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DIREITO CIVIL

LINDB e Princípios do Direito Civil

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
LINDB e Princípios do Direito Civil
Daniel Carnacchioni

Sumário
Apresentação. . .................................................................................................................................. 4
LINDB e Princípios do Direito Civil. . .............................................................................................. 5
Parte I – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.................................................. 5
1. Introdução...................................................................................................................................... 5
2. Fontes do Direito......................................................................................................................... 5
2.1. Analogia....................................................................................................................................... 7
2.2. Costumes.. .................................................................................................................................. 8
2.3. Princípios Gerais do Direito. . .................................................................................................. 8
2.4. Equidade..................................................................................................................................... 9
3. Norma Agendi: a Lei.. ................................................................................................................... 9
3.1. Vigência, Vigor, Eficácia e Validade da Lei......................................................................... 10
3.2. Repristinação da Lei.............................................................................................................. 14
3.3. Eficácia da Lei no Tempo. . ......................................................................................................15
3.4. Eficácia da Lei no Espaço – Regras sobre Direito Internacional Privado.. ..................19
4. Competência e Jurisdição.........................................................................................................21
5. Casamento: Regras sobre Direito Espacial...........................................................................21
6. Prova............................................................................................................................................. 23
7. O Direito Público e as Inovações.. ........................................................................................... 24
Parte II – Princípios Constitucionais do Direito Civil Contemporâneo............................... 34
1. Histórico do Direito Civil........................................................................................................... 34
1.1. Direito Civil Tradicional/Clássico:........................................................................................ 36
1.2. Direito Civil Contemporâneo. . ............................................................................................... 36
1.3. Características do Direito Civil Pós-Positivismo.. ............................................................ 38
2. Princípios Constitucionais e sua Relevância para o Direito Civil....................................40
3. Paradigmas do Direito Civil Contemporâneo. . ..................................................................... 43
4. Diferença Básica entre Cláusula Geral e Conceito Jurídico Indeterminado. . ................44

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5. Diferença entre Regras e Princípios...................................................................................... 45


Resumo............................................................................................................................................. 47
Questões de Concurso.................................................................................................................. 50
Gabarito............................................................................................................................................64

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Daniel Carnacchioni

Apresentação
Olá, meus amigos, tudo bem?
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à equipe do GRAN CURSOS JURÍDICO pelo convite
para ministrar este curso de Direito Civil. É um enorme desafio, porque o Direito Civil é extenso
e interage com todas as demais matérias, em especial o Direito Constitucional, que o legitima
e fundamenta.
Meu nome é Daniel Carnacchioni e, atualmente, ocupo o cargo de Juiz de Direito do TJDFT,
como titular da 2ª Vara da Fazenda Pública da capital federal. Antes de ingressar na carreira da
magistratura do TJDFT, há quase duas décadas, fui juiz de direito no nobre e encantador Estado
da Bahia, onde tive a oportunidade de conhecer e conviver com o guerreiro povo nordestino,
época em que fui aprovado, em duas oportunidades, para o cargo de juiz de direito do Estado
de Minas Gerais, em concursos públicos sucessivos. Ao final, acabei permanecendo no Distrito
Federal, onde estou até hoje.
Há mais de 15 anos sou professor de Direito Civil e, tento, na medida do possível, apresen-
tar a matéria a partir de outra perspectiva, com foco no fundamento, na razão e na finalidade
dos institutos de Direito Civil, porque somente assim é possível ter compreensão lógica de
todo o sistema para, inclusive, permitir que o aluno tenha a capacidade para conectar todos os
assuntos e temas. Nesse período de magistério, fui e ainda sou professor de várias instituições
de ensino e, em tempos recentes, passei a ter a honra de integrar a equipe do Gran Jurídico.
Nosso Manual de Direito Civil pela editora Juspodivm, onde abordo todos os temas de Direito
Civil, está caminhando para a 4ª edição, o que me deixa muito orgulhoso.
Neste desafio que começamos com essa primeira aula, o curso apresentará teoria e exer-
cícios comentados. A metodologia contempla a exposição dos assuntos e, na sequência, a
resolução de questões de provas. Para facilitar a revisão da matéria, todas as aulas serão fina-
lizadas com um resumo, além de uma lista das questões comentadas, com o gabarito. Caso
reste alguma dúvida, não hesite em postá-la no fórum de dúvidas. A interação com o professor
é um dos diferenciais do nosso curso! Espero que você aproveite bastante o curso.
Aproveite e se entregue intensamente ao Direito Civil. Boa leitura e sucesso.

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LINDB E PRINCÍPIOS DO DIREITO CIVIL


Parte I – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro

1. Introdução
A LINDB, Lei de Introdução às Normas do Direito, (antes denominada Lei de Introdução ao
Código Civil - LICC) não faz parte do Código Civil, embora esteja anexa a ele. Trata-se de norma
sobre direito, ou seja, é um conjunto de normas cujo objetivo é disciplinar as próprias normas
jurídicas (lex legum – norma sobre normas).
A lei em questão estabelece alguns parâmetros genéricos para formação, elaboração, vi-
gência, eficácia, interpretação, integração e aplicação das leis.
A mudança de nomenclatura ocorreu com a finalidade de adequar a aplicação prática e
a abrangência real da lei de introdução ao seu aspecto formal (nome da ementa). A Lei n.
12.376/2010 passou a mencionar que o decreto é de fato, Lei de Introdução às normas do Di-
reito Brasileiro – e não apenas às normas de caráter civil.
A LINDB é destinada ao legislador e aplicador do direito, diferente das demais normas
jurídicas, que, por possuírem o atributo da generalidade são destinadas, em regra, à toda a
comunidade.
A LINDB trata acerca dos seguintes assuntos:
a) Vigência e eficácia das normas jurídicas;
b) Conflito de leis no tempo;
c) Conflito de leis no espaço;
d) Critérios hermenêuticos;
e) Critérios de integração do ordenamento jurídico;
f) Normas de direito internacional privado (arts. 7º a 19)
g) Normas de direito público (arts. 20 a 30)
Querido(a) aluno(a), antes de adentrar propriamente no estudo da LINDB, devemos revisar
conceitos básicos do direito, que podem ser perguntados em forma de questão, ou mesmo,
podem lhes ajudar a resolver questões mesmo quando não lembrarem a redação da lei.

2. Fontes do Direito
Conceito: de “onde vem” ou formas de expressão do direito.
Miguel Reale define fontes do direito como os “processos ou meios em virtude dos quais
as regras jurídicas se positivam com legítima força obrigatória”.
De acordo com Hans Kelsen, fonte do direito é “o fundamento de validade da norma jurídi-
ca, decorre de uma norma superior, válida.”

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A classificação e divisão quanto às fontes do direito não é tema pacífico na doutrina, de


modo que cada autor edita sua classificação:
Dividem-se em:
• Fontes Formais – constam expressamente na LINDB e dividem-se em primarias (leis), e
secundárias (analogia, costumes e princípios gerais do direito);
• Fontes Informais – não estão previstas na LINDB: doutrina, jurisprudência e equidade.

As Fontes Formais secundárias também são denominadas de fontes indiretas ou media-


tas, isso porque são aplicáveis em caso de lacuna legal, ou seja, em caso de omissão da lei.
“Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costu-
mes e os princípios gerais de direito.” São os denominados métodos de integração normativa.
Segundo o CPC, art. 140, “O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obs-
curidade do ordenamento jurídico”.

001. (VUNESP/CÂMARA DE NOVA ODESSA – SP/ASSESSOR JURÍDICO I/2018 - ADAPTA-


DA) Sobre os meios de integração das normas para os casos de omissão da lei, assinale:
As leis são consideradas fontes primárias. A analogia, os costumes e os princípios gerais de
direito são considerados fontes secundárias.

A questão está correta, conforme explicação acima.


Certo.

002. (VUNESP/CÂMARA DE SERRANA – SP/ANALISTA LEGISLATIVO/2019) Segundo a Lei


de Introdução às normas do Direito Brasileiro, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,
os costumes e os princípios gerais de direito na seguinte situação:
a) quando o caso for regido por lei temporária.
b) quando se tratar de direito estrangeiro.
c) se a lei for injusta.
d) se o juiz não concordar com o texto da lei.
e) quando a lei for omissa

De acordo com a redação do art. 4º da LINDB, a analogia, os costumes e os princípios gerais


de direito são aplicáveis em caso de omissão da lei.
Letra e.

Agora, vamos nos aprofundar em cada um dos métodos de integração do art. 4º:

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2.1. Analogia
Consiste em aplicar a uma dada situação que não está prevista em lei uma norma jurídica
próxima (analogia legis ou propriamente dita) ou um conjunto de normas jurídicas que pos-
suem sintonia com aquele caso (analogia iuris). Como exemplo temos a aplicação das regras
do casamento para a união estável.

Não confunda analogia com interpretação extensiva.

Na analogia, rompe-se com os limites previstos na norma, havendo integração jurídica. Na


interpretação extensiva, apenas amplia-se o seu campo, havendo subsunção.
Também não confunda subsunção com integração. A subsunção é a aplicação direta da
lei, ao passo que a integração é o método a partir do qual o julgador supre as lacunas da lei,
aplicando as ferramentas previstas no art. 4º da LINDB (analogia, costumes e princípios gerais
do direito).

Veja o exemplo a seguir: aplicação do art. 157, § 2º, do CC, para lesão usuária, prevista na Lei
de Usura. Neste caso, haverá interpretação extensiva, pois o dispositivo somente será aplicado
a outro caso de lesão. Amplia-se o sentido da norma, sem romper seus limites.
Outro exemplo: aplicação do art. 157, § 2º, do CC, para o estado de perigo (CC, art. 156). Nesta
hipótese, haverá a aplicação da analogia, porque o comando legal está sendo aplicado a outro
instituto jurídico, sendo caso de integração.

O PULO DO GATO
As normas de exceção não admitem analogia ou interpretação extensiva. Podemos citar como
exemplo as normas que restringem a autonomia privada ou que diminuem a proteção de direi-
tos relacionados à dignidade da pessoa humana.

Exemplo 1: enunciado 146 III JDC: “nas relações civis, interpretam-se restritivamente os parâ-
metros de desconsideração da personalidade jurídica previstos no art. 50 (desvio de finalidade
social ou confusão patrimonial)”;
Exemplo 2: qualquer negócio ou ato jurídico que envolva a cessão ou a transmissão da proje-
ção dos efeitos patrimoniais dos direitos da personalidade deve ser interpretado restritivamen-
te;
Exemplo 3: art. 114 do CC (os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se restri-
tivamente).

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2.2. Costumes
São as práticas reiteradas no tempo. A repetição de usos de comportamentos, capaz de
gerar a convicção interna no individuo de uma necessidade jurídica de sua obediência.
Veja o que diz o art. 113 da Lei n. 10.406/02:

Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de
sua celebração.

Os costumes podem ser:


• Segundo a lei (secudum legem): quando expressamente previstos (ex.: CC, art. 187).
Aqui há subsunção;
• Na falta de lei (praeter legem): aplicado quando a lei for omissa (ex.: cheque pré-datado);
• Contra a lei (contra legem): não são admitidos.

2.3. Princípios Gerais do Direito


São as fontes basilares para qualquer ramo do direito, influindo tanto em sua formação
como em sua aplicação.
São três os princípios consagrados no CC, conforme se extrai da sua exposição de motivos:
• Princípio da Eticidade (valorização da ética e boa-fé);
• Princípio da Socialidade (corolário do princípio da função social da propriedade, dos
contratos);
• Princípio da operabilidade (simplicidade e efetividade, alcançada através das cláusulas
gerais).

Alguns princípios gerais do Direito Civil, a partir da vigência da Constituição Federal de


1988, e do movimento de constitucionalização do Direito Civil, ganharam status constitucional,
de modo que, segundo o Prof. Paulo Bonavides, terão prioridade de aplicação, mesmo quando
há lei específica sobre a matéria.
São exemplos: a dignidade da pessoa humana (CF/88, art. 1º, III), a solidariedade social
(CF/88, art. 3º, I) e a isonomia ou igualdade material (CF/88, art. 5º, caput).
Vale destacar a crítica realizada pela doutrina contemporânea, que ressalta a necessidade
de atualização do art. 4º, em razão da profunda alteração da Teoria das Fontes. Já que, hoje,
temos reconhecida a eficácia normativa dos princípios e também da jurisprudência (aproxi-
mação do sistema common law realizado pelo Código de Processo Civil com a valorização da
jurisprudência).

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2.4. Equidade
A Equidade é forma de integração do direito?

Segundo Aristóteles, a Equidade é a correção do justo legal; ou seja, a correção da lei, quan-
do esta se mostrar extremamente injusta.
A equidade não está prevista na LINDB como forma de integração de lacunas legais, mas o
art. 140, parágrafo único, do CPC prevê que “O juiz só decidirá por equidade nos casos previs-
tos em lei”. Desse modo, entende-se que o sistema jurídico admite a equidade como mecanis-
mo de integração, quando indicado pela própria norma, ou seja, somente em caso de previsão
legal (CDC, art. 7º).

003. (VUNESP/CÂMARA DE NOVA ODESSA – SP/ASSESSOR JURÍDICO I/2018 - ADAPTA-


DA) Sobre os meios de integração das normas para os casos de omissão da lei, assinale:
I – A equidade, por não estar expressamente prevista na lei, deve ser utilizada em conjunto
com outro meio de integração das normas.
II – Para que seja utilizada a equidade para preencher alguma lacuna da lei, é necessário haver
a ideia de igualdade e paralelismo entre as relações.

Ambas estão erradas, isso porque:


I – A equidade está prevista no art. 140, parágrafo único do CPC.
II – É preciso que haja previsão legal para aplicação da equidade, segundo exige o art. 140, pará-
grafo único do CPC. A ideia de igualdade/paralelismo de relações faz parte do uso da analogia.
Errado, Errado.

3. Norma Agendi: a Lei


Lei é a norma jurídica. Fonte primária e direta do direito. Trata-se de uma ordem (determi-
nação do legislador) com caráter geral, universal e permanente, e deve originar da autoridade
competente.
Nos dizeres de Maria Helena Diniz, trata-se de um Imperativo Autorizante. Imperativo, por-
que é dotada de coercibilidade, sendo dirigida a todos (atributo da generalidade). Autorizante,
porque tem a função de autorizar ou não determinadas condutas.

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3.1. Vigência, Vigor, Eficácia e Validade da Lei


A vigência é tempo de duração de uma norma jurídica, o lapso temporal no qual a lei pode
produzir efeitos, no qual a lei possui vigor. Tem seu início com a publicação (ou decorrido o
prazo da vacatio legis) e persiste até a sua revogação ou extinção. O termo a quo da vigência
da lei é estabelecido livremente pelo legislador.
A vigência da norma tem íntima conexão com a força vinculante da lei ou à sua obrigato-
riedade (vigor da norma).

Não podemos confundir vigência com vigor e com eficácia da lei.

• Vigência: período entre a entrada em vigor e a revogação da lei.


• Vigor: força vinculante, está ligada ao ao princípio da obrigatoriedade, vincula todos os
fatos e pessoas à norma agendi (lei). A ultratividade é o fenômeno em que uma norma,
mesmo ser ter vigência (em razão de sua revogação), possui vigor (continua a reger
certos fatos).

Assim, normas sem vigência podem ainda estar em vigor. Trata-se do fenômeno da ultrati-
vidade, que nada mais é do que a possibilidade material e concreta de uma lei revogada ainda
produzir efeitos. Tal princípio está diretamente relacionado com a garantia constitucional da
não retroatividade das normas. Como exemplo, temos a aplicação do CC/16 para os fatos
ocorridos durante a sua vigência, ou seja, para os contratos celebrados durante sua vigência.
O CC/2002 também manteve a vigência de vários dispositivos do CC/1916, com o que conferiu
ultratividade para algumas normas específicas, ou “sobrevida”, mesmo após a revogação do
CC/1916 pelo CC/2002 (enfiteuse, sucessão aberta antes do CC).
• Eficácia: é a aptidão da norma para produzir efeitos. Pode ser social, técnica ou jurídica.

A eficácia social ou efetividade da norma diz respeito ao cumprimento do direito por parte
da sociedade. Em outras palavras, é a materialização no mundo dos fatos da dicção da norma.
Eficácia técnica liga-se à presença de condições técnicas para sua produção de efeitos. A
exemplo das normas constitucionais de eficácia limitada.
Eficácia jurídica: refere-se ao poder que toda norma possui, para irradiar efeitos jurídicos, a
exemplo da revogação de norma anterior incompatível.
Hugo de Brito Machado afirma que “vigência é a aptidão para incidir”, enquanto que efi-
cácia seria a “aptidão para produzir efeitos no plano da concreção jurídica”. Ademais, o autor
esclarece que:

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Vigência é qualidade que não admite graduação. Está ou não na lei. Não existe lei mais vigente do
que outra. A eficácia, diversamente, é qualidade sempre relativa. Existem leis mais eficazes do que
outras. Pode-se dizer que não existe lei absolutamente desprovida de eficácia, como não existe lei
absolutamente eficaz.

Também não se deve confundir vigência com validade:


• Validade: norma válida é a que foi formada, originada e elaborada por órgão competen-
te, com a obediência ao devido processo legal legislativo. No âmbito formal, a lei válida
é a que obedece a todos os parâmetros legais de formação e do processo legislativo.
No âmbito material, lei válida é a que está adequada e conforme os preceitos da Cons-
tituição Federal.

A vigência está relacionada ao momento em que a norma válida, sob o aspecto formal e ma-
terial, passa a ter força vinculante para os seus destinatários. Veja o que diz a Lei n. 4.657/42:

Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias depois de oficial-
mente publicada.
§ 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 3 me-
ses depois de oficialmente publicada.

Entrada em vigor

Brasil Estado estrangeiro

45 dias, salvo disposição em


Três meses
contrário.

Se a lei for omissa quanto ao início da vigência, aplica-se a regra geral do artigo 1º, entra
em vigor 45 dias após ser publicada. No entanto, se a lei dispuser a data de vigência, prevalece
a norma específica.
Nesse ponto, há um princípio importante, que sempre cai em provas de concurso - Princí-
pio da obrigatoriedade simultânea ou vigência sincrônica: estabelecendo que vigência se dá
em todo o território nacional simultaneamente. Também chamado de critério do prazo único.
Se contrapõem ao sistema da vigência progressiva, gradual, sucessiva, aplicável para a vigên-
cia da lei brasileira no Estado estrangeiro em relação à sua aplicação em território nacional.
Vale destacar também que lei antecessora da atual LINDB, adotava o sistema da vigência
progressiva.

§ 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o
prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
§ 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

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Ou se, o prazo se reinicia a contar da nova publicação.


A correção a que se refere o § 3º, será apenas no que tange a erros de redação/ortografia.
Mudanças de mérito não são admitidas, pois estas demandam uma nova lei com adequado
trâmite legislativo (deliberações, discussão, etc.).
O período entre a publicação da lei e o início de vigência é denominado de vacatio legis. O
prazo de vacatio legis e o modo de cômputo do prazo deve ser de acordo com o artigo 8º da
Lei Complementar 95/1998:

Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável
para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula “entra em vigor na data de sua
publicação” para as leis de pequena repercussão.
§ 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância
far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia
subsequente à sua consumação integral.
§ 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei entra em vigor
após decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial’

Atenção ao § 1º - vale destacar: independentemente se o dia for ou não útil.


Não se aplica o prazo de vacatio legis da LINDB:
• Para os atos administrativos, pois estes entram em vigor na data da publicação no órgão
oficial. Pois, neste momento, presume-se a ciência do destinatário.
• Para a vacatio constitutionis, isso porque as EC entram em vigor na data de sua publica-
ção, salvo se houver previsão expressa em outro sentido, como, por exemplo, o sistema
tributário nacional possuiu uma vacância prevista no art. 34 do ADCT.

O art. 2º da LINDB prevê outro princípio importante ao enunciar que “não se destinando à
vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue”. Trata-se do princípio
da continuidade ou permanência da lei, esta permanecerá em vigor até que outra a modifique
ou revogue. A exceção fica por conta da lei excepcional ou temporária, que são autorrevogá-
veis (possuem vigência por um período condicional ou temporário) e são ultrativas (os efeitos
dos atos praticados não extinguem com elas).
Como exemplo de norma temporária, podemos citar a Lei n. 14.010/2020, de acordo com
sua ementa dispõe sobre o Regime Jurídico Emergencial e Transitório das relações jurídicas
de Direito Privado no período da pandemia de covid-19, e, em seu art. 3º, caput, dispõe de for-
ma expressa que: “Os prazos prescricionais consideram-se impedidos ou suspensos, confor-
me o caso, a partir da entrada em vigor desta Lei até 30 de outubro de 2020.”. Norma aplicável
também, para os prazos de decadência (§ 2º).
A Revogação encerra a vigência de uma norma por outra, e pode ser:
a) quanto à extensão:

Ab-rogação (lembrar: “ab” de


Revogação total
absoluta, total)

Revogação parcial Derrogação

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b) quanto ao modo:

Revogação expressa
Taxativamente prevista na norma
(ou por via direta)

Revogação tácita (ou por Quando seja com ela incompatível ou quando
via obliqua) regule a matéria que tratava a lei anterior
O § 1º admite que a revogação seja expressa ou tácita. Neste ponto, a regra pode parecer
entrar em choque com aquela disciplinada no art. 9º da LC 95/98, que sugere a necessidade
de a revogação ser sempre expressa. Não obstante, tem prevalecido que a revogação tácita é
sim, possível.
Já o § 2º do mesmo artigo apresenta obviedades. A revogação somente pode ser expressa
ou tácita, razão pela qual, caso a Lei nova estabeleça disposições gerais ou especiais a par das
já existentes, não há revogação nem modificação da lei anterior.
A exemplo da Lei dos alimentos gravídicos (Lei n. 11.804/2008) que, ao trazer apenas
acréscimos ao reconhecer o direito a alimentos ao nascituro e à mulher grávida, não revogou
nem alterou o CC/02 em matéria de alimentos.

004. (CESPE/CEBRASPE/TCE-RJ/ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO/2021) Conforme as


disposições legais sobre vigência e aplicação das leis, prescrição, pessoas naturais e jurídicas,
julgue o item a seguir.
De acordo com a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, além de situações de ex-
pressa revogação, a nova lei implica a revogação de legislação anterior que regulasse inteira-
mente a mesma matéria ou, ainda, que estabelecesse regras gerais sobre o mesmo assunto.

“Art. 2º
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não
revoga nem modifica a lei anterior.”
Errado.

Por fim, o § 3º trata do fenômeno da repristinação. Por se tratar de um assunto que, frequente-
mente, cai em provas de concursos, abriremos abaixo um tópico para explicar melhor tal fenômeno.
O terceiro e ultimo princípio, de grande importância na LINDB, vem previsto no art. 3º, in
verbis: “ninguém se escusa de cumprir a lei alegando que não a conhece”. Trata-se do Princípio
da Obrigatoriedade da lei. A norma jurídica, geral e abstrata, quando publicada e vigente, obriga
a todos os membros da coletividade ou comunidade que a ela se submete, sem qualquer dis-
tinção. É irrelevante a condição social, cultural, sexual, racial, econômica e pessoal do sujeito.
Tal norma garante a eficácia do sistema e traz segurança jurídica. Há uma presunção relativa
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de que todos conhecem a lei. Relativa, pois admite exceções, como, por exemplo, a norma pre-
vista no art. 139, III, do CC/02, o qual permite a anulação do negócio jurídico por erro do direito.

A lei torna-se obrigatória, passa a ter vigor com a vigência e não com a publicação. Após a
publicação, a lei poderá ou não cumprir o período de vacatio legis.

Neste ponto, é importante analisarmos como se dá a formação da lei. Esta envolve


três etapas:
• 1º Elaboração da lei;
• 2º Promulgação da lei (pode ser dispensada);
• 3º Publicação da lei.

A fase de elaboração da lei vai desde a iniciativa até a sanção ou veto, ou seja, corresponde
a todo o processo legislativo previsto na CF/88 e na LC 95/98.
A promulgação é a ultima etapa do processo legislativo e consiste na declaração de exis-
tência formal da lei, embora ainda não tenha entrado em vigor.
Por fim, a publicação é o ato que dá publicidade à lei. É a condição para a lei entrar em vigor,
obedecido o período de vacatio legis, se acaso houver.
Há controvérsia na doutrina se o nascimento da lei ocorre com a promulgação ou com o
último ato anterior a ela, já que a promulgação tem o fito apenas de atestar a existência da lei.
No entanto, tal discussão não se mostra relevante para o Direito Civil, já que, para reger um
dado fato jurídico e produzir seus efeitos, a lei deve estar em vigor (e quanto a este momento
não há controvérsia).

3.2. Repristinação da Lei


O § 3º do art. 2º trata do fenômeno da repristinação, nos seguintes termos: “Salvo dispo-
sição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”.
Veja que, em regra, não se admite a repristinação no direito brasileiro.
Mas o que é tal fenômeno? Em apertada síntese, trata-se de fenômeno jurídico em razão
do qual uma norma revogada volta a ter vigência, em razão da revogação da lei que a revogara.
Veja o seguinte exemplo:

Se a lei C revoga a lei B, a qual, por sua vez, já havia revogado a lei A, esta última não vol-
tará a produzir efeitos, pois, em regra, no Brasil, não se admite a repristinação. Ou seja, não se
admite que a lei A volte a viger em razão da revogação da lei B.
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A repristinação somente será admitida quando:


(i) houver previsão expressa (repristinação legal);
(ii) em caso de declaração de inconstitucionalidade da norma revogadora (neste caso, não
se terá propriamente repristinação, mas sim o denominado efeito repristinatório, previsto no
direito constitucional);
(iii) uma lei for revogada por uma MP que não foi convertida em lei.

005. (QUADRIX/CREA-GO/ANALISTA – ADVOGADO/2019) A respeito da eficácia da lei no


tempo e do conflito de normas, julgue o item.
No direito brasileiro, a repristinação não é automática, devendo constar expressamente da lei
revogadora a restauração da vigência da lei revogada.

Está correta nos termos da LINDB, Art.2º, § 3º: “Salvo disposição em contrário, a lei revogada
não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”.
Certo.

3.3. Eficácia da Lei no Tempo


A eficácia de uma legislação no tempo possui relevância, em especial nas situações que
envolvem o denominado “direito intertemporal”. Há relações jurídicas que foram estabelecidas
sob a vigência de uma lei e acabam por projetar os seus efeitos quando outra lei estava vigen-
te. O direito intertemporal cuidará de regular e disciplinar essas situações jurídicas em que os
efeitos de fato jurídico nascido e se originado na vigência de uma lei serão refletidos em um
período no qual outra lei estará em vigor.
O artigo 6º da lei de introdução retrata e reproduz esses pressupostos ao dispor que a lei
em vigor (vigência) terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e a coisa julgada. As situações jurídicas já consolidadas sob a vigência da lei antiga
devem ser preservadas pela nova legislação.
A regra no ordenamento jurídico brasileiro é a irretroatividade da lei (leis são editadas para
reger fatos posteriores a sua vigência). Este princípio objetiva garantir a segurança, a certeza
e a estabilidade do ordenamento jurídico.

E quando será possível a retroatividade?

• É necessário que haja permissão legal; e


• Não pode prejudicar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (barreiras
previstas não apenas na LINDB como também na CF/88).

Vamos entender cada uma das referidas barreiras constitucionais:


a) Direito adquirido

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De acordo com o § 2º do artigo 6º, consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu
titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo
pré-fixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. De acordo com Caio Mario:

são os direitos definitivamente incorporados ao patrimônio do seu titular, sejam os já realizados,


sejam os que simplesmente dependem de um prazo para o seu exercício, sejam ainda os subordina-
dos a uma condição inalterável ao arbítrio de outrem.

Neste ponto, é preciso ter cuidado para o seguinte: não confunda o referido artigo da LIN-
DB com o art. 125, do CC, que diz: Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição
suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa.”. Isso
porque, enquanto o art. 125 trata acerca do direito adquirido em razão de um negócio jurídico
(direito à própria prestação), o art. 6º, § 2º, da LINDB trata acerca do direito adquirido resultan-
te de lei (direito a ter direito).
Outra distinção importante é no que se refere à expectativa de direito que se configura
quando não estiverem presentes todos os fatos exigíveis para a aquisição do direito. Seu titu-
lar tem apenas a expectativa, esperança que um dia possa ser titular do referido direito. Um
exemplo disso ocorre quando há um conjunto de regras que autorizam a aquisição de um di-
reito após o cumprimento de fatos predeterminados. Se o pretenso titular ainda não cumpriu
os fatos necessários, não poderá alegar direito adquirido em face de novo conjunto de regras.
Por isso, é que se afirma que não há direito adquirido a regime jurídico (não há direito adquirido
para mantença de normas jurídicas, estas, assim como a sociedade são dinâmicas). Veja o
seguinte julgado do STF:

CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO. PROVENTOS DE APOSENTADORIA. LEI SUPER-


VENIENTE ESTABELECENDO VENCIMENTO ÚNICO PARA A CARREIRA. DIREITO ADQUI-
RIDO A REGIME JURÍDICO. INEXISTÊNCIA, ASSEGURADA A IRREDUTIBILIDADE DO VALOR
PERCEBIDO. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 1. A jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal consolidou-se no sentido de que não existe direito adquirido
nem a regime jurídico, nem aos critérios que determinaram a composição da remunera-
ção ou dos proventos, desde que o novo sistema normativo assegure a irredutibilidade
dos ganhos anteriormente percebidos. 2. Não havendo redução dos proventos percebi-
dos pelo inativo, não há inconstitucionalidade na lei que estabelece, para a carreira, o sis-
tema de vencimento único, com absorção de outras vantagens remuneratórias. 3. Agravo
regimental desprovido. (RE 634.732 AgR-segundo, Rel. Min. Teori Zavascki, 2ª Turma, DJe
19-06-2013)

b) Ato Jurídico Perfeito


A distinção entre ato jurídico perfeito e direito adquirido: o direito adquirido resulta dire-
tamente da lei, já o ato jurídico perfeito decorre da vontade das partes, que a exterioriza de

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acordo com a lei, por exemplo, um contrato. Tais atos jurídicos são protegidos por mudanças
supervenientes da lei.
c) Coisa julgada
Por fim, denomina-se coisa julgada material, a autoridade que torna imutável e indiscutí-
vel à decisão de mérito não mais sujeita a recurso, ou seja, a decisão de mérito que transitou
em julgado.
No entanto, tratando-se de direitos disponíveis, as partes poderão dispor dos seus direitos,
mesmo após o reconhecimento em sentença transitada em julgado.
O efeito negativo da coisa julgada impede que a mesma causa seja discutida em outro pro-
cesso, com as mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo pedido. Já o efeito positivo da
coisa julgada vincula o juiz ao que foi decidido em demanda anterior, com decisão protegida
pela coisa julgada material ao julgar uma segunda demanda.
No entanto, vale destacar que quem faz coisa julgada é o dispositivo. De modo que, modifi-
cadas a situação fática e jurídica que serviu de base e fundamento para a decisão, é plenamen-
te possível em face dos limites objetivos da coisa julgada que uma nova decisão seja proferida
modificando a situação a partir de então, ou seja, para o futuro. Explicando melhor: se uma
pessoa ganha judicialmente o direito a receber algum auxílio governamental, modificada a lei
na qual tal auxílio fora fundamentado, excluindo o referido benefício, o referido titular perde o
direito ao auxílio, não havendo que se falar em impedimento pela coisa julgada. Não pode ser
alegado, nem mesmo o óbice do direito adquirido, haja vista, como já dito, a inexistência de
direito adquirido frente a regime jurídico.
É certo que, atualmente, há certa relativização da coisa julgada – em especial quando esta
for inconstitucional (RE 363.889 – STF); bem como em ações investigatórias de paternidade
julgadas improcedentes quando não existia exame de DNA no Brasil.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL. REPER-


CUSSÃO GERAL RECONHECIDA. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE DECLA-
RADA EXTINTA, COM FUNDAMENTO EM COISA JULGADA, EM RAZÃO DA EXISTÊNCIA
DE ANTERIOR DEMANDA EM QUE NÃO FOI POSSÍVEL A REALIZAÇÃO DE EXAME DE DNA,
POR SER O AUTOR BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA E POR NÃO TER O ESTADO
PROVIDENCIADO A SUA REALIZAÇÃO. REPROPOSITURA DA AÇÃO. POSSIBILIDADE, EM
RESPEITO À PREVALÊNCIA DO DIREITO FUNDAMENTAL À BUSCA DA IDENTIDADE GENÉ-
TICA DO SER, COMO EMANAÇÃO DE SEU DIREITO DE PERSONALIDADE (STF, RE 363.889/
DF, Rel. Min. Dias Toffoli, J. 02/06/2011)

A irretroatividade não é regra absoluta, cedendo em alguns casos em razão de outros prin-
cípios constitucionais de alto relevo ou por razões de políticas legislativas, que podem reco-
mendar, em determinadas situações, a retroatividade da lei, atingindo os efeitos dos atos jurí-
dicos praticados sob o império da norma antiga.

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Logo, a retroatividade, é exceção, e trata-se de fenômeno no qual uma lei é aplicada para
fatos anteriores à sua vigência. Segundo alguns doutrinadores, a retroatividade pode ocorrer
em graus, podendo ser:
(i) retroatividade de grau máximo (restitutória) – a lei nova retroage para atingir os atos ou
fatos já consumados (direito adquirido, ato jurídico perfeito ou coisa julgada).
(ii) retroatividade em grau médio – a lei nova, sem atingir a causa finitae, retroage para
atingir os efeitos do fato passado, efeitos esses que se encontram pendentes.
(iii) retroatividade de grau mínimo (mitigada, temperada): ocorre quando a lei nova incide
imediatamente sobre os efeitos futuros dos atos ou fatos pretéritos, não atingindo, no entanto,
nem os atos ou fatos pretéritos nem os seus efeitos pendentes.
O STF, no RE n. 226.855 decidiu que as leis que afetam os efeitos futuros de contratos cele-
brados anteriormente são retroativas (retroatividade mínima), afetando a causa, que é um fato
ocorrido no passado, ou seja, os efeitos futuros dos fatos ocorridos sob a vigência da lei antiga
podem ser atingidos pela Lei nova (retroatividade mínima).
No entanto, Nelson Rosenvald faz o alerta de que:

forçoso é reconhecer, outrossim, a aplicação imediata da lei nova às relações jurídicas continuati-
vas – isto é, as relações jurídicas iniciadas na vigência da lei anterior e que se protraem no tempo,
mantendo-se após o advento da lei nova. No que concerne às relações continuativas (também cha-
madas de trato sucessivo), a sua existência e sua validade, ficam submetidas à norma vigente ao
tempo de seu início. No entanto, a sua eficácia, estará, inarredavelmente, submetida à nova norma
jurídica. De qualquer sorte, é certo que essa incidência da lei nova aos efeitos das relações continu-
ativas exige respeito ao ato jurídico perfeito, ao direito adquirido e a coisa julgada. Um bom exemplo,
pode ser lembrado com a incidência do novo limite de multa (cláusula penal em taxas condominiais
não pode exceder 2% ao mês, imposto pelo CC/02). Na legislação antecedente a multa poderia ser
fixada no limite de 20% ao mês. Assim sendo, indaga-se, um condomínio constituído antes da vigên-
cia do CC/02 poderia continuar cobrando a multa de 20% pelo atraso no pagamento da taxa mensal?
A resposta é não. Estando todo e qualquer condômino submetido ao limite de 2% ao mês, mesmo
aqueles constituídos antes da vigência do atual Codex, uma vez que em se tratando de relação jurí-
dica continuada, sua eficácia, estará, seguramente, submetida à legislação vigente.

Outra exceção em que também haverá retroatividade mínima, também diz respeito ao pre-
ceito de ordem pública, que, nos termos do parágrafo único do art. 2.035 do CC: “Nenhuma
convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos
por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.”

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3.4. Eficácia da Lei no Espaço – Regras sobre Direito Internacional


Privado
Objetivo: solucionar conflito de leis no espaço.
O conflito de leis no espaço ocorre quando certas relações jurídicas transcendem a ordem
jurídica interna e se interconectam com leis estrangeiras, autônomas e independentes. O que
exigirá a definição de qual desses ordenamentos jurídicos regerá o fato e suas consequências
ou efeitos jurídicos.
A regra geral é a aplicação do direito pátrio. O direito estrangeiro é aplicável apenas de
modo excepcional. Por tal razão, diz-se que a LINDB adota o princípio da territorialidade mo-
derada, temperada mitigada.
Mas vale destacar uma premissa: a CF/88 sempre prevalece sobre eventual norma estran-
geira que preveja desigualdade entre homens, entre filhos na constância do casamento ou em
razão de raça ou religião. Isso porque não se aplica às normas de direito estrangeiro contrarias
às normas de índole constitucional.
Outro fato importante é que as normas de direito internacional privado previstas na LINDB
são indicativas e indiretas. Isso significa que elas apenas indicam qual a ordem jurídica subs-
tancial (nacional ou estrangeira), deverá ser aplicada no caso concreto para o fim de resolver
a questão principal.

Exemplo: não dizem se o casamento é valido ou não, se o indivíduo tem ou não direito à herança.

Assim, as normas de DPI são instrumentais, auxiliares, pois apenas indicarão se é o direito
estrangeiro ou o direito nacional que resolverá a questão.
Para aplicação da norma estrangeira, exige-se uma regra de conexão. Os elementos de
conexão podem ser pessoais (nacionalidade, domicílio), reais (localização do imóvel) e condu-
cista (celebração e execução de contrato).

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Para incidência do DPI, o pressuposto é a conexão espacial. Para ficar mais claro, veja,
caro(a) aluno(a), um exemplo em que está ausente a conexão espacial: dois brasileiros se ca-
sam no Brasil, adquirem bens no Brasil e dissolvem a sociedade conjugal no Brasil; agora, um
exemplo em que está presente a conexão espacial: brasileiro se casa com italiano na França,
lá residem, adquirem bens e resolvem vir morar no Brasil.

Qual a metodologia de aplicação do DPI?

PRIMEIRO (OBJETO DA CONEXÃO) - qualificação da relação jurídica (objeto da conexão –


família, sucessão, contrato) – qual assunto será conectado?
SEGUNDO (ELEMENTO DA CONEXÃO) – determinação da lei aplicável (elemento de cone-
xão) – definição da lei que regerá o assunto – exemplo: domicílio como elemento.
Em regra, o elemento de conexão adotado pela LINDB é o estatuto pessoal (art. 7º). Desse
modo, a lei do país do domicílio da pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
Será aplicável a norma legal do domicílio do estrangeiro para essas questões, bem como
para bens móveis que o proprietário tiver consigo (art. 8º), penhor e capacidade para suces-
são (art. 10, § 2º). As pessoas jurídicas também se submetem a esse critério, pois devem
obediência à lei do Estado em que foram constituídas.

006. (CESPE/TJ-AM/ANALISTA JUDICIÁRIO - OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR/2019) No


que concerne à LINDB [...], julgue o item a seguir.
Em se tratando de indivíduo de nacionalidade estrangeira domiciliado no Brasil, as regras so-
bre o começo e o fim da sua personalidade, seu nome, sua capacidade civil e seus direitos de
família são aquelas da legislação vigente no seu país de origem.

Veja o que diz o art. 7º da LINDB: “Art. 7º A lei do país em que domiciliada a pessoa determi-
na as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de
família.”.
Errado.

O critério do estatuto pessoal tem exceções:


• Relações jurídicas cujo objeto seja imóvel: utiliza-se o critério real para a aplicação da
lei do lugar da coisa para regular as relações de posse e propriedade sobre imóveis (prin-
cípio da territorialidade, caso de jurisdição exclusiva);
• Obrigações: utiliza-se da regra conducista, que determina a aplicação do lugar em que
foi constituída para as relações obrigacionais (art. 9º); *

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• Sucessão: utiliza-se da norma mais favorável em relação aos bens de estrangeiro morto,
situado do Brasil, em favor do cônjuge e dos filhos (art. 10, § 1º).

 Obs.: Se a obrigação for constituída por contrato ou decorrer de contrato, afasta-se a regra
do caput e aplica-se a regra especial do § 2º do art. 9º. Nessa situação, a obrigação
reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente. É o lugar de residência do
proponente e não o lugar da proposta ou da constituição do contrato que definirá a
legislação aplicável à relação jurídica contratual.

No caso de sucessão por morte ou por ausência, segue a regra acima disposta, sendo
aplicável, a lei do país em que o defunto ou o desaparecido tenha domicílio, qualquer que seja
a natureza e a situação dos bens. Aplica-se a teoria da unidade sucessória. A sucessão será
regida pela lei do local de domicílio do falecido. Não são relevantes a nacionalidade e o local
da situação dos bens.
A sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes
seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. Tal disposição do art. 10, § 1º, repetido pelo art.
5º, XXXI, da CF, constitui exceção ao critério do último domicílio, pois, se a lei de nacionalidade
do de cujus for mais favorável ao cônjuge ou filhos, será esta então aplicável.
A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.

4. Competência e Jurisdição
De acordo com o art. 12 da LINDB é competente a autoridade judiciária brasileira (na rea-
lidade, possui jurisdição) quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida
a obrigação (mesmo sentido do art. 21 do CPC/15, que vai além e inclui as ações que tenham
por fundamento fato ou ato praticado no Brasil). Nesses casos, a jurisdição é concorrente com
outros países estrangeiros. Nessas hipóteses, se houver jurisdição prestada no estrangeiro, a
sentença será válida e eficaz no Brasil após ser homologada pelo STJ (CF, art. 105, I, “i”). Não
há litispendência entre as ações no Brasil e no estrangeiro (CPC/15, art. 24). No entanto, tal
norma não se aplica às hipóteses de jurisdição exclusiva (CPC, art. 23 e LINDB, art. 12, § 1º).

5. Casamento: Regras sobre Direito Espacial


O art. 7º da LINDB adota o critério do estatuto pessoal (lei do domicílio da pessoa) para
questões relativas a direito de família.
Os §§ do mesmo artigo apresentam situações especiais. Caso o casamento seja realizado
no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades
da celebração.

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Se os cônjuges forem estrangeiros, o casamento poderá celebrar-se perante autoridades


diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes. Nesse caso, as regras, formalida-
des e procedimentos serão as do país de origem. De igual maneira, é possível o casamento
de brasileiros no exterior, com a aplicação da lei brasileira, se celebrado perante autoridade
consular brasileira (LINDB, art. 18), devendo ambos nubentes ser brasileiros.
De acordo com o § 1º do art. 18, as autoridades consulares brasileiras também poderão ce-
lebrar a separação consensual e o divórcio consensual de brasileiros, não havendo filhos me-
nores ou incapazes do casal, devendo constar da respectiva escritura pública as disposições
relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo
quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou a manutenção do nome adotado
quando se deu o casamento. Nesse caso, nos termos do § 2º do mesmo artigo, é indispensá-
vel a assistência de advogado. Os §§ do artigo 18 da LINDB estão em absoluta sintonia com
o artigo 733 do CPC.

 Obs.: Resumo: para a capacidade: país do domicílio; impedimentos e formalidades: local do


casamento, com a exceção acima referida; invalidade: lei do país do primeiro domicílio
conjugal; e regime de bens: lei do país do domicílio dos nubentes ou, de forma alterna-
tiva, do primeiro domicílio, se estes forem diferentes.

O § 5º do art. 7º da LINDB confere ao estrangeiro casado, que se naturaliza brasileiro, ado-


tar o regime da comunhão parcial de bens, com respeito aos direitos de terceiros e dada esta
adoção ao competente registro (mutabilidade do regime de bens).
O § 6º do art. 7º da LINDB disciplina o divórcio de brasileiros no estrangeiro e seu reco-
nhecimento no Brasil. Basta que um dos cônjuges seja brasileiro. Para que esse divórcio tenha
eficácia no Brasil, deverá se submeter a alguns requisitos e às condições para homologação de
sentenças estrangeiras. Primeiro, a LINDB prevê o que deve ser obedecido o lapso temporal de
um ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual
prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato. No entanto, com a EC 66/2010,
foi suprimida a exigência de um período prévio de separação de fato ou judicial para efetivação
do divórcio. Com o fim da exigência de um lapso temporal prévio, a redação da antiga LINDB
tornou-se inócua ao exigir o período de um ano como um requisito formal para homologação
de decisões judiciais estrangeiras de divórcio.
Segundo, a sentença deverá ser submetida aos pressupostos para a homologação de sen-
tenças estrangeiras no país (CPC, arts. 960 a 965). O STJ, na forma de seu regimento interno,
poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de ho-
mologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produ-
zir todos os efeitos legais. A eficácia de decisão estrangeira depende da homologação desta
no Brasil. Essa é a regra disposta na LINDB.

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Mas atenção, pois o § 5º do art. 961 do CPC dispõe que a sentença estrangeira de divórcio
consensual produzirá efeitos no Brasil, independentemente de homologação pelo STJ. Poderá
ser levada a cartório para registro, independentemente de qualquer atividade judicial.
Em relação à homologação de sentença estrangeira, os arts. 15 a 17 da LINDB preveem re-
quisitos indispensáveis para sua homologação (à semelhança do art. 963 do CPC). Assim, será
executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro que reúna os seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia;
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução
no lugar em que foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado;
e) ter sido homologada pelo STF (no entanto, após a EC 45/04 tal competência passou a
ser do STJ).
Se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar
qualquer remissão por ela feita a outra lei. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como
quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil quando ofenderem a soberania
nacional, a ordem pública e os bons costumes (arts. 16 e 17 da LINDB). A ordem pública deve
estar baseada em valores e princípios constitucionais.
Ainda em relação à homologação de sentença estrangeira, se a decisão for proferida por
países que integram o Mercosul, em razão do Protocolo de “Las Leñas”, o procedimento é mais
célere, mas não dispensa a necessária chancela do STJ.
O § 7º do art. 7º da LINDB dispõem que: “Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe
da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador
aos incapazes sob sua guarda”. Tal parágrafo não está em sintonia com a CF/88 porque faz
referência a “chefe de família”, figura que não se coaduna com a igualdade de direitos e deve-
res entre os cônjuges e companheiros. Mais correto é o mandamento do art. 76 do CC: “Têm
domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso. Parágrafo
único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; (...)”
Se a pessoa não tiver domicílio, será considerado o domicílio o local de sua residência ou
naquele em que se encontre (LINDB, art. 7º, § 8º e CC, art. 71).

6. Prova
A LINDB também disciplina a questão da prova de fatos ocorridos no exterior. O art. 13
dispõe que a prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar,
quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a
lei brasileira desconheça. Portanto, o ônus e os meios de prova são aqueles estabelecidos pela
lei do país onde o fato ocorreu. Não se admite, entretanto, prova cujo meio não é reconhecido
pela legislação brasileira.
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Exemplo: a CF/88 veda a utilização de provas ilícitas.

O CPC brasileiro adota o princípio da atipicidade das provas (art. 369), ou seja, além dos
meios de provas previstas em lei, também são admitidas as não previstas, desde que obser-
vados meios lícitos e morais. O sistema processual brasileiro é aberto, pois não especifica os
meios que podem ser utilizados para a demonstração da verdade dos fatos. O uso de provas
atípicas não é ilimitado, pois deve respeitar os direitos e garantias fundamentais de natureza
processual e material.
Se o juiz não conhecer a lei estrangeira, poderá exigir de quem a invoca prova do texto e
da vigência (LINDB, art. 14 e regra semelhante ao CPC, art. 376). O juiz, em caso concreto,
verificará a pertinência de se determinar a prova do teor e da vigência de lei estrangeira que é
alegada pelas partes.

7. O Direito Público e as Inovações


Vamos tratar agora do direito público e a segurança jurídica: inovações da Lei n. 13.655/2018,
que acrescentou os arts. 20 a 30 à LINDB. É verdade que a referida legislação não tem relação
direta com o direito privado, objeto deste curso, mas, como a LINDB integra este PDF porque
possui regras de vigência, eficácia e aplicação de leis que também interessam ao Direito Civil,
serão realizadas algumas considerações sobre a nova legislação. O foco da legislação é o
direito público, âmbito de atuação dos agentes políticos, mais especificamente as materias
de Direito Administrativo, Financeiro, Orçamentário e Tributário. Tais regras não se aplicam,
portanto, para temas de direito privado.
De início, é importante ressaltar que, há algum tempo, a discussão acerca da análise con-
sequencialista das decisões judicias vem tomando conta do cenário mundial. O estudo do Law
and Economics vem demandando dos operadores do direito uma análise efetiva dos efeitos
práticos das decisões, não apenas para as partes, mas também para todos os afetados, prin-
cipalmente nos casos em que há grande repercussão econômica.
Desse modo, é necessário que seja realizada uma análise argumentativa das consequên-
cias das decisões judiciais ou administrativas, no momento de decidir.
A Teoria consequencialista foi introduzida no Brasil através da edição da Lei n. 13.655/15,
que alterou a LINDB para trazer segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do
direito publico.
Nesse contexto, o art. 20 dispõe:

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.

A norma busca evitar que as decisões proferidas tanto em âmbito judicial, quanto admi-
nistrativo, apresentem apenas argumentos principiológicos vagos e imprecisos, sem

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a devida fundamentação, ou seja, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso.
Tem, assim, o objetivo de reforçar a responsabilidade decisória estatal, em face da existência
de normas jurídicas indeterminadas, e que, por isso, admitem diversas hipóteses interpretati-
vas, e, portanto, mais de uma solução.
De acordo com o parecer da CCJ da Câmara dos Deputados, tal mudança se justificou pela
falta de capacidade de as normas regularem todas as atividades humanas, cabendo aos ope-
radores do Direito interpretá-las a aplicá-las com base em princípios e direitos fundamentais.
O referido relatório ressalta que, apesar de os princípios adaptarem melhor a complexidade
da sociedade, sobretudo em um momento de evolução tecnológica, sua simples aplicação
conferiria margem para amplas divergências interpretativas e contribui para o aumento da in-
segurança jurídica.
Os professores Carlos Ari Sundfeld e Bruno Meyerhof Salama fazem as seguintes observações
sobre a referida norma:

O projeto de lei sugere um art. 20 para a LICC. Ele trataria das decisões judiciais, administrativas
e controladoras (dos tribunais de contas, hoje ativos e interventivos) que se baseiem em “valores
jurídicos abstratos” (que podem ser entendidos como princípios). É fácil entender a importância
de uma norma desse tipo. Como hoje se acredita cada vez mais que os princípios podem ter força
normativa – não só nas omissões legais, mas em qualquer caso – o mínimo que se pode exigir é
que juízes e controladores (assim como os administradores) pensem como políticos. Por isso, a
proposta é que eles tenham de ponderar sobre “as consequências práticas da decisão” e considerar
as “possíveis alternativas” (art. 20, caput e parágrafo único).

A CF está repleta de valores jurídicos abstratos.

Exemplo: dignidade da pessoa humana, moralidade, bem-estar e justiça social, meio ambiente
ecologicamente equilibrado.

São, portanto, princípios constitucionais, que possuem força normativa (pós-positivismo).


Com a norma da LINDB em comento, o legislador busca conter o ativismo judicial.
Marcio André Lopes Cavalcante nos lembra que, com base na força normativa dos princípios
constitucionais, o Poder Judiciário, nos últimos anos, condenou o Poder Público a implementar
uma série de medidas destinadas à assegurar direitos que estavam sendo desrespeitados:
• Município condenado a fornecer vaga em creche a criança de até cinco anos de idade
(STF RE 956475, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 12/05/2016)
• Administração pública condenada a manter estoque mínimo de determinado medica-
mento, utilizado no combate à doença grave, de modo a evitar novas interrupções no
tratamento (STF, 1ª turma. RE 429903/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
25/06/2014)

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• Estado condenado a garantir o direito à acessibilidade em prédios públicos (STF, 1ª Tur-


ma. RE440028/SP. Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/10/2013)
• Poder Público condenado a realizar obras emergenciais em estabelecimentos prisionais
(STF. Plenário. RE 592581/RS. Rel. Min Ricardo Lewandowski, julgado em 13/08/2015)

Quando o art. 20, in fine, afirma a necessidade da observância das consequências práticas
da decisão, a norma busca evidenciar a necessidade de o julgador analisar a realidade fática
apresentada, que não deve se desvincular da conclusão final tomada na decisão.
A norma se aplica para as decisões proferidas nas esferas administrativa (ex.: PAD), con-
troladora (ex.: julgamento das contas de um administrador publico pelo TC) e judicial (ex.: ACP)

Importante a necessária diferenciação do consequencialismo para o utilitarismo.

O utilitarismo de Jeremy Bentham e John Stuart Mill afirma que as ações são boas quan-
do tendem a promover a felicidade, maximizar a utilidade e o prazer. Bentham propunha, por
exemplo, a criação de um reformatório para abrigar mendigos, reduzindo a presença deles nas
ruas. Para ele, quanto mais mendigos nas ruas, menor é a felicidade dos transeuntes.
Tal teoria sofre duras críticas, em especial por violar direitos fundamentais, quando de sua
aplicação.
Assim, apesar da linha tênue entre o consequencialismo e o utilitarismo, é plenamente pos-
sível que o julgador decida, com argumentos consequnecialistas, sem utilizar das premissas
utilitaristas.
O STF, em muitas de suas decisões, utiliza de argumentos consequencialistas. O exemplo
mais marcante está previsto na própria Lei n. 9.868/99 (Lei da ADI), que, em seu art. 27, as-
segura a modulação dos efeitos da decisão de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo,
tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social.
Um exemplo dado por Marcio Cavalcante: em tese, pela aplicação do art. 20 da LINDB, o
juiz poderia deixar de condenar o Estado a fornecer a um doente grave determinado tratamen-
to médico de custo muito elevado sob o argumento de que os recursos alocados para fazer
frente a essa despesa, fariam falta para custear o tratamento de centenas de outras pessoas
(“consequências práticas da decisão).
Prosseguindo, o referido jurista ressalta com razão de que esse art. 20 revela uma enorme
contradição. Isso porque ele defende que o julgador não deva decidir com base em “valores
jurídicos abstratos”, sem que seja considerada as consequências práticas da decisão. Ocorre
que a própria Lei n. 13.655/2018, introduziu na LINDB uma série de expressões jurídicas abs-
tratas, como, por exemplo: “interesses gerais da época”, regularização de modo “proporcional
e equânime”, “obstáculos e dificuldades reais do gestor, “orientação nova sobre norma de con-
teúdo indeterminado”.

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Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar
as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos
interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das
peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos.

O referido parágrafo ressalta a necessidade de motivação de todas as decisões, sejam


elas proferidas por órgãos administrativos, controladores ou judiciais. Em tal fundamentação,
o julgador deverá demonstrar que a decisão tomada é:
1. a necessária e a mais adequada (necessidade e adequação, subprincípios do princípio
da proporcionalidade),
2. explicar as razões pelas quais não são cabíveis outras possíveis alternativas.

Exemplo: ao anular uma licitação eivada de fraude, o administrador deve demonstrar que essa
medida é necessária e adequada para resguardar a moralidade administrativa, e considerando
que houve prejuízo ao erário não seria possível a convalidação (possível alternativa).

O art. 21, em desdobramento do dispositivo anterior, reforça, ainda, a necessidade dos


órgãos de controle e do Judiciário observarem, no âmbito administrativo, com “indicação” e
de forma “expressa”, as consequências jurídicas e administrativas de suas decisões quando
decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa. Veja:

Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação
de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas
consequências jurídicas e administrativas.
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar
as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos
interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das
peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos.

O paragrafo único do art. 21 trata acerca da regularização da situação em caso de invalida-


ção de ato contrato ou ajuste.

Exemplo: no caso de invalidação de contrato administrativo, a autoridade pública julgadora


que determinar a invalidação, deverá definir, se serão ou não preservados os efeitos do contra-
to, como, por exemplo, se os terceiros de boa-fé terão seus direitos garantidos. Deverá decidir,
ainda, se é ou não caso de pagamento de indenização ao particular que já executou as presta-
ções, conforme disciplinado pelo art. 59 da Lei n. 8.666/931.

1
NETO, Floriano de Azevedo Marques et. al. Resposta aos comentários tecidos pela Consultoria Jurídica do
TCU ao PL n. 7.448/2017. Conjur [s.d]. Disponível em: < https://www.conjur.com.br/dl/parecer-juristas-reba-
tem-criticas.pdf>. Acesso em: 1 de ago. 2021

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O art. 22 traz a lume o que alguns juristas denominam de primado da realidade. Em resu-
mo: significa que a realidade deve sempre ser observada, no que tange a interpretação das
normas sobre gestão pública.

Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados.
§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou nor-
ma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado
ou condicionado a ação do agente.
§ 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida,
os danos que dela provierem para a administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenu-
antes e os antecedentes do agente.
§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções de
mesma natureza e relativas ao mesmo fato

Os elaboradores do projeto justificam que:

a norma em questão reconhece que os diversos órgãos de cada ente da Federação possuem re-
alidades próprias que não podem ser ignoradas. A realidade de gestor da União evidentemente é
distinta da realidade de gestor em um pequeno e remoto município.

No entanto, fica o alerta de que se trata de norma perigosa. Isso porque pode ser utilizada
como uma brecha para vencer comandos legais impositivos, sob a falácia das contingências
da realidade.
As dificuldades orçamentarias não podem ser invocadas como defesa, para não imple-
mentação de políticas públicas mínimas (a teoria da reserva do possível não pode ser invoca-
da diante da garantia do mínimo existencial).
Assim, a diretriz a se seguir na interpretação da norma, pelos órgãos de controle, é de que
a realidade não pode vencer a garantia de direitos fundamentais da coletividade.
Por fim, o § 2­º do referido artigo elenca as circunstâncias que devem ser levadas em con-
sideração na aplicação das sanções:
a) a natureza e a gravidade da infração cometida;
b) os danos que dela provierem para a administração pública;
c) as circunstâncias agravantes ou atenuantes, e
d) os antecedentes do agente.
No art. 23 e 24 da LINDB, há a consagração do direito à segurança jurídica previsto no art.
5º, caput da CF, que visa, em sua vertente objetiva, a garantia da certeza e estabilidade das
relações ou situações jurídicas; e em sua vertente subjetiva a proteção à confiança legítima.
Assim prevê o art. 23 que:

Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou orienta-
ção nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo condicionamento

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de direito, deverá prever regime de transição quando indispensável para que o novo dever ou con-
dicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo
aos interesses gerais [consagração dos regimes de transição e a modulação dos efeitos de decisão
administrativa baseada em novo entendimento].

Por regime de transição entende-se o regime jurídico de passagem, que possui duração
temporária, que busca oferecer condições diferenciadas para viabilizar o cumprimento de nova
interpretação jurídica aos seus destinatários que, sob o regime anterior, encontravam-se em
posição mais benéfica. Como se fosse uma modulação dos efeitos.
O CPC/15 também traz a modulação dos efeitos das decisões, no entanto, proferidas pelo
STF, nos seguintes termos:

Art. 927.
§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos tribu-
nais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos
efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica.

Com isso, o legislador buscou, através do primado da razoabilidade, que o julgador consi-
dere os custos e o tempo necessário para que os administrados se adaptem ao novo cenário.
Nessa linha de raciocínio, o art. 24 consagra a permanência das relações e situações ju-
rídicas já constituídas com base no direito e em orientações gerais da época, ainda que haja
posterior mudança de orientação geral:

Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará
em conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de
orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas. Parágrafo único. Consi-
deram-se orientações gerais as interpretações e especificações contidas em atos públicos de cará-
ter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática
administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.

O art. 30 da LINDB encerra o primado da segurança jurídica afirmando que “as autoridades
públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive
por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas às consultas”. E no seu para-
grafo único dispôs que “os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculan-
te em relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.”
Segundo Jorge Reinaldo Vanossi, “segurança jurídica consiste, pois, no conjunto de condi-
ções que tornam possíveis as pessoas o conhecimento antecipado e reflexivo das consequên-
cias diretas de seus atos e de seus fatos à luz da liberdade conhecida”.
Paula de Barros Carvalho destaca a característica da bidirecionalidade da segurança jurí-
dica passado/futuro. Quanto ao passado, exige-se um único postulado: a irretroatividade. No

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que aponta para o futuro, muitos são os expedientes principiológicos necessários, Como, por
exemplo, a garantia do direito adquirido, do ato jurídico perfeito, da coisa julgada, bem como o
uso da interpretação trazida por diversas normas, em especial, da analisada acima.
Nos arts. 26 e 27, a lei trás a possibilidade da celebração de termos de compromisso e
ajustamento de conduta na administração pública, entre autoridades públicas e particulares.
A inserção desse dispositivo é mais um exemplo do abandono de uma administração pública
autoritária, para uma administração pautada na consensualidade e participação. Nessa estei-
ra, ao invés da atuação unilateral e impositiva da vontade administrativa, a solução para o caso
concreto, deverá ser construída a partir do consenso e da participação social.
Não é a vigência da norma jurídica que será contrastada, mas sim a sua melhor interpreta-
ção, em razão do alto grau de indeterminação de grande parte de seus comandos. A lei retira
do administrador a responsabilidade de buscar a melhor interpretação da norma e traz a pos-
sibilidade de solução negociada.
Mostra-se indispensável a prévia manifestação do órgão jurídico (procuradorias) para a re-
alização desse compromisso, bem como audiências públicas, em casos de maior repercussão.
Ainda, o art. 27 permite ao julgador a imposição de compensação, em prol daquele que
tenha sofrido prejuízos anormais ou injustos, ou que tenha auferido benefícios indevidos resul-
tantes do processo ou da conduta, comissiva ou omissiva, dos envolvidos no âmbito judicial,
administrativo e controlador.
O art. 28 trata acerca da responsabilidade do agente público por decisões ou opiniões téc-
nicas no caso de dolo ou erro grosseiro.

Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em
caso de dolo ou erro grosseiro.

O erro grosseiro é sinônimo de culpa grave.


O dispositivo em comento é aplicável, em tese, em caso de responsabilidade regressiva.
Porém, neste caso, o dispositivo conflita com a regra prevista na CF, art. 37, § 6º. Isso porque
a responsabilidade regressiva da CF se contenta com dolo ou culpa. Veja, com grifos nossos:

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos


responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

O referido artigo trata da responsabilidade pessoal do agente e não da pessoa jurídica ao


qual está vinculado, à semelhança da Lei de Improbidade Administrativa (LIA).
No entanto, difere da Lei de Improbidade Administrativa (LIA), pois o referido dispositivo
(art. 28 da LINDB) trata acerca da responsabilidade civil do agente público.
A LIA, principalmente após as modificações realizadas pela Lei 14.230/2021 se dirige à
esfera de direito administrativo sancionador, conforme prevê o §4º do art. 1 da Lei em questão:

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“Aplicam- se ao sistema da improbidade disciplinado nesta Lei os princípios constitucionais


do direito administrativo sancionador”. Nesse diapasão, a Lei 14.230/2021 também alterou
o elemento subjetivo da conduta do agente, para admitir apenas o dolo, como vontade livre e
consciente de alcançar o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11 da Lei de Improbidade,
não bastando a voluntariedade do agente. Assim, de acordo com o referido diploma, atualmen-
te, apenas atos de improbidade administrativa dolosos são sancionados pela lei.
A culpa grave (erro grosseiro), atualmente, ao que parece, deve ficar restrita à responsabi-
lidade civil no que tange ao ressarcimento ao erário. Afirmamos, “ao que parece”, pois trata-se
de legislação nova, que trouxe alterações alvo de duras críticas pela doutrina, mas que ainda
não foram objeto de apreciação pelas Cortes Superiores.
Vale ressaltar que o objetivo da norma foi de estabelecer limites a responsabilização do
gestor e dos profissionais que emitem opiniões técnicas na administração, a fim de extirpar o
medo dos agentes de boa-fé, quando urge a necessidade de atuação. Isso porque, em muitos
casos, o não agir trará consequências desastrosas, como, por exemplo, o efeito que passou a
ser denominado de “apagão das canetas”.
Outro ponto negativo da insegurança quanto à responsabilização dos agentes ocorre com
a prática de posturas mais conservadoras, ainda que não fossem as melhores cabíveis.
No entanto, Marcio Cavalcante, ao interpretar o dispositivo, afirma que, apesar da expres-
são agente público ser ampla, não lhe parece que o objetivo do legislador tenha sido de alcan-
çar os agentes políticos (incluindo os magistrados).
Segundo o autor: “a tradição histórica do Brasil é a de que os magistrados respondem por
suas decisões, no entanto, apenas nos casos de dolo ou fraude, e apenas regressivamente, ou
seja, depois de o Estado ter sido condenado”. Essa é a redação do art. 143, I, do CPC/15 e do
art. 49, I da LC 35/79 (LOMAN).
Justifica afirmando que:

a razão para isso é simples. Uma disposição legal que estipule responsabilidade do juiz por erro
grosseiro (culpa) seria inconstitucional por tolher, de forma desproporcional a independência judi-
cial, afrontando a separação de poderes.” Bem como pelo fato de que “a decisão judicial é natural-
mente passível de recurso. Assim toda decisão judicial que fosse reformada em instância superior,
poderia, em tese, ser considerada como errada.

Também não seria aplicável aos membros do Ministério Público, da Defensoria Pública e
da Advocacia Pública, haja vista, possuírem disposições especificas, que não foram revogadas
pelo art. 28 da LINDB, em razão do princípio da especialidade, que disciplinam responsabilida-
de apenas em caso de dolo ou fraude (CPC/15, arts. 181, 184, e 187).
Por fim, o art. 29, traz a possibilidade de consultas públicas, em qualquer órgão ou poder,
quando da edição de atos normativos pela autoridade administrativa (salvo os de mera orga-
nização interna, onde não se faz necessária tal consulta). Trazendo assim o reforço da legi-
timidade democrática da administração, por meio do instrumento da consulta pública, como

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forma de participação dos cidadãos na tomada de decisões administrativas (que se liga à


denominada democracia participativa).
Tais novidades normativas ganham relevo no atual momento de pandemia, que ora viven-
ciamos. O que tem demandado dos agentes públicos a adoção de uma série de medidas, que
serão alvo de posterior controle pelos órgãos que possuem atribuição para tanto.
E, neste controle dos atos administrativos praticados, deve ser levado em consideração
quando da verificação futura dos atos probos ou ímprobos do agente público, o enredo fático
da situação de emergência da pandemia e das medidas adotadas, tais como a quarentena, a
restrição de liberdades, o aumento do poder de polícia, entre outros.
Para finalizar essa parte da matéria, vamos treinar com alguns exercícios.

007. (QUADRIX/–IDURB/ANALISTA DE DESENVOLVIMENTO URBANO E FUNDIÁRIO - AD-


VOGADO/2020) Segundo a Lei de introdução às normas do direito brasileiro, julgue o item.
O chamado consequencialismo deve pautar as decisões nas esferas administrativa, controla-
dora e judicial, levando‐se em conta, na interpretação de valores abstratos, a necessidade e a
adequação da medida adotada às alternativas possíveis.

O consequencialismo jurídico visa a análise dos efeitos práticos das decisões para as partes,
em especial nos casos em que há grande repercussão econômica. Em outras palavras, as
consequências das decisões, sejam judiciais ou administrativas, devem ser levadas em consi-
deração no momento de decidir e argumentar.
No Brasil, o consequencialismo foi introduzido no ordenamento com a publicação da Lei n.
13.655/18, que alterou a LINDB, para trazer “segurança jurídica e eficiência na criação e na
aplicação do direito público”2.
Assim, dispõe o art. 20:

Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possí-
veis alternativas.
Certo.

008. (QUADRIX/–IDURB/ANALISTA DE DESENVOLVIMENTO URBANO E FUNDIÁRIO - AD-


VOGADO/2020) Segundo a Lei de introdução às normas do direito brasileiro, julgue o item.
2
DIAS, Felipe W. de Lima; NASCIMENTO, Victor Hugo M. O consequencialismo jurídico e o artigo 20 da Lindb.
Conjur [s.l] 7 de jun. de 2019. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-jun-07/opiniao-consequencialis-
mo-juridico-artigo-20-lindb>. Acesso em: 1 de ago. de 2021.

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A regularização de ato ou contrato invalidado na esfera administrativa é impositiva, desde


que não onere em excesso os sujeitos atingidos.

Veja o que diz no art. 21, parágrafo único, da LINDB:

Art. 21
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar
as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos
interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das
peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos.

Exemplo de aplicação do dispositivo: no caso de invalidação de contrato administrativo, a auto-


ridade pública julgadora que determinar a invalidação deverá definir se serão ou não preser-
vados os efeitos do contrato, como, por exemplo, se os terceiros de boa-fé terão seus direitos
garantidos. Deverá, ainda, decidir se é ou não o caso de pagamento de indenização ao particu-
lar que já executou as prestações, conforme disciplinado pelo art. 59 da Lei n. 8.666/93.

Errado.

009. (QUADRIX/–IDURB/ANALISTA DE DESENVOLVIMENTO URBANO E FUNDIÁRIO - AD-


VOGADO/2020) Segundo a Lei de introdução às normas do direito brasileiro, julgue o item.
Os obstáculos reais do administrador devem ser levados em conta na interpretação de normas
sobre gestão pública, sem prejuízo dos interesses dos administrados.

Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados.
Certo.

010. (QUADRIX/–IDURB/ANALISTA DE DESENVOLVIMENTO URBANO E FUNDIÁRIO - AD-


VOGADO/2020) Segundo a Lei de introdução às normas do direito brasileiro, julgue o item.
A mudança interpretativa de norma de conteúdo aberto preverá, a bem da segurança jurídica,
regime de transição, o que equivale a uma ultra‐atividade capaz de, mesmo já à luz de entendi-
mento novo, admitir como válida interpretação anterior já superada.

Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou orienta-
ção nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo condicionamento

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de direito, deverá prever regime de transição quando indispensável para que o novo dever ou con-
dicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo
aos interesses gerais.
Certo.

011. (QUADRIX/–IDURB/ANALISTA DE DESENVOLVIMENTO URBANO E FUNDIÁRIO - AD-


VOGADO/2020) Segundo a Lei de introdução às normas do direito brasileiro, julgue o item.
A revisão de ato, na esfera controladora, que já haja exaurido seus efeitos obedecerá à teoria
do fato consumado, privilegiando‐se sua manutenção, a bem da segurança jurídica, ainda que
o ato contradiga as orientações gerais à época de sua prática.

Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará
em conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de
orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas.
Errado.

Parte II – Princípios Constitucionais do Direito Civil Contemporâneo


Caro(a) aluno (a), agora sim iniciaremos o nosso curso de Direito Civil, e com uma advertên-
cia primordial: Saber Direito Civil não é saber os artigos do Código Civil – é muito mais que isso.
Para entender o Direito Civil, devemos saber relacionar os diferentes institutos. Por isso,
é necessário que você tenha um conhecimento de como o sistema funciona. Os artigos são
desdobramentos lógicos de todo esse entendimento sistêmico.
Este primeiro PDF é uma aula teórica, fundamental para se entender os pressupostos para
que se possa analisar todos os institutos de Direito Civil.

1. Histórico do Direito Civil


O Direito Civil teve seu auge no chamado “Estado Liberal” (que teve sua consolidação com
a Revolução Francesa de 1789), período em que se exaltava a liberdade e a autonomia dos in-
divíduos nas relações privadas e, como consequência, não se admitia a intervenção do Poder
Público nos assuntos particulares.
No Estado Liberal, o objetivo do Direito Civil era assegurar a plena autonomia do indivíduo
em suas relações privadas. A Constituição, basicamente, servia para limitar o poder do Estado,
ao passo que o Código Civil regulava as relações privadas.
Prevalecia um sistema “fechado” de leis, não admitindo, em um primeiro momento, qual-
quer tipo de interpretação (juiz era a boca da lei). Apenas no final do século XIX passou-se a
admitir a interpretação meramente literal da lei.

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O patrimônio preponderava sobre a pessoa humana. O liberalismo tinha como pilares a


propriedade e o contrato. A propriedade era um direito mais do que absoluto.
No Estado Liberal, tivemos duas etapas: a primeira, a da conquista da liberdade; e a segun-
da: a exploração dessa liberdade. Em uma sociedade desigual, a plena liberdade e autonomia
podem ser mais nefastas do que o poder absolutista ou a centralização de poder, pois, em um
Estado “Liberal” ou liberalista, a vontade do mais forte sempre vai prevalecer sobre a vontade
do mais fraco. Diante da desigualdade provocada pelo liberalismo, o movimento passou a su-
portar críticas, principalmente porque os valores humanitários não estavam sendo observados
nesse período.
A primeira guerra mundial foi o marco, no qual teve o início da transição de um Estado Li-
beral para o Estado Social (essa transição coincide com os direitos fundamentais de segunda
geração), o qual, posteriormente, converteu-se para o atual Estado Democrático de Direito.
A ideologia do Estado Social era baseada na justiça social e distributiva. A Constituição
nesse estado traz regras sobre a ordem econômica e social, permitindo, assim, a intervenção
estatal nas relações privadas. No Estado Social, o Direito Civil passou a transigir com essas
ideias de justiça social, curvando-se para a necessidade de regulação das relações privadas
pelo Estado sempre que houvesse necessidade desta intervenção estatal.
No entanto, a consolidação dessas ideias no Brasil somente se deu com a CF/88. Nesse
contexto, o Estado passa a intervir nas relações sociais sempre no intuito de tutelar o mais
fraco no caso concreto.
No âmbito do Direito Civil isso fica evidente, pois começam a se multiplicar normas de or-
dem pública, ampliam-se as limitações à autonomia da vontade, modificam-se os paradigmas,
tudo agora em prol do interesse coletivo e não mais do indivíduo. Com isso, o Estado passa a
intervir nas relações privadas e buscam, embora sem sucesso, promover a igualdade concreta,
chamada de igualdade substancial, diferente da mera igualdade formal do sistema liberal.
A autonomia da vontade passa a ser mitigada por princípios e valores sociais e a proprieda-
de, instituto pilar do Estado Liberal ao lado do contrato, no Estado Social somente tem a tutela
estatal se tiver uma função social.
O Direito Civil deixa de ser um instrumento para a garantia da autonomia e liberdade dos
cidadãos para servir como meio de promoção de justiça social nas relações privadas. A Cons-
tituição deixa de ter concepção estritamente política para adotar também uma concepção jurí-
dica. Assim, todas as normas constitucionais possuem força normativa. O CC passa a interagir
com a CF, em um diálogo de fontes. Faz-se necessário uma releitura do Direito Civil, agora à luz
do Direito Constitucional.
Com o Estado Social, sai de cena o proprietário para dar lugar à pessoa; desponta a afetivi-
dade como valor essencial da família; a função social como limite e conteúdo das obrigações
e da propriedade; a equivalência material; dentre outros valores.
A bipartição do direito em público e privado não corresponde mais à realidade jurídica atu-
al, em virtude da evolução da sociedade que adquiriu maior complexidade nas suas relações
intersubjetivas e, principalmente, devido à constitucionalização que o Direito Civil suportou.
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1.1. Direito Civil Tradicional/Clássico:


O Direito Civil Clássico é fruto do Pós-Estado liberal, patrimonialista, imperialista forjado
em regras de conduta. Nesse sistema, o legislador resolve previamente seus problemas, já
te entrega a solução pronta em uma regra. Os princípios são fontes secundárias apenas para
suprir lacunas.

Três Pilares do Direito Civil Clássico:

Primeiro pilar de sustentação: Positivismo


Positivismo clássico: a atividade hermenêutica era ultra/megarestrita. (juiz era a boca da
lei). Centralização do Direito no poder legislativo.
Positivismo normativo: Kelsen, Teoria Pura do Direito. No positivismo normativo, você já
tem uma evolução, porque já há atividade interpretativa. Kelsen entende que o sistema jurídico
é autossuficiente, ou seja, ele não conversa com outros sistemas. A moral está fora do Direito.
É por isso que se chama teoria pura. A análise do positivismo se liga à validade da norma.
Segundo pilar: Os institutos de Direito Civil são analisados sob uma perspectiva es-
trutural/formal.

Exemplo: caso você tenha posse, basta que a situação fática esteja adequada ao que a lei
prevê. Ou seja, eu busco uma compatibilidade entre a situação fática e a norma. Eu busco um
conceito (o que é posse? O que é família? O que é direito sucessório?), porque esse conceito é
suficiente para que o seu direito seja legitimado pelo Estado. Você não precisa dizer o que você
vai fazer com ele e esse direito não precisa ter uma finalidade. Os institutos de Direito Civil são
fins em si mesmo.

Terceiro pilar: Estado liberal. O Estado liberal se liga apenas aos direitos fundamentais de
primeira geração, as liberdades públicas negativas (ideia de abstenção).

1.2. Direito Civil Contemporâneo


Estado já constitucionalizado, aberto corporativo, principiológico. O que fundamenta o Di-
reito Civil, o que dá unidade ao Direito Civil não é o Código Civil, mas a Constituição Federal.
Neste sistema, os princípios possuem força normativa, de modo que a sua atividade como
intérprete é muito mais sofisticada es intensa. A solução só se dará em um caso concreto
após a argumentação jurídica sofisticada, exigindo assim um esforço hermenêutico. E qual o
problema disso? Você terá muitas perguntas e quase nenhuma resposta, porque você vai ter
que buscar essas respostas à luz do caso concreto. E se tiver respostas, essas serão imedia-
tas, temporais, tópicas, servem para hoje, amanhã já não servem mais. Ou seja, a ideia de que
o conhecimento é totalmente falível e socialmente condicionado.

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Como compreender o Direito Civil através dessa nova perspectiva de constitucionaliza-


ção/vinculado a valores sociais condicionais?

Em vez de analisarmos simplesmente uma regra jurídica, devemos buscar qual é o funda-
mento de cada instituto e qual a finalidade desse instituto.
São dois pilares: FUNDAMENTO e FINALIDADE.
No Direito Civil Contemporâneo, todos os institutos são instrumentais, em outras palavras,
tudo é meio para algo.

Exemplo: a família é meio para que eu possa tutelar a dignidade das pessoas que integram
aquele núcleo. A família tem que ser propícia para que as pessoas possam desenvolver plena-
mente a sua personalidade e ter uma realização pessoal plena.
Outro exemplo: O ECA traz norma expressa afirmando que a adoção é irrevogável. No entan-
to, o STJ, interpretando tal regra, diz que: Nem sempre a adoção é irrevogável, ela somente o
será se o vínculo de filiação que decorre da adoção trouxer para o adotado dignidade, senão
ele pode desconstituir esse vínculo e ir procurar outro. Ou seja: Os direitos aqui são funcionali-
zados, e eles (i) devem ter um objetivo (=finalidade); e necessariamente nós trabalhamos com
uma (ii) visão instrumental dos institutos.

Então, TUDO é instrumento para o objetivo maior do Direito Civil: A concretização da digni-
dade da pessoa humana.

Paradigmas do Direito Civil Contemporâneo: Pós-Positivismo

No pós-positivismo, o Direito se relaciona com a moral. Esses valores morais ingressam


no ordenamento jurídico por meio de princípios. Teoria da Constituição Contemporânea (Ne-
oconstitucionalismo): a norma jurídica é o gênero, possui como espécie os princípios (man-
dados de otimização/prima facie na medida do possível) e as regras (descrições objetivas de
conduta/mandados definitivos). Consagra a Teoria da ponderação de Robert Alexy. Os prin-
cípios são responsáveis por levar para dentro do sistema esses valores morais. De sorte que
hoje há direitos da personalidade, boa-fé objetiva, função social. No pós-positivismo, nós va-
mos ter de conferir legitimidade às nossas decisões pela argumentação jurídica feita com
base em princípios.
Vem a lume o Direito Civil Constitucional, que nada mais é do que você interpretar regras
e princípios que estão no Código Civil de acordo com os valores sociais constitucionais, em
razão do Constitucionalismo Contemporâneo.
• Análise Estrutural/Funcional dos Institutos de Direito Civil

A finalidade passa a integrar o conteúdo do direito. De todo direito, decorrem poderes.

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Exemplo: se você tem o direito de propriedade, desse direito, decorrem poderes do proprietário
(visão clássica/liberal). No entanto, no atual paradigma, o direito deve atender a uma função
(finalidade). Desse modo, o titular do direito, passa a não só possuir poderes, como também
deverá cumprir certos deveres.

Em outras palavras, o Direito Civil hoje = Função + Poder/Dever.


O Positivismo trabalha com a ideia da validade formal: norma é justa porque é válida, é
uma análise em abstrato. Aqui no Pós positivismo não, o parâmetro não é de validade, mas de
justiça, que nós vamos ter de apurar na análise de cada caso concreto. Do caso concreto para
a norma e não da norma para o caso concreto como era no Direito Civil clássico.
No positivismo a valoração era realizada apenas pelo legislador. A valoração no pós-positi-
vismo é feita em duas etapas: valoração do legislador e a valoração do intérprete no momento
da aplicação dessa norma. A mudança de postura do legislador constitucional, levando princí-
pios e regras de direito privado a migrarem para o Texto Maior, faz com que o Direito Civil seja
estudado sob uma perspectiva constitucional.
Todavia, como alguns princípios e regras de direito privado migraram para o texto consti-
tucional, exige-se do intérprete uma nova postura em relação ao Direito Civil. Qual seria essa
nova postura? Parece óbvio, mas o Direito Civil deve ser interpretado e aplicado de acordo e em
consonância com os princípios constitucionais fundamentais.
O Direito Civil constitucional está diretamente vinculado ao neoconstitucionalismo, que
tem como um de seus pilares a constitucionalização dos direitos em geral, e do Direito Civil
em especial. Vale ressaltar, no entanto, que isso não significa que o Direito Civil passa a ser
ramo do direito público. O Direito Civil continua a ser o conjunto de normas jurídicas, regras e
princípios, que disciplina e regula, fundamentalmente, relações jurídicas entre atores privados.

1.3. Características do Direito Civil Pós-Positivismo


Em razão da constitucionalização do Direito Civil, os institutos são analisados não apenas
na sua perspectiva estrutural (elementos que integram cada instituto), mas também funcional.
O Direito Civil contemporâneo passa a ser o resultado da análise dos elementos estruturais
(Código Civil) e funcional (valores constitucionais que fundamentam e legitimam os institutos
jurídicos – Constituição Federal).
No pós-positivismo as regras jurídicas são gênero, dos quais são espécies as regras e os
princípios. O sistema civil passa a ser aberto. Os princípios passam a ter força normativa pri-
mária. A pessoa humana é inserida no centro do sistema jurídico e a ela deve ser garantida a
uma vida digna. A pessoa humana passa a ser um fim em si mesma.
A moral e a ética interagem com o direito no pós-positivismo. O sistema se abre para dialo-
gar com esses valores sociais. No pós-positivismo, a norma, para ser justa, deve estar adequa-
da a valores morais, que no atual modelo estão relacionados à finalidade e função do direito,
que justifica e legitima todos os institutos de Direito Civil. No positivismo os princípios são
fontes secundárias e supletivas de direito.

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Vale destacar, por fim, que o pós-positivismo se conecta com o neoconstitucionalismo, pois
é o fundamento jusfilosófico deste. O neoconstitucionalismo tem as seguintes características:
constitucionalização do direito – irradiação das normas e valores constitucionais para todo o
sistema; princípios com força normativa; reaproximação entre direito e moral; judicialização
da política e das relações sociais; modificação da teoria das normas, fontes e interpretação
(hermenêutica) e teoria dos direitos fundamentais edificados na dignidade da pessoa humana.

Mas qual a consequência do pós-positivismo para o Direito Civil?

• Abertura valorativa do sistema civil:

As normas possuem valores e o sistema passa a permitir a valoração quando da concre-


ção da norma. Como se viabiliza essa abertura valorativa? Princípios – equiparados a normas
jurídicas – passam a ter força normativa. Consequência: impõe-se um constante diálogo do
intérprete com a norma jurídica (desse diálogo emerge a compreensão) e a funcionalização
(finalidade) dos direitos subjetivos.
Tal diálogo exige uma nova teoria da interpretação: a compreensão em uma dimensão
histórica – o intérprete não pode ignorar a concreta situação histórica em que se encontra. A
tradicional dicotomia entre direito público e direito privado, de origem romana, é abalada pelo
Estado Democrático de direito:
Tal dicotomia tende a desaparecer sem maiores traumas. No Estado Social, o público pre-
valece sobre o privado e, por conta disso, tudo passa a ter interesse público, mesmo que diga
respeito a uma relação privada.

Exemplo: um contrato de compra e venda entre dois atores ou protagonistas privados, em prin-
cípio, não teria qualquer interesse público, razão pela qual o Código Civil seria suficiente para
regular esse negócio jurídico. Certo? Em termos.

Sem dúvida, esse negócio interessa aos atores privados, mas, em virtude do princípio da
função social, previsto na norma constitucional (também no Código Civil, é verdade – art. 421),
passa a interessar também, e principalmente, à coletividade, pois, em razão da função social,
os efeitos dessa relação jurídica transcendem o negócio para repercutir na coletividade, ou
seja, na esfera jurídica de terceiros não integrantes daquele contrato.
O contrato deverá ser útil para os protagonistas da relação e, principalmente, para a coleti-
vidade. Logo, se esse contrato for excelente para as partes, mas prejudicial ao meio ambiente
ou às relações de trabalho, poderá ser invalidado por ausência de função social.
Tepedino (Temas de Direito Civil) ressalta a superação dessa dicotomia ao dizer que é
inevitável a alteração dos confins entre o direito público e o direito privado, de tal sorte que a
distinção deixa de ser qualitativa e passa a ser meramente quantitativa, nem sempre podendo
definir qual exatamente é o território do direito público e qual é o território do direito privado.

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Em outras palavras, pode-se provavelmente determinar os campos do direito público ou do di-


reito privado pela prevalência do interesse público ou do interesse privado, não pela inexistên-
cia de intervenção pública nas atividades de direito privado ou pela exclusão da participação
do cidadão nas esferas da administração pública.

Não confunda publicização do Direito Civil com constitucionalização.

Paulo Luiz Neto Lobo afirma que:

A denominada publicização o compreende o processo de crescente intervenção estatal, especial-


mente no âmbito legislativo, característica do Estado Social do século XX. Tem-se a redução do espa-
ço de autonomia privada para a garantia da tutela jurídica dos mais fracos. A ação intervencionista ou
dirigista do legislador terminou por subtrair do Código Civil matérias inteiras, em alguns casos trans-
formadas em ramos autônomos, como o direito do trabalho, o direito agrário, o direito das águas, o
direito da habitação, o direito de locação de imóveis urbanos, o estatuto da criança e do adolescente,
os direitos autorais, o direito do consumidor. O fato de haver mais ou menos normas cogentes não
elimina a natureza originária da relação jurídica privada, vale dizer, da relação que se dá entre titulares
de direitos formalmente iguais; não é esse o campo próprio do direito público. É certo que o Esta-
do Social eliminou o critério de distinção tradicional, a saber, o interesse; o interesse público não é
necessariamente o interesse social, e os interesses públicos e privados podem estar embaralhados
tanto no que se considerava direito público, quanto no direito privado. Muitos propugnam pela supe-
ração da velha dicotomia, que resiste à falta de outra mais convincente e mantém sua utilidade no
plano didático. Independentemente do grau de intervenção estatal, se o exercício do direito se dá por
particular em face de outro particular, ou quando o Estado se relaciona paritariamente com o particu-
lar sem se valer de seu império, então o direito é privado. Em suma, para fazer sentido, a publicização
deve ser entendida como o processo de intervenção legislativa infraconstitucional, ao passo que a
constitucionalização tem por fito submeter o direito positivo aos fundamentos de validade constitu-
cionalmente estabelecidos. (Com grifos nossos, Constitucionalização do Direito Civil).

2. Princípios Constitucionais e sua Relevância para o Direito Civil


A melhor definição de princípio é de autoria do mestre Celso Antônio Bandeira de Mello,
que define princípio jurídico “como mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce
dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo lhes o espí-
rito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir
a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido
harmônico” (Curso de direto administrativo).
Atualmente, a força normativa dos princípios constitucionais e a eficácia jurídica dos direi-
tos sociais previstos na Constituição Federal são uma realidade. Em razão disso, passa a ser
construída uma teoria dos direitos fundamentais, toda ela baseada no princípio constitucional
e cláusula geral da dignidade da pessoa humana. A nossa Constituição passa a colocar a pessoa

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humana no centro das relações jurídicas, lhe conferindo uma tutela diferenciada, principalmen-
te no âmbito dos direitos fundamentais.
Como a pessoa humana passa a ter tutela especial do Estado, a preservação de sua dig-
nidade constitui o próprio fundamento do nosso Estado Democrático de Direito. Os direitos
fundamentais cumprem esse papel, qual seja, preservar a dignidade, para garantir à pessoa
humana o mínimo necessário para ter uma vida digna (um mínimo existencial). Ou seja, o Es-
tado Social deve garantir à pessoa humana um conjunto de direitos fundamentais para que ela
tenha o mínimo para sua existência, sendo que esse “mínimo” se refere a questões espirituais
(garantia da honra, por exemplo) e materiais (subsistência, a impenhorabilidade do bem de
família é exemplo disso).
Os Valores Constitucionais Socais podem ser apostos nos seguintes parametros cons-
titucionais:
a) Dignidade da pessoa humana:
A CF/88, em seu art. 1º, III, dispõe que a República tem por fundamento a dignidade da
pessoa humana. O princípio da dignidade da pessoa humana insere o ser humano no centro
do sistema jurídico, em torno do qual gravitam todos os demais institutos.
É por isso que existe, no CC, por exemplo, a Teoria do Patrimônio Mínimo: Patrimônio como
meio para garantir o mínimo existencial material para a pessoa viver com dignidade. Em decor-
rência disso, temos que é nula a doação de todos os bens (CC, art. 548)
O STJ, no Resp. 1.026.981/RJ, de relatoria da Min. Nancy Andrighi, julgado em 04.02.2010,
em matéria relacionada a benefícios previdenciários para a união de pessoas do mesmo sexo,
ressaltou, como fundamento principal para justificar o reconhecimento desse direito, a digni-
dade da pessoa humana.
O atual Código Civil nitidamente humanizou as relações jurídicas privadas, ao deixar em se-
gundo plano as questões e valores meramente patrimoniais. Os valores existenciais certamen-
te devem prevalecer sobre os valores patrimoniais. É a pessoa se sobrepondo ao patrimônio.
O principal objetivo da inclusão do capítulo acerca dos direitos da personalidade (de forma
não exaustiva), logo no início do CC, é demonstrar que a tutela da pessoa humana e de sua
condição existencial é o principal objetivo da lei. Este seria o Código do “ser” e não do “ter”.
A dignidade da pessoa humana é uma cláusula geral, a base de todo o ordenamento jurí-
dico e o princípio norteador das relações privadas. Embora indeterminada, como os demais
princípios, a dignidade da pessoa humana também possui um núcleo essencial. A dificuldade
do intérprete será justamente concretizar esse princípio, pois seu grau de generalidade e abs-
tração é muito intenso. Há parâmetros mínimos de aferição que devem sempre ser observados
para a concretização normativa da dignidade da pessoa humana:
1. Não instrumentalização (a pessoa não é meio, mas fim em si mesma);
2. Autonomia existencial (direito de fazer escolhas, projetos de vida e de atuar segundo
essas escolhas, projetos);
3. Direito ao mínimo existencial – condições espirituais e materiais mínimas para a
dignidade;

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4. Direito ao Reconhecimento – necessidade de respeito às identidades singulares.


Vale ressaltar que a dignidade da pessoa humana não é um princípio qualquer. É a base
de todos os princípios, superior, o que leva a doutrina à conclusão correta de que ele somente
poderia conflitar com ele mesmo.
b) Solidariedade Social:
As relações privadas hoje são relações de cooperação, de mútua assistência. Com a soli-
dariedade modificam-se os conceitos de adimplemento, inadimplemento e a caracterização da
relação entre credor e devedor.
Atualmente, credor e devedor são ambos titulares de direitos fundamentais e, por conta da
solidariedade que norteia a obrigação moderna, há entre eles uma relação de mútuo respeito e
cooperação, um auxiliando o outro, sempre na busca de um adimplemento satisfatório para o
credor e menos oneroso para o devedor.
A teoria do adimplemento substancial nada mais é do que um desdobramento do princípio
da solidariedade constitucional. Em caso de adimplemento parcial, mas substancioso, ou seja,
quase total, é possível preservar a obrigação, evitando a resolução desta com base no inadim-
plemento mínimo.
Tal princípio busca uma conciliação entre as exigências coletivas e os interesses particula-
res. O Direito Civil agora suporta grande alteração em seu conteúdo. Os valores mudaram. As
relações são privadas, o direito é privado, mas o interesse público sempre deve preponderar, o
que não desnatura sua essência privada.
c) Igualdade Substancial:
A igualdade substancial é diferente da igualdade formal. A formal era aquela garantida pelo
Estado Liberal, que partia do princípio de que todos deviam ter o mesmo tratamento, como se
todos tivessem os mesmos poderes. Todos sabiam que a vontade do mais forte, no liberalis-
mo, sempre prevalecia sobre a vontade do mais fraco. Tal ideia ingênua de igualdade provocou
intensas injustiças sociais, permitindo que a oligarquia burguesa explorasse essa igualdade,
“garantida” pelo Estado Liberal.
Com o Estado Social, o princípio da isonomia passou a ter outro significado. Não basta que
todos sejam iguais perante a lei, deve o Estado tratar igualmente os iguais e desigualmente os
desiguais, na medida da sua desigualdade. O Código de Defesa do Consumidor expressa esse
sentimento, ao tratar desigualmente fornecedores e consumidores, porque, na essência, são
desiguais. É essa igualdade substancial que repercute nas relações privadas.
O Código Civil também busca essa igualdade nas relações privadas, quando, no art. 157,
permite a anulação do negócio jurídico se restar caracterizada a lesão (as relações devem nas-
cer equilibradas); no art. 317, que prevê a revisão judicial de qualquer obrigação se, por motivo
imprevisível, houver desequilíbrio da prestação comparada em dois momentos (formação e
execução da obrigação) e no art. 478, que admite a resolução do contrato se houver excessiva
onerosidade (as relações devem se manter equilibradas).

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A igualdade material também dá sustentação aos princípios da função social e da boa-fé


objetiva, paradigmas do Direito Civil. A relação jurídica somente terá função social, entre outros
motivos, se a dignidade das pessoas estiver sendo preservada, se houver solidariedade ou
cooperação mútua e se, principalmente, houver equilíbrio econômico e financeiro e tratamento
materialmente igualitário, ou seja, desigual para pessoas desiguais, na exata medida e propor-
ção desta desigualdade.
É interessante a constatação de Cristiano Chaves, segundo o qual a Magna Carta assumiu
verdadeiro papel reunificador do sistema, passando a demarcar limites da autonomia privada,
da propriedade, do controle de bens e da proteção de núcleos familiares, entre outros institutos
de direito privado (Direito Civil: teoria geral).
Embora os princípios e regras de direito privado tenham migrado para a Constituição Fede-
ral, o Código Civil continua sendo o ramo do direito que agrega o conjunto de princípios e nor-
mas que disciplinam as relações jurídicas comuns de natureza privada. A expressão “Direito
Civil Constitucional” é uma variação hermenêutica ou mudança de postura no ato de interpre-
tar a Lei Civil, ou seja, significa o processo de elevação ao plano constitucional dos princípios
fundamentais de Direito Civil.

3. Paradigmas do Direito Civil Contemporâneo


O Direito Civil contemporâneo, constitucionalizado e inserido em um modelo ou sistema
pós-positivista, se submete a alguns paradigmas: socialidade, eticidade e operabilidade.
a) Operabilidade: para conferir maior flexibilidade (e porque não poder) ao intérprete, a lei
civil faz uso sistemático de cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados. A técnica
adotada pela lei civil permitirá análise concreta, efetiva, pontual e adequada na solução de
casos complexos e difíceis. Todavia, tais cláusulas abertas não são um salvo conduto para o
intérprete introduzir valores pessoais, subjetivos e arbitrários na interpretação e aplicação de
norma. É óbvio que essa valoração e essa integração deverão ser de acordo com os valores
fundamentais do sistema, ainda que (e principalmente se) estes valores não coincidam com
os valores pessoais do intérprete.
b) Socialidade: superação do individualismo e do sentido absoluto da vontade. Os direitos
subjetivos, baseados na vontade, passam a ter uma função. Essa funcionalização do direito é a
adequação da vontade com os valores sociais constitucionais. Direito Civil, passa a ser direito/
função, poder/dever.
A função social nada mais é do que finalidade. O interesse individual do titular do direito
somente será legítimo se a finalidade que o justifica for concretizada. Por isso, além de po-
deres, o titular do direito também possui deveres, positivos e negativos, capazes de manter a
adequação entre direito e finalidade. A finalidade e a funcionalidade passam a conformar os
direitos. Não seria uma limitação, mas causa de justificação.

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c) Eticidade: retratada no princípio da boa-fé objetiva ou boa-fé de comportamento/condu-


ta, que difere da boa-fé subjetiva, boa-fé de conhecimento. Nas relações privadas, tal principio
impõe às partes padrão ético de comportamento e conduta em suas relações.
O Princípio da boa-fé objetiva tem três funções de alta relevância no Direito Civil atual:
1º - Função de Interpretação/Integração (CC, art. 113) – parâmetro de interpretação para
atos jurídicos e sentido estrito e negócio jurídico.
2º - Função de controle (CC, art. 187) – a boa-fé objetiva impõe limites ao exercício de direi-
tos subjetivos e potestativos, fundamento da teoria do abuso de direito, seja por ação ou omis-
são. No abuso de direito, o titular do direito, ao exercê-lo, não age de acordo com a função ou
finalidade que legitima e justifica o seu próprio direito. Portanto, o abuso de direito nada mais é
do que uma incompatibilidade concreta e material entre o direito e a finalidade que o justifica;
3º - Função de complemento (CC, art. 422) – criação de deveres anexos, colaterais, secun-
dários, ainda que implícitos ou não explícitos nas obrigações em geral, como dever de lealda-
de, proteção, informação, entre outros, essenciais para o adimplemento de obrigações, pois a
violação destes deveres de conduta poderá caracterizar inadimplemento (violação positiva do
contrato), independentemente do cumprimento da prestação principal.

012. (AOCP/FESF-SUS/ADVOGADO – AZUL/2010) Os princípios norteadores do atual Códi-


go Civil Brasileiro são
a) Boa-fé, Eticidade e Operabilidade.
b) Socialidade, Legalidade e Operabilidade.
c) Socialidade, Eticidade e Operabilidade.
d) Eticidade, Legalidade e Morabilidade.
e) Efetividade, Adequação e Boa-fé.

Como vimos acima, os princípios norteadores do atual CC são: Socialidade, Eticidade e Operabilidade.
Letra c.

4. Diferença Básica entre Cláusula Geral e Conceito Jurídico Indetermina-


do

Tanto a cláusula geral quanto o, impropriamente denominado, conceito jurídico indetermi-


nado possuem conteúdos vagos, abstratos e genéricos. Os poderes que deles derivam exigem
do intérprete que preencha os seus conteúdos com valores.
Mas o que os diferencia?
Preenchido o conceito jurídico indeterminado, o resultado (solução jurídica) já está previsto ou pré-
-estabelecido na norma. Ou seja, a consequência jurídica é dada pelo legislador e não pelo intérprete.

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Exemplo: no caso do art. 317 do CC, caberá ao intérprete preencher o sentido da expressão
“motivos imprevisíveis” com valores pessoais. Preenchido este conteúdo, a consequência jurí-
dica, qual seja, a revisão judicial da obrigação, já está prevista na lei.

Já nas cláusulas gerais, o intérprete preenche os valores e atribui a solução que lhe pareça a
mais correta. Ou seja, nas cláusulas gerais tanto a integração quanto a consequência são levadas
a efeito pelo intérprete. Como exemplo, o princípio da função social, previsto no art. 421 do CC.
Portanto, é na consequência jurídica (efeito) que se localiza a principal diferença entre
cláusula geral e conceito jurídico indeterminado.
Como exemplo do poder delegado pelo legislador no CC ao aplicador do direito, temos que
as relações privadas devem se nortear pelos princípios da boa-fé objetiva e da função social.
No entanto, em nenhum momento a Lei Civil define, com limites bem precisos, boa-fé objetiva
e função social. Qual a razão para isso? Simples: no caso concreto, o operador do direito vai ter
a obrigação de verificar se, naquela relação jurídica privada, em si considerada, foram observa-
dos tais princípios. Em termos abstratos, é praticamente impossível resolver um conflito entre
particulares. A análise do caso concreto, mais do que nunca, passou a ser fundamental para a
realização da tão sonhada justiça social.

5. Diferença entre Regras e Princípios


As regras jurídicas possuem um conteúdo objetivo e previamente definido pelo legislador.
As regras de conduta são descritas de forma objetiva para terem incidência em uma situação
jurídica determinada.
As regras jurídicas nada exigem do intérprete. O legislador, previamente, já valorou a norma
jurídica. Para lidar com um sistema de regras jurídicas, como ocorria durante o Estado Liberal,
basta “conhecer a lei”. Desse sistema fechado, que é o mundo das regras jurídicas, vem o adá-
gio “aplicação da lei ao caso concreto”. É suficiente a subsunção, a adequação da conduta ao
disposto na lei.
Não há conflitos entre regras jurídicas. Por isso que se diz que as regras são aplicadas no
sistema do “tudo ou nada”. Ou o fato se amolda à regra jurídica ou não se amolda. Havendo
várias regras, apenas uma pode se encaixar na situação concreta, ao passo que as demais são
automaticamente excluídas.
O “princípio” tem um conteúdo mais rico, pois identifica valores a serem preservados, em
especial valores existenciais, tendo em vista que a pessoa humana foi colocada no centro do
sistema jurídico.
Não há como comparar essa categoria de norma jurídica com as regras. Os princípios
contêm relatos com maior grau de abstração, não especificam a conduta a ser seguida, não
descrevem situações em termos objetivos e se aplicam a um conjunto amplo e indeterminado
de fatos e situações. Os princípios são dotados de generalidade e abstração. Não se prestam

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a definições precisas e objetivas, o que permite que a norma se adapte, ao longo do tempo, a
diferentes realidades. Daqui a 200 anos, ainda se discutirá o que é função social do contrato.
Isso porque os princípios retratam valores, e estes se alteram com o passar dos tempos.
No que se refere à aplicação, ante a possibilidade de colisão dos princípios, o intérprete
deverá fazer escolhas fundamentais por um juízo de “ponderação”. Na “ponderação”, ele iden-
tifica as normas pertinentes, seleciona os fatos relevantes e, com a conclusão, atribui o peso
ou a ponderação do mais relevante, utilizando-se do princípio da proporcionalidade (e seus
subprincípios: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito).
Para definir essas diferenças entre regras e princípios, Gomes Canotilho (Direito Constitu-
cional e teoria da Constituição) adota os seguintes critérios:
• grau de abstração – os princípios jurídicos são normas com um grau de abstração rela-
tivamente mais elevado do que as regras de direito;
• grau de determinabilidade na aplicação do caso concreto – os princípios, por serem va-
gos e indeterminados, carecem de mediações concretizadoras (do legislador ou do juiz),
enquanto as regras são suscetíveis de aplicação direta;
• caráter de fundamentabilidade no sistema das fontes dos direitos – os princípios são
normas de natureza ou com um papel fundamental no ordenamento jurídico devido à
sua posição hierárquica no sistema das fontes (os princípios constitucionais) ou à sua
importância estruturante dentro do sistema jurídico (princípio do Estado de Direito);
• proximidade da ideia de direito – os princípios são standards juridicamente vinculantes,
radicados nas exigências de justiça (Dworkin) ou na ideia de direito (Larenz), as regras
podem ser normas vinculativas com um conteúdo meramente funcional;
• natureza normogenética – os princípios são fundamentos de regras, isto é, são normas
que estão na base ou constituem a ratio de regras jurídicas, desempenhando, por isso,
uma função normogenética fundamentante.

Segundo Robert Alexy, a distinção entre regras e princípios não é de grau, mas sim uma
distinção qualitativa. Isso porque os princípios são mandatos de otimização, ordenam que algo
seja realizado na maior medida possível (podem ser satisfeitos em vários graus), dentro, po-
rém das possibilidades fáticas e jurídicas existentes.
Para Alexy a solução de um conflito entre regras somente ocorre se, introduzir-se em uma
das regras em conflito, uma cláusula de exceção, capaz de dar fim ao conflito ou se uma das
regras for declarada inválida.
Já a colisão entre princípios é resolvida a partir de uma relação de precedência condicio-
nada. De modo que um deles terá precedência em face do outro, sob determinadas condições.
E isso dependerá do sopesamento a ser realizado entre os interesses/bens jurídicos tutelados
pelos princípios colidentes.
Em resumo, para Alexy o conflito entre regras deve ser solucionado pela dimensão da vali-
dade, devendo-se operar a subsunção; enquanto que o conflito entre princípios deve ser resol-
vido pela dimensão peso, aplicando-se a máxima da ponderação/sopesamento.

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RESUMO
Parte I – LINDB

A LINDB traça aspectos gerais sobre a aplicação das normas jurídicas. Norma sobre direito
ou lex legum (norma sobre normas).
Fontes do Direito: de onde vem ou formas de expressão.
Se dividem em:
a) Fontes formais – constam expressamente na LINDB, e se dividem em primarias (Leis); e
secundárias (analogia, costumes e princípios gerais do direito)
b) Fontes informais – não estão previstas na LINDB: doutrina, jurisprudência e equidade.
Fontes formais secundárias = fontes indiretas ou mediatas. São os denominados métodos
de integração normativa.
1. Analogia: consiste em aplicar a uma data situação que não está prevista em lei uma nor-
ma jurídica próxima (analogia legis ou propriamente dita) ou um conjunto de normas jurídicas
que possuem sintonia com aquele caso (analogia iuris).
Analogia # (diferente) Interpretação extensiva: na analogia rompe-se com os limites previs-
tos na norma, havendo integração jurídica. Na interpretação extensiva, apenas amplia-se o seu
campo, havendo subsunção.
2. Costumes: práticas reiteradas no tempo.
3. Princípios gerais do direito: fontes basilares para qualquer ramo do direito. PGD consa-
grados no CC: Eticidade (ética e boa-fé), Socialidade (função social), Operabilidade (simplicida-
de e efetividade – cláusulas gerais).
Inclui-se também os Princípios Base do Direito Civil Constitucional: Dignidade da pessoa
humana, solidariedade social, igualdade substancial.
Equidade: admitida no sistema jurídico somente em caso de previsão legal expressa.
Vigência da lei: força vinculante ou obrigatoriedade. Brasil: 45 dias, salvo previsão em con-
trário. Estado estrangeiro: três meses.
Princípio da obrigatoriedade simultânea ou vigência sincrônica: vigência em todo o territó-
rio nacional simultaneamente.
Princípio da continuidade ou permanência: em regra, a lei terá vigência por prazo ou perí-
odo indeterminado, até que outra a revogue. (revogação total: ab-rogação/revogação parcial:
derrogação).
Em regra, não se admite a repristinação (volta da vigência de lei anterior, por ter sido revo-
gada a lei que a revogou) no direito brasileiro, salvo disposição expressa.
As situações jurídicas já consolidadas sob a vigência da lei antiga devem ser preservadas
pela nova legislação (LINDB, art. 6º, proteção ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à
coisa julgada).

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Eficácia da lei no espaço: Regra: estatuto pessoal.


Exceção: obrigações (lei do local onde foi constituída); relações jurídicas cujo objeto seja
imóvel (lei do lugar da coisa); sucessão (LINDB, art. 10, § 1º)
Casamento: estatuto pessoal, com algumas situações especiais previstas nos §§ do art.
7º da LINDB. Para a capacidade: país do domicílio; impedimentos e formalidades: local do ca-
samento, com a exceção acima referida; invalidade: lei do país do primeiro domicílio conjugal;
e regime de bens: lei do país do domicílio dos nubentes ou, de forma alternativa, do primeiro
domicílio, se estes forem diferentes.
Prova: a prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar,
quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que
a lei brasileira desconheça (LINDB, art. 13).
Inovações LINDB – Direito público:
• Arts. 20 e 21:
− Reforçar a responsabilidade decisória, principalmente quando do uso dos princípios
como razão de decidir (CPC/15, art. 489, § 1º, II)
− Teoria consequencialista: análise das consequências práticas da decisão.
− Regularização da situação através do princípio da proporcionalidade (adequação e
necessidade) e análise das possíveis alternativas.
• Art. 22: Primado da realidade.

No entanto, a teoria da reserva do possível não pode ser invocada diante da garantia do
mínimo existencial.
• Arts. 23, 24, 30: direito à segurança jurídica (direito fundamental previsto no caput do
art. 5º da CF)
− Segurança jurídica: vertente objetiva (garantia da certeza e estabilidade das relações
ou situações jurídicas); e em sua vertente subjetiva (proteção à confiança legitima).
− Consagração do regime de transição e modulação dos efeitos no novo entendimento.
• Arts. 26 e 27: celebração de termos de compromisso. Novo modelo de Administração
Pública consensual e participativa (LINDB, art. 29 – consultas públicas).
• Art. 28: responsabilidade pessoal do agente público que agir com dolo ou erro grosseiro.

Parte II - Princípios Constitucionais do Direito Civil Contemporâneo

DIREITO CIVIL TRADICIONAL/CLASSICO - 3 PILARES: positivismo, institutos sob uma pers-


pectiva formal/estrutural, Estado liberal. Princípios são fontes secundárias, apenas para su-
prir lacunas.
DIREITO CIVIL CONTEMPORÂNEO – PILARES: pós-positivismo e análise funcional dos
institutos. Constitucionalização do Direito Civil. Valorização dos princípios. Filtragem constitu-
cional. Abertura valorativa do sistema, enfraquecimento da dicotomia público/privado.

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Princípios Constitucionais no Direito Civil Contemporâneo: dignidade da pessoa humana


(pessoa humana como centro do sistema jurídico civilista); solidariedade social (função social
– poder/dever, direito/função); igualdade substancial/material (também da sustentação aos
princípios da função social e boa-fé objetiva).
Boa-fé objetiva = cláusula geral que serve como parâmetro de interpretação dos negócios
jurídicos (CC, art. 113), esta limita o exercício dos direitos subjetivos, sob pena de caracterizar
o abuso de direito (CC, art. 187) e cria deveres anexos, colaterais, secundários ou instrumen-
tais (CC, art. 422).
Três paradigmas do Direito Civil (Princípios implícitos no CC):
• Operabilidade: conferir flexibilidade ao sistema, através das cláusulas gerais e conceitos
jurídicos indeterminados;
• Socialiadade: os direitos subjetivos, baseados na vontade, passam a ter uma função.
Essa funcionalização do direito é a adequação da vontade com os valores sociais cons-
titucionais;
• Eticidade: retratado no princípio da boa-fé objetiva ou boa-fé de comportamento/conduta.

Cláusula geral x conceito jurídico indeterminado: ambos possuem conteúdo vago, abstra-
to e genérico. Diferenciam-se na consequência jurídica (efeito).
• Conceito jurídico indeterminado, o resultado (solução jurídica) já está previsto ou pré-es-
tabelecido na norma.
• Cláusulas gerais, o intérprete preenche os valores e atribui a solução que lhe pareça a
mais correta.

Diferença entre regras e princípios


• Regras: conteúdo objetivo, incidência em uma situação jurídica determinada, aplica-se
por subsunção, pelo sistema “tudo ou nada”, dimensão validade.
• Princípios: conteúdo amplo, maior grau de abstração, dotados de generalidade abstra-
ção; colisão entre princípios: juízo de ponderação, dimensão peso.

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QUESTÕES DE CONCURSO
013. (CESPE/TCE-PE/ANALISTA DE GESTÃO – JULGAMENTO/2013) Com relação às nor-
mas processuais, julgue o item seguinte.
As leis processuais civis e penais não se sujeitam às regras quanto à eficácia temporal das leis cons-
tantes da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, uma vez que têm regramento próprio.

A LINDB é considerada uma lex legum, ou seja, uma norma sobre direito. Consistente num
conjunto de normas cujo objetivo é disciplinar as próprias normas jurídicas. Aplicável a todos
os ramos do direito.
São aplicáveis não só ao Direito Civil, mas também a todo ordenamento jurídico, tanto o direi-
to privado quanto o público, salvo naquilo que for regulado de forma diferente na legislação
específica.
Errado.

014. (CESPE/–SEDF/ANALISTA DE GESTÃO EDUCACIONAL - DIREITO E LEGISLA-


ÇÃO/2017) Julgue o seguinte item, que trata de vigência das leis, direitos da personalidade e
pessoas jurídicas.
Caso uma lei nova não dispuser sobre a data de início da sua vigência, entende-se que ela en-
trará em vigor na data da sua publicação.

LINDB, Art. 1º: “Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias de-
pois de oficialmente publicada.”
Errado.

015. (CESPE/MPE-PI/ANALISTA MINISTERIAL - ÁREA PROCESSUAL/2018) Julgue o item


a seguir acerca de direitos da personalidade, de registros públicos, de obrigações e de bens.
Conforme a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ), cassino que funcione no
exterior de forma legal poderá cobrar, no Brasil, por dívida de jogo contraída por brasileiro
no exterior.

A cobrança de dívidas contraídas em países onde jogos de azar são legais pode ser feita por
meio de ação ajuizada pelo credor no Brasil, submetendo-se ao ordenamento jurídico nacional.
Com base nesse entendimento, a 3ª Turma do STJ entendeu ser possível que o cassino Wynn
Las Vegas, dos EUA, cobre um brasileiro que deixou dívida superior a US$ 1 milhão em torneio
de pôquer no local.
Certo.

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016. (CESPE/–BNB/ANALISTA BANCÁRIO/2018) A respeito do ato jurídico perfeito, julgue o


item subsecutivo.
O ato jurídico perfeito é aquele já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que tenha
sido efetuado.

LINDB, Art. 6º, § 1º “Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao
tempo em que se efetuou.”
Certo.

017. (CESPE/–ANCINE/TODOS OS CARGOS - ANALISTA ADMINISTRATIVO ÁREAS I, II E


III/2013) À luz das disposições constantes da LINDB, julgue o item abaixo.
A lei do país no qual nasce a pessoa determina as regras sobre o início de sua personalidade.

LINDB, art. 7º: “A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo
e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família”.
Errado.

018. (QUADRIX/CREF - 13ª REGIÃO (BA-SE)/ANALISTA ADVOGADO/2018) No que se refere


à aplicação das leis no tempo e no espaço, julgue o item a seguir.
Suponha‐se que Jacó tenha nascido em Israel, tenha domicílio no Brasil e, ao realizar uma
viagem à Síria, tenha falecido. Nesse caso, considerando as disposições contidas na Lei de
Introdução às Normas de Direito Brasileiro, aplicam‐se as normas sírias para a definição do fim
da personalidade de Jacó.

Art. 7º da LINDB. No caso, seria a lei brasileira a ser aplicada para fins de definição do fim da perso-
nalidade de Jacó.
Errado.

019. (CESPE/FUNPRESP-JUD/ANALISTA – DIREITO/2016) A respeito da Lei de Introdução


às Normas do Direito Brasileiro, das pessoas, dos negócios jurídicos, da prescrição e da prova
do fato jurídico, julgue o item seguinte.
Ocorre a ultratividade de uma norma jurídica quando essa norma continua a regular fatos ocor-
ridos antes da sua revogação.

O fenômeno da ultratividade ocorre quando uma lei que já foi revogada continua sendo aplica-
da aos fatos que ocorreram durante sua vigência, ou mesmo aos fatos ocorridos após a sua

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revogação. Quando falo em ULTRATIVIDADE, devo saber que a lei não está mais em vigor. A
lei ultrativa vai ser aplicada após a sua revogação, mas poderá incidir sobre fatos ocorridos
ANTES da sua revogação ou sobre fatos ocorridos APÓS a sua revogação.
Certo.

020. (CESPE/–SERPRO/ANALISTA – ADVOCACIA/2013) A respeito das normas relativas à


aplicação e vigência da lei contidas na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, julgue
os itens seguintes.
A lei federal nova aprovada pelo Congresso Nacional que estabeleça disposições gerais sobre
uma norma em vigor no Brasil há mais de 50 anos revogará a lei anterior e, salvo disposição
em contrário, terá efeito retroativo.

LINDB, art. 2º, § 2º: “A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já
existentes, não revoga nem modifica a lei anterior”.
Art. 6º: “A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e a coisa julgada”.
Errado.

021. (IBFC/TRE-PA/ANALISTA JUDICIÁRIO – JUDICIÁRIA/2020) A Lei de Introdução às Nor-


mas do Direito Brasileiro (LINDB), enquanto norma de sobre direito, define normas de vigência
e aplicação de leis, e não tem sua incidência restrita ao direito privado. Nesse sentido, assinale
a alternativa incorreta.
a) A nova lei, que estabelece disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revo-
ga nem modifica a lei anterior. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura
por ter a lei revogadora perdido a vigência.
b) Consideram-se atos jurídicos perfeitos os direitos que o seu titular ou alguém por ele possa
exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabe-
lecida inalterável, a arbítrio de outrem.
c) Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. Trata-se do Princípio da
obrigatoriedade da norma que comporta exceções previstas no próprio ordenamento jurídico.
d) No caso de conflito entre norma posterior e norma anterior, valerá a primeira, pelo critério
cronológico, caso de antinomia de primeiro grau aparente.

a) Certa. É perfeitamente possível a coexistência de normas de caráter geral e de caráter es-
pecial.

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LINDB, art. 2º, § 2º: “A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já
existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.”
§ 3º: “Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora
perdido a vigência” – Repristinação: ocorre quando uma norma revogada volta a valer no caso
de revogação da sua norma revogadora. O nosso ordenamento jurídico não admite o efeito
repristinatório automático, salvo quando houver previsão na lei revogadora.
b) Errada. A alternativa traz o conceito de direito adquirido. De acordo com o art. art. 6º, § 1º da
LINDB, reputa-se ato jurídico perfeito O JÁ CONSUMADO SEGUNDO A LEI VIGENTE AO TEMPO
EM QUE SE EFETUOU
c) Correta. LINDB, art. 3º: “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”.
Estamos diante do Princípio da obrigatoriedade. Há exceções, como por exemplo, no erro de
proibição do direito penal.
d) Correta. Antinomia nada mais é do que a presença de duas normas válidas conflitantes, sem
que se possa dizer qual delas deverá ser aplicada em determinado caso concreto. Trata-se
assim de conflito entre normas. Para solução desse impasse, devem ser levados em conta
três critérios: cronológico (em que a norma posterior prevalece sobre norma anterior); especia-
lidade (onde a norma especial prevalece sobre norma geral); hierárquico (sendo que a norma
superior prevalece sobre norma inferior).
O critério da hierarquia é considerado o mais forte de todos, em razão superioridade da Consti-
tuição Federal. Em seguida, vem o critério da especialidade, sendo o cronológico considerado
o mais fraco de todos.
Quanto aos metacritérios envolvidos, a antinomia pode ser de: 1º grau (o conflito de normas
envolve apenas um dos critérios acima expostos); 2º grau (o choque de normas válidas envol-
ve dois dos critérios analisados).
Temos, ainda, a antinomia: aparente (em que a situação pode ser resolvida de acordo com os
metacritérios anteriores); real (em que a situação não pode ser resolvida de acordo com os
metacritérios antes expostos).
Vejamos as hipóteses de antinomia de 1º grau aparente:
a) O conflito entre norma posterior e norma anterior, valendo a primeira (critério cronológico);
b) O conflito entre norma especial e geral, prevalecendo a norma especial (critério da es-
pecialidade);
c) O conflito entre norma superior e norma inferior, prevalecendo a primeira (critério hie-
rárquico).
Vejamos, agora, as hipóteses de antinomias de 2º grau aparente:
a) O conflito entre norma especial anterior e outra geral posterior, prevalecerá a primeira (crité-
rio da especialidade);
b) O conflito entre norma superior anterior e outra inferior posterior, prevalecerá a primeira (cri-
tério hierárquico).
Letra b.

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022. (CESPE/TJ-PA/ANALISTA JUDICIÁRIO – DIREITO/2020) O conflito entre uma norma


especial anterior e uma norma geral posterior classifica-se como
a) antinomia de 1º grau real e deve ser resolvido pelo critério hierárquico.
b) antinomia de 1º grau aparente e deve ser resolvido pelo critério temporal.
c) antinomia de 2º grau real e somente pode ser resolvido por decisão de corte constitucional.
d) antinomia de 2º grau aparente e deve ser resolvido pelo critério da especialidade.
e) antinomia insuperável e somente pode ser resolvido por solução do Poder Legislativo.

Depois de resolver a questão acima, fica bem mais fácil encontrar o gabarito desta, não é mes-
mo? Veja que dois critérios de conflitos estão presentes no enunciado, assim trata-se de an-
tinomia de 2º grau. Ademais, trata-se de conflito aparente, pois como já vimos anteriormente,
norma especial não conflita com norma geral.
Letra d.

023. (CESPE/CEBRASPE/MINISTÉRIO DA ECONOMIA/TÉCNICO DE COMPLEXIDADE IN-


TELECTUAL – DIREITO/2020) À luz da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, que
disciplina a aplicação das leis em geral, julgue o item seguinte.
O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso
de dolo ou erro grosseiro.

LINDB, art. 28. “O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões téc-
nicas em caso de dolo ou erro grosseiro.”
Certo.

024. (CESPE/CEBRASPE/MINISTÉRIO DA ECONOMIA/TÉCNICO DE COMPLEXIDADE IN-


TELECTUAL – DIREITO/2020) À luz da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, que
disciplina a aplicação das leis em geral, julgue o item seguinte.
Em procedimento de aferição de irregularidades em gestão de contratos administrativos, de-
vem ser avaliadas as dificuldades reais do gestor, consideradas as circunstâncias práticas a
ele impostas.

Segundo a LLINDB?

Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados.

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§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou nor-
ma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado
ou condicionado a ação do agente.
Certo.

025. (CESPE/MPE-CE/TÉCNICO MINISTERIAL/2020) À luz da Lei de Introdução às Normas


do Direito Brasileiro, julgue o item a seguir.
Ao decretar a invalidação de um ato, a autoridade administrativa deve indicar, de forma expres-
sa, as consequências jurídicas e administrativas dessa decisão.

Veja o diz o art. 21 da LINDB:

Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação
de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas
consequências jurídicas e administrativas.
Certo.

026. (CESPE/CEBRASPE/MPC-PA/ANALISTA MINISTERIAL - CONTROLE EXTERNO/2019)


De acordo com a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, é cabível a responsabili-
zação pessoal de um agente público em razão de suas opiniões técnicas se ficar provada a
existência de
a) dolo ou erro grosseiro.
b) dolo ou culpa.
c) negligência, imprudência ou imperícia.
d) erro grosseiro ou negligência.
e) má-fé ou culpa grave.

LINDB, art. 28. “O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões téc-
nicas em caso de dolo ou erro grosseiro.”
Letra a.

027. (CESPE/CEBRASPE/MPC-PA/ANALISTA MINISTERIAL – DIREITO/2019) No curso de


uma representação em determinado tribunal de contas, o Ministério Público junto ao tribunal
apresentou um extrato de movimentação bancária emitido por um banco internacional, como
prova de movimentação financeira irregular praticada fora do Brasil.
Nesse caso, segundo a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, a lei de regência para
verificação da legitimidade do meio de produção dessa prova deve ser a legislação
a) brasileira.
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b) do país onde a movimentação irregular tiver sido feita.


c) do país onde se encontra a sede do referido banco.
d) do país onde o representado tenha residência.
e) indicada em tratado internacional de cooperação.

Veja o que diz o art. 13 da LINDB:

Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao
ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira
desconheça.
Letra b.

028. (VUNESP/PREFEITURA DE ITAPEVI – SP/ANALISTA JURÍDICO - PROCURADOR MU-


NICIPAL/2019) No que diz respeito ao local de aplicação da lei, nos termos da Lei de Introdu-
ção às Normas do Direito Brasileiro, assinale a alternativa correta.
a) A sucessão por morte ou ausência obedece à lei do país de origem do defunto ou desapare-
cido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
b) Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a imóveis situa-
dos no Brasil.
c) A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei brasileira.
d) Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país
em que residir o proponente, ainda que diversa do local onde situados os bens.
e) A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que ele for celebrado,
independentemente do local de residência das partes.

a) Errada. Não é do país de origem, mas sim do país do domicílio do defunto ou do ausente.
LINDB, art. 10. “A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domicilia-
do o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.”
b) Certa. LINDB, art. 12, § 1º: “Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações
relativas a imóveis situados no Brasil.”
c) Errada. Como vimos na questão acima, nos termos do art. 13 da LINDB, a prova dos fatos
ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar.
d) Errada. LINDB, art. 8º. “Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes,
aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados.”
e) Errada. LINDB, art. 9º. “Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em
que se constituírem.”“§ 2º A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar
em que residir o proponente.”
Letra b.

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029. (CESPE/TRE-PI/ANALISTA JUDICIÁRIO – JUDICIÁRIA/2016) O aplicador do direito, ao


estender o preceito legal aos casos não compreendidos em seu dispositivo, vale-se da
a) interpretação teleológica.
b) socialidade da lei.
c) interpretação extensiva.
d) analogia.
e) interpretação sistemática.

A analogia é empregada na ausência de texto legal específico; ela faz incidir uma lei em uma
hipótese por ela não prevista. Como na questão: deseja-se estender o preceito legal de uma
norma aos casos não compreendidos em seu dispositivo. Estamos, portanto, diante da do
instituto da analogia.
Letra c.

030. (FCC/TRT - 2ª REGIÃO (SP)/ANALISTA JUDICIÁRIO - OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIA-


DOR/2014) Em termos de eficácia legislativa, entende-se que a lei é o parâmetro maior para o
juiz. Este, porém, na omissão da lei, deverá decidir o caso de acordo com a analogia, os costu-
mes e os princípios gerais de direito. Este enunciado concerne ao princípio.
a) da eventualidade processual.
b) da obrigatoriedade da lei.
c) da obrigatoriedade da jurisdição.
d) do devido processo legal.
e) do livre convencimento e o da persuasão racional.

A lei pode conter lacunas, mas o direito não. Isso porque é proibido pelo ordenamento jurídico
que o juiz pronuncie o non liqued. Em outras palavras, o juiz não pode deixar de decidir um
caso, alegando ausência de norma jurídica, pois a CF/88 prevê, em seu art. 5º, XXXV, o princípio
da inafastabilidade da jurisdição, ou seja, da obrigatoriedade da jurisdição.
Letra d.

031. (MÉTODO SOLUÇÕES EDUCACIONAIS/PREFEITURA DE PLANALTO DA SERRA – MT/


PROCURADOR JURÍDICO/2019) Acerca das cláusulas gerais e de conceitos legais indetermi-
nados, assinale a alternativa correta:
a) Cláusulas gerais são normas com diretrizes indeterminadas, que trazem expressamente
uma solução jurídica (consequência).
b) Cláusulas gerais são normas com diretrizes determinadas, que não trazem expressamente
uma solução jurídica (consequência).

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c) Conceitos legais indeterminados são normas com diretrizes indeterminadas, que não tra-
zem expressamente uma solução jurídica (consequência).
d) Conceitos legais indeterminados são normas com diretrizes indeterminadas, que trazem
expressamente uma solução jurídica (consequência).

Cláusulas gerais são normas com diretrizes indeterminadas, que não trazem expressamente
uma solução jurídica (consequência). A norma é inteiramente aberta. Um exemplo é a cláusula
geral da boa-fé objetiva, disposta em vários artigos do CC/02.
De outro lado, denomina-se conceito jurídico indeterminado, quando palavras ou expressões
contidas numa norma são vagas/imprecisas, de modo que a indeterminação se encontra no
significado das mesmas, e não nas consequências legais de seu descumprimento. Um grande
exemplo de conceito jurídico indeterminado está no parágrafo único do art. 927 do CC/02, que
trata da “atividade de risco”. Veja que, no exemplo, a dúvida está no significado (conteúdo/
pressuposto) de “atividade de risco”, e não nas consequências jurídicas (responsabilidade civil
objetiva).
Letra d.

032. (GUALIMP/PREFEITURA DE PORCIÚNCULA – RJ/PROCURADOR ADJUNTO/2019) O


Código Civil, é norteado por alguns Princípios básicos, dentre eles, o Princípio da Socialidade.
Dentre as alternativas abaixo, marca aquele que demonstra a caraterística marcante do referi-
do princípio.
a) Respeito à dignidade humana, dando prioridade à boa-fé subjetiva e objetiva, à probidade e
à equidade.
b) A prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, sem perda, porém, do valor funda-
mental da pessoa humana.
c) Autonomia do julgador, para que, em busca de solução mais justa, a norma, que, contendo
cláusulas gerais ou conceitos indeterminados, possa, na análise de caso por caso, ser efetiva-
mente aplicada, com base na valoração objetiva, vigente na sociedade atual.
d) Adequar a regra ao caso concreto, recorrendo aos critérios da igualdade e da proporcionali-
dade, de modo a realizar não a justiça do caso concreto, mas o direito do caso concreto.

Princípio da socialidade: Segundo apontava o próprio Miguel Reale, um dos escopos da nova
codificação foi o de superar o caráter individualista e egoísta da codificação anterior. Assim, a
palavra “eu” é substituída por “nós”. Todas as categorias civis têm função social: o contrato, a
empresa, a propriedade, a posse, a família, a responsabilidade civil.
Letra b.

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033. (FGV/MPE-RJ/ESTÁGIO FORENSE/2014) O princípio da boa-fé objetiva se apresenta como:


a) norma de conduta leal e ética aplicável às obrigações contratuais, sentido idêntico ao utiliza-
do, em matéria de direitos reais, na classificação da posse como sendo de boa-fé ou de má-fé;
b) um estado psicológico pelo qual o agente, de forma crédula, desconhece as reais circuns-
tâncias do ato praticado;
c) ausência de má-fé;
d) tendo conteúdo idêntico ao da boa-fé subjetiva;
e) norma de conduta de acordo com os ideais de honestidade e lealdade, devendo as partes
contratuais agir conforme um modelo de conduta social, sempre respeitando a confiança e os
interesses do outro.

A boa-fé objetiva é boa-fé de comportamento/conduta, que difere da boa-fé subjetiva, que é a


boa-fé de conhecimento.
Veremos no PDF sobre direito reais, que a boa-fé da posse não é a boa-fé objetiva, mas sim
subjetiva, ou seja, ausência de conhecimento do vício que inquina a posse.
Letra e.

034. (FCC/DPE-ES/2016 - ADAPTADA) Em relação ao fenômeno da “constitucionalização” do


Direito, considere:
A “despatrimonialização” do Direito Civil, conforme sustentada por parte da doutrina, é reflexo
da centralidade que o princípio da dignidade da pessoa humana e os direitos fundamentais pas-
sam a ocupar no âmbito do Direito Privado, notadamente após a Constituição Federal de 1988.

Segundo BARROSO (2015) a dignidade humana impõe limites e atuações positivas ao Estado,
no atendimento das necessidades vitais básicas, expressando-se em diferentes dimensões.
No tema específico aqui versado, o princípio promove uma despatrimonialização e uma re-
personalização do Direito Civil com ênfase em valores existenciais e do espírito bem como
no reconhecimento e desenvolvimento dos direitos da personalidade tanto em sua dimensão
física quanto psíquica.
Certo.

035. (ESAF/–ESAF/ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO - CONHECIMENTOS GE-


RAIS/2015) Com a ascensão científica e institucional do direito constitucional, vimos o surgimen-
to do chamado “Novo Constitucionalismo”, que possui alguns traços marcantes, com exceção de:
a) a acentuação da dualidade dos ramos do direito público e do direito privado.
b) passagem da Constituição para o centro do sistema jurídico, em que passou a desfrutar de
supremacia formal e material.

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c) filtragem constitucional, pois, com a passagem da Constituição para o centro, passou ela a
funcionar como a lente, o filtro através do qual se deve olhar para o Direito de uma maneira geral.
d) o triunfo do direito constitucional, que deve ser a “janela” através da qual se olha o mundo.
e) o modo de desejar o mundo, ou seja, o direito constitucional passou a ser não somente um
modo de olhar e pensar o Direito, mas também um modo de desejar o mundo: fundado na
dignidade da pessoa humana, na centralidade dos direitos fundamentais, na busca por justiça
material, na tolerância e no respeito ao próximo.

Pelo contrário, como vimos, há uma aproximação entre os ramos do direito público e do direito
privado, de modo que passam a se interpenetrarem.
Letra a.

036. (FCC/DPE-ES/2016) A respeito da distinção entre princípios e regras, é correto afirmar:


a) Diante da colisão entre princípios, tem-se o afastamento de um dos princípios pelo princípio
da especialidade ou ainda pela declaração de invalidade.
b) As regras e os princípios são espécies de normas jurídicas, ressalvando-se a maior hierar-
quia normativa atribuída aos princípios.
c) Os princípios possuem um grau de abstração maior em relação às regras, aplicando-se pela
lógica do “tudo ou nada”.
d) Os princípios por serem vagos e indeterminados, carecem de mediações concretizadoras
(do legislador, do juiz), enquanto as regras são suscetíveis de aplicação direta.
e) Na hipótese de conflito entre regras, tem-se a ponderação das regras colidentes.

a) Errada. Não há afastamento pela especialidade nem declaração de invalidade. No caso de
conflito entre princípios, utiliza-se o critério da ponderação, identificando-se, no caso concreto,
qual deve ser aplicado.
b  ) Errada. Não há hierarquia entre normas. Ou seja, não há hierarquia entre princípios e regras.
c) Errada. Critério “tudo ou nada” é para regras apenas.
e) Errada. A ponderação é efetuada apenas quando houver princípios colidentes. Para as re-
gras utiliza-se a subsunção.
Letra d.

037. (FCC/PGE-MT/ANALISTA – BACHAREL EM DIREITO/2016) Maria doou a Emília um


vestido de noiva. Estipulou, porém, que o bem somente seria entregue se e quando Emília ca-
sasse. Caso sobrevenha lei nova, afetando o contrato, esta
a) atingirá o direito de Emília somente se tiver natureza cogente, pois a lei de ordem pública
possui efeito retroativo.
b) atingirá o direito de Emília, que possui mera expectativa de direito.
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c) atingirá o direito de Emília, que possui mera faculdade jurídica.


d) atingirá o direito de Emília, pois, de acordo com a Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro, a lei nova tem efeito retroativo, atingindo as situações pendentes.
e) não atingirá o direito de Emília, pois a lei considera adquiridos os direitos sob condição sus-
pensiva, para fins de direito intertemporal.

LINDB, art. 6º “A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.”

§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer,
como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalte-
rável, a arbítrio de outrem.
Letra e.

038. (PUC-PR/TRT - 9ª REGIÃO (PR)/2007 - ADAPTADA) Considere a seguinte proposição:


Segundo a doutrina, o princípio da boa-fé objetiva tem, dentre outras funções, a de delimitar o
exercício de direitos subjetivos.

A atuação do princípio da boa-fé objetiva como limite ao exercício regular dos direitos subje-
tivos representa uma das principais funções que o destacam. Trata-se da função de controle
(CC, art. 186).
Certo.

039. (VUNESP/TJ-AC/2019) Segundo o que dispõe, expressamente, a Lei de Introdução às


Normas do Direito Brasileiro, na hipótese de expedição de uma licença sobre a qual exista
incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do direito público, havendo a neces-
sidade de eliminar esse problema, a autoridade administrativa poderá, atendidas as disposi-
ções legais,
a) celebrar compromisso com os interessados.
b) recomendar alteração legislativa antes da decisão.
c) ingressar com ação declaratória no poder judiciário.
d) contratar parecer de escritório de advocacia especializado.

Veja o que diz o art. 26:

Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do
direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá, após
oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes razões

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de relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observada a legislação
aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial.
Letra a.

040. (CESPE/TRE-BA/ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA ADMINISTRATIVA/2010) Acerca do


Direito Civil, julgue os itens seguintes.
Dá-se a ultra-atividade da lei quando a lei revogada sobrevive, continuando a ser aplicada às
situações ocorridas ao tempo de sua vigência.

A regra em nosso Direito é que a lei regulará todas as situações durante o seu período de vida/
vigência (atividade).
Extra-atividade: é o fenômeno que ocorre quando uma lei regula situações fora do seu período
de vigência. Espécies:
a) Retroatividade – a lei regula situações que ocorreram antes do início de sua vigência;
b) Ultra-atividade – a lei foi revogada, mas continua sendo aplicada.
Certo.

041. (INSTITUTO AOCP/2022/IPE PREV/ANALISTA EM PREVIDÊNCIA/DIREITO/EDITAL


Nº 002) Quanto ao tema Lei de Introdução ao Direito Brasileiro e seu regramento no Decreto
nº 4.657, de 04 de setembro de 1942, informe se é verdadeiro (V) ou falso (F) o que se afirma
a seguir e assinale a alternativa com a sequência correta.
( ) Em virtude do principio do Iura novit curia, não há de se falar em necessidade de se provar a
existência e a vigência de nenhuma norma, ainda que estrangeira, aos magistrados brasileiros.
( ) Na interpretação de normas sobre gestão pública, em virtude do princípio da legalidade es-
trita, não serão considerados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências
das políticas públicas a seu cargo.
( ) A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de
ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas
consequências jurídicas e administrativas.
a) V − F − V.
b) V − V − F.
c) F − F − V.
d) F − V − F.
e) F − V − V.

Iura novit curia é uma máxima jurídica latina que expressa o princípio de que “o juiz conhece a
lei”. Em outras palavras, significa que as partes em uma disputa judicial não precisam pleitear
ou provar a lei que se aplica ao seu caso.

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No entanto, em se tratando de norma estrangeira, há a necessidade das partes provarem. Isso


porque os magistrados devem conhecer a lei brasileira, mas não são obrigados a conhecer de
lei estrangeira.
LINDB:

Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da
vigência.

Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados.

Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação
de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas
consequências jurídicas e administrativas.
Letra c.

042. (CESPE/CEBRASPE/2022/FUNPRESP-EXE/ANALISTA DE PREVIDÊNCIA COMPLE-


MENTAR/ÁREA JURÍDICA/EDITAL Nº 1) A respeito da Lei de Introdução às normas do Direito
Brasileiro (LINDB), da pessoa jurídica, do negócio jurídico e da prescrição, julgue o item a seguir.
Ainda que possa causar prejuízo aos administrados, a interpretação pelo gestor de norma de
gestão pública será realizada de acordo com as exigências das políticas públicas.

LINDB, Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos
e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo
dos direitos dos administrados.
Errado.

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GABARITO
13. E 23. C 33. e
14. E 24. C 34. C
15. C 25. C 35. a
16. C 26. a 36. d
17. E 27. b 37. e
18. E 28. b 38. C
19. C 29. c 39. a
20. E 30. d 40. C
21. b 31. d 41. c
22. d 32. b 42. E

Daniel Carnacchioni
Juiz do TJDFT (titular da 2ª Vara da Fazenda Pública e atualmente juiz assistente da Presidência do TJ-
DFT). Pós-graduado, mestre em Direito e doutorando em Direito Civil. Autor de obras jurídicas, em especial,
do Manual de Direito Civil pela editora JusPodivm. Professor da Fundação Escola Superior do MPDFT.
Palestrante sobre temas do Direito Civil.

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