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Teoria do Direito

O direito não é uma simples ideia, é uma força viva – Rudolf von Iering

TEORIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO


GUSMÃO, PAULO D.- CAPÍTULOS XXV E XXVI
REALE, CAPÍTULO XXII - INTEGRAÇÃO E APLICAÇÃO DO DIREITO

TD– Gabriella Beltrame


Mas antes...

TD– Gabriella Beltrame


Ordenamento jurídico
A Teoria do Ordenamento contemporânea se insere no parâmetro metodológico
culturalista, que reconhece o mérito do modelo estrutural proposto por Kelsen para o
ordenamento, mas incursiona em uma discussão a respeito do papel dos fatos e da moral
na construção normativa da ordem jurídica.
A reflexão a respeito da estrutura do ordenamento jurídico passa pelo estudo da sua
caracterização como um sistema de normas em sua concreta realização.
O ordenamento jurídico é formado por diversas normas, que vigoram em um mesmo
Estado, havendo entre elas uma interdependência, servindo uma de fundamento de
validade para a outra.

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Ordenamento jurídico
• A construção de uma teoria do ordenamento jurídico decorre da
constatação de que as normas jurídicas não existem de forma isolada. A
aplicação de uma determinada norma jurídica depende da consideração de
uma série de outras normas. A norma jurídica não deve ser aplicada de
forma simplesmente isolada.
As normas são jurídicas porque integram um ordenamento jurídico. E
integram um ordenamento jurídico por terem sido produzidas segundo o
que prescreve o próprio sistema.
Ordenamento jurídico: conjunto de normas jurídicas válidas em certas
condições de espaço e tempo. (GAMA, 2017)

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Ordenamento jurídico
• De modo geral, um sistema representa um conjunto dotado de uma estrutura e
organização determinados, que obedece a algumas características básicas, a saber:

PLURALIDADE DE ELEMENTOS Todo sistema tem como pressuposto a existência de mais de


um elemento. Caso se esteja tratando de apenas um
elemento não há que falar de sistema.
INTERAÇÃO ENTRE OS Para que exista um sistema, não basta a existência de
ELEMENTOS diferentes elementos, sendo indispensável que exista uma
correlação entre eles, para que se integrem de algum modo.

COERÊNCIA ENTRE OS Além de se relacionarem, os elementos formadores de um


ELEMENTOS sistema devem fazê-lo de modo harmônico. O atrito entre os
componentes do sistema finda por comprometer a sua
própria estabilidade, podendo levar até ao seu perecimento.

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A validade do ordenamento jurídico
• A soberania estatal em termos políticos pressupõe a supremacia do poder do Estado
em relação aos demais poderes existentes na sociedade e uma atuação em
coordenação com os demais Estados na ordem internacional.
• Juridicamente, a soberania do Estado traduz-se pelo monopólio da criação e aplicação
do direito, de forma que serão válidas apenas as normas jurídicas chanceladas pelo
Estado e, do mesmo modo, somente poderão aplicar tais normas os tribunais dotados
de autoridade reconhecida pelo Estado (Jurisdição).
O ordenamento jurídico apresenta-se como a expressão formal do poder soberano
do Estado.
Miguel Reale (2001, p. 178) diz que “Direito Positivo é, por excelência, aquele que
tem para garanti-lo, o poder soberano do Estado”

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Ordenamento jurídico
• O ordenamento jurídico busca primar por:
Unidade
Coerente
Completude

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Ordenamento jurídico: unidade
As normas de um ordenamento não estão todas em um mesmo plano, isto é, há
uma hierarquia entre as normas jurídicas.
• O estudo do que se chama de “construção escalonada do ordenamento jurídico”
indica-nos que o Direito é um sistema hierárquico de normas jurídicas. Isso
significa que as normas inferiores retiram o seu fundamento de validade das
normas superiores, iniciando-se na Constituição, passando pela legislação
infraconstitucional e pelos regulamentos, até que se chegue à sentença judicial e
ao contrato, estes dois últimos chamados, por Kelsen, de “normas individuais”
(eram normas individuais, para Kelsen, não por terem caráter de generalidade e
de abstração, mas por serem, para as partes do processo ou para os sujeitos da
relação contratual, tão obrigatórias quanto a lei).

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Ordenamento jurídico: unidade
Há relação de hierarquia entre as normas, sob o ponto de vista formal, sempre que uma
busque fundamento de validade noutra, sendo esta hierarquicamente superior e aquela
inferior. Essa conexão de supra-infra-ordenação entre as normas jurídicas é o que
possibilita falar na unidade do sistema de direito positivo, porque, em última análise,
toda norma deriva da Constituição da República.
“(...) por mais numerosas que sejam as fontes do direito num ordenamento complexo,
tal ordenamento constitui uma unidade pelo fato de que, direta ou indiretamente, com
voltas mais ou menos tortuosas, todas as fontes do direito podem ser remontadas a
uma única norma” (BOBBIO, 1998)
As normas que integram um ordenamento jurídico qualquer estão unidas pela
circunstância de ter um mesmo fundamento de validade. Esse aspecto faz com que
toda e qualquer norma esteja, direta ou indiretamente, vinculada às demais.

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Pirâmide normativa
• Pirâmide normativa de Kelsen: Teoria Escalonada da ordem jurídica

NJ

NJ’ NJ’ NJ’

NJ’’ NJ’’ NJ’’

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Pirâmide normativa

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Normas juridicamente válidas
Norma jurídica deve ser criada em conformidade com os requisitos do processo de criação
normativa.
ENTÃO: ordenamento jurídico, além de regular o comportamento das pessoas, regula
também o modo pelo qual se devem produzir as regras
Há um sistema estatal de reprodução das normas jurídicas: cadeia genealógica da norma
jurídica.
Assim, as normas jurídicas de competência normativa permitem identificar as normas
jurídicas válidas.
• ENTÃO, as normas jurídicas são criadas conforme outras normas jurídicas e sua validade
está submetida ao fato de estar fundamentada em outra norma jurídica.
• Validade – existência em um ordenamento jurídico, compatibilidade formal e material da
norma com o mesmo.
• Perguntamos:
• Autoridade é competente?
• Norma foi expedida conforme procedimento previsto?
• Norma é materialmente compatível?
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Ano: 2022 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2022 - OAB - Exame da Ordem Unificado
XXXVI - Primeira Fase
“O problema da eficácia nos leva ao terreno da aplicação das normas jurídicas, que é o terreno
dos comportamentos efetivos dos homens que vivem em sociedade...” Norberto Bobbio

Norberto Bobbio, em seu livro Teoria da Norma Jurídica, ao tratar dos critérios de valoração da
norma jurídica, fala de três critérios possíveis: justiça, validade e eficácia.
Com relação ao critério da eficácia na obra em referência, assinale a afirmativa correta.
ARelaciona-se ao problema da interdependência necessária entre os critérios, isto é, para que
uma regra seja eficaz, ela deve também ser válida e ser justa.
BDiz respeito ao problema de uma norma ser ou não seguida pelas pessoas a quem é dirigida
e, no caso de violação, ser imposta por via coercitiva pela autoridade que a evocou.
CTrata-se do problema da correspondência ou não da norma aos valores últimos ou finais que
inspiram um determinado ordenamento jurídico, expressos pelo legislador de maneira mais ou
menos explícita.
DRefere-se ao problema da existência da regra enquanto tal e se resolve com um juízo de fato,
isto é, trata-se de constatar se uma regra assim determinada pertence ou não a um
ordenamento jurídico.
Ordenamento jurídico: Coerente
 Um ordenamento jurídico é coerente quando cumprir uma norma não
implique descumprir outra. Isso significaria afirmar a coexistência de
normas contrárias ou contraditórias.
Considerar o ordenamento jurídico um sistema pressupõe a coerência entre as
suas normas, a fim de não gerar insegurança em relação ao direito aplicável.
Ademais, o ordenamento jurídico é a expressão formal da autoridade política do
Estado. Diante disso, faz-se necessário que a ordem jurídica ofereça solução para
todas as questões jurídicas surgidas a partir do convívio social, o que caracteriza a
chamada completude do ordenamento.

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Coerência do ordenamento jurídico
O Direito não é apenas um sistema hierárquico de normas, mas é também um sistema
coerente. Por isso, quando se supõe que duas normas estejam em conflito, diz-se que este
é um “conflito aparente”
Há situações em que não se pode aplicar uma norma sem violar o que prescreve
outra, integrante do mesmo ordenamento jurídico. Essas situações costumam ser
denominadas pela doutrina antinomia ou conflito de normas.
• Antinomia é a incompatibilidade de normas dentro do sistema jurídico; ocorre quando a
mesma autoridade competente edita duas normas que se tornam insustentáveis uma em
relação à outra (conflito entre normas) à é o caso de uma lei proibir o que outra autoriza.
Exemplo: o artigo 1.521, inciso IV, do Código Civil proíbe o casamento entre tios e
sobrinhos, ao passo que o Decreto nº 3.200/1941 o autoriza, desde que com laudo médico
atestando que não haverá problemas para a prole (compatibilidade genética).
O estudo da coerência do ordenamento jurídico, assim, é o estudo dos critérios para
supressão de antinomias, que são, basicamente três:
o hierárquico,
o temporal e
o da especialidade.

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Coerência do ordenamento jurídico
• ATENÇÃO: O conflito entre normas pode ser total ou parcial. No primeiro caso
ocorre a ab-rogação da norma anterior, ou seja, supressão total. No segundo
temos a derrogação, que afeta apenas parcialmente a norma preterida.
• Revogação: dar fim à vigência de uma norma jurídica. Pode ser
“expressa” (indicada claramente pelo legislador- “Revogam-se as leis X e Y”) ou
tácita (eliminação da vigência de uma norma por apresentar-se incompatível com
outra norma).
• A revogação também pode ser:
• “Ab-rogação”: qualifica-se como “ab-rogação” a “revogação total” de uma norma jurídica. Por
exemplo: o Código Civil de 2002 em relação ao Código Civil de 1916 realizou uma revogação
por ab-rogação neste último.
• “Derrogação”: qualifica-se como “derrogação” a “revogação parcial” realizada em um
documento normativo. Por exemplo: o mesmo Código Civil de 2002 em relação ao Código
Comercial de 1850 teve o efeito de revogá-lo por derrogação, pois apenas atingiu a sua
primeira parte.
(Ano: 2010 Banca: FCC Órgão: DPE-SP Prova: Defensor Público) Em sua
teoria do ordenamento jurídico, Norberto Bobbio estuda os aspectos da
unidade, da coerência e da completude do ordenamento. Relativamente ao
aspecto da coerência do ordenamento jurídico, "a situação de normas
incompatíveis entre si" refere-se ao problema
a) das antinomias.
b) da analogia.
c) do espaço jurídico vazio.
d) das lacunas.
e) da incompletude.
Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2017 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXII - Primeira Fase
Um sério problema com o qual o advogado pode se deparar ao lidar com o ordenamento
jurídico é o das antinomias. Segundo Norberto Bobbio, em seu livro Teoria do
Ordenamento Jurídico, são necessárias duas condições para que uma antinomia
ocorra. Assinale a opção que, segundo o autor da obra em referência, apresenta tais
condições.
A As duas normas em conflito devem pertencer ao mesmo ordenamento; as duas normas
devem ter o mesmo âmbito de validade, seja temporal, espacial, pessoal ou material.
B Ambas as normas devem ter procedido da mesma autoridade legislativa; as duas
normas em conflito não devem dispor sobre uma mesma matéria.
C Ocorre no âmbito do processo judicial quando há uma divergência entre a decisão de
primeira instância e a decisão de segunda instância ou quando um tribunal superior de
natureza federal confirma a decisão de segunda instância.
D As duas normas aplicáveis não apresentam uma solução satisfatória para o caso; as duas
normas não podem ser integradas mediante recurso a analogia ou costumes.
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Critério hierárquico
Critério hierárquico: norma hierarquicamente superior prevalece sobre norma
hierarquicamente inferior.
• Brocardo em latim: lex superior derrogat inferior (lei superior revoga lei inferior)
Critério hierárquico é aquele pelo qual, entre duas normas aparentemente
incompatíveis, prevalece a hierarquicamente superior, exatamente porque a
primeira serve de fundamento para a última, não podendo por ela ser
contrariada.
Diz-se, assim, que a Constituição prevalece sobre uma lei infraconstitucional
que lhe seja contrária e que um decreto é nulo por contrariar a lei que deveria
regulamentar em razão do critério hierárquico de supressão de antinomias.

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Critério hierárquico
O critério hierárquico prescreve a prevalência da norma superior em relação à inferior, no caso de
conflitos – lex superior derogat inferiori. O sentido desta regra é o de mais simples demonstração.
Vejamos: i. uma norma é jurídica por ter sido criada segundo o que prescreve uma norma de
competência; ii. esta, por sua vez, prescreve a criação da norma inferior precisando seus quatro
âmbitos de validade (pessoal, material, temporal e especial); iii. a produção de norma inferior
incompatível, em qualquer dos âmbitos, enseja inadequação entre a norma inferior e a superior,
ou seja, descumprimento da norma superior; logo, iv. na parte em que diverge da norma superior,
a norma inferior perderá a sua juridicidade. Disposições do sistema jurídico prescrevem a
prevalência das normas superiores sobre as inferiores.

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Critério hierárquico-Exemplo
• Lei do RJ não pode proibir suspensão de planos de saúde por
inadimplência durante a pandemia
• Para o STF, a lei estadual invade competência privativa da União para
legislar sobre direito civil e política de seguros.
• O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucional
lei do Estado do Rio de Janeiro que autorizava o Poder Executivo a
vedar a suspensão ou o cancelamento de planos de saúde por falta de
pagamento durante a situação de emergência da Covid-19. A decisão
foi tomada, por maioria de votos, na sessão virtual concluída em
14/5, quando o Plenário julgou procedente a Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 6441.

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Critério temporal
Critério cronológico ou temporal, também chamado de Lex posterior, é aquele
com base no qual, entre duas normas aparentemente incompatíveis, prevalece
a norma posterior, ou Lex posterior derogat priori. Este critério parte da
premissa lógica de que a norma editada mais recentemente tende a expressar
de maneira mais fiel à realidade social a que se destina, do que uma norma
editada no passado.
A antinomia jurídica solúvel pelo critério temporal nada mais representa do que
um critério técnico de revogação tácita de lei, previsto expressamente no art.
2º, § 1º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
•art. 2º, § 1º - A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o
declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a
matéria de que tratava a lei anterior.”

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Critério temporal
Critério temporal: norma posterior revoga norma anterior
ATENÇÃO: Por certo, se a lei posterior for de hierarquia inferior à lei anterior, esta
não será revogada. A lei nova é que já nascerá inválida. Ou seja, o critério
hierárquico prevalece sobre o critério temporal.
“Lex superior quer dizer que num conflito entre previsões legislativas de nível
diferente, a lei de nível mais elevando, qualquer que seja a ordem cronológica, se
achará numa situação de preferência relativamente a de nível mais baixo: a
Constituição prevalece sobre uma lei, uma lei sobre um decreto e assim
sucessivamente” (ROSS, 2001, Direito e justiça, p. 161)
Deve-se dar prevalência às normas expedidas para tratar situações específicas em
face das normas gerais.

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Critério temporal
• Exemplo do critério temporal
• Lei 8112/1990 (instituiu o regime único dos servidores federais) revogou
tacitamente a lei 6.732/79.
• http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10684682
Critério da especialidade
• CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE: norma especial prevalece sobre norma geral, sem a revogar.
• Brocardo em latim: lex specialis derrogat generali (lei especial revoga lei geral)
• A norma que trata da matéria do modo mais específico prepondera em relação à norma que disciplina o tema
de modo mais genérico, com base na presunção de que se a lei tratou de uma questão de modo mais
detalhado, aquela norma tem mais força, do que outra que alcança um maior número de situações e,
episodicamente, incidiu sobre aquela hipótese. A racionalidade prescrita é a de que, existindo uma norma para
disciplinar um tema específico, deve prevalecer sobre a de caráter geral.
• O critério da especialidade pressupõe que podem haver leis gerais, que tratam uma
generalidade de casos, e leis especiais, que retiram certos casos de baixo da incidência da
regra geral para fornecerem uma disciplina específica.
• artigo 2º, § 2º, da LINDB
•“§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes,
não revoga nem modifica a lei anterior.”
Em termos técnicos, o critério da especialidade é enunciado da seguinte forma: norma
especial prevalece sobre norma geral, sem a revogar.

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Critério da especialidade-Exemplo
EMB .DECL. NOS EMB .DECL. E M MANDADO DE SEGURANÇA 33.046
PARANÁ
CONCURSO PÚBLICO DE REMOÇÃO PARA OUTORGA DO 6º CARTÓRIO
DE PROTESTOS DE CURITIBA. CRITÉRIO PARA DESEMPATE DO CERTAME.
LEI FEDERAL 10.741/03. ESTATUTO DO IDOSO. NORMA GERAL.
CRITÉRIO DE DESEMPATE ETÁRIO. INAPLICABILIDADE. LEI FEDERAL
8.935/94 E LEI ESTADUAL 14.594/2004. NORMAS ESPECÍFICAS.
CRITÉRIO DE DESEMPATE. TEMPO DE SERVIÇO. APLICABILIDADE.
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=1
2872370

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Critério da especialidade-Exemplo
HC 124284
Órgão julgador: Primeira Turma
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO
Julgamento: 21/03/2017
Publicação: 04/04/2017

Ementa
CRIME MILITAR – ENTORPECENTE – CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE. Ante o disposto no
artigo 290 do Código Penal Militar, descabe versar a aplicação da lei geral antitóxico.

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XXXV EXAME DE ORDEM UNIFICADO – TIPO 1 – BRANCA PROVA APLICADA EM 03/07/2022

É possível que, diante de um caso concreto, seja aceitável a aplicação tanto de uma
lei geral quanto de uma lei especial. Isso, segundo Norberto Bobbio, em seu livro
Teoria do Ordenamento Jurídico, caracteriza uma situação de antinomia. Assinale a
opção que, segundo o autor na obra em referência, apresenta a solução que deve ser
adotada.
A) Deve ser feita uma ponderação de princípios entre a lei geral e a lei especial, de
forma que a lei que se revelar menos razoável seja revogada.
B) Deve prevalecer a lei especial sobre a lei geral, de forma que a lei geral seja
derrogada, isto é, caia parcialmente.
C) Deve ser verificada a data de edição de ambas as leis, pois, nesse tipo de conflito
entre lei geral e lei especial, deve prevalecer aquela que for posterior.
D) Deve prevalecer a lei geral sobre a lei especial, pois essa prevalência da lei geral é
um momento ineliminável de desenvolvimento de um ordenamento jurídico.
Esquematizando
• O critério hierárquico é SOBERANO em relação aos demais. O critério
de especialidade se SOBREPÕE ao da cronologia. O cronológico
resolve conflitos entre “lei geral X lei geral” e “lei especial X lei
especial”
Ordenamento jurídico: Completude
• “Em nenhum lugar do mundo foram estabelecidas regras suficientes para regular todas
as ações e palavras do homens (o que seria coisa impossível) (HOBBES, 2005, P 126)
• Um ordenamento é completo quando o juiz pode encontrar nele uma norma para
regular qualquer caso que se lhe apresente. Segundo o dogma da completude,
não há caso que escape à disciplina do sistema jurídico.
Princípio da inafastabilidade da jurisdição ou Direito de Ação-
• art. 5º, XXXV da CF- “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito”
• Art. 140 do CPC: O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou
obscuridade do ordenamento jurídico.
Completude significa ausência de lacunas no ordenamento jurídico.
A problemática das lacunas surge exatamente quando as normas em vigor não
são capazes de dar conta de todas as situações criadas pela realidade social, o que
poderia levar a uma insegurança jurídica.
TD– Gabriella Beltrame
Ordenamento jurídico: Completude
• Entende-se por completude a circunstância de o juiz dispor de normas jurídicas
para decidir todo e qualquer caso que se lhe apresente. Inversamente,
ordenamento incompleto é aquele que não dispõe de normas para regular
algum caso concreto.
• Enquanto a coerência nega a possibilidade de existir mais de uma norma para
regular – de forma contrária ou contraditória – um mesmo caso, a completude
cuida para que não faltem normas e todas as condutas sejam decididas com
fundamento numa norma do sistema. Como sugere Norberto Bobbio:
• “Diremos “incoerente” um sistema no qual existem tanto a norma que proíbe
um certo comportamento quanto aquela que o permite; “incompleto”, um
sistema em que não existe nem a norma que proíbe um certo comportamento
nem aquela que o permite”.

TD– Gabriella Beltrame


Ordenamento jurídico: Completude

• Dessa forma, percebemos que a coerência resolve problemas de conflito


normativo, em virtude do excesso de normas. Já a completude oferece solução
para os casos em que pode haver falta de normas. Dois atributos
complementares, portanto, reunidos em face da unidade do sistema jurídico.

Teremos uma lacuna normativa sempre que não se consiga inferir do sistema de
direito positivo uma norma que estabeleça a proibição, a permissão ou a
obrigação de um comportamento. Assim, o ordenamento jurídico é organizado
de forma a evitar o non liquet (ausência de resposta).

TD– Gabriella Beltrame


Completude do ordenamento jurídico
• Como resposta a este problema, a Teoria do Ordenamento Jurídico opera com o
conceito de sistema jurídico aberto, que admite a existência de aportes normativos,
surgidos por meio de fatores axiológicos e fáticos, originariamente externos ao
ordenamento, mas que agregam a ele critérios de resolução de questões jurídicas
novas.
A completude do ordenamento jurídico é um elemento fundamental para a garantia
do monopólio da criação do direito por parte do Estado.
• No direito brasileiro, vigoram normas que fornecem ao juiz o instrumental
necessário para que ele decida o caso concreto, mesmo nas situações em que não
haja legislação tratando do tema.
• Lembrem: no art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB):
•Art. 4° Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

TD– Gabriella Beltrame


Ano: 2016 Banca: MPE-SC Órgão: MPE-SC Prova: MPE-SC - 2016 - MPE-SC -
Promotor de Justiça – Matutina

De acordo com o Decreto-lei n. 4657/42 (Lei de Introdução às Normas do


Direito Brasileiro) são formas de integração jurídica a analogia, os costumes e
os princípios gerais de direito.
Quanto aos costumes, a legislação refere-se a espécie praeter legem, ou seja,
aquele que intervém na falta ou omissão da lei, apresentando caráter supletivo.

a) Certo
b) Errado

TD– Gabriella Beltrame


Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2018 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXV - Primeira Fase
A ideia da existência de lacuna é um desafio ao conceito de completude do ordenamento jurídico.
Segundo o jusfilósofo italiano Norberto Bobbio, no livro Teoria do Ordenamento Jurídico, pode-se
completar ou integrar as lacunas existentes no Direito por intermédio de dois métodos, a
saber: heterointegração e autointegração.
Assinale a opção que explica como o jusfilósofo define tais conceitos na obra em referência.
A)O primeiro método consiste na integração operada por meio de recursos a ordenamentos diversos
e a fontes diversas daquela que é dominante; o segundo método consiste na integração cumprida
por meio do mesmo ordenamento, no âmbito da mesma fonte dominante, sem recorrência a outros
ordenamentos.
B)A heterointegração consiste em preencher as lacunas recorrendo-se aos princípios gerais do
Direito, uma vez que estes não estão necessariamente incutidos nas normas do Direito positivo; já a
autointegração consiste em solucionar as lacunas por meio das convicções pessoais do intérprete.
C) O primeiro método diz respeito à necessidade de utilização da jurisprudência como meio
adequado de solucionar as lacunas sem gerar controvérsias; por outro lado, o segundo método
implica buscar a solução da lacuna por meio de interpretação extensiva.
D) A heterointegração exige que o intérprete busque a solução das lacunas nos tratados e nas
convenções internacionais de que o país seja signatário; por seu turno, a autointegração está
relacionada à busca da solução na jurisprudência pátria.
Analogia
Analogia é a operação lógica, em virtude da qual o intérprete estende o
dispositivo da lei a casos por ela não previstos.
Define-se-a, também, como aplicação de um princípio jurídico que a lei põe
para certo fato a outro não regulado, mas semelhante, sob o aspecto jurídico,
ao primeiro.
EXEMPLO DE ANALOGIA:
O direito de greve do servidor público é previsto no art. 37, VII da CF, mas
depende de edição de lei específica que ainda não foi realizada. Em uma decisão
histórica, o STF (Mandados de Injunção (MIs) 670, 708 e 712) decidiu que
também é aplicável ao servidor público por analogia a lei de greve do setor
privado, Lei 7.783 /1989.

TD– Gabriella Beltrame


Princípios Gerais do Direito
• Princípios são proposições básicas que informam as ciências, orientando-as.
Para o Direito, o princípio é seu fundamento, a base que irá informar e orientar
as normas jurídicas.
• Trata-se, segundo Robert Alexy, de mandados de otimização. Como mandados
de otimização, determinam que se adotem todas as medidas possíveis para a
sua aplicação. No entanto, caso eles não se apliquem a determinado caso
concreto, isso não quer dizer que o princípio tenha perdido sua validade
jurídica.
• Princípios jurídicos = mandados de otimização
• Exemplos de princípios jurídicos são encontrados no direito fundamental à vida,
à saúde, ao devido processo legal, instrumentalidade das formas, à economia
processual, à razoável duração do processo.
TD– Gabriella Beltrame
Princípios Gerais do Direito
• EXEMPLO:
• (...) Os princípios democrático e republicano repelem a manutenção de expedientes ocultos no
que concerne ao funcionamento da máquina estatal em suas mais diversas facetas. É essencial ao
fortalecimento da democracia que o seu financiamento seja feito em bases essencialmente
republicanas e absolutamente transparentes. Prejudica-se o aprimoramento da democracia
brasileira quando um dos aspectos do princípio democrático — a democracia representativa — se
desenvolve em bases materiais encobertas por métodos obscuros de doação eleitoral. Sem as
informações necessárias, entre elas a identificação dos particulares que contribuíram
originariamente para legendas e para candidatos, com a explicitação também destes, o processo
de prestação de contas perde em efetividade, obstruindo o cumprimento, pela justiça eleitoral,
da relevantíssima competência estabelecida no art. 17, III, da CF.
• [ADI 5.394, rel. min. Alexandre de Moraes, j. 22-3-2018, P, DJE de 18-2-
2019.]
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=7491
68081
TD– Gabriella Beltrame
Costumes
Pode ser definido como a regra de conduta usualmente observada em um
meio social por ser considerada juridicamente obrigatória e necessária.
Desse conceito costuma-se extrair os seguintes elementos:
a) a prática reiterada e uniforme (objetivo);
b) a convicção jurídica da imprescindibilidade do uso, vale dizer, a opinio
necessitatis (subjetivo). E, na tradição de Civil Law, outro requisito se revela:
a conformidade ao direito vigente.
O costume praeter legem (praeter = além de) é exatamente aquele descrito
no art. 4º da LINDB, que serve para preencher as lacunas da lei. Trata-se de
um dos recursos de que se serve o juiz quando a lei for omissa.

TD– Gabriella Beltrame


Equidade
• Art. 5o da LINDB: Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.
• A equidade, para citar Aristóteles, “é a justiça do caso concreto”, a “justa retificação do justo
rigorosamente legal”, ou, em uma síntese, é a correção da justiça legal, adaptada à
particularidade de cada fato ocorrente. Funciona, na figura de linguagem de Aristóteles,
assim como uma régua flexível, que se ajusta às irregularidades dos objetos. Assim, “a
absoluta dependência do juiz perante a lei não se compadece nem com a teoria aristotélica
nem com a prática jurídica romana, porquanto Aristóteles não tem o juiz por simples
aparelho de subsunção. Tanto assim que, a despeito da disposição geral, muitas vezes não
será possível atendê-la, e até admite a correção do texto legal”.
• Art. 140 do CPC.:O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do
ordenamento jurídico.
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
Completude do Ordenamento jurídico à luz
da Constituição
• A visão sistemática do ordenamento tem relevantes repercussões de ordem
prática, que se expressam por meio de diferentes processos técnicos de
aplicação. No estabelecimento de uma correlação lógica entre as normas
jurídicas e na preservação da integridade do ordenamento faz-se necessária a
utilização de alguns critérios técnicos de base doutrinária e previstos
expressamente em lei, no direito brasileiro.
• Na hermenêutica constitucional contemporânea, a Constituição é considerada
como um conjunto normativo formado por regras e por princípios jurídicos. As
regras têm a sua normatividade aferida de imediato, pelo enquadramento do
caso concreto na hipótese prevista no comando jurídico.
• Há, contudo, comandos constitucionais que são a expressão de princípios por
meio de dispositivos da Carta Constitucional. Nestes casos, tais normas-
princípios terão a substancialidade de sua incidência normativa dada a partir da
prática do direito, principalmente dos tribunais.
TD– Gabriella Beltrame
Completude do Ordenamento jurídico à luz
da Constituição
Os princípios constitucionais irradiam os seus efeitos por todo o
ordenamento jurídico, qualificando a interpretação a ser atribuída às
regras infraconstitucionais, de Direito Civil, Penal, Processual etc.,
fornecendo as bases do conceito de Constituição material, que seria
formado exatamente a partir da visão unificada das disposições
formalmente constitucionais e as demais normas que compõem o
ordenamento jurídico.

TD– Gabriella Beltrame


Ano: 2019 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2019 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXIX - Primeira Fase
Costuma-se dizer que o ordenamento jurídico regula a própria produção normativa. Existem normas de
comportamento ao lado de normas de estrutura... elas não regulam um comportamento, mas o modo
de regular um comportamento...
BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. São Paulo: Polis; Brasília EdUnB, 1989.
A atuação de um advogado deve se dar com base no ordenamento jurídico. Por isso, não basta
conhecer as leis; é preciso compreender o conceito e o funcionamento do ordenamento. Bobbio, em
seu livro Teoria do Ordenamento Jurídico, afirma que a unidade do ordenamento jurídico é assegurada
por suas fontes.
Assinale a opção que indica o fato que, para esse autor, interessa notar para uma teoria geral do
ordenamento jurídico, em relação às fontes do Direito.
A No mesmo momento em que se reconhece existirem atos ou fatos dos quais se faz depender a
produção de normas jurídicas, reconhece-se que o ordenamento jurídico, além de regular o
comportamento das pessoas, regula também o modo pelo qual se devem produzir as regras.
B As fontes do Direito definem o ordenamento jurídico como um complexo de normas de
comportamento referidas a uma dada sociedade e a um dado momento histórico, de forma que garante
a vinculação entre interesse social e comportamento normatizado.
C Como forma de institucionalização do direito positivo, as fontes do Direito definem o ordenamento
jurídico exclusivamente em relação ao processo formal de sua criação, sem levar em conta os
elementos morais que poderiam definir uma norma como justa ou injusta.
D As normas, uma vez definidas como jurídicas, são associadas num conjunto específico, chamado de
direito positivo. Esse direito positivo é o que comumente chamamos de ordenamento jurídico.
Portanto, a fonte do Direito que institui o Direito como ordenamento é a norma, anteriormente
definida como jurídica.
Fonte
• GAMA, Tacio Lacerda. Sistema jurídico - Perspectiva dialógica. Enciclopédia
jurídica da PUC-SP. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo
Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Teoria Geral e Filosofia do
Direito. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga, André
Luiz Freire (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, 2017
• Introdução ao estudo do Direito. Solange Ferreira de Moura [organizador].
— Rio de Janeiro: Editora Estácio, 2013.
• REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo: Saraiva, 2002.
• XAVIER, Carlos Eduardo Rangel. Introdução ao Estudo do Direito, 2017.

TD– Gabriella Beltrame

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