo Humano.
Ed. Ática, 1997.

3.8.1- Fisiologia da respiração

3.8.1.1- Ventilação pulmonar


A inspiração, que promove a entrada de ar nos pulmões, dá-se pela contração da
musculatura do diafragma e dos músculos intercostais. O diafragma abaixa e as costelas
elevam-se, promovendo o aumento da caixa torácica, com conseqüente redução da pressão
interna (em relação à externa), forçando o ar a entrar nos pulmões.

A expiração, que promove a saída de ar


dos pulmões, dá-se pelo relaxamento da
musculatura do diafragma e dos músculos
intercostais. O diafragma eleva-se e as
costelas abaixam, o que diminui o volume
da caixa torácica, com conseqüente
aumento da pressão interna, forçando o ar
a sair dos pulmões.

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3.8.1.2- Transporte de gases respiratórios


O transporte de gás oxigênio está a cargo da hemoglobina, proteína presente nas
hemácias. Cada molécula de hemoglobina combina-se com 4 moléculas de gás oxigênio,
formando a oxi-hemoglobina.

Nos alvéolos pulmonares o gás oxigênio do ar difunde-se para os capilares sangüíneos e


penetra nas hemácias, onde se combina com a hemoglobina, enquanto o gás carbônico (CO 2)
é liberado para o ar (processo chamado hematose).

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Nos tecidos ocorre um processo inverso: o gás


oxigênio dissocia-se da hemoglobina e difunde-se
pelo líquido tissular, atingindo as células. A maior
parte do gás carbônico (cerca de 70%) liberado
pelas células no líquido tissular penetra nas
hemácias e reage com a água, formando o ácido
carbônico, que logo se dissocia e dá origem a
íons H+ e bicarbonato (HCO3-), difundindo-se
para o plasma sangüíneo, onde ajudam a manter
o grau de acidez do sangue. Cerca de 23% do
gás carbônico liberado pelos tecidos associam-
se à própria hemoglobina, formando a
carboxihemoglobina. O restante dissolve-se no
plasma.

OBS: O monóxido de carbono, liberado pela “queima” incompleta de combustíveis


fósseis e pela fumaça dos cigarros entre outros, combina-se com a hemoglobina de uma
maneira mais estável do que o oxigênio, formando o Carboxihemoglobina. Dessa forma, a
hemoglobina fica impossibilitada de transportar o oxigênio, podendo levar à morte por asfixia.
Veja as tabelas abaixo, retiradas da prova do ENEM de 98:
Um dos índices de qualidade do ar diz respeito à concentração de monóxido de carbono
(CO), pois esse gás pode causar vários danos à saúde. A tabela abaixo mostra a relação entre
a qualidade do ar e a concentração de CO.

Qualidade do ar Concentração de CO – ppm* (média de 8h)


Inadequada 15 a 30
Péssima 30 a 40
Crítica Acima de 40

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* ppm (parte por milhão) = 1 micrograma de CO por grama de ar 10 –6 g


Para analisar os efeitos do CO sobre os seres humanos, dispõe-se dos seguintes dados:

Concentração de CO (ppm) Sintomas em seres humanos


10 Nenhum
15 Diminuição da capacidade visual
60 Dores de cabeça
100 Tonturas, fraqueza muscular
270 Inconsciência
800 Morte

3.8.1.3- Controle da respiração


Em relativo repouso, a freqüência respiratória é da ordem de 10 a 15 movimentos por
minuto.
A respiração é controlada automaticamente por um centro nervoso localizado no bulbo.
Desse centro partem os nervos responsáveis pela contração dos músculos respiratórios
(diafragma e músculos intercostais). Os sinais nervosos são transmitidos desse centro através
da coluna espinhal para os músculos da respiração.
O mais importante músculo da respiração, o diafragma, recebe os sinais respiratórios
através de um nervo especial, o nervo frênico, que deixa a medula espinhal na metade
superior do pescoço e dirige-se para baixo, através do tórax até o diafragma.
Os sinais para os músculos expiratórios, especialmente os músculos abdominais, são
transmitidos para a porção baixa da medula espinhal, para os nervos espinhais que inervam os
músculos. Impulsos iniciados pela estimulação psíquica ou sensorial do córtex cerebral podem
afetar a respiração.
Em condições normais, o centro respiratório (CR) produz, a cada 5 segundos, um
impulso nervoso que estimula a contração da musculatura torácica e do diafragma, fazendo-
nos inspirar. O CR é capaz de aumentar e de diminuir tanto a freqüência como a amplitude dos
movimentos respiratórios, pois possui quimiorreceptores que são bastante sensíveis ao pH do
plasma.
Essa capacidade permite que os tecidos recebam a quantidade de oxigênio que
necessitam, além de remover adequadamente o gás carbônico. Quando o sangue torna-se
mais ácido devido ao aumento do gás carbônico, o centro respiratório induz a aceleração dos
movimentos respiratórios. Dessa forma, tanto a freqüência quanto a amplitude da respiração
tornam-se aumentadas devido à excitação do CR.
Em situação contrária, com a depressão do CR, ocorre diminuição da freqüência e
amplitude respiratórias.
A respiração é ainda o principal mecanismo de controle do pH do sangue.

O aumento da concentração de CO2 desloca a reação para a direita, enquanto sua


redução desloca para a esquerda.
Dessa forma, o aumento da concentração de CO2 no sangue provoca aumento de íons
H+ e o plasma tende ao pH ácido. Se a concentração de CO2 diminui, o pH do plasma
sangüíneo tende a se tornar mais básico (ou alcalino).

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Se o pH está abaixo do normal (acidose), o centro respiratório é excitado,


aumentando a freqüência e a amplitude dos movimentos respiratórios. O aumento da
ventilação pulmonar determina eliminação de maior quantidade de CO2, o que eleva o pH do
plasma ao seu valor normal.
Caso o pH do plasma esteja acima do normal (alcalose), o centro respiratório é
deprimido, diminuindo a freqüência e a amplitude dos movimentos respiratórios. Com a
diminuição na ventilação pulmonar, há retenção de CO2 e maior produção de íons H+, o que
determina queda no pH plasmático até seus valores normais.
A ansiedade e os estados ansiosos promovem liberação de adrenalina que,
freqüentemente levam também à hiperventilação, algumas vezes de tal intensidade que o
indivíduo torna seus líquidos orgânicos alcalóticos (básicos), eliminando grande quantidade
de dióxido de carbono, precipitando, assim, contrações dos músculos de todo o corpo.
Se a concentração de gás carbônico cair a valores muito baixos, outras conseqüências
extremamente danosas podem ocorrer, como o desenvolvimento de um quadro de alcalose
que pode levar a uma irritabilidade do sistema nervoso, resultando, algumas vezes, em
tetania (contrações musculares involuntárias por todo o corpo) ou mesmo convulsões
epilépticas.
Existem algumas ocasiões em que a concentração de oxigênio nos alvéolos cai a
valores muito baixos. Isso ocorre especialmente quando se sobe a lugares muito altos, onde
a concentração de oxigênio na atmosfera é muito baixa ou quando uma pessoa contrai
pneumonia ou alguma outra doença que reduza o oxigênio nos alvéolos.
Sob tais condições, quimiorreceptores localizados nas artérias carótida (do pescoço) e
aorta são estimulados e enviam sinais pelos nervos vago e glossofaríngeo, estimulando os
centros respiratórios no sentido de aumentar a ventilação pulmonar.
3.8.1.4- A capacidade e os volumes respiratórios
O sistema respiratório humano comporta um volume total de aproximadamente 5 litros
de ar – a capacidade pulmonar total. Desse volume, apenas meio litro é renovado em cada
respiração tranqüila, de repouso. Esse volume renovado é o volume corrente
Se no final de uma inspiração forçada, executarmos uma expiração forçada,
conseguiremos retirar dos pulmões uma quantidade de aproximadamente 4 litros de ar, o que
corresponde à capacidade vital, e é dentro de seus limites que a respiração pode acontecer.
Mesmo no final de uma expiração forçada, resta nas vias aéreas cerca de 1 litro de ar, o
volume residual.

Nunca se consegue encher os pulmões com ar completamente renovado, já que


mesmo no final de uma expiração forçada o volume residual permanece no sistema

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respiratório. A ventilação pulmonar, portanto, dilui esse ar residual no ar renovado, colocado


em seu interior
O volume de ar renovado por minuto (ou volume-minuto respiratório) é obtido pelo
produto da freqüência respiratória (FR) pelo volume corrente (VC): VMR = FR x VC.
Em um adulto em repouso, temos:
FR = 12 movimentos por minuto
VC = 0,5 litros
Portanto: volume-minuto respiratório = 12 x 0,5 = 6 litros/minuto
Os atletas costumam utilizar o chamado “segundo fôlego”. No final de cada expiração,
contraem os músculos intercostais internos, que abaixam as costelas e eliminam mais ar dos
pulmões, aumentando a renovação.

3.9- Sistema cardiovascular

O sistema cardiovascular ou circulatório é uma vasta rede de tubos de vários tipos e


calibres, que põe em comunicação todas as partes do corpo. Dentro desses tubos circula o
sangue, impulsionado pelas contrações rítmicas do coração.

3.9.1. Funções do sistema cardiovascular

O sistema circulatório permite que algumas atividades sejam executadas com grande
eficiência:
transporte de gases: os pulmões, responsáveis pela obtenção de oxigênio e pela
eliminação de dióxido de carbono, comunicam-se com os demais tecidos do corpo por meio
do sangue.
transporte de nutrientes: no tubo digestivo, os nutrientes resultantes da digestão
passam através de um fino epitélio e alcançam o sangue. Por essa verdadeira "auto-estrada",
os nutrientes são levados aos tecidos do corpo, nos quais se difundem para o líquido
intersticial que banha as células.
transporte de resíduos metabólicos: a atividade metabólica das células do corpo
origina resíduos, mas apenas alguns órgãos podem eliminá-los para o meio externo. O
transporte dessas substâncias, de onde são formadas até os órgãos de excreção, é feito pelo
sangue.

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Imagem: SÉRIE ATLAS VISUAIS. O corpo Humano. Ed. Ática, 1997.


transporte de hormônios: hormônios são substâncias secretadas por certos órgãos,
distribuídas pelo sangue e capazes de modificar o funcionamento de outros órgãos do corpo.
A colecistocinina, por exemplo, é produzida pelo duodeno, durante a passagem do alimento,
e lançada no sangue. Um de seus efeitos é estimular a contração da vesícula biliar e a
liberação da bile no duodeno.
intercâmbio de materiais: algumas substâncias são produzidas ou armazenadas em
uma parte do corpo e utilizadas em outra parte. Células do fígado, por exemplo, armazenam
moléculas de glicogênio, que, ao serem quebradas, liberam glicose, que o sangue leva para
outras células do corpo.
transporte de calor: o sangue também é utilizado na distribuição homogênea de calor
pelas diversas partes do organismo, colaborando na manutenção de uma temperatura
adequada em todas as regiões; permite ainda levar calor até a superfície corporal, onde pode
ser dissipado.
distribuição de mecanismos de defesa: pelo sangue circulam anticorpos e células
fagocitárias, componentes da defesa contra agentes infecciosos.
coagulação sangüínea: pelo sangue circulam as plaquetas, pedaços de um tipo celular
da medula óssea (megacariócito), com função na coagulação sangüínea. O sangue contém
ainda fatores de coagulação, capazes de bloquear eventuais vazamentos em caso de
rompimento de um vaso sangüíneo.

3.9.2- Componentes do sistema cardiovascular

Os principais componentes do sistema circulatório são: coração, vaso sangüíneos,


sangue, vasos linfáticos e linfa.

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3.9.2.1- Coração

O coração é um órgão muscular oco que se localiza no meio do peito, sob o


osso esterno, ligeiramente deslocado para a esquerda. Em uma pessoa adulta,
tem o tamanho aproximado de um punho fechado e pesa cerca de 400 gramas.

O coração humano, como o dos demais mamíferos, apresenta quatro cavidades: duas
superiores, denominadas átrios (ou aurículas) e duas inferiores, denominadas ventrículos. O
átrio direito comunica-se com o ventrículo direito através da válvula tricúspide. O átrio
esquerdo, por sua vez, comunica-se com o ventrículo esquerdo através da válvula bicúspide
ou mitral. A função das válvulas cardíacas é garantir que o sangue siga uma única direção,
sempre dos átrios para os ventrículos.

Imagem: ATLAS INTERATIVO DE ANATOMIA HUMANA. Artmed Editora.

1 - Coronária Direita
2 - Coronária Descendente Anterior Esquerda
3 - Coronária Circunflexa Esquerda
4 - Veia Cava Superior
5 - Veia Cava Inferior
6 - Aorta
7 - Artéria Pulmonar
8 - Veias Pulmonares
9 - Átrio Direito
10 - Ventrículo Direito
11 - Átrio Esquerdo
12 - Ventrículo Esquerdo
13 - Músculos Papilares
14 - Cordoalhas Tendíneas
15 - Válvula Tricúspide
16 - Válvula Mitral
17 - Válvula Pulmonar

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As câmaras cardíacas contraem-se e dilatam-se alternadamente 70 vezes por minuto,


em média. O processo de contração de cada câmara do miocárdio (músculo cardíaco)
denomina-se sístole. O relaxamento, que acontece entre uma sístole e a seguinte, é a
diástole.

3.10.2.1.1- A atividade elétrica do coração

Nódulo sinoatrial (SA) ou marcapasso ou


nó sino-atrial: região especial do coração,
que controla a freqüência cardíaca.
Localiza-se perto da junção entre o átrio
direito e a veia cava superior e é constituído
por um aglomerado de células musculares
especializadas. A freqüência rítmica dessas
fibras musculares é de aproximadamente
72 contrações por minuto, enquanto o
músculo atrial se contrai cerca de 60 vezes
por minuto e o músculo ventricular, cerca
de 20 vezes por minuto. Devido ao fato do
nódulo sinoatrial possuir uma freqüência
rítmica mais rápida em relação às outras
partes do coração, os impulsos originados
do nódulo SA espalham-se para os átrios e
ventrículos, estimulando essas áreas tão
Imagem: AVANCINI & FAVARETTO. Biologia – rapidamente, de modo que o ritmo do
Uma abordagem evolutiva e ecológica. Vol. 2. nódulo SA torna-se o ritmo de todo o
São Paulo, Ed. Moderna, 1997. coração; por isso é chamado marcapasso.

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Sistema De Purkinje ou fascículo átrio-ventricular: embora o impulso cardíaco


possa percorrer perfeitamente todas as fibras musculares cardíacas, o coração possui um
sistema especial de condução denominado sistema de Purkinje ou fascículo átrio-ventricular,
composto de fibras musculares cardíacas especializadas, ou fibras de Purkinje (Feixe de Hiss
ou miócitos átrio-ventriculares), que transmitem os impulsos com uma velocidade
aproximadamente 6 vezes maior do que o músculo cardíaco normal, cerca de 2 m por
segundo, em contraste com 0,3 m por segundo no músculo cardíaco.

3.9.2.1.2- Controle nervoso do coração

Embora o coração possua seus próprios sistemas intrínsecos de controle e possa


continuar a operar, sem quaisquer influências nervosas, a eficácia da ação cardíaca pode ser
muito modificada pelos impulsos reguladores do sistema nervoso central. O sistema nervoso
é conectado com o coração através de dois grupos diferentes de nervos, os sistemas
parassimpático e simpático. A estimulação dos nervos parassimpáticos causa os seguintes
efeitos sobre o coração: (1) diminuição da freqüência dos batimentos cardíacos; (2)
diminuição da força de contração do músculo atrial; (3) diminuição na velocidade de
condução dos impulsos através do nódulo AV (átrio-ventricular), aumentando o período de
retardo entre a contração atrial e a ventricular; e (4) diminuição do fluxo sangüíneo através
dos vasos coronários que mantêm a nutrição do próprio músculo cardíaco.
Todos esses efeitos podem ser resumidos, dizendo-se que a estimulação
parassimpática diminui todas as atividades do coração. Usualmente, a função cardíaca é
reduzida pelo parassimpático durante o período de repouso, juntamente com o restante do
corpo. Isso talvez ajude a preservar os recursos do coração; pois, durante os períodos de
repouso, indubitavelmente há um menor desgaste do órgão.
A estimulação dos nervos simpáticos apresenta efeitos exatamente opostos sobre o
coração:
- aumento da freqüência cardíaca;
- aumento da força de contração;
- aumento do fluxo sangüíneo através dos vasos coronários visando a suprir o aumento
da nutrição do músculo cardíaco.
Esses efeitos podem ser resumidos, dizendo-se que a estimulação simpática aumenta a
atividade cardíaca como bomba, algumas vezes aumentando a capacidade de bombear
sangue em até 100 por cento. Esse efeito é necessário quando um indivíduo é submetido a
situações de estresse, tais como exercício, doença, calor excessivo, ou outras condições que
exigem um rápido fluxo sangüíneo através do sistema circulatório. Por conseguinte, os efeitos
simpáticos sobre o coração constituem o mecanismo de auxílio utilizado numa emergência,
tornando mais forte o batimento cardíaco quando necessário.
Os neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso simpático secretam principalmente
noradrenalina, razão pela qual são denominados neurônios adrenérgicos. A estimulação
simpática do cérebro também promove a secreção de adrenalina pelas glândulas adrenais ou
supra-renais. A adrenalina é responsável pela taquicardia (batimento cardíaco acelerado),
aumento da pressão arterial e da freqüência respiratória, aumento da secreção do suor, da
glicose sangüínea e da atividade mental, além da constrição dos vasos sangüíneos da pele.
O neurotransmissor secretado pelos neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso
parassimpático é a acetilcolina, razão pela qual são denominados colinérgicos, geralmente
com efeitos antagônicos aos neurônios adrenérgicos. Dessa forma, a estimulação
parassimpática do cérebro promove bradicardia (redução dos batimentos cardíacos),
diminuição da pressão arterial e da freqüência respiratória, relaxamento muscular e outros
efeitos antagônicos aos da adrenalina.
Em geral, a estimulação do hipotálamo posterior aumenta a pressão arterial e a

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freqüência cardíaca, enquanto que a estimulação da área pré-óptica, na porção anterior do


hipotálamo, acarreta efeitos opostos, determinando notável diminuição da freqüência cardíaca
e da pressão arterial. Esses efeitos são transmitidos através dos centros de controle
cardiovascular da porção inferior do tronco cerebral, e daí passam a ser transmitidos através
do sistema nervoso autônomo.

Fatores que aumentam a freqüência Fatores que diminuem a freqüência


cardíaca cardíaca
Queda da pressão arterial
Inspiração
Excitação
Raiva
Aumento da pressão arterial
Dor
Expiração
Hipóxia (redução da disponibilidade de oxigênio
Tristeza
para as células do organismo)
Exercício
Adrenalina
Febre

3.9.2.1.3- Circulação pulmonar e circulação sistêmica

A circulação sangüínea humana pode ser


dividida em dois grandes circuitos: um leva
sangue aos pulmões, para oxigená-lo, e outro
leva sangue oxigenado a todas as células do
corpo. Por isso se diz que nossa circulação é
dupla. O trajeto “coração (ventrículo direito) →
pulmões →coração (átrio esquerdo)” é
denominado circulação pulmonar ou pequena
circulação. O trajeto “coração (ventrículo
esquerdo) → sistemas corporais →coração
(átrio direito)” é denominado circulação
sistêmica ou grande circulação.
Circulação pulmonar:
Ventrículo direito → artéria pulmonar →
pulmões → veias pulmonares →átrio
esquerdo.
Circulação sistêmica:
Ventrículo esquerdo → artéria aorta →
sistemas corporais → veias cavas → átrio
direito.
Imagem: CD O CORPO HUMANO 2.0. Globo
Multimídia.

3.9.2.1.4- Vasos sanguíneos

Os vasos sangüíneos são de três tipos básicos: artérias, veias e capilares.


Artérias: são vasos de parede espessa que saem do coração levando sangue para os
órgãos e tecidos do corpo. Compõem-se de três camadas: a mais interna, chamada

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endotélio, formada por uma única camada de células achatadas; a mediana, constituída por
tecido muscular liso; a mais externa, formada por tecido conjuntivo, rico em fibras
elásticas.
Quando o sangue é bombeado pelos ventrículos e penetra nas artérias, elas se relaxam
e se dilatam, o que diminui a pressão sangüínea, Caso as artérias não se relaxem o
suficiente, a pressão do sangue em seu interior sobe, com risco de ruptura das paredes
arteriais. Assim, a cada sístole ventricular é gerada uma onda de relaxamento que se propaga
pelas artérias, desde o coração até as extremidades das arteríolas. Durante a diástole
ventricular, a pressão sangüínea diminui. Ocorre, então, contração das artérias, o que
mantém o sangue circulando até a próxima sístole.
Capilares sangüíneos: são vasos de pequeno calibre que ligam as extremidades das
arteríolas às extremidades das vênulas. A parede dos capilares possui uma única camada de
células, correspondente ao endotélio das artérias e veias.
Quando o sangue passa pelos capilares, parte do líquido que o constitui atravessa a
parede capilar e espalha-se entre as células próximas, nutrindo-as e oxigenando-as. As
células, por sua vez, eliminam gás carbônico e outras excreções no líquido extravasado,
denominado líquido tissular.
A maior parte do líquido tissular é reabsorvida pelos próprios capilares e reincorporada
ao sangue. Apenas 1% a 2% do líquido extravasado na porção arterial do capilar não retorna
à parte venosa, sendo coletado por um sistema paralelo ao circulatório, o sistema linfático,
quando passa a se chamar linfa e move-se lentamente pelos vasos linfáticos, dotados de
válvulas.

Na porção arterial do
capilar, a pressão do
sangue é maior que a
pressão osmótica do plasma
na saída de água contendo
substâncias dissolvidas.
Na porção venosa do
capilar, a pressão do
sangue é reduzida,
tornando-se menor que a
pressão osmótica do plasma
no retorno de fluido para o
interior do capilar.

Veias: são vasos que chegam ao coração, trazendo o sangue dos órgãos e tecidos. A
parede das veias, como a das artérias, também é formada por três camadas. A diferença,
porém, é que a camada muscular e a conjuntiva são menos espessas que suas
correspondentes arteriais. Além disso, diferentemente das artérias, as veias de maior calibre
apresentam válvulas em seu interior, que impedem o refluxo de sangue e garante sua
circulação em um único sentido.
Depois de passar pelas arteríolas e capilares, a pressão sangüínea diminui, atingindo
valores muito baixos no interior das veias. O retorno do sangue ao coração deve-se, em
grande parte, às contrações dos músculos esqueléticos, que comprimem as veias, fazendo
com que o sangue desloque-se em seu interior. Devido às válvulas, o sangue só pode seguir
rumo ao coração.
Pressão arterial: é a pressão exercida pelo sangue contra a parede das artérias. Em
um adulto com boa saúde, a pressão nas artérias durante a sístole ventricular – pressão
sistólica ou máxima – é da ordem de 120 mmHg (milímetros de mercúrio). Durante a

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O Ambiente e as Doenças do Trabalho - Curso de Engenharia de Segurança do Trabalho 71

diástole, a pressão diminui, ficando em torno de 80 mm Hg; essa é a pressão diastólica ou


mínima.

Referências bibliográficas

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CAPÍTULO 4 - TOXICOLOGIA

4.1- Introdução

A higiene industrial ou ocupacional tem sido comumente definida como o reconhecimento


a avaliação e o controle de riscos à saúde ocupacional. Esta definição foi recentemente
ampliada para incluir não meramente a prevenção de doenças em trabalhadores, mas para
todos os fatores ambientais que podem causar lesão, doença ou inaptidão, ou afetar o bem
estar dos trabalhadores e da comunidade (AIHA, 1993). Qualquer que seja a definição que se
aceite, o primeiro passo a ser tomado em um programa de saúde ocupacional é a identificação
ou reconhecimento dos possíveis riscos à saúde. O domínio deste processo é baseado no
conhecimento extensivo de materiais e processos industriais. Sem este conhecimento é difícil
para o pesquisador identificar aqueles processos industriais que, potencialmente, podem
causar doenças ocupacionais.
Segundo dados da Chemical Abstract Service (American Chemical Society) existem
registrados mais de 11 milhões de substâncias químicas em todo o mundo. São
medicamentos, corantes, polímeros, solventes, combustíveis, agrotóxicos...etc, e cerca de
100.000 são de uso comum ou comercial. A evolução do crescimento da Indústria Química e
Petroquímica vem ocorrendo de forma acelerada, onde em 1970 ocorreu a produção de 63
milhões de toneladas e atualmente chegou a 400 milhões toneladas de produtos químicos.
Dentre os riscos ambientais gerados em um processo industrial, ocupam lugar de grande
importância os agentes químicos, uma vez que qualquer tipo de produção envolve
transformações físicas (operações unitárias) e/ou químicas (processos unitários ou conversão
química), sendo que, em ambos os casos, dependendo de diversos fatores, poderá haver
emanação dos referidos agentes para o ambiente.
Com a industrialização em crescente expansão, os organismos vivos estão em contato
contínuo com inúmeros agentes tóxicos em todos os ambientes, produtos tóxicos estão na
comida que comemos, na água que bebemos e no ar que respiramos. De acordo com
informações da Organização Mundial da Saúde, estima-se que ocorrem no Brasil cerca de
doze mil casos de intoxicação todos os dias. Como a previsão é de uma morte a cada mil
casos, a conclusão é que cerca de doze brasileiros morrem intoxicados por medicamentos e/ou
outras substâncias químicas todos os dias.
Dependendo das propriedades químicas ou físicas, estes produtos podem ser absorvidos
principalmente pelo trato gastrintestinal, pulmões e/ou pele. Felizmente o nosso organismo tem
a capacidade de biotransformar e excretar estes compostos na urina, fezes e ar expirado.
Entretanto, quando a capacidade de absorção excede a capacidade de eliminação, compostos
tóxicos podem ser acumulados em concentrações críticas em um determinado órgão alvo do

Abelardo da Silva Melo Junior – Médico, Especialista em Medicina do Trabalho, Auditor-Fiscal do Trabalho, M.Sc.
O Ambiente e as Doenças do Trabalho - Curso de Engenharia de Segurança do Trabalho 73

nosso organismo. O conhecimento da disposição das substâncias químicas no organismo, bem


como de seus produtos de biotransformação é de grande importância quando é analisada a
toxicidade das substâncias que agridem os organismos vivos.

4.2- Conceituação

A Toxicologia é o campo de conhecimento que se utiliza de várias ciências


(principalmente a fisiologia, bioquímica e a química) para estudar os efeitos nocivos
conseqüentes da interação entre as substâncias químicas e organismos.
Denomina-se intoxicação o processo de alteração mórbida do organismo causado por
substâncias endógenas ou exógenas (xenobióticos), e é caracterizado por desequilíbrio
fisiológico provocado por alterações bioquímicas. Este processo pode ser evidenciado por um
quadro clinico (sinais e sintomas) e/ou dados laboratoriais. Deve-se ressaltar que os dados
laboratoriais citados anteriormente são os ligados aos desequilíbrios bioquímicos e fisiológicos,
e não a simples dosagem da substância química no organismo, logo intoxicação pressupõe a
ocorrência de processo patológico, ou seja, uma alteração do funcionamento normal (fisiologia)
com repercussão clinica (doença) (BUSCHINELLI, 2000).
A Toxicologia vem, portanto nos ajudar a entender os efeitos nocivos causados pelas
substâncias químicas ao interagirem com os organismos vivos, tendo por objetivo a avaliação
do risco de intoxicação, e desta forma estabelecer medidas de segurança na utilização e
conseqüentemente prevenir a intoxicação, antes que ocorram alterações da saúde.

4.2.1- Áreas da toxicologia

Dependendo do campo de atuação, a toxicologia tem as seguintes áreas de atuação:


Toxicologia Ambiental: estuda os efeitos nocivos causados por substâncias químicas
presentes no macroambiente (ar, água, solo);
Toxicologia Forense: estuda os aspectos médicos legais da intoxicação;
Toxicologia Social: estuda os efeitos adversos causados pelo uso de drogas,
decorrente da vida em sociedade;
Toxicologia Clínica: estuda os efeitos nocivos causados pelo uso de medicamentos,
drogas, etc.;
Toxicologia de Alimentos: estuda efeitos nocivos decorrentes da utilização de aditivos
e da presença de resíduos de contaminantes em alimentos;
Toxicologia Ocupacional: estuda os efeitos nocivos causados por substâncias químicas
presentes no ambiente de trabalho.
Nos últimos tempos, a Toxicologia Ocupacional tem merecido grande destaque porque
se preocupa com a saúde dos trabalhadores que é a população produtiva de cada país. A
associação de algum efeito tóxico com uma determinada atividade profissional já é conhecida
desde Paracelso e desde esta época procura-se estudar estes efeitos e estabelecer medidas
de segurança no manuseio das inúmeras substâncias tóxicas que o homem é exposto em seus
diferentes ambientes de trabalho. Com o crescimento acelerado da indústria e o constante
aumento do uso de produtos químicos, nem um tipo de ocupação está inteiramente livre da
exposição a uma variedade de substâncias, capazes de produzirem efeitos indesejáveis sobre
os sistemas biológicos. As medidas preventivas destinadas a este fim são conhecidas como
procedimentos de monitoramento. Está claro que se deve obter, pelo menos, um mínimo de
informação a respeito da toxicidade das substâncias empregadas nas inúmeras ocupações do
homem. Os estudos que possibilitam as obtenções dessas informações são os objetivos da
toxicologia ocupacional.

Abelardo da Silva Melo Junior – Médico, Especialista em Medicina do Trabalho, Auditor-Fiscal do Trabalho, M.Sc.
O Ambiente e as Doenças do Trabalho - Curso de Engenharia de Segurança do Trabalho 74

Toxicologia Ocupacional foi definida, pelo comitê misto, que é constituído por:
CCE/OSHA/NIOSH, como:
“Atividade sistemática, contínua ou repetitiva, relacionada à saúde e desenvolvida para
implantar medidas corretivas sempre que se façam necessárias”
COMITÊ MISTO
CCE – Comissão da Comunidade Européia
OSHA – Occupational Safety and Health Administration (USA)
NIOSH – National Institute for Occupational Safety and Health (USA)
Essencialmente, a toxicologia ocupacional procura prevenir o desenvolvimento das
lesões tóxicas ou de doença profissional. Para cumprir tal objetivo é necessário um grande
conhecimento sobre os agentes ocupacionais potencialmente tóxicos, especialmente
informações sobre a toxicidade das substâncias e a relação dose/resposta.
Esses dados podem ser obtidos por meio de quatro fontes principais:
- experimentação em animais;
- experimentação em voluntários;
- observação ao acaso no ambiente de trabalho;
- pesquisas epidemiológicas.
Com os dados experimentais e epidemiológicos, torna-se possível definir critérios de
segurança para cada substância (exemplo: as concentrações permissíveis) e adotar medidas
de prevenção, que torne possível respeitar esses critérios. Dessa maneira, é mantida a saúde
do trabalhador, ou em outras palavras, alcançado o objetivo da toxicologia ocupacional. No
mundo, em escala crescente, procura-se estabelecer e controlar os limites permissíveis
(concentrações) de substâncias químicas no ambiente de trabalho, quando a exposição a uma
substância química é inevitável, a fim de prevenir a intoxicação ocupacional. Essa prevenção é
feita utilizando dois métodos de controle, que são complementares, mas que ainda hoje no
Brasil, nem sempre são sempre aplicados.

4.2.2- Dose e Efeito.

Um conceito fundamental na Toxicologia é que quanto maior a dose, maior o efeito. Se a


interação entre uma substância química e o organismo não segue esta regra, a interação deve
se dar em outro âmbito, como no terreno da alergia, por exemplo, mas nunca da Toxicologia.
Ainda dentro desse conceito, o tempo também é fundamental, pois quanto maior o tempo
que o organismo tem contato com a substância, maior será o efeito. Assim, E = d x t, onde E é
efeito, d é dose (ou concentração) da substância e t é o tempo em que se mantém a dose.
Como ilustração, podemos afirmar que quanto maior o número de cigarros fumados
(dose), e quanto mais anos se fumou (tempo), maior a probabilidade (chance, risco) de se
adquirir câncer de pulmão, porém não se pode afirmar que o indivíduo vai tê-lo.

4.2.3- Reconhecimento do Risco.

A simples presença de uma determinada substância química perigosa (muito tóxica) em


um ambiente de trabalho não significa risco a priori. Inicialmente deve(m) ser observada(s) a(s)
forma(s) em que a substância é manuseada em relação á possibilidade de atingir o trabalhador
e ser absorvida (quanto for o caso). Se a substância está em uma forma que pode acarretar
risco ao trabalhador, na seqüência devem ser observados: a dose (ou concentração) que existe
ou pode eventualmente existir em algumas situações não usuais (manutenção, acidentes,
desvios de processos de produção, etc.), o tempo que os trabalhadores permanecem no local
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O Ambiente e as Doenças do Trabalho - Curso de Engenharia de Segurança do Trabalho 75

ou exercem a atividade que envolve o risco, como esta é exercida, e quais as medidas de
proteção existentes.

4.2.4- Vias de Absorção no Organismo Humano.

Os diversos agentes químicos que podem poluir um local de trabalho e entrar em contato
com o organismo dos trabalhadores podem apresentar uma ação localizada ou serem
distribuídos aos diferentes órgãos e tecidos, levados pelos fundos internos (sangue e outros),
produzindo uma ação generalizada.
Por este motivo às vias de ingresso destas substâncias ao organismo são:
a) Inalação: constitui a principal via de ingresso de tóxicos, já que a superfície dos
alvéolos pulmonares representa, no homem adulto, uma superfície entre 80 a 90 m 2. Esta
grande superfície facilita a absorção de gases e vapores, os quais podem passar ao sangue,
para serem distribuídos a outras regiões do organismo. Alguns sólidos e líquidos ficam retidos
nesses tecidos, podendo produzir uma ação localizada, ou dissolvem-se para serem
distribuídos através do aparelho circulatório. Sendo o consumo de ar 10 a 20 kg diários,
dependendo fundamentalmente do esforço físico realizado, é fácil chegar a conclusão que mais
de 90% das intoxicações generalizadas tenham esta origem.
b) Absorção cutânea: quando uma substância de uso industrial entra em contato com a
pele, podem acontecer as seguintes situações:
1- A pele e a gordura protetora podem atuar como uma barreira protetora efetiva.
2- O agente pode agir na superfície da pele, provocando irritação primária.
3- A substância química pode combinar com as proteínas da pele e provocar uma
sensibilização.
4- O agente pode penetrar através dela, atingir o sangue e atuar como um tóxico
generalizado. Assim, por exemplo, o ácido cianídrico, mercúrio, chumbo tetra-etila (usado nas
gasolinas como antidetonante), alguns defensivos agrícolas, etc. são substâncias que podem
ingressar através da pele, produzindo uma ação generalizada.
Apesar destas considerações, normalmente a pele é uma barreira bastante efetiva para
os diferentes tóxicos, e são poucas as substâncias que podem ingressar através da pele,
produzindo uma ação generalizada.
c) Ingestão: representa apenas uma via secundária de ingresso de tóxicos no
organismo, já que nenhum trabalhador ingere, conscientemente, produtos tóxicos. Isto pode
acontecer de forma acidental ou engolir partículas que podem ficar retidas na parte superior do
trato respiratório ou ainda ao inalar substâncias em forma de pós ou fumos.

4.3- Controle ou Monitoramento Ambiental

O monitoramento ambiental visa determinar os níveis de agentes químicos no ambiente


ocupacional, para avaliar uma exposição potencial, isto é a quantidade do agente químico que
pode alcançar os organismos vivos. Assim, com base nos dados obtidos e no conhecimento do
risco toxicológico das substâncias, é possível evitar que a contaminação atinja níveis
perigosos.
Pode se definir monitoramento ambiental como:
“A medida e a avaliação, qualitativa e quantitativa, de agentes químicos no ambiente
ocupacional para estimar a exposição ambiental e o risco à saúde, comparando os resultados
com referencias apropriadas”.
Este controle foi por vários anos efetuado como único modo de se prevenir o
aparecimento de alterações nocivas para a saúde decorrentes da exposição ocupacional.
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Baseia-se na definição, para um grande número de substâncias químicas, como a


concentração no ar abaixo da qual nenhum efeito tóxico deverá ocorrer em pessoas normais e
na vigilância para que a exposição ocupacional não ultrapasse esses limites. Esse controle
considera que os agentes tóxicos penetram no organismo por inalação.
Para se estabelecer as concentrações máximas para uma exposição ocupacional uma
série de informações cientificas são exigidas, tais como: os conhecimentos das propriedades
físico-químicos; investigações toxicológicas sobre toxicidade aguda, sub- aguda e crônica pelas
diversas vias de introdução; experimentos em animais e observações no homem. Pode se
notar, que os estudos para a fixação dos limites permissíveis são complexos e dispendiosos, e
apenas alguns países os realizam. Assim os EUA, “URSS”, Alemanha, Suécia e
Tchecoslováquia determinam esses limites, enquanto outros paises, como a Inglaterra,
Argentina, Peru, Noruega, Brasil etc, adotam os limites dos EUA com as adaptações
necessárias as condições de trabalho em cada país.
No Brasil estas adaptações são feitas de acordo com a área, podendo ser do Ministério
do Trabalho, da Saúde, etc. A NR-15 (Norma Regulamentadora nº 15, 1978, Ministério do
Trabalho, utiliza os valores adaptados da ACGIH-USA de 1977. Estes valores foram reduzidos
em 78% em virtude da jornada semanal no Brasil ser de 48 horas, naquela época (até 1989),
com relação às 40h preconizadas pela ACGIH).
Os Limites de Exposição Ocupacional – LEO, propostos pela ACGIH - USA (American
Conference of Governamental Industrial Hygienist), são os chamados TLV’s onde:
TLV (THERESOLD LIMIT VALUE) “referem-se às concentrações das substâncias
dispersas na atmosfera que representam as condições sob as quais se acredita, que quase
todos os trabalhadores possam estar expostos continua e diariamente, sem apresentar efeitos
adversos à saúde”.
“Os valores de TLV são calculados para um período de 7 a 8h por dia, num total de 40h
semanais, sem que isso traga danos para a sua saúde. O TLV é uma média que permite
flutuações em torno dela, desde que no final da jornada de trabalho o valor médio tenha sido
mantido.”
Os principais tipos de TLV são:
TLV – TWA (Time Weight Average) – É a concentração média ponderada pelo tempo
de exposição para a jornada de 8h/dia, 40h/semana, à qual praticamente todos os
trabalhadores podem se expor, repetidamente, sem apresentar efeitos nocivos.
TLV –STEL ((Short Time Exposure Limit) – É a concentração na qual os trabalhadores
podem se expor, por um curto período, sem apresentar efeitos adversos. O tempo máximo de
exposição aos valores do TLV- STEL é de 15 minutos, podendo ocorrer, no máximo, 4 vezes
durante a jornada, sendo o intervalo de tempo entre cada ocorrência de pelo menos 60
minutos. O TLV – TWA não pode ser ultrapassado ao fim da jornada.
Os valores de TLV – STEL devem ser vistos como complementos dos valores de TLV –
TWA. Na verdade servem para controlar flutuações das concentrações das substâncias acima
dos valores de TWA estabelecidos. Os valores de TLV – STEL são determinados para
substâncias que apresentam efeitos nocivos agudos, prioritariamente aos efeitos crônicos.

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TLV – C (Ceiling) – É a concentração máxima permitida que não pode ser ultrapassada
em momento algum durante a jornada de trabalho. Normalmente é indicado para substâncias
de alta toxicidade e baixo limite de exposição.
“Contudo devido a grande variação na suscetibilidade individual uma pequena % de
trabalho pode sentir desconforto diante de certas substâncias em concentrações permissíveis
segundo os LTs, ou mesmo abaixo deles: um número menor pode ser mais seriamente afetado
pelo agravamento de uma condição pré- existente ou pelo desenvolvimento de uma doença
ocupacional”, absoluto e não pode ser em nenhum momento. Nos EUA esse valor máximo é
adotado para algumas substâncias com sigla TLVc,como foi visto acima.
LT - Os limites de exposição ocupacional da NR-15, no Brasil, são chamados de Limites
de Tolerância (LT) e são compilados das tabelas dos valores de TLV-TWA e se referem às
concentrações médias máximas que não devem ser ultrapassadas numa jornada de 8h/dia, 48
horas/semana. É também uma média que permite flutuação ao longo da jornada de trabalho.
Os LT brasileiros são extrapolados dos TLV através de uma média aritmética.
Nos EUA é calculado periodicamente o chamado nível de ação (NA), ou seja, a
concentração a partir da qual os controles médicos e periódicos devem ser iniciados.
De acordo com a legislação Brasileira e recomendações internacionais o NA corresponde
a uma concentração igual a metade das concentrações máximas permitidas.
Onde: LEO
NA 
NA = Nível de Ação 2
LEO = Limite de Exposição Ocupacional
Esquematicamente têm-se:

TLV

Exposição
NA
Não exposição

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4.4- Histórico dos limites de tolerância

1933-38- União soviética regulamenta os primeiros limites


1941- “Maximum Allowable Concentrations” (MACs) American National Standards
Institute (ANSI)
1943 - “Hvgiene Guides” American Industrial Hygiene Association (AHIA)
1947 – “Threshold limit Values” (TLVs), American Conference of Governmental Industrial
Hygienists (ACGIH)
1968 - Hygiene Standars British Factory Inspectorate
1969 - Maximale Arbeitdplatzkonzetration (MAK), Alemanha
1970 - Permissible Exposure Limits (PELS), OSHA/ EUA
1970 - Recommended Exposure Limits (RELS), NIOSH/ EUA
1978 - Limites de Tolerância MTPS/ Brasil
1982 - Valeurs Limites D’ Exposition Professionnalle, França

4.5- Controle ou Monitoramento Biológico

O monitoramento ambiental, entretanto, ao estimar a intensidade da exposição, não é


inteiramente satisfatório para evitar o risco decorrente da exposição ocupacional a
xenobióticos. Existem inúmeras variáveis que prejudicam a associação direta entre a exposição
e os efeitos nocivos. Os indivíduos diferem quanto a duração e a intensidade da exposição aos
contaminantes da atmosfera, aos hábitos alimentares, hábitos próprios no trabalho e no
macroambiente.
O monitoramento ambiental não considera, por exemplo, o trabalho extra ou o trabalho
pesado, quando pode ocorrer até 20 vezes mais inalação de ar por minuto do que no trabalho
leve. Além disso, as características individuais tais como sexo, idade, raça, estados
nutricionais, entre outros, resultam em uma série de respostas diferentes dos diversos
organismos, frente a uma mesma concentração do agente tóxico ocupacional. No entanto, para
vários xenobióticos, como por exemplo aqueles que apresentam ação tóxica local (vapores de
ácidos, NO, NO2, SO2 etc.), o monitoramento ambiental é o único meio de prevenir o
aparecimento de intoxicações.
Existe uma série de vantagens e limitações para que seja realizado o monitoramento
biológico e ele é de uso limitado a poucos agentes químicos e também não pode ser utilizado
para a prevenção de efeitos carcinogênicos, mutagênicos ou alergênicos, para os quais não
são conhecidas as doses onde não são observados efeitos nocivos.
Dentre as vantagens do monitoramento biológico em relação ao ambiental, podemos
citar:
- Exposição relativa a um período de tempo prolongado;
- Exposição como resultado da movimentação do trabalhador no ambiente de trabalho;
- Absorção de uma substância, através de várias vias de introdução e, não apenas,
através do sistema respiratório;
- Exposição global, decorrentes de várias fontes de exposição, seja ocupacional, seja
ambiental;
- Quantidade da substância absorvida pelo trabalhador, em função de outros fatores
(atividade física no trabalho e fatores climáticos);
- Quantidade da substância absorvida pelo trabalhador, em função de fatores individuais
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(idade, sexo, características genéticas, condições funcionais dos órgãos relacionados com a
biotransformação e eliminação do agente tóxico).
Quando o monitoramento biológico é realizado é considerado o fato de que o próprio
homem é a melhor indicação das condições do seu local de trabalho. No monitoramento
biológico é estimado o risco para a saúde dos indivíduos expostos a substâncias químicas com
base na exposição interna do organismo (dose interna) todos os trabalhadores são
examinados, individualmente, procurando detectar precocemente uma exposição excessiva
(antes que alterações biológicas significativas ocorram) ou então, algum distúrbio biológico
reversível (antes que tenham causado algum prejuízo à saúde) têm-se então dois tipos de
monitoramento biológico

4.5.1- Monitoramento Biológico propriamente dito ou de dose interna.

O monitoramento biológico de dose interna foi definido como: “A medida e avaliação de


agentes químicos ou de seus produtos de biotransformação em tecidos, secreções, excreções,
ar exalado ou alguma combinação desses, para estimar a exposição ou o risco à saúde
quando comparados com uma referência apropriada”.
Ele visa estimar a quantidade biodisponível do agente químico (dose interna). O objetivo
desse procedimento é de assegurar que a exposição do indivíduo não alcance níveis nocivos.
A dose interna pode representar:
a) a quantidade do agente químico recentemente absorvida, (exposição recente), como
por exemplo o fenol urinário na exposição ao benzeno;
b) a quantidade do agente químico ligada aos sítios de ação (dose no órgão crítico)
como, por exemplo, o cádmio no tecido renal
c) a quantidade armazenada num ou vários compartimentos do organismo (dose total
integrada ou dose especifica num órgão) como, por exemplo, o chumbo nos ossos.

4.5.2- Monitoramento biológico de efeito

Uma vez que o monitoramento biológico envolve prioritariamente a prevenção, o


monitoramento biológico de efeito seria conceitualmente contraditório com o primeiro. Todavia,
deve-se considerar que o efeito no qual esse monitoramento está baseado é o não nocivo.
O monitoramento de um efeito precoce, não nocivo, produzido por um agente químico
pode, em principio, ser adequado para prevenir efeitos nocivos à saúde. Assim, o
monitoramento biológico de efeito é definido como: “a medida e avaliação de efeitos biológicos
precoces, para os quais não foi ainda estabelecida relação com prejuízos à saúde, em
trabalhadores expostos, para estimar a exposição e/ou os riscos para saúde quando
comparados com referência apropriada”.
Um efeito biológico pode ser definido como uma alteração bioquímica, funcional ou
estrutural que resulta da reação do organismo à exposição. Essa alteração é considerada não
nociva quando:
- ao serem produzidas numa exposição prolongada não resultem em transtornos da
capacidade funcional nem da capacidade do organismo para compensar nova sobrecarga;
- são reversíveis e não diminuem perceptivamente a capacidade do organismo de manter
sua homeostase;
- não aumentam as suscetibilidades do organismo aos efeitos indesejáveis de outros
fatores ambientais tais como os químicos, os físicos, os biológicos ou sociais.
A vantagem dos testes que medem os efeitos biológicos não nocivos é que fornecem

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melhor informação sobre a quantidade do agente químico que interage com o sitio de ação.
Como exemplos de efeitos considerados não nocivos, temos a depressão da desidratase
do ácido delta- aminolevulínico no sangue (delta- ala D) e o aumento da zinco protoporfirina no
eritrócito (zn-pp) na exposição ao chumbo.
Assim, o objetivo principal do monitoramento biológico, seja ele de dose interna ou de
efeito, é, essencialmente o mesmo do monitoramento ambiental, ou seja, prevenir a exposição
excessiva aos agentes químicos que podem provocar efeitos nocivos, agudos ou crônicos, nos
indivíduos expostos. Nos três casos o risco à saúde é avaliado comparando o valor medido,
com um padrão de segurança.

4.5.3- Indicador biológico de exposição ou Indicadores biológicos de intoxicação ou


biomarcadores

Conceito: Indicador Biológico de Exposição é uma substância química, elemento químico,


atividade enzimática ou constituintes dos organismos, cuja concentração (ou atividade) em
fluido biológico (sangue, urina, ar exalado) ou em tecidos, possui relação com a exposição
ambiental a determinado agente tóxico. A substância ou elemento químico determinado pode
ser produto de uma biotransformação ou alteração bioquímica precoce decorrente da
introdução deste agente tóxico, no organismo.
Para os agentes químicos preconizados na NR-7, é definido o Índice Biológico Máximo
Permitido (IBMP) que é “O valor máximo do indicador biológico para o qual se supõe que a
maioria das pessoas ocupacionalmente expostas não corre risco de dano à saúde. A
ultrapassagem deste valor significa exposição excessiva”. Este Valor (IBMP) deve ter
correlação com a concentração do agente químico no ambiente de trabalho e é definida como
limite de tolerância ou limite de exposição ocupacional. Para realizar o monitoramento
biológico é preciso ter o indicador biológico, que pode ser definido como todo agente tóxico
inalterado e/ou seu produto de biotransformação, determinado em amostras representativas do
organismo dos trabalhadores expostos (sangue, urina e ar expirados) assim como a
identificação de alterações biológicas precoces decorrentes da exposição.
Dentre os fatores que podem influenciar os níveis dos indicadores biológicos, podemos
citar os seguintes:
Fatores não ocupacionais:
- Hábitos pessoais (por ex., álcool, fumo)
- Fármacos (por ex., aspirina)
- Fatores constitucionais (por ex., espécie, sexo, idade)
- Fatores patológicos (por ex., pessoas anêmicas expostas a metais – Cd, Pb, Hg – terão
seus níveis mais baixos)
- Fatores ligados às características dos fluídos biológicos (densidade da urina, correção
pela creatinina urinária).
Dentre os fatores ocupacionais podemos citar as interações metabólicas, decorrentes de
exposições múltiplas a vários agentes industriais. Alguns itens devem ser observados para
uma boa "performance" dos exames toxicológicos
- Momento da amostragem (padronização pela NR-7 em função da permanência dos
indicadores biológicos no organismo).
- Utilização de frascos adequados para coleta (evitar contaminação, principalmente nas
análises de metais).
- Observar que a coleta seja realizada em local afastado do local de trabalho (evitar

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contaminação exógena).
- Evitar urinas muito diluídas (comprometem o resultado em função da correção pela
creatinina urinária)
Os resultados obtidos dos exames dos indicadores biológicos são comparados com
referências apropriadas. Aqui no Brasil a legislação que estabelece estas referências é
regulamentada pela NR –7 Portaria nº 24 de 29/12/94 da Secretaria de Segurança e Saúde no
Trabalho, onde são definidos os parâmetros para o controle biológico de exposição a alguns
agentes químicos.

4.5.4- Vigilância a saúde

É necessário estabelecer claramente, a diferença entre monitoramento biológico e


vigilância a saúde. Esta ultima é definida pelo Comitê misto CCE/OSHA/NIOSH como: ”exames
médico fisiológicos periódicos de trabalhadores expostos, com o objetivo de proteger a saúde e
detectar precocemente a doença”.
A detecção da doença instalada esta fora do propósito desta definição. Então a vigilância
à saúde utiliza indicadores sensíveis que auxiliam na detecção, porém não na prevenção de
sinais precoces de alterações orgânicas provocadas pela interação do agente químico com o
organismo.
A vigilância à saúde é um procedimento médico no qual se recombinam os diversos
elementos, obtidos a partir do exame clínico do trabalhador, aos quais se somam os do
monitoramento biológico, para se obter um quadro geral da condição e saúde do trabalhador,
relacionando-a com uma atividade específica.
Em programas de vigilância à saúde são utilizados os indicadores do efeito nocivo que
revela a fase inicial, reversível, da intoxicação. Os exames podem necessitar de especificidade
com relação à exposição. Como exemplos, podem ser citadas as provas de função hepática,
que poderão estar alteradas em muitas moléstias do fígado e com o resultado do hábito de
ingerir álcool. O quadro hematológico altera-se não somente na exposição ao benzeno, mas
também em uma variedade de outros agentes químicos, além de numerosas moléstias
originadas por microorganismos.
Assim a validação das provas, a serem usadas na vigilância a saúde para determinar
efeitos precoces produzidos por agentes químicos é um processo difícil, pois a sensibilidade e
a especificidade dos exames devem ser conhecidas. De fato, programas de vigilância a saúde
utiliza o monitoramento biológico e o monitoramento de efeito como um de seus critérios mais
valiosos na detecção precoce de doenças decorrentes na exposição humana as substâncias
químicas. Deve-se sempre levar em consideração que somente os indicadores altamente
específicos, para uma determinada patologia do órgão, é que podem ser considerados como
instrumentos úteis para o diagnóstico precoce de uma doença em processo de instalação. A
vigilância à saúde procura dar ênfase as características da exposição, especialmente tempo e
duração, associando-se ao estado de saúde, podendo ser aplicada com os seguintes objetivos:
- Comprovar a ausência de um efeito nocivo numa exposição considerada aceitável ou a
eficiência das medidas ambientais adotadas;
- Dar atenção às alterações precoces do estado de saúde para poder interferir,
preventivamente, em relação a doença.
As alterações do estado de saúde ocorrem com as seguintes características:
- Uma fase de indução, isto é, aquela em que decorre um certo tempo para se iniciar o
processo de morbidade, após alcançar uma certa dose do agente químico no organismo
- Uma fase de latência, que corresponde ao período compreendido entre o início do
processo de morbidade e o aparecimento das alterações funcionais que ainda não permitem a

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sua individualização.
A aplicação da vigilância a saúde, a exemplo do que acontece com o monitoramento
biológico, não pode ser confundida com os procedimentos que visam o diagnóstico.
É importante enfatizar que a manifestação de deterioração da saúde não ocorre
necessariamente no momento do reconhecimento médico. A ocorrência de certas alterações
biológicas pode, desde que evidenciada em tempo hábil, advertir que se não forem modificadas
as condições de trabalho ocorrerão os transtornos funcionais.
A figura a seguir mostra a evolução das alterações clínicas e subclínicas relacionadas
com o tempo, em uma determinada exposição.

O esquema a seguir representa a transferência do agente químico até os sítios de ação e


programas de monitoramento e vigilância correspondentes as diferentes fases do processo
(LAUWERYS & BERNARD).

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CAPÍTULO 5- DOENÇAS OCUPACIONAIS

5.1- Introdução

No século XVI, já se descreviam as primeiras relações entre trabalho e doença, mas


apenas em 1.700, no século XVIII, foi que se chamou atenção para as doenças profissionais,
quando o italiano Bernardino Ramazzini publicou o livro De Morbis Artificum Diatriba ("As
Doenças dos Trabalhadores"). Nesta obra, ele descreve, com extraordinária precisão para a
época uma serie de doenças relacionadas com mais de 50 profissões diferentes. Diante disso,
Ramazzini foi cognominado o "Pai Medicina do Trabalho", e, as perguntas clássicas que o
médico faz ao paciente na anamnese clínica foi acrescentada mais uma: "Qual a sua
ocupação?".
O advento da Revolução Industrial ocasionou o surgimento das fábricas, as quais
passaram a empregar grande parte população, multiplicando as ocupações e trazendo, como
conseqüência, uma serie de problemas de saúde.. Com isso, surge também a necessidade de
o medico entrar nas fábricas e dedicar atenção ao trabalhador e as condições de trabalho.
Na Inglaterra, berço da Revolução Industrial, já em 1830 apareciam os primeiros médicos
de fábrica.

5.2- Conceituação

Para a Medicina do Trabalho, são de grande importância o diagnóstico e a prevenção


das doenças ocupacionais.
Pode-se definir Doença Ocupacional como sendo toda moléstia causada pelo trabalho ou
pelas condições do ambiente em que é executado.
A Legislação Brasileira define as doenças profissionais ou do trabalho no do Decreto
2.172, de 05 de março de 1997, artigo 132, incisos I e II, e do Anexo II, equiparando-a, para
todos os efeitos legais, ao acidente do trabalho. Diz ainda, no artigo 132, parágrafo 2o do
Decreto 2.172, que, em caso excepcional, constatando-se que uma doença não esteja incluída
na relação constante do Anexo II resultou de condições especiais em que o trabalho é
executado e com ele se relacione diretamente, a previdência social deve equipará-la ao
acidente do trabalho.
Devemos frisar que, embora sejam causados pelo trabalho, inúmeros casos de doenças
ocupacionais não estão na relação acima. Os mais importantes são os de dermatoses
(doenças de pele) ocupacionais, que correspondem a cerca de 50% dos atendimentos em
serviços de assistência medica a doenças profissionais, ou seja, são inúmeros casos de
irritação, alergias etc., que não estão no Anexo IV do Decreto 2.172. Há ainda os casos e
bronquite em trabalhadores sensíveis, causadas por substâncias químicas, e que estão
também, evidentemente, relacionadas diretamente com o trabalho e não constam do anexo.
Esses quadros podem ser classificados como doença profissional quando nexo entre a
moléstia e o trabalho for estabelecido pelo médico.

5.3- O Ambiente e as doenças do trabalho

No decorrer da história da humanidade, o ambiente de trabalho tem causado doença,


incapacidade e morte num número incalculável de trabalhadores. Apesar do estágio atingido
pelo progresso científico proporcionando amplas possibilidades de prevenir os riscos
existentes, a realidade é que os agravos à saúde dos trabalhadores ainda permanecem em
proporções preocupantes.
Quando pensamos nos danos à saúde dos indivíduos pelas condições laborais, a

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primeira idéia que se surge é a do ACIDENTE DE TRABALHO porque ele ocorre de forma
abrupta, suas conseqüências são detectadas mais facilmente e exigem desde um pronto
atendimento, gerando perturbação no ambiente.
No entanto, existe outro agravo que acontece de maneira lenta, passando despercebido
ou sendo confundido com outras alterações do estado de saúde, até mesmo por médicos.
Trata-se da DOENÇA PROFISSIONAL, DOENÇA DO TRABALHO OU DOENÇA
OCUPACIONAL. O nexo causal, nos casos de acidente, feito com maior facilidade, nela se
estabelece com dificuldade, gerando prejuízos ao trabalhador e à sociedade, além de
deficiência marcante de dados estatísticos.
Na história da Medicina já existe referência sobre a associação entre trabalho e doença
em documentos egípcios e greco-romanos, embora fossem insignificantes porque, à época, os
trabalhos de risco mais elevado eram exercidos pelos escravos das nações subjugadas. Como
exemplo tem-se a citação da intoxicação saturnina num trabalhador mineiro, feita por
Hipócrates. Apesar da profundidade da obra, o autor não fez qualquer menção ao ambiente de
trabalho nem à ocupação do paciente.
Entretanto, quem se notabilizou foi o médico italiano Bernardino Ramazzini, Pai da
Medicina do Trabalho, ao publicar, em 1700, o livro “As Doenças dos Trabalhadores”
descrevendo cerca de 50 doenças relacionadas ao trabalho. Nele conclama os médicos a
investigarem a ocupação dos pacientes, para relacionar os sinais e/ou sintomas apresentados
com suas condições de trabalho.
Recentemente, encontramos relatos de acidentes e doenças, no livro intitulado “As
vítimas dos ambientes de trabalho – rompendo o silêncio”, publicado pelo sindicato dos
metalúrgicos de Osasco-SP. Na referência aos trabalhadores mutilados, está descrito que os
trabalhadores ficam à mercê de irregularidades, tanto do ponto de vista das relações de
trabalho, como das péssimas condições em que desempenham suas funções. “O drama vivido
por essas pessoas tem proporções incalculáveis. São histórias cercadas de tristeza, revolta e
injustiça, quase sempre acompanhadas de desestruturação familiar”.
Em nosso estado, há casos de doenças ocupacionais do aparelho auditivo (indústria
têxtil, serrarias), do sistema osteomuscular (processamento de dados, indústria têxtil e de
calçados, bancários, supermercados) e intoxicações químicas (agrotóxicos; tintas e vernizes;
indústria de calçados), entre outras.
Estudos sobre segurança e saúde no trabalho citam a velocidade com que novas formas
de trabalho são implementadas no processo produtivo, ocasionando alterações no perfil dos
acidentes e das doenças ocupacionais. Os riscos físicos, químicos, biológicos e mecânicos,
responsáveis pelos principais agravos detectados até a década de 80, estão sendo acrescidos
por outros ligados à organização do trabalho (terceirização, inexistência de pausas,
gerenciamento de pessoal), e passam a ter importância na organização e capacitação dos
profissionais de segurança e saúde no trabalho. A formação dos profissionais priorizando os
riscos clássicos, não consegue mais dar resposta às necessidades que surgiram com a nova
organização da produção. A implantação de ações multiprofissionais é inadiável.

5.4- Agentes ambientais e doenças ocupacionais

Para conservar sua saúde, o ser humano trava uma constante batalha contra as forças
biológicas, físicas, mentais e sociais que podem alterar o equilíbrio do seu organismo. A
doença, portanto, não é um evento estático, mas um processo, pois o aparecimento de sinais
e/ou sintomas significa que a enfermidade já se instalou. Daí a necessidade de se dar
prioridade à prevenção.
Conforme os princípios da epidemiologia, o processo-doença é desencadeado pelo
desequilíbrio na interação dinâmica entre os elementos denominados agente, hospedeiro e
meio ambiente.

Abelardo da Silva Melo Junior – Médico, Especialista em Medicina do Trabalho, Auditor-Fiscal do Trabalho, M.Sc.
O Ambiente e as Doenças do Trabalho - Curso de Engenharia de Segurança do Trabalho 87

Entende-se por agente um elemento, uma substância, cuja presença ou ausência pode,
em condições favoráveis existentes no organismo e no meio ambiente, provocar o início de um
processo patológico. Estes agentes se classificam em físicos, químicos, biológicos,
ergonômicos e mecânicos, podendo causar acidentes, doenças inespecíficas ou doenças do
trabalho.
Inespecíficas são doenças físicas e psíquicas, cada vez mais freqüentes nas sociedades
industriais, e atribuíveis a um ou mais fatores do ambiente de trabalho, entre as quais: cansaço
e insônia persistentes; distúrbios digestivos (gastrites, úlcera gastroduodenal), neuroses,
artroses, asma brônquica, hipertensão arterial.
O hospedeiro é representado pelo homem e contribui através de hábitos, costumes e de
condicionantes (idade, sexo, estado civil, etnia, ocupação, carga genética e eficiência de seus
mecanismos de defesa).
O meio ambiente engloba o ambiente de trabalho (características do local, dimensões,
iluminamento, aeração, níveis de ruído, poeiras, gases, vapores, fumos, etc.), bem como os
elementos conexos à atividade em si (tipo de trabalho, posição do trabalhador, ritmo de
trabalho, ocupação do tempo, horário de trabalho diário, turnos, horário semanal).
Portanto, a detecção precoce é fundamental, pois quanto mais cedo forem detectadas as
alterações maiores serão as chances de reverter a evolução da doença. Como instrumentos
para a detecção precoce temos:
- A consulta médica (anamnese ocupacional: o que faz? Com o que faz? Como faz?
Onde faz e em que condições? Há quanto tempo? Como se sente? O que pensa do seu
trabalho?);
- Abordagem epidemiológica.
Patologia do Trabalho é conceituada como “o estudo do sofrimento, dano ou agravo à
saúde causado, desencadeado, agravado pelo trabalho ou com ele relacionado”.

5.5- Doenças provocadas pelos agentes físicos

5.5.1- Ruído

É definido como um som desagradável, composto por freqüências não harmônicas e


presente em várias atividades: têxtil, de plástico, construção civil, serrarias, serralharias, usinas
de açúcar, destilarias de álcool, cerâmicas, etc.
Para atingir o ouvido interno, o som utiliza a via aérea e a óssea. A condução no canal
auditivo externo se faz por meio do ar. O tímpano recebe a onda sonora e a transmite através
de estruturas denominadas martelo, bigorna e estribo. No órgão de Corti se dá a transformação
da onda sonora em impulsos nervosos que são transmitidos para o córtex cerebral.
O ruído provoca perturbações em vários órgãos ou sistemas antes da perda auditiva
(fase final dos efeitos do ruído) que é ocasionada pela degeneração celular do órgão de Corti,
portanto, uma perda neuro-sensorial. Estas células, uma vez destruídas, não mais se
regeneram.

5.5.1.1- Efeitos extra-auditivos provocados pelo ruído

- Sistema Nervoso Central: Modificação do eletroencefalograma; fadiga nervosa;


alterações emocionais; perda da memória; incoordenação de idéias; irritabilidade;
diminuição da libido e da capacidade de reprodução;
- Aparelho Cardiovascular: Alterações do ritmo cardíaco e do calibre dos vasos;
hipertensão arterial;

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- Aparelho respiratório: modificações do ritmo;


- Aparelho digestivo: alterações do trânsito gástrico e intestinal; alteração da secreção
gástrica e salivar; aumento da incidência de úlcera péptica;
- Órgãos da visão: diminuição da visão noturna; confusão na percepção das cores;
dificuldade de apreciação de distâncias de relevo;
- Sistema endócrino: modificação da glicemia; tireóide;
- Sistema Imunológico: aumento da predisposição a infecções.

5.5.1.2- Efeitos do ruído sobre o aparelho auditivo

- Fadiga Auditiva: perda temporária da sensibilidade auditiva;


- Trauma Acústico Agudo: dor, diminuição da audição, zumbidos; às vezes, otorragia;
Trauma Acústico Crônico.
SURDEZ OCUPACIONAL (exposição ao ruído por longo período)
Sintomas: às vezes apenas zumbido, mais perceptível à noite; alterações do sono;
diminuição da atividade sexual; surdez fetal; e anomalias no desenvolvimento; vaso-
constrição periférica.

5.5.1.3- Fatores agravantes:

- Período de exposição (número de horas/dia; anos de exposição).


- Intensidade do som
- Freqüência do som
- Susceptibilidade individual
- Idade (jovens sofrem mais)
- Exposições simultâneas a ruído e a n-butanol, monóxido de carbono, chumbo,
manganês, estireno, tolueno ou xileno;
- Patologias: (hipertensão arterial; diabetes mellitus; dislipidemias; vasculopatias;
doenças do ouvido, principalmente interno);
- Doenças auto-imunes

5.5.1.4- Definições e caracterização

Perda auditiva por níveis elevados de pressão sonora: alterações dos limiares
auditivos, do tipo neurossensorial, devidas à exposição ocupacional sistemática a níveis de
pressão sonora elevados; irreversível e progride com o tempo de exposição. Uma vez cessada
a exposição, não haverá progressão da redução auditiva.
Exame audiométrico: admissional, seis meses após, anualmente a partir de então, e na
demissão.
O diagnóstico conclusivo, diferencial e a definição da aptidão para o trabalho, na suspeita
de perda auditiva induzida estão a cargo do coordenador do PCMSO, ou do médico
encarregado para realizar o exame médico ou, na ausência destes, do médico assistente.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, o organismo humano começa a
sentir os efeitos do ruído a partir de um desconforto corporal, normalmente com sons
superiores a 50 decibéis, conforme abaixo descrito:
De 50 a 65 dB (A): o indivíduo fica em estado de alerta, não relaxa; diminui o poder de

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concentração e prejudica a produtividade no trabalho intelectual.


De 65 a 70 dB (A): organismo tenta se adequar, minando suas defesas e diminuindo a
resistência imunológica; induz a liberação de endorfina, tornando o organismo dependente
(pessoas só conseguem dormir com o rádio ou televisão ligada); aumento de colesterol.
Acima de 70 dB (A): estresse degenerativo, aumentando o risco de enfarte e infecções,
além de abalar a saúde mental.

5.5.2- Temperaturas extremas

O ambiente térmico pode ser descrito através da temperatura, da umidade, da


movimentação do ar e do calor radiante. Estes parâmetros servem para avaliar a capacidade
de resistência do indivíduo quando confrontados com os registros clínicos obtidos nos
trabalhadores expostos.
Os mecanismos de controle da temperatura do corpo permitem a manutenção da
temperatura interna, mesmo diante de agressões ambientais.
Estes mecanismos são: metabolismo basal (aumenta ou diminui a perda de calor através
do hipotálamo - hormônios tireoidianos e adrenérgicos - provocam a tiritação (tremedeira) para
obter calor ou lassidão (relaxamento) para impedir a produção de calor). Além dele, utilizamos
a irradiação, a convecção, a evaporação e as vias respiratória e urinária.

5.5.3- Doenças causadas pelo calor

CÃIMBRAS PELO CALOR: músculos usados durante o trabalho; Em geral após a


parada do trabalho; quem transpira muito, mesmo ingerindo líquidos, embora sem cloreto de
sódio, são as mais susceptíveis.
SÍNCOPE PELO CALOR: tontura ou desmaio em ambiente fechado e quente (acúmulo
sangüíneo em veias da pele e membros inferiores → isquemia cerebral). Cardiopatas ou
usuários de diuréticos devem ser alertados para sentarem-se ou deitarem aos primeiros
sintomas.
EXAUSTÃO PELO CALOR: a mais comum; fraqueza, fadiga, cefaléia frontal, náuseas,
vômitos, desorientação mental, podendo ocorrer cãibras, tontura e síncope. Em geral decorre
de depleção hídrica e salina.
INSOLAÇÃO/INTERMAÇÃO: exposição ao sol ou que permanência por muito tempo
em ambientes muito quentes; cefaléia, vertigem, cansaço, aumento da freqüência respiratória e
cardíaca, desorientação ► inconsciência ► convulsões. A temperatura interna de 41ºC é um
mau prognóstico, enquanto 42ºC freqüentemente é fatal. A idade avançada, a debilidade e o
alcoolismo geralmente agravam o prognóstico.

5.5.4- Exposição ao frio

Podem ocorrer infecções das vias aéreas superiores, resfriados, gripes, faringite,
pneumonia e dores articulares. A queda da temperatura do corpo leva atinge órgãos vitais
(coração, pulmões, vísceras). Ao baixar para 36ºC, ocorre aumento do metabolismo basal;
entre 31-32ºC, há perda da consciência e dificuldade na obtenção da pressão arterial; já entre
29-30ºC aumenta a rigidez muscular; com 24ºC surge edema pulmonar e, atingindo 20ºC,
acontece parada cardíaca.
Na pele e nas extremidades (face, orelhas, queixo e joelhos), podem ocorrer: frosbite,
fenômeno de Raynaud, pé de imersão, urticária pelo frio. Trabalhadores idosos ou com
problemas circulatórios exigem o uso de roupa com isolamento extra e/ou redução do período
de exposição.

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A vestimenta úmida ou molhada deve ser trocada por uma seca, antes de entrar na
área fria. Os que manuseiam líquidos voláteis (gasolina, álcool ou fluidos de limpeza) a
temperaturas do ar inferiores a 4°C devem evitar molhar as roupas ou luvas com estes líquidos,
pelo risco adicional de resfriamento por evaporação.

5.5.5- Vibrações

Osteoarticulares: osteonecrose; lombalgia; degeneração precoce dos discos


intervertebrais; hérnia de disco lombar;
Angioneuróticas (principalmente nas mãos): sensibilidade alterada (formigamento);
isquemia dos dedos.
Doença dos dedos brancos – uso freqüente de máquinas com vibrações de alta
freqüência (furadeiras manuais, britadeiras, motonetas, etc.) pode acarretar danos na
microcirculação e vasoespasmo nas extremidades das mãos: clarear a área afetada (dedo
branco), diminuir ou perder a sensibilidade e reduzir a temperatura do(s) dedo(s) afetado(s).

5.5.6- Radiações ionizantes

Desde a descoberta da radioatividade natural e dos Raios–x, ficou clara a possibilidade


dos seus efeitos nocivos para os tecidos biológicos. As constatações iniciais foram na pele de
radiologistas e cabelos dos pacientes irradiados. Depois, descobriram-se efeitos nos
descendentes de animais e plantas submetidos à irradiação.
No organismo humano as células têm sensibilidade diferente à radiação, sendo os
efeitos biológicos nos tecidos assim descritos:
- Medula óssea (diminuição dos glóbulos brancos e da resistência às infecções);
- Deficiência plaquetária (hemorragia);
- Diminuição de glóbulos vermelhos (anemia);
- Sistema digestivo (náuseas e vômitos);
- Olhos (catarata);
- Sistema reprodutivo (esterilidade).
O dano mais importante que ela pode provocar nas células é no DNA (mutação). Essas
mutações são prejudiciais, por refletir mudanças aleatórias em células somáticas (no próprio
indivíduo) ou germinativas (para seus descendentes).
Caso as mutações não sejam reparadas corretamente pelas próprias células, podem
resultar em: morte celular ou impedimento de sua funcionalidade; morte reprodutiva da célula
(efeitos determinísticos) ou desenvolver uma célula viável, mas transformada (efeitos
estocásticos).
Os efeitos determinísticos são agudos, têm severidade proporcional à dose e não são
detectados abaixo do limiar de dose e podem ser medidos experimentalmente. Como exemplos
deles podemos citar: catarata, leucopenia, radiodermite, entre outros.
Já os efeitos estocásticos (câncer e efeitos hereditários) têm aparecimento tardio; são
cumulativos; sem limiar de dose; sua severidade independe da dose e possuem longo período
de latência.
Deve-se ressaltar os cuidados especiais com as trabalhadoras porque, entre a 3ª
semana e o final da gravidez, pode ocorrer má-formação no órgão que estiver se
desenvolvendo a época da exposição.

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5.5.7- Radiações não-ionizantes

ULTRAVIOLETA:
Pele: vermelhidão e queimaduras de 1º e 2º graus; maior incidência de tumores
cutâneos em trabalhadores de pele clara.
Olhos: conjuntivite e ceratite (soldador sem proteção e nas áreas próximas, quando não
se utiliza proteção coletiva - biombo).
INFRAVERMELHA: órgão crítico é a pele (vasodilatação, hiperpigmentação) e
queimaduras de 1º e 2º graus. A exposição crônica pode provocar opacificação do
cristalino - catarata dos vidreiros.
MICROONDAS: alterações visuais (catarata), circulatórias e cutâneas (distrofia ungueal
e queimaduras).
RAIO LASER: catarata e queimaduras (desde eritema leve até necrose tecidual).

5.5.8- Ambientes hiperbáricos

As doenças dos trabalhadores expostos a condições hiperbáricas se instalam, muitas


vezes, de forma rápida, exigindo que essas atividades tenham programação planejada, com
previsão de equipamentos, recursos humanos especializados e decisões rápidas.
BAROTRAUMA: dificuldade de equilibrar a pressão de cavidade pneumática do
organismo com a pressão variável do meio ambiente. O mais comum é o do ouvido médio. O
sintoma predominante é a dor, que pode irradiar-se para a região otomastóide, frontal, face e
pescoço.
EMBOLIA TRAUMÁTICA: uma das ocorrências mais graves; durante a
descompressão, a pressão intrapulmonar fica aumentada em relação ao meio ambiente
(mergulhador, numa emergência, abandona o equipamento e realiza uma subida livre com a
glote fechada); pode ocorrer: tontura, desorientação, náuseas, vômitos, dispnéia e dor torácica;
nos mais graves, inconsciência, choque e convulsões.
ARTRALGIA HIPERBÁRICA: mergulhos a grandes profundidades e descompressão
rápida com sensação de rigidez articular; dor aos movimentos bruscos, (ombro, joelho, punho,
coxofemural e coluna).
DOENÇA DESCOMPRESSIVA: confundida com embolia traumática e tem como causa:
obesidade, idade avançada, mau condicionamento físico e baixa temperatura. Prevenção: usar
a tabela de descompressão. Pode causar dor articular (cotovelo e ombro) ou mal-estar difuso,
fadiga e parestesias ► paraplegia; dor abdominal, cefaléia, visão turva, diplopia, redução do
campo visual, disartria e tontura, convulsões e morte.
SÍNDROME NEUROLÓGICA DAS ALTAS PRESSÕES: tremores e contrações
musculares involuntárias, sonolência, alterações significativas do eletroencefalograma,
distúrbios visuais, tontura, náuseas e convulsões.
INTOXICAÇÃO PELO OXIGÊNIO: Nela formam-se superóxidos e radicais livres
causando, nos mergulhos profundos: irritação respiratória, crise convulsiva - precedida ou não
de sinais de alerta – abalos musculares na face, pálpebras e boca; náuseas, confusão mental,
pupilas dilatadas.
NECROSE ASSÉPTICA: acomete ossos longos (úmero, fêmur e tíbia), inicialmente
assintomática e detectável só por radiografias. É a única de forma irreversível e de evolução
longa. Ocorre ainda por alcoolismo, uso de esteróides ou fenilbutazona, artrite reumatóide
(história ocupacional decisiva para o diagnóstico).

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5.5.9- Distúrbios Osteomusculares relacionados ao trabalho - DORT

A pressão sobre os trabalhadores faz vítimas em todos os setores, dos escritórios às


linhas de produção. Por isso, os distúrbios do sistema osteomuscular passaram a representar
um grande problema de saúde pública em muitos países. Apesar disso, esses distúrbios não
representam uma nova doença ocupacional. No século XVIII, o médico Bernardino Ramazzini
já descreveu a “doença dos escribas”.
Compõem um grupo de quadros, alguns deles bem definidos como tenossinovite,
sinovite e outros mais difusos. Por isso, a terminologia Distúrbios Osteomusculares
Relacionados ao Trabalho – DORT.
No dia a dia nós adotamos várias posturas e movimentos: ficar de pé, andar, sentar-se,
agachar-se, dirigir veículos, andar de bicicleta ou de moto, escrever, etc. Para exercê-las nosso
organismo utiliza o sistema músculo-esquelético composto pelo esqueleto, músculos, tendões,
ligamentos, nervos, etc.
CONCEITO: síndrome clínica caracterizada por dor crônica, com ou sem alterações
objetivas (no pescoço, cintura escapular e/ou membros superiores) decorrentes do trabalho.
A revolução industrial trouxe aumento dos danos à saúde por sobrecarga estática e
dinâmica do sistema osteomuscular. Contudo, só a partir da segunda metade do século XX
estes problemas adquiriram importância já que a inovação técnica da indústria trouxe o
aumento da carga de trabalho contínuo decorrente de: uso inadequado de sistemas de
esteiras; aumento do trabalho manual que requer movimento com os dedos e movimentos
repetitivos dos membros superiores; inadequação dos mobiliários; controle estrito do trabalho
pela gerência e diminuição de pausas e tempo livre.
No Brasil, já em 1973 detectaram tenossinovite ocupacional em lavadeiras, limpadoras
e engomadeiras. A partir de 1985, evidenciou-se os casos relacionados à digitação, e, em
1987, a Previdência Social reconhece a tenossinovite como doença do trabalho.
Posteriormente, foram diagnosticados novos casos em outras ocupações: controlador de
qualidade, embalador, montador de chicote, montador de tubos de imagem, operador de
máquinas e de terminais de computador, auxiliar de administração, auxiliar de contabilidade,
datilógrafo, pedreiro, técnico administrativo, telefonista, auxiliar de cozinha e copeiro, eletricista,
escriturário, operador de caixa, recepcionista, faxineiro, vulcanizador.
As DORT não têm uma única causa. Envolvem fatores de risco diretos e indiretos que
são interdependentes.
Entre os grupos de fatores de risco, podemos citar:
- o grau de adequação do posto de trabalho à zona de atenção e à visão – posturas ou
métodos de trabalho → lesões osteomusculares;
- frio, vibrações e pressões locais mecânicas sobre tecidos moles do corpo ou trajetos
nervosos (cantos de um objeto ou ferramentas);
- posturas inadequadas (limites de amplitude articular; força da gravidade sobre as
articulações e músculos; lesões mecânicas);
- carga osteomuscular oriunda de: força, repetitividade, duração da carga, tipo de
preensão, postura do punho e método de trabalho;
- carga estática: membro mantido em posição contrária à gravidade;
- invariabilidade da tarefa: implica monotonia fisiológica e psicológica;
- exigências cognitivas: aumento de tensão muscular ou uma reação mais generalizada
ao estresse;
- fatores organizacionais e psicossociais ligados ao trabalho: a carreira, a carga e ritmo
de trabalho e ao ambiente social e técnico do trabalho.

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DIAGNÓSTICO: Preponderantemente clínico e muitas vezes difícil; exames


complementares não dão suporte devido para o diagnóstico clínico.
A dor é um dos elementos mais presentes na caracterização das DORT. Em geral é
insidiosa; às vezes relacionada com período de sobrecarga; localização variável e, por vezes,
pouco definida; a duração tende a ser mais breve no início (final do expediente e melhorando
com repouso noturno); depois, transforma-se em mais duradoura e, finalmente, contínua
(casos mais graves). As posturas antálgicas e a reação do paciente devem ser valorizadas;
dormências indicam compressão nervosa. Nos casos mais graves há incapacidade para as
mais simples atividades domésticas e de cuidados pessoais.
Os quadros clínicos podem ter causa compressiva, inflamatória ou desconhecida, e
representam várias patologias, entre as quais:
Síndrome do desfiladeiro torácico: trabalhos com os braços elevados por períodos
prolongados ou que comprimem o ombro contra algum objeto (telefone apoiado entre a
orelha e o ombro);
Síndrome do supinador: apertar parafusos e praticar musculação;
Lesão do nervo mediano da base da mão: usar chaves de fenda de cabo curto,
vibração ou uso da base da mão (martelo para grampear, carimbos, etc.);
Síndrome do canal de Guyon: carimbadores, escrivãs e aramistas;
Doença de De Quervain: atividades com fixação do polegar acompanhada de força
(lavadeiras);
Dedo em gatilho: força com compressão palmar ao usar alicates, tesouras e gatilhos
de bomba de gasolina;
Epitrocleíte: descascar fios elétricos e outras atividades que exijam flexão do punho.
TRATAMENTO: Um bom prognóstico decorre do diagnóstico precoce, tratamento
imediato e modificação dos postos de trabalho e da atividade e/ou função. Têm grande valor os
exercícios de relaxamento e as atividades de terapia ocupacional (reduzem edema e
inflamação; melhoram a circulação; aceleram a cicatrização e o relaxamento muscular;
reduzem a dor e a incapacidade funcional).
O apoio psicológico é importante, pois os pacientes sentem-se pressionados para um
retorno rápido, trazendo insegurança quanto ao retorno às atividades, a estabilidade no
emprego, medo das conseqüências da doença, principalmente por estarem na fase mais
produtiva da vida.
O estigma gerado pelas DORT leva o paciente ao receio de procurar assistência
médica, só o fazendo quando há clara dificuldade em manter o ritmo de trabalho.
PREVENÇÃO: criteriosa identificação dos fatores de risco; dimensionamento adequado
do posto de trabalho, dos equipamentos e das ferramentas; organização do trabalho. O
encaminhamento correto é abordá-lo através de ações coletivas envolvendo o trabalhador, a
empresa, as instituições públicas (dentro de suas atribuições) e os sindicatos.

5.5.10- Dermatoses ocupacionais

A pele é o órgão que envolve o corpo exercendo diversas funções: regulação térmica,
defesa orgânica, controle do fluxo sanguíneo, proteção contra agentes do ambiente e funções
sensoriais (calor, frio, pressão, dor e tato). Possui três camadas: epiderme, derme e
hipoderme.
Epiderme: a mais externa, é constituída por células epiteliais que formam a camada
córnea, composta basicamente de queratina (impermeabilização da pele). É nela também que
se originam os anexos cutâneos: unhas, pêlos, glândulas sudoríparas (produzem suor e

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ajudam a regulação da temperatura corporal) e glândulas sebáceas (oleosidade).


Derme: camada intermediária é responsável pela resistência e elasticidade da pele.
Hipoderme: é a porção mais profunda e sua estrutura fornece proteção contra traumas
físicos, além de ser um depósito de calorias.
Os cuidados com a pele e as membranas mucosas partem do princípio de que, estando
intactas e saudáveis, servem como primeiras linhas de defesa, evitando agravos à sua
integridade.
DEFINIÇÃO: “dermatose ocupacional é toda alteração da pele, mucosas e anexos,
direta ou indiretamente causada, condicionada, mantida ou agravada por tudo aquilo que seja
utilizado na atividade profissional ou exista no ambiente de trabalho”.

5.5.10.1- Dermatoses por agentes biológicos

Monilíase interdigital – lavadores de copos e pratos;


Dermatofitoses – barbeiros e manipuladores de aves; atividades em temperatura
elevada e umidade (cozinhas, ginásios, piscinas).
Esporotricose – jardineiros, horticultores e manipuladores de palha.
Candidíase da pele e das unhas – imersões prolongadas em água e irritação mecânica
das mãos (limpeza, lavadeiras, cozinheiras).
Blastomicose, picadas de inseto e animais peçonhentos – construção de estradas e
desmatamento; trabalhadores agrícolas e florestais.

5.5.10.2- Dermatoses por agentes físicos

Calor – queimaduras, urticária pelo calor;


Frio – eritema, fenômeno de Raynaud, urticária;
Radiações ionizantes – Radiodermatite (radioterapeuta, radiologista, técnico de raios-X).
Em áreas atingidas podem surgir tumores (carcinomas baso ou espinocelulares). A
profissão é importante, mas os registros de exposição através da dosimetria poderão ser úteis
para o esclarecimento diagnóstico.
Radiação ultravioleta – eritema, queimadura, conjuntivite e ceratite (soldagem sem
proteção adequada), câncer;
Radiação infravermelha – queimadura e opacificação do cristalino (catarata dos
vidreiros);
Microondas – alterações circulatórias, da pele e catarata;
Laser – queimaduras (eritema e necrose tecidual) e catarata;
Vibrações – isquemia dos dedos, cianose, doença dos dedos brancos;
Agentes mecânicos (pressão, fricção ou atrito) – calosidades, bolhas, lesões
traumáticas.

5.5.10.3- Dermatoses por agentes químicos

Estima-se que 80% das dermatoses ocupacionais decorram da ação de agentes


químicos (orgânicos e inorgânicos) irritantes ou sensibilizantes. Na maioria dos casos são

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dermatoses do tipo irritativo.


CIMENTO: ação alcalina sobre a camada córnea causa dermatose irritativa nas mãos e
pés. As dermatoses de contato alérgicas são causadas por contaminantes do cimento (cromo e
cobalto). Podem ocorrer ainda: calosidades palmares, plantares e ungueais, conjuntivite
química irritativa (ensacamento, carga e descarga) e sarna dos pedreiros.
BORRACHA: diversas substâncias usadas no processo de produção são
potencialmente causadoras de dermatite alérgica de contato, acometendo a pele previamente
lesada e no uso de EPI de má qualidade (sem forro de tecido de algodão).
OUTRAS SUBSTÂNCIAS:
Solventes e óleos de corte (ação irritativa);
Cloracne - exposição excessiva a determinados hidrocarbonetos policromáticos
halogenados, sendo o escroto e o pênis freqüentemente envolvidos. Ocorre por exposição a:
cloronaftalenos e bifenilas policloradas; dioxinas e em preservativos de madeira, como o
pentaclorofenol. Outros agentes: monoclorobenzeno, monobromobenzeno, hexaclorobenzeno.
Sais de Cromo: úlceras de cromo; perfuração do septo nasal e dermatite de contato
alérgica;
Níquel: conjuntivite, rinite, sarna dos niqueladores e eczema de contato alérgico;
Madeiras: dermatite, conjuntivite, rinite, câncer do septo nasal;
Resinas Epóxi: dermatite, rinite, conjuntivite.
LEUCODERMIA: Pode ser provocada por queimaduras térmicas, radiodermite por
raios-X e agentes químicos (fenóis, arsênio e hidroquinona).
DERMATOSES PÁPULO-PUSTULOSAS E SUAS COMPLICAÇÕES INFECCIOSAS:
ocorrem a partir de pequenas lacerações ou abrasões da pele (solventes ou sabões,
queimaduras, dermatites de contato). Ocupações: trabalhadores em cozinha, bares,
lavanderias, saunas, oficinas mecânicas (graxas e óleos minerais. Más condições de higiene
pessoal, traumatismos repetidos, ferimentos de origem ocupacional podem ser
desencadeantes ou agravantes).

5.5.11- Riscos na atividade agrícola

Os riscos do meio em que se desenvolvem as atividades agrícolas são exacerbados


pela tendência geral de se utilizar, cada vez mais, máquinas, eletricidade e produtos químicos.
Os trabalhadores rurais estão expostos a uma grande quantidade de agentes infecciosos e
parasitas transmitidos por vários meios: terra contaminada ou objetos e utensílios sujos de
terra (tétano, carbúnculo); água e alimentos contaminados (hepatite a vírus, salmoneloses);
animais (tuberculose bovina e aviária, raiva, ornitose) ou vetores (malária, doença de Chagas,
dengue, febre amarela).
A penetração de produtos agroquímicos no organismo redunda em efeitos nocivos à
saúde, podendo levar à morte. A toxicidade não está associada apenas ao princípio ativo, mas
também à mistura com dissolventes, dispersantes e emulsificantes.
A absorção dessas substâncias pelo organismo humano se processa por três vias:
respiratória (gases, gotículas de pulverização, pó e fumos); cutânea (facilitada por: misturas
com solventes - querosene, derivados de petróleo ou xileno; uso em ambientes quentes –
dilatação dos poros - ou pele lesada); digestiva (falta de higiene; ingestão acidental; fumar no
trabalho; tentar desobstruir o orifício do pulverizador com a boca; uso de recipientes não
etiquetadas para outros fins).
Os efeitos mais corriqueiros são as intoxicações agudas que não são diagnosticadas

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corretamente na maioria dos serviços de saúde porque os sinais/sintomas não são


característicos da intoxicação: cefaléia, mal estar, vertigens, visão borrada, falta de força,
nervosismo, náusea, vômitos, dificuldade para dormir, diminuição da libido, entre outros.
Como fertilizantes ou adubos são utilizados nitratos, fosfatos e sais de potássio. Os
nitratos podem causar intoxicações graves, acidentais e de origem alimentar (confundir com sal
de cozinha ou ingerir alimento armazenado em sacos que continham nitratos). A intoxicação
aguda evolui progressivamente, podendo atingir o coma e a morte.
Caso ingeridos, os fosfatos formam complexos com o cálcio, causando redução deste
elemento no sangue. Os acidentes ocorrem por ingestão de alimento ou por água contaminada
(de chuva ou de irrigação).
Com os sais de potássio os acidentes ocorrem também por contaminação do alimento,
causando: ulceração da mucosa gástrica, hemorragia, obstrução e perfuração do intestino
delgado.
Os praguicidas têm larga aplicação (domiciliar; recintos públicos; campanhas de saúde
pública; agricultura, reflorestamento e pecuária). As intoxicações são freqüentes e, muitas
vezes mortais, devido ao uso abusivo e do despreparo dos serviços médicos, tanto para o
diagnóstico como para o tratamento. Entre os praguicidas vamos encontrar: organoclorados,
organofosforados, carbamatos, piretróides e fungicidas.
Organoclorados: atuam sobre o sistema nervoso central e são armazenados nas
gorduras do organismo. Na intoxicação temos: cefaléia, tontura, excitabilidade, desorientação,
contrações musculares, convulsão, alteração do equilíbrio, dormência (língua, lábio, face e
mãos), náuseas e vômitos; estão associados ao câncer de mama.
Organofosforados: (Paration, Malation, Azinfós, Demeton) inibem as colinesterases.
Quadro: miose, visão borrada, sialorréia, tosse, náuseas, vômitos, cólicas, incontinência
urinária e fecal, dispnéia; cãibras, dores musculares; cefaléia, tontura, convulsões e coma.
Carbamatos: inibidores irreversíveis da acetil-colinesterase, provocando os mesmos
sinais e sintomas dos organofosforados.
Piretróides: sensibilizantes da pele e dos pulmões e neurotóxicos; podem causar:
formigamento, prurido e sensação de queimação (face) - após a transpiração ou a exposição
ao sol; hipersecreção nasal e lacrimejamento; paralisia do trigêmeo; aplasia medular e
leucemia.
Quanto aos fungicidas ocorrem os mesmos efeitos do Antabuse (rubor cutâneo intenso,
cefaléia, dispnéia, vômitos, vertigem).
No grupo dos herbicidas vamos encontrar: cefaléia, hiperestesia, tremores, cólicas,
diarréia hemorrágica, dor retroesternal, hematúria, oligúria, uremia, dispnéia e morte.
A maioria dos agrotóxicos atravessa a barreira placentária, causando risco de
mutagênese e teratogênese. Os bebês, as grávidas e os idosos são muito mais sensíveis aos
seus efeitos maléficos. Alguns deles agem diminuindo a libido e causando infertilidade
masculina.
Segundo o Professor Joaquim Gonçalves Machado Neto (Revista CIPA, Ano XXII, nº
263, págs. 45 e 46), a exposição ocupacional é influenciada por fatores de risco variáveis e
específicos para cada situação de trabalho, entre os quais: condições ambientais: vento,
temperatura, tipo de cultura; condições de trabalho: tipo de equipamento de aplicação, horário
e duração do trabalho; condições do trabalhador: treinamento, cuidados no manuseio dos
produtos, uso de medidas de segurança e higiene do trabalho.

5.5.12- Doenças infecciosas e parasitárias

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TUBERCULOSE: trabalhadores de laboratórios de biologia e profissionais da saúde; há


também a forma pulmonar nos silicóticos.
CARBÚNCULO: contato direto com animais infectados ou seus cadáveres;
manipulação de peles, pelos, couro ou lã (tratadores de animais, trabalhadores em
matadouros, curtumes, manipuladores de lã crua, veterinários e seus auxiliares, artesãos).
LEPTOSPIROSE: principal reservatório é o rato; contato direto com águas sujas ou em
locais contendo dejetos de animais portadores de germes (minas, túneis, galerias, esgotos;
trabalhos em drenagem; contato com roedores; trabalhos com animais domésticos e com
gado).
TÉTANO: penetração de esporos através de lesões contaminadas (perfurantes,
dilacerações e queimaduras). Os esporos são encontrados no solo (tratado com adubo animal),
em vegetais (espinhos e pequenos galhos), em pregos enferrujados sujos, em instrumentos de
trabalho contaminados, fezes de animais ou humanas e agulhas de injeção não esterilizadas. A
prevenção tem um forte aliado na vacinação.
HEPATITE VIRAL: causada por vários vírus da hepatite. Na hepatite A, a fonte de
infecção é o próprio homem (mãos sujas; água ou alimentos contaminados). Já o vírus da
Hepatite B se encontra nas secreções e excreções do corpo, porém só o sangue, o esperma e
a saliva podem transmiti-lo (transfusões, injeções percutâneas com derivados de sangue, uso
de agulhas e seringas contaminadas).
Quanto à hepatite C, estima-se que 2% dos casos decorrem de exposição de
trabalhadores acidentados com material contaminado.
A Hepatite Viral D é endêmica na Amazônia Ocidental e pode associar-se com o vírus
da hepatite B.
DOENÇAS PELO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV): A literatura
internacional já registrou casos em trabalhadores da saúde devido a acidentes perfuro-
cortantes (agulhas ou material cirúrgico contaminado), na manipulação, acondicionamento ou
emprego de sangue ou de seus derivados e contato com materiais de pacientes infectados.
MALÁRIA: trabalhadores em zona endêmica (mineração, construção de barragens ou
rodovias, extração de petróleo, entre outras).
LEISHMANIOSE CUTÂNEA E CUTÂNEO-MUCOSA: acomete trabalhadores agrícolas
ou florestais, em zonas endêmicas.

5.5.13- Câncer ocupacional

NEOPLASIA MALIGNA DO ESTÔMAGO: exposição ocupacional ao asbesto ou


amianto (trabalhadores em minas de carvão, refinarias de petróleo e na indústria da borracha);
ANGIOSARCOMA DO FÍGADO: exposição ao cloreto de vinila;
NEOPLASIA MALIGNA DO PÂNCREAS: exposição ao DDT; a óleos minerais
(indústrias mecânico-metalúrgica e automobilística) e a radiações ionizantes (radiologistas);
NEOPLASIA MALIGNA DA CAVIDADE NASAL E DOS SEIOS PARANASAIS:
exposição a radiações ionizantes; cromo e seus compostos (hexavalente); refino do Níquel; na
produção de álcool isopropílico; poeiras de madeira, poeiras da indústria do couro, têxtil e em
padarias;
NEOPLASIA MALIGNA DA LARINGE: exposição ao asbesto (mineradores, isoladores,
trabalhadores de estaleiros navais e da fabricação de produtos de asbesto e cimento-asbesto),
ao níquel, ao álcool isopropílico, ao gás mostarda e a óleos minerais (“solúveis” ou “de corte”);
NEOPLASIA MALIGNA DOS BRÔNQUIOS E DOS PULMÕES: exposição ao arsênio e

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seus compostos; asbesto; cádmio e seus compostos; cromo e seus compostos; cloreto de
vinila; sílica livre; alcatrão, breu, betume, parafina e seus resíduos; radiações ionizantes;
NEOPLASIA MALIGNA DOS OSSOS (SARCOMA ÓSSEO): exposição a radiações
ionizantes;
EPITELIOMAS MALIGNOS: exposição ao arsênio e seus compostos; alcatrão, breu,
betume, parafina, creosoto, piche, xisto betuminoso; radiações ionizantes; radiações
ultravioletas e óleos minerais lubrificantes e “de corte”.
MESOTELIOMA (DA PLEURA, DO PERITÔNIO OU DO PERICÁRDIO): exposição ao
asbesto no trabalho ou nos domicílios próximo a indústrias que processam suas fibras;
NEOPLASIA MALIGNA DA BEXIGA: exposição ao alcatrão, breu, betume, parafina e
seus derivados; aminas aromáticas e seus derivados; emissões de fornos de coque e óleos
minerais “de corte” ou “solúveis”;
LEUCEMIAS: exposição ao benzeno; a radiações ionizantes; ao óxido de etileno; a
agentes antineoplásicos; a campos eletromagnéticos; a agrotóxicos clorados (Clordane e
Heptaclor).

5.5.14- Intoxicação pelo chumbo (saturnismo)

Uso: baterias automotivas; tintas e pigmentos; fabricação de PVC; cabos elétricos;


soldas de componentes eletro-eletrônicos; fundição de metais não ferrosos (bronze, latão e
outras ligas); instrução de tiro; reforma de estaleiros, etc.
É relativamente bem absorvido pela via respiratória. A absorção pela pele só se dá para
compostos orgânicos de chumbo. 99% do absorvido se liga aos glóbulos vermelhos e
atravessa bem a barreira placentária. A excreção é feita principalmente pela urina, podendo
ocorrer insuficiência renal com o desenvolvimento de hipertensão arterial crônica.
SINTOMATOLOGIA: (chumbo inorgânico): cólicas abdominais; mialgias; fadiga crônica;
dispepsia; insônia, vômitos, irritabilidade freqüente, alterações bruscas do humor e alterações
da libido.
DIAGNÓSTICO: quadro clínico e provas laboratoriais.

5.5.15- Intoxicação pelo mercúrio

O mercúrio transformado em vapor é absorvido pela via respiratória - contaminação por


mercúrio inorgânico. Quanto ao orgânico, a intoxicação se dá por ingestão de alimento
contaminado com o metal.
Exposição ocupacional: indústrias de cloro-soda; manufatura de inseticidas, fungicidas e
pesticidas; equipamentos elétricos; fabricação de lâmpadas e de equipamentos laboratoriais;
fabricação de tintas, papéis e pilhas; garimpos de ouro; clínicas dentárias.
SINTOMATOLOGIA: inorgânico (irritabilidade, mudança de personalidade, depressão,
insônia e perda da memória; sangramento da gengiva, perda de dentes, queda de cabelo,
cólicas abdominais, diarréia e gosto metálico no paladar); orgânico: redução do campo visual;
incoordenação de movimentos voluntários; dores de cabeça; perda do sono. Diagnóstico:
associando sinais/sintomas com a dosagem de mercúrio na urina (inorgânico). Iniciar
monitorização após 12 meses de exposição.

5.5.16- Saúde mental e trabalho

O trabalho é reconhecido como importante componente na patogenia, no

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desencadeamento e na evolução dos distúrbios psíquicos. As críticas à organização do


trabalho constituem o embasamento nas conclusões de várias pesquisas efetuadas para
avaliar as determinações dos riscos mentais no trabalho.
DEMÊNCIA: de caráter adquirido, engloba perturbações da memória, pensamento,
orientação, compreensão, cálculo, capacidade de aprender, linguagem e julgamento
(Manganês, CO, H2S; Sulfeto de carbono).
DELIRIUM: perturbações da consciência e distúrbios psicomotores pela exposição a
Brometo de metila e Sulfeto de carbono.
TRANSTORNO COGNITIVO LEVE: alterações da memória, da orientação e da
capacidade de aprendizado, reduzida capacidade de concentração em tarefas além de
períodos curtos e intensa sensação de fadiga mental para tarefas mentais, na exposição
a: Brometo de metila; chumbo, manganês, mercúrio e seus compostos; sulfeto de carbono;
tolueno; tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano.
TRANSTORNO ORGÂNICO DE PERSONALIDADE: alteração da personalidade e de
comportamento devido a um transtorno residual ou concomitante a uma doença, lesão ou
disfunção cerebral, na exposição a: brometo de metila; chumbo, manganês, mercúrio; sulfeto
de carbono; tolueno; tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano.
ALCOOLISMO CRÔNICO RELACIONADO COM O TRABALHO: caracteriza-se por
contínua e periódica perturbação do controle de ingestão de álcool e distorções de
pensamento, notadamente a negação.
O trabalho é considerado entre os fatores de risco psicossociais capazes de influenciar
no desenvolvimento do quadro e nas suas manifestações, vinculado aos seguintes fatores:
problemas relacionados com o emprego e com o desemprego; condições de trabalho.
TRANSTORNO DO CICLO VIGÍLIA-SONO DEVIDO A FATORES NÃO-ORGÂNICOS:
perda de sincronia entre o ciclo sono-vigília do indivíduo e o ciclo sono-vigília desejável,
resultando em insônia ou hipersonia (freqüente mudança de turnos de trabalho ou viajem
através de fusos horários; a desregulação circadiana).
SENSAÇÃO DE ESTAR ACABADO (“SÍNDROME DE BURN-OUT”, “SÍNDROME DO
ESGOTAMENTO PROFISSIONAL”): uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir
do contato direto e excessivo com outros seres humanos, em situações de trabalho que exigem
tensão emocional e atenção constantes, e grandes responsabilidades. O trabalhador envolve-
se afetivamente, desgasta-se e em dado momento desiste, perde a energia ou “queima
completamente”; perde o sentido de sua relação com o trabalho, desinteressa-se e qualquer
esforço lhe parece inútil. Afeta principalmente profissionais da área de serviços ou
“cuidadores”, quando em contato direto com os usuários (trabalhadores da educação, da
saúde, policiais, assistentes sociais, agentes penitenciários).
A síndrome de burnout envolve atitudes e condutas negativas com relação aos
usuários, clientes, organização e trabalho, sendo uma experiência subjetiva que acarreta
prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador e a organização. O quadro tradicional de
stress é um esgotamento pessoal, que interfere na vida do indivíduo, mas não de modo direto,
na sua relação com o trabalho. A relação da “Síndrome de Burn-Out” com o trabalho, pode
estar vinculada ao ritmo de trabalho penoso e outras dificuldades físicas e mentais
relacionadas com o trabalho.

5.5.16.1- Morte por excesso de trabalho – Karoshi

Atualmente, no Brasil, surgiram suspeitas de que têm ocorrido mortes de trabalhadores


em virtude do excesso de trabalho. Os relatos se referem a trabalhos nas atividades de
produção de açúcar e álcool, especialmente no sudeste. De imediato, os empregadores
contestam esta relação, afirmando que estão diminuindo o desemprego e remunerando os

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trabalhadores proporcionalmente melhor do que em outras atividades que exigem maior


capacitação.
A morte por excesso de trabalho é um quadro clínico extremo, ligado ao estresse
ocupacional, com morte súbita por isquemia coronária ou por doença cérebro-vascular. O
Japão é o único país do mundo onde já se definiu um termo para caracterizar este fato -
KAROSHI. Em japonês, KARO significa “excesso de trabalho” e SHI, “morte”.
O primeiro caso registrado ocorreu no Japão, em 1969, com um trabalhador da área de
distribuição de jornais falecido por infarto. O Ministério do Trabalho Japonês passou a publicar
estatísticas sobre KAROSHI desde 1980 especificando: trabalhadores que laboravam mais de
3000/horas/ano falecidos devido a ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais.
Em 1991, UEHATA relatou que 2/3 das 203 vítimas do KAROSHI estudadas
trabalhavam mais de 60h/semana e de 50 horas-extras/m, sob ritmo intenso e estressante.
Para os quadros gerenciais, administrativos e executivos havia busca por ascensão,
numerosas viagens de trabalho, obediência a normas rígidas e mudanças de local de trabalho.
Já para os operários da produção e braçais, a associação foi com número insuficiente de
empregados no setor, trabalho noturno e longos percursos entre a residência e o local de
trabalho.
HAYASHI et al (1996) refere que os métodos convencionais de avaliação dos
organismos dos trabalhadores não são suficientes para detectar os sinais dos efeitos maléficos
no aparelho cardiovascular pelo excesso de trabalho.
Hoje, os japoneses têm procurado refletir sobre as conseqüências das estratégias e
métodos utilizados para atingir o milagre econômico que os caracterizou, tentando dirigir
melhor seu tempo para o lazer e a família. E nós brasileiros precisamos adotar uma atitude
preventiva para não repetirmos seus erros e proporcionarmos ao país um desenvolvimento
duradouro sem que precisemos criar novos mártires.

5.5.17- Doenças dos olhos e anexos relacionados ao trabalho

BLEFARITE: inflamação das pálpebras, geralmente bilateral (irritação, ardor, e prurido


nas pálpebras) devido a: radiações infravermelhas (forjadores); radiações ionizantes (X e Gama);
cimento; arsênio.
CONJUNTIVITE: substâncias químicas e irritantes (ácidos e álcalis; aerossóis, névoas e
vapores de solventes e poeiras em suspensão no ar; pólen, fungos, pêlo, lã, produtos
químicos); corpo estranho; ácido sulfídrico (sulfeto de hidrogênio); acrilatos; arsênio e seus
compostos; cimento; cloreto de etila; flúor; iodo; isocianatos orgânicos; radiações ultravioletas;
selênio e tetracloreto de carbono.
CATARATA: opacificação do cristalino podendo causar cegueira. Pode ser devida a:
raios X, calor e frio extremos, choque elétrico, contusão ocular e ferimentos penetrantes;
radiação infravermelha ("catarata dos vidreiros"); radiações ionizantes; solda elétrica. As
cataratas ocupacionais geralmente acometem indivíduos jovens, com latência de 2 a 3 anos.
NEURITE ÓPTICA: perda da visão é o sintoma principal, podendo ser causada por:
brometo de metila; cloreto de metileno (Diclorometano); metanol; sulfeto de carbono;
tetracloreto de carbono.

5.5.18- Doenças do sistema circulatório relacionadas ao trabalho

HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA: é a elevação da pressão arterial com um


nível de pressão arterial sistólica e/ou sistólica persistentemente acima de 130mmHg e/ou
80mmHg, respectivamente.
Como causas de hipertensão arterial ocupacional constam o chumbo, o ruído e o

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estresse ocupacional. Está comprovada a elevada prevalência de hipertensão arterial em


controladores de tráfego aéreo, quando comparados com seus próprios exames admissionais.
É clássico o trabalho da Professora Míriam Debert Ribeiro e colaboradores (1981), em
que é analisada a prevalência dessa patologia no município de São Paulo mostrando que
variou de 11 (entre profissionais liberais) a 21% (no setor de empresas jornalísticas e
publicitárias). Há ainda uma tendência para pressão arterial mais elevada em motoristas de
ônibus urbanos, nas grandes metrópoles, e em trabalhadores com jornada superior a
48h/semana, ao compará-los com os que trabalhavam menos que este limite.
INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO: maior incidência de doença coronariana, incluindo
infarto, em trabalhadores expostos a sulfeto de carbono (aterosclerose), monóxido de carbono
e nitratos.
ARRITMIAS CARDÍACAS: Fatores causais: exposição ao monóxido de carbono; gás
arsina; nitratos orgânicos; solventes; agrotóxicos organo-fosforados e carbamatos; antimônio,
arsênico, mercúrio e chumbo.

5.5.19- Doenças do aparelho respiratório

A respiração é uma das funções essenciais do organismo pela qual as células vivas do
corpo recebem oxigênio e eliminam gás carbônico (hematose) numa troca entre o sangue e o
ar.
As vias respiratórias (cavidades nasais, nasofaringe, traquéia e árvore bronquial)
conduzem, aquecem, umedecem e filtram o ar inalado, antes de sua chegada à parte pulmonar
(formada pelos pulmões com os bronquíolos respiratórios, os alvéolos pulmonares e o tecido
elástico).
A respiração começa pelo nariz onde existem os pelos que agem como filtro. Para
expulsar as impurezas filtradas utilizamos o espirro. O ar também pode entrar pela boca, mas
nesse caso não é filtrado, devendo esta via ser utilizada só como saída.
Do nariz ou da boca, o ar passa pela glote (só deixa entrar o ar e não alimentos). Na
seqüência vem a laringe (importante para a voz), as cordas vocais (regulam o timbre da voz) e
a traquéia (também possui um filtro de pelos impedindo o acesso de partículas aos pulmões).
No início dos pulmões estão os brônquios que levam o ar até os alvéolos. Nos alvéolos
pulmonares o ar é passado ao sangue que pega o oxigênio para levá-lo até as células mais
distantes e, ao mesmo tempo, capta o gás carbônico do ar usado, expelindo-o pelo mesmo
caminho de forma inversa.
A peça central do movimento da respiração é o diafragma, que abaixa para o ar entrar e
sobe para expulsá-lo.
FARINGITE AGUDA: ocorre por: exposição a gases e vapores cáusticos ou irritantes e
microrganismos.
RINITE ALÉRGICA: características: espirros, prurido do nariz, congestão nasal e
secreção nasal; decorre da exposição a: cromo e seus compostos; poeiras de algodão, linho,
cânhamo ou sisal; acrilatos; aldeído fórmico e seus polímeros; aminas aromáticas e seus
derivados; enzimas de origem animal, vegetal ou bacteriana; furfural e álcool furfurílico;
isocianatos orgânicos; níquel e seus compostos; produtos da pirólise de plásticos, cloreto de
vinila, teflon; medicamentos (macrolídeos; ranetidina; penicilina e seus sais; cefalosporinas);
proteínas animais em aerossóis; outras substâncias de origem vegetal (cereais, farinhas,
serragem, etc.).
RINITE CRÔNICA: mesmo sinais e sintomas da rinite aguda. por exposição a: arsênio e
seus compostos; cloro gasoso; cromo e seus compostos tóxicos; gás flúor e fluoreto de
hidrogênio; amônia; anidrido sulfuroso; cimento; fenol e homólogos; níquel e seus compostos;

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selênio e seus compostos.


ULCERAÇÃO OU NECROSE DO SEPTO NASAL e PERFURAÇÃO DO SEPTO
NASAL: aerossóis irritantes (cromo e seus compostos; arsênio e seus compostos; cádmio e
seus compostos; soluções e aerossóis de ácido cianídrico e seus derivados - em geral
assintomática). Pode evoluir para a perfuração do septo (entre 3-36 meses de exposição).

5.5.19.1- Outras doenças crônico-obstrutivas pulmonares

BRONQUITE CRÔNICA: tosse crônica com produção de escarro, persistente e


causada por: poeiras de carvão mineral, sílica livre, algodão, linho, cânhamo ou sisal; cloro
gasoso; amônia; anidrido sulfuroso; névoas e aerossóis de ácidos minerais. O tabagismo
parece ter efeito aditivo (e não sinérgico) no desenvolvimento da doença.
ASMA OCUPACIONAL: obstrução das vias aéreas devido a agentes inaláveis gasosos,
vapores ou fumos, com dispnéia, tosse, sibilância, respiração curta, opressão torácica,
secreção escassa. Deve-se pensar em asma ocupacional para todo caso inicial em adultos.
Sua ocorrência tem sido relacionada à contínua renovação de produtos químicos na Indústria,
paralelo ao avanço nos métodos diagnósticos. Principais agentes etiológicos: praticamente,
são os mesmos listados na rinite alérgica.
PNEUMOCONIOSE DOS TRABALHADORES DO CARVÃO: inalação de poeiras de
carvão mineral na extração do carvão. Dependendo do conteúdo de sílica na rocha pode
ocorrer silicose simultaneamente. Fatores que influenciam a resposta pulmonar: concentração
de poeira no ar (maior no antracitoso do que no betuminoso); tipo de carvão; presença de sílica
(alta concentração nas rochas de Santa Catarina e Rio Grande do Sul); tempo de exposição;
suscetibilidade individual.
O sintoma predominante, dispnéia de esforço, somente aparece nas formas avançadas
ou na forma maciça progressiva. Quando aparece precocemente indica de doença pulmonar
associada.
É importante não confundir carvão mineral com carvão vegetal; este, aparentemente
não associado à produção de pneumoconiose.
ASBESTOSE: inalação de fibras de asbesto ou amianto. Caracteriza-se clinicamente
por dispnéia de esforço e baqueteamento digital (nas fases tardias). Depende da concentração
de fibras de asbesto no ar. O diagnóstico é através das alterações radiológicas e da história
ocupacional; o tempo de latência é em torno de 10 anos.
SILICOSE: inalação de sílica livre (quartzo, SiO2 cristalizada); pode apresentar-se em
três formas:
- “aguda”: rara; (jateamento de areia ou moagem de quartzo puro); latência de cinco
anos e sobrevida em torno de um ano;
- “subaguda”: alterações radiológicas após cinco anos de exposição; sintomas
respiratórios precoces e limitantes (cavadores de poços);
- “crônica: latência longa (dez anos); ao raios x nota-se nódulos que evoluem para
grandes opacidades. Os sintomas aparecem nas fases tardias.
Assintomática no início, com a progressão das lesões (doenças respiratórias
concomitantes), aparecem dispnéia aos esforços e astenia; nas fases avançadas há
insuficiência respiratória, dispnéia aos mínimos esforços e de repouso.
São fatores de risco: concentração total de poeira respirável; dimensão das partículas
(<10 m podem atingir os alvéolos); composição mineralógica da poeira respirável (em % de
sílica-livre); tempo de exposição.

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5.5.19.2- Pneumoconioses devidas a outras poeiras

BERILIOSE: exposição a berílio; pode se manifestar até 10 a 15 anos depois de


cessada a exposição. Forma aguda: irritação da nasofaringe, traquéia, brônquios e parênquima
pulmonar; pode ocorrer perfuração do septo nasal, tosse seca, dor retroesternal e pneumonia
química (grave e causa óbito). Forma crônica: dispnéia progressiva aos esforços, dor torácica,
tosse pouco produtiva, fadiga, perda de peso, artralgias.
SIDEROSE: exposição a fumos de óxido de ferro (corte de ferro com solda elétrica ou
oxiacetilênica); freqüentemente associada à silicose.
ESTANHOSE: inalação de fumos e poeiras contendo estanho; assintomática; imagens
radiológicas dramáticas por sua radiopacidade.
ALUMINOSE: pneumoconiose por exposição ao alumínio.

5.5.19.3- Doenças das vias aéreas devidas a poeiras orgânicas específicas

BISSINOSE: poeiras de algodão, linho, cânhamo ou sisal; sensação de opressão


torácica e dispnéia, em geral no retorno ao trabalho (final de semana ou férias) – síndrome das
manhãs de 2ª feira; endêmica entre trabalhadores têxteis (abrir de fardos, separar e preparar
de cardas, fiação de algodão) em países com precárias condições de higiene do trabalho.
PNEUMONITE DE HIPERSENSIBILIDADE DEVIDA A POEIRAS ORGÂNICAS:
doenças por repetidas inalações e sensibilização a um grupo de poeiras orgânicas e
substâncias antigênicas, de baixo peso molecular:
- pulmão do granjeiro (ou “fazendeiro”, ou “agricultor”) - feno, palha, grãos mofados;
- bagaçose: cana mofada;
- pulmão dos criadores de pássaros: excrementos e penas de aves;
- suberose: cortiça; doença pulmonar devida a sistemas de ar condicionado e
umidificação de ar.

5.5.19.4- Afecções respiratórias devidas a inalação de produtos químicos, gases,


fumaças e vapores

Bronquite, pneumonite, alveolite e edema agudo: os pacientes apresentam: irritação nos


olhos, garganta e nariz, tosse, dispnéia. Náuseas, vômitos e cefaléia são freqüentemente
encontrados.
FATORES ETIOLÓGICOS E IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS AGENTES
PATOGÊNICOS
- Acrilatos: (enfisema crônico difuso; fibrose pulmonar crônica);
- Antimônio (enfisema crônico difuso, fibrose pulmonar crônica);
- Arsênio e seus compostos minerais (bronquite e pneumonite agudas);
- Berílio e seus compostos tóxicos (bronquite e pneumonite agudas)
- Cádmio ou seus compostos (bronquite e pneumonite agudas; enfisema crônico
difuso).
- Carbetos de metais duros (fibrose pulmonar crônica).
- Gás Cloro (faringite aguda; laringotraqueíte aguda).
- Flúor ou seus compostos tóxicos (bronquite e pneumonite agudas; edema pulmonar
agudo).

Abelardo da Silva Melo Junior – Médico, Especialista em Medicina do Trabalho, Auditor-Fiscal do Trabalho, M.Sc.
O Ambiente e as Doenças do Trabalho - Curso de Engenharia de Segurança do Trabalho 104

- Iodo (faringite aguda; laringotraqueíte aguda).


- Isocianatos orgânicos (bronquite e pneumonite agudas)
- Manganês e seus compostos tóxicos (bronquite e pneumonite agudas)
- Solventes halogenados irritantes respiratórios (bronquite e pneumonite agudas;
síndrome de disfunção reativa das vias aéreas).

5.5.20- Doenças do aparelho digestivos relacionadas ao trabalho

GENGIVITE CRÔNICA: exposição ocupacional a névoas de fluoretos e ao mercúrio. A


gengivite pelo mercúrio é o quadro mais típico e grave em Patologia do Trabalho.
DOENÇA HEPÁTICA TÓXICA: engloba uma grande variedade de doenças hepáticas
agudas e crônicas.
Hepatite Aguda e Subaguda: tetracloreto de carbono, tetracloroetano, tricloroetileno,
metilclorofórmio; tolueno; trinitrotolueno, 2-nitropropano; arsênico, chumbo e fósforo amarelo.
Colestase – rara; trabalhadores expostos a metilenodianilina.
Esteatose hepática – degeneração gordurosa em expostos a fósforo amarelo,
trinitrotolueno, agrotóxicos arsenicais, tetracloreto de carbono, metilclorofórmio, tetracloroetano,
tolueno e misturas de solventes alifáticos e aromáticos.
Hepatite crônica – exposição prolongada e repetida aos agentes causadores de
hepatite aguda e subaguda e esteatose hepática.
Cirrose hepática; estágio crônico e irreversível de lesão hepática, por exposição a:
tetracloreto de carbono, compostos arsenicais, tetracloroetano, 1,1,1-tricloroetano,
trinitrotolueno, tricloroetileno, cloreto de vinila, clorobenzeno, tetracloreto de carbono,
clorofórmio, hexaclorobenzeno, tetraclorobenzodioxina.

Referências bibliográficas:

Mendes, R. – Patologia do Trabalho, Editora Atheneu, 1995;


Neto, J.G. Machado. Abordagem multidisciplinar da segurança no trabalho com agrotóxicos
e as condições de campo. Revista CIPA, Ano XXII, nº 263;
Oddone, I. – Ambiente de Trabalho – a luta dos trabalhadores pela saúde, Editora Hucitec,
1986;
OIT – Guia sobre seguridad y salud en el uso de productos agroquímicos, Ginebra, Oficina
Internacional del Trabajo, 1993;
Protocolos Médicos do INSS, 1999.

Abelardo da Silva Melo Junior – Médico, Especialista em Medicina do Trabalho, Auditor-Fiscal do Trabalho, M.Sc.

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