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1. Considerações gerais
Ao Direito Penal cabe a função de proteger os bens, os valores
fundamentais da comunidade, através:
- Da prevenção de lesões que sejam de recear no futuro – a chamada
função preventiva;
- A punição daquelas lesões, daquelas infracções que já tiveram lugar –
função punitiva.
Esta função de protecção de bens e valores que são fundamentais da
comunidade e centralizada (dotada de um poder central).
O Estado chama a si o exercício desta função, da protecção da ordem
social, e pelo exercício da mesma, toda a tarefa de investigar e de esclarecer,
de prosseguir, sentenciar e punir os crimes cometidos dentro da chamada área
da sua jurisdição, isto é, dentro do território em que ele exerce a sua autoridade
político-judiciária.
O estado vai administrar a justiça virado para os próprios particulares, na
medida em que ele consagra o princípio da “nulla pena sine processum”, isto é,
ninguém poderá ser sentenciado sem que primeiramente haja um processo, ou
sem que seja através de um processo.
Este princípio garante que a aplicação das penas e medidas de segurança1 [1]
2[2] Princípio da nulla pena sine processum – ninguém será sentenciado sem que contra ele seja elaborado um
processo.
O crimes semi-públicos, em que se o ofendido desistir da queixa o
processo é arquivado.
Em processo penal à existência de uma fase de inquérito, uma fase
secreta. É uma fase de investigação que é levada a cabo por uma entidade
isenta – o Ministério Público. Não vigora o princípio da auto-responsabilidade
probatória das partes. Isto é, se o arguido não contestar, não se consideram
provados ou não se têm como provados os factos que lhe são imputados. Há a
impossibilidade de qualquer transacção ou renúncia ao objecto do processo,
não vigora o princípio do dispositivo.
Encontra-se uma quase total discricionariedade do juiz na investigação dos
factos que constem da acusação o Tribunal tem inteira legitimidade e tem
inteira discricionariedade para os investigar.
É um direito de natureza pública, porque nele intervém o Estado no
exercício da sua função jurisdicional: ao Estado e só ao Estado compete a
perseguição e condenação dos criminosos.
TIPOS HISTÓRICOS DE PROCESSO PENAL
Ao arguido não eram reconhecidos direitos. O arguido era uma coisa, era
um objecto a quem era feito o processo.
Por conseguinte era admitida a tortura para obter a confissão do arguido.
3[3] Hoje procura-se a verdade material, saber como é que realmente os factos se passaram.
4[4] Não a que resulta da realidade de como os factos se passaram.
Em processo penal, neste tipo de acusatório, aquilo que não foi impugnado
pela outra parte considera-se como certo, o princípio da auto-
responsabilidade probatória das partes.
Tem-se também outro princípio, o princípio da total inocência do
acusado até à condenação, todo o indivíduo se considera inocente até ser
condenado.
A acusação e a prisão só são possíveis dentro das formas e dos casos
previstos na lei. É a consagração do “nullum crimen sine legem”. Ninguém
pode ser sentenciado por um crime que não está legalmente previsto, nem
pode ser aplicada nenhuma pena que igualmente não esteja prevista.
7[7] Pretende-se que haja independência na sua decisão, independência no sentido da imparcialidade e isenção.
Para que isto seja assim, torna-se necessário que a entidade julgadora não
possa ter também funções de investigação e da acusação da infracção, por
conseguinte:
- O Ministério Público investiga e acusa;
- O juiz julga, aprecia a conduta do arguido.
Ao lado desta distinção entre entidade julgadora e entidade acusadora há
que estipular e postular um princípio de igualdade de “armas” entre a acusação
e defesa. Ambos devem ter mesmos direitos e os mesmos poderes.
Mas o Ministério Público tem mais poderes, tem uma máquina investigatória
ao seu dispor. Esta igualdade de direitos só será relevante nas fases seguintes
ao Inquérito, na fase de Instrução (quando houver) e na fase de julgamento.
Nesta fase o Ministério Público e o arguido têm os mesmos direitos, está
assegurado pelo princípio do acusatório.
Se ambos têm os mesmos direitos e os mesmos poderes, então ambos
participam na realização do direito, na administração da justiça. É uma
chamada participação constitutiva dos sujeitos processuais afectados na
decisão do caso em apreço, ambos contribuem na definição do direito ao caso:
- O Ministério Público acusando, imputando ao arguido à prática de
determinados factos;
- O arguido defendendo-se, se o quiser fazer, impugnando,
contestando, trazendo justificações para a sua prática.
8[8] Enquanto ele se processa serão sempre respeitados os direitos e reconhecida a personalidade ética do arguido.
O Tribunal é livre de fazer qualificação jurídica diferente daquela que é feita
pelo Ministério Público.
Não há alteração dos factos, se o arguido vier acusado pela prática de
determinados factos e em julgamento não se provarem todos esses factos de
que vem acusado, mas apenas parte deles; e com base naqueles foram
provados ele será condenado por um determinado tipo de crime.
O essencial a tomar em conta é a alteração substancial dos factos. Esta
determinação e este conceito de alteração substancial dos factos insere-se no
princípio da acusação, nos poderes que são dados ao juiz para que este,
dentro do “thema probandum”9 , possa investigar exaustivamente e
[9]
acusação.
22. A pronúncia
O despacho de pronúncia, é a imputação ao arguido da prática de
determinados factos, só que agora não pelo Ministério Público, mas por uma
entidade judicial que é o Juiz de Instrução Criminal.
Em termos práticos é muito mais gravoso para o arguido ir para julgamento
com o despacho de pronúncia do que com uma acusação, porque:
Ministério Público, pelo assistente ou até pelo próprio arguido. São estes os
sujeitos processuais com legitimidade para se pronunciarem sobre a
suspensão ou, eventualmente, a requerem, o regime está previsto no art. 7º/4
CPP.
34. Síntese
Não há investigação particular, não há detectives, porque a investigação de
um crime é deixada ao Ministério Público mesmo que se trate de um crime
particular. Apresentada a queixa e constituído assistente16 , o Ministério
[16]
Público investiga.
Quer o Ministério Público, quer o próprio Tribunal, mas principalmente o
Ministério Público, tem que obedecer a determinados requisitos legais, tem
determinados preceitos a cumprir: princípio da legalidade. Se ele durante o
inquérito recolhe indícios suficientes da prática do crime, tem que deduzir
acusação; ou poderá ir para a suspensão provisória do processo.
Em obediência ao princípio da legalidade ele tem que manter e sustentar a
acusação em julgamento.
O Tribunal está sujeito ao princípio da legalidade no sentido em que, se lhe
são apresentados factos pela prática de um determinado crime, tem que aplicar
a lei em relação a esse mesmo crime e não por qualquer outro. Se houver
alteração dos factos que impliquem que haja um novo crime, então terá que dar
disso conhecimento ao Ministério Público.
O processo penal desenrola-se tendo uma entidade acusadora distinta da
entidade julgadora. Simplesmente, não é um puro processo tipo acusatório, na
medida em que se permite que o Tribunal possa investigar autónoma e
oficiosamente o facto que lhe é sujeito à sua apreciação, sujeito portanto a
julgamento – princípio da acusação em termos gerais; e também princípio da
investigação, que é atribuído aos Tribunais.
Se o Tribunal tiver dúvidas quanto à prova que foi fornecida, deverá
absolver o réu, não por ausência de prova, mas porque não se convenceu da
sua culpabilidade na prática do crime – princípio “in dubio pro reo”.
O Tribunal adquire a sua convicção através da oralidade na produção das
provas e através da imediação do contacto imediato com essas mesmas
provas e que isto é importante inclusivamente para conhecer da personalidade
concreta do arguido.
Relativamente aos princípios relativos à prova: os critérios que existem
quanto à valoração e apreciação da prova: critério legal e a livre convicção do
16[16] O ofendido.
Tribunal, ou livre apreciação da prova. O sistema processual português opta
pelo sistema da livre apreciação da prova.
Sempre que há questões de natureza prejudicial em processo penal (por
exemplo questões de natureza constitucional) essas questões poderão obstar à
apreciação imediata da causa por parte do Tribunal. Terá que ser relegado o
seu conhecimento para o tribunal competente (neste caso, para o Tribunal
Constitucional) embora esta questão possa depois ainda vir a ser suscitada em
sede de recurso. Mas terá de ser alegada logo no início, em 1ª Instância.
sob critérios de estrita objectividade. O Ministério Público não poderá ser uma
verdadeira parte em processo penal, só o seria se ele pudesse dispor do
processo e sempre pretendesse o custo obter uma condenação.
b) Posição do arguido, a parte acusada
O arguido seria parte em processo penal se ele em vez de ter um direito de
defesa, tivesse um dever de defesa, isto é, se o arguido perante uma
acusação tivesse obrigatoriamente de se defender sob pena de se
considerarem provados os factos que ele não contestasse. Ele não é uma
verdadeira parte, não tem o dever de se defender, ele tem o direito de se
defender.
40. O Tribunal
É um órgão de soberania, é um órgão independente, que tem como função
administrar a justiça em nome do povo (art. 202º – 110º CRP).
Como característica dos Tribunais tem-se a independência, (art. 203º
CRP), os tribunais, como órgãos de soberania que são, têm que ser
independentes.
Concede-se por conseguinte plena liberdade aos Tribunais para decidir em
plena liberdade, sem que estejam submetidos a quaisquer ordens da
Assembleia da República, do Governo ou do Presidente da República.
Independência também perante a organização hierárquica judicial. Isto é, o
juiz não está obrigado a aceitar ordens ou instruções de outros juízes a que
deve obediência hierárquica. Esta hierarquia apenas é relevante em matéria de
organização judiciária, o juiz é independente, não está obrigado a aceitar
ordens ou instrução de outros juízes.
Relacionado com esta independência tem-se o carácter inamovível (art.
216º/1 CRP) dos juízes. Juntamente com a inamovibilidade, tem-se a
irresponsabilidade judicial (art. 216º/2 CRP), querendo isto dizer, que os
juízes não respondem pelos seus julgamentos, pelas suas decisões.
A lei processual penal criou um sistema de impedimentos – as chamadas
suspeições – que têm como finalidade garantir imparcialidade das decisões
judiciais e defender o próprio juiz contra a suspeita de não ser imparcial na sua
decisão.
Os impedimentos traduzem-se na impossibilidade que o próprio juiz
declara de participar num processo, alegando qualquer das situações previstas
no art. 39º CPP.
21[21] Para a Relação recorre-se das decisões do Tribunal singular e para o Supremo Tribunal de Justiça, recorre-se
das decisões do Tribunal colectivo.
crime, do arguido, da pessoa, portanto, que praticou o crime. Atende-se à
natureza, ao tipo legal de crime, à pessoa que praticou o crime.
2) Através da gravidade do crime, critério quantitativo: aqui atende-se
desde logo à pena que é abstractamente aplicável.
A competência material, regra geral distribui-se pelos Tribunais de 1ª
Instância. Dentro destes temos o Tribunal de júri, o Tribunal colectivo e o
Tribunal singular.
45. Conexão
Define-se conexão como a relação que intercede entre vários processos
pendentes que se encontrem na mesma fase, ou se vão instaurar, relação essa
que poderá levar à unificação ou apensação dos vários processos, sem que
seja de atender às normas sobre a competência material ou territorial22 . [22]
22[22] Há derrogação das normas de competência material ou territorial, mas nunca funcional.
23[23] Tratar-se de crimes diferentes
O inquérito, tem como finalidade investigar a existência de um crime,
determinar quem foram os seus agentes e a responsabilidade que lhes cabe.
Findo o inquérito, cabe ao Ministério Público, também sempre que havendo
indícios suficientes da prática de um crime e determinados que sejam os seus
agentes, deduzir acusação.
Portanto, compete ao Ministério Público não só a promoção do processo e a
direcção do inquérito, como também elaborar a acusação, tem-se aqui uma
entidade investigadora e acusadora.
Entre o Ministério Público e o Tribunal há uma separação funcional e
institucional. No entanto, estão estritamente correlacionadas.
A actuação do Ministério Público no processo penal não se deixa conduzir
por critérios de discricionariedade e oportunidade, como é característico da
administração pública, mas antes segundo critérios de objectividade e em
obediência estrita ao princípio da legalidade.
O Ministério Público é um órgão autónomo da administração da justiça,
exerce as suas actividades independentemente, não está vinculado a qualquer
poder24 , exerce a sua actividade de forma autónoma (art. 53º CPP).
[24]
48. Estrutura (arts. 7º, 8º, 9º estatuto do Ministério Público, Lei 47/86)
A estrutura do Ministério Público constitui uma magistratura orgânica e
estruturalmente dependente, inamovível, responsável e hierarquicamente
organizada e subordinada. Os magistrados do Ministério Público são
responsáveis disciplinar e criminalmente (art. 414º CPP). Se o Ministério
Público não promover o processo a sua conduta poderá ser sancionada em
termos penais e certamente o será em termos disciplinares. Encontra-se
hierarquicamente organizado. O Ministério Público exerce funções junto dos
tribunais, sendo assim, a sua área de jurisdição está subordinada à área de
jurisdição dos Tribunais.
A propósito do inquérito, tem competência para o promover o Ministério
Público que exerce funções junto do Tribunal da área onde foi cometido o
crime. Donde pode surgir conflitos de competência, vale para aqui o mesmo
relativo aos Tribunais, nomeadamente quanto à competência por conexão.
O crime é cometido num determinado local: será competente o delegado do
Ministério Público que exerce funções junto do Tribunal da área onde o crime
foi cometido.
49. Legitimidade
50. Inquérito
A seguir à recepção das queixas, denúncias e/ou participações, compete ao
Ministério Público dirigir o inquérito (art. 53º/2-b CPP).
Vem definido no art. 262º CPP, e constitui um conjunto de diligências
levadas a cabo pelo Ministério Público, ou por ele delegadas nos órgãos de
polícia criminal, que têm a finalidade investigar a prática de um crime25 , de
[25]
estado de necessidade.
Também nestes casos – arquivamento por isenção de pena – exige a
concordância do Juiz de Instrução Criminal (art. 280º CPP).
No caso previsto no art. 280 CPP, há como que uma antecipação do
julgamento. Porém, se a acusação ainda não tiver sido deduzida, bastará uma
decisão de arquivamento, por parte do Ministério Público, seguida de
concordância do Juiz de Instrução Criminal, não sendo necessária qualquer
intervenção do arguido, uma vez que não chega a haver acusação.
No caso de a acusação já ter sido deduzida, a situação é algo diferente:
então será o juiz a arquivar o processo, com a concordância do Ministério
Público, e agora também a do arguido.
A falta de concordância de alguma destas entidades fará que o processo
prossiga, não se operando então o arquivamento nos termos do art. 280º CPP.
Se a instrução já tiver encerrada ou já tiver sido deduzida acusação não
poderão funcionar as disposições do art. 280º CPP.
52. Acusação
O Ministério Público, através de indícios que o levam a convencer-se de que
a pessoa teria cometido o crime. Não precisa de ter uma certeza, basta que
27[27] Relativamente ao art. 277º CPP é possível distinguir as seguintes modalidades de arquivamento:
a) Arquivamento em sentido estrito, previsto no art. 277º/1 CPP, sempre que se verifique não ter havido crime,
o arguido não o ter praticado a qualquer título, ou ser legalmente admissível o procedimento criminal;
b) Arquivamento por falta de prova indiciária suficiente da verificação do crime ou de quem foram os seus
agentes, modalidade que se encontra prevista no n.º 2 do art. 277º CPP;
c) Arquivamento em caso de dispensa ou isenção de pena, modalidade que se encontra prevista e regulada
no art. 280º CPP. Neste caso o arquivamento depende da concordância do Juiz de Instrução Criminal.
28[28] Os casos de dispensa de pena são casos de culpa muito diminuta, em que se não justifica a aplicação de
qualquer reacção criminal
haja indícios, passar-se-á eventualmente à fase seguinte ao inquérito – a fase
do julgamento – em que se produzirão provas e examinarão todas as provas.
E então, submete o arguido a julgamento, isto é, deduz contra ele, uma
acusação.
O Ministério Público convence-se de que o arguido cometeu o crime. E
mesmo que ele tenha dúvidas quanto à prática desse crime, como aqui não
poderá funcionar por analogia o princípio “in dubio pro reo”, então ele deve
acusar. É isso que lhe é imposto pelo princípio da legalidade (art. 283º CPP).
É esta possibilidade razoável que forma convicção do Ministério Público
quanto à suficiência dos elementos que recolheu para submeter o arguido a
julgamento.
Em conclusão, os indícios serão suficientes quando o Ministério Público
conclui que os elementos de prova já recolhidos por si ou conjuntamente com
outros que depois advenham ao processo, numa fase posterior, possam
conduzir à aplicação ao arguido de uma pena ou de uma medida de segurança.
55. Instrução
A instrução, não é um novo inquérito, mas tão-só um momento processual
de comprovação.
Trata-se de uma fase dotada de uma audiência rápida e informal, mas oral e
contraditória, destinada a comprovar judicialmente a decisão do Ministério
Público de acusar ou de não acusar, e que portanto termina por um despacho
de pronúncia ou de não pronúncia.
É óbvio, por outro lado, que, tratando-se já de uma fase judicial, a sua
estrutura eminentemente acusatória deverá apresentar-se integrada pelo
princípio da investigação; não terá por isso o Juiz de Instrução Criminal de
limitar-se, em vista da pronúncia, ao material probatório que lhe seja
apresentado pela acusação e pela defesa, mas deve antes – se para tanto
achar razão – instruir autonomamente o facto em apreciação com a
colaboração dos órgãos de polícia criminal.
Tem como finalidade, comprovar judicialmente a decisão de deduzir a
acusação ou de arquivar o inquérito com o fim último de submeter ou não o
arguido a julgamento sendo a sua natureza facultativa (art. 286º/2 CPP).
56. Legitimidade
Têm legitimidade para requerer a abertura da instrução o arguido ou
assistente, nunca o Ministério Público.
a) O arguido (art. 287º/1-a CPP)
Tem legitimidade para requerer a abertura da instrução em caso de
acusação: ou de acusação formulada, pelo Ministério Público ou acusação
formulada pelo particular que se constitui assistente.
O arguido vai requerer ao juiz que examine novamente os autos do
inquérito, porque ele discorda da atitude do Ministério Público ou do assistente.
Entende que os elementos de prova que constam do processo não são
relevantes de forma a preverem que ele seja condenado, ou que lhe possa ser
aplicada uma pena ou medida de segurança.
b) O assistente (art. 287º/1-b CPP)
Pode requerer a abertura da instrução em caso de arquivamento do
inquérito nos termos do art. 277º CPP; ou por factos pelos quais o Ministério
Público não tiver deduzido acusação.
Mas, tal como o Ministério Público não pode requerer a abertura da
instrução, também, nos crimes particulares, o assistente não pode requerer a
abertura da instrução.
Portanto, uma vez requerida a abertura da instrução pelo arguido ou pelo
assistente, o juiz pratica os designados actos de instrução: vai fazer novas
diligências, vai ouvir novamente as testemunhas, eventualmente vai requerer
exames.
58. O arguido
Sujeito processual essencial para o processo, de tal maneira que se não
houver arguido não há acusação não pode haver julgamento.
O condenado é a pessoa contra quem já foi proferida uma sentença de
condenação.
O suspeito, será toda a pessoa relativamente à qual exista um indício (não
muito forte) de que praticou um crime, ou se prepara para cometer um crime,
ou nele participou ou se prepara para participar.
O arguido, será a pessoa singular contra quem foi deduzida acusação,
contra quem foi requerida a abertura da instrução penal ou que veio a ser
constituída como tal nos autos.
Com a notificação da acusação a pessoa, ao tomar conhecimento, assume
a qualidade de arguido.
Tem-se de distinguir:
· Por um lado a assunção da qualidade de arguido;
· Por outro lado, a constituição dessa pessoa como arguido (art. 58º
CPP).
A partir do momento da comunicação (art. 58º/2 CPP), adquire-se a
qualidade de sujeito processual. Se faltar essa comunicação, oral ou escrita, as
consequências são desde logo que tudo quanto o arguido disse até esse
momento não pode ser usado contra ele. Ou seja, se ele confessou o crime, se
disse como o preparou, o que fez, etc., tudo isso é como que apagado, não
pode ser usado contra ele (art. 58º/4 CPP).
As outras formas de constituição da qualidade de arguido encontram-se
enumeradas nos arts. 57º e 59º CPP.
Quando uma pessoa formula o pedido de que se quer constituir arguido (art.
59º/2 CPP), adquire essa qualidade a partir do momento em que lhe é
notificado o despacho que o admite como tal.
Pretende-se com a constituição de arguido, desde logo dar conhecimento
tempestivo à pessoa de existência de um processo contra ela, e possibilitar-lhe
a faculdade de ela ir em tempo útil preparando a sua defesa.
CRP.
2) Presunção de inocência até trânsito em julgado da decisão de
condenação (art. 32º/230 CRP). [30]
61. O assistente
Para se falar em assistente é necessário distinguir:
a) Ofendido: titular de interesses que a lei especialmente quis proteger
com a incriminação, desde que maior de 16 anos (art. 68º/1-a CPP), ou
seja, titular dos interesses que a lei quis especialmente proteger quando
formulou a norma penal;
b) Lesado: o titular de um interesse de natureza civil. É a pessoa (singular
ou colectiva) que sofreu danos ocasionados com a prática do crime (art.
74º/1 CPP);
c) Partes civis: são as pessoas (singulares ou colectivas) que por terem
legitimidade para deduzirem (lesados) ou contra eles ser deduzido, em
processo penal um pedido de indemnização de natureza cível derivado
da prática de um crime, intervêm ou são chamadas a intervir no
processo, são sujeitos processuais;
d) Assistente: é a pessoa (s) (singular ou colectiva) que, por serem
ofendidas ou porque a lei lhes confere legitimidade para se constituírem
31[31] Quanto aos interrogatórios, eles constituem não só um meio de prova, como são também o exercício do seu
direito de defesa.
como tal (art. 68º/1 CPP), requereram ao juiz a sua intervenção no
processo penal para ai fazerem valer os seus interesses (de natureza
penal e conjuntamente de natureza cível), quer em colaboração com o
Ministério Público (crimes públicos e semi-públicos), quer
autonomamente nos casos previstos na lei (crimes particulares), e que
por despacho judicial foram admitidas como tal. É um sujeito processual.
62. Legitimidade
Torna-se necessário que a pessoa tenha mais de 16 anos, que seja titular
de um interesse que a lei penal quis proteger (art. 68º CPP).
Se o ofendido nada fizer, tratando-se de um crime público; ou se apresentar
meramente uma queixa, tratando-se de um crime semi-público, os seus
interesses serão defendidos pelo Ministério Público. Se quiser intervir no
processo, então, tem de adquirir a qualidade de sujeito processual. O ofendido
adquire essa qualidade querendo a constituição como assistente, isto é, vai
pedir ao juiz que a admita a intervir nos autos como sujeito processual, na
qualidade de assistente. O assistente tem de ser representado por advogado
(art. 70º CPP).
O ofendido pode requerer a sua constituição como assistente desde o início
do processo até um determinado momento, que difere consoante seja ou não
requerida a abertura da instrução – requisito de tempestividade:
- Se houver Instrução, é até cinco dias antes da data marcada para o
debate instrutório;
- Não havendo instrução, passando-se logo para a fase de julgamento,
então é desde que o requeira até cinco dias antes do início da
audiência de julgamento.
a) Requisitos formais:
- É necessário que tenha legitimidade, e para isso tem de ser o
ofendido ou alguma das pessoas a que se refere o art. 68º CPP;
- Tem que fazer um requerimento ao juiz (Juiz de Instrução Criminal, ou
juiz de julgamento, dependendo da fase em que requerer) – art. 68º/2
CPP;
- Tem que fazer esse requerimento em tempo (art. 68º/2 CPP);
- O art. 70º CPP; faz referência à representação judiciária dos
assistentes.
b) Requisitos substanciais:
Não ter havido renúncia à queixa, se houver renúncia, a pessoa não pode
depois vir a constituir-se assistente.
Também não se pode constituir assistente quem tenha comparticipado num
crime.
O requerimento é acompanhado da respectiva procuração que constitui o
mandatário e é depois levado à apreciação do juiz para proferir um despacho
de admissão ou de indeferimento.
Se faltar algum dos requisitos enunciados, então o juiz deverá proferir um
despacho de indeferimento.
63. O lesado
O lesado é aquela pessoa que não sofre directamente o crime, mas por
efeito dele sofre danos (art. 74º CPP).
Lesado deve ser considerada toda a pessoa que, segundo as normas de
Direito Civil tenha sido prejudicada em interesses seus juridicamente
protegidos, desta perspectiva se alcançando um conceito lacto ou extensivo de
ofendido, que abrangerá todas as pessoas civilmente lesadas pela infracção
penal.
Em suma, dever-se-á considerar lesado, para os efeitos do art. 74º CPP,
todo aquele que perante o Direito Processual Penal tiver legitimidade para
formular o pedido de indemnização.
O lesado, quando só é lesado, porque não é o ofendido, nunca se poderá
constituir como assistente, a lei não lhe confere legitimidade, a não ser que se
encontre previsto no art. 68º CPP.
O assistente tem que estar sempre numa relação directa com o crime; o
lesado, apenas nessa qualidade, nunca se pode constituir assistente. Quando
ofendido e lesado se fundam numa única pessoa então, nesse caso, como
ofendido, já poderá constituir-se como assistente.
21. Noção
São providências de natureza cautelar e processual, limitadoras da
liberdade do arguido que têm em vista assegurar que o processo penal decorra
sem incidentes.
Estas medidas de coacção inserem-se dentro de um conjunto de medidas
de natureza cautelar, que têm em vista assegurar que o processo decorra sem
incidentes.
Pela sua natureza, só excepcionalmente é que elas podem ser aplicadas
para limitar a liberdade das pessoas, estão sujeitas ao princípio da legalidade
(arts. 27º CRP e 191º CPP).
De acordo com o crime, com a infracção cometida pelo arguido, assim o juiz
irá ponderar qual a medida de coacção a aplicar ao arguido, dentro daqueles
que estão previstas na lei; depois será também proporcional à gravidade do
crime (art. 193º CPP32 ). [32]
22. Pressupostos
É obrigatória a prévia constituição de arguido, quanto tenha de ser aplicada
uma medida de coacção (art. 58º/1-b; 192º/1 CPP).
Só o Juiz de Instrução Criminal ou o juiz de julgamento, poderá decidir qual
a medida de coacção a ser aplicada ao arguido (art. 194º/1 CPP).
Há apenas uma, chamada termo de identidade e residência (art. 196º
CPP), que pode ser aplicada pelo Ministério Público. É a única medida de
coacção que foge à regra de aplicação por parte do juiz, pode ser aplicada pelo
Ministério Público.
Todas as restantes medidas de coacção são aplicadas mediante despacho
de juiz, porque o poder judicial é próprio do juiz e não do Ministério Público.
Apenas o juiz tem o poder de limitar os direitos do cidadão.
Por isso é que, sendo as medidas de coacção limitadoras da liberdade das
pessoas, apenas poderão ser aplicadas por despacho de juiz.
Se uma medida de coacção for aplicada (pelo juiz) durante o inquérito,
faltando o requerimento do Ministério Público, entende-se que se está perante
uma nulidade insanável, que poderá ser invocada a todo o tempo. Conduzirá
portanto à anulação de tudo quanto se processou a partir daquela data.
O juiz não está vinculado à medida de coacção solicitada pelo Ministério
Público. Isso iria limitar a actividade do juiz no processo; a actividade judicial
como que ficava subordinada a um órgão que não é judicial e que, além do
mais, é hierarquicamente dependente.
Termo de identidade e residência
É uma medida obrigatória para todos os processos que devam continuar
após o interrogatório do arguido:
- É aplicável a todos aqueles que forem constituídos arguidos;
- Sempre cumulável com outra medida de coacção;
- Implica a obrigação de o arguido indicar pessoa que receba as
notificações no caso de vir a residir fora da comarca; de comparecer
perante autoridade competente sempre que para tal seja notificado; de
não mudar de residência sem comunicar a nova residência.
- O arguido é informado de que em caso de incumprimento será
representado pelo seu defensor incluindo a audiência de julgamento (art.
333º CPP).
A não sujeição do arguido a termo de identidade e residência, quando o
processo contínua após o primeiro interrogatório, constitui irregularidade
processual, sujeita ao regime do art. 123º CPP. Nos termos do art. 123º/2
29. Detenção
Figura próxima das medidas de coacção, até porque também ela se vai
prender com a limitação, embora temporária da liberdade do arguido (arts. 254º
segs. CPP).
A finalidade imediata da detenção é garantir que o arguido seja julgado no
prazo máximo de 48 horas. Ninguém pode estar detido mais de 48 horas, sob
pena de a detenção se tornar ilegal. Tem-se que distinguir na detenção:
Detenção em flagrante delito, qualquer autoridade judiciária, qualquer
órgão de polícia criminal, pode proceder à detenção. Exige-se uma certa
conexão temporal, uma certa decorrência natural dos factos, eles devem estar
estritamente ligados uns com os outros, de outra maneira quebrar-se-ia o elo
de ligação e poder-se-ia ir para uma detenção numa situação que já não era
considerada flagrante delito.
A detenção em flagrante delito relaciona-se estritamente com a existência
do processo sumário, pelo que não deve ser dada às autoridades judiciárias ou
policiais a discricionariedade quando à detenção, pois que isso poderá suscitar
dúvidas quanto à sua actuação e possibilitaria que fossem essas entidades a
decidir sobre a forma de processo a seguir.
O art. 255º/3 CPP, relativamente ao carácter semi-público do crime, dispõe
que, se verifiquem os pressupostos da detenção, esta é levada a cabo, mas só
se mantém se, logo em acto seguido, haver queixa por parte de quem para isso
tem legitimidade. Cumpre, para efeito, às autoridades ou às entidades policiais
às quais é o detido entregue ouvir imediatamente os titulares do direito de
queixa. Se estes o exercerem, mandam levantar o auto, em que fique
registada; se a não exercerem, soltam o detido sem qualquer procedimento.
O art. 255º/4 CPP, é reflexo do carácter particular do crime. Aqui não
haverá, em qualquer caso, lugar a detenção, mas apenas à identificação do
infractor, sem qualquer outro procedimento, pois haverá que aguardar uma
eventual iniciativa do titular do direito de acusação.
Não sendo em flagrante delito (art. 257º CPP), a detenção só pode ser
efectuada por mandado emanado do juiz ou também do Ministério Público,
quando ao crime cometido for admissível a sua aplicação de prisão preventiva.
Exige-se portanto que o crime tenha sido cometido com dolo e punível com
uma pena de prisão superior a três anos. Nesse caso pode também o
Ministério Público emitir um mandado de detenção.
Os órgãos de polícia criminal podem proceder à detenção fora do flagrante
delito, só que aqui terão que estar reunidos três pressupostos que vêm
previstos no art. 257º/2 CPP.
a) Se tratar de caso em que é admissível a prisão preventiva;
b) Existirem elementos que tornem fundado o receio de fuga; e
c) Não for possível, dada a situação de urgência e de perigo na demora,
esperar pela intervenção da autoridade judiciária
Tendo que se verificar estes requisitos cumulativamente, então poderá por
iniciativa própria proceder à detenção.
Também na detenção a possibilidade de reagir através do habeas corpus. A
petição é dirigida ao Juiz de Instrução Criminal, e ele deverá deferi-la no mais
curto espaço de tempo, ou seja, deve de imediato pôr a pessoa em liberdade,
ou então, ouvi-la.
31. Inexistência
Traduz-se no facto de o acto não ser idóneo a produzir quaisquer efeitos de
natureza processual.
Ex. sentença proferida pelo Ministério Público. Este acto inexiste, não pode
produzir quaisquer efeitos; por conseguinte é insusceptível de ser sanado.
A inexistência tão pouco precisa de ser declarada. Verifica-se o vício da
inexistência quando ao acto faltam elementos que são essenciais à sua própria
substância, de modo que em caso algum pode produzir efeitos jurídicos.
32. Nulidade e irregularidades
A nulidade consiste na inobservância da disposição da lei (processual
penal).
Se a lei prevê que o acto deva ser feito de determinada maneira, e se não é
temos um vício. Esse acto, conforme as suas gravidades e as suas
consequências, será considerado nulo ou irregular.
Sabe-se que se trata de um acto nulo quando a lei expressamente o disser.
Se a lei nada disser, o acto é irregular.
Consagra-se no art. 118º CPP, o princípio da legalidade no domínio das
nulidades dos actos processuais. Assim, para que algum acto processual
relativamente ao qual tenha havido violação ou inobservância das disposições
legais do processo penal padeça do vício a nulidade é necessário que a lei o
diga expressamente; de outro modo o acto viciado sofrerá do vício menor da
irregularidade, submetido ao regime do art. 123º CPP, mas não será nulo.
As nulidades podem ser sanáveis e insanáveis. Estas – as nulidades
insanáveis – são taxativas. Estão enumeradas no art. 119º CPP, acrescendo-
lhes as que assim são cominadas em outras disposições legais. Desde que
não cominadas como insanáveis, as nulidades consagradas na lei serão
sanáveis segundo o regime dos arts. 120º e 121º CPP.
Constituem nulidades insanáveis, que devem ser oficiosamente declaradas em qualquer fase do procedimento,
além das que como tal forem cominadas em outras disposições legais:
a) A falta do número de juízes ou de jurados que devam constituir o tribunal, ou a violação das regras legais
relativas ao modo de determinar a respectiva composição;
Como consequência ou efeito das nulidades, anula os actos inválidos e
ordena a sua repetição. Abrange todos os actos que dependam deste e que
com ele estejam conexos. Portanto, o que está para trás não interessa.
O despacho que conhecer oficiosamente de uma nulidade (o caso de se
tratar de uma nulidade absoluta) deve indicar quais os actos que devem ser
declarados nulos.
b) Nulidades relativas (art. 120º CPP)39 [39]
É a própria lei que vem dizer em que circunstância é que o acto é nulo.
Diferente é também a forma de arguição. Neste caso das nulidades
relativas, rege o art. 120º/3 CPP: ou a nulidade é praticada durante o acto em
que está presente o interessado (defensor do arguido, assistente ou Ministério
Público) e portanto deve ser arguida até ao final desse acto; ou então é
praticado o acto e o interessado só toma conhecimento dele através duma
notificação.
Nas formas de processo especial (sumário e sumaríssimo) a nulidade dever
ser arguida no início da audiência de julgamento.
b) A falta de promoção do processo pelo Ministério Público, nos termos do artigo 48.º, bem como a sua ausência a
actos relativamente aos quais a lei exigir a respectiva comparência;
c) A ausência do arguido ou do seu defensor, no casos em que a lei exigir a respectiva comparência;
d) A falta de inquérito ou de instrução, nos casos em que a lei determinar a sua obrigatoriedade;
e) A violação das regras de competência do tribunal, sem prejuízo do disposto no artigo 32.º, n.º 2;
1- Qualquer nulidade diversa das referidas no artigo anterior deve ser arguida pelos interessados e fica sujeita à
disciplina prevista neste artigo e no artigo seguinte.
2- Constituem nulidades dependentes de arguição, além das que forem cominadas noutras disposições legais:
a) O emprego de uma forma de processo quando a lei determinar a utilização de outra, sem prejuízo do
disposto na alínea f) do artigo anterior;
b) A ausência, por falta de notificação, do assistente e das partes civis, nos casos em que a lei exigir a
respectiva comparência;
a) Tratando-se de nulidade de acto a que o interessado assista, antes que o acto esteja terminado;
b) Tratando-se da nulidade referida na alínea b) do número anterior, até cinco dias após a notificação do
despacho que designar dia para a audiência;
RECURSOS
37. Reclamação contra despacho que não admitir ou retiver recurso, art.
405º CPP
Apesar de a reclamação ser apresentada na secretaria do Tribunal
recorrido, não deve a mesma ser autuada por apenso, como sucede no
processo civil, mas em separado, nem a sua apresentação tem qualquer efeito
sobre o andamento do processo.
Efectuada a apresentação na secretaria do Tribunal recorrido, o juiz, no
prazo geral, informa-a respondendo, se assim o entender, às razões aduzidas
pelo reclamante e envia-a ao presidente do Tribunal superior. Como a
autuação não é por apenso, convirá que o juiz reclamado não só lavre
informações, mas também junte todos os elementos necessários para que o
presidente do Tribunal superior decida sem necessidade de pedir novos
elementos.
A decisão do presidente do Tribunal superior terá que ser notificada ao
reclamante. Se a reclamação for deferida, o recurso considera-se interposto a
partir da notificação, começando a partir desta a correr o prazo para a
motivação, se esta não tiver sido apresentada com a interposição.
Crê-se que a notificação deve ser ordenada pelo Tribunal onde a
reclamação foi apresentada, após comunicação ao mesmo Tribunal da decisão
do presidente do Tribunal superior.
40[40] Não sendo assim portanto permitida a consulta de outros elementos constantes do processo.
Se não tiver havido renúncia ao recurso, as Relações conhecem de facto e
de direito se a tiver havido, o recurso é de direito mas na modalidade de revista
alargada
41. Desistência
Confrontando o texto do art. 415º CPP, com o do art. 401º CPP, sobre a
legitimidade para recorrer, nota-se que no art. 415º CPP, quanto à
possibilidade de desistência do recurso, se omitiram as pessoas indicadas no
art. 401º-d CPP.
Crê-se, que se trata de lapso do legislador, e que portanto o art. 415º CPP,
deve sofrer interpretação extensiva. O art. 415º CPP, consagra uma regra
geral, e foi formulado mais com o propósito de deixar bem explicita a
possibilidade de desistência por parte do Ministério Público, do arguido e do
assistente e indicar até que momento se pode efectivar a desistência do que
com o propósito de aflorar uma regra geral.
44. Audiência
Conforme se preceitua no art. 423º/3 CPP, a palavra para as alegações é
dada ao Ministério Público, aos representantes dos recorrentes e dos
recorridos, pela ordem enunciada. Aqui podem suscitar-se dúvidas quando o
Ministério Público não é recorrente. O contraditório e a “igualdade de armas”,
pedras fundamentais do código, impõem que cada uma das partes possa
produzir alegações o mesmo número de vezes que a outra parte, só sendo
possível um ligeiro desvio, nos termos do art. 423º/4 CPP, para que o defensor
fale antes do encerramento da audiência, se não tiver sido o último a intervir
isso manifestamente com o propósito de não cortar o arguido de qualquer via
de defesa.
Assim, quando o Ministério Público é o recorrente, deverá alegar em
primeiro lugar, alegando seguidamente a acusação particular e depois os
arguidos (recorridos). Até aqui não se suscitam quaisquer dúvidas. Mas qual
deve ser a ordem de alegações nos casos em que o Ministério Público não é
recorrente, mas recorrido? Crê-se que a ordem é a estabelecida no texto, e que
mesmo neste caso o Ministério Público deve alegar no início, como primeiro
defensor da legalidade.
Contrariamente ao que sucede com a falta de motivação, a falta de
alegações não implica a rejeição do recurso, sendo por isso lícito a qualquer
das partes não alegar, sem que isso implique a rejeição ou o não conhecimento
do recurso. As alegações têm, função e finalidade diferentes das da motivação,
esta destina-se a manifestar porque é que o recorrente discorda da decisão
recorrida e a apontar qual o sentido em que em seu entendimento, deve ser
proferida a decisão do Tribunal superior, enquanto que as alegações,
proferidas quando o âmbito do recurso já está definido, se destinam a expor
considerações finais, já após a audiência.
RECURSOS ORDINÁRIOS
43[43] Acórdão Tribunal Constitucional n.º 743/96, de 28 de Maio, declara a inconstitucionalidade com força
obrigatória geral, o art. 2º CC, na parte em que atribui aos Tribunais competência para fixar doutrina com força
obrigatória geral, por violação do disposto no art. 115º/5 CRP.
regulado nos arts. 437º a 445º CPP, o qual é interposto no prazo de 30 dias a
contar do trânsito em julgado e tem eficácia no processo em que foi interposto.
A disposição do art. 447º/2 CPP, a par de limitações à obrigatoriedade da
jurisprudência uniformizada, coloca a uniformização da jurisprudência nos
moldes agora estabelecidos ao abrigo de criticas que anteriormente foram
formuladas aos assentos do Supremo Tribunal de Justiça, assacando-os de
inconstitucionais.